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IV - PRESSUPOSTOS BÁSICOS DA ECONOMIA DE MERCADO

➢ A propriedade Privada;
➢ A iniciativa Privada ou Livre iniciativa
➢ A livre concorrência,

4.1 - Propriedade privada


a) Noção e conteúdo

Tal como já fizemos referência, em cede de direito e deveres económicos, a


constituição reconhece, a propriedade privada como um dos direitos fundamentais. (14º
e 89º nº 1 al d, CRA).

Este direito tem a ver com a apropriação individual dos meios de produção. O mesmo
inclui quatro componentes, (art. 1305º CC). Sendo:

1. O direito de adquirir ou seja o direito de acesso à propriedade;


2. O direito de usar e fruir dos bens de que se é proprietário;
3. A liberdade de transmissão, isto é, o direito de não ser impedido de transmitir a
propriedade, quer por acto entre vivos ou morte;
4. O direito de não ser privado dela.

b) Restrições

O direito de propriedade privada, não é reconhecida como um direito absoluto, pode ser
objecto de algumas limitações.

Porquê então dessas limitações? Tais limitações acontecem, por razões de utilidade
pública ou com a necessidade de conferir eficácia a outros princípios ou normas
constitucionais. Assim temos que:

➢ Os bens do domínio público, não são susceptíveis de apropriação, conforme


vêm enumerados, embora não de forma taxativa no artigo 95º CRA, permitindo que
a lei classifique outros bens do mesmo modo. Trata-se pois de uma reserva de
propriedade pública mas não de uma reserva de actividade económica pública.
➢ O direito de fruição e uso, pode ser objecto de alguns condicionamentos, por
razões ambientais (39º CRA), ordenamento do território ou por ordem pública. Ex:
fábrica de cimento no edifício da ex- mineira.
➢ A liberdade de transmissão, inter vivos ou mortis causas, está igualmente
sujeitas a limitações designadamente por direitos a favor de terceiro, como o
direito de preferência (art. 1117º cc), atribuído, em certos casos aos proprietários
confinantes, ou os direitos de herdeiros legitimários (2156º cc);
➢ Finalmente, o direito de o titular da propriedade, não ser privado dele, pode ser
limitado pela requisição e pela expropriação por utilidade pública que normalmente
a Administração procede, (art. 14º, 15º nº 3 e 98º nº 2, CRA).
Importa salientar que quer a requisição quer a expropriação por utilidade pública,
implicam o pagamento de uma justa indemnização que deverá ter a sua expressão mais
próxima do seu valor do mercado.

Além da expropriação e da requisição a lei determina outras formas de apropriação


colectivas dos meios de produção entre as quais se destaca a nacionalização de
empresas sempre mediante indemnização que deve obedecer a critérios específicos não
necessariamente coincidentes com os de justa indemnização.

Outras formas de propriedade


No que respeita aos meios de produção, a constituição prevê a possibilidade de
coexistirem ao lado da propriedade privada, a propriedade cooperativa e a propriedade
pública. E a protecção constitucional dada à propriedade privada, vale também para as
restantes formas de propriedade, (art. 92º nº 1 CRA).

4.2 - Iniciativa Privada

a) Noção e conteúdo

O direito à iniciativa privada é considerado simultaneamente, um direito económico e um


princípio da organização económica. Trata-se de um direito independente do direito de
propriedade, pese embora exista as naturais conexões entre ambos, mas goza de
idêntica protecção. (art. 14º, 38º e 98º al b, CRA).

Ele traduz a possibilidade de exercer uma actividade económica privada, nomeadamente


através da liberdade de criação de empresas e da sua gestão. O mesmo compreende
como componentes a:

➢ Liberdade de investimento ou de acesso, que se traduz no direito de escolha da


actividade económica a desenvolver. Ex: escolher o tipo de Empresa;
➢ Liberdade de organização, ou seja, a liberdade de determinação do modo como a
actividade vai ser desenvolvida (incluindo a forma, a qualidade dos preços dos
produtos ou serviços produzidos). Ex: se é empresa individual ou uma sociedade;
➢ Liberdade de contratação ou liberdade negocial, que compreende a liberdade de
estabelecer relações jurídicas e de fixar por acordo o seu conteúdo, Ex: definir o nº
de trabalhador com que trabalhar.

A liberdade de iniciativa privada ou liberdade de empresa, constitui uma condição


básica da existência de concorrência, entendida como modelo de sociedade ou como
critério de qualificação das estruturas e dos tipos de comportamento do mercado.

“O direito de iniciativa privada é um direito independente da propriedade privada, visto


que pode haver iniciativa privada não fundada na propriedade privada e vice-versa, (ou
propriedade privada não explorada pela iniciativa privada). Exemplo da primeira
situação é o caso da exploração de bens público por entidades privadas. E da segunda
situação é a exploração de bens privados pelas cooperativas. Contudo a maioria das
situações a liberdade de iniciativa privada tem como suporte económico a propriedade
privada. É portanto natural que exista uma conexão funcional entre estes dois direitos”.

b) Restrições

O direito à iniciativa privada a semelhança do direito de propriedade privada, não é


reconhecida em termos absolutos, admite restrições e condicionamentos, que
poderão resultar da constituição ou da lei.

Assim ao componente ou direito de:

1) Liberdade de acesso ou investimento, reconhece-se limitações tais como:


➢ Reservas a favor do sector público. Ex: Banco emissor, notário, etc.;
➢ Descriminação em função da nacionalidade quanto ao direito de Investimento
estrangeiro. Ex: cantinas como negócio de nacionais;
➢ Protecção de valores ambientais ou ecológicos. Fábrica que poluir;
➢ A intervenção do estado na gestão de empresas privadas mediante previa
autorização judicial.

2) Liberdade de organização
➢ Tipicidade das formas das sociedades, Ex: as sociedades já estão tipificadas na
lei.
➢ Regras de organização interna das empresas. Ex: órgãos sociais, condições
técnicas de funcionamento do estabelecimento.
➢ Sua localização. Os armazéns fora da cidade do Huambo, etc.

3) Liberdade negocial
➢ Contrato de Trabalho e Segurança no emprego;
➢ Protecção dos Consumidores;

As restrições em causa, atingem o direito em geral ou qualquer das suas componentes


em especial, mas nunca tocando no conteúdo essencial do direito, isto é, naquela parte
que se mostra indispensável para a satisfação básica dos interesses do seu titular.
Outras formas de iniciativa privada:
Sendo a iniciativa privada a forma normal de iniciativa económica em economias de
mercado, ela não tem, contudo, de ser exclusiva. Desde logo, pode haver motivos para
que o Estado intervenha na produção de bens e serviços, em exclusivo ou em
concorrência com entidades privadas. Depois, são também possíveis, outras formas de
iniciativa em que a solidariedade entre os seus membros ou entre estes e a sociedade
prevaleça sobre o interesse lucrativo da organização. Trata-se de formas de economia
social, entre as quais se têm até agora destacado as organizações cooperativas.
4.3 LIVRE CONCORRÊNCIA

O que é concorrência? Em economia concorrência corresponde à situação de lucro de


um mercado em que os diferentes produtores de um determinado bem ou serviço actuam
de forma independente face aos compradores com vista a alcançar um objectivo para o
seu negócio, utilizando diferentes instrumentos, tais como, os preços, qualidade de
produtos e serviços após venda.

Conforme se disse no capítulo relativo a constituição económica, a concorrência surge,


neste contexto, como instrumento privilegiado de direcção do mercado, caracterizando
um tipo de relação entre os agentes económicos, entendidos como a essência do
sistema de economia do mercado.

Sempre que estamos diante de indiferenciação dos bens transaccionados


(homogeneidade) de livre entrada e saída de produtores e consumidores (fluidez) e,
livre e completa informação destes (transparência), falava-se de concorrência pura.

Surgimento de monopólios e oligopólios nos mercados

A concorrência gerou fenómenos de concentração de capitais, originando o aparecimento


de grandes empresas e agrupamentos de empresas sob as mais variadas formas de
oligopólios e oligopsónios, de monopólio e de monopsónios, que modificaram as
estruturas dos mercados: estes passaram de atomizados para molecular de abertos a
fechados de transparentes a opacos ou seja de perfeito e puro a imperfeito impuro.

A concorrência tende hoje a tornar-se simultaneamente mais acesa e com menos


protagonismo.

Desta feita, as empresas para melhor defenderem as posições já conquistada no


mercado, substituem frequentemente os típicos comportamentos concorrenciais por
comportamentos de cooperação ou coordenação inter-empresarial que, normalmente
degeneram em práticas restritivas de concorrência ou em fenómeno de
concentração menos visíveis.

Fala-se agora de concorrência imperfeita, praticável ou efectiva, de concorrência


oligopolista ou mesmo monopolista.

Assim, haverá ainda concorrência quando esteja garantida a existência de uma rivalidade
económica dinâmica entre os agentes económicos, que isso se exprima no domínio dos
preços, da publicidade, inovação tecnológica, da organização.

O objectivo essencial passa, assim, a ser a preservação da concorrência possível entre


as empresas.
Defesa da concorrência

A forma tradicional de protecção à concorrência é representada pela repressão da


concorrência ilícita e da concorrência desleal.

Concorrência ilícita tem a ver com as regras de direito penal destinadas a impedir ou
reprimir formas de concorrência particularmente intoleráveis.

Um exemplo histórico destas normas, consistia no facto de alguns códigos penais,


integrarem o crime de monopólio, nos crimes contra a ordem pública, de práticas de
açambarcamento, de alteração fraudulenta de preços, dos conluios em arrematação, etc.

Por seu turno, concorrência desleal, consiste em prevenir os casos em que o


comportamento dos sujeitos económicos ofenda as regras, ainda que usuais, da
moralidade e lealdade da ocorrência. Abrange todo o acto ou omissão, não conforme
aos princípios da honestidade e boa-fé em comércio, susceptível de causar prejuízo á
empresa de um corrente, pela usurpação total ou parcial da sua clientela.

Sistemas de defesa da concorrência

Quando ao tipo de proibição de práticas restritas da concorrência distinguem-se dois


modelos:

➢ Aquele que proíbe as práticas restritivas da concorrência por produzirem um dano


potencial;
➢ Aquele que reprime apenas as práticas que se traduzem num dano afectivo.

1. O primeiro modelo, tende a privilegiar a noção estrutural de concorrência e a


avaliar esta, como um bem em si mesmo, (teoria da concorrência – condição).

Daí estabelecer uma proibição genérica, a todos os acordos e práticas susceptíveis de


atingirem a estrutura concorrencial do mercado, combatendo a concentração através da
proibição das práticas que a ela possam conduzir.

Este sistema tende ainda, no que toca ao controlo e a técnica da proibição, a adoptar um
controlo prévio das práticas restritivas, por um órgão administrativo ou jurisdicional, que
poderá declarar nula ou não, uma determinada prática.

2. O segundo modelo, tende a privilegiar os comportamentos efectivos dos agentes


económicos. Não se pretende, aqui em abstracto, combater os acordos,
monopólios, oligopólios ou quaisquer outros factores de domínio no mercado,
através dos quais se manifesta a concentração económica. Procura-se antes
reprimi-los quando, por particulares condicionalismos, se revelem prejudiciais ao
interesse geral, declarando ilícitos os acordos ou práticas que produzam efeitos
negativos na concorrência não justificados por outras razões.
Exemplo clássico deste sistema é o criado em França. Este sistema distingue as boas
das más coligações e generaliza as práticas do balanço económico, comportando um
exame casuístico das situações.

De facto, não é um sistema que vise uma condenação automática de práticas anti-
concorrenciais, mas institui um juízo de oportunidade relativo a comportamentos já
ocorridos.

FIGURA DO DUMPING & AÇAMBARCAMENTO

Vamos aqui tratar, embora sumariamente, duma prática anti-concorrencial e, como tal,
proibida. Vamos tratar da figura do dumping dos preços, expressamente proibida tanto
na legislação de vários países, sendo considerada como uma prática individual restritiva
do comércio.

Muito sumariamente, o dumping é a venda de produtos com prejuízo, isto é, a oferta


para venda ou venda de um bem por um preço inferior ao seu preço de compra efectivo,
acrescidos dos impostos a essa venda alem dos encargos relacionados com o transporte.

Entendemos que o princípio da proibição de práticas de dumping é essencial para a livre


concorrência, para que o jogo de mercado seja justo para todos e para que o mercado
cumpra as funções pretendidas, a saber a promoção do desenvolvimento e do
crescimento económico das sociedades.

As medidas anti-dumping são essenciais para as economias menos desenvolvidas, na


medida em que aquela é uma prática agressiva de mercado que requer, normalmente,
por parte de quem a pratica, uma grande capacidade financeira, de modo a poder
suportar prejuízos durante algum tempo, com o objectivo de assim liquidar a concorrência
e de, mais tarde, conseguir uma posição dominante no mercado que lhe permita
recuperar as perdas, normalmente com ganhos elevados.

Açambarcamento -

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