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Spoiler Alert

Spoiler Alert (#1)

All The Feels (#2)

Ship Wrecked (#3)


Sinopse
Após Spoiler Alert, Olivia Dade retorna com outra
comédia romântica absolutamente encantadora sobre um
ator despreocupado – que realmente se importa mais do
que qualquer um sabe – e a mulher sensata contratada
para mantê-lo na linha.

Alexander Woodroe tem tudo. Charme. Apelo sexual.


Fortuna. Fama. Um papel de protagonista como Cupido no
maior programa da TV, God of the Gates. Mas os showrunners
destruíram seu personagem, ele é perseguido por velhos
demônios e seu futuro pós-show permanece incerto. Quando
toda aquela emoção imprudente explode em uma briga de bar,
os tablóides e o público concordam: sua estrela está caindo.

Entra Lauren Clegg, a ex-psicóloga de pronto-socorro


contratada para mantê-lo na linha. Comparado com seu
trabalho anterior, cuidar do bonito, mas impulsivo Alex não
deveria ser especialmente difícil. Mas quanto mais tempo eles
passam juntos, mais difícil fica manter seu distanciamento
profissional e seu coração intacto, especialmente quando ela
descobre as razões por trás de sua imprudência... sem
mencionar seu hábito de escrever fanfics sobre o Cupido.

Quando outro escândalo coloca Alex em apuros e custa o


emprego de Lauren, ela terá que escolher entre protegê-lo e
oferecer a ele o que ele realmente quer: ela. Mas ele está
determinado a manter sua improvável, incrivelmente teimosa e
extremamente cativante em sua vida de qualquer maneira que
puder. E em uma viagem juntos pela costa da Califórnia, ele
pretende mostrar a ela exatamente o que uma estrela cadente
fará para pegar a mulher que ama: qualquer coisa.
Dedicatória
A todas as menininhas que aprenderam a ficar quietas e não
ocupar espaço no mundo. Que você encontre suas harpias
internas
e exija o que lhe é devido, finalmente.
Tabela de Conteúdos
Spoiler Alert
Sinopse
Dedicatória
Tabela de Conteúdos
Aviso — bwc
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Epílogo
Agradecimentos
Aviso — bwc
Essa presente tradução é de autoria pelo grupo Bookworm’s
Cafe. Nosso grupo não possui fins lucrativos, sendo este um
trabalho voluntário e não remunerado. Traduzimos livros com
o objetivo de acessibilizar a leitura para aqueles que não sabem
ler em inglês.
Para preservar a nossa identidade e manter o funcionamento
dos grupos de tradução, pedimos que:
• Não publique abertamente sobre essa tradução em
quaisquer redes sociais (por exemplo: não responda a
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• Não distribua este livro como se fosse autoria sua;
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ou trechos dessa tradução.
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desse grupo.
Caso esse livro tenha seus direitos adquiridos por uma
editora brasileira, iremos exclui-lo do nosso acervo.
Em caso de denúncias, fecharemos o canal
permanentemente.
Aceitamos críticas e sugestões, contanto que estas sejam
feitas de forma construtiva e sem desrespeitar o trabalho da
nossa equipe.
1
— Da próxima vez que entrar em uma luta de bar, não se
incomode em voltar para o set, IDIOTA — Ron gritou. —
Você pelo menos percebe o que você fez? Esses jovens...
A essa altura, a reclamação já havia sido entendida – Alex
esticou o pescoço para dar uma olhada no Rolex de Ron – no
décimo minuto. E contando. A quantidade de tédio
barulhento que o showrunner1 de Gods of the Gates poderia
fazer caber em um intervalo tão curto de tempo é realmente
impressionante.
Alex aplaudiria se não estivesse muito ocupado lutando
contra um bocejo e a sua vontade de dar um soco no seu chefe.
As narinas de Ron se dilataram a cada expiração áspera, mas
ele tentou baixar a voz.
— Você tem sorte que designamos apenas uma guarda para
você. Legalmente, dada a quantidade de publicidade negativa
que você gerou com sua estupidez embriagada, tínhamos vários
meios de financiamento e profissionais disponíveis para nós,
incluindo…
O produtor executivo ainda estava falando, mas Alex parou
de ouvir. Em vez disso, ele estava estudando a mulher sentada
aproximadamente a um metro e meio à esquerda de Ron.

1
Algo como produtor executivo ou roteirista.
Com traços afiados, incluindo um nariz bicudo e torto.
Olhos brilhantes. Corpo muito redondo, com membros
magros em comparação. Pequena como o inferno.
Sua nova babá parecia um pássaro.
Um pássaro silencioso, no entanto. Nem um pio a ser
ouvido, apesar de estar amanhecendo.
Assim que Ron ficou sabendo dos eventos que
aconteceram durante a noite, ele exigiu uma reunião logo pela
manhã. E apesar de Alex ter deixado o set de Gates perto da
meia-noite e saído da cela da prisão local talvez uma hora atrás.
Ele mal teve tempo de tomar um banho e pegar uma maçã na
recepção do hotel antes de voltar ao trabalho.
Os três poderiam ter se encontrado em um trailer privado,
mas o produtor preferiu a humilhação pública. Então eles se
reuniram ao ar livre, perto de uma cerca esfarrapada, onde
centenas de colegas de trabalho de Alex poderiam ouvir sua
desgraça, e ela também.
Esta estranha de bochechas pálidas, quem quer que ela fosse.
O que quer que ela fosse.
Seus olhos estavam vermelhos, sua pálpebra direita inchada,
sua visão embaçada. Se ele apertasse os olhos na neblina do
início da manhã, aquele cabelo escorrido e castanho-
acinzentado encostando no queixo macio da mulher poderia
muito bem ser penas.
Sim, definitivamente um pássaro. Mas que tipo, que tipo...
Talvez um albatroz? Certamente funcionava em um nível
metafórico.
Não, os albatrozes eram muito compridos e estreitos para
ela.
Assim que Ron começou sua palestra, ela se acomodou em
um banco improvisado a vários metros de distância dos dois
homens. Silenciosa e quieta, ela se sentou ereta diante do caos
de seu campo de batalha que se estendia ao longo da costa
espanhola. No entanto, de alguma forma, mesmo em meio ao
cenário de destruição em grande escala e agitação incessante de
membros da equipe e pessoal extra, ela se destacou.
Incongruentemente pequena em estatura, se não
circunferência. Calma. Como um pássaro.
Ron ainda estava reclamando dele – alguma coisa sobre
obrigações contratuais e minha prima Lauren Clegg e conduta
inaceitável para um ator no meu programa e a empresa de
títulos vai tirar nosso seguro, blá-blá-blá – e, claro, Alex estava
furioso com a reclamação e sua punição e como ninguém lhe
perguntou o que realmente aconteceu naquele bar, nem uma
única alma.
Sua vigia paga, evidentemente uma parente infeliz de Ron,
parecia uma porra de um pássaro.
Toda essa discussão não era apenas irritante. Era–
— Ridícula. — Alex bufou, varrendo o braço para indicar a
mulher no banco. — Esta mulher-pássaro mal chega ao meu
peito. Como ela vai me impedir de fazer o que eu quiser? Você
pretende que ela se agarre ao meu tornozelo como uma
tornozeleira eletrônica?
Ele considerou o assunto. Isso tornaria seus treinos
desafiadores, mas não impossíveis.
Ron sorriu brevemente.
— Ela pode ser ridícula, mas ela está no comando. — Depois
de lançar um olhar de soslaio para sua prima, ele voltou sua
atenção para Alex. — Você vai fazer o que Lauren disser até o
final da série ir ao ar. Até lá, ela irá acompanhá-lo onde quer
que você...
Espere. Alex não pretendia chamar ela de ridícula, e, sim, a
ideia de que ela poderia efetivamente mantê-lo fora de
problemas por meses a fio.
Ron estava falando, falando, falando.
— Sempre que você sair do set ou de sua casa. Está claro?
Bem… não. Em sua preocupação com... Lauren, não é? Alex
não tinha prestado muita atenção aos vários discursos e ordens
de Ron. Em teoria, um ator que pretende continuar
trabalhando deveria se agarrar a cada palavra de seu
showrunner. Mas por que ele iria mudar seu modo de operação
após mais de sete anos de emprego contínuo, lucrativo, que já
foi feliz e agora é torturante?
Mesmo que Ron não fosse um dos humanos mais
cansativos e desconcertantes da indústria da televisão – o que
significava alguma coisa –, Alex ainda poderia ter problemas
para acompanhar. Seu cérebro era como um rádio que mudava
de canal com frequência ou permanecia no mesmo canal por
muito tempo, independentemente do que ele queria, e a
frequência escolhida nem sempre era a frequência a qual ele
deveria estar sintonizado.
Dito isso, Ron e seu colega, RJ, eram idiotas cansativos, o
que significava que seus pontos no rastreador de Alex eram
particularmente irregulares e problemáticos. Ao longo dos
anos, Alex havia se tornado muito hábil em esconder quaisquer
lapsos de atenção enquanto falavam.
Hoje, ele não estava se incomodando em esconder.
— Não. Não está nada claro. — Alex disse a Ron com um
sorriso que esticou seu rosto dolorosamente — Para meu
desespero absoluto, perdi a maioria do que você acabou de
dizer. Minhas sinceras desculpas.
Quando o sarcasmo meloso de falso arrependimento de
Alex foi registrado, a mandíbula de Ron se contraiu. Lauren
simplesmente continuou a observar os dois, seu rosto estranho
e assimétrico sem expressão.
Marcus, o melhor amigo de Alex, chamaria isso de
ultrapassar os limites e diria a ele para morder a língua e
considerar as consequências de mais insubordinação.
Assista o filme até o fim, ele insistiria. O que acontece se você
não alterar o roteiro?
Eles chegaram à última semana de filmagem de sua série, o
que significava que era tarde demais para demitir Alex, mas
poderia haver outras consequências, multas, uma campanha de
difamação que dificultaria encontrar futuros empregos, ou até
mesmo retaliação na sala de edição, embora Alex não pudesse
imaginar como o arco de seu personagem poderia ser mais
arruinado do que já estava.
Ele deveria se comportar. Ele iria.
Na maioria das vezes.
— Talvez você possa resumir a situação brevemente? — Ele
se abaixou e tirou o telefone do bolso escondido na aljava a seus
pés. — Vou anotar desta vez.
O rosto de Ron ficou vagamente roxo, mas foi só isso. Era o
melhor que Alex poderia fazer, dada a mistura de raiva,
desespero e exaustão incinerando o controle de seu impulso.
Mesmo as advertências de Marcus não poderiam salvá-lo, não
inteiramente.
O que era, novamente, porque todo esse plano – o que ele
tinha ouvido falar, de qualquer maneira – era ridículo. Se as
insistências de seu melhor amigo e seu próprio interesse não
conseguiram mantê-lo longe de problemas, como uma mulher
baixinha e gordinha poderia realizar a tarefa?
Além disso, se eles tivessem realmente perguntado o que
aconteceu naquela briga de bar, eles saberiam porque ele brigou
e porque ele faria exatamente a mesma coisa em circunstâncias
semelhantes, consequências e vigias que se danem. Também
porque ele não se arrependeu de seu olho roxo ou dos nós dos
seus dedos rasgados por um único segundo.
Ainda bem que seu personagem, Cupido, deveria ser ferido
durante a sequência do clímax da batalha de qualquer maneira.
— Vá em frente — disse ele alegremente —, estou ouvindo
agora.
Ron conseguiu não surtar novamente. Em vez disso, com
uma veia latejando fortemente em sua têmpora esquerda, ele
levou um minuto para se acalmar antes de falar.
— A partir de agora, até que o episódio final do programa
vá ao ar, Lauren irá acompanhá-lo sempre que você sair do set
ou da sua casa — ele finalmente falou. — Se ela não conseguir
lidar, você receberá imediatamente outro vigia, então não se
preocupe em tentar fazê-la desistir. Lauren pode ser ridícula,
como você diz, para não dizer infeliz, mas você não vai gostar
do substituto dela, posso garantir isso.
Alex inclinou a cabeça.
Isso foi intrigante. Sua babá substituta era particularmente
cruel? Ou fedida? Ou talvez–
— Chega de publicidade ruim. — Os olhos pálidos do
showrunner se fixaram nos dele, chamando sua atenção. — Ou
você sofrerá todas as consequências legais e profissionais
descritas em seu contrato. Você entende agora? Ou devo
envolver nossos advogados na explicação?
Alex digitou uma nota para si mesmo em seu telefone.
Escolher entre mulher-pássaro infeliz ou a assassino fedorento
como babá, de agora até a série terminar de ir ao ar. Mais
problemas => advogados. Ron = olhos de assassino em série.
— Alguém está hospedado em sua casa de hóspedes agora?
— Perguntou o produtor.
Olhando para cima, Alex encontrou aquele olhar
desconcertante ainda fixo nele e respondeu sem pensar.
— Não. Meu amigo Faroukh reservou uma série, então ele
saiu na última...
Oh. Oh, porra, inferno.
— Então Lauren vai se mudar assim que vocês dois voltarem
para L.A. A série vai te pagar o valor justo de mercado pelo
aluguel mensalmente. — O sorriso de Ron era presunçoso. —
Muito conveniente para todos os envolvidos.
A mandíbula de Alex doía, e ele a flexionou.
— E você espera que esse acordo dure nove meses?
— Difícil de dizer. Mas se isso não acontecer, RJ e eu já
escolhemos nosso curso de ação. — Com um movimento
impaciente de sua mão, Ron gesticulou para que sua prima se
levantasse. — Faça o que minha prima te dizer, senão... Lauren,
vá apertar a mão dele.
De perto, Alex podia estimar sua altura com mais precisão.
Cerca de 1 metro e 55 centímetros. E, a essa distância, seus
olhos eram ainda mais surpreendentes. De um verde-claro
suave e com um leve toque de azul, eles eram sua única
característica que um observador honesto poderia chamar de
bonito.
Sua palma era ridiculamente pequena, seu aperto era firme
quando eles apertaram as mãos. Se ela se ofendeu com a ordem
direta de seu primo ou sua descrição como ridícula e sem
alegria, ela não demonstrou.
Como Ron não parecia inclinado a fazer o trabalho, Alex
completou o ritual social.
— Por favor, deixe eu me apresentar. — Depois que ele
soltou a mão dela, ele fez uma reverência zombeteira. —
Alexander Woodroe, ao seu serviço. Ou melhor, ao seu
comando. Pelos próximos nove meses, claro.
— Eu sei quem você é. — Ela disse sem um pingo de sorriso.
Sua voz era inesperadamente baixa e rica, e ele se endireitou
abruptamente ao som dela.
Eu sei quem você é.
Foi uma declaração simples.
Foi também uma condenação.
Sem dúvida, Ron havia lhe contado bastante. Mas ela não
conhecia Alex. Ela não sabia nada sobre ele, e nem seu primo
idiota. No entanto, ali estavam eles, aliados em seu julgamento
sobre ele e o que ele havia feito.
Uma fúria impotente caiu sobre ele, e seu autocontrole
desapareceu na agitação.
— Então, você sabe. — Quando ele olhou para aqueles
olhos claros e calmos, seu lábio se curvou em desdém. — Você
acha que devo chamá-la de Senhora Lauren? Ou a babá Clegg
serve?
Poderia ter sido melhor, pensou Lauren, mantendo os braços
soltos ao lado do corpo, as mãos relaxadas, a postura aberta.
Ela achava que Ron falaria com sua estrela em particular
primeiro e permitiria que a raiva do ator se dissipasse antes que
ela o conhecesse, mas não. Tal consideração e discrição não
eram do feitio de seu primo.
Em retrospecto, então, ela deveria ter ignorado o que
pretendia ser um simples reconhecimento de sua fama e ter
apenas dito que foi adorável conhecê-lo. O que não foi, mas ele
dificilmente era a primeira pessoa furiosa que ela já encontrara,
e ela geralmente sabia como lidar com esse tipo de situação com
mais habilidade.
Depois de mais de uma década trabalhando em serviços de
emergência, era o que ela sabia com mais perfeição.
— Por favor, me chame de Lauren. — Na esperança de
acalmar a situação, ela se certificou de que seu tom fosse calmo
e agradável. — Como você prefere que eu te chame? O Sr.
Woodroe? Alexandre?
Comparado à avaliação de pacientes de emergência, aqueles
que chegaram em meio a crises de saúde mental e muitas vezes
saíram sem os recursos necessários para ajudá-los a sobreviver,
esse trabalho – esse momento tenso – deve ser moleza. Era
temporário e improvável que resultasse em bandejas jogadas em
sua cabeça enquanto os seguranças entrassem correndo na
briga.
Era ainda menos provável que a deixasse com o coração
partido e perigosamente perto do fim da linha para a sua saúde
mental e física.
— Alex, eu suponho. — Ele lançou um olhar crítico sobre
ela. — Este é o seu primeiro dia no set? Porque eu teria me
lembrado de ter visto você antes.
Isso era provavelmente um insulto velado, um que ela não
precisava reconhecer.
— Cheguei no fim de semana, então este é meu terceiro dia
no set. Devemos ter estado em diferentes áreas de filmagem
antes, porque também não me lembro de ter visto você.
E ela teria, mesmo confusa com o jet lag em seu primeiro dia
inteiro na Espanha.
Ele era memorável. De uma maneira muito melhor do que
ela era.
Assim como todo o enorme set. À medida que sua exaustão
diminuiu e ela foi capaz de lidar com o ambiente de forma mais
coerente, a rede de apostas ousadas e de alto risco em Ron e RJ
a deixou cada vez mais ansiosa. O chefe de uma rede de network
real deu a homens como eles o controle de milhares de pessoas
e milhões de dólares? Sério?
Tenha a confiança de um homem branco medíocre. Sempre
que ela ouvia essa frase, ela sempre, sempre pensava em Ron.
Não é à toa que a série saiu dos trilhos assim que os livros
existentes de E. Wade foram todos adaptados. Uma vez que os
showrunners tiveram que seguir em frente usando suas
próprias ideias, todos os envolvidos estavam ferrados.
Inevitavelmente.
Ainda assim, o âmbito do empreendimento e a experiência
dos atores e equipe a impressionaram muito. Ela não era fã da
série ou de seu primo, mas admitiria isso sem hesitar.
Alex tamborilou os dedos contra a coxa coberta pela túnica,
a aljava de flechas a seus pés.
— Então, me diga, Lauren, o que você faria se–
— Eu tenho que ir. — Ron interrompeu. — Vou deixar
vocês dois se conhecerem. Lauren, você ficará no trailer dele
enquanto ele estiver trabalhando, e eu reservei para você o
quarto conectado ao dele, no hotel. Em qualquer outro lugar
que ele vá, você estará com ele e farão todas as refeições juntos.
Entendido?
Como esta era a quarta vez que ela ouvia o plano de Ron, ela
não precisava especialmente do lembrete final. Ele tinha sido
um menino mimado, convencido de sua própria genialidade e
propenso a provocar as crianças mais vulneráveis – inclusive ela
– até que elas chorassem, e ele evidentemente não mudou
muito.
— Sim — disse ela. — Eu entendo.
Contar a seus pais sobre a crueldade do primo Ron só os
aborreceu e fez com que sua mãe discutisse com tia Kathleen ao
telefone. Eventualmente, ela poupou a todos da angústia e
começou a fingir gostar da companhia de seu primo, e agora
estava pagando o preço por sua desonestidade.
Enquanto você está entre os empregos, você deveria visitar seu
primo na Espanha, a mãe dela disse no mês passado. Você e Ron
se davam tão bem, e você não o vê há anos. Tia Kathleen e eu
sempre quisemos que vocês dois fossem mais próximos. Ela vai
ficar magoada se você não se esforçar. De qualquer forma, você
poderia tirar umas férias, querida.
Um grande eufemismo. Lauren estava desesperada para
colocar seu horário de sono em ordem, e ainda mais
desesperada para aproveitar o sol e simplesmente relaxar. E
depois de intermináveis anos de horas extras – o pronto-
socorro estava sempre com falta de pessoal quando se tratava de
terapeutas, especialmente para o turno da noite – ela tinha
muitas economias. O suficiente para comprá-la algumas
semanas antes de decidir onde trabalhar em seguida.
O suficiente para tirar férias. Umas longas férias.
Durante aquelas férias tão necessárias, ela não teve vontade
de ver Ron. Mas a menos que ela não tivesse outra escolha, ela
não desapontava sua família. Ou qualquer um, na verdade.
Então ela dirigiu para visitar Ron no dia em que chegou à
Espanha, pretendendo apenas fazer uma breve parada nesta
remota cidade costeira antes de seguir para Barcelona. E então…
Então ela ficou presa. Porque ele precisava de ajuda, e se ela
não fornecesse essa ajuda, iria ouvir sobre isso de seus pais e de
tia Kathleen.
Além disso, ela tinha suas próprias razões para aceitar o
trabalho.
— Bom. — Ron se virou para Alex. — Mostre a ela onde
está seu trailer antes de começarmos a filmar e faça o que ela diz.
A publicidade ruim acaba agora.
Seu primo se afastou, e uma pequena e irracional parte dela
queria irritá-lo. Para chamá-lo de volta e renegar sua oferta e
libertar ela e Alex, mesmo que apenas temporariamente.
Mas Ron estava oferecendo um salário de arregalar os olhos
e cobrindo todas as suas despesas – incluindo o aluguel de seu
duplex em North Hollywood – por meses. Tudo para que ela
cuidasse de um homem, que, apesar da briga recente e da fúria
atual, tinha a reputação de ser bastante charmoso, embora um
tanto imprudente e excessivamente franco às vezes.
Um idiota delicioso, sua co-estrela Carah Brown
famosamente o chamou.
Com o dinheiro que ela economizaria cuidando dele,
Lauren poderia levar todo o tempo do mundo antes de decidir
se voltava para o pronto-socorro ou se juntava ao grupo de
prática de sua amiga. E o que poderia estar mais longe de um
pronto-socorro do que a costa varrida pelo vento da Espanha
ou a hospedaria de uma estrela de televisão em Hollywood
Hills?
Então, sim, ela podia lidar com a raiva do Sr. Woodroe, e ela
não se importava se ele a considerava ridícula e feia ou se achava
que ela tinha um nariz pontudo de pássaro. É claro que ele
estava com raiva depois de ser ofendido, preso e depois
insultado na frente de uma estranha por seu chefe idiota
condescendente. E, claro, um homem tão bonito, com cabelos
grossos de um rico tom de castanho dourado, compridos o
suficiente para escovar o colarinho e cair na frente de seus olhos
se ele não o empurrasse para trás; olhos intensos da cor de uma
nuvem de chuva, ainda lindos apesar de todos os hematomas;
belos traços acentuados por uma barba bem cuidada; e um
corpo imaculadamente afiado – desprezaria uma mulher como
ela.
Seu nariz era bicudo. Também torto por causa daquele
incidente em seu primeiro mês no pronto-socorro, quando ela
não abaixou de uma bandeja com rapidez suficiente.
Ela era gorda e baixinha também, e tinha sido ridicularizada
por pessoas muito mais cruéis do que ele. Ele a chamou de
ridícula, e a palavra era apropriada. Ela certamente
experimentou muitas coisas ridículas em sua vida. Ela se
acostumou com isso.
Seu desprezo não significava nada para ela. Ela faria seu
maldito trabalho, e o faria bem e não importava o que ele
dissesse.
Ela se virou para encará-lo.
— Você estava me perguntando algo quando Ron
interrompeu.
— Hum… — Ele estava assistindo uma gaivota pegar
objetos deixados durante a noite no campo de batalha, sua testa
franzida em aparente concentração. — Oh, sim. Diga-me,
Lauren, o que você faria se eu quisesse ir a outro bar depois do
trabalho hoje à noite?
Ele pretendia começar seu relacionamento de trabalho com
um teste de seus limites, então.
Justo. Eles poderiam deixar esses limites claros desde o
início.
— Ron disse que não há mais bares para você, então eu diria
para você ir a um restaurante ou ao seu quarto de hotel.
— E se eu for mesmo assim?
— Eu ligaria para Ron. — ela disse sem hesitação.
Ele soltou uma risada aguda como um bisturi.
— Você me deduraria?
Não. Ela não estava mordendo a isca.
— Eu faria meu trabalho.
— E se eu for a um clube?
— Eu iria com você.
— E se eu conhecesse uma mulher e nós — ele ergueu as
sobrancelhas sugestivamente — nos conhecêssemos melhor em
um canto escuro?
— Contanto que você não viole as leis locais de
obscenidade, eu o deixaria em paz, mas o manteria à vista.
A essa altura, ele aparentava estar em menos conflito e mais
entretido.
— Se eu violasse as leis de obscenidade pública, o que você
faria então? Me agarraria de joelhos e colocaria um cinto de
castidade em mim?
— Eu interromperia, e se você continuasse mesmo assim, eu
ligaria para Ron.
À menção de seu primo, o sorriso original de Alex morreu.
— E se eu decidisse ficar bêbado no meu quarto de hotel?
— Seu queixo se projetou em sua direção, sua firmeza evidente
mesmo através de sua barba cheia. — E então, babá Clegg?
— Contanto que você não perturbasse e não estivesse em
perigo médico, não seria da minha conta. Eu deixaria você
sozinho.
Ele fez uma pausa.
— E se eu estivesse em perigo médico? Você ligaria para
Ron?
— Primeiro, eu chamaria uma ambulância ou eu mesma
levaria você para o hospital. Então, sim, eu ligaria para Ron,
porque você provavelmente não apareceria para trabalhar no
dia seguinte, e a notícia de sua passagem no pronto-socorro
poderia se espalhar pela mídia. Eu também entraria em contato
com qualquer pessoa que pudesse ajudá-lo a se defender contra
a subsequente retaliação de Ron. — Ela franziu a testa. Que
tipo de equipe as estrelas como ele tinham, afinal? — Você tem
um agente e um advogado, certo? Um publicitário? Ou talvez
um assistente?
A zombaria havia sumido, substituída por um olhar que ela
não conseguia interpretar.
— Quem quer que advogue por você, você provavelmente
deveria me dar seus números. Apenas no caso de… — Ela
levantou um ombro. — Coisas acontecem, apesar das nossas
melhores intenções.
Ele deu um passo para mais perto dela, com a testa franzida.
Engraçado. Um homem que, de acordo com Ron, estava
bêbado o suficiente para entrar em uma briga de bar apenas um
punhado de horas atrás, ainda deveria cheirar a álcool.
Ele não cheirava a álcool. Ele cheirava a shampoo genérico
de hotel. E ele também não parecia de ressaca. Apenas ferido e
cansado.
— Eu vou te passar os contatos deles antes de sairmos do set
hoje à noite. — Ele inclinou a cabeça e a estudou. — Então, o
que acontece agora? Devemos socializar no meu trailer ou
quarto de hotel, sempre que não estivermos trabalhando ou
dormindo?
— Pelo que eu entendo–
— Vou trançar seu cabelo se você trançar o meu, Lauren. —
Seus olhos cinzas estavam fixos nos dela na luz quente da
manhã. — Podemos contar histórias de fantasmas com
lanterna. Talvez assar alguns marshmallows sobre os radiadores
do quarto do hotel.
Ele estava zombando dela.
Ela balançou a cabeça.
— Eu não tenho intenção de socializar com você. Eu não
sou seu entretenimento.
Ele balançou um pouco para trás, e se ela não soubesse
melhor, ela teria jurado que aquele olhar em seu rosto estava...
magoado?
Não. Isso não fazia sentido.
— Ah. Entendi. — A reviravolta cínica em seu sorriso havia
retornado. — Você assumiu o papel de chata hipócrita. Sem
dúvida, é o papel que você nasceu para desempenhar.
Dessa vez, não havia nenhum indício de humor no insulto.
Foi um golpe feito para ferir.
Sem o “delicioso”. Apenas idiota.
Ela olhou para longe por um momento, permitindo que a
pontada fraca desaparecesse antes de responder.
— Peço desculpas. — Suas palavras foram inesperadas e
abruptas. Cru com exaustão. Quando ela olhou para ele, ele
estava franzindo a testa. — Você não merecia isso. Eu sinto
muito.
Ele parecia sincero. Surpreendentemente.
Ela assentiu em aceitação de seu pedido de desculpas, e ele
soltou um suspiro lento.
— Não tenho uma boa desculpa. — Sua mandíbula
funcionou. — Eu só…
Ela esperou, mas ele não continuou.
Em vez disso, ele simplesmente suspirou e gesticulou para a
esquerda.
— Por que não te mostro meu trailer?
GODS OF THE GATES: TEMPORADA 6, EP. 9

INT. PALÁCIO DE VÊNUS NO MT. OLIMPO –


CREPÚSCULO

PSIQUÊ está deitada em um sofá baixo, olhos fechados e


indiferentes, aproximando-se da morte a cada hora que dorme.
Quando CUPIDO entra e vê sua amada, ele corre em direção a
ela, perturbado. VÊNUS levanta uma mão de comando e ele
para imediatamente. Por trás de Vênus, JÚPITER entra na
sala, sua expressão feroz de raiva e determinação.

VÊNUS
Eu disse para você não vir.

CUPIDO
Ela é minha esposa, mãe. Meu coração. Deixe-me acordá-la. Por
favor.
Vênus desliza em direção a ele, zombando.

VÊNUS
Seu coração é meu. Sua lealdade é minha. Sua existência eterna
é minha.
Ela segura seu queixo com uma mão, apertando até que seu
rosto se contorça de dor.

VÊNUS
A vida de uma única garota mortal não importa. Seu lugar é ao
nosso lado, lutando contra nossos inimigos: Juno, aquela
cadela traiçoeira e seus aliados.

CUPIDO
Se eu lutar ao seu lado, você promete poupar Psiquê? Salvá-la?
Júpiter caminha na direção de Cupido, lívido, e dá um tapa
no neto, que cai de joelhos.

JÚPITER
Um semideus insignificante e choroso não questiona a vontade
do todo poderoso Júpiter. Sua preciosa mortal estará morta
antes que esta batalha termine, uma punição adequada por seu
desafio.
Cupido chora. Vênus o aperta contra o peito e enxuga suas
lágrimas.

VÊNUS
Você entende, meu filho? Agora você entende o que significa
obediência?

CUPIDO
Eu entendo. Eu obedecerei.
Cupido sai da sala sem olhar outra vez para Psiquê.
2
A primeira vez que Alex teve contato com conceito de
“demais”, ele se identificou imediatamente, em um nível quase
visceral. Oh, sim, é isso o que eu sou. Muito parecido com o
momento em que sua mãe explicou o que seu diagnóstico de
TDAH significava.
Nem todo mundo apreciava sua personalidade, mas que
assim seja. Nem todo mundo apreciava peru frito no Dia de
Ação de Graças, e são eles quem perdem. Se ele era natural e
deliciosamente “demais”, no entanto, a mulher severa do outro
lado da sala era o oposto.
Camiseta lisa, cardigã, calça jeans escura, nenhuma joia ou
maquiagem, e nenhuma cor natural naquele rosto pálido. Até
suas sobrancelhas estavam relativamente pálidas. Seus traços de
pássaro – suas feições afiadas, seu corpo curto e redondo – eram
as únicas coisas memoráveis sobre sua aparência, na verdade,
além daqueles olhos.
Poderia ajudar se ela realmente dissesse alguma coisa.
Qualquer coisa.
Mas ela não disse. Se possível, ela sequer o reconheceu.
— Ei, Lauren, me passe aquela bola medicinal2 — ele gritou
para ela —, aquela à sua esquerda.

2
Uma bola medicinal é uma bola de peso cujo diâmetro é aproximadamente
a largura do ombro, muitas vezes usada para reabilitação e treinamento de força.
Ela respondeu sem olhar para cima.
— Não.
Uma hora atrás, ela se sentou em um banco de musculação
na sala de ginástica vazia do hotel, os olhos em seu kindle e não
nele. Mesmo que ele estivesse suado e sem camisa, o que – ele
tinha se informado por fontes confiáveis – mostram o melhor
dele e chama a atenção de qualquer pessoa atraída por homens.
Huh. Talvez–
— Ei, Lauren, você gosta de caras? Tipo, só um pouco? —
Ele ergueu os braços sobre a cabeça em um alongamento
luxuriante, depois flexionou os bíceps apelativamente, na
esperança de que o incentivo pudesse fazê-la levantar a cabeça.
Mais uma vez, nem um único olhar para cima.
— Não é da sua conta.
Meia dúzia de afundos. Um punhado de burpees. Todas as
suas proezas atléticas e seu corpo cuidadosamente afiado,
exibido bem ali na frente dela. E…
Nada. Nada.
— Oi, Lauren. — Desta vez ele esperou por uma resposta,
contando com a polidez inerente dela.
Ela finalmente ergueu o olhar de seu kindle, a cabeça
inclinada em indagação, e ele se deleitou com brilho
presunçoso da vitória.
— Uma vez eu estrelei um filme em que meu interesse
amoroso era uma mímica, e minha colega de elenco falava mais
do que você. — Ele fez alguns polichinelos, enquanto tinha a
atenção dela. — Apenas para sua informação.
Sua voz estava claramente impressionada
— Porque ela não era realmente uma mímica. Ela era uma
atriz.
Ele franziu a testa para ela.
— Eu quis dizer que ela falou mais na câmera.
— Então, ela não era uma mímica muito boa.
Ela voltou sua atenção para seu livro, e ele bufou em
descontentamento. Normalmente, qualquer menção ao seu
desastre mais absoluto de um filme provocava uma discussão
vívida. Mas, é claro, nem mesmo Mimes e Moonlight serviram
dessa vez. Não quando a mulher do outro lado da conversa era
um muro em forma humana.
Depois de alguns analgésicos de venda livre e uma boa
refeição da mesa do set, ele superou o pior da raiva daquela
manhã. Pelo menos, a parte direcionada para ela. Uma boa
soneca do meio-dia em seu trailer mais tarde – enquanto ela se
sentava no sofá muito duro, com o telefone na mão, e não dizia
uma palavra – e ele estava pronto para admitir que sua presença
recém-descoberta e quase constante em sua vida não era
realmente culpa dela. As pessoas precisavam de empregos, e ele
não podia culpá-la por aceitar a oferta de seu primo, apesar da
profunda idiotice do dito cujo.
Para aguentar o desdém óbvio de Ron por ela, ela deve
precisar muito, muito do dinheiro.
Ele franziu a testa novamente.
— Ei, Lauren, se você precisar de um empréstimo ou algo
assim, me avise. — Ele disse enquanto se posicionava no grosso
tapete azul para flexões.
Com isso, ele tinha sua atenção inteiramente. Colocando
seu kindle no chão ao lado dela, ela olhou para ele com a testa
enrugada.
— Você me conheceu esta manhã. — Cada palavra
continha um universo inteiro de reprovação inevitável. Ou...
talvez não desaprovação, mas algo próximo disso. Confusão?
Suspeita? — Tivemos uma maior interação durante esta última
hora.
Ele fez uma pausa com os braços totalmente estendidos,
apoiando seu peso.
— E?
— E você acabou de se oferecer para me emprestar dinheiro.
— Ela enunciou muito claramente. — Você não me conhece
bem o suficiente para isso, Alex.
Ele tentou encolher os ombros enquanto estava na posição
de flexão, com sucesso limitado.
— Discordo.
A reação dela naquela manhã, quando ele perguntou o que
ela faria se ele estivesse em perigo médico, disse-lhe o suficiente
sobre seu caráter. Ela não queria que ele se metesse em
problemas. Ela não estava torcendo por seu fracasso e punição.
Nada disso era pessoal, e ela tinha um senso de honra.
Então: empréstimo. Empréstimos, no plural, se necessário.
Ele começou a bater palmas entre cada flexão, considerando
o assunto.
Era possível que tais situações explicassem por que suas
economias e contas de aposentadoria não eram tão robustas
quanto poderiam ter sido. Ou era o que Marcus o informava
regularmente. Depois, havia o dinheiro que ele enviava para sua
mãe todos os meses, e todas as instituições de caridade que
dependiam de suas contribuições, e os amigos que ele permitia
que ficassem sem pagar aluguel em sua casa de hóspedes
quando estavam desempregados.
Embora ele aparentemente estivesse alugando sua casa de
hóspedes pelos próximos nove meses pelo valor justo de
mercado, então, quem era o gênio do financeiro agora, hein,
Marcus?
Quando ele virou a cabeça para olhar para Lauren, sua boca
estava ligeiramente aberta, e ela estava boquiaberta para ele.
Agora ela parecia mais um peixe do que uma ave.
Finalmente, com um aceno de cabeça, ela pegou seu Kindle
e voltou para seu livro.
Sem mais palmas. Hora de flexões de um braço em vez disso.
— Ei, Lauren — ele disse. — Devíamos ir a um clube juntos.
Acho que sua presença seria muito conveniente. Você é tão
pequena que eu poderia descansar minha bebida em cima de
sua cabeça, sem precisar de mesa.
Ela já dançou? Provavelmente não.
Por mais que ele odiasse afirmar o julgamento de Ron, ela
parecia claramente infeliz. Não ridícula, no entanto. A
situação: definitivamente ridícula. Ela: não.
Ela exalou um pouco mais alto do que o habitual.
— Você está quase terminando seu treino? Eu gostaria de
jantar e ir para a cama logo.
— Depois de me alongar. — O que ele pretendia fazer
longamente e à vista dela. Apenas no caso de ela prestar atenção
desta vez. — Falta pouco agora.
Ele se deixou cair no tapete e se reclinou de lado, apoiando
a cabeça na palma da mão, deixando seu pulso desacelerar um
momento. Sua cabeça latejava a cada batida do coração, o que
não era uma sensação especialmente agradável.
Ainda assim: ele não se arrependia do que havia feito e não
lamentaria suas consequências físicas. Seu desconforto era
apenas penitência, considerando seu passado.
— Ei, Lauren — ele disse — quem é seu personagem
favorito em Gods of the Gates? Sou eu, não é? Cupido? Vamos
lá, você sabe que é o Cupido.
Quando ela não respondeu, ele alongou seu quadril direito,
sua mandíbula estalando em um bocejo magnífico.
— Vou considerar isso como um sim — ele disse a ela.

QUANDO LAUREN ESTAVA crescendo, sua família era


dona de uma gata.
Ou melhor, a gata era a dona deles.
Quando sua ditadora felina – originalmente chamada de
Chinelos, por causa do fundo branco de suas patas, antes que a
família decidisse que Lúcifer combinava melhor com ela –
queria sua atenção, ela queria imediatamente. E ela sempre quis
a atenção deles. Mas às vezes eles não conseguiam colocá-la
imediatamente em seu colo, sua posição preferida de afago, e
esfregar sua barriga ou coçar suas orelhas, porque eles tinham
que – por exemplo – dormir. Ou dar atenção a um dos
membros da família que não são gatos, apesar de sua menor
importância.
Ela se empoleirava na mesa mais próxima, olhava-os nos
olhos e empurrava algo frágil em direção à borda. Se eles não a
pegassem, ela cutucaria novamente. E se eles não se curvassem
à sua vontade, então, aquele item frágil chegaria ao limite.
Por fim, a família empacotou todos os itens pequenos que
não fossem, digamos, de borracha. Que foi quando o cocô de
retaliação começou.
Quando Lúcifer morreu depois de uma vida longa,
extremamente mimada e intermitentemente malévola, todos
choraram. Porque aquela gata pode ter sido uma filha da mãe
diabólica, mas ela era linda e elegante e inteligente e divertida
como o inferno, mesmo quando ela estava frustrando toda a
família.
Agora que Lauren considerou o assunto, Lúcifer e Alex
provavelmente foram separados no nascimento de alguma
forma, apesar das incompatibilidades genéticas. Ele claramente
queria atenção, e estava disposto a empurrar itens de conversa
para fora da mesa de centro figurativa sempre que ela não lhe
desse o suficiente.
Além disso, ele era lindo e elegante e inteligente e divertido
como o inferno. Não que ela alguma vez pretendesse dizer isso
a ele, ou dignificar seus comentários provocativos com
respostas.
Ele poderia ter se oferecido para emprestar dinheiro a ela –
o que era tanto lisonjeiro quanto insultante, além de
horripilante –, mas ela não confiava nele.
Talvez toda a sua simpatia fosse sincera.
Ou talvez ele estivesse esperando que ela se tornasse menos
vigilante sobre a aplicação das regras de Ron, ou procurando
informações para usar contra ela no futuro. Não seria a
primeira vez que ela seria enganada por uma falsa simpatia.
Além disso, ele fazia parte do seu trabalho, não era seu amigo, e
ela não pretendia confundir as coisas.
E foi por isso que, depois que ele tomou um banho pós-
treino e eles se sentaram no restaurante quase deserto do hotel
para um jantar tardio, ela estava usando a boca e a língua para
comer. Nada mais, a não ser lhe dar ordens e responder
brevemente a perguntas diretas.
Sua resposta: a versão humana do uivo.
— Vamos, Lauren — Ele estava caído na cadeira de madeira
esculpida, parecendo extremamente chateado. — Por que não
poderíamos ir pular de paraquedas em Hollywood Hills,
quando voltarmos para casa? Não seria uma experiência de
afinidade inestimável?
Seu medo de alturas faria sua bunda ficar colada ao assento
do avião, ela garantiria isso a ele.
— Não. — Ela terminou a última mordida de sua paella de
frutos do mar com um suspiro de satisfação, tentando não
notar como o rico vermelho das cortinas do restaurante
destacava seus cabelos brilhantes e olhos cinzas.
Ele a encarou.
— Estraga prazeres.
Por cinco minutos inteiros, enquanto ele soltava os últimos
pedaços de sua truta inteira grelhada, um silêncio abençoado
desceu sobre a refeição.
Então ele se inclinou para frente e olhou para ela do outro
lado da mesa, seus olhos cinza afiados.
— Isso é coisa de Napoleão? Você é pequena, então você
quer o controle? — Ele deu um pequeno puxão de ombro e
sorriu. — Não, suponho que você não esteja tentando
conquistar continentes. Apenas o conceito de alegria.
Se ele pretendia machucá-la com sua zombaria, ele estava
falhando. Mas ela realmente não achava que ele estava tentando
machucá-la.
Além daquele golpe de raiva solitário em seu primeiro
encontro, suas palavras não pareciam conter nenhuma malícia
real. Apenas humor afiado e tédio e intelecto inquieto e desejo
de conexão humana.
Ela não se arriscaria a chamá-lo de encantador. Mas se ele era
um idiota, ele certamente não estava entre os piores que ela já
conheceu.
Chegada a essa conclusão, ela não pôde evitar. Ela
simplesmente... não podia.
— Não é o conceito de alegria. — Ela colocou o guardanapo
ao lado do prato, seu tom seco. — Apenas sua expressão
particular dela.
— Ahhhhhh. — Era quase um ronronar, ofegante e
sedutor. Ele se esparramou na cadeira como um príncipe
indolente, entrelaçando os dedos longos sobre a barriga lisa. —
E ela finalmente fala. E ao fazer isso, quase – mas não
exatamente – conta uma piada. Bravo, babá Clegg.
Sua camiseta azul desbotada subiu com seu movimento,
expondo uma lasca de pele acima de seu jeans de cintura baixa.
A luz da vela dourava aquele crescente de carne, atraindo seu
olhar relutante.
Dada a sua localização um tanto remota, o hotel não era
especialmente chique, mas ela vestiu um vestido verde escuro
para o jantar de qualquer maneira. Mesmo de jeans e camiseta,
porém, e mesmo com essa lasca dourada de barriga visível, ele
parecia mais arrumado do que ela. Com ou sem olho roxo.
Se ela não soubesse, ela pensaria que os dois eram espécies
completamente diferentes.
— Ela tem seus momentos. — Sua língua se soltou, e ela só
podia culpar o copo do excelente vinho tinto que havia
consumido no jantar. — Dito isso, ela não sabe ao certo por
que você está se referindo a ela na terceira pessoa.
Sua decisão de se manter em silêncio estava derretendo tão
rápido quanto a cera da vela, evidentemente.
— Preferimos a primeira pessoa do plural? Como a realeza?
— Ele acenou com a mão afetadamente, como se
cumprimentasse seus adorados súditos. — Muito bem.
Estamos dispostos a concordar com as exigências de Sua Alteza.
— Nós preferimos a interação humana normal — disse ela,
reprimindo. — Segunda pessoa do singular deve ser suficiente.
Sua gargalhada fez o garçom olhar para cima dos copos
polidos no bar.
— Se você prefere interação humana normal, ainda não vi
nenhum sinal disso.
Ela ergueu as sobrancelhas.
— E você considera seu nível de conversa normal?
— Sim, sim, eu sou claramente a esquisitice nesta mesa. —
Ele revirou os olhos — Ao contrário de uma mulher que imita
estátuas de forma convincente o dia todo.
Mais uma vez, ela poderia jurar que havia algo mais do que
mera zombaria em sua voz. Algo como... solidão?
Ela varreu um olhar ao redor da sala, procurando por mais
alguém que pudesse ser afiliado aos Gods of the Gates. Mas,
exceto por um casal mais velho no bar falando rápido espanhol
um para o outro – moradores, ela presumiu – o lugar estava
vazio. E sim, era tarde, mas não era tão tarde.
— Você disse que a maioria dos membros do elenco foram
embora. Mas e a equipe? Onde eles estão? — Durante seus
últimos três dias no set, ela viu centenas de trabalhadores nos
bastidores, mas para onde eles iam depois do expediente, ela
não tinha ideia. — E onde estão os atores que ainda não saíram?
Ele fez aquele som ofegante e presunçoso novamente.
Ahhhhhh.
Seu quase ronronar causou arrepios em seus braços.
— Você me fez uma pergunta agora. Você percebe isso,
certo? — Colocando os cotovelos na mesa coberta de pano, ele
se inclinou para frente e estudou o rosto dela atentamente. —
Dói em algum lugar? Você precisa de intervenção médica para
consertar o dano à sua psique?
— Sim, eu percebi que fiz uma pergunta. — Seu dedo médio
estava coçando para aparecer. — Não me faça me arrepender.
Pela primeira vez, ele decidiu não abusar da sorte.
— Éramos muitos de nós para ficar em um só lugar, então
Ron e RJ nos separaram. Membros do elenco neste hotel, a
equipe em outros hotéis um pouco mais distantes do set —
explicou ele, coçando a barba preguiçosamente. — E eu sou um
dos poucos atores restantes, como eu disse. Asha, a mulher que
interpreta Psiquê, está hospedada com seu namorado popstar
em uma mansão local.
Oh, sim. Lauren tinha visto os dois se acariciando nas
primeiras páginas de vários tablóides americanos. Nessas fotos,
ambos estavam geralmente de topless, saltitando a bordo de um
iate elegante e espaçoso e rindo nos braços um do outro.
Alex continuou marcando os nomes do elenco restante.
— Mackenzie, a mulher que interpreta Vênus, mesmo
sendo dez anos mais nova do que eu e mesmo que a
imortalidade não possa explicar tudo–
— Maldição, Ron — Lauren murmurou baixinho.
— Recusou-se a se separar de seu gato, e o hotel não permite
animais de estimação. Então, ela alugou uma casa próxima do
set. — Seu sorriso malicioso dividiu sua barba. — Bigodes
considera o mobiliário rústico, mas confortável e o espaço
comum mais do que adequado.
Lauren piscou para ele.
— O gato dela considera os móveis... rústicos? Como...
como...
— Como Bigodes emite declarações tão sutis sobre design
de interiores? Boa pergunta. Boa pergunta — Ele esperou um
momento antes de continuar, sem dúvida para criar
antecipação. — Como você aprenderá em um livro de
memórias, Aqui e Miau: A vida de um gato, Mackenzie diz que
eles podem falar um com o outro. Telepaticamente.
Aqui e miau: a vida de um gato.
— As memórias não são dela — Lauren disse lentamente. —
São do gato.
— Certo. Foi escrito usando Mackenzie como médium. —
Sua voz baixou para um sussurro conspiratório. — Ao longo
dos anos, descobri que Bigodes compartilha essencialmente
todas as opiniões de Mackenzie, exceto aquelas sobre comida
de gato. — Ele fez uma pausa. — Pelo menos, espero que seja
uma exceção.
A parte superior do corpo de Alex começou a se inclinar em
direção à mesa enquanto ele descansava cada vez mais peso nos
cotovelos, e não é de admirar. Ele teve um dia extremamente
longo, e outro se aproximava dele amanhã.
— O único outro membro restante do elenco principal é
Ian, o cara que interpreta Júpiter. Mas ele provavelmente está
injetando atum na veia em algum lugar. Além disso, ele é um
idiota. — Alex apontou o dedo indicador para ela. — Eu ficaria
fora do caminho dele, se eu fosse você. Toda aquela proteína
magra pode ter ajudado seus músculos, mas não ajudou seu
humor. Ou o cheiro dele, aliás.
A menos que ela estivesse enganada, isso era um aviso.
Porque ele – o homem que a chamou de mulher-pássaro
ridícula – não queria que seus sentimentos ou seu olfato
sofressem.
Colocando os cotovelos sobre a mesa, ela esfregou a testa e
considerou o que fazer. O que ele e Ron precisavam dela, e o
que ambos mereciam. O que era certo, não apenas o que era
conveniente e seguro.
Ele bateu os dedos contra o tampo da mesa.
— Ei, babá Clegg. Você está bem?
— Estou bem — ela disse ao pano carmesim que cobria a
pesada superfície de madeira. — Obrigada.
Durante todo o dia, ela assumiu que sua busca para
preencher qualquer silêncio possível com palavreados sem fim
era uma escolha. Uma tentativa de fazê-la desistir, apesar dos
avisos de Ron. Um plano para reunir informações que ele
poderia usar mais tarde contra ela. Uma tática para relaxar a
guarda.
E talvez fossem todas essas coisas.
Ou talvez fosse uma tentativa genuína de ser amigável.
Talvez ele realmente fosse um idiota delicioso, alguém que se
viu ferido e em apuros e praticamente sem amigos em um país
estrangeiro. Nesse caso, não é de admirar que ele quisesse sua
companhia. Até voltar para a Califórnia, ele não tinha muitas
outras opções disponíveis.
Ela levantou a cabeça, baixou as mãos e se rendeu ao
inevitável.
— Eu proponho uma trégua.
Seus olhos estavam semicerrados e turvos de exaustão, as
sombras escuras sob a esquerda quase combinando com as
contusões sob a direita. Ainda assim, ele conseguiu dar um
sorriso atrevido.
— Se você está propondo uma trégua, isso significa que eu
estava ganhando a guerra, certo?
Ela assentiu gravemente.
— Sua anedota sobre Bigodes virou a maré.
— Carah Brown me chama de vadia fofoqueira. — Ele
esfregou as mãos sobre o rosto, abafando um bocejo. — Mas
essa cadela fofoqueira obtém resultados.
— Evidentemente. — Ela levantou a mão para sinalizar o
garçom. — Então, aqui estão meus termos de paz: se eu
prometer ser mais tagarela, você promete me dar alguns
minutos de silêncio quando eu disser que preciso de um tempo
de silêncio. Além disso, nenhuma tentativa deliberada de
quebrar as regras de Ron, porque eu realmente não quero ligar
para ele.
— Nenhum desejo de falar com seu primo, hein? —
Quando o garçom colocou a conta na mesa, Alex escreveu o
número do quarto no papel e deixou uma gorjeta substancial.
— Se serve de consolo, qualquer humano de pensamento
correto se sentiria da mesma maneira.
A quantidade de tempo que ela passou com seu parente esta
semana foi suficiente para durar...
Bem, para sempre. Mais do que isso, se possível.
Mas não foi isso que ela quis dizer.
— Eu não quero que você tenha problemas. — ela corrigiu.
— E se você fizer isso, por favor, não faça de mim o meio pelo
qual isso acontece.
— Além disso, você não quer falar com ele. — Ele sorriu
para ela, olhos cansados acesos. — Admita, babá Clegg.
Admita, e eu vou concordar com seus termos de paz.
Ela não deveria. A simples lealdade familiar deveria impedi-
la de dizer isso, e Alex poderia usar a admissão contra ela em
algum momento.
Ainda assim, seu primo era um idiota.
— Ok. — Ela suspirou. — Não quero falar com ele.
— Vitória! — Alex exclamou, levantando os dois punhos
no ar.
O casal no bar se virou para encará-los, e o pessoal da
cozinha espiou pela porta para ver o que estava acontecendo.
Suas bochechas ficaram quentes, e ela lhe lançou um olhar
fulminante.
— Terminamos aqui?
— Oh, Lauren, abençoado seja seu coraçãozinho ingênuo.
— ele disse com pena. — Estamos apenas começando.
Star Tracker: Suas celebridades favoritas reveladas

O ator de Gods of the Gates enlouquece!

As fontes internacionais do Star Tracker estão


recebendo notícias de que as autoridades espanholas
detiveram Alexander Woodroe, o ator que atualmente
interpreta um Cupido bem adulto em Gods of the Gates,
em decorrência de uma briga de bar tarde da noite. Ele
foi liberado horas depois sem acusações.
Nenhuma palavra oficial ainda da equipe de Gates, e o
agente de Woodroe não respondeu às nossas perguntas,
mas olhando para aquela foto, ele certamente não
parece se arrepender de nada que fez.
Esta não é a primeira vez que Woodroe se vê em
apuros. Em 2013, ele foi expulso do premiado drama de
Bruno Keene, All Good Men, no meio das filmagens, sob
circunstâncias pouco claras. Woodroe afirmou que
Keene era abusivo com seu elenco, mas Keene descartou
a acusação como a invenção de um ator fora de seu eixo.
— Ele não conseguia acompanhar todos os outros —
disse Keene na época. — Então, ele atacou. Tenho pena
dele, de verdade. Espero que ele encontre recursos para
ajudá-lo a controlar seu temperamento, ou temo que ele
tenha problemas para encontrar futuros papéis em
Hollywood.
Quando solicitados a comentar sobre o escândalo, os
restantes membros do elenco de All Good Men se
recusaram. O elenco de Gates também não respondeu
aos pedidos de entrevistas desta vez. Coincidência?
Talvez. Mas os atores são notoriamente relutantes em
acusar um dos seus, apesar de qualquer mau
comportamento dentro ou fora do set.

O Star Tracker sugere que você faça desta sua última


investida, Alex, porque você conhece o velho ditado:
Três golpes e você está desempregado!
3
Alex estava cochilando em seu trailer de novo, o que não
a surpreendeu.
Desde que se conheceram na segunda-feira, Lauren o viu
trabalhar mais de catorze horas dia após o outro, chegando ao
set ao amanhecer e saindo após o pôr do sol. De volta ao hotel,
ele se exercitou, comeu e conversou com Marcus e... desmaiou,
até onde ela sabia.
Era apenas seu quinto dia juntos, e ela estava exausta só de
observá-lo. Mas ele evidentemente vinha mantendo a mesma
programação por semanas e semanas agora.
— É isso — Alex tinha explicado ontem à noite durante o
jantar, sua voz grave com fadiga. — A batalha climática dos
deuses. É para durar dia e noite por semanas, e é a última parte
das filmagens de toda a série. Ron e RJ querem torná-la grande
e imersiva, e eles querem ter certeza de que terão todas as
filmagens de que precisam antes de nos espalharmos até os
confins da terra, o que significa longas horas para todos.
Hoje foi o último dia de filmagem, e graças a Deus por isso.
Ele parecia à beira do colapso, apesar de todas as sonecas que ele
tinha tirado em seu beliche enquanto ela se sentava no sofá e
lia.
Não havia bebida. Nenhuma mulher. Nada de clubes ou
bares. Sem brigas.
Ele também se dava bem com seus colegas, o que ela
considerava um bom indicador de caráter. Quando ela e Alex
almoçaram entre a equipe e os demais, ele conversou com eles
facilmente. Eles bateram nas costas dele e o provocaram por
causa de seu olho roxo, e ele revirou os olhos e zombou deles
em troca, e o divertimento do grupo ocasionalmente atraiu
silenciamentos indignados de outras partes do set.
Até onde ela podia dizer, ele não era o homem que Ron
havia descrito para ela ou o homem que ela conheceu em um
campo de batalha ao amanhecer. Desagradável, desafiador,
descuidado e fora de controle, ou quase isso.
Ela deu uma olhada na forma adormecida de Alex. Ele estava
virado de lado e de frente para ela, os braços abraçando o
travesseiro, fazendo pequenos sons de fungar e ocasionalmente
estalando os lábios, e sim. Sim, ele definitivamente estava
babando, e isso não deveria ser fofo. Especialmente porque as
autoridades podem considerar oficialmente seu trailer uma área
de desastre a qualquer momento, apesar de seu design
relativamente luxuoso.
Ele não conseguira localizar o controle remoto da televisão
durante toda a semana. Embalagens de doces e copos de café
descartáveis cobrem a mesa, o pequeno pedaço de balcão na
cozinha e um local infeliz perto da lata de lixo. Livros e pilhas
de roupas descartadas estavam espalhados pelo chão. Ontem,
ela encontrou uma maçã abandonada e meio comida no chão
do minúsculo chuveiro.
Ela não tinha uma boa explicação para aquela maçã.
Bem, na verdade, ela tinha. Ele tomava remédios para
TDAH abertamente todas as manhãs – no primeiro café da
manhã juntos, ele sacudiu o frasco de comprimidos a um
centímetro do nariz dela e gritou:
— Eu tenho Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade, Babá Clegg! Imagine isso! — Mas nem sempre
fazia efeito antes de ele chegar ao set, e não era uma droga
milagrosa.
Em seu treinamento, ela não se especializou no distúrbio.
Ainda assim, ela sabia o básico. Seu remédio o ajudaria a
direcionar sua atenção para onde ele queria por períodos mais
longos, mas os problemas de função executiva persistiriam
apesar dos remédios. Diariamente, ele provavelmente
enfrentava dificuldades de gerenciamento de tempo,
desorganização e impulsividade.
A falta de descanso adequado e o estresse excessivo tornaram
o gerenciamento do TDAH muito, muito mais difícil. Dadas
as circunstâncias, então, era uma maravilha que ele ainda
estivesse chegando ao trabalho a tempo e fazendo suas cenas
todos os dias.
O livro de receitas no assento ao lado dela tinha um lindo
pão na capa. Distraidamente, ela passou a ponta do dedo sobre
aquela bola dourada, olhou para longe e considerou tudo o que
havia observado.
Ele tinha uma mente curiosa, assim como uma língua afiada.
Ele era um trabalhador esforçado. Ele era amigável com os
colegas de trabalho abaixo dele na hierarquia da série.
Ele era –
Ele estava acordado. Olhando para ela de sua cama, olhos
cinzentos, alertas e vigilantes.
Quando ela se virou para encará-lo? E exatamente quanto
tempo ele estava observando ela observá-lo sem dizer uma
única palavra?
— Eu, uh… — Aturdida, ela entrelaçou os dedos e os bateu
juntos. — Eu estava notando o quanto seus hematomas
desapareceram.
Ele não se moveu.
— Você estava?
A voz dele. Era... era sinuosa. Podia envolver palavras,
torcendo-as em um ronronar ou um apelo, ou o estalar de um
chicote, e mesmo que ela o estivesse estudando continuamente
por cinco dias seguidos, ela não tinha ideia de como.
Ela engoliu em seco, incapaz de reunir qualquer tipo de
resposta coerente enquanto aqueles olhos atentos
permaneciam fixos nos dela.
O peso de seu olhar a cobriu. Ele se arrastou em sua boca,
separando seus lábios. Tornou seus membros pesados. Ele
transformou seus pensamentos em um zumbido distante.
Então, ele finalmente desviou o olhar, em direção ao seu
laptop no chão. Sua próxima inalação tremeu audivelmente, e
seu peito doeu – ela realmente parou de respirar em algum
momento? Uau.
Não é à toa que o homem ganhou um trailer enorme. Isso
era poder bruto de estrela em ação.
Graças a Deus ele escolheu atuar em vez de, digamos, fundar
um culto.
Ele se sentou, e o cobertor de lã que o cobria caiu em seu
colo.
— Fanfiction. Disserte.
Todos os seus músculos pareciam estar funcionando
novamente. O que era conveniente, já que inclinar a cabeça em
confusão exigia a ajuda deles.
— O quê?
— Ficção de fã. — Ele falou devagar, como se fosse para uma
criança idiota. — Ficção escrita por fãs, com personagens
favoritos de livros, programas de televisão e filmes.
— Ah... — Sua melhor amiga, Sionna, às vezes lia fanfics, se
Lauren se lembrava corretamente. — O que tem?
— Eu me perguntei se você já tinha lido alguma antes. O que
você achou dela? Se você seguiu algum escritor específico. —
Ele soltou um suspiro dramático. — Eu esperava uma conversa
inteligente sobre o assunto, mas infelizmente…
Tirando o cobertor do colo, ele se levantou.
— Alguém que conheço escreve fanfics, e essa pessoa quer
que eu ajude a revisar e dar feedback sobre suas histórias. Mas
eu não posso dar um feedback útil a menos que eu saiba como
é uma boa história, então eu tenho lido fics sobre o Cupido.
Aquelas com mais likes.
Ela esfregou a testa, fazendo uma nota mental para
pesquisar fanfiction e sua terminologia relacionada na viagem
de avião de volta para Los Angeles.
— Deus, você é lenta. — Ele revirou os olhos. — Os likes
são basicamente um sinal de positivo. Quanto mais você tem,
mais pessoas gostam da sua fic.
Ah. Esses tipos de likes.
— E depois de toda a sua leitura, você descobriu como é
uma boa história?
Seu rosto se dividiu em um sorriso de autossatisfação.
— Talvez não, mas descobri como é uma história popular,
pelo menos no fandom Cupido/Psiquê. E queria pedir sua
opinião. Quando você pensa no Cupido, você…
Ele fez uma pausa, os lábios pressionados juntos.
— O quê? — Distraidamente, ela ajeitou as almofadas do
sofá e empilhou os livros na mesa de centro em uma pilha
organizada. — Eu o quê?
— Não. — Ele deu uma pequena sacudida na cabeça. —
Esqueça.
Alex atingiu algum tipo de limite de conversação? Alex?
Ela tinha que saber.
— Diga-me.
— Não posso. — Sua voz não era um ronronar ou um estalo
de chicote agora. Foi um gemido. — Você não é minha
empregada, mas ainda está trabalhando e eu não posso.
Ela o estudou.
— Isso é algo sexual?
Era a conclusão óbvia, baseada em um simples fato: além de
seu primeiro encontro, quando ele sugeriu zombeteiramente
chamá-la de Senhora Lauren, nenhuma de suas intermináveis
zombarias jamais envolvera sexo. Nem uma única vez. O que
não o tornava exatamente um santo, mas certamente o
removeu do círculo do inferno reservado para homens
sexualmente predadores.
Parando para pensar sobre isso, desde aquela referência de
pássaro durante seu primeiro e tenso impasse, ele também não
zombou de sua aparência, além de sua altura. Alex Woodroe era
terrivelmente difícil de compreender às vezes.
Não neste caso, no entanto, ele inclinou a cabeça, e essa foi
a resposta dela.
— Então, sim, é sexual. — Ela fechou os olhos por um
momento, já sabendo que suas próximas palavras
provavelmente seriam um erro. — Ok. Eu não vou ficar
ofendida. Apenas me diga.
Ele olhou para ela através de uma mecha pendurada de seu
cabelo desagradavelmente brilhoso.
— Sério?
— Sim, realmente. — Quando ele ainda hesitou, ela abriu as
mãos em exasperação. — Bem, eu não vou te implorar, Alex.
— Tudo bem, então. Mas lembre que tentei exercer algum
autocontrole. De uma vez. — Endireitando-se, ele apoiou os
punhos nos quadris e sorriu para ela. — Aqui está o que eu
quero saber: Cupido parece um bottom para você?
— Um bottom? — Ela franziu a testa, perdida. — Como
um idiota, você quer dizer? Porque, claro, a maneira como ele
trata Psiquê às vezes...
— Sexualmente — ele a lembrou impacientemente. —
Sexualmente, mulher lerda.
— Oh. — Ela pensou por um momento. — Oh.
Seu autocontrole incomum desapareceu, possivelmente
para nunca mais ser visto.
— Porque todas as fics mais populares do Cupido parecem
envolver Psiquê o penetrando. Muitas vezes com dildos
descritos como tendo a mesma largura que seu antebraço, o que
é um pouco alarmante. — Ele olhou para o braço dela,
claramente fazendo alguns cálculos mentais, então estremeceu.
— E, dentro do fandom, o consenso popular diz que meu
personagem é claramente um passivo, e não tenho certeza se
entendo completamente o porquê.
Ela entendeu. Agora que ela entendeu o contexto, ela
entendeu totalmente.
— Você…— Alex acenou com a mão para ela. — Você sabe
das coisas. Explique-me.
Você sabe das coisas?
Foi talvez o elogio mais desdenhoso e descuidado que ela já
recebeu. Foi também, no entanto, uma afirmação correta. Ela
sabia das coisas.
E dado sua especialidade de conhecedora de coisas, ela ficou
chocada por não ter considerado o possível status de passivo do
Cupido até agora. Droga, ela leu os livros de E. Wade várias
vezes. Como ela havia ignorado a maneira como a flecha
especial de Cupido se inclinava mais alto sempre que Psiquê
estava em cima? E se os livros não lhe deram pistas suficientes,
a série deveria ter dado.
Em retrospecto, a expressão de Cupido depois que Psiquê o
empurrou contra a parede e prendeu seus pulsos enquanto ela
o beijava deveria ter dito tudo a Lauren. Tudo.
Alex não tinha percebido o que seu rosto estava fazendo
naquela cena? E como todos eles não perceberam as
implicações de Cupido? Definitivamente, ele é a Conchinha
Menor de tudo isso?
— Você está mesmo prestando atenção em mim? — O nariz
perfeito de Alex se ergueu no ar, e ele a cheirou. — Você
percebe que sua desatenção é extremamente rude, correto?
Ah, mas agora era tarde demais para insultos. Ele disse a ela
que ela sabia das coisas.
Por que isso a fez se endireitar e estufar um pouco o peito?
E mesmo enquanto ela se envaidecia, por que ela queria tanto
rir? Dele e dela também?
Ela não riu. Mas ela aproveitou o momento.
Agora, mesmo que apenas por um momento fugaz, ela
estava em vantagem com Alex. Ela pretendia se divertir.
— Muito bem, então. — Com um movimento do braço, ela
gesticulou para o sofá. — Sente-se, Alex. A babá Clegg
explicará os pássaros, as abelhas e os passivos para você.
— Puta merda — Ele gemeu.
Mas dane-se se ele não se sentou.
4
— Ei, Lauren — Alex disse, observando avidamente sua
expressão. — Se eu te chamasse de esponja grudenta, o que
você diria?
Para a decepção dele, ela não reagiu visivelmente. Em vez
disso, ela continuou franzindo a testa para a parede de janelas
com vista para uma das muitas pistas do aeroporto espanhol.
— Em resposta a uma tentativa tão transparente de
provocação? — Sua voz estava preocupada. — Eu não diria
nada.
Ela deu um pequeno aceno decisivo, então se levantou da
poltrona muito larga e muito pesada que havia escolhido no
salão de negócios quase vazio. Antes que ele pudesse reagir ou
fazer isso por ela, ela ergueu a cadeira, aproximou-a das janelas
e se jogou de volta em seu abraço acolchoado.
Então, ela pegou seu kindle e inclinou sua cabeça estúpida e
chata sobre ele novamente, combinando palavras com ações.
Droga. Sua carcereira às vezes era frustrante para caralho.
Não que ela notasse, mas ele não a deixaria escapar de sua
órbita tão facilmente. De pé, ele moveu sua própria cadeira para
mais perto das janelas e ainda mais perto dela do que antes.
Colocando-a de lado com um pequeno grunhido, ele
estudou a cadeira com atenção antes de se voltar para ela.
— Aquela cadeira é pesada para caralho. — Ele deu um
empurrão para dar ênfase, e não se moveu um centímetro. —
Você está empurrando carros no seu tempo livre, ou o quê?
Sua testa ainda estava franzida, e ela estava mais uma vez
reajustando seu pequeno rabo de cavalo triste. Até onde ele
sabia, ela ainda não tinha aberto uma nova página em seu livro.
— Eu sou forte. — Ela lhe lançou um olhar breve e abstrato.
— E não xingue em público. Há crianças aqui.
Em sua nova posição ao lado das janelas, a luz do sol
implacável banhava seu perfil, e ele conseguiu. Ele finalmente
conseguiu. Ela não apenas o lembrava de um pássaro, ela o
lembrava de...
— Picasso! — Ele apontou um dedo em sua direção. —
Você parece um retrato de Picasso!
Ele se recostou na cadeira, cruzando um tornozelo sobre o
joelho, inteiramente triunfante.
— Muito obrigada. — Havia um certo tom sarcástico em
suas palavras, um tom que ela geralmente não tinha.
Agora ele estava franzindo a testa também.
Picasso era um de seus artistas favoritos. Em casa, vários
livros de mesa de café das obras de Picasso estavam expostos nas
prateleiras da biblioteca, e Alex folheava suas páginas com
frequência.
Ele amava Picasso há... décadas. Trinta anos.
Sem seu pai presente, sua mãe não tinha muito dinheiro
quando Alex estava crescendo. Durante os verões longos e
pegajosos na Flórida, quando ela conseguiu acumular tempo
suficiente de férias em um de seus empregos de varejo e
economizou alguns dólares preciosos, eles não voaram para
lugar nenhum ou fizeram cruzeiros. Em vez disso, eles fizeram
viagens pela costa.
Fort Lauderdale. Santo Agostinho. E um momento
memorável como Miami.
Eles ficaram em um motel barato nos arredores da área para
economizar dinheiro, mas se aventuraram no coração da
própria cidade vibrante durante as manhãs calmas e úmidas,
antes que as inevitáveis nuvens de tempestade surgissem todas
as tardes.
Em um museu de arte lá, eles se depararam com uma
exposição especial. Um dos retratos de Picasso, emprestado por
um mês. Na época, ele tinha sete ou oito anos, talvez. Ainda
não medicado, então ele correu por aquele museu como um
dos famosos e aterrorizantes furacões da região, verificando
aleatoriamente um ou dois itens da lista de caça ao tesouro
infantil que ele recebeu na entrada, mas principalmente apenas
causando estragos e gritos.
Até que viu o Picasso e parou.
Aquele retrato – não se parecia com nenhum que ele já
tivesse visto antes. Tinha cores manchadas. Recursos
incompatíveis. Ângulos salientes e assimetria deliberada e
desafiadora.
A mulher naquele retrato não era bonita. Mas a beleza não
era o ponto.
Ele ficou hiperfocado naquela pintura. Quando sua mãe
tentou convencê-lo a seguir em frente, ele gemeu até que ela
desistiu e o deixou olhar um pouco mais.
O rosto de Lauren chamou sua atenção da mesma forma.
Mas na luz do sol do meio da manhã, as bolsas sob seus olhos
eram mais evidentes, as linhas entre a boca e a testa mais nítidas.
Ela parecia cansada e estressada. Do jet lag persistente e da
perspectiva de mais viagens por vir? A tensão de vigiá-lo?
— Vou comprar um pouco de comida — ela disse
abruptamente, e saltou da cadeira.
Antes que ele pudesse segui-la, um homem de terno
apareceu e pediu um autógrafo. Enquanto Alex fez a habitual
conversa casual – sim, ele era aquele ator; muito obrigado por
suas amáveis palavras; não, ele não podia revelar nada sobre a
última temporada – ele manteve o controle de sua visão
periférica sobre Lauren.
Ela empilhou queijo e uvas e algum tipo de prato de batata
em seu prato, e tudo parecia muito melhor do que a maçã que
ele pegou no caminho para seus assentos. Então, assim que ele
terminou com o fã, ele se juntou a ela na frente da vitrine de
pequenos sanduíches e omeletes, onde ela ficou parada por
pelo menos alguns minutos.
Seu olhar vago não vacilou da oferta de presunto serrano e
manchego. Ela não lhe deu um pingo de atenção.
Finalmente, ele passou por ela e pegou um sanduíche com
uma pinça, colocando-o em seu pequeno prato branco. Então,
com um encolher de ombros, ele pegou um segundo também
– porque presunto e queijo seco e aioli, hum – e se virou para
ela.
— Você está tentando pegar seu sanduíche via telepatia? —
Ele acenou com a mão na frente dos olhos dela. — Ou
simplesmente dormindo em pé?
Ela começou.
— Oh. Desculpe. Estava pensativa.
Com um suspiro quieto, ela pegou a pinça dele e pegou seu
próprio sanduíche.
Os dois realmente não ficaram lado a lado por uma
quantidade significativa de tempo antes. Eles estavam
geralmente sentados ou em movimento, ou à distância um do
outro.
Puta merda, ela era ainda mais baixa de perto e parada.
— Oi, Lauren. — Ele observou enquanto ela transferia uma
pequena omelete de chouriço para o prato. — Quando estamos
um ao lado do outro, parece que estamos ilustrando uma
canção de ninar ou um conto de fadas.
Ela bateu o prato no balcão com um estalo distinto, e ele
pulou um pouco.
— Isso é uma referência a Jack Sprat? — Sua mandíbula
macia estava firme, aqueles surpreendentes olhos verdes
ardendo de raiva. — Se sim, eu realmente apreciaria uma
tentativa de conter suas tendências idiotas, pelo menos até
voltarmos para LA.
Jack Sprat? Que porra?
Ele vasculhou sua memória, mas...
Jack Sprat não podia comer gordura. Sua esposa não podia
comer carne magra.
— Ou eu sou o troll debaixo da ponte, enquanto você é o
príncipe dourado? — A cor manchada floresceu em suas
bochechas, e ela pegou seu prato e marchou em direção às
cadeiras. — De qualquer forma, guarde para você, Woodroe.
Ela pensou que ele estava tirando sarro de seu peso ou a
chamando de feia. E pela primeira vez em seu breve
conhecimento, ela não parecia nada calma. Ela parecia
assassina, nervosa e abalada.
Merda. Agora ele não podia nem provocá-la sobre usar uma
obscenidade na frente de crianças. Pelo menos, não até que ele
tentasse se explicar melhor.
Em seu assento, ela se afastou dele e em direção à janela, e ele
se recusou a falar direcionado à parte de trás de sua cabeça.
Depois de um momento de reflexão, ele colocou seu prato em
uma mesa próxima e arrastou sua própria cadeira na frente dela,
perto o suficiente para que seus joelhos quase se tocassem
quando ele se sentou novamente.
Ele abaixou a cabeça para chamar a atenção dela, sem
sucesso.
— Normalmente, sou relutante em me defender de
acusações de babaca, pois elas normalmente são bem
justificadas.
— Eles são. — ela murmurou.
— Eu só quis dizer que você parece ainda mais baixinha de
perto, quando nós dois estamos de pé. Só isso. — Ele esperou
até que seu olhar desconfiado lenta, lentamente se erguesse para
encontrar o dele. — Eu juro, Lauren.
Finalmente, ela inclinou a cabeça em reconhecimento e
soltou um suspiro lento.
Quando ela falou, sua voz estava pesada de fadiga.
— Eu sinto muito. Eu não deveria ter brigado com você.
Pela primeira vez, ele não falou para preencher o silêncio, e
foi recompensado por sua contenção.
— Não dormi bem. Quero dizer, eu não durmo bem
ultimamente, mas eu especialmente não dormi bem na noite
passada. — Sua pequena mão varreu em direção à pista, onde
um jato de passageiros estava descendo o asfalto e pronto para
voar. — Eu odeio voar.
Tão perto dela, ele podia ouvi-la engolir.
— Eu conheço toda a ciência por trás disso, mas quando
você está realmente no avião, parece tão instável. — Seus lábios
pálidos franziram. — Além disso, eu sempre acabo com as
coxas machucadas por causa dos descansos de braço. E às vezes
eles têm dificuldade de encontrar um extensor de cinto de
segurança, ou meus companheiros de assento reclamam que
estou ocupando muito espaço. Não é divertido.
Ao pensar em um estranho insultando-a, sua pele se
arrepiou sob sua camiseta macia.
— Se alguém for rude com você, eu posso lidar com isso.
— Não. — Quando ele começou a protestar, ela falou sobre
ele. — Não. Eu não confio em você para não piorar as coisas, e
eu disse que não queria ser o meio pelo qual você tem
problemas com Ron e RJ. Eu falava sério.
Ele a encarou.
— Você quis dizer que não queria ter que reportar sobre
mim, não que eu não pudesse...
— Eu não estou me entretendo com a discussão sobre o
assunto. — Ela ergueu o queixo e olhou para baixo daquele
nariz torto para ele. — Muito obrigada.
Quando ele fez uma espécie de grunhido em seu peito, ela
revirou os olhos.
Depois de um momento, porém, ela falou novamente, sua
voz mais suave.
— Quero dizer isso sinceramente, a propósito. Obrigado
pela oferta.
— Os assentos na classe executiva são muito mais largos do
que na classe econômica. — ele disse a ela mal-humorado, o
lábio inferior ainda aparecendo um pouco. — Isso deve ajudar
com a questão dos hematomas.
— Bom saber — ela disse, então empurrou a cadeira dele. —
Agora vá embora e me deixe comer meu sanduíche em paz,
Woodroe.
Ele deixou sua cadeira exatamente onde estava, e isso aliviou
seus sentimentos consideravelmente.
Enquanto mastigava sua deliciosa baguete, ele deu a ela
alguns minutos de silêncio e a estudou. As linhas em seu rosto
se suavizaram um pouco, mesmo que as sombras sob seus olhos
não tivessem ido a lugar nenhum. Ela não estava mais puxando
seu rabo de cavalo, e, na verdade, estava tocando a tela de seu
kindle para virar as páginas em intervalos regulares.
— Pare de me encarar. — Ela não olhou para cima, o que
era extremamente insatisfatório.
Deixando clara sua relutância com uma expiração pesada e
prolongada, ele voltou sua atenção para as janelas, onde um
avião enorme estava taxiando na pista. Ele pegou voo e voou
em direção ao sol em um gracioso mergulho.
Ele mal percebeu.
Hoje foi literalmente a primeira vez que ele viu sua babá
tudo menos calma. Nem mesmo quando seu primo a insultou.
Naquela manhã, ele se perguntou se o desdém de Ron a
incomodava, porque não parecia. Alex tinha invejado essa
aparente impermeabilidade, francamente. Sua pele sempre foi
um pouco mais fina do que deveria ser. Talvez muito fina para
sua profissão escolhida.
Ele não pretendia ferir seus sentimentos hoje. Mesmo que
ele tivesse feito isso de qualquer maneira, era apenas mais um
delito para jogar no topo de sua já enorme pilha de
arrependimentos. Ainda assim, ele agora sabia que ela tinha
sentimentos reais, o que era reconfortante. E talvez ela tenha
brigado com ele, mas ele sempre preferiu uma reação honesta
ao invés de artificial.
Alguém como ela não perderia a paciência com alguém em
quem não confiasse pelo menos um pouco, certo?
Sim, ele estava claramente a caminho de encantá-la
completamente. O que significava que era hora de aumentar
seus esforços e apresentá-la às maravilhas de bottoms
encharcados, babados e esponjas barulhentas.
— Você brigou comigo sem motivo, babá Clegg. — Ele
escolheu um tom lisonjeiro, um garantido para irritar seus
nervos. — Você não vai me recompensar de alguma forma?
— Eu me desculpei. — Arrastando o dedo, ela destacou
uma passagem em seu kindle — Isso deve ser uma recompensa
suficiente.
— Não é.
Ela olhou para ele, os olhos semicerrados com desconfiança.
Então ela suspirou e colocou o livro de lado.
— O que você quer, Alex?
Dez minutos depois, eles estavam reunidos em torno de seu
laptop e transmitindo a temporada de Nadiya – a melhor
temporada – de The Great British Bake Off. Lauren concordou
relutantemente em assistir os primeiros episódios com ele. Em
troca, ele prometeu deixá-la dormir em paz durante toda a
viagem de avião, embora ele também tenha cruzado os dedos
nas costas enquanto fazia essa promessa, então ele não poderia
ser responsabilizado por suas ações acima do Atlântico.
Enquanto observavam, sua postura relaxou minuto a
minuto, até que seus ombros não pairavam mais perto de suas
orelhas. Suas coxas, cobertas por leggings elásticas para a longa
viagem, se afastaram mais quando ela se inclinou para mais
perto do monitor.
E agora, quando ela se mexeu na cadeira, ele viu algo
realmente muito interessante. Na região do peito. Não que ele
estivesse olhando para os seios dela, que não eram
especialmente notáveis. Mas o que estava em cima daqueles
seios era.
Ele fez uma pausa no episódio.
— Ei, Lauren?
Semicerrando os olhos, ela exalou pelo nariz.
— Sim, Alex?
— O que é Big Harpy Energy? — Ele sacudiu um dedo em
sua camiseta. — E onde posso conseguir?
BHE: BIG HARPY ENERGY, a camisa dizia em letras
grandes e em negrito. Em um texto menor abaixo, havia uma
hashtag: #CRONEGOALS.
— Já ouvi falar da Big Dick Energy — observou ele com um
sorriso malicioso — e, segundo todos os relatos, sou um
exemplo primordial desse particular...
— Pode parar, Woodroe. — Ela olhou para seu peito, então
deu de ombros. — Minha melhor amiga, Sionna, perdeu o
marido há cerca de cinco anos. Alguns meses depois, ela
anunciou que estava fundando o Harpy Institute for Crone
Sciences. Ela perguntou se eu queria me juntar a ela e torná-la
uma instituição para duas pessoas e, novamente, ela é minha
melhor amiga, então…
Outro pequeno encolher de ombros, como se dissesse: Sério,
o que mais eu poderia fazer?
Ele inclinou a cabeça.
— The Harpy Institute for–
— Crone Sciences. — ela confirmou. — Sionna surgiu com
a hashtag CroneGoals. Eu desenhei as camisetas. Nós nos
reunimos duas vezes por mês para beber vinho, assistir a
programas de TV e revisar nosso progresso nas Artes da
Megera.
Ela olhou para a tela do laptop, claramente impaciente para
ele reiniciar o show, mas não. Não depois daquela bomba.
Se ele não soubesse mais do que isso, ele pensaria que a Babá
Clegg ocasionalmente se divertia... divertia?
Não, isso não podia estar certo.
Mas como alguém que desenhou e vestiu uma camiseta Big
Harpy Energy poderia ser totalmente desprovido de humor?
— Você desenhou as camisetas. — ele disse lentamente. —
Plural.
— Sim.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Posso ver as outras?
— Agora não, você não pode. Eles estão no meu duplex. —
Ela gesticulou impacientemente para a tela. — Podemos
continuar assistindo? Eu não acho que todos os competidores
terminarão a tempo.
Inclinando-se para trás em sua cadeira, ele empilhou as mãos
atrás da cabeça e sorriu para ela.
— Você percebe que um estraga prazeres não é exatamente
a mesma coisa que uma harpia, correto?
As pontas dos dedos massageavam suas têmporas.
— Imagino que estejam em algum lugar ao longo do mesmo
Crone Continuum.
— Não necessariamente. Por exemplo, alguns estraga
prazeres são educados, contidos e sujeitos a regras. — Ele
ergueu as sobrancelhas significativamente e olhou fixamente
para ela. — Enquanto a Big Harpy Energy implica uma certa
liberdade, sim? De regras e culpa e expectativas?
— Eu me lembro de alguém nesta sala brincando com culpa
de um estraga prazeres apenas alguns minutos atrás. — Ela
olhou para ele. — Eu não ouvi nenhuma reclamação na hora.
— Oh, eu não estou reclamando. — ele disse alegremente.
— Apenas apontando que a aquisição da BHE exigirá esforço
de sua parte. Você tem algumas tendências harpias latentes, é
verdade. Você demonstrou isso pelos sanduíches. — Ele
acenou com a cabeça em direção ao bufê. — Mas certamente
não é a Grande Energia Harpia. Ainda não. Podemos trabalhar
nisso.
Ele queria ver. Babá Clegg livre e irrestrita.
Se ela agisse como uma harpia, pelo menos estaria presente
com ele, não emaranhada em seus próprios pensamentos. Um
participante, não um observador.
Claro, ela foi civilizada e profissional e manteve sua parte de
suas várias barganhas durante a semana. Mas, na maioria das
vezes, tê-la como companheira era como dividir um quarto
com um fantasma. Ele poderia ser capaz de interagir com ela,
mas ela era fundamentalmente intocável.
Não que ele pretendesse tocar Lauren, uma mulher que era
– em essência – sua colega de trabalho. Mas ele pretendia vê-la
sorrir. Rir, mesmo.
Ele poderia fazê-la fazer as duas coisas.
Ele a faria fazer as duas coisas.
— Que seja — Esticando o braço, ela tocou no touchpad
para retomar o show. — Hora de descobrir quem sovou sua
massa por tempo suficiente.
— Você já ama a série! — Oh, ele adorava estar certo. Se
exibir sempre foi incrível. — Eu sabia!
Sua expressão permaneceu serena.
— É boa.
Ele ficou boquiaberto para ela, horrorizado.
— Blasfêmia.
— Shhh. — Ela levantou um dedo indicador de advertência
aos lábios. — Estou tentando ouvir.
Apesar da severidade de seu tom, os cantos de sua boca
estavam dobrados para dentro novamente, só um pouquinho,
e ele estreitou os olhos para ela.
Ela estava dando corda para ele de propósito? Ela estava...
ela estava brincando com ele?
Ainda ponderando sobre o assunto, ele se acomodou para
assistir à primeira rodada de julgamento. Apenas para ser
cutucado uma quantidade indeterminada de tempo depois,
despertado por dedos suaves tocando seu braço.
Ele piscou para acordar, para encontrar Lauren. Debruçada
sobre ele, aqueles olhos incongruentemente lindos dela, gentis
e pacientes.
Ela falou baixinho:
— É hora de chegar ao nosso portão, Alex. Esperei o
máximo que pude.
Quando ele se mexeu, o cardigã dela caiu em seu colo. Ela o
cobriu?
— Grogue, né? As sonecas podem fazer isso com você. —
Antes que ele registrasse suas palavras, sua mão pequena e
quente deslizou na dele, e ela o estava ajudando a ficar de pé. —
Tudo bem. Vamos levantar.
Estupidamente, tudo o que ele podia fazer era olhar para ela
e pensar: esta é a primeira vez que nos tocamos desde que
apertamos as mãos no dia em que nos conhecemos.
— Firme agora? — Quando ele assentiu, incapaz de
encontrar palavras, os dedos dela escorregaram.
Em seguida, eles estavam juntando seus pertences e andando
pelo longo corredor em direção ao portão, a bagagem rolando
ao lado deles. Mais ou menos na metade do caminho, ele
conseguiu encontrar seu juízo e sua língua mais uma vez.
— Eu agradeceria sua ajuda — ele disse, — se eu não
estivesse tão desapontado por sua baixa energia de harpia
quando você me acordou.
Ele praticamente podia ouvir os olhos dela rolarem.
— Da próxima vez, eu vou te acordar com um chute.
Suas palavras eram tão secas quanto o ar no terminal, e ele
sorriu.
— Muito melhor. — Ele abaixou a cabeça em aprovação. —
Isso constituiria Energia Média de Harpia, no mínimo. Talvez
até Energia Substancial de Harpia.
— Que maravilhoso. — Aquele tom inexpressivo era
glorioso, realmente. — Estou ansiosa para te causar dor no
futuro, então.
Ele bufou com a investida, mas não porque acreditasse nela.
A essa altura, mesmo um homem tão egocêntrico e desatento
como ele sabia a verdade.
Ela não iria machucá-lo, mesmo que ele merecesse.
E em algum momento, ele definitivamente faria. Ele
também sabia disso.
Lançando um olhar de soslaio para ela, ele estalou os dedos
de sua mão livre.
— Tente fazer essas suas pernas de Smurf se moverem mais
rápido, babá Clegg. Você vai nos atrasar para o nosso voo.
Enquanto ela olhava para ele incrédula, ele sorriu de volta
para ela com satisfação.

Porra, era bom estar em casa.


O assistente pessoal virtual de Alex havia providenciado o
serviço de carro do LAX e, depois de um dia terrivelmente
longo de viagem, o sedã elegante estava finalmente chegando à
sua casa em Beachwood Canyon.
Lauren levantou a cabeça do banco traseiro macio e
acolchoado, e seus olhos turvos se arregalaram.
— Aquilo é…
Assim que o carro parou, ela desceu e parou em sua calçada
circular, as mãos em punhos em seus amplos quadris.
— Você... você tem um mini castelo. — Sua voz vacilou. —
Com torres, e uma fortaleza.
Então ela jogou a cabeça para trás e riu.
O som alegre flutuou pelo céu noturno, rico e quente,
brilhante com o sorriso transformando suas feições em quase
beleza, e...
E ele não conseguia desviar o olhar.
Porra, ele não conseguia desviar o olhar.
Mensagens com Marcus: Tarde de Domingo

Alex:
Obrigado porra, finalmente estamos em
altitude de cruzeiro
Tão entediado
A babá Clegg está dormindo e me fez prometer
não acordá-la a não ser nas refeições, porque
ela é cruel e quer que eu sofra

Marcus:
Talvez ela esteja apenas cansada?

Alex:
ELA ESTÁ CANSADA DE PROPÓSITO, PARA ME
FRUSTRAR

Marcus:
Além de seu cochilo malicioso, como estão as
coisas com Lauren?

Alex:

Marcus:
Alex?

Alex:
Ela diz que GBBO é “bom”
TEMPORADA DE NADIYA, MARCUS
Como é que eu vou aguentar tanto
Eu nem sei a palavra certa para isso, nada é
suficiente

Marcus:
Equívoco?

Alex:
Talvez ela realmente seja uma harpia

Marcus:
Uma harpia???
Isso é ruim. Melhore, cara.

Alex:
PQP
NINGUÉM ME ENTENDE
Quer saber? Eu não ia te dizer, mas agora eu
vou
Acabei de encontrar um tesouro de fics
obscenas de Aeneas/Cupido

Marcus:
Não, não quero saber

Alex:
Aparentemente nosso ponto de interseção é
Aeneid

Marcus:
Inteligente, mas ainda NÃO

Alex:
Só queria agradecer por todo aquele amor
carinhoso

Marcus:
AI MEU DEUS PARE

Alex:
Sua resistência foi realmente impressionante
Também sua circunferência

Marcus:
AGGGGGH

Alex:
Boa sorte para esquecer essa conversa, meu
pai severo, mas amoroso

Marcus:
EU TE ODEIO TANTO

Alex:
Vou tirar uma soneca agora, tchauaaa

Marcus:

Alex:
5
Alex estava olhando para ela com a expressão mais
estranha em seu rosto enrugado de cansaço.
Depois de uma última bufada, Lauren conseguiu conter sua
hilaridade bêbada. Usando o decote de sua camiseta, ela
enxugou a umidade sob seus olhos.
— O quê? — Ele se apoiou na porta do sedã, aparentemente
sem saber que a motorista havia retirado com eficiência toda a
bagagem do porta-malas do carro e aguardava sua atenção. —
O que é tão engraçado?
A risada incomum machucou sua garganta um pouco, e ela
alcançou dentro do banco de trás sua garrafa de água esquecida.
Depois de um gole, ela fechou a porta e acenou com a mão
desdenhosa.
— Você vai descobrir em breve. — Ela inclinou a cabeça em
direção à motorista paciente. — Vamos permitir que essa pobre
mulher continue com sua noite.
— Oh— Em um movimento assustado, ele se virou para a
motorista uniformizada, colocou o que parecia ser uma gorjeta
substancial em sua mão e acenou para que ela se afastasse.
O sedã completou o círculo da entrada de automóveis e
desapareceu na estrada estreita e sinuosa de Beachwood
Canyon enquanto Lauren fazia um balanço dos arredores.
Se ela tivesse um cachorro chamado Totó, ela o informaria
que eles não estavam em NoHo mais. Eles estavam, na verdade,
logo abaixo do letreiro de Hollywood, empoleirados no alto de
uma montanha, em um bairro onde moravam pessoas ricas e
famosas, em vez de não-entidades de classe média como ela.
No caminho para sua casa, subindo e descendo novamente
naquelas pequenas estradas, eles passaram por inúmeras casas
enormes e impecavelmente bem cuidadas. Não, propriedades.
Aqueles com uma variedade impressionante de estilos
arquitetônicos que vão desde o colonial espanhol até – bem, o
Mini-Castelo Alemão com Torres.
Um mini-castelo com um fosso estreito e raso cheio de
suculentas, que os visitantes atravessavam por uma pequena
ponte levadiça, claro. Claro que Alex tinha um castelo, um
fosso e uma ponte levadiça. E o que parecia ser estábulos de um
lado. Ele tinha a porra de cavalos?
Qual era o nome daquela reportagem da revista? Ah, certo:
Estrelas – elas são como nós!
Nãooooo.
Se ela virasse para um lado, as luzes do centro de LA
brilhavam abaixo. Uma meia volta, e a montanha se estendia
ainda mais alto, aquelas letras icônicas surpreendentemente
próximas.
De repente, ele estava surpreendentemente perto também.
Sem tocá-la, mas perto o suficiente para exalar um calor
perceptível.
— Eu poderia te dar um tour pela casa principal e terrenos
esta noite, se você quiser. — Suas mãos enfiadas nos bolsos da
calça jeans, ele olhou para ela. — Ou eu posso apenas encontrar
comida para nós, mostrar a casa de hóspedes e deixar tudo para
amanhã.
Como ela estava faminta, pegajosa de viagem e quase caindo
de exaustão, a resposta era clara.
— A segunda opção, por favor.
Antes que ela pudesse detê-lo, ele de alguma forma
conseguiu reunir toda a bagagem e arrastá-la com ele pela ponte
levadiça até a enorme porta da frente de madeira escura com
uma aldrava de cabeça de leão. Ao longo do caminho, luzes
externas discretamente posicionadas piscavam para a vida e
iluminavam seu caminho.
Na entrada, ele largou as malas enquanto procurava as
chaves.
— Droga, elas estão em algum lugar... por… aqui…
Uma rápida olhada na propriedade não revelou nenhum
outro anexo. Ela teve que assumir que estava dormindo nos
estábulos. O que parecia apropriado, já que ela era
definitivamente uma camponesa comparada ao seu belo
príncipe.
— Ah! — Ele brandiu as chaves em triunfo. — Eu venci de
novo!
Ela manteve a voz seca como aqueles canteiros de
suculentas.
— Você tinha um oponente astuto.
Com um bip rápido de um pequeno controle remoto em
seu chaveiro, ele desativou o alarme da casa.
— Você não faz ideia, babá Clegg. — Acenando para ela à
frente, ele parou na frente de suas malas. — Depois de você.
O ar dentro de sua casa estava frio e não tão rançoso quanto
ela esperava depois de sua longa ausência. No interior, o tema
do castelo era chamativo, mas não brega. Alguém – talvez Alex,
talvez os donos antes dele – deixou toques suficientes para a
personalidade da casa, mas nada mais.
O vestíbulo de azulejos levava a uma grande área aberta com
um teto alto e vigas escuras, as paredes brancas iluminadas pela
luz quente da lâmpada. Uma enorme laje de madeira ainda mais
escura coroava uma enorme lareira de pedra, seu interior cheio
de ainda mais suculentas. A mobília – dois sofás compridos e
baixos de frente para uma televisão enorme; uma mesa de
centro com tampo de mármore; vários arranjos de assentos
menores pontuados por prateleiras abertas habilmente
projetadas – pareciam elegantes, mas confortáveis, essenciais o
suficiente para preencher, mas não lotar o espaço.
— Há um banheiro de hóspedes no final daquele corredor
— ele apontou para um corredor sombrio — se você quiser se
refrescar antes de comer. Vou ver o que Dina deixou na
geladeira para o jantar.
Quando ela se aventurou pelo corredor mal iluminado,
localizou o banheiro de hóspedes impecavelmente arrumado e
fechou a porta atrás dela, sua cabeça começou a doer –
desidratação novamente – e ela se perguntou quem poderia ser
Dina. Uma namorada que ele de alguma forma não tinha
mencionado antes, apesar de todas as suas divagações
incessantes?
Isso parecia improvável. Dina provavelmente era uma
governanta ou sua cozinheira.
Os ombros de Lauren afrouxaram. Só porque poderia ter
sido estranho conciliar sua necessidade de cuidar de Alex com
as exigências de uma namorada, que poderia
compreensivelmente querer privacidade para um reencontro
tão esperado.
Caso contrário, ele ter uma namorada não a incomodaria
em nada.
Depois de aliviar a bexiga e lavar as mãos, ela jogou mais água
no rosto. Apenas para descobrir que sua toalha de mão era feita
de algum tipo de algodão que ela nunca havia encontrado
antes, um provavelmente abençoado por anjos durante o
processo de fabricação. A toalha simultaneamente secou seu
rosto e o acariciou, e se ela não fosse uma pessoa
patologicamente honesta, ela a teria enfiado em sua bolsa.
Depois de secar a penteadeira com tampo de mármore com
outra daquelas milagrosas toalhas de mão, ela se contemplou
no espelho. Camiseta amarrotada e manchada de água.
Círculos sob os olhos tão escuros quanto o olho desbotado de
Alex. Cabelo falhado caindo de um rabo de cavalo ao acaso.
Ainda assim, ela nunca saiu de um avião tão ilesa antes.
Depois de um único voo na classe executiva, ela provavelmente
choraria de desespero na próxima vez que se sentasse na classe
econômica.
Confrontados com o charme inimitável de Alex e olhos
afiados e passagens caras, ninguém piscou para seu tamanho ou
sua necessidade de um extensor de cinto de segurança. Como
ele havia prometido, o assento mais largo deu a ela espaço
suficiente para se sentar confortavelmente. Mais do que isso,
seus diversos controles permitiram que ela ficasse quase deitada
depois de um jantar de três pratos, um cobertor acolchoado em
cima dela enquanto ela resistia a remover sua máscara de
cortesia e olhar para a esquerda, onde Alex estava sentado perto
da janela em sua fileira de duas pessoas.
Ela não tinha dormido muito, mas teve bastante tempo para
si mesma na cabine escura. Ele até manteve sua promessa,
apesar dos dedos inadequadamente escondidos que ele cruzou
nas costas, e a deixou descansar sem incomodá-la.
Provavelmente porque ele próprio tinha tirado uma soneca. Na
hora das refeições, ele a beliscava de sua maneira habitual, mas...
Ele não reclamou que ela ocupava mais do que sua parte do
amplo apoio de braço entre eles. Ele não havia comentado
como a mesa da bandeja ficava em um ângulo instável
enquanto ela comia por causa de sua barriga. E quando eles
decolaram e aterrissaram, ele de alguma forma alcançou novos
patamares de ridículo, seus apartes sussurrados tão ultrajantes,
ela acabou prestando mais atenção nele do que o baque das
engrenagens ou a visão da terra caindo longe deles, ou
aproximando-se com velocidade vertiginosa.
Ela piscou para o espelho, então percebeu que estava
olhando fixamente para seu próprio reflexo por minutos agora.
Exaustão. Isso era tudo que seu atual estágio de confusão
indicava. Fadiga de viagem.
Quando ela voltou para a grande sala, ela viu uma área
recém-iluminada ao lado. Um recanto de jantar casual, a mesa
agora posta descuidadamente com um par de guardanapos
incompatíveis e dois pratos e uma pilha de talheres no meio.
— Pegue sua própria bebida na geladeira — ela ouviu de um
canto, e ela seguiu a voz dele até uma cozinha linda, de azulejos
brancos e mármore com detalhes dourados.
Depois de pegar uma garrafa elegantemente curvada de
refrigerante de toranja das profundezas reluzentes da geladeira,
ela fechou a porta pesada e se virou para ele.
Alex estava curvado na frente de um micro-ondas
embutido, os cotovelos apoiados na bancada de mármore
enquanto observava um recipiente de vidro girar dentro.
— Espero que você goste de enchiladas de frango. Se você
não gosta, você está objetivamente errada, porque as enchiladas
de frango são deliciosas. Especialmente as de Dina. — Ele
franziu os lábios. — Ainda assim, pode haver algumas outras
refeições preparadas na geladeira, se você estiver determinada a
ser do contra e errada. Merda, eu deveria ter colocado uma
tampa sobre isso. Está estourando agora e...
Ele abriu a porta do micro-ondas e tocou a lateral do
recipiente de vidro com a ponta do dedo.
— Eles ainda estarão mornos no meio, mas vamos jogar a
cautela ao vento e comê-los de qualquer maneira. Desculpa
pela minha negligência culinária, Babá Clegg. Eu sei que você
deve estar escandalizada.
Ela se inclinou contra um balcão e cruzou os braços sobre o
peito.
— Você nunca fica sem palavras?
— Não. — Ele estalou em ênfase. — Eu continuo
consistentemente agradável em todos os momentos.
Uma vez que ele pegou um tripé de mármore para colocar
embaixo do prato, ela o seguiu até a sala de jantar. E apesar do
que ele tinha acabado de dizer a ela, ele mal disse uma palavra
depois de servir enchiladas em ambos os pratos. Com muita
fome para perder tempo falando, ela supôs. Ou talvez ele
estivesse simplesmente tão cansado quanto ela, porque ele
estava um pouco caído agora, seus cotovelos novamente
apoiados diante dele.
As enchiladas semi-aquecidas eram tão deliciosas quanto o
anunciado, picantes e ardentes e cheias de carne macia e feijão,
mas o silêncio contínuo a incomodava, por algum motivo.
Não que ela sentisse falta de ouvi-lo falar. Mas-
— Dina é sua governanta? — Duas garfadas sobraram desta
tortilha. Ela já estava de olho em uma segunda porção. — Ou
sua cozinheira?
— Ambos. Também é uma porra de uma dádiva de Deus.
Eu estaria perdido e vivendo na miséria sem ela. — Ele largou
os talheres e esfregou a mão no rosto. — Dias de semana, ela
prepara o café da manhã e o jantar, e eu costumo comer um
sanduíche ou sobras para o almoço. Ela me deixa refeições para
reaquecer nos fins de semana, como você pode ver.
— Então ela trabalha de segunda a sexta?
Ele assentiu.
— Ela chegará bem cedo amanhã de manhã. Mandei um e-
mail para ela alguns dias atrás e, como a produção a pagará
generosamente pelo trabalho extra, ela ficaria feliz em manter a
pousada limpa e preparar comida para você também, mas a
escolha é sua. Seus aposentos têm uma pequena cozinha se você
preferir cozinhar, e há produtos básicos de limpeza embaixo da
pia do banheiro. Eu devo falar com Dina o que você decidir o
mais rápido possível.
Nenhum trabalho doméstico. Nada de cozinhar, a menos
que ela quisesse fazer isso. Como ela se sentiria?
— Ah, uau. Eu adoraria que outra pessoa cozinhasse e
tirasse o pó e... — Cansada, ela esfregou as têmporas. — Não.
Não, eu não deveria deixá-la assumir tarefas que eu mesma
posso fazer. — Droga. — Por favor, agradeça a ela pela oferta,
mas–
— Eu mudei de ideia. — Sem sequer olhar para ela, Alex se
serviu de outra enchilada. — A irmã dela acabou de ter um
bebê, e Dina quer começar um fundo de faculdade para sua
nova sobrinha. Ela pulou com a perspectiva de pagamento
adicional. Você querendo a ajuda dela ou não, você tem.
A coisa certa. Ela precisava fazer a coisa certa, mas a coisa
certa era tão difícil de fazer quando ela estava tão cansada.
— Ok. — Ela bateu o garfo contra o prato. — Nesse caso,
eu ainda vou limpar a sujeira, mas ela pode dizer à produção
que está fazendo o trabalho extra e receber o dinheiro.
Ele franziu a testa, parecendo... chateado. Para ela. Mas por
quê?
— Se você dissesse isso para Dina, ela ficaria ofendida, e eu
não a culpo. Por que você está supondo que ela mentiria sobre
seu trabalho por mais dinheiro? — Exalando pelo nariz, ele se
recostou. — Você acha que eu estou obrigando-a para isso? Ou
que eu não a pago o suficiente por seu tempo e trabalho?
Porque posso te assegurar, Lauren, não estou, e eu pago. Minha
mãe limpou quartos de hotel por alguns anos, e eu sei o quão
difícil é o trabalho.
Ei, Lauren, se você precisar de um empréstimo ou algo assim,
me avise. Aquelas gorjetas generosas no restaurante do hotel. O
maço de notas que ele colocou na mão do motorista.
Não, ele não era pão duro com seu dinheiro.
— Você pode falar com ela amanhã. Certifique-se de que ela
não está sobrecarregada e sendo mal paga. Ela gosta do que faz
e é bem recompensada por isso. Ela tinha uma escolha real no
assunto, e ela queria cuidar da casa de hóspedes e cozinhar para
você. — Sob aquela barba, sua mandíbula estava projetada para
frente. — Talvez você acredite nela, mesmo que não acredite
em mim.
— Não é isso! — Como diabos ela estragou isso tão mal? —
Alex, espere.
Com um barulho alto de sua cadeira contra o piso de
madeira brilhante, Alex se levantou e estava pisando forte na
cozinha, com o prato na mão.
Ela pulou para seus pés também, doente do estômago.
— Alex. Alex. Me escute. Não é isso!
Mesmo quando ela o seguiu até a cozinha, ele a ignorou e
continuou jogando sua enchilada pela metade no triturador de
lixo. Seus ombros se tornaram duros, feixes de músculos
ofendidos sob o algodão fino de sua camiseta, e isso só fez seu
estômago revirar ainda mais.
Timidamente, ela colocou a mão naquele ombro sólido
como uma rocha, desesperada para chamar sua atenção.
Ele estava quente sob seus dedos. Ele não a afastou, mas
também não se virou.
— Alex, me desculpe. Eu não quis insultar você ou ela. Eu
só… — Merda, este dia precisava terminar logo. Ela estava tão
cansada, seus olhos estavam formigando e lacrimejando. — Eu
odeio limpar e cozinhar. É difícil para eu imaginar alguém
fazendo isso voluntariamente se tivesse outra escolha.
Com isso, ele se virou para encará-la, e sua mão caiu para o
lado.
— Mas você tem outra escolha — disse ele. — Você não é
alguém?
Ela abriu a boca para responder, então a fechou novamente.
— Eu não sei — foi tudo o que ela conseguiu dizer em
resposta.
— Entendi — O rubor de raiva em suas maçãs do rosto
desapareceu quando ele olhou para ela. — O que o Harpy
Institute for Crone Sciences diria sobre isso?
Ela fechou os olhos aliviada. Aquele sarcasmo astuto
significava que ele havia entendido. Compreendida e perdoada
pelo desrespeito descuidado.
Seus lábios se curvaram.
— Que eu não tenho energia harpia o suficiente e deveria
refazer Harpias 101: Uma Introdução às Artes Virago?
— Ahhhhhh. — Lá estava. Seu ronronar, sua respiração
baixa um lento gotejamento em sua espinha. — Essa foi sua
tentativa falha de fazer uma piada, babá Clegg?
— Pode ser. — Quando ela abriu os olhos, ele estava a
apenas alguns centímetros de distância, a cabeça baixa, os olhos
vivos com inteligência alerta apesar do cansaço. — Acho que
você nunca saberá.
O ar entre eles ficou abruptamente rarefeito, e seu olhar a
prendeu no lugar.
— Me desculpe também. — As palavras foram abruptas,
sua boca apertada. — Eu posso ser um pouco sensível demais.
Talvez eu fosse assim, não importa o que acontecesse, mas é...
uh, muito comum com TDAH. Fico mais chateado do que
deveria sempre que acho que alguém está me criticando. — A
boca dela se abriu, e ele ergueu a mão. — Mesmo quando isso
não é realmente o que a pessoa está fazendo. Eu trabalhei para
obter um coração mais duro, mas…
Ele ergueu um ombro, mas o gesto não pareceu casual. De
jeito nenhum.
Na verdade, nada disso parecia casual, e ela não entendia o
que estava acontecendo.
Limpando a garganta, ele se virou para a pia. A bolha
estourou e ela pôde respirar novamente. Ouvir algo além do seu
próprio batimento cardíaco de novo. Ver outra coisa além de
seu rosto novamente.
— Amanhã de manhã, você pode levar comida para os
estábulos ou comer aqui comigo. O mesmo para todas as outras
refeições. — Ele abriu a torneira, depois o triturador de lixo, e
esperou para falar novamente até apertar o interruptor e o
zumbido silenciar mais uma vez. — A menos que eu vá a um
restaurante, é claro, porque você não terá escolha. Você vai
precisar ser minha bola e corrente, de acordo com as instruções
de Ron.
A mudança repentina na dinâmica da situação deles a
atingiu tardiamente.
Alex acabou de filmar em um lugar isolado da costa
espanhola. Ele estava em casa e, até onde ela sabia, não precisava
se apresentar para outro emprego imediatamente. Ele poderia
ir a qualquer lugar a qualquer hora com qualquer um, e ela teria
que ir com ele.
Merda.
— Certo. Sempre que você sair de sua casa, eu o
acompanharei. — Dado que ele era uma pessoa inquieta, isso
provavelmente significaria atividade constante da parte dela.
Um gemido subiu do fundo de sua alma sitiada, mas ela não o
soltou. — Você tem planos para amanhã?
— Não. — Ele bufou. — Estou cansado pra caralho.
Pretendo dormir e comer a comida de Dina e conversar com
Marcus, só isso.
— Você não pode sair sem mim. — Era uma ordem, mas
também um apelo. — Nem uma vez.
Ele a olhou com maldade.
— Você já disse isso, babá Clegg.
Apoiando os punhos nos quadris, ela olhou para ele.
— Me prometa que não vai.
— Você acreditaria em mim?
Ele inclinou a cabeça, atento e cauteloso.
Ela pensou por um momento, só para ter certeza.
Então, ela lhe disse a verdade.
— Sim.
Com sua longa expiração, ele inclinou a cabeça. E quando
ele ergueu o rosto para ela novamente, não havia nenhum
indício de leviandade em suas feições.
— Eu prometo — disse ele.
O tempo tinha voltado a passar mais devagar, como xarope
escorrendo, mais uma vez. Suas pernas estavam tremendo de
tensão, seus lábios ressecados implorando para que ela os
lambesse.
Ele deu uma pequena sacudida na cabeça.
— Você está cansada. Deixe-me pegar suas chaves, ensiná-la
a lidar com o sistema de alarme e mostrá-la a casa de hóspedes.
Um rápido tutorial em seu painel de alarme mais tarde, eles
estavam do lado de fora de sua porta. Ele não a deixou perto de
sua própria bagagem, em vez disso, levou as malas para os
estábulos falsos.
Na entrada da casa de hóspedes, ele passou a ela um chaveiro
com duas chaves e outro pequeno controle remoto.
— Estes são seus. Uma chave e um alarme remoto para os
estábulos, uma chave para a casa principal.
Ela estudou o controle remoto, cujos botões pareciam
relativamente autoexplicativos.
— Meu primeiro evento público é terça-feira à noite. Um
leilão beneficente. Sou o anfitrião. — Seu sorriso se tornou um
pouco maligno. — Haverá um tapete vermelho. O que
significa que você terá que andar comigo, babá Clegg. Traje de
coquetel é obrigatório.
Ela esfregou as têmporas novamente.
— Vou precisar de roupas. Você terá que ir comigo quando
eu for comprar.
— Nós vamos lidar com tudo isso amanhã. Vamos, me deixa
te mostrar tudo e dizer como tudo funciona para que você
possa ir para a cama. — Com um leve toque nas costas dela, ele
a empurrou para a porta. — Mesmo jararacas e megeras
precisam descansar às vezes. Caso contrário, elas ficam com
muito sono para a megerice ideal.
— Megerice não é uma palavra.
— Agora é.
Depois de desarmar o alarme e destrancar a porta, ela entrou
nos estábulos e encontrou... o que poderia ser o apartamento
perfeito para ela.
O andar de baixo era uma grande área aberta, com cadeiras
de aparência confortável, uma televisão widescreen, uma
pequena cozinha e sala de jantar, e um banheiro de um lado.
Nem um grão de poeira para ser visto em qualquer lugar, sem
dúvida por causa do trabalho duro de Dina.
Mais bancadas de mármore branco, aparelhos inoxidáveis,
pisos de madeira brilhantes e até outra pequena lareira repleta
de plantas de folhas de cera.
O estreito conjunto de escadas na outra extremidade da sala
deve levar a –
— O quarto fica no andar de cima. Há uma varanda
privada, com vista para as colinas. Se você mantiver essa porta
entreaberta, sentirá uma brisa agradável à noite. Há uma
maneira de resolver isso com o alarme. Eu vou te mostrar. —
Ele ficou na entrada com os braços cruzados. — Eu acho que
tudo é muito fácil de descobrir, mas por que você não dá uma
olhada antes de eu sair?
Ela tirou os sapatos e foi explorar. Todos os aparelhos
pareciam caros e fáceis de usar, assim como a televisão.
O banheiro…
Bem, talvez ela nunca sairia do banheiro. Era uma versão
muito maior do lavabo da casa principal, todo de mármore e
acessórios dourados, completo com as toalhas de mão mais
gloriosas que existiam, para não mencionar as toalhas de banho
inteiras feitas com o material. Atrás da porta, havia até um
roupão do mesmo tecido pendurado em um elegante gancho.
Não caberia nela, é claro, mas ela apreciou o gesto.
Havia um chuveiro e uma grande banheira de imersão e uma
pia generosa e penteadeira, e ela queria entrar naquele chuveiro
neste exato segundo. Em vez disso, ela relutantemente deixou o
banheiro e subiu as escadas quase em espiral para um quarto de
pé-direito alto, dominado por uma cama king size com um
edredom macio e uma cabeceira graciosamente curvada. O
tapete sob seus pés era turquesa e branco e amarelo-claro, e pelo
jeito, o produto de ovelhas que passavam a vida condicionando
profundamente sua lã para uma suavidade ideal.
Quando ela voltou para baixo, ela não sabia se deveria beijá-
lo ou chorar com a perspectiva de um dia deixar o Estábulo dos
Sonhos.
Ele estava caído contra a porta, mas se endireitou quando ela
apareceu.
— Tudo certo?
Ela apenas acenou com a cabeça, impressionada pelo muito-
mais-que-certo de tudo.
— A propriedade inteira tem recursos básicos de segurança,
mas certifique-se de virar a trava quando eu sair e mantê-la
trancada sempre que estiver aqui. Ative também o sistema de
alarme. Entendido? — Não havia nenhum traço de diversão em
qualquer lugar em suas feições ou voz. — Tive sorte até agora,
mas as pessoas sabem meu nome e podem descobrir onde
moro. Seja esperta e fique segura.
Ele se dirigiu para a porta.
— Você tem meu número. Me ligue se precisar de mim, e
estarei aqui em menos de um minuto. Vejo você amanhã.
Ela piscou nas costas dele, assustada com a sinceridade e
simplicidade de suas palavras de despedida.
Sem sarcasmo? Sem shots de despedida sobre–
— Como sempre, fique atenta aos sinais de frivolidade e os
elimine com extremo preconceito. — Ele falou por cima do
ombro. — Alegria e prazer podem estar à espreita em qualquer
lugar, a qualquer momento. Fique vigilante, babá Clegg.
Então a porta se fechou atrás dele, e ele se foi, deixando-a de
alguma forma magoada e aliviada. Mas ele não foi muito longe,
como ela logo descobriu.
— Estou esperando! — ele gritou do outro lado da porta um
momento depois, sua voz abafada. — Você não pode seguir
instruções simples, mulher lerda?
Uma vez que ela trancou a trava no lugar, ele caminhou em
direção à casa principal. Uma após a outra, as luzes se
iluminaram acima dele, como se destacasse seu progresso em
um palco, e ela observou o progresso da janela mais próxima da
porta.
Com o passo rápido, ele se moveu ao longo do largo
caminho de pedra cercado por seixos e várias plantas resistentes
à seca. Assim que ele desapareceu pela porta da frente do
castelo, ela ativou o alarme, afastou-se da janela e fechou as
cortinas contra a escuridão lá fora.
Ela deveria tomar um banho, desfazer as malas e ir para a
cama, mas em vez disso ela vagou pela casa novamente,
estranhamente inquieta. Nem mesmo esfregar sua bochecha
contra a melhor toalha do universo não poderia aliviar aquele
buraco estranho e vazio em seu estômago.
Era uma sensação estranha ter Alex tão longe à noite.
Um alívio, claro. Lidar com ele exigia muita energia.
Mas a pequena casa de hóspedes estava muito, muito quieta
sem sua presença exagerada, ou mesmo suas conversas meio
gritando e meio rindo com Marcus do outro lado de uma
parede fina.
Ela deve simplesmente estar sentindo falta de contato
humano, por mais irritante que fosse. Depois do banho, ela
ligaria para Sionna.
Então esse sentimento mesquinho – como se ela tivesse
esquecido algo importante, ou deixado em algum lugar que não
pertencia – desapareceria. Para sempre, ela esperava.
MIMES AND MOONLIGHT

INT. ELEGANTE RESTAURANTE PARISIENSE –


NOITE

JOHNNY e ESMÉE estão sentados em uma mesa íntima à luz


de velas um do outro, praticamente sozinhos no restaurante. Ela
parece perturbada. Preocupado, Johnny pega a mão dela.

JOHNNY
O que há de errado, Esmée?
Esmée se solta de seu aperto e passeia com um cachorro
imaginário. Ela aponta para o cachorro, depois para si mesma.

JOHNNY
Eu faço você se sentir presa? Como algum tipo de animal de
estimação? Mas, minha querida, se você já tivesse me dito...
Ela balança a cabeça tristemente e puxa uma corda
imaginária, mão sobre mão, então segura a barriga.

JOHNNY
Não! Não nosso instrutor daquele curso de cordas! Você não
pode ter o bebê dele!
Ela se levanta e se inclina para trás, agitando os braços, como
se estivesse sendo assediada por um vento forte.

JOHNNY
Claro que você está desequilibrada agora! Deixe-me ajudá-la,
Esmée!
Esmée faz vários movimentos indistintos. Johnny balança a
cabeça em perplexidade. Ela se frustra por sua incapacidade de
encontrar gestos para comunicar o que ela quer dizer. Depois de
mais algumas ondas de seus braços, ela desiste com um encolher
de ombros e fala.

ESMÉE
Com você, estou presa, Johnny. Como se eu estivesse em uma
caixa. E eu nunca poderia encontrar uma maneira de dizer a
você.
6
— O terreno é todo seu, e você pode explorar à vontade.
— Apertando os olhos contra a luz brilhante da manhã, Alex
colocou seus óculos escuros e continuou falando, apesar do
silêncio de Lauren. — Outras áreas de estar têm vistas
espetaculares do centro de LA, Hills e Reservoir. Em um dia
realmente claro, você pode até ver o Pacífico.
Depois de engolir seu remédio para TDAH com um gole de
café, ele colocou a caneca na mesa de madeira de teca, enfiou o
dedo no queijo dinamarquês restante e fez uma careta.
Por que ele parecia um corretor de imóveis tentando vender
uma propriedade a um comprador relutante? Isso era muito
indigno, caramba, mesmo para um homem que nunca
considerou a dignidade uma mercadoria particularmente
valiosa.
Mas ele não conseguia se conter.
Ele apontou para uma área repleta de árvores de seu terreno.
— Você pode colher suas próprias laranjas, limões Meyer e
toranjas. Abacate também.
Quando ele olhou para Lauren, seu rosto estava apontado
na direção que ele havia indicado, mas sua expressão estava tão
difícil de ler como sempre. Mais ainda, já que ela usava seus
próprios óculos de sol enormes.
Antes de responder, ela terminou de mastigar um pedaço de
sua maçã dinamarquesa, porque é claro que ela escolheria a
opção de café da manhã mais chata que Dina havia fornecido.
— Conveniente —disse ela em seu jeito imperturbável,
irritante como o inferno.
Ela provavelmente nem gostava de laranjas ou abacates,
porque ela era a pior.
— Depois que você terminar de comer sua decepção de
maçã, por que você não diz "olá" para Dina e faz uma boa
programação com ela? Então, podemos sair.
— Primeiro de tudo… — Ela empurrou a última mordida
de sua maçã dinamarquesa na boca, mastigando bem e
engolindo antes de falar novamente, porque ela era a babá
Clegg, a humana mais rígida do mundo. — Meu pastel ficou
excepcional. Crocante e amanteigado, e as maçãs ainda tinham
um pouco de textura. Em segundo lugar, para onde vamos?
Ele a olhou com pena
— Nem tinha cobertura. Você é uma selvagem.
— Eu repito. — Ela terminou seu suco de laranja espremido
na hora e largou o copo. — Aonde estamos indo?
— Estamos indo comprar um vestido para você. Hora de
dar uma de Uma Linda Mulher e essa merda. — Ele estalou os
dedos com prazer. — Mal posso esperar até que alguém se
recuse a atendê-la porque você é obviamente uma idiota sem
sofisticação do Kansas ou de qualquer outro lugar…–
— Norte de Hollywood. Basicamente, descendo esta colina
e na próxima.
— E então você iria embora, com o coração partido e
envergonhada, só para voltar horas depois, carregando milhares
de dólares em alta costura para esfregar quanto dinheiro de
comissão eles perderam.
Ela estava massageando suas têmporas novamente.
— A vingança mesquinha é a mais satisfatória, sempre. —
Com o dedo indicador, ele empurrou o telefone dela para mais
perto dela na mesa. — Você deveria escrever isso em algum
lugar. Considere isso uma prévia gratuita do meu TED Talk.
Por um longo e satisfatório momento, ela pareceu
totalmente sem palavras. Então ela falou, cada palavra lenta e
precisa.
— Ok, primeiramente: — ela pausou novamente, e ainda
mais fricção na têmpora ocorreu. — Por que eu preciso ficar
fazendo listas com você?
— Essa é a sua primeira coisa? — Ele franziu a testa para ela.
— É uma primeira coisa estranha.
— Não é minha primeira coisa. É um adendo, idiota.
Ele engasgou, alto o suficiente para que um pássaro próximo
voasse em alarme.
— Que linguagem! Ora, minhas delicadas orelhas!
A respiração dela pareceu se alongar dramaticamente nesse
ponto, e ele imaginou que ela estava contando mentalmente.
Depois de várias inalações muito divertidas e profundas, ela
controlou seu temperamento.
— Primeiro: não sou uma profissional do sexo e você não é
meu cliente. Assim, não daríamos um de, como você tão
eloquentemente apontou, "Uma Linda Mulher e essa merda”.
Segundo: Como você não é meu cliente nem meu sugar daddy
e, de jeito nenhum, você não vai pagar por essas roupas, e eu
não posso comprar roupas no valor de milhares de dólares que
nunca mais usarei. Terceiro–
— A produção pagaria por um vestido apropriado para o
tapete vermelho — ele interrompeu.
— Terceiro — ela repetiu com determinação de aço —
vestidos de coquetel não vêm no meu tamanho, pelo menos
não aqueles que você encontraria em lojas padrão de LA. Para
algo bonito que realmente se encaixa em mim, você precisa
contratar Christian Siriano –
— Eu sabia que você gostava de reality shows! Há!
Ele imaginou que sua indiferença por GBBO era
fingimento. Tinha que ser. Quem poderia resistir à doce e
emocional ascensão de Nadiya ao triunfo do cozimento?
Também a dupla hilária de Sue e Mel?
— Ou, mais provavelmente, ir online e pedir algo muito
menos bonito, mas também muito mais barato. Então, fazer a
bainha. Que nós, quarto, não temos tempo para fazer, já que o
evento é amanhã à noite. Então, quinto, precisamos dirigir até
o meu duplex e decidir qual dos poucos vestidos que já possuo
pode ser adequado.
Oooh. Ele ia ver o santuário interno de sua severa guardiã?
Sua Fortaleza da Solidão Estúpida? Ele mal podia esperar.
— Você vai me levar para sua casa? — Ele arregalou os olhos
— Mas você ainda nem me levou para um encontro de verdade.
Eu não quero que você pense que eu sou fácil.
— Pelo amor de… — Agora ela estava esfregando a testa,
assim como as têmporas, e ele se sentiria pior se um pequeno
sorriso também não estivesse curvando os cantos daquela boca
larga — Eu tinha planejado visitar meu apartamento em breve
de qualquer maneira, já que as roupas que eu levei para as férias
na Espanha não são as mesmas roupas que eu quero usar aqui.
Então, podemos muito bem cuidar de tudo hoje. Eu dirijo.
Ele se pôs de pé.
— Vamos fazer isso, Thelma.
— Sente-se, Louise. — Ela apontou um dedo autoritário
para a cadeira dele. — Você mal tomou nada além de café. Na
semana passada, você reclamou repetidamente de dor de
estômago por causa de seu remédio e me disse que a melhor
maneira de evitar essa dor era comendo no café da manhã.
Então, vamos nos certificar de que você coma.
Ele não tinha percebido que ela o estava ouvindo. Se tivesse,
talvez não tivesse mencionado...
Oh, quem ele estava tentando enganar? Claro que ele teria
mencionado o problema. Não dizer as coisas não era natural, o
que ele também explicou a Lauren várias vezes.
Ela ainda estava falando, então aparentemente ela o ouviu
também.
— … o rótulo do seu frasco de comprimidos, você deveria
tomar seu remédio com bastante água — ela disse a ele. —
Vamos levar uma garrafa no meu carro, e você pode beber ao
longo do caminho.
O que ele comia ou bebia não estava no domínio de
autoridade profissional dela sobre ele. Então, novamente, a
preocupação em sua voz também não parecia profissional.
Foi pessoal, ela estava presente.
Ele não podia ver seus gloriosos olhos verdes, mas sabia que
estariam quentes e preocupados.
Então ele sentou sua bunda de volta e comeu o resto do
dinamarquês sem discutir antes de voltarem para a casa. O que
fez seus lábios se curvarem um pouco novamente.
Ele gostou.
Ele queria mais disso.

A porra do duplex da Lauren. O duplex tinha um telhado


inclinado e um revestimento de reboco creme, e na entrada...
Tinha uma maldita torre. Uma pequena, mas definitiva,
positivamente, uma torre.
Se Alex morava em um mini-castelo, ela morava em um
mini-mini-castelo.
Não admira que ela tenha perdido a cabeça com a visão de
sua casa ontem. Inferno, ele estava perdendo a cabeça agora,
por que quais eram as chances?
— Continue respirando. — Ela estacionou dentro da
garagem para dois carros e deu um tapa nas costas dele. — Eu
te disse para não tomar nenhum gole de água antes de virar na
minha rua.
Assim que ele parou de tossir e finalmente recuperou o
fôlego novamente, ele precisava de mais detalhes.
— Como se chama esse estilo arquitetônico?
— Dilapidado. — Seco como os ventos de Santa Ana. —
Além disso, de acordo com o agente imobiliário, coisa de livro
de histórias. Ou João e Maria.
— Você sabia — Ele teve que parar para outro ataque de
riso. — Você sabia que Ian tem um castelo também? E é o lugar
mais cafona que já vi? Ele comprou um mês depois que eu me
mudei para minha casa, então acho que ele comprou como
uma espécie de coisa estranha para medir o pau.
Ela engasgou um pouco também, aparentemente no ar.
— Tipo, minhas torres são mais altas e mais retas que as
suas?
— Há brasões inventados e longos machados nas paredes
internas. — Ah, lembranças felizes. — A única vez que fui lá
para uma coisa do elenco, eu disse a ele com cara séria que meu
castelo também tinha um machado longo, e era mais longo do
que qualquer um dos dele. Na próxima vez que filmamos
juntos, ele me mostrou uma foto de seu novo machado
personalizado. A haste tinha 3,5 metros de comprimento,
Lauren, sério.
E aí ele conseguiu. Ela estava rindo ativamente de novo, seus
olhos brilhantes, seu sorriso largo.
— Agora, então — ele disse com satisfação — vamos entrar
e examinar o conteúdo sem brilho de seu guarda-roupa. Não
temos o dia todo para sua conversa, babá Clegg. Rápido.
Ela parou de rir e olhou para ele, então suspirou e saiu de seu
carro.
A torre era divertida, mas o interior de seu duplex – que ela
aparentemente dividia com sua melhor amiga, Sionna, que
estava no trabalho, portanto, não estava disponível para o
interrogatório – não era especialmente atraente. O
apartamento tinha pisos de madeira decentes e janelas de
batente, mas também um quarto minúsculo e uma cozinha
igualmente minúscula que, em algum momento de seu passado
lamentável, passou por uma atualização desastrosa.
Ele reconheceu os móveis IKEA de seus anos de vacas
magras em Hollywood, antes de Gates.
— Ei, Billy! — ele cumprimentou as estantes enquanto
passava por elas. — Quanto tempo!
Ela apenas revirou os olhos e acenou para ele em seu quarto,
que estava decepcionantemente arrumado e livre de bagunça.
Qualquer personalidade que ela tivesse aqui, ela mantinha
trancada, aparentemente. Ele realmente precisava dar uma
olhada mais de perto naquelas estantes, ou possivelmente em
sua mesa de cabeceira.
As mulheres mantinham todos os tipos de coisas divertidas
em suas mesinhas de cabeceira. Ele sabia disso por um maldito
fato.
Como sua cozinha, seu guarda-roupa estava desatualizado e
desastroso. Quer dizer, supondo que ela quisesse usar qualquer
coisa além de camisetas, jeans, leggings, calças pretas ou botões
neutros pelo resto de sua vida ignorante e chata. O que ela
aparentemente não queria, já que as roupas que ela guardava
em uma mala eram desses grupos.
— Você tem um guarda-roupa de merda, babá Clegg — ele
disse a ela.
Ela soltou um suspiro exasperado
— Minhas roupas mais bonitas, eu levei comigo para a
Espanha. Elas já estão na casa de hóspedes.
Ele tentou pensar no passado.
— Não me lembro de nenhuma roupa bonita.
— Usei um vestido para jantar naquela primeira noite! —
Ela ergueu as mãos. — Um vestido de verão! Era verde-escuro e
bonito!
Ele gostaria de vê-la naquele vestido novamente. Na época,
ele não havia prestado atenção suficiente, claramente.
— Talvez sim, mas também não é um vestido de coquetel.
— Ele se empoleirou na ponta da cama dela, e santo Jesus, a
mulher precisava de um colchão melhor, urgente. — O que
você tem que é brilhante?
Outro olhar fulminante.
— Eu não uso coisas brilhantes.
Quando ela mostrou um vestido preto, ele assentiu.
— Eu entendo. Você usa roupas de funeral em vez de
brilhantes.
— É renda. — Ela sacudiu o cabide na cara dele. — É um
vestido lindo, e me sinto bem nele.
Isso o deixou de boca aberta. Se o vestido preto deprimente
e o inesquecível vestido verde de verão a ajudassem a se sentir
confortável em sua própria pele, ele teria que ser um verdadeiro
idiota para insultá-los.
Ele frequentemente era um idiota, é claro. Mas talvez não
tanto hoje.
— Vamos vê-lo em você — disse ele.
— O quê? — Seu rosto se contorceu em confusão e,
honestamente, foi meio adorável.
— Experimente. — Seu movimento da mão a dirigiu para o
banheiro. — Se não for apropriado para o tapete vermelho,
vamos pensar em outra coisa. Posso pedir alguns favores, ou
sempre tem o departamento de figurino de Gates. Eles
provavelmente seriam capazes de preparar um vestido
adequado a tempo.
— Eu não vou brincar de me fantasiar com você — ela disse
desanimada.
— Por que não?
Ela não tinha uma boa resposta para isso, aparentemente,
porque ela entrou no banheiro com o vestido. Ou, mais
precisamente, pisoteou até o banheiro, o que era um tipo
diferente de vitória.
Depois de vários minutos, ela enfiou a cabeça pela porta.
— Isso tem que ser bom o suficiente, Alex. — Sua boca
estava pálida e apertada com a tensão. — Eu não quero que
você peça favores, e eu não quero que seu departamento de
figurino faça um trabalho extra para mim.
Pelo que ele podia dizer, ela não gostava que ninguém fizesse
muita coisa por ela. Nunca.
— Ok. — Ele se recostou na cama, apoiando-se nos
cotovelos. — Olha, é o seguinte. Quando andarmos no tapete
vermelho, todos os fotógrafos dirão para você se mexer, de
qualquer maneira. Eles vão querer você fora das fotos deles,
porque eu sou o cara que o público deles paga para olhar. Não
uma mulher aleatória que eles nunca viram antes e talvez nunca
mais vejam. Então, desde que seu vestido não seja ativamente
embaraçoso, não importa o que você vista.
— Então por que toda essa conversa sobre alta-costura? —
Sua voz continha mundos inteiros de paciência tensa.
Ele encolheu os ombros.
— Eu gosto de coisas brilhantes.
— Claro que sim — ela disse naquela voz seca de Santa Ana.
Quando ela saiu de trás da porta do banheiro, ele tinha que
sorrir. Sorria genuinamente, porque sim, aquele vestido
claramente não era de alta costura ou mesmo de alta qualidade,
mas ficou lindo nela. Podia ser preto, preto, preto, mas a saia
esvoaçante na altura do joelho e a pele pálida sob a renda eram
bonitas.
— O vestido é bonito. Você vai ficar bem. — Ele caiu na
cama e acenou para ela ir embora. — Eu posso não ficar, no
entanto. Preciso trabalhar no meu discurso para o leilão e fazê-
lo ser aprovado por Ron antes de amanhã.
A porta do banheiro se fechou novamente, e ela gritou atrás
dela.
— Qual é a caridade?
— Uma organização local que trabalha para prevenir a
violência doméstica e fornece abrigos para mulheres e crianças
vítimas de abuso. — Ele coçou distraidamente a barba. —
Estou envolvido com eles há alguns anos. Espero que meu rosto
extremamente bonito traga alguns lances altos, porque meu
discurso atualmente é tão hediondo e inadequado quanto seu
guarda-roupa diário.
Ele precisava roteirizar um discurso melhor, e ele faria isso.
Pode ser especialmente difícil suportar e terminar projetos
quando ele está cansado, mas ele teve anos de terapia
especializada para ajudá-lo em situações como essa.
— Outros famosos vão? — ela perguntou, sua voz ainda
abafada.
Ele fechou os olhos, de repente cansado novamente.
— Asha tinha planejado comparecer, mas ela
evidentemente está em busca de dar uns amassos com seu
namorado popstar em todos os portos do Mediterrâneo. Ela
mandou uma grande doação como pedido de desculpas.
Ele tinha que admitir, ele estava um pouco ciumento. Não
de Asha ou seu brinquedo ruivo, mas do que eles estavam
experimentando agora. Essa necessidade que o consome de estar
com outra pessoa. O tipo de desejo e atração furiosos que
significava que você não podia – não iria – se separar por muito
tempo.
Ele não sentia isso há anos. Talvez por mais de uma década
agora.
— Caso contrário, os grandes nomes são meus amigos do
elenco que moram na área. Cara Brown. Maria Ivarsson. Peter
Redton. — Ele não se incomodou em fazer um convite para
Ian, e Mackenzie já havia dado dinheiro em nome de Bigodes.
— Acho que você não conheceu nenhum deles. Todos eles
terminaram de filmar antes de você chegar.
Marcus iria também, mas ele estava atualmente em São
Francisco e totalmente preocupado com uma geóloga chamada
April, e Alex não iria atrapalhar isso.
Ele apenas se certificaria de que Marcus enviasse à caridade
uma boa doação mais tarde.
A voz de Lauren veio de perto da cama, e ele se assustou.
— Vamos para casa — disse ela calmamente. — Nós dois
precisamos de um almoço e uma soneca, e você precisa
trabalhar em seu discurso.
Ela estava de volta em uma camiseta indescritível e jeans,
olhos adoravelmente simpáticos enquanto examinava sua
forma inerte e deitada. Seu nariz adunco e torto captou a luz de
uma das janelas de batente, e ele a encarou.
Talvez ela estivesse certa, afinal.
Talvez roupas mais chamativas só competissem com suas
características e estrutura distintas. Talvez eles a distraíssem do
que a tornava interessante e única.
Não que ele fosse dizer isso a ela.
Quando ela estendeu a mão, ele a pegou. Ela o ajudou a sair
da cama, e ele deu um pequeno aperto em seus dedos antes de
soltá-lo.
— Não pense que eu não percebi os saltos de plataforma
que você colocou na sua mala. — Ele cheirou em julgamento,
içou sua bagagem e varreu a porta de seu quarto. — A
Associação de Estraga Prazeres da América não discutiu os
perigos de tal loucura e extravagância de alfaiataria?
Ela bufou, e ele sorriu, contente.
E-mail de Lauren

De: lcclegg@umail.com
Para: KingRon@godsofthegates.com
Assunto: Relatório semanal e evento de amanhã

Caro Rony–

Como prometido, aqui está meu primeiro relatório


semanal sobre o comportamento de Alex. Eu sei que
você não queria dizer a ele que eu estava enviando
atualizações regulares, mas como você deve se lembrar,
eu deliberadamente permaneci em silêncio e não discuti,
mas também não concordei com essa restrição. Então,
eu o informei em nosso primeiro dia juntos que
escreveria para você toda semana, e o lembrei disso
novamente hoje. Ele disse para enviar “cumprimentos
tão calorosos que poderiam ser ardentes, o que, agora
que considero o assunto, pode ajudar a prepará-lo para
a vida após a morte” seus cumprimentos.
Até agora, seu comportamento tem sido irritante
como o inferno, mas essencialmente inquestionável. No
set, como você sabe, ele era trabalhador e profissional.
Sempre e onde quer que encontramos fãs, ele tem sido
gentil, charmoso e paciente com selfies. Ele também tem
sido muito acolhedor em sua casa.
Finalmente, apesar de suas preocupações, ele não
compartilhou nenhuma informação confidencial ou
prejudicial sobre a produção ou os roteiros da
temporada final, e não consumiu álcool em excesso em
nenhuma ocasião. Tem certeza absoluta de que ele
estava bêbado na noite da briga de bar?
Se você deseja outras informações minhas, por favor
me avise, e considerarei se suas solicitações constituem
uma invasão da privacidade de Alex, podemos discutir o
assunto.
Sei que devo acompanhá-lo ao seu leilão beneficente
no tapete vermelho amanhã, mas não tenho certeza do
que se espera de mim no evento. Você pretende que eu
ande no tapete vermelho ao lado dele? Ele deu a
entender que espera isso, mas certamente deveria ter
alguém mais adequado acompanhando-o em tais
eventos eu não tenho certeza.
Além disso, que explicação você deseja que eu dê
para a minha presença? Alex indicou que não se
importaria que eu dissesse a todos “esta é a Babá Clegg,
a guardiã incrivelmente pequena que devo carregar
como penitência por meus crimes anteriores” a verdade,
mas não acho que isso reflita bem nem nele nem na sua
produção. Se puder, avise-me antes de amanhã à noite.
Minha mãe manda lembranças, que, diferentemente
das de Alex, seriam genuinamente calorosas, porque ela
não te conhece muito bem.
Sinceramente,
Lauren.
7
Mais tarde, depois de Alex ter almoçado, copiado,
trabalhado em seu discurso, recebido a aprovação de
Rony, e jantado com Lauren em sua sala de jantar, ele se jogou
na cadeira do escritório e fez as duas ligações que estava
evitando.
Primeiro, seu agente. Em teoria, isso poderia ser uma
chamada de vídeo, mas não. Como era seu direito como
americano, Alex reservou a opção de fazer caretas ao telefone
quando descontente com a conversa.
— Alex, finalmente — Zach respondeu, e felizmente não
pôde ver o revirar de olhos que ele recebeu em resposta. — Pare
de se esquivar dos meus malditos e-mails. Tem coisas que
precisamos discutir.
— Injusto, cara. — Alex se recostou na cadeira do escritório
e a girou de um lado para o outro. — Eu não me esquivei de
seus e-mails. Depois de lê-los com louvável – não, notável –
velocidade e atenção, simplesmente determinei que eles não
exigiam nenhuma resposta imediata.
Do outro lado da linha, houve um som estranho – ranger de
dentes?
Zach pronunciou cada palavra com muito cuidado.
— Nas últimas semanas, recebi várias mensagens dos
produtores de seus próximos projetos perguntando sobre seu
comportamento atual. Eles estão todos checando para
descobrir se você está, como eles dizem, ”ainda fora de
controle”.
Alex e Zach discutiram o mesmo assunto pelo menos meia
dúzia de vezes desde o incidente na Espanha, e nenhuma vez –
nem uma única vez – Zach realmente perguntou o que
aconteceu. Embora eles estivessem trabalhando juntos desde o
início da carreira de Alex, os dois aspirantes a Hollywood
recém-formados do ensino médio que serviam mesas para
preencher contas bancárias vazias.
Era uma pergunta simples, e uma que Alex merecia depois
de tantos anos.
— Você disse tudo isso em seus e-mails. — Uma pessoa
melhor silenciaria o telefone enquanto ele bocejava, mas Alex
não se incomodou. — Mais alguma coisa?
Um suspiro pesado.
— Nos meus e-mails, eu também perguntei se aquela
mulher que Ron designou para você está mantendo você sob
controle, porque outro grande escândalo e você entrará em
conflito com as cláusulas de bom comportamento nos
contratos que você assinou. Você falhou em responder à
pergunta. Várias vezes.
Mantendo você sob controle. Como se ele fosse um animal de
zoológico. Um leão, talvez?
Se assim for, algo sobre o tom de Zach em referência a
Lauren esfregou a juba exuberante e gloriosamente abundante
de Alex da maneira errada.
Ele se sentou direito.
— ”Aquela mulher” é Lauren Clegg. Ou melhor, Sra. Clegg.
E ela está fazendo um trabalho exemplar de acabar com todas
as faíscas perdidas de alegria e felicidade que eu possa
experimentar diariamente, tenha certeza.
— Ok. Que bom — A borda no tom de Zach combinava
com o de Alex. — É melhor a Sra. Clegg continuar a fazer seu
maldito trabalho, porque não podemos lidar com outra
besteira.
— Qualquer que seja a descrição do trabalho dela, sou
responsável pelo meu próprio comportamento. Não ela. Não
importa o que aconteça, ela não tem culpa. Eu quero que isso
fique absolutamente claro. — Que desaforo. — Era só isso?
Porque tenho coisas melhores para fazer. Eu não passo o fio
dental há várias horas, e ouvi que meus futuros produtores
também estão considerando se meus níveis de placa dentária
estão dentro dos limites contratuais.
Um longo silêncio se estendeu sobre a linha, e Alex meio que
se perguntou se acabou. O momento, a conversa, que
finalmente romperia sua parceria.
A perspectiva provavelmente deveria assustá-lo, e talvez o
assustasse mais tarde, mas não agora. Ou Zach mostrava
respeito a Lauren, ou ele poderia se foder trabalhando em outro
lugar em Hollywood.
— Espero que você saiba o que está fazendo. — A voz de
Zach estava tensa.
— Assim como eu sempre soube — Alex disse, então
desligou a ligação.
Para acalmar seu temperamento depois, ele leu uma fanfic
de Cupido/Psiquê onde Psiquê era o sacrifício humano
oferecido por uma pequena vila para um clã de lobisomens
liderados por Júpiter – pelo menos até Cupido, neto de Júpiter,
se apaixonar por ela e afastá-la do perigo.
Depois disso, as coisas ficaram bastante intensas, e tudo foi
extremamente agradável.
Relaxado, ele então ligou para sua mãe via FaceTime.
Chamada de vídeo, desta vez e sempre. Sem falhar. Porque ele
precisava ver sua expressão, sua linguagem corporal, por si
mesmo.
Linda atendeu depois de dois toques, seu cabelo castanho
com mechas grisalhas preso em um rabo de cavalo bagunçado
no topo de sua cabeça, seu rosto iluminado em um raio de
felicidade.
O sol estava se pondo na Flórida, e o brilho dourado quente
banhava seu poleiro no balanço da varanda dos fundos. Ela o
ajustou para balançar, e seu jardim arrumado assobiou para
frente e para trás enquanto seu rosto permanecia firme e
centrado na tela.
— Meu amor! — Os olhos dela, do mesmo cinza que os
dele, franziram nos cantos com seu sorriso. — Eu não sabia que
você ia me ligar hoje.
Ela parecia bem. Ela soou bem também, e algo apertado
dentro dele se soltou. Pelo menos, até a próxima ligação.
Ele desejou poder restaurar a alegria, o conforto puro que
sua voz costumava dar a ele. Essa sensação de estar em casa e de
aceitação, apesar de todas as suas falhas graves.
Sua voz não mudou. Seu amor por ele não havia mudado.
Ele havia mudado, pouco mais de onze anos atrás.
E foi para melhor, realmente foi. Ele deveria saber como ele
ofendeu alguém que ele amava tanto quanto ele a amava, então
ele poderia fazer o seu melhor para nunca cometer o mesmo
erro novamente. Mas a culpa, a raiva dele mesmo, havia tirado
o simples consolo que sua presença, suas palavras amorosas,
costumavam proporcionar. Agora, quando ele falava com ela,
ele não estava mais simplesmente falando com sua mãe. Ele
estava falando com alguém que ele tinha machucado, e ele não
conseguia esquecer. Não esqueceria.
— Eu queria checar e ver como você está — disse ele, e era
a pura verdade.
Sem hesitação.
— Estou ótima. E você?
Como sempre, ela brincava com o medalhão barato em
volta do pescoço enquanto falava. Ele deu a ela há uns... o quê?
Vinte anos atrás? Não muito tempo depois que ele foi embora
para LA, de qualquer maneira.
Ela ainda o usava todos os dias, porque adorava as duas
pequenas fotos dentro. À esquerda: os dois, mãe e filho, de
quando ele era pequeno. À direita: os dois quinze anos depois,
posando exatamente da mesma forma que na foto anterior.
Ele até conseguiu encontrar roupas razoavelmente
semelhantes para a segunda foto, embora sua mãe tenha
insistido que ele deixasse de fora a chupeta para a sessão da loja
de departamentos. Se ele se lembrava direito, ele a chamou de
estraga-prazeres e pegou um boné com uma hélice em cima.
Em algum momento, ele teria que apresentar Lauren para
sua mãe. Ele suspeitava que elas descobririam muitos pontos
em comum quando se tratasse dele.
— Sou um exemplo de boa saúde, boa aparência e boas
escolhas, como sempre. — Ele sorriu para sua mãe, que apenas
revirou os olhos em resposta. — O que você vai fazer esta
semana?
— Quase nada — Ela inclinou a cabeça em pensamento. —
Eles finalmente terminaram de treinar o novo garoto, para que
eu possa tirar um dia extra de folga. Vou montar meu guarda-
sol, colocar alguns livros de bolso que não me importo de
misturar com areia de dentro de minha bolsa e relaxar na água
na quinta-feira.
Alex deu dinheiro suficiente para ela não trabalhar, mas ela
preferiu se manter ocupada. Seu trabalho de meio período em
uma livraria à beira-mar a mantinha feliz e bem abastecida de
livros.
Pelo menos, ela finalmente aceitou uma nova casa na praia
alguns anos atrás. Ela merecia o mundo, e isso era verdade,
mesmo que ele não se sentisse culpado.
— Com ou sem guarda-sol, use seu protetor solar — ele a
lembrou. — Você se lembra do que seu dermatologista disse.
— Chato. — Era uma acusação alegre e irônica, comparada
com suas reclamações sobre Lauren. E como se ela tivesse lido
seus pensamentos, sua mãe acrescentou: — Falando em tomar
boas decisões, como vão às coisas com Lauren? Eu sei que você
está sendo legal com ela, Alex, eu sei. Certo?
Esse tom ainda poderia fazê-lo se contorcer, mesmo sendo
um homem de trinta e tantos anos. Assim como aquele olhar
calmo, penetrante e conhecedor.
— Eu, hm… — Ele lambeu os lábios e girou a cadeira um
pouco mais. — Eu fiz questão de que ela tivesse tudo o que
precisava na casa de hóspedes?
Droga. Isso deveria ser uma declaração confiante, não uma
pergunta carregada de culpa, mas, puta merda, sua mãe tinha
poderes.
— Hmmm. — Ela estreitou os olhos para ele. — Isso não é
um sim, Alexander Bernard Woodroe.
— Ela acha que eu sou engraçado. Na maioria das vezes. —
Ele olhou para algum lugar longe, onde não conseguia ver a
expressão de repreensão de sua mãe, então correu para mudar
de assunto. — De qualquer forma, temos um evento de
caridade para participar juntos amanhã, que...
Filho da puta.
Ele fechou os olhos brevemente. Merda. Merda, merda,
merda.
Ele não queria falar sobre o evento com sua mãe. Ele não
podia falar.
— Para quê? — Ela não parecia totalmente calma, mas
aceitou a mudança de assunto, o que foi lamentável. — O meio
ambiente? Ou aquela iniciativa global da ONU sobre a pobreza
da qual falamos há algum tempo?
— Mais ou menos isso — ele murmurou. — Olha, mãe, eu
provavelmente deveria ir. Acabei de receber uma mensagem de
Lauren sobre, hm — porra, por que ela estaria mandando uma
mensagem para ele? — nosso estoque de maçã dinamarquesa
— oh, isso foi péssimo — E eu não quero deixá-la esperando.
Ela é minha hóspede, afinal. Minha convidada de honra, a
quem trato sempre com o maior respeito e cortesia.
Outro zumbido não convencido foi sua única resposta a
isso. Mas ela o deixou escapar.
— Tudo bem, querido. Obrigada por me ligar. — Seu olhar
desconfiado se suavizou em um sorriso amoroso e suave. —
Nos falamos em breve?
— Sim. É claro. — Foi uma promessa. — Se você precisar de
alguma coisa, me ligue. Imediatamente.
E isso era uma ordem. Um apelo.
Sua testa franziu.
— Alex, querido...
Não, eles não iriam ter essa conversa.
— Eu te amo, mãe. Tchau.
Ele mal a deixou dizer “eu te amo” de volta antes de desligar
a chamada, toda a sua paz de espírito de lobisomem totalmente
ausente mais uma vez.
Para se acalmar, ele poderia ler outra fanfic, claro. Mais cedo
naquele dia, uma história apareceu no fandom Cupido/Psiquê
envolvendo sexo com tentáculos? O que quer que fosse, parecia
intrigante.
Ou…
Ele poderia fazer o que estava pensando há dias.
Ele abriu seu laptop.
Assim que Marcus explicou a ideia do que é fanfic, Alex se
sentiu atraído pelo conceito. E após ler as histórias de Marcus e
dezenas de fics de Cupido/Psiquê em seu tempo livre, ele
queria escrever as suas próprias.
Um gênio literário, ele não era. Mas reclamar com Marcus
não era o suficiente, não mais.
Ele precisava de um espaço. Para lutar contra o arco de
caráter distorcido e regressivo de Cupido. Para expressar o quão
redentora a história de Cupido poderia ter sido nas mãos de
praticamente qualquer pessoa além de Ron e RJ. Para se
desculpar com o fandom, mesmo que fosse do jeito errado por
como a relação de Cupido, Vênus e Júpiter se tornou uma
romantização de abuso no final da série, e como isso insinuava
que relacionamentos violentos e manipuladores não podiam
ser encerrados ou escapados.
Ao representar suas cenas com o melhor de suas habilidades,
ele tornou essa mensagem mais poderosa. Mais crível.
Ele deveria ter se demitido assim que viu os roteiros da
última temporada, mas não se demitiu. A vergonha disso
queimou como bile em sua garganta.
Sua fanfic serviria tanto como terapia quanto como
penitência.
E enquanto ele estivesse escrevendo fanfics, ele poderia
incluir pegging. Ele queria alguns malditos elogios, e dildos da
largura do antebraço de um amante eram aparentemente a
melhor maneira – além da habilidade de escrever – para ganhar
audiência.
Para sua conta no AO3, ele escolheu o nome de usuário
Cupid-Unleashed. Rindo de alegria o tempo todo, ele
selecionou todas as tags mais populares para sua fic: Porn
Without Plot. Smuttity Smut Smut. Cupido Desastre Meio
Humano. Bottoms em Cima. O Peg Que Foi Prometido.
À beira de designar Cupido/Psiquê como o
relacionamento, ele fez uma pausa.
Asha interpretou Psique na tela, e ela era sua amiga e colega.
Ele não queria envolvê-la, mesmo tangencialmente, em uma
história sobre o personagem que ele interpretou fazendo sexo
com ela, porque isso seria esquisito para caralho.
Embora isso definitivamente limitasse seu público, ele teria
que escrever sobre Cupido e uma personagem original. Mas
como chamá-la?
Ele coçou a barba. Como… chamar... ela?
Quando a inspiração veio, ele se sentou ereto.
Porque o nome era tão perfeito, ele não conseguia explicar.
Mas de alguma forma ele sabia, ele sabia, era como a amante de
Cupido deveria ser chamada.
Com essa informação no lugar, a primeira linha emergiu
sem esforço de seu teclado, e ele sorriu para seu monitor.
No dia em que Cupido conheceu Robin, ele se despediu de sua
família para sempre.
Classificação: Explícito
Fandoms: Gods of the Gates – E. Wade, Gods of the Gates
(TV)
Relacionamentos: Cupido/Personagem Original
Tags Adicionais: Universo Alternativo – Moderno, Porn
Without Plot, Smuttity Smut Smut, Cupido Desastre
Meio Humano. Bottoms em Cima. O Peg Que Foi
Prometido.
Estatísticas: Palavras: 2531 Capítulos: 1/1 Comentários:
102 Likes: 411 Marcadores: 27

Square Peg CupidUnleashed

Resumo:
Cupido quer se libertar de seu relacionamento doentio
com sua família. E ele está prestes a obter ajuda da
mulher mais improvável de todas – uma harpia com um
vibrador do tamanho de seu antebraço.

Notas:
Obrigado a AeneasLovesLavinia. Você arrasa como um
leitor beta, cara. Além disso, por favor, considere isso
uma fic de correção para o show, apesar da minha
inclusão de um personagem original.
Deus sabe que precisa ser consertado. Seriamente.

… A harpia o prendeu contra a laje de mármore. Ela


era mais forte do que parecia, e isso só o deixou mais
exitado. Mais ansioso para ela lubrificá-lo, amarrar seu
cinto e penetrar seus miolos com aquele vibrador
assustadoramente grande que ela possuía.
— Robin — ele suspirou contente. — Depois desta
noite, depois que você me fizer seu, eu vou terminar com
minha mãe para sempre. Vênus não terá mais nenhum
poder sobre mim.
— Eu sei — disse ela. — Agora que você é meu, você
nunca mais seguirá seus comandos cruéis, nem os de
Júpiter. Ele pode ser o CEO da empresa da família, mas
não é mais seu chefe.
— Eu acho… — Ele hesitou.
Ela se sentou sobre os calcanhares, seus olhos
surpreendentemente bonitos e pacientes.
— O que foi, Cupido? Você pode me dizer qualquer
coisa, você sabe disso.
— Eu sei. — Ele sorriu para ela, agradecido. — Eu
quero ser seu, Robin, quero muito. Mas eu estava apenas
pensando, mesmo se você me deixasse, eu ainda não
voltaria para eles. Não importa o que aconteça.
Ela assentiu.
— Você não conseguiria. Você mudou demais para
isso. Estou feliz por você ter percebido isso.
— Me libertar foi um processo tão lento, mas depois
de cinco anos, não tem lógica voltar para Vênus e Júpiter.
Se alguém pensa o contrário, me confunde e me ofende,
sinceramente. — Ele fez uma careta ferozmente. — Se
os dois me mandassem deixar você inconsciente e
morrendo para que eu pudesse lutar uma de suas
batalhas corporativas, por exemplo, eu simplesmente
diria para eles irem se foder. Eu definitivamente não
obedeceria.
— Tão verdade — ela concordou. — Você nunca
abandonaria alguém que você realmente amasse, e
depois desta noite, eu prometo a você: você vai mais do
que me amar. Você vai me adorar.
— Ahhh — ele suspirou. — Mal posso esperar. Me
possua, harpia. Me possua agora.
— Você não dá as ordens aqui — ela retrucou, um
brilho predatório em seus olhos. — Eu que dou.
— E graças aos deuses por isso — disse ele, virando-
se de barriga.
Então ela pegou o lubrificante e o arnês, e ele tomou.
Ele tomou tudo.
O tamanho daquele vibrador estava certo.
8
— Estou tentando descobrir como devo apresentar você
no tapete vermelho. “Lauren Clegg, Inimigo Freelancer da
Diversão”? — Alex acariciou seu queixo eriçado em falso
pensamento. — Ou talvez “Babá Clegg: Como Mary Poppins,
Sem o guarda-chuva e Qualquer Noção de Excentricidade”?
Qualquer dia desses, o dedo do meio de Lauren
simplesmente se ergueria.
Ela se mexeu na parte de trás da limousine, tentando não
cutucar as pernas de Alex com o joelho.
— Se você não me apresentar, todo mundo não vai
simplesmente assumir que eu trabalho para a produção da série
ou para a caridade de alguma forma? Eu certamente não pareço
uma estrela. Além disso, como me disseram ontem, você é o
cara que o público quer assistir. Ninguém vai realmente se
importar com quem eu sou, correto?
Se o argumento o convenceu ou não, estava ajudando-a. A
pulsação ecoante em seus ouvidos diminuiu e ficou mais fraca,
e a renda de seu vestido voltou a parecer macia, em vez de
sufocante e áspera.
Ela poderia estar andando em um tapete vermelho – ela,
Lauren Chandra Clegg – mas ninguém se importava, exceto
ela. O que era verdade sobre muitas coisas em sua vida,
pensando bem.
Ainda assim, ela desejou poder se distrair mexendo em sua
bolsa, mas ela a deixou na casa de hóspedes. Bolsa clutch ou
nada, Alex havia dito, essas são as regras, então ela
silenciosamente entregou a ele sua identidade, um cartão de
crédito, o telefone dela, e um pouco de hidratante labial
colorido, todos os quais ele havia escondido em algum lugar em
seu smoking não muito azul-marinho e obscenamente justo.
Ele parecia uma estrela. Além disso, havia o céu noturno em
torno daquela estrela, bem no momento em que o azul se
transformou em preto aveludado. A cor, ela descobriu, era
muito mais evocativa e perigosa do que o preto velho ou o azul-
marinho poderiam ser.
— Correto — ele admitiu com clara relutância.
Ela tamborilou os dedos no assento de couro macio.
— Olha, se alguém perguntar sobre mim, apenas fale meu
nome e diga que trabalho para a produção da série. E eu
realmente trabalho, então você não está mentindo, mas
também não está revelando meu papel específico em sua vida.
— Eu não tenho vergonha de você — disse ele
abruptamente. — Não tenho vergonha do que fiz e não tenho
vergonha de você.
— Ok. — A ênfase áspera e veemente em suas palavras a
deixou perplexa. — Olha... Alex, se você quiser me dizer o que
realmente...
Então ela se interrompeu, porque eles chegaram à entrada
do tapete vermelho, localizado do lado de fora do luxuoso hotel
de Beverly Hills, onde o leilão de caridade estava acontecendo.
Uma mulher vestindo um terno skinny e um fone de ouvido
cumprimentou o motorista assim que ele freou e baixou a
janela.
— Essa deve ser a publicitária do organizador do evento —
Alex disse a Lauren. — Apenas faça o que ela diz e não se ofenda
com todos os fotógrafos gritando com você.
Ela franziu a testa.
— Gritando comigo–
Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, o motorista
abriu a porta. Alex colocou as pernas para fora do veículo e para
a calçada, levantou-se, abotoou o paletó e estendeu uma mão
cavalheiresca para ela.
Ele a ajudou a sair do carro enquanto ela ajeitava o vestido e
tentava desesperadamente não mostrar partes suas a ninguém,
e então flashes a cegavam em pequenas rajadas ao redor
enquanto ela seguia o puxão de seu aperto.
A publicitária cumprimentou os dois, depois fez um gesto
para que se dirigissem ao hotel.
— Estou aqui para ajudar, Sr. Woodroe. Me diga se você
precisar de alguma coisa ao longo do caminho.
Debaixo dos saltos de plataforma desconfortáveis de
Lauren, o tapete vermelho apareceu de repente. A publicitária
disse algo que Lauren não conseguiu ouvir e os guiou até um
jornalista com um agradável, mas firme “dois minutos, Ted”.
O homem se apresentou e perguntou sobre a temporada
final de Gods of the Gates enquanto uma câmera filmava a
entrevista, e Lauren tardiamente deixou Alex, afastando-se
dele. Mas também havia flashes atrás dela e, sim, fotógrafos
gritando com ela.
— Mexa-se! Mexa-se! — gritaram, e ela foi de bom grado
para o outro lado do tapete vermelho, onde pessoas de
aparência mais normal estavam se apressando em direção ao
salão de baile do hotel, mas ela não podia ir. Era seu trabalho
ficar ao lado de Alex, não importasse o quê – Ron havia
enviado um e-mail peremptório enfatizando esse fato hoje cedo
– mesmo que ela não pudesse controlar o que saía daquela boca
sem fim, ninguém podia.
— Mexa-se! Mexa-se, senhora, vamos!
À sua frente, conversando com outro jornalista, estava
Carah Brown. Atrás de Lauren e Alex, apenas entrando no
tapete vermelho, Maria Ivarsson e Peter Reedton caminhavam
de braços dados, enquanto uma mulher de terninho e outro
fone de ouvido falava e os apontava para um jornal de notícias
específico.
Oh, merda, isso era um caos absoluto, e ela estava suando
agora. Até tremendo um pouco.
Antes que Lauren percebesse, a publicitária estava
conduzindo-os para o próximo repórter, que realmente olhou
para a companheira de Alex. Antes de iniciar a entrevista.
Lauren estava piscando contra os pontos brilhantes em sua
visão quando ouviu Alex dizer seu nome.
— Lauren Clegg, que trabalha para a produção. Então, não,
ela não ganhou um concurso de fãs, embora ela certamente ame
meu personagem. — Então ele estava piscando para ela, o
idiota, e puxando-a para mais perto dele com uma mão quente
em seu braço. — Diga a ele, Sra. Clegg. Diga-lhes o quanto você
adora Cupido. Sem mencionar o ator que o interpreta com
tanto talento e comprometimento.
Ela estava prestes a responder, prestes a dizer só Deus sabe o
quê, quando viu.
Agitação, onde não deveria haver. Aceleração.
Depois da bandeja arremessada que quebrou seu nariz,
depois de todos aqueles pacientes chapados ou zangados, ou
feridos e voláteis em sua dor, seus instintos eram sólidos e
rápidos. Ela foi rápida. E mesmo em meio a todos os flashes e
gritos e vestidos de coquetel brilhantes e várias entrevistas de
celebridades acontecendo ao seu redor...
Quando um homem pálido com cabelos escuros e roupas
escuras correu para o tapete vermelho, acompanhado pelo som
de gritos consternados e em pânico, meio saltou, meio rastejou
em direção a Alex, ela não precisou pensar. Ela simplesmente
usou seu corpo como um escudo, empurrando Alex para fora
do caminho, e tomou seu lugar para o que quer que este intruso
pretendesse.
O homem bateu em suas coxas, e ela tombou, fazendo o
possível para ficar em cima dele e esperando que ele não tivesse
uma faca ou uma arma. As pessoas ao redor deles estavam
gritando, e ele também, algo sobre os direitos dos homens e
pílulas vermelhas, e, oh, merda, aquele cotovelo em suas
costelas doía, e ele estava agarrando-a, cuspindo nela, e Alex
estava lá também, se esforçando e lutando, tentando ficar entre
ela e o agressor, os dois homens com o rosto vermelho e
gritando palavras que ela não conseguia entender, mas ela não
iria a lugar nenhum. Não até que ela soubesse que todos
estavam seguros.
Então a segurança veio correndo para a cena, assim como no
hospital, e ela rolou para o lado assim que o homem foi
imobilizado. De sua posição de bruços no tapete vermelho, ela
o viu ser arrastado para Deus sabe onde enquanto ela ofegava e
avaliava todos os lugares que ela foi machucada.
Sem facadas. Sem tiros. Apenas um monte de –
— Lauren! — Alex estava de joelhos ao lado dela, sua mão
instável, mas firme em sua bochecha enquanto tentava chamar
sua atenção. — Lauren, me responda. Onde você se machucou?
— Hematoma — ela conseguiu dizer. — Apenas
hematomas. Você está bem?
— Intacto — disse ele com um sarcasmo terrível e amargo.
Respirações profundas, uma após a outra. Ninguém estava
sangrando ou com ossos quebrados. Ele não estava. Ela
também não.
A conversa agitada ao redor deles era uma onda
desorientadora de barulho. Passou por sua cabeça, deixando-a
tonta.
Flashes de luz, tantos deles. As pessoas estavam tirando
fotos. Dela. De Alex.
— Se você não está ferida, não é por mérito seu. — Tirando
a jaqueta, ele a usou para limpar a saliva do braço dela, as maçãs
do rosto coradas de cor intensa. — Eu quero que alguém dê
uma olhada em você, e eu não quero uma única porra de
discussão sua. Ele derrubou você como um pino de boliche e
continuou balançando a porra da...
Com um violento movimento de cabeça, ele olhou ao redor
e gritou:
— Onde está Desiree? Eu quero um médico aqui agora!
— Eu não preciso— ela começou.
O som que ele fez em resposta...
Raiva bruta. Dirigida a ela. Isso a chocou em silêncio.
Ele inclinou a cabeça para perto e assobiou em seu ouvido,
e o calor que irradiava dele a escaldou.
— Você acabou de ficar entre mim e um maldito agressor,
Lauren, então se eu disser que você vai ver uma porra de um
médico, você vai ver uma porra de um médico. Você entendeu?
Seu peito subia e descia rapidamente e, quando ele se
afastou, seus olhos se estreitaram, fendas quentes nos dela, e ela
assentiu entorpecida.
— Ótimo. — A palavra foi um grunhido.
Alex afastou o cabelo de Lauren para trás de sua testa com
um golpe surpreendentemente suave, então cuspiu um porra e
ficou de joelhos.
— Onde diabos está Desiree? — ele gritou, e então a
publicitária estava correndo em direção a ambos, de olhos
arregalados e frenéticos. — Lauren precisa de atenção médica.
Eu ajudo você a levá-la–
— Não — disse Lauren.
Ele virou para ela, sua mandíbula saliente e amontoada, e
novamente, esse som.
— Vou ver um médico. — Ela pegou a mão dele e a apertou,
desesperada para que ele a ouvisse. — Mas eu estou bem, de
verdade. Você precisa ficar aqui e dar suas entrevistas.
Ele descartou isso com um violento aceno de cabeça.
— Eu não dou a mínima para as entrevistas.
— Caridade. — Ela manteve sua voz calma e baixa, sua mão
apertada em torno da dele. — Isto é para caridade, Alex.
Mulheres e crianças que precisam de ajuda. Você é o anfitrião.
A grande estrela.
Ele baixou o queixo no peito, a parte superior do corpo
ainda arfando com cada respiração.
— Eu vou cuidar dela pessoalmente — Desiree lhe
assegurou. — Um dos meus assistentes pode guiá-lo para os
meios de comunicação certos ao longo do tapete e nessa etapa
e repetir. E assim que ela for examinada, Lauren poderá se
juntar a você dentro do salão de baile.
Um minuto se passou e eles esperaram que ele se acalmasse.
Para decidir o que fazer.
Finalmente, Alex levantou a cabeça e encontrou seu olhar.
— Lauren? Você quer que eu vá com você?
Sim. Surpreendentemente…
Sim.
— Não — ela disse. — Estou bem sozinha. Vá em frente.
Desiree vai cuidar bem de mim.
Com um tsk tsk repreendendo-a, ele se inclinou perto da
orelha dela novamente.
— Você é uma mentirosa terrível — ele respirou, então se
afastou o suficiente para ajudá-la a ficar de pé. Suas mãos sobre
ela eram firmes, mas gentis, apoiando-a enquanto ela travava os
joelhos trêmulos embaixo dela e encontrava seu equilíbrio.
Ela agradeceu com mais um aperto de mão antes de soltá-lo.
— Não diga nada que todos vamos nos arrepender.
Ele grunhiu em resposta. Então, depois de um último olhar
severo para Desiree, sua mensagem clara – faça o que você disse
que faria, ou então – ele seguiu um jovem pairando com um
fone de ouvido até o próximo entrevistador.
Desiree guiou Lauren pelo lado peão do tapete e entrou no
hotel, e Alex desapareceu de vista. Suas contusões começaram
a latejar com cada batida do coração, cada passo para longe dele.
— Você tem algum ibuprofeno? — ela perguntou a
publicitária do evento.
— Se eu não tiver, eu vou procurar alguns. — Os lábios de
Desiree se curvaram. — Caso contrário, o Sr. Woodroe
provavelmente me alimentará aos leões como o grand finale
desta noite.
Atordoada e machucada, Lauren não respondeu ao
comentário irônico da outra mulher.
Mas ela pensou sobre isso enquanto o médico a examinava.
Ela pensou em tudo que aconteceu.
Palavras de Desiree. A fúria vulcânica de Alex para Lauren e
por Lauren. Sua própria resposta a tal proteção feroz.
Naquele momento, em sua preocupação enfurecida, ele a
colocou em primeiro lugar. Acima de sua própria caridade, suas
próprias obrigações profissionais.
Parecia... estranho. Desorientador.
Ninguém nunca a colocou em primeiro lugar.
Nem mesmo ela.
Não até agora.
9
Quando Lauren chegou ao salão de baile, cabelo penteado,
vestido endireitado, ibuprofeno tomado, o evento já estava em
andamento e Alex não estava à vista.
Desiree fez uma pausa e ouviu alguém falando pelo fone de
ouvido, murmurando algo em resposta. Então ela se virou para
Lauren.
— Eu preciso ir. Você vai ficar bem sozinha?
Lauren assentiu.
— Obrigada por toda a sua ajuda.
— Não, obrigada por garantir que nosso convidado de
honra permanecesse ileso. — O sorriso da publicitária parecia
genuíno. — Sua mesa está na frente do salão, bem no centro.
Uma mulher com uma prancheta normalmente verificaria seu
nome na lista da seção VIP, mas tenho certeza de que ela já sabe
quem você é. Você é meio famosa agora.
Lauren estremeceu.
Sua fama pode ser passageira, mas também não é bem-vinda.
Ela não queria ser investigada. Para seu próprio bem, mas
também para proteger a privacidade de Alex. Ninguém de fora
da produção precisava saber que ela estava servindo como sua
babá.
— De acordo com meu assistente, o invasor está na delegacia
agora, e os policiais de lá têm suas informações se precisarem de
sua declaração. Enquanto isso, você não deve ter mais
problemas, e se você tiver, é só pedir para falar comigo. —
Desiree apertou a mão de Lauren. — Tome cuidado, Sra.
Clegg, e espero que o resto de sua noite seja significativamente
menos agitado.
Quando a outra mulher se afastou, Lauren seguiu em um
ritmo mais calmo, permitindo-se um momento para estudar os
arredores. O amplo salão de baile estava inteiramente cheio de
participantes do leilão, a maioria deles já sentados nas mesas
redondas que pontilhavam o espaço. Outros ainda se
aglomeravam perto das peças silenciosas do leilão exibidas no
fundo do salão, alinhadas para o bar, ou conversando em
pequenos grupos brilhantes de humanidade. Um pequeno
exército de garçons discretos serpenteava entre as mesas,
oferecendo aperitivos à multidão reunida de pessoas que eram
– em geral – muito mais ricas e bonitas do que ela.
Por um momento, seus pés desaceleraram quase até parar,
enquanto sua desorientação a deixava tonta.
Em seguida, os candelabros no teto escureceram, e a
conversa começou a silenciar quando os atrasados voltaram
para suas mesas e todos os presentes voltaram sua atenção para
o palco. Sem mais delongas, Lauren correu para seu local
designado, localizando-o sem problemas. Como prometido, a
mulher empunhando a prancheta perto das mesas da frente
acenou para ela sem dizer uma palavra, e Lauren finalmente
afundou em sua cadeira acolchoada com um suspiro de alívio.
Ela chegou a tempo, mesmo que apenas por segundos.
Os outros assentos em sua mesa estavam cheios de rostos
conhecidos e famosos. Cara Brown. Maria Ivarsson. Pedro
Redton. Algumas outras pessoas que ela lembrava vagamente
das telas de cinema em seu local favorito.
Ela não deu muita atenção a eles além de um único olhar,
porque ela finalmente viu Alex. Ele estava andando ao lado de
Desiree e subindo os degraus até o palco. Apenas algumas
palavras dele, e a publicitária começou a rir enquanto se
posicionava na beirada da plataforma. Porque ele era um
encantador nato, aquele homem. O Flautista de Hamelin das
mulheres muito sérias.
Ele estava atrás de um púlpito no estrado brilhantemente
iluminado, o microfone posicionado perfeitamente para sua
altura, seu terno azul meia-noite elegante, seu rosto e corpo
bonitos o suficiente para fazer seus dentes doerem.
Ele brilhava mais do que qualquer holofote.
O poder de ser uma estrela deixou imagens atrás de suas
pálpebras, e isso foi antes mesmo de ele abrir a boca.
— Boa noite — disse ele, a voz rica, confiante e divertida. —
Eu acho que vocês já sabem quem eu sou, mas se vocês não
sabem, por favor, deixem-me me apresentar. Sou Alexander
Woodroe e interpreto Cupido em Gods of the Gates. Se você
não viu o programa, provavelmente pensa que eu vivo de
fraldas, mas não. Só nos finais de semana.
Os convidados riram, a atenção se absorta nele.
Ele limpou a garganta, e aquele sorriso perverso
desapareceu. Agarrando as bordas do púlpito, ele olhou para a
plateia.
— Eu me envolvi com a causa do evento de hoje há cinco
anos, e há uma razão pela qual eu coloquei quase todos os meus
esforços e doações nesta organização. Eles fazem um bom
trabalho. Trabalham de verdade. Eu visitei os abrigos e
escritórios, conheci seus funcionários e clientes e, antes mesmo
de me juntar à causa, meu amigo Marcus me obrigou a fazer
minha pesquisa.
Ela franziu a testa. Onde estava Marcus?
— Com a ajuda dele, me certifiquei de que a organização
funcionasse da maneira mais eficiente possível, para que
qualquer dinheiro doado pudesse ir o mais longe possível —
disse ele ao mar de mesas à sua frente. — Também me
certifiquei de que eles alcançassem mulheres LGBTQIA+ –
especialmente mulheres trans – e mulheres racializadas, porque
todos sabemos que nossas comunidades mais vulneráveis
muitas vezes se veem excluídas do apoio que precisam e
merecem desesperadamente.
Nesse ponto, ela começou a calcular quanto de doação ela
poderia pagar, porque Alex era um porta-voz muito eficiente
para a caridade.
Ele continuou:
— Os trabalhadores são gentis e tratam seus clientes –
mulheres e crianças maltratadas, pessoas com necessidades
urgentes em tantos níveis – com respeito. Eles… — De tão
perto do palco, ela podia ver a garganta dele balançar enquanto
ele engolia. — Eles realmente as ouvem. Eles prestam atenção ao
que essas mulheres e crianças dizem, para que saibam a melhor
forma de ajudar. Como alcançar mais pessoas necessitadas e
como apoiar essas pessoas na reconstrução de vidas livres da
violência.
Seus dedos estavam brancos de tensão enquanto ele se
segurava no púlpito.
— Em nosso mundo, nem – nem todo mundo ouve. — A
voz dele... falhou um pouco. Vacilou — Nem todo mundo
presta atenção suficiente.
Ele olhou para o chão do palco por um momento, em
silêncio, e Lauren também não conseguiu ouvir um único
sussurro de som da plateia. Como um grupo, eles pareciam
estar prendendo a respiração enquanto o observavam lutar
contra alguma coisa.
Isso era pessoal. Ela reconheceu a culpa e a dor quando viu.
Ela queria correr para o palco e confortá-lo. Protegê-lo, já
que outra ameaça – esta era invisível – tentou derrubá-lo de
joelhos esta noite. Mas ela era sua babá, não sua acompanhante.
Eles se conheciam há cerca de oito dias, e ela não tinha o direito
de exigir sua história, nem o direito de se oferecer como um
baluarte contra sua dor.
Ele era como uma estrela distante no céu da meia-noite, e ela
não podia fazer nada.
Quando ele levantou a cabeça novamente, ele deu aquele
sorriso afiado e sarcástico.
— Quero dizer, somos frutos de Hollywood, certo? Somos
egocêntricos. Pelo menos, eu certamente sou. Eu sinto falta das
coisas. Até coisas importantes. Tipo, digamos, de quando eu
deveria parar de beber e sair de um bar.
Ele se inclinou para perto do microfone, falando em um
falso sussurro.
— Dica: você deve sair antes da briga começar.
Alguns suspiros e mais risadas.
Ela esfregou as têmporas. Ron havia aprovado uma
referência à prisão de Alex? Se não, se fosse um improviso, ela e
Alex certamente ouviriam sobre isso em um futuro próximo.
— Em apenas um minuto, Mariela Medellín, nossa diretora
local, contará mais sobre o que a organização faz, a quem ajuda
e como funciona, porque essa é uma informação importante.
— Ele inclinou a cabeça para a mulher de cabelos escuros de pé
ao lado e ligeiramente atrás dele no palco. — Mas estou aqui
esta noite como representante da Hollywood egocêntrica.
Estou aqui para dizer o que você ganha se doar e doar muito.
Alex era egocêntrico?
Quando eles se conheceram, ela teria dito sim. Sem
hesitação.
Agora, ela não tinha tanta certeza.
— Já interpretei heróis na televisão e nas telas de cinema.
Semideuses. Bombeiros. Médicos. Amantes rejeitados de
mímicos franceses. — Mais risadas. — Mas nunca me senti
mais herói do que no dia em que me associei a esta organização
e lhes entreguei o meu primeiro cheque. O dia em que percebi
que mais dinheiro significava mais recursos para aqueles que
são vítimas de abuso. Meu dinheiro – o dinheiro de vocês –
garante que os sobreviventes locais conheçam suas opções,
saibam como conseguir ajuda, saibam que podem sair, saibam
como construir uma nova vida e saibam que podem fazer tudo
isso com segurança e total apoio.
Ele ergueu as sobrancelhas e se inclinou para frente
novamente, e a maioria das pessoas que ela viu nas mesas ao
redor se inclinou para frente também.
— Então, aqui vai o que vocês ganham com isso. — Ele
sacudiu um dedo, indicando todos no salão. — Com o
dinheiro que vocês doarem esta noite, vocês também poderão
se sentir como um herói. Melhor ainda, você pode ser um herói
para alguém que precisa desesperadamente de um.
Suas próximas palavras foram lentas, ritmadas para que
cada uma delas se encaixasse.
— E eu posso ser um pirralho de Hollywood egocêntrico,
mas até eu entendo a parte mais importante: com o dinheiro
que vocês doarem esta noite, vocês poderão ajudar uma mulher
vítima de abuso a ser sua própria heroína.
Ele os deixou refletir sobre isso por alguns segundos antes de
falar novamente.
— Obrigado por virem esta noite, e lembrem-se: eu sei
quanto você ganhou em seus filmes mais recentes, e eu sei o que
você gastou nesses ternos elegantes e vestidos brilhantes, então
eu espero alguns lances grandes hoje à noite. Estou falando com
você, Carah Brown. Você me deve por aquele negócio de
"idiota delicioso". — Enquanto Carah ria e a multidão
gargalhava, ele se virou para encarar a diretora da instituição de
caridade. — Agora, por favor, deem as boas-vindas a Mariela
Medellín.
Quando o público aplaudiu, Lauren recostou-se na cadeira
e olhou para ele.
Ela pensou que o entendia. Talvez não todos os detalhes,
mas pelo menos os contornos básicos de quem ele era e o que
ela poderia esperar dele.
Ela não o entendia. Ela não o conhecia, e ele certamente não
a conhecia.
Mas isso poderia mudar, se ela quisesse.
E ela queria. Queria demais.
10
Depois que o leilão em si terminou, Alex teve que traçar
o seu caminho por uma multidão de participantes que
queriam conversar, elogiar seu discurso, se gabar do tamanho
de suas doações e tirar selfies. No final, mais de uma hora se
passou antes que ele pudesse voltar para sua mesa.
Ele havia perdido o jantar, mas não dava a mínima para isso.
Seu crânio latejante e seu coração trovejante tinham prioridade
sobre seu estômago vazio.
Alex cumprimentou seus amigos com breves desculpas,
prometendo conversar mais tarde. Então ele imediatamente se
virou para Lauren, sentada em sua cadeira estofada e pegando
os restos de seu cheesecake de cereja enquanto ouvia Carah
xingar em voz alta sobre alguma coisa.
Ele deveria esperar até que eles chegassem em casa.
Este não era o tipo de conversa para se ter em público, mas
ele não aguentava mais. Não após horas gastas reprimindo as
palavras que precisavam ser ditas para sorrir e fazer conversa
fiada idiota e persuadir as pessoas a esvaziar suas carteiras.
Assim que Desiree lhe assegurou que Lauren estava
realmente bem, sua fúria em relação à sua guardiã aumentou, e
não diminuiu desde então. Em vez disso, só se expandiu
quando ele a viu entrar no salão de baile e estudar seus arredores
com aquele olhar afiado; como ele a observou silenciosamente
se acomodar em seu assento, a renda preta provocando a pele
pálida de suas clavículas; e especialmente quando ele a viu
observá-lo durante seu discurso, sua atenção arrebatada e...
orgulhosa, quase.
Algo ficou preso em sua garganta. Tornara difícil falar.
Em uma de suas piadas estúpidas, uma risada rara deixou
seus lindos olhos brilhantes e...
Tudo isso, tudo o que ela era, poderia ter deixado de existir,
tudo porque ela não dava a mínima para si mesma.
Era inaceitável.
Dobrando a cintura, ele falou em seu ouvido, baixinho o
suficiente para que ninguém mais pudesse ouvir.
— Quão gravemente você está ferida?
— Estou bem. — Ela sacudiu a mão em dispensa, sua voz
tão baixa quanto a dele. — Só com um pouco de hematomas.
Lauren diria a mesma coisa se alguém tivesse cortado um de
seus membros, mas como Desiree havia dito o mesmo, ele
preferiu acreditar nas duas.
— Que bom.
Sem mais delongas, ele gentilmente segurou seu braço e a
levantou, e a guiou para fora do salão de baile e por um corredor
aleatório, depois outro e outro, até que eles se perderam em
algum lugar nas profundezas do hotel.
Sua testa enrugou quando ela olhou para ele, mas ela não se
opôs, e não o perguntou aonde eles estavam indo. Ela confiava
nele, evidentemente. De alguma forma, isso só alimentou ainda
mais sua raiva.
Em um canto deserto e mal iluminado, muito depois de
terem visto outro ser humano pela última vez, ele largou o
braço dela e seu domínio vacilante sobre seu temperamento.
— Nunca mais faça isso. — Quando ele se virou para ela,
seus olhos se arregalaram, mas ela não se esquivou. — Se algum
filho da puta vier correndo na minha direção, você sai da porra
do caminho.
Sua testa franziu.
Como diabos ela estava confusa? Ele não havia deixado
perfeitamente claro?
Ela balançou a cabeça um pouco.
— Mas era o seu evento. Você era o anfitrião, e todas aquelas
câmeras e jornalistas eram–
— Eu não me importo com onde estávamos ou o que
estávamos fazendo, Lauren. — Ele abriu as mãos, tão frustrado
que sua cabeça latejava no ritmo de cada batimento cardíaco
furioso. — Você não sabia se aquele idiota tinha uma arma ou
uma faca, ou–
— Mas ele não tinha — ela disse suavemente. — Estou bem.
Ele definitivamente não se acalmou.
— Você não sabia disso quando me empurrou para o lado e
se usou como uma porra de escudo, e deixe-me ser claro, Lauren.
Prefiro morrer do que ver você ser morta em minha defesa,
então se você se importa com o que eu quero, você se manterá
segura e fugirá se isso acontecer novamente. — Ele agarrou seu
cabelo com as duas mãos, puxando com força suficiente para
que seu couro cabeludo doesse. — Jesus Cristo, mulher. Que
porra você estava pensando?
— Eu… — Ela ainda estava olhando para ele, aparentemente
surpresa pela nova noção de que ela deveria se preocupar com
sua própria segurança. Como sempre, ela era a pior — Eu
realmente não pensei. Eu apenas reagi.
Não estava bom o suficiente.
— Bem, descubra como reagir de maneira diferente e faça
isso agora. Caso contrário, estarei solicitando uma guardiã
diferente. Eu não vou deixar você jogar sua vida fora por alguém
como eu.
— Alguém como você? — Suas sobrancelhas se ergueram
ainda mais. — Eu não–
— Não mude de assunto — ele rosnou. — Isso é sobre você,
não eu, e o jeito que você–
Ela o interrompeu sem pedir desculpas e, se ele não estivesse
tão puto, ele ficaria satisfeito com o descaramento
— Meus instintos não vão mudar da noite para o dia.
Trabalhei mais de uma década na sala de emergência e não
posso simplesmente...
— Você trabalhou em uma sala de emergência? —
Caramba, por que ele não sabia disso? Por que ele não
perguntou? — Eu pensei que você estava desesperada em
algum trabalho sem perspectiva, e foi por isso que você se
dispôs a aceitar a oferta de trabalho de seu primo idiota.
E talvez ele não quisesse ouvir sobre o emprego sem saída
dela, porque isso o faria se sentir ainda mais culpado por tudo
que ele tinha, especialmente quando ela o deixasse e voltasse
para aquele emprego ou algum parecido.
Porra, ele era um pedaço de merda egocêntrico quando se
tratava das mulheres importantes em sua vida.
— Sim — ela disse e não deu mais detalhes.
Que pena. Ele iria perguntar de qualquer jeito.
— O que você fez lá? — Ele respirou fundo, o pior de sua
raiva extinguida pela culpa. — Você é médica? Uma
enfermeira?
Ele podia vê-la em qualquer um desses cargos. Na verdade,
ele podia imaginá-la se destacando em um milhão de empregos,
cada um deles mais importante do que cuidar dele, de todas as
pessoas.
— Eu era uma psicóloga nos serviços de emergência.
Basicamente, uma psicóloga em um pronto-socorro. —
Aparentemente percebendo seu olhar vazio de quem não
entendeu, ela esclareceu ainda mais. — Via pessoas passando
por crises de saúde mental que ou que deram entrada no
pronto-socorro ou foram trazidas pela polícia, ou por uma
ambulância. Avaliava seu estado mental. Alguns, enviei para
casa com vários apoios. Outros, mandei para uma unidade de
internação – voluntária ou involuntariamente – ou para
tratamento de abuso de substâncias. O que melhor os protegia
de se machucar e atendia às suas necessidades.
A mandíbula macia dela funcionou.
— Se bem que… esquece.
— O quê?
— Não importa agora. — Seus ombros caíram. — De
qualquer forma, as pessoas às vezes ficavam agitadas. Aprendi a
reagir rapidamente a situações potencialmente perigosas.
Agitadas não era difícil de entender.
Enfurecidas. Feridas. Violentas.
Ela levantou um ombro e ficou em silêncio, e parecia ter
acabado. Agora ele sabia por que seus instintos para problemas
eram tão afiados. Ele também sabia que toda a sua raiva – com
ela, consigo mesmo – era justificada.
Lauren Clegg era uma boa pessoa.
Lauren Clegg era quem ele desejava ser há mais de uma
década. Uma pessoa que ajuda. Que protege. Alguém que
percebe problemas e reage rapidamente.
O que significava que de jeito nenhum ela deveria ter se
arriscado por ele. Mas dado esses instintos protetores, dado o
quão pouco ela parecia valorizar seu próprio conforto e
segurança, também não havia como ela não se arriscar por ele.
— Conversei com a minha advogada enquanto você estava
com o médico. Vou solicitar uma ordem de restrição de
emergência contra o idiota que derrubou você esta noite. — Ele
se recostou contra a parede, de repente exausto. — De acordo
com ela, ele será provavelmente acusado de agressão e assédio,
não contestará e acabará com serviço comunitário e
aconselhamento obrigatório.
Não era o suficiente. Não quando a visão daquele filho da
puta se batendo contra ela ainda aparecia repetidamente atrás
de suas pálpebras, e ela continuava distraidamente esfregando
as costelas. Mas pelo menos eles não teriam que lidar com
declarações ou formulários até amanhã, porque ela já tinha
passado por muita coisa esta noite.
Ela apertou os lábios.
— Ele tem uma história–
— Eu não acabei. — A bainha de seu vestido estava torta,
dobrada para um lado, e ele a endireitou. — Lauren, me escute.
Estou comovido pelo que você fez. De verdade. Obrigado por
me proteger.
Um canto daquela boca generosa recuou.
— Suspeito que estou prestes a ouvir um “mas”.
Não, ele não faria uma piada sobre ouvir idiotas. Droga.
— Mas a menos que a ameaça caia nos meus pés, como foi
esta noite, você não pode me proteger — ele disse a ela. — Você
tem literalmente metade da minha altura, e–
— Isso não é verdade. Literalmente.
— Se ele tivesse atacado em qualquer lugar mais alto, não
havia como você tê-lo impedido, e–
— Do que você está falando? Você espera que agressores
pulem sobre minha cabeça?
— Eu não quero que você se machuque.
Ela ficou em silêncio, e ele também, porque lá estava se
repetindo. A visão de um homem grande batendo nela e a
derrubando, cuspindo e dando cotoveladas nela, tudo
enquanto Alex tentava em vão tirá-la do caminho e rezava
desesperadamente para que o homem não tivesse uma arma –
Reclamações dadas e basicamente ignoradas por sua babá
irritante, ele foi para a jugular. Culpa. Ele suspeitava que ela
marinava nela todas as noites, e ele pretendia adicionar mais
uma coisa à lista.
— Eu não quero que você se machuque — ele repetiu —
porque Ron disse que sua substituta seria muito, muito pior do
que você. Lembra? E se a sua substituta for muito, muito pior,
acho que não vou conseguir ficar longe de problemas. E se eu
não conseguir ficar na linha–
— Ron e RJ vão recorrer aos termos do seu contrato e
envolver seus advogados. — Ela suspirou. — Eu lembro.
— Então eu preciso que você se proteja. Pelo meu bem. Eu
não me importo muito com você, mas me importo muito
comigo mesmo.
Isso. Isso deve resolver.
Ela emitiu uma espécie de hmm descontente.
Então ela se inclinou em direção a ele e seu ombro roçou no
braço dele e ele não deveria sentir isso com tanta precisão. Cada
átomo de contato, nítido e distinto. Mas ele sentiu.
— Você não me engana. — Sua voz era baixa e segura, e se
ela estendesse seu dedo indicador acusador mais um
centímetro, ele poderia mordiscar sua ponta. — Conversei com
Desiree enquanto o médico dava uma olhada em mim. Eu sei o
que você fez para tornar o leilão um sucesso. Eu sei todos os
itens do leilão que você forneceu e todas as pessoas que você
ligou pessoalmente. Eu sei que você mantém a maioria de suas
doações de caridade em segredo e, após conversar com Carah,
Peter e Maria durante o jantar, sei como seus amigos e colegas
se sentem em relação a você.
Ele descartou isso com um bufo de desprezo.
— É claro que a caridade disse coisas boas sobre mim. Eu
ocasionalmente lhes dou dinheiro. E os atores não tendem a
falar mal de seus colegas. Essa é uma boa maneira de não
encontrar trabalho nunca mais.
Eles também ficam em silêncio quando seus colegas atores
reclamam de diretores e produtores, não importa o quão
justificadas essas reclamações pudessem ser. Ele sabia disso
como um fato.
Ele também sabia por quê. Se você levantasse um
burburinho, rapidamente você se tornaria uma pessoa não
grata nas seleções de elenco. A necessidade de tanta confusão
não significava nada para os poderosos de Hollywood. O que
explicava por que, ele, de alguma forma conseguiu o papel de
Cupido, apesar do desastre de All Good Men, ele achou que foi
uma sorte inacreditável. Então, novamente, ele
frequentemente era um idiota.
Lauren – a porra de uma psicóloga, pelo amor de Deus – já
deveria saber disso.
— Sou um homem de trinta e nove anos que se fantasia e
brinca de faz de conta para viver, e recebe uma quantia absurda
de dinheiro para fazer isso — ele disse a ela. — É isso. Isso é tudo
que há para saber sobre mim. Não importa no que você
acredite, não estou tentando enganá-la, então não se engane.
E, por sete anos, ele se vestiu e atuou em um programa que
dizia aos espectadores que eles não podiam escapar de
relacionamentos abusivos. Não para sempre. Nem mesmo após
anos de tentativas.
Ele não era nada comparado a ela. Ela precisava saber disso,
então ela nunca arriscaria sua segurança por ele de novo.
— Entendi — ela disse, seu olhar fixo nele.
— Espero que sim — ele disse a ela, e era verdade.
Então, sem outra palavra, ele a levou de volta ao salão de
baile.
11
Ron foi um idiota sobre o incidente, é claro.
Alex não esperava muito, o que foi conveniente, pois ele não
recebeu nada melhor do que ele esperava, nem Lauren. O e-
mail que ele recebeu na manhã seguinte simplesmente dizia:
Parabéns por distrair a mídia de sua briga de bar bêbado com
sucesso. Ron incluiu um emoji de chorar de rir e fez exatamente
zero perguntas sobre a saúde de sua prima ou o seu bem-estar
pós-ataque.
Depois que a mensagem chegou em sua caixa de entrada,
Alex foi para a academia e se exercitou quase ao ponto de
vomitar, porque, se não o fizesse, escreveria algo de que se
arrependeria em resposta ao seu chefe. Embora, honestamente,
ele nem tivesse certeza de que iria se arrepender, apesar das
ramificações legais e financeiras.
Por dias depois, ele e Lauren ficaram principalmente nas
partes de sua propriedade que eram escondidas da vista do
público, esperando que o interesse da mídia na história
diminuísse. Com previsível e induzida disciplina, ela ficou
offline e não pesquisou sobre ela mesma no Google nem uma
vez, até onde ele sabia. E, aparentemente, os paparazzi não
conseguiram localizar seu número ou endereço de e-mail, então
ela não estava recebendo telefonemas ou mensagens de gente
aleatória. Sua advogada o manteve atualizado sobre o idiota que
derrubou Lauren, e isso parecia estar acontecendo como
previsto também.
Tudo estava calmo. Não havia nada a fazer, na verdade,
exceto passar um tempo com a babá dele. Era de se esperar que
ele estivesse entediado até seu maldito crânio.
Mas foi incrível para um caralho.
Meses e meses atrás, vagamente consciente de que estava se
aproximando da exaustão física e emocional total, ele ignorou
as mensagens intimidadoras de seu agente e se recusou a
agendar novos empregos para esse estranho período de tempo,
o intervalo entre o final das filmagens de Gates e a conferência
que acompanharia a exibição da temporada final. Mais
trabalho o esperaria depois que o final da série chegasse e
passasse, mas por enquanto: nada.
Ele não tinha ligações para fazer. Sem audições. Não tinha
necessidade de programar três alarmes separados.
Na maior parte do tempo, ele apenas dormia, lia, se
exercitava e intimava Lauren para assistir a programas de
competição de culinária com ele e comer todas as refeições
juntos.
Para sua surpresa, nem foi preciso muito para convencê-la.
Algo havia mudado entre eles durante aquele confronto no
corredor do hotel. Ela falou mais. Sorriu mais. Discutiu mais
com ele. Ela parecia mais presente.
E, em algum lugar naquele ocioso período de tempo após o
leilão, ela começou a rir também. Não por acaso. Não porque
o mundo se tornou um lugar significativamente mais divertido
ao longo de uma ou duas semanas.
Não, ela começou a rir porque ele formulou uma nova meta
diária: ele queria fazê-la rir com a mesma frequência que a
frustrava. Ou seja, muito.
Ambos os resultados foram igualmente agradáveis. Muito
agradáveis.
Quando ela ria, era alto, seu rosto ficava corado, e ela cobria
aquele rosto com as mãos enquanto fazia pequenos sons de
ronco pelo nariz torto, e era tão bom. Às vezes, vê-la rir o fazia
rir também, sem motivos.
Hoje, ele pretendia fazê-la rir mostrando as fotos de Ian. Na
verdade, quando ele recebeu as fotos pela primeira vez, ele
caminhou até os estábulos antes de perceber que já passava das
duas da manhã, e Lauren podia não gostar que ele a acordasse
para atualizações sobre Ian.
Ela provavelmente ficava bonitinha, toda amarrotada na
cama.
— Ei, Lauren — ele disse enquanto ela se aproximava para
seu café da manhã normal do lado de fora. — Ian enviou ao
elenco fotos totalmente novas de seus esforços na reforma da
casa na noite de ontem.
Sem dúvida, percebendo a alegria em sua expressão, ela se
sentou em sua cadeira habitual e estreitou os olhos para ele.
— O que você fez, Woodroe?
— Talvez eu tenha dito algo sobre minha masmorra.
Sua testa enrugou.
— Você tem uma masmorra?
Ele lhe enviou um olhar de repreensão.
— Se eu não tivesse, como poderia ter sido capa da
Masmorras Modernas Mensais para a edição anual As
Masmorras Mais Bonitas? No ano passado, foi o número
trinta e três da lista “100 Masmorras Para Ver”, então isso é um
verdadeiro triunfo para mim. E então eu disse a Ian, pouco
antes de ele decidir fazer algumas reformas na casa.
Nesse momento, ela se inclinou para frente e cobriu o rosto
preventivamente.
— Por favor, diga que não construiu uma masmorra.
Ele coçou o queixo barbudo pensativamente.
— Talvez, só talvez eu tenha feito alguém inventar uma
edição da revista. Minha masmorra tinha tetos abobadados.
— Alex.
Nas últimas duas semanas, seu carinho por aquele tom
escandalizado havia aumentado consideravelmente.
— Ian, por pura coincidência, decidiu recentemente
construir sua própria masmorra. — Ele pegou seu celular. —
Você deveria dar uma olhada.
— Oh, caramba — ela murmurou, mas ela espiou por entre
os dedos.
Então sua boca se abriu, e ela rolou para a próxima foto, e
sim. Sim, isso.
Bochechas rosadas. Mãos no rosto. Pequenos bufos em
meio a gargalhadas.
Sua manhã estava completa.
— Isso é… — Ela riu mais, então tentou novamente. — Ele
tem um mini bar em sua masmorra?
— Não se esqueça das algemas banhadas a ouro presas à
parede de cada cela com piso de mármore. — Ele riu. — No
grupo do elenco, chamei a masmorra de “O Quarto Dourado
da Dor” e perguntei quando Christian Grey planejava aparecer
para uma visita. Naquela altura da conversa, Ian tinha algumas
coisas muito pouco lisonjeiras a dizer sobre meu personagem.
Eu fiquei magoado.
Ela balançou a cabeça para ele, mas ainda estava sorrindo.
— Você é inacreditável.
— Você não tem ideia.
Ele ofereceu a ela a bandeja de servir que ele trouxera mais
cedo, que ele usou para carregar suas bebidas e dois pratos de
bagels cobertos com cream cheese, salmão defumado, fatias
finas de cebola roxa e alcaparras. Seus dedos pararam sobre o
bagel com mais queijo cremoso, mas ela pegou outro, deixando
para ele o bagel que ela silenciosamente considerou o melhor.
Ele conseguiu não revirar os olhos, mas foi por pouco.
Ele arrancou o prato das mãos dela e o reivindicou para si.
— Este bagel tinha mais salmão. Não seja tão egoísta, sua
megera de mulher.
O prato restante, o bagel cheio de cream cheese, caiu na
frente dela, e ela olhou para ele em silêncio por um minuto.
— Obrigada — ela finalmente disse, muito calmamente.
— Pelo quê? — Ele zombou. — Pegar o que tinha mais
salmão? De nada. Por favor, sinta-se à vontade para me
agradecer quando eu reclamar que qualquer fatia de bolo tem
mais cobertura também.
Lauren não gostava muito de glacê, ele aprendeu, o que era
um absurdo. Possivelmente anti-americano.
— Quais são seus planos para hoje, babá Clegg? Ir para o
Griffith Park e acabar com as festas de aniversário das crianças
por causa de demonstrações ilegais de alegria e leviandade?
Em algum momento no futuro próximo, ele pretendia
encontrar um novo apelido para ela, embora não retirasse
inteiramente a babá Clegg de circulação. Mas essa versão de
Lauren, aquela que ria e conversava, merecia uma opção
diferente.
— Eu pensei… — ela começou, apenas para ser
interrompida pelo toque de seu telefone. — É Sionna. Só um
minuto, vou dizer a ela que ligarei de volta depois do café da
manhã.
Quando ela se levantou e se afastou, ele ouviu a voz de uma
mulher desconhecida dizer:
— Carricinha! Como vai?
Carricinha?
Como diabos ele tinha esquecido isso?
Todo esse tempo, ele teve a sensação estranha de que sabia
que tipo de pássaro ela o lembrava, e ele não foi capaz de se
lembrar de fato.
Mas é claro que era uma carriça. Claro.
Uma carriça de inverno, especificamente.
Enquanto ela conversava com sua amiga – e era
estranhamente agradável vê-la conversando animada e relaxada
com alguém que não fosse ele – ele pegou seu telefone e fez
algumas pesquisas para refrescar sua memória.
Sim. Era exatamente esse pássaro.
As carriças de inverno eram muito pequenas: confere. Tão
redondas que pareciam bolinhas: confere. Penas marrons e
cinzas: confere. Canto alto e alegre: se sua risada alegre e
bufante fosse equivalente, confere. Não são particularmente
rápidos ao andar: confere.
Hmm. Os ninhos construídos pelos machos eram
chamados de ninhos de galo. Melhor não pensar muito sobre
isso.
Quando Lauren voltou para a mesa do café da manhã, ele
reclamou:
— Você estava tão incrivelmente tagarela, nossos bagels nem
estão mais quentes.
Ela caiu em sua cadeira.
— Nossos bagels nunca estiveram quentes, idiota.
— Ahhhhhh. — Ele se sentou e sorriu para ela. — Boa
energia de Harpia, Carricinha. Talvez até a Grande Energia
Harpia.
— Você ouviu a Sionna, não foi? — Ela pegou seu bagel e o
estudou, evidentemente decidindo onde morder primeiro. —
Tanto faz. Sinta-se à vontade para me chamar de Carricinha.
Com certeza é melhor do que Babá Clegg.
— Gelo puro — ele gemeu com a boca cheia de seu próprio
bagel. — É como mastigar uma geleira.
Quando ela não conseguiu conter mais as risadas, ele ficou
tentado a registrar a alegria bufante, só para poder reproduzi-la
sempre que precisasse sorrir.
Mas ele não registrou, já que isso seria assustador. Mas ele
tentou memorizar o som de qualquer jeito, porque em breve,
como o canto da carriça de inverno, a sua risada também
desapareceria.

Lauren tentou dizer a si mesma que não estava usando a


camiseta SEJA A MEGERA QUE VOCÊ QUER VER NO
MUNDO de propósito, para agradar Alex. Isso seria uma
mentira, no entanto, já que ela definitivamente estava. Só que
ele parecia gostar tanto disso. Mesmo depois de três semanas
juntos em Los Angeles, tendo visto todas as camisetas dela
repetidamente, ele sorria quando via a blusa da megera todas às
vezes.
Tirando aquela noite, na semana passada, quando suas
sobrancelhas se juntaram em pensamento.
— Você se considera uma megera, então? — ele perguntou.
— De verdade?
Eles estavam assistindo o pôr do sol de uma de suas áreas de
estar ao ar livre, e ele estava olhando para a camiseta dela
ocasionalmente, estranhamente silencioso.
Ela foi honesta na resposta.
— Não de verdade. Mas já fui chamada de megera antes.
Ele colocou sua garrafa de limonada cintilante na mesa baixa
de concreto polido com extremo cuidado, sua mandíbula
projetando-se sob aquela barba.
— Por homens?
Ela assentiu.
— Na maioria das vezes. Normalmente, quando me recuso
a concordar com o que um paciente ou colega de trabalho quer.
Eu não costumo ceder quando sei que algo está errado, então
eles me chamam de megera ou vadia.
Houve um som estranho emanando da cadeira de Alex. Um
estrondo.
— Isso não me ofende ou fere meus sentimentos — ela
adicionou de forma tranquilizadora. — Se eu for ser chamada
de megera ou cadela por seguir minha consciência e meu
treinamento, que assim seja.
— Nossa, isso faz tudo ficar bem, então — disse ele, seu
sarcasmo grosso o suficiente para sufocar os dois.
Ela precisava se explicar melhor.
— Não está certo a nível social ou mesmo profissional, mas
está bom a nível pessoal. Tem que estar, porque senão eu
passaria minha vida com raiva e triste, e não quero isso para
mim.
Não que ela tivesse conseguido evitar raiva e tristeza em seu
trabalho, mas isso era uma história para outra hora, se ela
alguma vez fosse compartilhá-la.
Suas mãos ainda estavam fechadas em punhos ao seu lado, e
era hora de mudar de assunto.
— Ei, Alex, eu tenho uma pergunta para você. Os baps são
gírias para outra coisa na Grã-Bretanha? Porque quando
assistimos The Great British Bake Off, parece que as pessoas
ficam sorrindo quando alguém usa esse termo.
Completamente distraído, como ela pretendia – sim, ela já
sabia que baps significava seios, não apenas pães de hambúrguer
– ele começou a explicar alegremente a gíria britânica para ela,
e a parte séria da conversa terminou.
Naquela noite, ela ficou acordada novamente,
perguntando-se por que ele continuava ficando tão bravo por
ela. Mais irritado do que ela já esteve por si mesma.
Ela não entendeu. Mas isso a fez se sentir… acolhida, com o
coração quentinho.
Falando em calor, era uma noite fria em LA apesar do calor
diurno. Ela estava fazendo uma xícara de chá, e talvez Alex
também quisesse.
A porta da casa principal estava destrancada. O alarme
também aparentava estar desligado, porque obviamente estava.
Apesar de todos os seus sermões e preocupação com a
segurança dela, o homem se recusava a se proteger
adequadamente. Desde sua chegada, ela o repreendeu sobre o
assunto mais de uma vez enquanto ele revirava os olhos
expressivos dele.
Ele não estava assistindo a um programa de culinária na
grande sala, e não estava se exercitando na academia, e não
estava lendo na biblioteca. De jeito nenhum ela estava se
aventurando no quarto dele sem ser convidada – ou de
nenhum outro jeito, ela se corrigiu; ela não iria se aventurar lá,
então ele estava em algum lugar no terreno ou em seu escritório
pessoal.
Quando ela espiou pela porta entreaberta daquele
escritório, ela o viu atrás de sua grande mesa, na frente de seu
computador, digitando. Depois de bater levemente no batente
da porta, ela esperou por uma resposta e não obteve uma.
— Alex? — ela chamou.
Ainda sem resposta.
Às vezes, ele se concentrava em certas atividades, a ponto de
não responder a nada além de contato físico. Assim, ela veio por
trás dele e estendeu a mão para tocar seu braço, apenas para
ver–
O que diabos ele estava escrevendo?
Porque ela tinha quase certeza de que tinha lido
inadvertidamente alguma coisa sobre Cupido e lubrificante e
arreios e dildos do também sobre o antebraço de uma mulher,
que...
Oh. Oh.
Sua cabeça deu um pulsar de advertência.
— Você está escrevendo fanfic, Alex? Sobre o seu próprio
personagem?
Isso chamou a atenção dele.
— O quê? — Era uma pergunta ausente, desprovida de sua
habitual nitidez.
A cabeça dele virou na direção dela, seu olhar confuso com
a concentração interrompida, e ele meio que olhou através dela.
Então, seus olhos se focaram e se arregalaram enquanto ele
registrava completamente a situação. Imediatamente, ele
procurou o mouse e minimizou o texto.
— Ah, merda — Ele suspirou. — Quanto você viu, babá
Clegg?
Soltando um suspiro pelo nariz, ela apertou os lábios.
— Não muito? O suficiente.
— Hmmm. — Ele a olhou avaliando por um longo
momento antes de dar de ombros. — Hmm. Que seja. Eu
suspeitava que você descobriria em algum momento de
qualquer maneira.
Toda preocupação desapareceu de sua expressão, ele
minimiza a janela novamente.
— Esta é minha primeira fic. Estou apenas fazendo edições
finais antes de postar. Você pode ler se quiser, mas para sua
informação, há algum conteúdo gráfico. Tipo, a maior parte da
história envolve pegging.
— Eu não deveria ler… — Droga. — Alex, esse é o tipo de
coisa que eu devo reportar...
— Achei que já que você não vai me deixar me divertir na
vida real, eu poderia pelo menos ter uma diversão na ficção. —
Ele sorriu feliz para ela. — Tenho escrito algumas palavras por
dia. Tem sido incrível, na verdade. Na história, eu trabalho com
muito da minha infelicidade sobre o arco de personagem de
Cupido e como Ron e RJ massacraram completamente...
Ela pressionou a mão sobre a boca dele, mas ele continuou
a falar.
— Veebus mmme Jupimmmmr são totmmmf
manipumm–
— Alex — ela disse, elevando a voz sobre a dele e fazendo o
possível para não notar quão surpreendentemente macios seus
lábios eram contra seus dedos —, pare de falar. Ron e RJ
gostariam de saber sobre isso. Quanto menos você me disser,
menos eu posso dizer a eles.
Ele lambeu sua palma, seus olhos brilhando
maliciosamente, e ela se afastou dele com um olhar.
— Pronto... Assim é melhor. — Voltando para o
computador, ele franziu a testa por um momento, então
mudou uma palavra. — Sim, empurrar em vez de investir nessa
frase. Uma grande melhoria, se assim posso dizer. E agora a
história está pronta para ser postada.
Ela esfregou a testa com força suficiente para doer.
— Alex. Se Ron ou RJ descobrissem que você está
criticando publicamente o programa, mesmo sob um
pseudônimo e por uma história fictícia, eles provavelmente
teriam motivos para retaliação legal. E o que outros diretores e
produtores pensariam? Eles ainda iriam querer contratá-lo se
soubessem que você insultou sua própria produção?
Sua carreira. Ele estava colocando em risco toda a sua
carreira por causa de uma história sobre pegging, e ela não
entendia. Talvez ela o entendesse depois de ler a coisa toda, mas
não agora.
— Olha, eu prefiro que você não me denuncie para Ron,
mas faça o que você tem que fazer. Você é uma pessoa honesta
e não quero colocá-la em uma posição desconfortável. — Ele se
virou para encará-la. — Eu vou postar a história, no entanto,
não importa o que aconteça, então não se incomode em
discutir comigo sobre isso. Eu preciso fazer isso, e eu vou.
Esse dia sempre chegaria. Ela sabia disso desde o início.
Seu dever finalmente colidiu com sua lealdade pessoal a
Alex.
Ela tentou clarear a cabeça. Qual é a coisa certa a fazer?
Com ele tão perto, olhos de nuvem de tempestade fixos nela,
ela não conseguia se concentrar em seus pensamentos, e ela não
tinha nenhuma ideia de como uma pessoa boa e honrada
escolheria agir nesta situação.
— Eu preciso pensar — ela finalmente disse a ele.
Então ela girou nos calcanhares e fugiu do mini-castelo
como se os mortos-vivos malignos do Tártaro a estivessem
perseguindo.

Tarde da noite, ela verificou o AO3 e encontrou sua fanfic.


Ela leu e tentou não se perguntar qual de suas ex-namoradas
poderia ter inspirado o personagem de Robin. Então, ela
voltou e assistiu cenas das últimas temporadas de Gods of the
Gates. Especificamente, as cenas envolvendo Cupido, Vênus e
Júpiter.
Ela marcou a conta de Cupid Unleashed em seu laptop.
Ela enviou a Alex um e-mail irritado com uma frase: espero
que a parceira de Cupido use menos lubrificante da próxima vez.
Ela foi para a cama, sinceramente esperando que o dia
seguinte fosse mais fácil.
O que ela não fez: mandar um e-mail para Ron ou RJ.
Textos com Marcus: Sábado à Noite

Alex:
Descobri hoje à noite que vários homens
chamaram Lauren de vadia ou megera
Se eu soubesse quem eles são, juro por Deus,
Marcus

Marcus:
Você... o quê? Se juntaria a eles? Você a chama
de megera o tempo todo. Harpia também...
Estraga-prazeres.
Carcereiro severo.
Vadia também.
Ranzinza, chata, azeda, inimiga da alegria,
inimiga da leveza
“Maria de The Sound of Music só que terrível e
incompreensivelmente baixinha e sem talentos
musicais aparentes”
“Se Jane Eyre tivesse sido como a babá Clegg,
Rochester a teria jogado em um rio em vez de
buscar um casamento bígamo com ela
enquanto mantinha sua pobre esposa trancada
em um sótão – não importa, eu não acho que
quero ser Rochester neste cenário”
“Se isso fosse Les Misérables, eu sou
totalmente Valjean, e ela definitivamente é
Javert”
“Nunca me relacionei tão intensamente com
Harrison Ford de O Fugitivo”
“Ela é essencialmente o Exterminador do
Futuro, implacável e imparável, e eu sou Sarah
Connor”
“Um dia, poemas épicos serão escritos sobre
meus sofrimentos sob seu governo despótico”

Alex:
Bem, eu não quero dizer TODAS as coisas que
eu digo, você sabe disso
Além disso, ela acha minhas piadas engraçadas
Quer dizer, sua boca se contorce por um
milímetro
Embora isso possa ser um tique nervoso que
ela desenvolveu por minha causa, agora que
pensei nisso
Hummm
Não importa, é definitivamente um sorriso, eu
decidi com certeza
E eu nunca a chamei de vadia, isso seria rude

Marcus:
[aplausos sarcásticos]

Alex:
Traidor
Vá em frente, deixe-me sofrer enquanto você
se entrega a mais uma demonstração malfeita
de afeto público com sua April

Marcus:
Não ligaria se tivesse que demonstrar…

Alex:
Marcus?
MARCUS!!!
Que melhor amigo você é
Se eu sou Júlio César, você é 1000% Brutus, cara
12
Os problemas normais de sono de Alex levaram duas
semanas para encontrá-lo em LA.
Seu melhor palpite era que: ele estava tão exausto quando
chegou que até seu cérebro teimoso teve que desistir e deixá-lo
dormir profundamente por seis ou sete horas de vez.
Então, depois de duas semanas, ele começou a acordar a
todas as horas da noite novamente, sua mente agitada. Ou ele
levaria uma eternidade para adormecer, olhando para o teto
enquanto seus malditos pensamentos se recusavam a parar de
se agitar. Era uma tortura. Especialmente porque ele não
conseguia lidar com isso da mesma maneira que fazia há anos,
não sem perturbar Lauren ou quebrar uma promessa a ela.
Para acalmar seu cérebro idiota o suficiente para dormir, ele
tentou tudo o que podia pensar, mas ler fanfics não funcionou.
Escrever fanfic não funcionou. Usar a academia de sua casa não
funcionou. A masturbação não funcionou. Mesmo assistir
GBBO não funcionou, o que foi genuinamente doloroso de
reconhecer.
Depois de mais uma semana, ele não aguentou mais.
Pouco depois das duas da manhã, ele se levantou e se vestiu.
Lá embaixo, ele desativou o alarme que Lauren o havia
perturbado para ativar durante a noite – Sua segurança
também é importante, você sabe, blá blá blá – e abriu a porta da
frente, trancando-a atrás dele.
Ele tentou não fazer barulho enquanto caminhava até a
beira do propriedade, mas as malditas luzes do sensor de
movimento continuaram o iluminando ao longo de seu
caminho. Parando por um momento, ele apertou os olhos por
causa do brilho repentino e esperou que seus olhos se
ajustassem.
Então as luzes acima da entrada da casa de hóspedes também
acenderam, e a porta se abriu, merda, e Lauren enfiou a cabeça
ao redor da laje de madeira.
— Onde você está indo a esta hora da noite, Alex? Você está
bem?
Ele podia identificar o momento exato em que a
preocupação se transformou em aborrecimento.
Ela pisou no caminho de pedra na frente de sua porta, com
os pés descalços, os punhos nos quadris.
— Por falar nisso, aonde você vai sem mim? Porque você
prometeu que eu iria acompanhá-lo sempre que você saísse da
propriedade, e parece que você está indo em direção ao portão
lateral. Ou seja, para fora da propriedade.
Seus olhos estavam inchados de sono, e ela estava apertando
os olhos contra o brilho também. Seu cabelo estava
desgrenhado, uma mecha saindo acima de sua orelha. Ela usava
uma camisola que era basicamente uma camiseta grande
demais, tão desbotada que não dava para saber a cor, tão grande
que a forma exata de seu corpo era um mistério.
Ao longo das últimas três semanas, porém, ele
aparentemente juntou pistas suficientes para fazer um bom
palpite. E agora ele tinha uma ideia muito melhor de como
eram as coxas dela, então essa era outra parte do mistério
desvendado.
Não que ele se importasse em resolver aquele mistério em
particular. Ele era apenas naturalmente curioso.
Suas pernas podiam ser comparativamente magras para seu
corpo, mas ainda pareciam redondas e macias. Saindo de
debaixo daquela camisola inadequada, elas eram... vulneráveis.
Assim como seus pés.
— Se você vai sair, você precisa colocar alguns malditos
sapatos, mulher. — Ele fez uma careta para ela. — Até as
crianças sabem disso.
Ela não se mexeu.
— Não mude de assunto, Woodroe.
— Tenho problemas para dormir. Caminhadas longas
ajudam. — Ele empurrou o queixo em direção à casa de
hóspedes. — Prometo não participar de nenhuma folia alegre
que possa acontecer ao longo do meu caminho. Volta para a
cama.
Seus olhos se fecharam e ela respirou fundo uma vez. Duas.
— Ok. Ok. — Ela ergueu a mão para detê-lo, a palma
pequena para fora. — Só me dê um minuto para me vestir, e eu
vou com você.
Ele olhou para ela.
— Isso é ridículo.
— É o meu trabalho. — Ela desapareceu dentro da casa de
hóspedes, apenas para voltar alguns minutos depois, vestida
com sua camiseta BIG HARPY ENERGY, leggings e tênis. —
Estou pronta. Vamos lá.
Seu queixo macio estava firme, sua postura determinada.
Depois de quase um mês juntos, ele sabia que ela não se deixaria
influenciar por sua decisão, não importa o quão cansada
estivesse. E mesmo que ele tentou o seu melhor para não
perturbar seu descanso, ele não podia dizer que não gostava de
sua companhia.
Ainda assim, ele tinha que apontar o óbvio.
— Com suas pernas de Smurf, vou ter que andar em câmera
lenta subindo e descendo as escadas. Elas têm literalmente o
dobro da sua altura.
— Como eu ainda não vi, não posso dizer com certeza, mas
acho que isso literalmente não é verdade. — A bochecha dela
ainda estava marcada pelo travesseiro, e ele meio que queria
traçar as linhas. — A menos que cada degrau tenha três metros
de altura.
Ele a examinou de cima a baixo, então levantou uma
sobrancelha.
— Três metros? Sério?
— Tá. — Ah, essa carranca. Ficou bem nela. — Dois
metros. E meio.
— Foi isso o que pensei — disse ele presunçosamente.
Soltando um suspiro tempestuoso, ela trancou a porta atrás
dela e ligou o alarme, então entregou a ele suas chaves, telefone
e identidade.
— Não tenho bolso.
— Esta é a minha vida agora? Eu sou um mero burro de
carga? — Tristemente, ele balançou a cabeça enquanto
depositava tudo no bolso esquerdo de sua calça de trilha. —
Imagino que você vai querer que eu a carregue para cima e para
baixo nos degraus também. Que, novamente, se erguerão sobre
vocês como monólitos, mas eu persistirei. Talvez eu possa
montar algum tipo de sistema de polias.
Sua mandíbula estava fazendo um som estranho, rangendo.
— Não acho que isso seja necessário.
— Mas você não sabe, não é? — Ele sorriu para ela. — Você
já viu essas escadas secretas antes?
Seu rosto se iluminou, sua irritação temporariamente
esquecida.
Ela girou a cabeça, examinando sua propriedade.
— As escadas secretas? Estamos perto delas?
O nome não era totalmente preciso, já que muitas pessoas –
principalmente os da região – sabiam sobre as escadas. Mas
como os conjuntos centenários de escadas públicas estreitas e
íngremes na encosta da montanha cortavam as propriedades
particulares de várias pessoas ricas e famosas, seu bairro não
anunciava exatamente sua presença.
— Evidentemente, você ainda não saiu pelo portão lateral.
— Ele acenou para ela à frente. — Você primeiro, Smurfette.
Seus passos silenciaram sobre o caminho de seixos enquanto
caminhavam, e ele desacelerou o passo, depois o desacelerou
novamente. Apesar de toda a sua agitação, ela não chegou a
lugar nenhum rapidamente. E apesar de toda a sua inquietação,
ele não parecia se importar. O balanço constante de seu amplo
traseiro era ao mesmo tempo calmante e estranhamente
hipnotizante.
Espera. Ele estava olhando para a bunda dela? Que porra?
Alongando seus passos, ele se apressou até que eles
estivessem andando lado a lado, e ele não tinha mais visão de
trás dela.
— Eu queria chegar às escadas antes do amanhecer, mulher.
Canalize sua natureza megera e corra mais rápido.
Ele estava procurando por um dedo médio, mas tudo o que
conseguiu foi um revirar de olhos. Decepcionante.
Não importa. A esperança é a última que morre.
Eles chegaram ao limite de sua propriedade um minuto
depois. Uma parede de pedra enfileirada deste lado da
propriedade, com torres falsas emoldurando a porta solitária e
pesada feita de madeira escura.
Ela parou para olhar aquelas torres.
— Sério?
— Se você não consegue se comprometer adequadamente
com um tema, Babá Clegg, isso é uma falha no seu design, não
no meu legado. — Ele parou na frente do portão e pegou suas
próprias chaves. — De qualquer forma, este conjunto de
escadas secretas corre ao lado da minha propriedade. Há trilhas
para caminhadas nas proximidades também, mas elas não estão
oficialmente abertas após o pôr do sol e não são iluminadas. É
quando têm as melhores vistas do centro de Los Angeles, com
todas as luzes.
Seus olhos se fecharam por um momento.
— Por favor, me diga que você não caminha sozinho à noite
por caminhos escuros.
— Bem, eu não quero mais caminhar sozinho. — Ele deu
um tapinha no ombro dela. — Eu vou ter você comigo agora.
Ela gemeu.
Mesmo através de sua camiseta, o calor de sua pele aqueceu
sua palma e formigou as pontas dos dedos, e era um absurdo.
Uma resposta exagerada nascida da exaustão, claramente.
— Tenho certeza de que os coiotes ficarão animados para
conhecer minha nova companheira. — Ele tirou a mão e sorriu
para ela, determinado a ignorar sua desconcertante reação a tal
contato físico. — Os gambás, guaxinins e as cobras também.
Sua pele ia se desgastar se ela continuasse esfregando a testa
com tanta força.
— Meu Deus.
— O quê? — Ele inclinou a cabeça, a imagem da inocência.
— Não tem coiotes no norte de Hollywood?
— Não — ela disse enfaticamente.
— NoHo3 — ele corrigiu, apenas para ganhar outro olhar.
O que ele ganhou.
Ele destrancou a porta e conduziu os dois antes de disparar
o ferrolho para fechá-lo novamente. Sozinho, ele não teria se
incomodado em proteger a propriedade durante um passeio
relativamente breve, tarde da noite, mas com Lauren morando
lá...
Bem, era diferente.
Ela ficou em silêncio por um momento e contemplou as
escadas, que subiam e desciam na escuridão.
Ele não a apressou.
— Quando você estiver pronta, vamos descer. É onde está
minha parte favorita.
Quando ela se virou para encará-lo novamente...
Aquele sorriso. Oh, Deus o ajudasse se ela alguma vez
percebesse o que ele faria para obter aquele brilho em seus olhos
surpreendentes e aquela doce curva de sua boca.
— Estou animada para vê-la. — Ela acenou com a mão. —
Por que você não lidera o caminho, e eu sigo atrás?
Os degraus eram muito estreitos para andar lado a lado, e
sim, talvez fosse mais seguro não se permitir a visão de sua

3
Norte de Hollywood
bunda novamente. Mas algo nele se rebelou com o pensamento
de não poder vê-la facilmente e avaliar como ela estava.
— Os degraus são íngremes e feitos de granito, então, se você
cair, causará algum dano. — Ele franziu a testa para ela. —
Segure-se nos trilhos.
—Sim, pai. – Ela piscou para ele, os olhos arregalados.
Que ousadia. Se ele não estivesse lhe dando sermão, ele a
parabenizaria.
— Se você se cansar ou começar a sentir dor em qualquer
lugar, me diga e vamos parar. — acrescentou.
Colocando os punhos nos quadris, ela o observou.
— Achei que você precisava de exercícios para lidar com sua
insônia.
Isso não é tão importante quanto você.
— Eu tenho uma academia em casa. Além disso, se você se
machucar, não poderá ir a lugar nenhum. Se você não pode ir a
lugar nenhum, eu não posso ir a lugar nenhum. — Ele
começou a descer os degraus, acrescentando por cima do
ombro: — E como nós dois sabemos, meu interesse próprio é
prioridade, sempre.
Ela deu um zumbido evasivo em resposta, então o seguiu.
Eles desceram em silêncio, mas sua respiração soava estável,
e o ritmo calmo de seus passos não vacilou.
Ao lado deles, seu muro de pedra se transformou em uma
cerca de madeira, depois uma de arame e depois uma barreira
de barro enquanto passavam de propriedade após propriedade.
Galhos ocasionais colidiam com o caminho de árvores
balançando na brisa da montanha, e outras plantas do jardim
brilhavam sob as luzes do sensor de movimento que piscavam
para a vida enquanto passavam por baixo. As casas de seus
vizinhos apareceram e desapareceram novamente alguns passos
depois.
A vista brilhante do centro de Hollywood estava a seus pés,
muito abaixo.
Ele manteve o ritmo lento, permitindo que ela tomasse seu
tempo.
— Meu trecho favorito são as Escadas Saroyan. Cento e
quarenta e oito degraus. O que parece muito, mas... — Sem
estragar a surpresa — Esquece. Você vai ver.
Quando chegaram ao final do primeiro lance de escadas,
caminharam lado a lado pelas ruas do bairro para chegar ao
próximo. Mesmo em sua velocidade modesta, ele podia sentir
sua inquietação diminuindo, passo a passo.
— Até onde você pode subir as escadas? — Ela parecia um
pouco sem fôlego enquanto desciam os próximos degraus, mas
não muito sem fôlego. — Até o letreiro de Hollywood?
— Quase — ele disse a ela. — É uma subida difícil, no
entanto. Às vezes você tem que descer alguns degraus antes de
continuar subindo. Me diga se você quiser fazer isso.
Ela bufou uma meia risada.
— Por enquanto, acho que esse passeio à meia-noite será
suficiente.
Então lá estavam eles. Nas Escadas Saroyan.
Ele parou no topo e ela se juntou a ele. Na semi-escuridão,
sua pele pálida brilhava como a lua.
— Oh — ela disse, a voz abafada. — Oh, nossa.
Ele se forçou a olhar para os degraus em vez de para ela.
Era uma escada dupla, dividida no centro por vasos de
granito embutidos eriçados de suculentas alegres de folhas
cerosas e tufos de gramíneas decorativas resistentes à seca. E
onde não havia plantas, havia banquinhos.
O design era prático, mas bonito também. Uma espécie de
oásis de jardim entre aqueles degraus implacáveis que sobem e
descem a encosta da montanha.
Em mais noites do que ele podia contar, ele se exauriu
subindo e descendo, apenas para descansar em uma daquelas
lajes de pedra e contemplar o imerecido milagre de existir
naquele momento, naquele lugar, empoleirado no alto de uma
montanha, olhando para baixo o brilho de tirar o fôlego de
Hollywood.
As Escadas Saroyan eram especiais. Antes de partir para a
Espanha, ele não esperava compartilhar suas peregrinações
noturnas com ninguém. Nem mesmo Marcus, por mais que
Alex amasse seu melhor amigo.
A presença de Lauren não era uma intrusão, no entanto. Era
uma conquista.
— Isso é tão adorável. — Sua voz doía de alegria e...
melancolia? — Obrigada por me trazer aqui, Alex.
Eu não tinha exatamente escolha, ele quase disse, mas isso
não era verdade. Sério. E este não era o lugar certo para mentiras
ou sarcasmo.
Ele limpou a garganta.
— Não… Hm, não há de quê.
— Que tal eu me sentar em um dos bancos, enquanto você
faz algumas viagens subindo e descendo as escadas? — Seu
sorriso era tão gentil e sincero, testemunhar isso doeu. — Dessa
forma, você pode queimar um pouco de energia enquanto
ainda me mantém à vista. Quero ter certeza de que você poderá
dormir um pouco quando voltar para casa.
Com um aceno brusco, ele acenou para ela em direção ao
banco mais próximo, alguns passos para baixo. Assim que ela
se acomodou, ele decolou em seu ritmo normal, quase uma
corrida, desceu aqueles 148 degraus e depois voltou.
Depois que ele deu uma volta, ela gritou quando ele passou:
— Quantos anos tem esse trecho?
— Ele é da década de 1920 — ele respondeu sem perder o
ritmo.
A voz dela flutuou atrás dele, perseguindo-o escada abaixo.
— Você está indo muito rápido. Por favor, tenha cuidado,
Alex.
Depois disso, ela o deixou sozinho, mas seu olhar pousou
em sua pele como uma camada extra de roupa. Em outra volta,
ele jogou a camisa aos pés dela enquanto passava correndo.
Ajudou, mas não resolveu totalmente o problema. A noite
deve estar mais abafada do que o normal, mesmo no topo da
montanha.
Talvez quarenta minutos depois, quando esvaziou a maior
parte dos detritos de seu cérebro, ele registrou ruídos familiares.
O pio de uma coruja. O chilrear de outro pássaro, um que
ele não conseguiu identificar.
Quando ele passou por Lauren da próxima vez, ele
diminuiu a velocidade.
— Você ouviu isso?
Sua testa franziu.
— Eu ouvi o quê?
— O pássaro piar. Canto. Passarinhos. — Ofegante, ele
parou alguns passos abaixo do banco dela, e de repente eles
estavam na mesma altura, olho no olho. — Não é uma carriça,
muito provavelmente, mas acho que tenho uma dessas de
qualquer maneira, né?
Estendendo a mão, ele gentilmente sacudiu aquele nariz
distinto, então continuou a andar. Apenas para descobrir, na
próxima rodada, que Lauren não estava mais olhando para ele,
e ela encolheu os ombros de uma forma que ele não via há
semanas. O sorriso sereno que iluminou seu rosto na última
hora podia muito bem nunca ter existido. Sua expressão ficou
tão vazia quanto no dia em que se conheceram.
Merda.
Parando em seu banco, ele usou sua camisa para enxugar o
suor do seu rosto, seu peito, seus braços. Ele fez um grande
show, na verdade, e não obteve nada em resposta. Nem um
olhar, nem um comentário.
Que merda. Ele tinha que dizer alguma coisa, não?
— Eu sou um idiota. Nós dois sabemos disso. — Ele
colocou os punhos nos quadris e abaixou a cabeça, tentando
em vão encontrar os olhos dela. — No entanto, neste caso em
particular, pode ser útil saber a maneira específica pela qual
demonstrei ser um idiota agora, porque realmente não tenho
ideia.
Ela exalou pelo nariz.
— Está tudo bem, Alex. Não se preocupe com isso.
— Se eu não souber o que fiz ou disse, não posso usar essa
atitude ou frase quando uma necessidade urgente de ser um
babaca pode surgir novamente. Como sempre, a preparação é
fundamental. — Nenhuma resposta. Tudo bem, então. Ele
seria sincero, caramba. — Se eu não sei o que fiz, também não
posso evitar fazer o que fiz de novo. Eu não quero te deixar com
raiva.
— Eu não estou com raiva — ela disse calmamente.
Ela estava magoada, então. Porra. Isso era muito pior.
Frustrado e em pânico, seu pulso batendo em seus ouvidos,
ele subiu ao nível dela e se agachou na frente dela, até que ela
não pôde evitar olhar para ele.
— Me desculpa. — Estendendo a mão, ele cobriu a mão dela
onde ela descansava em seu colo. Sua mão estava suada, mas ela
não se importaria. Apesar de toda sua seriedade, ela era
surpreendentemente tolerante. — Seja lá o que eu fiz, me
desculpe, Carricinha.
Ela se encolheu.
— Espera. É por causa do meu novo apelido para você? —
Quando ela deslizou a mão debaixo da dele, ele se sentou sobre
os calcanhares e obedeceu a sua ordem silenciosa de não tocar
nela. — Porque Sionna chama você da mesma coisa, e você não
demonstra estar nem um pouco incomodada.
— Ela me chama de Cenourinha. Cenourinha. — Sua
tentativa de sorrir durou pouco. — Como acabei de descobrir,
você aparentemente me chama Carriça. CARRIÇA.
Abreviação de “minha babá tem um bico ridículo no lugar do
nariz”.
— Não. Lauren, não. — Ele manteve sua voz severa. Firme,
porque ele estava falando sério pela primeira vez, e ela precisava
saber disso. — Eu te chamo de Carricinha porque, sim, suas
feições e aparência em geral podem lembrar um pouco de um
pássaro–
Ela desviou o olhar novamente, e, caramba, ele deveria ter
começado falando outra coisa. Mas ele estava comprometido
agora, então continuou avançando, como era seu costume.
— Mas eu gosto. — Ele fez uma pausa para dar ênfase. —
Não tem nada de ridículo em você.
Ela balançou a cabeça, os olhos ainda em uma suculenta
próxima.
— Não foi isso que você disse quando nos conhecemos.
Ele deveria saber que isso seria usado contra ele um dia.
— Eu estava chamando toda a situação de ridícula, não você
— ele disse a ela. — Ron interpretou errado porque ele é um
idiota, e eu deveria tê-lo corrigido na hora. Mas deixe-me ser
claro agora: eu gosto do seu nariz. Eu gosto de olhar para o seu
rosto. Eu gosto de olhar para você.
O olhar dela voou para o dele, e ele se apressou para
acrescentar:
— Mas, mais importante ainda, eu gosto de pássaros.
Especificamente, eu gosto de carriças de inverno. É a minha
espécie favorita.
Cautela e mágoa ainda beliscavam sua testa, então ele
continuou falando.
— No início da minha carreira, eu estava em um filme de
terror chamado Thump in the Woods. Talvez você já tenha
ouvido falar? — Quando ela balançou a cabeça, ele continuou:
— De qualquer forma, fui escalado como um dos três
universitários filmando um projeto sobre uma famosa cabana
assombrada em uma floresta isolada de Maryland, onde as
pessoas teoricamente desapareciam e morriam por decapitação
por machado. Como você pode imaginar, não terminou bem
para nós, pobres estudantes.
Quando ele imitou o golpe de um machado, completo com
um assobio e um baque final, o canto de sua boca se ergueu
ligeiramente. Ele tomou isso como um bom sinal.
— Nós três fizemos nossas próprias filmagens na floresta, e
foi uma filmagem difícil e de baixo orçamento. Os diretores
restringiam progressivamente a quantidade de comida que
recebíamos e continuavam nos acordando à noite com sons
aparentemente assustadores aos quais teríamos que reagir na
câmera. Choveu e choveu e choveu, até que nossas barracas
inundaram. — Ele suspirou e coçou a barba. — Estávamos
todos brigando na frente das câmeras, o que a história exigia,
mas parte dessa tensão aconteceu em interações fora da câmera
também.
Ela nem tinha ouvido a parte relevante da explicação dele, e
seus olhos já estavam aquecidos, sua postura relaxando – braços
não mais cruzados, ombros relaxados – enquanto ela florescia
em simpatia por ele, e, caramba, ela precisava parar de ser boa
para caralho.
— Eu quase perdi a cabeça completamente, Lauren.
Cheguei muito, muito perto de desistir daquele filme uma
dúzia de vezes. A única coisa que me manteve em movimento,
a única coisa que tornou minha existência diária suportável, foi
a vida selvagem local. — Ele pensou em seus animais favoritos.
— Vimos esquilos. Cervos. Pássaros. Especialmente um tipo de
pássaro, que tinha uma música incrivelmente alta e alegre.
Ela assentiu, obviamente ciente de onde sua anedota estava
indo. Mas ele precisava dizer isso de qualquer maneira, porque
ele não suportava que ela pensasse mal dele.
— Era uma carriça. Uma carriça de inverno. Pequena e
redonda e de olhos brilhantes e…
Maravilhosa, ele quase disse. Divertida. Adorável.
Encantadora.
Sua boca ficou macia, e seus lábios se separaram enquanto
ela olhava para ele, seu rosto a apenas alguns centímetros de
distância. Ela não pronunciou uma única palavra, no entanto.
Ela simplesmente esperou que ele terminasse tudo o que tinha
a dizer.
Ele levantou um ombro.
— Desde então, eu gosto de pássaros.
Ainda assim, ela não disse nada. Sua paciência era infinita.
Infinita e dolorosamente doce. Ele não conseguia entender
como alguém podia simplesmente sentar e ouvir por tanto
tempo, sem precisar interromper com seus próprios
pensamentos, sem se defender ou deixar o clima agitado de
alguma forma.
Ele apostaria seu mini castelo que ela era uma terapeuta
exemplar.
Ele já sabia que ela era uma humana exemplar.
— Se você não quiser que eu te chame de carriça, eu não vou
te chamar — ele disse. — Mas não é um insulto. Nunca foi.
Ele se levantou mais uma vez, e ela inclinou a cabeça para
trás para assistir.
Quando ela se certificou de que ele havia terminado de falar,
ela finalmente respondeu, suas palavras simples e cheias de
sinceridade.
— Peço desculpas. Eu pensei o pior de você sem pedir uma
explicação. De novo. Vou tentar ser melhor que isso. E, sim,
você pode me chamar de Carricinha.
Ele não podia suportar o remorso naquela voz baixa e doce.
— Bem, não é como se eu nunca tivesse insultado você.
Você tinha motivos para suspeitar.
— Verdade. Você me insultou uma ou duas vezes. — Os
lábios dela se contraíram e os ombros dele relaxaram. — Não
sobre te lembrar uma carriça, no entanto.
— Não sobre você me lembrar uma carriça — ele
concordou.
Enquanto ele vestia sua camisa úmida, ela inclinou o queixo
para trás para olhar para o céu escuro girando acima.
— Você aliviou a inquietação? Ou você quer subir e descer
mais um pouquinho?
— Chega com as escadas. Hoje, pelo menos. — Ele não
podia fazer nenhuma promessa sobre amanhã. — Você quer
voltar? Ou você quer ficar sentada por mais alguns minutos?
Depois de seus passeios noturnos, esse era seu costume. Sua
mente finalmente calma e clara, ele poderia ter tempo para
refletir sobre a beleza ao seu redor e ser grato. Mas ela foi
despertada do sono, e eles estavam ali por mais de uma hora
agora. Qualquer pessoa normal gostaria de começar a
caminhada de volta ao mini castelo.
— Eu gostaria de sentar um pouco — disse ela, para sua
surpresa. — Tudo bem?
— Certo. — Ele se empoleirou em um degrau próximo. —
Não tenho pressa. Só me diz quando você quiser ir.
Ela deu um pequeno murmúrio de concordância, e eles se
sentaram em silêncio pacífico. Após alguns minutos, as luzes
do sensor de movimento das propriedades vizinhas se
apagaram. As estrelas pareciam surgir então, subitamente
muito mais visíveis na escuridão aveludada. No sopé de sua
montanha, Hollywood brilhava à distância.
Estrelas acima, estrelas abaixo.
— Eu te contei sobre o trabalho do qual eu quase me afastei.
— Inclinando seu corpo em direção a ela, ele estudou seu rosto
virado para o céu. — Você me deve, sua boca é como um cofre,
mulher.
Com isso, ela abaixou o queixo, encontrando seus olhos.
— O que, exatamente, você acha que eu devo a você,
Woodroe?
Havia carinho tolerante naquele olhar, naquela voz, e ele
queria chafurdar nela.
— Diga-me por que você saiu do hospital. — Era
ostensivamente uma ordem. Um desafio. Mas mesmo ele podia
ouvir a sugestão de um apelo sob a arrogância. — Por que
deixar um bom emprego para trabalhar para alguém como
Ron?
Ele infundiu o nome de seu primo com todo o ódio que
merecia, porque ele não conseguia superar isso. O bastardo
nem perguntou como Lauren estava depois que ela levou um
baque por causa do corpo daquele idiota no tapete vermelho.
Nem uma vez.
A hesitação dela prejudicou sua paciência limitada, mas ele
se manteve firme, permaneceu em silêncio e recebeu sua justa
recompensa após vários segundos tensos.
— Bem, antes de tudo, quero deixar absolutamente claro
que não saí do hospital para trabalhar para Ron. — Sua boca
franziu ligeiramente, como se ela tivesse provado algo azedo. —
Planejei férias de um mês na Espanha e em Portugal, e minha
mãe me convenceu a visitá-lo no início da viagem. Eu estava
indo para Barcelona naquela terça-feira, só…
Só que Alex brigou com alguém em um bar, e ela foi
recrutada como sua acompanhante.
O pensamento o confundiu.
Um dia. Mais um dia e ela teria ido embora. Mais um dia, e
ele nunca a teria conhecido.
Sua camisa estava úmida, e a noite estava ficando mais fria,
e ele estremeceu.
Ela franziu a testa enquanto o estudava, e ele antecipou o
que ela estava prestes a dizer.
— Antes que você use como desculpa para parar de falar,
não estou com frio. Pague sua dívida, babá Clegg. Por que você
saiu do hospital?
Ela esticou aquelas pernas curtas e bonitas, apoiou as mãos
nos quadris no banco de granito e olhou para o céu novamente.
— Eu trabalhei no hospital por treze anos — disse ela, sua
voz tão baixa que ele mal podia ouvi-la. — Mais do que
qualquer outro clínico de serviços de emergência que começou
na mesma época que eu. Eu era considerada a velha senhora do
meu departamento antes de sair.
Ainda em seus trinta e tantos anos? Jesus.
— A agenda era difícil. Algumas semanas, eu trabalhava
setenta horas e dava muito de plantão. O salário era bom,
especialmente com todas as horas extras, e eu gostava do
coleguismo. — Ela levantou um ombro. — Geralmente eu
pegava o turno da noite e trabalhava nos feriados, porque não
tinha companheiro ou filhos para quem voltar em casa. Foi a
única coisa justa a fazer.
Ele não podia evitar. Ele gemeu em voz alta, porque porra,
Deus, ela era a pior.
— O quê? — O calor de seu olhar era impressionante,
realmente, especialmente para um idiota tão desinteressante.
Ele suspirou dramaticamente.
— Nada. Continue.
Depois de mais um olhar irritado, ela o fez.
— De qualquer forma, era cansativo. Mas não foi por isso
que eu saí, na verdade.
Os instintos que a fizeram empurrá-lo de lado no tapete
vermelho foram aprimorados no pronto-socorro, ela disse. As
pessoas ficavam agitadas, ela disse.
Ele tirou a conclusão natural.
— Foi a violência?
No que parecia ser um gesto inconsciente, ela tocou a ponta
torta do nariz, e agora ele sabia. Algum idiota no pronto-
socorro o quebrou.
Filho da puta. Precisava subir mais mil degraus. Um milhão,
para acabar com toda essa raiva.
Para sua surpresa, ela balançou a cabeça.
— Não foi a violência.
Ele estreitou os olhos para ela com desconfiança, e ela soltou
uma risadinha.
— Quero dizer, sim, as pessoas podem ficar violentas, às
vezes. Na maioria das vezes eles apenas insultavam você, mas às
vezes eles jogavam coisas. De vez em quando, eles davam socos
também, mas a segurança poderia lidar com isso.
Ela parecia tão malditamente calma sobre tudo isso.
Imperturbável, como se esse tipo de abuso não cobrasse seu
preço eventualmente. Como se sua segurança não importasse.
— Os pacientes ficavam com raiva porque eu não lhes
receitava remédios. — Ela levantou um dedo autoritário. — O
que eu não poderia fazer, só para deixar claro. Ou porque eu
estava ordenando internação involuntária. Ou porque eles
estavam bêbados e impacientes, e eu não podia avaliá-los até
que eles ficassem sóbrios, e eles não podiam ir para casa antes
de uma avaliação.
Quando ele esticou as próprias pernas, elas roçaram as dela,
e ele as deixou lá Naquele momento, ele precisava do contato.
— Mas isso não era o suficiente para fazer você desistir.
— Não. — Ela respirou devagar e soltou o ar pelo nariz.
Seus olhos estavam mais brilhantes agora do que as estrelas
acima poderiam explicar. Ela piscou com força uma, duas
vezes, e ele quis interromper, fazê-la rir, oferecer sua camisa
como lenço de papel.
Mas ele não fez nada disso. Ele esperou e continuou
ouvindo. O que, para alguém como ele, era mais difícil do que
qualquer outra reação teria sido.
Sua boca trabalhou, e então ela continuou falando.
— Meu trabalho envolvia ver as pessoas no seu nível mais
baixo. Muitas vezes, os problemas estavam além de qualquer
coisa que eu pudesse consertar. As pessoas eram suicidas
porque perderam seus empregos ou suas moradias. As crianças
queriam morrer porque estavam sendo intimidadas. E depois
da centésima vez eu tive que adicionar alguém a uma lista de
espera para moradias ou abrigos de transição, a centésima vez
eu coloquei uma mãe e um bebê de volta nas ruas porque não
tinha outra alternativa, a centésima vez eu mandei uma criança
de volta para a mesma situação que a levou a se automutilar em
primeiro lugar…
Não é à toa que ela estava chorando. Absurdamente, ele
estava engolindo as lágrimas também.
— É difícil, Alex. — Ela afastou a umidade sob seus olhos.
— É realmente difícil.
Ele não podia imaginar. Francamente, ele não queria
imaginar.
— Mesmo hospitalização… — Suas mãos se fecharam em
punhos no banco de pedra. — Pode haver uma dinâmica de
poder feia lá. Mas quando você está tentando manter alguém
vivo, a internação hospitalar pode ser a única solução razoável.
Muitas vezes, simplesmente não há boas opções. Nenhuma.
Depois disso, o silêncio se estendeu por minutos, e ele
percebeu que ela havia terminado.
— Você estava exausta — ele finalmente disse.
Ela inclinou a cabeça.
— Eu estava exausta.
— Então você pegou o trabalho do seu primo idiota porque
você não tinha emprego e precisava de dinheiro.
— Bem… — Enquanto ela considerava isso, seu rosto se
contorceu adoravelmente. — Sim e não. Eu tenho economias
de todas as minhas horas extras, então não importa o que
aconteça, eu poderia ter algumas semanas de descanso antes de
decidir o que fazer a seguir. Mas este trabalho me dá mais
tempo. E imaginei que nada poderia estar mais longe da sala de
emergência do que uma produção de Hollywood e a
propriedade de uma estrela de Hollywood. Eu precisava de
alguma distância, e estou conseguindo.
Ele se mexeu desconfortavelmente nos degraus, ombros
tensos com algo que, infelizmente, parecia muito com culpa.
— Mas você não está descansando. Você ainda está
trabalhando.
Agora, por exemplo, ela deveria estar dormindo, e não
estava. Por causa dele.
Ela bufou uma risada silenciosa.
— É o máximo de descanso que consegui em mais de uma
década.
— Você precisa de um tempo de folga. — Ele fez uma careta
para ela. — Tempo para você mesma.
Mas ela deveria estar cuidando dele o tempo todo, e Lauren
nunca se esquivou de suas responsabilidades. Além de
prometer ficar dentro dos limites de sua propriedade por vários
dias seguidos – algo que ele não achava que poderia realmente
fazer, o que ela saberia muito bem –, como ele poderia
conseguir um tempo tão necessário para ela?
— Ron poderia me designar um guardião substituto por
uma semana ou duas. — Por mais fedorenta e horrível que a
Babá Substituta possa ser. — Nós podemos dizer a ele que você
está doente ou algo assim.
Sua voz era resoluta.
— Eu não vou mentir e não vou sujeitar você a qualquer que
seja o plano B do meu primo.
A maldita mulher nem o deixaria fazer um favor para ela.
Lauren Clegg pode muito bem ser o ser humano mais
frustrante da face deste planeta, e vindo dele, isso era uma porra
de uma acusação.
— Eu poderia prometer ficar dentro de casa por alguns dias.
— Tempos desesperados, etc. — Seis. Ou cinco?
Definitivamente quatro.
Ela apenas revirou os olhos, o que... tudo bem. Justo.
— Você não vai deixar isso passar, não é?
— Não. — Ele tamborilou os dedos contra os degraus. —
E se eu jurar no túmulo da minha amiga imaginária de infância,
Capitã Fluffytail, que vou esmagar imediatamente sob meus
pés cada lampejo de prazer que eu possa ex–
— Espere — ela interrompeu. — Nós marcamos para visitar
Marcus e sua parceira em San Francisco no próximo fim de
semana, certo?
Seu assistente virtual havia comprado as passagens de avião
e providenciado o hotel e o transporte mais cedo naquele dia,
na verdade. Ele assentiu.
— Ron considera Marcus uma boa influência para você. —
Suas sobrancelhas estavam desenhadas em pensamento. — Se
você está absolutamente determinado a me dar alguns dias de
folga, vou perguntar a ele se posso transferir a sua custódia para
seu melhor amigo no fim de semana.
Não era uma ideia terrível, na verdade. A distância física que
isso traria entre eles, no entanto...
De alguma forma, mesmo quando ele estava imaginando
uma folga para ela, ele assumiu que ainda a veria. Todos os dias.
Ele não estava pronto para dizer que sentiria falta dela. Ele
apenas... não sentiria falta dela. Só isso.
— Custódia? — Ele franziu a testa para ela. — Estou
ofendido pela sua escolha de palavras. Não, magoado.
Ela escolheu ignorar isso.
— Vou mandar um e-mail para ele quando voltarmos para
casa.
Falando em casa…
— Então estamos decididos – disse ele. — Vamos,
Carricinha. É hora de você parar de falar, finalmente, e nos
deixar dormir um pouco.
Ele se levantou e estendeu a mão para ajudá-la. Seu aperto
era firme e quente, o contato um soco de sensação feroz o
suficiente para deixá-lo tonto. Uma vez que ela estava de pé, ele
a soltou com pressa.
Em um acordo silencioso, eles começaram sua lenta
caminhada de volta pelos degraus, com ele liderando o
caminho. Porque novamente: chega de olhar para a bunda dela.
— Por que sua amiga imaginária de infância tem um
túmulo? — ela perguntou depois que eles alcançaram o
segundo lance de escadas, sua voz sem fôlego.
Ao ouvir isso, ele diminuiu o ritmo ainda mais.
— Porque jurar sobre um túmulo soa mais dramático do
que uma simples promessa. — Ele apontou um sorriso
impenitente por cima do ombro. — Me processa.
Os cantos de sua boca estavam recuados.
— Então a Capitã Fluffytail ainda está vivo?
— Desde que inventei a Capitã Fluffytail há
aproximadamente cinco minutos, sim, eu diria que ela ainda
está viva. — Depois de um momento de contemplação, ele
acrescentou: — A menos que um coiote já tenha chegado até
ela. Ela era muito fofinha e deliciosa. Uma comida de coiote
irresistível, realmente. — Ele balançou a cabeça tristemente. —
Pobre Cap. Mal a conhecemos.
Aquela risada inimitável flutuou pela noite, e ele sorriu para
as estrelas.
— Você é o pior — ela declarou entre ataques de risos. — O
pior.
Isso o fez rir também, porque, Jesus. A ironia. A ironia o
matou.
— Tenha certeza, Carricinha — ele engasgou. — Eu estava
pensando a mesma coisa sobre você.
13
Cedo naquela manhã de sábado, Lauren acompanhou
Alex até o check-in de segurança do aeroporto, lembrou-o de
se comportar enquanto ele revirava os olhos e reclamava sobre
como a falta de confiança injustificada dela feriu sua própria
alma e – depois de devolver seu aceno final e estranhamente
hesitante na direção dela – o observou desaparecer de vista.
Dirigir de volta para seu duplex foi... estranho.
Suas semanas passadas quase inteiramente na companhia
um do outro os conectaram de alguma forma. Os amarrou
juntos, gostando ou não. E a cada quilômetro que ela viajava
para longe dele, aquela corda apertava seu peito.
Quando o avião dele decolou uma hora depois, em
segurança e na hora certa – ela verificou, porque senão ela se
preocuparia – o puxão se tornou uma dor real. O que era
ridículo, obviamente.
O ridículo de sua reação não a tornou menos dolorosa.
Ao saber da visita iminente de Lauren, Sionna mudou de
turno para que pudessem passar a maior parte do fim de
semana juntas. Assim que Lauren parou em sua garagem
individual e caminhou até a entrada com torres, sua amiga saiu
pela porta direita do duplex com um abraço que quase
derrubou as duas no chão da varanda.
— Ren! — gritou Sionna. — Minha bruxa favorita de outra
velhota!
Rindo impotente, Lauren deu a resposta esperada.
— Sionna! Minha irmã megera de outro homem!
Então eles estavam cambaleando na metade do duplex de
Lauren, e Sionna se sentou no sofá e olhou sua amiga
especulativamente.
— Então… — Arrumando-se mais confortavelmente, ela se
sentou de pernas cruzadas. — Diga-me como está indo o
trabalho de babá mais bem pago do mundo.
Por alguma razão, isso deixou os dentes de Lauren no limite.
Só um pouco.
— Alex é um adulto. Eu não sou babá dele.
Droga, estava empoeirado aqui. Também excessivamente
quente e obsoleto. Caminhando até a janela, Lauren levantou
até que ela se desprendeu e abriu alguns centímetros.
— Oook. — Seu corte de duende amarrotado e adorável,
como sempre, Sionna inclinou a cabeça. — Então me diga
como está indo seu trabalho de não ser uma babá no qual você
é paga para acompanhar um homem adulto toda vez que ele sai
de casa para garantir que ele não tenha problemas.
Ok, soou um pouco como uma babá, quando ela colocou
dessa forma. Mas–
— Cheguei à conclusão de que Ron exagerou. —
Colocando as mãos nos quadris, Lauren se virou para o sofá. —
Se Alex está de alguma forma fora de controle, não vi nenhum
sinal disso. E eu passei... o quê? Cinco semanas com ele? Eu
provavelmente já teria notado.
Preguiçosamente, Sionna abraçou uma almofada no peito
substancial.
— Ele não está bebendo em excesso?
Lauren dirigiu um olhar aguçado para a garrafa de vinho e
os copos que sua amiga milagrosamente havia bebido desde que
entrara no apartamento, embora ainda não fosse meio-dia.
Sionna apenas riu.
Sorrindo, Lauren caiu no sofá também.
— De qualquer forma, para responder à sua pergunta, ele
não tomou uma única bebida desde que nos conhecemos.
A testa de Sionna se contraiu.
— Então, o que diabos aconteceu na Espanha?
— Eu não faço ideia. — Ela se inclinou em direção a sua
amiga. — Mas eu aposto minha conta poupança que ele tinha
um bom motivo para entrar numa briga, e não tinha nada a ver
com álcool.
— Isso... não é o que os tabloides relataram. — À luz do sol
brilhando através das janelas, os fios prateados enfiados no
cabelo castanho escuro de Sionna cintilavam como enfeites. —
Mas você não é uma pessoa de apostas, então eu acredito em
você.
Não, Lauren não era uma pessoa de apostas. Ela confiava em
seu próprio julgamento quando se tratava de avaliar o estado
mental dos outros, e Alex era muitas coisas – muitas, muitas
coisas –, mas não o quase viciado em espiral que Ron havia
descrito.
Como se lesse os pensamentos de Lauren, Sionna ergueu
uma sobrancelha escura.
— Então, se ele não é o que Ron e os tablóides disseram que
ele era, como ele é?
— Hmmmm… — Como descrevê-lo? — Ele é um
espertinho, em tudo. Ele gosta de irritar a todos, mas também
de fazê-los rir. Ele é impulsivo, perspicaz e curioso. Ele pode ser
egocêntrico, mas é um ouvinte surpreendentemente bom
quando tenta. Ele é generoso e leal e nunca se cala, pelo que
posso dizer. — Lauren franziu a testa e considerou a questão.
— Talvez quando ele está dormindo? Não que ele durma
muito, honestamente.
A sobrancelha de Sionna arqueou ainda mais.
— Você sabe disso por experiência própria?
— Você está tentando dizer– — Lauren olhou para sua
melhor amiga, horrorizada. — Claro que não sei! Nós não... ele
não...
Ela se interrompeu, sem saber como terminar sua própria
frase, as bochechas subitamente em chamas.
— Ele não é o seu tipo? — Sionna assentiu pensativa. —
Entendi… Marcus Caster-Rupp – o melhor amigo dele, certo?
– é muito mais bonito.
Oh, Lauren sabia o que sua melhor amiga estava fazendo, e
ela não cairia nesse truque, nem em um milhão de anos.
Apenas–
— Marcus pode ser mais tradicionalmente bonito — ela se
ouviu declarando ferozmente, indignação em cada sílaba —,
mas Alex é aproximadamente um milhão de vezes mais sexy.
Ainda mais com aquela barba. E aqueles olhos.
Sem mencionar aquele ronronar dele, aquele que arrepiava
todos os pelos de seu corpo e arrancava o ar de seus pulmões.
A essa altura, ambas as sobrancelhas de Sionna estavam
praticamente levitando acima de sua cabeça.
— Então, na sua opinião, o homem com quem você
conviveu por mais de um mês é muito sexy. E tem olhos.
Também uma barba.
Lauren jogou uma almofada no rosto irritante de sua
melhor amiga.
— Calada.
Pegando-o com agilidade, Sionna sorriu para ela.
— Boa mira. Vejo que você fez progressos nas Crone Arts
enquanto esteve fora.
Ela não esconderia seu rosto em chamas. Ela não iria
esconder.
O sorriso de sua melhor amiga suavizou.
— Estou falando sério, Ren. Você parece…
Ah, caramba. Lauren esperou o veredicto de Sionna, a pele
formigando de desconforto.
— Você parece mais confortável em sua própria pele —
disse Sionna finalmente. — Menos como se você estivesse
observando a si mesma e todos os outros de uma distância
segura. Eu não sei se é porque você saiu do hospital ou por
causa de seu trabalho um milhão de vezes mais sexy do que
Marcus-Caster-Rupp, mas, de qualquer forma, estou feliz em
ver isso, querida. Estou preocupada com você há muito tempo.
Enquanto Lauren piscava para sua melhor amiga, uma
revelação tardia arredondava sua boca em um silencioso oh.
Como ela tinha perdido isso todos esses anos? Em
retrospecto, era mais que óbvio.
Sionna pode ter criado o Harpy Institute for Crone Sciences
devido ao luto e raiva da viúva, mas ela também o criou por
preocupação com Lauren. Porque ela queria que Lauren se
envolvesse com o mundo novamente.
Não, mais do que isso. Ela queria que Lauren reivindicasse
seu próprio espaço no mundo e defendesse esse espaço.
E se Sionna estivesse certa, talvez aquele formigamento que
Lauren sentiu não fosse inteiramente desconforto. Talvez fosse
excitação também. Talvez fosse a vida.
Engolindo em seco, ela olhou para a borda puída da
almofada do sofá.
De qualquer forma, era temporário. Uma vez que Gods of
the Gates exibisse seu episódio final, ela nunca mais veria Alex.
Melhor não insistir em seus pensamentos turbulentos, suas
emoções turbulentas.
Seu corpo revoltado.
Foda-se. Era depois do meio-dia em algum lugar.
Lauren se levantou do sofá e foi procurar um abridor de
garrafas.
— Eu vou brindar a isso.

Aproximadamente doze horas depois, as duas ainda estavam


aninhadas no sofá de Lauren, enroladas em cobertores e de
frente para a televisão.
— Estou com tanto tesão — gemeu Sionna, jogando outro
punhado de pipoca caramelada na boca com precisão mediana.
— Por que esse programa tem tantos atores sensuais? Porra, é
uma porra de cornucópia de gostosura.
Ela pensou por um momento.
— Exceto Júpiter. Parece que ele tem pequenos bíceps em
cima de seus bíceps reais, o que me assusta.
Lauren bufou em concordância e continuou mastigando
seu Twizzler.
Ela pretendia sugerir um show diferente, mas quando sua
amiga propôs dar outra chance a Gods of the Gates para o
habitual debate Bottom-Top-Switch, ela não discutiu.
Seu peito ainda doía um pouco. Assistir Alex na tela ajudou,
pelo menos no momento.
A cena mudou para uma envolvendo Vênus, Júpiter e
Cupido, e Lauren mastigou rápido, engoliu seu Twizzler e
pausou o show.
— Bíceps minúsculos! — Sionna lamentou, jogando a mão
sobre os olhos. — Ah, merda, você parou em uma foto
mostrando o pequeno bíceps no bíceps dele!
— Esqueça o minúsculo bíceps no bíceps por um segundo,
Sionna. — Sentando-se em linha reta, Lauren cutucou sua
amiga. — Já que você realmente assistiu a esse programa na
íntegra, ao contrário de mim, quero sua opinião sobre algo.
Com o cabelo eriçado em tufos, Sionna emergiu de seu
cobertor de burrito.
— Estou aqui para apresentar um veredicto profissional,
conforme necessário. Apesar do trauma induzido por sua
captura de tela. — Ela apontou para Alex. — O Cupido pode
ser um passivo, mas também pode ser um flex. Acho que
precisaríamos assistir suas cenas de sexo com Psiquê novamente
para ter certeza absoluta. Várias vezes, de preferência.
Isso... provavelmente não foi uma boa ideia. E também–
— Essa não é a opinião que eu queria. — Lauren acenou
com a mão para a tela. — Eu preciso que você assista a esta cena
e me diga se o relacionamento de Cupido com Vênus e Júpiter
é abusivo. Porque eu tenho minha própria opinião, mas talvez
esteja perdendo algum contexto necessário.
Uma vez que ela retomou o episódio da segunda temporada,
eles assistiram a cena em silêncio.
— Bem, Vênus e Júpiter são horríveis para todos, mas… —
Sionna franziu a testa. — Isto é diferente. Mais íntimo. Cupido
é filho dela e neto de Júpiter.
Lauren assentiu.
— Eles o manipulam e controlam, e dizem que o amam,
mesmo quando o usam para seus próprios fins. Eles ordenam
que ele faça coisas que o deixam infeliz, como separar Dido de
Enéias. — Sionna tamborilou os dedos na almofada do sofá. —
Acho que nunca vimos esse episódio em particular juntas, mas
quando Cupido diz a eles que ama Psiquê, Vênus lhe dá um
tapa na cara.
Lauren estremeceu.
— Eu não acho que haja qualquer dúvida, realmente. É
abuso. — Sionna se virou para ela. — Quando ele se libertou
para estar com Psiquê, considerei isso um grande passo para seu
personagem.
No caminho para o aeroporto, Alex havia falado demais
para Lauren sobre a temporada final, mas ela não queria
estragar a experiência de visualização futura de sua amiga.
— Então… — ela disse com cuidado — se, por exemplo, a
temporada final mostrasse Cupido abandonando Psiquê e
ajudando sua mãe e seu avô ao invés...
— Isso enviaria uma mensagem definitiva de que os
sobreviventes de abuso não podem realmente escapar de seus
agressores ou formar relacionamentos novos e saudáveis — A
carranca de Sionna beliscou seu rosto redondo. — Além disso,
seria apenas uma narrativa terrível para caralho. Quero dizer,
qual seria o sentido de todos esses anos de desenvolvimento de
personagens, então? Qual seria o ponto de seu relacionamento
com Psiquê? Por que eles o mostrariam se libertando, apenas
para colocá-lo de volta onde ele começou?
Conhecendo Ron, Lauren poderia adivinhar.
— Cinismo sobre a natureza humana. Valor de choque. É
possível que os roteiristas nem vejam o relacionamento como
abusivo. — Limpando a garganta, ela acrescentou: — Hum, se
isso acontecesse na última temporada.
Sionna caiu para trás e olhou para o teto.
— Ah, vamos, Ren. Você não se entrega a tentativas de
pensamento aleatórios, e você vive com uma das estrelas do
show. Acho que não preciso assistir a temporada final agora.
Os ombros de Lauren caíram.
— Eu sinto muito.
— Está bem. — Sionna torceu o pescoço para encontrar os
olhos de Lauren. — Se importa de me dizer por que você queria
minha opinião sobre isso?
Mesmo com sua visão limitada de Gods of the Gates, Lauren
chegou ao mesmo veredicto que sua amiga. E se ela e Sionna
estivessem certas, se Alex estivesse certo...
Então não é à toa que ele estava tão bravo com os roteiros da
temporada final. Não é à toa que ele amaldiçoou os roteiristas
em sua fic no AO3.
Ela enviou a sua amiga uma careta de desculpas.
— Eu não posso dizer, e eu sinto muito. Novamente.
— Está bem. — Sionna acenou com a mão flácida. — Posso
voltar ao meu tesão cobiçado e insatisfeito agora?
Graças à sua melhor amiga, Lauren finalmente decidiu com
certeza: ela não iria relatar a fic para Ron e ela não faria Alex
desistir da história.
Pode ser uma escolha tola e perigosa, mas ela fez essa escolha,
e ela sustentaria essa escolha.
— Sim. O tempo de cobiça está recomeçando, começando…
— Ela apertou o play. — … agora.

Lauren se levantou de seu banco quando viu Alex


caminhando apressadamente em sua direção no aeroporto no
domingo à noite.
Estranhamente, foi como vê-lo pela primeira vez. Ou
talvez... vê-lo pela primeira vez em cores, em vez de escala de
cinza.
Ele usava um Henley azul ardósia e jeans justos, de lavagem
escura, e seu cabelo castanho dourado caía sobre a testa. Sua
barba oferecia firmeza e profundidade às suas feições
imaculadas. Seus antebraços eram fortes e musculosos, suas
mãos largas e capazes enquanto seguravam sua bagagem de mão
e outra bolsa enorme e aleatória.
Sua caminhada rápida poderia ser melhor chamada de
espreitar, porque ele era toda graça animal, todo movimento
fluido. Quando ele a viu, seu sorriso libertino vincou suas
bochechas, e... oh. Oh.
Esqueça todas aquelas lâmpadas fluorescentes lá em cima.
Alexander Woodroe emitiu sua própria luz, e ela teve que
piscar contra o brilho dela.
No evento de caridade, ela chamou isso de poder de estrela.
Carisma. Mas seu apelo, sua atração, era mais pessoal do que
isso agora. Muito pessoal.
Lauren engoliu em seco e observou sua rápida aproximação,
quase tonta com a perspectiva de sua proximidade.
Ainda ontem, poucas horas atrás, ela disse a Sionna que ele
era sexy, e ela acreditou. Mas hoje ela sentiu. No local exato
onde sua amiga havia aconselhado pressionar o telefone
quando esse vibrou pela milionésima vez com uma das
mensagens de Alex.
Droga. Sua libido havia escolhido um momento terrível
para sair da hibernação.
Um momento depois, ele estava lá, parando a poucos
centímetros de distância, seus olhos cinzas brilhando com calor
e enrugados de bom humor. Ele estava sem fôlego de sua pressa,
de uma forma que enfatizava a ascensão e queda daquele peito
afiado. O peito que ela viu úmido e sem camisa várias vezes, mas
não apreciou adequadamente. O baú que ela suspeitava que
estaria vendo em seus sonhos agora.
Por um momento, ela poderia jurar que ele iria abraçá-la. Se
a abraçasse, ela estava relativamente certa de que desmaiaria.
Então o momento passou, e eles estavam andando em
direção à saída, e ele lançou aquele sorriso irritante e encantador
para ela.
— Sentiu minha falta, Carricinha?
— Terrivelmente — ela disse secamente, com mais
sinceridade do que ela gostaria.
— Idem. — Ele passou um braço em volta dos ombros dela,
puxando-a para o seu lado para um meio abraço por um
segundo antes de soltá-la. — Na verdade, sua ausência me
deixou filosófico. Se uma árvore se comporta mal em uma
floresta e ninguém está lá para repreendê-la, a árvore realmente
se comportou mal? Eu acho que não. Deixe-me explicar meu
raciocínio, em detalhes cintilantes e precisos.
Seu monólogo durou vários minutos seguidos, o que era
conveniente, porque o pressionar de seu corpo contra o dela a
deixou incapaz de falar.
Mas a dor em seu peito se foi. Completamente, totalmente
desaparecida.
Mensagens com Carah: Domingo à tarde

Alex:
Em um avião DE NOVO
Tão entediado
DIVERTE-ME, CARAH

Carah:
Cadê a Lauren, sua vadia chorona

Alex:
Eu pensei que eu era a vadia fofoqueira
designada, mas se eu puder ser dois tipos de
vadias, melhor ainda
Eu tenho multidões de vadias
De qualquer forma, a babá Clegg está se
divertindo com sua amiga Sionna no fim de
semana, o que é completamente injusto, já que
ela não me deixa me divertir

Carah:
Eu gostei de Lauren
Gostei de conhecê-la no leilão
O que exatamente ela o impediu de fazer, se eu
puder perguntar

Alex:
TANTO, TANTO
Ela me incomoda para tomar café da manhã
suficiente quando tomo meus remédios para
TDAH, mesmo quando prefiro ir e fazer outras
coisas, o que é muito chato
Para ser justo, meu estômago está doendo
hoje porque não tomei café da manhã
suficiente
O que é muito chato também, porque eu odeio
quando ela está certa

Carah:

Alex:
E eu deveria estar me divertindo com Marcus e
April, e eu me diverti, mas Lauren me impediu
de me divertir MAIS, por ela estar com seu
telefone no silencioso e não responder minhas
mensagens, e então eu estava checando meu
telefone o tempo todo em vez de prestar
atenção em Marcus e April, e isso é totalmente
culpa dela
E ENTÃO, quando eu deveria estar assistindo a
programas de culinária com meu melhor amigo,
em vez disso, tive que sair e comprar um
presente para ela
Comprei um cobertor para ela, porque ela é um
cobertor molhado (estraga-prazeres)
Entendeu????
É muito macio e acolchoado e fofo
Um verde bonito com apenas um toque de azul
Acho que essa é minha cor favorita
Ela é uma desmancha-prazeres e a pior, mas ela
merece coisas suaves e bonitas, e ela não faz
nada de bom por ela mesma nunca, o que
também é extremamente irritante, como você
pode imaginar
Como eu disse: ABSOLUTAMENTE A PIOR
Carah?
Carah, seria bom se você RESPONDESSE em
algum momento

Carah:
Desculpe, estou muito ocupada rindo para
digitar
Alex, você é uma delícia
Eu tenho que me filmar comendo lutefisk em
homenagem a Maria, então entretenha sua
própria bunda chorona enquanto eu tento não
gritar na câmera
BYEEEEE, MOFO

Alex:
Carah?
CARAH, VEM CAAAAA
14
Os dois meses seguintes não passaram rápido. A presença
de Alex não permitiria isso, e nem a nova atração de Lauren
por ele.
Às vezes, ela podia estar cansada dos passeios noturnos,
frustrada com a intratabilidade e aborrecimento de seu cargo, e
irritada além da conta com as contínuas agulhadas dele, mas
estava totalmente presente. Totalmente engajada, corpo e
mente. Completamente ela mesma de uma forma que não era
com ninguém além de Sionna.
Durante anos, ela passou sua vida diária envolta em uma
bolha de calmaria, neutralidade e observação, mas não mais.
Alex perfurou essa bolha diariamente – a cada hora – com
seu olhar afiado, comentários incisivos e sarcasmo mordaz.
Com sua ostentação descarada de seu corpo definido. Com a
maneira como ele se jogou de cabeça nela e em tudo o mais que
ele se importava em sua vida, gostando ou não.
Muitas vezes, ela não gostava disso. Mas ela gostava dele.
Apesar de seu temperamento explosivo e sarcasmo cáustico,
apesar da forma como sua pele se arrepiava em sua presença, ela
nunca riu mais em sua maldita vida, e ninguém nunca a deixou
tão irritada. Ele adorava irritá-la. Adorava.
Com Dina, porém, ele era tão suave quanto o Capitão
Fluffytail.
Evidentemente, ela conheceu a governanta dele em um
passeio por seus abrigos de caridade e, depois de ouvir sua
história, imediatamente ofereceu trabalho a ela.
Dina tinha a idade de Lauren. Bonita, sincera, experiente e
confiante. Noiva de uma mulher boa e gentil. Sua própria
heroína, como Alex poderia ter dito. Mas ele tinha sido um
apoio em seu momento de necessidade, e Dina o adorava por
isso. Às vezes, quando Lauren via os dois juntos, rindo na
cozinha, iluminados pelo sol e sendo carinhosos, a doçura da
visão lhe roubava o fôlego.
A sensação de seu lindo cobertor fez o mesmo, enquanto ela
se enrolava embaixo dele todas as noites, envolta em um calor
suave por causa dele.
Esta manhã, no entanto, ele não tinha roubado seu fôlego.
Apenas sua paciência.
— Termine seu café da manhã, Woodroe. Precisamos ir. —
Ela bateu na borda do prato dele, ainda meio cheio de ovos
mexidos aveludados e tomates assados com ervas. — Você já
perdeu um compromisso com sua cabeleireira e, pelo que você
me disse, ela vai eviscerar você com sua tesoura de aparar se você
cruzar com ela uma segunda vez.
Além disso, ele definitivamente precisava de um corte de
cabelo e de barba urgente. Con of the Gates, a convenção anual
de fãs de Gods of the Gates, iria começar amanhã e, no
momento, ele parecia um vagabundo particularmente atraente.
— Toda vez que eu tento olhar para você, meu pescoço dói
— ele gemeu entre mordidas. — Como vou comer em
condições tão desumanas? E por que você tem literalmente a
altura de um camundongo com crescimento atrofiado?
Eles discutiram o uso adequado da palavra literalmente
muitas vezes. Ela não estava tendo aquela conversa em
particular novamente.
— Então não se sente ao meu lado no banco. Pegue uma das
cadeiras, onde você não terá que dobrar tanto o pescoço para
me ver. — Uma vez ele tinha raspado o resto de sua refeição, ela
removeu o prato dele e o empilhou com o dela na bandeja. —
Ou melhor ainda, apenas não olhe para mim.
— Mas eu gosto de olhar para você. — Ele se levantou com
um alongamento luxuriante. — E se eu me sentasse mais longe,
não poderia reclamar que você é literalmente uma dor no meu
pescoço.
Automaticamente, ela disse:
— Não é isso que liter...
Espere um segundo.
— Ah, eu sei o que isso significa. Eu sempre soube. — Ele
sorriu para ela. — Eu só gosto de foder com você, babá Clegg.
Eu não vou jogá-lo do topo desta montanha, ela disse a si
mesma. Eu não vou.
Seu sorriso morreu, e suas sobrancelhas se juntaram.
— Uh, só para ficar claro, eu quis dizer “foder com você” no
sentido de provocar você, não, hum...
Em vez de empurrá-lo da beira do penhasco, como ele tanto
merecia, ela deu uma cotovelada nas costelas dele.
— Eu sei o que você quis dizer.
Ele gritou e lhe lançou um olhar ferido enquanto agarrava
seu lado. Mesmo que ela tenha colocado força zero no golpe.
— Que crueldade — ele reclamou. — Só por isso, não vou
deixar você levar a bandeja de volta para a cozinha, sua harpia
cruel.
Então ele saiu em um huff dramático, equilibrando
perfeitamente a bandeja em um braço como um garçom
experiente. O que, dada a sua profissão, ele provavelmente foi
um em algum ponto, agora que ela considerou o assunto.
O debate sobre a dor no pescoço continuou durante todo o
trajeto de carro até o salão, e mesmo enquanto ele entregava as
chaves ao manobrista.
Sim, serviço de manobrista na calçada. Em um salão de
cabeleireiro.
Ela suspirou. Famosos. Gente como a gente, minha bunda.
Ao se aproximarem da discreta entrada do salão, cercada por
palmeiras ornamentais, ela parou e fez sua declaração final.
— Olhando para baixo, você está pelo menos trabalhando a
favor da gravidade, Woodroe. Quando olho para você, tenho
que lutar contra as leis da natureza.
Ele bufou, e ela podia ver muito claramente a esta distância
e de tão longe.
Até suas narinas eram atraentes. Foi altamente injusto.
No entanto, ela fez sua declaração final com o que
considerou louvável desenvoltura.
— O que significa, é claro, que eu olhar para você causa mais
dor no pescoço do que você olhar para mim. Assim, você é uma
dor de cabeça maior do que eu. Falei, tô leve.
— Falei, tô leve? Sério, Carricinha? — Ele riu dela, e então
– oh, idiota – casualmente se inclinou e descansou o antebraço
em cima de sua cabeça, como se ela fosse um console em seu
maldito carro, e ele ia pagar por isso...
— Com licença — uma voz disse atrás de Lauren. — Você
é Alex Woodroe?
Em uma tentativa condenada de recuperar sua dignidade
perdida, Lauren deslizou debaixo do braço de Alex e recuou
vários passos, permitindo que a fã o cumprimentasse sem um
intruso.
A mulher era uma ruiva bonita, talvez com vinte e poucos
anos, e a conversa de sempre ocorreu. Ele confirmou sua
identidade, agradeceu por sua admiração e concordou em tirar
uma selfie. E então–
O celular erguido em uma mão, a mulher se aninhou perto
e colocou a outra mão na parte superior de sua bunda. Com
um sorriso tenso, Alex tentou deslizar para longe, mas sua fã
não desistiu tão facilmente. Ela riu e seguiu o movimento dele
enquanto tirava mais fotos, e não.
Não.
— Sinto muito — disse Lauren o mais educadamente
possível —, mas temo que essa terá que ser sua última foto
juntos.
A fã não se moveu nenhum centímetro e ela não
reconheceu as palavras de Lauren. Outra foto. Outra. Então ela
começou a filmar um vídeo.
O sorriso de Alex não alcançou seus olhos, e Lauren quase
podia vê-lo lutando por seu autocontrole, quase podia ouvi-lo
pedindo para ficar calmo e longe de problemas.
— E, que sorte a minha, aqui estou eu com Alex Woodroe
— a mulher estava dizendo. — Você não acreditaria o quão
gostoso ele é na vida–
Nesse ponto, Lauren andou atrás do par e removeu
fisicamente a mão da fã da bunda de Alex. A mulher engasgou.
Aparentemente do descaramento de Lauren, o que era de fato
uma rica ironia.
A ruiva se virou, cor lívida riscando suas bochechas.
— Espere sua vez, sua vadia feia — ela sussurrou e, de
repente, ela não era mais tão bonita. — Ainda não terminei.
— Sim — Lauren disse simplesmente. — Você terminou.
A outra mulher deu um passo em direção a ela, ainda
filmando, e Lauren honestamente não tinha certeza do que ia
acontecer, mas ela estava pronta. Ninguém estava colocando
mãos indesejadas em Alex na frente dela. Ninguém.
Então, ele estava pisando suavemente entre as duas
mulheres, suas próprias maçãs do rosto coradas, sua respiração
ficando forte e rápida.
O sorriso surgindo em seu rosto–
Lauren nunca tinha visto nada parecido antes. Era o feixe
febril e alegre de um berserker saltando para a batalha, selvagem
e afiado e cheio de raiva e, oh merda, ela tinha que...
Mas ele já estava falando, cada palavra impregnada de um
bom ânimo venenoso.
— Como sou grato por você ter tirado um tempo de sua
agenda lotada para apalpar minha bunda sem meu
consentimento e abusar da minha companhia. — A ruiva
engasgou novamente, o sorriso anárquico de Alex só
aumentou. — Ela tem muita dignidade e bondade para dizer o
que precisa ser dito. Ou seja, que se você não tem nada melhor
a fazer com seu tempo livre do que insultar estranhos, você
deveria ocupar melhor esse tempo. Um conselho?
A mulher tremia de afronta e humilhação, celular apontado
para Alex, e Lauren tentou puxar seu braço e afastá-lo, mas ele
era uma estátua de pedra sob seus dedos.
Alex se inclinou para perto da ruiva, seu tom cordial.
— Vá se foder, senhora.
Ela estremeceu como se ele a tivesse esbofeteado, antes de
entrar em erupção.
— Seu idiota! — Ela estava gritando com ele tão alto que as
pessoas de uma rua inteira estavam esticando o pescoço para
assistir ao confronto. — Vou contar a todos nas redes sociais
sobre isso!
Sua risada gotejava com zombaria.
— Por favor, conte.
Em sua total falta de medo ou remorso, ela pisou longe, já
digitando febrilmente na tela de seu telefone.
Seu peito ainda arfava com cada respiração, e um calor
incrível irradiava de seu corpo magro, mesmo através de sua
camiseta e jeans. Ele olhou para a mulher, e quando ela se virou
para filmá-lo novamente à distância, ele ofereceu um aceno
alegre.
Ah, merda. Se Ron soubesse disso – e ele saberia, Lauren
tinha quase certeza – ele iria retaliar contra Alex de alguma
forma.
— Alex. — Ela esfregou as têmporas. — Você não pode–
Ele se virou para ela novamente, sua expressão escurecendo
abruptamente.
— Eu tenho um compromisso a cumprir, e se eu falar sobre
o que aconteceu agora, eu vou perder a cabeça. Vamos entrar.
Quando ela hesitou, ele suspirou. Não uma de suas
habituais e dramáticas rajadas de ar, mas um suspiro genuíno.
— Por favor, Lauren. — Deixando de lado o porteiro que
esperava, que assistiu todo o encontro com uma alegria mal
contida, Alex abriu a pesada porta de madeira do salão e a
segurou para ela. — Por favor. Deixa para lá. Por enquanto.
Lentamente, ela assentiu.
Eles entraram, e a sala de espera era fresca e elegante. O
homem de estilo impecável que os cumprimentou atrás de uma
mesa de vidro perguntou se eles gostariam de refrescos, antes de
deslizar para uma sala próxima para pegar suas bebidas
escolhidas.
Enquanto esperavam por seu retorno, Alex soltou outro
suspiro e passou a ponta do dedo pelo antebraço nu dela. Sua
pele formigou sob seu toque, o pelo fino dali eriçado, e ela
empurrou seu olhar para encontrar o dele, assustada.
— Ainda não quero falar sobre isso. — Ele olhou para a
ponta do dedo, agora deslizando sobre as veias no dorso da mão
dela. — Mas você está bem?
Ela cobriu a mão dele com a dela. Apertou.
— Estou bem.
Mais uma respiração profunda, e Alex deixou cair a mão e
se afastou.
— Então vamos focar no assunto de maior importância
aqui: eu. Especificamente, se devo cortar meu cabelo curto e
me livrar totalmente da barba, ou apenas aparar um pouco as
coisas.
— É o seu cabelo. — Confusa, ela franziu o cenho para ele.
— Por que você está me perguntando?
— Puta merda, babá Clegg. — Ele fechou os olhos com
força e, desta vez, seu suspiro foi tempestuoso, dramático e
inteiramente falso. — Por que você deve tornar tudo tão
difícil? Ah, isso mesmo. Porque você é uma pedra de moinho
no pescoço da humanidade.
Indignada, ela colocou as mãos nos quadris.
— Olhe para mim, Woodroe. Eu pareço o tipo de pessoa
que sabe a melhor forma de cortar e pentear o cabelo?
Seus lábios se contraíram, mas ele abriu os olhos e tentou
um olhar inexpressivo.
— Sim.
— Você não me disse uma vez que eu era uma péssima
mentirosa? — Erguendo as sobrancelhas, ela sacudiu as pontas
flácidas de seu cabelo desgrenhado. — Pote, conheça a chaleira.
Acredito que vocês dois terão muito em comum.
Ele mordeu o lábio e desviou o olhar por um momento,
então se controlou.
— Lauuuuuuuren. — Foi um gemido direto. — Falaaaa.
Ok. Se ele realmente queria saber o que ela pensava...
— O cabelo comprido e a barba meio que fazem você
parecer um viking. — Um estupendamente lindo. Todo o
visual era muito atraente, francamente. — Então, se é isso que
você está procurando, apenas faça um corte.
— Ahhhhhh. — E agora ele não era mais um viking. Em vez
disso, ele era um gato grande, com uma juba desgrenhada e um
ronronar que vibrava através dela daquele jeito familiar e
desconcertante. — Você gosta da minha barba, Carricinha?
Era uma provocação preguiçosa, e ela queria negar.
Ela não podia. Porque ela era, de fato, uma terrível
mentirosa.
Ele se inclinou para perto de sua orelha.
— Admita — ele respirou. — Você gosta da minha barba.
Você gosta do meu cabelo.
Ela apertou as mãos trêmulas, incapaz de falar. Incapaz de
pensar.
Felizmente, uma mulher alta, adorável e elegante passou
pela porta da sala de espera, então, sua recepcionista impecável
logo atrás dela carregando uma bandeja de bebidas.
Alex fez uma careta para as duas por um momento antes de
encolher os ombros e reunir sua estilista em um abraço enorme,
que ela retribuiu.
Depois de algumas gentilezas sociais, os dois desapareceram
no salão real. Lauren ficou na sala de espera, sentou-se no sofá
de veludo rebaixado e aceitou seu chá gelado com gratidão.
Sua orelha ainda formigava com a respiração de Alex. E, por
razões que ela preferia não analisar, ela estava muito, muito
excitada.
15
Carricinha se levantou do sofá quando Alex voltou ao
cômodo. Por um momento, ela simplesmente olhou para ele,
sem expressão.
Então sua voz de Santa Ana fez seu retorno seco para
caralho.
— Quando você disse que iria fazer um corte de cabelo, eu
não percebi que você quis dizer literalmente. Tipo, um fio de
cabelo.
— Foi mais uma arrumação do que um corte, seu filisteu
folicular. — Ele acariciou a barba com carinho, depois
acariciou com a mão o cabelo. — Agora sou o viking mais bem
penteado e barbudo da aldeia. Os camponeses farão fila para
serem saqueados por mim.
Seus olhos extraordinários voaram para os dele.
— Por favor, me diga que você não escolheu o corte de
cabelo com base na minha opinião.
Tendo sido informado poucas horas antes que ele também
era um péssimo mentiroso, ele não respondeu. Em vez disso, ele
simplesmente abriu a porta e acenou para ela seguir em frente.
Uma vez que o manobrista trouxe seu carro, eles entraram,
e ele fez uma pausa antes de colocá-lo em movimento.
— Quer ir a algum lugar?
— Acho que já tivemos emoção suficiente para o dia. —
Seus lábios estavam apertados novamente. Cerrados. — Vamos
para casa.
A partir dessa expressão, ele só podia supor que a paciência
dela havia se esgotado.
Claro, ela ficou em silêncio só um minuto antes de afirmar
com firmeza.
— Eu gostaria de falar sobre o que aconteceu fora do salão
agora, se estiver tudo bem para você.
Felizmente para ambos, a massagem no couro cabeludo
durante o xampu baixou sua pressão arterial para um nível
quase normal novamente.
— Se não estivesse — ele colocou óculos escuros para
combater o brilho —, como exatamente eu iria te impedir? —
Quando ele contemplou a questão, apenas uma boa solução
veio à mente. — Beijando você?
Seu silêncio pareceu se expandir, enchendo o carro inteiro.
Quando ele arriscou um olhar, ela estava olhando para ele,
de boca aberta, bochechas rosadas.
— Você poderia me fazer parar me pedindo para parar —
disse ela lentamente, pronunciando cada palavra com clareza
cristalina.
Oh. Certo.
Com um encolher de ombros especialmente casual, ele
voltou os olhos para o tráfego.
— Justo. De qualquer forma, está tudo bem. Fala, babá
Clegg.
As estradas pareciam particularmente congestionadas hoje,
mesmo para Los Angeles, e ele se resignou a uma longa e chata
palestra sobre conduta profissional e consequências legais.
Nada que ele não tivesse ouvido mil vezes antes, mas, para
Carricinha, ele pelo menos fingiria ouvir.
Ela não disse o que ele esperava, no entanto.
O que ela disse foi pior. Muito, muito pior.
— As pessoas dizem coisas terríveis para mim o tempo todo.
— Sua voz era inteiramente prática, livre de raiva e
autopiedade. — Desde que eu era criança. Em algum
momento, parei de contar aos meus pais ou a qualquer outra
pessoa, porque isso os chateava muito e não fazia sentido.
Não adiantava dizer a seus pais que ela havia sido magoada e
insultada? Nenhum pouco?
Por que os sentimentos dela eram menos importantes do
que proteger os dos seus pais?
Ela ainda estava falando, mesmo quando seu pulso disparou
de volta para quase um derrame.
— Não está certo, mas também não é importante, como já
disse antes. Reagir a insultos dirigidos a mim não vale seu
tempo ou energia, e certamente não vale seu trabalho ou
reputação profissional. Eu aprecio seu instinto de me defender,
mais do que você imagina, mas você tem que aprender a deixar
para lá, Alex, da mesma forma que eu deixo.
Por todos os efeitos, o carro deveria ser enfeitado com os
restos explodidos de sua cabeça.
— O quê? – De alguma forma, isso era tudo que ele
conseguia articular. — O quê?
— Obrigada por se importar comigo. — Ela limpou a
garganta. — Mas retaliar pessoas que me insultam não é
necessário ou sábio, e você não deveria fazer isso de novo.
Por alguma razão, seu pobre cérebro explodiu com a
expressão dela na noite em que ele voltou da visita a Marcus e
April.
Ele e Carricinha estavam parados na porta da casa de
hóspedes, onde ele a escoltou depois do jantar juntos. Antes de
se separarem, ele ofereceu a ela a enorme sacola plástica que
manteve guardada protetoramente na mala de mão durante
todo o voo.
Por alguma razão, ele estava nervoso, suas mãos não estavam
totalmente firmes.
Ela piscou para ele, confusa, suas próprias pequenas mãos
imóveis ao lado do corpo.
— Isto é para você — ele finalmente disse a ela, impaciente
e desconfortável. — Toma, mulher impossível.
Lentamente, seu rosto cheio de perplexidade, ela aceitou as
alças da bolsa, então olhou para dentro. Sua testa franziu ainda
mais, e ela tropeçou em direção à mesa mais próxima.
Quando ela tirou o cobertor da bolsa, aqueles dedos
ridiculamente curtos acariciaram o tecido. Uma vez. De novo.
Novamente.
— Isso é… — Ela estendeu a seda sobre a mesa, ainda
acariciando. — Isso é um cobertor?
Ele tinha planejado dizer "quando fica molhado, é como
você!” Só que – primeiro, a frase trouxe imagens de Carricinha,
hm, molhada. De várias maneiras. O que foi…
Perturbador. Sim, essa era a palavra. Perturbador.
Em segundo lugar, este cobertor em particular era lavado
apenas a seco. Ele já havia cuidado disso durante a noite, em um
trabalho apressado.
E terceiro, ele não sentia mais vontade de zombar dela.
Não, ele meio que sentiu como se suas narinas estivessem
queimando com uma estranha mistura de raiva e de dor,
porque ela parecia tão atordoada por receber um presente. Tão
perplexa com o pensamento de que alguém tinha pensado nela
e comprado algo para ela, mesmo como uma piada estúpida e
ridícula sobre como ela era um cobertor molhado, ha ha, tão
engraçado.
Então, em vez de tirar sarro dela, Alex simplesmente contou
os fatos.
— Sim. É um cobertor. É feito de seda charmeuse. Somente
lavagem a seco, mas Dina pode cuidar disso periodicamente,
quando ela pega algumas das minhas roupas para limpar e
passar.
— É seda? — Ela lambeu os lábios e inclinou a cabeça,
escondendo o rosto dele, sua mão ainda se movendo
lentamente sobre o charmeuse brilhante. — Eu... eu não sei o
que dizer.
Ele se obrigou a soltar um suspiro exagerado, apesar das
narinas formigando.
— Só agradeça, Carricinha. Você foi criada em um celeiro?
Ou a Equipe Estraga-prazeres não está familiarizada com as
expressões padrão de gratidão ao receber um presente?
Ela o agradeceu hesitantemente, o cobertor apertado,
aqueles lindos olhos grandes e confusos e... perdidos.
Tão perdidos quanto ele se sentiu no momento, e tão
perdido quanto se sentia agora também, porque, que porra?
Pisando no freio, ele abruptamente virou o carro em um
estacionamento de fast-food.
— Deixa eu ver se entendi. — Movendo-se em um espaço,
ele parou o carro e desligou o motor. — Você não é importante
o suficiente para ser defendida? Mesmo quando alguém te
insulta na porra da sua cara, literalmente a dois metros de
distância de mim? Eu não deveria reagir a isso de forma alguma?
— Eu sei o quão leal você é, Alex, e eu sei que vai contra seus
instintos deixar esse tipo de incidente passar — ela disse
suavemente, e mais uma vez, ele definitivamente não estava
calmo, porra. — Mas eles não valem a sua carreira. Eu não valho
a sua carreira.
Se sua cabeça já tivesse crescido novamente, teria explodido
uma segunda vez.
— Isso não é – repito, não é — para enfatizar, ele apontou
um dedo no ar — a porra da sua decisão, Lauren. Eu sou a única
pessoa neste carro e neste planeta que pode decidir o que vale a
minha carreira, e não vale a porra da minha alma.
Ele desejou muito ter chegado à mesma conclusão um ano
atrás, antes do início das filmagens da temporada final, mas era
tarde demais para corrigir esse erro em particular.
— Você acha que é a única aqui que quer agir com base no
que é certo, e não no que é conveniente? — Atrás de seus olhos,
aquele formigamento começou novamente. Mágoa e raiva. —
O que exatamente você acha de mim, Lauren? Quão insensível
e egoísta você pensa que sou?
— Eu não… — Ela colocou a mão em seu braço, seus dedos
gentis e trêmulos. — Eu não acho que você seja insensível ou
egoísta.
— Então não me peça para agir como se eu fosse — ele
retrucou, enquanto pontinhos de calor ganhavam vida em sua
pele em todos os lugares que ela fazia contato. — Eu não sei que
tipo de pessoas você teve em sua vida antes, mas eu não sou
como eles. E se isso te deixa muito desconfortável, você tem o
número do seu primo idiota. Sinta-se livre para usá-lo, porra.
Silêncio. Então, ela tirou a mão, e ele estava flutuando no
espaço, solto e sozinho e desorientado.
A névoa em sua visão, em sua cabeça, levou um momento
para clarear, e então–
Ah, porra.
Fechando os olhos, ele agarrou o volante e descansou a testa
contra a superfície de couro, fazendo o máximo para não bater
a cabeça nele de novo e de novo. Como sempre, sua raiva e
mágoa o havia levado longe demais, e agora ela ia ligar para Ron,
e ele nunca mais a veria, nunca, nem mesmo...
Sua palma fria descansou levemente na nuca dele. Ela lhe
deu um aperto suave ali.
— Alex. — Sua voz era quente. Macia. — Diga-me o que
aconteceu naquele bar espanhol. Quem você estava
defendendo?
A pergunta levou um momento para ser registrada.
Então, ele soltou um quase soluço. Alívio. Gratidão.
Porque ela não o estava deixando. Porque ela perguntou. Ela
foi a única que perguntou, em todo esse tempo. Mesmo
Marcus, em meio a sua preocupação com April, não perguntou
o que aconteceu, não questionou a versão dos eventos
oferecida pelos tablóides e por Ron.
Marcus simpatizou e se preocupou com seu melhor amigo,
mas ele achou. Que Alex estava bêbado. Que Alex, abençoe seu
maldito coração imprudente, tomou outra decisão estúpida e
impulsiva.
E talvez tenha sido um impulso do momento, mas não foi
estúpido, e ele não se arrependia.
— Fui ao bar para beber. Uma cerveja, porque eu... porque
eu estava sozinho — ele disse ao volante, sua voz grossa. —
Estava lotado e não havia bancos ou mesas vazias. Então,
quando peguei minha bebida, me apoiei na parede e comecei a
observar as pessoas. E depois de cerca de dois goles da minha
cerveja, notei esse britânico musculoso e queimado de sol em
uma mesa próxima dando em cima de uma garçonete ruiva. Ela
era quase tão baixinha quanto você, e alguns anos mais nova
que ele. Talvez vinte e poucos anos. Bonita. Sotaque irlandês.
Os dedos de Lauren em seu pescoço pareciam uma bênção,
e ele suspirou em apreciação.
— Ela não estava interessada. Ela continuou se afastando
dele e parecia nervosa e, quando levantou o braço para chamar
a atenção de alguém, talvez um segurança ou do gerente, vi
hematomas desbotados em torno de seu pulso. — Naquele
momento, apesar da penumbra do bar, aqueles hematomas
pareciam iluminados por holofotes para ele. Inconfundível.
Insuportável. — Ele puxou o braço dela para baixo e disse que
ainda não tinha terminado de falar com ela, e ela gritou de dor.
A expiração lenta de Lauren fez cócegas na lateral de seu
braço.
— Então, você interveio.
Naquele ponto, seu sangue estava latejando em suas
têmporas, e a cacofonia em sua cabeça abafou tudo, menos um
imperativo: conserta isso. Agora.
— Retirei a mão dele do braço dela. Não suavemente.
Então, ele me deu um soco, e eu dei de volta, e o inferno
começou. — Ele não sabia quem tinha lhe dado o olho roxo.
Não o britânico, de qualquer maneira, já que aquele filho da
puta tinha caído com o primeiro soco. — Logo antes da polícia
chegar, ela conseguiu me puxar para o lado e me implorou para
não mencioná-la ou descrevê-la, porque ela estava fugindo.
O que explica as contusões e o medo em sua expressão, em
cada movimento dela.
— Tentei oferecer ajuda. — Na verdade, ele próprio
implorou, mas ela estava apavorada, apavorada demais para
fazer qualquer coisa além de fugir. — Então, os policiais
chegaram e ela correu em direção à área dos funcionários e
desapareceu nos fundos, e nunca mais a vi.
Ele esperava que ela tivesse encontrado um lugar seguro para
se esconder e conseguido ajuda. Ajuda de verdade. O tipo de
ajuda que a faria parar de se esconder e reconstruir uma vida
livre do medo e da violência.
Lauren fez uma espécie de zumbido.
— Então a polícia interrogou você e você não disse uma
palavra sobre ela.
— Eu mantive minha promessa. — disse ele simplesmente.
Outro aperto em sua nuca.
— E suponho que o britânico não mencionou suas próprias
transgressões ao descrever as suas.
— Segundo ele, eu dei um soco nele sem motivo, em uma
raiva bêbada. Era como se ela nunca tivesse existido. — Que era
o que ela queria, mas horrível em sua própria maneira. — Eu
não discuti. Só liguei para o meu advogado, que ligou para
outras pessoas. Eles me tiraram da prisão e retiraram as
acusações.
E então, apenas uma hora depois, uma estranha apareceu em
um campo de batalha.
Lauren Clegg. Sua babá. Sua amiga. Sua obsessão. Sua
confidente.
E se ela estava bancando o padre para seu pecador
impenitente, ele poderia limpar sua alma completamente,
certo?
— Antes de terminarmos este quiz da honestidade, você
deveria saber: Bruno Keene é um idiota abusivo, e eu estava
dizendo a verdade quando disse isso. A equipe e outros atores
no set de All Good Men não queriam arriscar suas reputações
me apoiando, e eu entendo isso – mais ou menos —, mas eu
estava dizendo a verdade.
— Ok — ela disse calmamente. — Ok. Eu acredito em você.
Ela estava acariciando seu pescoço agora, brincando
gentilmente com as pontas de seu cabelo ali, e era tão
reconfortante que ele queria chorar. A cada momento, o latejar
de seu crânio diminuía, e seu pulso se acalmou, e sua cabeça
parecia... ele não sabia. Mais leve?
E então... e então...
Essas carícias, esses leves puxões de cabelo, não eram tão
reconfortantes. Seu couro cabeludo estava formigando, em
chamas com a provocação da sensação, e ele não queria mais
chorar.
Ele queria beijá-la.
Ela. Babá Clegg. Harpia em Treinamento. Estraga Prazeres
Extraordinária.
Sua amiga, que tinha os olhos mais calorosos e adoráveis que
ele já tinha visto, feições nítidas e fascinantes, e um corpo
redondo e macio que ele às vezes se via encarando sem uma boa
razão.
E ela o estava tocando, acariciando seu pescoço e...
Ele levantou a cabeça e olhou para ela.
A preocupação em seu olhar tocou seu coração, mas ele não
queria preocupação agora.
Ele queria calor.
Os dedos dela permaneceram enfiados no cabelo dele, e o
peso de sua palma em sua nuca parecia arrastar sua cabeça cada
vez mais para baixo. Seu queixo macio tremeu e seus lábios se
separaram e, merda, ele queria provar aquela boca e descobrir
se era exatamente tão doce quanto ela.
Mas... Porra. Ele não podia.
Até onde ele podia dizer, ela o tolerava com afeição
relutante. Ele certamente não havia notado nenhum sinal de
atração. Mesmo se tivesse, ele era o trabalho dela, e ele não iria
assediá-la no trabalho.
Relutantemente, ele se afastou dela. A mão dela caiu de sua
nuca, e ele reprimiu um som necessitado em favor de sua tolice
habitual.
— Agora que eu desnudei minha alma para você, irmã
Clegg, pare de tentar me distrair do assunto em questão.
Ele sacudiu um dedo repreendendo-a, mas ela não mordeu
a isca. Em vez disso, o olhar dela ainda estava quente e terno
nele, e ele permitiu que aquele olhar penetrasse em seu coração
como chuva na terra seca e rachada.
Então ele deixou sua posição clara.
— Se você não quer que eu te defenda porque te envergonha
ou te deixa desconfortável, então tudo bem. Eu não vou gostar,
vou odiar para caralho, mas vou aceitar sua decisão e tentar o
meu melhor para fazer o que você está pedindo. Mas se você
não quer que eu te defenda porque você não acha que vale a
pena o risco para a minha carreira, então isso é uma questão
completamente diferente, e não. Eu me recuso a cumprir seus
desejos.
Aflita, ela esfregou as têmporas, mas ele não a deixou
escapar.
— Então, como é que vai ser, Carricinha? — Com o dedo
indicador, ele levantou o queixo dela até que ela encontrou seus
olhos novamente. — Eu sigo seu conselho ou meus próprios
instintos?
Seu rosto franziu em pensamento, e foi adorável para
caralho, e ele esperou como o inferno que ela lhe desse a
resposta que ele queria. Porque uma mulher que passou a vida
servindo e protegendo os outros ao custo de sua própria
segurança e bem-estar emocional merecia um defensor.
Um melhor do que ele, obviamente. Mas ele era o que ela
tinha agora, coitada, e ele queria que ela aceitasse sua fidelidade
totalmente inadequada.
Ele queria que ela o aceitasse.
Depois de um longo e tenso minuto, ela exalou lentamente.
— Seus instintos. — disse ela. — Deus nos ajude.
16
Pobre Marcus. Quando ele entrou no carro de Lauren
naquela sexta-feira de manhã, ele não tinha ideia do que o
esperava. Mas ela tinha, e ela não invejava o homem.
A caminho da casa de Marcus, Alex compartilhou seu plano
com ela.
— Eu não aguento mais os olhos de cachorro abandonado,
Carricinha. E como ele quer que fiquemos juntos no hotel
durante o Con of the Gates, estou dando a ele o tratamento
completo de Alexander Woodroe.
Ela fez sua voz tão árida quanto humanamente possível.
— Eu tenho até medo de perguntar.
Mas ele sabia agora que ela estaria curiosa, não importa o
quanto ela pudesse negar. Então, em vez de atormentá-la, ele
simplesmente aumentou o volume da música de Tom Petty
nos alto-falantes e gritou – “You Wreck Me” até que ela cedeu.
Ela apertou os controles de volume.
— Ok. Você me derrotou com seu lamento atonal. Diga-me
o que é o Tratamento Completo de Alexander Woodroe.
Tão detestável na vitória como sempre, ele ergueu os dois
punhos no ar – acidentalmente atingindo o teto do carro dela,
para sua diversão mal escondida – antes de explicar.
— Através da minha sagacidade brilhante e astúcia,
pretendo capturar sua atenção e evitar que ela se desvie para sua
amada. — Ele esfregou as mãos, satisfeito com seu plano
irradiando de cada poro perfeito em seu rosto estupidamente
bonito. — Essencialmente, não vou dar a ele tempo ou espaço
mental para ser um ser humano miserável e choroso.
Se ela não o conhecesse melhor, ela o teria achado antipático
com Marcus, que havia afundado em uma miséria abjeta depois
de terminar com sua namorada. Mas ela testemunhou Alex
correndo para o lado de seu amigo ao menor sinal de problema,
e notou como ele verificava o estado mental de Marcus com
uma frequência quase alarmante por meio de mensagens de
texto e chamadas do FaceTime.
Então, sim, ele foi solidário. Essa era sua maneira de ajudar,
mas ajudar da maneira mais irritante possível, porque Alex era...
Alex.
Até agora, ele havia seguido seu plano, e era uma novidade
não ter sua enxurrada de palavras inteiramente dirigidas a ela,
por uma vez. Certamente, Lauren conseguiu sua parte ao longo
do caminho – enquanto eles dirigiam para pegar Marcus em
sua casa e quando os três se dirigiam para o aeroporto, voavam
para São Francisco e seguiam para o hotel da convenção –, mas
Marcus recebeu a maior parte do falatório.
— Estou realmente satisfeito com a recepção da minha fic
mais recente — Alex disse a seu amigo enquanto eles se
aproximavam do hotel. — A que escrevi com Cupido como
ator, estrelando um programa de televisão popular. Você leu a
versão beta para mim algumas semanas atrás. Lembra?
Oh, droga. Ele não deveria falar sobre isso perto de um
estranho.
Do banco do passageiro da frente, Lauren se virou para dizer
isso a ele, mas Marcus já estava nele.
— Alex… — Freneticamente, ele apontou um dedo na
direção do motorista que os pegou no aeroporto. — Claro que
me lembro, mas você não deveria...
Completamente imperturbável, Alex acenou com a mão
para Lauren e alegremente empinado.
— Ela provavelmente não sabe, no entanto. Enfim, Lauren,
eu fiz um ator! Um Cupido miserável e irritado por causa de
seus showrunners incompetentes e super privilegiados, que
foderam completamente a temporada final de seu programa e
glorificaram relacionamentos abusivos em seus roteiros. Mas
então ele conhece uma mulher chamada Robin, que...
— Sim, sim. — Lauren massageou as têmporas. — Que o
fode até que ele seja uma fonte de alegria e luz mais uma vez,
embora uma fonte que não possa se sentar confortavelmente
por um dia ou dois. Eu li.
Depois que Lauren terminou aquela fic, ela se viu incapaz
de parar de olhar para seu próprio antebraço por alguns
minutos depois.
— Você leu? — Ele sorriu para ela. — Ah, que bom.
Marcus gemeu e esfregou as duas mãos no rosto.
— De qualquer forma, já tenho mais de duzentos
comentários e mil likes — Alex esfregou as unhas contra sua
jaqueta cinza-azulada de aparência muito suave, que ele
colocou sobre uma camiseta branca. — Tudo extremamente
bem-merecido, se é que posso dizer.
Quando Marcus entrou no carro dela naquela manhã, seu
estado mental miserável não foi difícil de detectar. Ele estava
com os olhos vazios e caído, a boca virada para baixo apesar de
todas as suas tentativas de polidez e bom humor.
Agora ele parecia um pouco menos desanimado, mas
significativamente mais assustado.
— E você disse isso. Muito alto — ele sussurrou. — Alex,
cale a boca antes que você seja demitido, cara.
— Eu me senti muito melhor depois de escrever essa
história. — Alex se recostou em seu assento, as mãos cruzadas
atrás da cabeça, a imagem de contentamento. — Agora eu sei
por que as pessoas fazem um diário. Só que eu acho que a
escrita não seria tão satisfatória sem o pegging.
Sua cabeça se inclinou enquanto considerava o assunto.
— Por outro lado, os diários de muitas pessoas
provavelmente incluem pegging, e, bom para eles.
Então, felizmente, eles estavam se aproximando da entrada
circular do hotel, e ela se preparou. Para os fãs, claro, mas
também para possíveis paparazzi. De acordo com o e-mail de
Sionna naquela manhã, o incidente fora do salão de ontem se
tornou viral, e os blogueiros e os meios de comunicação
provavelmente clamavam pelo comentário de Alex sobre o
assunto.
Para alívio de Lauren, ela ainda não fazia parte da história
pública. Eles não descobriram que você é a mulher que aquele fã
idiota insultou, Sionna havia escrito, provavelmente porque ela
não incluiu a parte do filme em que você removeu sua mão
tateante. Melhor fingir que ela era a vítima inocente do
confronto.
Lauren tinha ficado offline novamente para proteger sua
própria paz, mas ela não era uma tola. Em algum momento,
alguém iria perceber que a mulher que desviou Alex de um
ataque no tapete vermelho era a mesma mulher que ele
defendeu do insulto no vídeo viral, e então...
Honestamente, ela não tinha ideia do que aconteceria. Mas
ela ainda não queria explicar seu papel na vida dele. O trabalho
dela era um insulto para ele.
Ele não precisava de um guardião. Ele precisava de
companhia e compreensão.
O carro estava diminuindo a velocidade quando eles se
aproximaram da área de desembarque, e ela não podia fingir
que estava calma. Não quando suas palmas formigavam com
suor e seu coração saltava em seu peito com a perspectiva de
enfrentar multidões ao lado de Alex.
Mesmo sem a perspectiva de paparazzi, ela ficaria
preocupada. Com blogueiros, fãs, funcionários de hotéis e...
todo mundo.
Um olhar de escárnio, um comentário passageiro sobre seu
rosto ou seu corpo, e ele explodiria. Ela sabia disso.
Em seu carro ontem, ela viu mágoa e raiva – com ela, por ela
– escurecer aqueles olhos de nuvem de tempestade e torcer seu
rosto perfeito. Ela embalou a nuca quente e vulnerável de seu
pescoço em sua mão enquanto ele compartilhava histórias que
não tinha contado a mais ninguém, compartilhava sua dor,
compartilhava seu coração enorme, amoroso, impulsivo e
honrado.
E ela disse a ele para seguir seus instintos, por que como ela
não diria? Naquele momento, como ela poderia rejeitar sua
generosa resposta emocional a ela?
Mas mesmo que ela tivesse pedido para ele não reagir, ela
não tinha certeza se ele seria capaz de se conter se alguém a
insultasse.
Porque ele se importava mais com ela do que com sua
carreira.
Foi bizarro. Bizarro e comovente e, francamente,
aterrorizante.
O que quer que tenham se tornado um para o outro nos
últimos meses tensos tinha uma data de validade. Em menos de
um ano, ela estaria fora de sua vida, enquanto ele poderia ter
várias décadas restantes em sua carreira. Racionalmente, não
fazia absolutamente nenhum sentido arriscar sua reputação
profissional por causa dela.
Mas quando se tratava de alguém com quem se importava,
Alex não era racional. De forma alguma.
Essa lealdade imprudente ficou presa em sua garganta e
prendeu sua respiração, e também assustou o inferno fora dela.
Como ela disse a ele tantas vezes, ela não queria ser o motivo
pelo qual ele destruiu qualquer coisa preciosa para ele. E ele
abriu caminho para o sucesso profissional ao longo de duas
décadas de trabalho duro e árduo, apesar das complicações
decorrentes de seu TDAH, então sua reputação na indústria do
entretenimento não era apenas preciosa.
Era insubstituível.
Se ele concordasse ou não, era obviamente muito mais
importante do que se alguma pessoa aleatória para quem ela
não dava a mínima pensava que ela era feia.
Ela pode tê-lo protegido de um atacante inesperado no
tapete vermelho, mas não sabia como protegê-lo de si mesmo.
O motorista estacionou o carro na entrada do hotel e
Lauren respirou fundo antes de abrir a porta do passageiro.
Quando os três saíram e recolheram sua bagagem mínima, uma
multidão de fãs foi até os dois atores.
Os fãs não prestaram atenção nela. Bom.
Mesmo quando Marcus e Alex finalmente chegaram à
recepção no amplo e arejado saguão, ninguém parecia perceber
que ela estava acompanhando os dois homens. Ou, se eles
perceberam, eles não se importaram. O que era a reação correta,
porque ela não importava.
Assim que todos fizeram o check-in – Ron havia aprovado
Marcus e Alex ficarem juntos em uma suíte, então ela tinha seu
próprio quarto em outro andar – eles se prepararam para seguir
caminhos separados.
Aquela corda puxou seu peito novamente, mais forte do
que nunca, mas ela ignorou. Era melhor para ela não estar perto
dele. Era mais seguro.
Depois de embolsar a chave do quarto, ela deu a ambos os
homens um aceno de cabeça.
— Vejo você em sua sessão de perguntas e respostas, Alex.
Tenha uma boa noite, Marcus.
Quando eles estavam tão perto, seu pescoço doía de olhar
para eles.
Isso machucou o coração dela também.
Ambos eram altos, ambos extremamente bonitos, ambos
estrelas com suas próprias poderosas forças gravitacionais. Em
breve, porém, ela teria que sair da órbita de Alex e flutuar para
o espaço, um satélite à deriva mais uma vez.
Ele estava falando, gesticulando para ela, mas o zumbido da
multidão, de seus pensamentos, o abafou. Ele estava dizendo
algo sobre acompanhá-la até o quarto dela?
Com toda a honestidade, ela adoraria uma pausa no
caminho até lá, especialmente porque alguns dos participantes
da convenção podem reconhecê-la do vídeo do tapete
vermelho. Ela deveria ir sozinha, no entanto. Essa era a coisa
certa a fazer.
Então ela apontou para a orelha dela se desculpando,
murmurou eu não posso te ouvir e fugiu quando o sorriso de
Alex se transformou em uma carranca, Marcus os observou
com um olhar tão afiado quanto a língua de seu melhor amigo,
e fãs com telefones prontos para selfies foram em direção a
ambos homens.
Quando ela entrou no elevador, o olhar magoado de Alex
do outro lado do saguão queimou o lado de seu rosto, e ela teve
que se virar e se esconder atrás da porta que se fechava.
Sim, ela estava fazendo a coisa certa.
Mas deixar Alex parecia errado, errado, errado.

Tirando a saída abrupta e rude de Carricinha, todo o resto


estava acontecendo de acordo com o plano muito sábio e bem
pensado de Alex.
Ele e Marcus entraram em sua suíte azul e dourada minutos
antes, então escolheram seus quartos e desfizeram as malas. Ou,
no caso de Alex, abriu sua mala no bagageiro fornecido e
terminou o dia, porque não desfazia as malas para viagens de
menos de uma semana.
Os quartos eram confortáveis, mas comuns, e não
importavam. O que importava: o compromisso de Alex com
uma conversa contínua e provocante. Era uma habilidade
particular dele, cultivada ao longo de décadas, e provou ser tão
eficaz como sempre.
Marcus estava completamente distraído de sua miséria
amorosa, e assim permaneceria, pelo menos até a próxima
sessão de perguntas e respostas de Alex. Mas Alex achou que
poderia fazer seu melhor amigo por vir e ficar o tempo todo,
sem problemas. E depois que os dois terminassem com suas
obrigações para a noite, ele atormentaria Lauren para se juntar
a eles para jantar.
Uma pessoa melhor a deixaria ter a noite de folga, agora que
ele foi depositado com segurança sob a custódia de Marcus.
Mas Alex não era uma pessoa melhor, obviamente, e ele queria
que Carrincinha e Marcus se conhecessem. Ele queria que eles
se dessem bem.
Só porque seria estranho se não o fizessem, com ela
cuidando dele até que a temporada final terminasse de ir ao ar.
Agora que Marcus estava de volta a Los Angeles, os três
claramente passariam muito tempo juntos.
Embora, em teoria, ela não precisasse estar presente se
Marcus estivesse.
Não importa. Os amigos de Alex deveriam ser amigos
também. Isso era apenas lógico.
Enquanto Marcus pegava gelo na máquina mais próxima,
Alex se esparramou na cama, se apoiou nos cotovelos e mandou
uma mensagem para Lauren.

Alex:
Você me abandonou, sua harpia sem coração.

Um minuto se passou. Dois. Nenhuma resposta, e nenhum


Marcus com gelo.
Ambos os seus amigos mais próximos eram lentos como
melado no inverno.

Alex:
Você me deve um bom jantar em
compensação.
Eu vou pagar, porque sei que você odeia, e será
apenas um castigo por seus vários pecados.
Marcus também vai, porque sempre que eu
não o distraio, ele parece um gatinho
abandonado, e seu rosto pode muito bem
congelar assim, e quem o escalaria então? Além
disso, ele gosta de você. Ele disse isso a
caminho da nossa suíte. Você gosta dele?
Nada. Nem mesmo pontos piscando.

Certo. Ele podia ter a conversa sozinho, porque era assim


que ele era charmoso e eficiente.

Alex:
Espere, o que estou dizendo? Marcus é o legal.
É CLARO que você gosta dele.

Ele franziu a testa, atingido por um pensamento repentino.

Alex:
Mas não mais do que você gosta de mim.
Certo?

Ele esperou, batendo os dedos contra o edredom.


Alex:
Certo, Lauren?

Ele acrescentou depois de outro minuto.


Nenhuma resposta. Sem pontos.
Alex soltou um suspiro ofendido pelo nariz e mudou para
todas as letras maiúsculas para aliviar seus sentimentos.

Alex:
AH, VOCÊ É A PIOR.

Marcus voltou a entrar na sala, ombros caídos, um gatinho


abandonado mais uma vez.
Droga. De volta ao plano.
— Quanto tempo leva para pegar gelo? Você viajou
pessoalmente para a tundra ártica e cortou os cubos você
mesmo?
— A máquina está do outro lado da… — Marcus suspirou.
— Esquece. Desculpa por ter demorado tanto.
Um ding silencioso sinalizou um novo e-mail na conta
pessoal de Alex. Talvez Lauren tivesse respondido dessa forma
em vez de enviar mensagens de texto, por algum motivo?
Mas não, era um e-mail da última pessoa que ele queria que
escrevesse para ele. Droga.
— Porra — Alex gemeu, então tocou o e-mail para abri-lo.
— Eu tenho uma nova mensagem de Ron e RJ. O assunto é
Comportamento inadequado e possíveis consequências. Como se
eu não soubesse que coisas horríveis eles poderiam...
Espera.
Não. Não, isso não pode estar certo. Alex estava folheando
e distraído, e ele deve ter lido errado. Ron era um idiota, claro,
mas Lauren era sua maldita prima.
Uma segunda leitura não mudou nada.
Depois de reclamar com Alex pela grosseria inaceitável com
aquela terrível fã ontem e reclamar sobre como seu
comportamento estava violando as expectativas
comportamentais e obrigações contratuais – nada que Alex não
tivesse lido antes, e nada que o incomodasse, dado o contexto
da dita grosseria –, Ron tinha adicionado uma observação.

Obs: Eu acho que isso é nossa culpa, por designar um


cuidador tão feio a você. Diga a Lauren para colocar um
saco sobre ela, se for preciso, mas pare de deixar o rosto
dela te colocar em apuros. Embora isso não conserte o
resto dela, certo?

Ron havia adicionado um emoji chorando de rir no final.


Ele também enviou para Lauren.
Não houve interpretação errada disso.
O crânio de Alex começou a latejar, e uma raiva
aniquiladora explodiu dentro dele, varrendo um calor
insuportável por todo o seu corpo rígido.
— Esses filhos da puta — ele sussurrou. — Aqueles filhos
da puta cruéis.
Aquela mulher horrível de ontem tinha merecido o que ela
ganhou de Alex, mas ela era apenas uma estranha com raiva.
Não valia a pena pensar por mais tempo do que o necessário
para derrubá-la verbalmente.
Isso–
Isso ele não podia suportar. Nem por um único minuto.
Nem por um segundo.
Aquele maldito emoji. Aquela diversão descuidada às custas
de Lauren, com Lauren como a porra do público. Tudo isso,
depois que Ron se atreveu a chamá-la – Carricinha, a mulher
com os olhos mais lindos que se possa imaginar, sua prima,
porra – de feia?
De jeito nenhum, porra, Alex iria suportar isso. Ela diria a
ele para deixar para lá, mas ele não podia. Ele não conseguia. Ele
não iria.
Ninguém, ninguém, iria maltratar uma mulher que ele...
De novo não. Ele não estava permitindo isso de novo.
Sua respiração difícil e ofegante machucou seu peito, e sua
visão ficou tão turva que ele nem viu seu melhor amigo se
aproximando da cama. Marcus tirou o telefone da mão fechada
de Alex e disse algo, mas todo aquele sangue latejando nos
ouvidos de Alex abafou as palavras, e seu cérebro estava girando
em um milhão de direções diferentes, muitas para entender
qualquer coisa além do imperativo martelar contra seu crânio.
Conserta isso. Corrija isso agora.
Uma caminhada, ele finalmente conseguiu decifrar. Marcus
queria dar um passeio.
Oh, Alex iria andar, sim. Direto a um maldito palco e a um
maldito microfone.
— Não dá tempo. — As articulações de Alex doíam como
se estivesse com febre, mas ele se levantou e calçou os sapatos,
depois caminhou até a porta. — Vamos indo. Tenho uma
sessão de perguntas e respostas para participar. Você pode ficar
com o telefone por enquanto.
Ele mal podia ouvir suas próprias palavras sobre o
batimento cardíaco do trem de carga.
Marcus enfiou o celular no bolso da frente, bem ao lado de
sua virilha, mas Alex não deu a mínima. Ele não precisava de
um telefone para fazer o que era certo.
Conserta isso. Corrija isso agora.
Era um uivo em seu cérebro, levando-o inexoravelmente
adiante, e vagamente, ele reconheceu Marcus dizendo coisas
para as pessoas, talvez fãs, mas ele não conseguia se concentrar
neles com todo o barulho.
Quando o moderador e os organizadores da conferência
receberam Alex e Marcus no salão designado, ele lutou para ter
autocontrole suficiente para ser educado, porque nada disso era
culpa deles.
Nesse momento, por um momento fugaz, ele pôde ouvir
algo mais através da cacofonia de raiva.
Era Marcus. Não o Marcus preocupado ao lado dele nos
bastidores, mas o Marcus de outras ocasiões, outros momentos
terríveis.
Ele implorou: reproduza o papel até o fim. O que acontece se
você não alterar o script?
Mas Alex não podia. O futuro além deste momento, deste
estágio, era uma parede, incognoscível e opaca. Ele precisava
passar por ela, e só havia uma maneira. Apenas um caminho a
seguir.
Marcus o observava atentamente.
— Eu sei que você está com raiva, mas–
— Não se preocupe — ele disse, distantemente
impressionado com sua própria voz calma. — Eu vou ficar
bem.
Ele ficaria. Melhor do que bem. Ele estaria livre. De sua
própria autoaversão, da série, da fúria uivante em seu maldito
cérebro.
Então, ele estava andando no palco, e o microfone era uma
boa sensação em suas mãos. Poderoso.
Câmeras estavam apontadas em sua direção, e telefones
celulares também, e ele ofereceu a todos eles um sorriso feroz,
inteiramente encantado que suas palavras seriam transmitidas
ao vivo para o mundo inteiro.
Por minutos intermináveis, ele respondeu às perguntas do
moderador e dos espectadores da forma mais coerente possível
– porque, novamente, nada disso era culpa deles, e ele não seria
um idiota com eles sem motivo. O tempo todo, ele andava de
um lado para o outro, esperando seu momento.
O momento viria. Alguém perguntaria. Ele sabia disso.
Se o mandassem identificar o moderador em uma linha de
policial, ele não seria capaz de fazê-lo. A única pessoa que ele
podia ver claramente em uma sala enorme cheia de gente era
ela.
Carricinha, vestindo uma camisa azul austera e jeans
escuros. Na primeira fila, bem no final, em seu lugar reservado.
Dias atrás, ele pediu secretamente aos organizadores que
trouxessem uma cadeira especial sem braços para ela, porque os
assentos nos congressos eram implacáveis.
Bem parecido comigo, ele pensou. Muito apropriado.
Por mais que ela não se incomodasse com insultos, aquele e-
mail deve ter doído. Especialmente vindo de um maldito
membro de sua família.
Se sim, não apareceu. Ela não parecia magoada. Ela não
estava curvada ou corada, ou enrolada em si mesma, ou
evitando seus olhos com vergonha.
Não, ela estava olhando para ele, testa franzida, empoleirada
na borda de sua cadeira. Sua carriça, pronta para voar. Sua
querida amiga e protetora, pronta para saltar entre ele e o
perigo.
O que ela, de fato, já havia feito.
Era a vez dele saltar por ela, porque ela merecia. Ela merecia
tudo.
Ele deu a ela um pequeno aceno de cabeça. Apreciação. Um
voto.
Outra pergunta da plateia. Outra. Eles estavam ficando sem
tempo, e a sessão estava prestes a terminar, e ele realmente teria
que puxar o assunto?
Então…
Uma mulher nervosa na terceira fila se levantou para fazer
uma pergunta. A pergunta.
Sua voz vacilou.
— O-o que você pode nos dizer sobre a temporada final?
Obrigado, porra. Finalmente.
Ele arreganhou os dentes em um largo sorriso encantado,
mas ela não parecia apreciavelmente confortada. O que era
justo. Ele era um leão com uma gazela à vista e, embora ela não
fosse a gazela em questão, seus instintos de perigo eram sólidos.
— Sua pergunta é sobre a temporada final, correto? Você
está perguntando o que posso compartilhar sobre? — Quando
ela assentiu, ele sorriu para ela uma última vez, então olhou
diretamente para o banco de câmeras que transmitiam cada
movimento seu, cada palavra sua. — Obrigado por uma
pergunta de encerramento tão fantástica. Terei o maior prazer
em responder.
Lauren ficou de pé, de alguma forma sentindo problemas
iminentes, e Marcus já estava caminhando para o centro do
palco, mas era tarde demais. Eles estavam muito atrasados, e
Alex estava quebrando a maldita parede, fodam-se as
consequências.
Conserta isso. Conserte isso agora, seu cérebro uivou.
Então, ele consertou.
17
Lauren entrou no salão designado para a sessão de
perguntas e respostas de Alex, frenética para falar com ele. Mas
mesmo quando um voluntário conduziu Lauren ao seu lugar
designado – um especial sem braços, e ela imediatamente soube
quem tinha providenciado isso – o moderador entrou no palco,
e a sessão começou.
Merda. Merda.
Ela estava muito atrasada.
Depois de receber o e-mail de Ron e RJ, ela levou alguns
minutos para se acalmar em seu quarto de hotel. O insulto em
si não a incomodava particularmente – se ela ganhasse um dólar
para cada vez que seu primo a chamasse de feia durante a
infância, ela teria dinheiro suficiente em sua conta poupança
para várias férias na Espanha – mas Alex ler isso...
Bem, isso doeu um pouco, apenas porque colocou suas
diferenças em um nível tão acentuado. Não era como se ele
pudesse de alguma forma ignorar o fato de que ele era um ser
humano descaradamente lindo, e ela não era. Ele não exigia um
lembrete, porém, e ela também não.
Mas aquela pequena picada se desvaneceu rapidamente,
inteiramente subjugada por puro terror pelo que poderia
acontecer a seguir. Porque Alex não lidaria bem com o insulto,
e se ela parecesse chateada, ele faria um escândalo. Então, ela
precisava ficar totalmente calma, e então ela pretendia
encontrá-lo antes que ele tivesse a chance de falar com alguém
que não fosse ela ou Marcus.
Mas ele não estava em sua suíte, e ele não respondeu às
mensagens frenéticas dela, e no momento em que ela abriu
caminho através da multidão do lado de fora do corredor, ela
ficou sem tempo.
Inclinando a cabeça em derrota, ela se sentou e enviou um
apelo voando para os céus. Por favor, que ele não tenha visto o e-
mail. Por favor.
Após a apresentação do moderador, Alex não entrou
simplesmente no palco. Ele rondava, listras brilhantes de cor
no alto de suas maçãs do rosto, rosto aberto com um sorriso
cheio de raiva, e ah, sim, ele tinha visto o e-mail.
Mas enquanto respondia às perguntas do moderador, ele
permaneceu educado e jovial, e se sua voz estava mais afiada do
que o normal, ela e Marcus – porque certamente Marcus estava
aqui em algum lugar? – provavelmente foram os únicos que
notaram isso.
Depois de alguns minutos, ela exalou lentamente e começou
a relaxar.
Apesar de seu lado protetor ridiculamente amplo e
temperamento volátil, ele era um profissional. Ele sobreviveu
em uma indústria difícil por quase duas décadas e, apesar de
algumas bobagens e desafios ao longo do caminho, ele
conseguiu construir uma carreira de muito sucesso.
Ele faria a coisa certa, por mais que pudesse doer e enfurecê-
lo. Ela tinha que acreditar nisso.
E então… desastre.
Aquela pobre e assustada jovem na terceira fila perguntou
sobre a última temporada do programa, e a expressão de Alex.
Ela tinha visto aquela mesma expressão ontem. O raio de um
berserker pronto para cortar e queimar, e rir enquanto o fazia.
Ele não estava se contendo. De jeito nenhum.
Ele estava esperando.
Assim que essa expressão foi registrada em seu cérebro, ela
mexeu a seus pés e, do lado do palco, passos batendo
anunciavam a tentativa de intervenção de Marcus, mas Alex já
estava falando. Já oferecendo seu sorriso afiado para as câmeras
filmando cada palavra sua.
— Como você sabe, os membros do elenco não podem falar
muito sobre episódios que ainda não foram ao ar. — Ele não
estava mais andando. Ele estava totalmente imóvel,
enunciando clara e distintamente para que sua mensagem não
pudesse ser confundida. — No entanto, se você tiver interesse
em meus pensamentos sobre nossa temporada final, você pode
querer ver minha fanfic. Escrevo sob o pseudônimo
CupidUnleashed. Tudo junto, C maiúsculo, U maiúsculo.
Oh, não. Não.
As histórias que Alex escrevera, os comentários que fizera...
Ron não os perdoaria e não os esqueceria. Ele faria o possível
para expulsar Alex da indústria em retaliação por como o ator
criticou tão duramente os roteiros e showrunners de Gates.
Ela conhecia seu primo, mesmo que ela não soubesse quase
nada sobre ele.
Ela colocou os braços em volta da cintura em uma tentativa
inútil de se confortar, mesmo quando um silêncio caiu sobre o
enorme salão lotado. Com os joelhos moles, ela caiu de volta
em seu assento e se enrolou sobre si mesma, escondendo as
lágrimas que vidradas em sua visão.
Alex tinha acabado com sua carreira. Por causa dela.
Duas décadas de tanto trabalho duro e dedicação; todos
aqueles dias intermináveis que ele teve que aparecer no set e
aproveitar sua energia a serviço do trabalho que ele amava,
mesmo que ele nem sempre amasse seus roteiros; a reputação
que ele construiu meticulosamente... ele jogou tudo fora.
Por ela.
Ela nunca se sentiu tão pequena antes. Tão atormentada
pela vergonha. Ter sido o motivo pelo qual Alex se prejudicou
era insuportável.
Ele estava acabado.
E talvez isso não devesse importar, comparado aos
fragmentos flamejantes da reputação de Alex, mas eles também
estavam acabados, ela e Alex e o que quer que eles tivessem.
Porque não havia como Ron não a demitir. Em poucos
minutos, provavelmente.
Alex ainda estava falando, ainda incendiando sua reputação
profissional, mesmo quando ela cobriu o rosto com as duas
mãos, baixou a cabeça e tentou não deixar cair as lágrimas.
— Essas histórias também lhe darão algumas dicas sobre
meus sentimentos sobre o show em geral — ele informou ao
público, todo animado. — Além disso, um aviso justo: Cupido
fica por baixo nas minhas fics. Com prazer e muitas vezes. Não
é uma grande literatura, mas ainda é melhor do que alguns...
Ele não terminou a frase. Ele não precisava.
Todos sabiam que palavra ele havia omitido de brincadeira:
roteiros.
— Bem, não se preocupe com isso — disse ele, e ela podia
ouvir o sorriso em sua voz.
Ela se encolheu mais na cadeira, porque ele garantiu que não
havia como interpretar mal o que ele disse, nenhum jeito que
pudesse explicar ou disfarçar sua aversão por seus
empregadores. Os poderosos de Hollywood não perdoariam tal
deslealdade aberta. Ela não sabia quase nada sobre a indústria
do entretenimento, mas até ela entendia isso.
Houve um momento de silêncio, e ela teve medo de olhar.
— Não, isso é tudo. — As palavras de Alex foram abafadas
pelo zumbido em seus ouvidos. — Terminei.
Então ele se foi. A multidão irrompeu em aplausos
dispersos, depois em risadas e conversas chocadas – Você
acredita no que ele disse? Sobre os scripts? Estou olhando para o
AO3 dele, e puta merda – enquanto Lauren continuava sentada
em sua maldita cadeira especial, imóvel.
Minutos depois, quando uma nova multidão começou a
encher o salão, seu telefone tocou. Afastando a umidade em
suas bochechas, ela leu a mensagem recebida.
Era de Alex.

Alex:
Marcus ordenou que eu fosse para nossa suíte
e ligasse para todos da minha equipe. Vamos lá,
Carricinha. É uma festa!

Depois de um momento, outra mensagem apareceu.

Alex:
Eu sei que você não está feliz com o que fiz, e
eu sinto muito por isso.

Ele estava arrependido por sua infelicidade. Não pelo dano


que ele causou à sua carreira.
Então, novamente, ele tinha anos pela frente para lamentar
isso. Décadas. O resto de sua vida.
Suas pernas tremiam quando ela ficou de pé e se dirigiu para
a saída. Ela estava indo para seu quarto, porque nada que ela
pudesse dizer, nada que ela pudesse fazer, ajudaria Alex agora.
Com uma exceção.
No elevador, ela mandou uma mensagem de volta.

Lauren:
Prometa-me que vai ouvir o que sua equipe e
Marcus dizem. Prometa-me que fará o seu
melhor para salvar esta situação.

Ele escreveu de volta imediatamente.

Alex:
Eu prometo. A menos que me digam para fazer
algo errado. Nesse caso, não vou ceder.

Era um eco deliberado do que ela disse sobre suas


experiências no hospital. Às vezes que ela entrou em conflito
com seus colegas ou pacientes, ou supervisores.
Ela caiu contra a parede do elevador, desolada.
Outro zumbido.

Alex:
Onde está você, sua harpia intoleravelmente
lenta?

Ela não respondeu.


Quando ela chegou ao seu quarto, ela deixou a porta bater
atrás dela. Seu telefone tocou várias vezes enquanto ela
esvaziava as poucas gavetas que havia enchido com roupas e
outras bugigangas, mas ela ignorou a convocação peremptória.
Uma vez que ela estava completamente arrumada
novamente, ela verificou sua caixa de entrada, apenas para
confirmar.
O e-mail de Ron havia chegado cinco minutos antes.
Eu deveria saber que você não era capaz de fazer um trabalho
tão simples, ele escreveu. Você está demitida e nós não vamos
mais pagar por seu quarto de hotel ou a casa de hóspedes. Já vai
tarde.
Ela poderia verificar pelo telefone, então ela fez isso. Então
ela pegou um táxi para o aeroporto e pegou o primeiro voo de
volta para Los Angeles. Um assento na classe econômica, é
claro. Ela não podia pagar mais, e era onde ela pertencia.
Quando o pequeno jato decolou, ela mandou uma
mensagem para Alex uma última vez...

Lauren:
No avião; eu sinto muito

E desligou o celular dela, porque ele precisava se concentrar


em salvar sua carreira, não nela, e suas mensagens cada vez mais
agitadas doíam.
As contusões que se formavam em suas coxas, pressionadas
em sua carne pelos descansos de braço, doíam menos. O que
dizia alguma coisa.
Ela quase tinha esquecido como era se espremer em um
espaço muito apertado para mantê-la confortavelmente. Ela
quase tinha esquecido a dor específica de tentar se tornar o
menor possível, contorcendo seus braços e pernas de uma
maneira que machucava suas articulações e tornava o
relaxamento impossível. Ela quase tinha esquecido a realidade
de sua vida.
No final, apesar de todas as suas tentativas de ser pequena,
apesar do desconforto dessas tentativas, ela ainda teria
hematomas. Dor após dor. Era inevitável. Inevitável.
Ela aceitou isso para si mesma há muito tempo.
Mas Alex não estava disposto a aceitar isso por ela.
Ele testemunhou sua dor, e se destruiu para vingá-la.
Por essa razão, e só por essa razão, ela desejou a Deus que
nunca o tivesse conhecido.
Bate-papo do elenco de Gods of the Gates: sexta à noite

Ian:
Eu quero que Alex seja expulso deste bate-
papo do elenco
Eu disse, porra, e Bruno Keene também:
veneno do elenco
Nossas carreiras futuras podem depender do
sucesso de Gates, e ele simplesmente caga
tudo porque acha que é bom demais para nós,
o filho da puta ingrato

Carah:
Oh, dá um tempo, Ian
Todos nós sabemos que tudo que Alex disse (e
escreveu) é verdade
E sim, talvez tornar todas essas coisas de
conhecimento público não tenha sido a decisão
mais inteligente que ele já tomou, mas eu
nunca o vi TÃO bravo sem uma boa razão.

Asha:
Eu trabalhei de perto com ele por anos e sim,
isso
E eu nunca vi o menor indício de que ele pensa
que é bom demais para nós

Mackenzie:
Bigodes está muito chateado e preocupado
com o que pode acontecer com Alex

Marcus:
Não posso compartilhar nenhum detalhe, mas
posso dizer com certeza que ele tinha motivos
para ficar muito, muito bravo com Ron em
particular.

Carah:
Eu sabia
Todos nós sabíamos, exceto a porra do Ian

Maria:
No que diz respeito às nossas carreiras,
dependendo do sucesso de Gates: nosso show
tem sido um sucesso de bilheteria há anos, e se
você ainda não capitalizou sua popularidade
para ajudar sua carreira, isso é problema seu
você, Ian, não de Alex.

Peter:
A temporada final do show não pode alavancar
ou quebrar nossas carreiras, e Alex nunca disse
uma palavra sobre nossa atuação
Apenas sobre os roteiros e Ron e RJ como
showrunners, e como Carah disse: justo o
suficiente

Carah:
Para a informação de vocês: acabei de divulgar
uma declaração oficial dizendo que Alex não é
apenas um bom amigo, mas também um
colega valioso e talentoso que sempre se
comportou com um profissionalismo impecável
no set, e que espero atuar ao lado dele em
vários projetos futuros
Eu nem usei palavrões, porque eu também sou
PROFISSIONAL, porra

Ian:
Outra maldita traidora

Carah:
Eu não insultei o programa, apenas defendi
meu amigo, então vai se foder, Ian

Summer:
Devemos todos fazer a mesma declaração,
para mostrar nossa solidariedade?

Mari:
Sim

Pedro:
Solidariedade. Eu vou fazer isso agora mesmo.

Asha:
Também

Mackenzie:
Bigodes concorda que solidariedade é o
caminho a seguir, e vamos igualar a declaração
de Carah

Marcus:
Depois daquele show de merda do Bruno
Keene, isso vai significar o mundo para ele
Merda, não acredito que vocês idiotas me
fizeram engasgar
Obrigado a todos

Ian:
Vocês são TODOS traidores, e espero que suas
carreiras despenquem por causa disso

Marcus:
Para citar um grande líder, e acho que falo por
todos nós aqui: vai se foder, Ian

Carah:
Marcus, por favor, diga a Alex que eu quero
falar com ele sobre todos os peggings, porque
eu estou INTRIGADA por essa merda

Mackenzie:
Bigodes também tem perguntas relacionadas a
pegging

Maria:
Eu amo muito todos vocês
Exceto Ian, naturalmente
18
Levou quinze minutos para a névoa de fúria de Alex se
dissipar.
A marcha de volta ao seu quarto, com Marcus ao seu lado,
passou como um borrão. Quando seu melhor amigo
pressionou um telefone de aparência familiar em sua mão e lhe
disse para ligar para sua equipe, ele ligou automaticamente. As
conversas iniciais com seu advogado, agente e publicitário
horrorizados pareciam acontecer à distância, para outra pessoa
inteiramente.
Então, quando Lauren não respondeu sua décima ou
vigésima mensagem, ele percebeu.
Ele sabia por que ela não estava respondendo.
O mundo ao seu redor entrou em foco, e de repente ele
podia ouvir algo além de seu próprio batimento cardíaco
ensurdecedor. Só então Alex poderia fazer o que Marcus
sempre aconselhava e jogar até o fim. O conselho parecia
especialmente presciente hoje, porque sim: o fim. Foi isso o que
ele trouxe sobre si mesmo com toda a sua raiva justa.
Ele explodiu através da parede, tudo bem. O que estava o
esperando do outro lado?
Desastre.
Ele não se arrependeu do que disse e escreveu. Ele nem se
arrependia das possíveis consequências para sua própria
carreira, embora tivesse dedicado sua vida adulta a essa carreira
e – com várias exceções notáveis – adorado quase cada minuto
dela.
O coleguismo. As câmeras. A forma como diferentes papéis
o imergiram em culturas diferentes e fascinantes e o forçavam a
aprender e aprimorar novas habilidades. Se ele não conseguisse
outro papel, ele perderia tudo isso. Ainda assim, sua
consciência valia sua carreira.
Mas ele lamentou amargamente as consequências para todas
as pessoas ao seu redor.
Ele fodeu quase todos em sua órbita. Seu agente, que
dependia da renda do trabalho de Alex. Seus colegas de elenco,
que, com razão, o evitariam por falar merda em sua última
temporada, o projeto ao qual dedicaram tantos anos de suas
vidas, amor e trabalho. Sua mãe, porque, depois disso, ele pode
não conseguir trabalho suficiente para continuar a sustentá-la
como queria – ou pode ser processado e não ser capaz de
sustentá-la. Suas instituições de caridade, que também
precisavam do dinheiro que seu trabalho trazia. Mulheres e
crianças que foram abusadas, que poderiam não ter um espaço
seguro para reconstruir suas vidas se suas economias acabassem.
Lauren. Porra, Lauren. A mulher que ele pretendia
defender e vingar.
Ele a fodeu também, porque não havia nenhuma maneira
de Ron e RJ mantê-la em sua folha de pagamento depois disso.
Não quando toda a descrição de seu trabalho envolvia manter
Alex longe de problemas, e ele estava atualmente em um monte
de merda disso.
Uma quantidade indeterminada de tempo depois, seu
telefone tocou, e lá estava. A mensagem que ele estava
esperando. Confirmação de que seus piores medos foram
realizados.

Lauren:
No avião; eu sinto muito.

Claro que ela se desculpou com ele. É claro. Seria engraçado,


se não fosse tão horrível.
Como ela disse a ele naquele conjunto de escadas iluminadas
pelas estrelas com vista para o centro de LA, ela precisava de
tempo. Ela precisava de uma pausa do trabalho que a tinha
cansado.
Ele precisava dela.
Mas ela já se foi, por causa do que ele fez naquele palco. Já
em um avião para casa. Não a casa que eles compartilharam por
meses, mas seu pequeno duplex com torres em North
Hollywood. E logo, ela teria que voltar ao trabalho, pronta ou
não, por causa da incapacidade de Alex de pensar no futuro.
Não é de se admirar que ela não tenha retornado suas
mensagens anteriores.
Merda. No espaço de cinco minutos, ele estragou tudo.
Tudo.
Quando Marcus entrou em sua suíte compartilhada após
suas sessões de fotos de fãs, ele encontrou Alex em uma
poltrona, cotovelos nos joelhos e rosto nas mãos.
— Bem — Marcus disse quando a porta se fechou atrás dele
—, a boa notícia é que a mídia não está mais focando no
incidente de ontem com sua fã.
Alex gemeu e levantou a cabeça.
Marcus estava sentado na mesa de centro de frente para
Alex, sua expressão simpática, mas objetiva.
— Eu pensei que você estaria fazendo malabarismos com
três conferências telefônicas separadas agora. O que está
acontecendo?
— Como grupo, minha equipe decidiu que minha
contribuição não era necessária nem benéfica, enquanto eles
resolvem a situação. — A queda não foi suficiente. Se pudesse,
Alex simplesmente se dissolveria no assento. — Zach e meu
advogado e publicitário estão discutindo o assunto entre si e
disseram que entrariam em contato comigo quando chegassem
a um consenso. Aí, eu aprovo o plano de jogo deles ou não.
— Entendi. — Marcus assentiu. — Você por acaso deu uma
olhada no bate-papo do elenco recentemente?
As mãos de Alex era um lugar amigável e reconfortante, e
seu rosto decidiu visitá-las.
— Não. Sou covarde demais.
Algo frio e suave cutucou seu braço, e Alex olhou para cima
novamente.
Marcus estava segurando o celular de Alex.
— Vamos lá, cara. Você não confia em mim?
Merda. Como Marcus sabia muito bem, Alex confiava nele
e, para provar isso, ele teria que acessar o chat do elenco, onde
todos agora o odiavam.
“Você é o pior, cara” ele quase disse, mas isso o lembrou de
Lauren, e se ele pensasse por mais do que alguns segundos sobre
Lauren, ele não seria capaz de funcionar nem mesmo em seu
nível atual, no mínimo.
— Tudo bem — ele resmungou, olhando seu melhor amigo
com desconfiança.
Assim que ele abriu o bate-papo do elenco, ele viu as
mensagens de Ian de algumas horas antes e se encolheu. Mas
então…
Nada além de amor e apoio.
Seu rosto voltou para suas mãos, desta vez para disfarçar seus
estúpidos olhos molhados.
Marcus esfregou o ombro em apoio.
— Talvez devêssemos reclassificá-lo como uma vadia
chorona em vez de uma vadia fofoqueira.
Alex levantou um dedo médio trêmulo.
— Você já verificou seu e-mail? — A voz de Marcus era
gentil. — Porque imagino que Ron e RJ tenham algo a dizer.
— Antes de parar de checar meu telefone, recebi uma
mensagem deles. Encaminhei para minha equipe, mas na
verdade não li. — Ele respirou estremecendo. — Eu não estava
pronto.
— Você está pronto agora? — Era uma pergunta genuína,
não uma exigência.
Seu melhor amigo lhe daria o tempo que ele precisasse.
Porra, obrigado, Marcus.
— Sim. Eu acho — Usando as costas de suas mãos, ele
enxugou suas lágrimas de gratidão, então acessou sua caixa de
entrada. — Aqui vamos nós.
Não foi pior do que ele esperava, realmente.
Tarde demais para tirá-lo do programa, blá blá blá.
Consultoria com nossos advogados sobre consequências legais e
financeiras, blá blá blá. Como o público agora sabe, você é uma
vergonha para sua profissão, blá blá blá. Não é bem-vindo na
convenção ou em eventos futuros de publicidade, blá blá blá.
Foi a última parte que o sacudiu das profundezas
aconchegantes da poltrona.

Como você nos difamou e ao nosso show, não


estamos mais interessados em ajudá-lo. Assim, Lauren
foi demitida, como deveria ser após tamanha
incompetência. Além disso, deixamos de pagar pelo seu
PA virtual a partir desta noite. Se você quiser a
assistência contínua dela, você terá que arcar com a
taxa horária dela.
A parte da tamanha incompetência deixou seus dentes no
limite, mas havia algo mais incomodando em seu cérebro,
algum tipo de ideia...
Sim. Lá estava.
Pela primeira vez em duas horas, o latejar em seu crânio
diminuiu, porque ele podia ver um possível caminho a seguir
novamente. Um com o qual ele realmente poderia viver.
Levantando-se rapidamente, ele entrou em seu quarto e
encontrou sua mala ainda semi aberta, então a fechou
completamente. Ele a jogou na cama, pegou seu telefone e
pediu uma carona para o aeroporto. Próximo passo: uma
passagem aérea de volta para LA.
Quando Alex começou a percorrer os possíveis voos,
Marcus pigarreou.
— Se importa de me dizer o que está acontecendo?
Que seja. A viagem de carro até o aeroporto lhe daria tempo
para comprar uma passagem.
— Dê uma olhada na minha caixa de entrada. — Ele jogou
o telefone para Marcus. — Não sou mais bem-vindo na
convenção, e todas as conversas relevantes com minha equipe
estão acontecendo por telefone e e-mail, então não faz sentido
ficar. Eu poderia muito bem ir para casa.
Usando um aplicativo de conversão de texto em fala,
Marcus ouviu a mensagem dos showrunners.
Uma vez que todo o e-mail vitriólico foi lido em voz alta, ele
olhou para Alex.
— Você vai voltar para LA hoje?
Alex inclinou a cabeça.
— Se eu puder pegar um avião, vou voar. Se não, eu alugo
um carro.
— Você vai atrás de Lauren — Marcus disse de forma
neutra.
Ele conseguiu dar uma risada rouca.
— Claro que vou.
E quando a alcançasse, faria o possível para convencê-la a
ficar com ele, porque não estava pronto para dizer adeus. Agora
não.
Recentemente, ele começou a se perguntar se algum dia iria
querer dizer adeus. Se ele estaria disposto a perder um de seus
raros e penetrantes sorrisos. Se ele poderia viver feliz sem suas
respostas inexpressivas, sua gentileza, ou a forma como suas
camisetas sarcásticas se moldavam contra seus seios pequenos e
a curva de sua barriga macia.
Talvez Lauren ainda pensasse que eles eram simplesmente
vigilantes-vigiados ou amigos platônicos, mas ele sabia melhor
agora. Ele sabia melhor desde aquele quase beijo encharcado de
tentação em seu carro.
— Eu tenho que ir — ele disse a Marcus. — Meu motorista
deve estar aqui em cerca de cinco minutos, e atravessar o saguão
vai demorar um pouco.
O olhar afiado de Marcus poderia ter descascado uvas, mas
Alex não vacilou.
Finalmente, seu melhor amigo suspirou.
— Vou fazer a interferência. Vamos lá.
Eles finalmente conseguiram chegar à entrada do hotel no
momento em que o carro estacionou na entrada circular. Alex
quase deu um abraço em Marcus, então se jogou dentro do
SUV, bateu a porta e prendeu o cinto de segurança o mais
rápido possível.
— Para o aeroporto? — o motorista perguntou, seu cabelo
grisalho em uma coroa de tranças.
— Para o aeroporto — Alex confirmou. — O mais rápido
possível. Vou dobrar a tarifa se você me levar lá a tempo para
um voo às dez.
— Pode deixar. — Seu pé pisou no acelerador, e o SUV deu
um solavanco ao redor do círculo e nas ruas de São Francisco.
Ele comprou sua passagem para o voo noturno enquanto
eles passavam pelo trânsito e seguiam pelas retas, então
conseguiu enviar uma mensagem rápida de segurança para
Marcus, apesar da viagem difícil.

Alex:
Indo consertar isso. Não se preocupe.

Ele não estava falando sobre sua carreira. Mas seu melhor
amigo provavelmente já sabia disso.
Alex apareceu no duplex de Lauren pouco antes da uma da
manhã. O que era apropriado, já que muitas vezes eles saíam
para suas caminhadas noturnas no mesmo horário.
Era um sinal, ele decidiu. Um sinal definitivo.
Quando ela atendeu à sua peremptória batida e repetidos
toques da campainha, ela não parecia estar dormindo. Ela, no
entanto, parecia ter sido arrastada para trás através de vários
círculos diferentes do inferno.
— Você está péssima — ele disse a ela. — Estar longe de mim
não faz bem a você.
Ela não parecia especialmente impressionada com sua
conversa inicial. Lábios em uma linha fina e apertada, ela
simplesmente parou em sua porta e olhou para ele, os olhos
inchados e avermelhados pelo cansaço da viagem.
— Uma anfitriã tão terrível. — Caindo dramaticamente sob
o peso de sua mala muito leve, ele balançou a cabeça para ela.
— Mas se você precisar de uma lição de etiqueta apropriada,
estou aqui para ajudar. De acordo com a Srta. Boas Maneiras,
você deveria me convidar para entrar, para que eu não desmaie
em sua varanda de exaustão. É a coisa educada a fazer.
Pensando bem, talvez esse não fosse o melhor conselho,
dada a natureza excessivamente generosa de Lauren.
Rapidamente, ele esclareceu:
— Mas se qualquer outro cara aparecer a esta hora da noite,
não o convide. Ele pode ser um canalha. Ou um vampiro.
Embora talvez ele esteja coberto pelo guarda-chuva
mesquinho?
Ela fechou os olhos e respirou fundo, em seguida, moveu-se
para o lado da porta e acenou para ele entrar.
— Apenas cala a boca e entra, Alex.
Assim que entrou, ele se viu estranhamente inseguro sobre
o que fazer com as mãos.
Se pudesse, ele a puxaria para perto. Ele a envolveria em seus
braços e a abraçaria, aquecendo-se em sua proximidade,
assegurando-se de que qualquer relacionamento que eles
haviam construído não tinha simplesmente terminado.
Carricinha era absurda, maravilhosamente redonda.
Grande, apesar de sua pouca altura. Ela seria suave e quente sob
suas mãos e contra seu corpo.
Ele queria sentir isso. Ele queria senti-la.
Mas sua proposta imporia a mesma velha barreira entre eles,
então ele precisava manter as mãos para si mesmo. Assim, ele
colocou sua pequena mala no chão de madeira e abaixou a alça,
depois cruzou os braços sobre o peito.
Carricinha tinha colocado uma daquelas camisetas
desbotadas e grandes que ela usava como camisola, e suas
pernas nuas pareciam especialmente pálidas contra a escuridão
da sala de estar. A única luz vinha do quarto, onde ela
aparentemente acendeu uma lâmpada.
Eles estavam sozinhos em sua casa à noite. Sua cama podia
estar desarrumada. Acolhedora.
Ele se pegou estudando suas pernas novamente, e
rapidamente desviou o olhar.
Eles ficaram lá em seu apartamento pequeno e escuro,
olhando para o outro por um longo minuto. Ele piscou
primeiro, porque é claro que ele piscou primeiro. Lauren era
uma porra de uma máquina. Um Exterminador do Futuro,
como ele uma vez informou a Marcus, embora muito pequena.
Finalmente, como se fosse uma deixa, eles falaram ao mesmo
tempo.
— Desculpa — ambos disseram, e franziram a testa um para
o outro.
Então, em uníssono mais uma vez
— Você não tem porque pedir desculpas.
Franziram a testa ainda mais.
— Você primeiro — ambos disseram, e Alex não pôde
evitar.
Ele riu até que seus olhos estivessem úmidos novamente, e o
peso esmagador em seu peito diminuiu o suficiente para ele
puxar quase uma respiração completa.
Quando ele se acalmou, ainda não havia leviandade em sua
expressão ou naqueles olhos adoráveis. Então, novamente, ela
não tinha ouvido suas desculpas ou seu plano ainda, então ele
não contaria isso como derrota.
— Porque eu não sou nada além de um cavalheiro — ele
poliu um monóculo imaginário —, por favor, fale primeiro.
Tendo em mente que, se você se desculpar por qualquer coisa,
talvez eu tenha que matá-la. Assim provando meu ponto: você
não deve deixar homens estranhos entrarem em seu
apartamento.
Nem mesmo uma contração dos lábios. Droga.
— Me mate se for necessário, mas eu preciso dizer isso —
Sua voz era grave, rouca e inteiramente determinada. — Sinto
muito por você ter colocado sua carreira em perigo por causa
de um insulto dirigido a mim. Assim que eu entendi que era
uma possibilidade, eu deveria ter pedido demissão e dito a Ron
para encontrar uma nova companhia para você.
Se ela pegasse um daqueles testes “Que personagem de Gods
of the Gates você é?”, ela definitivamente seria Atlas, o pobre
coitado. Sem dúvida.
— Jesus Cristo, Carricinha. — Ele soltou um suspiro
sincero. — Por que você está tão determinada a ser um mártir?
Não me arrependo de ter causado problemas para mim.
Lamento ter causado problemas para você. Junto com algumas
outras pessoas, mas eles não são minha prioridade agora. Você
é.
Sua testa franziu ainda mais, o que ele não achava
fisicamente possível.
— O que você quer dizer?
— Você precisava de tempo antes de decidir onde trabalhar
em seguida, e precisava de dinheiro para comprar esse tempo.
— Ele abaixou a cabeça. — Quando perdi a paciência com
Ron, tirei seu tempo e a renda extra e peço desculpas. Você tem
todo o direito de estar com raiva de mim.
Ela ergueu a palma da mão, sua expressão se contorcendo de
angústia.
— Você estava tentando me vingar, Alex. Porque você
estava chateado em meu nome. Como no mundo eu poderia
estar com raiva de você por isso?
Deus, ele queria tanto revirar os olhos. Mas ele não podia,
não com a óbvia confusão e remorso dela e... o que quer que
mais estivesse esculpindo linhas profundas naquelas
características distintas.
— Lauren, você é péssima pra caralho em ficar com raiva de
outras pessoas por maltratá-la ou ignorar seus interesses. —
Uma verdade da casa, e uma que ele esperava que ela
entendesse. — Sua falta de raiva não é um indicativo seguro da
falta de algo errado feito a você.
Ela piscou aqueles olhos lindos para ele, parecendo perdida.
Que seja. Eles teriam muito tempo para palestras
informativas em breve.
— De qualquer forma, a boa notícia é que estou aqui para
corrigir esse erro em particular. — Ele sorriu para ela, mais certo
do que nunca de que poderia consertar tudo. — Eu tenho um
plano.
— Oh, merda — ela murmurou.
Ignorando isso, ele continuou.
— A produção costumava fornecer um assistente virtual
para mim, dadas minhas questões organizacionais. No e-mail
de Ron, ele disse...
— Espera. — Ela ergueu a mão, de alguma forma parecendo
ainda mais culpada. Ele só podia supor que era algum tipo de
recorde mundial do Guinness. — Eu não posso acreditar que
eu não perguntei isso imediatamente. O que está acontecendo?
O que Ron e RJ fizeram?
— De acordo com meu agente e advogado, devo ser capaz
de evitar retaliação financeira e uma ação judicial. Dito isso,
estou desconvidado dos próximos eventos de publicidade e
proibido de comentar sobre o programa, e você e meu
assistente virtual foram demitidos — As outras consequências
não relacionadas a Gates não precisavam ser discutidas agora.
Ou, de preferência, nunca. — O que me traz ao meu brilhante
p–
— Não tão rápido, Woodroe. — Esqueça os pássaros. Ela
era uma porra de um texugo. — E quanto aos trabalhos após o
final da temporada que você conseguiu? Você já ouviu alguma
coisa sobre eles?
Ele olhou com grande interesse para a estante de livros dela.
— Não de todos eles.
Ainda não, de qualquer maneira.
— Ah, Alex. — Ela caiu em seu sofá como se suas pernas
tivessem caído embaixo dela. — Estou tão–
Nãooooo.
— Se você pedir desculpa, eu juro por Deus, Carricinha, eu
vou...
— O quê? — Ela levantou uma sobrancelha desafiadora. —
Você vai o quê?
Ok, introdução perfeita.
— Vou remover os benefícios da academia do seu pacote de
emprego e você terá que treinar comigo na minha academia em
casa.
Sua boca se abriu, depois fechou.
— Brincadeira — disse Alex. — Você não tem benefícios de
academia, então você vai ter que treinar comigo em casa.
Supondo que você queira treinar, o que não é um requisito
nem nada. Você faz o que quiser.
Aquela boca larga se abriu novamente, e ela parecia
deliciosamente suspeita.
— Eu não estava brincando sobre o pacote de emprego, no
entanto. Meu advogado ainda está — em meio a muitas
reclamações, considerando seus outros esforços em nome de
Alex naquela noite — elaborando o contrato, mas deve estar
pronto dentro de um ou dois dias. Fico feliz em negociar os
termos, conforme necessário.
A princípio, ele considerou oferecer trabalho a Carricinha
como sua companheira de babá, mas ele já sabia qual seria a
resposta dela a isso. Ela recusaria a oferta, alegando que já havia
provado sua incapacidade de mantê-lo longe de problemas.
Então, ele veio com uma solução diferente. Um melhor.
— Eu não… — Ela lambeu os lábios pálidos, e suas próprias
pernas ficaram um pouco fracas. — Não entendi.
— Caramba, você é lenta — Quando ela simplesmente
olhou para ele, ele soltou um suspiro exagerado e explicou: —
Eu gostaria que você fosse minha nova assistente pessoal. Não
virtual. Em pessoa.
Seu nariz enrugou, e não deveria ser tão fofo.
— Isso não faz sentido. Por que não recontratar sua PA
anterior com seu próprio dinheiro e manter as coisas virtuais?
Ela claramente tem mais experiência do que eu. Além disso,
tenho várias opções de trabalho no meu campo de trabalho
atual, então minha renda não depende de sua generosidade. A
dela pode depender.
Droga. Ele esperava que ela não pensasse nisso.
— Ela ainda vai trabalhar para mim. — Ele mudou seu peso.
— Caso contrário, eu me sentiria mal.
Como ele iria produzir trabalho suficiente para ambas as
mulheres, ele ainda não havia determinado. Ele veria isso
quando chegasse a hora, como era seu costume.
Ela apontou um dedo acusador para ele.
— Você acabou de me dizer que já perdeu empregos–
— Na verdade, eu não disse isso. Você apenas supôs.
— E eu já sei o quão generoso você é com amigos e
instituições de caridade e todos os outros na face deste planeta,
exceto talvez Ian e Ron–
— Como se você fosse alguém para falar, Lauren Chandra
Clegg, também conhecida como Sra. Vou Desistir das Minhas
Férias Quando o Meu Primo Pedir.
— Então você não pode pagar dois assistentes pessoais a
longo prazo, e mesmo se pudesse, eu não aceitaria esse trabalho
quando eu poderia estar fazendo um trabalho real em vez disso.
Em algum momento durante a discussão, ela se levantou
novamente. Agora, ela estava olhando para ele com as mãos
plantadas nos quadris, o queixo erguido.
Ela era tão fodidamente teimosa, e ele queria plantar um
beijo naquele queixo macio e truculento tanto quanto ele
queria chamá-la de a pior. Mas todo o seu plano estava
escorregando por entre os dedos, caramba. Não havia tempo
para beijos ou mesmo insultos. Ele precisava encontrar um
argumento vencedor, e precisava encontrá-lo agora.
— Mas me manter em ordem é um trabalho para duas
pessoas — ressaltou, desesperado.
Ela ergueu o dedo indicador e o dedo médio.
— Sim. Você e sua assistente pessoal. Duas pessoas.
— Mas… — Merda. — Se você não vier trabalhar para mim,
você não terá tanto descanso. Você disse que precisava de
tempo para superar seu esgotamento.
Com isso, ela realmente sorriu. Era pequeno e triste e grato
e terrível.
— Consegui economizar nos últimos meses, então ainda
terei tempo. Não tanto quanto eu pensava inicialmente, mas
algum tempo. Suficiente. — Ela engoliu audivelmente. —
Obrigada por pensar nisso, no entanto. Obrigada por pensar
em mim. Eu aprecio isso mais do que você sabe.
Um adeus muito gentil e educado estava a caminho, ele
poderia dizer. Se ele não conjurasse outra razão para ela ficar ao
seu lado nos próximos cinco minutos, ela iria sair de sua vida
para sempre.
Ele viria com esse motivo. Ele iria.
Mas primeiro, ele tinha que perguntar.
— Esse e-mail... você está bem?
— Estou bem. — Seus olhos estavam sérios nos dele. — Não
é nada que eu não tenha ouvido antes. Ron costumava dizer
coisas assim o tempo todo quando éramos crianças.
Ele fechou os olhos e respirou longa e profundamente.
Ao ver sua expressão, ela rapidamente acrescentou:
— O que não desculpa sua grosseria, é claro, mas tudo bem.
Eu só queria que você não tivesse visto essa mensagem, porque
eu sei que isso te aborreceu mais do que a mim. Obviamente.
E isso o matou. O estripou absolutamente.
Ele não queria chateá-la, mas ele a queria com raiva. Ou
talvez nem com raiva, mas pelo menos ciente do mal feito a ela.
Ele a queria absolutamente relutante em aceitar esse tipo de
crueldade como uma parte normal ou aceitável de sua vida.
Mas não dependia dele.
— E eu sei que você não quer um, mas eu te devo outro
pedido de desculpas. — Quando ele abriu a boca para
protestar, ela levantou a mão. — Deixe-me terminar, Alex. Por
favor.
Droga. Quando ela diz por favor, ele não podia fazer nada
além do que ela queria.
Olhando para ela o tempo todo, ele se preparou para ouvir.
— Se você disser que eu não deveria me desculpar por te
colocar em apuros, eu vou tentar não me desculpar por isso de
novo. — A boca dela virou para baixo nos cantos, o que ele
odiava. Odiava. — Mas eu posso e vou pedir desculpas por não
estar ao seu lado enquanto você lidava com as consequências.
Você me pediu para ir à sua suíte, e eu deveria ter feito isso. Eu
deveria ter apoiado você.
Sua ausência tinha doído. Ele não podia negar isso, mesmo
que ele entendesse as razões dela para sair. Ou, pelo menos, ele
achava que entendia. Mas se ela não estivesse com raiva dele...
— Eu só… — Ela torceu o pescoço e olhou para seu quarto
iluminado por uma lâmpada por alguns momentos antes de se
voltar para ele, seus olhos vidrados, e ele odiou isso ainda mais.
— Eu sabia que era o fim do nosso tempo juntos e eu estava…
— quando ela piscou, as lágrimas escorreram pelo seu rosto —
eu estava muito triste, Alex. Eu não queria distrair você com
meus próprios sentimentos, no entanto, porque você tinha
coisas mais importantes para lidar.
Novamente. Eviscerado. Porque, novamente, ela se colocou
abaixo de tudo, todos os outros, em sua vida, e ela nem parecia
notar. Não reconheceu o quão errado isso era.
Ela tentou sorrir, e foi vacilante e de partir o coração.
— Vou sentir sua falta.
Então ela estava tropeçando para frente, e seus braços em
volta da cintura dele, e ela estava inclinada para ele, tão suave e
quente e preciosa quanto ele havia imaginado.
Aquela camisola gasta não disfarçava a sensação elétrica do
corpo dela contra o dele, ou a óbvia falta de sutiã, e ele tentou
manter sua reação reveladora longe dela. Ele não queria estragar
o momento ou encurtá-lo.
Porque ela o estava abraçando. Babá Clegg. Carricinha. Sua
Carricinha.
Abaixando a cabeça desconfortavelmente para baixo, ele
descansou a bochecha contra o cabelo dela. Tinha cheiro de
coco. Ele não tinha ideia disso, até agora.
Quando os braços dela começaram a afrouxar, ele se abaixou
e emoldurou seu rosto doce, de feições afiadas e manchado de
lágrimas em suas mãos. Ele deu um beijo na testa dela.
Suas bochechas estavam molhadas e frias, e se encaixavam
perfeitamente nas palmas das mãos dele.
Ele olhou nos olhos dela, e o momento pareceu tão solene
quanto uma cerimônia.
Espera.
Lá estava. Finalmente, sua desculpa.
No avião, ele verificou seu e-mail e leu uma mensagem da
sua PA virtual. Depois de cancelar todos os seus planos de
viagem relacionados à publicidade e concordar em trabalhar
diretamente para ele, ela pediu férias de pelo menos duas
semanas antes de retomar sua programação normal. Ele disse
que sim, é claro.
Afinal, ele não tinha nada para fazer. Nenhum lugar para
estar. Com uma exceção, como seu assistente o havia lembrado.
Uma gloriosa e fortuita exceção.
— Você não precisa sentir minha falta. — O plano se
desenrolava diante dele, perfeito em todos os sentidos possíveis.
Ele deu um beijo feroz no cabelo ralo em sua têmpora,
triunfante de alegria. — Eu tenho outra ideia brilhante,
Carricinha, e vou cuidar de tudo. Tudo o que você precisa fazer
é dizer sim.
Ela piscou para ele.
— Ai, Jesus.
E–mail de Lauren

De: mclegg58@umail.com
Para: lcclegg@umail.com
Assunto: Verificando você

Oi, querida–

Depois que seu primo ligou para a tia Kathleen esta


tarde, ela contou a seu pai e a mim o que aconteceu na
convenção hoje cedo. Sinto muito, querida. Você está
bem?
Tudo soa terrível, e não é justo que você tenha
perdido o emprego porque Alexander Woodroe não
conseguiu se comportar. Eu não tenho ideia do que Ron
queria que você fizesse, honestamente. Como você
poderia ter adivinhado o que aconteceria? E mesmo se
você soubesse, ele esperava que você enfrentasse
Woodroe fisicamente no palco e o amordaçasse até que
ele se acalmasse?
Dito isto, sua tia Kathleen está muito chateada, e ela
continua ligando e dizendo repetidamente como você
deve desculpas a Ron por permitir que ele fosse
humilhado dessa maneira. Novamente, eu sei que NÃO é
sua culpa, mas você poderia dizer a Rony que sente
muito em um breve e-mail? Se você me enviasse a
mensagem, eu poderia enviá-la para Kathleen, e acho
que ela se sentiria melhor então.
Além disso, agora que você tem algum tempo livre,
seu pai e eu adoraríamos sua companhia por alguns dias!
Estamos pensando em pintar a toca de uma cor
diferente. Talvez verde sálvia? De qualquer forma, você
sabe como seu pai odeia fazer os cantos e bordas, e
meus joelhos não me deixam mais sentar no chão por
horas, então sua ajuda seria mais que bem-vinda. Você é
tão boa em pintar.
Quando você visitar, vou fazer um assado e fazer
Batatas Anna, sua favorita. Basta nos avisar quando
puder vir.
Te amo, querida,
Mamãe
19
— Aí, Jesus – Lauren disse com sentimento.
Diga que sim, ele insistiu, e que Deus a ajudasse, ela quase
concordou com qualquer que seja o plano maluco de Alex que
pudesse ter agora.
Ele a arruinou. Sem ele, tudo deveria estar calmo e pacífico
desde sua chegada tarde da noite em seu duplex. Em vez disso,
tudo estava quieto e chato. Silencioso e chato e... triste. Triste
demais para dormir, considerando como ela acabava fungando
a cada poucos minutos.
E agora ele a estava tocando, segurando seu rosto com suas
mãos quentes e fortes, e ela não conseguia se lembrar por que
estava chorando momentos antes. Se pressionada, ela não tinha
certeza de que poderia lembrar seu próprio nome com certeza.
— Tanta suspeita, Carricinha. Estou terrivelmente
ofendido. — Ele fez um som de tsc. — Como um pedido de
desculpas, eu vou aceitar sua vontade de me ouvir antes de dizer
não. Concorda?
Sua carranca solene se transformou inteiramente em um
sorriso de triunfo presunçoso, alegria sobre sua ideia
definitivamente horrível irradiando de seu rosto vincado de
cansaço. Com um último movimento suave de seus polegares
sobre suas bochechas úmidas, ele deixou cair as mãos e deu
meio passo para trás, e sua pele abruptamente arrepiou com
frio.
A amplitude do espaço não permitiu que ela recuperasse o
equilíbrio. Não quando ele ainda estava a uma distância fácil de
tocar, perto o suficiente para que seu apelo flagrante, sua
sensualidade descarada, fosse uma provocação inevitável.
Outra camisa Henley agarrada ao peito, cor de creme e
desabotoada apenas o suficiente para mostrar um lampejo de
pele dourada e salpicada de cabelo, as mangas arregaçadas
emoldurando seus antebraços grossos e tensos. Calça jeans
desbotada abraçava aquelas coxas fortes. Tão apertada.
Ela teve que desviar o olhar de suas coxas e antebraços, mas
seu rosto não estava melhor. Apesar das sombras sob seus olhos
e das linhas que contornam sua boca, seu sorriso era o sol. Ele a
deslumbrou com seu brilho. Queimou tudo, menos ele.
Por um momento, impotente diante daquele rosto, daquela
voz, daquele corpo – tudo que Alex era e tudo que ele
significava para ela – ela só conseguia piscar e olhar.
Ele inclinou a cabeça.
— Lauren?
Seus olhos de nuvem de tempestade a viam muito bem. Sob
seu escrutínio, ela piscou novamente e tentou se lembrar do
que exatamente eles estavam falando.
— Desculpa. — Ela balançou a cabeça, com força, e reuniu
seu raciocínio disperso. — Ouça, se isso é sobre trabalhar para
você...
— Não estou te oferecendo outro emprego. — Seu rosto
caiu, e caramba, ela sabia que era uma encenação, mas ainda
apertava seu coração. — Você não vai me ouvir? Mesmo que
eu tenha dito por favor?
Ela lançou os olhos para o teto.
— Primeiro de tudo, você não disse por favor. Segundo,
mesmo se você tivesse, dizer por favor não é um encantamento
mágico garantido para trazer o desejo do seu coração, Alex.
— Não é? — Ele franziu a testa para ela. — Então por que
eu tenho me dado o trabalho todo esse tempo?
Quando ela cobriu o rosto com as mãos, os ombros
tremendo, nem ela sabia se estava rindo ou chorando.
— Eu não acho que você está dando a minha proposta a
consideração solene que ela merece — ele reclamou, mas ela
podia ouvir o sorriso na voz dele. — Estou ligando para a linha
direta das Harpias Sem Humor da América para relatar seus
vários crimes. Posso apresentar uma queixa formal, se as coisas
não melhorarem.
— Deus me livre. — Depois de limpar os vestígios
reveladores de umidade, ela se jogou no sofá. — Vá em frente,
então. Darei à sua proposta toda a minha atenção, severa e sem
alegria, conforme exigido pelos estatutos da HHA.
A afeição por ele fez disparar seu pulso já acelerado.
— É tudo o que peço.
Seu sofá podia acomodar três pessoas, mas ele se acomodou
bem ao lado dela e se virou até que seu joelho dobrado cutucou
sua coxa. Ele não se desculpou pelo contato. Não se afastou.
Ela não conseguia respirar.
— Venha comigo para o casamento no próximo fim de
semana. — Ele ergueu a mão, como se antecipasse sua recusa.
— Você já deveria me acompanhar, então eu sei que você não
tem outros planos.
O casamento?
Oh. Oh, certo. A cerimônia de sua ex entre as sequóias.
Stacia disse que era o único cenário que poderia diminuir
minha auto-estima, ele disse a Lauren semanas atrás, revirando
os olhos com carinho. E quando ela franziu a testa com a
injustiça desse insulto, ele apenas dispensou sua preocupação.
Ela estava apenas me provocando. Somos amigos há muito
tempo.
Lauren entendia a parte do casamento agora. Mas sem um
responsável designado, ele poderia comparecer ao evento com
quem quisesse. Por que levá-la, de todas as pessoas?
Alex ainda estava falando, mesmo enquanto ela tentava
decifrar suas intenções.
— Nunca me deixe ouvir o final disso se eu chegar sozinho,
e você já deveria ser minha acompanhante. Já que nós dois
temos tempo agora, e você odeia voar, pensei que poderíamos
fazer uma viagem de carro pela costa. Juntos.
Suas palavras estavam caindo umas sobre as outras,
estranhamente sem fôlego, e ele esfregou as palmas das mãos ao
longo de suas coxas duras.
— O que seria perfeito, já que eu penso melhor enquanto
dirijo e tenho decisões a tomar sobre minha carreira. Além
disso, minha PA virtual precisa de algumas semanas de folga, e
os preparativos de viagem não são exatamente meus fortes,
então…
Ok, isso fazia sentido. Mais ou menos.
Depois de uma respiração firme, ela olhou para ele.
— Você quer que eu o acompanhe como sua assistente em
uma viagem pela costa? Quero dizer, fico feliz em ajudar com
os arranjos, mas você não prefere levar alguém...
— Não como minha assistente. — Seu olhar a prendeu no
lugar. — Não como minha companheira paga também. Eu
cobriria suas despesas de viagem, porque preciso de sua ajuda
organizacional, mas isso é tudo. Isso não teria nada a ver com
negócios.
Sua garganta se arrepiou novamente com a evidência de que
ele realmente valorizava sua companhia. Ele realmente queria
passar tempo com ela, com ou sem autorização de Ron.
Ainda assim, ela precisaria começar a trabalhar novamente
em breve. Uma vez que ela voltasse, eles poderiam passar
semanas sem se ver, ou meses, ou...
Ela engoliu em seco.
Suas vidas podem nunca se cruzar novamente.
Ela realmente queria um lembrete tão extenso e potente do
que ela logo sentiria tanta falta?
Ela olhou para seu colo.
— Não sei.
— Sobre o meu pagamento pela viagem? — A mão dele
cobriu a dela, e seus ossos ficaram líquidos. — Nós dois
sabemos que posso pagar.
Essa não era sua principal preocupação. Mas ainda...
— Por enquanto. Talvez não por muito tempo.
Ele não discutiu. Não, ele fez algo infinitamente pior.
— Eu preciso de você. — De repente, seus dedos estavam
entrelaçados em sua coxa, e sua voz era baixa e abafada e muito
perto de seu ouvido. — Carricinha, por favor.
Ambos sabiam que ele realmente não precisava dela. Mas ela
não podia mandá-lo embora, não quando ele falou com ela
com tanta súplica, tanta... intimidade.
Seus pensamentos dispersos zumbiam em sua cabeça,
confusos e contraditórios, e ela tentou reuni-los em uma fileira
ordenada.
Nessas circunstâncias, qual era a coisa certa a fazer?
Por causa de sua lealdade a ela, sua vida profissional havia
acabado de desmoronar ao seu redor. Ele precisa de um amigo,
e precisa de ajuda para planejar sua viagem. Passar esse tempo
com ele poderia machucá-la mais no final, mas se ele a queria ao
seu lado, ela precisava agir de uma forma melhor do que tinha
agido naquele hotel de convenções.
Ela lhe devia.
Mais do que isso, ela... se importava com ele. Muitíssimo.
Mesmo que ele fosse um grande pé no saco e um total pirralho
e o homem mais sexy e generoso que ela já conheceu.
Por ele, ela faria a coisa certa. O que, neste caso, não era uma
coisa sensata, mas tudo bem. Mais cedo naquela noite, ela
lembrou a si mesma que a dor era inevitável, não importa o que
ela fizesse. Ela sobreviveria.
Ele ergueu suas mãos unidas e descansou-as contra sua
bochecha eriçada, e pessoas em outros continentes devem ter
sido capazes de sentir o baque de seu pulso acelerado.
— Por favor — ele repetiu, e foi um sussurro cru, sua
respiração quente contra o pulso dela.
Ela respirou fundo, mas não havia ar suficiente.
— Você não vai pagar.
Não foi apenas um cessar-fogo. Foi uma rendição total.
Ambos sabiam disso.
— Eu vou. — Oh, droga, ele estava esfregando as mãos
contra sua mandíbula agora, e o comichão era delicioso. — Eu
defendi sua honra, Lauren. Você me deve, e uma mulher
honrada paga suas dívidas.
Quando ela arriscou um olhar indignado para cima, os olhos
dele estavam acesos. Dançando.
Ele estava brincando com ela. Ele realmente não achava que
ela devia a ele, mas ele estava mais do que disposto a tirar
vantagem de sua culpa, e caramba...
Droga. Estava funcionando.
— Para ser específico, você me deve duas semanas de bons
hotéis e dinheiro para gasolina e frutos do mar frescos e
ingressos para passeios e quaisquer lembranças que eu possa
escolher comprar ao longo do caminho. E você tem que
prometer não se desculpar por nenhuma dessas despesas. Tudo
será pago, para deixar as coisas absolutamente claras, por mim.
— Ele ergueu as sobrancelhas perfeitamente arqueadas, o
bastardo arrogante. — É o mínimo que você pode fazer, na
verdade.
— Duas semanas? — Ela deveria tirar a mão dele. Ela iria, a
qualquer momento... uma vez que ele parasse de brincar com
seus dedos. — O casamento é no próximo sábado, então como
assim–
— Podemos partir amanhã. Não é como se você tivesse um
guarda-roupa extenso para arrumar na mala. — Ele dirigiu um
olhar condenatório para o armário do quarto dela. — Uma
semana até as sequóias e o casamento, e uma semana de volta.
Duas semanas, Carricinha. Isso deve cobrir a sua dívida. Por
enquanto, pelo menos.
Ao longo de sua vida, ela teve poucos amigos do sexo
masculino. Ela não tinha percebido o quão afetuosos eles
podiam ser. Porque isso era definitivamente Alex pressionando
um beijo nas costas de sua mão, o roçar de seus lábios macios e
quentes uma sacudida de relâmpago por sua espinha, e ela não
conseguia pensar.
Talvez fosse assim que a amizade com um homem era sem
trabalho envolvido?
Através da confusão de seus pensamentos nublados, algo a
incomodava.
— Alex, eu… — Certo. Era isso. — Eu não posso sair até
quarta-feira, no mínimo. Quando eu disse a Sionna que não
estava mais trabalhando, ela tirou a terça-feira de folga para que
pudéssemos sair juntas.
Em teoria, ela poderia pedir a Sionna para reagendar, mas
não o faria.
Duas semanas dele pagando por tudo? Não. Não é aceitável.
Então ele estava soltando a mão dela, e ela queria chorar pela
perda de contato, só que...
Só que ele estava segurando seu rosto novamente, seus
polegares varrendo suas bochechas, e sua respiração parou. Ele
olhou para ela por um minuto, inexplicavelmente solene mais
uma vez.
Suas mãos deslizaram para baixo, até que ele estava
embalando a nuca dela com uma palma e acariciando suas
costas com a outra, e seu rosto de repente estava aninhado
contra seu peito.
— Você faz uma barganha difícil, sua megera intransigente.
— Ele falou contra a coroa de sua cabeça, seus lábios roçando
seu cabelo com cada palavra, até mesmo seu insulto ostensivo,
uma carícia. — Nós vamos sair na quarta-feira de manhã, então
esteja pronta. Embale seu lindo vestido de renda e seus saltos de
plataforma. Vamos dançar no casamento.
Ele cheirava a algodão ensolarado e noites estreladas na
encosta de uma montanha. Ar fresco e calor. De alguma forma,
seus braços encontraram seu caminho ao redor de sua cintura,
e ela o estava agarrando também.
Seus olhos se fecharam e sua garganta estava seca como o
Vale da Morte.
— Nós vamos?
Foi uma rouquidão. Um traço de som, e ela deixou sua boca
moldar as palavras contra o tecido macio sobre seu coração.
Ele estremeceu contra ela, suas mãos apertando
possessivamente.
Quando ele falou, seu tom não admitia discordância, e ela
não ofereceu nenhuma. Não poderia.
— Nós vamos — disse ele.

Alex saiu sem beijá-la na boca. Por muito pouco.


Ele queria. Ele estava prestes a beijá-la. E então ele olhou
para ela e finalmente reconheceu o quão cansada ela estava. De
olhos vermelhos, a pele fina e macia sob aqueles olhos
machucados de fadiga. Atipicamente emocional e chorosa, seu
corpo flexível e tremendo de exaustão contra o dele. Esforço em
seus movimentos, como se ainda estivesse rígida e dolorida da
viagem de avião.
Seu primeiro beijo merecia ser melhor, e ele se recusou a tirar
vantagem de suas defesas abaixadas. Se ela escolhesse beijá-lo,
ele queria que ela o fizesse com toda a sua força e inteligência
alerta intactas.
Ainda assim, ele tomou seu tempo antes de deixá-la ir, e ela
tinha que perceber como ele se sentia. O que ele queria. Ele não
tinha sido exatamente sutil sobre isso.
Ele não a pressionaria, mas também não disfarçaria seus
sentimentos. Não mais. E depois do jeito que ela se agarrou a
ele, ele esperava...
Seu telefone tocou do outro lado de sua mesa, e ele o pegou
ansiosamente.
Infelizmente, a mensagem não era de Lauren.
Em vez disso, seu agente enviou uma mensagem firme.
“Reserve um tempo para conversar na quinta-feira à tarde.
Precisamos estar na mesma página antes de sábado.”
A ex de Alex, Stacia, também era uma das clientes de Zach,
e o casamento provavelmente incluiria outros poderosos de
Hollywood como convidados. A vontade de conversar antes
era aceitável.
O tom não era.
Agora que Alex estava em desgraça, Zach aparentemente
acreditava que seu cliente não tinha voz sobre quando se
encontravam. Mas Zach, infelizmente para ele, estava
incorreto.
“Indo em uma viagem,” Alex escreveu de volta. “Nos vemos
sábado no casamento. Conversaremos lá, de manhã."
Então ele bloqueou temporariamente o número de Zach,
porque foda-se, parceiro. Alex tinha coisas melhores em que
pensar agora. Coisas muito, muito melhores.
Ou seja, seus planos para Lauren. Sua doce e obstinada
Carricinha.
A mulher que ele queria tornar sua, em algum lugar ao
longo da costa da Califórnia.
Quando criança, ele considerava julho o melhor mês do ano,
porque esse era o mês em que sua mãe geralmente tentava tirar
férias por uma semana. Ou melhor ainda, duas semanas. Assim
que ela obtivesse a aprovação, eles contavam o dinheiro
disponível, determinavam seu itinerário flexível e orçamento
restrito e partiriam em seu pequeno Chevette de duas portas,
aventurando-se para cima e para baixo na costa da Flórida.
Aqueles dias na estrada pareciam intermináveis.
Encharcado de sol e pegajoso. Literalmente pegajoso, já que o
ar-condicionado do carro dela não funcionava. Mesmo o vento
que soprava pelas janelas não conseguia cortar a umidade, e a
parte inferior de suas pernas grudava nos assentos de vinil
texturizado, deixando um padrão perfeito de seixos em sua pele
cada vez que paravam para abastecer ou comer um fast-food.
Todas as tardes, eles observavam os trovões chegarem e
encontravam um motel para passar a noite ou desviavam para
o acostamento por alguns minutos. Com as janelas abertas, o
vidro ficava embaçado e ele desenhava na condensação. Um
cachorro. Um cavaleiro. Estrelas. Juntos, eles esperavam e
conversavam e comiam Twizzlers ou Pringles até que as chuvas
torrenciais terminassem e ela pudesse continuar dirigindo mais
uma vez.
Aquelas semanas foram as melhores de sua infância, sem
exceção, e sua mãe trabalhou até o osso para dá-las a ele. Ele
queria dar a Lauren algo semelhante, se pudesse.
Não havia como ela acompanhá-lo para a Flórida tão cedo.
Mas, em vez disso, em uma viagem pela costa da Califórnia, ele
poderia ajudá-la a relaxar. Relaxar de verdade.
Sem trabalho, sem responsabilidades. Apenas explorar as
passagens e descanso e companheirismo. Proximidade e
privacidade constantes e camas enormes em quartos de hotel
frescos e escuros.
Ele não era mais uma criança. Sua mãe – por mais que ele a
adorasse – não estava por perto.
Este ia ser o melhor mês de julho de todos os tempos.
Mensagens com Marcus: Sábado à Noite

Marcus:
Desculpe, eu queria falar com você mais cedo
Eu estava ocupado com coisas normais de
convenções, mas também April e eu
resolvemos as coisas

Alex:
Parabéns, cara, estou feliz por vocês dois
Por favor, dê-lhe um abraço meu
O que não deve ser difícil, já que você sem
dúvida está se agarrando a ela como plástico
filme

Marcus:
Bem, você não está errado
Detestável, mas não errado
Você está bem? Depois de tudo o que
aconteceu ontem à noite?

Alex:
Ótimo!

Marco:

Alex:
Sem ação judicial + sem multas + sem coletiva
de imprensa = VIAGEM!!!
Com Lauren, óbvio

Marcus:
Óbvio
Espero que você tenha notado o sarcasmo ali,
porque era distinto

Alex:
Não, não vi nada além de sinceridade
De qualquer forma, na quarta-feira, estamos
indo para a costa para o casamento de Stacia
Eu pretendo conquistá-la ao longo do caminho
com meu jeito único e extremamente
charmoso

Marcus:
Então você finalmente percebeu que está a fim
dela?
Obrigado, porra
Eu pensei que nós dois estaríamos sentados em
nossas cadeiras de balanço em uma casa de
repouso antes que você percebesse

Alex:
Auto-reflexão não é meu forte, babaca
Além disso, por favor, note como eu não fiz
uma piada suja sobre a parte "a fim dela"
Isso é apenas parte da minha transformação
em um cavalheiro digno do carinho de Lauren
Marcus:
Ela parece gostar de você como você é
Se eu fosse você, eu continuaria um idiota

Alex:
Eu provavelmente deveria estar ofendido, mas
nós dois sabemos que é verdade
Me deseje sorte, cara

Marcus:
Boa sorte, dirija com segurança e deixe-me
saber como foi

Alex:
Vai ser ótimo
Como eu sempre digo, OLHOS AFIADOS,
ESPERTINHO, NÃO SE PODE PERDER

Marcus:
Você literalmente nunca disse isso antes

Alex:
Deixe-me reformular
OLHOS AFIADOS, ESPERTINHO, VAI SE FODER

Marcus:
Te amo, cara

Alex:
TUDO BEM, EU TAMBÉM TE AMO, VOCÊ ESTÁ
FELIZ AGORA
Marcus:
Sim, muito

Alex:
Bom, você merece
Ainda assim, vai se foder
20
— Sou excelente em ser companhia em viagens. — Alex
mirou um sorriso ofuscante para Lauren antes de voltar para o
tráfego. — Encantador. Inteligente. Uma verdadeira fonte de
sabedoria e conhecimento. Tão incrivelmente atraente que sou
essencialmente minha própria atração turística e vista
panorâmica. Quando estivermos entre as sequoias, você estará
se divertindo tanto que vai se perguntar como viajava sem mim.
Era pouco depois do meio-dia, e eles tinham acabado de
pegar a estrada. Por causa de... Alex.
Apesar de sua insistência em começar cedo naquela manhã
– “Você já me fez esperar até quarta-feira, Carricinha, que é
essencialmente no próximo ano” – ele os fez sentar para um dos
deliciosos e enormes cafés da manhã de Dina antes de partirem.
Porque, ele alegou, Lauren devia a ele o consumo de rabanadas
à base de croissant recheadas com uma mistura celestial de
cream cheese e morango, já que ele a defendeu.
Então ele confessou que ainda não tinha feito as malas e
insistiu em modelar possibilidades de roupas muito lisonjeiras
para ela e desfilar sem camisa enquanto se trocava, e...
Bem, eles começaram tarde. Mas, como ele apontou, isso era
para ser férias, e eles tinham muito tempo e nenhum lugar em
particular para estar antes de sábado.
Foi maravilhoso, francamente. Tudo.
Os planos de viagem. O tempo ininterrupto para falar. A
falta de lealdades divididas. O carro.
A falta de camisa.
— Eu vou me divertir muito? Isso é estranho. — Ela se
inclinou em direção a ele. — Acho que me lembro de um
adesivo de pára-choque novinho em folha no seu carro muito
caro dizendo – e cito – SEM DIVERSÃO. Em todas as
maiúsculas. Presumo que foi comprado para esta viagem?
A visão disso a fez parar de repente naquela manhã, quando
ela se aproximou do mini castelo. Alex tinha estacionado seu
carro bem na porta da frente, e ela não podia deixar de perceber
a adição decorativa. Não com suas letras vermelhas brilhantes
contra um fundo branco austero. E sim, o carro em si era do
mesmo tom de vermelho cereja, mas o sedã também era
elegante e imaculado e totalmente inadequado para adesivos de
pára-choques espertinhos.
Pensando bem, talvez a combinação de carro e adesivo fosse
perfeita para Alex. Linhas lisas e beleza levedada por uma
saudável dose de ridículo.
— O adesivo do pára-choque é uma homenagem — ele
declarou altivamente, sua atenção na estrada, seus olhos
escondidos por seus elegantes óculos de sol. — Um lembrete ao
nosso passado como Babá Clegg e seu trabalho irritadiço, mas
irresistível.
— Entendo — ela disse secamente. — Eu não sabia que era
um ato de comemoração histórica. Erro meu.
O sol brilhava no céu e o ar-condicionado do carro lutou
bravamente contra o calor de julho. As colinas ondulantes que
os cercavam estavam secas e douradas, com manchas verdes de
arbustos, e ela mal podia esperar para chegar ainda mais perto
da água e da brisa do oceano. Mas para ser perfeitamente
honesta, ela mal conseguiu olhar para fora da janela do
passageiro até agora. Porque Alex podia ser irritante, mas
também estava certo: era irresistível.
Ele tinha desfilado em inúmeras roupas para ela, todas
gloriosas nele. Mas em deferência à temperatura, ele escolheu
usar uma camiseta branca simples hoje. Ou pelo menos, teria
sido comum para quase qualquer outra pessoa. Nele, era um
enfeite artístico em uma sobremesa perfeitamente preparada.
Oh, céus, e era apertada. A camiseta se esticava contra seus
bíceps e se agarrava amorosamente a seus ombros largos, e sua
brancura imaculada fazia sua pele brilhar dourada ao sol.
O ajuste confortável de seu jeans desbotado exibiu os
músculos em movimento de suas coxas fortes enquanto ele
freava e acelerava repetidamente, o ritmo hipnotizante. E entre
aquelas coxas–
Não, ela não olharia para lá. De novo não.
Honestamente, sua preocupação atual com seu corpo
magro e forte era inteiramente culpa dele, e começou antes
mesmo do desfile de moda seminu. Assim que ele a viu de pé
em seu passeio circular naquela manhã, ele saiu saltando do
mini-castelo, seu rosto enrugado em um sorriso enorme e
radiante, e caminhou diretamente para ela.
Ele não parou a um ou dois passos de distância, ou acenou
de longe. Oh não.
Em vez disso, ele se aproximou e perfurou a generosa e
invisível bolha de espaço que normalmente a cercava e abriu
bem os braços, e o que mais ela poderia fazer então, sério? O
que mais ela poderia fazer além de caminhar para aqueles
braços, em seu abraço abrangente?
Ele se abaixou para descansar o rosto contra o cabelo dela, e
ele murmurou: Finalmente, sua megera exasperante,
finalmente, e ele a envolveu como...
Como o cobertor que ele deu a ela, talvez. Quente e luxuoso.
Mais bonito do que qualquer coisa que ela já esperou ter ou até
mesmo ousou querer.
Mas ela o queria. E ela o teve por intermináveis segundos
naquela garagem, talvez até um minuto ou dois, porque ele não
lhe deu um aperto rápido e a deixou ir. Não, ele segurou com
força, e ela também não se afastou.
Enquanto eles estavam abraçados, o calor da pele dele
encharcou sua roupa e esquentou contra as pontas dos dedos
em suas costas, seus braços ao redor de sua cintura, sua
bochecha em seu peito. Sua calça jeans esfregou contra o tecido
macio de sua legging, e a fricção ondulava através dela até que
ela inchou e doeu entre suas coxas. Apesar da barreira de seu
sutiã de algodão e camiseta, ela estava com muito medo que ele
pudesse sentir seus mamilos endurecerem contra seu estômago,
e se ela não soubesse melhor–
Bem, certamente ela estava enganada. Era o telefone ou a
carteira dele, não...
Com a lembrança daquela rigidez firme contra a parte
superior de sua barriga, ela pegou desesperadamente sua garrafa
de água e tomou um longo gole da garrafa de plástico suada por
conta de condensação.
Ela não olharia para o zíper dele novamente. Ela não iria
olhar.
Mesmo assim, quando eles finalmente se separaram em sua
garagem, ela poderia jurar que seu jeans se encaixava um
pouco... diferente... naquela região do que eles costumavam se
encaixar. E o beijo que ele pressionou em sua pele corada então
não pousou em sua têmpora ou testa.
Ele beijou sua bochecha, talvez a um milímetro do canto de
sua boca.
Amigos, ela disse a si mesma pela milésima vez naquela
manhã. Ele é meu amigo muito afetuoso e não entende o que está
fazendo comigo.
Quando ele falou novamente no casulo íntimo e silencioso
do carro, ela teve que erguer o olhar de – caramba – de onde
continuava à deriva, apesar de suas melhores intenções.
— Esse adesivo é essencialmente um monumento,
Carricinha. — Ele olhou para trás antes de mudar de faixa. —
Além disso, meu carro não é tão caro.
Ele estava sorrindo para a estrada à frente e o tráfego de pára-
choques que continha. Quando uma música que ele gostava
especialmente tocava nos alto-falantes discretamente
colocados, ele cantarolava junto, desafinado. Seus ombros
estavam soltos, seus movimentos fáceis e fluidos.
Apesar de todos os seus problemas profissionais, ela nunca
o tinha visto tão relaxado e inteiramente satisfeito consigo
mesmo e com o mundo.
Sua felicidade não dependia da presença dela, é claro, mas a
visão de sua alegria ainda acendeu uma faísca de prazer dentro
dela. Porque ele foi capaz de baixar a guarda na companhia dela.
Porque ele merecia cada pedacinho de seu aparente prazer.
Porque ele a queria ao lado dele neste carro, que era, não
importa o que ele alegasse, inconfundivelmente luxuoso.
— Sério? Não é tão caro? — Com as sobrancelhas erguidas,
ela traçou a ponta do dedo sobre a guarnição interna plissada
na porta do passageiro. — Porque não me lembro de tecido
dobrado para parecer origami dentro de veículos na minha
faixa de preço. Ou configurações de massagem para assentos de
couro macios como manteiga.
Ela não gostou do olhar especulativo que ele lançou em sua
direção.
— Nem pense nisso, Alex — ela disse severamente. — Se
você me comprar um maldito carro, eu o doarei imediatamente
para a caridade.
— Você faria isso. — Foi um resmungo. — Harpia.
Ela se aconchegou mais fundo em seu assento, satisfeita.
— Correto.
Ele soltou um suspiro magoado, apesar do sorriso ainda
vincar suas bochechas barbudas.
— Ok, então esse modelo não era barato, mas um monte de
meus colegas de elenco tem carros esportivos. Plural.
Um carro esportivo não poderia ser mais luxuoso do que
isso. Ela acariciou a madeira lustrosa e polida no painel,
traçando o padrão de espinha de peixe com a ponta dos dedos.
Eles estavam parados no trânsito no momento, e ele
apareceu estar olhando para o painel também, embora os
óculos escuros tornassem difícil dizer com certeza.
Seus dentes brancos afundaram em seu lábio inferior, e o
carro à frente deles acelerou.
Eles não aceleraram.
— Alex? — Mesmo quando ela apontou para a estrada
agora aberta, o SUV atrás deles buzinou. — Alex, precisamos
nos mover.
A próxima buzina foi muito mais longa e parte de um coro
crescente de descontentamento, e ele pulou um pouco antes de
olhar para frente novamente e pisar em seu próprio acelerador.
Ele limpou a garganta e prestou muita atenção à estrada.
— Desculpa. Perdi o foco por um minuto.
Ele cutucou a tela de controle para baixar a temperatura e
aumentar a velocidade do ventilador para seu lado do carro, a
cor forte iluminando suas maçãs do rosto.
Outra cutucada. Outra.
— Está calor para caralho aqui. Merda.
Talvez o sol fosse mais intenso do lado do motorista, porque
ela estava bem confortável.
Ela franziu a testa.
— Você precisa de mais água?
— Não. — Seu tom não convidava a mais discussão. — De
qualquer forma, minha mãe tem o mesmo modelo que o meu,
só que em uma cor diferente. Eu meio que gostei da ideia de
nós dirigirmos carros iguais.
Ele claramente comprou aquele carro para ela, e a doçura do
gesto perfurou o coração de Lauren.
Ele raramente mencionava sua mãe, embora Lauren
soubesse que os dois conversavam regularmente ao telefone.
Ela se perguntou sobre o relacionamento deles, mas agora ela
sabia: Alex amava sua mãe. Ele não era um homem para amar
sem entusiasmo, e seus carros combinando era mais uma prova.
— Ela mora na Califórnia? — Lauren perguntou.
Eles estavam se aproximando de Santa Mônica. Em breve,
eles se fundiriam no Pacific Coast Highway e dirigir ao longo
da água por quilômetros e quilômetros, subindo a costa
naquela famosa faixa de estrada entre o vasto e cintilante
oceano e as montanhas íngremes e escarpadas. Décadas haviam
se passado desde sua última longa viagem pela PCH, e ela mal
podia esperar.
Talvez a mãe dele morasse em algum lugar ao longo de sua
rota?
Ele balançou a cabeça, sua boca apertada.
— Flórida. Perto de onde cresci.
Que tipo de mulher havia criado o homem ao lado dela? E
por que Alex – que conversava abertamente sobre todos os
outros em sua vida – não falou mais sobre ela?
Lauren se virou para encará-lo mais diretamente,
reajustando o cinto de segurança para que não mordesse seu
pescoço.
— Vocês dois...
— Eu tenho um favor a pedir — ele interrompeu, as
palavras abruptas. — O que você acha de me filmar?
As imagens que apareceram em seu cérebro febril deveriam
tê-la constrangido. Mas ela estava muito ocupada se
perguntando por que ele havia cortado aquela linha de
conversa tão decisivamente, e também muito ocupada
derretendo em uma poça de luxúria por todo seu lindo assento
de couro, para sentir o nível apropriado de vergonha.
— O que, hum… — Outro longo gole de água não fria o
suficiente. — O que exatamente você quer que eu filme?
Provavelmente não o que ela tinha imaginado, infelizmente.
— Você não tem entrado muito na internet, certo? —
Quando ela balançou a cabeça, ele os guiou pela Califórnia
Incline, e então eles finalmente estavam no PCH. — Carah –
você se lembra dela? Do evento de caridade?
Aqui, próximo ao Pacífico, a temperatura não era
escaldante, mas agradavelmente quente. A água azul, o azul
estendendo-se até o infinito soltou algo com um longo nó
dentro dela, e a brisa do oceano acenou. Sem sequer se
preocupar em perguntar primeiro, ela desligou o ar
condicionado e abaixou a janela. Ele lhe atirou um sorriso
satisfeito, então baixou o dele também.
O vento chicoteando rugiu em seus ouvidos, e ela levantou
a voz para ser ouvida.
— Carah Brown. Muito gentil, muito engraçada, usa a
palavra foder mais do que qualquer outro humano vivo?
Ele bufou.
— Você se lembra de Carah. De qualquer forma, ela se filma
comendo comidas estranhas sugeridas pelos espectadores e
publica os clipes por toda a internet. Quando estávamos
mandando mensagens ontem, ela sugeriu fazer meus próprios
vídeos na viagem como uma forma de me conectar com meus
fãs fora de Gates, e achei que era uma ideia decente. Mas eu
preciso de uma fotógrafa.
— Eu — disse ela.
— Você — ele confirmou. — Supondo que você esteja
disposta.
Em teoria, ela estava, mas…
— Eu não sei filmar pessoas.
— Felizmente, eu sei muito sobre ser filmado. — Ele
colocou o cotovelo esquerdo no parapeito da janela, e o braço
de sua camiseta ondulou na corrente de ar. — Vai ficar tudo
bem, Carricinha. É apenas um experimento. Se não der certo,
não posto nada. Sem problemas.
Bem, ela o avisou.
— Ok. Eu vou fazer isso. Você quer que eu use seu telefone?
— Sim. — Inclinando-se para trás em seu assento, ele tirou
o celular do bolso da calça jeans e entregou a ela. — Por que não
fazemos um teste em Malibu?
O telefone dele tinha mais recursos do que o dela, e ela levou
alguns minutos para aprender as várias opções enquanto
passavam por Pacific Palisades. Quando eles se aproximaram de
Malibu e viraram para o interior, ela pensou que poderia pelo
menos gravar um vídeo simples. Provavelmente.
Ela se virou para ele o máximo que pôde e apoiou o cotovelo
no painel para firmar a mão da câmera.
— Pronto para o seu teste?
O trânsito ficou lento e ele aproveitou uma parada
temporária para se checar no espelho retrovisor. Como ela
poderia ter dito, ele não precisava de nenhum ajuste. Ele já era
o epítome do estrelato casual, beijado pelo sol, seu desleixo
apenas aumentando seu apelo.
— Tudo bem. — Ele soltou o freio por alguns metros, então
teve que parar novamente. — Vamos fazer isso, Carricinha.
Três, dois, um e... ação.
Ela tocou no círculo vermelho na tela e manteve a câmera
focada em seu perfil no banco do motorista.
— Oi, pessoal. Eu sou Alex Woodroe — ele deu um breve
sorriso na direção dela e piscou para o público — A amada e
extremamente atraente estrela de Gods of the Gates e vários
filmes, alguns mais de baixo orçamento do que outros. Estou
dirigindo pela Pacific Coast Highway em uma viagem de vários
dias e pensei que vocês gostariam de saber onde estou e aonde
estou indo.
Fazendo o seu melhor para manter o telefone parado, ela
assentiu encorajadoramente.
Ele acenou com a mão, indicando seus arredores.
— Agora, estamos em Malibu, onde os ricos e famosos de
LA vêm caçar o Pé Grande da Juventude.
Com isso, ela engasgou com o ar e tentou tossir-rir o mais
silenciosamente possível.
Ele franziu a testa.
— Você está bem?
Quando ela acenou para ele, ele acrescentou confiante:
— Como todos em Hollywood sabem, se você pegar o Pé
Grande da Juventude, ele lhe concederá uma década extra de
viabilidade de elenco em troca de sua liberdade. Por essa razão,
a caça ao Pé Grande é a principal indústria local em Malibu. A
cidade realmente deveria divulgar mais.
Se isso fosse um teste, ela poderia responder sem estragar
nada, certo?
Com a mão livre, ela tateou em busca de sua garrafa de água
e tomou mais um grande gole.
— Alex, você tem certeza absoluta de que esses são os tipos
de curiosidades de viagem que você deseja compartilhar?
— É a única explicação para Carah Brown, Carricinha. —
Quando o carro parou novamente, ele se virou para olhar
diretamente para a câmera. — Você sabia que Carah tem
noventa e três anos?
Quando Lauren ria alto, Alex também ria, e ela não
conseguia resistir a se envolver com o absurdo dele.
— Talvez ela tenha uma foto de capa da Vanity Fair que
está envelhecendo por ela?
— Sólida alusão literária. Boa. — Quando ele estendeu a
mão para um high five, ainda sorrindo, ela deu a ele. — De
qualquer forma, Carah é anciã, e o Pé Grande da Juventude
vive aqui. Isso é tudo o que você precisa saber sobre Malibu.
Ele ergueu um dedo, como se fosse um estudioso fazendo
um ponto final e crucial.
— Ah, e algumas pessoas em Malibu tentam manter suas
praias privadas e acessíveis apenas aos super-ricos, o que é uma
bobagem total. Mas suponho que eles precisem de privacidade
para a caça ao Pé Grande.
Oh, bolachas sagradas.
— Espero que você tenha gostado da sua visão cintilante de
mim e do delicioso trânsito congestionado de Malibu. — Ele
lançou outro sorriso de derreter os ossos na direção da câmera.
— Obrigado por assistir, e lembre-se de ir lá, se divertir, e não
deixe Carah Brown te enganar. Ela é bonita, mas também é
velha para caralho e má para caralho. Não digam que não avisei,
pessoal.
Ainda tremendo com o riso reprimido, ela bateu na tela para
parar de filmar.
— Como fomos? — Quando o tráfego começou a ficar mais
rápido, ele voltou toda a atenção para a estrada. — Não
importa, eu fui obviamente brilhante, então deixe-me
reformular: como você se saiu?
Quando ela reproduziu o vídeo, ele permaneceu em foco o
tempo todo, e tudo o que ele disse foi claramente audível.
Infelizmente, assim foi tudo o que ela disse, e seu público
teórico podia ver seu braço enquanto ele a cumprimentava.
Droga, se ela simplesmente ficasse fora da conversa e da
visão da câmera, eles poderiam ter usado aquele clipe, porque
ele era... ele mesmo. Inteiramente ele mesmo. Engraçado,
afiado, inteligente e ridículo. Irascível e irresistível, como ele
havia dito antes.
— Eu sinto muito. — Ela suspirou, colocando o telefone
dele no console central. — Se eu não tivesse me intrometido, o
vídeo teria sido perfeito para postar.
Ele levantou um ombro.
— Você tem alguma objeção em estar no vídeo?
Ela não disse nada embaraçoso, e não era como se ela tivesse
desfilado na frente da câmera. Então, depois de um momento
de consideração, ela deu de ombros também.
— Não. De verdade. Mas, como você me disse uma vez, é
você que o público quer ver e ouvir. Não uma mulher aleatória.
— Eu não me importo com eles, Carricinha. Eu quero olhar
para você. Eu quero ouvir você. — Antes que ela pudesse fazer
mais do que piscar para ele com prazer confuso, ele
acrescentou: — Mas você tem certeza que não se importará
com a visibilidade pública? Eu não prevejo um grande público,
mas o que eu disse na convenção ainda é importante em alguns
círculos. Existe a possibilidade de os clipes terem alguma
notoriedade.
— Se sim, ficarei offline por alguns dias novamente. —
Cuidadosamente, ela alisou um dedo sobre as dobras dobradas
dentro da porta e evitou olhar para ele. — Você realmente me
quer no vídeo?
— Vídeos. Plural. Se você estiver disposta. — Ele estendeu a
mão e hesitou. — Posso tocar em você?
Quando ela assentiu, ele colocou a mão em seu joelho, e ela
respirou trêmula.
— É mais divertido com você participando. Por favor,
Carricinha.
Sua perna estava pegando fogo. O polegar de Alex roçou
para frente e para trás sobre sua patela, e o tecido fino e elástico
de sua legging oferecia nenhuma proteção contra seu calor,
contra a corrente elétrica gerada pelo toque dele.
Ela tomou mais um gole desesperado de sua água antes que
ela pudesse falar.
— Ok. Contanto que eu possa ficar atrás da câmera, tudo
bem. Eu vou fazer isso.
Ele gentilmente apertou o joelho dela, e ela engoliu um
suspiro. Ela queria a mão dele, aqueles dedos ágeis, mais alto. Se
ele a segurasse entre as pernas e a apertasse assim...
— Bom. — Sua palma deslizou lentamente pela coxa dela
antes de retornar ao volante. — Prepare-se, então. Ainda hoje,
pretendo contar às pessoas sobre os recentes avistamentos de
zumbis ao longo da costa.
Ela quase engasgou com outro gole de água.
— Zumbis, Alex? Sério?
Com certeza um sorriso tão perverso era uma violação à lei
estadual, certo?
— Sério — disse ele, e acelerou para a estrada ensolarada à
frente.

A luz ouro-rosa repousava quente em seu rosto sorridente


enquanto Alex encerrava seu quarto e último segmento do dia.
— De qualquer forma, se você for para Morro Bay, há duas
coisas principais que você precisa lembrar. Primeiro, há uma
rocha em forma de – uh, peito. Segunda coisa, proteja seus
cérebros a todo custo. Isso é basicamente tudo o que você
precisa saber.
Embora este definitivamente não fosse um reality show de
viagem de verdade, ela não podia deixar um descuido tão
grande passar.
— Além disso, Hearst Castle não fica muito longe, e ouvi
dizer que vale a pena uma visita.
— Você nunca foi lá? — Ele franziu a testa para ela
brevemente antes de voltar para a estrada. — Talvez
devêssemos ter um castelo de fora em nosso caminho de volta
pela costa. Mano a mano. Ou melhor, castelo a castelo. O meu
contra o de Hearst. Quem você acha que venceria, Carricinha?
Ela não hesitou.
— Hearst.
Ele engasgou alto, indignado.
— Como você ousa?
— Eu sou uma filisteia, claramente. — A luz estava indo
rápido, e ela queria tirar algumas fotos do pôr do sol com sua
própria câmera antes do anoitecer. — Diga xis, Alex.
— Xis, Alex — ele repetiu em uma voz cantante.
Ela balançou a cabeça.
— Espertinho.
Quando ele sorriu alegremente para ela, ela bateu na tela
para parar de filmar. Apenas para notar, quando ela se recostou
em seu assento, um mar de luzes vermelhas de freio de duas
pistas talvez trinta segundos à frente deles, sem absolutamente
nenhum carro vindo em direção a eles. Não é um bom sinal.
Alex diminuiu a velocidade em preparação para o backup.
— O que está acontecendo?
— Isso é fumaça? — Ela apertou os olhos na escuridão
crescente, e sim. Isso era definitivamente fumaça à distância.
Não uma quantidade enorme, mas o suficiente para lançar uma
névoa crescente. — Deixe eu ver se consigo descobrir o que está
acontecendo.
O GPS, agora que ela estava prestando atenção, indicava o
trânsito parado, mas não apontava o motivo. Felizmente, o
número de informações da autoestrada provou ser mais útil.
Depois de ouvir a mensagem, ela encerrou a ligação e
transmitiu as más notícias.
— Evidentemente, há um incêndio na beira da estrada à
frente, então estamos sendo desviados. Não há estimativa de
quanto tempo a estrada ficará fechada.
Ele gemeu.
— Merda. Isso pode demorar uma eternidade.
O sol havia afundado no horizonte oceânico, e ele jogou os
óculos de sol no console central, com a testa franzida.
— Agora que vamos fazer um desvio, o que você quer fazer?
— ela perguntou.
Em sua mente, havia apenas uma boa escolha, mas ele
poderia não concordar.
Seus dedos tamborilaram contra o volante quando ele freou
até parar.
— O desvio será mais lento, obviamente. E como iremos
para o interior, teremos que passar pelas montanhas, o que
significa dirigir em estradas sinuosas que não são bem
iluminadas à noite. Tínhamos a intenção de ir mais longe,
mas...
— Vamos parar por hoje e esperar até que as estradas estejam
livres — ela terminou para ele, aliviada por eles estarem de
acordo.
Por insistência dele, eles não haviam feito reservas para
hotéis ou locais turísticos específicos – ele queria manter a
agenda deles relaxada e espontânea – então não tinham nada a
cancelar. Parar cedo fazia todo o sentido.
Ele assentiu decididamente.
— Nós temos um plano.
Duas horas extremamente lentas depois, depois que Alex fez
uma serenata para ela com vários sucessos desafinados dos anos
90 e ela contemplou ativamente os méritos de pegar carona, eles
chegaram ao seu primeiro hotel de aparência decente. Apenas
para descobrir que não podiam reservar um quarto, apesar do
desdobramento de seu sorriso mais encantador.
— Sinto muito, mas estamos completamente cheios, assim
como todos os outros hotéis próximos. Acabei de verificar para
outro casal há alguns minutos. — A funcionária da recepção
estremeceu em desculpas. — Com a PCH fechada, as pessoas
queriam parar para passar a noite. E está tendo um evento no
Hearst Castle, então a maioria dos lugares entre aqui e San
Simeon provavelmente também estão reservados.
Merda. Eles precisavam de um lugar para descansar.
Olheiras apareceram sob os olhos de Alex, e ambos não
sobreviveriam a mais duas horas de seus estilos vocais únicos.
Quem morreria, ela não sabia dizer. Mas definitivamente
um deles.
— Você tem alguma sugestão? — Alex apoiou os cotovelos
no balcão e esfregou o rosto com as duas mãos. — Algum lugar
a uma curta distância de carro que possa ter vagas?
— Talvez dar uma olhada em Cambria? Tem algumas
hospedagens domiciliares e alguns motéis. Nada extravagante,
mas... — A funcionária ergueu um ombro. — Eu gostaria de
ter notícias melhores para você, sr. Woodroe.
Então a jovem reconheceu Alex. Lauren tinha se perguntado
sobre isso.
Ao som de seu nome, ele se endireitou e fez um esforço
óbvio para se animar.
— Obrigado por sua ajuda... — Depois de olhar para o
crachá dela, ele sorriu. — Carmem.
Com paciência louvável, ele posou para uma selfie e
autografou um dos blocos de notas do hotel, e então eles
voltaram para seu carro e seguiram por estradas escuras e
sinuosas em direção a Cambria.
Sem vagas. Sem vagas. Sem vagas.
Mas então–
— Ali. — Ela apontou para a direita. — Parece uma
hospedagem domiciliar. Quer que eu entre e verifique se eles
têm quartos disponíveis?
— Você nunca assistiu Psicose, mulher? — Ele entrou no
pequeno estacionamento. — Claro que não vou mandar você
ir sozinha. Jesus Cristo.
Todas as vagas estavam ocupadas, então ele simplesmente
estacionou em uma faixa de cascalho.
A área da recepção era pequena e um pouco antiga, mas
parecia limpa. O jovem atrás do balcão franziu a testa com a
chegada deles, e ela sabia o que ele ia dizer antes mesmo de sua
boca se abrir.
— Eu sinto muito. Estamos cheios. E pelo que os clientes
estão me dizendo, todos os outros alojamentos da região
também. — Ele lhes lançou um olhar de desculpas
aparentemente sincero. — Em qualquer outra noite, teríamos
muito espaço, mas...
Ao pôr do sol, a temperatura caiu significativamente e a área
da recepção não estava particularmente bem aquecida.
Quando Lauren estremeceu de frio, Alex a guiou contra seu
lado com uma mão quente entre suas escápulas, pressionando-
a contra seu corpo duro, e ela estremeceu novamente por uma
razão completamente diferente.
Uma nota de cem dólares apareceu de repente entre seus
dedos.
— Você tem certeza absoluta de que não tem nada
disponível? Precisamos de dois quartos. Grande, pequeno,
tanto faz. Pegaremos qualquer coisa que você tenha.
Lauren se afastou um pouco para olhar para ele, porque,
sério? As pessoas realmente faziam isso na vida real? E quem
diabos carregava notas de cem dólares e as produzia com tanta
facilidade?
Alexander Woodroe, aparentemente.
Os olhos do jovem pousaram na nota e ele lambeu os lábios.
— Na verdade…
— Sim? — O sorriso de Alex se tornou presunçoso, quando
ele sentiu a vitória iminente do suborno.
— Na verdade, temos um quarto livre — disse o
funcionário, e ela podia sentir o peito de Alex estufar em
triunfo. — Mas não deixamos as pessoas ficarem lá porque o ar-
condicionado não desliga e está congelando. Vamos consertar
amanhã. Isso não ajuda você esta noite, no entanto.
Um movimento da mão de Alex descartou essa
preocupação.
— Vamos pegar alguns cobertores extras para as camas. Sem
problemas.
— Uh... — O jovem visivelmente engoliu em seco e lançou
um olhar ansioso para o dinheiro de Alex. — Não são camas.
Cama. De casal.
Seu queixo caiu no peito com a perspectiva de mais direção
e mais canções de alto volume para Def Leppard. Ela se
permitiu um suspiro, então deslizou debaixo do braço de Alex
e se preparou para acalmar sua própria decepção e frustração.
Apenas para encontrar, em vez de uma carranca ou
resignação cansada, uma expressão de prazer crescente.
— Deixe-me ver se entendi. — Ele apoiou as mãos no balcão
e se inclinou para mais perto do balconista. — Só tem... uma
cama?
O jovem piscou para ele.
— Sim, senhor.
Quando Alex ergueu os punhos em triunfo, socando o ar,
Lauren e o balconista pularam.
— Este é o melhor dia da porra da minha vida! — ele gritou.
— Só! Uma! Cama! Meu segundo enredo favorito!
Ele se virou para sorrir para ela.
— Lauren! Você ouviu?
Oh, ela tinha ouvido, definitivamente. Sua mãe na Flórida
provavelmente também.
— O que você diz? Nós podemos dividir? — Ele cruzou as
mãos sob o queixo como um colegial inocente, o que ele
definitivamente não era. — Eu prometo ser bom.
Ele... queria dividir a cama com ela? Sério?
Baixando o olhar para o piso de madeira arranhado, ela
tentou pensar além de seu zumbido instintivo de excitação e
prazer, o raio de sensação entre suas pernas quando imaginou
os dois juntos na cama. Entrelaçados. Nus. Seu peso sobre ela,
suas mãos fortes e capazes abrindo-a amplamente e...
Não. Não, ela não deveria sexualizar isso. Isso não era justo
com ele ou com sua amizade.
Mas se ela compartilhasse um quarto e uma cama com ele, a
memória a assombraria quando a viagem terminasse. Ela
sonharia com isso. Lamentar o que foi e nunca mais será. A
resposta mais sábia, então, dado os seus sentimentos crescentes
e mal concebidos por ele, era um firme não.
A resposta certa... era mais difícil de definir.
Seu polegar em seu queixo gentilmente guiou seu olhar para
o dele.
— Olha, Carricinha, está tudo bem. Se não se sentir
confortável, não dividimos o quarto. Sem problemas. Eu falo
sério.
Seus olhos cinzas eram quentes. Sinceros.
Ele estava falando sério, ela sabia. Ele não levaria a mal uma
recusa dela, não importa o quão desapontado ele pudesse estar.
Mas se ela concordasse, sem dúvida o faria muito feliz. O
que, por sua vez, a deixaria feliz, pelo menos no momento, e
também permitiria que ela evitasse uma repetição do incidente
anterior, extremamente infeliz, Derrame um pouco de açúcar
em mim.4
Ela estava cansada. Ela estava rígida de um longo dia no
carro. E caramba, ela queria saber como era dividir a cama com
ele. Só uma vez.

4
É uma referência a música dos anos 80, “Pour Some Sugar On Me” de Deff
Leppard, que tem a ver com gratificação sexual, sendo a forma como a música
surgiu.
Ela soltou um suspiro lento, então se virou para o
funcionário que a esperava.
— Vamos lá — disse ela, e pulou novamente no grito de
alegria de Alex.
Talvez não fosse a resposta mais sábia, mas era a resposta
dela. A resposta certa.
Pelo menos, para esta noite.
21
Alex exalou enquanto andava de um lado para o outro, e
ele realmente podia ver a lufada de ar. Mesmo sendo julho.
Na Califórnia.
Bem, ele não poderia dizer que o garoto na recepção os
enganou. O pequeno quarto continha apenas uma cama de
tamanho normal e nenhum sofá. O ar condicionado
funcionava a todo vapor, não importando qual configuração
ele escolhesse. E como o funcionário os informou enquanto
pressionava a chave na mão de Carricinha, as janelas estavam
realmente fechadas.
O quarto parecia o menor rinque de hóquei do mundo. Em
circunstâncias normais, ele estaria reclamando sem parar. Mas
como eles só estavam lá por causa dele…
Bem, ele só reclamava ocasionalmente.
Atrás da frágil porta do banheiro do quarto, Carricinha
estava tomando banho. Esperançosamente sob a água mais
quente que ela pudesse suportar, porque aqueles lençóis iam
parecer gelo.
Os lençóis sob o qual eles estariam. Juntos.
Merda, ele não podia continuar olhando para a porta. Era
assustador. E se ele continuasse imaginando riachos de água
fumegante correndo por seu corpo nu, úmido e exuberante,
nenhuma quantidade de frio glacial poderia impedir que seu
próprio corpo respondesse visivelmente, e ele não queria
assustá-la quando ela saísse do banheiro.
Ela confiou nele o suficiente para compartilhar uma cama.
Ele não violaria essa confiança.
Afastando-se resolutamente da porta do banheiro, Alex
pegou seu telefone e se ocupou em carregar os vídeos do dia em
várias plataformas, marcando Carah sempre que possível.
O som da água corrente parou e ele mordeu o lábio.
A pilha alta de cobertores extras que eles levaram para o
quarto e espalharam sobre a cama poderia mantê-la aquecida.
Mas se os cobertores não bastassem…
Não, ele não pensaria nisso. Ele não podia. Não agora que
ela estava saindo do banho, sua pele macia úmida e corada pelo
calor, quase como se tivessem acabado de...
Não. Não. Não.
Quando ela saiu do banheiro em uma nuvem de vapor,
arrastando sua mala atrás de si, ela estava vestindo uma de suas
camisolas de grandes dimensões e um novo par de leggings.
Nada que ele não tivesse visto antes, mas ele suspeitava que ela
não estava usando sutiã desta vez. Talvez não estivesse usando
calcinha também, e esse era um pensamento que ele faria o seu
melhor para esquecer.
— Ahhhhhh. — Quando os olhos dela voaram para os dele,
ele sorriu para ela. — Minha companheira de cama retornou.
As pontas de seu cabelo ficaram molhadas. Fios aleatórios
estavam grudados em suas bochechas rosadas e pescoço e, em
instantes, esses pedaços seriam como pingentes de gelo contra
sua pele. Assim como o ar. Assim como o piso de madeira.
Com certeza, assim que ela registrou a temperatura
absurdamente baixa no cômodo principal, seu rosto
imediatamente se contraiu em uma careta de dor, e ela deu uma
espécie de guincho ofegante.
— Puta merda — ela respirou, imediatamente começando a
tremer.
Ele não iria verificar o que o frio tinha feito com seus
mamilos. Ele não iria.
Ela não estava usando meias ou chinelos, e ela meio que
saltou na ponta dos pés para a cama, tentando fazer o menor
contato com o chão o máximo possível antes de arrancar
apressadamente a montanha de cobertores, mergulhar dentro e
puxar tudo de novo.
Coberta até abaixo de seus globos oculares, ela olhou para
ele de seu ninho, suas sobrancelhas franzidas em indignação
fria.
Ela era adorável para caralho, e ele não pôde deixar de rir.
— Arrume isso, Woodroe — ela estalou debaixo de um
bilhão de cobertores.
Ele ergueu as mãos, palmas para fora.
— Ei, calma. Apenas dei boas-vindas ao seu retorno ao retiro
de Elsa na Califórnia. Caso contrário, eu não disse uma palavra.
— Tanto faz. — Sua voz abafada estava mal-humorada
como o inferno, e isso era ainda mais adorável. — Em minha
defesa, eu não sabia que deveria trazer um pijama adequado
para companhia. Ou condições árticas. Acho que usaram um
Zamboni nessas folhas. Caralho.
Droga. Ela parecia genuinamente desconfortável.
— Você quer que a gente faça o check-out e vá para outro
lugar? — Ele queria ficar, queria compartilhar uma cama com
ela, mas suas necessidades não eram tão importantes quanto as
dela. Nem de longe. — Se formos longe o suficiente, tenho
certeza de que podemos encontrar um lugar com vagas. Um
que não está executando um experimento de criogenia ao lado.
Ela descobriu sua boca, e ele podia realmente ver seus dentes
batendo.
— Não. Quero que você pare de falar, tome um banho
desconfortavelmente escaldante e sirva como minha bolsa de
água quente pessoal sob essas cobertas. Se apresse.
Eles iriam se abraçar para se aquecer?
Puta merda. Todas as suas fanfics e sonhos da vida real se
tornaram realidade. Este era realmente o melhor dia de todos.
Além disso, ela estava sendo inegavelmente – embora
compreensivelmente – megera e exigente, o que era mais um
sonho realizado. Afinal, se ela não confiasse nele, ela não iria
reclamar com ele. Foi uma honra, realmente, e um prazer
genuíno vê-la inteiramente livre de modos.
— Grande Energia de Harpia — ele disse com admiração.
— Grande. Enorme.
Ela olhou desconfiada para ele.
— Essa é outra referência a Uma Linda Mulher?
Foi totalmente.
— Não posso confirmar nem negar essa acusação.
— Ah, pelo amor de... — Ela fechou aqueles lindos olhos
por um momento. — Apenas cale a boca e fique quente para
mim. Por favor.
Ele sorriu para ela provocativamente.
— Você sabe o que eu quis dizer — ela murmurou. — Vai
logo, Woodroe.
Ele se curvou.
— Seu desejo é meu desejo, etc, etc.
Rolando a mala atrás de si, ele se dirigiu ao banheiro, fechou
a porta e se preparou para fornecer tanto calor corporal quanto
humanamente possível. A água em seu chuveiro: quase
fervendo. Sua imaginação: fervorosa. Seu pau: em seu punho,
porque se eles estivessem abraçados, ele ia ficar duro a menos
que ele tivesse literalmente tido um orgasmo antes.
Levou apenas alguns golpes. Ele estava preparado por dias e
dias, e a visão dela em uma cama, olhando para ele e
possivelmente sem calcinha, o levou ao seu ponto de ruptura.
Ela seria tão suave sob ele, ao redor dele. Molhada e carente.
E se ela o montasse, seu peso o manteria firmemente no lugar,
não importa o quão desesperadamente ele implorasse e se
esforçasse para...
Cabeça jogada para trás, joelhos fracos, ele engoliu seu
gemido e bateu a mão contra a parede do chuveiro para se
preparar enquanto gozava.
— Você está bem? — ele a ouviu chamar pela porta. —
Alex?
Às vezes, havia algo tão inocente, na verdade.
Ele limpou a garganta antes de responder.
— Tudo bem. Apenas perdi meu equilíbrio por um
momento.
Se esfregar em todos os lugares levou apenas alguns minutos,
apesar de seu tremor pós-orgasmo. Ainda assim, ele estava
quase suando com o calor da água quando se enxaguou.
Quando saiu do banho e pegou uma toalha, o espelho embaçou
e ficou assim.
Sua mala continha muito poucas opções de roupas
aceitáveis para esta ocasião importante. Ele não tinha embalado
pijama, porque ele não usava pijama. Uma camiseta e cueca
boxer teriam que servir, porque ele não iria usar jeans para
dormir. Não a menos que ela insistisse.
A roupa grudava em sua pele úmida, e ele preferia estar nu,
mas que assim fosse. O conforto de Carricinha valia seu
desconforto.
Depois de escovar os dentes, ele saiu do banheiro. Pelo que
ele podia dizer, ela não havia mudado de posição, e seu tremor
sacudiu a montanha de cobertores.
— Boas notícias — disse ela através de todos os cobertores.
— Não preciso mais visitar aquele hotel de gelo na Suécia.
Apenas acenda uma maldita lâmpada no teto e chame-a de
aurora boreal, e pronto: objetivo de vida alcançado.
— Ver as luzes do norte da Califórnia é realmente uma
experiência a ser apreciada. Parabéns. — Porra, o quarto estava
gelado. — Pronta para companhia?
Ela jogou os cobertores para trás e acenou para ele com
impaciência. Essa foi a resposta suficiente.
Dentro de três passos rápidos, ele estava na cama. Ficar
debaixo das cobertas só tomou fôlego, e então lá estava ela,
tremendo de frio, deitada a apenas um centímetro de distância.
Se ela quisesse uma bolsa de água quente pessoal, ele seria
uma. Com prazer.
Quando ele abriu os braços, ela imediatamente subiu neles.
Aproximando-a, ele enfiou a cabeça dela sob o queixo e a
cercou com seu corpo o melhor que pôde, e merda, ela era
macia, abundante e fria.
— Coloque seus pés contra minhas pernas — ele disse a ela,
então conteve um suspiro de dor quando ela obedeceu. —
Mãos na barriga ou debaixo dos braços.
Aparentemente, ela agora tinha icebergs nas extremidades.
Jesus.
Lentamente, as mãos dela se arrastaram de suas costas
cobertas de algodão em direção ao abdômen, e ele levantou a
borda de sua camiseta para ela.
— Pele com pele, Carricinha. Caso contrário, isso não
funcionará.
Ele sufocou outro suspiro ao sentir as mãos dela em sua
carne nua. Como dez pontos de frio ártico contra seu estômago
arrepiado poderiam excitá-lo tanto meros minutos depois de
seu último orgasmo, ele não sabia. Mas eles o excitaram. Ela o
excitou.
Ele moveu seus quadris, apenas no caso, e ela se aconchegou
mais perto.
— Ah, uau. Você é tão quente. — Toda a sua irritação tinha
desaparecido, e agora ela parecia... sonhadora. — Tão duro.
Droga. Ele estava quase inteiramente certo de que havia se
afastado o suficiente, mas talvez ela tivesse algum tipo de
habilidade de detecção de ereção sobrenatural?
Ela ficou rígida em seus braços, e seu rosto contra seu
pescoço ficou visivelmente quente.
— Quero dizer, musculoso. Forte. Não duro.
Ele engoliu um milhão de respostas inapropriadas, porque
ele não iria assustá-la. Nem mesmo por causa de uma boa piada
suja.
Hora de mudar de assunto.
— Então... — Deus, o que diabos ele deveria dizer agora? —
O que você acha sobre os problemas de consentimento
inerentes às histórias de pólen sexual?
Ao som de suas próprias palavras e o silêncio absoluto que
as seguiu, ele sufocou um gemido. Jesus Cristo. Por que ele não
poderia ter inventado outra coisa – qualquer coisa? Abraçá-la
poderia ser como inalar pólen sexual com cada respiração difícil
e cheia de luxúria, mas ele não precisava falar sobre isso.
— Pólen sexual… — as palavras foram sopros de ar quente e
úmido contra sua pele, e ele estremeceu. Não de frio. — Eu
sequer quero saber?
Ele não pôde deixar de rir.
— Provavelmente não. Mas eu vou te enviar links para
minhas fics favoritas de pólen sexual de qualquer maneira. Eu
tenho alguns salvos.
— Oh. — Seus dedos se curvaram contra sua barriga. — Eu,
uh, posso não precisar que você me envie os links, então.
Quando ele tentou se afastar o suficiente para ver sua
expressão, ela se agarrou a ele como uma lapa.
— Lauren Chandra Clegg, você esteve olhando minhas fics
salvas?
Seu corpo inteiro parecia irradiar calor fresco, e ela não
precisava responder em voz alta.
— Você olha… — ele exclamou. — Você leu sobre pegging
e consentimentos e–
Como ela tinha feito uma vez antes, ela colocou a mão sobre
a boca dele, e ela realmente deveria ter se lembrado do que
aconteceu da última vez. Desta vez, ele lambeu sua palma mais
lentamente, girando sua língua ao longo do caminho. Uma
sedução, não o truque de um amigo travesso.
Ela não moveu a mão.
Seus cílios tremularam contra seu pescoço, e suas coxas se
moveram. Separadas, mesmo que apenas dois centímetros.
Ela se esticou um pouco. Acomodou-se mais apertada
contra ele com um zumbido baixo. Seus mamilos de repente
ficaram evidentes contra seu peito.
Bem, então.
Ele torceu o pescoço, raspando a barba contra os dedos dela,
batendo na mão dela como um gato precisando ser acariciado.
Em um movimento hesitante, ela acariciou sua mandíbula. Sua
bochecha. Alisou o polegar sobre as sobrancelhas dele.
Sua respiração ficou mais rápida. A dele também.
Nenhuma parte dela estava mais fria, e ela sabia que ele
estava pegando fogo, caralho.
Quando ela lentamente traçou seus lábios com o dedo
indicador, ele abriu sua boca e o levou para dentro. Sugando.
Segurou a ponta de seu dedo cuidadosamente entre os dentes.
Ela–
Merda. Ela gemeu.
Ele tremeu. Então cutucou seu joelho levemente, tão
levemente, contra a costura de suas pernas. Era o equivalente
aos seus braços abertos, mas na parte inferior do seu corpo. Não
uma exigência, mas um convite.
Então, ela estava montada em sua coxa, seus dedos cavando
deliciosamente em suas costas, o calor de seu sexo queimando
através de sua calça fina, e o som que ela fez quando se apertou
contra ele, se contorcendo, o deixou em chamas. Ele deslizou as
mãos pelas costas dela lentamente, esperando que ela
protestasse. Esperando que ela o detivesse.
Ela não o fez, então ele segurou sua bunda generosa e
incrivelmente macia em suas mãos e a engatou mais apertado
em sua perna. Mais forte contra os músculos ali, para lhe dar
pressão onde ela precisava. Ela inalou bruscamente e arqueou
as costas em resposta, e sim, sim, ele queria que ela se esfregasse
contra ele. Ele queria que ela o usasse para seu prazer.
Era tudo calor e alegria delirantes, toda fricção e respiração
ofegante.
Até que ele se inclinou de uma maneira que não pretendia,
tentando chegar mais perto, o mais perto que pudesse, e seu
pau duro – ele tinha trinta e nove anos de idade, então que
porra é essa? Por que seu período refratário normal falhou com
ele agora? – foi pressionado contra sua barriga.
Ela engasgou novamente, e seus quadris pararam. Assim
como suas mãos.
Desembaraçar-se dela era como cortar um membro, mas ele
fez isso de qualquer maneira. Ele jurou se comportar, jurou não
assustá-la, e como o idiota que ele era, ele quebrou suas
promessas.
— Eu sinto muito. — As palavras eram muito altas, muito
abruptas, mas ele não conseguia controlar sua respiração ou sua
voz ou qualquer coisa agora. — Desculpe, Lauren.
Sua lâmpada de cabeceira ainda estava acesa, e ele podia ver
claramente seus lindos olhos. Seu rosto amado e fascinante. Sua
expressão, torcida com–
Isso era dor?
— Por que você está arrependido, Alex? — Seu queixo
tremeu, e ela apertou a mandíbula macia. — Você sente muito
porque sou eu nesta cama com você, e não outra pessoa?
Sua boca literalmente caiu aberta.
— O que... — Ele balançou a cabeça contra o travesseiro
muito duro, confuso e incrédulo. — Que diabos isso significa?
Seu queixo trêmulo se inclinou para cima, e ela piscou com
força.
— Aqui estamos, vivendo suas fics favoritas. Uma cama.
Abraçando para nos aquecer. E talvez você tenha se empolgado
e esquecido exatamente quem estava ao seu...
Ele riu. Ele riu alto e incontrolavelmente e, quando se
acalmou, Lauren estava aconchegada o mais longe possível dele
na cama. O que não era longe, porque ela não era uma mulher
pequena, e a cama não era particularmente grande.
— Eu preciso contar a Marcus sobre isso — disse ele, apenas
para perceber que ele piorou as coisas, porque seu rosto já
dolorido desabou sobre si mesmo em absoluta humilhação e
horror. — Não, Carricinha, não. O que quer que você esteja
pensando, não é isso.
Ok. Ele ia fazer isso.
Não há mais hesitação. Chega de pesar palavras e
consequências. Ele deveria ser mais inteligente. Ele não foi feito
para contenção.
Ele foi feito para amar. Em voz alta e para sempre.
— Eu preciso dizer a Marcus, porque, esta semana, ele me
chamou de idiota inconsciente por não perceber que eu estava
a fim de você muito antes. Semanas atrás. Merda, meses atrás.
— Quando ela engasgou, sua boca aberta em choque aparente,
ele revirou os olhos, porque, sério? Ela realmente não tinha
percebido? — E você está se perguntando se eu, de alguma
forma, não percebi que você era a mulher na minha cama, que
você era a mulher que se esfregava contra a minha maldita
coxa...
Ele balançou a cabeça, divertido e frustrado e excitado como
o inferno.
— Eu preciso dizer a ele que você é tão idiota quanto eu.
Talvez mais.
As palavras dela foram tão baixas, que ele mal podia ouvi-las
sobre o ar condicionado incessantemente barulhento.
— Você está... a fim de mim? Você... tem certeza?
O horror contorcendo suas feições havia desaparecido,
substituído por cautela. Vigilância, mesmo enquanto a
esperança tremia nos cantos daquela boca tentadora.
Agravação evidente em cada palavra, ele expôs a evidência.
— Lauren, eu beijei sua testa. Eu beijei sua bochecha. Eu
abracei você por quantidades absurdamente absurdas de
tempo. Eu acariciei sua coxa. Eu implorei para você fazer uma
viagem comigo e dividir uma cama comigo. Eu me masturbei
no chuveiro há dez minutos atrás pensando em você em cima
de mim, me segurando e gozando no meu pau. E, apesar disso,
eu acidentalmente esfaqueei seu estômago com meu pau
estúpido momentos atrás, depois de usar seu nome completo.
Como diabos o meu desejo por você – especificamente você –
está mesmo em questão?
Seus olhos estavam arregalados. Atordoado.
— Eu não sabia que você... tinha feito isso... no chuveiro.
Achei que você tivesse escorregado.
— Mas você sabia sobre o resto. A menos que você esteja
tendo problemas de amnésia. O que, aliás, é outro dos meus
enredos de fic favoritos, então se você é amnésica ou quer fingir
ser uma, me avise, e podemos nos divertir com isso.
Ah, as possibilidades de interpretação de papéis eram
infinitas.
— Lembro-me de tudo, mas... — não fazia ideia do que
significava. Ela ainda estava piscando para ele do outro lado da
cama. — Nada.
Ela achava que ele acariciava aleatoriamente as coxas das
mulheres só por diversão?
Quanto mais ele considerava o que ela disse, mais chateado
ele ficava.
— Não importa o que aconteça ou não aconteça entre nós
dois, sexual e romanticamente, eu pensei que éramos amigos.
Amigos de verdade. Então, como diabos você pode pensar que
eu usaria você como um corpo qualquer na minha cama?
Doeu. Que ela pensasse tão pouco dele era uma flecha
perfurando seu peito, rasgando músculos e ossos, perfurando
um buraco em seu coração.
Estava muito quente sob os cobertores agora, e ele os jogou
para longe e se levantou da cama para ficar de pé, vibrando de
dor, na porra do chão gelado.
— Alex... — ela disse, mas ele não conseguia olhar para ela.
— Alex, eu– porra.
Então, ela estava bem ali. Ajoelhada na cama na frente dele,
estendendo a mão para ele. Sua mão pequena e forte agarrou
seu pescoço e o puxou para ela, e ela o beijou. Com força.
Sua boca estava quente na dele, seus lábios exigentes, e
quando ele abriu para ela, sua língua varreu dentro de sua boca
sem hesitação e reivindicou seu território. Ele chupou aquela
língua ousada, lutou contra ela, acariciou-a com a sua, e seu
estômago mergulhou em luxúria e alegria.
Distantemente, ele sentiu um puxão contra seu couro
cabeludo. Ela enfiou os dedos em sua juba desgrenhada, que ele
manteve por muito tempo só para ela. Apenas para isso. Só
porque ele sonhou com o punho dela em seu cabelo,
direcionando a cabeça para onde ela queria que fosse.
Claro, ele também sonhou em fazer a mesma coisa com ela.
A outra mão dela estava deslizando sob a camiseta dele,
subindo pelas costas dele, e ele estava apalpando sua bunda
mais uma vez, grudando-a contra ele até que sua suavidade
cedesse aos contornos de seu corpo e, não, ele definitivamente
não conseguia detectar a calcinha debaixo daquela legging
extremamente fina.
Isso estava ficando fora de controle rapidamente. Muito
rápido.
Antes de irem mais longe, ele tinha que saber.
Ele arrancou sua boca da dela, selvagem e ofegante e carente.
— Isso significa que você me quer? Não apenas para mantê-
la aquecida?
Sua voz estava rouca. Grave com desejo e saudade.
Depois de deslizar a mão para fora de sua camiseta, ela
segurou seu rosto entre suas pequenas palmas com ternura.
Tão ternamente que ele teve que fechar os olhos contra a dor
em seu peito.
— Isso significa que sinto muito. — Ela beijou suas
pálpebras, seus lábios quentes e gentis. — Isso significa que
minhas dúvidas tinham mais a ver comigo do que com você,
mas ainda eram injustas para nós dois.
Seus lábios roçaram suas têmporas suavemente. Tão, tão
suavemente.
— Isso significa que eu quero você. Só você. — Ela pegou o
lábio inferior dele entre os dentes e beliscou, e ele balançou
contra ela. — E isso significa que eu quero você desde que você
caminhou em minha direção em LAX parecendo um maldito
Deus. Aquela maldita camiseta Henley deveria ser banida.
Ela lambeu sua boca aberta e o conquistou novamente, e ele
retribuiu o favor. Com um braço apoiando seus ombros e
pescoço, seu crânio embalado em sua mão, ele avançou,
empurrando-a na cama e rastejando sobre ela.
Em suas mãos e joelhos, seu corpo enjaulado dentro dele, ele
era suplicante e conquistador ao mesmo tempo. Ele arrastou a
boca aberta sobre sua bochecha, ao longo de sua mandíbula,
abaixo de seu pescoço.
— Até onde você quer ir esta noite, Carricinha?
Quando ele lambeu um certo ponto atrás de sua orelha,
então soprou em sua pele úmida, sua respiração engatou, então
ele fez isso de novo.
— Eu... — Suas unhas rombudas cravaram em suas costas
enquanto ele chupava a pele sombria de seu pescoço. — Só...
Só beijo, eu acho. Se estiver tudo bem? Está tão frio aqui, e não
quero que nossa primeira vez juntos aconteça debaixo de uma
pilha de cobertores. Eu quero ver você.
Ela não lhe devia nada. Tudo o que ela já havia oferecido era
mais um presente do que ele jamais ganhara.
— O que você quiser — ele jurou. — Como você quiser.
Nada mais nada menos.
O sorriso dela era trêmulo e adorável e largo e inteiramente
dele.
Ele a incitou para debaixo das cobertas mais uma vez,
porque ele não a queria fria. Nem por um segundo. Então, ela
estava de volta em seus braços, seu cabelo macio contra seus
dedos, sua boca quente e ansiosa pela dele, e ele nunca tinha
lido uma fic tão foda.
Nenhuma. Nunca.
Classificação: Explícito
Fandoms: Gods of the Gates – E. Wade, Gods of the Gates
(TV)
Relacionamentos: Cupido/Psiquê
Tags Adicionais: Universo Alternativo – Moderno, pollen
sexual, consentimento explícito, mas quando se trata
de pollen sexual, as coisas são sempre pelo menos um
pouco estranhas, cenas verdadeiramente infinitas de
Cupido caindo em Psique, Vênus é horrível como
sempre, mas pelo menos Psiquê recebe alguns
orgasmos fora disso eba
Estatísticas: Palavras: 8249 Capítulos: 3/3 Comentários:
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No ar esta noite
PsycheStan

Resumo:
Vênus libera pólen de uma flor especial, uma que causa
luxúria insaciável, na casa de Psiquê – então envia Júpiter
para uma visita. A deusa espera que seu filho Cupido
sinta repulsa pela visão de seu pretenso amante com seu
avô e despreze Psiquê.
Mal sabe Vênus: Psiquê esperava que algo assim
acontecesse. Ela planejou com antecedência.

Notas:
Cupido pode ser apenas metade de um Deus, mas tenho
certeza que metade inclui sua língua.
O escudo mágico criado por Minerva vibra uma vez.
Duas vezes. Novamente.
Psiquê mal tem tempo de chegar ao telefone antes
que o fogo a leve de corpo e alma.
— Dido — ela ofega, uma mão já deslizando entre as
pernas, na umidade que floresceu no espaço de um
batimento cardíaco. — Vênus. Nosso plano.
— Entendi. Eu sei o que fazer — sua melhor amiga diz,
então desliga.
Dido, a mais leal e fiel dos melhores amigos,
encontrará Cupido e explicará a ele o que sua mãe fez, e
o que Psiquê já decidiu que é aceitável. Se ele estiver
disposto a fornecer alívio, ele virá.
E se ele o fizer, ela também o fará. Em torno de seus
dedos. Em sua língua.
Psiquê ri fraca, histericamente, e convulsiona em seu
primeiro orgasmo, caindo no chão.
Em seu último ato consciente, ela ativa todos os
poderes do escudo de Minerva. Nenhuma criatura,
deusa ou mortal, pode entrar em sua casa agora. Com
uma exceção.
A próxima coisa que ela sabe é que ela está na cama,
não no chão. Um travesseiro embala sua cabeça. Seu
corpo está infinitamente em chamas, seu sexo doendo e
inchado. E ela não está sozinha.
Cupido está lá, esparramado em seu estômago, entre
suas coxas abertas.
— Aí está você — diz ele, em seguida, inclina a cabeça
escura e chupa seu clitóris até que o mundo exploda em
lantejoulas de fogo ao redor dela.
22
— De qualquer forma, eu amo uma boa história de pólen
sexual. — Alex sorriu para ela, totalmente sem vergonha. —
Eles geralmente são sujas pra caralho.
Ele estava andando pelo quarto para se manter aquecido
enquanto Lauren verificava debaixo da cama e nas cobertas por
mais itens perdidos que ele conseguiu perder durante a noite
mais fria, mais quente e mais incrível de sua vida.
Eles se beijaram por horas, entrelaçados e sem fôlego, suas
mãos vagando sobre braços e pernas e costas e ocasionalmente
bundas. Ele manteve sua promessa, no entanto. Eles se beijaram
e se beijaram e se beijaram e adormeceram abraçados, mas nada
mais. Ele não tinha sequer apalpado seus seios, embora ela
permitisse isso esta noite. Exigisse isso esta noite.
Ela pretendia exigir muito mais também.
Se ele ainda a quisesse. O que, de todos os sinais, ele parecia
querer.
Quando ela se endireitou após uma última inspeção dos
cobertores, ele estava bem na frente dela.
— Quente pra caralho — ele repetiu. — Muito parecido
com você.
Curvando-se, ele a beijou demoradamente, doce e suave e
lentamente. De canto a canto, ele bebeu em sua boca.
Explorada, como se ele não tivesse atravessado o mesmo
território repetidamente na noite anterior, como se os lábios
dela fossem infinitamente fascinantes, infinitamente sedutores
para ele.
Sua pele floresceu com calor sob sua atenção, apesar do frio.
Seu corpo todo sensível e formigando, ela enrolou os braços em
volta do pescoço dele e derreteu contra ele.
Quando levantou a cabeça minutos depois, levou a mão ao
pescoço, esticou as costas e gemeu.
— Merda, Carricinha. Por que você é literalmente do
tamanho de um esquilo? Você escolheu não crescer por pura
teimosia? Porque, honestamente, eu não duvido.
Em vez de dignificar tal provocação nua com uma resposta,
ela se soltou e foi checar o banheiro uma última vez. Ao longo
do caminho, ela olhou pela janela do quarto e sorriu.
— É lindo aqui — disse ela, olhando para o oceano à
distância.
Dentro de dois passos, ele estava de pé ao lado dela, ombro
a ombro.
Ele arrastou os dedos pela bochecha dela.
— É mesmo.
Ela se considerava uma pessoa lógica. Racional.
Mesmo assim. Talvez houvesse algo especial sobre este
quarto. Sobre esta pequena cidade e sua hospedagem
domiciliar desgastada, limpa e despretensiosa com seu ar
condicionado com defeito.
Não pólen sexual. Mas alguma coisa.
Sob outras circunstâncias, sem aquele ar condicionado
hiperativo, ela não achava que jamais o beijaria. Mas ela o
machucou ao se perguntar se ele poderia tê-la usado apenas
como um corpo quente em uma noite fria e solitária, e ela
estava desesperada para aliviar sua angústia. Desesperada o
suficiente para mostrar a ele como ela se sentia e o quanto ela o
queria. Desesperada o suficiente para puxá-lo para perto e beijá-
lo do jeito que ela estava imaginando há semanas.
Ela precisava de tempo para pensar, tempo para lidar com o
que tinha acontecido. Mas da noite para o dia, ela chegou a uma
conclusão provisória: de alguma forma, em algum momento,
seu trabalho no pronto-socorro a consumiu tanto,
completamente que – exceto com Sionna – ela não se
considerava mais nada além de uma terapeuta e uma filha. Não
uma parceira romântica em potencial, um ser sexual ou mesmo
uma pessoa interessante.
Não é de admirar que ela tenha se esgotado. Não admira que
o pensamento de voltar para o pronto-socorro ainda causasse
uma onda de náusea em sua barriga. Não admira que ela tenha
duvidado de seu apelo sexual para Alex e interpretado toda a
sua atenção, sua incapacidade de manter as mãos longe dela,
como amigável em vez de romântico.
Ela se esforçaria no futuro, porque ambos mereciam.
Ela não duvidava mais do desejo dele por ela, e ela não estava
negando o dela por ele.
Ele ainda estava de pé ao lado dela, ainda olhando para ela
com solenidade incomum e em silêncio incomum, e ela
segurou a mão dele nas suas. Levantou-o aos lábios. Beijou seus
dedos frios.
Sua boca se curvou em um sorriso sem bordas afiadas.
— O que foi isso?
— Porque eu gosto de você. — Ela manteve a voz com
naturalidade, já que era um fato. Uma verdade básica. —
Porque estou tão feliz que vamos nessa viagem juntos. Porque
eu quero ouvir qual é o seu enredo de fanfic favorito. Por favor,
me diga que não é pólen sexual.
Ele sorriu para ela, e ela sorriu de volta.
— Eu amo universos alternativos de almas gêmeas. —
Virando o pulso dela em seu aperto, ele traçou algo ao longo de
seu antebraço com um dedo gentil e indutor de arrepios. —
Meus favoritos são os de marca de alma, onde as primeiras
palavras de sua alma gêmea para você aparecem em algum lugar
do seu corpo, como uma tatuagem, na caligrafia.
Uma de suas fics salvas tinha essa premissa, e apesar de todo
seu ceticismo natural, ela também achou o puro romantismo
da ideia sedutora. Almas gêmeas. Laços inseparáveis. Pares
verdadeiros, designados por poderes além do comando
humano.
Pena que não existiam na vida real.
— Eu li sua fic de alma gêmea salva recentemente. Eu gostei.
— Gentilmente soltando sua mão da dele, ela se virou e usou o
bloco de notas fornecido pelo hotel para escrever um rápido
agradecimento à pobre governanta que teria que limpar o
quarto frio, então colocou o bilhete ao lado da generosa gorjeta
que Alex já havia deixado na mesa de cabeceira. — Tudo bem,
estou pronta para ir agora.
Ele pegou as duas malas.
— Finalmente. Merda, você é como uma tartaruga que
tomou sedativo.
— Um de nós espalhou seus pertences por toda parte, e eu
precisava de tempo para achar tudo — disse ela enquanto abria
a porta. — Não vou dizer quem, mas o nome dele começa com
A, termina com X e rima com Schmalex.
Ele bufou e a seguiu para fora.
Quando a porta começou a se fechar atrás deles, porém, ele
ergueu a mão.
— Deixe-me dar uma última olhada antes de irmos. Eu
posso ver algo que você não viu.
Isso foi... surpreendentemente cauteloso vindo de um
homem como ele, mas não faria mal verificar uma última vez.
Então, ela usou seu corpo para abrir a porta e observou
apreciativamente o jogo de músculos ao longo de seus ombros
e costas enquanto ele olhava para dentro do banheiro, passava
a mão pelos lençóis e brincava com a cômoda e a mesa de
cabeceira.
— Nada — ele finalmente disse, juntando-se a ela. — O
refúgio costeiro do Abominável Homem das Neves está
intocado mais uma vez. — Quando a porta se fechou, ele
passou o braço livre em volta dos ombros dela, e eles se
dirigiram para a recepção. — Sabe, aposto que há fics
absolutamente sujas sobre o Abominável Homem das Neves
em algum lugar do AO3.
Ela ergueu as sobrancelhas.
— Você planeja escrever uma?
— Depois de toda a inspiração subártica que recebi ontem
à noite? — Seu sorriso positivamente fervia com intenção
perversa, e ele a puxou para mais perto. — Acho que nós dois
sabemos a resposta para essa pergunta.
Mesmo tendo balançado a cabeça para ele, ela teve que rir.
Porque, sim, claro que Alex ia escrever obscenidades do
Abominável Homem das Neves. E se suas suspeitas se
mostraram corretas...
— Você acha que o Abominável Homem das Neves já foi
passivo? — ele perguntou, sua testa franzida em pensamento.
Sim. Lá estava.
Ela só esperava que o fandom estivesse pronto, porque se
não: Deus os ajude.

Já que começaram tarde e pararam mais cedo do que o


previsto ontem, eles tinham um longo caminho pela frente para
o segundo dia de viagem. Cinco horas dirigindo no total,
interrompidas por várias paradas para turismo e alimentação.
Quando chegaram ao hotel em Olema naquela noite –
Lauren havia feito reservas na estrada, incapaz de resistir a
alojamentos construídos diretamente sobre a falha de San
Andreas – ela e Alex estavam cansados e prontos para sair do
carro. Ainda alegres, porém, e ainda conversando facilmente.
— Retiro tudo o que disse sobre Hearst Castle. — Depois
de retirar as duas malas do porta-malas, Alex trancou o carro e
a seguiu até a entrada do hotel. — Devido à falta crítica de
torres, temo que seja nota zero. Não recomendaria.
— Esta manhã, você me disse que os jardins e o castelo eram
incríveis — Ela ergueu as sobrancelhas. — Isso foi uma
mentira?
— Por que você ouve tão atentamente tudo o que eu digo e
depois se lembra? — Ele franziu a testa para ela, estendendo a
mão para bagunçar seu cabelo com a mão livre. — É tudo
muito injusto.
Ela afastou a mão dele.
— Você só está bravo porque eu disse que o Hearst Castle
era mais impressionante do que o seu castelo.
— Torretas, Carricinha — ele enfatizou. — Eles tinham
torretas, não torres, o que significa que eu venci nossa batalha
de castelos. Claramente.
— Se esse for o único critério, eu também ganharia.
— Não contra mim — ele disse presunçosamente quando
eles entraram na adorável área de recepção.
A iluminação era agradavelmente fraca, os sofás e cadeiras
dispersos estofados em tons de joias, e o mármore do balcão de
check-in. A estadia da noite seria cara, mas ele insistiu que
fossem para algum lugar tão elegante quanto ele.
Quando ela sugeriu uma cama de feno em um estábulo,
então, ele riu deliciado e a beijou em um semáforo até que ela
caiu contra a porta do passageiro, tonta e formigando.
Ela queria mais beijos. Mais tudo. O mais breve possível.
Naquela manhã, no bonde indo para o castelo, ele passou o
braço em volta dos ombros dela e se inclinou para descansar o
rosto em seu cabelo. Durante o almoço em um café em Carmel,
ele puxou sua cadeira tão perto que sua coxa pressionou contra
a dela durante toda a refeição. Quando eles pararam em Big Sur,
até mesmo Alex ficou atordoado em silêncio com a visão de um
oceano turbulento batendo na costa escarpada, e ele segurou a
mão dela com força enquanto observavam com admiração. Em
Half Moon Bay, ele fez um beicinho dramático com a atenção
que ela deu aos surfistas e prometeu desfilar em uma roupa de
mergulho sempre que possível, se isso fosse necessário para
ganhar sua atenção total. Então, ele a puxou para perto em um
banco na margem e reivindicou sua boca com intenção feroz.
No momento em que cruzaram a ponte Golden Gate, foi
ela quem apoiou a mão no joelho dele e a deslizou pela coxa.
Não muito longe, mas longe o suficiente para lhe dizer o que
ele precisava saber.
Ela estava dentro. E quando eles finalmente chegassem ao
seu quarto de hotel, ela ficaria feliz em mostrar a ele.
A jovem atrás da recepção era simpática, embora ela não
parecesse reconhecer Alex. Nem mesmo quando ele apoiou as
mãos no balcão e se inclinou para frente com aquele famoso
sorriso encantador, sua voz conspiratoriamente baixa. Tão
baixa que a barriga de Lauren ficou caída, e ela teve que esfregar
as coxas um pouco.
— Eu sei que fizemos reservas para um quarto king padrão,
mas você tem alguma coisa com uma grande banheira de
hidromassagem? Não importa quanto custe. — Ele piscou para
a mulher, que parecia um pouco atordoada. — Estamos
comemorando.
— Tem, hum — A pobre funcionária engoliu em seco. —
Há a suíte de lua de mel. A varanda privativa tem uma grande
banheira de hidromassagem e uma copa.
Ele não hesitou.
— Pronto.
Oh, meu Deus, ela tinha visto aquela suíte no site do hotel,
e a despesa.
— Alex — ela começou.
Ele patinou com os dedos sobre a bochecha dela.
— Confie em mim, Carricinha.
Ela confiava. Deus ajude os dois.
A funcionária mudou sua reserva, e ela sorriu para eles
enquanto entregava seus cartões-chave.
— Terceiro andar, até o final do corredor. Por favor, falem
de precisar de algo.
— Vamos. Muito obrigado por sua ajuda. — Com um
último sorriso deslumbrante, Alex se endireitou e agarrou a alça
de sua mala. — Boa noite.
Lauren ofereceu um aceno educado e pegou sua própria
bagagem.
Enquanto caminhavam para o elevador, ele pegou a mão
livre dela.
— O que você acha de pedir serviço de quarto e comer na
varanda?
Inexplicavelmente nervosa, ela olhou para o tapete
estampado sob os pés.
— Soa bem.
Assim que ele apertou o botão de chamada, as portas do
elevador se abriram, e eles entraram. Quando as portas se
fecharam novamente, ele se virou para ela, seus dedos ainda
entrelaçados.
— Você sabe — ele disse em tom de conversa —, se você se
preocupar – mesmo que por um momento – que eu iria
pressioná-la a fazer qualquer coisa que você não quisesse, estou
apenas avisando agora que eu ficaria magoado e com raiva, e
provavelmente comporia um poema épico sobre o mal que me
fizeram. Ou, pelo menos, escreva uma rima mal-humorada.
Ela bufou uma respiração divertida.
— Uma vez você tentou me intimidar para um concurso de
comer sushi, se bem me lembro.
— Eu estava preocupado que sua dieta fosse deficiente em
algas marinhas. — De alguma forma, ele manteve uma cara
séria. — Isso não conta.
— Besteira — ela disse, e ele agarrou seu peito e engasgou
em falso choque com sua linguagem. — Alex, eu sei o que você
está tentando me dizer. É adorável, mas não é necessário. Eu
quero… — As portas do elevador se abriram em seu andar, e ela
baixou a voz para um sussurro. — Eu quero fazer coisas com
você. É só... faz um tempo.
Seu aperto firme em sua mão a levou para fora do elevador
e pelo corredor.
— Para mim também, Carricinha. Mas temos todo o tempo
do mundo.
Qualquer um que chamasse os olhos cinzentos de frios
nunca tinha visto os dele.
Neste momento, ela não podia se imaginar com frio
novamente.
23
— Merda, Carricinha — Alex disse com a boca da pizza
gourmet do hotel, e rolou para baixo em sua página no
YouTube. — Já tenho mais de duzentas mil visualizações e seis
mil comentários no meu primeiro vídeo, com mais chegando o
tempo todo. O mesmo com os outros vídeos.
Pelo que ele podia dizer, as visualizações e os comentários
começaram lentamente no início... até que Carah respondeu
aos clipes dele em suas várias contas de mídia social e ameaçou
dar um soco nele – “Também é a minha principal tática de caça
ao Pé Grande” – na próxima vez eles se encontrassem.
Aparentemente, ela dedicou seu próximo vídeo a ele, e
envolvia comer testículos. Esperançosamente não humanos,
mas ele não tinha certeza.
— O blog Fans of the Gates chamou seus vídeos de
“irresistivelmente charmosos”. E eu acho — Carricinha fez
uma pausa e digitou algo em seu telefone — sim, a revista
Celebrity também pegou a história. Eles postaram algo uma
hora atrás. Aparentemente, você é “previsível, mas
deliciosamente sem filtro, e exatamente a explosão de frescor
sem esforço necessária nestes meses quentes de verão.”
Ela fez um som de engasgo.
Totalmente rude. Totalmente delicioso.
Ele sorriu para ela e fez cócegas em suas costelas até que ela
riu, o som ecoando pelo ar frio da noite.
— Energia de Harpia incomparável, Carricinha. Mas eu
pensei que você não fez a pesquisa por vaidade?
— Não para mim. — Com um aceno de sua mão curta e
larga, ela descartou a ideia de lado, como se fosse fácil resistir a
descobrir o que todos pensavam de você. — Achei que você
gostaria de saber como vários sites de mídia estavam reagindo,
no entanto.
O adendo não foi dito: e eu queria vê-lo antes de você, caso fosse
ruim, e eu precisava convencê-lo a não fazer algo idiota.
O que... tudo bem, justo.
— Nos comentários do YouTube, há muita especulação
sobre minha talentosa cinegrafista e companheira de viagem. —
Um olhar de soslaio não revelou nenhum sinal de tensão com
essa notícia. Nada de ombros curvados. Sem sobrancelhas
franzidas. — Aparentemente, nossa química é mágica.
Os cantos de sua boca se inclinaram para cima antes que ela
desse outra mordida em sua própria pizza.
Uma quarta fatia o chamou, e ele respondeu à convocação.
— De qualquer forma, eles querem saber se você é minha
namorada...
Seu telefone tocou. Uma ligação do FaceTime de sua mãe,
que ele não podia ignorar.
Ele largou a pizza.
— Sinto muito, Carricinha, mas eu preciso atender... serão
cinco minutos. Dez, no máximo.
Quando ele se levantou, ela sorriu para ele, totalmente
inofensiva. Para dar a ela alguns minutos de paz e sossego
enquanto ela comia, ele foi para a sala de estar, então tocou na
tela para atender a chamada.
— Ei, mãe — ele disse enquanto abria a porta da varanda.
— Como você está–
Então ele viu o rosto dela. Especificamente, os hematomas
escuros ao redor de seu olho esquerdo inchado.
O horror absoluto o cambaleou, aterrissando como um
soco no diafragma.
— Mãe. O que–
— Eu tive um acidente de bicicleta, Alex. Apenas um
acidente de bicicleta. — Ela estava falando alto, claro e
calmamente, e ele mal conseguia entender uma palavra. — Eu
bati em um pedaço de cascalho e caí, mas estou bem. Fui ao
médico e estou bem. Mas eu queria que você soubesse o mais
rápido possível, para que você não...
Sua explicação não impediu que a bile subisse por sua
garganta, amarga e corrosiva. Ele se curvou na cintura,
tentando não vomitar, e o telefone caiu de seus dedos inertes
no deck de madeira.
Seu peito era um fole, arfando enquanto ele sugava o ar em
seus pulmões tensos.
Então algo tocou seu pescoço. Uma palma. A mão de
Carricinha segurando sua nuca, apertando suavemente.
Sua mãe suspirou, e sua voz flutuou pela escuridão.
— Eu deveria ter mandado aúdio primeiro. Droga.
Ela parecia triste. Mais triste do que ela esteve desde...
Ele estremeceu.
— Querido — ela chamou. — Querido, por favor, fale
comigo.
Com a mão trêmula, ele conseguiu pegar o telefone e se
endireitou. Quando Carricinha começou a se afastar, ele
estendeu a mão para ela, e ela parou, permitindo-se ser puxada
contra seu lado. Ela estava quente e suave e segura em seu
abraço, sua cabeça contra seu coração.
Ele precisava dela ali.
— Ninguém… — Engolindo mais bile, ele tentou
novamente. — Ninguém te machucou?
— Eu apaguei no cascalho.— O tom de sua mãe era tenso,
mas paciente. — Minha vizinha viu tudo, então se você não
acredita em mim, pode perguntar a ela.
Ele não faria isso. Ele não podia, porque isso seria humilhar
sua mãe.
— Mas, querido… — Linda tentou sorrir, piscando para
conter as lágrimas. — Você precisa começar a acreditar em
mim.
A mão de Carricinha em suas costas acariciou para cima e
para baixo, para cima e para baixo, e ele pôde respirar
novamente. Ele pôde pensar novamente.
— Ok. — Era um fio rouco de som, e tudo o que ele
conseguiu.
— Ok. — O olhar de sua mãe foi para o lado. — Eu estou
bem, então por que você não me liga mais tarde? Sua amiga está
obviamente preocupada com você, e eu não a culpo.
A outra mão de Lauren se ergueu de seu peito, e ela deu um
pequeno aceno para sua mãe.
— Meu nome é Lauren Clegg. Prazer em conhecê-la, Sra.
Woodroe.
— Ahhhhhh. Lauren. Finalmente. — O sorriso de Linda se
alargou, enrugando seu olho sem escurecimento. — Prazer em
conhecê-la. Eu ouvi muito sobre você, tudo de bom.
A voz de Santa Ana de Carricinha fez seu retorno
triunfante.
— Ele deve fazer isso quando eu não estou por perto.
Linda riu abertamente, e o pulso de Alex parou de ecoar em
seus ouvidos.
— Vou deixar vocês dois continuarem com sua noite.
Minha rede está me chamando. Alex, você está bem?
Ele limpou a garganta.
— Se você está bem, eu estou bem.
— Então estamos bem. Amo você, querido. — Apesar dos
hematomas, ela parecia calma e contente mais uma vez. — Falo
com você mais tarde esta noite ou amanhã. Qualquer um serve.
— Também te amo — ele disse a ela, falando sério com cada
fibra de seu ser.
Ela voltou sua atenção para sua companheira.
— Boa noite, Lauren. Espero ver você em breve.
O sorriso e o murmúrio de agradecimento de Carricinha
eram tão suaves quanto ela.
Mais algumas gentilezas e a conversa acabou.
Pelo menos, essa conversa. Não havia como evitar uma
discussão mais aprofundada com Carricinha, dado que ele
perdeu a porra da cabeça ao ver o olho roxo de sua mãe.
O braço dela em volta da cintura dele o guiou para dentro e
para o sofá, e ele desabou nas almofadas ao lado dela. Ela
gentilmente removeu o telefone da mão dele, colocando-o na
mesa de centro.
Sem sua vontade consciente, a cabeça dele caiu no ombro
dela, e quando ela começou a passar os dedos pelo cabelo dele,
ele fechou os olhos.
— Eu sinto muito. — Ele estava tão cansado de repente,
toda aquela adrenalina de lutar ou fugir abruptamente. — Eu
só…
Sua voz estava calma.
— Você não tem que me dizer. Você tem direito à sua
privacidade.
— Eu quero falar. — Ele suspirou. — Só que é difícil,
porque eu– eu fodi tudo, Carricinha. Sério.
Um pequeno zumbido quieto, e ela se aninhou mais perto.
Ele se permitiu um minuto para se recompor, para
aproveitar seu apoio silencioso, e então se obrigou a começar a
falar.
— Meu pai foi embora quando eu era bebê, então mamãe e
eu fomos uma equipe quase desde o início. Ela cuidou de mim
e, quando fiquei mais velho, cuidei dela também. Ela... —
Deus, por que as palavras eram tão difíceis de encontrar? — Ela
é uma mulher incrível. Inteligente, engraçada, gentil. Ela
trabalhou tão duro para me dar tudo que eu precisava, mesmo
que seu pagamento em todos aqueles trabalhos de atendimento
ao cliente fosse uma merda absoluta. Ela não tinha tempo para
namorar. Inferno, ela mal tinha tempo para amigos.
Ele bufou uma risada cansada.
— Ela diz que tirei toda a energia dela, o que tenho certeza
que é um completo exagero. Calúnia, na verdade.
— Ah, não finja. Nós dois sabemos a verdade. — Carricinha
levemente puxou seu cabelo. — Você é uma orquídea,
Woodroe. Lindo, mas requer muito cuidado.
Uma orquídea?
Sim. Ele gostou disso. Quase tanto quanto ele gostava dos
dedos dela em seu cabelo.
— Lindo, hein?
Ela bufou.
— Merda, Alex. Cala a boca e continua falando.
— Apenas para sua informação, isso é contraditório–
— Você sabe o que eu quero dizer.
Ele sabia, então ele continuou a história, mesmo que
lembrar doesse.
— No ensino médio, eu cortava grama por dinheiro durante
o verão. Um dos meus clientes, Jimmy, parecia um cara legal.
Era dono de uma loja de antiguidades. Pagava bem. Sempre
amigável. Às vezes, minha mãe me rastreava para dizer "oi" e me
trazia o almoço antes do turno dela, e eu...
Sua voz falhou, então ele engoliu em seco e tentou
novamente.
— Eu os apresentei — ele finalmente conseguiu dizer. — Ela
estava com pressa e não queria incomodar, mas eu a empurrei
para conhecê-lo, porque eu sabia que iria embora logo após a
formatura. Ia para LA para ser ator. Minha mãe e eu íamos nos
separar pela primeira vez, e eu queria que ela tivesse alguém
presente para se apoiar enquanto eu estivesse fora. Eu não
queria que ela ficasse sozinha.
— Você estava tentando cuidar dela. — Sua voz era gentil.
Tão gentil.
Ele assentiu.
— Eles se deram bem imediatamente, mas ela não tinha
certeza. Depois de alguns meses, quando ela disse que
terminaria com ele, eu disse que ela estava acostumada demais
a ficar sozinha. Que ele era um homem decente, e ela deveria
lhe dar mais uma chance. — Sua respiração estremeceu em seus
pulmões. — E então eu fui para Los Angeles, comecei a
trabalhar em um café e ir a audições, fazer amigos, e eu não
entrei em contato com ela com a frequência que deveria.
— Você era um adolescente, em outras palavras. — Seus
dedos em seu cabelo, afagando, acariciando, não parou. — Um
adolescente normal sozinho e tentando construir uma vida
para si mesmo.
Sua espinha estava derretendo sob seu toque, quando ele
deveria estar tenso. Deveria estar vibrando com ódio de si
mesmo, em vez de prazer.
Ainda assim, ele não conseguia se afastar.
— Eles continuaram namorando, e depois ficaram noivos.
Eu dirigi de volta para a Flórida para o casamento deles. Eu levei
minha mãe até o altar até aquele homem.
— Entendo — Carricinha disse calmamente.
Ela provavelmente entendia. No pronto-socorro, ela, sem
dúvida, ouviu alguma versão dessa mesma história inúmeras
vezes, e ele suspeitava que cada repetição havia partido seu
coração novamente.
— Comecei a conseguir mais papéis, papéis melhores, e
fiquei muito ocupado. Muitas vezes, eu simplesmente não
atendia as ligações dela, e nunca a visitava. Ficávamos uma
semana sem nos falar. Duas semanas. Eventualmente, mal
conversávamos, e eu mal notei. — Porque ele era um filho
terrível, o que ele só percebeu quando já era tarde demais. —
Agora, quando penso nas poucas conversas que tivemos,
percebo que ela parou de mencionar amigos em algum
momento. Ela parou de falar sobre Jimmy, exceto nessa porra
de voz cuidadosa e, mesmo assim, ela só disse que ele estava
bem. Eles estavam bem. Quando ela me disse que ele a
persuadiu a largar o emprego, porque ele poderia sustentar os
dois, achei ótimo. Uma maldita benção.
A mão de Carricinha parou.
— Porque ela trabalhou tanto enquanto você estava
crescendo, e você queria que ela tivesse tempo para si mesma.
Sua defesa foi gentil, mas mal concebida, e ele não se
incomodou em responder.
— Eles foram casados por nove anos. Nove malditos anos.
Eles me visitaram duas vezes em todo esse tempo, e eu nunca os
visitei, e nem pensei nisso, Carricinha. Eu nem me perguntei se
algo estava errado. — Ele engoliu em seco. — Jimmy morreu
de ataque cardíaco quando eu tinha 28 anos, e finalmente voltei
para casa. Para o seu funeral.
Era uma tarde típica da Flórida em agosto, úmida e
escaldante, as nuvens se agitando no alto quando as
tempestades começaram a cair. Ele olhou para sua mãe e
finalmente a viu. Ele havia finalmente notado, ali ao lado do
túmulo de seu padrasto.
No calor tropical, ela usava mangas compridas. Uma blusa
abotoada até o pescoço. Uma espessa camada de maquiagem
em uma bochecha, pesada o suficiente para chamar a atenção
se alguém a estudasse cuidadosamente. O que ele não tinha
feito, até aquele momento.
Anos depois, ele reconheceria a maneira como ela se moveu
naquele dia. Cuidadosamente. Devagar. Da mesma forma que
Marcus se moveu quando caiu de seu Friesian no set e quebrou
algumas costelas.
Ela parecia décadas mais velha do que sua idade real, e talvez
um observador casual pensaria que era tristeza. Mas aqueles
não eram vincos temporários em seu rosto. Suas bochechas
magras e afundadas não eram o resultado de uma única semana
de luto.
— Ela disse que estava bem, apenas triste, mas eu não
acreditei nela. Daquela vez, eu não acreditei nela, e implorei
para ela levantar as mangas e desabotoar os três primeiros
botões de sua blusa, e… — Sua respiração estava falhando, e
suas bochechas estavam molhadas, e Carricinha estava
enxugando suas lágrimas com um lenço de papel limpo, e ele
não merecia sua gentileza. Nem um pouco, mas ele estava
sedento para caralho por isso. — Então, eu a levei para o
hospital, porque aquele filho da puta morreu de ataque
cardíaco no meio de dar uma surra na minha mãe, e não foi a
primeira vez.
— Ah, Alex. — Ela acariciou seu pescoço. — Eu sinto
muito. Por ela e por você.
Quando ele se afastou e se levantou para andar, ela não
tentou segurar.
— Eu não mereço sua simpatia, Carricinha. Apresentei
minha mãe ao seu agressor, convenci-a a ficar com ele quando
ela queria terminar, e não pude me incomodar em perceber
quando ele a isolava e batia nela. Durante anos, Lauren. Eu não
percebi por anos, porra.
— Mas… — Sua testa estava franzida, sua expressão dolorosa
e suave. Para ele.
O que ela não estava entendendo aqui? O que ele não
explicou claramente?
Dez passos para cima, dez passos para trás, enquanto seu
coração batia de novo. Quando ele passou pelo sofá, ele se virou
para encará-la, as mãos estendidas em um apelo para que ela
entendesse. Para finalmente, finalmente entender o quão
inadequado ele era para ser seu amante, e quão egoísta ele era
para insistir nela mesmo assim.
— Eu não me preocupei — ele repetiu, sua voz irregular. —
Eu não me dei ao trabalho de perguntar como ela realmente
estava e pressioná-la para mais detalhes, ou me perguntar por
que todos os seus amigos pareciam desaparecer, ou verificar se
ela queria largá-lo em vez de ser pressionada pelo marido idiota
dela até que ela estivesse tão isolada e dependente dele quanto
possível.
Lauren balançou a cabeça, sua boca firme com
determinação.
— Você não foi treinado para reconhecer sinais de violência
doméstica, Alex. Você era um garoto normal de vinte e poucos
anos que morava do outro lado do país e tinha sua própria vida
e preocupações, e sua mãe não lhe contou o que estava
acontecendo. O abuso do seu padrasto não foi culpa sua. Não.
Foi. Culpa. Sua.
O que ela considerava exoneração, ele sabia que não era nada
disso. Se qualquer coisa, era mais condenação.
— Você tem razão. Ela não me contou. — Seus olhos
estavam embaçados, e ele os apertou. — Talvez ela tenha
pensado que eu diria a ela para ficar com ele, da mesma forma
que fiz antes. Ou talvez ela pensasse que seu filho babaca
egocêntrico simplesmente não se importaria.
— Tenho certeza absoluta de que isso não é verdade. — Ela
estava de pé agora, os braços estendidos para o alto para que ela
pudesse embalar o rosto dele em suas palmas quentes e macias,
e ele não teve forças para se afastar de novo. — As pessoas em
relacionamentos abusivos geralmente têm vergonha de contar
a alguém e têm medo do que pode acontecer se contarem a
alguém.
Ela encontrou seus olhos, seu olhar inabalável.
— Se você soubesse o que estava acontecendo, você a teria
ajudado?
— Como… — Sua voz falhou novamente, e ele estava
chorando novamente. — Como você pode me perguntar isso,
Carricinha?
Seus polegares acariciaram suas bochechas molhadas.
— Estou perguntando porque sei a resposta.
— Claro que eu teria ajudado ela. — Seu peito se contraiu
em um soluço solitário. — Eu a-amo ela.
Por todo o bem que tinha feito a ela quando ela mais
precisava dele.
Lauren foi insistente. Inexorável.
— Você já bateu na sua mãe? Chutou ela? Jogou algo nela?
Perdeu o controle e a machucou de alguma forma, ou a
machucou deliberadamente?
Ele recuou, horrorizado, mas ela não a soltou.
— Não! Eu nunca... — Desesperado, ele balançou a cabeça.
— Não.
— Então a única pessoa culpada aqui é o homem que
abusou de sua mãe. Não ela. Não é você. Ele. — Os olhos de
Carricinha também estavam úmidos, mais claros como o
oceano, sem um único turbilhão de dúvidas. — E se você tem
dificuldade em acreditar nisso, você pode ver alguém sobre isso.
Um terapeuta.
Ele engoliu uma dor de garganta.
— Não pode ser você?
— Fico feliz em ouvir, mas não posso ser sua terapeuta.
Somos muito próximos. — Ela mordeu o lábio inferior. — Não
é à toa que você ficou tão chateado com os roteiros desta
temporada. Ron e RJ fizeram Cupido abandonar Psiquê e seu
relacionamento saudável para voltar para sua família abusiva, e
você...
— Atuei tudo da melhor maneira possível, mesmo sabendo
que estava errado. — Suas bochechas estavam tensas com sal,
seus olhos doloridos. — Mesmo sabendo que isso prejudicaria
os espectadores vulneráveis que podem estar lutando para
deixar relacionamentos violentos. Eu deveria ter saído dessa
porra de programa, Carricinha. Ido embora e não olhado para
trás.
Mais uma vez, ele não conseguiu identificar uma única
sombra de condenação naquele olhar extraordinário.
— Então, me diga. Por que você não fez isso?
Egoísmo, seu cérebro imediatamente reiterou. Covardia.
Mas essa não era a história completa, era?
— Se eu tivesse ido embora… — Ele apertou os lábios. —
Meu advogado disse que seria uma clara violação do meu
contrato, e eu deveria a Ron e RJ um monte de dinheiro. E eu
estava com medo de arruinar minha reputação na indústria. O
que é irônico, dado o que aconteceu na convenção, mas…
Ela assentiu.
— Você não queria falir ou quebrar algo que estava
construindo há duas décadas. Isso é compreensível, Alex.
— Não. Não é isso. Não inteiramente. — Dentro das mãos
dela, ele balançou a cabeça. — Acho que teria pagado esse preço
se fosse o único a pagar. Mas sem poupança, sem salário, como
eu poderia sustentar minha mãe? Como eu poderia continuar
financiando minha caridade? Como eu poderia pagar a Dina?
— Querido. — Ela acariciou suas bochechas com os
polegares. — Querido, isso não é egoísmo. Nem um pouco.
— Eu não… — Curvando-se desconfortavelmente, ele
descansou a testa em seu ombro macio novamente, e ela voltou
a acariciar seu cabelo e, oh, porra, o alívio. — Eu não entendo
como você pode dizer isso, quando todas aquelas pessoas
assistindo–
Ela não o deixou terminar.
— Você estava em uma situação sem boas opções e escolheu
uma. Isso é tudo. — Seu hálito quente e úmido soprou em seu
ouvido, e ele estremeceu. — Você disse que confiava em mim.
Isso é verdade?
Ele assentiu contra o pescoço dela.
— Se isso é verdade — ela disse a ele —, se você realmente
confia em mim, então você está moral e legalmente obrigado a
acreditar em mim quando digo que você é um bom homem.
Você não tem escolha. Me desculpe, eu não faço as regras.
Ele não acreditou nela, é claro. Mas Lauren geralmente
estava certa sobre tudo, e ele confiava nela. Totalmente e sem
reservas. Ainda assim... ele também não acreditou nela.
— Vamos. — Ela puxou o braço dele, e ele a seguiu de volta
para o sofá. — Vamos nos esticar e descansar por um minuto.
Acho que nós dois poderíamos tirar uma soneca.
Ele a olhou pensativo.
— Só se eu for a conchinha menor.
— Tanto faz — ela disse com um suspiro.
Eles se esparramaram de lado no sofá generoso, e ela
obedientemente se espremeu atrás dele. Antes de cochilar, ele
notou a perfeição absoluta de sua barriga macia contra suas
costas, seu braço redondo circulando suas costelas, e sua mão
forte apertada na dele.
E, então, finalmente se sentindo absolutamente seguro, ele
relaxou e dormiu.
24
Alex acordou duro e querendo.
Sua mente tinha sido limpa de tristeza e culpa, pelo menos
no momento, e seu corpo descansado respondeu à
proximidade de Carricinha exatamente da mesma maneira que
vinha fazendo há semanas.
Quando ele torceu o pescoço para a direita, ele teve um
vislumbre do relógio de cabeceira. Os dois tinham tirado uma
soneca de apenas uma hora, e ele tinha planos para a segunda
noite juntos. Planos envolvendo aquela espaçosa banheira de
hidromassagem na varanda.
Agora resta descobrir se Carricinha ainda o queria, mesmo
depois de sua enésima reviravolta emocional de seu
conhecimento limitado.
Só... merda. Tão gentilmente quanto possível, ele saiu de
seus braços e foi procurar sua carteira. Porque se ele não tivesse
camisinha lá...
— Alex? — Sua voz estava sonolenta. — O que você está
fazendo?
Melhor saber suas intenções agora, ele supôs.
— Vendo se tenho preservativos. Caso seja algo que
possamos precisar.
Ela se levantou em um cotovelo.
— Eu não tenho nenhum. Eu sinto muito.
A boa notícia: Carricinha aparentemente não achava que os
colapsos emocionais eram broxantes. Isso deve servir bem a
ambos no futuro, porque ele era quem ele era.
A má notícia: quando ele verificou sua carteira uma última
vez, seu conteúdo não havia sido alterado.
— Eu também não tenho — ele disse a ela. — Droga.
— Podemos pedir ajuda à recepção, eu acho. — Sua testa
enrugou enquanto ela considerava a situação. — Ou tente
encontrar uma loja de conveniência próxima que ainda esteja
aberta.
Ambas as opções são válidas, mas havia pelo menos outra
possibilidade. Uma boa.
— Ou podemos fazer coisas que não exigem camisinha. —
Ele arqueou uma sobrancelha. — Coisas divertidas. Coisas
envolvendo aquela banheira na sacada e seus vários jatos.
— Oh. — Seus olhos ficaram grandes. — Eu nunca fiz...
coisas... assim antes.
— Você quer?
Suas pernas estavam pressionadas juntas enquanto ela se
mexia, e ele sabia sua resposta antes mesmo que ela falasse.
— Sim. — De bochechas rosadas, mas orgulhosa, ela ergueu
o queixo. — Eu quero.
— O que você quiser. Nada mais, nada menos — ele a
lembrou.
Ela inclinou a cabeça, solene.
— O mesmo vale para você.
Mulher tola. Como se ele não quisesse nada e tudo que ela
estivesse disposta a lhe dar.
Ele soltou um suspiro lento, oferecendo um aviso final.
— Vamos lá para fora, então você terá que ficar quieta.
Ela explodiu em uma gargalhada repentina, cobrindo o
rosto e fazendo aqueles pequenos sons fofos enquanto ele
olhava para ela em total confusão.
— Você está preocupado sobre eu ficar quieta? — Ela
levantou a cabeça, ainda sorrindo. — A menos que você esteja
dormindo, você está falando, Alex. Entre nós dois, quem você
acha que tem mais probabilidade de falar alto?
Ah, isso era um desafio, e ele estava mais do que feliz em
enfrentá-lo.
— Com o que eu pretendo fazer? — Ele passou o olhar para
cima e para baixo em seu corpo redondo e exuberante. — Você.
Toda a diversão persistente em sua expressão desapareceu.
— É assim?
— Sim — disse ele. — Isso mesmo.
Alcançando a bainha de sua camiseta, ele a tirou em um
movimento rápido, em seguida, empurrou seu jeans para baixo
e chutou para o lado. Os vizinhos podiam ouvi-los, mas
ninguém podia vê-los na varanda. Ele não tinha intenção de
usar calções de banho. Ou qualquer outra coisa, na verdade.
Seu rosto ficou rosado, mas ela não recuou. Ela deu a seu
corpo uma olhada vagarosamente, e a ereção de Alex esticou
contra o tecido de sua cueca boxer.
Ela se levantou e ficou de igual para igual com ele.
Em um piscar de olhos, sua camiseta BHE voou para o chão.
Por baixo, ela usava um sutiã fino de algodão branco, sem aro
aparente. Dado seus seios modestos, ela não precisava de mais.
Ele também não precisava de mais. Ela era o suficiente. Ela
era tudo, exatamente como ela era.
O tom mais escuro e as pontas pedregosas de seus mamilos
apareciam através do tecido.
— Frio? — ele perguntou. — Desconfortável?
Ela sorriu para ele lentamente.
— De jeito nenhum.
Suas leggings se agarravam às coxas fielmente, e ela as
descascou centímetro por centímetro, ou porque ela era
congenitamente lenta ou porque ela estava provocando-o.
Provavelmente o último.
Quando ela se levantou novamente, ele manteve os olhos
nos dela.
— Você não precisa ficar completamente nua, Carricinha.
— Eu quero. — disse ela e então seu sutiã estava no sofá, e
sua calcinha de algodão estava no chão, e ela estava ali
completamente nua quando ele engasgou com a própria língua
e começou a tossir.
Ela era a Vênus de Willendorf, só que com seios menores e
adoráveis.
Ela era descaradamente redonda em todos os outros lugares.
Sua barriga especialmente, mas seus braços e pernas também, e
sua bunda maravilhosa e flagrantemente grande. Ela era
composta de curvas. Ela era gloriosa.
E ela estava rindo dele. Ruidosamente.
Ela não se incomodou em esconder o rosto, e foi ainda
melhor do que sua risada habitual, porque ele conseguiu ver
sua alegria. Seu orgulho em sua reação.
Seu rubor se espalhou para os seios e, embora suas mãos se
contraíssem quando os olhos dele se aventuraram lá, ela não se
cobriu.
— Eu pensei… — Ele tossiu novamente, tentando recuperar
o fôlego roubado. — Achei que você fosse tímida, sua mulher
infernal.
Um movimento desdenhoso de seu pulso.
— Cautelosa não é a mesma coisa que tímida.
— Não. — Ele soltou uma risada. — Evidentemente não.
Seu tom era prático.
— Mesmo não tendo muita experiência sexual, não tenho
vergonha do meu corpo. Pode não ser convencionalmente
bonito, mas é forte. É meu. E é óbvio que você o quer — ela
dirigiu seu olhar para seu pênis desenfreado, ainda empurrando
inutilmente o material de sua cueca boxer — então qual seria o
ponto de se esconder?
— Eu amo seu corpo. — Ele não poderia colocar mais
claramente do que isso. — Sou obcecado para caralho por ele.
Seu pobre sitiado cérebro não conseguia determinar sua
visão favorita. Aquela bunda generosa, ou o tentador sopro de
cachos castanhos em cima de seu sexo, ou as curvas sutis de seus
seios, ou...
— Nesse caso… — Ela estendeu a mão, seus olhos quentes e
felizes. — Vamos ver quem faz mais barulho.
Ele levantou um dedo.
— Uma última coisa.
Tirando sua cueca boxer sem cerimônia, ele se endireitou
para sua leitura. Deu uma volta, etc., etc.
Sua ingestão áspera de ar era pura bajulação. Ele puxou os
ombros para trás e se envaideceu. E ela disse que não era tímida,
então ele deslizou a mão pela barriga e deu a seu pobre e
dolorido pênis o golpe firme que precisava.
Quando ela mordeu o lábio, ele sorriu.
— Agora estou pronto.
Ele entrelaçou os dedos com os dela, e juntos eles se
aventuraram até a sacada, removeram a tampa da banheira e
começaram a enchê-la de água. A noite se tornou convidativa e
fria, e ele a puxou contra ele enquanto esperavam, corpo nu
contra corpo nu finalmente, e passou as mãos pelas costas e
pelos braços flexíveis.
Era como abraçar o travesseiro mais macio, mais quente e
mais indutor de ereção de todos os tempos. Mas Jesus, ela era
tão baixinha. Os cachos entre suas coxas fizeram cócegas em
sua perna, e seus seios cutucaram contra sua barriga, e não havia
nenhuma maneira de eles fazerem sexo em pé.
No entanto, havia benefícios em sua falta de altura, como
ele descobriu quase imediatamente.
Quando ela falou, sua respiração flutuou sobre seu mamilo,
e ele estremeceu.
— Se eu te puxar para baixo para te beijar, você vai reclamar
do seu pescoço e costas?
— Sim — disse ele. — Me puxa mesmo assim.
Ele gentilmente se abaixou, e ao contrário de seu primeiro
beijo desesperado na noite anterior, este foi sem pressa. Um
beijo para cortejar seu prazer, em vez de reivindicar.
Seus lábios não eram especialmente carnudos, mas eram
muito sensíveis. Quando ele pegou o inferior entre os dele e
chupou levemente, ela balançou contra ele, suas coxas se
separando contra sua perna. Quando ele beliscou suavemente,
ela fez um som áspero em sua garganta e arqueou as costas
contra sua mão. Quando ele estalou a língua contra a costura
de sua boca, ela engasgou, e ele aproveitou.
Sua boca estava escorregadia e quente, sua própria língua
uma provocação deslizante, e ele deslizou as mãos para baixo –
e mais para baixo, porque puta merda, ela era uma maldita
mulher-camarão – em sua bunda. A pele ali era acetinada e
generosa, fria até que as palmas de suas mãos a aquecessem.
Em sua insistência silenciosa, a pressão de suas mãos, ela
estava quase escarranchada em sua perna, e lá – oh, lá, ela não
era nada legal. A porra do calor o queimou.
Ela afastou a boca, respirando com dificuldade.
— A banheira.
Oh. Ele tinha esquecido sobre isso, com toda a sua
preocupação Carricinha-está-nua-e-quente-e-me-beijando-
graças-a-Cristo.
A banheira estava mais da metade cheia e tinha um tamanho
confortável para três ou quatro pessoas. Perfeito. Com um
movimento de seu pulso, o jorro de água cessou, e a noite ficou
em silêncio. Ele entrou na banheira primeiro e segurou a mão
dela enquanto ela passava uma perna sobre a borda alta, depois
a outra. A água estava na temperatura perfeita, quente, mas não
escaldante.
Quando ele afundou, ele olhou para a colocação dos jatos e
sorriu.
Se ele não estava enganado, Carricinha olhou para eles
também, então desviou o olhar, sua cor quente.
Uma vez que eles estavam sentados, um puxão suave a
persuadiu a se sentar em seu colo, montando nele. E oh, foda-
se, sua boceta deslizou contra seu pau, e ambos gemeram, e ele
não conseguia respirar.
Mas se ela não gozasse primeiro, ele nunca se perdoaria.
Ele apertou as mãos em seus quadris.
— Apenas... fique quieta por um minuto. Por favor.
Quando ela assentiu, ele deslizou as mãos pelos lados dela.
Ele não iria apressar isso, não quando ele nunca havia tocado
seus seios antes. Nunca os segurou ou os beijou, ou...
Ele acariciou os nós dos dedos ao longo das curvas modestas.
Seus mamilos se contraíram mais apertados, e ele varreu a ponta
do polegar levemente sobre um bico. Ela estremeceu, seus olhos
fechados.
Ele se aninhou contra sua orelha.
— Olhe para mim — ele sussurrou, então lambeu o lóbulo
de sua orelha. — Assista-nos.
Sua garganta balançou em um golpe forte, mas ela fez isso.
Seus olhos lindos e atordoados com as pálpebras pesadas, ela
inclinou o queixo para baixo e viu como ele segurou seus seios,
sacudiu e arrancou seus mamilos duros até que ela estava se
contorcendo em seu colo – uma violação de seu acordo, da qual
ele reclamaria mais tarde, muito depois – e abaixou a cabeça
para esfregar a barba nas curvas pálidas dela.
— Alex — ela respirou, e ele tomou um daqueles picos
vermelhos e inchados em sua boca. Chupou até que ela deu um
grito fino e alto, pressionou firmemente contra seu pau, e
balançou.
— Este é outro dos meus enredos favoritos, Carricinha.—
Ele acariciou seu seio. — Foda ou morra. Aqui estamos,
diretamente no topo de San Andreas e, se você não gozar, um
terremoto vai acabar com todos nós.
Ele tomou seu mamilo cuidadosamente entre os dentes, e
seus quadris se sacudiram.
— Isso é... isso é um absurdo — ela conseguiu dizer.
— Apenas fazendo minha parte para salvar a humanidade
— ele disse contra sua pele úmida. — De nada.
Sua língua brincando com a ponta dura de seu mamilo, ele
deslizou a mão entre suas coxas e separou seus cachos. As
dobras macias e quentes de sua boceta estremeceram contra
seus dedos, e suas pernas tremeram quando ele circulou sua
entrada, circulou seu clitóris, sem nunca lhe dar o que ela
precisava para gozar.
O ângulo de seu pescoço era doloroso. Impossível segurar.
Então ele arrastou sua boca aberta sobre seu peito e até seu
pescoço, beliscando sua carne macia, e seu gemido vibrou
contra sua língua.
— Eu mal posso esperar para foder você — disse ele,
lambendo a curva sombreada abaixo de sua mandíbula, então
um ponto abaixo de sua orelha. — Mas esta noite, eu quero
fazer você gozar com meus dedos e com minha língua, porque,
Carricinha… — Ele finalmente acariciou seu clitóris com a
ponta do dedo, e ela choramingou na noite calma. — Eu sou
muito bom com a minha língua.
— Você tem que ser — De alguma forma, mesmo quando
suas pernas ficaram tensas e sua respiração engatada com cada
roçar de seu dedo sobre seu clitóris, ela estava rindo. Ambos
estavam. — Certamente a usa o suficiente.
— Você não tem ideia — ele disse a ela.
Ela apertou os dois dedos que ele deslizou dentro dela, e ele
explorou até que ela jogou a cabeça para trás e choramingou
novamente.
Lá. Quando ele a atacasse mais tarde, ele se lembraria
daquele lugar.
De volta ao seu pequeno clitóris inchado. Um círculo
apertado e leve. Outro. Outro.
— Você é tão receptiva. — Ele chupou seu pescoço, usando
os dentes, e acariciou seu mamilo com a mão livre. — Cristo,
você vai se sentir bem no meu pau, Carricinha.
Ela gozou gritando, suas costas arqueadas, suas coxas
tremendo e apertadas ao redor de seus quadris, sua boceta
pulsando contra seus dedos a acariciando. Ele deslizou o
polegar para dentro para sentir, para sentir o que ele tinha feito
com ela, e ela apertou com força a cada espasmo.
Ela ainda estava apertando, ainda gozando, quando ela
agarrou seu pênis em uma mão pequena e forte e acariciou para
cima e para baixo, e seu cérebro entrou em curto. Ele via tudo
branco, só sentia sua respiração quente em seu mamilo, a
umidade de sua boca enquanto ela chupava, o puxão de seu
punho em seu cabelo, apenas o fodendo com seu aperto até que
a crescente necessidade de semanas e meses explodisse em
orgasmo…
Ele rugiu, resistindo e perdeu, despejando tudo o que tinha,
tudo o que era, na maciez da mão dela, na água e na sua barriga
redonda.
E assim que ele pôde ver de novo, assim que ele pôde sentir
qualquer coisa além da mão dela em seu pau se contorcendo,
ele bateu a palma da mão nos controles do jato, e eles ganharam
vida. Seu peito arfando, seus pulmões queimando por ar, ele
virou Carricinha em seu colo para enfrentar aqueles jatos e
abriu as pernas dela com as dele.
Ela se contorceu com a estimulação repentina, e ele a
segurou ainda apertada contra seu peito molhado, uma mão em
seu seio, a outra deslizando entre suas pernas novamente.
Sua voz estava rasgada, uma provocação áspera e baixa.
— Achei que você ia ficar quieta.
— Eu fui mais silenciosa do que você — ela ofegou.
Os jatos poderiam cuidar de seu clitóris. Ele queria dentro.
Quando ele afundou dois dedos em sua boceta, então três,
ela abriu mais as pernas e gemeu alto o suficiente para acordar
seus vizinhos, e ele não deu a mínima.
— Talvez — disse ele —, mas ainda não terminei.
Ele esfregou no lugar certo e, depois disso, a discussão foi
vencida. Pelo menos, até que eles caíram juntos na cama e ela
colocou sua boca nele.
Uma vez que ele chupou seu clitóris até que ela gritou, suada
e trêmula, ela ofereceu um empate.
Ele empatou. E então a tomou novamente.
25
— Três pessoas, Carricinha — Alex lembrou a ela pela
enésima vez enquanto eles se agachavam e vasculhavam
punhados de areia e vidro marinho. — Três pessoas diferentes
ligaram para a recepção, preocupadas com uma mulher que
parecia estar com uma dor terrível. Ninguém ligou por causa
de um homem. Nem uma pessoa.
Ele havia superado a presunção em algum lugar ao redor de
Mendocino, onde eles pararam para almoçar, e agora se
aproximava com total regozijo.
E que Deus a ajude, ele mereceu essa insuportável
autossatisfação. Cada pedacinho.
Falar sem parar aparentemente fez sua língua ficar ágil ao
longo dos anos. Muito, muito ágil. Como ele demonstrou mais
uma vez antes de saírem naquela manhã.
— Ninguém mencionou um homem, é verdade. — Um
lindo círculo verde surgiu da areia, ao lado de um retângulo azul
nublado. Ela transferiu ambos para o bolso traseiro da calça
jeans de Alex por segurança, então deu um tapinha na bunda
dele para garantir. — Mas você continua omitindo as quatro
pessoas que relataram coiotes agitados na área durante a noite.
Sem mencionar o hóspede do hotel que insistiu que um leão
havia escapado de um zoológico próximo.
O membro da equipe que mantinha o buffet de café-da-
manhã provou ser muito tagarela naquela manhã. O rosto tão
expressivo de Lauren quase queimou de vergonha, e ela teve
que fingir grande interesse na escolha do bagel para que o
funcionário inocente não desvendasse o Mistério da Mulher
Ferida.
— Oh, nossa. — Alex franziu a testa, testa franzida em falsa
solenidade. — Alguém notou o que era mais alto, a mulher ou
o agitado–
Quando Lauren deu uma cotovelada em seu lado, ele gritou
e parou de provocá-la. Até eles saírem e voltarem para o carro,
pelo menos. Depois disso, a única coisa que parou sua conversa
incessante foi a língua dela em sua boca, e ela, portanto, usava
essa língua sempre que eles paravam no trânsito ou
estacionavam ao lado de uma vista panorâmica.
Em algum momento, ela percebeu que ele a estava
treinando, como se ela fosse uma foca batendo palmas para
peixes. Se ela queria silêncio, ela tinha que falar com ele.
Era totalmente ridículo e totalmente Alex, e ela deveria estar
indignada.
Ela estaria, a qualquer momento. Assim que a memória de
sua língua deslizando contra a dela parasse de enviar ondas de
calor entre suas pernas.
O Vidro do mar realmente não deveria excitá-la assim.
— Eu não tenho ideia do que você quer dizer. Não me
lembro de ter ouvido nada sobre coiotes ou leões — disse Alex,
sem tentar parecer sincero. Ele se endireitou e se espreguiçou,
ambas as mãos pressionadas no gracioso arco de sua coluna. —
Merda, estou dolorido hoje. É isso que as crianças chamam de
travar as costas de alguém?
O céu estava nublado naquela manhã, e um vento
tempestuoso varreu seu cabelo para trás de seu rosto e
espalmou suas roupas contra seu corpo duro e afiado. Ele sorriu
para ela, bochechas barbudas enrugadas de felicidade, olhos
cinza brilhantes, e estendeu a mão para mais de suas lembranças
de vidro marinho.
Muito impressionada com ele para falar – embora ela
nunca, jamais admitisse isso –, ela passou por cima de um
quadrado arredondado âmbar.
Ele era magnífico. Inacreditavelmente lindo.
E não demoraria muito, ele seria dela. Em cima dela. Dentro
dela.
Imediatamente após o check-out naquela manhã, eles foram
até a farmácia mais próxima e compraram uma boa parte do
corredor de camisinhas. Entre aquela ida até a farmácia e todas
as paradas relacionadas aos beijos, a viagem do dia havia
demorado mais do que o planejado, mas eles finalmente
chegaram ao seu destino, a área de Benbow. O casamento de
sua ex entre as sequoias era amanhã, e a recepção seria no
mesmo hotel onde eles estavam hospedados naquela noite.
Esta parte da viagem estava quase terminada, e a decisão dela
de encurtar o tempo na estrada agora parecia tola. Mais do que
tolo. Quase trágico.
A rota naquele dia tinha sido espetacular. Depois de ir um
pouco para o interior, a PCH os retornou à costa linda e
acidentada. Muito abaixo dos penhascos afiados, as ondas
bateram na costa rochosa enquanto Alex dirigia e dirigia um
pouco mais. E nesse trecho muito especial de praia – Glass
Beach, perto de Fort Bragg – aquela agitação incessante havia
transformado anos de lixo jogado em... magia. Areia espalhada
com um arco-íris de vidro do mar.
Ela tinha raramente visto algo mais lindo.
Por quantos outros lugares mágicos eles passaram correndo
à pressa, tudo porque ela não queria ir no sábado? Eles
poderiam ter passado mais três noites nos braços um do outro.
Mais três dias brigando, beijando e explorando.
Mais três dias de diversão.
Quando foi a última vez que ela simplesmente se divertiu?
Quando ela voltou a ficar de pé, ele entrelaçou os dedos, seu
sorriso desaparecendo.
— Você parece... — Ele franziu a testa. — Não sei. Algo está
errado?
— Eu estava pensando em como me diverti com você. —
Ficando na ponta dos pés, ela deu um beijo na pele nua em seu
pescoço, acima de sua camiseta. Ele estava quente lá. Salgado.
— Obrigada por sugerir uma viagem juntos.
Aquele olhar cinza se aguçou nela, e as mãos dele se
enredaram em seu cabelo, mantendo a cabeça dela inclinada
para trás para ver seu rosto.
— Vamos prolongar a viagem. — As palavras foram
abruptas. Intenso. — Depois do casamento, vamos continuar.
Eu sempre quis dirigir pelo país, e nenhum de nós está
trabalhando agora. Poderíamos esticar por três ou quatro
meses, facilmente.
Ah, isso era tentador. Muito, muito tentador.
Mas a situação financeira dele não era a dela, infelizmente.
— Alex, a produção não está mais cobrindo meu aluguel.
Não posso me dar ao luxo de tirar uma folga indefinida.
Ele abriu a boca, e ela levantou a mão.
— Se você me oferecer dinheiro, eu vou dar meia-volta e
entrar naquele carro e pedir um quarto separado esta noite. Se
estou dormindo com você, você não vai me pagar.
Ele fez bico, e não deveria ser atraente. Não era.
Ok, era, mas ela estava resistindo ao seu fascínio de beicinho.
— Você valeria o dinheiro. — Ele balançou as sobrancelhas.
— Só estou dizendo.
Ela colocou os punhos nos quadris e fez uma careta para ele.
— Mais uma vez, por favor, deixe-me lembrá-lo de que isso
não é – repito, não é – Uma Linda Mulher.
— Ok. — Ele olhou para ela, ainda amuado, mas não
discutiu. — Quando você precisa começar a trabalhar de novo?
— Prefiro não esgotar minhas economias, então... — Seu
suspiro foi tão profundo que doeu no peito, e ela esfregou a
mão no esterno. — Seis semanas depois de voltarmos, talvez? E
não importa qual trabalho eu escolha, precisarei de tempo para
me preparar.
Soltando seu próprio suspiro, ele estendeu a mão e a dobrou
em seus braços, abraçando-a perto.
— Você é a pior, Carricinha. Absolutamente a pior. Sorte
que você é tão fofa.
Literalmente, ninguém em sua vida a havia chamado de
fofa. Ninguém.
E agora seu peito estava doendo ainda mais. Droga.
— Conte-me sobre suas opções de trabalho. — Ele estava se
curvando novamente, apesar de suas pobres costas, seus lábios
contra o cabelo dela. — Conhecendo você, tenho certeza de
que todas são miseráveis.
Bem, ele não estava totalmente errado. Mas ele também não
estava totalmente certo.
— Eu poderia participar da prática em grupo de uma amiga
da universidade. — Sua palma estava deslizando suavemente
para cima e para baixo em suas costas, e ela encostou a testa no
peito dele. — Eu gosto dela, mas tenho dúvidas sobre alguns
dos outros terapeutas do grupo.
Por insistência de sua amiga, Lauren conheceu seus
potenciais colegas de trabalho logo depois de deixar o pronto-
socorro. Apenas para descobrir que dois dos caras, ambos
terapeutas psicanalíticos mais jovens, eram condescendentes
como o inferno e compartilhavam informações demais sobre
seus clientes com um quase estranho.
Mais tarde naquela noite, ela e Sionna tinham cunhado o
termo terapia, e se encaixava muito bem com os homens.
— Dito isso, não sei quanto contato eu teria com eles
diariamente. — Ela levantou um ombro. — Meu trabalho lá
seria diferente do que estou acostumada. As pessoas que eu
veria precisariam de ajuda, obviamente, mas normalmente não
chegariam no meio de uma crise aguda e com risco de vida. E
eu me reunia com os clientes ao longo de meses ou anos, em vez
de avaliá-los uma vez e enviá-los para outro lugar.
Essa parte das coisas a atraía. A capacidade de ajudar um
cliente durante um período de tempo, de ver qualquer
progresso feito... parecia gratificante, pelo menos em teoria.
Ele segurou a nuca dela, massageando os músculos tensos
ali, e ela se dissolveu nele.
— Ok. Então, quais são suas outras opções?
— Há apenas uma outra escolha, na verdade. — Ela
esfregou sua bochecha contra sua camiseta. — Eu poderia
voltar para o pronto-socorro.
O corpo de Alex ficou tenso, transformando-se em pedra
contra o dela, e ele se endireitou abruptamente.
— Por que–
Ele gaguejou por alguns segundos, então encontrou as
palavras. As palavras furiosas, furiosas.
— Por que diabos você voltaria a trabalhar lá, Carricinha?
— Sua voz estava alta com indignação. — Aquele maldito lugar
acabou com você. Pior, aquele maldito lugar partiu seu maldito
coração. E não se preocupe em negar, porque isso seria uma
mentira, e você não mente para mim.
Ela não mentia mesmo. Nem quando ela provavelmente
deveria.
Seria extremamente conveniente mentir para ele agora, por
exemplo, e dizer a ele como ela ficaria animada para voltar ao
hospital.
Por décadas, ela se certificou de que ninguém, exceto
Sionna, se preocupasse com ela, nem mesmo seus pais. Quase
desde o início, porém, Alex se recusou a ser enganado.
Recusou-se a ser apaziguado. Recusou-se a aceitar qualquer
coisa além do que ela – aos olhos dele – merecia, dos outros e
dela mesma.
Sua raiva por ela era um conforto, mas também um fardo.
Por causa disso, ela agora precisava defender seus processos de
pensamento para ele e ela mesma, quando ela nunca teve que se
preocupar antes, e era... desconfortável.
— Estou muito melhor agora, eu acho. — A verdade,
embora essa não fosse sua principal razão para considerar um
retorno. — E eu sinto que…
Como ela poderia explicar isso de uma forma que ele
aceitaria?
Ainda procurando as palavras, ela tentou novamente.
— Sinto que, se sou física e emocionalmente capaz, devo ir
onde puder fazer o melhor. Onde quer que minhas habilidades
particulares sejam mais urgentemente necessárias. E esse seria o
pronto-socorro.
— Mesmo que trabalhar lá te faça infeliz. — Seu tom era
duro. Inexorável. — Mesmo que isso te machuque.
Certamente ela poderia apresentar uma refutação a essa
afirmação.
Ela iria, a qualquer momento.
— Mas você voltaria de qualquer jeito. — Ele estava quase
vibrando de emoção, seu enorme coração batendo contra sua
bochecha. — Porque como você se sente não é importante.
Porque você não é importante.
Ela empurrou a cabeça para trás para encará-lo.
— Isso não é verdade!
Foi uma negação automática e raivosa. E se alguma pequena
parte de seu cérebro arquivasse suas palavras, guardando-as
para contemplação futura, ele não precisava saber.
— Eu não acho que não sou importante. Eu só... eu só quero
fazer a coisa certa. O mesmo que você, Alex. — Suas mãos se
fecharam contra suas costas, suas unhas curtas ardendo em suas
palmas. — Por favor, tente entender.
— Ah, eu entendo, Carricinha. — Sua mandíbula era uma
saliência de pedra. — Acredite em mim.
Hora de mudar de assunto. Rápido.
Por sorte, Alex raramente resistia a falar de si mesmo.
— Você disse que queria pensar em suas próprias opções de
trabalho nesta viagem. Você chegou a alguma conclusão?
A dupla de vincos profundos e verticais entre as
sobrancelhas não suavizava.
— Eu sei o que você está fazendo. — Ele deu um aperto no
pescoço dela. — Não ache que eu não percebo.
Ela ergueu as próprias sobrancelhas.
— É uma pergunta genuína.
Felizmente, perguntas genuínas e tentativas de distração não
eram mutuamente exclusivas.
— Ok. Mas nossa conversa sobre suas escolhas de trabalho
ainda não acabou. Em nosso caminho de volta pela costa, se
prepare para algumas perguntas duras, Carricinha. — Seus
lábios se curvaram. — Entre outros itens duros que você pode
encontrar.
Ela esperou.
— Especificamente, meu pênis — ele esclareceu.
E lá estava.
Mesmo sabendo o que ele diria não a impediu de rir.
— Deve ter matado você morder seus duplos sentidos todos
esses meses.
Seu sorriso brilhante e radiante de sempre retornou, e os
ombros dela relaxaram.
— Isso não foi um duplo sentido. Uma vez que você usa a
palavra pênis, tenho certeza de que você alcançou o território
de um único sentido. — Sua risada era um estrondo profundo,
sacudindo-a. — De qualquer forma, sim, você não tem ideia de
como foi duro.
Antes que ela pudesse responder, ele levantou um dedo
altivo.
— E isso, minha querida Carricinha, é um duplo sentido.
Ela riu junto com ele, e eles estavam de acordo mais uma vez.
— Ainda não sei o que vai acontecer a seguir no que diz
respeito ao trabalho. — As pontas dos dedos dele deslizaram
lentamente para cima e para baixo em sua espinha, e ela
respirou fundo com o contato provocador. — Meu agente
estará no casamento, já que ele representa minha ex também.
Vou me encontrar com ele amanhã de manhã, e provavelmente
vamos analisar nossas opções então. A última vez que ouvi,
havia alguns projetos futuros que ainda não tinham me
demitido. Então, novamente, bloqueei o número dele há
alguns dias e não verifiquei meus e-mails, então…
Ele deu de ombros, e ela olhou para ele incrédula.
— Você bloqueou o número dele — ela disse lentamente.
— O número do seu agente. Em um momento em que sua
carreira possivelmente está implodindo.
— Eu te disse. Eu precisava de tempo para pensar. — Seus
dentes afundaram em seu lábio inferior, e ela não conseguia
desviar os olhos. — Mesmo que alguém me escalasse, não sei se
quero fazer outra série de grande orçamento. Agora ou em
algum momento. Não depois da minha experiência com Gates.
Que outras opções ele tinha?
— E os filmes?
Ele levantou um ombro novamente.
— Talvez? Não sei. Eu amo estar na câmera, e eu sentiria
falta do coleguismo de trabalhar com um elenco e equipe, mas
eu não poderia lidar com uma repetição da situação de Bruno
Keene. E, novamente, isso supondo que alguém me
contrataria.
Não se sinta culpada, ordenou a si mesma. Ele lhe disse para
não se sentir culpada.
Ela tamborilou os dedos nas costas dele, pensando.
— Você já pensou em dirigir ou produzir algo você mesmo?
— Não. — Ele balançou sua cabeça. — Excesso de
responsabilidade organizacional. Meu pobre cérebro
explodiria. Dito isto, é provavelmente o que Marcus fará.
Talvez eu possa implorar a ele para me escalar. — Seu sorriso
iluminou a tarde nublada. — Pelo menos ele vai saber o que
esperar, certo?
Se Marcus não soubesse até agora, ele nunca saberia. Alex
enviava para seu melhor amigo um milhão de mensagens de
reclamação por dia, todas em letras maiúsculas e ridículas.
— Novo assunto — Alex anunciou decisivamente,
manobrando-os para que ambos pudessem assistir à onda sem
fim das ondas suaves e recuar ao longo da praia. — Eu amo o
oceano. E eu amo universos alternativos místicos então talvez
devêssemos atuar nesse enredo algum dia. O que você acha,
Carricinha? Você será a pescadora, e eu serei o homem-foca nu
lambendo sua praia pessoal?
Ela teve que rir, mesmo quando uma onda de luxúria
enfraqueceu seus joelhos.
Ninguém mais estava à vista, então ela empregou seu único
meio seguro de calar Alex: sua língua em sua boca, seus dedos
em punhos no cabelo em sua nuca.
Quando ela quebrou o beijo, ambos estavam ofegantes. E
quando ele a prendeu com seu olhar franco e quente, ela
deliberadamente lambeu os lábios, deixando-os obscenamente
molhados.
— Você é a pior — ele disse a ela novamente, áspero e baixo,
e ela não discutiu.
Ela apenas riu novamente.
26
— Se você não gosta da ideia de selkie, podemos fingir que
sou um lobisomem. — Alex sorriu para Lauren do outro lado
da mesa. — Claramente, eu sou muito talentoso em fazer
barulhos de animais.
Quando devidamente inspirado, de qualquer maneira. Ou
melhor, indevidamente inspirado.
Se Alex já não tivesse concordado em comparecer ao
casamento de Stacia, ele não teria deixado Lauren sair daquela
cama em Olema por dias, porque puta merda, ela era uma
maldita deusa. Uma Vênus improvavelmente baixinha,
madura, redonda e responsiva e, felizmente, muito menos
propensa a esbofeteá-lo do que sua mãe na tela.
Huh. Isso foi uma ideia.
Ele tirou o telefone do bolso interno do paletó e digitou
uma adição à sua lista cada vez maior de ENREDOS
SAFADOS DE FIC PARA FAZER COM CARRICINHA:
Deus antigo se apaixona por humano. De preferência algum tipo
de deus do sexo.
— Pelo contrário. — Enquanto ele guardava o telefone, ela
apontou para ele com o garfo do outro lado da mesa. — As
pessoas não tinham certeza se você era um coiote ou um leão,
então eu diria que suas habilidades estão em falta.
Um pequeno sorriso de auto satisfação curvando sua boca
larga, ela terminou a última mordida de seu bolo de mousse de
mirtilo.
Eles dirigiram pelas florestas naquela tarde para chegar ao
resort de luxo, que se aninhava entre as sequoias e ao lado um
rio encantador, e chegou com bastante tempo para jantar no
elegante restaurante do local.
A iluminação era fraca e romântica, as toalhas de mesa
imaculadas, os assentos de tamanho generoso e estofados de
veludo. O esquema de cores verde-floresta e azul-marinho
destacava seus olhos extraordinários, e ele não conseguia parar
de olhar para ela.
Ele se inclinou para frente, cotovelos sobre a mesa, e
apreciou como a luz das velas dourava a curva suave de sua
mandíbula.
— Você não reclamou das minhas habilidades na noite
passada.
Suas bochechas ficaram rosadas, e ela olhou ao redor do
cômodo.
Até onde ele sabia, não havia câmeras apontadas na direção
deles, e ele não reconheceu nenhum dos outros clientes.
Mesmo que uma dúzia de telefones celulares tivessem sido
apontados para eles, porém, empunhados por um pelotão de
produtores, ele não teria se importado.
Que cem pessoas verem o quanto ele a queria e a adorava.
Um milhão.
— Alex. — Apesar daquele tom de repreensão familiar, ela
emaranhou seus pés juntos debaixo da mesa. — Juro, você tem
a maior boca que eu já conheci.
Ele abriu aquela boca grande.
Ela ergueu a mão.
— E antes que você diga, eu vou: também é a boca mais
habilidosa que eu já encontrei. De longe.
A voz dela estava rouca e quente, e seu pé descalço – quando
ela havia tirado os saltos? – acariciou a bainha de sua calça, e ele
quase desmaiou com a onda de sangue evacuando seu cérebro
para partes mais ao sul.
Ele sugou uma lufada de ar muito rarefeito.
— Espere outro encontro esta noite. Em breve.
Ele empurrou seus próprios pés no espaço entre os dela,
enganchando seus tornozelos com os dele. Então ele alargou os
tornozelos lentamente. Bem devagar. E embora ele não pudesse
ver seus joelhos se separarem e ela com as coxas abertas pela
maldita toalha de mesa, ele podia traçar o rubor descendo por
seu pescoço e sobre a pálida extensão de carne exposta pelo
decote redondo e baixo do vestido de verão. Ele podia ver seus
lábios se separarem, e sua língua sair para molhar aquela boca
larga.
O que era, para ser justo, também bastante talentoso. Ele
planejava dizer isso a ela. Detalhadamente. Em particular.
Ele realmente deveria ter insistido em sentar ao lado dela, em
vez de do outro lado da mesa. Aquela toalha de mesa grossa e
opaca poderia ter sido uma benção, e não um obstáculo. Uma
barreira entre olhares indiscretos e onde exatamente sua mão
teria ido.
— Alex… — A palavra era um fio de som, cauteloso e
corajoso. — Na primeira vez, eu só quero que sejamos nós.
Você e eu, sem atuar. Mas... eu li algumas de suas fics salvas, e
talvez, na nossa segunda ou terceira vez, você possa, uh...
— Eu poderia o quê?
Um homem mais paciente teria esperado em vez de induzi-
la, mas um homem mais paciente teria ficado sozinho em seu
minicastelo de Los Angeles, esperando Carricinha entrar em
contato com ele, em vez de ter ido em uma viagem e dividido a
cama com ela, então foda-se a paciência, realmente.
Sua boca trabalhou, e então ela se obrigou a dizer isso.
— Talvez... você poderia ser um deus? Ou um semideus,
como Cupido? E eu seria sua mortal indefesa? Até eu virar a
mesa e assumir o controle?
Suas sobrancelhas voaram para cima quando seu cérebro
entrou em curto-circuito mais uma vez.
Assim que ele conseguiu juntar duas sinapses, ele levantou a
mão, gesticulando para o garçom mais próximo para a conta,
porque eles claramente terminaram o jantar e estavam na
próxima parte da noite juntos, e graças a Deus por isso.
Enquanto ela observava a reação dele, sua cautela se
transformou em presunção e um sorriso largo e perverso.
O sorriso ficava muito bom nela.
— Carricinha — ele disse, e ele quis dizer isso com cada
átomo em seu coração imprudente e necessitado —, você pode
ser a pior, mas você também absolutamente é a melhor.

Lauren não era virgem, e como ela disse a ele na noite anterior,
ela não era particularmente tímida. Apenas cautelosa.
Mas isso significava algo para ela. Ele significava algo para
ela.
Para ser honesta, ele significava tudo para ela, e ela não
queria decepcioná-lo. Mesmo que ela soubesse – ela sabia –
que se ela falasse dessa preocupação em voz alta, ele a olharia
com absoluta perplexidade, porque ele parecia pensar que ela
era...
Bem, a pior, obviamente. Mas perfeita também.
Talvez isso parecesse uma contradição, mas não era. Alex
gostava de atrito. Ele adorava discutir. Quebrar barreiras o
divertia. Então, se ela era uma parede, como ele acusou uma
vez, ele gostava de pular contra ela e testar sua força.
E ele definitivamente adorou derrubá-la. Seus sons de coiote
eram prova suficiente disso.
A porta do banheiro se abriu e ele saiu com os pés longos e
descalços.
Seu paletó desapareceu em algum momento. Ele agora usava
apenas calças escuras e justas e uma camisa branca de botão.
Suas mangas estavam enroladas até os cotovelos, expondo
aqueles antebraços grossos e fortes, e um V de carne dourada
espreitava de sua garganta, onde ele havia desabotoado dois
botões.
Ele jogou uma caixa de preservativos na mesa de cabeceira e
caminhou em direção à cama.
Essa ronda graciosa e determinada era para ela, por ela. A cor
intensa em suas maçãs do rosto perfeitas e o calor incinerador
em seu olhar eram por causa dela.
Assim como a ereção empurrando insistentemente contra a
frente daqueles calças obscenamente lisonjeiras, e a visão disso
poderia muito bem ter sido um dedo em seu clitóris.
Sua respiração engatou, e então ele estava lá. Diretamente na
frente dela.
— Preciso da sua boca, Carricinha — ele murmurou. —
Preciso de você.
Curvando-se, ele segurou seu rosto e enrolou os dedos em
seu cabelo e puxou sua boca para a dele em uma demanda
aberta e sem remorso, e aquele desejo nu a seduziu mais
completamente do que a contenção jamais poderia.
Sua língua não provocou desta vez. Ela se estabeleceu dentro
de sua boca e tomou posse.
Ela estava se movendo de alguma forma, eles estavam se
movendo, e ela estava muito tonta para entender como isso
aconteceu, mas ele estava sentado no colchão agora enquanto
ela estava entre suas pernas. A cama não era muito alta, e seus
rostos eram quase da mesma altura. Mas os braços dele eram
muito mais longos que os dela, então ele podia facilmente
alcançar a bainha do vestido dela.
Sim. Sem mais roupas entre eles.
Ela rasgou sua boca livre.
— Você pode tirá-lo.
— Eu vou. — ele disse a ela.
Sua boca estava aberta e quente contra sua garganta, ele não
tirou seu vestido. Em vez disso, ele abaixou sua calcinha e
infalivelmente acariciou seu clitóris. Novamente. Novamente.
— Já está tão molhada para mim. — Ele chupou ao longo
de sua clavícula. — Você aguenta dois dedos, Carricinha?
Posso te foder com eles?
Suas pernas tremiam, e ela agarrou seus ombros duros, os
músculos se movendo sob suas mãos enquanto ele circulava sua
fenda, espalhando sua maciez por toda sua boceta.
Antes mesmo que ela terminasse de dizer sim, por favor, os
dedos dele estavam dentro dela, esfregando e torcendo, os nós
dos dedos batendo em algum lugar que ela...
Ah, Deus.
O polegar dele pressionou seu clitóris com força, e ela gemeu
e balançou. Ele a segurou com um braço inflexível ao longo de
suas costas, lambendo um ponto sob sua mandíbula que a fez
ofegar.
Ela estava sem palavras, mas Alex tinha o suficiente para
ambos, murmúrios tão quentes quanto o sol de julho, ásperos
como pedregulhos quebrando ondas na praia.
— Eu queria fazer isso no jantar. — Seu polegar acariciou
seu clitóris, circulou-o, pressionou novamente. — Eu queria
colocar minha mão em sua saia e te foder com meu dedo sob a
toalha de mesa e fazer você gritar e ficar à vista de todos naquele
maldito restaurante, impotente para se conter.
Ela sabia que ele nunca faria nada que ela não quisesse,
mas...
O corpo dela resistiu à imagem que ele pintou, e ela
empurrou freneticamente contra a mão dele, espetando-se com
aqueles dedos ágeis e torcidos, empurrando o polegar com mais
força contra o clitóris, precisando apenas um pouco...
A mão dele escorregou por baixo da saia dela, e ela estava
vazia e tremendo em um quase orgasmo, fraca demais para fazer
qualquer coisa além de cair na cama quando ele se levantou e a
empurrou para o colchão.
— Não — ela gemeu, e nem se envergonhou. — Eu estava
tão perto.
— Eu sei. — Ele não soou arrependido. — Mais acima na
cama.
Era uma ordem, e ela obedeceu automaticamente, subindo
mais alto enquanto ele puxava sua calcinha para baixo e a jogava
do outro lado do quarto.
Em um movimento fluido, ele levantou a saia até a cintura.
Suas palmas quentes e duras empurraram seus joelhos para
cima e abriram suas coxas, e ele mergulhou entre elas.
Ele estava transando com ela com os dedos novamente,
esfregando insistentemente contra o que deve ser seu ponto G,
porque, puta merda, mas ela não conseguia nem se concentrar
nisso, porque sua língua. Sua língua.
Ela agarrou seu cabelo. Agarrou seus ombros. Abriu as
pernas o máximo que pode.
Ontem à noite, ele aprendeu o que ela gostava, e ele usou
todo esse conhecimento para quebrá-la. Sua língua rodou ao
redor e sobre seu clitóris, e então ele chupou e girou, mesmo
enquanto seus dedos giravam e esfregavam impiedosamente,
e...
— Alex, eu vou… — Sua cabeça sacudiu freneticamente. —
Alex.
Ela gozou com um grito alto, arqueando-se e esfregando-se
contra seu rosto, contra sua língua, contra seus dedos, tomando
o que ela precisava dele. Seu corpo se desintegrou, tremeu, os
espasmos tão fortes que quase doíam.
— Bom — disse ele, beijando a parte interna da coxa dela.
— Mais uma vez, e então você vai gozar no meu pau.
Dessa vez, ele jogou as coxas dela sobre os ombros e a fodeu
com a língua antes de voltar toda a atenção para seu clitóris,
suas pernas sacudindo com cada movimento, cada sucção.
Demorou mais do que o primeiro orgasmo, mas quando ela
gozou, ela estava gemendo e puxando seu cabelo, pressionando
seu rosto em sua boceta em espasmos.
Uma vez que ela desmoronou no colchão, ele enxugou a
boca e a barba com as costas da mão e se ajoelhou entre as
pernas inertes e abertas dela, seu olhar quente com luxúria e
autossatisfação.
Caralho. Ele ainda estava completamente vestido.
Aliás, se ela abaixasse a saia, ela também estaria. Mas fazer
isso exigiria energia que ela não possuía atualmente, e já que ele
tinha acabado de ter todo aquele rosto bonito enterrado em sua
boceta, cobrir-se parecia um tanto inútil.
Ele acariciou uma palma possessiva até a coxa.
— Ainda quer mais?
Ela estava suada e exausta, mas queria o pau dele dentro dela.
O mesmo que esticava na frente daquelas calças extravagantes,
o que ela tinha esticando sua boca na noite passada.
Era tão duro e quente e perfeito como ele era.
Mais cedo, ela o imaginou acima dela pela primeira vez. Mas
isso foi antes de ele a desmontar duas vezes no espaço de meia
hora, e ela pretendia retribuir o favor.
— Eu quero ficar por cima. — Ela se levantou em um
cotovelo trêmulo. — Se estiver tudo bem para você.
Ele sorriu maliciosamente, dando-se um golpe firme através
de suas calças.
— Se você quiser montar no meu pau, tenha certeza,
Carricinha: você nunca precisa perguntar.
Sua presunção cessaria uma vez que estivesse dentro dela.
Isso foi uma promessa.
— Tire suas roupas, então. — Suas habilidades motoras
finas não eram as melhores agora, então ela apenas acenou com
a cabeça na direção da mesa de cabeceira. — E coloque um
desses preservativos.
Ele se despiu devagar, provocativamente, um botão de cada
vez, seu olhar de pálpebras pesadas em seu corpo.
Como ela já tinha gozado duas vezes, ela precisaria de ajuda
para chegar lá novamente, e ele parecia estar totalmente calmo
demais. Levantando o joelho esquerdo e deslizando a perna
direita para o lado, ela alcançou o monte de sua barriga e
acariciou-se com dois dedos.
Ela conhecia seu corpo, que ritmo e pressão funcionavam
para ela. Dentro de um minuto, ela estava um pouco ofegante,
balançando contra seus próprios dedos.
Em resposta, ele puxou a camisa sobre a cabeça antes que
estivesse totalmente desabotoada, seu peito arfando, e bateu em
si mesmo com a ponta de seu cinto quando o abriu rápido
demais.
— Porra — ele gemeu, esfregando o ponto avermelhado em
seu ombro, mas ele não desviou o olhar de seus dedos entre as
pernas, e ele não parou de desabotoar as calças com a outra
mão. — Isso foi culpa sua, Carricinha. Você e esses dedos
imundos, sujos e incríveis em seu clitóris.
Ela deu de ombros, impiedosa.
— Isso é o que você ganha por me provocar.
Ele puxou para baixo as calças e cueca boxer em um
movimento, e ela parou de se tocar para vê-lo chutar as roupas.
Ela o tinha visto nu ontem, mas ela ainda não conseguia
superar isso. Aquelas faixas brilhantes de pele dourada. Aquele
corpo esguio pontuado por seus ombros largos e musculosos e
bunda redonda e firme. Aquele pau grosso, vermelho e se
contorcendo contra sua barriga lisa enquanto ele alisava uma
camisinha sobre ele.
Com um salto ágil, ele estava na cama, rastejando em direção
a ela. Então ele a pressionou no colchão, seu corpo pesado e
quente em cima dela, sua língua escorregadia e deslizando
contra a dela.
Ele não tinha mais gosto de menta. Ele tinha o gosto dela.
Suas palmas deslizaram ao longo de seus quadris, sobre sua
barriga, até que ele estava segurando seus seios, beliscando seus
mamilos levemente. Ele inclinou a cabeça e tomou um em sua
boca, sacudindo a língua até que ela estava ofegante e dolorida
novamente. Suas mãos vagantes seguraram sua bunda e
apertaram, e ela se contorceu contra ele.
Chega de preliminares. Ela o queria dentro dela.
Com a menor pressão de sua mão, ele rolou de cima dela e
se esparramou de costas. Ela montou seus quadris, e ele segurou
seu pênis pronto.
Ele era muito grosso para simplesmente deslizar para baixo
de vez, então ela afundou dois centímetros de cada vez, seu pau
esticando-a amplamente.
Seus dedos estavam duros em seus quadris, e ele pressionou
a cabeça no travesseiro, corado, sua mandíbula saliente com
tensão. Mas ele não empurrou para cima, e ele não tentou
controlar seu ritmo. Ele ofegou em vez disso, em um som
áspero porra, puta merda, Carricinha, porra, enquanto ela o
tomava.
Então ele estava totalmente dentro dela, tão profundo que
ela teve que balançar os quadris um pouco, só para saber como
seria, e –oh. Oh, sim.
Ele ronronou um daqueles sinuosos ahhhhhhhh e alcançou
seus seios, acariciando-os, arrancando seus mamilos,
sacudindo-os até que a sensação fosse direto para seu clitóris.
Talvez ele preferisse que ela se levantasse e caísse sobre ele,
mas aquele balanço suave de seus quadris, aquele pequeno
movimento para frente e para trás, era tão bom. Ela fez isso de
novo e de novo, com as mãos apoiadas nos ombros dele, até que
seus olhos se fecharam com a forma como ele pressionou e
deslizou para dentro e contra ela.
— Merda, Carricinha. — Ele beliscou seu mamilo com mais
força, e ela empurrou contra ele. — Sua boceta é tão quente, e
o jeito que você está apertando meu pau.
Quando ela involuntariamente se apertou ao redor dele, ele
engasgou e apertou as mãos em sua cintura, pressionando-a e a
apertando contra ele.
Com a pressão adicional, ele afundou ainda mais dentro
dela, e ela gemeu alto.
Sua voz estava rasgada quando ele falou novamente.
— Posso te foder por baixo?
Ela não era uma mulher pequena, então isso parecia
otimista. Também parecia algo que ela queria
desesperadamente tentar.
Curvando-se, ela tomou seu mamilo em sua boca e fechou
os dentes ao redor dele com a pressão cuidadosa que ele
preferia, e um som cru saiu de sua garganta e vibrou em seu
peito. Então, ela levantou a cabeça e sorriu para ele. Ele estava
corado e suado agora também, suas pupilas dilatadas, seus
olhos apenas nela e para ela.
— Por favor — ela disse, sabendo o quanto ele amava isso, e
o quanto ele iria amar o que ela diria em seguida. — Por favor,
me fode.
Ele explodiu em movimento debaixo dela, mãos grandes
agarrando seus quadris com força contundente, pés apoiados
no colchão enquanto ele empurrava nela. Mesmo com toda a
sua força, ele não conseguia movê-la muito, mas era...
surpreendente.
Tanto atrito. Tanto prazer.
Ela gemeu novamente, longo e baixo, incapaz de desviar o
olhar de seu olhar dominante.
— Você quicando... no meu... pau, Carricinha. — Ele estava
sorrindo, seu peito um fole enquanto ele ofegava por ar e a
fodia. — Quer... apostar se...
Quando ela beliscou seus mamilos, sua boca se abriu e ele
lambeu os lábios.
Ela mal conseguia formar palavras, mas conseguiu pensar
em uma.
— Continue.
Seus quadris pararam debaixo dela, e ela gritou um protesto
incoerente.
— Quer… — Ele lambeu os lábios novamente, tentando
recuperar o fôlego. — Quer apostar se eu posso fazer você gozar
assim algum dia? Sem as mãos?
Essa era uma aposta de merda. Ela estava esfregando seu
clitóris contra ele com cada balanço de seus quadris, e ela já
estava quase gozando novamente. Sem as mãos.
O que ele evidentemente sabia, porque ele parecia
presunçoso mais uma vez, e que se foda.
Ela deliberadamente apertou o pau dele dentro dela, o mais
forte que pôde, e ele fez aquele som profundo e cru novamente
e a segurou enquanto empurrava seus quadris para cima.
As pernas dela se abriram ainda mais, sem sua permissão.
— Não vou demorar muito, Carricinha. — Sua mandíbula
trabalhou, as veias em seu pescoço salientes. — Precisa dos
meus dedos?
Isso pode significar que ele não a teria mais – oh, por que
não dizer isso? – quicando em seu pau mais, então não. Ela
queria sentir aquele poder entre suas coxas, agora e para
sempre.
— Uso os meus — ela respirou, e deslizou a mão entre seu
corpo suado e o dela.
Quando ela acidentalmente escovou seu pau bombeando,
ele gritou e cerrou os dentes.
— Carricinha. Não consigo–
Ela esfregou com força, e ele a fodeu implacavelmente, e
então ela estava gozando, apertando em torno dele e em êxtase
e gritando quando ele a jogou em seu pau uma última vez e
ficou rígido. Ele estremeceu debaixo dela, um rugido rasgou de
sua garganta e ecoou no quarto.
Então ambos estavam moles e ofegantes, e ela deslizou para
o lado, ofegando um pouco quando ele deixou seu corpo. Uma
vez que ele cuidou do preservativo, seus dedos se entrelaçaram
nos dela imediatamente. Fora isso, porém, nenhum deles se
moveu por muito, muito tempo.
Finalmente, ele limpou a garganta, e ela virou a cabeça em
sua direção.
— Vamos fazer isso mais um milhão de vezes — ele disse a
ela. — Como agora mesmo.
Apoiando-se em um cotovelo, ela olhou para baixo em seu
pênis, amolecendo contra sua coxa.
— Justo. — Ele riu. — O espírito está ansioso, mas a carne
tem um período refratário.
— A minha carne não. — Tinha que ser dito.
— Exibida — ele reclamou, mas ele estava sorrindo
enquanto se levantava o suficiente para beijá-la novamente, sua
mão extremamente talentosa deslizando lentamente pela coxa
dela. — Uma harpia tão exigente.
A partir daquele brilho em seus olhos, ela sabia o que
aconteceria em seguida, e um milhão de vezes não soava mais
ridículo.
Parecia apenas o suficiente.
27
Quando o alarme do celular tocou pela terceira vez, Alex
gemeu, relutantemente levantou o braço ao redor da barriga
redonda e quente de Carricinha e rolou para tocar na tela. O
silêncio do quarto escuro voltou, e ele se levantou para verificar
se ela havia acordado também.
Ela ainda estava enrolada de lado, de costas para ele, sua
respiração constante e lenta. Cuidadosamente, ele alisou alguns
de seus cabelos macios e finos para longe de seu rosto, e não.
Nem um lampejo de consciência. Seus olhos estavam fechados,
seu rosto relaxado, seu corpo imóvel.
Ele a tinha esgotado. Carricinha, que normalmente
acordava ao primeiro alarme e tolerava seu hábito de soneca
com perplexidade exasperada.
Ele se sentia como um rei. Não, um Deus.
Esta ocasião pedia uma camiseta personalizada.
EU FODI A MULHER QUE EU AMO ATÉ ELA
FICAR INCONSCIENTE, E TUDO O QUE GANHEI FOI
ESSA PORCARIA DE CAMISETA E TRÊS ORGASMOS
INCRÍVEIS.
Ou UMA CAIXA DE PRESERVATIVOS: $9,99. USAR
CARRICINHA NO MEU PAU: IMPAGÁVEL.
Ele providenciaria isso o mais rápido possível, assim que
estivessem de volta em casa. Enquanto isso, ele podia e iria se
regozijar verbalmente. Mas não agora, porque ela precisava
dormir, e ele tinha um compromisso a cumprir. Infelizmente.
Ele se vestiu em silêncio e rabiscou uma nota rápida,
deixando-a na mesa de cabeceira. Incapaz de resistir, ele deu um
beijo leve na testa dela antes de fechar a porta com tanto
cuidado que mal fez um clique.
A mensagem de Zach ontem à noite – recém-desbloqueado
– havia especificado um local isolado ao ar livre, um do outro
lado do amplo terreno do hotel da cerimônia de casamento
mais tarde naquele dia. Aninhada entre um jardim e as sequóias
circundantes, a área de estar deve estar longe o suficiente de
todos e de tudo o mais para desencorajar os bisbilhoteiros.
Quando Alex chegou, Zach já estava lá, óculos escuros e
cabelo loiro penteado para trás, digitando em seu telefone.
Com a aproximação de seu cliente, ele ergueu um dedo.
— Um minuto.
Sem café da manhã significava que ele não tomaria
medicação, então Alex andava pela pequena clareira enquanto
esperava. Talvez ele devesse ter acordado ainda mais cedo para
comer, mas não levaria muito tempo para seu agente dizer que
ninguém quer trabalhar com você, tenha uma vida boa, ou não,
tchau.
Com um último golpe de seu dedo, Zach terminou sua
tarefa, então colocou seu telefone na pequena mesa de madeira
entre as duas cadeiras Adirondack e gesticulou para Alex se
sentar.
Alex balançou a cabeça.
— Ainda não tomei o remédio. Eu preciso me mover.
Zach revirou os olhos e... isso. Era por isso que Alex teria
cortado os laços há muito tempo, se não se sentisse culpado e
responsável por seu antigo amigo e parceiro de negócios de
longa data.
Se Zach tivesse revirado os olhos para Lauren, ele seria
demitido em um piscar de olhos. Então, por que Alex deixou
seu agente desrespeitá-lo por tanto tempo? Por que tanta culpa,
se Zach ganhou muito dinheiro com sua parceria e construiu
uma lista de clientes muito saudável e muito bem-sucedida?
— Estou muito feliz que você esteja disposto a atender
minhas ligações agora. — A amargura na voz de Zach franziu
sua boca. — Mas como as únicas notícias inesperadas chegaram
durante a noite, tanto faz. Antes disso, era apenas mais pessoas
retirando seu nome da lista de consideração em vários papéis.
Notícias inesperadas?
Alex parou na frente de Zach, balançando preguiçosamente
para frente e para trás em seus calcanhares.
— E aí?
Zach tirou os óculos escuros e os colocou sobre a mesa
também.
— Para acompanhar seus concorrentes de serviços de
streaming, a StreamUs está expandindo rapidamente sua
programação original, tanto com script quanto baseada em
realidade. Eles estão dispostos a gastar muito para adquirir
talentos únicos e criar buzz. No momento, entre o desastre de
Con of the Gates e os vídeos recentes, poucas pessoas em
Hollywood têm tanto buzz quanto você. Para o bem ou para o
mal.
— Eles querem…— Alex franziu a testa, totalmente
surpreso. — Eles querem me escalar em alguma coisa?
Bem, ele certamente estava disponível. Sua vontade, porém,
dependia do projeto.
— Caso você não tenha notado, seus vídeos de viagem se
tornaram virais, Alex. Agora — Zach verificou seu telefone —
eles têm mais de vinte milhões de visualizações cada, e o
StreamUs notou. Eles querem fazer um reality show de viagens
com você. Filmar suas aventuras na estrada.
Vinte milhões? Puta merda.
Os lábios de Zach se curvaram em um pequeno sorriso
satisfeito, o primeiro que Alex via dele em meses.
— O diferencial é que é sem censura e imprevisível. Suas
reações cruas. Sem bip, sem dizer para você diminuir o tom.
Será direcionado para adultos. Sua incapacidade de parar de
falar ou controlar o que sai da sua boca será realmente um
trunfo pela primeira vez.
Porra, isso soou realmente divertido?
— Espero que você esteja interessado, porque não acho que
outras ofertas aparecerão. — Zach se inclinou para frente, toda
a raiva que acompanhava suas recentes interações sumiu
abruptamente. — Se você quer uma carreira em Hollywood,
este é o seu caminho de volta. O único caminho.
Trabalho. Um trabalho que ele realmente gostaria. Um
trabalho que lhe permitisse continuar apoiando sua mãe, sua
instituição de caridade e Dina, e talvez até oferecer uma vida
confortável para...
Sua barriga caiu e ele se sentou com um baque na cadeira
Adirondack restante.
Se ele estivesse na estrada o tempo todo, onde Carricinha
estaria?
Seu agente ainda estava dando os detalhes.
— Eles querem que você tenha um parceiro, como em seus
vídeos. Eles estão procurando brincadeiras. Um pouco de
tensão com flerte. Esse tipo de coisas.
Ah, graças a Cristo.
— Então estamos prontos. Lauren pode ser minha parceira.
— Alex sorriu para seu agente, excitação renovada queimando
em suas veias. — Eles podem ter a química exata que adoraram
nos vídeos, e eu posso tê-la comigo. Todo mundo sai
ganhando.
Ela nem precisaria escolher entre suas duas opções de
trabalho de merda. Sem emergência, sem terapia em grupo.
Todo mundo ganha.
A boca de Zach se abriu, depois fechou.
Quando ele falou novamente, cada palavra emergiu
lentamente, timidamente, como se ele estivesse soando em sua
cabeça antes de dizer em voz alta. Alex não tinha ideia de como
deveria ser esse processo, mas pela testa franzida e expressão
contraída de Zach, não era agradável.
— Eu... não acho que eles vão concordar que seja a Sra.
Clegg — disse ele.
— Sério? — Alex cruzou os braços sobre o peito. — Você
perguntou a eles?
— Na verdade, sim. — Seu agente suspirou. — Alex, eu
conheço você. Conheço você há cerca de duas décadas. Eu sei
que você se importa com ela, mas–
— É a Lauren ou ninguém.
Seus pensamentos giratórios não seriam encurralados, não
poderiam ser, mas isso ele sabia.
A mandíbula de Zach funcionou.
— Vou perguntar de novo, se você quiser, mas...
— O quê? — Ele saltou para seus pés e retomou o ritmo.
— Quando mencionei a possibilidade mais cedo, eles… —
Zach traçou o grão da madeira no braço da cadeira com o dedo
indicador. — Existem preocupações sobre seu… apelo público.
Alex nunca entenderia.
Depois do que Carricinha tinha compartilhado de seu
passado, depois de seu encontro com sua fã idiota, depois do
que seu próprio primo havia escrito, ele sabia que muitas
pessoas – talvez até a maioria das pessoas – consideravam feias
suas feições atraentes e assimétricas e seu corpo charmoso e
redondo. Ele também sabia que as pessoas mais mesquinhas
usariam isso como desculpa para descartá-la sem importância
ou maltratá-la de alguma forma.
Ele sabia disso. Ele ainda não entendia.
Simetria era chato para caralho, e eles moravam em LA,
porra. Mulheres altas com corpos esbeltos não eram
exatamente uma espécie em extinção.
Carricinha não era apenas a mulher-pássaro mais fofa e
gostosa da face da terra, mas também única e engraçada e
inteligente e charmosa e gentil e a co-apresentadora perfeita de
um programa de viagens, e ele lutaria com qualquer um que
tentasse argumentar diferente.
— Eu sugeri que talvez ela pudesse ficar atrás da câmera,
como tem feito até agora. — Ao ver a expressão de Alex, Zach
apressou-se a acrescentar: — Tenho a sensação de que ela ficaria
desconfortável sendo filmada, já que só vimos o braço dela.
Ok, justo. Os punhos de Alex se abriram ao seu lado, e ele
continuou andando.
— Mas eles querem um companheiro que apareça na
câmera e não aceitam ela nesse papel. E se você insistir, suspeito
que eles vão retirar a oferta. — Zach esfregou as mãos no rosto.
— Me ajuda aqui, Alex. Me diz como podemos fazer essa oferta
funcionar para você e para a StreamUs.
Tinha que haver uma solução, mas sua cabeça estava
desorganizada.
Droga, ele precisava se concentrar para uma discussão tão
crucial, o que significava tomar seus remédios, o que significava
café da manhã. E ele só queria voltar para o quarto
rapidamente.
— Lauren e eu somos um pacote — essa era a única coisa
que ele sabia com certeza. — Então vamos pedir comida, e eu
vou tomar meu remédio. Então podemos conversar sobre
estratégias de negociação. Se descobrirmos a abordagem
correta, podemos convencê-los a aceitar isso. Eu sei disso.
— Só você — Zach murmurou, mas ele se levantou e
colocou o telefone no bolso. — Ok. Vamos aproveitar a manhã
e tentar pensar em algo.
Se Alex conseguisse, quando a cerimônia de casamento
começasse, Zach estaria pronto para apresentar seu caso ao
StreamUs. E se tudo corresse bem, Carricinha nunca precisaria
saber que sua aparência tinha sido um tópico de discussão.
Ela disse que esse tipo de desprezo não a machucava, mas
devia machucar, pelo menos um pouco. Ele também não
queria dar a ela uma má impressão de seu futuro empregador,
porque ele pretendia fazer esse negócio funcionar. Para ela.
Para eles.
Mesmo que ele tivesse que convencer um serviço de
streaming inteiro e seu próprio agente para fazer isso.

Lauren não acordou preocupada.


Não com a lembrança de uma longa noite de intimidade, o
ardor e afeição inconfundíveis de Alex, tão fresca. Não depois
que ele sugeriu uma viagem pela costa da Flórida algum dia,
incluindo uma parada para ela conhecer sua mãe pessoalmente.
Não com a forma como ele dormiu abraçado a ela.
E especialmente não quando ele deixou um bilhete para ela
na mesa de cabeceira. Reunião com meu agente. Estarei de volta
em breve, então você pode ficar na cama, Carricinha.
Ele assinou com um coração e um negrito A maiúsculo.
Não, ela não estava preocupada.
Só que... ele não voltou cedo. Ele nem voltou naquela
manhã. Depois que ela finalmente saiu da cama e tomou
banho, ela enviou uma mensagem preocupada. Para seu
crédito, ele respondeu imediatamente com um pedido de
desculpas, mas sem muita explicação.
“As coisas demorando mais do que o esperado” foi tudo o
que ele escreveu. “Eu sinto muito."
Quando ele voltou, faltava meia hora para o casamento, e ela
estava puxando o vestido preto de renda pela cabeça. Com os
olhos nublados e distantes, ele deu um beijo na boca dela, pediu
desculpas novamente, disse que o vestido dela era bonito e
correu para o banheiro para tomar banho.
Eles correram para a cerimônia – realizada em uma linda
clareira à beira do rio, com as sequoias voando acima e um
corredor forrado de flores – e chegaram bem a tempo, sem
oportunidade de fazer nada além de se acomodarem em seus
assentos da última fila antes da música começar.
Ele colocou o braço em volta dos ombros dela e brincou
com as pontas do cabelo dela, mas seus olhos estavam na
cerimônia, sua mandíbula estava apertada de tensão e sua
atenção estava...
Ela não sabia. Ela honestamente não sabia.
O que diabos seu agente disse a ele?
Quando o casamento terminou e todos os convidados
começaram a se dirigir para o amplo salão de baile do hotel, o
local da recepção, ele ainda não tinha oferecido muitas
informações.
— Temos uma possível oferta, mas há coisas para negociar.
— Ele estava segurando a mão dela e andando devagar por
causa dela, mas ele não olhou para ela. — Espero ter mais
notícias em breve.
Ela teria pedido detalhes, mas os outros convidados do
casamento finalmente notaram sua presença, e um fluxo
constante de fãs, amigos e corretores de poder de Hollywood
vieram até ele. Alguns desejando coisas boas, aparentemente
sinceros, outros obviamente procurando fofocas.
Ele os cumprimentou com um sorriso encantador e a
manteve ao seu lado no salão de baile, seu polegar varrendo os
nós dos dedos. Mas depois de todo esse tempo juntos, ela
reconhecia sinais de sua distração.
Seu costumeiro humor afiado tinha enfraquecido, e ele não
pareceu notar os olhares incrédulos que ela recebeu, ou a forma
como um punhado de seus admiradores simplesmente a
ignorou, mesmo depois que ele a apresentou a eles.
Normalmente, ele os faria pagar por isso. O que causaria
uma cena, então era bom que ele não notasse.
Certo?
Ela engoliu em silêncio mais uma hora de conversa e
desrespeitos ocasionais, e então o casal feliz chegou, e todos se
sentaram nas mesas ricamente decoradas. Foi quando a linda
noiva – Stacia, aparentemente uma atriz premiada em um
seriado que Lauren nunca tinha visto – apareceu por perto e
puxou o braço de Alex. Ele se virou para ela, assustado.
— Tem espaço na mesa ao lado da minha para o meu ex
favorito. — Ela ofereceu um sorriso alegre, mas sem remorso,
para o resto da mesa. — Venha para a frente, Alex.
Seu rosto se enrugou em um sorriso, ele se levantou para
agarrá-la em um abraço entusiasmado.
— Parabéns, Stacey. Eu não poderia estar mais feliz por
você.
Ela o abraçou de volta ferozmente, então ergueu as
sobrancelhas em falso altivez.
— Então você vai me resgatar de uma conversa chata ou
não?
— Só se houver espaço para Lauren também. — Alex
deslizou a mão pelo braço coberto de renda de Lauren. — Se
não, continuarei desfrutando da boa companhia nesta mesa.
O sorriso de Stacia não vacilou.
— Prazer em conhecê-la, Lauren. Claro que há espaço para
vocês dois.
Não. Não, isso não iria acontecer. Não quando aquela outra
mesa, dada sua posição privilegiada, estaria provavelmente
cheia das pessoas mais bonitas e poderosas de Hollywood. Se
alguém a insultasse, Alex poderia emergir de sua abstração e se
inflamar, e então eles estariam ao lado da mesa principal, onde
todos os importantes poderiam ver e ouvir.
Qualquer possível oferta que ele tivesse recebido poderia ser
retirada.
Não estava acontecendo novamente. Não se ela pudesse
evitar.
— Vá sem mim — ela disse a Alex, mantendo seu rosto
calmo. — Minha cabeça está doendo um pouco, e esta parte do
salão é mais silenciosa.
Provavelmente. Ela não tinha ideia, mas parecia plausível.
Suas sobrancelhas bateram juntas, e ele gentilmente roçou
as pontas dos dedos sobre sua têmpora.
— Carricinha…
Ela se afastou.
— Vá em frente. Eu preciso de um tempo sozinha para
minha dor de cabeça.
Pobre Alex. Ele não estava feliz em deixá-la. Mas ele não
queria atrapalhar um casamento discutindo na frente da noiva,
então ele estava preso. Surpreso, por uma vez.
— Tome algum remédio. — Ele se permitiu ser guiado pela
sala, mas ainda estava olhando para ela por cima do ombro. —
Eu voltarei para ver como você está, Lauren.
Ela imaginou que ele voltaria.
O jantar chegou, e ela calmamente observou todos naquela
velha maneira familiar enquanto ela comia. De uma distância
neutra. Não faz mais parte dos procedimentos.
Uma vez que Alex se acomodou do outro lado da sala,
alguns sussurros de mesas próximas chegaram a seus ouvidos.
Eu não entendo qual é a ligação entre eles e de jeito nenhum eles
estão realmente namorando e o que você acha que aconteceu com
o rosto dela?
Quando ela estava sozinha com Alex, ela se encaixava. Eles
se encaixam. Mas o mundo dele não era o dela, e essa óbvia
desconexão – na aparência, na riqueza, na personalidade –
sempre atrairia atenção e provocaria comentários. Como uma
vida inteira de experiência havia ensinado a ela, esse tipo de
comentário muitas vezes se mostrava pouco lisonjeiro. E isso…
Isso causaria problemas para Alex. Ela ia causar problemas
para Alex.
Talvez não hoje, dada sua distração, mas em breve.
Frequentemente. Inevitavelmente.
— Com licença — Um homem loiro com cabelo penteado
para trás se inclinou para falar com ela, sua voz baixa o
suficiente para não ser carregada. — Lauren Clegg, certo?
— Sim. — Dobrando o guardanapo com cuidado, ela o
colocou ao lado de seu prato. — Como posso ajudá-lo?
Ele ofereceu a mão, e ela a apertou.
— Prazer em conhecê-la, Lauren. Sou Zach Derning, agente
de Alex. Eu esperava que pudéssemos conversar em algum
lugar em particular por alguns minutos.
O que diabos ele poderia precisar dizer a ela que exigiria
privacidade?
Nada. Absolutamente nada.
— Você trabalha para Alex — disse ela. — Estou feliz em
falar com você, mas não sem ele presente.
— Estou preocupado com ele. Achei que você gostaria de
saber o porquê. — Zach inclinou a cabeça em direção à mesa de
seu cliente. — É uma questão de alguma urgência, e eu não
acho que ele vai compartilhar o problema com você até que seja
tarde demais.
A distração de Alex. A tensão que ele carregou em sua testa
franzida a tarde toda. Seu sigilo incomum.
Dada a aparência de Zach em sua mesa, a situação pode
envolvê-la ou exigir sua ajuda. E talvez ela devesse ir buscar Alex
antes de falar com seu agente, mas ela não queria interromper
o jantar da festa de casamento, e não faria mal simplesmente
ouvir. Então, ela se reportaria a Alex mais tarde, em seu quarto
de hotel.
Pronto. Decidido.
Com um aceno de cabeça para seus colegas de mesa, ela
pegou sua bolsa e seguiu Zach pela saída lateral do salão de
baile, por um longo corredor, e em direção a uma elegante área
de estar no saguão do hotel, posicionada discretamente atrás de
algumas plantas florescentes.
Uma vez que eles estavam sentados, Zach não perdeu
tempo.
— Ontem à noite, Alex recebeu uma oferta da StreamUs
para um reality show de viagens. Dinheiro bom. Sem restrições
sobre o que ele pode dizer ou para onde ele vai. — Seus olhos
azuis a prenderam no lugar. — Ele te contou?
Ela balançou a cabeça, presa entre exultação – porque
caramba, aquela oferta de emprego parecia feita sob medida
para Alex – e confusão.
Por que Zach estava dizendo isso a ela? E por que Alex não
tinha dito?
Zach se inclinou para mais perto, sua voz quase um
sussurro.
— Eles querem que ele tenha um companheiro. Um co-
anfitrião. Alguém com quem pular e brincar.
Ela fechou os olhos por um momento.
Oh. Oh não. Ele não faria isso. Ele não poderia ter feito isso–
— Ele disse que queria você ou ninguém — Zach disse a ela.
— E a oferta requer um co-apresentador com uma base de fãs
preexistente, então StreamUs vai recusar você nesse papel. Se
ele insistir, eles rescindirão a oferta, e ele não tem outras. Eu não
sei se ele vai conseguir outras ofertas, para ser franco. Então, eu
decidi falar com você em particular e perguntar se isso é algo
que você realmente quer também, ou se é Alex fazendo
suposições e tendo visão de túnel.
Ela imaginou que a explicação de Zach estava omitindo
algumas outras verdades – notadamente, como o serviço
provavelmente reagiu à sua aparência –, mas parecia honesto o
suficiente.
Parecia exatamente algo que Alex faria. O melhor dele, e
também o pior.
Porque, sim, é claro que ela ficou tocada por ele a querer ao
seu lado. É claro que sua defesa consistente por ela, sua crença
nela, a aqueceu até os ossos.
Mas o que diabos ele estava pensando?
Ele poderia negar, mas certamente não estava pensando
nela.
Ela não era uma atriz. Ela não era uma estrela de reality
show.
Mais importante, ela também não queria ser. Ela queria ser
uma maldita terapeuta. Onde e como, ela ainda não havia
determinado, mas um contato com a fama não mudou seu
treinamento ou sua vocação. E se ele tivesse se incomodado em
perguntar a ela, se ele tivesse se dado ao trabalho de explicar, ela
teria dito exatamente isso.
Eles definitivamente teriam essa conversa esta noite. O final
da conversa pode envolver um pouco de gritaria, mas caramba.
Ele precisava parar de ser tão presunçoso.
A boa notícia: esse problema tinha uma solução simples.
— Eu absoluta, positivamente não quero estar no
programa, como vou informá-lo assim que a recepção
terminar. Tenho certeza que você pode facilmente encontrar
outra pessoa. — Ela se levantou, oscilando momentaneamente
em seus saltos de cunha. — Desejo a vocês uma negociação
bem-sucedida.
Se Alex já não tivesse ido procurá-la, ele o faria em breve, e
ficaria alarmado ao descobrir que ela não estava lá. Ela precisava
voltar antes que sua ausência causasse qualquer perturbação.
Zach levantou a mão.
— Espera. Lauren, tem mais.
Que merda.
Ela caiu de volta em sua cadeira.
— O quê?
— Se você recusar, ele também vai. — Os olhos azuis do
agente eram solenes. — Ele não quer viajar pelo país sem você.
Não. Não.
Ela olhou para Zach, horrorizada.
— Ele não disse isso. Por favor, me diga que ele não disse
isso.
Seu estômago torceu em revolta com o próprio
pensamento, porque ela não podia. Ela não poderia ser
responsável por Alex perder sua carreira pela segunda vez.
A culpa a destruiria. Destruiria os dois.
— Ele disse — Zach encontrou seu olhar diretamente, sem
nenhum sinal de prevaricação. — Lauren, com tudo que Alex
disse e tudo que eu vi, você se importa com ele. Você quer o
melhor para ele, e eu realmente acredito que esta é a última
chance dele. Se ele não aceitar este trabalho, sua carreira estará
acabada. E a StreamUs quer uma resposta em breve. Esta noite,
se possível.
Ah, merda.
Ao perceber o que essa conversa realmente era, o que o
agente de Alex estava realmente perguntando a ela, ela se
curvou e tentou continuar respirando através da náusea.
Zach falou com cuidado. Claramente.
— O papel é perfeito para ele, e com a forma como ele gasta,
ele não tem uma tonelada de economias. Ele precisa do
dinheiro. Para si mesmo, mas também para sua mãe e sua
instituição de caridade e todas as outras pessoas que ele ajuda.
Imagino que o agente de Alex também precise do dinheiro,
acrescentou uma parte rancorosa e mesquinha de seu cérebro,
mas ela ignorou, porque Zach estava certo. Não ser capaz de
apoiar todo mundo destruiria Alex.
Na verdade, isso o deixaria se sentindo da mesma maneira
que ela estava agora, enquanto esperava o inevitável.
Zach não a fez esperar muito.
— Se você estiver na vida dele, ele não aceitará esse papel. —
O agente não parecia feliz com isso, mas ele não vacilou ou
adoçou a questão. — O que você tem com ele vale a carreira
dele?
A dor atravessou todas aquelas camadas de compostura,
toda aquela calma que ela meticulosamente adquiriu e usou
para proteger seu coração por décadas, e ela não conseguiu
abafar seu soluço.
O agente estendeu a mão para ela, e ela recuou.
Ele retirou a mão.
— Me desculpe. Mas eu tive que dizer isso, porque Alex
nunca diria.
Zach conhecia seu cliente por quase toda a carreira deles, e
isso era visível. Ele entendia Alex, e ela também.
Ele era tudo ou nada, sempre. Ele não aceitaria outro co-
anfitrião se ela estivesse teoricamente disponível. E mesmo que
ela pudesse de alguma forma convencê-lo de que não tinha
interesse nesse papel, ele não iria tolerar que ela ficasse em LA
enquanto ele viajava pelo país. Ele recusaria o acordo sem
pensar duas vezes, ou mesmo muito antes de pensar, e
simplesmente não havia tempo suficiente para fazê-lo entender
a verdade: ela não valia esse tipo de sacrifício.
Se eles ficassem juntos, ele voluntariamente deixaria tudo de
lado por ela. De novo.
A única maneira de salvá-lo era deixá-lo.
Suas articulações doíam como se ela estivesse febril, e seu
peito se contraía incontrolavelmente, mas Zach estava
esperando, então ela tentou falar.
— Vou falar com Alex antes do final da recepção.
Ela estaria arrancando seu próprio coração, mas ela faria
isso, porque não havia escolha.
Se o mundo dele desmoronasse novamente, não seria por
causa dela. Ela se recusaria a ser o meio de sua destruição uma
segunda vez. Especialmente desde que seus sentimentos por ela
– quaisquer que fossem – possam não durar muito fora de sua
pequena bolha de privacidade e constante contato. Eles eram
amigos há meses, mas amantes há menos de uma semana. Um
piscar de olhos.
Mesmo que aquele momento fugaz tivesse parecido uma
vida inteira estendida diante dela, iluminada pelo sol e sem
horizonte e dela.
A cabeça de Zach estava curvada, sua voz grossa.
— Se vale de alguma coisa, eu realmente sinto muito,
Lauren.
Ela assentiu, e uma lágrima escorreu do queixo para a
barriga, depois outra e outra. A próxima vez que ela levantou a
cabeça, olhos embaçados e ardendo, nariz escorrendo, ele tinha
ido embora, e ela sabia o que precisava fazer.
Ela não poderia dizer a Alex que Zach tinha falado com ela,
ou ele demitiria seu agente na hora. Mas ele não merecia
mentiras, e ela não lhe daria nenhuma. Dizer a ele que ela
mudou de ideia sobre ficar juntos era verdade o suficiente. E se
ele exigisse mais explicações, a raiva dela por sua decisão
unilateral era genuína, e ela poderia aproveitá-la conforme
necessário. Usá-la para cobrir o verdadeiro motivo pelo qual ela
o estava deixando.
Ela seletivamente lhe contaria a verdade e... iria embora para
dentro de si. Ela colocaria sobre si mesma todas aquelas
camadas de remoção que ele havia tirado e se tornaria inviolável
mais uma vez. Impenetrável. Distante emocionalmente, e
depois distante fisicamente, assim que ela sair do casamento.
Se ela lhe deixasse alguma esperança de um futuro juntos,
ele a apoiaria. Ele recusaria ou esperaria para assinar o contrato
da StreamUs caso ela voltasse.
Então, ela não permitiria nenhuma esperança.
Nem para ela mesma.
28
Depois de encontrar a cadeira de Lauren vazia e seus
companheiros de mesa incertos sobre quando e por que ela
saiu, Alex caminhou para a saída mais próxima, digitando uma
mensagem enquanto caminhava.

Alex:
Onde você está? Você está bem?

Quando ela não respondeu imediatamente, ele foi para o


quarto deles, e graças a Deus, lá estava ela.
Só que… Que porra?
Sua pele não estava mais apenas branca, mas pálida. Aqueles
lindos olhos ficaram avermelhados, e suas pálpebras e nariz
estavam inchados e rosados.
Pior de tudo, ela tinha aquela expressão novamente. Aquela
que ele odiava e não via há meses. Neutra. Distante, apesar de
todas as evidências de turbulência emocional.
Ele agora a reconhecia o que era: proteção. Mas proteção
contra o quê, ele não sabia dizer.
— O que diabos aconteceu, Carricinha? — Era tanto um
grunhido quanto uma pergunta, porque quem quer que a
tivesse chateado tanto ia pagar. — Diga-me.
Assim que ela ficou mais perto, ele pegou sua mão. Depois
de um único aperto fraco, ela o soltou e recuou um passo, e...
algo estava errado. Muito, muito errado.
Seus lábios se curvaram em um pequeno sorriso que não
alcançou seus olhos vazios.
— Eu preciso ir.
Ir aonde? Para outro hotel? De volta para casa?
— O que–
— Alex. — Sua garganta funcionou, mas ela parecia
totalmente despreocupada. — Deixe-me explicar.
O pavor continuou a se desenrolar em sua barriga, e ele caiu
abruptamente no sofá baixo, com as pernas instáveis.
— Alguém disse alguma coisa? Porque eu juro por Deus, eu
vou–
— Eu tenho que encurtar nossa viagem. — Sua boca larga
estava branca nas bordas, mas ela ainda estava sorrindo, ainda
tão calma que ele queria sacudi-la. — Eu vou pegar um avião
de volta para casa esta noite.
Foi com um soco no peito, tão brutal que ele não conseguia
respirar, não conseguia falar. Tudo o que ele podia fazer era
olhar, atordoado, seu estômago revirando.
— Eu sou tão… — Ela fez uma pausa, engolindo em seco. —
Sou muito grata por sua companhia nos últimos meses. Você
tem sido... um bom amigo. Quando nos conhecemos, eu estava
esgotada e agora estou melhor. Por causa de você. Melhor o
suficiente para trabalhar novamente. Então, obrigada.
Outro golpe. Outra lufada de ar de seus pulmões
laboriosos.
Um bom amigo. Um bom amigo, uma porra.
Não, ele era mais do que isso. Depois desses últimos três dias
juntos–
— Carricinha. — Ele apertou as mãos entre os joelhos, com
força suficiente para que seus dedos estalassem e suas
articulações doessem. — Você esteve chorando. Diga-me que
porra aconteceu.
— Às vezes, quando não me sinto bem, meus olhos ficam
vermelhos. — Ela endireitou o ombro, o movimento
espasmódico. — De qualquer forma, antes de partir, queria
dizer o quanto apreciei toda a sua gentileza. Eu, hum... vou
sentir sua falta.
Ele se encolheu, ombros curvados, tremendo, porque... ela
sentiria falta dele? Tipo, ela nem queria mais vê-lo?
Rapidamente, ela se afastou dele e se dirigiu para seu
armário. A mala dela.
Talvez ela não estivesse chorando, mas ele estava,
abertamente, que se foda o orgulho. Que se foda qualquer coisa
que não a trouxer de volta para ele de alguma forma.
— E sobre… — Ele arrastou uma respiração difícil. — E nós,
Lauren?
Ela se acalmou, de costas para ele.
— Eu... eu me importo com você. Você sabe disso.
— Sim. — Ele riu, e foi alto, feio e amargo o suficiente para
machucar seus ouvidos. — Eu achei. Achei que soubesse disso.
Ela baixou a cabeça, mas suas palavras não foram inflexíveis.
Sem emoção.
— Isto– o que nós tínhamos… — Outra pausa. — Foi um
interlúdio. Umas férias da realidade. Mas as férias acabaram e
temos que voltar para nossas vidas reais. A sua está em
Hollywood. A minha está no pronto-socorro.
De tudo o que ela disse a ele, seu longo período no pronto-
socorro não tinha sido sua vida. Foi uma existência. Auto
abnegação por um cheque de pagamento, e o pensamento de
seu retorno era como ter seu coração apertado em um punho
vicioso.
— Não precisa ser apenas um maldito interlúdio. — Ele
ficou de pé e caminhou na frente do sofá, seu pulso martelando
em suas têmporas. — Recebi uma oferta para um programa de
viagens hoje e quero que você seja minha co-apresentadora.
Podemos explorar o mundo juntos, Carricinha. Essa pode ser a
sua vida real. Eu poderia ser sua vida real.
Ela ainda estava curvada sobre a mala, imóvel, e ele se
apressou antes que ela pudesse responder. Antes que ela
pudesse recusá-lo e deixá-lo de lado.
— Ou se você preferir ser minha PA, se você não quiser
aparecer na câmera, nós podemos fazer isso funcionar. Eu não
me importo. Desde que você esteja comigo. — Ele passou os
dedos pelo cabelo e agarrou um punhado com força suficiente
para que vários fios se soltassem. — Eu preciso de você,
Carricinha. Por favor.
Seu peito se expandiu com uma inspiração profunda.
Então, finalmente, ela se virou para ele novamente, e suas
feições poderiam ter sido esculpidas em pedra. Aquelas
bochechas redondas estavam sem sangue, secas. O olhar dela
pousou em algum lugar por cima do ombro dele, distante, onde
ela evidentemente viu algo mais importante do que ele.
— Esta visão que você tem para o nosso futuro — ela disse
lentamente, deliberadamente, — o que faz você pensar que
seria algo que eu iria querer? Algo com o qual eu poderia viver?
O que... o que isso significava?
— Eu pensei… — Ele jogou as mãos no ar, em pânico, seu
couro cabeludo em chamas. — Achei que você gostasse de viajar
comigo e filmar nossos vídeos.
Seus dedos agarraram a alça de sua mala, e o plástico rangeu
sob a pressão.
— Eu gosto. Eu gostava. Mas isso não significa que eu
queira viajar com você indefinidamente, como meu trabalho.
— Nós podemos fazer isso funcionar, Lauren. Apenas me
diga o que você precisa. — A súplica foi cru o suficiente para
esfregar sua garganta. — Você pode definir nosso itinerário ou
ter seu próprio trailer. Inferno, se você quisesse especificar um
número máximo de dias por mês que poderíamos gastar no...
— Alex. — Ela fechou os olhos por um longo suspiro, então
os abriu e o prendeu com aquele olhar claro. — Você não
pensou em quem eu sou? Você não percebeu como meu
trabalho como terapeuta é importante para mim?
Ele parou.
— Você não ouviu. — Seus lábios se apertaram. — Você
não me ouviu.
Todos os seus protestos apaixonados murcharam em sua
língua.
A vergonha caiu sobre ele, tão pesada que suas pernas
travaram embaixo dele. Ele estremeceu sob seu peso, sua
pressão inexorável para baixo e para baixo.
Egoísta. Ele tinha sido imperdoavelmente egoísta
novamente.
Ela estava certa. Ele não tinha ouvido. Não tinha prestado
atenção.
Em vez disso, ele presumiu, porra. Que o que ela queria era
o mesmo que ele queria. Que seu trabalho a faria feliz também.
Que ela o amava – ou poderia amá-lo – da mesma forma que
ele a amava.
Ele falhou em ouvi-la, e ele entendeu mal. Ele interpretou
mal a afeição dela como algo mais do que uma amizade e um
pouco de sexo casual.
Só que o sexo não foi casual para ele. Nunca foi.
Mas isso não era problema dela. Ele não era mais sua
responsabilidade.
Logo, ela estaria sobrecarregada e cambaleando sob o peso
mental, físico e emocional de seu trabalho mais uma vez, e ele
não tornaria sua vida mais difícil com sua carência. Suas
demandas egocêntricas por seu tempo e energia, quando em
breve ela não teria nenhum dos dois de sobra.
Vou sentir sua falta, ela disse, e agora ele entendeu.
Logo, ela não teria mais espaço em sua vida para ele. O que
era como deveria ser.
Ele há muito pensava que ela era boa demais para ele. Esta
conversa só provou isso, e bom para ela, realmente. Bom para
ela perceber isso.
—Alex? — Ela deu um passo mais perto, e estava
estudando-o agora, com a testa franzida.
Ele não era seu paciente, porém, ou seu amante. Ele era
apenas um amigo com quem ela tinha fodido, e ela não
precisava desperdiçar sua preocupação com gente como ele.
— Eu não escutei. Eu não pensei. Eu não percebi. — Ele riu,
e não continha amargura desta vez. Só derrota. — Nunca vou,
certo?
Ela mordeu o lábio, e ele não pôde suportar seu escrutínio
por mais um momento.
Seus olhos secam por pura força de vontade, ele tentou
sorrir para ela.
— Por que você não faz as malas enquanto eu desejo tudo
de bom para Stacia e seu marido? — Virando-se, ele alcançou a
maçaneta da porta. — Eu estarei de volta em trinta minutos
para ajudá-la a carregar suas malas até a entrada.
Ele estava no corredor antes que ela pudesse responder.
No andar de baixo, no saguão, ele abriu a porta de um
banheiro e se trancou lá dentro. Ele enviou uma mensagem
para Zach com dedos instáveis.

Alex:
Eu preciso de alguns dias para pensar. Pare-os
se puder. Me desculpe.

Engolindo em seco, ele colocou o telefone de volta no bolso.


O piso de mármore doeu em seus joelhos quando ele
desabou, mas foi apenas mais um catavento de dor em um
corpo já atormentado pela agonia. Ele não podia conter tudo
isso por mais um momento.
Lá, onde ninguém podia ver, ele chorou tanto que vomitou.

Na terça-feira de manhã, Alex estava de volta em sua casa.


Marcus chegou ao hotel bem tarde da noite de sábado,
carregando sua mochila e um saco cheio de doces estranhos que
ele chamava de cocroffinuts. Ele dormiu algumas horas no sofá-
cama, enquanto Alex passou a noite miseravelmente cheirando
as fronhas da cama, procurando um cheiro de coco. E, no início
da manhã seguinte, eles começaram sua viagem de dois dias,
alimentada com doces com cafeína, de volta pela costa.
Por causa do aperto trêmulo de Alex em... bem, tudo,
Marcus tinha dirigido, e ele fez isso sem reclamar. Mesmo
quando Alex continuava escolhendo playlists cheias de baladas
poderosas dos anos 80. Incluindo, notavelmente, Broken
Wings de Mr. Mister, que ele tocou seis vezes seguidas antes
que a miséria cada vez mais visível de Marcus finalmente o
levasse a mudar para Every Rose Has Its Thorn de Poison,
seguido por What About Love? de Heart.
—Você sabia — Marcus finalmente disse após a quarta
repetição de The Flame, de Cheap Trick, sua voz tensa, mas
paciente — que músicas foram feitas após a virada do século.
Até música triste com guitarras elétricas.
Alex olhou pela janela, onde um penhasco despencava para
as ondas batendo lá embaixo.
— O rádio fala à minha alma.
Marcus ergueu a mão em rendição e voltou a dirigir.
Quando finalmente chegaram à casa de Marcus em Los
Angeles, ele saiu do banco do motorista com um gemido,
esticando as costas.
— Quer ficar aqui por um tempo?
Ambos sabiam que Marcus preferia estar em São Francisco
com April, e Alex podia não preferir a solidão, mas talvez fosse
o que ele precisava. Certamente era o que ele merecia.
— Não. — Ele bateu a porta do passageiro atrás dele e
circulou para o outro lado do carro. — Mas obrigado pela
oferta, cara.
A testa de Marcus franziu.
— Você vai ficar bem para dirigir para casa?
— Eu vou ficar bem. Por sua causa. — Antes de pegar o
volante, ele deu um abraço rápido e forte em seu melhor amigo.
— Vejo você na sexta.
Marcus e April estavam visitando Malibu naquele fim de
semana e persuadiram Alex a ir junto. Até então, ele planejava
ficar offline e fora de vista. Talvez até sexta-feira, ele teria sua
merda em ordem, embora duvidasse.
Ontem à noite, de volta à sua própria cama mais uma vez,
ele mal dormiu. Nem uma longa caminhada pela trilha escura
e tecnicamente fechada mais próxima de sua casa ajudou a
clarear seus pensamentos confusos ou aliviar a dor contínua em
seu peito.
E agora aqui estava ele, escondido na porra de seu próprio
quintal para evitar o escrutínio preocupado de Dina, pegando
suas excelentes panquecas de creme de maçã e tentando não
pensar em Carricinha.
Tentando e falhando.
Finalmente, ele colocou o prato de lado e bebeu seu remédio
para TDAH com café. Se o estômago dele doer mais tarde, que
assim seja. A dor abaixo de seu coração pode ser refrescante.
Quando ele verificou seu telefone, havia três novas
mensagens de Zach. StreamUs estava pressionando por uma
decisão sobre o show, e seu agente também. Não sei quanto
tempo mais eles vão te dar, dizia o último e-mail de Zach.
Vamos, cara, esse não é exatamente o tipo de oportunidade que
você queria?
Era. Zach estava totalmente certo.
Só que…
Ele se recostou na cadeira e olhou para sua propriedade. Sua
visão. Sua casa.
Quando ele era muito pequeno, às vezes ele e sua mãe eram
forçados a ficar em motéis baratos por um mês ou dois, alguns
com queimaduras de cigarro e correntes de segurança
quebradas e pulgas, porque ela não tinha dinheiro suficiente
para um depósito de segurança.
Agora, se quisesse, poderia dirigir pelo país – talvez até
explorar o mundo – com estilo, e poderia ser pago por isso.
Lindamente. Tudo o que ele tinha que fazer era fazer piadas
estúpidas e sorrir descaradamente e manter seu fluxo constante
de besteira correndo livremente. E quando ele terminasse, ele
poderia voltar para casa para um maldito mini-castelo,
completo com uma governanta terrivelmente eficiente e uma
casa de hóspedes.
Uma maldita casa de hóspedes.
Tudo isso enquanto Lauren estava arrasando no pronto-
socorro, esquivando-se de socos e insultos enquanto salvava
vidas e partia seu próprio coração, apenas para voltar para casa
em um velho duplex com uma torre e zero outras comodidades.
Tudo isso enquanto sua mãe estava sentada sozinha em sua casa
na Flórida e se reportava ao trabalho e arrumava livros e
continuava envelhecendo com seu único filho viajando todo o
maldito continente.
Sua vida era fundamentalmente egoísta. Ele era
fundamentalmente egoísta.
Talvez ele devesse voltar para a Flórida, perto de sua mãe, e
encontrar um trabalho de verdade. Mesmo que, em sua
experiência, o trabalho real tendesse a explodir.
Mas não importa o que ele decidisse, ele estava livre até
sexta-feira, e sua mãe merecia uma visita. Fazia meses desde sua
última viagem a Gold Coast. E se ele estava desesperado para
que sua mãe o abraçasse, se ele queria que ela lhe fizesse torradas
de canela para o café da manhã – sua comida favorita de todas,
sem exceção – e lhe dissesse que tudo ficaria bem...
Bem, talvez isso fosse egoísta também. Que seja.
Ele era quem ele era.
Então ele enviou uma mensagem para Zach.

Alex:
Vou visitar a mamãe na Flórida até sexta-feira.
Conversaremos quando eu voltar. Se eles
retirarem a oferta nesse meio tempo, tudo
bem.

Então ele bloqueou o número de seu agente novamente,


reservou seus voos e fez o possível para não se perguntar onde
Carricinha estava. O que ela estava fazendo. Se ela estava
assistindo ao mesmo nascer do sol, e se isso baniu suas sombras
e a aqueceu.
Nascer do sol ou não nascer do sol, seu mundo era tão frio e
escuro que poderia muito bem ser noite.
Bate-papo do elenco de Gods of the Gates: terça à noite

Carah:
Ei, Alex, o que está acontecendo?
Já faz dias desde sua última mensagem, idiota,
e você não respondeu nenhuma das minhas
Sem novas postagens ou vídeos, sem
mensagens ou e-mails ou correios de voz
Você evaporou ou o quê?
Achei melhor perguntar aqui, já que você não
está respondendo em nenhum outro lugar, e
Marcus também está offline

Maria:
Faz tempo que não tenho notícias de nenhum
deles

Peter:
O mesmo

Summer:
Todo domingo, Alex me envia um link para seu
vídeo de reação musical favorito da semana
Geralmente é a mesma música de Phil Collins
todas as vezes

Carah:
In the Air Tonight? AH DEUSSSS

Summer:
É esse
É como ser rickrolled, só que com uma batida
inesperada, três minutos depois da música
Philrolled, suponho
O conhecimento de música de Alex parece ter
parado em algum lugar nos anos oitenta ou no
início dos anos noventa
De qualquer forma, o que quero dizer é que ele
não me enviou um link no domingo
Eu mandei mensagem para ele porque eu
estava preocupada
Não tive resposta e agora estou ainda MAIS
preocupada

Maria:
Quer que eu passe na casa dele? Posso fazer
isso amanhã.

Carah:
Eu vou com você

Marcus:
Oi, pessoal
Alex está passando por um momento difícil
agora
Ele agradece a preocupação de vocês e manda
seu amor, mas não visitem a casa dele
Dê a ele um pouco de tempo, e ele ficará bem e
vai voltar a ficar online
Carah:
Se alguém machucar Alex, eu vou acabar com
quem quer que tenha sido

Maria:
Entre na fila, minha puta boa

Mackenzie:
As garras do Bigode são muito afiadas e
provavelmente podem estripar alguém
Eles não ousariam, Bigodes, não ousariam

Peter:
Porra
Bigodes pega pesado
Marcus, o que Alex precisar, estamos aqui
Aparentemente isso inclui Bigodes e suas
Garras da Morte

Marcus:
Alex sabe disso
Ele sabe, e ele amará vocês por isso para
sempre.
29
Banhada pela luz do sol quente do início da manhã, Linda
cantava junto com sua playlist enquanto passava manteiga na
torrada de Alex e polvilhava açúcar e canela por cima.
— Home sweet home! — ela gritou, em sua melhor imitação
de Vince Neil. — Tonight, toniiiiiiiiight!
Alex se juntou a ela, e a cozinha ecoou com sua versão em
alto volume e desafinada de uma de suas músicas favoritas.
Naquele momento, ele poderia ter sido uma criança
novamente, andando no banco de trás enquanto ele e sua mãe
balançavam ao som de bandas de glam-metal.
Os puristas da música odiavam essa merda, e ele não dava a
mínima. Com cada riff de guitarra rasgado, cada solo de
sintetizador datado, ele pensava em sua mãe. Ele pensou em
suas viagens de carro juntos, e seus cafés da manhã em dias
escolares juntos, e suas tainhas de penas combinando dentro do
medalhão dela, e ele se acomodou mais confortavelmente em
sua própria pele por um momento fugaz.
Ele sentia falta de sua mãe. Ele estava sentindo falta dela por
mais de uma década. E de agora em diante, eles passariam mais
tempo juntos. A vergonha de seu fracasso em ajudá-la talvez
nunca o abandonasse, mas ela merecia mais do que um filho
que via uma vez por ano.
Se ele ficasse em LA, tentaria visitá-la a cada dois meses. E se
ele se mudasse para mais perto dela... bem, eles poderiam se ver
quantas vezes quisessem. Todas as semanas, ou mesmo todos
os dias.
Era sexta-feira de manhã. Seu voo de volta para LA partiria
em questão de horas, e eles ainda não haviam conversado sobre
seu possível futuro na Flórida. Ele não podia adiar mais.
Quando ela colocou o prato de torrada com canela na frente
dele, ele apoiou os cotovelos na mesa redonda da cozinha e
olhou para ela.
— Obrigado, mãe.
— É o seu último dia aqui, e é o seu favorito. — Ela
bagunçou o cabelo dele, exatamente da mesma forma que ela
fez por quase quarenta anos. — Se você quisesse, eu faria um
pão inteiro de torrada com canela.
Ele se sentia como um velho exausto desde que Lauren o
deixou, seu corpo inteiro rígido e dolorido. Em contraste, sua
mãe tinha sido enérgica e alegre durante sua visita, seus
movimentos fáceis, seu olho roxo desaparecendo. Com ou sem
acidente de bicicleta ela estava em melhor forma do que ele no
momento, e ele estava feliz por isso.
Sentada na cadeira ao lado dele, ela cavou em seu mingau de
aveia, ainda cantarolando entre as mordidas.
— Olha — ele começou, pegando a crosta da torrada mais
próxima. — Eu estava pensando.
— Isso significa problemas. — Sua resposta padrão,
oferecida com seu sorriso habitual.
Ele tentou retribuir o sorriso dela, mas não conseguiu. Nesse
ponto, ela pousou a colher e o estudou com olhos cinzentos
desconcertantemente afiados.
— Querido… — A mão dela cobriu a dele. Apertou. — Eu
sei que você está sofrendo. Não sei por que, e não quero
pressionar, mas estou aqui se você quiser falar sobre isso.
Ele olhou para seu prato até que sua visão embaçada clareou.
Então ele colocou a mão livre sobre a dela para fazer um
sanduíche de mão, como eles sempre chamavam.
— Estou pensando em voltar para casa — disse ele. — Ficar
perto de você.
Suas sobrancelhas grisalhas se juntaram e ela clicou no
controle remoto para desligar a música.
— E a sua carreira?
— Já brinquei de faz de conta por muito tempo, você não
acha? — Ele tentou rir. — Além disso, não tenho muitas ofertas
de emprego no momento.
Ela ainda o observava com muito, muito cuidado.
— Você tem alguma oferta?
— Uma. Um reality show de viagens para um serviço de
streaming. — Seus ombros doíam enquanto ele tentava
levantá-los em um encolher de ombros. — É uma boa
oportunidade, mas não sei.
— O que você não sabe? — Sua cabeça inclinou, e seu rabo
de cavalo a seguiu. — Por que você não tem certeza?
Sua mandíbula trabalhou, mas ele se obrigou a dizer isso.
— Talvez seja hora de eu ser menos egoísta.
— Alex… — Sua cadeira guinchou contra o chão quando
ela a virou abruptamente em sua direção. — O que isso
significa?
Ele vinha evitando o assunto há mais de onze anos. Porque
ele não queria discutir nada que pudesse causar dor a ela, e
porque estava envergonhado. Mas ele lhe devia um pedido de
desculpas, mesmo depois de muito tempo. Ele lhe devia
reparações.
Ele abaixou a cabeça e mordeu o lábio até sentir o gosto de
cobre.
— Sinto muito, mãe.
— Eu não… — Sua mão virou, e de repente ela estava
segurando a dele, apertando enquanto ele tremia. — Eu não
entendi, querido.
Sua respiração estremeceu em seus pulmões.
— Eu deveria ter percebido o que ele estava fazendo com
você. Eu deveria tê-lo parado.
Não há necessidade de especificar o ele em questão. Ambos
entenderam.
— Mas… — Seu aperto sobre ele apertou ao ponto de dor.
— Alex, não tinha como...
— Eu te apresentei e te pressionei para ficar com ele quando
você tinha dúvidas — ele interrompeu, porque não, ele não a
deixaria absolvê-lo, não quando sua negligência a machucara
tanto. — E então eu saí e não me incomodei em olhar para trás.
Se eu tivesse visitado com mais frequência, saberia o que estava
acontecendo. Se eu tivesse ligado e feito perguntas, saberia o
que estava acontecendo. Se eu tivesse sido um filho decente, em
vez de um idiota egoísta, eu saberia o que estava acontecendo.
Ela estava balançando a cabeça quase violentamente,
aqueles olhos familiares cheios de lágrimas e horrorizados, mas
ele continuou antes que ela pudesse intervir.
— E mesmo depois de saber, não fiz a coisa certa. Eu não
voltei para casa para apoiá-la. — Depois de tantos anos, a
vergonha disso ainda queimava, ainda virava seu rosto tenso e
quente. — Em vez disso, fiquei do outro lado do país e evitei
visitas, porque não conseguia lidar com toda a culpa, mesmo
que eu merecesse cada pedacinho dela.
Sua boca se fechou, e ela estava esperando pacientemente
que ele terminasse. Mas seu joelho cutucou contra a perna dele,
e ela estava quente e macia, e oh, porra, ele sentia falta dela, e
ele sentia falta de Carricinha, e ele estava tão magoado. Tão, tão
magoado.
Mesmo quando sua voz engasgou, ele acelerou o resto.
— M-Mas no fim, eu finalmente quero fazer a coisa certa. E
talvez isso seja me mudando para cá, onde você está, então v-
você não estará mais sozinha.
Quando ele abaixou a cabeça, suas lágrimas pingaram em
uma fatia de torrada que ela carinhosamente fez para ele,
arruinando-a.
— Sinto muito, mãe. — Seu peito arfava enquanto ele
lutava por ar. — Me desculpe.
Então ele não conseguia mais falar, e de alguma forma ele
estava chorando nos braços de sua mãe pela primeira vez em
décadas, seu rosto pressionado contra o pescoço dela. Mesmo
depois de todos esses anos, ela ainda cheirava a talco de bebê.
Talco de bebê e conforto e mamãe, e ele precisava dela.
Depois de vários minutos, quando ele estava fungando em
vez de soluçar, os ombros dela subiram e desceram em uma
respiração profunda. Duas. Três.
Então ela falou baixinho contra a coroa de sua cabeça.
— Você terminou, querido?
Ele assentiu, os olhos bem fechados contra o ombro dela.
— Está bem então. Minha vez de falar e, por favor, deixe-me
terminar sem interrupção. — Foi um pedido que ela fez
inúmeras vezes durante sua infância, porque ela o conhecia. Ela
sabia que ele iria querer interromper, argumentar, não importa
o que ela dissesse. — Em primeiro lugar, não estou sozinha.
Tenho colegas de trabalho, vizinhos e amigos, e quando passo
um tempo sozinha é porque quero um pouco de paz. Eu não
sou como você, Alex. Às vezes, eu preciso de pausas de outras
pessoas.
Todas aquelas pessoas não eram família, no entanto.
— Mas–
— O que eu disse sobre interrupções? — O tom familiar,
carinhoso, mas severo, fechou sua boca. — Você não me
abandonou, querido. Conversamos várias vezes por semana,
desde que Jimmy morreu. Sim, eu preferiria visitas mais
frequentes, mas isso não exige se mudar para cá, e isso não
significa que eu seja solitária. Eu não sou. Eu simplesmente
amo meu filho e quero vê-lo mais vezes.
Foi uma interrupção, mas tinha que ser dito.
— Quero te ver mais vezes também.
— Então, pegue seu calendário quando estiver em casa, e
vamos agendar algumas visitas. — Com uma mão terna contra
sua bochecha, ela empurrou sua cabeça de seu ombro. — Agora
vamos falar sobre Jimmy.
Ao som do nome daquele monstro, Alex se encolheu.
Mas os olhos de sua mãe encontraram os dele diretamente.
Sua testa estava clara, seu corpo relaxado. Ela não parecia
assustada ou envergonhada. Só triste. Por ele, que era tão
parecido com ela, que ele poderia chorar de novo.
— Se eu soubesse como você se sentia, eu teria dito isso anos
atrás. Mas estou dizendo isso agora, e quero que você ouça com
atenção, Alexander Bernard Woodroe. — As palmas das mãos
em concha em seu rosto, ela enunciou cada palavra
distintamente. — Você não é e nunca foi egoísta; você não
percebeu o abuso dele porque nós escondemos isso de você,
amor. Eu estava com muito medo e muita vergonha de dizer
qualquer coisa, e Jimmy queria me isolar, então ele encorajou
mais distância entre nós.
Quando ele tentou protestar, ela falou sobre ele.
— Você não era meu guardião, e você não era um
especialista em violência doméstica. Você era um jovem com
vida própria e objetivos próprios, e eu queria isso para você. Eu
queria que você tivesse sua própria vida.
Lauren havia dito quase a mesma coisa para ele, apenas
alguns dias antes.
As duas mulheres que ele mais amava no mundo, as duas
mulheres que ele mais confiava no mundo, as duas mulheres
que nunca, jamais mentiram para ele, estavam lhe dizendo
exatamente a mesma coisa.
Ele exalou trêmulo, seu coração descomprimindo um
pouco em seu peito dolorido.
Sua mãe passou um polegar sobre sua bochecha, enxugando
uma lágrima perdida.
— Eu não trabalhei tão duro todos esses anos para manter
você ao meu lado para sempre. Fiz isso para você crescer forte e
inteligente. Então, você teria a chance de abrir caminho no
mundo e torná-lo seu. — Seus lábios se curvaram em um
sorriso, embora seus olhos estivessem molhados novamente. —
O que é exatamente o que você fez, Alex, e isso me deixa tão
orgulhosa. De você, mas de mim também. Eu sou sua mãe e
criei você para ser um trabalhador e um bom homem, e é
exatamente isso que você é.
Não soou trivial ou falso conforto.
Parecia verdade, como sua mãe a via.
— Então, deixe-me ser clara. — Ela balançou o rosto um
pouco em ênfase. — Partiria meu coração ver você desistir de
sua vida e carreira por mim. Não é o que eu quero, e não é
necessário. Sou adulta e perfeitamente capaz de cuidar de mim
mesma e pedir ajuda se precisar.
Ele apertou a boca, relutante em falar as palavras que vieram
à mente.
Mesmo sem essas palavras, sua mãe leu corretamente sua
expressão.
— Sim, eu sei. Não pedi ajuda quando precisei antes. Mas já
se passaram onze anos, Alex, e não sou a mesma pessoa que era
naquela época.
Pela primeira vez, ele podia ver isso claramente.
Ainda assim, ele hesitou.
— Se você precisar de ajuda, você vai me dizer?
— Sim. — Seu olhar era direto, sua voz confiante e segura.
— Eu prometo.
Sua cabeça de repente mais leve em seus ombros, ele se viu
capaz de sorrir para ela.
— De dedinho?
Ela riu, e ele também, e eles apertaram os dedinhos, como
faziam para selar votos durante toda a sua infância.
Depois de um último beijo em sua testa, sua mãe se recostou
na cadeira e pegou a colher novamente.
— Vou comer minha aveia e depois fazer uma torrada nova
para você. Enquanto eu faço tudo isso, você pode me contar o
que aconteceu com Lauren.
Seu sorriso morreu, e ele caiu sobre a mesa.
Droga, sua mãe sempre, sempre foi mais esperta que ele. Ele
não saiu escondido com sucesso de seu apartamento nenhuma
vez.
— Eu assisti vocês dois juntos quando liguei na outra noite.
— Sua colher estalou contra a tigela enquanto ela pegava uma
mordida. — Pelo que vi, ela se importa muito com você, e você
obviamente a ama. Então, por que você está aqui, com o
coração partido e sozinho?
Ela mastigou seu café da manhã, as mechas prateadas em seu
cabelo brilhando ao sol, totalmente paciente. Totalmente
implacável.
Ele poderia muito bem responder. Ela o intimidaria em
algum momento de qualquer maneira.
— Não faço a mínima ideia do que aconteceu. — Ele não
pôde evitar a amargura em seu tom. — No meio da recepção
do casamento, Lauren disse que tinha que voltar para sua vida
real e seu trabalho real, me agradeceu por minha gentileza e
amizade e pegou um táxi para o aeroporto. Não tive notícias
dela desde então.
Claro, ele também não a contatou, mas foi ela quem foi
embora, não ele.
— Isso é estranho. — Linhas marcaram a testa de sua mãe, e
ela bateu a colher contra a superfície de sua aveia. — Aconteceu
alguma coisa no casamento?
Ele abriu as mãos, frustração renovada batendo em suas
têmporas.
— Não que eu saiba.
Ela pensou por um momento.
— E o resto do dia? Aconteceu mais alguma coisa que possa
tê-la chateado?
— Mais uma vez, nada que eu saiba. — Levantando-se de
um salto, ele começou a andar de um lado para o outro. — Eu
contei a ela sobre a oferta de emprego, mas ela já havia decidido
ir embora antes disso.
— Por curiosidade — sua mãe disse lentamente —, se
Lauren tivesse ficado e você tivesse aceitado a oferta, como você
pretendia lidar com a separação dela?
Ele estremeceu e andou mais rápido.
— Eu meio que, uh... presumi que ela gostaria de vir
comigo. Como minha co-apresentadora. Zach e eu estávamos
negociando com a StreamUs sobre isso quando ela foi embora.
Sua boca caiu aberta.
— Você presumiu isso? — Seu assobio baixo machucou seus
ouvidos. — Uau. Alex–
— Lauren já falou sobre isso, acredite em mim. — Ele
engoliu em seco, sua garganta queimando com mais lágrimas.
— Não foi inteligente e não foi certo, mas não posso voltar atrás
e mudar o que fiz, mãe.
Seu pequeno zumbido estava começando a incomodá-lo.
Como ele havia esquecido aquele barulho revelador? Aquele
sinal inconfundível de que sua mãe farejava e pretendia rastrear
sua fonte?
— E se o StreamUs disser não? Aliás, e se o StreamUs
dissesse sim e Lauren recusasse a oportunidade? — Seus olhos
se estreitaram nele. — O que você teria feito, então?
Ela sabia. Ele sabia que ela sabia.
Mas ela o estava forçando a dizer de qualquer maneira,
porque sua mãe era a pior.
— Eu não escolheria um salário em vez de Lauren. — Ele fez
uma careta para ela. — Eu teria rejeitado a oferta.
— Alex… — Seus olhos se fecharam com força, ela pareceu
encolher em seu assento. — Deus, Alex.
Ela esperava que ele deixasse Lauren de lado para um
maldito trabalho? Que diabos de homem ela pensava que ele
era?
Mais uma volta na ilha. Outra.
— O quê? É um crime ficar no mesmo maldito estado da
mulher que você ama?
— Claro que não. — Ela abriu os olhos, e eles estavam
avermelhados. Cansados. — Mas, querido, eu não acho que
você perceba o que está fazendo com as pessoas que se
importam com você.
Ele jogou as mãos no ar, magoado e frustrado.
— Então, me diga.
O olhar claro de sua mãe o atravessou, e ela não hesitou.
— Você é impulsivo, Alex. Impulsivo, generoso e
ferozmente protetor. Você é assim desde pequeno, e eu amo
isso em você. Sempre amei, sempre amarei.
Havia um mas adiante, e ele suspeitava que não queria ouvir
o resto.
Por ela, porém, ele ouviria. Por ela, ele faria qualquer coisa.
— Mas depois do funeral, depois de Jimmy… — Uma única
lágrima escorreu por sua bochecha, e ela a secou. — Tudo isso
ficou muito mais intenso, querido. Especialmente neste último
ano, por razões que não entendo, e é aterrorizante.
— O que — Seu batimento cardíaco estava batendo contra
seu crânio, e ele não conseguia pensar. — Afinal, o que isso
quer dizer?
— De repente, você está disposto a desistir de tudo o que
tem, tudo pelo que trabalhou, sem pensar duas vezes. Não
apenas bens materiais. Sua carreira. Todo o seu futuro. Sua
felicidade. E você está disposto a fazer isso sem procurar outras
opções. — Suas palavras tremeram, mas ela não quebrou o
contato visual. — Pense em como é isso, para mim e para todos
que te amam.
Ele passou a mão pelo cabelo.
— Só estou tentando fazer a coisa certa.
Sua mãe ficou de pé, caminhou até ele e ficou cara a cara
com ele.
— Às vezes, fazer a coisa certa requer sacrificar todo o resto,
e às vezes não — ela disse a ele. — Você sempre foi impulsivo,
mas costumava tentar fazer essa distinção. Você costumava
procurar alternativas. Você não faz mais isso.
Sua mãe engoliu com tanta força que ele podia ouvir.
— Se você está tentando compensar pelo o que Jimmy fez,
é hora de parar. Não foi sua culpa. E o que quer que tenha
acontecido no ano passado, encontre uma maneira de superar
isso também. — Com o rosto machucado e manchado de
lágrimas, ela ergueu o queixo e o encarou. — Você não precisa
sacrificar seu futuro para provar seu amor ou se tornar um bom
homem. Você já é um bom homem, querido, e sempre foi.
Carricinha havia dito quase a mesma coisa. Novamente.
Você é moral e legalmente obrigado a acreditar em mim
quando digo que você é um bom homem. Você não tem escolha.
Desculpe, eu não faço as regras.
Ele gostaria de acreditar em ambas. As duas mulheres que
ele mais amava.
Ele aterrorizou Carricinha como ele aterrorizou sua mãe?
Foi por isso que ela foi embora?
Suas pernas estavam instáveis embaixo dele enquanto ele
cambaleava até a sala e desabou no sofá de sua mãe. Ele enterrou
o rosto nas mãos e tentou pensar.
— Lauren se preocupou com o meu futuro mais do que eu.
— Deus, seus olhos ardiam. — Você acha – você acha que eu a
assustei também, e ela estava tentando me salvar de problemas
terminando comigo? Antes que eu pudesse explodir com o
próximo idiota que a insultasse e arruinasse minha carreira para
sempre?
Sua mãe se sentou ao lado dele no sofá e o reposicionou com
gentil insistência até que ele estava descansando a cabeça em seu
ombro novamente.
— Eu não sei, querido. Mas se vale de alguma coisa, eu vi
uma afeição genuína entre vocês dois. De ambos os lados.
Aquela noite em Olema parecia mais do que afeição. Parecia
amor.
De ambos os lados.
— Talvez dê a ela um pouco de tempo e espaço para sentir
sua falta. — Ela o apertou. — E, então, se ela realmente não
quiser você ou não se permitir ter você, deixe-a ir, querido.
Você merece alguém que lute para mantê-lo em sua vida,
porque você é um partidão. E isso não tem nada a ver com seu
dinheiro ou fama, ou o volume de tweets sedentos de fãs
direcionados a você, e tudo a ver com seu enorme coração.
Sua palma acariciou aquela região geral de seu peito.
Ele suspirou e segurou sua mãe com mais força.
— Gostaria que você não conhecesse a frase tweets sedentos.
Especialmente para se referir a mim. Especialmente porque
estarei postando mais fotos sem camisa em breve. — Ele fez
uma pausa. — Eu realmente gosto de toda a atenção, retuítes e
emojis de fogo.
— Eu também sei disso, querido. — Bufando suavemente,
ela beijou o topo de sua cabeça. — Acredite em mim, eu sei.

A agente da linha aérea no balcão de check-in se encolheu


quando ela processou a identidade de Alex e viu em qual voo
ele estava. Ou melhor, em qual voo ele não estaria.
— Sinto muito, senhor. — Ela devolveu a carteira de
motorista dele. — Os passageiros devem fazer o check-in pelo
menos trinta minutos antes da decolagem.
Ele suspirou.
— Então, vou pegar uma passagem de primeira classe no
próximo voo disponível para LAX, se ainda houver um assento
disponível.
Entre sua conversa sufocada pelas lágrimas com sua mãe e
seus planos impulsivos mais tarde naquela manhã, ele se atrasou
absurdamente o dia inteiro. O que não foi uma grande
surpresa, já que o gerenciamento do tempo sempre foi difícil
para ele, mas ele normalmente tinha sua PA virtual para mantê-
lo em dia. Ou, nos últimos meses, Carricinha.
Onde ela estava? O que ela estava fazendo?
Ela sentia falta dele?
Porra, ele estava magoado. Seu coração, seu braço e seus
olhos injetados e em todos os lugares.
Ainda assim, ele ofereceu um sorriso cansado à agente de
check-in quando ela encontrou uma passagem para ele, e uma
compra de cartão de crédito relativamente grande depois, ele
estava passando pela segurança e caminhando para o saguão
executivo. Ao longo do caminho, sua bagagem de mão rolando
suavemente ao seu lado, ele verificou seu telefone.
Sua mãe havia lhe enviado uma nova mensagem.

Mãe:
Ótima visita, querido. Te amo. Não se esqueça
do que conversamos, senão terei que te deixar
de castigo. Boa viagem.

Então, minutos depois.

Mãe:
Obrigada por me deixar ser sua mãe
novamente. Eu senti falta disso. ♥

Seus lábios se inclinaram, e ele piscou contra o


formigamento em seus seios nasais.

Alex:
Também te amo, mãe

Ele escreveu de volta, parando ao lado do saguão.

Alex:
Eu não vou esquecer. Menos compensação,
mais pensamento. ♥♥♥
Ele esteve pensando a tarde toda, na verdade.
Em vez de dispersar seus pensamentos, a dor os concentrou.
Se ele não fosse irremediavelmente egoísta, se ele não
precisasse compensar, se ele não tivesse que provar seu amor
através de auto sacrifício negligente, então seu caminho a seguir
estava claro. Finalmente, finalmente claro. Não importa o que
aconteceu ou não com Lauren.
Ele desbloqueou seu agente e enviou outra mensagem antes
que pudesse mudar de ideia.

Alex:
Estou aceitando a oferta do StreamUs, embora
com certas demandas que podemos discutir
amanhã.

Ele hesitou, mas continuou mexendo.

Alex:
Dito isto, este é o nosso último acordo juntos.
Embora eu aprecie tudo que você fez por mim,
é hora de nós dois seguirmos em frente.
Obrigado.

Porque se ele não fosse uma pessoa terrível, se ele pudesse


acreditar tanto em sua mãe quanto em Carricinha quando elas
disseram que ele era um bom homem, ele merecia um agente
que o respeitasse, mesmo quando ele fosse irritante. O que ele
seria. Frequentemente.
Talvez Francine, a agente de Marcus, não se importasse
tanto com isso.
Depois de mais alguns portões, a entrada do saguão
executivo apareceu. Ao entrar no espaço silencioso e amplo, ele
começou uma mensagem de texto pedindo ao seu melhor
amigo as informações de contato de Francine, e a bateria de seu
telefone acabou com três palavras na mensagem.
Ele largou sua bolsa no primeiro assento disponível e
vasculhou seu conteúdo, mas onde diabos seu carregador tinha
ido parar, ele não sabia dizer. Ele poderia comprar ou pedir
outro emprestado, é claro, mas... ele aguentaria ficar offline por
algumas horas. Pode até lhe fazer algum bem.
Deixando sua bolsa na cadeira, ele deslizou seu celular no
bolso e pegou um prato no final do bufê. Depois outro,
quando não conseguia encaixar tudo o que queria no primeiro.
Depois de pensar por um momento, ele serviu uma tigela de
iogurte também, porque estava com fome e seu estômago doía.
Ele não estava comendo o suficiente no café da manhã. Há
muito tempo, exceto com Carricinha.
Seu TDAH às vezes tornava difícil lembrar de coisas assim,
mas ele teve anos de terapia direcionada para ajudá-lo a lidar
com problemas semelhantes. A desordem pode ter sido um
fator contribuinte para sua negligência, mas não foi a causa raiz.
Ele entendia isso agora.
Com ou sem Carricinha, ele tomaria mais cuidado no
futuro, porque ele não merecia aquela dor. Ele não merecia.
Não importava o que aconteceu com sua mãe. Não importava
o que aconteceu no programa.
Carricinha tinha dito isso a ele. Sua mãe havia lhe dito isso.
E ele finalmente estava pronto para acreditar nelas.
30
Muito cedo de manhã, Lauren acordou com alguém
tocando sua campainha.
Alex, ela pensou descontroladamente, o alívio atingindo seu
cérebro como um narcótico. Alex está aqui para–
Mas não. Ele a deixou ir quase uma semana atrás, e não
houve mensagens de texto ou telefonemas, ou visitas dele desde
então. Nenhuma.
Afastando as cobertas, ela enxugou as lágrimas e convocou
seu novo mantra.
— Eu fiz a coisa certa — ela repetiu pela milionésima vez,
então se forçou a se arrastar até a entrada do apartamento. —
Eu fiz a coisa certa.
Ela nem se preocupou em verificar o olho mágico antes de
abrir a trava e abrir a porta, porque não era ele, e se não fosse
ele, ela não se importava. Quem quer que fosse, ela os mandaria
embora para que pudesse ficar sozinha em sua miséria mais
uma vez. Mesmo que fosse Sionna, a quem ela, de alguma
forma, conseguiu evitar com sucesso por seis dias inteiros.
Só que isso era mentira, porque assim que ela realmente viu
sua melhor amiga em sua porta, ela se curvou na cintura e
explodiu em soluços incontroláveis e tropeçou nos braços de
Sionna.
Uma quantidade indeterminada de tempo depois, ela
emergiu o suficiente de sua névoa de desolação para perceber
que elas estavam sentadas no sofá agora. Lauren soluçou e
assoou o nariz com lenços que milagrosamente apareceram em
seu colo, a mão de Sionna gentil em suas costas.
— Vi seu carro na garagem esta manhã e decidi que estava
cansada de você se esquivar de mim, então liguei para o trabalho
para dizer que estava doente. — A voz de sua amiga era calma.
Suavizante. — O que aconteceu, querida?
Entre soluços, Lauren disse a ela. Tudo.
Sionna ouviu pacientemente, como sempre ouvia. Então,
depois de uma última massagem nas costas de Lauren, ela se
acomodou nas almofadas do sofá e ficou pensativa.
— Acabou? — ela perguntou. — Você me contou tudo
agora?
Ao aceno de Lauren, Sionna continuou, sua voz seca, mas
não antipática.
— Permita-me resumir, então: depois de transar
ruidosamente com Alex, o homem que você claramente adora
e que parece adorá-la em troca, você ficou um pouco irritada
com ele por tomar decisões unilaterais e com muito medo de
que ele destruísse seu futuro profissional, então você tomou
uma decisão unilateral de deixá-lo, chamou-o de imprudente e
largou a bunda dele sem avisar no meio da recepção de
casamento da ex dele, destruindo assim qualquer possibilidade
de um futuro romântico com você.
As palavras caíram na barriga de Lauren como um peso de
chumbo, e seus olhos estúpidos formigaram novamente. Porra,
esse resumo desapaixonado a fez soar como um monstro. Uma
hipócrita também.
Ela rasgou o tecido ao meio.
— Eu não o chamei de imprudente.
O resto ela não podia negar, por mais que quisesse.
— Você questionou se ele pensou em você e suas
preferências ao fazer todos os seus planos grandiosos. — A boca
de Sionna se curvou. — O que foi um ponto absolutamente
justo, porque ele claramente não pensou. Mas ainda é uma
acusação de egoísmo, ou pelo menos auto absolvição.
Lauren congelou.
Essa acusação... ele já havia feito isso contra si mesmo antes.
Cuspiu como sujeira em sua boca.
Ele se chamou de egoísta. Um idiota. Um pirralho de
Hollywood egocêntrico.
Porque ele não percebeu o abuso de seu padrasto. Porque
ele atuou na temporada final do programa.
Por esses pecados autoproclamados, ele se amaldiçoou e
lutou para fazer as pazes. Mas para ele, não foi suficiente. Talvez
nunca seja suficiente. Sua auto aversão contínua tinha sido
dolorosamente clara naquela noite em Olema, quando ele
quase desmaiou ao ver sua mãe ferida.
E então, no casamento, exausta e aflita e desesperada para
afastá-lo, ela o confrontou sem sequer um pingo de sua cautela
habitual. Sem pensar em sua história. Da mesma forma, como
ela o informou, ele não tinha pensado sobre ela.
A ironia estrangulou a respiração em sua garganta.
O que ela disse, por mais verdadeiro, por mais necessário
que fosse, tinha que confirmar seus piores medos. E ela fez a
acusação sem cuidado, depois de insinuar que eles eram amigos
e nada mais, seu tempo juntos era um mero interlúdio.
Porra. Ah, foda-se.
Ela se curvou sobre si mesma.
— Deus. Não é à toa que ele não discutiu depois que eu disse
isso.
— Ren… — Sionna estava esfregando suas costas
novamente. — Você o ama?
Ela soluçou novamente, o som alto e feio.
— Sim.
Não adiantava enrolar. Sua melhor amiga já sabia, ou pelo
menos suspeitava. Caso contrário, ela não teria feito a
pergunta. E Lauren não tinha vergonha de amá-lo.
Alex merecia amor. O suficiente para preencher aquele
coração enorme, leal e solitário dele.
E ela implorava, ela sangrava, para dar a ele, mas–
Ela estava soluçando mais uma vez, seu corpo resistindo.
— Eu não posso– eu n-não posso deixá-lo d-destruir sua
carreira por m-mim novamente. Eu n-não posso.
— Eu entendi isso. — Os braços de Sionna eram macios e
quentes e puxaram Lauren para perto. — Mas, querida, eu só…
— Ela suspirou. — Não tenho certeza se foi uma decisão a ser
tomada por conta própria. Especialmente sem contar tudo a ele
e explicar como você se sente. Sem perguntar se ele prefere uma
carreira ou você, se ele tivesse que escolher.
Lauren respirou fundo uma dúzia de vezes, até que seu peito
não engatou mais com tanta força. Então ela balançou a cabeça
contra o ombro de sua amiga, exausta e tão triste, ela queria
dormir por um milhão de anos.
— Mas eu sabia o que ele diria. — Ela mordeu o lábio contra
mais lágrimas. — Eu sabia o que ele faria.
Ele demitiria seu agente.
Ele recusaria a oferta da StreamUs.
Ele a escolheria. Todas as vezes.
E então ele se veria sem dinheiro ou perspectivas, incapaz de
continuar sustentando sua mãe, Dina, e a caridade, e ele se
odiaria por isso. Ele lutaria contra todos que insultassem e
abusassem de Lauren, e seus inimigos seriam uma legião. Sem
fim.
Ele a escolheria, e então perderia tudo menos ela.
— Ele merece mais — ela sussurrou, as palavras abafadas
contra a camiseta de Sionna.
Com isso, sua amiga ficou imóvel.
— Ren… — O próprio peito de Sionna se contraiu. — Às
vezes eu quero queimar a porra do mundo pelo que ele faz com
você.
Depois disso, ela não disse mais nada. Ela apenas distribuiu
lenços de papel e esfregou círculos nas costas de Lauren até que
ambas parassem de chorar.

Mais tarde naquele dia, Lauren tentou parar de sentir falta de


Alex e se distrair de suas dúvidas procurando fotos recentes dele
online.
Se sua lógica era suspeita, seus dedos não se importavam.
Eles já estavam clicando para abrir uma nova janela do
navegador e digitando o nome dele e limitando os resultados às
últimas vinte e quatro horas, porque ela precisava vê-lo. Ela
tinha que ver seu rosto e sua expressão e saber que ele estava
bem. Ela tinha que saber que ele estava melhor sem ela.
Certamente ele percebeu isso também, a essa altura.
Porque se ele não tivesse...
Reprimindo firmemente essa linha de pensamento, ela
percorreu as fotos, nenhuma das quais parecia ser do dia
anterior, apesar de suas especificações de pesquisa.
Alex em um estrado no Con of the Gates, seu sorriso
brilhante e selvagem enquanto detonava sua carreira. Alex
posando para uma selfie enquanto lava um carro em apenas um
par de calças, brilhando com água ao sol. Alex em sua fantasia
de Cupido, rindo com um dos operadores de câmera no set.
Ela estudou todas aquelas fotos antes. Recentemente.
Repetidamente.
Deus, ela nunca passou tanto tempo nas mídias sociais em
toda a sua maldita vida. Mas ela não conseguia parar de stalkear
ele. Ou parar de chorar.
Ela também não conseguia encontrar notícias de seu acordo
com a StreamUs, apesar de todos os rumores ainda circulando.
Pior, ele não postou nada em nenhum lugar desde que ela o
abandonou no meio da recepção de casamento de sua ex. Não
no YouTube ou Instagram, onde os espectadores clamavam
por mais vídeos de viagens. Nem no Twitter, onde seus
seguidores lamentaram uma súbita falta de inspiração para
tweets de sedentos sem camisa. Nem no Facebook ou...
Espera.
Isso era novo. Em uma foto granulada e torta, ele estava
andando por uma calçada do lado de fora de um shopping
center arrumado, com palmeiras ao fundo. A foto poderia ter
sido tirada em qualquer subúrbio da Califórnia. De acordo
com as informações fornecidas, porém, a foto foi tirada no final
daquela manhã na... Flórida?
Se ele tinha visitado sua mãe, ela estava feliz. Linda parecia
adorável e amorosa, e ele merecia férias. Dito isto, a foto era
realmente terrível. Se ela não soubesse melhor, ela teria dito que
Alex não parecia bem na foto, o que seria o único exemplo desse
fenômeno particular na história humana.
Ela deu zoom, então ampliou novamente.
De perto, a imagem estava um pouco fora de foco, mas
merda. Merda, ele parecia mal. Terrível, na verdade.
Desgrenhado e abatido, com sombras escuras sob os olhos. Um
vagabundo em vez de um viking, pego em algum momento
embaraçoso onde ele parecia rígido e miserável.
Se ele percebeu que estava melhor sem ela, isso certamente
não era aparente na foto.
Desde sua conversa com Sionna, ela vinha tentando não
ouvir as dúvidas que clamavam mais alto a cada minuto. Mas
elas não seriam negadas agora. Eles eram tudo em que ela
conseguia se concentrar, além de suas fics salvas e seu rosto
amado.
Talvez um espectador tivesse tirado uma foto ruim e pouco
lisonjeira. Ou talvez Lauren tivesse ferido gravemente os dois
ao deixá-lo tão abruptamente, recusando-se a discutir suas
preocupações ou como ela se sentia em relação a ele antes de
sacrificar sua felicidade por sua carreira.
A felicidade dela, e talvez a dele também.
Naquele quarto de hotel, ela agiu unilateralmente,
exatamente como Sionna havia acusado. Arrogantemente,
Lauren tinha feito isso para o bem dele. Mas mesmo em sua
própria cabeça, isso era condescendente como o inferno, e ele
nunca quis que ela tomasse esse tipo de decisão por ele. Na
verdade, ele perdeu a cabeça com a ideia apenas duas semanas
atrás, depois que sua fã a insultou.
Eu sou a única pessoa neste carro e neste planeta que pode
decidir o que vale a minha carreira, ele se enfureceu,
ofendendo a fúria em cada sílaba, e não vale a porra da minha
alma.
Ela tinha que assumir que ele diria a mesma coisa sobre seu
coração.
Essa não é a porra da sua decisão, Lauren, ele disse a ela, mas
ela não ouviu de verdade. Ela não se lembrava. Não quando
confrontado com a história de seu agente, não quando lutava
com seu próprio medo e culpa.
Incapaz de suportar a visão de sua possível miséria por mais
tempo, ela clicou no YouTube. Até o vídeo que eles gravaram
em Glass Beach, apenas alguns minutos antes de debater sua
relativa intensidade durante o orgasmo.
Alex estava sorrindo para alguém que o público não podia
ver. Ela, atrás da câmera, revirando os olhos para ele enquanto
ele tirava a camisa e posava apesar do dia nublado e
tempestuoso.
Ele passou a palma da mão acariciando seu peito largo
coberto de cabelo.
— Dizem que fazer topless nesta praia é como encontrar um
trevo-de-quatro-folhas. Boa sorte garantida.
— Literalmente ninguém diz isso — sua voz informou ao
público.
Ele levantou uma sobrancelha escura.
— Eu disse isso. Agora mesmo, na verdade.
Ela bufou, e a imagem balançou ligeiramente.
— Corrigido. Literalmente uma pessoa no mundo diz isso.
Quando ele balançou a cabeça em repreensão, uma mecha
de cabelo caiu sobre sua testa.
— Você não conhece todas as pessoas do mundo,
Carricinha. — Sua piscadela a perturbou mesmo agora, uma
semana depois. — Além disso, já está funcionando, vocês de
pouca fé. Estamos aqui há cinco minutos, no máximo, e me
sinto muito sortudo. Só posso esperar ter ainda mais sorte em
breve.
Ele quis dizer que eles fariam sexo naquela noite, é claro.
Mas ela conhecia sua voz. Mesmo em meio a todas as
insinuações e postura arrogante, ela podia ouvir a sinceridade e
o carinho. O florescimento de... maravilha, quase. Como se ele
estivesse falando sério. Como se ele se considerasse sortudo por
tê-la em sua cama. Na vida dele.
Ela pausou o vídeo em seu sorriso brilhante e passou o dedo
indicador sobre o pedaço redondo e verde de vidro marinho
que ele carregou no bolso para ela, então o retângulo azul
nublado e o quadrado âmbar. As três peças que ela pegou da
praia naquele dia e colocou cuidadosamente dentro de seu
nécessaire. As três peças que agora estavam em sua mesa de
cabeceira, de fácil acesso, para quando ela precisasse de
conforto.
Ela não foi capaz de se impedir de pegar aquelas lembranças.
Mesmo assim, ela sabia que aquele dia era especial. Inundado
com calor e beleza e afeição fácil e riso. Ela não tinha previsto
outro dia como aquele, possivelmente em toda a sua vida.
Então ela juntou lembranças de luto enquanto podia.
Quantos outros lugares maravilhosos poderiam ter
explorado juntos se ela tivesse permitido que eles saíssem no
fim de semana, como ele havia planejado originalmente? Se ela
não tivesse atrasado a viagem porque não queria que ele gastasse
dinheiro com ela?
Mesmo que ele tivesse dito a ela que tinha muitas
economias. Mesmo que ele quisesse gastar esse dinheiro com ela,
quisesse esse tempo extra com ela.
Por que ela presumiu que não valia algumas contas extras de
hotel?
Ela estava absolutamente determinada a não deixá-lo desistir
de sua carreira por ela. Naquela noite terrível no hotel, pará-lo
– salvá-lo, quer ele tenha pedido para ser salvo ou não – parecia
necessário, sua importância clara e inquestionável.
Mas por que ela assumiu que não valia a carreira dele?
Alex sempre tinha uma resposta para tudo, e ele tinha uma
resposta para essa pergunta também. Ele compartilhou com ela
antes, várias vezes. Tristeza e raiva em cada sílaba, ele tentou
dizer a ela no que ela acreditava, como ela se via.
Você não é importante o suficiente para defender, mesmo
quando alguém insulta você na porra da sua cara. Ele expressou
isso como uma pergunta, mas era mais um lamento raivoso.
Uma condenação de quão pouco ela se valorizava. Como se
como você se sente não fosse importante. Como se você não fosse
importante.
Ela disse a ele que não era verdade.
Mas mesmo assim, parte dela sabia que ele estava certo.
A melhor coisa que o mundo oferecia a uma garotinha feia
era a indiferença. A pena doía tanto quanto os insultos, se não
mais, então ela tentou evitar qualquer um. Ela tentou evitar ser
notada. Mesmo quando criança, ela entendeu que era
importante ficar quieta. Ser discreta. E acima de tudo, pouco
exigente.
Felizmente, os adultos geralmente ficavam felizes em
ignorar uma criança baixinha e gorda com cara de pássaro, e ela
geralmente ficava feliz em encorajar sua falta de atenção.
Outras crianças, porém... elas não podiam ser evitadas e não
seriam dissuadidas.
Mas chorar sobre a crueldade dos outros com seus pais só os
aborreceu, e nada que sua mãe e seu pai fizeram diminuiu a
onda implacável de abuso, então ela finalmente parou de
procurar apoio neles. E eles nunca questionaram se aquela
crueldade havia realmente cessado, provavelmente porque eles
realmente não queriam saber. Especialmente quando seu algoz
também era seu primo.
Eles a amavam. Ela sabia disso.
Mas eles a ensinaram que a paz da família era mais
importante do que seus sentimentos.
E desde então, ela passou décadas dando pedaços de si
mesma, porque ela não importava. Não tanto quanto todos os
outros.
Ela se entregava no trabalho, a cada turno de horas extras
que fazia, a cada feriado que trabalhava no lugar de um colega,
a cada vez que escolhia ignorar sua crescente miséria e trabalhar
mais. Ela se entregou a seus pais, que aprenderam que ela
largaria tudo para ajudá-los a qualquer momento, não importa
o que eles quisessem. Por insistência deles, ela se entregou a seu
primo idiota também, embora o odiasse – merda, ela realmente
o odiava – e ela precisava desesperadamente de férias de
verdade, não de um emprego de babá de um homem que
precisava mais de amor do que de supervisão.
Eventualmente, ela havia entregado tanto de si mesma que
quase nada havia sobrado quando ela embarcou naquele voo
para a Espanha.
Sionna tentou dizer a ela, tentou ajudá-la, mas Lauren não
ouviu.
E então Alex a devolveu a si mesma. Peça por peça.
Incentivando-a a falar, a responder e fazer sua voz ser
ouvida. Incentivando-a – como Sionna tinha feito – a ser uma
megera, a exigir o que lhe era devido e agir em seu próprio
interesse. Prestando atenção constante a ela. Ao oferecer
presentes. Defendendo-a com todo o amor, raiva e lealdade de
seu enorme e imprudente coração. Por se gloriar no prazer dela
tanto quanto o dele. Insistindo que seus sentimentos e sua
segurança e sua felicidade e sua presença em sua vida
importavam, sempre.
Mais do que um fã aleatório. Mais do que sua carreira.
Ela não pedia nada de ninguém há anos. Inferno, ela se
ofereceu para dar mais de si mesma e rejeitou receber qualquer
coisa em troca.
Alex a forçou a tomar as coisas. Por ela, e por ele também,
porque ele era uma alma generosa, e a felicidade dela o fazia feliz
em troca.
Mas nem mesmo ele conseguiu fazê-la aceitar aquele
maldito dinheiro do hotel. Mesmo ele não poderia fazê-la
aceitar o coração mais leal que ela já conheceu, apesar do quão
desesperadamente ela o queria. Nem mesmo ele podia fazê-la
acreditar que ela era importante e valia todos os seus sacrifícios.
No final, havia apenas uma pessoa que poderia fazer isso.
E ela estava morrendo de medo de que ela tivesse arruinado
tudo.
De cima da mesa de cabeceira, seu celular tocou.
O número na tela a desconcertou. Ela partiu o coração de
seu melhor amigo, então por que no mundo Marcus estava
ligando para ela?
Bem, se ele queria gritar com ela, ela merecia. E talvez uma
vez que ele terminasse e ela rastejasse um pouco, ele diria a ela
quando Alex planejasse voltar da Flórida.
Ou... algo deu errado durante as férias de Alex? Houve
algum tipo de acidente?
Ela pegou o telefone e esfaqueou a tela.
— Marcus? Alex está bem?
Ele fez uma pausa antes de responder, e o baque do coração
dela encheu seu crânio, a sala, o mundo inteiro.
— Não sei. — Quando ele finalmente falou, parecia
perturbado. — Eu estava esperando que você soubesse.
Merda. Merda.
— Onde ele está?
— Eu não sei — ele disse novamente. — Ele planejou voar
para LAX esta tarde, passar em casa por alguns minutos, então
dirigir para encontrar April e eu em Malibu. Seu voo pousou
em segurança, de acordo com o site do aeroporto. Mas ele
deveria ter chegado ao hotel algumas horas atrás, e não o vimos.
Isso... não foi ótimo.
— Ele poderia ter perdido o voo?
— Pode ser. — A voz de Marcus estava tensa de
preocupação. — Mas ninguém ouviu falar dele desde que o
avião decolou. Ele não está atendendo o telefone ou
respondendo às mensagens e e-mails.
Alex normalmente enviava ao seu melhor amigo um bilhão
de textos entediados durante uma viagem de avião
transcontinental. Não admira que Marcus estivesse ansioso. Ela
também estava, e ficando ainda mais a cada segundo.
— Ele provavelmente esqueceu nossos planos, mas quero
ter certeza de que ele não está doente ou ferido. — Após o
clique de uma porta se fechando, o zumbido silencioso do
ruído de fundo silenciou. — Normalmente, ele sempre
responde às minhas mensagens. Mesmo quando ele ignora
todos os outros.
No pronto-socorro, inúmeras famílias assustadas e tristes
compartilharam alguma versão dessa história com lágrimas nos
olhos. No entanto, ela realmente não achava que Alex iria se
machucar. Não diretamente.
Mas ele era tão imprudente às vezes, e se ele estava sofrendo
tanto quanto ela...
Ela apertou os olhos e tentou pensar.
— Você ligou para a mãe dele?
— Ela é a última pessoa que ele contatou antes do voo. Até
onde ela sabe, ele não está mais na Flórida, mas ela
honestamente não faz ideia. — Ele fez um barulho frustrado.
— Eu esperava que ele tivesse se reconciliado com você e
perdido a noção do tempo, do espaço e da existência humana,
que era o melhor cenário possível nessas circunstâncias.
Deus, era só isso. Ela daria qualquer coisa. Qualquer coisa.
Mais importante, ela aceitaria qualquer coisa.
— Hum, não. Eu não tenho notícias dele desde… —
Quando ela engoliu, ela sentiu o gosto de bile. — Desde o
casamento.
— Porra — Marcus murmurou. — Eu verificaria com Dina,
mas não tenho o número dela. Você tem?
— Eu não tenho. Eu sinto muito — ela disse impotente.
Outro som frustrado.
— Então eu provavelmente deveria dirigir até a casa dele
hoje à noite para ter certeza de que ele está lá e está bem.
Ela não hesitou.
— Eu vou. Posso sair agora mesmo e estou muito mais perto
do que você.
Mais uma vez, Marcus ficou em silêncio por um tempo
desconcertante.
— Obrigado pela oferta, mas não sei se isso é uma boa ideia.
— Ele suspirou. — Ele não me agradeceria por te dizer isso, mas
ele sente terrivelmente a sua falta. Se ele já está em um estado
emocional ruim, para começar, ver você…
Embora ele tenha parado, ela entendeu exatamente o que ele
queria dizer.
Agora ele precisava entendê-la.
— Eu o amo, e se ele me aceitar de volta, nunca mais o
deixarei. — Seu rosto ficou quente, mas ela falou a frase como
a simples verdade que era. — Então, se essa é sua principal
preocupação, eu vou. Ainda tenho as chaves da casa dele e
posso verificar dentro e ao redor do terreno.
Alex insistiu que ela guardasse as chaves quando se mudasse
dos estábulos, e ela não conseguia enviá-las de volta depois do
casamento, não importava quantas vezes ela dissesse a si mesma
para fazer isso.
— Ah, obrigado, porra. — Marcus soltou um suspiro lento.
— Se ele estiver lá ou não, por favor, ligue para me avisar. Assim
que puder.
— Eu te ligo. — Ela caiu no chão correndo. — Estou a
caminho.
Assim que eles trocaram breves despedidas, ela puxou suas
leggings e enfiou os pés sem meias nos tênis.
Em menos de um minuto, ela estava fora da porta e a
caminho de Alex.
Ela esperava.
Por favor, que ele esteja lá.

Assim que Lauren viu o mini castelo de Alex iluminado por


dentro, ela ligou para Marcus.
— As luzes internas estão acesas. — Ela estacionou na
entrada circular, bem ao lado da entrada. — Dina às desliga
quando sai, então, a menos que haja um intruso, ele está aqui.
Ela não queria que seu reencontro com Alex ocorresse
enquanto seu melhor amigo ouvia, mas que seja. Com o
coração acelerado, ela subiu os degraus da frente, tocou a
campainha e bateu na porta.
Nada. Nem um som.
— Ele não está respondendo. — Droga. — Você acha que
eu deveria entrar? Normalmente, eu não invadiria sua
privacidade assim, mas...
— Tempos desesperados — disse Marcus. — Além disso, ele
deu a uma boa parte de LA suas chaves e códigos de segurança
e disse para eles virem a qualquer momento. Considere isso a
própria definição de a qualquer momento.
Quando ela tentou sua chave, no entanto, ela descobriu que
não era necessária.
— A porta está destrancada. — Ela fez uma careta. — Eu
disse a ele e disse para ele trancar, mas ele nunca ouve.
— Uma porta destrancada pode indicar um intruso, como
você disse. — Marcus agora parecia preocupado com ela e Alex.
— Lauren, eu mudei de ideia. Talvez você devesse esperar...
— Vou entrar.
Apesar de seus protestos volúveis, ela escancarou a porta e
entrou.
— Vocês dois pertencem um ao outro — ele murmurou. —
Jesus Cristo.
— A bagagem de mão dele está no corredor — ela disse a
Marcus, então gritou para as profundezas do mini castelo. —
Alex! Onde você está?
Marcus gritou.
— Puta merda, meu ouvido.
— Alex! — Nenhuma resposta, o que estava começando a
deixá-la nervosa. Mais nervosa. — Ok, deixe-me olhar ao redor.
Graças a Deus, ele não estava ferido em nenhum lugar da
casa ou no terreno. E onde quer que ele tenha se aventurado,
ele não se foi por muito tempo. Quando ela tocou o capô do
carro dele, estacionado ordenadamente na garagem, o metal
ainda estava quente.
Então, em que lugar do mundo–
Ah. Oh, ela sabia exatamente onde ele estava. Ou, pelo
menos, ela sabia o que ele estava fazendo.
— Ele está andando em algum lugar próximo. — Fechando
a porta da frente atrás dela, ela olhou para a noite. — Ou em
uma das trilhas, ou nas escadas secretas.
Ela esperava que fosse o último, porque ela não queria
particularmente invadir trilhas fechadas, escuras e
desconhecidas, especialmente considerando a panóplia de vida
selvagem local que Alex havia notado.
— Ok. — Marcus soltou um suspiro lento. — Porque você
não espera lá dentro, ou na frente–
— Eu vou encontrá-lo e ligar para você assim que o
encontrar — Com um toque e um clique, ela ativou a lanterna
de seu celular. — Não se preocupe. Está tudo sob controle.
Um gemido muito alto saiu dos alto-falantes do telefone.
— Se você se machucar procurando por ele, Alex vai me
matar, porra.
— Eu vou te proteger — ela prometeu, então prontamente
desligou diante das objeções de Marcus.
As luzes do sensor de movimento se iluminaram no alto
enquanto ela meio que andava, meio que corria até o portão
lateral, que estava...
Desbloqueado e bem aberto.
Bem, ele tinha obviamente ido pelas escadas secretas. Ele
também deveria receber outra palestra sobre sua segurança
pessoal, e uma vez que ela terminasse de implorar seu perdão e
se jogar a seus pés, ela estaria dando o sermão a ele.
Junto com seu coração, espero.
A noite estava fresca, mas os passos eram numerosos e seu
passo rápido, e ela estava suando quando chegou ao topo da
Escadaria Saroyan. Seu lugar favorito na montanha, com
estrelas brilhando acima, as luzes do centro de Hollywood
brilhando abaixo e vegetação ao redor.
À primeira vista dele, seus joelhos quase se dissolveram sob
ela.
Ele estava vivo e de pé, pelo menos, e essas foram duas
orações ao universo respondidas.
No meio da escada, ele se sentou em um dos bancos, braços
em volta dos joelhos dobrados contra o peito, olhando
fixamente para o céu escuro e aveludado. Tanto quanto ela
podia dizer, ele não tinha ouvido sua aproximação. Ele
certamente não reconheceu sua presença.
Ele ainda não tinha percebido. Um homem constantemente
em movimento finalmente em repouso.
Se isso era bom ou ruim, ela não sabia.
Quando ela deu o primeiro passo até ele, outro conjunto de
luzes se iluminou, perfurando sua absorção. Sua cabeça virou
em sua direção.
Ao vê-la, seus lábios se separaram, seus olhos se arregalaram.
Ela continuou se movendo, passo a passo, permitindo que o
corrimão apoiasse suas pernas trêmulas.
— Por favor, me diga que você não está ferido de forma
alguma. Marcus tem estado frenético, e eu também.
— Eu não… — Sua testa franziu. — O quê?
— Você não apareceu em Malibu e ninguém conseguiu
entrar em contato com você. — Mais uma dúzia de passos, e ela
estaria ao seu lado novamente. Onde ela pertencia. — Marcus
me ligou. Estávamos preocupados com que você estivesse
doente ou ferido.
— Merda. — Seus olhos se fecharam por um momento, sua
mandíbula trabalhando. — Perdi meu maldito voo, meu
telefone descarregou e esqueci completamente de Malibu.
Quatro passos. Três. Dois. Um.
Lá estava ele, ao seu alcance novamente. Ela cedeu contra o
corrimão em alívio profundo.
Lentamente, seu corpo se desenrolou e seus pés desceram
para descansar na escada. A luz nada lisonjeira enfatizava as
sombras sob seus olhos, o desgrenhado de seu cabelo e barba, o
tecido amarrotado daquela blusa Henley azul-ardósia de
mangas compridas que ela amava.
Ela poderia perguntar por que ele não tinha comprado ou
pegado emprestado um carregador. Ela poderia descobrir por
que ele perdeu o voo. Ela poderia repreendê-lo por preocupar
as pessoas que o amavam.
Ou ela poderia fazer a única pergunta importante.
— Você está doente ou ferido de alguma forma?
— Não estou doente. — Sua pausa a desconcertou. — E se
estou com dor, eu mesmo a causei.
Ah, merda.
— Alex–
Ele reuniu uma sombra pálida de seu sorriso habitual.
— Não se preocupe, Ca– Lauren. Você não vai me ver em
sua sala de emergência. Não é esse tipo de automutilação. Eu
prometo.
O que isso significava, ela não tinha certeza. Mas ela não viu
nenhum sinal óbvio de doença ou lesão, e ele não parecia estar
em sofrimento agudo.
— Nesse caso… — Ela ergueu o telefone apertado em sua
mão suada. — Eu preciso enviar uma mensagem para Marcus e
avisá-lo que você está bem.
Uma vez que ela enviou a mensagem e confirmou seu status
de entregue, ela olhou para cima para encontrar seus olhos
cansados fixos nela, seus lábios apertados.
— Desculpe, você veio até aqui sem motivo, mas obrigado
por se preocupar com o meu bem-estar. — Seus dedos
brilharam brancos quando ele agarrou o banco em ambos os
lados de seus quadris. — Posso acompanhá-la de volta ao seu
carro?
Agora. Ela faria isso agora.
— Não — ela disse.
— Mas... tudo bem. — Seus ombros se curvaram e ele
estudou as escadas sob seus pés. — Ok. Eu entendo.
Ela balançou a cabeça.
— Eu não acho que você entendeu.
Coragem, Lauren.
Ela era importante. Para ele, e para ela mesma, o que
significava que isso era a coisa certa. Finalmente, finalmente,
ela estava fazendo a coisa certa.
— Eu teria vindo ver você de qualquer maneira. Se não esta
noite, então amanhã. — Respirando fundo, ela colocou os
punhos nos quadris. — Tem coisas que eu preciso dizer, e vai
ser difícil para mim, então você pode, por favor, me deixar falar
até eu terminar?
Ele inclinou a cabeça, agora a observando cuidadosamente
mais uma vez, seu corpo inteiro tenso.
— Eu te devo desculpas. — Quando ela se concentrou no
mal que havia feito a ele, as palavras saíram mais facilmente. —
Não apenas pela maneira como saí, mas porque saí. Eu não
deveria ter abandonado você no meio de uma recepção de
casamento, independentemente dos meus motivos, mas eu
definitivamente não deveria ter abandonado você sem te contar
o que aconteceu.
Aqueles olhos cansados ficaram afiados como sílex mais
uma vez, sua névoa de exaustão desapareceu em um piscar de
olhos. Mas ele não disse uma palavra.
— Eu já estava preocupada com que alguém dissesse algo
terrível para mim na sua frente, porque eu sabia como você
reagiria, e eu só… — Ela soltou um suspiro. — Eu não queria
que você tivesse problemas por minha causa. De novo. Então
eu mandei você para a mesa da frente, imaginando que isso o
manteria seguro.
Ele abriu a boca, fez uma pausa, então a fechou novamente.
O que ela apreciava, mas esta próxima parte seria o verdadeiro
teste de seu autocontrole.
Com as unhas curtas cravadas nas palmas das mãos, ela se
preparou e disse a ele.
— Então seu agente foi até mim e pediu para falar comigo
em particular.
Um som baixo, abafado e furioso irrompeu de seu peito, e
ele estremeceu violentamente, suas sobrancelhas batendo
juntas. Sua expressão endureceu para pedra, mas ele manteve a
boca fechada.
— Eu recusei no início, mas ele disse que estava preocupado
com você, e você parecia… — Inquieta e envergonhada, ela
puxou a ponta de seu rabo de cavalo. — Você parecia não ser
você mesmo desde o seu encontro com ele, e eu não queria
atrapalhar a recepção incomodando você. Então, eu fui com
ele. O que eu não deveria ter feito, e sinto muito por isso
também. Prometo nunca mais falar com um de seus parceiros
de negócios sem que você esteja presente de novo.
Com isso, um pouco da fúria desapareceu de sua careta, e
ele piscou para ela uma vez. Duas vezes.
— Ele me contou sobre a oferta do StreamUs. — Outro
puxão em seu cabelo. — Ele disse que era sua última chance em
Hollywood e que se eles não concordassem em me ter como a
co-apresentadora, você recusaria a oferta. Ele disse que mesmo
que eles concordassem, se eu recusasse, você ainda os recusaria.
Ela franziu a testa para ele, porque ela estava se
perguntando.
— Isso é verdade? Você disse isso a ele?
Exalando ruidosamente pelas narinas dilatadas, ele assentiu.
Bem, pelo menos ela não tinha comprado uma mentira
descarada. Havia isso.
— Eu pensei que sim. Parecia algo que você diria. — Ela
franziu a boca. — Pelo que vale, ele parecia sinceramente
preocupado com seu futuro, Alex. E nós dois concordamos
que o trabalho era perfeito para você. Mas não deveríamos ter
tido uma conversa sobre sua vida e carreira sem você, e quero
que você saiba que percebo isso.
Outro aceno de queixo apertado.
— Finalmente, ele perguntou se o que tínhamos valia sua
carreira. — Agora eles estavam chegando à parte mais difícil, e
ela fechou os olhos, permitindo que a escuridão facilitasse a
confissão. — E eu pensei em sua mãe e sua caridade e Dina.
Todas as pessoas que você apoia, e em como esse apoio é
importante para você, e em como você ficaria arrasado quando
tivesse que parar de pagá-las porque não tinha trabalho e seu
dinheiro acabou. Pensei em todas as pessoas que me insultam,
e em como era inevitável que fizessem isso na sua frente
novamente. Pensei em como você reagiria a isso e se sua carreira
poderia sobreviver a mais uma explosão em minha defesa.
A memória daquele momento a deixou tonta e com ânsia, e
ela cegamente estendeu a mão para um corrimão ou qualquer
coisa que pudesse estabilizá-la naquelas escadas íngremes –
apenas para sentir uma mão larga e forte segurando a dela com
força e a outra aberta em seu quadril, amparando-a contra sua
própria desorientação.
Ele não a deixaria cair. Mesmo agora, depois do que ela tinha
feito, ele não a deixaria cair, e ela teve que engolir um soluço
com a devastadora doçura disso.
— O pensamento de deixar você me destruiu, Alex. Me
estripou. — Apesar de seus melhores esforços, sua voz falhou e
lágrimas escorreram de suas pálpebras. — Mas eu disse a mim
mesma que precisava ser altruísta, porque sua carreira era mais
importante do que meu coração. Mais importante do que eu.
Outro rugido abafado retumbou pela noite, e ela mordeu o
lábio.
— Então, eu decidi seu futuro por você. Saí para que você
aceitasse a oferta de emprego. — Quando ela abaixou a cabeça,
mais lágrimas escorriam pelas escadas abaixo, invisíveis. — Eu
não tinha esse direito, e eu sinto muito.
Seu peito estava apertado, e ela tentou acalmar sua
respiração. Acalme-se.
Ele finalmente falou, sua voz embargada e áspera, sua mão
ainda firme na dela.
— Você explicou e se desculpou. Se você quer meu perdão,
você o tem. Mas se essa é a única razão pela qual você está aqui–
— Não é. Talvez devesse ser, mas não é. — Ela abriu os olhos
para encontrar os dele, permitindo que suas lágrimas caíssem
livremente enquanto ela implorava por seu próprio futuro.
Seus próprios desejos. Sua própria felicidade. — Eu estou
miserável sem você, Alex. Absolutamente desolada. E eu não
posso continuar dando pedaços de mim mesma, ou não sobrará
nada. Nem mesmo meu coração, porque agora ele é seu. Todo
seu.
Seus dedos se apertaram contra o quadril dela, seu aperto
quase doloroso, e ela deu as boas-vindas. Congratulou-se com
como seu olhar se abriu e brilhou com as lágrimas,
congratulou-se com a maneira difícil que ele engoliu.
Ele a estava observando como se estivesse... maravilhado.
Como se ele tivesse pedido para todas aquelas estrelas acima
e abaixo delas, e ele tivesse desejado por ela.
— Eu te amo. Eu te amo. — Por uma garganta grossa, ela
forçou o que ambos precisavam ouvir. — E eu sou importante,
o que significa que o que eu quero é importante, e meu amor
também. Se você me escolher em vez de sua carreira e do futuro
que poderia ter sem mim, que assim seja. Essa é sua decisão, e se
essa é a única maneira que eu posso ter você, é o que eu quero
também.
Pela descrença atordoada e afeição em sua expressão, a
suavidade de sua boca enquanto ele a olhava, ela sabia a resposta
para sua próxima pergunta. Mas ela tinha que perguntar de
qualquer maneira, porque ele merecia uma voz, e ela merecia as
palavras.
— Eu te disse o que aconteceu naquela noite e o porquê. Eu
me desculpei. Já te disse como me sinto e o que quero para
mim. — Ela estava segurando a mão dele com tanta força que
seus dedos estavam ficando dormentes, mas ela não se
importou. Se dependesse dela, ela nunca o deixaria ir
novamente. — Agora eu preciso saber o que você quer.
Ele lambeu os lábios, e brilhou por apenas um momento
antes que as luzes do teto se apagassem, deixando-os na
escuridão enluarada.
Não importava. Ela não iria se mover para nenhum lugar tão
cedo, a menos que ele a obrigasse.
— Visitei minha mãe esta semana — ele disse lentamente,
sua testa franzida mais uma vez. — Ela me disse exatamente a
mesma coisa que você, que o que aconteceu com ela não foi
minha culpa. Ela também me disse para parar de me sabotar por
culpa. O que eu não tinha– eu não tinha percebido que estava
fazendo. Não conscientemente.
A mão dele tremeu ligeiramente, e ela a segurou ainda mais
forte.
— Mas ela estava certa. — Seus lábios se curvaram. — Ela
está sempre certa. Muito parecida com você. É tudo
extremamente irritante e muito injusto.
Com aquela faísca de Alex, ela teve que sorrir.
— Então, agora, estou tentando pensar nas coisas com um
pouco mais de cuidado. Com um futuro em mente. Porque
talvez eu não mereça tanto sucesso, mas também não não o
mereço. Eu trabalho duro e não fiz nada imperdoável. O que
significa... — Ele ergueu um ombro. — Vou tentar sair da porra
do meu próprio caminho. A menos que algo seja uma questão
de consciência e não haja outra maneira de lidar com qualquer
que seja o problema, tentarei não explodir minha vida. Pelo
bem da minha mãe, da caridade e da Dina, mas também por
mim.
Ah, graças a Deus. Graças a Deus.
Ou melhor, graças à mãe dele, que conseguiu falar com ele
quando ninguém mais conseguiu. Se ele ainda queria Lauren
em sua vida depois desta noite, ela colocaria Linda na discagem
rápida. Imediatamente.
— Gosto do que faço. Eu gosto da minha carreira. — Ele
soltou uma meia risada. — Eu gostaria de continuar tendo
uma.
Ela riu também, tonta de alívio.
— Isso tudo é uma maneira prolixa e indireta de dizer que
aceitei a oferta do StreamUs, embora seja meu último acordo
com Zach como meu agente. Eu já o demiti hoje mais cedo. E
agora quero voltar e demiti-lo de novo, só que com os punhos.
— A força de seu súbito olhar furioso deveria ter incendiado as
suculentas próximas. Quando Lauren abriu a boca, porém, ele
levantou a mão. — Mas eu não vou. Mais uma vez, em
deferência aos meus instintos de autopreservação há muito
negligenciados.
Seu polegar em seu quadril se moveu em um pequeno arco.
Uma carícia sutil, potente o suficiente para fazê-la estremecer
apesar de seu persistente rubor de esforço.
— Eu ainda prefiro você na estrada comigo. Mas não farei
disso uma condição para minha aceitação, a menos que você
queira, porque isso não é justo com você, e sinto muito. — Seus
olhos encontraram os dela diretamente, linhas profundas
esculpidas entre suas sobrancelhas. — Você deveria poder
decidir livremente se quer me acompanhar ou não, e você não
pode fazer isso se minha resposta depender da sua. Eu também
não deveria ter tomado uma decisão tão grande sobre o nosso
futuro sem falar com você primeiro ou perguntar o que você
realmente queria. O que é uma falha que você e eu
evidentemente temos em comum, Carricinha — ele bufou
suavemente — e eu sinto muito por isso também.
Ele ainda a queria. Ele ainda a queria.
Novas lágrimas brilharam em sua visão, mas ela piscou de
volta e continuou ouvindo.
— Mamãe diz que eu sempre fui tudo ou nada, e ela está
certa. — Seu queixo se inclinou para cima, e seu tom era
totalmente sem remorso agora. — Eu sou ganancioso. Eu
quero tudo isso. O trabalho e você ao meu lado todos os dias.
Mas não importa o que você decidir, nós vamos fazer isso
funcionar. Citando uma mulher irritantemente sábia: se essa é
a única maneira que eu posso ter você, é o que eu quero
também.
Na ida de carro para a casa dele, sem saber se ela poderia
encontrá-lo mortalmente doente ou sangrando por algum
acidente horrível, ela se viu imaginando o que o futuro deles
poderia ter reservado, se ela não tivesse ido embora. O que
ainda poderia conter, se ele estivesse bem.
O pânico, como se viu, tornou suas prioridades cristalinas.
Também estimulou sua vontade de pensar em todas as opções,
não apenas nas que vinham facilmente à mente. E quando ela
considerou sua própria felicidade, não apenas as necessidades
dos outros, o que ela deveria fazer de repente entrou em foco.
Talvez não fosse exatamente o que ele queria, mas ele
superaria isso. Rapidamente, a menos que ela tenha perdido seu
palpite.
— Eu vou com você. — Quando ele realmente engasgou,
sua boca caindo aberta em choque antes de se dividir no maior
sorriso que ela já tinha visto, ela sorriu de volta para ele. — Não
só porque você me quer lá, mas porque eu quero estar lá. Quero
estar com você e quero explorar o país e o mundo.
— Carricinha! — ele exclamou, meio se levantando e
empurrando as mãos unidas no ar. — Nós vamos ser o time
mais incrível que alguém já–
— Eu não vou ser sua co-anfitriã ou assistente — ela
interrompeu, e ele caiu de volta no banco e fez beicinho para
ela. — Vou fazer teleterapia enquanto você trabalha.
Alguns pacientes não podiam ir a um consultório ou não
queriam, e ela os atenderia. Ela os ajudaria e conseguiria
acompanhar seu progresso e, esperançosamente, emergir a cada
dia com o coração intacto. Ela ainda faria o bem no mundo,
mas não sacrificaria mais sua própria felicidade.
— Tenho mais uma exigência. — Quando ela cutucou seu
lábio inferior amuado com a ponta do dedo, ele o beijou. —
Você não vai gostar, mas vai ouvir e concordar com isso.
Desta vez, seu bufar foi alto e vigoroso.
— Megera.
Ele estava sorrindo novamente, porém, e sua mão em seu
quadril estava explorando agora. Deslizando sobre sua barriga,
ao longo de sua coxa.
— Quando você se parece como eu, a crueldade é inevitável.
— A mão dele parou na perna dela, e ela a cobriu com a sua. —
As pessoas vão dizer coisas terríveis. E quando isso acontecer,
quero que me deixe lidar com isso. Você não vai precisar me
defender, porque eu vou me defender.
Porque ela era importante. Importante demais para se deixar
ser abusada sem consequências.
Não interferir estava o matando. Ela podia senti-lo na
contração de seus dedos, vê-lo na rocha agitada de seu corpo.
Mas ele a deixou falar sem interrupção, e ela o amava por isso
também.
— Eu ainda não darei espaço desnecessário à indelicadeza
dos outros na minha vida. Se eu ficasse com raiva toda vez que
alguém me insultasse, eu passaria minha vida assim, e não quero
isso para mim. — A dor e a raiva em seus olhos eram por ela, ela
sabia. Tudo por ela, e ela acariciou sua bochecha em
agradecimento. — Mas também não quero agir como se a
crueldade comigo fosse aceitável e não merecesse resistência.
Então, vou definir limites e consequências, e podemos
conversar sobre isso antes do tempo. Talvez se um fã for rude,
nós possamos ir embora imediatamente. Se alguém na
imprensa disser algo ofensivo, podemos nos recusar a cooperar
com o veículo no futuro.
Um pouco da tensão vibratória em seu corpo diminuiu, e
seus ombros caíram.
Mas seus lábios ainda estavam apertados quando ele olhou
para ela, sua desaprovação mais do que evidente.
— Carricinha–
— Alex. — Ela segurou sua bochecha eriçada na palma da
mão, o calor abrasador contra seus dedos uma evidência muda
de sua indignação. — Querido, por favor, acredite que vou me
defender. Por favor, confie em mim, mesmo sabendo que te dei
uma boa razão para não confiar.
Ele fechou os olhos e soltou um suspiro trêmulo.
— Você é absolutamente a pior.
De repente, ele a estava puxando para mais perto, até que ela
ficou entre seus joelhos, seus rostos quase no mesmo nível. E
ela o teria beijado – ela queria desesperadamente beijá-lo –, mas
ele ainda estava resmungando, no estilo típico de Alex
Woodroe.
— Sua harpia furiosa. — Seus dedos acariciantes
diminuíram um pouco o impacto de seu olhar ofendido, mas
apenas parcialmente. — Quando você coloca dessa forma, não
há nada que eu possa fazer além de concordar, certo? Porque se
eu não fizer isso, estou dizendo que não confio em você. E nós
dois sabemos que sim, e sempre soubemos. Quero dizer, pelo
amor de Deus, eu confio tanto em você que eu tatuei suas
primeiras palavras para mim na porra do meu antebraço...
Ela engasgou, empurrando em seu aperto.
— O quê?
— … Mesmo que você tenha largado minha bunda em um
maldito quarto de hotel. O que, para ser justo, talvez eu tenha
merecido, mas...
Ela colocou a mão sobre a boca dele.
— Volte para a parte da tatuagem, Woodroe.
Desta vez, ela já sabia o que esperar. A língua dele rodou
sobre a palma da mão dela, e embora o calor úmido e o
movimento sinuoso fossem direto para entre suas pernas, ela
apenas levantou uma sobrancelha.
— Tão exigente — ele reclamou quando ela removeu sua
mão, mas sua boca se curvou em um sorriso presunçoso e
satisfeito. — Eu roubei aquele bilhete que você escreveu para a
governanta na hospedagem domiciliar e guardei todos os post-
its que você deixou para mim em casa, então eu tinha todas as
palavras necessárias em sua caligrafia. E, esta manhã, antes de
sair para o aeroporto, eu a tatuei no meu antebraço como um
lembrete.
Por mais que tentasse segui-lo, estava perdida.
— Eu não... eu não entendi.
— Eu sei quem você é. A primeira coisa que você me disse. —
O sorriso dele se desvaneceu em solenidade, e seus olhos
estavam brilhantes e sérios ao luar. — E você sabe. Você sabe
quem eu sou e você me disse que eu era um bom homem. Já
que confio em você, isso significa que deve ser verdade. E,
agora, se eu duvido de mim mesmo, basta olhar para o meu
braço. Para o resto da minha vida.
Cuidadosamente, ele levantou a manga de sua camiseta
Henley e expôs o antebraço esquerdo, agora coberto por algum
tipo de curativo transparente e brilhante.
Sob essa proteção estavam suas palavras. Com a letra dela.
Tatuado em seu corpo com o que parecia ser tinta verde com
um toque de azul, embora fosse difícil dizer na escuridão.
Ela chutou uma perna, então acenou com um braço, e as
luzes se iluminaram acima, e sim.
A tatuagem dele era da cor exata dos olhos dela.
Ela cobriu a boca com as costas da mão, mas só conseguiu
abafar o soluço.
Ele essencialmente marcou as palavras dela em sua pele. E ele
fez isso naquela manhã, antes que ela aparecesse em sua porta,
embora ela o tivesse deixado tão abruptamente e sem uma boa
explicação. Ele tinha feito isso sem nenhuma expectativa de que
ela o visse. Ele tinha feito isso porque acreditava nela mais do
que ela jamais acreditou em si mesma.
A profunda doçura de seu gesto a atravessou em outro
soluço, e ele a puxou para perto com o braço direito, até que
seu ombro absorveu suas lágrimas.
Ela fungou.
— Isso– isso é uma marca de alma?
Com uma mão gentil contra sua bochecha molhada, ele
levantou seu rosto para ele. Então, ele a beijou, boca trêmula
com boca trêmula. Ela sentiu o gosto de sal e doçura, viu praias
inteiras de vidro de arco-íris atrás de seus olhos fechados, sentiu
o calor de seu cobertor de seda na curva de seus lábios contra os
dela.
— Eu te amo para caralho, Carricinha, e você é obviamente
minha alma gêmea. — Ele encostou a testa na dela. — Claro
que é uma maldita marca de alma. Não te ensinei nada, sua
harpia obtusa?
Delicioso. Idiota.
Se ela não o amasse tanto, ela lavaria sua boca com sabão,
como a babá estraga-prazeres que ele uma vez a acusou de ser.
Mas seu nome estava irrevogavelmente embutido em cada
insistente tum-tum de seu coração agora cheio, então ela
simplesmente o beijou de volta.
E, realmente, era a única maneira confiável de calá-lo.
Classificação: público adolescente e adulto
Fandoms: Gods of the Gates – E. Wade, Gods of the Gates
(TV)
Relacionamentos: Cupido/Personagem Original
Tags Adicionais: Universo Alternativo – Almas Gêmeas,
Marcas Identificadoras de Almas Gêmeas, Penugem
Apodrecida, Cupido É Extra, Final Feliz
Estatísticas: Palavras: 509 Capítulos: 1/1 Comentários: 8
Likes: 54 Marcadores: 9

Rainbow
RobinUnleashed

Resumo:
Robin viveu em preto e branco por tanto tempo que ela
esqueceu que a cor existe para outras pessoas, pessoas
que encontraram suas almas gêmeas. Então, ela conhece
Cupido, e tudo muda.

Notas:
Você disse que não precisava de um presente, mas eu
discordei.
Obrigado a AeneasLovesLavinia pela leitura beta.

O homem é absurdamente bonito. Ela pode até dizer


que ele é ofensivamente bonito. Ele é presunçoso
também, com um sorriso e um brilho malicioso em seus
olhos. Ela não pode determinar a cor daqueles olhos,
mas seja qual for a cor, certamente é linda, como o resto
dele.
Sem dúvida, ele pode ver as muitas sombras que
compõem seu corpo ágil e feições perfeitas, porque um
homem como ele precisa ter uma alma gêmea. Um
homem como ele certamente conheceu aquela alma
gêmea e a incomodou muito, apesar do futuro feliz que
os esperava.
Ele se acomoda no assento destinado aos pacientes
na sala de triagem, um tornozelo cruzado sobre o joelho
oposto, como se ele viesse ao pronto-socorro para uma
conversa fiada.
— O que parece ser o problema? — ela pergunta em
sua voz normal e imperturbável de enfermeira.
— Estou pesquisando para um papel. Preciso falar
com os funcionários do hospital e não queria esperar até
segunda-feira para obter permissão dos
administradores. — Ele se inclina para perto, como se
compartilhasse um segredo. — Nem sempre sou o mais
paciente dos homens, enfermeira… — Ele olha para o
crachá dela. — Robin.
Agora ela o reconheceu. O homem na frente dela é
Cupido, um ator premiado famoso por ser talentoso,
famoso por ser lindo, famoso por ser rico e
simplesmente... famoso.
Mas em seu pronto-socorro, isso não importa.
Ela o encara friamente.
— Se você não está ferido ou doente, eu vou ter que
pedir para você sair.
— Delicioso. — Ele suspira e revira os olhos para ela.
— Tudo bem então. Meu coração está doendo. Faça algo
a respeito, enfermeira miserável.
Ela luta contra a vontade de revirar os próprios olhos.
— Acho que é a enfermeira Ratched.
— Eu disse o que eu disse. — Aquele sorriso
detestável voltou.
Então ela pede que ele arregace a manga da camisa
branca e se prepara para aferir sua pressão arterial.
Apenas–
O procedimento padrão e rotineiro nunca foi assim
antes. O contato com o braço dele a percorre com um
calor surpreendente. Calor alarmante.
— Oh, meu Deus— ela sussurra.
Cupido se afasta e encara seu braço como se ele o
traísse.
— Ridículo— ele diz, e então acontece.
Ele dá uma exclamação sufocada e bate o braço,
como se estivesse com dor, mas ela não pode prestar a
assistência que uma enfermeira deveria agora. Ela só
pode sentir o que está acontecendo em seu próprio
braço.
Robin engasga com a sensação que ela esperou por
toda a sua vida, a sensação que ela nunca esperava sentir.
As letras aparecem uma a uma em seu antebraço em
um rabisco estranho e confuso.
Quando criança, ela imaginava que aquelas letras
poderiam coçar e queimar, poderiam parecer estranhas
na pele, mas não são.
Eles são uma carícia em vez disso, um toque terno de
sua carne. Elas são tão ridiculamente lindas quanto ele,
cada uma delas um arco-íris de tons de joias foscas como
vidro marinho.
Ridículo. É uma marca de alma lamentável, com
certeza, mas é dela.
Quando ela olha para cima, seus olhos cinzas estão
arregalados, suas bochechas coradas de um rosa vívido.
Ele é sua alma gêmea. Sua alma gêmea.
É uma pena que ele seja tão chato.
Epílogo
Vika Andrich olhou para suas anotações para a próxima
pergunta, e Lauren se preparou.
— Conte-me sobre a experiência de filmar com Carah
Brown, Alex. — A blogueira se inclinou em direção ao sofá
onde Alex e Lauren estavam sentados coxa com coxa. — Vocês
dois tiveram algumas cenas importantes juntos em Gods of the
Gates, mas agora estão na estrada na companhia um do outro
por semanas direto. Como tem sido?
A frequência cardíaca de Lauren diminuiu mais uma vez.
Marcus tinha encorajado Alex e Lauren a aceitarem o
convite de Vika para uma entrevista de Ano Novo, e Francine
– agora agente de Alex também – concordou. Ela é afiada, mas
não cruel, disse Francine. Ela fará o melhor por vocês dois, e uma
entrevista conjunta é uma boa maneira de apaziguar a
curiosidade do seu público em seus próprios termos e ajudar a
orientar a cobertura de seu relacionamento.
Então, eles disseram que sim, mas Lauren ainda estava
atenta. Alex também estava, especialmente porque eles não
haviam recebido as perguntas da entrevista com antecedência.
Se algo desse errado, porém, Lauren poderia lidar com isso,
e ela pretendia provar isso. Tanto para ela quanto para Alex.
Mas esta era outra pergunta que não exigia sua entrada na
conversa. Melhor ainda, era uma que Alex poderia responder
sem hesitação e com total honestidade. Ao contrário, digamos,
das perguntas de Vika sobre o final temporada de Gods of the
Gates – que tinha terminado de ir ao ar e foi rasgada por fãs e
críticos – e se ele ainda escrevia fanfics. O que ele faz, sob o
nome anônimo Pegosaurus, como parte da comunidade
Cupid's Cuties. Mas ele não podia dizer isso a Vika.
Ele poderia, no entanto, elogiar Carah.
— Ela é foda demais — ele declarou com um sorriso, um
que Lauren sabia que era sincero.
Dentro e fora das câmeras, os dois ex-colegas de elenco de
Gates se chocaram como os bons amigos que eram. Juntos, eles
fizeram do reality show exatamente o que eles queriam que
fosse.
Cada episódio ocorreu em uma nova localidade ou cidade.
Eles exploraram seus pontos turísticos juntos, dirigindo por
toda parte em um dos muitos carros esportivos de Carah,
brigando amigavelmente o tempo todo. Em cada local, ela
experimentou uma comida regional de marca registrada na
câmera enquanto ele destacava uma instituição de caridade
local. A produção doava para essa instituição de caridade, e ele
também. Assim como Carah. Assim como muitos de seus
espectadores.
— Nós nos divertimos muito, e acho que isso é óbvio para
o nosso público — resumiu ele após uma discussão
caracteristicamente longa sobre a grandeza de Carah. — Nunca
me diverti tanto filmando. Sério.
Vika sorriu para eles.
— Como co-apresentadores, você e Carah estão presentes
em todos os episódios. Mas outras pessoas também costumam
participar de suas expedições. Inclusive você, Lauren. Você
pode me contar mais sobre como essa decisão foi tomada?
A vez de Lauren havia finalmente chegado.
Alex apertou sua mão em mudo encorajamento, o que ela
apreciou, mas não precisava. Depois de alguns meses na estrada
com a equipe de televisão, ela se acostumou a ter câmeras
apontadas em sua direção e grandes partes de sua vida
disponíveis para leitura pública. E depois de mais alguns meses
com seu terapeuta, ela tinha táticas para lidar com esse tipo de
situação e uma boa compreensão do que realmente importava
para ela.
Ela podia estar nervosa, com os dedos trêmulos, mas
também estava pronta.
Não importa como seria essa entrevista, ela não leria a
resposta nas mídias sociais. Não importa como essa entrevista
fosse, Alex não explodiria, porque ele também estava
trabalhando com um terapeuta e aprendendo a – como ele
disse – sair do seu próprio caminho.
Não importa como essa entrevista fosse, ele ainda a amaria,
e ela ainda amaria a si mesma.
Isso era o suficiente. Isso era tudo.
— Bem, a maioria dos melhores amigos de Alex são famosos,
então tê-los aparecendo na câmera não é exatamente uma
dificuldade para a produção. — Ela sorriu levemente, usando o
que Alex chamou de voz de Santa Ana. — Mas eu não sou
famosa, é claro, pelo menos não por direito próprio, e isso vale
para outros que se juntaram a nós também.
O elenco rotativo de amigos e familiares que os
acompanhou na estrada foi uma alegria inesperada, penetrante
em sua doçura. Algumas filmagens, dependendo das
necessidades de agendamento, Marcus e April ou outros ex-
colegas de elenco puderam aparecer. Dina. A mãe dele. Sionna,
que agora alugava a casa de hóspedes de Alex pelo mesmo preço
do duplex com torres que ela e Lauren haviam compartilhado.
Mesmo, ocasionalmente, os pais de Lauren, uma vez que
todos tivessem superado o constrangimento de discutir por que
ela não se desculparia com Ron e não pretendia ter nenhum
contato com ele no futuro. Tia Kathleen não falava com ela há
mais de dois meses, e sua mãe e tia Kathleen ainda não tinham
se reconciliado inteiramente, mas que assim seja. Se os pais de
Lauren escolheram colocar seu conforto antes do deles, ela
tinha que acreditar – ela acreditava – que ela valia esse sacrifício.
Depois daquela conversa tensa com sua mãe e seu pai, eles
começaram a fazer um esforço para vê-la, em vez de presumir
que ela sempre viria até eles. Então, sempre que o reality show
parava relativamente perto da Califórnia, seus pais
provavelmente apareceriam na câmera.
E em algum momento durante a maioria dos episódios, ela
também aparecia. Geralmente ela ficava em segundo plano,
apenas mais um visitante em um passeio, apenas mais um
turista tirando fotos. Apenas mais uma exploradora
descobrindo o mundo e encontrando magia por onde passasse,
entre consultas de teleterapia realizadas em confortáveis suítes
de hotel.
Ver clientes a longo prazo lhe convinha, como ela havia
descoberto. Acompanhar seu progresso e ajudá-los a superar
obstáculos em suas vidas e mentes semana após semana... era
um trabalho árduo, mas satisfatório, e não a deixava vazia no
final de cada dia.
Na verdade, sua vida transbordava de tanta amizade, amor,
carinho e aventura, e ela podia se dar ao luxo de compartilhar
um pouco disso com um público invisível.
Normalmente, ela não se deixava arrastar diretamente para
a frente das câmeras, mas às vezes ela deixava ser arrastada. Por
Sionna, ou Carah, ou – mais frequentemente – Alex.
Por insistência deles, ela respirava fundo, inclinava o queixo
para cima e descrevia o que tinha visto naquele dia, e o fazia sem
absolutamente nenhuma remoção neutra. Como participante
de sua própria vida, em vez de espectadora. Então, Alex e Carah
iriam provocá-la até que ela fizesse uma careta para eles e
bufasse de tanto rir.
No terceiro episódio, Lauren até o beijou na câmera. Presa
em suas brincadeiras habituais, ela esqueceu sua audiência. Mas
quando ela se lembrou, ela não se esquivou de seus braços que
a apertavam com força, porque ela não tinha vergonha de si
mesma ou dele, e ela se recusou a agir como se estivesse.
— Então, foi assim que Alex e eu pensamos sobre isso. —
Lauren tomou um gole de água, ainda sorrindo para Vika. —
Unleashed não é apenas um show. É nossa vida na câmera. E
queremos compartilhar nossas vidas com as pessoas que
importam para nós, então sempre daremos as boas-vindas aos
nossos amigos e familiares no set. Vamos sempre incentivá-los
a vir sempre que puderem e permanecerem o máximo que
puderem, porque sua presença é uma alegria. Também somos
gratos pelo apoio da StreamUs a essa decisão e sua ajuda na
coordenação das agendas de todos.
Pronto. Ela respondeu à pergunta sem atrapalhar suas
palavras, e suas mãos não estavam mais tremendo.
Ela poderia fazer isso. Com Alex ao seu lado, ela poderia
fazer qualquer coisa.

Por um momento, Alex só pôde olhar para o rosto da sua


amada, inundado de orgulho.
Sua resposta tinha sido confiante e clara. Mais do que isso,
porém, foi diplomática, atenciosa, sincera e gentil.
Era Carricinha, desnudada para o mundo.
Ele deu um beijo na bochecha dela, então se forçou a voltar
para Vika.
— Sim, filmar com nossos amigos e familiares é ótimo.
Especialmente quando vários deles podem visitar
simultaneamente, como em Las Vegas.
Vika se inclinou para frente.
— Falando em Las Vegas…
Bem, ambos sabiam que isso ia acontecer.
— Até agora, sua visita à Gold Coast com sua mãe é o
episódio mais visto. — Ela estava quase vibrando de ansiedade,
sua expressão ávida e encantada. — Mas suspeito que o
próximo episódio de Sin City ultrapassará esses números. Quer
dizer aos nossos espectadores por quê?
A viagem à Gold Coast permaneceu especial para ele por
muitos motivos. O prazer de revisitar pontos turísticos
preciosos de sua infância. O tempo prolongado que ele passou
com sua mãe, tudo sem uma década de tristeza e culpa
manchando seu amor um pelo outro. O jeito que ela adorava
Carricinha. No momento em que ela disse ao câmera, lágrimas
se acumulando em seus olhos cinzentos, que ela estava tão
orgulhosa dele que às vezes doía, e ele chorou um pouco
também.
Mas mesmo com todas aquelas memórias incríveis, sim,
Vegas era melhor.
Não apenas o destaque do show, o destaque de sua vida,
porra.
— Ahhhhhh. Boa pergunta. — Sorrindo como o tolo que
era, ele beijou o topo da cabeça de Carricinha e respirou o
cheiro familiar de coco. — Durante nossa viagem a Las Vegas,
depois de incontáveis semanas pedindo e lamentando minha
virtude perdida, finalmente consegui fazer Lauren fazer de
mim um homem honesto. No dia de Natal, porque eu sou
claramente o presente mais atraente que se possa imaginar.
Você é meu desejo realizado, Carricinha, ele disse a ela em
sua suíte com cortinas blackout na Strip, descansando nua em
seus braços quentes depois de um de seus interlúdios muito
frequentes e deliciosos. Por favor, seja minha para sempre. Por
favor, faça-me seu.
Eles ligaram para todo mundo na manhã seguinte e, três dias
depois, ele se tornou o Sr. Carricinha Clegg. Ou melhor, ainda
Alex Woodroe, mas ambos sabiam que era apenas uma
formalidade.
— A centésima vez que ele reclamou sobre o quão barato ele
se sentiu, eu não aguentei mais, Vika — Lauren disse,
completamente inexpressiva. — Era um anel ou uma
focinheira.
A carranca era difícil de reunir, mas ele tentou de qualquer
maneira.
— Por que não me falaram sobre a opção de focinheira? Nós
dois sabemos que eu gosto...
A mão dela cobriu a boca dele, e ela falou sobre ele.
— Foi uma cerimônia adorável, e estamos muito satisfeitos
que muitos de nossos amigos e familiares puderam vir em tão
pouco tempo.
A mãe dele e seus pais. Todos os seus colegas de elenco de
Gates, exceto Ian. Sionna. Dina.
Todos se reuniram na pequena e adorável capela do hotel e
assistiram Alex e Carricinha caminharem pelo corredor de
braços dados, porque que se foda a tradição. Eles começariam
como pretendiam continuar. Juntos.
Quando ele lambeu sua palma, suas coxas se apertaram, mas
seu rosto permaneceu plácido quando ela acrescentou:
— Só pensar em quanto dinheiro economizamos em
serviços de videografia, Vika.
Muito seco. Muito prático. Muito Carricinha.
Mas ele a viu piscar para conter as lágrimas enquanto eles
trocavam votos, assim como ele.
— Meus sinceros parabéns a vocês dois e votos de uma vida
inteira de felicidade juntos. — O sorriso de Vika era suave. —
Lauren, notei seu colar e me perguntei se era um presente de
casamento. É bastante incomum, não é?
— Único. — Carricinha sorriu de volta para ela. — Igual ao
meu marido.
Como ela não era uma pessoa de tatuagens, e ele não a
pressionaria a fazer nada que a deixasse desconfortável, ele deu
a ela um colar para usar sobre o coração. Uma corrente de
platina com um pingente de pena, que ele havia sido inscrito
com a palavra RIDÍCULO e cravejado de águas-marinhas da
cor dos olhos dela.
— Você não é ridícula — ele disse a ela quando ela abriu a
caixa de veludo. — Mas eu sou. Ridiculamente apaixonado por
você.
Sem ser no chuveiro, ela nunca o tirava, para seu contínuo
deleite presunçoso.
Ainda assim, ele ansiava por dar a ela outra coisa também,
algo que ela escolheu para si mesma, então logo antes do
casamento, ele implorou para ela nomear algo – qualquer coisa
– que ela quisesse. E para sua absoluta perplexidade, ela
prontamente pediu um roupão feito do mesmo tecido de
algodão que ele usava para suas toalhas.
— Um que se encaixe bem em mim — ela especificou. —
Eu olhei aquele roupão na casa de hóspedes por meses,
desejando que viesse no meu tamanho.
Ele olhou para ela, totalmente perplexo.
— Está no seu tamanho, Carricinha. Liguei para Dina
enquanto estávamos na Espanha e fiz isso antes da sua chegada.
Por que diabos eu lhe daria um roupão que não servia em você?
— Oh. — Seu rosto ficou deliciosamente rosa. — Acho que
não deveria ter presumido.
Quando ele exigiu um pedido de desculpas de forma não
verbal e nua, ela alegremente obedeceu.
— E o que você deu a ele como presente de casamento? —
perguntou Vika.
Mais uma vez, Carricinha sorriu.
— Eu escrevi uma carta de amor para ele.
— Ah, que fofo. — Vika pressionou a mão em seu coração,
radiante. Desde seu reencontro com Carricinha, os dois haviam
encenado muitas de suas fics favoritas. Eles se beijaram pela
ciência. Transar para tirar de seus sistemas. Fingiram que seu
casamento foi arranjado, depois acidental. Na semana passada,
eles até encenaram o enredo da troca de corpos, com resultados
surpreendentemente hilários.
Carricinha se pavoneou pela porra da casa deles como um
maldito pavão, cuspindo besteira absoluta o tempo todo e
rasgando sua camisa em todas as oportunidades concebíveis.
Ele nunca admitiria isso, mas caramba. Ela poderia ter
ganhado a porra de um prêmio por esse retrato.
Ela o entendia. E, porque ela o entende, para seu presente de
casamento, ela escreveu uma história para ele no AO3,
apresentando os dois como seu OTP.
Bem, oficialmente Cupido e Robin, mas ambos sabiam
melhor.
A história foi perfeita. Melhor do que qualquer coisa que ela
pudesse ter comprado, porque realmente, o que diabos ele
precisava além do amor dela?
Nada. Absolutamente nada.
— Mais uma pergunta, e então vamos para a enquete do
leitor, que termina… — Vika acenou para sua assistente, que
bateu na tela do celular. — Agora. Eles escolheram o tópico
final da entrevista, e nem eu vi os resultados. Será uma surpresa
para todos nós.
Huh. Isso parecia... potencialmente problemático, já que
algumas pessoas eram idiotas.
— Alex… — A testa de Vika franziu. — Você teve um ano
passado agitado.
Se ela não tivesse feito uma pergunta como essa, ele teria
ficado surpreso. Feliz, mas surpreso. Ele tinha sua resposta
pronta, uma vez que ela terminou de falar.
Ela marcou os eventos em seus dedos.
— Houve uma prisão. Uma tentativa de ataque no tapete
vermelho. Uma briga com um fã. Censura profissional e papéis
perdidos. Um novo show de sucesso. Um casamento surpresa.
— Também houve amor. — Ele acariciou o pescoço tenso
de Lauren. — Você deixou isso de fora.
— Eu deixei. — A blogueira inclinou a cabeça. — Dito isso,
dados alguns dos eventos menos positivos que ocorreram, você
se arrepende?
Claro que sim. Ao longo do último ano, ele incomodou,
assustou e machucou tantas pessoas que ele amava. E embora
ele tenha se perdoado por não ter ido embora, ele não podia
exatamente aplaudir sua decisão de continuar atuando como o
Cupido naquela terrível temporada final.
Mas seus arrependimentos eram dele mesmo, e eles eram
dele para manter. E se eles o levassem para Carricinha, ele
suportaria seu peso com prazer.
Então, ele contou sua primeira mentira de toda a entrevista.
— Não. Sem arrependimentos.
O olhar afiado de Vika revelou seu ceticismo, mas ela não
insistiu. Ela provavelmente sabia que não havia sentido, a
menos que ela quisesse que a entrevista terminasse
prematuramente.
E não era uma falsidade total, na verdade. Quando se tratava
de sua prisão, ele ainda tinha zero arrependimentos. Nenhum.
As pessoas que importavam sabiam exatamente o que tinha
acontecido ou entendiam que ele não teria dado socos sem uma
boa razão.
Todos os outros poderiam ir se foder.
— Ok. — Vika deu de ombros e deixou passar. — Hora da
nossa pergunta final, formulada e selecionada por meus
leitores.
Sua assistente entregou o telefone celular. Os lábios de Vika
se moveram levemente enquanto ela lia os resultados da
pesquisa, e ela franziu a testa.
Houve uma longa pausa.
— Eu serei honesta. — A blogueira suspirou. — Eu não
amei a pergunta.
A coxa de Carricinha contra a dele não se mexeu. O ombro
dela sob a palma da mão dele permaneceu relaxado. Seus olhos
eram claros e curiosos e destemidos.
— Tudo o que seus leitores pedirem vai ficar bem. — A
firme confiança na voz de Carricinha não podia ser fingida, e
ele decidiu confiar nela. Confiar em sua capacidade de resistir
ao que quer que estivesse prestes a acontecer. — Vá em frente,
Vika.
— O que você diria para as pessoas que acreditam não haver
como um casamento como o seu, entre duas pessoas tão
diferentes, possa durar? — Vika beliscou a ponta do nariz e
balançou a cabeça. — Eu sinto muito. Por favor, sinta-se à
vontade para não responder.
Seu crânio começou a latejar.
Ele e Carricinha tinham personalidades diferentes e vieram
de origens diferentes. Justo. Mas essa pergunta não era sobre
isso, na verdade, e todos na sala entendiam suas implicações
implícitas e cruéis.
A pergunta foi um golpe velado em como ela parecia. Era
uma previsão de que o casamento fracassaria porque o público
o considerava – e a ela não – atraente.
Seu rosto estava ficando quente, sua respiração acelerada,
mas ele mordeu a língua. Difícil.
Carricinha colocou uma mão fria e firme sobre a dele.
— Vou responder esta, Alex.
Por favor, acredite que eu vou me defender, ela disse naquelas
escadas meses atrás, a bochecha dele aninhada na palma da mão.
Por favor, confie em mim.
Ele respirou fundo. De novo.
Então, ele acenou com a cabeça, um convite mudo para ela
lidar com isso.
Depois disso, ela não hesitou.
— Por favor, desculpe minha profanação, Vika — ela disse
calmamente —, mas nas palavras imortais do meu marido: essas
pessoas podem ir se foder.
Vika engasgou, e sua boca se abriu por um momento
também, porque... Carricinha, de todas as pessoas? Carricinha
tinha mandado incontáveis milhares de pessoas irem se foder?
E então, jubiloso, ele puxou sua esposa em seus braços e a
apertou com força e riu em seu ouvido. Ruidosamente.
Observadores indelicados podem até ter chamado isso de
gargalhada.
Quando ele se afastou e levantou a mão para um high five,
ela retribuiu.
— Grande Energia de Harpia! — ele gritou, e ecoou pela
casa deles. — Grande Maldita Energia de Harpia, Carricinha!
Ela inclinou a cabeça.
— O aluno Crone Arts tornou-se o mestre Crone Arts.
O sorriso dela era sereno e orgulhoso, e ele a amava tanto,
que o volume e a força dele deveriam tê-lo aberto.

No dia seguinte, apesar das dúvidas de Vika, Alex a convenceu


a não editar a pergunta final.
Três dias depois, seu público viu a entrevista na íntegra.
E, dez minutos depois disso, a primeira nova conta de fã –
@LaurenCleggFTW - foi ao ar.
Agradecimentos
O fato de eu sair de 2020 - também O Ano Amaldiçoado –
um tanto intacta se deve inteiramente aos meus amigos e
familiares. Esses amigos constantemente enviavam e-mails,
DMs, faziam chamadas via Facetime e escreviam cartas e
cartões postais para me lembrar que eu era amada e não era
sozinha quanto às vezes eu me sentia, e seus esforços
significavam tudo para mim. Devo agradecimentos especiais a
Therese Beharrie, Emma Barry e Mia Sosa, que me mantiveram
presa ao mundo fora do meu apartamento sueco e que sempre,
sempre se preocuparam com o meu bem-estar. Vocês são tão
queridas para mim. Obrigada.
Meu marido, como sempre, me aceitou exatamente como
sou e fez o possível para me apoiar como podia. O orgulho e a
fé de minha filha em mim, sua afeição, alegria e humor
irrestritos iluminaram o escuro inverno sueco. Minha mãe
dedicou tanto tempo e esforço para enviar pacotes de pães de
batata, pretzels Utz e pedras (é claro) para o outro lado do
Atlântico. Ela sabia que minha longa ausência dos EUA me
doía, então ela amorteceu o golpe com cada caixa estofada, e eu
sou muito grata. Eu amo todos vocês.
Também sou muito, muito grata a Elle Keck, Kayleigh
Webb e todos os outros da Avon que trabalharam tanto para
fazer este livro brilhar. A pobre Elle teve que realizar alguns
feitos brilhantes de edição com este manuscrito, e ainda não
tenho certeza de como ela consegue lutar até um comprimento
razoável, mantendo intacto tudo o que amo na história.
Bruxaria, talvez?
Como sempre, minha incrível agente Sarah Younger tem
sido incansável em seu apoio. Significa o mundo para mim tê-
la ao meu lado, sempre.
Leni Kauffman criou a capa mais bonita que se possa
imaginar. Eu não consigo parar de olhar para ela. Não é apenas
linda, mas também perfeita e específica para a história, e não
posso agradecê-la o suficiente.
Eu não poderia ter escrito esta história sem uma grande
ajuda. Susannah Erwin passou horas incontáveis conversando
comigo sobre a Califórnia em geral e LA em particular, e sua
incrível paciência e generosidade moldaram o All the Feels de
inúmeras maneiras. Erin generosamente compartilhou comigo
suas experiências como médica de serviços de emergência, e
essas experiências ajudaram a fundamentar o caráter de Lauren
na realidade. Shannon Bothwell planejou uma viagem incrível
para Alex e Lauren, e sou muito grata por sua orientação. Uma
vez que a história foi escrita, Susannah, Therese e Emma
abordaram meu rascunho gigante de 126.000 palavras e
ofereceram um feedback tão perspicaz – e Emma até leu o livro
uma segunda vez, depois que foi editado para um tamanho
gerenciável, porque ela é uma das pessoas mais generosas que já
conheci.
Melissa Vera, Meryl Wilsner e Brina Starler foram gentis o
suficiente para ler a história e garantir que o personagem e as
experiências de Alex fossem verdadeiros para elas, e estou muito
agradecida por seu tempo e consideração.
Por fim, quero agradecer a todos os meus leitores, e
especialmente àqueles que twittaram para mim ou me
enviaram e-mail sobre Spoiler Alert. Sua bondade me ajudou
em um ano difícil e difícil, e espero que minhas histórias lhe
proporcionem alegria e distração quando você precisar de
ambas. Abraços e amor para você. ♥

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