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Algo como produtor executivo ou roteirista.
Com traços afiados, incluindo um nariz bicudo e torto.
Olhos brilhantes. Corpo muito redondo, com membros
magros em comparação. Pequena como o inferno.
Sua nova babá parecia um pássaro.
Um pássaro silencioso, no entanto. Nem um pio a ser
ouvido, apesar de estar amanhecendo.
Assim que Ron ficou sabendo dos eventos que
aconteceram durante a noite, ele exigiu uma reunião logo pela
manhã. E apesar de Alex ter deixado o set de Gates perto da
meia-noite e saído da cela da prisão local talvez uma hora atrás.
Ele mal teve tempo de tomar um banho e pegar uma maçã na
recepção do hotel antes de voltar ao trabalho.
Os três poderiam ter se encontrado em um trailer privado,
mas o produtor preferiu a humilhação pública. Então eles se
reuniram ao ar livre, perto de uma cerca esfarrapada, onde
centenas de colegas de trabalho de Alex poderiam ouvir sua
desgraça, e ela também.
Esta estranha de bochechas pálidas, quem quer que ela fosse.
O que quer que ela fosse.
Seus olhos estavam vermelhos, sua pálpebra direita inchada,
sua visão embaçada. Se ele apertasse os olhos na neblina do
início da manhã, aquele cabelo escorrido e castanho-
acinzentado encostando no queixo macio da mulher poderia
muito bem ser penas.
Sim, definitivamente um pássaro. Mas que tipo, que tipo...
Talvez um albatroz? Certamente funcionava em um nível
metafórico.
Não, os albatrozes eram muito compridos e estreitos para
ela.
Assim que Ron começou sua palestra, ela se acomodou em
um banco improvisado a vários metros de distância dos dois
homens. Silenciosa e quieta, ela se sentou ereta diante do caos
de seu campo de batalha que se estendia ao longo da costa
espanhola. No entanto, de alguma forma, mesmo em meio ao
cenário de destruição em grande escala e agitação incessante de
membros da equipe e pessoal extra, ela se destacou.
Incongruentemente pequena em estatura, se não
circunferência. Calma. Como um pássaro.
Ron ainda estava reclamando dele – alguma coisa sobre
obrigações contratuais e minha prima Lauren Clegg e conduta
inaceitável para um ator no meu programa e a empresa de
títulos vai tirar nosso seguro, blá-blá-blá – e, claro, Alex estava
furioso com a reclamação e sua punição e como ninguém lhe
perguntou o que realmente aconteceu naquele bar, nem uma
única alma.
Sua vigia paga, evidentemente uma parente infeliz de Ron,
parecia uma porra de um pássaro.
Toda essa discussão não era apenas irritante. Era–
— Ridícula. — Alex bufou, varrendo o braço para indicar a
mulher no banco. — Esta mulher-pássaro mal chega ao meu
peito. Como ela vai me impedir de fazer o que eu quiser? Você
pretende que ela se agarre ao meu tornozelo como uma
tornozeleira eletrônica?
Ele considerou o assunto. Isso tornaria seus treinos
desafiadores, mas não impossíveis.
Ron sorriu brevemente.
— Ela pode ser ridícula, mas ela está no comando. — Depois
de lançar um olhar de soslaio para sua prima, ele voltou sua
atenção para Alex. — Você vai fazer o que Lauren disser até o
final da série ir ao ar. Até lá, ela irá acompanhá-lo onde quer
que você...
Espere. Alex não pretendia chamar ela de ridícula, e, sim, a
ideia de que ela poderia efetivamente mantê-lo fora de
problemas por meses a fio.
Ron estava falando, falando, falando.
— Sempre que você sair do set ou de sua casa. Está claro?
Bem… não. Em sua preocupação com... Lauren, não é? Alex
não tinha prestado muita atenção aos vários discursos e ordens
de Ron. Em teoria, um ator que pretende continuar
trabalhando deveria se agarrar a cada palavra de seu
showrunner. Mas por que ele iria mudar seu modo de operação
após mais de sete anos de emprego contínuo, lucrativo, que já
foi feliz e agora é torturante?
Mesmo que Ron não fosse um dos humanos mais
cansativos e desconcertantes da indústria da televisão – o que
significava alguma coisa –, Alex ainda poderia ter problemas
para acompanhar. Seu cérebro era como um rádio que mudava
de canal com frequência ou permanecia no mesmo canal por
muito tempo, independentemente do que ele queria, e a
frequência escolhida nem sempre era a frequência a qual ele
deveria estar sintonizado.
Dito isso, Ron e seu colega, RJ, eram idiotas cansativos, o
que significava que seus pontos no rastreador de Alex eram
particularmente irregulares e problemáticos. Ao longo dos
anos, Alex havia se tornado muito hábil em esconder quaisquer
lapsos de atenção enquanto falavam.
Hoje, ele não estava se incomodando em esconder.
— Não. Não está nada claro. — Alex disse a Ron com um
sorriso que esticou seu rosto dolorosamente — Para meu
desespero absoluto, perdi a maioria do que você acabou de
dizer. Minhas sinceras desculpas.
Quando o sarcasmo meloso de falso arrependimento de
Alex foi registrado, a mandíbula de Ron se contraiu. Lauren
simplesmente continuou a observar os dois, seu rosto estranho
e assimétrico sem expressão.
Marcus, o melhor amigo de Alex, chamaria isso de
ultrapassar os limites e diria a ele para morder a língua e
considerar as consequências de mais insubordinação.
Assista o filme até o fim, ele insistiria. O que acontece se você
não alterar o roteiro?
Eles chegaram à última semana de filmagem de sua série, o
que significava que era tarde demais para demitir Alex, mas
poderia haver outras consequências, multas, uma campanha de
difamação que dificultaria encontrar futuros empregos, ou até
mesmo retaliação na sala de edição, embora Alex não pudesse
imaginar como o arco de seu personagem poderia ser mais
arruinado do que já estava.
Ele deveria se comportar. Ele iria.
Na maioria das vezes.
— Talvez você possa resumir a situação brevemente? — Ele
se abaixou e tirou o telefone do bolso escondido na aljava a seus
pés. — Vou anotar desta vez.
O rosto de Ron ficou vagamente roxo, mas foi só isso. Era o
melhor que Alex poderia fazer, dada a mistura de raiva,
desespero e exaustão incinerando o controle de seu impulso.
Mesmo as advertências de Marcus não poderiam salvá-lo, não
inteiramente.
O que era, novamente, porque todo esse plano – o que ele
tinha ouvido falar, de qualquer maneira – era ridículo. Se as
insistências de seu melhor amigo e seu próprio interesse não
conseguiram mantê-lo longe de problemas, como uma mulher
baixinha e gordinha poderia realizar a tarefa?
Além disso, se eles tivessem realmente perguntado o que
aconteceu naquela briga de bar, eles saberiam porque ele brigou
e porque ele faria exatamente a mesma coisa em circunstâncias
semelhantes, consequências e vigias que se danem. Também
porque ele não se arrependeu de seu olho roxo ou dos nós dos
seus dedos rasgados por um único segundo.
Ainda bem que seu personagem, Cupido, deveria ser ferido
durante a sequência do clímax da batalha de qualquer maneira.
— Vá em frente — disse ele alegremente —, estou ouvindo
agora.
Ron conseguiu não surtar novamente. Em vez disso, com
uma veia latejando fortemente em sua têmpora esquerda, ele
levou um minuto para se acalmar antes de falar.
— A partir de agora, até que o episódio final do programa
vá ao ar, Lauren irá acompanhá-lo sempre que você sair do set
ou da sua casa — ele finalmente falou. — Se ela não conseguir
lidar, você receberá imediatamente outro vigia, então não se
preocupe em tentar fazê-la desistir. Lauren pode ser ridícula,
como você diz, para não dizer infeliz, mas você não vai gostar
do substituto dela, posso garantir isso.
Alex inclinou a cabeça.
Isso foi intrigante. Sua babá substituta era particularmente
cruel? Ou fedida? Ou talvez–
— Chega de publicidade ruim. — Os olhos pálidos do
showrunner se fixaram nos dele, chamando sua atenção. — Ou
você sofrerá todas as consequências legais e profissionais
descritas em seu contrato. Você entende agora? Ou devo
envolver nossos advogados na explicação?
Alex digitou uma nota para si mesmo em seu telefone.
Escolher entre mulher-pássaro infeliz ou a assassino fedorento
como babá, de agora até a série terminar de ir ao ar. Mais
problemas => advogados. Ron = olhos de assassino em série.
— Alguém está hospedado em sua casa de hóspedes agora?
— Perguntou o produtor.
Olhando para cima, Alex encontrou aquele olhar
desconcertante ainda fixo nele e respondeu sem pensar.
— Não. Meu amigo Faroukh reservou uma série, então ele
saiu na última...
Oh. Oh, porra, inferno.
— Então Lauren vai se mudar assim que vocês dois voltarem
para L.A. A série vai te pagar o valor justo de mercado pelo
aluguel mensalmente. — O sorriso de Ron era presunçoso. —
Muito conveniente para todos os envolvidos.
A mandíbula de Alex doía, e ele a flexionou.
— E você espera que esse acordo dure nove meses?
— Difícil de dizer. Mas se isso não acontecer, RJ e eu já
escolhemos nosso curso de ação. — Com um movimento
impaciente de sua mão, Ron gesticulou para que sua prima se
levantasse. — Faça o que minha prima te dizer, senão... Lauren,
vá apertar a mão dele.
De perto, Alex podia estimar sua altura com mais precisão.
Cerca de 1 metro e 55 centímetros. E, a essa distância, seus
olhos eram ainda mais surpreendentes. De um verde-claro
suave e com um leve toque de azul, eles eram sua única
característica que um observador honesto poderia chamar de
bonito.
Sua palma era ridiculamente pequena, seu aperto era firme
quando eles apertaram as mãos. Se ela se ofendeu com a ordem
direta de seu primo ou sua descrição como ridícula e sem
alegria, ela não demonstrou.
Como Ron não parecia inclinado a fazer o trabalho, Alex
completou o ritual social.
— Por favor, deixe eu me apresentar. — Depois que ele
soltou a mão dela, ele fez uma reverência zombeteira. —
Alexander Woodroe, ao seu serviço. Ou melhor, ao seu
comando. Pelos próximos nove meses, claro.
— Eu sei quem você é. — Ela disse sem um pingo de sorriso.
Sua voz era inesperadamente baixa e rica, e ele se endireitou
abruptamente ao som dela.
Eu sei quem você é.
Foi uma declaração simples.
Foi também uma condenação.
Sem dúvida, Ron havia lhe contado bastante. Mas ela não
conhecia Alex. Ela não sabia nada sobre ele, e nem seu primo
idiota. No entanto, ali estavam eles, aliados em seu julgamento
sobre ele e o que ele havia feito.
Uma fúria impotente caiu sobre ele, e seu autocontrole
desapareceu na agitação.
— Então, você sabe. — Quando ele olhou para aqueles
olhos claros e calmos, seu lábio se curvou em desdém. — Você
acha que devo chamá-la de Senhora Lauren? Ou a babá Clegg
serve?
Poderia ter sido melhor, pensou Lauren, mantendo os braços
soltos ao lado do corpo, as mãos relaxadas, a postura aberta.
Ela achava que Ron falaria com sua estrela em particular
primeiro e permitiria que a raiva do ator se dissipasse antes que
ela o conhecesse, mas não. Tal consideração e discrição não
eram do feitio de seu primo.
Em retrospecto, então, ela deveria ter ignorado o que
pretendia ser um simples reconhecimento de sua fama e ter
apenas dito que foi adorável conhecê-lo. O que não foi, mas ele
dificilmente era a primeira pessoa furiosa que ela já encontrara,
e ela geralmente sabia como lidar com esse tipo de situação com
mais habilidade.
Depois de mais de uma década trabalhando em serviços de
emergência, era o que ela sabia com mais perfeição.
— Por favor, me chame de Lauren. — Na esperança de
acalmar a situação, ela se certificou de que seu tom fosse calmo
e agradável. — Como você prefere que eu te chame? O Sr.
Woodroe? Alexandre?
Comparado à avaliação de pacientes de emergência, aqueles
que chegaram em meio a crises de saúde mental e muitas vezes
saíram sem os recursos necessários para ajudá-los a sobreviver,
esse trabalho – esse momento tenso – deve ser moleza. Era
temporário e improvável que resultasse em bandejas jogadas em
sua cabeça enquanto os seguranças entrassem correndo na
briga.
Era ainda menos provável que a deixasse com o coração
partido e perigosamente perto do fim da linha para a sua saúde
mental e física.
— Alex, eu suponho. — Ele lançou um olhar crítico sobre
ela. — Este é o seu primeiro dia no set? Porque eu teria me
lembrado de ter visto você antes.
Isso era provavelmente um insulto velado, um que ela não
precisava reconhecer.
— Cheguei no fim de semana, então este é meu terceiro dia
no set. Devemos ter estado em diferentes áreas de filmagem
antes, porque também não me lembro de ter visto você.
E ela teria, mesmo confusa com o jet lag em seu primeiro dia
inteiro na Espanha.
Ele era memorável. De uma maneira muito melhor do que
ela era.
Assim como todo o enorme set. À medida que sua exaustão
diminuiu e ela foi capaz de lidar com o ambiente de forma mais
coerente, a rede de apostas ousadas e de alto risco em Ron e RJ
a deixou cada vez mais ansiosa. O chefe de uma rede de network
real deu a homens como eles o controle de milhares de pessoas
e milhões de dólares? Sério?
Tenha a confiança de um homem branco medíocre. Sempre
que ela ouvia essa frase, ela sempre, sempre pensava em Ron.
Não é à toa que a série saiu dos trilhos assim que os livros
existentes de E. Wade foram todos adaptados. Uma vez que os
showrunners tiveram que seguir em frente usando suas
próprias ideias, todos os envolvidos estavam ferrados.
Inevitavelmente.
Ainda assim, o âmbito do empreendimento e a experiência
dos atores e equipe a impressionaram muito. Ela não era fã da
série ou de seu primo, mas admitiria isso sem hesitar.
Alex tamborilou os dedos contra a coxa coberta pela túnica,
a aljava de flechas a seus pés.
— Então, me diga, Lauren, o que você faria se–
— Eu tenho que ir. — Ron interrompeu. — Vou deixar
vocês dois se conhecerem. Lauren, você ficará no trailer dele
enquanto ele estiver trabalhando, e eu reservei para você o
quarto conectado ao dele, no hotel. Em qualquer outro lugar
que ele vá, você estará com ele e farão todas as refeições juntos.
Entendido?
Como esta era a quarta vez que ela ouvia o plano de Ron, ela
não precisava especialmente do lembrete final. Ele tinha sido
um menino mimado, convencido de sua própria genialidade e
propenso a provocar as crianças mais vulneráveis – inclusive ela
– até que elas chorassem, e ele evidentemente não mudou
muito.
— Sim — disse ela. — Eu entendo.
Contar a seus pais sobre a crueldade do primo Ron só os
aborreceu e fez com que sua mãe discutisse com tia Kathleen ao
telefone. Eventualmente, ela poupou a todos da angústia e
começou a fingir gostar da companhia de seu primo, e agora
estava pagando o preço por sua desonestidade.
Enquanto você está entre os empregos, você deveria visitar seu
primo na Espanha, a mãe dela disse no mês passado. Você e Ron
se davam tão bem, e você não o vê há anos. Tia Kathleen e eu
sempre quisemos que vocês dois fossem mais próximos. Ela vai
ficar magoada se você não se esforçar. De qualquer forma, você
poderia tirar umas férias, querida.
Um grande eufemismo. Lauren estava desesperada para
colocar seu horário de sono em ordem, e ainda mais
desesperada para aproveitar o sol e simplesmente relaxar. E
depois de intermináveis anos de horas extras – o pronto-
socorro estava sempre com falta de pessoal quando se tratava de
terapeutas, especialmente para o turno da noite – ela tinha
muitas economias. O suficiente para comprá-la algumas
semanas antes de decidir onde trabalhar em seguida.
O suficiente para tirar férias. Umas longas férias.
Durante aquelas férias tão necessárias, ela não teve vontade
de ver Ron. Mas a menos que ela não tivesse outra escolha, ela
não desapontava sua família. Ou qualquer um, na verdade.
Então ela dirigiu para visitar Ron no dia em que chegou à
Espanha, pretendendo apenas fazer uma breve parada nesta
remota cidade costeira antes de seguir para Barcelona. E então…
Então ela ficou presa. Porque ele precisava de ajuda, e se ela
não fornecesse essa ajuda, iria ouvir sobre isso de seus pais e de
tia Kathleen.
Além disso, ela tinha suas próprias razões para aceitar o
trabalho.
— Bom. — Ron se virou para Alex. — Mostre a ela onde
está seu trailer antes de começarmos a filmar e faça o que ela diz.
A publicidade ruim acaba agora.
Seu primo se afastou, e uma pequena e irracional parte dela
queria irritá-lo. Para chamá-lo de volta e renegar sua oferta e
libertar ela e Alex, mesmo que apenas temporariamente.
Mas Ron estava oferecendo um salário de arregalar os olhos
e cobrindo todas as suas despesas – incluindo o aluguel de seu
duplex em North Hollywood – por meses. Tudo para que ela
cuidasse de um homem, que, apesar da briga recente e da fúria
atual, tinha a reputação de ser bastante charmoso, embora um
tanto imprudente e excessivamente franco às vezes.
Um idiota delicioso, sua co-estrela Carah Brown
famosamente o chamou.
Com o dinheiro que ela economizaria cuidando dele,
Lauren poderia levar todo o tempo do mundo antes de decidir
se voltava para o pronto-socorro ou se juntava ao grupo de
prática de sua amiga. E o que poderia estar mais longe de um
pronto-socorro do que a costa varrida pelo vento da Espanha
ou a hospedaria de uma estrela de televisão em Hollywood
Hills?
Então, sim, ela podia lidar com a raiva do Sr. Woodroe, e ela
não se importava se ele a considerava ridícula e feia ou se achava
que ela tinha um nariz pontudo de pássaro. É claro que ele
estava com raiva depois de ser ofendido, preso e depois
insultado na frente de uma estranha por seu chefe idiota
condescendente. E, claro, um homem tão bonito, com cabelos
grossos de um rico tom de castanho dourado, compridos o
suficiente para escovar o colarinho e cair na frente de seus olhos
se ele não o empurrasse para trás; olhos intensos da cor de uma
nuvem de chuva, ainda lindos apesar de todos os hematomas;
belos traços acentuados por uma barba bem cuidada; e um
corpo imaculadamente afiado – desprezaria uma mulher como
ela.
Seu nariz era bicudo. Também torto por causa daquele
incidente em seu primeiro mês no pronto-socorro, quando ela
não abaixou de uma bandeja com rapidez suficiente.
Ela era gorda e baixinha também, e tinha sido ridicularizada
por pessoas muito mais cruéis do que ele. Ele a chamou de
ridícula, e a palavra era apropriada. Ela certamente
experimentou muitas coisas ridículas em sua vida. Ela se
acostumou com isso.
Seu desprezo não significava nada para ela. Ela faria seu
maldito trabalho, e o faria bem e não importava o que ele
dissesse.
Ela se virou para encará-lo.
— Você estava me perguntando algo quando Ron
interrompeu.
— Hum… — Ele estava assistindo uma gaivota pegar
objetos deixados durante a noite no campo de batalha, sua testa
franzida em aparente concentração. — Oh, sim. Diga-me,
Lauren, o que você faria se eu quisesse ir a outro bar depois do
trabalho hoje à noite?
Ele pretendia começar seu relacionamento de trabalho com
um teste de seus limites, então.
Justo. Eles poderiam deixar esses limites claros desde o
início.
— Ron disse que não há mais bares para você, então eu diria
para você ir a um restaurante ou ao seu quarto de hotel.
— E se eu for mesmo assim?
— Eu ligaria para Ron. — ela disse sem hesitação.
Ele soltou uma risada aguda como um bisturi.
— Você me deduraria?
Não. Ela não estava mordendo a isca.
— Eu faria meu trabalho.
— E se eu for a um clube?
— Eu iria com você.
— E se eu conhecesse uma mulher e nós — ele ergueu as
sobrancelhas sugestivamente — nos conhecêssemos melhor em
um canto escuro?
— Contanto que você não viole as leis locais de
obscenidade, eu o deixaria em paz, mas o manteria à vista.
A essa altura, ele aparentava estar em menos conflito e mais
entretido.
— Se eu violasse as leis de obscenidade pública, o que você
faria então? Me agarraria de joelhos e colocaria um cinto de
castidade em mim?
— Eu interromperia, e se você continuasse mesmo assim, eu
ligaria para Ron.
À menção de seu primo, o sorriso original de Alex morreu.
— E se eu decidisse ficar bêbado no meu quarto de hotel?
— Seu queixo se projetou em sua direção, sua firmeza evidente
mesmo através de sua barba cheia. — E então, babá Clegg?
— Contanto que você não perturbasse e não estivesse em
perigo médico, não seria da minha conta. Eu deixaria você
sozinho.
Ele fez uma pausa.
— E se eu estivesse em perigo médico? Você ligaria para
Ron?
— Primeiro, eu chamaria uma ambulância ou eu mesma
levaria você para o hospital. Então, sim, eu ligaria para Ron,
porque você provavelmente não apareceria para trabalhar no
dia seguinte, e a notícia de sua passagem no pronto-socorro
poderia se espalhar pela mídia. Eu também entraria em contato
com qualquer pessoa que pudesse ajudá-lo a se defender contra
a subsequente retaliação de Ron. — Ela franziu a testa. Que
tipo de equipe as estrelas como ele tinham, afinal? — Você tem
um agente e um advogado, certo? Um publicitário? Ou talvez
um assistente?
A zombaria havia sumido, substituída por um olhar que ela
não conseguia interpretar.
— Quem quer que advogue por você, você provavelmente
deveria me dar seus números. Apenas no caso de… — Ela
levantou um ombro. — Coisas acontecem, apesar das nossas
melhores intenções.
Ele deu um passo para mais perto dela, com a testa franzida.
Engraçado. Um homem que, de acordo com Ron, estava
bêbado o suficiente para entrar em uma briga de bar apenas um
punhado de horas atrás, ainda deveria cheirar a álcool.
Ele não cheirava a álcool. Ele cheirava a shampoo genérico
de hotel. E ele também não parecia de ressaca. Apenas ferido e
cansado.
— Eu vou te passar os contatos deles antes de sairmos do set
hoje à noite. — Ele inclinou a cabeça e a estudou. — Então, o
que acontece agora? Devemos socializar no meu trailer ou
quarto de hotel, sempre que não estivermos trabalhando ou
dormindo?
— Pelo que eu entendo–
— Vou trançar seu cabelo se você trançar o meu, Lauren. —
Seus olhos cinzas estavam fixos nos dela na luz quente da
manhã. — Podemos contar histórias de fantasmas com
lanterna. Talvez assar alguns marshmallows sobre os radiadores
do quarto do hotel.
Ele estava zombando dela.
Ela balançou a cabeça.
— Eu não tenho intenção de socializar com você. Eu não
sou seu entretenimento.
Ele balançou um pouco para trás, e se ela não soubesse
melhor, ela teria jurado que aquele olhar em seu rosto estava...
magoado?
Não. Isso não fazia sentido.
— Ah. Entendi. — A reviravolta cínica em seu sorriso havia
retornado. — Você assumiu o papel de chata hipócrita. Sem
dúvida, é o papel que você nasceu para desempenhar.
Dessa vez, não havia nenhum indício de humor no insulto.
Foi um golpe feito para ferir.
Sem o “delicioso”. Apenas idiota.
Ela olhou para longe por um momento, permitindo que a
pontada fraca desaparecesse antes de responder.
— Peço desculpas. — Suas palavras foram inesperadas e
abruptas. Cru com exaustão. Quando ela olhou para ele, ele
estava franzindo a testa. — Você não merecia isso. Eu sinto
muito.
Ele parecia sincero. Surpreendentemente.
Ela assentiu em aceitação de seu pedido de desculpas, e ele
soltou um suspiro lento.
— Não tenho uma boa desculpa. — Sua mandíbula
funcionou. — Eu só…
Ela esperou, mas ele não continuou.
Em vez disso, ele simplesmente suspirou e gesticulou para a
esquerda.
— Por que não te mostro meu trailer?
GODS OF THE GATES: TEMPORADA 6, EP. 9
VÊNUS
Eu disse para você não vir.
CUPIDO
Ela é minha esposa, mãe. Meu coração. Deixe-me acordá-la. Por
favor.
Vênus desliza em direção a ele, zombando.
VÊNUS
Seu coração é meu. Sua lealdade é minha. Sua existência eterna
é minha.
Ela segura seu queixo com uma mão, apertando até que seu
rosto se contorça de dor.
VÊNUS
A vida de uma única garota mortal não importa. Seu lugar é ao
nosso lado, lutando contra nossos inimigos: Juno, aquela
cadela traiçoeira e seus aliados.
CUPIDO
Se eu lutar ao seu lado, você promete poupar Psiquê? Salvá-la?
Júpiter caminha na direção de Cupido, lívido, e dá um tapa
no neto, que cai de joelhos.
JÚPITER
Um semideus insignificante e choroso não questiona a vontade
do todo poderoso Júpiter. Sua preciosa mortal estará morta
antes que esta batalha termine, uma punição adequada por seu
desafio.
Cupido chora. Vênus o aperta contra o peito e enxuga suas
lágrimas.
VÊNUS
Você entende, meu filho? Agora você entende o que significa
obediência?
CUPIDO
Eu entendo. Eu obedecerei.
Cupido sai da sala sem olhar outra vez para Psiquê.
2
A primeira vez que Alex teve contato com conceito de
“demais”, ele se identificou imediatamente, em um nível quase
visceral. Oh, sim, é isso o que eu sou. Muito parecido com o
momento em que sua mãe explicou o que seu diagnóstico de
TDAH significava.
Nem todo mundo apreciava sua personalidade, mas que
assim seja. Nem todo mundo apreciava peru frito no Dia de
Ação de Graças, e são eles quem perdem. Se ele era natural e
deliciosamente “demais”, no entanto, a mulher severa do outro
lado da sala era o oposto.
Camiseta lisa, cardigã, calça jeans escura, nenhuma joia ou
maquiagem, e nenhuma cor natural naquele rosto pálido. Até
suas sobrancelhas estavam relativamente pálidas. Seus traços de
pássaro – suas feições afiadas, seu corpo curto e redondo – eram
as únicas coisas memoráveis sobre sua aparência, na verdade,
além daqueles olhos.
Poderia ajudar se ela realmente dissesse alguma coisa.
Qualquer coisa.
Mas ela não disse. Se possível, ela sequer o reconheceu.
— Ei, Lauren, me passe aquela bola medicinal2 — ele gritou
para ela —, aquela à sua esquerda.
2
Uma bola medicinal é uma bola de peso cujo diâmetro é aproximadamente
a largura do ombro, muitas vezes usada para reabilitação e treinamento de força.
Ela respondeu sem olhar para cima.
— Não.
Uma hora atrás, ela se sentou em um banco de musculação
na sala de ginástica vazia do hotel, os olhos em seu kindle e não
nele. Mesmo que ele estivesse suado e sem camisa, o que – ele
tinha se informado por fontes confiáveis – mostram o melhor
dele e chama a atenção de qualquer pessoa atraída por homens.
Huh. Talvez–
— Ei, Lauren, você gosta de caras? Tipo, só um pouco? —
Ele ergueu os braços sobre a cabeça em um alongamento
luxuriante, depois flexionou os bíceps apelativamente, na
esperança de que o incentivo pudesse fazê-la levantar a cabeça.
Mais uma vez, nem um único olhar para cima.
— Não é da sua conta.
Meia dúzia de afundos. Um punhado de burpees. Todas as
suas proezas atléticas e seu corpo cuidadosamente afiado,
exibido bem ali na frente dela. E…
Nada. Nada.
— Oi, Lauren. — Desta vez ele esperou por uma resposta,
contando com a polidez inerente dela.
Ela finalmente ergueu o olhar de seu kindle, a cabeça
inclinada em indagação, e ele se deleitou com brilho
presunçoso da vitória.
— Uma vez eu estrelei um filme em que meu interesse
amoroso era uma mímica, e minha colega de elenco falava mais
do que você. — Ele fez alguns polichinelos, enquanto tinha a
atenção dela. — Apenas para sua informação.
Sua voz estava claramente impressionada
— Porque ela não era realmente uma mímica. Ela era uma
atriz.
Ele franziu a testa para ela.
— Eu quis dizer que ela falou mais na câmera.
— Então, ela não era uma mímica muito boa.
Ela voltou sua atenção para seu livro, e ele bufou em
descontentamento. Normalmente, qualquer menção ao seu
desastre mais absoluto de um filme provocava uma discussão
vívida. Mas, é claro, nem mesmo Mimes e Moonlight serviram
dessa vez. Não quando a mulher do outro lado da conversa era
um muro em forma humana.
Depois de alguns analgésicos de venda livre e uma boa
refeição da mesa do set, ele superou o pior da raiva daquela
manhã. Pelo menos, a parte direcionada para ela. Uma boa
soneca do meio-dia em seu trailer mais tarde – enquanto ela se
sentava no sofá muito duro, com o telefone na mão, e não dizia
uma palavra – e ele estava pronto para admitir que sua presença
recém-descoberta e quase constante em sua vida não era
realmente culpa dela. As pessoas precisavam de empregos, e ele
não podia culpá-la por aceitar a oferta de seu primo, apesar da
profunda idiotice do dito cujo.
Para aguentar o desdém óbvio de Ron por ela, ela deve
precisar muito, muito do dinheiro.
Ele franziu a testa novamente.
— Ei, Lauren, se você precisar de um empréstimo ou algo
assim, me avise. — Ele disse enquanto se posicionava no grosso
tapete azul para flexões.
Com isso, ele tinha sua atenção inteiramente. Colocando
seu kindle no chão ao lado dela, ela olhou para ele com a testa
enrugada.
— Você me conheceu esta manhã. — Cada palavra
continha um universo inteiro de reprovação inevitável. Ou...
talvez não desaprovação, mas algo próximo disso. Confusão?
Suspeita? — Tivemos uma maior interação durante esta última
hora.
Ele fez uma pausa com os braços totalmente estendidos,
apoiando seu peso.
— E?
— E você acabou de se oferecer para me emprestar dinheiro.
— Ela enunciou muito claramente. — Você não me conhece
bem o suficiente para isso, Alex.
Ele tentou encolher os ombros enquanto estava na posição
de flexão, com sucesso limitado.
— Discordo.
A reação dela naquela manhã, quando ele perguntou o que
ela faria se ele estivesse em perigo médico, disse-lhe o suficiente
sobre seu caráter. Ela não queria que ele se metesse em
problemas. Ela não estava torcendo por seu fracasso e punição.
Nada disso era pessoal, e ela tinha um senso de honra.
Então: empréstimo. Empréstimos, no plural, se necessário.
Ele começou a bater palmas entre cada flexão, considerando
o assunto.
Era possível que tais situações explicassem por que suas
economias e contas de aposentadoria não eram tão robustas
quanto poderiam ter sido. Ou era o que Marcus o informava
regularmente. Depois, havia o dinheiro que ele enviava para sua
mãe todos os meses, e todas as instituições de caridade que
dependiam de suas contribuições, e os amigos que ele permitia
que ficassem sem pagar aluguel em sua casa de hóspedes
quando estavam desempregados.
Embora ele aparentemente estivesse alugando sua casa de
hóspedes pelos próximos nove meses pelo valor justo de
mercado, então, quem era o gênio do financeiro agora, hein,
Marcus?
Quando ele virou a cabeça para olhar para Lauren, sua boca
estava ligeiramente aberta, e ela estava boquiaberta para ele.
Agora ela parecia mais um peixe do que uma ave.
Finalmente, com um aceno de cabeça, ela pegou seu Kindle
e voltou para seu livro.
Sem mais palmas. Hora de flexões de um braço em vez disso.
— Ei, Lauren — ele disse. — Devíamos ir a um clube juntos.
Acho que sua presença seria muito conveniente. Você é tão
pequena que eu poderia descansar minha bebida em cima de
sua cabeça, sem precisar de mesa.
Ela já dançou? Provavelmente não.
Por mais que ele odiasse afirmar o julgamento de Ron, ela
parecia claramente infeliz. Não ridícula, no entanto. A
situação: definitivamente ridícula. Ela: não.
Ela exalou um pouco mais alto do que o habitual.
— Você está quase terminando seu treino? Eu gostaria de
jantar e ir para a cama logo.
— Depois de me alongar. — O que ele pretendia fazer
longamente e à vista dela. Apenas no caso de ela prestar atenção
desta vez. — Falta pouco agora.
Ele se deixou cair no tapete e se reclinou de lado, apoiando
a cabeça na palma da mão, deixando seu pulso desacelerar um
momento. Sua cabeça latejava a cada batida do coração, o que
não era uma sensação especialmente agradável.
Ainda assim: ele não se arrependia do que havia feito e não
lamentaria suas consequências físicas. Seu desconforto era
apenas penitência, considerando seu passado.
— Ei, Lauren — ele disse — quem é seu personagem
favorito em Gods of the Gates? Sou eu, não é? Cupido? Vamos
lá, você sabe que é o Cupido.
Quando ela não respondeu, ele alongou seu quadril direito,
sua mandíbula estalando em um bocejo magnífico.
— Vou considerar isso como um sim — ele disse a ela.
Alex:
Obrigado porra, finalmente estamos em
altitude de cruzeiro
Tão entediado
A babá Clegg está dormindo e me fez prometer
não acordá-la a não ser nas refeições, porque
ela é cruel e quer que eu sofra
Marcus:
Talvez ela esteja apenas cansada?
Alex:
ELA ESTÁ CANSADA DE PROPÓSITO, PARA ME
FRUSTRAR
Marcus:
Além de seu cochilo malicioso, como estão as
coisas com Lauren?
Alex:
…
Marcus:
Alex?
Alex:
Ela diz que GBBO é “bom”
TEMPORADA DE NADIYA, MARCUS
Como é que eu vou aguentar tanto
Eu nem sei a palavra certa para isso, nada é
suficiente
Marcus:
Equívoco?
Alex:
Talvez ela realmente seja uma harpia
Marcus:
Uma harpia???
Isso é ruim. Melhore, cara.
Alex:
PQP
NINGUÉM ME ENTENDE
Quer saber? Eu não ia te dizer, mas agora eu
vou
Acabei de encontrar um tesouro de fics
obscenas de Aeneas/Cupido
Marcus:
Não, não quero saber
Alex:
Aparentemente nosso ponto de interseção é
Aeneid
Marcus:
Inteligente, mas ainda NÃO
Alex:
Só queria agradecer por todo aquele amor
carinhoso
Marcus:
AI MEU DEUS PARE
Alex:
Sua resistência foi realmente impressionante
Também sua circunferência
Marcus:
AGGGGGH
Alex:
Boa sorte para esquecer essa conversa, meu
pai severo, mas amoroso
Marcus:
EU TE ODEIO TANTO
Alex:
Vou tirar uma soneca agora, tchauaaa
Marcus:
Alex:
5
Alex estava olhando para ela com a expressão mais
estranha em seu rosto enrugado de cansaço.
Depois de uma última bufada, Lauren conseguiu conter sua
hilaridade bêbada. Usando o decote de sua camiseta, ela
enxugou a umidade sob seus olhos.
— O quê? — Ele se apoiou na porta do sedã, aparentemente
sem saber que a motorista havia retirado com eficiência toda a
bagagem do porta-malas do carro e aguardava sua atenção. —
O que é tão engraçado?
A risada incomum machucou sua garganta um pouco, e ela
alcançou dentro do banco de trás sua garrafa de água esquecida.
Depois de um gole, ela fechou a porta e acenou com a mão
desdenhosa.
— Você vai descobrir em breve. — Ela inclinou a cabeça em
direção à motorista paciente. — Vamos permitir que essa pobre
mulher continue com sua noite.
— Oh— Em um movimento assustado, ele se virou para a
motorista uniformizada, colocou o que parecia ser uma gorjeta
substancial em sua mão e acenou para que ela se afastasse.
O sedã completou o círculo da entrada de automóveis e
desapareceu na estrada estreita e sinuosa de Beachwood
Canyon enquanto Lauren fazia um balanço dos arredores.
Se ela tivesse um cachorro chamado Totó, ela o informaria
que eles não estavam em NoHo mais. Eles estavam, na verdade,
logo abaixo do letreiro de Hollywood, empoleirados no alto de
uma montanha, em um bairro onde moravam pessoas ricas e
famosas, em vez de não-entidades de classe média como ela.
No caminho para sua casa, subindo e descendo novamente
naquelas pequenas estradas, eles passaram por inúmeras casas
enormes e impecavelmente bem cuidadas. Não, propriedades.
Aqueles com uma variedade impressionante de estilos
arquitetônicos que vão desde o colonial espanhol até – bem, o
Mini-Castelo Alemão com Torres.
Um mini-castelo com um fosso estreito e raso cheio de
suculentas, que os visitantes atravessavam por uma pequena
ponte levadiça, claro. Claro que Alex tinha um castelo, um
fosso e uma ponte levadiça. E o que parecia ser estábulos de um
lado. Ele tinha a porra de cavalos?
Qual era o nome daquela reportagem da revista? Ah, certo:
Estrelas – elas são como nós!
Nãooooo.
Se ela virasse para um lado, as luzes do centro de LA
brilhavam abaixo. Uma meia volta, e a montanha se estendia
ainda mais alto, aquelas letras icônicas surpreendentemente
próximas.
De repente, ele estava surpreendentemente perto também.
Sem tocá-la, mas perto o suficiente para exalar um calor
perceptível.
— Eu poderia te dar um tour pela casa principal e terrenos
esta noite, se você quiser. — Suas mãos enfiadas nos bolsos da
calça jeans, ele olhou para ela. — Ou eu posso apenas encontrar
comida para nós, mostrar a casa de hóspedes e deixar tudo para
amanhã.
Como ela estava faminta, pegajosa de viagem e quase caindo
de exaustão, a resposta era clara.
— A segunda opção, por favor.
Antes que ela pudesse detê-lo, ele de alguma forma
conseguiu reunir toda a bagagem e arrastá-la com ele pela ponte
levadiça até a enorme porta da frente de madeira escura com
uma aldrava de cabeça de leão. Ao longo do caminho, luzes
externas discretamente posicionadas piscavam para a vida e
iluminavam seu caminho.
Na entrada, ele largou as malas enquanto procurava as
chaves.
— Droga, elas estão em algum lugar... por… aqui…
Uma rápida olhada na propriedade não revelou nenhum
outro anexo. Ela teve que assumir que estava dormindo nos
estábulos. O que parecia apropriado, já que ela era
definitivamente uma camponesa comparada ao seu belo
príncipe.
— Ah! — Ele brandiu as chaves em triunfo. — Eu venci de
novo!
Ela manteve a voz seca como aqueles canteiros de
suculentas.
— Você tinha um oponente astuto.
Com um bip rápido de um pequeno controle remoto em
seu chaveiro, ele desativou o alarme da casa.
— Você não faz ideia, babá Clegg. — Acenando para ela à
frente, ele parou na frente de suas malas. — Depois de você.
O ar dentro de sua casa estava frio e não tão rançoso quanto
ela esperava depois de sua longa ausência. No interior, o tema
do castelo era chamativo, mas não brega. Alguém – talvez Alex,
talvez os donos antes dele – deixou toques suficientes para a
personalidade da casa, mas nada mais.
O vestíbulo de azulejos levava a uma grande área aberta com
um teto alto e vigas escuras, as paredes brancas iluminadas pela
luz quente da lâmpada. Uma enorme laje de madeira ainda mais
escura coroava uma enorme lareira de pedra, seu interior cheio
de ainda mais suculentas. A mobília – dois sofás compridos e
baixos de frente para uma televisão enorme; uma mesa de
centro com tampo de mármore; vários arranjos de assentos
menores pontuados por prateleiras abertas habilmente
projetadas – pareciam elegantes, mas confortáveis, essenciais o
suficiente para preencher, mas não lotar o espaço.
— Há um banheiro de hóspedes no final daquele corredor
— ele apontou para um corredor sombrio — se você quiser se
refrescar antes de comer. Vou ver o que Dina deixou na
geladeira para o jantar.
Quando ela se aventurou pelo corredor mal iluminado,
localizou o banheiro de hóspedes impecavelmente arrumado e
fechou a porta atrás dela, sua cabeça começou a doer –
desidratação novamente – e ela se perguntou quem poderia ser
Dina. Uma namorada que ele de alguma forma não tinha
mencionado antes, apesar de todas as suas divagações
incessantes?
Isso parecia improvável. Dina provavelmente era uma
governanta ou sua cozinheira.
Os ombros de Lauren afrouxaram. Só porque poderia ter
sido estranho conciliar sua necessidade de cuidar de Alex com
as exigências de uma namorada, que poderia
compreensivelmente querer privacidade para um reencontro
tão esperado.
Caso contrário, ele ter uma namorada não a incomodaria
em nada.
Depois de aliviar a bexiga e lavar as mãos, ela jogou mais água
no rosto. Apenas para descobrir que sua toalha de mão era feita
de algum tipo de algodão que ela nunca havia encontrado
antes, um provavelmente abençoado por anjos durante o
processo de fabricação. A toalha simultaneamente secou seu
rosto e o acariciou, e se ela não fosse uma pessoa
patologicamente honesta, ela a teria enfiado em sua bolsa.
Depois de secar a penteadeira com tampo de mármore com
outra daquelas milagrosas toalhas de mão, ela se contemplou
no espelho. Camiseta amarrotada e manchada de água.
Círculos sob os olhos tão escuros quanto o olho desbotado de
Alex. Cabelo falhado caindo de um rabo de cavalo ao acaso.
Ainda assim, ela nunca saiu de um avião tão ilesa antes.
Depois de um único voo na classe executiva, ela provavelmente
choraria de desespero na próxima vez que se sentasse na classe
econômica.
Confrontados com o charme inimitável de Alex e olhos
afiados e passagens caras, ninguém piscou para seu tamanho ou
sua necessidade de um extensor de cinto de segurança. Como
ele havia prometido, o assento mais largo deu a ela espaço
suficiente para se sentar confortavelmente. Mais do que isso,
seus diversos controles permitiram que ela ficasse quase deitada
depois de um jantar de três pratos, um cobertor acolchoado em
cima dela enquanto ela resistia a remover sua máscara de
cortesia e olhar para a esquerda, onde Alex estava sentado perto
da janela em sua fileira de duas pessoas.
Ela não tinha dormido muito, mas teve bastante tempo para
si mesma na cabine escura. Ele até manteve sua promessa,
apesar dos dedos inadequadamente escondidos que ele cruzou
nas costas, e a deixou descansar sem incomodá-la.
Provavelmente porque ele próprio tinha tirado uma soneca. Na
hora das refeições, ele a beliscava de sua maneira habitual, mas...
Ele não reclamou que ela ocupava mais do que sua parte do
amplo apoio de braço entre eles. Ele não havia comentado
como a mesa da bandeja ficava em um ângulo instável
enquanto ela comia por causa de sua barriga. E quando eles
decolaram e aterrissaram, ele de alguma forma alcançou novos
patamares de ridículo, seus apartes sussurrados tão ultrajantes,
ela acabou prestando mais atenção nele do que o baque das
engrenagens ou a visão da terra caindo longe deles, ou
aproximando-se com velocidade vertiginosa.
Ela piscou para o espelho, então percebeu que estava
olhando fixamente para seu próprio reflexo por minutos agora.
Exaustão. Isso era tudo que seu atual estágio de confusão
indicava. Fadiga de viagem.
Quando ela voltou para a grande sala, ela viu uma área
recém-iluminada ao lado. Um recanto de jantar casual, a mesa
agora posta descuidadamente com um par de guardanapos
incompatíveis e dois pratos e uma pilha de talheres no meio.
— Pegue sua própria bebida na geladeira — ela ouviu de um
canto, e ela seguiu a voz dele até uma cozinha linda, de azulejos
brancos e mármore com detalhes dourados.
Depois de pegar uma garrafa elegantemente curvada de
refrigerante de toranja das profundezas reluzentes da geladeira,
ela fechou a porta pesada e se virou para ele.
Alex estava curvado na frente de um micro-ondas
embutido, os cotovelos apoiados na bancada de mármore
enquanto observava um recipiente de vidro girar dentro.
— Espero que você goste de enchiladas de frango. Se você
não gosta, você está objetivamente errada, porque as enchiladas
de frango são deliciosas. Especialmente as de Dina. — Ele
franziu os lábios. — Ainda assim, pode haver algumas outras
refeições preparadas na geladeira, se você estiver determinada a
ser do contra e errada. Merda, eu deveria ter colocado uma
tampa sobre isso. Está estourando agora e...
Ele abriu a porta do micro-ondas e tocou a lateral do
recipiente de vidro com a ponta do dedo.
— Eles ainda estarão mornos no meio, mas vamos jogar a
cautela ao vento e comê-los de qualquer maneira. Desculpa
pela minha negligência culinária, Babá Clegg. Eu sei que você
deve estar escandalizada.
Ela se inclinou contra um balcão e cruzou os braços sobre o
peito.
— Você nunca fica sem palavras?
— Não. — Ele estalou em ênfase. — Eu continuo
consistentemente agradável em todos os momentos.
Uma vez que ele pegou um tripé de mármore para colocar
embaixo do prato, ela o seguiu até a sala de jantar. E apesar do
que ele tinha acabado de dizer a ela, ele mal disse uma palavra
depois de servir enchiladas em ambos os pratos. Com muita
fome para perder tempo falando, ela supôs. Ou talvez ele
estivesse simplesmente tão cansado quanto ela, porque ele
estava um pouco caído agora, seus cotovelos novamente
apoiados diante dele.
As enchiladas semi-aquecidas eram tão deliciosas quanto o
anunciado, picantes e ardentes e cheias de carne macia e feijão,
mas o silêncio contínuo a incomodava, por algum motivo.
Não que ela sentisse falta de ouvi-lo falar. Mas-
— Dina é sua governanta? — Duas garfadas sobraram desta
tortilha. Ela já estava de olho em uma segunda porção. — Ou
sua cozinheira?
— Ambos. Também é uma porra de uma dádiva de Deus.
Eu estaria perdido e vivendo na miséria sem ela. — Ele largou
os talheres e esfregou a mão no rosto. — Dias de semana, ela
prepara o café da manhã e o jantar, e eu costumo comer um
sanduíche ou sobras para o almoço. Ela me deixa refeições para
reaquecer nos fins de semana, como você pode ver.
— Então ela trabalha de segunda a sexta?
Ele assentiu.
— Ela chegará bem cedo amanhã de manhã. Mandei um e-
mail para ela alguns dias atrás e, como a produção a pagará
generosamente pelo trabalho extra, ela ficaria feliz em manter a
pousada limpa e preparar comida para você também, mas a
escolha é sua. Seus aposentos têm uma pequena cozinha se você
preferir cozinhar, e há produtos básicos de limpeza embaixo da
pia do banheiro. Eu devo falar com Dina o que você decidir o
mais rápido possível.
Nenhum trabalho doméstico. Nada de cozinhar, a menos
que ela quisesse fazer isso. Como ela se sentiria?
— Ah, uau. Eu adoraria que outra pessoa cozinhasse e
tirasse o pó e... — Cansada, ela esfregou as têmporas. — Não.
Não, eu não deveria deixá-la assumir tarefas que eu mesma
posso fazer. — Droga. — Por favor, agradeça a ela pela oferta,
mas–
— Eu mudei de ideia. — Sem sequer olhar para ela, Alex se
serviu de outra enchilada. — A irmã dela acabou de ter um
bebê, e Dina quer começar um fundo de faculdade para sua
nova sobrinha. Ela pulou com a perspectiva de pagamento
adicional. Você querendo a ajuda dela ou não, você tem.
A coisa certa. Ela precisava fazer a coisa certa, mas a coisa
certa era tão difícil de fazer quando ela estava tão cansada.
— Ok. — Ela bateu o garfo contra o prato. — Nesse caso,
eu ainda vou limpar a sujeira, mas ela pode dizer à produção
que está fazendo o trabalho extra e receber o dinheiro.
Ele franziu a testa, parecendo... chateado. Para ela. Mas por
quê?
— Se você dissesse isso para Dina, ela ficaria ofendida, e eu
não a culpo. Por que você está supondo que ela mentiria sobre
seu trabalho por mais dinheiro? — Exalando pelo nariz, ele se
recostou. — Você acha que eu estou obrigando-a para isso? Ou
que eu não a pago o suficiente por seu tempo e trabalho?
Porque posso te assegurar, Lauren, não estou, e eu pago. Minha
mãe limpou quartos de hotel por alguns anos, e eu sei o quão
difícil é o trabalho.
Ei, Lauren, se você precisar de um empréstimo ou algo assim,
me avise. Aquelas gorjetas generosas no restaurante do hotel. O
maço de notas que ele colocou na mão do motorista.
Não, ele não era pão duro com seu dinheiro.
— Você pode falar com ela amanhã. Certifique-se de que ela
não está sobrecarregada e sendo mal paga. Ela gosta do que faz
e é bem recompensada por isso. Ela tinha uma escolha real no
assunto, e ela queria cuidar da casa de hóspedes e cozinhar para
você. — Sob aquela barba, sua mandíbula estava projetada para
frente. — Talvez você acredite nela, mesmo que não acredite
em mim.
— Não é isso! — Como diabos ela estragou isso tão mal? —
Alex, espere.
Com um barulho alto de sua cadeira contra o piso de
madeira brilhante, Alex se levantou e estava pisando forte na
cozinha, com o prato na mão.
Ela pulou para seus pés também, doente do estômago.
— Alex. Alex. Me escute. Não é isso!
Mesmo quando ela o seguiu até a cozinha, ele a ignorou e
continuou jogando sua enchilada pela metade no triturador de
lixo. Seus ombros se tornaram duros, feixes de músculos
ofendidos sob o algodão fino de sua camiseta, e isso só fez seu
estômago revirar ainda mais.
Timidamente, ela colocou a mão naquele ombro sólido
como uma rocha, desesperada para chamar sua atenção.
Ele estava quente sob seus dedos. Ele não a afastou, mas
também não se virou.
— Alex, me desculpe. Eu não quis insultar você ou ela. Eu
só… — Merda, este dia precisava terminar logo. Ela estava tão
cansada, seus olhos estavam formigando e lacrimejando. — Eu
odeio limpar e cozinhar. É difícil para eu imaginar alguém
fazendo isso voluntariamente se tivesse outra escolha.
Com isso, ele se virou para encará-la, e sua mão caiu para o
lado.
— Mas você tem outra escolha — disse ele. — Você não é
alguém?
Ela abriu a boca para responder, então a fechou novamente.
— Eu não sei — foi tudo o que ela conseguiu dizer em
resposta.
— Entendi — O rubor de raiva em suas maçãs do rosto
desapareceu quando ele olhou para ela. — O que o Harpy
Institute for Crone Sciences diria sobre isso?
Ela fechou os olhos aliviada. Aquele sarcasmo astuto
significava que ele havia entendido. Compreendida e perdoada
pelo desrespeito descuidado.
Seus lábios se curvaram.
— Que eu não tenho energia harpia o suficiente e deveria
refazer Harpias 101: Uma Introdução às Artes Virago?
— Ahhhhhh. — Lá estava. Seu ronronar, sua respiração
baixa um lento gotejamento em sua espinha. — Essa foi sua
tentativa falha de fazer uma piada, babá Clegg?
— Pode ser. — Quando ela abriu os olhos, ele estava a
apenas alguns centímetros de distância, a cabeça baixa, os olhos
vivos com inteligência alerta apesar do cansaço. — Acho que
você nunca saberá.
O ar entre eles ficou abruptamente rarefeito, e seu olhar a
prendeu no lugar.
— Me desculpe também. — As palavras foram abruptas,
sua boca apertada. — Eu posso ser um pouco sensível demais.
Talvez eu fosse assim, não importa o que acontecesse, mas é...
uh, muito comum com TDAH. Fico mais chateado do que
deveria sempre que acho que alguém está me criticando. — A
boca dela se abriu, e ele ergueu a mão. — Mesmo quando isso
não é realmente o que a pessoa está fazendo. Eu trabalhei para
obter um coração mais duro, mas…
Ele ergueu um ombro, mas o gesto não pareceu casual. De
jeito nenhum.
Na verdade, nada disso parecia casual, e ela não entendia o
que estava acontecendo.
Limpando a garganta, ele se virou para a pia. A bolha
estourou e ela pôde respirar novamente. Ouvir algo além do seu
próprio batimento cardíaco de novo. Ver outra coisa além de
seu rosto novamente.
— Amanhã de manhã, você pode levar comida para os
estábulos ou comer aqui comigo. O mesmo para todas as outras
refeições. — Ele abriu a torneira, depois o triturador de lixo, e
esperou para falar novamente até apertar o interruptor e o
zumbido silenciar mais uma vez. — A menos que eu vá a um
restaurante, é claro, porque você não terá escolha. Você vai
precisar ser minha bola e corrente, de acordo com as instruções
de Ron.
A mudança repentina na dinâmica da situação deles a
atingiu tardiamente.
Alex acabou de filmar em um lugar isolado da costa
espanhola. Ele estava em casa e, até onde ela sabia, não precisava
se apresentar para outro emprego imediatamente. Ele poderia
ir a qualquer lugar a qualquer hora com qualquer um, e ela teria
que ir com ele.
Merda.
— Certo. Sempre que você sair de sua casa, eu o
acompanharei. — Dado que ele era uma pessoa inquieta, isso
provavelmente significaria atividade constante da parte dela.
Um gemido subiu do fundo de sua alma sitiada, mas ela não o
soltou. — Você tem planos para amanhã?
— Não. — Ele bufou. — Estou cansado pra caralho.
Pretendo dormir e comer a comida de Dina e conversar com
Marcus, só isso.
— Você não pode sair sem mim. — Era uma ordem, mas
também um apelo. — Nem uma vez.
Ele a olhou com maldade.
— Você já disse isso, babá Clegg.
Apoiando os punhos nos quadris, ela olhou para ele.
— Me prometa que não vai.
— Você acreditaria em mim?
Ele inclinou a cabeça, atento e cauteloso.
Ela pensou por um momento, só para ter certeza.
Então, ela lhe disse a verdade.
— Sim.
Com sua longa expiração, ele inclinou a cabeça. E quando
ele ergueu o rosto para ela novamente, não havia nenhum
indício de leviandade em suas feições.
— Eu prometo — disse ele.
O tempo tinha voltado a passar mais devagar, como xarope
escorrendo, mais uma vez. Suas pernas estavam tremendo de
tensão, seus lábios ressecados implorando para que ela os
lambesse.
Ele deu uma pequena sacudida na cabeça.
— Você está cansada. Deixe-me pegar suas chaves, ensiná-la
a lidar com o sistema de alarme e mostrá-la a casa de hóspedes.
Um rápido tutorial em seu painel de alarme mais tarde, eles
estavam do lado de fora de sua porta. Ele não a deixou perto de
sua própria bagagem, em vez disso, levou as malas para os
estábulos falsos.
Na entrada da casa de hóspedes, ele passou a ela um chaveiro
com duas chaves e outro pequeno controle remoto.
— Estes são seus. Uma chave e um alarme remoto para os
estábulos, uma chave para a casa principal.
Ela estudou o controle remoto, cujos botões pareciam
relativamente autoexplicativos.
— Meu primeiro evento público é terça-feira à noite. Um
leilão beneficente. Sou o anfitrião. — Seu sorriso se tornou um
pouco maligno. — Haverá um tapete vermelho. O que
significa que você terá que andar comigo, babá Clegg. Traje de
coquetel é obrigatório.
Ela esfregou as têmporas novamente.
— Vou precisar de roupas. Você terá que ir comigo quando
eu for comprar.
— Nós vamos lidar com tudo isso amanhã. Vamos, me deixa
te mostrar tudo e dizer como tudo funciona para que você
possa ir para a cama. — Com um leve toque nas costas dela, ele
a empurrou para a porta. — Mesmo jararacas e megeras
precisam descansar às vezes. Caso contrário, elas ficam com
muito sono para a megerice ideal.
— Megerice não é uma palavra.
— Agora é.
Depois de desarmar o alarme e destrancar a porta, ela entrou
nos estábulos e encontrou... o que poderia ser o apartamento
perfeito para ela.
O andar de baixo era uma grande área aberta, com cadeiras
de aparência confortável, uma televisão widescreen, uma
pequena cozinha e sala de jantar, e um banheiro de um lado.
Nem um grão de poeira para ser visto em qualquer lugar, sem
dúvida por causa do trabalho duro de Dina.
Mais bancadas de mármore branco, aparelhos inoxidáveis,
pisos de madeira brilhantes e até outra pequena lareira repleta
de plantas de folhas de cera.
O estreito conjunto de escadas na outra extremidade da sala
deve levar a –
— O quarto fica no andar de cima. Há uma varanda
privada, com vista para as colinas. Se você mantiver essa porta
entreaberta, sentirá uma brisa agradável à noite. Há uma
maneira de resolver isso com o alarme. Eu vou te mostrar. —
Ele ficou na entrada com os braços cruzados. — Eu acho que
tudo é muito fácil de descobrir, mas por que você não dá uma
olhada antes de eu sair?
Ela tirou os sapatos e foi explorar. Todos os aparelhos
pareciam caros e fáceis de usar, assim como a televisão.
O banheiro…
Bem, talvez ela nunca sairia do banheiro. Era uma versão
muito maior do lavabo da casa principal, todo de mármore e
acessórios dourados, completo com as toalhas de mão mais
gloriosas que existiam, para não mencionar as toalhas de banho
inteiras feitas com o material. Atrás da porta, havia até um
roupão do mesmo tecido pendurado em um elegante gancho.
Não caberia nela, é claro, mas ela apreciou o gesto.
Havia um chuveiro e uma grande banheira de imersão e uma
pia generosa e penteadeira, e ela queria entrar naquele chuveiro
neste exato segundo. Em vez disso, ela relutantemente deixou o
banheiro e subiu as escadas quase em espiral para um quarto de
pé-direito alto, dominado por uma cama king size com um
edredom macio e uma cabeceira graciosamente curvada. O
tapete sob seus pés era turquesa e branco e amarelo-claro, e pelo
jeito, o produto de ovelhas que passavam a vida condicionando
profundamente sua lã para uma suavidade ideal.
Quando ela voltou para baixo, ela não sabia se deveria beijá-
lo ou chorar com a perspectiva de um dia deixar o Estábulo dos
Sonhos.
Ele estava caído contra a porta, mas se endireitou quando ela
apareceu.
— Tudo certo?
Ela apenas acenou com a cabeça, impressionada pelo muito-
mais-que-certo de tudo.
— A propriedade inteira tem recursos básicos de segurança,
mas certifique-se de virar a trava quando eu sair e mantê-la
trancada sempre que estiver aqui. Ative também o sistema de
alarme. Entendido? — Não havia nenhum traço de diversão em
qualquer lugar em suas feições ou voz. — Tive sorte até agora,
mas as pessoas sabem meu nome e podem descobrir onde
moro. Seja esperta e fique segura.
Ele se dirigiu para a porta.
— Você tem meu número. Me ligue se precisar de mim, e
estarei aqui em menos de um minuto. Vejo você amanhã.
Ela piscou nas costas dele, assustada com a sinceridade e
simplicidade de suas palavras de despedida.
Sem sarcasmo? Sem shots de despedida sobre–
— Como sempre, fique atenta aos sinais de frivolidade e os
elimine com extremo preconceito. — Ele falou por cima do
ombro. — Alegria e prazer podem estar à espreita em qualquer
lugar, a qualquer momento. Fique vigilante, babá Clegg.
Então a porta se fechou atrás dele, e ele se foi, deixando-a de
alguma forma magoada e aliviada. Mas ele não foi muito longe,
como ela logo descobriu.
— Estou esperando! — ele gritou do outro lado da porta um
momento depois, sua voz abafada. — Você não pode seguir
instruções simples, mulher lerda?
Uma vez que ela trancou a trava no lugar, ele caminhou em
direção à casa principal. Uma após a outra, as luzes se
iluminaram acima dele, como se destacasse seu progresso em
um palco, e ela observou o progresso da janela mais próxima da
porta.
Com o passo rápido, ele se moveu ao longo do largo
caminho de pedra cercado por seixos e várias plantas resistentes
à seca. Assim que ele desapareceu pela porta da frente do
castelo, ela ativou o alarme, afastou-se da janela e fechou as
cortinas contra a escuridão lá fora.
Ela deveria tomar um banho, desfazer as malas e ir para a
cama, mas em vez disso ela vagou pela casa novamente,
estranhamente inquieta. Nem mesmo esfregar sua bochecha
contra a melhor toalha do universo não poderia aliviar aquele
buraco estranho e vazio em seu estômago.
Era uma sensação estranha ter Alex tão longe à noite.
Um alívio, claro. Lidar com ele exigia muita energia.
Mas a pequena casa de hóspedes estava muito, muito quieta
sem sua presença exagerada, ou mesmo suas conversas meio
gritando e meio rindo com Marcus do outro lado de uma
parede fina.
Ela deve simplesmente estar sentindo falta de contato
humano, por mais irritante que fosse. Depois do banho, ela
ligaria para Sionna.
Então esse sentimento mesquinho – como se ela tivesse
esquecido algo importante, ou deixado em algum lugar que não
pertencia – desapareceria. Para sempre, ela esperava.
MIMES AND MOONLIGHT
JOHNNY
O que há de errado, Esmée?
Esmée se solta de seu aperto e passeia com um cachorro
imaginário. Ela aponta para o cachorro, depois para si mesma.
JOHNNY
Eu faço você se sentir presa? Como algum tipo de animal de
estimação? Mas, minha querida, se você já tivesse me dito...
Ela balança a cabeça tristemente e puxa uma corda
imaginária, mão sobre mão, então segura a barriga.
JOHNNY
Não! Não nosso instrutor daquele curso de cordas! Você não
pode ter o bebê dele!
Ela se levanta e se inclina para trás, agitando os braços, como
se estivesse sendo assediada por um vento forte.
JOHNNY
Claro que você está desequilibrada agora! Deixe-me ajudá-la,
Esmée!
Esmée faz vários movimentos indistintos. Johnny balança a
cabeça em perplexidade. Ela se frustra por sua incapacidade de
encontrar gestos para comunicar o que ela quer dizer. Depois de
mais algumas ondas de seus braços, ela desiste com um encolher
de ombros e fala.
ESMÉE
Com você, estou presa, Johnny. Como se eu estivesse em uma
caixa. E eu nunca poderia encontrar uma maneira de dizer a
você.
6
— O terreno é todo seu, e você pode explorar à vontade.
— Apertando os olhos contra a luz brilhante da manhã, Alex
colocou seus óculos escuros e continuou falando, apesar do
silêncio de Lauren. — Outras áreas de estar têm vistas
espetaculares do centro de LA, Hills e Reservoir. Em um dia
realmente claro, você pode até ver o Pacífico.
Depois de engolir seu remédio para TDAH com um gole de
café, ele colocou a caneca na mesa de madeira de teca, enfiou o
dedo no queijo dinamarquês restante e fez uma careta.
Por que ele parecia um corretor de imóveis tentando vender
uma propriedade a um comprador relutante? Isso era muito
indigno, caramba, mesmo para um homem que nunca
considerou a dignidade uma mercadoria particularmente
valiosa.
Mas ele não conseguia se conter.
Ele apontou para uma área repleta de árvores de seu terreno.
— Você pode colher suas próprias laranjas, limões Meyer e
toranjas. Abacate também.
Quando ele olhou para Lauren, seu rosto estava apontado
na direção que ele havia indicado, mas sua expressão estava tão
difícil de ler como sempre. Mais ainda, já que ela usava seus
próprios óculos de sol enormes.
Antes de responder, ela terminou de mastigar um pedaço de
sua maçã dinamarquesa, porque é claro que ela escolheria a
opção de café da manhã mais chata que Dina havia fornecido.
— Conveniente —disse ela em seu jeito imperturbável,
irritante como o inferno.
Ela provavelmente nem gostava de laranjas ou abacates,
porque ela era a pior.
— Depois que você terminar de comer sua decepção de
maçã, por que você não diz "olá" para Dina e faz uma boa
programação com ela? Então, podemos sair.
— Primeiro de tudo… — Ela empurrou a última mordida
de sua maçã dinamarquesa na boca, mastigando bem e
engolindo antes de falar novamente, porque ela era a babá
Clegg, a humana mais rígida do mundo. — Meu pastel ficou
excepcional. Crocante e amanteigado, e as maçãs ainda tinham
um pouco de textura. Em segundo lugar, para onde vamos?
Ele a olhou com pena
— Nem tinha cobertura. Você é uma selvagem.
— Eu repito. — Ela terminou seu suco de laranja espremido
na hora e largou o copo. — Aonde estamos indo?
— Estamos indo comprar um vestido para você. Hora de
dar uma de Uma Linda Mulher e essa merda. — Ele estalou os
dedos com prazer. — Mal posso esperar até que alguém se
recuse a atendê-la porque você é obviamente uma idiota sem
sofisticação do Kansas ou de qualquer outro lugar…–
— Norte de Hollywood. Basicamente, descendo esta colina
e na próxima.
— E então você iria embora, com o coração partido e
envergonhada, só para voltar horas depois, carregando milhares
de dólares em alta costura para esfregar quanto dinheiro de
comissão eles perderam.
Ela estava massageando suas têmporas novamente.
— A vingança mesquinha é a mais satisfatória, sempre. —
Com o dedo indicador, ele empurrou o telefone dela para mais
perto dela na mesa. — Você deveria escrever isso em algum
lugar. Considere isso uma prévia gratuita do meu TED Talk.
Por um longo e satisfatório momento, ela pareceu
totalmente sem palavras. Então ela falou, cada palavra lenta e
precisa.
— Ok, primeiramente: — ela pausou novamente, e ainda
mais fricção na têmpora ocorreu. — Por que eu preciso ficar
fazendo listas com você?
— Essa é a sua primeira coisa? — Ele franziu a testa para ela.
— É uma primeira coisa estranha.
— Não é minha primeira coisa. É um adendo, idiota.
Ele engasgou, alto o suficiente para que um pássaro próximo
voasse em alarme.
— Que linguagem! Ora, minhas delicadas orelhas!
A respiração dela pareceu se alongar dramaticamente nesse
ponto, e ele imaginou que ela estava contando mentalmente.
Depois de várias inalações muito divertidas e profundas, ela
controlou seu temperamento.
— Primeiro: não sou uma profissional do sexo e você não é
meu cliente. Assim, não daríamos um de, como você tão
eloquentemente apontou, "Uma Linda Mulher e essa merda”.
Segundo: Como você não é meu cliente nem meu sugar daddy
e, de jeito nenhum, você não vai pagar por essas roupas, e eu
não posso comprar roupas no valor de milhares de dólares que
nunca mais usarei. Terceiro–
— A produção pagaria por um vestido apropriado para o
tapete vermelho — ele interrompeu.
— Terceiro — ela repetiu com determinação de aço —
vestidos de coquetel não vêm no meu tamanho, pelo menos
não aqueles que você encontraria em lojas padrão de LA. Para
algo bonito que realmente se encaixa em mim, você precisa
contratar Christian Siriano –
— Eu sabia que você gostava de reality shows! Há!
Ele imaginou que sua indiferença por GBBO era
fingimento. Tinha que ser. Quem poderia resistir à doce e
emocional ascensão de Nadiya ao triunfo do cozimento?
Também a dupla hilária de Sue e Mel?
— Ou, mais provavelmente, ir online e pedir algo muito
menos bonito, mas também muito mais barato. Então, fazer a
bainha. Que nós, quarto, não temos tempo para fazer, já que o
evento é amanhã à noite. Então, quinto, precisamos dirigir até
o meu duplex e decidir qual dos poucos vestidos que já possuo
pode ser adequado.
Oooh. Ele ia ver o santuário interno de sua severa guardiã?
Sua Fortaleza da Solidão Estúpida? Ele mal podia esperar.
— Você vai me levar para sua casa? — Ele arregalou os olhos
— Mas você ainda nem me levou para um encontro de verdade.
Eu não quero que você pense que eu sou fácil.
— Pelo amor de… — Agora ela estava esfregando a testa,
assim como as têmporas, e ele se sentiria pior se um pequeno
sorriso também não estivesse curvando os cantos daquela boca
larga — Eu tinha planejado visitar meu apartamento em breve
de qualquer maneira, já que as roupas que eu levei para as férias
na Espanha não são as mesmas roupas que eu quero usar aqui.
Então, podemos muito bem cuidar de tudo hoje. Eu dirijo.
Ele se pôs de pé.
— Vamos fazer isso, Thelma.
— Sente-se, Louise. — Ela apontou um dedo autoritário
para a cadeira dele. — Você mal tomou nada além de café. Na
semana passada, você reclamou repetidamente de dor de
estômago por causa de seu remédio e me disse que a melhor
maneira de evitar essa dor era comendo no café da manhã.
Então, vamos nos certificar de que você coma.
Ele não tinha percebido que ela o estava ouvindo. Se tivesse,
talvez não tivesse mencionado...
Oh, quem ele estava tentando enganar? Claro que ele teria
mencionado o problema. Não dizer as coisas não era natural, o
que ele também explicou a Lauren várias vezes.
Ela ainda estava falando, então aparentemente ela o ouviu
também.
— … o rótulo do seu frasco de comprimidos, você deveria
tomar seu remédio com bastante água — ela disse a ele. —
Vamos levar uma garrafa no meu carro, e você pode beber ao
longo do caminho.
O que ele comia ou bebia não estava no domínio de
autoridade profissional dela sobre ele. Então, novamente, a
preocupação em sua voz também não parecia profissional.
Foi pessoal, ela estava presente.
Ele não podia ver seus gloriosos olhos verdes, mas sabia que
estariam quentes e preocupados.
Então ele sentou sua bunda de volta e comeu o resto do
dinamarquês sem discutir antes de voltarem para a casa. O que
fez seus lábios se curvarem um pouco novamente.
Ele gostou.
Ele queria mais disso.
De: lcclegg@umail.com
Para: KingRon@godsofthegates.com
Assunto: Relatório semanal e evento de amanhã
Caro Rony–
Resumo:
Cupido quer se libertar de seu relacionamento doentio
com sua família. E ele está prestes a obter ajuda da
mulher mais improvável de todas – uma harpia com um
vibrador do tamanho de seu antebraço.
Notas:
Obrigado a AeneasLovesLavinia. Você arrasa como um
leitor beta, cara. Além disso, por favor, considere isso
uma fic de correção para o show, apesar da minha
inclusão de um personagem original.
Deus sabe que precisa ser consertado. Seriamente.
Alex:
Descobri hoje à noite que vários homens
chamaram Lauren de vadia ou megera
Se eu soubesse quem eles são, juro por Deus,
Marcus
Marcus:
Você... o quê? Se juntaria a eles? Você a chama
de megera o tempo todo. Harpia também...
Estraga-prazeres.
Carcereiro severo.
Vadia também.
Ranzinza, chata, azeda, inimiga da alegria,
inimiga da leveza
“Maria de The Sound of Music só que terrível e
incompreensivelmente baixinha e sem talentos
musicais aparentes”
“Se Jane Eyre tivesse sido como a babá Clegg,
Rochester a teria jogado em um rio em vez de
buscar um casamento bígamo com ela
enquanto mantinha sua pobre esposa trancada
em um sótão – não importa, eu não acho que
quero ser Rochester neste cenário”
“Se isso fosse Les Misérables, eu sou
totalmente Valjean, e ela definitivamente é
Javert”
“Nunca me relacionei tão intensamente com
Harrison Ford de O Fugitivo”
“Ela é essencialmente o Exterminador do
Futuro, implacável e imparável, e eu sou Sarah
Connor”
“Um dia, poemas épicos serão escritos sobre
meus sofrimentos sob seu governo despótico”
Alex:
Bem, eu não quero dizer TODAS as coisas que
eu digo, você sabe disso
Além disso, ela acha minhas piadas engraçadas
Quer dizer, sua boca se contorce por um
milímetro
Embora isso possa ser um tique nervoso que
ela desenvolveu por minha causa, agora que
pensei nisso
Hummm
Não importa, é definitivamente um sorriso, eu
decidi com certeza
E eu nunca a chamei de vadia, isso seria rude
Marcus:
[aplausos sarcásticos]
Alex:
Traidor
Vá em frente, deixe-me sofrer enquanto você
se entrega a mais uma demonstração malfeita
de afeto público com sua April
Marcus:
Não ligaria se tivesse que demonstrar…
Alex:
Marcus?
MARCUS!!!
Que melhor amigo você é
Se eu sou Júlio César, você é 1000% Brutus, cara
12
Os problemas normais de sono de Alex levaram duas
semanas para encontrá-lo em LA.
Seu melhor palpite era que: ele estava tão exausto quando
chegou que até seu cérebro teimoso teve que desistir e deixá-lo
dormir profundamente por seis ou sete horas de vez.
Então, depois de duas semanas, ele começou a acordar a
todas as horas da noite novamente, sua mente agitada. Ou ele
levaria uma eternidade para adormecer, olhando para o teto
enquanto seus malditos pensamentos se recusavam a parar de
se agitar. Era uma tortura. Especialmente porque ele não
conseguia lidar com isso da mesma maneira que fazia há anos,
não sem perturbar Lauren ou quebrar uma promessa a ela.
Para acalmar seu cérebro idiota o suficiente para dormir, ele
tentou tudo o que podia pensar, mas ler fanfics não funcionou.
Escrever fanfic não funcionou. Usar a academia de sua casa não
funcionou. A masturbação não funcionou. Mesmo assistir
GBBO não funcionou, o que foi genuinamente doloroso de
reconhecer.
Depois de mais uma semana, ele não aguentou mais.
Pouco depois das duas da manhã, ele se levantou e se vestiu.
Lá embaixo, ele desativou o alarme que Lauren o havia
perturbado para ativar durante a noite – Sua segurança
também é importante, você sabe, blá blá blá – e abriu a porta da
frente, trancando-a atrás dele.
Ele tentou não fazer barulho enquanto caminhava até a
beira do propriedade, mas as malditas luzes do sensor de
movimento continuaram o iluminando ao longo de seu
caminho. Parando por um momento, ele apertou os olhos por
causa do brilho repentino e esperou que seus olhos se
ajustassem.
Então as luzes acima da entrada da casa de hóspedes também
acenderam, e a porta se abriu, merda, e Lauren enfiou a cabeça
ao redor da laje de madeira.
— Onde você está indo a esta hora da noite, Alex? Você está
bem?
Ele podia identificar o momento exato em que a
preocupação se transformou em aborrecimento.
Ela pisou no caminho de pedra na frente de sua porta, com
os pés descalços, os punhos nos quadris.
— Por falar nisso, aonde você vai sem mim? Porque você
prometeu que eu iria acompanhá-lo sempre que você saísse da
propriedade, e parece que você está indo em direção ao portão
lateral. Ou seja, para fora da propriedade.
Seus olhos estavam inchados de sono, e ela estava apertando
os olhos contra o brilho também. Seu cabelo estava
desgrenhado, uma mecha saindo acima de sua orelha. Ela usava
uma camisola que era basicamente uma camiseta grande
demais, tão desbotada que não dava para saber a cor, tão grande
que a forma exata de seu corpo era um mistério.
Ao longo das últimas três semanas, porém, ele
aparentemente juntou pistas suficientes para fazer um bom
palpite. E agora ele tinha uma ideia muito melhor de como
eram as coxas dela, então essa era outra parte do mistério
desvendado.
Não que ele se importasse em resolver aquele mistério em
particular. Ele era apenas naturalmente curioso.
Suas pernas podiam ser comparativamente magras para seu
corpo, mas ainda pareciam redondas e macias. Saindo de
debaixo daquela camisola inadequada, elas eram... vulneráveis.
Assim como seus pés.
— Se você vai sair, você precisa colocar alguns malditos
sapatos, mulher. — Ele fez uma careta para ela. — Até as
crianças sabem disso.
Ela não se mexeu.
— Não mude de assunto, Woodroe.
— Tenho problemas para dormir. Caminhadas longas
ajudam. — Ele empurrou o queixo em direção à casa de
hóspedes. — Prometo não participar de nenhuma folia alegre
que possa acontecer ao longo do meu caminho. Volta para a
cama.
Seus olhos se fecharam e ela respirou fundo uma vez. Duas.
— Ok. Ok. — Ela ergueu a mão para detê-lo, a palma
pequena para fora. — Só me dê um minuto para me vestir, e eu
vou com você.
Ele olhou para ela.
— Isso é ridículo.
— É o meu trabalho. — Ela desapareceu dentro da casa de
hóspedes, apenas para voltar alguns minutos depois, vestida
com sua camiseta BIG HARPY ENERGY, leggings e tênis. —
Estou pronta. Vamos lá.
Seu queixo macio estava firme, sua postura determinada.
Depois de quase um mês juntos, ele sabia que ela não se deixaria
influenciar por sua decisão, não importa o quão cansada
estivesse. E mesmo que ele tentou o seu melhor para não
perturbar seu descanso, ele não podia dizer que não gostava de
sua companhia.
Ainda assim, ele tinha que apontar o óbvio.
— Com suas pernas de Smurf, vou ter que andar em câmera
lenta subindo e descendo as escadas. Elas têm literalmente o
dobro da sua altura.
— Como eu ainda não vi, não posso dizer com certeza, mas
acho que isso literalmente não é verdade. — A bochecha dela
ainda estava marcada pelo travesseiro, e ele meio que queria
traçar as linhas. — A menos que cada degrau tenha três metros
de altura.
Ele a examinou de cima a baixo, então levantou uma
sobrancelha.
— Três metros? Sério?
— Tá. — Ah, essa carranca. Ficou bem nela. — Dois
metros. E meio.
— Foi isso o que pensei — disse ele presunçosamente.
Soltando um suspiro tempestuoso, ela trancou a porta atrás
dela e ligou o alarme, então entregou a ele suas chaves, telefone
e identidade.
— Não tenho bolso.
— Esta é a minha vida agora? Eu sou um mero burro de
carga? — Tristemente, ele balançou a cabeça enquanto
depositava tudo no bolso esquerdo de sua calça de trilha. —
Imagino que você vai querer que eu a carregue para cima e para
baixo nos degraus também. Que, novamente, se erguerão sobre
vocês como monólitos, mas eu persistirei. Talvez eu possa
montar algum tipo de sistema de polias.
Sua mandíbula estava fazendo um som estranho, rangendo.
— Não acho que isso seja necessário.
— Mas você não sabe, não é? — Ele sorriu para ela. — Você
já viu essas escadas secretas antes?
Seu rosto se iluminou, sua irritação temporariamente
esquecida.
Ela girou a cabeça, examinando sua propriedade.
— As escadas secretas? Estamos perto delas?
O nome não era totalmente preciso, já que muitas pessoas –
principalmente os da região – sabiam sobre as escadas. Mas
como os conjuntos centenários de escadas públicas estreitas e
íngremes na encosta da montanha cortavam as propriedades
particulares de várias pessoas ricas e famosas, seu bairro não
anunciava exatamente sua presença.
— Evidentemente, você ainda não saiu pelo portão lateral.
— Ele acenou para ela à frente. — Você primeiro, Smurfette.
Seus passos silenciaram sobre o caminho de seixos enquanto
caminhavam, e ele desacelerou o passo, depois o desacelerou
novamente. Apesar de toda a sua agitação, ela não chegou a
lugar nenhum rapidamente. E apesar de toda a sua inquietação,
ele não parecia se importar. O balanço constante de seu amplo
traseiro era ao mesmo tempo calmante e estranhamente
hipnotizante.
Espera. Ele estava olhando para a bunda dela? Que porra?
Alongando seus passos, ele se apressou até que eles
estivessem andando lado a lado, e ele não tinha mais visão de
trás dela.
— Eu queria chegar às escadas antes do amanhecer, mulher.
Canalize sua natureza megera e corra mais rápido.
Ele estava procurando por um dedo médio, mas tudo o que
conseguiu foi um revirar de olhos. Decepcionante.
Não importa. A esperança é a última que morre.
Eles chegaram ao limite de sua propriedade um minuto
depois. Uma parede de pedra enfileirada deste lado da
propriedade, com torres falsas emoldurando a porta solitária e
pesada feita de madeira escura.
Ela parou para olhar aquelas torres.
— Sério?
— Se você não consegue se comprometer adequadamente
com um tema, Babá Clegg, isso é uma falha no seu design, não
no meu legado. — Ele parou na frente do portão e pegou suas
próprias chaves. — De qualquer forma, este conjunto de
escadas secretas corre ao lado da minha propriedade. Há trilhas
para caminhadas nas proximidades também, mas elas não estão
oficialmente abertas após o pôr do sol e não são iluminadas. É
quando têm as melhores vistas do centro de Los Angeles, com
todas as luzes.
Seus olhos se fecharam por um momento.
— Por favor, me diga que você não caminha sozinho à noite
por caminhos escuros.
— Bem, eu não quero mais caminhar sozinho. — Ele deu
um tapinha no ombro dela. — Eu vou ter você comigo agora.
Ela gemeu.
Mesmo através de sua camiseta, o calor de sua pele aqueceu
sua palma e formigou as pontas dos dedos, e era um absurdo.
Uma resposta exagerada nascida da exaustão, claramente.
— Tenho certeza de que os coiotes ficarão animados para
conhecer minha nova companheira. — Ele tirou a mão e sorriu
para ela, determinado a ignorar sua desconcertante reação a tal
contato físico. — Os gambás, guaxinins e as cobras também.
Sua pele ia se desgastar se ela continuasse esfregando a testa
com tanta força.
— Meu Deus.
— O quê? — Ele inclinou a cabeça, a imagem da inocência.
— Não tem coiotes no norte de Hollywood?
— Não — ela disse enfaticamente.
— NoHo3 — ele corrigiu, apenas para ganhar outro olhar.
O que ele ganhou.
Ele destrancou a porta e conduziu os dois antes de disparar
o ferrolho para fechá-lo novamente. Sozinho, ele não teria se
incomodado em proteger a propriedade durante um passeio
relativamente breve, tarde da noite, mas com Lauren morando
lá...
Bem, era diferente.
Ela ficou em silêncio por um momento e contemplou as
escadas, que subiam e desciam na escuridão.
Ele não a apressou.
— Quando você estiver pronta, vamos descer. É onde está
minha parte favorita.
Quando ela se virou para encará-lo novamente...
Aquele sorriso. Oh, Deus o ajudasse se ela alguma vez
percebesse o que ele faria para obter aquele brilho em seus olhos
surpreendentes e aquela doce curva de sua boca.
— Estou animada para vê-la. — Ela acenou com a mão. —
Por que você não lidera o caminho, e eu sigo atrás?
Os degraus eram muito estreitos para andar lado a lado, e
sim, talvez fosse mais seguro não se permitir a visão de sua
3
Norte de Hollywood
bunda novamente. Mas algo nele se rebelou com o pensamento
de não poder vê-la facilmente e avaliar como ela estava.
— Os degraus são íngremes e feitos de granito, então, se você
cair, causará algum dano. — Ele franziu a testa para ela. —
Segure-se nos trilhos.
—Sim, pai. – Ela piscou para ele, os olhos arregalados.
Que ousadia. Se ele não estivesse lhe dando sermão, ele a
parabenizaria.
— Se você se cansar ou começar a sentir dor em qualquer
lugar, me diga e vamos parar. — acrescentou.
Colocando os punhos nos quadris, ela o observou.
— Achei que você precisava de exercícios para lidar com sua
insônia.
Isso não é tão importante quanto você.
— Eu tenho uma academia em casa. Além disso, se você se
machucar, não poderá ir a lugar nenhum. Se você não pode ir a
lugar nenhum, eu não posso ir a lugar nenhum. — Ele
começou a descer os degraus, acrescentando por cima do
ombro: — E como nós dois sabemos, meu interesse próprio é
prioridade, sempre.
Ela deu um zumbido evasivo em resposta, então o seguiu.
Eles desceram em silêncio, mas sua respiração soava estável,
e o ritmo calmo de seus passos não vacilou.
Ao lado deles, seu muro de pedra se transformou em uma
cerca de madeira, depois uma de arame e depois uma barreira
de barro enquanto passavam de propriedade após propriedade.
Galhos ocasionais colidiam com o caminho de árvores
balançando na brisa da montanha, e outras plantas do jardim
brilhavam sob as luzes do sensor de movimento que piscavam
para a vida enquanto passavam por baixo. As casas de seus
vizinhos apareceram e desapareceram novamente alguns passos
depois.
A vista brilhante do centro de Hollywood estava a seus pés,
muito abaixo.
Ele manteve o ritmo lento, permitindo que ela tomasse seu
tempo.
— Meu trecho favorito são as Escadas Saroyan. Cento e
quarenta e oito degraus. O que parece muito, mas... — Sem
estragar a surpresa — Esquece. Você vai ver.
Quando chegaram ao final do primeiro lance de escadas,
caminharam lado a lado pelas ruas do bairro para chegar ao
próximo. Mesmo em sua velocidade modesta, ele podia sentir
sua inquietação diminuindo, passo a passo.
— Até onde você pode subir as escadas? — Ela parecia um
pouco sem fôlego enquanto desciam os próximos degraus, mas
não muito sem fôlego. — Até o letreiro de Hollywood?
— Quase — ele disse a ela. — É uma subida difícil, no
entanto. Às vezes você tem que descer alguns degraus antes de
continuar subindo. Me diga se você quiser fazer isso.
Ela bufou uma meia risada.
— Por enquanto, acho que esse passeio à meia-noite será
suficiente.
Então lá estavam eles. Nas Escadas Saroyan.
Ele parou no topo e ela se juntou a ele. Na semi-escuridão,
sua pele pálida brilhava como a lua.
— Oh — ela disse, a voz abafada. — Oh, nossa.
Ele se forçou a olhar para os degraus em vez de para ela.
Era uma escada dupla, dividida no centro por vasos de
granito embutidos eriçados de suculentas alegres de folhas
cerosas e tufos de gramíneas decorativas resistentes à seca. E
onde não havia plantas, havia banquinhos.
O design era prático, mas bonito também. Uma espécie de
oásis de jardim entre aqueles degraus implacáveis que sobem e
descem a encosta da montanha.
Em mais noites do que ele podia contar, ele se exauriu
subindo e descendo, apenas para descansar em uma daquelas
lajes de pedra e contemplar o imerecido milagre de existir
naquele momento, naquele lugar, empoleirado no alto de uma
montanha, olhando para baixo o brilho de tirar o fôlego de
Hollywood.
As Escadas Saroyan eram especiais. Antes de partir para a
Espanha, ele não esperava compartilhar suas peregrinações
noturnas com ninguém. Nem mesmo Marcus, por mais que
Alex amasse seu melhor amigo.
A presença de Lauren não era uma intrusão, no entanto. Era
uma conquista.
— Isso é tão adorável. — Sua voz doía de alegria e...
melancolia? — Obrigada por me trazer aqui, Alex.
Eu não tinha exatamente escolha, ele quase disse, mas isso
não era verdade. Sério. E este não era o lugar certo para mentiras
ou sarcasmo.
Ele limpou a garganta.
— Não… Hm, não há de quê.
— Que tal eu me sentar em um dos bancos, enquanto você
faz algumas viagens subindo e descendo as escadas? — Seu
sorriso era tão gentil e sincero, testemunhar isso doeu. — Dessa
forma, você pode queimar um pouco de energia enquanto
ainda me mantém à vista. Quero ter certeza de que você poderá
dormir um pouco quando voltar para casa.
Com um aceno brusco, ele acenou para ela em direção ao
banco mais próximo, alguns passos para baixo. Assim que ela
se acomodou, ele decolou em seu ritmo normal, quase uma
corrida, desceu aqueles 148 degraus e depois voltou.
Depois que ele deu uma volta, ela gritou quando ele passou:
— Quantos anos tem esse trecho?
— Ele é da década de 1920 — ele respondeu sem perder o
ritmo.
A voz dela flutuou atrás dele, perseguindo-o escada abaixo.
— Você está indo muito rápido. Por favor, tenha cuidado,
Alex.
Depois disso, ela o deixou sozinho, mas seu olhar pousou
em sua pele como uma camada extra de roupa. Em outra volta,
ele jogou a camisa aos pés dela enquanto passava correndo.
Ajudou, mas não resolveu totalmente o problema. A noite
deve estar mais abafada do que o normal, mesmo no topo da
montanha.
Talvez quarenta minutos depois, quando esvaziou a maior
parte dos detritos de seu cérebro, ele registrou ruídos familiares.
O pio de uma coruja. O chilrear de outro pássaro, um que
ele não conseguiu identificar.
Quando ele passou por Lauren da próxima vez, ele
diminuiu a velocidade.
— Você ouviu isso?
Sua testa franziu.
— Eu ouvi o quê?
— O pássaro piar. Canto. Passarinhos. — Ofegante, ele
parou alguns passos abaixo do banco dela, e de repente eles
estavam na mesma altura, olho no olho. — Não é uma carriça,
muito provavelmente, mas acho que tenho uma dessas de
qualquer maneira, né?
Estendendo a mão, ele gentilmente sacudiu aquele nariz
distinto, então continuou a andar. Apenas para descobrir, na
próxima rodada, que Lauren não estava mais olhando para ele,
e ela encolheu os ombros de uma forma que ele não via há
semanas. O sorriso sereno que iluminou seu rosto na última
hora podia muito bem nunca ter existido. Sua expressão ficou
tão vazia quanto no dia em que se conheceram.
Merda.
Parando em seu banco, ele usou sua camisa para enxugar o
suor do seu rosto, seu peito, seus braços. Ele fez um grande
show, na verdade, e não obteve nada em resposta. Nem um
olhar, nem um comentário.
Que merda. Ele tinha que dizer alguma coisa, não?
— Eu sou um idiota. Nós dois sabemos disso. — Ele
colocou os punhos nos quadris e abaixou a cabeça, tentando
em vão encontrar os olhos dela. — No entanto, neste caso em
particular, pode ser útil saber a maneira específica pela qual
demonstrei ser um idiota agora, porque realmente não tenho
ideia.
Ela exalou pelo nariz.
— Está tudo bem, Alex. Não se preocupe com isso.
— Se eu não souber o que fiz ou disse, não posso usar essa
atitude ou frase quando uma necessidade urgente de ser um
babaca pode surgir novamente. Como sempre, a preparação é
fundamental. — Nenhuma resposta. Tudo bem, então. Ele
seria sincero, caramba. — Se eu não sei o que fiz, também não
posso evitar fazer o que fiz de novo. Eu não quero te deixar com
raiva.
— Eu não estou com raiva — ela disse calmamente.
Ela estava magoada, então. Porra. Isso era muito pior.
Frustrado e em pânico, seu pulso batendo em seus ouvidos,
ele subiu ao nível dela e se agachou na frente dela, até que ela
não pôde evitar olhar para ele.
— Me desculpa. — Estendendo a mão, ele cobriu a mão dela
onde ela descansava em seu colo. Sua mão estava suada, mas ela
não se importaria. Apesar de toda sua seriedade, ela era
surpreendentemente tolerante. — Seja lá o que eu fiz, me
desculpe, Carricinha.
Ela se encolheu.
— Espera. É por causa do meu novo apelido para você? —
Quando ela deslizou a mão debaixo da dele, ele se sentou sobre
os calcanhares e obedeceu a sua ordem silenciosa de não tocar
nela. — Porque Sionna chama você da mesma coisa, e você não
demonstra estar nem um pouco incomodada.
— Ela me chama de Cenourinha. Cenourinha. — Sua
tentativa de sorrir durou pouco. — Como acabei de descobrir,
você aparentemente me chama Carriça. CARRIÇA.
Abreviação de “minha babá tem um bico ridículo no lugar do
nariz”.
— Não. Lauren, não. — Ele manteve sua voz severa. Firme,
porque ele estava falando sério pela primeira vez, e ela precisava
saber disso. — Eu te chamo de Carricinha porque, sim, suas
feições e aparência em geral podem lembrar um pouco de um
pássaro–
Ela desviou o olhar novamente, e, caramba, ele deveria ter
começado falando outra coisa. Mas ele estava comprometido
agora, então continuou avançando, como era seu costume.
— Mas eu gosto. — Ele fez uma pausa para dar ênfase. —
Não tem nada de ridículo em você.
Ela balançou a cabeça, os olhos ainda em uma suculenta
próxima.
— Não foi isso que você disse quando nos conhecemos.
Ele deveria saber que isso seria usado contra ele um dia.
— Eu estava chamando toda a situação de ridícula, não você
— ele disse a ela. — Ron interpretou errado porque ele é um
idiota, e eu deveria tê-lo corrigido na hora. Mas deixe-me ser
claro agora: eu gosto do seu nariz. Eu gosto de olhar para o seu
rosto. Eu gosto de olhar para você.
O olhar dela voou para o dele, e ele se apressou para
acrescentar:
— Mas, mais importante ainda, eu gosto de pássaros.
Especificamente, eu gosto de carriças de inverno. É a minha
espécie favorita.
Cautela e mágoa ainda beliscavam sua testa, então ele
continuou falando.
— No início da minha carreira, eu estava em um filme de
terror chamado Thump in the Woods. Talvez você já tenha
ouvido falar? — Quando ela balançou a cabeça, ele continuou:
— De qualquer forma, fui escalado como um dos três
universitários filmando um projeto sobre uma famosa cabana
assombrada em uma floresta isolada de Maryland, onde as
pessoas teoricamente desapareciam e morriam por decapitação
por machado. Como você pode imaginar, não terminou bem
para nós, pobres estudantes.
Quando ele imitou o golpe de um machado, completo com
um assobio e um baque final, o canto de sua boca se ergueu
ligeiramente. Ele tomou isso como um bom sinal.
— Nós três fizemos nossas próprias filmagens na floresta, e
foi uma filmagem difícil e de baixo orçamento. Os diretores
restringiam progressivamente a quantidade de comida que
recebíamos e continuavam nos acordando à noite com sons
aparentemente assustadores aos quais teríamos que reagir na
câmera. Choveu e choveu e choveu, até que nossas barracas
inundaram. — Ele suspirou e coçou a barba. — Estávamos
todos brigando na frente das câmeras, o que a história exigia,
mas parte dessa tensão aconteceu em interações fora da câmera
também.
Ela nem tinha ouvido a parte relevante da explicação dele, e
seus olhos já estavam aquecidos, sua postura relaxando – braços
não mais cruzados, ombros relaxados – enquanto ela florescia
em simpatia por ele, e, caramba, ela precisava parar de ser boa
para caralho.
— Eu quase perdi a cabeça completamente, Lauren.
Cheguei muito, muito perto de desistir daquele filme uma
dúzia de vezes. A única coisa que me manteve em movimento,
a única coisa que tornou minha existência diária suportável, foi
a vida selvagem local. — Ele pensou em seus animais favoritos.
— Vimos esquilos. Cervos. Pássaros. Especialmente um tipo de
pássaro, que tinha uma música incrivelmente alta e alegre.
Ela assentiu, obviamente ciente de onde sua anedota estava
indo. Mas ele precisava dizer isso de qualquer maneira, porque
ele não suportava que ela pensasse mal dele.
— Era uma carriça. Uma carriça de inverno. Pequena e
redonda e de olhos brilhantes e…
Maravilhosa, ele quase disse. Divertida. Adorável.
Encantadora.
Sua boca ficou macia, e seus lábios se separaram enquanto
ela olhava para ele, seu rosto a apenas alguns centímetros de
distância. Ela não pronunciou uma única palavra, no entanto.
Ela simplesmente esperou que ele terminasse tudo o que tinha
a dizer.
Ele levantou um ombro.
— Desde então, eu gosto de pássaros.
Ainda assim, ela não disse nada. Sua paciência era infinita.
Infinita e dolorosamente doce. Ele não conseguia entender
como alguém podia simplesmente sentar e ouvir por tanto
tempo, sem precisar interromper com seus próprios
pensamentos, sem se defender ou deixar o clima agitado de
alguma forma.
Ele apostaria seu mini castelo que ela era uma terapeuta
exemplar.
Ele já sabia que ela era uma humana exemplar.
— Se você não quiser que eu te chame de carriça, eu não vou
te chamar — ele disse. — Mas não é um insulto. Nunca foi.
Ele se levantou mais uma vez, e ela inclinou a cabeça para
trás para assistir.
Quando ela se certificou de que ele havia terminado de falar,
ela finalmente respondeu, suas palavras simples e cheias de
sinceridade.
— Peço desculpas. Eu pensei o pior de você sem pedir uma
explicação. De novo. Vou tentar ser melhor que isso. E, sim,
você pode me chamar de Carricinha.
Ele não podia suportar o remorso naquela voz baixa e doce.
— Bem, não é como se eu nunca tivesse insultado você.
Você tinha motivos para suspeitar.
— Verdade. Você me insultou uma ou duas vezes. — Os
lábios dela se contraíram e os ombros dele relaxaram. — Não
sobre te lembrar uma carriça, no entanto.
— Não sobre você me lembrar uma carriça — ele
concordou.
Enquanto ele vestia sua camisa úmida, ela inclinou o queixo
para trás para olhar para o céu escuro girando acima.
— Você aliviou a inquietação? Ou você quer subir e descer
mais um pouquinho?
— Chega com as escadas. Hoje, pelo menos. — Ele não
podia fazer nenhuma promessa sobre amanhã. — Você quer
voltar? Ou você quer ficar sentada por mais alguns minutos?
Depois de seus passeios noturnos, esse era seu costume. Sua
mente finalmente calma e clara, ele poderia ter tempo para
refletir sobre a beleza ao seu redor e ser grato. Mas ela foi
despertada do sono, e eles estavam ali por mais de uma hora
agora. Qualquer pessoa normal gostaria de começar a
caminhada de volta ao mini castelo.
— Eu gostaria de sentar um pouco — disse ela, para sua
surpresa. — Tudo bem?
— Certo. — Ele se empoleirou em um degrau próximo. —
Não tenho pressa. Só me diz quando você quiser ir.
Ela deu um pequeno murmúrio de concordância, e eles se
sentaram em silêncio pacífico. Após alguns minutos, as luzes
do sensor de movimento das propriedades vizinhas se
apagaram. As estrelas pareciam surgir então, subitamente
muito mais visíveis na escuridão aveludada. No sopé de sua
montanha, Hollywood brilhava à distância.
Estrelas acima, estrelas abaixo.
— Eu te contei sobre o trabalho do qual eu quase me afastei.
— Inclinando seu corpo em direção a ela, ele estudou seu rosto
virado para o céu. — Você me deve, sua boca é como um cofre,
mulher.
Com isso, ela abaixou o queixo, encontrando seus olhos.
— O que, exatamente, você acha que eu devo a você,
Woodroe?
Havia carinho tolerante naquele olhar, naquela voz, e ele
queria chafurdar nela.
— Diga-me por que você saiu do hospital. — Era
ostensivamente uma ordem. Um desafio. Mas mesmo ele podia
ouvir a sugestão de um apelo sob a arrogância. — Por que
deixar um bom emprego para trabalhar para alguém como
Ron?
Ele infundiu o nome de seu primo com todo o ódio que
merecia, porque ele não conseguia superar isso. O bastardo
nem perguntou como Lauren estava depois que ela levou um
baque por causa do corpo daquele idiota no tapete vermelho.
Nem uma vez.
A hesitação dela prejudicou sua paciência limitada, mas ele
se manteve firme, permaneceu em silêncio e recebeu sua justa
recompensa após vários segundos tensos.
— Bem, antes de tudo, quero deixar absolutamente claro
que não saí do hospital para trabalhar para Ron. — Sua boca
franziu ligeiramente, como se ela tivesse provado algo azedo. —
Planejei férias de um mês na Espanha e em Portugal, e minha
mãe me convenceu a visitá-lo no início da viagem. Eu estava
indo para Barcelona naquela terça-feira, só…
Só que Alex brigou com alguém em um bar, e ela foi
recrutada como sua acompanhante.
O pensamento o confundiu.
Um dia. Mais um dia e ela teria ido embora. Mais um dia, e
ele nunca a teria conhecido.
Sua camisa estava úmida, e a noite estava ficando mais fria,
e ele estremeceu.
Ela franziu a testa enquanto o estudava, e ele antecipou o
que ela estava prestes a dizer.
— Antes que você use como desculpa para parar de falar,
não estou com frio. Pague sua dívida, babá Clegg. Por que você
saiu do hospital?
Ela esticou aquelas pernas curtas e bonitas, apoiou as mãos
nos quadris no banco de granito e olhou para o céu novamente.
— Eu trabalhei no hospital por treze anos — disse ela, sua
voz tão baixa que ele mal podia ouvi-la. — Mais do que
qualquer outro clínico de serviços de emergência que começou
na mesma época que eu. Eu era considerada a velha senhora do
meu departamento antes de sair.
Ainda em seus trinta e tantos anos? Jesus.
— A agenda era difícil. Algumas semanas, eu trabalhava
setenta horas e dava muito de plantão. O salário era bom,
especialmente com todas as horas extras, e eu gostava do
coleguismo. — Ela levantou um ombro. — Geralmente eu
pegava o turno da noite e trabalhava nos feriados, porque não
tinha companheiro ou filhos para quem voltar em casa. Foi a
única coisa justa a fazer.
Ele não podia evitar. Ele gemeu em voz alta, porque porra,
Deus, ela era a pior.
— O quê? — O calor de seu olhar era impressionante,
realmente, especialmente para um idiota tão desinteressante.
Ele suspirou dramaticamente.
— Nada. Continue.
Depois de mais um olhar irritado, ela o fez.
— De qualquer forma, era cansativo. Mas não foi por isso
que eu saí, na verdade.
Os instintos que a fizeram empurrá-lo de lado no tapete
vermelho foram aprimorados no pronto-socorro, ela disse. As
pessoas ficavam agitadas, ela disse.
Ele tirou a conclusão natural.
— Foi a violência?
No que parecia ser um gesto inconsciente, ela tocou a ponta
torta do nariz, e agora ele sabia. Algum idiota no pronto-
socorro o quebrou.
Filho da puta. Precisava subir mais mil degraus. Um milhão,
para acabar com toda essa raiva.
Para sua surpresa, ela balançou a cabeça.
— Não foi a violência.
Ele estreitou os olhos para ela com desconfiança, e ela soltou
uma risadinha.
— Quero dizer, sim, as pessoas podem ficar violentas, às
vezes. Na maioria das vezes eles apenas insultavam você, mas às
vezes eles jogavam coisas. De vez em quando, eles davam socos
também, mas a segurança poderia lidar com isso.
Ela parecia tão malditamente calma sobre tudo isso.
Imperturbável, como se esse tipo de abuso não cobrasse seu
preço eventualmente. Como se sua segurança não importasse.
— Os pacientes ficavam com raiva porque eu não lhes
receitava remédios. — Ela levantou um dedo autoritário. — O
que eu não poderia fazer, só para deixar claro. Ou porque eu
estava ordenando internação involuntária. Ou porque eles
estavam bêbados e impacientes, e eu não podia avaliá-los até
que eles ficassem sóbrios, e eles não podiam ir para casa antes
de uma avaliação.
Quando ele esticou as próprias pernas, elas roçaram as dela,
e ele as deixou lá Naquele momento, ele precisava do contato.
— Mas isso não era o suficiente para fazer você desistir.
— Não. — Ela respirou devagar e soltou o ar pelo nariz.
Seus olhos estavam mais brilhantes agora do que as estrelas
acima poderiam explicar. Ela piscou com força uma, duas
vezes, e ele quis interromper, fazê-la rir, oferecer sua camisa
como lenço de papel.
Mas ele não fez nada disso. Ele esperou e continuou
ouvindo. O que, para alguém como ele, era mais difícil do que
qualquer outra reação teria sido.
Sua boca trabalhou, e então ela continuou falando.
— Meu trabalho envolvia ver as pessoas no seu nível mais
baixo. Muitas vezes, os problemas estavam além de qualquer
coisa que eu pudesse consertar. As pessoas eram suicidas
porque perderam seus empregos ou suas moradias. As crianças
queriam morrer porque estavam sendo intimidadas. E depois
da centésima vez eu tive que adicionar alguém a uma lista de
espera para moradias ou abrigos de transição, a centésima vez
eu coloquei uma mãe e um bebê de volta nas ruas porque não
tinha outra alternativa, a centésima vez eu mandei uma criança
de volta para a mesma situação que a levou a se automutilar em
primeiro lugar…
Não é à toa que ela estava chorando. Absurdamente, ele
estava engolindo as lágrimas também.
— É difícil, Alex. — Ela afastou a umidade sob seus olhos.
— É realmente difícil.
Ele não podia imaginar. Francamente, ele não queria
imaginar.
— Mesmo hospitalização… — Suas mãos se fecharam em
punhos no banco de pedra. — Pode haver uma dinâmica de
poder feia lá. Mas quando você está tentando manter alguém
vivo, a internação hospitalar pode ser a única solução razoável.
Muitas vezes, simplesmente não há boas opções. Nenhuma.
Depois disso, o silêncio se estendeu por minutos, e ele
percebeu que ela havia terminado.
— Você estava exausta — ele finalmente disse.
Ela inclinou a cabeça.
— Eu estava exausta.
— Então você pegou o trabalho do seu primo idiota porque
você não tinha emprego e precisava de dinheiro.
— Bem… — Enquanto ela considerava isso, seu rosto se
contorceu adoravelmente. — Sim e não. Eu tenho economias
de todas as minhas horas extras, então não importa o que
aconteça, eu poderia ter algumas semanas de descanso antes de
decidir o que fazer a seguir. Mas este trabalho me dá mais
tempo. E imaginei que nada poderia estar mais longe da sala de
emergência do que uma produção de Hollywood e a
propriedade de uma estrela de Hollywood. Eu precisava de
alguma distância, e estou conseguindo.
Ele se mexeu desconfortavelmente nos degraus, ombros
tensos com algo que, infelizmente, parecia muito com culpa.
— Mas você não está descansando. Você ainda está
trabalhando.
Agora, por exemplo, ela deveria estar dormindo, e não
estava. Por causa dele.
Ela bufou uma risada silenciosa.
— É o máximo de descanso que consegui em mais de uma
década.
— Você precisa de um tempo de folga. — Ele fez uma careta
para ela. — Tempo para você mesma.
Mas ela deveria estar cuidando dele o tempo todo, e Lauren
nunca se esquivou de suas responsabilidades. Além de
prometer ficar dentro dos limites de sua propriedade por vários
dias seguidos – algo que ele não achava que poderia realmente
fazer, o que ela saberia muito bem –, como ele poderia
conseguir um tempo tão necessário para ela?
— Ron poderia me designar um guardião substituto por
uma semana ou duas. — Por mais fedorenta e horrível que a
Babá Substituta possa ser. — Nós podemos dizer a ele que você
está doente ou algo assim.
Sua voz era resoluta.
— Eu não vou mentir e não vou sujeitar você a qualquer que
seja o plano B do meu primo.
A maldita mulher nem o deixaria fazer um favor para ela.
Lauren Clegg pode muito bem ser o ser humano mais
frustrante da face deste planeta, e vindo dele, isso era uma porra
de uma acusação.
— Eu poderia prometer ficar dentro de casa por alguns dias.
— Tempos desesperados, etc. — Seis. Ou cinco?
Definitivamente quatro.
Ela apenas revirou os olhos, o que... tudo bem. Justo.
— Você não vai deixar isso passar, não é?
— Não. — Ele tamborilou os dedos contra os degraus. —
E se eu jurar no túmulo da minha amiga imaginária de infância,
Capitã Fluffytail, que vou esmagar imediatamente sob meus
pés cada lampejo de prazer que eu possa ex–
— Espere — ela interrompeu. — Nós marcamos para visitar
Marcus e sua parceira em San Francisco no próximo fim de
semana, certo?
Seu assistente virtual havia comprado as passagens de avião
e providenciado o hotel e o transporte mais cedo naquele dia,
na verdade. Ele assentiu.
— Ron considera Marcus uma boa influência para você. —
Suas sobrancelhas estavam desenhadas em pensamento. — Se
você está absolutamente determinado a me dar alguns dias de
folga, vou perguntar a ele se posso transferir a sua custódia para
seu melhor amigo no fim de semana.
Não era uma ideia terrível, na verdade. A distância física que
isso traria entre eles, no entanto...
De alguma forma, mesmo quando ele estava imaginando
uma folga para ela, ele assumiu que ainda a veria. Todos os dias.
Ele não estava pronto para dizer que sentiria falta dela. Ele
apenas... não sentiria falta dela. Só isso.
— Custódia? — Ele franziu a testa para ela. — Estou
ofendido pela sua escolha de palavras. Não, magoado.
Ela escolheu ignorar isso.
— Vou mandar um e-mail para ele quando voltarmos para
casa.
Falando em casa…
— Então estamos decididos – disse ele. — Vamos,
Carricinha. É hora de você parar de falar, finalmente, e nos
deixar dormir um pouco.
Ele se levantou e estendeu a mão para ajudá-la. Seu aperto
era firme e quente, o contato um soco de sensação feroz o
suficiente para deixá-lo tonto. Uma vez que ela estava de pé, ele
a soltou com pressa.
Em um acordo silencioso, eles começaram sua lenta
caminhada de volta pelos degraus, com ele liderando o
caminho. Porque novamente: chega de olhar para a bunda dela.
— Por que sua amiga imaginária de infância tem um
túmulo? — ela perguntou depois que eles alcançaram o
segundo lance de escadas, sua voz sem fôlego.
Ao ouvir isso, ele diminuiu o ritmo ainda mais.
— Porque jurar sobre um túmulo soa mais dramático do
que uma simples promessa. — Ele apontou um sorriso
impenitente por cima do ombro. — Me processa.
Os cantos de sua boca estavam recuados.
— Então a Capitã Fluffytail ainda está vivo?
— Desde que inventei a Capitã Fluffytail há
aproximadamente cinco minutos, sim, eu diria que ela ainda
está viva. — Depois de um momento de contemplação, ele
acrescentou: — A menos que um coiote já tenha chegado até
ela. Ela era muito fofinha e deliciosa. Uma comida de coiote
irresistível, realmente. — Ele balançou a cabeça tristemente. —
Pobre Cap. Mal a conhecemos.
Aquela risada inimitável flutuou pela noite, e ele sorriu para
as estrelas.
— Você é o pior — ela declarou entre ataques de risos. — O
pior.
Isso o fez rir também, porque, Jesus. A ironia. A ironia o
matou.
— Tenha certeza, Carricinha — ele engasgou. — Eu estava
pensando a mesma coisa sobre você.
13
Cedo naquela manhã de sábado, Lauren acompanhou
Alex até o check-in de segurança do aeroporto, lembrou-o de
se comportar enquanto ele revirava os olhos e reclamava sobre
como a falta de confiança injustificada dela feriu sua própria
alma e – depois de devolver seu aceno final e estranhamente
hesitante na direção dela – o observou desaparecer de vista.
Dirigir de volta para seu duplex foi... estranho.
Suas semanas passadas quase inteiramente na companhia
um do outro os conectaram de alguma forma. Os amarrou
juntos, gostando ou não. E a cada quilômetro que ela viajava
para longe dele, aquela corda apertava seu peito.
Quando o avião dele decolou uma hora depois, em
segurança e na hora certa – ela verificou, porque senão ela se
preocuparia – o puxão se tornou uma dor real. O que era
ridículo, obviamente.
O ridículo de sua reação não a tornou menos dolorosa.
Ao saber da visita iminente de Lauren, Sionna mudou de
turno para que pudessem passar a maior parte do fim de
semana juntas. Assim que Lauren parou em sua garagem
individual e caminhou até a entrada com torres, sua amiga saiu
pela porta direita do duplex com um abraço que quase
derrubou as duas no chão da varanda.
— Ren! — gritou Sionna. — Minha bruxa favorita de outra
velhota!
Rindo impotente, Lauren deu a resposta esperada.
— Sionna! Minha irmã megera de outro homem!
Então eles estavam cambaleando na metade do duplex de
Lauren, e Sionna se sentou no sofá e olhou sua amiga
especulativamente.
— Então… — Arrumando-se mais confortavelmente, ela se
sentou de pernas cruzadas. — Diga-me como está indo o
trabalho de babá mais bem pago do mundo.
Por alguma razão, isso deixou os dentes de Lauren no limite.
Só um pouco.
— Alex é um adulto. Eu não sou babá dele.
Droga, estava empoeirado aqui. Também excessivamente
quente e obsoleto. Caminhando até a janela, Lauren levantou
até que ela se desprendeu e abriu alguns centímetros.
— Oook. — Seu corte de duende amarrotado e adorável,
como sempre, Sionna inclinou a cabeça. — Então me diga
como está indo seu trabalho de não ser uma babá no qual você
é paga para acompanhar um homem adulto toda vez que ele sai
de casa para garantir que ele não tenha problemas.
Ok, soou um pouco como uma babá, quando ela colocou
dessa forma. Mas–
— Cheguei à conclusão de que Ron exagerou. —
Colocando as mãos nos quadris, Lauren se virou para o sofá. —
Se Alex está de alguma forma fora de controle, não vi nenhum
sinal disso. E eu passei... o quê? Cinco semanas com ele? Eu
provavelmente já teria notado.
Preguiçosamente, Sionna abraçou uma almofada no peito
substancial.
— Ele não está bebendo em excesso?
Lauren dirigiu um olhar aguçado para a garrafa de vinho e
os copos que sua amiga milagrosamente havia bebido desde que
entrara no apartamento, embora ainda não fosse meio-dia.
Sionna apenas riu.
Sorrindo, Lauren caiu no sofá também.
— De qualquer forma, para responder à sua pergunta, ele
não tomou uma única bebida desde que nos conhecemos.
A testa de Sionna se contraiu.
— Então, o que diabos aconteceu na Espanha?
— Eu não faço ideia. — Ela se inclinou em direção a sua
amiga. — Mas eu aposto minha conta poupança que ele tinha
um bom motivo para entrar numa briga, e não tinha nada a ver
com álcool.
— Isso... não é o que os tabloides relataram. — À luz do sol
brilhando através das janelas, os fios prateados enfiados no
cabelo castanho escuro de Sionna cintilavam como enfeites. —
Mas você não é uma pessoa de apostas, então eu acredito em
você.
Não, Lauren não era uma pessoa de apostas. Ela confiava em
seu próprio julgamento quando se tratava de avaliar o estado
mental dos outros, e Alex era muitas coisas – muitas, muitas
coisas –, mas não o quase viciado em espiral que Ron havia
descrito.
Como se lesse os pensamentos de Lauren, Sionna ergueu
uma sobrancelha escura.
— Então, se ele não é o que Ron e os tablóides disseram que
ele era, como ele é?
— Hmmmm… — Como descrevê-lo? — Ele é um
espertinho, em tudo. Ele gosta de irritar a todos, mas também
de fazê-los rir. Ele é impulsivo, perspicaz e curioso. Ele pode ser
egocêntrico, mas é um ouvinte surpreendentemente bom
quando tenta. Ele é generoso e leal e nunca se cala, pelo que
posso dizer. — Lauren franziu a testa e considerou a questão.
— Talvez quando ele está dormindo? Não que ele durma
muito, honestamente.
A sobrancelha de Sionna arqueou ainda mais.
— Você sabe disso por experiência própria?
— Você está tentando dizer– — Lauren olhou para sua
melhor amiga, horrorizada. — Claro que não sei! Nós não... ele
não...
Ela se interrompeu, sem saber como terminar sua própria
frase, as bochechas subitamente em chamas.
— Ele não é o seu tipo? — Sionna assentiu pensativa. —
Entendi… Marcus Caster-Rupp – o melhor amigo dele, certo?
– é muito mais bonito.
Oh, Lauren sabia o que sua melhor amiga estava fazendo, e
ela não cairia nesse truque, nem em um milhão de anos.
Apenas–
— Marcus pode ser mais tradicionalmente bonito — ela se
ouviu declarando ferozmente, indignação em cada sílaba —,
mas Alex é aproximadamente um milhão de vezes mais sexy.
Ainda mais com aquela barba. E aqueles olhos.
Sem mencionar aquele ronronar dele, aquele que arrepiava
todos os pelos de seu corpo e arrancava o ar de seus pulmões.
A essa altura, ambas as sobrancelhas de Sionna estavam
praticamente levitando acima de sua cabeça.
— Então, na sua opinião, o homem com quem você
conviveu por mais de um mês é muito sexy. E tem olhos.
Também uma barba.
Lauren jogou uma almofada no rosto irritante de sua
melhor amiga.
— Calada.
Pegando-o com agilidade, Sionna sorriu para ela.
— Boa mira. Vejo que você fez progressos nas Crone Arts
enquanto esteve fora.
Ela não esconderia seu rosto em chamas. Ela não iria
esconder.
O sorriso de sua melhor amiga suavizou.
— Estou falando sério, Ren. Você parece…
Ah, caramba. Lauren esperou o veredicto de Sionna, a pele
formigando de desconforto.
— Você parece mais confortável em sua própria pele —
disse Sionna finalmente. — Menos como se você estivesse
observando a si mesma e todos os outros de uma distância
segura. Eu não sei se é porque você saiu do hospital ou por
causa de seu trabalho um milhão de vezes mais sexy do que
Marcus-Caster-Rupp, mas, de qualquer forma, estou feliz em
ver isso, querida. Estou preocupada com você há muito tempo.
Enquanto Lauren piscava para sua melhor amiga, uma
revelação tardia arredondava sua boca em um silencioso oh.
Como ela tinha perdido isso todos esses anos? Em
retrospecto, era mais que óbvio.
Sionna pode ter criado o Harpy Institute for Crone Sciences
devido ao luto e raiva da viúva, mas ela também o criou por
preocupação com Lauren. Porque ela queria que Lauren se
envolvesse com o mundo novamente.
Não, mais do que isso. Ela queria que Lauren reivindicasse
seu próprio espaço no mundo e defendesse esse espaço.
E se Sionna estivesse certa, talvez aquele formigamento que
Lauren sentiu não fosse inteiramente desconforto. Talvez fosse
excitação também. Talvez fosse a vida.
Engolindo em seco, ela olhou para a borda puída da
almofada do sofá.
De qualquer forma, era temporário. Uma vez que Gods of
the Gates exibisse seu episódio final, ela nunca mais veria Alex.
Melhor não insistir em seus pensamentos turbulentos, suas
emoções turbulentas.
Seu corpo revoltado.
Foda-se. Era depois do meio-dia em algum lugar.
Lauren se levantou do sofá e foi procurar um abridor de
garrafas.
— Eu vou brindar a isso.
Alex:
Em um avião DE NOVO
Tão entediado
DIVERTE-ME, CARAH
Carah:
Cadê a Lauren, sua vadia chorona
Alex:
Eu pensei que eu era a vadia fofoqueira
designada, mas se eu puder ser dois tipos de
vadias, melhor ainda
Eu tenho multidões de vadias
De qualquer forma, a babá Clegg está se
divertindo com sua amiga Sionna no fim de
semana, o que é completamente injusto, já que
ela não me deixa me divertir
Carah:
Eu gostei de Lauren
Gostei de conhecê-la no leilão
O que exatamente ela o impediu de fazer, se eu
puder perguntar
Alex:
TANTO, TANTO
Ela me incomoda para tomar café da manhã
suficiente quando tomo meus remédios para
TDAH, mesmo quando prefiro ir e fazer outras
coisas, o que é muito chato
Para ser justo, meu estômago está doendo
hoje porque não tomei café da manhã
suficiente
O que é muito chato também, porque eu odeio
quando ela está certa
Carah:
…
Alex:
E eu deveria estar me divertindo com Marcus e
April, e eu me diverti, mas Lauren me impediu
de me divertir MAIS, por ela estar com seu
telefone no silencioso e não responder minhas
mensagens, e então eu estava checando meu
telefone o tempo todo em vez de prestar
atenção em Marcus e April, e isso é totalmente
culpa dela
E ENTÃO, quando eu deveria estar assistindo a
programas de culinária com meu melhor amigo,
em vez disso, tive que sair e comprar um
presente para ela
Comprei um cobertor para ela, porque ela é um
cobertor molhado (estraga-prazeres)
Entendeu????
É muito macio e acolchoado e fofo
Um verde bonito com apenas um toque de azul
Acho que essa é minha cor favorita
Ela é uma desmancha-prazeres e a pior, mas ela
merece coisas suaves e bonitas, e ela não faz
nada de bom por ela mesma nunca, o que
também é extremamente irritante, como você
pode imaginar
Como eu disse: ABSOLUTAMENTE A PIOR
Carah?
Carah, seria bom se você RESPONDESSE em
algum momento
Carah:
Desculpe, estou muito ocupada rindo para
digitar
Alex, você é uma delícia
Eu tenho que me filmar comendo lutefisk em
homenagem a Maria, então entretenha sua
própria bunda chorona enquanto eu tento não
gritar na câmera
BYEEEEE, MOFO
Alex:
Carah?
CARAH, VEM CAAAAA
14
Os dois meses seguintes não passaram rápido. A presença
de Alex não permitiria isso, e nem a nova atração de Lauren
por ele.
Às vezes, ela podia estar cansada dos passeios noturnos,
frustrada com a intratabilidade e aborrecimento de seu cargo, e
irritada além da conta com as contínuas agulhadas dele, mas
estava totalmente presente. Totalmente engajada, corpo e
mente. Completamente ela mesma de uma forma que não era
com ninguém além de Sionna.
Durante anos, ela passou sua vida diária envolta em uma
bolha de calmaria, neutralidade e observação, mas não mais.
Alex perfurou essa bolha diariamente – a cada hora – com
seu olhar afiado, comentários incisivos e sarcasmo mordaz.
Com sua ostentação descarada de seu corpo definido. Com a
maneira como ele se jogou de cabeça nela e em tudo o mais que
ele se importava em sua vida, gostando ou não.
Muitas vezes, ela não gostava disso. Mas ela gostava dele.
Apesar de seu temperamento explosivo e sarcasmo cáustico,
apesar da forma como sua pele se arrepiava em sua presença, ela
nunca riu mais em sua maldita vida, e ninguém nunca a deixou
tão irritada. Ele adorava irritá-la. Adorava.
Com Dina, porém, ele era tão suave quanto o Capitão
Fluffytail.
Evidentemente, ela conheceu a governanta dele em um
passeio por seus abrigos de caridade e, depois de ouvir sua
história, imediatamente ofereceu trabalho a ela.
Dina tinha a idade de Lauren. Bonita, sincera, experiente e
confiante. Noiva de uma mulher boa e gentil. Sua própria
heroína, como Alex poderia ter dito. Mas ele tinha sido um
apoio em seu momento de necessidade, e Dina o adorava por
isso. Às vezes, quando Lauren via os dois juntos, rindo na
cozinha, iluminados pelo sol e sendo carinhosos, a doçura da
visão lhe roubava o fôlego.
A sensação de seu lindo cobertor fez o mesmo, enquanto ela
se enrolava embaixo dele todas as noites, envolta em um calor
suave por causa dele.
Esta manhã, no entanto, ele não tinha roubado seu fôlego.
Apenas sua paciência.
— Termine seu café da manhã, Woodroe. Precisamos ir. —
Ela bateu na borda do prato dele, ainda meio cheio de ovos
mexidos aveludados e tomates assados com ervas. — Você já
perdeu um compromisso com sua cabeleireira e, pelo que você
me disse, ela vai eviscerar você com sua tesoura de aparar se você
cruzar com ela uma segunda vez.
Além disso, ele definitivamente precisava de um corte de
cabelo e de barba urgente. Con of the Gates, a convenção anual
de fãs de Gods of the Gates, iria começar amanhã e, no
momento, ele parecia um vagabundo particularmente atraente.
— Toda vez que eu tento olhar para você, meu pescoço dói
— ele gemeu entre mordidas. — Como vou comer em
condições tão desumanas? E por que você tem literalmente a
altura de um camundongo com crescimento atrofiado?
Eles discutiram o uso adequado da palavra literalmente
muitas vezes. Ela não estava tendo aquela conversa em
particular novamente.
— Então não se sente ao meu lado no banco. Pegue uma das
cadeiras, onde você não terá que dobrar tanto o pescoço para
me ver. — Uma vez ele tinha raspado o resto de sua refeição, ela
removeu o prato dele e o empilhou com o dela na bandeja. —
Ou melhor ainda, apenas não olhe para mim.
— Mas eu gosto de olhar para você. — Ele se levantou com
um alongamento luxuriante. — E se eu me sentasse mais longe,
não poderia reclamar que você é literalmente uma dor no meu
pescoço.
Automaticamente, ela disse:
— Não é isso que liter...
Espere um segundo.
— Ah, eu sei o que isso significa. Eu sempre soube. — Ele
sorriu para ela. — Eu só gosto de foder com você, babá Clegg.
Eu não vou jogá-lo do topo desta montanha, ela disse a si
mesma. Eu não vou.
Seu sorriso morreu, e suas sobrancelhas se juntaram.
— Uh, só para ficar claro, eu quis dizer “foder com você” no
sentido de provocar você, não, hum...
Em vez de empurrá-lo da beira do penhasco, como ele tanto
merecia, ela deu uma cotovelada nas costelas dele.
— Eu sei o que você quis dizer.
Ele gritou e lhe lançou um olhar ferido enquanto agarrava
seu lado. Mesmo que ela tenha colocado força zero no golpe.
— Que crueldade — ele reclamou. — Só por isso, não vou
deixar você levar a bandeja de volta para a cozinha, sua harpia
cruel.
Então ele saiu em um huff dramático, equilibrando
perfeitamente a bandeja em um braço como um garçom
experiente. O que, dada a sua profissão, ele provavelmente foi
um em algum ponto, agora que ela considerou o assunto.
O debate sobre a dor no pescoço continuou durante todo o
trajeto de carro até o salão, e mesmo enquanto ele entregava as
chaves ao manobrista.
Sim, serviço de manobrista na calçada. Em um salão de
cabeleireiro.
Ela suspirou. Famosos. Gente como a gente, minha bunda.
Ao se aproximarem da discreta entrada do salão, cercada por
palmeiras ornamentais, ela parou e fez sua declaração final.
— Olhando para baixo, você está pelo menos trabalhando a
favor da gravidade, Woodroe. Quando olho para você, tenho
que lutar contra as leis da natureza.
Ele bufou, e ela podia ver muito claramente a esta distância
e de tão longe.
Até suas narinas eram atraentes. Foi altamente injusto.
No entanto, ela fez sua declaração final com o que
considerou louvável desenvoltura.
— O que significa, é claro, que eu olhar para você causa mais
dor no pescoço do que você olhar para mim. Assim, você é uma
dor de cabeça maior do que eu. Falei, tô leve.
— Falei, tô leve? Sério, Carricinha? — Ele riu dela, e então
– oh, idiota – casualmente se inclinou e descansou o antebraço
em cima de sua cabeça, como se ela fosse um console em seu
maldito carro, e ele ia pagar por isso...
— Com licença — uma voz disse atrás de Lauren. — Você
é Alex Woodroe?
Em uma tentativa condenada de recuperar sua dignidade
perdida, Lauren deslizou debaixo do braço de Alex e recuou
vários passos, permitindo que a fã o cumprimentasse sem um
intruso.
A mulher era uma ruiva bonita, talvez com vinte e poucos
anos, e a conversa de sempre ocorreu. Ele confirmou sua
identidade, agradeceu por sua admiração e concordou em tirar
uma selfie. E então–
O celular erguido em uma mão, a mulher se aninhou perto
e colocou a outra mão na parte superior de sua bunda. Com
um sorriso tenso, Alex tentou deslizar para longe, mas sua fã
não desistiu tão facilmente. Ela riu e seguiu o movimento dele
enquanto tirava mais fotos, e não.
Não.
— Sinto muito — disse Lauren o mais educadamente
possível —, mas temo que essa terá que ser sua última foto
juntos.
A fã não se moveu nenhum centímetro e ela não
reconheceu as palavras de Lauren. Outra foto. Outra. Então ela
começou a filmar um vídeo.
O sorriso de Alex não alcançou seus olhos, e Lauren quase
podia vê-lo lutando por seu autocontrole, quase podia ouvi-lo
pedindo para ficar calmo e longe de problemas.
— E, que sorte a minha, aqui estou eu com Alex Woodroe
— a mulher estava dizendo. — Você não acreditaria o quão
gostoso ele é na vida–
Nesse ponto, Lauren andou atrás do par e removeu
fisicamente a mão da fã da bunda de Alex. A mulher engasgou.
Aparentemente do descaramento de Lauren, o que era de fato
uma rica ironia.
A ruiva se virou, cor lívida riscando suas bochechas.
— Espere sua vez, sua vadia feia — ela sussurrou e, de
repente, ela não era mais tão bonita. — Ainda não terminei.
— Sim — Lauren disse simplesmente. — Você terminou.
A outra mulher deu um passo em direção a ela, ainda
filmando, e Lauren honestamente não tinha certeza do que ia
acontecer, mas ela estava pronta. Ninguém estava colocando
mãos indesejadas em Alex na frente dela. Ninguém.
Então, ele estava pisando suavemente entre as duas
mulheres, suas próprias maçãs do rosto coradas, sua respiração
ficando forte e rápida.
O sorriso surgindo em seu rosto–
Lauren nunca tinha visto nada parecido antes. Era o feixe
febril e alegre de um berserker saltando para a batalha, selvagem
e afiado e cheio de raiva e, oh merda, ela tinha que...
Mas ele já estava falando, cada palavra impregnada de um
bom ânimo venenoso.
— Como sou grato por você ter tirado um tempo de sua
agenda lotada para apalpar minha bunda sem meu
consentimento e abusar da minha companhia. — A ruiva
engasgou novamente, o sorriso anárquico de Alex só
aumentou. — Ela tem muita dignidade e bondade para dizer o
que precisa ser dito. Ou seja, que se você não tem nada melhor
a fazer com seu tempo livre do que insultar estranhos, você
deveria ocupar melhor esse tempo. Um conselho?
A mulher tremia de afronta e humilhação, celular apontado
para Alex, e Lauren tentou puxar seu braço e afastá-lo, mas ele
era uma estátua de pedra sob seus dedos.
Alex se inclinou para perto da ruiva, seu tom cordial.
— Vá se foder, senhora.
Ela estremeceu como se ele a tivesse esbofeteado, antes de
entrar em erupção.
— Seu idiota! — Ela estava gritando com ele tão alto que as
pessoas de uma rua inteira estavam esticando o pescoço para
assistir ao confronto. — Vou contar a todos nas redes sociais
sobre isso!
Sua risada gotejava com zombaria.
— Por favor, conte.
Em sua total falta de medo ou remorso, ela pisou longe, já
digitando febrilmente na tela de seu telefone.
Seu peito ainda arfava com cada respiração, e um calor
incrível irradiava de seu corpo magro, mesmo através de sua
camiseta e jeans. Ele olhou para a mulher, e quando ela se virou
para filmá-lo novamente à distância, ele ofereceu um aceno
alegre.
Ah, merda. Se Ron soubesse disso – e ele saberia, Lauren
tinha quase certeza – ele iria retaliar contra Alex de alguma
forma.
— Alex. — Ela esfregou as têmporas. — Você não pode–
Ele se virou para ela novamente, sua expressão escurecendo
abruptamente.
— Eu tenho um compromisso a cumprir, e se eu falar sobre
o que aconteceu agora, eu vou perder a cabeça. Vamos entrar.
Quando ela hesitou, ele suspirou. Não uma de suas
habituais e dramáticas rajadas de ar, mas um suspiro genuíno.
— Por favor, Lauren. — Deixando de lado o porteiro que
esperava, que assistiu todo o encontro com uma alegria mal
contida, Alex abriu a pesada porta de madeira do salão e a
segurou para ela. — Por favor. Deixa para lá. Por enquanto.
Lentamente, ela assentiu.
Eles entraram, e a sala de espera era fresca e elegante. O
homem de estilo impecável que os cumprimentou atrás de uma
mesa de vidro perguntou se eles gostariam de refrescos, antes de
deslizar para uma sala próxima para pegar suas bebidas
escolhidas.
Enquanto esperavam por seu retorno, Alex soltou outro
suspiro e passou a ponta do dedo pelo antebraço nu dela. Sua
pele formigou sob seu toque, o pelo fino dali eriçado, e ela
empurrou seu olhar para encontrar o dele, assustada.
— Ainda não quero falar sobre isso. — Ele olhou para a
ponta do dedo, agora deslizando sobre as veias no dorso da mão
dela. — Mas você está bem?
Ela cobriu a mão dele com a dela. Apertou.
— Estou bem.
Mais uma respiração profunda, e Alex deixou cair a mão e
se afastou.
— Então vamos focar no assunto de maior importância
aqui: eu. Especificamente, se devo cortar meu cabelo curto e
me livrar totalmente da barba, ou apenas aparar um pouco as
coisas.
— É o seu cabelo. — Confusa, ela franziu o cenho para ele.
— Por que você está me perguntando?
— Puta merda, babá Clegg. — Ele fechou os olhos com
força e, desta vez, seu suspiro foi tempestuoso, dramático e
inteiramente falso. — Por que você deve tornar tudo tão
difícil? Ah, isso mesmo. Porque você é uma pedra de moinho
no pescoço da humanidade.
Indignada, ela colocou as mãos nos quadris.
— Olhe para mim, Woodroe. Eu pareço o tipo de pessoa
que sabe a melhor forma de cortar e pentear o cabelo?
Seus lábios se contraíram, mas ele abriu os olhos e tentou
um olhar inexpressivo.
— Sim.
— Você não me disse uma vez que eu era uma péssima
mentirosa? — Erguendo as sobrancelhas, ela sacudiu as pontas
flácidas de seu cabelo desgrenhado. — Pote, conheça a chaleira.
Acredito que vocês dois terão muito em comum.
Ele mordeu o lábio e desviou o olhar por um momento,
então se controlou.
— Lauuuuuuuren. — Foi um gemido direto. — Falaaaa.
Ok. Se ele realmente queria saber o que ela pensava...
— O cabelo comprido e a barba meio que fazem você
parecer um viking. — Um estupendamente lindo. Todo o
visual era muito atraente, francamente. — Então, se é isso que
você está procurando, apenas faça um corte.
— Ahhhhhh. — E agora ele não era mais um viking. Em vez
disso, ele era um gato grande, com uma juba desgrenhada e um
ronronar que vibrava através dela daquele jeito familiar e
desconcertante. — Você gosta da minha barba, Carricinha?
Era uma provocação preguiçosa, e ela queria negar.
Ela não podia. Porque ela era, de fato, uma terrível
mentirosa.
Ele se inclinou para perto de sua orelha.
— Admita — ele respirou. — Você gosta da minha barba.
Você gosta do meu cabelo.
Ela apertou as mãos trêmulas, incapaz de falar. Incapaz de
pensar.
Felizmente, uma mulher alta, adorável e elegante passou
pela porta da sala de espera, então, sua recepcionista impecável
logo atrás dela carregando uma bandeja de bebidas.
Alex fez uma careta para as duas por um momento antes de
encolher os ombros e reunir sua estilista em um abraço enorme,
que ela retribuiu.
Depois de algumas gentilezas sociais, os dois desapareceram
no salão real. Lauren ficou na sala de espera, sentou-se no sofá
de veludo rebaixado e aceitou seu chá gelado com gratidão.
Sua orelha ainda formigava com a respiração de Alex. E, por
razões que ela preferia não analisar, ela estava muito, muito
excitada.
15
Carricinha se levantou do sofá quando Alex voltou ao
cômodo. Por um momento, ela simplesmente olhou para ele,
sem expressão.
Então sua voz de Santa Ana fez seu retorno seco para
caralho.
— Quando você disse que iria fazer um corte de cabelo, eu
não percebi que você quis dizer literalmente. Tipo, um fio de
cabelo.
— Foi mais uma arrumação do que um corte, seu filisteu
folicular. — Ele acariciou a barba com carinho, depois
acariciou com a mão o cabelo. — Agora sou o viking mais bem
penteado e barbudo da aldeia. Os camponeses farão fila para
serem saqueados por mim.
Seus olhos extraordinários voaram para os dele.
— Por favor, me diga que você não escolheu o corte de
cabelo com base na minha opinião.
Tendo sido informado poucas horas antes que ele também
era um péssimo mentiroso, ele não respondeu. Em vez disso, ele
simplesmente abriu a porta e acenou para ela seguir em frente.
Uma vez que o manobrista trouxe seu carro, eles entraram,
e ele fez uma pausa antes de colocá-lo em movimento.
— Quer ir a algum lugar?
— Acho que já tivemos emoção suficiente para o dia. —
Seus lábios estavam apertados novamente. Cerrados. — Vamos
para casa.
A partir dessa expressão, ele só podia supor que a paciência
dela havia se esgotado.
Claro, ela ficou em silêncio só um minuto antes de afirmar
com firmeza.
— Eu gostaria de falar sobre o que aconteceu fora do salão
agora, se estiver tudo bem para você.
Felizmente para ambos, a massagem no couro cabeludo
durante o xampu baixou sua pressão arterial para um nível
quase normal novamente.
— Se não estivesse — ele colocou óculos escuros para
combater o brilho —, como exatamente eu iria te impedir? —
Quando ele contemplou a questão, apenas uma boa solução
veio à mente. — Beijando você?
Seu silêncio pareceu se expandir, enchendo o carro inteiro.
Quando ele arriscou um olhar, ela estava olhando para ele,
de boca aberta, bochechas rosadas.
— Você poderia me fazer parar me pedindo para parar —
disse ela lentamente, pronunciando cada palavra com clareza
cristalina.
Oh. Certo.
Com um encolher de ombros especialmente casual, ele
voltou os olhos para o tráfego.
— Justo. De qualquer forma, está tudo bem. Fala, babá
Clegg.
As estradas pareciam particularmente congestionadas hoje,
mesmo para Los Angeles, e ele se resignou a uma longa e chata
palestra sobre conduta profissional e consequências legais.
Nada que ele não tivesse ouvido mil vezes antes, mas, para
Carricinha, ele pelo menos fingiria ouvir.
Ela não disse o que ele esperava, no entanto.
O que ela disse foi pior. Muito, muito pior.
— As pessoas dizem coisas terríveis para mim o tempo todo.
— Sua voz era inteiramente prática, livre de raiva e
autopiedade. — Desde que eu era criança. Em algum
momento, parei de contar aos meus pais ou a qualquer outra
pessoa, porque isso os chateava muito e não fazia sentido.
Não adiantava dizer a seus pais que ela havia sido magoada e
insultada? Nenhum pouco?
Por que os sentimentos dela eram menos importantes do
que proteger os dos seus pais?
Ela ainda estava falando, mesmo quando seu pulso disparou
de volta para quase um derrame.
— Não está certo, mas também não é importante, como já
disse antes. Reagir a insultos dirigidos a mim não vale seu
tempo ou energia, e certamente não vale seu trabalho ou
reputação profissional. Eu aprecio seu instinto de me defender,
mais do que você imagina, mas você tem que aprender a deixar
para lá, Alex, da mesma forma que eu deixo.
Por todos os efeitos, o carro deveria ser enfeitado com os
restos explodidos de sua cabeça.
— O quê? – De alguma forma, isso era tudo que ele
conseguia articular. — O quê?
— Obrigada por se importar comigo. — Ela limpou a
garganta. — Mas retaliar pessoas que me insultam não é
necessário ou sábio, e você não deveria fazer isso de novo.
Por alguma razão, seu pobre cérebro explodiu com a
expressão dela na noite em que ele voltou da visita a Marcus e
April.
Ele e Carricinha estavam parados na porta da casa de
hóspedes, onde ele a escoltou depois do jantar juntos. Antes de
se separarem, ele ofereceu a ela a enorme sacola plástica que
manteve guardada protetoramente na mala de mão durante
todo o voo.
Por alguma razão, ele estava nervoso, suas mãos não estavam
totalmente firmes.
Ela piscou para ele, confusa, suas próprias pequenas mãos
imóveis ao lado do corpo.
— Isto é para você — ele finalmente disse a ela, impaciente
e desconfortável. — Toma, mulher impossível.
Lentamente, seu rosto cheio de perplexidade, ela aceitou as
alças da bolsa, então olhou para dentro. Sua testa franziu ainda
mais, e ela tropeçou em direção à mesa mais próxima.
Quando ela tirou o cobertor da bolsa, aqueles dedos
ridiculamente curtos acariciaram o tecido. Uma vez. De novo.
Novamente.
— Isso é… — Ela estendeu a seda sobre a mesa, ainda
acariciando. — Isso é um cobertor?
Ele tinha planejado dizer "quando fica molhado, é como
você!” Só que – primeiro, a frase trouxe imagens de Carricinha,
hm, molhada. De várias maneiras. O que foi…
Perturbador. Sim, essa era a palavra. Perturbador.
Em segundo lugar, este cobertor em particular era lavado
apenas a seco. Ele já havia cuidado disso durante a noite, em um
trabalho apressado.
E terceiro, ele não sentia mais vontade de zombar dela.
Não, ele meio que sentiu como se suas narinas estivessem
queimando com uma estranha mistura de raiva e de dor,
porque ela parecia tão atordoada por receber um presente. Tão
perplexa com o pensamento de que alguém tinha pensado nela
e comprado algo para ela, mesmo como uma piada estúpida e
ridícula sobre como ela era um cobertor molhado, ha ha, tão
engraçado.
Então, em vez de tirar sarro dela, Alex simplesmente contou
os fatos.
— Sim. É um cobertor. É feito de seda charmeuse. Somente
lavagem a seco, mas Dina pode cuidar disso periodicamente,
quando ela pega algumas das minhas roupas para limpar e
passar.
— É seda? — Ela lambeu os lábios e inclinou a cabeça,
escondendo o rosto dele, sua mão ainda se movendo
lentamente sobre o charmeuse brilhante. — Eu... eu não sei o
que dizer.
Ele se obrigou a soltar um suspiro exagerado, apesar das
narinas formigando.
— Só agradeça, Carricinha. Você foi criada em um celeiro?
Ou a Equipe Estraga-prazeres não está familiarizada com as
expressões padrão de gratidão ao receber um presente?
Ela o agradeceu hesitantemente, o cobertor apertado,
aqueles lindos olhos grandes e confusos e... perdidos.
Tão perdidos quanto ele se sentiu no momento, e tão
perdido quanto se sentia agora também, porque, que porra?
Pisando no freio, ele abruptamente virou o carro em um
estacionamento de fast-food.
— Deixa eu ver se entendi. — Movendo-se em um espaço,
ele parou o carro e desligou o motor. — Você não é importante
o suficiente para ser defendida? Mesmo quando alguém te
insulta na porra da sua cara, literalmente a dois metros de
distância de mim? Eu não deveria reagir a isso de forma alguma?
— Eu sei o quão leal você é, Alex, e eu sei que vai contra seus
instintos deixar esse tipo de incidente passar — ela disse
suavemente, e mais uma vez, ele definitivamente não estava
calmo, porra. — Mas eles não valem a sua carreira. Eu não valho
a sua carreira.
Se sua cabeça já tivesse crescido novamente, teria explodido
uma segunda vez.
— Isso não é – repito, não é — para enfatizar, ele apontou
um dedo no ar — a porra da sua decisão, Lauren. Eu sou a única
pessoa neste carro e neste planeta que pode decidir o que vale a
minha carreira, e não vale a porra da minha alma.
Ele desejou muito ter chegado à mesma conclusão um ano
atrás, antes do início das filmagens da temporada final, mas era
tarde demais para corrigir esse erro em particular.
— Você acha que é a única aqui que quer agir com base no
que é certo, e não no que é conveniente? — Atrás de seus olhos,
aquele formigamento começou novamente. Mágoa e raiva. —
O que exatamente você acha de mim, Lauren? Quão insensível
e egoísta você pensa que sou?
— Eu não… — Ela colocou a mão em seu braço, seus dedos
gentis e trêmulos. — Eu não acho que você seja insensível ou
egoísta.
— Então não me peça para agir como se eu fosse — ele
retrucou, enquanto pontinhos de calor ganhavam vida em sua
pele em todos os lugares que ela fazia contato. — Eu não sei que
tipo de pessoas você teve em sua vida antes, mas eu não sou
como eles. E se isso te deixa muito desconfortável, você tem o
número do seu primo idiota. Sinta-se livre para usá-lo, porra.
Silêncio. Então, ela tirou a mão, e ele estava flutuando no
espaço, solto e sozinho e desorientado.
A névoa em sua visão, em sua cabeça, levou um momento
para clarear, e então–
Ah, porra.
Fechando os olhos, ele agarrou o volante e descansou a testa
contra a superfície de couro, fazendo o máximo para não bater
a cabeça nele de novo e de novo. Como sempre, sua raiva e
mágoa o havia levado longe demais, e agora ela ia ligar para Ron,
e ele nunca mais a veria, nunca, nem mesmo...
Sua palma fria descansou levemente na nuca dele. Ela lhe
deu um aperto suave ali.
— Alex. — Sua voz era quente. Macia. — Diga-me o que
aconteceu naquele bar espanhol. Quem você estava
defendendo?
A pergunta levou um momento para ser registrada.
Então, ele soltou um quase soluço. Alívio. Gratidão.
Porque ela não o estava deixando. Porque ela perguntou. Ela
foi a única que perguntou, em todo esse tempo. Mesmo
Marcus, em meio a sua preocupação com April, não perguntou
o que aconteceu, não questionou a versão dos eventos
oferecida pelos tablóides e por Ron.
Marcus simpatizou e se preocupou com seu melhor amigo,
mas ele achou. Que Alex estava bêbado. Que Alex, abençoe seu
maldito coração imprudente, tomou outra decisão estúpida e
impulsiva.
E talvez tenha sido um impulso do momento, mas não foi
estúpido, e ele não se arrependia.
— Fui ao bar para beber. Uma cerveja, porque eu... porque
eu estava sozinho — ele disse ao volante, sua voz grossa. —
Estava lotado e não havia bancos ou mesas vazias. Então,
quando peguei minha bebida, me apoiei na parede e comecei a
observar as pessoas. E depois de cerca de dois goles da minha
cerveja, notei esse britânico musculoso e queimado de sol em
uma mesa próxima dando em cima de uma garçonete ruiva. Ela
era quase tão baixinha quanto você, e alguns anos mais nova
que ele. Talvez vinte e poucos anos. Bonita. Sotaque irlandês.
Os dedos de Lauren em seu pescoço pareciam uma bênção,
e ele suspirou em apreciação.
— Ela não estava interessada. Ela continuou se afastando
dele e parecia nervosa e, quando levantou o braço para chamar
a atenção de alguém, talvez um segurança ou do gerente, vi
hematomas desbotados em torno de seu pulso. — Naquele
momento, apesar da penumbra do bar, aqueles hematomas
pareciam iluminados por holofotes para ele. Inconfundível.
Insuportável. — Ele puxou o braço dela para baixo e disse que
ainda não tinha terminado de falar com ela, e ela gritou de dor.
A expiração lenta de Lauren fez cócegas na lateral de seu
braço.
— Então, você interveio.
Naquele ponto, seu sangue estava latejando em suas
têmporas, e a cacofonia em sua cabeça abafou tudo, menos um
imperativo: conserta isso. Agora.
— Retirei a mão dele do braço dela. Não suavemente.
Então, ele me deu um soco, e eu dei de volta, e o inferno
começou. — Ele não sabia quem tinha lhe dado o olho roxo.
Não o britânico, de qualquer maneira, já que aquele filho da
puta tinha caído com o primeiro soco. — Logo antes da polícia
chegar, ela conseguiu me puxar para o lado e me implorou para
não mencioná-la ou descrevê-la, porque ela estava fugindo.
O que explica as contusões e o medo em sua expressão, em
cada movimento dela.
— Tentei oferecer ajuda. — Na verdade, ele próprio
implorou, mas ela estava apavorada, apavorada demais para
fazer qualquer coisa além de fugir. — Então, os policiais
chegaram e ela correu em direção à área dos funcionários e
desapareceu nos fundos, e nunca mais a vi.
Ele esperava que ela tivesse encontrado um lugar seguro para
se esconder e conseguido ajuda. Ajuda de verdade. O tipo de
ajuda que a faria parar de se esconder e reconstruir uma vida
livre do medo e da violência.
Lauren fez uma espécie de zumbido.
— Então a polícia interrogou você e você não disse uma
palavra sobre ela.
— Eu mantive minha promessa. — disse ele simplesmente.
Outro aperto em sua nuca.
— E suponho que o britânico não mencionou suas próprias
transgressões ao descrever as suas.
— Segundo ele, eu dei um soco nele sem motivo, em uma
raiva bêbada. Era como se ela nunca tivesse existido. — Que era
o que ela queria, mas horrível em sua própria maneira. — Eu
não discuti. Só liguei para o meu advogado, que ligou para
outras pessoas. Eles me tiraram da prisão e retiraram as
acusações.
E então, apenas uma hora depois, uma estranha apareceu em
um campo de batalha.
Lauren Clegg. Sua babá. Sua amiga. Sua obsessão. Sua
confidente.
E se ela estava bancando o padre para seu pecador
impenitente, ele poderia limpar sua alma completamente,
certo?
— Antes de terminarmos este quiz da honestidade, você
deveria saber: Bruno Keene é um idiota abusivo, e eu estava
dizendo a verdade quando disse isso. A equipe e outros atores
no set de All Good Men não queriam arriscar suas reputações
me apoiando, e eu entendo isso – mais ou menos —, mas eu
estava dizendo a verdade.
— Ok — ela disse calmamente. — Ok. Eu acredito em você.
Ela estava acariciando seu pescoço agora, brincando
gentilmente com as pontas de seu cabelo ali, e era tão
reconfortante que ele queria chorar. A cada momento, o latejar
de seu crânio diminuía, e seu pulso se acalmou, e sua cabeça
parecia... ele não sabia. Mais leve?
E então... e então...
Essas carícias, esses leves puxões de cabelo, não eram tão
reconfortantes. Seu couro cabeludo estava formigando, em
chamas com a provocação da sensação, e ele não queria mais
chorar.
Ele queria beijá-la.
Ela. Babá Clegg. Harpia em Treinamento. Estraga Prazeres
Extraordinária.
Sua amiga, que tinha os olhos mais calorosos e adoráveis que
ele já tinha visto, feições nítidas e fascinantes, e um corpo
redondo e macio que ele às vezes se via encarando sem uma boa
razão.
E ela o estava tocando, acariciando seu pescoço e...
Ele levantou a cabeça e olhou para ela.
A preocupação em seu olhar tocou seu coração, mas ele não
queria preocupação agora.
Ele queria calor.
Os dedos dela permaneceram enfiados no cabelo dele, e o
peso de sua palma em sua nuca parecia arrastar sua cabeça cada
vez mais para baixo. Seu queixo macio tremeu e seus lábios se
separaram e, merda, ele queria provar aquela boca e descobrir
se era exatamente tão doce quanto ela.
Mas... Porra. Ele não podia.
Até onde ele podia dizer, ela o tolerava com afeição
relutante. Ele certamente não havia notado nenhum sinal de
atração. Mesmo se tivesse, ele era o trabalho dela, e ele não iria
assediá-la no trabalho.
Relutantemente, ele se afastou dela. A mão dela caiu de sua
nuca, e ele reprimiu um som necessitado em favor de sua tolice
habitual.
— Agora que eu desnudei minha alma para você, irmã
Clegg, pare de tentar me distrair do assunto em questão.
Ele sacudiu um dedo repreendendo-a, mas ela não mordeu
a isca. Em vez disso, o olhar dela ainda estava quente e terno
nele, e ele permitiu que aquele olhar penetrasse em seu coração
como chuva na terra seca e rachada.
Então ele deixou sua posição clara.
— Se você não quer que eu te defenda porque te envergonha
ou te deixa desconfortável, então tudo bem. Eu não vou gostar,
vou odiar para caralho, mas vou aceitar sua decisão e tentar o
meu melhor para fazer o que você está pedindo. Mas se você
não quer que eu te defenda porque você não acha que vale a
pena o risco para a minha carreira, então isso é uma questão
completamente diferente, e não. Eu me recuso a cumprir seus
desejos.
Aflita, ela esfregou as têmporas, mas ele não a deixou
escapar.
— Então, como é que vai ser, Carricinha? — Com o dedo
indicador, ele levantou o queixo dela até que ela encontrou seus
olhos novamente. — Eu sigo seu conselho ou meus próprios
instintos?
Seu rosto franziu em pensamento, e foi adorável para
caralho, e ele esperou como o inferno que ela lhe desse a
resposta que ele queria. Porque uma mulher que passou a vida
servindo e protegendo os outros ao custo de sua própria
segurança e bem-estar emocional merecia um defensor.
Um melhor do que ele, obviamente. Mas ele era o que ela
tinha agora, coitada, e ele queria que ela aceitasse sua fidelidade
totalmente inadequada.
Ele queria que ela o aceitasse.
Depois de um longo e tenso minuto, ela exalou lentamente.
— Seus instintos. — disse ela. — Deus nos ajude.
16
Pobre Marcus. Quando ele entrou no carro de Lauren
naquela sexta-feira de manhã, ele não tinha ideia do que o
esperava. Mas ela tinha, e ela não invejava o homem.
A caminho da casa de Marcus, Alex compartilhou seu plano
com ela.
— Eu não aguento mais os olhos de cachorro abandonado,
Carricinha. E como ele quer que fiquemos juntos no hotel
durante o Con of the Gates, estou dando a ele o tratamento
completo de Alexander Woodroe.
Ela fez sua voz tão árida quanto humanamente possível.
— Eu tenho até medo de perguntar.
Mas ele sabia agora que ela estaria curiosa, não importa o
quanto ela pudesse negar. Então, em vez de atormentá-la, ele
simplesmente aumentou o volume da música de Tom Petty
nos alto-falantes e gritou – “You Wreck Me” até que ela cedeu.
Ela apertou os controles de volume.
— Ok. Você me derrotou com seu lamento atonal. Diga-me
o que é o Tratamento Completo de Alexander Woodroe.
Tão detestável na vitória como sempre, ele ergueu os dois
punhos no ar – acidentalmente atingindo o teto do carro dela,
para sua diversão mal escondida – antes de explicar.
— Através da minha sagacidade brilhante e astúcia,
pretendo capturar sua atenção e evitar que ela se desvie para sua
amada. — Ele esfregou as mãos, satisfeito com seu plano
irradiando de cada poro perfeito em seu rosto estupidamente
bonito. — Essencialmente, não vou dar a ele tempo ou espaço
mental para ser um ser humano miserável e choroso.
Se ela não o conhecesse melhor, ela o teria achado antipático
com Marcus, que havia afundado em uma miséria abjeta depois
de terminar com sua namorada. Mas ela testemunhou Alex
correndo para o lado de seu amigo ao menor sinal de problema,
e notou como ele verificava o estado mental de Marcus com
uma frequência quase alarmante por meio de mensagens de
texto e chamadas do FaceTime.
Então, sim, ele foi solidário. Essa era sua maneira de ajudar,
mas ajudar da maneira mais irritante possível, porque Alex era...
Alex.
Até agora, ele havia seguido seu plano, e era uma novidade
não ter sua enxurrada de palavras inteiramente dirigidas a ela,
por uma vez. Certamente, Lauren conseguiu sua parte ao longo
do caminho – enquanto eles dirigiam para pegar Marcus em
sua casa e quando os três se dirigiam para o aeroporto, voavam
para São Francisco e seguiam para o hotel da convenção –, mas
Marcus recebeu a maior parte do falatório.
— Estou realmente satisfeito com a recepção da minha fic
mais recente — Alex disse a seu amigo enquanto eles se
aproximavam do hotel. — A que escrevi com Cupido como
ator, estrelando um programa de televisão popular. Você leu a
versão beta para mim algumas semanas atrás. Lembra?
Oh, droga. Ele não deveria falar sobre isso perto de um
estranho.
Do banco do passageiro da frente, Lauren se virou para dizer
isso a ele, mas Marcus já estava nele.
— Alex… — Freneticamente, ele apontou um dedo na
direção do motorista que os pegou no aeroporto. — Claro que
me lembro, mas você não deveria...
Completamente imperturbável, Alex acenou com a mão
para Lauren e alegremente empinado.
— Ela provavelmente não sabe, no entanto. Enfim, Lauren,
eu fiz um ator! Um Cupido miserável e irritado por causa de
seus showrunners incompetentes e super privilegiados, que
foderam completamente a temporada final de seu programa e
glorificaram relacionamentos abusivos em seus roteiros. Mas
então ele conhece uma mulher chamada Robin, que...
— Sim, sim. — Lauren massageou as têmporas. — Que o
fode até que ele seja uma fonte de alegria e luz mais uma vez,
embora uma fonte que não possa se sentar confortavelmente
por um dia ou dois. Eu li.
Depois que Lauren terminou aquela fic, ela se viu incapaz
de parar de olhar para seu próprio antebraço por alguns
minutos depois.
— Você leu? — Ele sorriu para ela. — Ah, que bom.
Marcus gemeu e esfregou as duas mãos no rosto.
— De qualquer forma, já tenho mais de duzentos
comentários e mil likes — Alex esfregou as unhas contra sua
jaqueta cinza-azulada de aparência muito suave, que ele
colocou sobre uma camiseta branca. — Tudo extremamente
bem-merecido, se é que posso dizer.
Quando Marcus entrou no carro dela naquela manhã, seu
estado mental miserável não foi difícil de detectar. Ele estava
com os olhos vazios e caído, a boca virada para baixo apesar de
todas as suas tentativas de polidez e bom humor.
Agora ele parecia um pouco menos desanimado, mas
significativamente mais assustado.
— E você disse isso. Muito alto — ele sussurrou. — Alex,
cale a boca antes que você seja demitido, cara.
— Eu me senti muito melhor depois de escrever essa
história. — Alex se recostou em seu assento, as mãos cruzadas
atrás da cabeça, a imagem de contentamento. — Agora eu sei
por que as pessoas fazem um diário. Só que eu acho que a
escrita não seria tão satisfatória sem o pegging.
Sua cabeça se inclinou enquanto considerava o assunto.
— Por outro lado, os diários de muitas pessoas
provavelmente incluem pegging, e, bom para eles.
Então, felizmente, eles estavam se aproximando da entrada
circular do hotel, e ela se preparou. Para os fãs, claro, mas
também para possíveis paparazzi. De acordo com o e-mail de
Sionna naquela manhã, o incidente fora do salão de ontem se
tornou viral, e os blogueiros e os meios de comunicação
provavelmente clamavam pelo comentário de Alex sobre o
assunto.
Para alívio de Lauren, ela ainda não fazia parte da história
pública. Eles não descobriram que você é a mulher que aquele fã
idiota insultou, Sionna havia escrito, provavelmente porque ela
não incluiu a parte do filme em que você removeu sua mão
tateante. Melhor fingir que ela era a vítima inocente do
confronto.
Lauren tinha ficado offline novamente para proteger sua
própria paz, mas ela não era uma tola. Em algum momento,
alguém iria perceber que a mulher que desviou Alex de um
ataque no tapete vermelho era a mesma mulher que ele
defendeu do insulto no vídeo viral, e então...
Honestamente, ela não tinha ideia do que aconteceria. Mas
ela ainda não queria explicar seu papel na vida dele. O trabalho
dela era um insulto para ele.
Ele não precisava de um guardião. Ele precisava de
companhia e compreensão.
O carro estava diminuindo a velocidade quando eles se
aproximaram da área de desembarque, e ela não podia fingir
que estava calma. Não quando suas palmas formigavam com
suor e seu coração saltava em seu peito com a perspectiva de
enfrentar multidões ao lado de Alex.
Mesmo sem a perspectiva de paparazzi, ela ficaria
preocupada. Com blogueiros, fãs, funcionários de hotéis e...
todo mundo.
Um olhar de escárnio, um comentário passageiro sobre seu
rosto ou seu corpo, e ele explodiria. Ela sabia disso.
Em seu carro ontem, ela viu mágoa e raiva – com ela, por ela
– escurecer aqueles olhos de nuvem de tempestade e torcer seu
rosto perfeito. Ela embalou a nuca quente e vulnerável de seu
pescoço em sua mão enquanto ele compartilhava histórias que
não tinha contado a mais ninguém, compartilhava sua dor,
compartilhava seu coração enorme, amoroso, impulsivo e
honrado.
E ela disse a ele para seguir seus instintos, por que como ela
não diria? Naquele momento, como ela poderia rejeitar sua
generosa resposta emocional a ela?
Mas mesmo que ela tivesse pedido para ele não reagir, ela
não tinha certeza se ele seria capaz de se conter se alguém a
insultasse.
Porque ele se importava mais com ela do que com sua
carreira.
Foi bizarro. Bizarro e comovente e, francamente,
aterrorizante.
O que quer que tenham se tornado um para o outro nos
últimos meses tensos tinha uma data de validade. Em menos de
um ano, ela estaria fora de sua vida, enquanto ele poderia ter
várias décadas restantes em sua carreira. Racionalmente, não
fazia absolutamente nenhum sentido arriscar sua reputação
profissional por causa dela.
Mas quando se tratava de alguém com quem se importava,
Alex não era racional. De forma alguma.
Essa lealdade imprudente ficou presa em sua garganta e
prendeu sua respiração, e também assustou o inferno fora dela.
Como ela disse a ele tantas vezes, ela não queria ser o motivo
pelo qual ele destruiu qualquer coisa preciosa para ele. E ele
abriu caminho para o sucesso profissional ao longo de duas
décadas de trabalho duro e árduo, apesar das complicações
decorrentes de seu TDAH, então sua reputação na indústria do
entretenimento não era apenas preciosa.
Era insubstituível.
Se ele concordasse ou não, era obviamente muito mais
importante do que se alguma pessoa aleatória para quem ela
não dava a mínima pensava que ela era feia.
Ela pode tê-lo protegido de um atacante inesperado no
tapete vermelho, mas não sabia como protegê-lo de si mesmo.
O motorista estacionou o carro na entrada do hotel e
Lauren respirou fundo antes de abrir a porta do passageiro.
Quando os três saíram e recolheram sua bagagem mínima, uma
multidão de fãs foi até os dois atores.
Os fãs não prestaram atenção nela. Bom.
Mesmo quando Marcus e Alex finalmente chegaram à
recepção no amplo e arejado saguão, ninguém parecia perceber
que ela estava acompanhando os dois homens. Ou, se eles
perceberam, eles não se importaram. O que era a reação correta,
porque ela não importava.
Assim que todos fizeram o check-in – Ron havia aprovado
Marcus e Alex ficarem juntos em uma suíte, então ela tinha seu
próprio quarto em outro andar – eles se prepararam para seguir
caminhos separados.
Aquela corda puxou seu peito novamente, mais forte do
que nunca, mas ela ignorou. Era melhor para ela não estar perto
dele. Era mais seguro.
Depois de embolsar a chave do quarto, ela deu a ambos os
homens um aceno de cabeça.
— Vejo você em sua sessão de perguntas e respostas, Alex.
Tenha uma boa noite, Marcus.
Quando eles estavam tão perto, seu pescoço doía de olhar
para eles.
Isso machucou o coração dela também.
Ambos eram altos, ambos extremamente bonitos, ambos
estrelas com suas próprias poderosas forças gravitacionais. Em
breve, porém, ela teria que sair da órbita de Alex e flutuar para
o espaço, um satélite à deriva mais uma vez.
Ele estava falando, gesticulando para ela, mas o zumbido da
multidão, de seus pensamentos, o abafou. Ele estava dizendo
algo sobre acompanhá-la até o quarto dela?
Com toda a honestidade, ela adoraria uma pausa no
caminho até lá, especialmente porque alguns dos participantes
da convenção podem reconhecê-la do vídeo do tapete
vermelho. Ela deveria ir sozinha, no entanto. Essa era a coisa
certa a fazer.
Então ela apontou para a orelha dela se desculpando,
murmurou eu não posso te ouvir e fugiu quando o sorriso de
Alex se transformou em uma carranca, Marcus os observou
com um olhar tão afiado quanto a língua de seu melhor amigo,
e fãs com telefones prontos para selfies foram em direção a
ambos homens.
Quando ela entrou no elevador, o olhar magoado de Alex
do outro lado do saguão queimou o lado de seu rosto, e ela teve
que se virar e se esconder atrás da porta que se fechava.
Sim, ela estava fazendo a coisa certa.
Mas deixar Alex parecia errado, errado, errado.
Alex:
Você me abandonou, sua harpia sem coração.
Alex:
Você me deve um bom jantar em
compensação.
Eu vou pagar, porque sei que você odeia, e será
apenas um castigo por seus vários pecados.
Marcus também vai, porque sempre que eu
não o distraio, ele parece um gatinho
abandonado, e seu rosto pode muito bem
congelar assim, e quem o escalaria então? Além
disso, ele gosta de você. Ele disse isso a
caminho da nossa suíte. Você gosta dele?
Nada. Nem mesmo pontos piscando.
Alex:
Espere, o que estou dizendo? Marcus é o legal.
É CLARO que você gosta dele.
Alex:
Mas não mais do que você gosta de mim.
Certo?
Alex:
AH, VOCÊ É A PIOR.
Alex:
Marcus ordenou que eu fosse para nossa suíte
e ligasse para todos da minha equipe. Vamos lá,
Carricinha. É uma festa!
Alex:
Eu sei que você não está feliz com o que fiz, e
eu sinto muito por isso.
Lauren:
Prometa-me que vai ouvir o que sua equipe e
Marcus dizem. Prometa-me que fará o seu
melhor para salvar esta situação.
Alex:
Eu prometo. A menos que me digam para fazer
algo errado. Nesse caso, não vou ceder.
Alex:
Onde está você, sua harpia intoleravelmente
lenta?
Lauren:
No avião; eu sinto muito
Ian:
Eu quero que Alex seja expulso deste bate-
papo do elenco
Eu disse, porra, e Bruno Keene também:
veneno do elenco
Nossas carreiras futuras podem depender do
sucesso de Gates, e ele simplesmente caga
tudo porque acha que é bom demais para nós,
o filho da puta ingrato
Carah:
Oh, dá um tempo, Ian
Todos nós sabemos que tudo que Alex disse (e
escreveu) é verdade
E sim, talvez tornar todas essas coisas de
conhecimento público não tenha sido a decisão
mais inteligente que ele já tomou, mas eu
nunca o vi TÃO bravo sem uma boa razão.
Asha:
Eu trabalhei de perto com ele por anos e sim,
isso
E eu nunca vi o menor indício de que ele pensa
que é bom demais para nós
Mackenzie:
Bigodes está muito chateado e preocupado
com o que pode acontecer com Alex
Marcus:
Não posso compartilhar nenhum detalhe, mas
posso dizer com certeza que ele tinha motivos
para ficar muito, muito bravo com Ron em
particular.
Carah:
Eu sabia
Todos nós sabíamos, exceto a porra do Ian
Maria:
No que diz respeito às nossas carreiras,
dependendo do sucesso de Gates: nosso show
tem sido um sucesso de bilheteria há anos, e se
você ainda não capitalizou sua popularidade
para ajudar sua carreira, isso é problema seu
você, Ian, não de Alex.
Peter:
A temporada final do show não pode alavancar
ou quebrar nossas carreiras, e Alex nunca disse
uma palavra sobre nossa atuação
Apenas sobre os roteiros e Ron e RJ como
showrunners, e como Carah disse: justo o
suficiente
Carah:
Para a informação de vocês: acabei de divulgar
uma declaração oficial dizendo que Alex não é
apenas um bom amigo, mas também um
colega valioso e talentoso que sempre se
comportou com um profissionalismo impecável
no set, e que espero atuar ao lado dele em
vários projetos futuros
Eu nem usei palavrões, porque eu também sou
PROFISSIONAL, porra
Ian:
Outra maldita traidora
Carah:
Eu não insultei o programa, apenas defendi
meu amigo, então vai se foder, Ian
Summer:
Devemos todos fazer a mesma declaração,
para mostrar nossa solidariedade?
Mari:
Sim
Pedro:
Solidariedade. Eu vou fazer isso agora mesmo.
Asha:
Também
Mackenzie:
Bigodes concorda que solidariedade é o
caminho a seguir, e vamos igualar a declaração
de Carah
Marcus:
Depois daquele show de merda do Bruno
Keene, isso vai significar o mundo para ele
Merda, não acredito que vocês idiotas me
fizeram engasgar
Obrigado a todos
Ian:
Vocês são TODOS traidores, e espero que suas
carreiras despenquem por causa disso
Marcus:
Para citar um grande líder, e acho que falo por
todos nós aqui: vai se foder, Ian
Carah:
Marcus, por favor, diga a Alex que eu quero
falar com ele sobre todos os peggings, porque
eu estou INTRIGADA por essa merda
Mackenzie:
Bigodes também tem perguntas relacionadas a
pegging
Maria:
Eu amo muito todos vocês
Exceto Ian, naturalmente
18
Levou quinze minutos para a névoa de fúria de Alex se
dissipar.
A marcha de volta ao seu quarto, com Marcus ao seu lado,
passou como um borrão. Quando seu melhor amigo
pressionou um telefone de aparência familiar em sua mão e lhe
disse para ligar para sua equipe, ele ligou automaticamente. As
conversas iniciais com seu advogado, agente e publicitário
horrorizados pareciam acontecer à distância, para outra pessoa
inteiramente.
Então, quando Lauren não respondeu sua décima ou
vigésima mensagem, ele percebeu.
Ele sabia por que ela não estava respondendo.
O mundo ao seu redor entrou em foco, e de repente ele
podia ouvir algo além de seu próprio batimento cardíaco
ensurdecedor. Só então Alex poderia fazer o que Marcus
sempre aconselhava e jogar até o fim. O conselho parecia
especialmente presciente hoje, porque sim: o fim. Foi isso o que
ele trouxe sobre si mesmo com toda a sua raiva justa.
Ele explodiu através da parede, tudo bem. O que estava o
esperando do outro lado?
Desastre.
Ele não se arrependeu do que disse e escreveu. Ele nem se
arrependia das possíveis consequências para sua própria
carreira, embora tivesse dedicado sua vida adulta a essa carreira
e – com várias exceções notáveis – adorado quase cada minuto
dela.
O coleguismo. As câmeras. A forma como diferentes papéis
o imergiram em culturas diferentes e fascinantes e o forçavam a
aprender e aprimorar novas habilidades. Se ele não conseguisse
outro papel, ele perderia tudo isso. Ainda assim, sua
consciência valia sua carreira.
Mas ele lamentou amargamente as consequências para todas
as pessoas ao seu redor.
Ele fodeu quase todos em sua órbita. Seu agente, que
dependia da renda do trabalho de Alex. Seus colegas de elenco,
que, com razão, o evitariam por falar merda em sua última
temporada, o projeto ao qual dedicaram tantos anos de suas
vidas, amor e trabalho. Sua mãe, porque, depois disso, ele pode
não conseguir trabalho suficiente para continuar a sustentá-la
como queria – ou pode ser processado e não ser capaz de
sustentá-la. Suas instituições de caridade, que também
precisavam do dinheiro que seu trabalho trazia. Mulheres e
crianças que foram abusadas, que poderiam não ter um espaço
seguro para reconstruir suas vidas se suas economias acabassem.
Lauren. Porra, Lauren. A mulher que ele pretendia
defender e vingar.
Ele a fodeu também, porque não havia nenhuma maneira
de Ron e RJ mantê-la em sua folha de pagamento depois disso.
Não quando toda a descrição de seu trabalho envolvia manter
Alex longe de problemas, e ele estava atualmente em um monte
de merda disso.
Uma quantidade indeterminada de tempo depois, seu
telefone tocou, e lá estava. A mensagem que ele estava
esperando. Confirmação de que seus piores medos foram
realizados.
Lauren:
No avião; eu sinto muito.
Alex:
Indo consertar isso. Não se preocupe.
Ele não estava falando sobre sua carreira. Mas seu melhor
amigo provavelmente já sabia disso.
Alex apareceu no duplex de Lauren pouco antes da uma da
manhã. O que era apropriado, já que muitas vezes eles saíam
para suas caminhadas noturnas no mesmo horário.
Era um sinal, ele decidiu. Um sinal definitivo.
Quando ela atendeu à sua peremptória batida e repetidos
toques da campainha, ela não parecia estar dormindo. Ela, no
entanto, parecia ter sido arrastada para trás através de vários
círculos diferentes do inferno.
— Você está péssima — ele disse a ela. — Estar longe de mim
não faz bem a você.
Ela não parecia especialmente impressionada com sua
conversa inicial. Lábios em uma linha fina e apertada, ela
simplesmente parou em sua porta e olhou para ele, os olhos
inchados e avermelhados pelo cansaço da viagem.
— Uma anfitriã tão terrível. — Caindo dramaticamente sob
o peso de sua mala muito leve, ele balançou a cabeça para ela.
— Mas se você precisar de uma lição de etiqueta apropriada,
estou aqui para ajudar. De acordo com a Srta. Boas Maneiras,
você deveria me convidar para entrar, para que eu não desmaie
em sua varanda de exaustão. É a coisa educada a fazer.
Pensando bem, talvez esse não fosse o melhor conselho,
dada a natureza excessivamente generosa de Lauren.
Rapidamente, ele esclareceu:
— Mas se qualquer outro cara aparecer a esta hora da noite,
não o convide. Ele pode ser um canalha. Ou um vampiro.
Embora talvez ele esteja coberto pelo guarda-chuva
mesquinho?
Ela fechou os olhos e respirou fundo, em seguida, moveu-se
para o lado da porta e acenou para ele entrar.
— Apenas cala a boca e entra, Alex.
Assim que entrou, ele se viu estranhamente inseguro sobre
o que fazer com as mãos.
Se pudesse, ele a puxaria para perto. Ele a envolveria em seus
braços e a abraçaria, aquecendo-se em sua proximidade,
assegurando-se de que qualquer relacionamento que eles
haviam construído não tinha simplesmente terminado.
Carricinha era absurda, maravilhosamente redonda.
Grande, apesar de sua pouca altura. Ela seria suave e quente sob
suas mãos e contra seu corpo.
Ele queria sentir isso. Ele queria senti-la.
Mas sua proposta imporia a mesma velha barreira entre eles,
então ele precisava manter as mãos para si mesmo. Assim, ele
colocou sua pequena mala no chão de madeira e abaixou a alça,
depois cruzou os braços sobre o peito.
Carricinha tinha colocado uma daquelas camisetas
desbotadas e grandes que ela usava como camisola, e suas
pernas nuas pareciam especialmente pálidas contra a escuridão
da sala de estar. A única luz vinha do quarto, onde ela
aparentemente acendeu uma lâmpada.
Eles estavam sozinhos em sua casa à noite. Sua cama podia
estar desarrumada. Acolhedora.
Ele se pegou estudando suas pernas novamente, e
rapidamente desviou o olhar.
Eles ficaram lá em seu apartamento pequeno e escuro,
olhando para o outro por um longo minuto. Ele piscou
primeiro, porque é claro que ele piscou primeiro. Lauren era
uma porra de uma máquina. Um Exterminador do Futuro,
como ele uma vez informou a Marcus, embora muito pequena.
Finalmente, como se fosse uma deixa, eles falaram ao mesmo
tempo.
— Desculpa — ambos disseram, e franziram a testa um para
o outro.
Então, em uníssono mais uma vez
— Você não tem porque pedir desculpas.
Franziram a testa ainda mais.
— Você primeiro — ambos disseram, e Alex não pôde
evitar.
Ele riu até que seus olhos estivessem úmidos novamente, e o
peso esmagador em seu peito diminuiu o suficiente para ele
puxar quase uma respiração completa.
Quando ele se acalmou, ainda não havia leviandade em sua
expressão ou naqueles olhos adoráveis. Então, novamente, ela
não tinha ouvido suas desculpas ou seu plano ainda, então ele
não contaria isso como derrota.
— Porque eu não sou nada além de um cavalheiro — ele
poliu um monóculo imaginário —, por favor, fale primeiro.
Tendo em mente que, se você se desculpar por qualquer coisa,
talvez eu tenha que matá-la. Assim provando meu ponto: você
não deve deixar homens estranhos entrarem em seu
apartamento.
Nem mesmo uma contração dos lábios. Droga.
— Me mate se for necessário, mas eu preciso dizer isso —
Sua voz era grave, rouca e inteiramente determinada. — Sinto
muito por você ter colocado sua carreira em perigo por causa
de um insulto dirigido a mim. Assim que eu entendi que era
uma possibilidade, eu deveria ter pedido demissão e dito a Ron
para encontrar uma nova companhia para você.
Se ela pegasse um daqueles testes “Que personagem de Gods
of the Gates você é?”, ela definitivamente seria Atlas, o pobre
coitado. Sem dúvida.
— Jesus Cristo, Carricinha. — Ele soltou um suspiro
sincero. — Por que você está tão determinada a ser um mártir?
Não me arrependo de ter causado problemas para mim.
Lamento ter causado problemas para você. Junto com algumas
outras pessoas, mas eles não são minha prioridade agora. Você
é.
Sua testa franziu ainda mais, o que ele não achava
fisicamente possível.
— O que você quer dizer?
— Você precisava de tempo antes de decidir onde trabalhar
em seguida, e precisava de dinheiro para comprar esse tempo.
— Ele abaixou a cabeça. — Quando perdi a paciência com
Ron, tirei seu tempo e a renda extra e peço desculpas. Você tem
todo o direito de estar com raiva de mim.
Ela ergueu a palma da mão, sua expressão se contorcendo de
angústia.
— Você estava tentando me vingar, Alex. Porque você
estava chateado em meu nome. Como no mundo eu poderia
estar com raiva de você por isso?
Deus, ele queria tanto revirar os olhos. Mas ele não podia,
não com a óbvia confusão e remorso dela e... o que quer que
mais estivesse esculpindo linhas profundas naquelas
características distintas.
— Lauren, você é péssima pra caralho em ficar com raiva de
outras pessoas por maltratá-la ou ignorar seus interesses. —
Uma verdade da casa, e uma que ele esperava que ela
entendesse. — Sua falta de raiva não é um indicativo seguro da
falta de algo errado feito a você.
Ela piscou aqueles olhos lindos para ele, parecendo perdida.
Que seja. Eles teriam muito tempo para palestras
informativas em breve.
— De qualquer forma, a boa notícia é que estou aqui para
corrigir esse erro em particular. — Ele sorriu para ela, mais certo
do que nunca de que poderia consertar tudo. — Eu tenho um
plano.
— Oh, merda — ela murmurou.
Ignorando isso, ele continuou.
— A produção costumava fornecer um assistente virtual
para mim, dadas minhas questões organizacionais. No e-mail
de Ron, ele disse...
— Espera. — Ela ergueu a mão, de alguma forma parecendo
ainda mais culpada. Ele só podia supor que era algum tipo de
recorde mundial do Guinness. — Eu não posso acreditar que
eu não perguntei isso imediatamente. O que está acontecendo?
O que Ron e RJ fizeram?
— De acordo com meu agente e advogado, devo ser capaz
de evitar retaliação financeira e uma ação judicial. Dito isso,
estou desconvidado dos próximos eventos de publicidade e
proibido de comentar sobre o programa, e você e meu
assistente virtual foram demitidos — As outras consequências
não relacionadas a Gates não precisavam ser discutidas agora.
Ou, de preferência, nunca. — O que me traz ao meu brilhante
p–
— Não tão rápido, Woodroe. — Esqueça os pássaros. Ela
era uma porra de um texugo. — E quanto aos trabalhos após o
final da temporada que você conseguiu? Você já ouviu alguma
coisa sobre eles?
Ele olhou com grande interesse para a estante de livros dela.
— Não de todos eles.
Ainda não, de qualquer maneira.
— Ah, Alex. — Ela caiu em seu sofá como se suas pernas
tivessem caído embaixo dela. — Estou tão–
Nãooooo.
— Se você pedir desculpa, eu juro por Deus, Carricinha, eu
vou...
— O quê? — Ela levantou uma sobrancelha desafiadora. —
Você vai o quê?
Ok, introdução perfeita.
— Vou remover os benefícios da academia do seu pacote de
emprego e você terá que treinar comigo na minha academia em
casa.
Sua boca se abriu, depois fechou.
— Brincadeira — disse Alex. — Você não tem benefícios de
academia, então você vai ter que treinar comigo em casa.
Supondo que você queira treinar, o que não é um requisito
nem nada. Você faz o que quiser.
Aquela boca larga se abriu novamente, e ela parecia
deliciosamente suspeita.
— Eu não estava brincando sobre o pacote de emprego, no
entanto. Meu advogado ainda está — em meio a muitas
reclamações, considerando seus outros esforços em nome de
Alex naquela noite — elaborando o contrato, mas deve estar
pronto dentro de um ou dois dias. Fico feliz em negociar os
termos, conforme necessário.
A princípio, ele considerou oferecer trabalho a Carricinha
como sua companheira de babá, mas ele já sabia qual seria a
resposta dela a isso. Ela recusaria a oferta, alegando que já havia
provado sua incapacidade de mantê-lo longe de problemas.
Então, ele veio com uma solução diferente. Um melhor.
— Eu não… — Ela lambeu os lábios pálidos, e suas próprias
pernas ficaram um pouco fracas. — Não entendi.
— Caramba, você é lenta — Quando ela simplesmente
olhou para ele, ele soltou um suspiro exagerado e explicou: —
Eu gostaria que você fosse minha nova assistente pessoal. Não
virtual. Em pessoa.
Seu nariz enrugou, e não deveria ser tão fofo.
— Isso não faz sentido. Por que não recontratar sua PA
anterior com seu próprio dinheiro e manter as coisas virtuais?
Ela claramente tem mais experiência do que eu. Além disso,
tenho várias opções de trabalho no meu campo de trabalho
atual, então minha renda não depende de sua generosidade. A
dela pode depender.
Droga. Ele esperava que ela não pensasse nisso.
— Ela ainda vai trabalhar para mim. — Ele mudou seu peso.
— Caso contrário, eu me sentiria mal.
Como ele iria produzir trabalho suficiente para ambas as
mulheres, ele ainda não havia determinado. Ele veria isso
quando chegasse a hora, como era seu costume.
Ela apontou um dedo acusador para ele.
— Você acabou de me dizer que já perdeu empregos–
— Na verdade, eu não disse isso. Você apenas supôs.
— E eu já sei o quão generoso você é com amigos e
instituições de caridade e todos os outros na face deste planeta,
exceto talvez Ian e Ron–
— Como se você fosse alguém para falar, Lauren Chandra
Clegg, também conhecida como Sra. Vou Desistir das Minhas
Férias Quando o Meu Primo Pedir.
— Então você não pode pagar dois assistentes pessoais a
longo prazo, e mesmo se pudesse, eu não aceitaria esse trabalho
quando eu poderia estar fazendo um trabalho real em vez disso.
Em algum momento durante a discussão, ela se levantou
novamente. Agora, ela estava olhando para ele com as mãos
plantadas nos quadris, o queixo erguido.
Ela era tão fodidamente teimosa, e ele queria plantar um
beijo naquele queixo macio e truculento tanto quanto ele
queria chamá-la de a pior. Mas todo o seu plano estava
escorregando por entre os dedos, caramba. Não havia tempo
para beijos ou mesmo insultos. Ele precisava encontrar um
argumento vencedor, e precisava encontrá-lo agora.
— Mas me manter em ordem é um trabalho para duas
pessoas — ressaltou, desesperado.
Ela ergueu o dedo indicador e o dedo médio.
— Sim. Você e sua assistente pessoal. Duas pessoas.
— Mas… — Merda. — Se você não vier trabalhar para mim,
você não terá tanto descanso. Você disse que precisava de
tempo para superar seu esgotamento.
Com isso, ela realmente sorriu. Era pequeno e triste e grato
e terrível.
— Consegui economizar nos últimos meses, então ainda
terei tempo. Não tanto quanto eu pensava inicialmente, mas
algum tempo. Suficiente. — Ela engoliu audivelmente. —
Obrigada por pensar nisso, no entanto. Obrigada por pensar
em mim. Eu aprecio isso mais do que você sabe.
Um adeus muito gentil e educado estava a caminho, ele
poderia dizer. Se ele não conjurasse outra razão para ela ficar ao
seu lado nos próximos cinco minutos, ela iria sair de sua vida
para sempre.
Ele viria com esse motivo. Ele iria.
Mas primeiro, ele tinha que perguntar.
— Esse e-mail... você está bem?
— Estou bem. — Seus olhos estavam sérios nos dele. — Não
é nada que eu não tenha ouvido antes. Ron costumava dizer
coisas assim o tempo todo quando éramos crianças.
Ele fechou os olhos e respirou longa e profundamente.
Ao ver sua expressão, ela rapidamente acrescentou:
— O que não desculpa sua grosseria, é claro, mas tudo bem.
Eu só queria que você não tivesse visto essa mensagem, porque
eu sei que isso te aborreceu mais do que a mim. Obviamente.
E isso o matou. O estripou absolutamente.
Ele não queria chateá-la, mas ele a queria com raiva. Ou
talvez nem com raiva, mas pelo menos ciente do mal feito a ela.
Ele a queria absolutamente relutante em aceitar esse tipo de
crueldade como uma parte normal ou aceitável de sua vida.
Mas não dependia dele.
— E eu sei que você não quer um, mas eu te devo outro
pedido de desculpas. — Quando ele abriu a boca para
protestar, ela levantou a mão. — Deixe-me terminar, Alex. Por
favor.
Droga. Quando ela diz por favor, ele não podia fazer nada
além do que ela queria.
Olhando para ela o tempo todo, ele se preparou para ouvir.
— Se você disser que eu não deveria me desculpar por te
colocar em apuros, eu vou tentar não me desculpar por isso de
novo. — A boca dela virou para baixo nos cantos, o que ele
odiava. Odiava. — Mas eu posso e vou pedir desculpas por não
estar ao seu lado enquanto você lidava com as consequências.
Você me pediu para ir à sua suíte, e eu deveria ter feito isso. Eu
deveria ter apoiado você.
Sua ausência tinha doído. Ele não podia negar isso, mesmo
que ele entendesse as razões dela para sair. Ou, pelo menos, ele
achava que entendia. Mas se ela não estivesse com raiva dele...
— Eu só… — Ela torceu o pescoço e olhou para seu quarto
iluminado por uma lâmpada por alguns momentos antes de se
voltar para ele, seus olhos vidrados, e ele odiou isso ainda mais.
— Eu sabia que era o fim do nosso tempo juntos e eu estava…
— quando ela piscou, as lágrimas escorreram pelo seu rosto —
eu estava muito triste, Alex. Eu não queria distrair você com
meus próprios sentimentos, no entanto, porque você tinha
coisas mais importantes para lidar.
Novamente. Eviscerado. Porque, novamente, ela se colocou
abaixo de tudo, todos os outros, em sua vida, e ela nem parecia
notar. Não reconheceu o quão errado isso era.
Ela tentou sorrir, e foi vacilante e de partir o coração.
— Vou sentir sua falta.
Então ela estava tropeçando para frente, e seus braços em
volta da cintura dele, e ela estava inclinada para ele, tão suave e
quente e preciosa quanto ele havia imaginado.
Aquela camisola gasta não disfarçava a sensação elétrica do
corpo dela contra o dele, ou a óbvia falta de sutiã, e ele tentou
manter sua reação reveladora longe dela. Ele não queria estragar
o momento ou encurtá-lo.
Porque ela o estava abraçando. Babá Clegg. Carricinha. Sua
Carricinha.
Abaixando a cabeça desconfortavelmente para baixo, ele
descansou a bochecha contra o cabelo dela. Tinha cheiro de
coco. Ele não tinha ideia disso, até agora.
Quando os braços dela começaram a afrouxar, ele se abaixou
e emoldurou seu rosto doce, de feições afiadas e manchado de
lágrimas em suas mãos. Ele deu um beijo na testa dela.
Suas bochechas estavam molhadas e frias, e se encaixavam
perfeitamente nas palmas das mãos dele.
Ele olhou nos olhos dela, e o momento pareceu tão solene
quanto uma cerimônia.
Espera.
Lá estava. Finalmente, sua desculpa.
No avião, ele verificou seu e-mail e leu uma mensagem da
sua PA virtual. Depois de cancelar todos os seus planos de
viagem relacionados à publicidade e concordar em trabalhar
diretamente para ele, ela pediu férias de pelo menos duas
semanas antes de retomar sua programação normal. Ele disse
que sim, é claro.
Afinal, ele não tinha nada para fazer. Nenhum lugar para
estar. Com uma exceção, como seu assistente o havia lembrado.
Uma gloriosa e fortuita exceção.
— Você não precisa sentir minha falta. — O plano se
desenrolava diante dele, perfeito em todos os sentidos possíveis.
Ele deu um beijo feroz no cabelo ralo em sua têmpora,
triunfante de alegria. — Eu tenho outra ideia brilhante,
Carricinha, e vou cuidar de tudo. Tudo o que você precisa fazer
é dizer sim.
Ela piscou para ele.
— Ai, Jesus.
E–mail de Lauren
De: mclegg58@umail.com
Para: lcclegg@umail.com
Assunto: Verificando você
Oi, querida–
Marcus:
Desculpe, eu queria falar com você mais cedo
Eu estava ocupado com coisas normais de
convenções, mas também April e eu
resolvemos as coisas
Alex:
Parabéns, cara, estou feliz por vocês dois
Por favor, dê-lhe um abraço meu
O que não deve ser difícil, já que você sem
dúvida está se agarrando a ela como plástico
filme
Marcus:
Bem, você não está errado
Detestável, mas não errado
Você está bem? Depois de tudo o que
aconteceu ontem à noite?
Alex:
Ótimo!
Marco:
…
Alex:
Sem ação judicial + sem multas + sem coletiva
de imprensa = VIAGEM!!!
Com Lauren, óbvio
Marcus:
Óbvio
Espero que você tenha notado o sarcasmo ali,
porque era distinto
Alex:
Não, não vi nada além de sinceridade
De qualquer forma, na quarta-feira, estamos
indo para a costa para o casamento de Stacia
Eu pretendo conquistá-la ao longo do caminho
com meu jeito único e extremamente
charmoso
Marcus:
Então você finalmente percebeu que está a fim
dela?
Obrigado, porra
Eu pensei que nós dois estaríamos sentados em
nossas cadeiras de balanço em uma casa de
repouso antes que você percebesse
Alex:
Auto-reflexão não é meu forte, babaca
Além disso, por favor, note como eu não fiz
uma piada suja sobre a parte "a fim dela"
Isso é apenas parte da minha transformação
em um cavalheiro digno do carinho de Lauren
Marcus:
Ela parece gostar de você como você é
Se eu fosse você, eu continuaria um idiota
Alex:
Eu provavelmente deveria estar ofendido, mas
nós dois sabemos que é verdade
Me deseje sorte, cara
Marcus:
Boa sorte, dirija com segurança e deixe-me
saber como foi
Alex:
Vai ser ótimo
Como eu sempre digo, OLHOS AFIADOS,
ESPERTINHO, NÃO SE PODE PERDER
Marcus:
Você literalmente nunca disse isso antes
Alex:
Deixe-me reformular
OLHOS AFIADOS, ESPERTINHO, VAI SE FODER
Marcus:
Te amo, cara
Alex:
TUDO BEM, EU TAMBÉM TE AMO, VOCÊ ESTÁ
FELIZ AGORA
Marcus:
Sim, muito
Alex:
Bom, você merece
Ainda assim, vai se foder
20
— Sou excelente em ser companhia em viagens. — Alex
mirou um sorriso ofuscante para Lauren antes de voltar para o
tráfego. — Encantador. Inteligente. Uma verdadeira fonte de
sabedoria e conhecimento. Tão incrivelmente atraente que sou
essencialmente minha própria atração turística e vista
panorâmica. Quando estivermos entre as sequoias, você estará
se divertindo tanto que vai se perguntar como viajava sem mim.
Era pouco depois do meio-dia, e eles tinham acabado de
pegar a estrada. Por causa de... Alex.
Apesar de sua insistência em começar cedo naquela manhã
– “Você já me fez esperar até quarta-feira, Carricinha, que é
essencialmente no próximo ano” – ele os fez sentar para um dos
deliciosos e enormes cafés da manhã de Dina antes de partirem.
Porque, ele alegou, Lauren devia a ele o consumo de rabanadas
à base de croissant recheadas com uma mistura celestial de
cream cheese e morango, já que ele a defendeu.
Então ele confessou que ainda não tinha feito as malas e
insistiu em modelar possibilidades de roupas muito lisonjeiras
para ela e desfilar sem camisa enquanto se trocava, e...
Bem, eles começaram tarde. Mas, como ele apontou, isso era
para ser férias, e eles tinham muito tempo e nenhum lugar em
particular para estar antes de sábado.
Foi maravilhoso, francamente. Tudo.
Os planos de viagem. O tempo ininterrupto para falar. A
falta de lealdades divididas. O carro.
A falta de camisa.
— Eu vou me divertir muito? Isso é estranho. — Ela se
inclinou em direção a ele. — Acho que me lembro de um
adesivo de pára-choque novinho em folha no seu carro muito
caro dizendo – e cito – SEM DIVERSÃO. Em todas as
maiúsculas. Presumo que foi comprado para esta viagem?
A visão disso a fez parar de repente naquela manhã, quando
ela se aproximou do mini castelo. Alex tinha estacionado seu
carro bem na porta da frente, e ela não podia deixar de perceber
a adição decorativa. Não com suas letras vermelhas brilhantes
contra um fundo branco austero. E sim, o carro em si era do
mesmo tom de vermelho cereja, mas o sedã também era
elegante e imaculado e totalmente inadequado para adesivos de
pára-choques espertinhos.
Pensando bem, talvez a combinação de carro e adesivo fosse
perfeita para Alex. Linhas lisas e beleza levedada por uma
saudável dose de ridículo.
— O adesivo do pára-choque é uma homenagem — ele
declarou altivamente, sua atenção na estrada, seus olhos
escondidos por seus elegantes óculos de sol. — Um lembrete ao
nosso passado como Babá Clegg e seu trabalho irritadiço, mas
irresistível.
— Entendo — ela disse secamente. — Eu não sabia que era
um ato de comemoração histórica. Erro meu.
O sol brilhava no céu e o ar-condicionado do carro lutou
bravamente contra o calor de julho. As colinas ondulantes que
os cercavam estavam secas e douradas, com manchas verdes de
arbustos, e ela mal podia esperar para chegar ainda mais perto
da água e da brisa do oceano. Mas para ser perfeitamente
honesta, ela mal conseguiu olhar para fora da janela do
passageiro até agora. Porque Alex podia ser irritante, mas
também estava certo: era irresistível.
Ele tinha desfilado em inúmeras roupas para ela, todas
gloriosas nele. Mas em deferência à temperatura, ele escolheu
usar uma camiseta branca simples hoje. Ou pelo menos, teria
sido comum para quase qualquer outra pessoa. Nele, era um
enfeite artístico em uma sobremesa perfeitamente preparada.
Oh, céus, e era apertada. A camiseta se esticava contra seus
bíceps e se agarrava amorosamente a seus ombros largos, e sua
brancura imaculada fazia sua pele brilhar dourada ao sol.
O ajuste confortável de seu jeans desbotado exibiu os
músculos em movimento de suas coxas fortes enquanto ele
freava e acelerava repetidamente, o ritmo hipnotizante. E entre
aquelas coxas–
Não, ela não olharia para lá. De novo não.
Honestamente, sua preocupação atual com seu corpo
magro e forte era inteiramente culpa dele, e começou antes
mesmo do desfile de moda seminu. Assim que ele a viu de pé
em seu passeio circular naquela manhã, ele saiu saltando do
mini-castelo, seu rosto enrugado em um sorriso enorme e
radiante, e caminhou diretamente para ela.
Ele não parou a um ou dois passos de distância, ou acenou
de longe. Oh não.
Em vez disso, ele se aproximou e perfurou a generosa e
invisível bolha de espaço que normalmente a cercava e abriu
bem os braços, e o que mais ela poderia fazer então, sério? O
que mais ela poderia fazer além de caminhar para aqueles
braços, em seu abraço abrangente?
Ele se abaixou para descansar o rosto contra o cabelo dela, e
ele murmurou: Finalmente, sua megera exasperante,
finalmente, e ele a envolveu como...
Como o cobertor que ele deu a ela, talvez. Quente e luxuoso.
Mais bonito do que qualquer coisa que ela já esperou ter ou até
mesmo ousou querer.
Mas ela o queria. E ela o teve por intermináveis segundos
naquela garagem, talvez até um minuto ou dois, porque ele não
lhe deu um aperto rápido e a deixou ir. Não, ele segurou com
força, e ela também não se afastou.
Enquanto eles estavam abraçados, o calor da pele dele
encharcou sua roupa e esquentou contra as pontas dos dedos
em suas costas, seus braços ao redor de sua cintura, sua
bochecha em seu peito. Sua calça jeans esfregou contra o tecido
macio de sua legging, e a fricção ondulava através dela até que
ela inchou e doeu entre suas coxas. Apesar da barreira de seu
sutiã de algodão e camiseta, ela estava com muito medo que ele
pudesse sentir seus mamilos endurecerem contra seu estômago,
e se ela não soubesse melhor–
Bem, certamente ela estava enganada. Era o telefone ou a
carteira dele, não...
Com a lembrança daquela rigidez firme contra a parte
superior de sua barriga, ela pegou desesperadamente sua garrafa
de água e tomou um longo gole da garrafa de plástico suada por
conta de condensação.
Ela não olharia para o zíper dele novamente. Ela não iria
olhar.
Mesmo assim, quando eles finalmente se separaram em sua
garagem, ela poderia jurar que seu jeans se encaixava um
pouco... diferente... naquela região do que eles costumavam se
encaixar. E o beijo que ele pressionou em sua pele corada então
não pousou em sua têmpora ou testa.
Ele beijou sua bochecha, talvez a um milímetro do canto de
sua boca.
Amigos, ela disse a si mesma pela milésima vez naquela
manhã. Ele é meu amigo muito afetuoso e não entende o que está
fazendo comigo.
Quando ele falou novamente no casulo íntimo e silencioso
do carro, ela teve que erguer o olhar de – caramba – de onde
continuava à deriva, apesar de suas melhores intenções.
— Esse adesivo é essencialmente um monumento,
Carricinha. — Ele olhou para trás antes de mudar de faixa. —
Além disso, meu carro não é tão caro.
Ele estava sorrindo para a estrada à frente e o tráfego de pára-
choques que continha. Quando uma música que ele gostava
especialmente tocava nos alto-falantes discretamente
colocados, ele cantarolava junto, desafinado. Seus ombros
estavam soltos, seus movimentos fáceis e fluidos.
Apesar de todos os seus problemas profissionais, ela nunca
o tinha visto tão relaxado e inteiramente satisfeito consigo
mesmo e com o mundo.
Sua felicidade não dependia da presença dela, é claro, mas a
visão de sua alegria ainda acendeu uma faísca de prazer dentro
dela. Porque ele foi capaz de baixar a guarda na companhia dela.
Porque ele merecia cada pedacinho de seu aparente prazer.
Porque ele a queria ao lado dele neste carro, que era, não
importa o que ele alegasse, inconfundivelmente luxuoso.
— Sério? Não é tão caro? — Com as sobrancelhas erguidas,
ela traçou a ponta do dedo sobre a guarnição interna plissada
na porta do passageiro. — Porque não me lembro de tecido
dobrado para parecer origami dentro de veículos na minha
faixa de preço. Ou configurações de massagem para assentos de
couro macios como manteiga.
Ela não gostou do olhar especulativo que ele lançou em sua
direção.
— Nem pense nisso, Alex — ela disse severamente. — Se
você me comprar um maldito carro, eu o doarei imediatamente
para a caridade.
— Você faria isso. — Foi um resmungo. — Harpia.
Ela se aconchegou mais fundo em seu assento, satisfeita.
— Correto.
Ele soltou um suspiro magoado, apesar do sorriso ainda
vincar suas bochechas barbudas.
— Ok, então esse modelo não era barato, mas um monte de
meus colegas de elenco tem carros esportivos. Plural.
Um carro esportivo não poderia ser mais luxuoso do que
isso. Ela acariciou a madeira lustrosa e polida no painel,
traçando o padrão de espinha de peixe com a ponta dos dedos.
Eles estavam parados no trânsito no momento, e ele
apareceu estar olhando para o painel também, embora os
óculos escuros tornassem difícil dizer com certeza.
Seus dentes brancos afundaram em seu lábio inferior, e o
carro à frente deles acelerou.
Eles não aceleraram.
— Alex? — Mesmo quando ela apontou para a estrada
agora aberta, o SUV atrás deles buzinou. — Alex, precisamos
nos mover.
A próxima buzina foi muito mais longa e parte de um coro
crescente de descontentamento, e ele pulou um pouco antes de
olhar para frente novamente e pisar em seu próprio acelerador.
Ele limpou a garganta e prestou muita atenção à estrada.
— Desculpa. Perdi o foco por um minuto.
Ele cutucou a tela de controle para baixar a temperatura e
aumentar a velocidade do ventilador para seu lado do carro, a
cor forte iluminando suas maçãs do rosto.
Outra cutucada. Outra.
— Está calor para caralho aqui. Merda.
Talvez o sol fosse mais intenso do lado do motorista, porque
ela estava bem confortável.
Ela franziu a testa.
— Você precisa de mais água?
— Não. — Seu tom não convidava a mais discussão. — De
qualquer forma, minha mãe tem o mesmo modelo que o meu,
só que em uma cor diferente. Eu meio que gostei da ideia de
nós dirigirmos carros iguais.
Ele claramente comprou aquele carro para ela, e a doçura do
gesto perfurou o coração de Lauren.
Ele raramente mencionava sua mãe, embora Lauren
soubesse que os dois conversavam regularmente ao telefone.
Ela se perguntou sobre o relacionamento deles, mas agora ela
sabia: Alex amava sua mãe. Ele não era um homem para amar
sem entusiasmo, e seus carros combinando era mais uma prova.
— Ela mora na Califórnia? — Lauren perguntou.
Eles estavam se aproximando de Santa Mônica. Em breve,
eles se fundiriam no Pacific Coast Highway e dirigir ao longo
da água por quilômetros e quilômetros, subindo a costa
naquela famosa faixa de estrada entre o vasto e cintilante
oceano e as montanhas íngremes e escarpadas. Décadas haviam
se passado desde sua última longa viagem pela PCH, e ela mal
podia esperar.
Talvez a mãe dele morasse em algum lugar ao longo de sua
rota?
Ele balançou a cabeça, sua boca apertada.
— Flórida. Perto de onde cresci.
Que tipo de mulher havia criado o homem ao lado dela? E
por que Alex – que conversava abertamente sobre todos os
outros em sua vida – não falou mais sobre ela?
Lauren se virou para encará-lo mais diretamente,
reajustando o cinto de segurança para que não mordesse seu
pescoço.
— Vocês dois...
— Eu tenho um favor a pedir — ele interrompeu, as
palavras abruptas. — O que você acha de me filmar?
As imagens que apareceram em seu cérebro febril deveriam
tê-la constrangido. Mas ela estava muito ocupada se
perguntando por que ele havia cortado aquela linha de
conversa tão decisivamente, e também muito ocupada
derretendo em uma poça de luxúria por todo seu lindo assento
de couro, para sentir o nível apropriado de vergonha.
— O que, hum… — Outro longo gole de água não fria o
suficiente. — O que exatamente você quer que eu filme?
Provavelmente não o que ela tinha imaginado, infelizmente.
— Você não tem entrado muito na internet, certo? —
Quando ela balançou a cabeça, ele os guiou pela Califórnia
Incline, e então eles finalmente estavam no PCH. — Carah –
você se lembra dela? Do evento de caridade?
Aqui, próximo ao Pacífico, a temperatura não era
escaldante, mas agradavelmente quente. A água azul, o azul
estendendo-se até o infinito soltou algo com um longo nó
dentro dela, e a brisa do oceano acenou. Sem sequer se
preocupar em perguntar primeiro, ela desligou o ar
condicionado e abaixou a janela. Ele lhe atirou um sorriso
satisfeito, então baixou o dele também.
O vento chicoteando rugiu em seus ouvidos, e ela levantou
a voz para ser ouvida.
— Carah Brown. Muito gentil, muito engraçada, usa a
palavra foder mais do que qualquer outro humano vivo?
Ele bufou.
— Você se lembra de Carah. De qualquer forma, ela se filma
comendo comidas estranhas sugeridas pelos espectadores e
publica os clipes por toda a internet. Quando estávamos
mandando mensagens ontem, ela sugeriu fazer meus próprios
vídeos na viagem como uma forma de me conectar com meus
fãs fora de Gates, e achei que era uma ideia decente. Mas eu
preciso de uma fotógrafa.
— Eu — disse ela.
— Você — ele confirmou. — Supondo que você esteja
disposta.
Em teoria, ela estava, mas…
— Eu não sei filmar pessoas.
— Felizmente, eu sei muito sobre ser filmado. — Ele
colocou o cotovelo esquerdo no parapeito da janela, e o braço
de sua camiseta ondulou na corrente de ar. — Vai ficar tudo
bem, Carricinha. É apenas um experimento. Se não der certo,
não posto nada. Sem problemas.
Bem, ela o avisou.
— Ok. Eu vou fazer isso. Você quer que eu use seu telefone?
— Sim. — Inclinando-se para trás em seu assento, ele tirou
o celular do bolso da calça jeans e entregou a ela. — Por que não
fazemos um teste em Malibu?
O telefone dele tinha mais recursos do que o dela, e ela levou
alguns minutos para aprender as várias opções enquanto
passavam por Pacific Palisades. Quando eles se aproximaram de
Malibu e viraram para o interior, ela pensou que poderia pelo
menos gravar um vídeo simples. Provavelmente.
Ela se virou para ele o máximo que pôde e apoiou o cotovelo
no painel para firmar a mão da câmera.
— Pronto para o seu teste?
O trânsito ficou lento e ele aproveitou uma parada
temporária para se checar no espelho retrovisor. Como ela
poderia ter dito, ele não precisava de nenhum ajuste. Ele já era
o epítome do estrelato casual, beijado pelo sol, seu desleixo
apenas aumentando seu apelo.
— Tudo bem. — Ele soltou o freio por alguns metros, então
teve que parar novamente. — Vamos fazer isso, Carricinha.
Três, dois, um e... ação.
Ela tocou no círculo vermelho na tela e manteve a câmera
focada em seu perfil no banco do motorista.
— Oi, pessoal. Eu sou Alex Woodroe — ele deu um breve
sorriso na direção dela e piscou para o público — A amada e
extremamente atraente estrela de Gods of the Gates e vários
filmes, alguns mais de baixo orçamento do que outros. Estou
dirigindo pela Pacific Coast Highway em uma viagem de vários
dias e pensei que vocês gostariam de saber onde estou e aonde
estou indo.
Fazendo o seu melhor para manter o telefone parado, ela
assentiu encorajadoramente.
Ele acenou com a mão, indicando seus arredores.
— Agora, estamos em Malibu, onde os ricos e famosos de
LA vêm caçar o Pé Grande da Juventude.
Com isso, ela engasgou com o ar e tentou tossir-rir o mais
silenciosamente possível.
Ele franziu a testa.
— Você está bem?
Quando ela acenou para ele, ele acrescentou confiante:
— Como todos em Hollywood sabem, se você pegar o Pé
Grande da Juventude, ele lhe concederá uma década extra de
viabilidade de elenco em troca de sua liberdade. Por essa razão,
a caça ao Pé Grande é a principal indústria local em Malibu. A
cidade realmente deveria divulgar mais.
Se isso fosse um teste, ela poderia responder sem estragar
nada, certo?
Com a mão livre, ela tateou em busca de sua garrafa de água
e tomou mais um grande gole.
— Alex, você tem certeza absoluta de que esses são os tipos
de curiosidades de viagem que você deseja compartilhar?
— É a única explicação para Carah Brown, Carricinha. —
Quando o carro parou novamente, ele se virou para olhar
diretamente para a câmera. — Você sabia que Carah tem
noventa e três anos?
Quando Lauren ria alto, Alex também ria, e ela não
conseguia resistir a se envolver com o absurdo dele.
— Talvez ela tenha uma foto de capa da Vanity Fair que
está envelhecendo por ela?
— Sólida alusão literária. Boa. — Quando ele estendeu a
mão para um high five, ainda sorrindo, ela deu a ele. — De
qualquer forma, Carah é anciã, e o Pé Grande da Juventude
vive aqui. Isso é tudo o que você precisa saber sobre Malibu.
Ele ergueu um dedo, como se fosse um estudioso fazendo
um ponto final e crucial.
— Ah, e algumas pessoas em Malibu tentam manter suas
praias privadas e acessíveis apenas aos super-ricos, o que é uma
bobagem total. Mas suponho que eles precisem de privacidade
para a caça ao Pé Grande.
Oh, bolachas sagradas.
— Espero que você tenha gostado da sua visão cintilante de
mim e do delicioso trânsito congestionado de Malibu. — Ele
lançou outro sorriso de derreter os ossos na direção da câmera.
— Obrigado por assistir, e lembre-se de ir lá, se divertir, e não
deixe Carah Brown te enganar. Ela é bonita, mas também é
velha para caralho e má para caralho. Não digam que não avisei,
pessoal.
Ainda tremendo com o riso reprimido, ela bateu na tela para
parar de filmar.
— Como fomos? — Quando o tráfego começou a ficar mais
rápido, ele voltou toda a atenção para a estrada. — Não
importa, eu fui obviamente brilhante, então deixe-me
reformular: como você se saiu?
Quando ela reproduziu o vídeo, ele permaneceu em foco o
tempo todo, e tudo o que ele disse foi claramente audível.
Infelizmente, assim foi tudo o que ela disse, e seu público
teórico podia ver seu braço enquanto ele a cumprimentava.
Droga, se ela simplesmente ficasse fora da conversa e da
visão da câmera, eles poderiam ter usado aquele clipe, porque
ele era... ele mesmo. Inteiramente ele mesmo. Engraçado,
afiado, inteligente e ridículo. Irascível e irresistível, como ele
havia dito antes.
— Eu sinto muito. — Ela suspirou, colocando o telefone
dele no console central. — Se eu não tivesse me intrometido, o
vídeo teria sido perfeito para postar.
Ele levantou um ombro.
— Você tem alguma objeção em estar no vídeo?
Ela não disse nada embaraçoso, e não era como se ela tivesse
desfilado na frente da câmera. Então, depois de um momento
de consideração, ela deu de ombros também.
— Não. De verdade. Mas, como você me disse uma vez, é
você que o público quer ver e ouvir. Não uma mulher aleatória.
— Eu não me importo com eles, Carricinha. Eu quero olhar
para você. Eu quero ouvir você. — Antes que ela pudesse fazer
mais do que piscar para ele com prazer confuso, ele
acrescentou: — Mas você tem certeza que não se importará
com a visibilidade pública? Eu não prevejo um grande público,
mas o que eu disse na convenção ainda é importante em alguns
círculos. Existe a possibilidade de os clipes terem alguma
notoriedade.
— Se sim, ficarei offline por alguns dias novamente. —
Cuidadosamente, ela alisou um dedo sobre as dobras dobradas
dentro da porta e evitou olhar para ele. — Você realmente me
quer no vídeo?
— Vídeos. Plural. Se você estiver disposta. — Ele estendeu a
mão e hesitou. — Posso tocar em você?
Quando ela assentiu, ele colocou a mão em seu joelho, e ela
respirou trêmula.
— É mais divertido com você participando. Por favor,
Carricinha.
Sua perna estava pegando fogo. O polegar de Alex roçou
para frente e para trás sobre sua patela, e o tecido fino e elástico
de sua legging oferecia nenhuma proteção contra seu calor,
contra a corrente elétrica gerada pelo toque dele.
Ela tomou mais um gole desesperado de sua água antes que
ela pudesse falar.
— Ok. Contanto que eu possa ficar atrás da câmera, tudo
bem. Eu vou fazer isso.
Ele gentilmente apertou o joelho dela, e ela engoliu um
suspiro. Ela queria a mão dele, aqueles dedos ágeis, mais alto. Se
ele a segurasse entre as pernas e a apertasse assim...
— Bom. — Sua palma deslizou lentamente pela coxa dela
antes de retornar ao volante. — Prepare-se, então. Ainda hoje,
pretendo contar às pessoas sobre os recentes avistamentos de
zumbis ao longo da costa.
Ela quase engasgou com outro gole de água.
— Zumbis, Alex? Sério?
Com certeza um sorriso tão perverso era uma violação à lei
estadual, certo?
— Sério — disse ele, e acelerou para a estrada ensolarada à
frente.
4
É uma referência a música dos anos 80, “Pour Some Sugar On Me” de Deff
Leppard, que tem a ver com gratificação sexual, sendo a forma como a música
surgiu.
Ela soltou um suspiro lento, então se virou para o
funcionário que a esperava.
— Vamos lá — disse ela, e pulou novamente no grito de
alegria de Alex.
Talvez não fosse a resposta mais sábia, mas era a resposta
dela. A resposta certa.
Pelo menos, para esta noite.
21
Alex exalou enquanto andava de um lado para o outro, e
ele realmente podia ver a lufada de ar. Mesmo sendo julho.
Na Califórnia.
Bem, ele não poderia dizer que o garoto na recepção os
enganou. O pequeno quarto continha apenas uma cama de
tamanho normal e nenhum sofá. O ar condicionado
funcionava a todo vapor, não importando qual configuração
ele escolhesse. E como o funcionário os informou enquanto
pressionava a chave na mão de Carricinha, as janelas estavam
realmente fechadas.
O quarto parecia o menor rinque de hóquei do mundo. Em
circunstâncias normais, ele estaria reclamando sem parar. Mas
como eles só estavam lá por causa dele…
Bem, ele só reclamava ocasionalmente.
Atrás da frágil porta do banheiro do quarto, Carricinha
estava tomando banho. Esperançosamente sob a água mais
quente que ela pudesse suportar, porque aqueles lençóis iam
parecer gelo.
Os lençóis sob o qual eles estariam. Juntos.
Merda, ele não podia continuar olhando para a porta. Era
assustador. E se ele continuasse imaginando riachos de água
fumegante correndo por seu corpo nu, úmido e exuberante,
nenhuma quantidade de frio glacial poderia impedir que seu
próprio corpo respondesse visivelmente, e ele não queria
assustá-la quando ela saísse do banheiro.
Ela confiou nele o suficiente para compartilhar uma cama.
Ele não violaria essa confiança.
Afastando-se resolutamente da porta do banheiro, Alex
pegou seu telefone e se ocupou em carregar os vídeos do dia em
várias plataformas, marcando Carah sempre que possível.
O som da água corrente parou e ele mordeu o lábio.
A pilha alta de cobertores extras que eles levaram para o
quarto e espalharam sobre a cama poderia mantê-la aquecida.
Mas se os cobertores não bastassem…
Não, ele não pensaria nisso. Ele não podia. Não agora que
ela estava saindo do banho, sua pele macia úmida e corada pelo
calor, quase como se tivessem acabado de...
Não. Não. Não.
Quando ela saiu do banheiro em uma nuvem de vapor,
arrastando sua mala atrás de si, ela estava vestindo uma de suas
camisolas de grandes dimensões e um novo par de leggings.
Nada que ele não tivesse visto antes, mas ele suspeitava que ela
não estava usando sutiã desta vez. Talvez não estivesse usando
calcinha também, e esse era um pensamento que ele faria o seu
melhor para esquecer.
— Ahhhhhh. — Quando os olhos dela voaram para os dele,
ele sorriu para ela. — Minha companheira de cama retornou.
As pontas de seu cabelo ficaram molhadas. Fios aleatórios
estavam grudados em suas bochechas rosadas e pescoço e, em
instantes, esses pedaços seriam como pingentes de gelo contra
sua pele. Assim como o ar. Assim como o piso de madeira.
Com certeza, assim que ela registrou a temperatura
absurdamente baixa no cômodo principal, seu rosto
imediatamente se contraiu em uma careta de dor, e ela deu uma
espécie de guincho ofegante.
— Puta merda — ela respirou, imediatamente começando a
tremer.
Ele não iria verificar o que o frio tinha feito com seus
mamilos. Ele não iria.
Ela não estava usando meias ou chinelos, e ela meio que
saltou na ponta dos pés para a cama, tentando fazer o menor
contato com o chão o máximo possível antes de arrancar
apressadamente a montanha de cobertores, mergulhar dentro e
puxar tudo de novo.
Coberta até abaixo de seus globos oculares, ela olhou para
ele de seu ninho, suas sobrancelhas franzidas em indignação
fria.
Ela era adorável para caralho, e ele não pôde deixar de rir.
— Arrume isso, Woodroe — ela estalou debaixo de um
bilhão de cobertores.
Ele ergueu as mãos, palmas para fora.
— Ei, calma. Apenas dei boas-vindas ao seu retorno ao retiro
de Elsa na Califórnia. Caso contrário, eu não disse uma palavra.
— Tanto faz. — Sua voz abafada estava mal-humorada
como o inferno, e isso era ainda mais adorável. — Em minha
defesa, eu não sabia que deveria trazer um pijama adequado
para companhia. Ou condições árticas. Acho que usaram um
Zamboni nessas folhas. Caralho.
Droga. Ela parecia genuinamente desconfortável.
— Você quer que a gente faça o check-out e vá para outro
lugar? — Ele queria ficar, queria compartilhar uma cama com
ela, mas suas necessidades não eram tão importantes quanto as
dela. Nem de longe. — Se formos longe o suficiente, tenho
certeza de que podemos encontrar um lugar com vagas. Um
que não está executando um experimento de criogenia ao lado.
Ela descobriu sua boca, e ele podia realmente ver seus dentes
batendo.
— Não. Quero que você pare de falar, tome um banho
desconfortavelmente escaldante e sirva como minha bolsa de
água quente pessoal sob essas cobertas. Se apresse.
Eles iriam se abraçar para se aquecer?
Puta merda. Todas as suas fanfics e sonhos da vida real se
tornaram realidade. Este era realmente o melhor dia de todos.
Além disso, ela estava sendo inegavelmente – embora
compreensivelmente – megera e exigente, o que era mais um
sonho realizado. Afinal, se ela não confiasse nele, ela não iria
reclamar com ele. Foi uma honra, realmente, e um prazer
genuíno vê-la inteiramente livre de modos.
— Grande Energia de Harpia — ele disse com admiração.
— Grande. Enorme.
Ela olhou desconfiada para ele.
— Essa é outra referência a Uma Linda Mulher?
Foi totalmente.
— Não posso confirmar nem negar essa acusação.
— Ah, pelo amor de... — Ela fechou aqueles lindos olhos
por um momento. — Apenas cale a boca e fique quente para
mim. Por favor.
Ele sorriu para ela provocativamente.
— Você sabe o que eu quis dizer — ela murmurou. — Vai
logo, Woodroe.
Ele se curvou.
— Seu desejo é meu desejo, etc, etc.
Rolando a mala atrás de si, ele se dirigiu ao banheiro, fechou
a porta e se preparou para fornecer tanto calor corporal quanto
humanamente possível. A água em seu chuveiro: quase
fervendo. Sua imaginação: fervorosa. Seu pau: em seu punho,
porque se eles estivessem abraçados, ele ia ficar duro a menos
que ele tivesse literalmente tido um orgasmo antes.
Levou apenas alguns golpes. Ele estava preparado por dias e
dias, e a visão dela em uma cama, olhando para ele e
possivelmente sem calcinha, o levou ao seu ponto de ruptura.
Ela seria tão suave sob ele, ao redor dele. Molhada e carente.
E se ela o montasse, seu peso o manteria firmemente no lugar,
não importa o quão desesperadamente ele implorasse e se
esforçasse para...
Cabeça jogada para trás, joelhos fracos, ele engoliu seu
gemido e bateu a mão contra a parede do chuveiro para se
preparar enquanto gozava.
— Você está bem? — ele a ouviu chamar pela porta. —
Alex?
Às vezes, havia algo tão inocente, na verdade.
Ele limpou a garganta antes de responder.
— Tudo bem. Apenas perdi meu equilíbrio por um
momento.
Se esfregar em todos os lugares levou apenas alguns minutos,
apesar de seu tremor pós-orgasmo. Ainda assim, ele estava
quase suando com o calor da água quando se enxaguou.
Quando saiu do banho e pegou uma toalha, o espelho embaçou
e ficou assim.
Sua mala continha muito poucas opções de roupas
aceitáveis para esta ocasião importante. Ele não tinha embalado
pijama, porque ele não usava pijama. Uma camiseta e cueca
boxer teriam que servir, porque ele não iria usar jeans para
dormir. Não a menos que ela insistisse.
A roupa grudava em sua pele úmida, e ele preferia estar nu,
mas que assim fosse. O conforto de Carricinha valia seu
desconforto.
Depois de escovar os dentes, ele saiu do banheiro. Pelo que
ele podia dizer, ela não havia mudado de posição, e seu tremor
sacudiu a montanha de cobertores.
— Boas notícias — disse ela através de todos os cobertores.
— Não preciso mais visitar aquele hotel de gelo na Suécia.
Apenas acenda uma maldita lâmpada no teto e chame-a de
aurora boreal, e pronto: objetivo de vida alcançado.
— Ver as luzes do norte da Califórnia é realmente uma
experiência a ser apreciada. Parabéns. — Porra, o quarto estava
gelado. — Pronta para companhia?
Ela jogou os cobertores para trás e acenou para ele com
impaciência. Essa foi a resposta suficiente.
Dentro de três passos rápidos, ele estava na cama. Ficar
debaixo das cobertas só tomou fôlego, e então lá estava ela,
tremendo de frio, deitada a apenas um centímetro de distância.
Se ela quisesse uma bolsa de água quente pessoal, ele seria
uma. Com prazer.
Quando ele abriu os braços, ela imediatamente subiu neles.
Aproximando-a, ele enfiou a cabeça dela sob o queixo e a
cercou com seu corpo o melhor que pôde, e merda, ela era
macia, abundante e fria.
— Coloque seus pés contra minhas pernas — ele disse a ela,
então conteve um suspiro de dor quando ela obedeceu. —
Mãos na barriga ou debaixo dos braços.
Aparentemente, ela agora tinha icebergs nas extremidades.
Jesus.
Lentamente, as mãos dela se arrastaram de suas costas
cobertas de algodão em direção ao abdômen, e ele levantou a
borda de sua camiseta para ela.
— Pele com pele, Carricinha. Caso contrário, isso não
funcionará.
Ele sufocou outro suspiro ao sentir as mãos dela em sua
carne nua. Como dez pontos de frio ártico contra seu estômago
arrepiado poderiam excitá-lo tanto meros minutos depois de
seu último orgasmo, ele não sabia. Mas eles o excitaram. Ela o
excitou.
Ele moveu seus quadris, apenas no caso, e ela se aconchegou
mais perto.
— Ah, uau. Você é tão quente. — Toda a sua irritação tinha
desaparecido, e agora ela parecia... sonhadora. — Tão duro.
Droga. Ele estava quase inteiramente certo de que havia se
afastado o suficiente, mas talvez ela tivesse algum tipo de
habilidade de detecção de ereção sobrenatural?
Ela ficou rígida em seus braços, e seu rosto contra seu
pescoço ficou visivelmente quente.
— Quero dizer, musculoso. Forte. Não duro.
Ele engoliu um milhão de respostas inapropriadas, porque
ele não iria assustá-la. Nem mesmo por causa de uma boa piada
suja.
Hora de mudar de assunto.
— Então... — Deus, o que diabos ele deveria dizer agora? —
O que você acha sobre os problemas de consentimento
inerentes às histórias de pólen sexual?
Ao som de suas próprias palavras e o silêncio absoluto que
as seguiu, ele sufocou um gemido. Jesus Cristo. Por que ele não
poderia ter inventado outra coisa – qualquer coisa? Abraçá-la
poderia ser como inalar pólen sexual com cada respiração difícil
e cheia de luxúria, mas ele não precisava falar sobre isso.
— Pólen sexual… — as palavras foram sopros de ar quente e
úmido contra sua pele, e ele estremeceu. Não de frio. — Eu
sequer quero saber?
Ele não pôde deixar de rir.
— Provavelmente não. Mas eu vou te enviar links para
minhas fics favoritas de pólen sexual de qualquer maneira. Eu
tenho alguns salvos.
— Oh. — Seus dedos se curvaram contra sua barriga. — Eu,
uh, posso não precisar que você me envie os links, então.
Quando ele tentou se afastar o suficiente para ver sua
expressão, ela se agarrou a ele como uma lapa.
— Lauren Chandra Clegg, você esteve olhando minhas fics
salvas?
Seu corpo inteiro parecia irradiar calor fresco, e ela não
precisava responder em voz alta.
— Você olha… — ele exclamou. — Você leu sobre pegging
e consentimentos e–
Como ela tinha feito uma vez antes, ela colocou a mão sobre
a boca dele, e ela realmente deveria ter se lembrado do que
aconteceu da última vez. Desta vez, ele lambeu sua palma mais
lentamente, girando sua língua ao longo do caminho. Uma
sedução, não o truque de um amigo travesso.
Ela não moveu a mão.
Seus cílios tremularam contra seu pescoço, e suas coxas se
moveram. Separadas, mesmo que apenas dois centímetros.
Ela se esticou um pouco. Acomodou-se mais apertada
contra ele com um zumbido baixo. Seus mamilos de repente
ficaram evidentes contra seu peito.
Bem, então.
Ele torceu o pescoço, raspando a barba contra os dedos dela,
batendo na mão dela como um gato precisando ser acariciado.
Em um movimento hesitante, ela acariciou sua mandíbula. Sua
bochecha. Alisou o polegar sobre as sobrancelhas dele.
Sua respiração ficou mais rápida. A dele também.
Nenhuma parte dela estava mais fria, e ela sabia que ele
estava pegando fogo, caralho.
Quando ela lentamente traçou seus lábios com o dedo
indicador, ele abriu sua boca e o levou para dentro. Sugando.
Segurou a ponta de seu dedo cuidadosamente entre os dentes.
Ela–
Merda. Ela gemeu.
Ele tremeu. Então cutucou seu joelho levemente, tão
levemente, contra a costura de suas pernas. Era o equivalente
aos seus braços abertos, mas na parte inferior do seu corpo. Não
uma exigência, mas um convite.
Então, ela estava montada em sua coxa, seus dedos cavando
deliciosamente em suas costas, o calor de seu sexo queimando
através de sua calça fina, e o som que ela fez quando se apertou
contra ele, se contorcendo, o deixou em chamas. Ele deslizou as
mãos pelas costas dela lentamente, esperando que ela
protestasse. Esperando que ela o detivesse.
Ela não o fez, então ele segurou sua bunda generosa e
incrivelmente macia em suas mãos e a engatou mais apertado
em sua perna. Mais forte contra os músculos ali, para lhe dar
pressão onde ela precisava. Ela inalou bruscamente e arqueou
as costas em resposta, e sim, sim, ele queria que ela se esfregasse
contra ele. Ele queria que ela o usasse para seu prazer.
Era tudo calor e alegria delirantes, toda fricção e respiração
ofegante.
Até que ele se inclinou de uma maneira que não pretendia,
tentando chegar mais perto, o mais perto que pudesse, e seu
pau duro – ele tinha trinta e nove anos de idade, então que
porra é essa? Por que seu período refratário normal falhou com
ele agora? – foi pressionado contra sua barriga.
Ela engasgou novamente, e seus quadris pararam. Assim
como suas mãos.
Desembaraçar-se dela era como cortar um membro, mas ele
fez isso de qualquer maneira. Ele jurou se comportar, jurou não
assustá-la, e como o idiota que ele era, ele quebrou suas
promessas.
— Eu sinto muito. — As palavras eram muito altas, muito
abruptas, mas ele não conseguia controlar sua respiração ou sua
voz ou qualquer coisa agora. — Desculpe, Lauren.
Sua lâmpada de cabeceira ainda estava acesa, e ele podia ver
claramente seus lindos olhos. Seu rosto amado e fascinante. Sua
expressão, torcida com–
Isso era dor?
— Por que você está arrependido, Alex? — Seu queixo
tremeu, e ela apertou a mandíbula macia. — Você sente muito
porque sou eu nesta cama com você, e não outra pessoa?
Sua boca literalmente caiu aberta.
— O que... — Ele balançou a cabeça contra o travesseiro
muito duro, confuso e incrédulo. — Que diabos isso significa?
Seu queixo trêmulo se inclinou para cima, e ela piscou com
força.
— Aqui estamos, vivendo suas fics favoritas. Uma cama.
Abraçando para nos aquecer. E talvez você tenha se empolgado
e esquecido exatamente quem estava ao seu...
Ele riu. Ele riu alto e incontrolavelmente e, quando se
acalmou, Lauren estava aconchegada o mais longe possível dele
na cama. O que não era longe, porque ela não era uma mulher
pequena, e a cama não era particularmente grande.
— Eu preciso contar a Marcus sobre isso — disse ele, apenas
para perceber que ele piorou as coisas, porque seu rosto já
dolorido desabou sobre si mesmo em absoluta humilhação e
horror. — Não, Carricinha, não. O que quer que você esteja
pensando, não é isso.
Ok. Ele ia fazer isso.
Não há mais hesitação. Chega de pesar palavras e
consequências. Ele deveria ser mais inteligente. Ele não foi feito
para contenção.
Ele foi feito para amar. Em voz alta e para sempre.
— Eu preciso dizer a Marcus, porque, esta semana, ele me
chamou de idiota inconsciente por não perceber que eu estava
a fim de você muito antes. Semanas atrás. Merda, meses atrás.
— Quando ela engasgou, sua boca aberta em choque aparente,
ele revirou os olhos, porque, sério? Ela realmente não tinha
percebido? — E você está se perguntando se eu, de alguma
forma, não percebi que você era a mulher na minha cama, que
você era a mulher que se esfregava contra a minha maldita
coxa...
Ele balançou a cabeça, divertido e frustrado e excitado como
o inferno.
— Eu preciso dizer a ele que você é tão idiota quanto eu.
Talvez mais.
As palavras dela foram tão baixas, que ele mal podia ouvi-las
sobre o ar condicionado incessantemente barulhento.
— Você está... a fim de mim? Você... tem certeza?
O horror contorcendo suas feições havia desaparecido,
substituído por cautela. Vigilância, mesmo enquanto a
esperança tremia nos cantos daquela boca tentadora.
Agravação evidente em cada palavra, ele expôs a evidência.
— Lauren, eu beijei sua testa. Eu beijei sua bochecha. Eu
abracei você por quantidades absurdamente absurdas de
tempo. Eu acariciei sua coxa. Eu implorei para você fazer uma
viagem comigo e dividir uma cama comigo. Eu me masturbei
no chuveiro há dez minutos atrás pensando em você em cima
de mim, me segurando e gozando no meu pau. E, apesar disso,
eu acidentalmente esfaqueei seu estômago com meu pau
estúpido momentos atrás, depois de usar seu nome completo.
Como diabos o meu desejo por você – especificamente você –
está mesmo em questão?
Seus olhos estavam arregalados. Atordoado.
— Eu não sabia que você... tinha feito isso... no chuveiro.
Achei que você tivesse escorregado.
— Mas você sabia sobre o resto. A menos que você esteja
tendo problemas de amnésia. O que, aliás, é outro dos meus
enredos de fic favoritos, então se você é amnésica ou quer fingir
ser uma, me avise, e podemos nos divertir com isso.
Ah, as possibilidades de interpretação de papéis eram
infinitas.
— Lembro-me de tudo, mas... — não fazia ideia do que
significava. Ela ainda estava piscando para ele do outro lado da
cama. — Nada.
Ela achava que ele acariciava aleatoriamente as coxas das
mulheres só por diversão?
Quanto mais ele considerava o que ela disse, mais chateado
ele ficava.
— Não importa o que aconteça ou não aconteça entre nós
dois, sexual e romanticamente, eu pensei que éramos amigos.
Amigos de verdade. Então, como diabos você pode pensar que
eu usaria você como um corpo qualquer na minha cama?
Doeu. Que ela pensasse tão pouco dele era uma flecha
perfurando seu peito, rasgando músculos e ossos, perfurando
um buraco em seu coração.
Estava muito quente sob os cobertores agora, e ele os jogou
para longe e se levantou da cama para ficar de pé, vibrando de
dor, na porra do chão gelado.
— Alex... — ela disse, mas ele não conseguia olhar para ela.
— Alex, eu– porra.
Então, ela estava bem ali. Ajoelhada na cama na frente dele,
estendendo a mão para ele. Sua mão pequena e forte agarrou
seu pescoço e o puxou para ela, e ela o beijou. Com força.
Sua boca estava quente na dele, seus lábios exigentes, e
quando ele abriu para ela, sua língua varreu dentro de sua boca
sem hesitação e reivindicou seu território. Ele chupou aquela
língua ousada, lutou contra ela, acariciou-a com a sua, e seu
estômago mergulhou em luxúria e alegria.
Distantemente, ele sentiu um puxão contra seu couro
cabeludo. Ela enfiou os dedos em sua juba desgrenhada, que ele
manteve por muito tempo só para ela. Apenas para isso. Só
porque ele sonhou com o punho dela em seu cabelo,
direcionando a cabeça para onde ela queria que fosse.
Claro, ele também sonhou em fazer a mesma coisa com ela.
A outra mão dela estava deslizando sob a camiseta dele,
subindo pelas costas dele, e ele estava apalpando sua bunda
mais uma vez, grudando-a contra ele até que sua suavidade
cedesse aos contornos de seu corpo e, não, ele definitivamente
não conseguia detectar a calcinha debaixo daquela legging
extremamente fina.
Isso estava ficando fora de controle rapidamente. Muito
rápido.
Antes de irem mais longe, ele tinha que saber.
Ele arrancou sua boca da dela, selvagem e ofegante e carente.
— Isso significa que você me quer? Não apenas para mantê-
la aquecida?
Sua voz estava rouca. Grave com desejo e saudade.
Depois de deslizar a mão para fora de sua camiseta, ela
segurou seu rosto entre suas pequenas palmas com ternura.
Tão ternamente que ele teve que fechar os olhos contra a dor
em seu peito.
— Isso significa que sinto muito. — Ela beijou suas
pálpebras, seus lábios quentes e gentis. — Isso significa que
minhas dúvidas tinham mais a ver comigo do que com você,
mas ainda eram injustas para nós dois.
Seus lábios roçaram suas têmporas suavemente. Tão, tão
suavemente.
— Isso significa que eu quero você. Só você. — Ela pegou o
lábio inferior dele entre os dentes e beliscou, e ele balançou
contra ela. — E isso significa que eu quero você desde que você
caminhou em minha direção em LAX parecendo um maldito
Deus. Aquela maldita camiseta Henley deveria ser banida.
Ela lambeu sua boca aberta e o conquistou novamente, e ele
retribuiu o favor. Com um braço apoiando seus ombros e
pescoço, seu crânio embalado em sua mão, ele avançou,
empurrando-a na cama e rastejando sobre ela.
Em suas mãos e joelhos, seu corpo enjaulado dentro dele, ele
era suplicante e conquistador ao mesmo tempo. Ele arrastou a
boca aberta sobre sua bochecha, ao longo de sua mandíbula,
abaixo de seu pescoço.
— Até onde você quer ir esta noite, Carricinha?
Quando ele lambeu um certo ponto atrás de sua orelha,
então soprou em sua pele úmida, sua respiração engatou, então
ele fez isso de novo.
— Eu... — Suas unhas rombudas cravaram em suas costas
enquanto ele chupava a pele sombria de seu pescoço. — Só...
Só beijo, eu acho. Se estiver tudo bem? Está tão frio aqui, e não
quero que nossa primeira vez juntos aconteça debaixo de uma
pilha de cobertores. Eu quero ver você.
Ela não lhe devia nada. Tudo o que ela já havia oferecido era
mais um presente do que ele jamais ganhara.
— O que você quiser — ele jurou. — Como você quiser.
Nada mais nada menos.
O sorriso dela era trêmulo e adorável e largo e inteiramente
dele.
Ele a incitou para debaixo das cobertas mais uma vez,
porque ele não a queria fria. Nem por um segundo. Então, ela
estava de volta em seus braços, seu cabelo macio contra seus
dedos, sua boca quente e ansiosa pela dele, e ele nunca tinha
lido uma fic tão foda.
Nenhuma. Nunca.
Classificação: Explícito
Fandoms: Gods of the Gates – E. Wade, Gods of the Gates
(TV)
Relacionamentos: Cupido/Psiquê
Tags Adicionais: Universo Alternativo – Moderno, pollen
sexual, consentimento explícito, mas quando se trata
de pollen sexual, as coisas são sempre pelo menos um
pouco estranhas, cenas verdadeiramente infinitas de
Cupido caindo em Psique, Vênus é horrível como
sempre, mas pelo menos Psiquê recebe alguns
orgasmos fora disso eba
Estatísticas: Palavras: 8249 Capítulos: 3/3 Comentários:
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No ar esta noite
PsycheStan
Resumo:
Vênus libera pólen de uma flor especial, uma que causa
luxúria insaciável, na casa de Psiquê – então envia Júpiter
para uma visita. A deusa espera que seu filho Cupido
sinta repulsa pela visão de seu pretenso amante com seu
avô e despreze Psiquê.
Mal sabe Vênus: Psiquê esperava que algo assim
acontecesse. Ela planejou com antecedência.
Notas:
Cupido pode ser apenas metade de um Deus, mas tenho
certeza que metade inclui sua língua.
O escudo mágico criado por Minerva vibra uma vez.
Duas vezes. Novamente.
Psiquê mal tem tempo de chegar ao telefone antes
que o fogo a leve de corpo e alma.
— Dido — ela ofega, uma mão já deslizando entre as
pernas, na umidade que floresceu no espaço de um
batimento cardíaco. — Vênus. Nosso plano.
— Entendi. Eu sei o que fazer — sua melhor amiga diz,
então desliga.
Dido, a mais leal e fiel dos melhores amigos,
encontrará Cupido e explicará a ele o que sua mãe fez, e
o que Psiquê já decidiu que é aceitável. Se ele estiver
disposto a fornecer alívio, ele virá.
E se ele o fizer, ela também o fará. Em torno de seus
dedos. Em sua língua.
Psiquê ri fraca, histericamente, e convulsiona em seu
primeiro orgasmo, caindo no chão.
Em seu último ato consciente, ela ativa todos os
poderes do escudo de Minerva. Nenhuma criatura,
deusa ou mortal, pode entrar em sua casa agora. Com
uma exceção.
A próxima coisa que ela sabe é que ela está na cama,
não no chão. Um travesseiro embala sua cabeça. Seu
corpo está infinitamente em chamas, seu sexo doendo e
inchado. E ela não está sozinha.
Cupido está lá, esparramado em seu estômago, entre
suas coxas abertas.
— Aí está você — diz ele, em seguida, inclina a cabeça
escura e chupa seu clitóris até que o mundo exploda em
lantejoulas de fogo ao redor dela.
22
— De qualquer forma, eu amo uma boa história de pólen
sexual. — Alex sorriu para ela, totalmente sem vergonha. —
Eles geralmente são sujas pra caralho.
Ele estava andando pelo quarto para se manter aquecido
enquanto Lauren verificava debaixo da cama e nas cobertas por
mais itens perdidos que ele conseguiu perder durante a noite
mais fria, mais quente e mais incrível de sua vida.
Eles se beijaram por horas, entrelaçados e sem fôlego, suas
mãos vagando sobre braços e pernas e costas e ocasionalmente
bundas. Ele manteve sua promessa, no entanto. Eles se beijaram
e se beijaram e se beijaram e adormeceram abraçados, mas nada
mais. Ele não tinha sequer apalpado seus seios, embora ela
permitisse isso esta noite. Exigisse isso esta noite.
Ela pretendia exigir muito mais também.
Se ele ainda a quisesse. O que, de todos os sinais, ele parecia
querer.
Quando ela se endireitou após uma última inspeção dos
cobertores, ele estava bem na frente dela.
— Quente pra caralho — ele repetiu. — Muito parecido
com você.
Curvando-se, ele a beijou demoradamente, doce e suave e
lentamente. De canto a canto, ele bebeu em sua boca.
Explorada, como se ele não tivesse atravessado o mesmo
território repetidamente na noite anterior, como se os lábios
dela fossem infinitamente fascinantes, infinitamente sedutores
para ele.
Sua pele floresceu com calor sob sua atenção, apesar do frio.
Seu corpo todo sensível e formigando, ela enrolou os braços em
volta do pescoço dele e derreteu contra ele.
Quando levantou a cabeça minutos depois, levou a mão ao
pescoço, esticou as costas e gemeu.
— Merda, Carricinha. Por que você é literalmente do
tamanho de um esquilo? Você escolheu não crescer por pura
teimosia? Porque, honestamente, eu não duvido.
Em vez de dignificar tal provocação nua com uma resposta,
ela se soltou e foi checar o banheiro uma última vez. Ao longo
do caminho, ela olhou pela janela do quarto e sorriu.
— É lindo aqui — disse ela, olhando para o oceano à
distância.
Dentro de dois passos, ele estava de pé ao lado dela, ombro
a ombro.
Ele arrastou os dedos pela bochecha dela.
— É mesmo.
Ela se considerava uma pessoa lógica. Racional.
Mesmo assim. Talvez houvesse algo especial sobre este
quarto. Sobre esta pequena cidade e sua hospedagem
domiciliar desgastada, limpa e despretensiosa com seu ar
condicionado com defeito.
Não pólen sexual. Mas alguma coisa.
Sob outras circunstâncias, sem aquele ar condicionado
hiperativo, ela não achava que jamais o beijaria. Mas ela o
machucou ao se perguntar se ele poderia tê-la usado apenas
como um corpo quente em uma noite fria e solitária, e ela
estava desesperada para aliviar sua angústia. Desesperada o
suficiente para mostrar a ele como ela se sentia e o quanto ela o
queria. Desesperada o suficiente para puxá-lo para perto e beijá-
lo do jeito que ela estava imaginando há semanas.
Ela precisava de tempo para pensar, tempo para lidar com o
que tinha acontecido. Mas da noite para o dia, ela chegou a uma
conclusão provisória: de alguma forma, em algum momento,
seu trabalho no pronto-socorro a consumiu tanto,
completamente que – exceto com Sionna – ela não se
considerava mais nada além de uma terapeuta e uma filha. Não
uma parceira romântica em potencial, um ser sexual ou mesmo
uma pessoa interessante.
Não é de admirar que ela tenha se esgotado. Não admira que
o pensamento de voltar para o pronto-socorro ainda causasse
uma onda de náusea em sua barriga. Não admira que ela tenha
duvidado de seu apelo sexual para Alex e interpretado toda a
sua atenção, sua incapacidade de manter as mãos longe dela,
como amigável em vez de romântico.
Ela se esforçaria no futuro, porque ambos mereciam.
Ela não duvidava mais do desejo dele por ela, e ela não estava
negando o dela por ele.
Ele ainda estava de pé ao lado dela, ainda olhando para ela
com solenidade incomum e em silêncio incomum, e ela
segurou a mão dele nas suas. Levantou-o aos lábios. Beijou seus
dedos frios.
Sua boca se curvou em um sorriso sem bordas afiadas.
— O que foi isso?
— Porque eu gosto de você. — Ela manteve a voz com
naturalidade, já que era um fato. Uma verdade básica. —
Porque estou tão feliz que vamos nessa viagem juntos. Porque
eu quero ouvir qual é o seu enredo de fanfic favorito. Por favor,
me diga que não é pólen sexual.
Ele sorriu para ela, e ela sorriu de volta.
— Eu amo universos alternativos de almas gêmeas. —
Virando o pulso dela em seu aperto, ele traçou algo ao longo de
seu antebraço com um dedo gentil e indutor de arrepios. —
Meus favoritos são os de marca de alma, onde as primeiras
palavras de sua alma gêmea para você aparecem em algum lugar
do seu corpo, como uma tatuagem, na caligrafia.
Uma de suas fics salvas tinha essa premissa, e apesar de todo
seu ceticismo natural, ela também achou o puro romantismo
da ideia sedutora. Almas gêmeas. Laços inseparáveis. Pares
verdadeiros, designados por poderes além do comando
humano.
Pena que não existiam na vida real.
— Eu li sua fic de alma gêmea salva recentemente. Eu gostei.
— Gentilmente soltando sua mão da dele, ela se virou e usou o
bloco de notas fornecido pelo hotel para escrever um rápido
agradecimento à pobre governanta que teria que limpar o
quarto frio, então colocou o bilhete ao lado da generosa gorjeta
que Alex já havia deixado na mesa de cabeceira. — Tudo bem,
estou pronta para ir agora.
Ele pegou as duas malas.
— Finalmente. Merda, você é como uma tartaruga que
tomou sedativo.
— Um de nós espalhou seus pertences por toda parte, e eu
precisava de tempo para achar tudo — disse ela enquanto abria
a porta. — Não vou dizer quem, mas o nome dele começa com
A, termina com X e rima com Schmalex.
Ele bufou e a seguiu para fora.
Quando a porta começou a se fechar atrás deles, porém, ele
ergueu a mão.
— Deixe-me dar uma última olhada antes de irmos. Eu
posso ver algo que você não viu.
Isso foi... surpreendentemente cauteloso vindo de um
homem como ele, mas não faria mal verificar uma última vez.
Então, ela usou seu corpo para abrir a porta e observou
apreciativamente o jogo de músculos ao longo de seus ombros
e costas enquanto ele olhava para dentro do banheiro, passava
a mão pelos lençóis e brincava com a cômoda e a mesa de
cabeceira.
— Nada — ele finalmente disse, juntando-se a ela. — O
refúgio costeiro do Abominável Homem das Neves está
intocado mais uma vez. — Quando a porta se fechou, ele
passou o braço livre em volta dos ombros dela, e eles se
dirigiram para a recepção. — Sabe, aposto que há fics
absolutamente sujas sobre o Abominável Homem das Neves
em algum lugar do AO3.
Ela ergueu as sobrancelhas.
— Você planeja escrever uma?
— Depois de toda a inspiração subártica que recebi ontem
à noite? — Seu sorriso positivamente fervia com intenção
perversa, e ele a puxou para mais perto. — Acho que nós dois
sabemos a resposta para essa pergunta.
Mesmo tendo balançado a cabeça para ele, ela teve que rir.
Porque, sim, claro que Alex ia escrever obscenidades do
Abominável Homem das Neves. E se suas suspeitas se
mostraram corretas...
— Você acha que o Abominável Homem das Neves já foi
passivo? — ele perguntou, sua testa franzida em pensamento.
Sim. Lá estava.
Ela só esperava que o fandom estivesse pronto, porque se
não: Deus os ajude.
Lauren não era virgem, e como ela disse a ele na noite anterior,
ela não era particularmente tímida. Apenas cautelosa.
Mas isso significava algo para ela. Ele significava algo para
ela.
Para ser honesta, ele significava tudo para ela, e ela não
queria decepcioná-lo. Mesmo que ela soubesse – ela sabia –
que se ela falasse dessa preocupação em voz alta, ele a olharia
com absoluta perplexidade, porque ele parecia pensar que ela
era...
Bem, a pior, obviamente. Mas perfeita também.
Talvez isso parecesse uma contradição, mas não era. Alex
gostava de atrito. Ele adorava discutir. Quebrar barreiras o
divertia. Então, se ela era uma parede, como ele acusou uma
vez, ele gostava de pular contra ela e testar sua força.
E ele definitivamente adorou derrubá-la. Seus sons de coiote
eram prova suficiente disso.
A porta do banheiro se abriu e ele saiu com os pés longos e
descalços.
Seu paletó desapareceu em algum momento. Ele agora usava
apenas calças escuras e justas e uma camisa branca de botão.
Suas mangas estavam enroladas até os cotovelos, expondo
aqueles antebraços grossos e fortes, e um V de carne dourada
espreitava de sua garganta, onde ele havia desabotoado dois
botões.
Ele jogou uma caixa de preservativos na mesa de cabeceira e
caminhou em direção à cama.
Essa ronda graciosa e determinada era para ela, por ela. A cor
intensa em suas maçãs do rosto perfeitas e o calor incinerador
em seu olhar eram por causa dela.
Assim como a ereção empurrando insistentemente contra a
frente daqueles calças obscenamente lisonjeiras, e a visão disso
poderia muito bem ter sido um dedo em seu clitóris.
Sua respiração engatou, e então ele estava lá. Diretamente na
frente dela.
— Preciso da sua boca, Carricinha — ele murmurou. —
Preciso de você.
Curvando-se, ele segurou seu rosto e enrolou os dedos em
seu cabelo e puxou sua boca para a dele em uma demanda
aberta e sem remorso, e aquele desejo nu a seduziu mais
completamente do que a contenção jamais poderia.
Sua língua não provocou desta vez. Ela se estabeleceu dentro
de sua boca e tomou posse.
Ela estava se movendo de alguma forma, eles estavam se
movendo, e ela estava muito tonta para entender como isso
aconteceu, mas ele estava sentado no colchão agora enquanto
ela estava entre suas pernas. A cama não era muito alta, e seus
rostos eram quase da mesma altura. Mas os braços dele eram
muito mais longos que os dela, então ele podia facilmente
alcançar a bainha do vestido dela.
Sim. Sem mais roupas entre eles.
Ela rasgou sua boca livre.
— Você pode tirá-lo.
— Eu vou. — ele disse a ela.
Sua boca estava aberta e quente contra sua garganta, ele não
tirou seu vestido. Em vez disso, ele abaixou sua calcinha e
infalivelmente acariciou seu clitóris. Novamente. Novamente.
— Já está tão molhada para mim. — Ele chupou ao longo
de sua clavícula. — Você aguenta dois dedos, Carricinha?
Posso te foder com eles?
Suas pernas tremiam, e ela agarrou seus ombros duros, os
músculos se movendo sob suas mãos enquanto ele circulava sua
fenda, espalhando sua maciez por toda sua boceta.
Antes mesmo que ela terminasse de dizer sim, por favor, os
dedos dele estavam dentro dela, esfregando e torcendo, os nós
dos dedos batendo em algum lugar que ela...
Ah, Deus.
O polegar dele pressionou seu clitóris com força, e ela gemeu
e balançou. Ele a segurou com um braço inflexível ao longo de
suas costas, lambendo um ponto sob sua mandíbula que a fez
ofegar.
Ela estava sem palavras, mas Alex tinha o suficiente para
ambos, murmúrios tão quentes quanto o sol de julho, ásperos
como pedregulhos quebrando ondas na praia.
— Eu queria fazer isso no jantar. — Seu polegar acariciou
seu clitóris, circulou-o, pressionou novamente. — Eu queria
colocar minha mão em sua saia e te foder com meu dedo sob a
toalha de mesa e fazer você gritar e ficar à vista de todos naquele
maldito restaurante, impotente para se conter.
Ela sabia que ele nunca faria nada que ela não quisesse,
mas...
O corpo dela resistiu à imagem que ele pintou, e ela
empurrou freneticamente contra a mão dele, espetando-se com
aqueles dedos ágeis e torcidos, empurrando o polegar com mais
força contra o clitóris, precisando apenas um pouco...
A mão dele escorregou por baixo da saia dela, e ela estava
vazia e tremendo em um quase orgasmo, fraca demais para fazer
qualquer coisa além de cair na cama quando ele se levantou e a
empurrou para o colchão.
— Não — ela gemeu, e nem se envergonhou. — Eu estava
tão perto.
— Eu sei. — Ele não soou arrependido. — Mais acima na
cama.
Era uma ordem, e ela obedeceu automaticamente, subindo
mais alto enquanto ele puxava sua calcinha para baixo e a jogava
do outro lado do quarto.
Em um movimento fluido, ele levantou a saia até a cintura.
Suas palmas quentes e duras empurraram seus joelhos para
cima e abriram suas coxas, e ele mergulhou entre elas.
Ele estava transando com ela com os dedos novamente,
esfregando insistentemente contra o que deve ser seu ponto G,
porque, puta merda, mas ela não conseguia nem se concentrar
nisso, porque sua língua. Sua língua.
Ela agarrou seu cabelo. Agarrou seus ombros. Abriu as
pernas o máximo que pode.
Ontem à noite, ele aprendeu o que ela gostava, e ele usou
todo esse conhecimento para quebrá-la. Sua língua rodou ao
redor e sobre seu clitóris, e então ele chupou e girou, mesmo
enquanto seus dedos giravam e esfregavam impiedosamente,
e...
— Alex, eu vou… — Sua cabeça sacudiu freneticamente. —
Alex.
Ela gozou com um grito alto, arqueando-se e esfregando-se
contra seu rosto, contra sua língua, contra seus dedos, tomando
o que ela precisava dele. Seu corpo se desintegrou, tremeu, os
espasmos tão fortes que quase doíam.
— Bom — disse ele, beijando a parte interna da coxa dela.
— Mais uma vez, e então você vai gozar no meu pau.
Dessa vez, ele jogou as coxas dela sobre os ombros e a fodeu
com a língua antes de voltar toda a atenção para seu clitóris,
suas pernas sacudindo com cada movimento, cada sucção.
Demorou mais do que o primeiro orgasmo, mas quando ela
gozou, ela estava gemendo e puxando seu cabelo, pressionando
seu rosto em sua boceta em espasmos.
Uma vez que ela desmoronou no colchão, ele enxugou a
boca e a barba com as costas da mão e se ajoelhou entre as
pernas inertes e abertas dela, seu olhar quente com luxúria e
autossatisfação.
Caralho. Ele ainda estava completamente vestido.
Aliás, se ela abaixasse a saia, ela também estaria. Mas fazer
isso exigiria energia que ela não possuía atualmente, e já que ele
tinha acabado de ter todo aquele rosto bonito enterrado em sua
boceta, cobrir-se parecia um tanto inútil.
Ele acariciou uma palma possessiva até a coxa.
— Ainda quer mais?
Ela estava suada e exausta, mas queria o pau dele dentro dela.
O mesmo que esticava na frente daquelas calças extravagantes,
o que ela tinha esticando sua boca na noite passada.
Era tão duro e quente e perfeito como ele era.
Mais cedo, ela o imaginou acima dela pela primeira vez. Mas
isso foi antes de ele a desmontar duas vezes no espaço de meia
hora, e ela pretendia retribuir o favor.
— Eu quero ficar por cima. — Ela se levantou em um
cotovelo trêmulo. — Se estiver tudo bem para você.
Ele sorriu maliciosamente, dando-se um golpe firme através
de suas calças.
— Se você quiser montar no meu pau, tenha certeza,
Carricinha: você nunca precisa perguntar.
Sua presunção cessaria uma vez que estivesse dentro dela.
Isso foi uma promessa.
— Tire suas roupas, então. — Suas habilidades motoras
finas não eram as melhores agora, então ela apenas acenou com
a cabeça na direção da mesa de cabeceira. — E coloque um
desses preservativos.
Ele se despiu devagar, provocativamente, um botão de cada
vez, seu olhar de pálpebras pesadas em seu corpo.
Como ela já tinha gozado duas vezes, ela precisaria de ajuda
para chegar lá novamente, e ele parecia estar totalmente calmo
demais. Levantando o joelho esquerdo e deslizando a perna
direita para o lado, ela alcançou o monte de sua barriga e
acariciou-se com dois dedos.
Ela conhecia seu corpo, que ritmo e pressão funcionavam
para ela. Dentro de um minuto, ela estava um pouco ofegante,
balançando contra seus próprios dedos.
Em resposta, ele puxou a camisa sobre a cabeça antes que
estivesse totalmente desabotoada, seu peito arfando, e bateu em
si mesmo com a ponta de seu cinto quando o abriu rápido
demais.
— Porra — ele gemeu, esfregando o ponto avermelhado em
seu ombro, mas ele não desviou o olhar de seus dedos entre as
pernas, e ele não parou de desabotoar as calças com a outra
mão. — Isso foi culpa sua, Carricinha. Você e esses dedos
imundos, sujos e incríveis em seu clitóris.
Ela deu de ombros, impiedosa.
— Isso é o que você ganha por me provocar.
Ele puxou para baixo as calças e cueca boxer em um
movimento, e ela parou de se tocar para vê-lo chutar as roupas.
Ela o tinha visto nu ontem, mas ela ainda não conseguia
superar isso. Aquelas faixas brilhantes de pele dourada. Aquele
corpo esguio pontuado por seus ombros largos e musculosos e
bunda redonda e firme. Aquele pau grosso, vermelho e se
contorcendo contra sua barriga lisa enquanto ele alisava uma
camisinha sobre ele.
Com um salto ágil, ele estava na cama, rastejando em direção
a ela. Então ele a pressionou no colchão, seu corpo pesado e
quente em cima dela, sua língua escorregadia e deslizando
contra a dela.
Ele não tinha mais gosto de menta. Ele tinha o gosto dela.
Suas palmas deslizaram ao longo de seus quadris, sobre sua
barriga, até que ele estava segurando seus seios, beliscando seus
mamilos levemente. Ele inclinou a cabeça e tomou um em sua
boca, sacudindo a língua até que ela estava ofegante e dolorida
novamente. Suas mãos vagantes seguraram sua bunda e
apertaram, e ela se contorceu contra ele.
Chega de preliminares. Ela o queria dentro dela.
Com a menor pressão de sua mão, ele rolou de cima dela e
se esparramou de costas. Ela montou seus quadris, e ele segurou
seu pênis pronto.
Ele era muito grosso para simplesmente deslizar para baixo
de vez, então ela afundou dois centímetros de cada vez, seu pau
esticando-a amplamente.
Seus dedos estavam duros em seus quadris, e ele pressionou
a cabeça no travesseiro, corado, sua mandíbula saliente com
tensão. Mas ele não empurrou para cima, e ele não tentou
controlar seu ritmo. Ele ofegou em vez disso, em um som
áspero porra, puta merda, Carricinha, porra, enquanto ela o
tomava.
Então ele estava totalmente dentro dela, tão profundo que
ela teve que balançar os quadris um pouco, só para saber como
seria, e –oh. Oh, sim.
Ele ronronou um daqueles sinuosos ahhhhhhhh e alcançou
seus seios, acariciando-os, arrancando seus mamilos,
sacudindo-os até que a sensação fosse direto para seu clitóris.
Talvez ele preferisse que ela se levantasse e caísse sobre ele,
mas aquele balanço suave de seus quadris, aquele pequeno
movimento para frente e para trás, era tão bom. Ela fez isso de
novo e de novo, com as mãos apoiadas nos ombros dele, até que
seus olhos se fecharam com a forma como ele pressionou e
deslizou para dentro e contra ela.
— Merda, Carricinha. — Ele beliscou seu mamilo com mais
força, e ela empurrou contra ele. — Sua boceta é tão quente, e
o jeito que você está apertando meu pau.
Quando ela involuntariamente se apertou ao redor dele, ele
engasgou e apertou as mãos em sua cintura, pressionando-a e a
apertando contra ele.
Com a pressão adicional, ele afundou ainda mais dentro
dela, e ela gemeu alto.
Sua voz estava rasgada quando ele falou novamente.
— Posso te foder por baixo?
Ela não era uma mulher pequena, então isso parecia
otimista. Também parecia algo que ela queria
desesperadamente tentar.
Curvando-se, ela tomou seu mamilo em sua boca e fechou
os dentes ao redor dele com a pressão cuidadosa que ele
preferia, e um som cru saiu de sua garganta e vibrou em seu
peito. Então, ela levantou a cabeça e sorriu para ele. Ele estava
corado e suado agora também, suas pupilas dilatadas, seus
olhos apenas nela e para ela.
— Por favor — ela disse, sabendo o quanto ele amava isso, e
o quanto ele iria amar o que ela diria em seguida. — Por favor,
me fode.
Ele explodiu em movimento debaixo dela, mãos grandes
agarrando seus quadris com força contundente, pés apoiados
no colchão enquanto ele empurrava nela. Mesmo com toda a
sua força, ele não conseguia movê-la muito, mas era...
surpreendente.
Tanto atrito. Tanto prazer.
Ela gemeu novamente, longo e baixo, incapaz de desviar o
olhar de seu olhar dominante.
— Você quicando... no meu... pau, Carricinha. — Ele estava
sorrindo, seu peito um fole enquanto ele ofegava por ar e a
fodia. — Quer... apostar se...
Quando ela beliscou seus mamilos, sua boca se abriu e ele
lambeu os lábios.
Ela mal conseguia formar palavras, mas conseguiu pensar
em uma.
— Continue.
Seus quadris pararam debaixo dela, e ela gritou um protesto
incoerente.
— Quer… — Ele lambeu os lábios novamente, tentando
recuperar o fôlego. — Quer apostar se eu posso fazer você gozar
assim algum dia? Sem as mãos?
Essa era uma aposta de merda. Ela estava esfregando seu
clitóris contra ele com cada balanço de seus quadris, e ela já
estava quase gozando novamente. Sem as mãos.
O que ele evidentemente sabia, porque ele parecia
presunçoso mais uma vez, e que se foda.
Ela deliberadamente apertou o pau dele dentro dela, o mais
forte que pôde, e ele fez aquele som profundo e cru novamente
e a segurou enquanto empurrava seus quadris para cima.
As pernas dela se abriram ainda mais, sem sua permissão.
— Não vou demorar muito, Carricinha. — Sua mandíbula
trabalhou, as veias em seu pescoço salientes. — Precisa dos
meus dedos?
Isso pode significar que ele não a teria mais – oh, por que
não dizer isso? – quicando em seu pau mais, então não. Ela
queria sentir aquele poder entre suas coxas, agora e para
sempre.
— Uso os meus — ela respirou, e deslizou a mão entre seu
corpo suado e o dela.
Quando ela acidentalmente escovou seu pau bombeando,
ele gritou e cerrou os dentes.
— Carricinha. Não consigo–
Ela esfregou com força, e ele a fodeu implacavelmente, e
então ela estava gozando, apertando em torno dele e em êxtase
e gritando quando ele a jogou em seu pau uma última vez e
ficou rígido. Ele estremeceu debaixo dela, um rugido rasgou de
sua garganta e ecoou no quarto.
Então ambos estavam moles e ofegantes, e ela deslizou para
o lado, ofegando um pouco quando ele deixou seu corpo. Uma
vez que ele cuidou do preservativo, seus dedos se entrelaçaram
nos dela imediatamente. Fora isso, porém, nenhum deles se
moveu por muito, muito tempo.
Finalmente, ele limpou a garganta, e ela virou a cabeça em
sua direção.
— Vamos fazer isso mais um milhão de vezes — ele disse a
ela. — Como agora mesmo.
Apoiando-se em um cotovelo, ela olhou para baixo em seu
pênis, amolecendo contra sua coxa.
— Justo. — Ele riu. — O espírito está ansioso, mas a carne
tem um período refratário.
— A minha carne não. — Tinha que ser dito.
— Exibida — ele reclamou, mas ele estava sorrindo
enquanto se levantava o suficiente para beijá-la novamente, sua
mão extremamente talentosa deslizando lentamente pela coxa
dela. — Uma harpia tão exigente.
A partir daquele brilho em seus olhos, ela sabia o que
aconteceria em seguida, e um milhão de vezes não soava mais
ridículo.
Parecia apenas o suficiente.
27
Quando o alarme do celular tocou pela terceira vez, Alex
gemeu, relutantemente levantou o braço ao redor da barriga
redonda e quente de Carricinha e rolou para tocar na tela. O
silêncio do quarto escuro voltou, e ele se levantou para verificar
se ela havia acordado também.
Ela ainda estava enrolada de lado, de costas para ele, sua
respiração constante e lenta. Cuidadosamente, ele alisou alguns
de seus cabelos macios e finos para longe de seu rosto, e não.
Nem um lampejo de consciência. Seus olhos estavam fechados,
seu rosto relaxado, seu corpo imóvel.
Ele a tinha esgotado. Carricinha, que normalmente
acordava ao primeiro alarme e tolerava seu hábito de soneca
com perplexidade exasperada.
Ele se sentia como um rei. Não, um Deus.
Esta ocasião pedia uma camiseta personalizada.
EU FODI A MULHER QUE EU AMO ATÉ ELA
FICAR INCONSCIENTE, E TUDO O QUE GANHEI FOI
ESSA PORCARIA DE CAMISETA E TRÊS ORGASMOS
INCRÍVEIS.
Ou UMA CAIXA DE PRESERVATIVOS: $9,99. USAR
CARRICINHA NO MEU PAU: IMPAGÁVEL.
Ele providenciaria isso o mais rápido possível, assim que
estivessem de volta em casa. Enquanto isso, ele podia e iria se
regozijar verbalmente. Mas não agora, porque ela precisava
dormir, e ele tinha um compromisso a cumprir. Infelizmente.
Ele se vestiu em silêncio e rabiscou uma nota rápida,
deixando-a na mesa de cabeceira. Incapaz de resistir, ele deu um
beijo leve na testa dela antes de fechar a porta com tanto
cuidado que mal fez um clique.
A mensagem de Zach ontem à noite – recém-desbloqueado
– havia especificado um local isolado ao ar livre, um do outro
lado do amplo terreno do hotel da cerimônia de casamento
mais tarde naquele dia. Aninhada entre um jardim e as sequóias
circundantes, a área de estar deve estar longe o suficiente de
todos e de tudo o mais para desencorajar os bisbilhoteiros.
Quando Alex chegou, Zach já estava lá, óculos escuros e
cabelo loiro penteado para trás, digitando em seu telefone.
Com a aproximação de seu cliente, ele ergueu um dedo.
— Um minuto.
Sem café da manhã significava que ele não tomaria
medicação, então Alex andava pela pequena clareira enquanto
esperava. Talvez ele devesse ter acordado ainda mais cedo para
comer, mas não levaria muito tempo para seu agente dizer que
ninguém quer trabalhar com você, tenha uma vida boa, ou não,
tchau.
Com um último golpe de seu dedo, Zach terminou sua
tarefa, então colocou seu telefone na pequena mesa de madeira
entre as duas cadeiras Adirondack e gesticulou para Alex se
sentar.
Alex balançou a cabeça.
— Ainda não tomei o remédio. Eu preciso me mover.
Zach revirou os olhos e... isso. Era por isso que Alex teria
cortado os laços há muito tempo, se não se sentisse culpado e
responsável por seu antigo amigo e parceiro de negócios de
longa data.
Se Zach tivesse revirado os olhos para Lauren, ele seria
demitido em um piscar de olhos. Então, por que Alex deixou
seu agente desrespeitá-lo por tanto tempo? Por que tanta culpa,
se Zach ganhou muito dinheiro com sua parceria e construiu
uma lista de clientes muito saudável e muito bem-sucedida?
— Estou muito feliz que você esteja disposto a atender
minhas ligações agora. — A amargura na voz de Zach franziu
sua boca. — Mas como as únicas notícias inesperadas chegaram
durante a noite, tanto faz. Antes disso, era apenas mais pessoas
retirando seu nome da lista de consideração em vários papéis.
Notícias inesperadas?
Alex parou na frente de Zach, balançando preguiçosamente
para frente e para trás em seus calcanhares.
— E aí?
Zach tirou os óculos escuros e os colocou sobre a mesa
também.
— Para acompanhar seus concorrentes de serviços de
streaming, a StreamUs está expandindo rapidamente sua
programação original, tanto com script quanto baseada em
realidade. Eles estão dispostos a gastar muito para adquirir
talentos únicos e criar buzz. No momento, entre o desastre de
Con of the Gates e os vídeos recentes, poucas pessoas em
Hollywood têm tanto buzz quanto você. Para o bem ou para o
mal.
— Eles querem…— Alex franziu a testa, totalmente
surpreso. — Eles querem me escalar em alguma coisa?
Bem, ele certamente estava disponível. Sua vontade, porém,
dependia do projeto.
— Caso você não tenha notado, seus vídeos de viagem se
tornaram virais, Alex. Agora — Zach verificou seu telefone —
eles têm mais de vinte milhões de visualizações cada, e o
StreamUs notou. Eles querem fazer um reality show de viagens
com você. Filmar suas aventuras na estrada.
Vinte milhões? Puta merda.
Os lábios de Zach se curvaram em um pequeno sorriso
satisfeito, o primeiro que Alex via dele em meses.
— O diferencial é que é sem censura e imprevisível. Suas
reações cruas. Sem bip, sem dizer para você diminuir o tom.
Será direcionado para adultos. Sua incapacidade de parar de
falar ou controlar o que sai da sua boca será realmente um
trunfo pela primeira vez.
Porra, isso soou realmente divertido?
— Espero que você esteja interessado, porque não acho que
outras ofertas aparecerão. — Zach se inclinou para frente, toda
a raiva que acompanhava suas recentes interações sumiu
abruptamente. — Se você quer uma carreira em Hollywood,
este é o seu caminho de volta. O único caminho.
Trabalho. Um trabalho que ele realmente gostaria. Um
trabalho que lhe permitisse continuar apoiando sua mãe, sua
instituição de caridade e Dina, e talvez até oferecer uma vida
confortável para...
Sua barriga caiu e ele se sentou com um baque na cadeira
Adirondack restante.
Se ele estivesse na estrada o tempo todo, onde Carricinha
estaria?
Seu agente ainda estava dando os detalhes.
— Eles querem que você tenha um parceiro, como em seus
vídeos. Eles estão procurando brincadeiras. Um pouco de
tensão com flerte. Esse tipo de coisas.
Ah, graças a Cristo.
— Então estamos prontos. Lauren pode ser minha parceira.
— Alex sorriu para seu agente, excitação renovada queimando
em suas veias. — Eles podem ter a química exata que adoraram
nos vídeos, e eu posso tê-la comigo. Todo mundo sai
ganhando.
Ela nem precisaria escolher entre suas duas opções de
trabalho de merda. Sem emergência, sem terapia em grupo.
Todo mundo ganha.
A boca de Zach se abriu, depois fechou.
Quando ele falou novamente, cada palavra emergiu
lentamente, timidamente, como se ele estivesse soando em sua
cabeça antes de dizer em voz alta. Alex não tinha ideia de como
deveria ser esse processo, mas pela testa franzida e expressão
contraída de Zach, não era agradável.
— Eu... não acho que eles vão concordar que seja a Sra.
Clegg — disse ele.
— Sério? — Alex cruzou os braços sobre o peito. — Você
perguntou a eles?
— Na verdade, sim. — Seu agente suspirou. — Alex, eu
conheço você. Conheço você há cerca de duas décadas. Eu sei
que você se importa com ela, mas–
— É a Lauren ou ninguém.
Seus pensamentos giratórios não seriam encurralados, não
poderiam ser, mas isso ele sabia.
A mandíbula de Zach funcionou.
— Vou perguntar de novo, se você quiser, mas...
— O quê? — Ele saltou para seus pés e retomou o ritmo.
— Quando mencionei a possibilidade mais cedo, eles… —
Zach traçou o grão da madeira no braço da cadeira com o dedo
indicador. — Existem preocupações sobre seu… apelo público.
Alex nunca entenderia.
Depois do que Carricinha tinha compartilhado de seu
passado, depois de seu encontro com sua fã idiota, depois do
que seu próprio primo havia escrito, ele sabia que muitas
pessoas – talvez até a maioria das pessoas – consideravam feias
suas feições atraentes e assimétricas e seu corpo charmoso e
redondo. Ele também sabia que as pessoas mais mesquinhas
usariam isso como desculpa para descartá-la sem importância
ou maltratá-la de alguma forma.
Ele sabia disso. Ele ainda não entendia.
Simetria era chato para caralho, e eles moravam em LA,
porra. Mulheres altas com corpos esbeltos não eram
exatamente uma espécie em extinção.
Carricinha não era apenas a mulher-pássaro mais fofa e
gostosa da face da terra, mas também única e engraçada e
inteligente e charmosa e gentil e a co-apresentadora perfeita de
um programa de viagens, e ele lutaria com qualquer um que
tentasse argumentar diferente.
— Eu sugeri que talvez ela pudesse ficar atrás da câmera,
como tem feito até agora. — Ao ver a expressão de Alex, Zach
apressou-se a acrescentar: — Tenho a sensação de que ela ficaria
desconfortável sendo filmada, já que só vimos o braço dela.
Ok, justo. Os punhos de Alex se abriram ao seu lado, e ele
continuou andando.
— Mas eles querem um companheiro que apareça na
câmera e não aceitam ela nesse papel. E se você insistir, suspeito
que eles vão retirar a oferta. — Zach esfregou as mãos no rosto.
— Me ajuda aqui, Alex. Me diz como podemos fazer essa oferta
funcionar para você e para a StreamUs.
Tinha que haver uma solução, mas sua cabeça estava
desorganizada.
Droga, ele precisava se concentrar para uma discussão tão
crucial, o que significava tomar seus remédios, o que significava
café da manhã. E ele só queria voltar para o quarto
rapidamente.
— Lauren e eu somos um pacote — essa era a única coisa
que ele sabia com certeza. — Então vamos pedir comida, e eu
vou tomar meu remédio. Então podemos conversar sobre
estratégias de negociação. Se descobrirmos a abordagem
correta, podemos convencê-los a aceitar isso. Eu sei disso.
— Só você — Zach murmurou, mas ele se levantou e
colocou o telefone no bolso. — Ok. Vamos aproveitar a manhã
e tentar pensar em algo.
Se Alex conseguisse, quando a cerimônia de casamento
começasse, Zach estaria pronto para apresentar seu caso ao
StreamUs. E se tudo corresse bem, Carricinha nunca precisaria
saber que sua aparência tinha sido um tópico de discussão.
Ela disse que esse tipo de desprezo não a machucava, mas
devia machucar, pelo menos um pouco. Ele também não
queria dar a ela uma má impressão de seu futuro empregador,
porque ele pretendia fazer esse negócio funcionar. Para ela.
Para eles.
Mesmo que ele tivesse que convencer um serviço de
streaming inteiro e seu próprio agente para fazer isso.
Alex:
Onde você está? Você está bem?
Alex:
Eu preciso de alguns dias para pensar. Pare-os
se puder. Me desculpe.
Alex:
Vou visitar a mamãe na Flórida até sexta-feira.
Conversaremos quando eu voltar. Se eles
retirarem a oferta nesse meio tempo, tudo
bem.
Carah:
Ei, Alex, o que está acontecendo?
Já faz dias desde sua última mensagem, idiota,
e você não respondeu nenhuma das minhas
Sem novas postagens ou vídeos, sem
mensagens ou e-mails ou correios de voz
Você evaporou ou o quê?
Achei melhor perguntar aqui, já que você não
está respondendo em nenhum outro lugar, e
Marcus também está offline
Maria:
Faz tempo que não tenho notícias de nenhum
deles
Peter:
O mesmo
Summer:
Todo domingo, Alex me envia um link para seu
vídeo de reação musical favorito da semana
Geralmente é a mesma música de Phil Collins
todas as vezes
Carah:
In the Air Tonight? AH DEUSSSS
Summer:
É esse
É como ser rickrolled, só que com uma batida
inesperada, três minutos depois da música
Philrolled, suponho
O conhecimento de música de Alex parece ter
parado em algum lugar nos anos oitenta ou no
início dos anos noventa
De qualquer forma, o que quero dizer é que ele
não me enviou um link no domingo
Eu mandei mensagem para ele porque eu
estava preocupada
Não tive resposta e agora estou ainda MAIS
preocupada
Maria:
Quer que eu passe na casa dele? Posso fazer
isso amanhã.
Carah:
Eu vou com você
Marcus:
Oi, pessoal
Alex está passando por um momento difícil
agora
Ele agradece a preocupação de vocês e manda
seu amor, mas não visitem a casa dele
Dê a ele um pouco de tempo, e ele ficará bem e
vai voltar a ficar online
Carah:
Se alguém machucar Alex, eu vou acabar com
quem quer que tenha sido
Maria:
Entre na fila, minha puta boa
Mackenzie:
As garras do Bigode são muito afiadas e
provavelmente podem estripar alguém
Eles não ousariam, Bigodes, não ousariam
Peter:
Porra
Bigodes pega pesado
Marcus, o que Alex precisar, estamos aqui
Aparentemente isso inclui Bigodes e suas
Garras da Morte
Marcus:
Alex sabe disso
Ele sabe, e ele amará vocês por isso para
sempre.
29
Banhada pela luz do sol quente do início da manhã, Linda
cantava junto com sua playlist enquanto passava manteiga na
torrada de Alex e polvilhava açúcar e canela por cima.
— Home sweet home! — ela gritou, em sua melhor imitação
de Vince Neil. — Tonight, toniiiiiiiiight!
Alex se juntou a ela, e a cozinha ecoou com sua versão em
alto volume e desafinada de uma de suas músicas favoritas.
Naquele momento, ele poderia ter sido uma criança
novamente, andando no banco de trás enquanto ele e sua mãe
balançavam ao som de bandas de glam-metal.
Os puristas da música odiavam essa merda, e ele não dava a
mínima. Com cada riff de guitarra rasgado, cada solo de
sintetizador datado, ele pensava em sua mãe. Ele pensou em
suas viagens de carro juntos, e seus cafés da manhã em dias
escolares juntos, e suas tainhas de penas combinando dentro do
medalhão dela, e ele se acomodou mais confortavelmente em
sua própria pele por um momento fugaz.
Ele sentia falta de sua mãe. Ele estava sentindo falta dela por
mais de uma década. E de agora em diante, eles passariam mais
tempo juntos. A vergonha de seu fracasso em ajudá-la talvez
nunca o abandonasse, mas ela merecia mais do que um filho
que via uma vez por ano.
Se ele ficasse em LA, tentaria visitá-la a cada dois meses. E se
ele se mudasse para mais perto dela... bem, eles poderiam se ver
quantas vezes quisessem. Todas as semanas, ou mesmo todos
os dias.
Era sexta-feira de manhã. Seu voo de volta para LA partiria
em questão de horas, e eles ainda não haviam conversado sobre
seu possível futuro na Flórida. Ele não podia adiar mais.
Quando ela colocou o prato de torrada com canela na frente
dele, ele apoiou os cotovelos na mesa redonda da cozinha e
olhou para ela.
— Obrigado, mãe.
— É o seu último dia aqui, e é o seu favorito. — Ela
bagunçou o cabelo dele, exatamente da mesma forma que ela
fez por quase quarenta anos. — Se você quisesse, eu faria um
pão inteiro de torrada com canela.
Ele se sentia como um velho exausto desde que Lauren o
deixou, seu corpo inteiro rígido e dolorido. Em contraste, sua
mãe tinha sido enérgica e alegre durante sua visita, seus
movimentos fáceis, seu olho roxo desaparecendo. Com ou sem
acidente de bicicleta ela estava em melhor forma do que ele no
momento, e ele estava feliz por isso.
Sentada na cadeira ao lado dele, ela cavou em seu mingau de
aveia, ainda cantarolando entre as mordidas.
— Olha — ele começou, pegando a crosta da torrada mais
próxima. — Eu estava pensando.
— Isso significa problemas. — Sua resposta padrão,
oferecida com seu sorriso habitual.
Ele tentou retribuir o sorriso dela, mas não conseguiu. Nesse
ponto, ela pousou a colher e o estudou com olhos cinzentos
desconcertantemente afiados.
— Querido… — A mão dela cobriu a dele. Apertou. — Eu
sei que você está sofrendo. Não sei por que, e não quero
pressionar, mas estou aqui se você quiser falar sobre isso.
Ele olhou para seu prato até que sua visão embaçada clareou.
Então ele colocou a mão livre sobre a dela para fazer um
sanduíche de mão, como eles sempre chamavam.
— Estou pensando em voltar para casa — disse ele. — Ficar
perto de você.
Suas sobrancelhas grisalhas se juntaram e ela clicou no
controle remoto para desligar a música.
— E a sua carreira?
— Já brinquei de faz de conta por muito tempo, você não
acha? — Ele tentou rir. — Além disso, não tenho muitas ofertas
de emprego no momento.
Ela ainda o observava com muito, muito cuidado.
— Você tem alguma oferta?
— Uma. Um reality show de viagens para um serviço de
streaming. — Seus ombros doíam enquanto ele tentava
levantá-los em um encolher de ombros. — É uma boa
oportunidade, mas não sei.
— O que você não sabe? — Sua cabeça inclinou, e seu rabo
de cavalo a seguiu. — Por que você não tem certeza?
Sua mandíbula trabalhou, mas ele se obrigou a dizer isso.
— Talvez seja hora de eu ser menos egoísta.
— Alex… — Sua cadeira guinchou contra o chão quando
ela a virou abruptamente em sua direção. — O que isso
significa?
Ele vinha evitando o assunto há mais de onze anos. Porque
ele não queria discutir nada que pudesse causar dor a ela, e
porque estava envergonhado. Mas ele lhe devia um pedido de
desculpas, mesmo depois de muito tempo. Ele lhe devia
reparações.
Ele abaixou a cabeça e mordeu o lábio até sentir o gosto de
cobre.
— Sinto muito, mãe.
— Eu não… — Sua mão virou, e de repente ela estava
segurando a dele, apertando enquanto ele tremia. — Eu não
entendi, querido.
Sua respiração estremeceu em seus pulmões.
— Eu deveria ter percebido o que ele estava fazendo com
você. Eu deveria tê-lo parado.
Não há necessidade de especificar o ele em questão. Ambos
entenderam.
— Mas… — Seu aperto sobre ele apertou ao ponto de dor.
— Alex, não tinha como...
— Eu te apresentei e te pressionei para ficar com ele quando
você tinha dúvidas — ele interrompeu, porque não, ele não a
deixaria absolvê-lo, não quando sua negligência a machucara
tanto. — E então eu saí e não me incomodei em olhar para trás.
Se eu tivesse visitado com mais frequência, saberia o que estava
acontecendo. Se eu tivesse ligado e feito perguntas, saberia o
que estava acontecendo. Se eu tivesse sido um filho decente, em
vez de um idiota egoísta, eu saberia o que estava acontecendo.
Ela estava balançando a cabeça quase violentamente,
aqueles olhos familiares cheios de lágrimas e horrorizados, mas
ele continuou antes que ela pudesse intervir.
— E mesmo depois de saber, não fiz a coisa certa. Eu não
voltei para casa para apoiá-la. — Depois de tantos anos, a
vergonha disso ainda queimava, ainda virava seu rosto tenso e
quente. — Em vez disso, fiquei do outro lado do país e evitei
visitas, porque não conseguia lidar com toda a culpa, mesmo
que eu merecesse cada pedacinho dela.
Sua boca se fechou, e ela estava esperando pacientemente
que ele terminasse. Mas seu joelho cutucou contra a perna dele,
e ela estava quente e macia, e oh, porra, ele sentia falta dela, e
ele sentia falta de Carricinha, e ele estava tão magoado. Tão, tão
magoado.
Mesmo quando sua voz engasgou, ele acelerou o resto.
— M-Mas no fim, eu finalmente quero fazer a coisa certa. E
talvez isso seja me mudando para cá, onde você está, então v-
você não estará mais sozinha.
Quando ele abaixou a cabeça, suas lágrimas pingaram em
uma fatia de torrada que ela carinhosamente fez para ele,
arruinando-a.
— Sinto muito, mãe. — Seu peito arfava enquanto ele
lutava por ar. — Me desculpe.
Então ele não conseguia mais falar, e de alguma forma ele
estava chorando nos braços de sua mãe pela primeira vez em
décadas, seu rosto pressionado contra o pescoço dela. Mesmo
depois de todos esses anos, ela ainda cheirava a talco de bebê.
Talco de bebê e conforto e mamãe, e ele precisava dela.
Depois de vários minutos, quando ele estava fungando em
vez de soluçar, os ombros dela subiram e desceram em uma
respiração profunda. Duas. Três.
Então ela falou baixinho contra a coroa de sua cabeça.
— Você terminou, querido?
Ele assentiu, os olhos bem fechados contra o ombro dela.
— Está bem então. Minha vez de falar e, por favor, deixe-me
terminar sem interrupção. — Foi um pedido que ela fez
inúmeras vezes durante sua infância, porque ela o conhecia. Ela
sabia que ele iria querer interromper, argumentar, não importa
o que ela dissesse. — Em primeiro lugar, não estou sozinha.
Tenho colegas de trabalho, vizinhos e amigos, e quando passo
um tempo sozinha é porque quero um pouco de paz. Eu não
sou como você, Alex. Às vezes, eu preciso de pausas de outras
pessoas.
Todas aquelas pessoas não eram família, no entanto.
— Mas–
— O que eu disse sobre interrupções? — O tom familiar,
carinhoso, mas severo, fechou sua boca. — Você não me
abandonou, querido. Conversamos várias vezes por semana,
desde que Jimmy morreu. Sim, eu preferiria visitas mais
frequentes, mas isso não exige se mudar para cá, e isso não
significa que eu seja solitária. Eu não sou. Eu simplesmente
amo meu filho e quero vê-lo mais vezes.
Foi uma interrupção, mas tinha que ser dito.
— Quero te ver mais vezes também.
— Então, pegue seu calendário quando estiver em casa, e
vamos agendar algumas visitas. — Com uma mão terna contra
sua bochecha, ela empurrou sua cabeça de seu ombro. — Agora
vamos falar sobre Jimmy.
Ao som do nome daquele monstro, Alex se encolheu.
Mas os olhos de sua mãe encontraram os dele diretamente.
Sua testa estava clara, seu corpo relaxado. Ela não parecia
assustada ou envergonhada. Só triste. Por ele, que era tão
parecido com ela, que ele poderia chorar de novo.
— Se eu soubesse como você se sentia, eu teria dito isso anos
atrás. Mas estou dizendo isso agora, e quero que você ouça com
atenção, Alexander Bernard Woodroe. — As palmas das mãos
em concha em seu rosto, ela enunciou cada palavra
distintamente. — Você não é e nunca foi egoísta; você não
percebeu o abuso dele porque nós escondemos isso de você,
amor. Eu estava com muito medo e muita vergonha de dizer
qualquer coisa, e Jimmy queria me isolar, então ele encorajou
mais distância entre nós.
Quando ele tentou protestar, ela falou sobre ele.
— Você não era meu guardião, e você não era um
especialista em violência doméstica. Você era um jovem com
vida própria e objetivos próprios, e eu queria isso para você. Eu
queria que você tivesse sua própria vida.
Lauren havia dito quase a mesma coisa para ele, apenas
alguns dias antes.
As duas mulheres que ele mais amava no mundo, as duas
mulheres que ele mais confiava no mundo, as duas mulheres
que nunca, jamais mentiram para ele, estavam lhe dizendo
exatamente a mesma coisa.
Ele exalou trêmulo, seu coração descomprimindo um
pouco em seu peito dolorido.
Sua mãe passou um polegar sobre sua bochecha, enxugando
uma lágrima perdida.
— Eu não trabalhei tão duro todos esses anos para manter
você ao meu lado para sempre. Fiz isso para você crescer forte e
inteligente. Então, você teria a chance de abrir caminho no
mundo e torná-lo seu. — Seus lábios se curvaram em um
sorriso, embora seus olhos estivessem molhados novamente. —
O que é exatamente o que você fez, Alex, e isso me deixa tão
orgulhosa. De você, mas de mim também. Eu sou sua mãe e
criei você para ser um trabalhador e um bom homem, e é
exatamente isso que você é.
Não soou trivial ou falso conforto.
Parecia verdade, como sua mãe a via.
— Então, deixe-me ser clara. — Ela balançou o rosto um
pouco em ênfase. — Partiria meu coração ver você desistir de
sua vida e carreira por mim. Não é o que eu quero, e não é
necessário. Sou adulta e perfeitamente capaz de cuidar de mim
mesma e pedir ajuda se precisar.
Ele apertou a boca, relutante em falar as palavras que vieram
à mente.
Mesmo sem essas palavras, sua mãe leu corretamente sua
expressão.
— Sim, eu sei. Não pedi ajuda quando precisei antes. Mas já
se passaram onze anos, Alex, e não sou a mesma pessoa que era
naquela época.
Pela primeira vez, ele podia ver isso claramente.
Ainda assim, ele hesitou.
— Se você precisar de ajuda, você vai me dizer?
— Sim. — Seu olhar era direto, sua voz confiante e segura.
— Eu prometo.
Sua cabeça de repente mais leve em seus ombros, ele se viu
capaz de sorrir para ela.
— De dedinho?
Ela riu, e ele também, e eles apertaram os dedinhos, como
faziam para selar votos durante toda a sua infância.
Depois de um último beijo em sua testa, sua mãe se recostou
na cadeira e pegou a colher novamente.
— Vou comer minha aveia e depois fazer uma torrada nova
para você. Enquanto eu faço tudo isso, você pode me contar o
que aconteceu com Lauren.
Seu sorriso morreu, e ele caiu sobre a mesa.
Droga, sua mãe sempre, sempre foi mais esperta que ele. Ele
não saiu escondido com sucesso de seu apartamento nenhuma
vez.
— Eu assisti vocês dois juntos quando liguei na outra noite.
— Sua colher estalou contra a tigela enquanto ela pegava uma
mordida. — Pelo que vi, ela se importa muito com você, e você
obviamente a ama. Então, por que você está aqui, com o
coração partido e sozinho?
Ela mastigou seu café da manhã, as mechas prateadas em seu
cabelo brilhando ao sol, totalmente paciente. Totalmente
implacável.
Ele poderia muito bem responder. Ela o intimidaria em
algum momento de qualquer maneira.
— Não faço a mínima ideia do que aconteceu. — Ele não
pôde evitar a amargura em seu tom. — No meio da recepção
do casamento, Lauren disse que tinha que voltar para sua vida
real e seu trabalho real, me agradeceu por minha gentileza e
amizade e pegou um táxi para o aeroporto. Não tive notícias
dela desde então.
Claro, ele também não a contatou, mas foi ela quem foi
embora, não ele.
— Isso é estranho. — Linhas marcaram a testa de sua mãe, e
ela bateu a colher contra a superfície de sua aveia. — Aconteceu
alguma coisa no casamento?
Ele abriu as mãos, frustração renovada batendo em suas
têmporas.
— Não que eu saiba.
Ela pensou por um momento.
— E o resto do dia? Aconteceu mais alguma coisa que possa
tê-la chateado?
— Mais uma vez, nada que eu saiba. — Levantando-se de
um salto, ele começou a andar de um lado para o outro. — Eu
contei a ela sobre a oferta de emprego, mas ela já havia decidido
ir embora antes disso.
— Por curiosidade — sua mãe disse lentamente —, se
Lauren tivesse ficado e você tivesse aceitado a oferta, como você
pretendia lidar com a separação dela?
Ele estremeceu e andou mais rápido.
— Eu meio que, uh... presumi que ela gostaria de vir
comigo. Como minha co-apresentadora. Zach e eu estávamos
negociando com a StreamUs sobre isso quando ela foi embora.
Sua boca caiu aberta.
— Você presumiu isso? — Seu assobio baixo machucou seus
ouvidos. — Uau. Alex–
— Lauren já falou sobre isso, acredite em mim. — Ele
engoliu em seco, sua garganta queimando com mais lágrimas.
— Não foi inteligente e não foi certo, mas não posso voltar atrás
e mudar o que fiz, mãe.
Seu pequeno zumbido estava começando a incomodá-lo.
Como ele havia esquecido aquele barulho revelador? Aquele
sinal inconfundível de que sua mãe farejava e pretendia rastrear
sua fonte?
— E se o StreamUs disser não? Aliás, e se o StreamUs
dissesse sim e Lauren recusasse a oportunidade? — Seus olhos
se estreitaram nele. — O que você teria feito, então?
Ela sabia. Ele sabia que ela sabia.
Mas ela o estava forçando a dizer de qualquer maneira,
porque sua mãe era a pior.
— Eu não escolheria um salário em vez de Lauren. — Ele fez
uma careta para ela. — Eu teria rejeitado a oferta.
— Alex… — Seus olhos se fecharam com força, ela pareceu
encolher em seu assento. — Deus, Alex.
Ela esperava que ele deixasse Lauren de lado para um
maldito trabalho? Que diabos de homem ela pensava que ele
era?
Mais uma volta na ilha. Outra.
— O quê? É um crime ficar no mesmo maldito estado da
mulher que você ama?
— Claro que não. — Ela abriu os olhos, e eles estavam
avermelhados. Cansados. — Mas, querido, eu não acho que
você perceba o que está fazendo com as pessoas que se
importam com você.
Ele jogou as mãos no ar, magoado e frustrado.
— Então, me diga.
O olhar claro de sua mãe o atravessou, e ela não hesitou.
— Você é impulsivo, Alex. Impulsivo, generoso e
ferozmente protetor. Você é assim desde pequeno, e eu amo
isso em você. Sempre amei, sempre amarei.
Havia um mas adiante, e ele suspeitava que não queria ouvir
o resto.
Por ela, porém, ele ouviria. Por ela, ele faria qualquer coisa.
— Mas depois do funeral, depois de Jimmy… — Uma única
lágrima escorreu por sua bochecha, e ela a secou. — Tudo isso
ficou muito mais intenso, querido. Especialmente neste último
ano, por razões que não entendo, e é aterrorizante.
— O que — Seu batimento cardíaco estava batendo contra
seu crânio, e ele não conseguia pensar. — Afinal, o que isso
quer dizer?
— De repente, você está disposto a desistir de tudo o que
tem, tudo pelo que trabalhou, sem pensar duas vezes. Não
apenas bens materiais. Sua carreira. Todo o seu futuro. Sua
felicidade. E você está disposto a fazer isso sem procurar outras
opções. — Suas palavras tremeram, mas ela não quebrou o
contato visual. — Pense em como é isso, para mim e para todos
que te amam.
Ele passou a mão pelo cabelo.
— Só estou tentando fazer a coisa certa.
Sua mãe ficou de pé, caminhou até ele e ficou cara a cara
com ele.
— Às vezes, fazer a coisa certa requer sacrificar todo o resto,
e às vezes não — ela disse a ele. — Você sempre foi impulsivo,
mas costumava tentar fazer essa distinção. Você costumava
procurar alternativas. Você não faz mais isso.
Sua mãe engoliu com tanta força que ele podia ouvir.
— Se você está tentando compensar pelo o que Jimmy fez,
é hora de parar. Não foi sua culpa. E o que quer que tenha
acontecido no ano passado, encontre uma maneira de superar
isso também. — Com o rosto machucado e manchado de
lágrimas, ela ergueu o queixo e o encarou. — Você não precisa
sacrificar seu futuro para provar seu amor ou se tornar um bom
homem. Você já é um bom homem, querido, e sempre foi.
Carricinha havia dito quase a mesma coisa. Novamente.
Você é moral e legalmente obrigado a acreditar em mim
quando digo que você é um bom homem. Você não tem escolha.
Desculpe, eu não faço as regras.
Ele gostaria de acreditar em ambas. As duas mulheres que
ele mais amava.
Ele aterrorizou Carricinha como ele aterrorizou sua mãe?
Foi por isso que ela foi embora?
Suas pernas estavam instáveis embaixo dele enquanto ele
cambaleava até a sala e desabou no sofá de sua mãe. Ele enterrou
o rosto nas mãos e tentou pensar.
— Lauren se preocupou com o meu futuro mais do que eu.
— Deus, seus olhos ardiam. — Você acha – você acha que eu a
assustei também, e ela estava tentando me salvar de problemas
terminando comigo? Antes que eu pudesse explodir com o
próximo idiota que a insultasse e arruinasse minha carreira para
sempre?
Sua mãe se sentou ao lado dele no sofá e o reposicionou com
gentil insistência até que ele estava descansando a cabeça em seu
ombro novamente.
— Eu não sei, querido. Mas se vale de alguma coisa, eu vi
uma afeição genuína entre vocês dois. De ambos os lados.
Aquela noite em Olema parecia mais do que afeição. Parecia
amor.
De ambos os lados.
— Talvez dê a ela um pouco de tempo e espaço para sentir
sua falta. — Ela o apertou. — E, então, se ela realmente não
quiser você ou não se permitir ter você, deixe-a ir, querido.
Você merece alguém que lute para mantê-lo em sua vida,
porque você é um partidão. E isso não tem nada a ver com seu
dinheiro ou fama, ou o volume de tweets sedentos de fãs
direcionados a você, e tudo a ver com seu enorme coração.
Sua palma acariciou aquela região geral de seu peito.
Ele suspirou e segurou sua mãe com mais força.
— Gostaria que você não conhecesse a frase tweets sedentos.
Especialmente para se referir a mim. Especialmente porque
estarei postando mais fotos sem camisa em breve. — Ele fez
uma pausa. — Eu realmente gosto de toda a atenção, retuítes e
emojis de fogo.
— Eu também sei disso, querido. — Bufando suavemente,
ela beijou o topo de sua cabeça. — Acredite em mim, eu sei.
Mãe:
Ótima visita, querido. Te amo. Não se esqueça
do que conversamos, senão terei que te deixar
de castigo. Boa viagem.
Mãe:
Obrigada por me deixar ser sua mãe
novamente. Eu senti falta disso. ♥
Alex:
Também te amo, mãe
Alex:
Eu não vou esquecer. Menos compensação,
mais pensamento. ♥♥♥
Ele esteve pensando a tarde toda, na verdade.
Em vez de dispersar seus pensamentos, a dor os concentrou.
Se ele não fosse irremediavelmente egoísta, se ele não
precisasse compensar, se ele não tivesse que provar seu amor
através de auto sacrifício negligente, então seu caminho a seguir
estava claro. Finalmente, finalmente claro. Não importa o que
aconteceu ou não com Lauren.
Ele desbloqueou seu agente e enviou outra mensagem antes
que pudesse mudar de ideia.
Alex:
Estou aceitando a oferta do StreamUs, embora
com certas demandas que podemos discutir
amanhã.
Alex:
Dito isto, este é o nosso último acordo juntos.
Embora eu aprecie tudo que você fez por mim,
é hora de nós dois seguirmos em frente.
Obrigado.
Rainbow
RobinUnleashed
Resumo:
Robin viveu em preto e branco por tanto tempo que ela
esqueceu que a cor existe para outras pessoas, pessoas
que encontraram suas almas gêmeas. Então, ela conhece
Cupido, e tudo muda.
Notas:
Você disse que não precisava de um presente, mas eu
discordei.
Obrigado a AeneasLovesLavinia pela leitura beta.