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2. A Psicologia Escolar/Educacional 2.1 0 que é Psicologia Escolar e 0 que faz o psicélogo escolar? psicélogo escolar desenvolve, apéia e promove a utilizagao de instrumental adequado para o melhor aproveita- mento académico do aluno a fim de que este se torne um cidadio que contribua produtivamente para a sociedade. A Psicologia Escolar tem como referéncia conhecimentos cientificos sobre desenvolvimento emocional, cogniti- vo e social, utilizando-os para compreender os processos ¢ estilos de aprendizagem e direcionar a equipe educativa na ‘busca de um constante aperfeigoamento do processo ensino/aprendizagem. Sua participaydo na equipe multidisciplinar & fundamental para respaldé-la com conhecimentos e experiéncias cientificas atualizadas na tomada de decisdes de base, ‘como a distribuigio apropriada de conteiidos programaticos (de acordo com as fases de desenvolvimento humano), selegdo de estratégias de manejo de turma, apoio ao professor no trabalho com a heterogencidade presente na sala de aula, desenvolvimento de técnicas inclusivas para alunos com dificuldades de aprendizagem e/ou comportamentais, pro- ‘gramas de desenvolvimento de habilidades sociais e outras questdes relevantes no dia-a-dia da sala de aula, nas quais os fatores psicolégicos tenham papel preponderante. Para isto o psicélogo escolar desenvolve atividades direcionadas com alunos, professores e funcionétios e atua em parceria com a coordenagio da escola, familiares e profissionais que acompanham os alunos fora do ambiente escolar. A partir de uma visio sistémica, age em duas frentes: a preventiva ¢ a que requer ajustes ou mudangas. Desta forma, con- tribui para o desenvolvimento cognitivo, humano ¢ social de toda a comunidade escolar. Série Técnica - Manual de Pecolo 7 7 3. O psicélogo escolar/educacional 3.1 Hist6rico e Formasio As origens historicas da Psicologia Escolar remontam ao sécuilo XIX. A expansio do ensino piiblico nas cidades ‘da América ¢ da Europa, além da crescente ocorréncia de problemas ligados aos menores (abandono, negligéncia, delin- iiéncia e outros), originou a procura por profissionais preparados para fornecer ajuda ds eseolas e aos drgaos juridico- legais em relagao a problemas de avaliagao e compreensio das dificuldades existentes, bem como suas possiveis causas. E capazes, igualmente, de propor ¢ implementar solugdes. No final do século XIX ¢ inicio do XX, dava-se énfase & avaliagio psicolégica individual de criangas e ado- lescentes suspeitos de serem “deficientes mentais, fisicos ou morais”. Gradualmente, além dessa énfase inicial, pas- saram as elinicas e servigos a desenvolver um trabalho mais amplo no ambito de problemas de educagao e criangas ‘em idade escolar. Observagao, prevengao, intervengao © mensurago de habilidades © capacidades foram os principais alvos dos estudos cientificos desenvolvidos. Pesquisas nos Estados Unidos, Franga, Bélgica, Suiga, Gré-Bretanha, Itélia e Alemanha nos campos da inteligéncia, subdotagao e superdotagao; desenvolvimento infantil e seus atrasos; diagnéstico, intervengdo ¢ ajuda concreta a criangas com dificuldades escolares tiveram grande impulso. Os primeiros servigos de Psicologia Escolar foram eriados ao final do século XIX, na Franga, ‘Ao longo dos iltimos 30 anos os EUA vém liderando este dominio devido a vrios fatores: servigos efetivamente prestados as escolas e aos escolares; consolidago do papel do psicélogo como um profissional (geralmente com mestra- do ou doutorado em Psicologia Escolar); produso de pesquisa cientifica e de literatura basica de sintese de conhecimen- to © de natureza pritica; lideranga quanto as associagdes especializadas (NASP ¢ Divisio de Psicologia Escolar da American Psychological Association - APA). Em 1981, a APA divulgou suas “Ditettizes de especialidades para a prestagao de servigos por psicdlogos escolares” (APA Guidelines). 3.2 Psicologia Escolar no Brasil A expulsdo dos jesuitas resultou no Brasil, entre outras conseqiiéncias adversas, no colapso das frageis bases da ‘educagio popular. A precariedade do ensino elementar de Portugal, assim, repetia-se no Brasil. Néo é de se estranhar que Série Técnica - Manual de 19 4 Psicologia Escolar tenha uma brevissima historia em nosso pais ¢ ainda esteja muito longe de generalizar sua presenga © atuagdo em favor de alunos ¢ professores, de destacar-se como Area de pesquisa e de impor-se no contexto de ensino destinado a formagio do psicdlogo no pais. Samuel Pfromm Netto (apud WECHSLER, 2001) prope uma divisdo da historia da Psicologia Escolar no Brasil ‘om trés partes: > Primérdios: de 1830 a 1940 Fase essencialmente ligada as escolas normais. 0 ensino normal brasileiro foi o primeiro Loco de itradiagdo de concepgdes, pesquisas ¢ aplicagées priticas do que hoje denominamos Psicologia Escolar e/ou Psicologia Educacional Através dos professores da area, abriu-se 0 contato com as fontes curopéias e americanas. Esta fase, denominada norma- lista, oferecen grande evolugdo ao estudo, padronizagao, aplicagdo ¢ aperfeigoamento dos testes psicoldgicos destinados aos escolares, Na pratica normalista 0 que mais se assemelha & efetiva Psicologia Escolar no Brasil € a atividade desen- volvida por servigos especializados para o atendimento de escolares, em Sao Paulo ¢ no Rio de Janeiro 1938: Foi realizado o primeiro congresso de Psicologia do pais, em So Paulo. » Fase universitiria do ensino da Psicologia: de 1940 a 1962 Anterior & criagdo dos cursos de Psicologia no pais, Este infcio no Brasil foi marcado por dois tipos de influéncia a) professores provenientes da érea da Pedagogia: na falta de psicdlogos formados, pedagogos assumiam as dis- ciplinas de Psicologia Escolar ¢ Problemas de Aprendizagem, bem como os estigios nesta area. Em geral, eram docentes Introdusio da Psicologia Escolar no curriculo de graduago em Psicologia (1962 até dias atuais) 20 ole ‘Os marcos s4o 0 “Primeiro Congresso Nacional de Psicologia Escolar” (Valinhos, SP, 1991), a eriagao da Associay Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE) e a realizagéo do XVII Congresso Internacional de Psicologia Escolar em 1994 na PUCCAMP, em Campinas (SP), conjuntamente com o II Congresso Nacional de Psicologia Escolar. Década de 70: Com a publicagio da Lei Federal 5.766/71, que trata da criagdo dos Conselhos de Psicologia e a conseqitente obrigatoriedade de registro para atuagio como psicélogo, os pedagogos puderam registrarse como tal. Destes, muitos permaneceram na érea da Psicologia Escolar, Década de 80: A Psicologia Escolar dé um salto de qualidade ao abandonar o enfoque clinico em favor do mod- clo pedaggico, Re-dirige a atengdo do individuo, sua doenga e dificuldades dentro da escola para uma concepgio mais, preventiva e voltada a saiide psicolégica, Inicia-se 0 olhar sistémico, que inclui uma visio cultural e histérica da escola ¢ dos fendmenos educativos. O aluno, anteriormente considerado um individuo com problemas, passa a ser considerado um individuo em proceso de desenvolvimento cognitivo, afetivo ¢ social. Década de 90: Em 1990 é criada a ABRAPEE (Associagio Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional - www.abrapee.psc.br) com a finalidade de buscar 0 reconhecimento legal do psicélogo nas instituigdes de ensino, estim- ular e divulgar pesquisas nesta érea, reciclar e atualizar os psic6logos e incentivar a melhoria dos servigos prestados por estes profissionais, 3.2.1 A Psicologia Escolar Contempordnea 0 conceito de Psicologia Escolar/Educacional abrange a interseogdo entre a Psicologia na Escola ¢ a Psicologia da Educagio. Embora haja variagdes sobre as definigdes ¢ as reais atribuigdes entre Psicologia Escolar e Educacional, atribui-se & primeira o status de aplicada (visando a atuagdo pritica) ¢ & segunda, o de académica (visando a pesquisa. ‘Como ambas se complementam ¢ se apéiam esta dicotomia parece ser apenas académica. Segundo dados extraidos da pesquisa de perfil profissional, elaborada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2004), a area da Psicologia Escolar/Educacional envolve 9,2% dos profissionais da Psicologia. Hoje, o objetivo da Psicologia Escolar/Educacional € set um esteio para o desenvolvimento global do estudante Através de ages com diretores, professores, orientadores, pais e os proprios alunos, o trabalho se dirige & prevengao. Psicologia Escolar/Educacional 2 Série Téenica “Manual de Avaliagdo, diagnéstico, acompanhamento ¢ orienta¢do psicolégica so aplicados dentro de um contexto institucional © no mais exclusivamente voltados ao aluno individualmente. Para casos que requeiram, realizam-se encami- nhamentos clinicos. ‘Ao psicélogo escolar/educacional cabe integrar a teia de relagdes e fazer parte da equipe multiprofissional, que envolve o processo ensino/aprendizagem levando em conta o desenvolvimento global do estudante e da comu- nidade educativa. 22 4. Objetivos da Psicologia Escolar/Educacional 0 trabalho do psicdlogo escolar/educacional tem como diretriz o desenvolvimento do viver em cidadania, Busca instruments para apoiar o progresso académico adequado do aluno, respeitando diferengas individuais. E pautado na promosio da saiide da comunidade escolar a partir de trabalhos preventivos que visem um processo de transformagio pessoal ¢ social. Para tanto, baseia-se nos conhecimentos referentes aos estigios de desenvolvimento humano, estilos de aprendizagem, aptidées e interesses individuais e @ conscientizagdo de papéis sociais. 4.1 Finalidades da Psicologia Escolar Acescola é 0 espago, por exceléneia, para propiciar o desenvolvimento integral do ser humano através de propostas concretas ¢ eficazes de intervengdo que resultem em impacto social. Alguns de seu propésitos: > Incentivar os educadores (incluidos os praprios psicélogos) para tomada de posiges politicas em relago aos problemas sociais que afligem a todos » Estimular a escolha deliberada e conscientemente assumida de uma atuagao profissional sustentada por teorias psicologicas, cuja visio contemple o homem em suas miiltiplas determinagdes e relagGes histérico-sociais, > Assessorar a escola no desenvolvimento de uma concepeao de educagdo, na compreensio ¢ amplitude de seu papel, em seus limites e possibilidades, utilizando os conhecimentos da Psicologia » Desenvolver uma concepgao de Psicologia voltada a um compromisso social; » Propor uma concepedo do fracasso escolar nfo como um processo individual; > Mediar os processos de reflexdo sobre as ages educativas a partir da atuago com os diversos profissionais da educagdo; > Propor ¢ apoiar a construgdo dle novas alternativas sociais para auxiliar na administragdo de possiveis deficiéneias escolares; > Compreender e elucidar os processos de desenvolvimento bio-psico-social dos envolvidos com a escola; > Compreender ¢ clucidar os processos diferenciados de desenvolvimento da aprendizagem (aprender a aprender) de cada aluno e de cada professor; > Compreender ¢ clarificar a construgio da subjetividade (construgdo do Eu) em cada ambiente educacional; > Assessorar a escola na busca da humanizagio do sujito, através do encontro da cogni¢do com a motricidade, os afetos © as emogdes na educagao; > Cultivar o enfoque preventivo: trabalhar as relagdes interpessoais na escola, visando a reflexao e conscientizagao de fangdes, papéis e responsabilidades dos envolvidos > Buscar ser © mediador do processo reflexivo ¢ no o solucionador de problemas; Série Técnica - Manual de 23 > Conscientizar o individuo da importancia de sua participagdo c responsabilidade nos grupos em que esta inscrido, como a familia, a escola, o trabalho e a sociedade. Atividades: > Assessorar a escola na construgdo do Projeto Politico-Pedagogico; > Apoiar a escola em seu trabalho de resgate do valor ¢ da autonomia do professor; » Assessorar o professor na articulagdo entre a teoria de aprendizagem adotada e a pritica pedagégica; » Trabalhar com politicas piblicas; > Conscientizar pais e professores sobre necessidades basicas de criangas ¢ adolescentes; > Mobilizar a comunidade educacional em tomo de propostas de intervengio com utilizado de recursos da comunidade; » Pesquisar, desenvolver, aplicar ¢ divulgar os conhecimentos relacionados com Psicologia Escolar/Educacional. 24 5. Onde atua a Psicologia Escolar/Educacional 0s espagos ¢ priticas da Psicologia Escolar/Educacional incluem, além das escolas, outras instituigdes com pro- postas educacionais, tais como: elinicas especializadas, consultorias a rgdos que necessitam de compreensio sobre os processos de aprendizagem (Sebrae, Sesi, ctc.); equipes de assessorias com projetos para escolas; servigos piblicos de saiide e educagdo; trabalhos de extensio universitiria ¢ projetos de pesquisa em empresas e ONGs, promovendo a edu- «ago permanente e a educagdo no (¢ pelo) trabalho, O mais importante ndo & o local de trabalho e sim os pressupostos ¢ finalidades do profissional da educagdo. Embora o senso comum dos usuitios ¢ a formagao inicial dos psivélogos os lever a pensar que a escola é 0 Ginico ‘espago de atuagio, a pesquisa em educagao tem crescido nestes iltimos anos, desde os estudos de F. L. Thorndike (1874- 1949), nos EUA, até os dias atuais com as pos-graduagdes em Educagdo no Brasil ¢ a realizagao de pesquisas especifi- cas nesta dea, Série Técnica - Manual de 25

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