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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS - UFAL

FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL - FSSO

THAMIRES STEFANY GALVÃO DA SILVA

OS DESAFIOS DE ENVELHECER NO BRASIL E A


IMPORTÂNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

MACEIÓ – AL
2022
THAMIRES STEFANY GALVÃO DA SILVA

OS DESAFIOS DE ENVELHECER NO BRASIL E A


IMPORTÂNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado na


Universidade Federal de Alagoas - UFAL, na Faculdade
de Serviço Social – FSSO, como requisito básico para a
conclusão do Curso de Serviço Social.

Orientador (a): Prof. Drº. Aruã Silva de Lima

MACEIÓ – AL
2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL
COORDENAÇÃO DETRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Folha de Aprovação do Trabalho de Conclusão de Curso para obtenção do


título de Bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal de Alagoas
/UFAL

DISCENTE: THAMIRES STEFANY GALVÃO DA SILVA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado em 14/12/2022

Título: “OS DESAFIOS DE ENVELHECER NO BRASIL E A IMPORTÂNCIA DAS


POLÍTICAS PÚBLICAS NO SÉCULO XXI

BANCA EXAMINADORA:

Professor Dr. ARUÃ SILVA LIMA ( orientador)


Professora Dra. MÁRCIA IARA COSTA DA SILVA RÊGO
ASSISTENTE SOCIAL CLARITIANA JANAINA DOS SANTOS PEREIRA
AGRADECIMENTOS

“Cantai ao senhor, porque ele fez maravilhas,


e que isto seja conhecido por toda a terra.” (Is
12, 5)

Primeiramente, agradeço a Deus por todas as bênçãos que ele realizou


durante toda minha vida. Dedico a Ele cada palavra escrita neste trabalho na certeza
de que nada teria sido realizado sem a sua graça e misericórdia.
Aos meus pais e aos meus irmãos que acompanharam toda a minha trajetória
nesses quatros anos de graduação, por todo suporte e amor que me deram para
que eu chegasse até aqui.
Ao meu namorado, Cleyton e sua família, por todo apoio e incentivo que
foram essenciais nessa reta final de curso para me encorajar nos momentos difíceis
e me mostrar que eu não estava sozinha.
Aos meus amigos que sempre estiveram presentes me incentivando e
mostrando o quanto eu era capaz e me auxiliando de alguma forma.
Ao GPMI (Grupo Multiprofissional sobre idosos), em especial a professora
Elizabeth Moura, por ter me apresentado a essa temática que me encantou e
transformou o meu olhar pessoal e profissional em torno da pessoa idosa e por todo
o aprendizado que obtive nesse grupo durante os três anos na qual fui membro.
A todas as pessoas que convivi na Companhia de Saneamento de Alagoas –
CASAL, por quase dois anos, em especial a minha supervisora de estágio: Claritiana
Janaína, por contribuírem com a minha formação, onde, sem dúvidas foram
exemplos de profissionais para mim, pois sempre acreditaram no meu potencial e
me incentivaram a ir além. Agradeço a Deus por ter colocado pessoas tão
iluminadas no meu caminho.
Ao meu orientador, Professor Aruã, por ter aceitado o desafio de construir
comigo este trabalho. Gratidão por toda paciência e conhecimento compartilhado.
A todos aqueles não citados, mas que ajudaram de forma direta ou
indiretamente na construção deste trabalho.
Muito obrigada!

Thamires Galvão!
“A essência dos Direitos Humanos é o
direito a ter direitos."
(Hannah Arendt)
RESUMO

O envelhecimento populacional tem sido amplamente debatido no Brasil nas


agendas políticas. Para analisar e entender esta problemática, a pesquisa teve como
proposta compreender de forma otimizada acerca da efetivação das políticas
públicas para as pessoas idosas, frente aos desafios existentes no cenário atual
Brasileiro. O processo metodológico do estudo se baseou através de uma pesquisa
quantitativa, de caráter descritivo, explicativo e exploratório, com análise bibliográfica
e documental através de fontes científicas com o uso de livros, sites, artigos
eletrônicos e impressos, leituras de dissertações e leis. Fundamentou-se em uma
análise teórico-reflexiva acerca das políticas públicas direcionadas para pessoas
idosas visando compreender a realidade brasileira. Os resultados apontam que o
tema requer um debate aprofundado, sendo indispensável uma revisão no sistema
de garantias de direitos, bem como, uma reavaliação na aplicação dessas políticas e
na sua fiscalização.

Palavras-chave: Envelhecimento populacional; população idosa; políticas públicas,


envelhecimento.
ABSTRACT

Population aging has been widely debated in Brazil on political agendas. In order to
analyze and understand this problem, the research proposed to understand in an
optimized way about the effectiveness of public policies for the elderly, in face of the
existing challenges in the current Brazilian scenario. The methodological process of
the study was based on a quantitative research, of descriptive, explanatory and
exploratory character, with bibliographic and documentary analysis through scientific
sources with the use of books, websites, electronic and printed articles, readings of
dissertations and laws. It was based on a theoretical-reflective analysis of public
policies aimed at the elderly, aiming to understand the Brazilian reality. The results
indicate that the topic requires an in-depth debate, and a review of the system of
rights guarantees is essential, as well as a reassessment of the application of these
policies and their inspection.

Keywords: Populationaging; elderlypopulation; public policies, aging.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Evolução do envelhecimento populacional e um comparativo da


proporção de crianças e jovens com idosos com 60 anos ou mais – Brasil
(1940/2050) ……………………………………………………………………........…..16
Figura 2 - pirâmide etária – Brasil (1940/2060) ....................................................19
Figura 3 - Composição por Raça e cor …………………………………….........…..19
Figura 4 - Fenômeno de “Feminização na velhice” – Brasil (1950-2040) …........20
Figura 5 - Falta de acesso a benefícios por raça/etnia ……………........…………21
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANG - Associação Nacional de Gerontologia


BPC - Benefício de prestação continuada
CF/88 - Constituição Federal de 1988
DCNTs - Doenças Crônicas não transmissíveis
EC - Emenda Constitucional
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ILPI - Instituições de Longa permanência
INPS - Instituto Nacional de Previdência Social
IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
LOAS - Lei Orgânica de Assistência Social
OMS - Organização mundial da saúde
ONU - Organização das Nações Unida
OPAS - Organização Pan-Americana de Saúde
PNI - Política Nacional do Idoso
PNSPI - Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa
SBGG - Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia
SESC - Serviço Social do comércio
SUAS - Sistema Único de Assistência Social
SUS - Sistema Único de Saúde
SUSAN - Sistema Único de Segurança Alimentar e Nutricional
UNATIs - Universidade aberta à terceira idade
VISA - Vigilância em Saúde
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................12
2 O ENVELHECIMENTO NO BRASIL.................................................................15
2.1 O processo de envelhecimento no país.........................................................15
2.2 Características sociodemográfica dos idosos brasileiros...........................18
2.3 Desafios e preconceitos enfrentados pela população idosa no Brasil.......22
3 DIREITOS DA PESSOA IDOSA........................................................................24
3.1 O direito de envelhecer com dignidade…......................................................24
3.2 O protagonismo da pessoa idosa....................................................................32
3.3 A urgência da efetivação das políticas públicas para a população idosa no
cenário brasileiro……......................................................................…........….35
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................42
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA...............................................................................45
12

1 INTRODUÇÃO

A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) define o envelhecimento do


ponto de vista biológico como “um processo sequencial, individual, acumulativo,
irreversível, universal, não patológico, de deterioração de um organismo maduro,
próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne
menos capaz de fazer frente ao estresse do meio ambiente e, portanto, aumente sua
possibilidade de morte” (BRASIL, 2006)
Atualmente, o Brasil tem mais de 28 milhões de pessoas consideradas
idosas, número que representa 13% da população do país. (IBGE, 2019) Segundo
Ferreira e Teixeira (2014), a questão acerca do envelhecimento populacional tem
trazido grandes reflexões no que se refere aos desafios impostos pelo
envelhecimento populacional e a efetivação das políticas públicas. Isso vem
ocorrendo devido à visibilidade e penetração dessa temática nas agendas políticas,
como também pelas discussões trazidas pelos movimentos sociais que lutam pelos
direitos da população idosa, como por exemplo, a Associação Nacional de
Gerontologia (ANG), a Comissão Especial de Gerontologia Social, criada pela
Sociedade Brasileira de Geriatria, as Associações de Aposentados e Pensionistas,
os conselhos do idoso, dentre outros.
No entanto, essa responsabilidade da sociedade e do estado é bastante
complexa, devido ao cenário econômico, político e social brasileiro. Essa
problemática sugere uma atuação eficaz das políticas públicas, pois estas são os
meios principais para a efetivação da dignidade humana de todos os indivíduos,
dentre eles, da população idosa, especialmente, para os que vivem em situação de
vulnerabilidade social. (FERREIRA E TEIXEIRA, 2014)

Para que os idosos de hoje e do futuro tenham qualidade de vida, é


preciso garantir direitos em questões como saúde, trabalho,
assistência social, educação, cultura, esporte, habitação e meios de
transportes. No Brasil, esses direitos são regulamentados pela
Política Nacional do Idoso, bem como o Estatuto do Idoso,
sancionado em 1994 e em 2003, respectivamente. Ambos os
documentos devem servir de balizamento para políticas públicas e
iniciativas que promovam uma verdadeira melhor idade. (IBGE,
2019)

Nas últimas duas décadas muito se avançou na questão do envelhecimento


populacional. De acordo Camarano e Pasinato (2004, p.288). “as políticas para a
13

população idosa devem promover a solidariedade entre gerações. Isso significa


equilibrar as prioridades das necessidades dos idosos com a de outros grupos
populacionais.” No que concerne às políticas para a pessoa idosa, há a Constituição
Federal de 1988 (CF/88), a Política Nacional do Idoso (PNI), o Estatuto do idoso e
também há as políticas públicas setoriais, como as políticas de saúde, assistências,
de trabalho, seguridade, esporte, turismo, lazer e educação, como por exemplo, a
Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) e a Política Nacional de Saúde da
Pessoa Idosa (PNSPI), que consistem na proteção dessa população.
Dessa maneira, a existência de políticas públicas voltada para as pessoas
idosas representam uma grande evolução. A Constituição de 88, que especifica o
papel do Estado e da família na proteção à pessoa idosa, a PNI que visa assegurar
os direitos sociais dos idosos, buscando a sua valorização, autonomia e integração
na sociedade de forma ativa e o Estatuto do idoso que objetiva reforçar as diretrizes
da PNI. No entanto, é fundamental a sua realização, além da esfera da legalidade,
mas principalmente na prática cotidiana.

Envelhecer no Brasil significa enfrentar muitos desafios,


principalmente para as pessoas com baixo poder aquisitivo que não
conseguem suprir suas necessidades básicas, pois o país não está
preparado para essa nova realidade que está posta, trabalhando com
uma política pública que não consegue atender essa população com
qualidade e atenção. Os desafios vão crescendo à medida que a
população de velhos vai aumentando. O país tem por obrigação
promover a valorização das pessoas mais velhas e garantir políticas
para que a população envelheça com qualidade e de forma ativa. É
necessário que a mente, o corpo e as relações sociais dessas
pessoas estejam em atividades. (CARVALHO, 2019)

À vista disso, “a formulação de políticas públicas, deve ser entendido em um


contexto mais amplo sobre a necessidade de se repensar os mecanismos de
proteção social” (CAMARANO e PASINATO, 2004). Ou seja, é imprescindível a
revisão dos sistemas de proteção social e principalmente a sua execução, sendo
necessário enxergar a realidade dessa população na sua totalidade compreendendo
as suas especificidades.
Este estudo foi dividido em duas seções. A primeira parte deste trabalho,
intitulado como “O envelhecimento no Brasil” buscou compreender as definições
biológicas e sociais do processo de envelhecimento e como ele ocorre no Brasil,
analisar dados sociodemográficos dessa população e suas características, bem
14

como, sexo, raça/cor, escolaridade, classe social predominante, dentre outros


aspectos, e conhecer os desafios e os preconceitos que os idosos vivenciam
cotidianamente.
Na segunda seção denominada “Direitos da Pessoa idosa”, foi abordado
acerca das legislações existente no Brasil voltadas para o idoso, como a Política
Nacional do Idoso (PNI) e o Estatuto do idoso, dois marcos importante para essa
população. Além disso, foi possível compreender a relevância do protagonismo da
pessoa idosa na sociedade atual, desmistificar estigmas naturalizados sobre “ser
velho” e sua funcionalidade e o quanto esse protagonismo possui impactos
relevantes na qualidade de vida dessa população, e por fim, este trabalho conclui
seu estudo compreendendo a respeito da efetivação das políticas públicas, a sua
aplicação no cenário atual e seus efeitos.
Diante do exposto, surge o questionamento: “Qual a importância e a
efetividade das políticas públicas para a população idosa diante do aumento da
expectativa de vida no Brasil?”. Portanto, a finalidade deste trabalho é debater
acerca desta problemática, analisar o perfil dessa população idosa; mapear e
caracterizar as políticas públicas existentes no Brasil para os idosos e a importância
na efetivação dessas políticas como forma de minimizar os danos causados a esses
indivíduos que possuem o seu direito de envelhecer e de morrer com dignidade
frequentemente violados e compreender os desafios do envelhecimento
populacional no Brasil, tendo em vista o cenário político, econômico e social vigente.
15

2 O ENVELHECIMENTO NO BRASIL

Esta seção tem como propósito discutir a respeito do envelhecimento


populacional no Brasil, bem como, uma explanação de dados demográficos acerca
do contingente populacional de idosos no país, buscando conhecer as
características dessa população, tais como a predominância de raça/cor/etnia,
classe social, escolaridade, sexo, dentre outros aspectos, a inversão do modelo da
pirâmide etária ao longo dos anos e projeções futuras no crescimento dessa
população. Além disso, também vamos abordar acerca dos desafios e preconceitos
que as pessoas idosas enfrentam na sociedade, baseado em tabus e estigmas em
torno do “ser velho” nos dias atuais.

2.1 O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO NO PAÍS

Conforme uma projeção da população, divulgada em 2018 pelo Instituto


Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de pessoas idosas deve
dobrar em 2050, comparado ao percentual atual. Contudo, afirma-se que as
principais causas para esse crescimento populacional são a queda de fecundidade e
o aumento da expectativa de vida da população brasileira. Desde 1940 a expectativa
de vida aumentou em média 30 anos, com isso, ocorre essa ampliação do grupo de
pessoas idosas, gerando esse envelhecimento populacional em longo prazo. (IBGE,
2019)
Desde meados dos anos 40, o envelhecimento populacional tem sido
observado por estudiosos. Nos anos de 1950 já ultrapassava 4% e entre os anos de
1991 a 2000, atingiu aproximadamente 8%, na qual já se registrava um maior
aumento na parcela da população idosa dentre a população brasileira, enquanto o
índice de crianças e jovens caiu drasticamente. (Camarano, et. al, 2004, p.27) De
acordo com o gráfico abaixo(Figura 1) a projeção do IBGE aponta que em 2050
deve ultrapassar 29% no índice de pessoas idosas no Brasil, sendo o dobro da
porcentagem atual. Além disso, a projeção aponta que o índice de crianças e jovens
deve ser metade do índice de pessoas idosas em 2050.
16

FIGURA 1 - Evolução do envelhecimento populacional e um comparativo da


proporção de crianças e jovens com idosos com 60 anos ou mais – Brasil (1940/2050)

Legenda: Crianças e Jovens Idosos

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1940/2010 e projeção do Brasil por sexo e idade 2000-2060.

Atualmente, o processo de envelhecimento populacional é um fato de grande


relevância em nível mundial para as agendas políticas. No que se refere ao Brasil, o
índice de pessoas idosas cresceu consideravelmente. Ademais, a dimensão da
população com 80 anos ou mais, também expandiu. Isso modificou a estrutura etária
dentro do próprio grupo de pessoas idosas, logo, entende-se que a população idosa
também está envelhecendo e tendo uma maior expectativa de vida. (CAMARANO,
et. al, 2004, p.25)

A longevidade é, sem dúvida, um triunfo. Há, no entanto, importantes


diferenças entre os países desenvolvidos e os países em
desenvolvimento. Enquanto, nos primeiros, o envelhecimento
ocorreu associado às melhorias nas condições gerais de vida, nos
outros, esse processo acontece de forma rápida, sem tempo para
uma reorganização social e da área de saúde adequada para
atender às novas demandas emergentes. Para o ano de 2050, a
expectativa no Brasil, bem como em todo o mundo, é de que
existirão mais idosos que crianças abaixo de 15 anos, fenômeno
esse nunca antes observado. (BRASIL, 2006)

De acordo com Camarano (2002, p.1), o aumento da população idosa é


devido a dois fatores já mencionados anteriormente, que são: a alta fecundidade no
17

passado, entre os anos de 1950 e 1960, comparados à atualmente e à redução da


mortalidade da pessoa idosa, trazendo algumas consequências, como o aumento da
expectativa de vida.
Em contrapartida, houve uma melhora significativa na qualidade de vida,
como explica a Organização mundial da saúde (OMS) que passou a utilizar o termo
de “envelhecimento ativo” no final da década de 90, com o intuito de incluir diversos
fatores, além da saúde, que podem ser compreendidos como um processo de
“otimização”, ou seja, processo que busca melhorar a qualidade de vida à medida
que as pessoas ficam mais velhas. Logo, para que isso seja possível, são
necessárias políticas públicas que promovam o modo de viver mais saudável em
todas as etapas da vida, abrangendo acesso a alimentos saudáveis, prevenção de
violência doméstica e urbana, diminuição do uso de álcool e tabaco, acesso à
moradia digna, dentre vários outros aspectos. (BRASIL, 2006)
Segundo Camarano e Pasinato (2004), o envelhecimento populacional
apresenta uma contradição, pois, além de ser reconhecido como uma conquista
social do século XX expõe um grande desafio para as políticas públicas brasileiras,
devido ao nível de desenvolvimento do país e a sua estrutura. Se por um lado tem
como indispensável à necessidade de desenvolvimento para manter um patamar
econômico mínimo para a preservação da dignidade humana, deve-se também
certificar sobre a existência de equidade entre os grupos etários, no que se refere à
garantia de direitos, recursos e responsabilidades sociais para toda a sociedade.
Conforme afirmam Camarano e Pasinato (2004) devem existir um equilíbrio
nas prioridades das necessidades da pessoa idosa com as demais faixas etárias, ou
seja, as políticas públicas direcionadas para a população idosa precisam
proporcionar solidariedade entre gerações. Além disso, é indispensável para a
efetivação dessas políticas, que expressam uma perspectiva integrada em suas
diversas esferas, como: saúde, seguridade social, economia, mercado de trabalho e
educação, para que isso seja possível, pois é através da abrangência e inclusão de
todos os âmbitos da vida de um indivíduo que torna-se possível promover a
dignidade humana.
18

2.2 CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICA DOS IDOSOS BRASILEIROS

O alto crescimento do índice de pessoas idosas no Brasil é um fato relevante


no cenário atual. Pois, desde 1994 essa temática já começava ser estudada,
chamavam-na de “crise da velhice”, na qual geram diversos desafios para o estado e
uma pressão nos sistemas de previdência social e esse fenômeno não afeta apenas
a economia do país, mas também a segurança econômica dos idosos. É um desafio
compreender essas modificações e oferecer recursos necessários para examinar o
impacto e o nível que afeta a sociedade e as políticas públicas, sendo assim, os
índices demográficos auxiliam nesse aspecto. (CAMARANO, 2002, p.1)
As reflexões acerca das consequências do envelhecimento populacional em
países em desenvolvimento estão diretamente conectadas pelas condições de
saúde, aposentadoria, qualidade de vida em geral e o suporte na vida desses idosos
que são extremamente escassos. De acordo com Camarano (2002), no cenário
brasileiro, essa inquietação surgiu devido a estudos sobre as consequências nos
índices de queda de fecundidade. Logo, foi através desses estudos que foi possível
reconhecer os impactos causados pelo crescimento do número de pessoas idosas
que afetaria a previdência social e assim, surgiu essa preocupação para as agendas
políticas. Além disso, as condições de saúde, qualidade de vida e mortalidade da
pessoa idosa são temas bastante frequentes.
É possível identificar o envelhecimento populacional através das mudanças
na pirâmide etária que ocorreram ao longo dos anos, ou seja, ao longo do tempo
ocorreu um estreitamento na base da pirâmide etária e um alargamento do topo,
como mostra no gráfico (Figura 2) que retrata as modificações que a pirâmide sofreu
desde 1940, passando pelos anos 2000 e a projeção futura para 2060. Desse modo,
se destacou o baixo índice de idosos nos anos de 1940 e as projeções para 2060,
representando um grande crescimento no grupo de pessoas de mais de 60 anos,
principalmente o aumento nos índices dos idosos de 80 anos ou mais, chamados de
“mais idosos” dentro do próprio segmento de idosos.
19

FIGURA 2 - Pirâmide etária – Brasil (1940/2060)

Fonte: Senado Federal – Transição demográfica do país.

No que concerne à composição por cor ou raça (Figura 3), a dominação no


público idoso é da cor branca e em seguida parda, que consistem em 60,7%
brancos, 30,7% são pardos e 7,0% são negros, os amarelos e indígenas compõem
uma pequena parcela dessa população representando 1,2%. (CAMARANO, et. al,
2004)

FIGURA 3 - Composição por cor ou raça

7.00% 1.20%

Brancos

30.70% Pardos

Negros

60.70% Amarelos e indígenas


20

Um fator de relevância é a questão do gênero na terceira idade, sendo 55%


da população de pessoas acima de 60 anos do sexo feminino. Esse é um fenômeno
chamado de ‘feminização da velhice’ (Figura 4), na qual em sua maioria são
mulheres viúvas, vivem sozinhas, sem escolaridade ou formação profissional, em
que, na maior parte dos casos vivem em situação de vulnerabilidade social, com
péssimas condições de vida, consequentemente com saúde mais debilitada devido
às Doenças Crônicas não transmissíveis (DCNTs) como: Diabetes, Hipertensão,
dentre outros, enquanto os homens, em sua maioria, morrem antes de adentrar
nessa fase ou no início dela. (CAMARANO, 2002, p. 1-3)
Essa projeção (Figura 4) do aumento no índice de mulheres idosas que se
sobressai ao número de homens com idade maior ou igual a 60 anos, que se baseia
em um levantamento bibliográfico organizado através de aspectos biopsicossociais,
no que se refere a realidade social dessas mulheres. (Barreto, et.al., 2019)

FIGURA 4 - Fenômeno de “Feminização na velhice” – Brasil (1950-2040)

Fonte: Portal do envelhecimento - A feminização do envelhecimento populacional no Brasil

Além desse fato, conforme a Síntese de indicadores Sociais: uma análise das
condições de vida da população brasileira, publicado pelo IBGE no ano de 2017,
salientou acerca do contingente de aposentados dentro do número de pessoas
21

idosas, na qual evidencia as desigualdades e falta de acesso aos rendimentos de


trabalhos, pensões e aposentadorias, ressaltando que pessoas do Norte e Nordeste
do país possuíam uma menor acesso a esses benefícios, e essa desigualdade não é
exclusiva apenas da localização geográfica, mas também se relacionado com a
raça/etnia, como mostra o gráfico abaixo. (Figura 5) (IBGE, 2017).

FIGURA 5 - Falta de acesso a benefícios por raça/etnia

22%

Pretos e pardos

Brancos

78%

Logo, é nítido observar o preconceito enraizado na sociedade atual, na qual,


78% da população idosa que não tem acesso aos benefícios, são pretos e pardos,
enquanto brancos são 22%.
No Brasil, de acordo com o IBGE, a concentração de pessoas com 60 anos
ou mais de idade está localizada nos grandes centros urbanos, em especial na
região Sudeste. Narimatsu (2017), afirma que:

O ambiente urbano moderno, com suas mudanças tecnológicas e


econômicas, ritmo acelerado e frenético, verticalização dos espaços,
acesso à informação e facilidade dos contatos, influenciam as
relações entre as gerações e causam choques físicos e perceptivos
na vivência dos indivíduos, principalmente nos mais velhos.

No contexto rural não se diferencia as desigualdades no processo de


envelhecimento, principalmente no que se refere à composição de renda e
escolaridade na problemática de gênero, comprovando que mulheres acima dos 60
anos e autodeclaradas pretas e pardas mostraram menor rendimento e menor grau
22

de escolaridade. Além disso, essas pessoas idosas que vivem no campo, em sua
maioria, são pessoas que durante toda a sua vida trabalharam em lavouras, tendo,
por conseguinte, várias comorbidades, como: hipertensão arterial, diabetes mellitus,
doenças crônicas de coluna, depressão, dentre outras doenças, que afetam
negativamente na qualidade de vida, no que concerne ao bem-estar físico e
psicológico dessas mulheres. (Barreto, et.al., 2019, p. 242) Isso se deve à
precarização do trabalho no campo e das condições de subsistência em que essas
pessoas eram submetidas. (Ferreira, et.al, 2019, p. 9-10)
É importante ressaltar sobre os avanços nos níveis educacionais, pois,
elevaram-se os índices de pessoas alfabetizadas, logo ocorreu um aumento
significativo nas taxas de idosos alfabetizados. “Em 1940, 74,2% da população idosa
feminina eram analfabetas e, em 2000, essa fração caiu para aproximadamente 1/3”.
(Camarano, Et. al, 2004) O maior crescimento foi principalmente do sexo feminino
com um crescimento de 146% e no sexo masculino foi de 59%.
Conforme, Ferreira, Leeson e Melhado (2019) o maior índice de idosos sem
renda, é em maioria mulheres e autodeclaradas negras ou pardas, devido ao menor
grau de escolaridade e consequentemente por não obter durante sua vida vínculo de
trabalho. No tocante ao sexo masculino, nos dados estatísticos, a maior parte possui
acesso à aposentadoria por tempo de trabalho. A mulher idosa, viúva e sozinha, na
maior parte dos números, vivem em situação de vulnerabilidade social e em
péssimas condições de saúde.

2.3 DESAFIOS E PRECONCEITOS ENFRENTADOS PELA POPULAÇÃO IDOSA


NO BRASIL

No passado o idoso possuía uma imagem valorizada e de prestígio na família


e na sociedade. Era detentor de memórias vividas e de histórias que eram
partilhadas. No entanto, essa imagem se transformou ao passar dos anos,
agregando ao idoso um valor negativo, porém esse fato se deu devido à visão
consumista do modo de produção em que vivemos, sendo ele, o capitalismo.
(Caldas e Thomaz, 2010)
Na sociedade capitalista, o que prevalece é a utilidade da força de trabalho,
porém quando um indivíduo se abstém do trabalho devido a sua idade mais
avançada, prontamente, o mesmo se torna “inútil” para o modo de produção.
23

Vivemos em uma sociedade que valoriza a juventude e a retardação da velhice, com


incentivos midiáticos e com publicidades de rejuvenescimento. A indústria estética
que lucra com o rejuvenescimento corporal cresce drasticamente com inúmeros
produtos com promessas milagrosas. Os mais afetados com essa valorização do
‘novo’ são as pessoas idosas que se tornam invisíveis dentro desse modo de
produção e dentro da sociedade, além disso, passam a serem excluídos e rejeitados
por não se encaixarem nesses estigmas e padrões impostos. (Aboim, 2014)

Perceber o envelhecimento como uma das fases da vida, como um


processo biopsicossocial que acontece de maneira diferenciada em
cada ser parece não ser um momento tão tranquilo e natural quanto
deveria ser, no contexto de uma sociedade em que o belo, o forte, o
novo e o jovem possuem destaque. (Alves & Alcântara, 2015)

Envelhecer é um acontecimento inevitável e de acordo com a OMS (2005) a


probabilidade do ser humano desenvolver doenças ou algum tipo de deficiência na
terceira idade está diretamente ligado ao processo biológico do corpo humano no
envelhecimento, no entanto fatores sociais também possuem grande peso no que se
refere ao início de uma doença ou deficiência que poderiam ter sido evitadas. Esse
fato é reflexo da falta de acesso a melhores condições de vida durante toda a vida
desses indivíduos, a ausência de saneamento básico, acesso à saúde de qualidade,
a desinformação sobre direitos sociais básicos, dentre outros fatores.
Enfatizar o papel da família, da sociedade e do estado no desempenho do
cuidado ao idoso, quanto ao zelo, valorização e garantia de um envelhecimento
digno no âmbito biopsicossocial (BRASIL, 2003), é indispensável. Contudo, os
estereótipos criados devido ao fenômeno biológico de declínio do corpo passaram a
imagem de que uma pessoa idosa fosse automaticamente ligada à decadência,
gerando esses estigmas e preconceitos. Seguindo essa visão, a velhice segue uma
linha deturpada com “ideias errôneas, tanto no que diz respeito ao processo de
envelhecimento, quanto à própria velhice individual, de modo a depreciar um
momento único e sublime do entardecer da vida.” (Alves & Alcântara, 2015)
A solidão e o abandono na velhice são sentimentos frequentes, estes
geralmente vêm acompanhados de sentimentos de inutilidade e de perda de valor
para a família e para a sociedade. No caso de idosos que vivem em instituições de
longa permanência, o envelhecimento é ainda mais crítico, pois a solidão se associa
à perda da sua independência e autonomia. (Aboim, 2014)
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3 DIREITOS DA PESSOA IDOSA

Diante do que foi analisado nos tópicos anteriores, neste item faremos uma
explanação acerca dos direitos da pessoa idosa, ressaltando as legislações
existentes para essa população, a importância da valorização da pessoa idosa
enquanto sujeito de direitos e a necessidade e importância da efetivação dessas
políticas no cenário brasileiro atual.

3.1 O DIREITO DE ENVELHECER COM DIGNIDADE

Segundo Lima e Xavier (2014) “A velhice traz consigo vulnerabilidades, sendo


necessário o alargamento de humanização da proteção às pessoas de mais idade”.
Contudo, o idoso só foi considerado um sujeito de direitos que necessitava de
atenção e respeito por parte do estado e da sociedade, após muitas lutas. Com isso,
direitos e deveres foram garantidos por lei, de maneira a assegurar condições
mínimas de existência.

Durante muito tempo, o processo de envelhecimento se mostrou


incompatível com as necessidades decorrentes do capitalismo e da
industrialização, que exigiam do ser humano vigor e disposição para
o trabalho. Incapazes de participar desse processo de formatação da
sociedade, os idosos eram tratados como fardos sociais. Foi tão
somente com o reconhecimento da dignidade da pessoa humana
como valor maior e fundamental que essa desvalorização da pessoa
idosa passou a ser superada. (Lima e Xavier, 2014, p.358)

A questão acerca do envelhecimento não é um fato atual, pois a proteção


social para os idosos no Brasil teve seu início ainda no período imperial, com o
surgimento dos montepios civis e militares e outras sociedades beneficentes. No
início do século XX foram criadas as primeiras políticas previdenciárias de base
estatal para funcionários do setor privado, logo em seguida, com o surgimento
dessas leis de seguro para acidente de trabalho, surge a Lei Eloy Chaves em 1923,
que se refere a criação da primeira caixa de aposentadorias e pensões. Entretanto,
essas políticas tinham uma pequena abrangência para alguns grupos populacionais,
além de ser uma política limitada, pois se baseava na concessão de uma renda em
situações de perda da capacidade laborativa. (Camarano, 2016, p. 19)
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Foi a partir da pressão pública, de associações científicas e grupos políticos


que ocorreu a incorporação dessa temática na agenda pública brasileira, em meados
de 1960. Duas grandes influências na evolução das políticas públicas foram: a
primeira em 1961, que foi a criação da Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia (SBGG), que visava estimular iniciativas em amparo à velhice, e a
segunda, se refere a uma iniciativa do Serviço Social do Comércio (SESC) em 1963,
na qual elaborou um trabalho com um pequeno grupo de comerciários de São Paulo,
contudo tal ação foi revolucionária no âmbito da assistência social direcionada para
os idosos. (Camarano, 2016. P.20)
Iniciaram-se as primeiras ações preventivas feitas em centros sociais do
Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), sendo esta a primeira iniciativa do
governo federal na prestação de assistência ao idoso, além também da internação
custodial para aposentados e pensionistas do INPS que possuíam 60 anos ou mais.
Em 1970, ocorreu a criação de benefícios não contributivos, que se referiam a
aposentadorias destinadas aos trabalhadores rurais e uma renda mensal vitalícia
aos necessitados urbanos, rurais e pessoas com deficiência. (Camarano, 2016, p.
21) Estes são apenas alguns fatos históricos acerca do surgimento das políticas
para a população idosa, no entanto, o verdadeiro avanço na proteção aos idosos só
ocorreu com a CF/88.
Sendo assim, a pessoa idosa passa a ser vista como sujeito de direitos a
partir da CF/88.Logo, a criação da Constituição pelo estado apresenta-se com um
pacto pré-estabelecido perante a sociedade visando uma organização social através
de regras e normas. (Faleiros, 2007, p.38)
Nas constituições anteriores, a exemplo da Constituição de 1934,
apresentava-se a terceira idade como uma fase improdutiva, logo, os direitos dos
idosos se baseavam apenas nos direitos trabalhistas. Dessa forma, quando o
indivíduo deixava de ser útil para o trabalho, ele era visto como velho e era excluído
da produção e da esfera do trabalho. No entanto, nessa mesma constituição
apresentava uma contribuição da previdência social, que era o “seguro de velhice”
para o trabalhador, fato este que também é validado nas constituições seguintes.
(FALEIROS, 2007, p.40)
Somente a partir da Constituição Federal de 1988 que a dignidade da pessoa
humana e o direito à vida passaram a serem reconhecidos como um fundamento
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baseado no respeito, na justiça e na igualdade para todos os indivíduos, incluindo as


pessoas idosas, como cita no art. 5º da Constituição Federal de 1988 (CF/88):

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade.

Foi com a CF/88 que ocorreu o primeiro grande avanço no que concerne às
políticas de proteção social aos idosos no Brasil. Além disso, foi a primeira
constituição brasileira a obter um capítulo de ordem social, em que trata de temas
como família, criança, adolescente e sobre o idoso. (IPEA, 2016, p.24)
Sendo assim, fica assegurado o dever de proteção da família, do estado e da
sociedade para com os idosos, presente no Art. 229º e 230º, da CF/88:

Art. 229º – Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos


menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os
pais na velhice, carência ou enfermidade. Não só a família deve
proteção aos mais velhos, mas também a sociedade e o Estado,
assegurando sua participação e defendendo sua dignidade,
formando- se um tripé cidadão: proteção, participação e dignidade.

Art. 230º A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar


as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade,
defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à
vida.

De acordo com Lima e Xavier (2014):


“No que se refere às pessoas idosas, a efetivação desse princípio
dependerá da promoção de políticas públicas previstas em
instrumentos jurídicos próprios, que atendam às necessidades dessa
categoria, propiciando-lhes condições dignas de vida.”

Dessa maneira, torna-se indispensável à criação de políticas públicas para os


diversos segmentos e públicos, como por exemplo, a Política Nacional do Idoso
(PNI).
A PNI se refere à Lei n. 8.842/94, que foi promulgada em 4 de janeiro de
1994, em que dispõe sobre a política, a criação do conselho nacional do idoso e
outras providências. (Goldman e Faleiros, 2008 p. 37)
Em seu art. 1º, a Política Nacional do Idoso (1994) afirma que:

Art. 1º - A política nacional do idoso tem por objetivo assegurar os


direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua
autonomia, integração e participação efetiva na sociedade.
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I - a família, a sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao


idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na
comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à vida;
II - o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral,
devendo ser objeto de conhecimento e informação para todos;
III - o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza;

Também cria o Conselho Nacional do Idoso que se refere à formulação,


coordenação, supervisão e avaliação, sendo assim, ressalta no Art. 6º e 7º da PNI
(1994) a criação desses conselhos e as suas competências:

Art. 6º - Os conselhos: nacional, estaduais, do Distrito Federal e


municipais do idoso serão órgãos permanentes, paritários e
deliberativos, compostos por igual número de representantes dos
órgãos e entidades públicas e de organizações representativas da
sociedade civil ligadas à área.

Art. 7º - Compete aos conselhos de que trata o artigo anterior a


formulação, coordenação, supervisão e avaliação da política nacional
do idoso, no âmbito das respectivas instâncias político-
administrativas.

Além disso, a Política Nacional do Idoso de 1994 também explana em um


parágrafo único do art. 8º acerca das funcionalidades que cada ministério deve ter
em prol da população idosa:

Parágrafo único - Os ministérios das áreas de saúde, educação,


trabalho, previdência social, cultura, esporte e lazer devem elaborar
proposta orçamentária, no âmbito de suas competências, visando ao
financiamento de programas nacionais compatíveis com a política
nacional do idoso.

Ademais, a PNI ainda especifica as competências em cada órgão e/ou


entidade pública e as suas competências. Sendo Assim, explicita que na Área da
Assistência Social, é dever do estado de:

Prestar serviços e desenvolver ações voltadas para o atendimento


das necessidades básicas do idoso, mediante a participação das
famílias, da sociedade e de entidades governamentais e não-
governamentais. Estimular a criação de incentivos e de alternativas
de atendimento ao idoso, como centros de convivência, centros de
cuidados diurnos, casas-lares, oficinas abrigadas de trabalho,
atendimentos domiciliares e outros; planejar, coordenar,
supervisionar e financiar estudos, levantamentos, pesquisas e
publicações sobre a situação social do idoso; dentre outras
atribuições. (BRASIL, 1994)
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Na Saúde, ressalta-se que é dever do Estado assegurar assistência médica


nos diversos níveis de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS), promover
programas e medidas profiláticas, prevenindo, protegendo e recuperando a saúde
da pessoa idosa, além de também adotar, aplicar e fiscalizar as normas em
instituições que atuam com idosos e em hospitais que prestam serviços geriátricos,
criar serviços alternativos de saúde para idosos, dentre outros. (BRASIL, 1994, p.
10-11)
No que concerne à Educação, a PNI (1994, p. 11) explicita que:

É de responsabilidade de este ministério adequar currículos e


metodologias de ensino destinado para idosos, incluir nos currículos
nos diversos níveis de ensino, conteúdos relacionados ao
envelhecimento, na qual vise combater os estigmas e preconceitos
nas gerações mais novas, desenvolver programas educativos sobre
o envelhecimento e o seu processo e também programas de ensino
à distância adaptados para idosos, além disso, também incluir a
Gerontologia e Geriatria como disciplina curricular nos cursos
superiores.

Outrossim, a PNI/94 ainda assegura o atendimento prioritário em benefícios


previdenciários, garante a criação de mecanismos afim de impedir a discriminação
da pessoa idosa dentro do mercado de trabalho, como participante ativo, além disso,
garante ao idoso a sua participação na área da cultura, esporte e lazer, através de
espaços de eventos mediante preço reduzido, incentiva a criação de programas de
lazer e atividade física, que visem promover uma melhor qualidade de vida, através
do bem estar físico e da participação do idoso em um meio social, além de
assegurar ao idoso o direito de dispor de seus próprios bens, pensões e benefícios,
exceto em casos de incapacidade comprovada de forma judicial. (BRASIL, 1994)
Sendo assim, a PNI foi um marco de referência legal na garantia de direitos,
no qual reafirma o dever do estado, da família e da sociedade na proteção do idoso
e viabiliza meios de efetivar a participação ativa dessa parcela da população na
sociedade. (Goldman e Faleiros, 2008, p. 37)
Anos depois, foi promulgado em 1ª de outubro de 2003, porém entrou em
vigor apenas em 1ª de janeiro de 2004, a lei de n. 10.741, que se refere ao Estatuto
do Idoso, no qual afirma Goldman e Faleiros, (2008) que:

O estatuto define os direitos fundamentais da pessoa idosa,


estabelece mecanismos de defesa dos mesmos pelo Ministério
Público, estabelece normas para as instituições de abrigo e sanções
a quem ferir esses direitos. O “Estatuto do Idoso” é a coroação de
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esforços do movimento dos idosos, das entidades de defesa dos


direitos dos idosos e do Estado, e se constitui o instrumento jurídico
formal mais completo para a cidadania deste segmento populacional.
(p. 38)

O Estatuto do idoso vem para reafirmar todos os direitos já adquiridos na PNI


de forma mais clara e completa, como cita em seu art. 1º “é destinado para regular
os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos.”
(BRASIL, 2003) Além disso, o mesmo reitera acerca de todos os direitos
fundamentais na qual o idoso goza:

Art. 2º O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à


pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta
lei, assegurando-se lhe, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e
mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social,
em condições de liberdade e dignidade. (BRASIL, 2003)

Acerca do atendimento prioritário para pessoas idosas, o Estatuto do idoso


destaca em parágrafo único que é assegurado atendimento “preferencial em órgãos
públicos e privados que prestem serviços à comunidade, prioridade na formulação e
na aplicação de políticas sociais, [...] garantia de acesso às redes de serviços de
saúde e assistência social, prioridade na restituição do imposto de renda [...].” dentre
outros. (BRASIL, 2003)
Ademais, no que concerne acerca da violência contra a pessoa idosa, o
Estatuto evidencia em seus artigos 4º e 6º que:

Art. 4º Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência,


discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos
seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei.
§ 1º É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do
idoso.

Art. 6º Todo cidadão tem o dever de comunicar à autoridade


competente qualquer forma de violação a esta lei que tenha
testemunhado ou de que tenha conhecimento.

Sendo assim, Fernandes e Soares (2012) salientam que o Estatuto do idoso


visou priorizar o atendimento para os idosos de forma geral, em todos os aspectos
da vida humana. Ademais, os autores reiteram que o Estatuto assegura princípios
norteadores acerca dos direitos da pessoa idosa, na qual são considerados uma
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evolução para efetivação desses direitos na prática, objetivando proteger, amparar e


respeitar as pessoas idosa
Em concordância, Camarano (2016) explicita que “o grande mérito do estatuto
foi criar um sistema de garantias de direitos da pessoa idosa para efetivar os seus
direitos sociais.” Dessa maneira, este sistema é de garantias é comporto por alguns
órgãos/instituições do estado, tais como: Sistema único de saúde (SUS), Sistema
Único de Assistência Social (Suas), Vigilância em Saúde (Visa), Conselhos do Idoso,
Poder Judiciário, Defensoria Pública, Ministério Público e a Polícia Civil.
Além dessas políticas, há as políticas públicas setoriais para idosos no Brasil,
como por exemplo: as políticas de saúde; assistência; trabalho, previdência e
seguridade; esporte, turismo e lazer; e educação para as pessoas idosas. Sendo
assim, no âmbito da saúde, temos a Política Nacional de saúde do idoso, sendo a
portaria de n. 2.528, de 19 de outubro de 2006, que visa à promoção do
envelhecimento saudável, a manutenção e a melhoria das capacidades funcionais, a
prevenção de doenças, dentre outros aspectos, objetiva promover a autonomia do
idoso. (Braga, et. al., 2016, p. 103)
Com base na Política Nacional de Saúde do idoso (2006), é indispensável
salientar acerca do atendimento especializado e individualizado para essa
população, pois como ressalta a política:

Os idosos diferem de acordo com a sua história de vida, com seu


grau de independência funcional e com a demanda por serviços mais
ou menos específicos. Todos necessitam, contudo, de uma avaliação
pautada no conhecimento do processo de envelhecimento e de suas
peculiaridades e adaptada à realidade sociocultural em que estão
inseridos. Faz-se, portanto, necessário que os serviços que prestam
atendimento a idosos respondam a necessidades específicas e
distinguem-se pela natureza da intensidade dos serviços que
oferecem.

Sendo assim, a finalidade desta política é de “recuperar, manter e promover


a autonomia e a independência dos indivíduos idosos, direcionando medidas
coletivas e individuais de saúde para esse fim, em consonância com os princípios
e diretrizes do Sistema Único de Saúde.” (BRASIL, 2006)
Acerca da política setorial da assistência social, há a Lei Orgânica da
Assistência Social (LOAS), lei de n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que tem
como propósito assegurar direitos sociais das pessoas idosas, além de garantir o
benefício de prestação continuada (BPC). (Braga, et. al., 2016, p. 105)
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Dessa forma, desde o art. 1º da LOAS/93, enfatiza que a Assistência social é


“direito do cidadão e dever do Estado, é política de seguridade social não
contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto
integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento
às necessidades básicas.” (BRASIL, 2006)
Além disso, a LOAS/93 objetiva garantir um salário-mínimo como benefício
mensal que é destinado a pessoa com deficiência e ao idoso que comprove não ter
meios de subsistência ou de tê-la provido por sua família. Este benefício refere-se
ao Benefício de Prestação Continuada (BPC).

O BPC constitui uma garantia de renda básica, no valor de um


salário mínimo, tendo sido um direito estabelecido diretamente na
Constituição Federal e posteriormente regulamentado a partir da
Loas, dirigido às pessoas com deficiência e aos idosos a partir de 65
anos de idade, observado, para acesso, o critério de renda previsto
na lei. Tal direito à renda se constituiu como efetiva provisão que
traduziu o princípio da certeza na assistência social, como política
não contributiva de responsabilidade do Estado. Trata-se de
prestação direta de competência do governo federal, presente em
todos os municípios. (BRASIL, 1993, p. 57)

Nas políticas de trabalho, previdência e seguridade, temos como benefícios


da previdência, a aposentadoria, seja por tempo de contribuição, idade ou invalidez
e a pensão por morte de cônjuge. (Braga, et. al., 2016, p. 105)
No que diz respeito ao esporte, turismo, lazer e educação para as pessoas
idosas, Braga, et. al. (2016) afirma que o Ministério do esporte e do turismo é o
encarregado de criar programas esportivos reservados a pessoas de mais idade,
visando a inclusão e a participação ativa deles, indo pela mesma logística,
objetivando a socialização, recreação e lazer dos idosos, são criados clubes e
centros de lazer. Além disso, a PNI (1994) e o Estatuto do idoso (2003) estimulam a
criação de programa de educação, como por exemplo: o acesso à informação e a
inclusão digital e o apoio à abertura da Universidade aberta à terceira idade
(UNATIs), tanto em instituições públicas, quanto em privadas. Assim, todos esses
direitos direcionados às pessoas idosas o tornam um cidadão civil, sujeito de direitos
e detentor de dignidade humana.
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3.2 O PROTAGONISMO DA PESSOA IDOSA

O envelhecimento é fator biológico inerente a todo ser humano, no entanto,


esta fase pode ser vivenciada de diversas formas de acordo com cada sociedade e
com épocas distintas, pois, isso se difere baseada na visão cultural e social que
cada sociedade vive, apoiado em costumes e crenças, influenciando diretamente na
posição social na qual a pessoa idosa ocupa. (Mesquita, 2011, p. 46)
Segundo Bosi (1994), em um determinado momento, o homem quando
envelhece, deixa de ser ativo na sociedade, no entanto é nesse momento que se
torna responsável por lembrar, por ser a memória da família, do grupo, da
instituição, da sociedade.

Nas tribos primitivas, os velhos são os guardiões das tradições, não


só porque eles as receberam mais cedo que os outros, mas também
porque só eles dispõem do lazer necessário para fixar seus
pormenores ao longo de conversações com os outros velhos, e para
ensiná-los aos jovens a partir da iniciação. Em nossas sociedades
também estimamos um velho porque, tendo vivido muito tempo, ele
tem experiências e está carregado de lembranças. (Bosi, 1994, p. 63)

A terceira idade é uma fase que está, atualmente, interligada a estereótipos


negativos baseado na situação fisiológica do indivíduo. Entretanto, também pode
existir outra visão acerca da velhice, de forma positiva, no qual valoriza a autonomia
e as vivências daquela fase da vida. Dessa forma, é indispensável compreender os
condicionantes sociais e estruturais desses estereótipos e estigmas em torno da
pessoa idosa. (Minó e Mello, 2021)
O envelhecimento é um processo natural, que ocorre desde o nascimento e
termina na morte daquele indivíduo. Entretanto, ainda que envelhecer seja um fator
biológico do ser humano, ainda assim, tal fato é estigmatizado, sendo diariamente
associado à imagem de decadência. (Alves e Alcântara, 2015)
Segundo Mesquita (2011), mesmo que o Estatuto do idoso assegure que a
velhice se inicia a partir dos 60 anos, é possível observar, que as pessoas dessa
idade, hoje, não se conceituam como velhas, contudo, “implica lidar com uma nova
geração, composta de pessoas que seguramente conviveram com valores culturais
que mudaram o seu envelhecer”. (Mesquita, 2011, p.47)

A velhice no Brasil representa uma ideia de improdutividade, de


perda de papéis sociais, de dependência, doença e abandono,
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fazendo com que os idosos sejam considerados cidadãos de


segundo categoria, ou mais ainda que a questão dos direitos seja
uma questão menor e sem importância diante do peso de cuidar
dessas pessoas. Por conseguinte, como em vários países do mundo,
no Brasil os idosos não exercem sua cidadania - ao contrário - na
etapa da velhice existe um processo de expropriação da autonomia,
onde são vistos como incapazes de se relacionar com as pessoas de
modo igualitário e de serem responsáveis pelas próprias ações.
(Braga, et. al., 2008, p. 11)

Gaeta, Mello e Hayar (2017), afirmam que esses estigmas e preconceito com
os velhos decorrem da supervalorização do que é novo, ou seja, da juventude.
Dessa maneira, é indispensável à ruptura dessa cultura de enaltecimento do jovem
que desvaloriza e exclui o idoso, pois é através dessa ruptura e da apreciação pela
heterogeneidade e pelas diversas fases da vida, que se torna possível um
protagonismo da pessoa idosa.
A valorização da juventude traz para a pessoa idosa um peso de preconceitos
enraizados. Sendo assim, muitos idosos resistem à velhice, se apropriando de meios
para se associar ao novo e se encaixar nesse mundo atual, utilizam de vestuários,
uso de cosméticos e de cirurgias plásticas para se adequar aos padrões
contemporâneos. Isso é resultado da pressão estética que predomina na sociedade
para ter um corpo jovem, dentro de um que envelhece, recusando-se a viver a fase
da velhice com plenitude. (Minó e Mello, 2011, p.278)
Igualmente, Mesquita (2011, p.51) ainda ressalta que “Os indivíduos acabam
por tornarem-se reféns de lógicas e discursos de rejuvenescimento, que parecem
privilegiar apenas aqueles que possuem meios para utilizarem essas práticas.” Logo,
compreende-se que além da desvalorização dessa fase e do enaltecimento da
juventude, essa supervalorização do “novo” privilegia uma pequena parcela da
sociedade, apenas idosos com meios financeiros conseguem se adequar e se
encaixar ao que a sociedade propõe como o ideal.

A aceitação social e o bem-estar estão sempre relacionados a um


corpo jovem como referencial de beleza. Os meios de comunicação
veiculam imagens com atributos e valores juvenis como ideais para
todas as idades, internalizando a juventude como referencial de
beleza, assim como o do consumo, do descartável, da
individualidade, e do ritmo frenético, que não são características
próprias dos mais longevos. Esse ideário social determina a busca
pelo modelo de juventude eterna. Além disso, a sociedade não deu
conta de acompanhar a evolução do crescimento do número de
idosos. Nesse sentido, torna-se necessário criar caminhos para
reduzir os artifícios que disseminam o preconceito sobre os idosos.
34

Com o novo cenário que emerge sobre a longevidade, a sociedade


precisa tratar de forma mais respeitosa esses sujeitos, considerando
a oportunidade de envelhecer como um fator positivo. (Minó e Mello,
2021, p. 278, apud TODARO, 2009)

Whitacker (2010, p. 185) ressalta que no Estatuto do Idoso é “obrigação da


família, da comunidade e do poder público assegurar [...] a dignidade do idoso.”
(Brasil, 2003, art.3), sendo assim, é necessário anular os estigmas que desvalorizam
e diminuem a pessoa idosa e a resume a um ‘fardo’ a ser carregado pela sociedade.

O velho, enquanto categoria social, nunca interveio no percurso do


mundo. Enquanto conserva uma eficácia, ele permanece integrado à
coletividade e não se distingue dela: é um adulto macho de idade
avançada. Quando perde suas capacidades, aparece como outro;
torna-se, então, muito mais radicalmente que a mulher, um puro
objeto; ela é necessária à sociedade; ele não serve para nada: nem
valor de troca, nem reprodutor, nem produtor, não passa de uma
carga. (Beauvoir, 1970, p. 101)

A criação do Estatuto, de fato, trouxe uma grande contribuição para a busca


da dignidade e prestígio dessa população, pois foi após a criação dessa legislação,
que programas especiais começaram a ser elaborados, no que se refere aos
aspectos de saúde físicos e mentais. Entretanto, no cotidiano, o idoso segue sendo
desrespeitado em espaços públicos onde frequenta seja em um transporte público,
nas ruas, filas de bancos e dentre outros lugares. É preciso que a sociedade
compreenda que tratar o idoso com integridade, concedendo seus benefícios, não é
um favor ou ajuda, é dever de todos assegurar a sua dignidade como ser humano,
pois a pessoa idosa também é um sujeito detentor de direitos. (Whitacker, 2010, p.
185)

Reivindicar um novo e diferente olhar sobre os idosos não significa a


volta a um passado idílico que jamais existiu, significa, sim, valorizar
o ser humano na sua integridade. E, para que tal integridade se
realize, é preciso, para cada pessoa, estar no mundo o tempo
necessário para completar sua identidade. Quando somos jovens,
estamos em processo de construção permanente da nossa
identidade. O idoso revê posições, reformula atitudes, repara seus
erros. Está em constante trabalho da memória. Mas, para realizá-lo,
precisa de apoio, segurança, saúde e uma boa aposentadoria.
(Whitacker, 2010, p. 186.)
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3.3 A URGÊNCIA DA EFETIVAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EM UM CENÁRIO


DE ENVELHECIMENTO POPULACIONAL

A longevidade é uma conquista da humanidade nos últimos séculos,


resultante das descobertas científicas e tecnológicas que celebram o
avanço da sociedade do conhecimento. Nesta ótica, o
prolongamento da vida do ser humano traz à cena pública a
realidade do envelhecimento, posicionando a pessoa idosa como
sujeito de direitos e como eixo de preocupação e investimento das
políticas públicas, exigindo do Estado o redimensionamento de sua
agenda pública. Essa conquista articula direitos ao segmento social
formado pelos idosos cuja condição de cidadania necessita ser
assegurada e realçada, especialmente em países como o Brasil, que
por não fundamentarem a convivência social em padrões de
civilidade, sempre relegaram a segundo ou a terceiro plano a
condição de cidadania da pessoa idosa e dos segmentos sociais
mais fragilizados. (Silva, 2016, p. 215-216)

De acordo com Monteiro et. al (2018, p. 4) as políticas públicas para os idosos


têm sido priorizadas nas agendas políticas internacionais de saúde. O
desenvolvimento dessas políticas visa propor diretrizes para a nação, em que ainda
necessita implementar programas assistenciais para suprir as necessidades
emergenciais dessa população.
Compreender as novas configurações e a velocidade em que ocorre esse
processo de envelhecimento populacional no Brasil é indispensável, sendo este,
visto como um processo complexo, devido às diversas mudanças etárias e
estruturais em um espaço curto de tempo. Contudo, é um desafio para o Brasil, visto
que o mesmo não possui estrutura de países de primeiro mundo, em que se
evidenciam as vulnerabilidades, como: falta de acesso à saúde, educação,
saneamento básico, habitação, alimentação adequada, grande desigualdade social,
pobreza, desemprego, fome, etc. (Monteiro et. al, 2018, p. 4)
Dessa maneira, suprir e atender a todas estas demandas é altamente
complexo. No entanto, o Brasil vem se organizando para enfrentar tais questões,
com o intuito de responder de maneira positiva a estas solicitações, não apenas no
que se refere à saúde, mas principalmente o bem estar da pessoa idosa na sua
totalidade. (Monteiro et. al, 2018, p. 5)
Ainda segundo Monteiro et. al (2018,p. 5) as políticas públicas existentes
nesse segmento são avançadas, como a PNI e o Estatuto do idoso. Entretanto, na
prática, as mesmas são insatisfatórias, pois deveriam atender as particularidades
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dessa população nas suas especificidades, acompanhando este processo de


envelhecimento, porém, as legislações mesmo sancionadas não são postas em
prática, sendo mais habitual no cotidiano ver pessoas idosas tendo seus direitos
violados e negligenciados.

Há, entretanto, enormes dificuldades na operacionalização do


“Estatuto do Idoso”, do Pacto de Gestão do SUS e dos resultados da
1ª Conferência, principalmente porque os recursos financeiros,
humanos e institucionais não são suficientes para cobertura das
necessidades sociais num país desigual como o Brasil. (Goldman e
Faleiros, 2008, p. 39)

Em concordância, Wong e Carvalho (2006, p. 20) ressaltam acerca das


dificuldades que o Brasil enfrenta com esta situação. Pois, de acordo com as
projeções já citadas anteriormente, o país deve chegar em 2050 com uma
população mais envelhecida do que o continente Europeu atual. A questão maior é
se o país, em tão pouco tempo, com baixas condições estruturais, com ampla
desigualdade de distribuição de renda, será capaz de atender a este desafio.

Do ponto de vista da normatização legal, o envelhecimento é


protegido no Brasil. Contudo, embora haja diretrizes a serem
seguidas, mesmo com todas as discussões já realizadas, suas
implementações ainda não foram feitas de forma completa. Cabe aos
poderes públicos e à sociedade em geral a aplicação dessa política
com o respeito às diferenças econômicas, sociais e regionais.
(Fernandes e Soares, 2012, p. 1498)

Ainda que o Brasil possua legislações que promovem alguns serviços básicos
de saúde, estes são bastante escassos e insuficientes, principalmente em relação a
Instituições de Longa permanência (ILPI) e para idosos que não possuem meios
financeiros, que vivem em situação de vulnerabilidade social e não possuem planos
de saúde, estes são os mais afetados pela ausência da efetivação das políticas
públicas. (Kuchemann, 2012, p. 168)
As maiores adversidades enfrentadas no cenário brasileiro são a geração de
recursos e a construção de infraestrutura que proporcione um envelhecimento
adequado. Esta circunstância é essencial, no que se refere à economia, pois
segundo a OMS (2002), idosos ativos consomem menos recursos, logo,
proporcionar um envelhecimento ativo e uma melhora na qualidade de vida é
promover uma vida melhor e com seguridade social assegurada. (Wong e Carvalho,
2006, p. 20)
37

Em contrapartida, Oliveira (2018) expressa uma crítica ao documento


elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2005 sobre
envelhecimento ativo, em que explica que a compreensão de envelhecimento ativo é
subjetiva e individualista, logo afirma que:

A compreensão do envelhecimento ativo, que é entendido como


sendo resultado de comportamentos saudáveis ao longo da vida,
responsabilizando e culpabilizando os idosos que possuem algum
tipo de dependência, seja física ou cognitiva, por terem tido algum
comportamento de não cuidado da saúde em fases anteriores.
Novamente aqui o processo de envelhecimento é tratado de forma
abstrata, pois não são consideradas, por exemplo, as condições
financeiras para se ter alimentação saudável, os hábitos culturais
quanto a alimentação, a possibilidade de prática de atividade física,
nas idades anteriores, após longas e extenuantes horas de trabalho
e de utilização do transporte público, entre outros aspectos. Como a
população pobre pode ter qualidade de vida para conquistar um
envelhecimento ativo? (Oliveira, 2018, p. 8)

Como afirma Lucena (2016), ser baixa renda afeta diretamente na qualidade
de vida desses indivíduos, tornando-os mais suscetíveis a adquirirem doenças ao
longo da vida, inibindo-os de adentrar na terceira idade ou chegando à fase idosa de
forma debilitante, devido a falta de acesso a recursos fundamentais que são
assegurados pela CF/88.
Pessoas que possuem poder aquisitivo maior e meios financeiros
simplesmente crescem em ambiente opostos, com estabilidade financeira, acesso a
alimentos saudáveis, acesso à saúde e educação de qualidade, vivem em
comunidades que possuem menos crimes, dentre tantos fatores que influenciam
diretamente na qualidade de vida e propicia um envelhecimento mais ativo e
saudável dessa população. (Lucena, 2016)

O fato de os ricos eventualmente viverem duas vezes mais tempo


que a classe de baixa renda que estará fadada a morrer mais jovem
que seus próprios pais pode se tornar motivo para revolução. Em vez
de permitir que a diferença de riqueza se transforme em uma lacuna
de longevidade, talvez encontremos uma maneira de utilizar o talento
de todos e de compartilhar o dividendo da longevidade em todos os
níveis de renda. Esse compartilhamento pode prevenir o colapso
econômico que muitos previram com a tsunami cinza e evitar a
revolta contra a camada que mais eficientemente colherá os frutos do
avanço tecnológico. Estamos no limiar de dois futuros distintos – um
no qual existe uma população frágil, em rápido envelhecimento que
gradualmente enfraquece a economia, e outro futuro, no qual todos
vivem vidas mais produtivas e longas. (Lucena, 2016)
38

Para Mattos (2020), o Brasil segue num processo de envelhecimento com


uma “economia dominada pelas finanças, e não por uma economia produtiva.” Logo,
este é um fator importante, pois reduz as oportunidades do país de assegurar uma
qualidade na saúde dessa população, que passou a ter uma maior expectativa de
vida.
Como exemplo disso, em 2016, num cenário de crise, ou seja, aumento da
dívida pública, queda dos investimentos e ampliação dos déficits primários, o
Congresso Nacional aprovou uma emenda constitucional (EC) 95/2016, também
chamada de “Teto de gastos”. A mesma visava uma estagnação das despesas
primárias por 20 anos, considerando a partir do ano seguinte, em 2017. (Cardoso,
et. al, 2018)
Essa política fiscal afeta diretamente a Seguridade Social em seu tripé:
saúde, assistência e Previdência Social, sendo este o mecanismo de proteção e
promoção social mais importante no Brasil, pois abrange serviços como o Sistema
Único de Saúde (SUS), o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), o Sistema
Único de Segurança Alimentar e Nutricional (Susan), a Previdência Social, além de
transferências de renda para famílias como, por exemplo, o seguro-desemprego,
dentre outros serviços. Contudo, com a nova EC 95/2016, não será possível manter
essa política fiscal sem haver um ‘desmonte’ da Seguridade Social, afetando toda
população, especialmente às pessoas idosas. (Brasil, 2018, p. 27)

Assim, os efeitos da austeridade podem ser entendidos de forma


intuitiva. Gasto e renda são dois lados da mesma moeda, o gasto de
alguém é a renda de outra pessoa: quando alguém gasta, alguém
recebe. Quando o governo contrai o seu gasto, milhões de pessoas
passam a receber menos, o que tem impactos negativos na renda
privada. Quando o governo corta gastos com investimentos
destinados a uma obra pública, por exemplo, o efeito é direto sobre a
renda e o emprego, uma vez que a empresa que seria contratada
deixa de contratar empregados e comprar materiais. Da mesma
forma, o corte de gastos em transferências sociais reduz a demanda
dos que recebem os benefícios e desacelera o circuito da renda.
(Brasil, 2018, p. 18)

Torna-se indispensável uma “revisão do sistema de garantia dos direitos do


idoso brasileiro, a fim de que possa ser um instrumento mais eficaz na produção de
justiça, ou seja, que não apenas conste na lei, mas que se traduza em ações para a
população brasileira.”. (Camarano, 2016, p.39)
39

A velhice digna é um direito humano fundamental, porque é


expressão do direito à vida com dignidade. Em termos
infraconstitucionais, a Política Nacional do Idoso (PNI) e o Estatuto
do Idoso representam as principais leis ordinárias de proteção da
pessoa idosa. Ocorre que, transcorridos quase três décadas da
redemocratização do país e de todo esse labor legislativo pró-idoso,
as políticas públicas para o envelhecimento ainda não foram
efetivadas. Uma rápida leitura da PNI e o do Estatuto do Idoso
demonstram uma dívida do Estado com esse segmento populacional,
restando às famílias a grande responsabilidade e o ônus de cuidar de
seus idosos. (Alcântara, 2016, p. 359)

Alcântara (2016, p. 364) questiona acerca da responsabilidade de zelar pela


execução da lei a fim de evitar a violação de direitos dessa população e as
competências de promover e defender os direitos da pessoa idosa. Entretanto, o
autor responde às próprias indagações realizando críticas a efetividade das políticas
existentes, afirmando que “Foi fácil perceber que, transcorridos dez anos de vigência
da PNI, os direitos das pessoas idosas brasileiras estavam muito longe de serem
efetivados. Lança-se mão de uma nova Lei, buscando-se corrigir a não efetividade
da PNI.”

Embora seja alvo de críticas por sua ineficácia normativa em seus


onze anos de vida, o Estatuto do Idoso, a meu ver, tem um grande
mérito: criou o sistema de garantias de direitos da pessoa idosa, que,
apesar de vários percalços, tem buscado efetivar os direitos sociais
dos idosos brasileiros. Acredito que a eficiência desse sistema de
garantias é uma das possibilidades para a efetividade dos direitos da
pessoa idosa. (Alcântara, 2016, p. 366)

Contudo, Alcântara (2016, p.366) ainda destaca a relevância do poder


judiciário na efetivação desses direitos, pois o autor afirma que é a partir da
fiscalização deste órgão - no que se refere aos direitos previstos na CF/88, na PNI,
no estatuto do idoso e as demais leis setoriais - que teremos a efetividade e a
atenção necessária para essa população.

Acreditar e forçar a efetivação dessas políticas por meio do sistema


de garantias de direitos e da busca incessante pela politização e
engajamento dos idosos brasileiros na conquista de seus direitos.
Essa possibilidade, porém, esbarra na questão da Judicialização dos
direitos fundamentais, implicando no desdobramento de duas outras
questões. A primeira, a não efetivação do próprio sistema de garantia
de direitos, ou seja, há Estados que não contam com serviços
especializados para atendimento aos idosos no âmbito da Defensoria
Pública, Ministério Público, polícia ou vara especializada, como
previsto no Estatuto do Idoso. A segunda questão, também muito
tormentosa, é a própria viabilidade ou pertinência de efetivação de
políticas públicas a partir do Judiciário. [...] Também acredito que a
40

mudança virá tão somente a partir da real participação dos idosos


brasileiros na conquista de seus direitos fundamentais. (Alcântara,
2016, p. 376)

Em concordância com Alcântara (2016), Braga, et. al. (2016, p. 11) fala
acerca da cidadania da pessoa idosa e a extrema dependência que o idoso passa a
ter devido ao estereótipo de “incapaz” ditado pela sociedade, então dessa forma, a
família retira do idoso o poder de decisão, o poder de ir e vir, de administrar seus
próprios bens, retirando a sua autonomia. Além disso, a autora explicita a respeito
da questão previdenciária, outro fato que afeta a cidadania do idoso, visto que,
possuindo sua própria renda, o mesmo pode ter a sua independência e autonomia,
sendo estes, direitos assegurados pelo estatuto do idoso.
É essencial que se crie uma sociedade justa e igualitária na efetivação dos
direitos para todos os indivíduos, seja criança, adulto ou idoso, para que todos os
membros possam ser participantes ativos nos aspectos econômicos, sociais e
políticos, ou seja, em todas as estruturas sociais, pois com o exercício da cidadania
é possível transformar os estigmas em torno do envelhecimento de forma positiva e
assim apresentar um engajamento da população idosa na vida em sociedade e
principalmente nas tomadas de decisões acerca dos seus direitos. (Braga, et. al,
2016, p. 11-12)

Estabelecer direitos pode significar a cristalização do poder de um


grupo dominante em detrimento de outros grupos, posicionando-se
como uma parte dominante acima de outra parte da sociedade,
fragmentando a própria sociedade em os ‘com cidadania’ e os ‘sem
cidadania’, ou estabelecendo apenas direitos formais para todos e
reais para alguns. (Faleiros, 2007, p.38)

Logo, compreende-se que a implantação de leis formais não diminui a


desigualdade social na sua totalidade, pois a mesma está inserida num meio político
de interesses dominantes, de condições desiguais de aplicar a lei. O processo de
construção do pacto de direitos, ou seja, da cidadania resulta num processo
antagônico de lutas e de forças dominantes, entre uma estrutura social legal e a vida
real. (FALEIROS, 2007, p.39)
Portanto, é imprescindível uma atenção mais eficiente na efetivação das
políticas públicas brasileiras, pois a velhice também é “questão política”. Logo, é
necessária a aplicação das políticas e a sua fiscalização, com a atuação do estado
proporcionando uma qualidade de vida para essa população, principalmente para as
41

pessoas em situação de vulnerabilidade social, sempre utilizando dos princípios da


liberdade, integridade, justiça social e do respeito. Para que, desta forma, ocorra
uma valorização do idoso na sociedade atual, em que estes indivíduos possam se
sentir pertencentes do meio em que vivem e assim possam contribuir ativamente
com a sociedade e exercer a sua cidadania e autonomia, pois a ocupação é fator
importante na vida de um idoso e além de ser necessário para a reconstrução da
dignidade do mesmo, tendo assim como consequência um envelhecimento ativo,
saudável, digno e adequado. (Santin e Borowski, 2008, p. 147)
42

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho buscou abordar acerca das políticas públicas


direcionadas para as pessoas idosas, refletir a respeito dos direitos dessa população
e compreender a importância da execução dessas políticas frente às demandas
provocadas pelo processo de envelhecimento populacional no Brasil.
O envelhecimento populacional é uma problemática em nível mundial. No
Brasil, o índice de pessoas idosas cresceu consideravelmente, chegando
aproximadamente a 30% da população atual desde 1940 até os dias atuais. Além
disso, se expandiu a expectativa de vida ao longo dos anos, gerando um aumento
no índice de pessoas com 80 anos ou mais, na qual modificou a estrutura da
pirâmide etária dentro do próprio grupo de pessoas idosas, logo, foi possível
observar que a população idosa também está envelhecendo.
O aumento da expectativa de vida se deu justamente pela atuação do estado
frente aos problemas sociais. A implantação do saneamento básico é um exemplo
disto, pois este tem impacto direto na saúde da população, na qualidade de vida e
na propagação de doenças. Dessa forma, foi possível diminuir os índices de
doenças transmissíveis por esgoto, falta de acesso à água potável e dentre vários
outros fatores.
No entanto, ocorreu um aumento na expectativa de vida, porém a execução
das políticas públicas não acompanhou o ritmo do desenvolvimento etário ao longo
dos anos. Com isso, essa população envelhece sem qualidade de vida e sem os
seus direitos assegurados por lei, principalmente para a população em situação de
vulnerabilidade social.
Além disso, é importante salientar acerca dos desafios em torno do “Ser
velho” nos dias atuais e o quanto o idoso é excluído e desrespeitado na sociedade,
sofrendo inúmeros preconceitos baseado em estigmas sociais que permeiam por
décadas. Em sua maioria, essas pessoas têm os seus direitos negligenciados e
absurdamente ‘roubados’, sendo impedidos de exercerem a sua cidadania através
da sua autonomia e independência.
Os sentimentos de abandono e de solidão são frequentes em pessoas idosas,
pois a sociedade atual preza pelo que é novo e “útil”, excluindo esses indivíduos,
enxergando-os como um “fardo” e como um “ser sem utilidade”. A pessoa idosa, só
43

passou a ser considerada como um sujeito de direitos que necessitava de atenção e


respeito por parte do estado e da sociedade após muitas lutas.
O primeiro avanço na garantia de direitos dessa população foi através da
Constituição Federal de 1988, foi a partir daí que o idoso passou a ter o direito à vida
e a dignidade humana garantidos por lei. No entanto, legislação específica
direcionada aos idosos, só passou a existir a partir de 1994, com a criação de PNI,
na qual foi um fato histórico na garantia de direitos, pois reafirma o dever do estado,
da família e da sociedade na proteção do idoso e viabiliza meios de efetivar a
participação ativa dessa parcela da população na sociedade.
Após a PNI, alguns anos depois, em 2003 foi criado o Estatuto do Idoso, em
que o mesmo objetiva reafirmar todos os direitos já assegurados pela PNI, sendo de
forma mais completa, criando um sistema de garantia de direitos para as pessoas
idosas. Ademais, há ainda outras políticas setoriais, como LOAS, Política Nacional
de saúde do idoso, dentre outras.
Entretanto, compreender a velocidade em que ocorre esse processo de
envelhecimento populacional no Brasil é imprescindível, principalmente pelo fato de
ser um grande desafio para a economia do país, visto que o mesmo não possui
estrutura de países de primeiro mundo, em que se evidenciam as vulnerabilidades,
como: falta de acesso à saúde, educação, saneamento básico, habitação,
alimentação adequada, grande desigualdade social, pobreza, desemprego, fome,
etc.
É um desafio compreender essas modificações e oferecer recursos
necessários para examinar o impacto e o nível que afeta a sociedade e as políticas
públicas no cenário atual. As ações realizadas a respeito das consequências do
envelhecimento populacional em países em desenvolvimento estão diretamente
conectadas pelas condições de saúde, aposentadoria, qualidade de vida, dentre
outros.
O Brasil possui políticas públicas e sociais avançadas no que diz respeito à
população idosa, no entanto, as mesmas não são executadas de forma eficaz e
eficiente, de modo a atender a todas as pessoas que de fato necessitam de amparo,
logo, às legislações mesmo sancionadas não são postas em prática ou quando são
executadas, não são fiscalizadas, sendo mais habitual no cotidiano ver pessoas
idosas tendo seus direitos violados e negligenciados.
44

A principal questão é se o Brasil, com baixas condições estruturais e com


ampla desigualdade de distribuição de renda, será capaz de atender a este desafio,
sobretudo, realizar o seu papel como estado de assegurar direitos e a dignidade
humana para os que vivem à margem da sociedade, dando a estes, meios de
subsistência de forma digna e adequada.
Dessa forma, é necessário uma revisão no sistema de garantias de direitos,
ou seja, uma reavaliação na aplicação dessas políticas e na sua fiscalização, pois a
população idosa cresce a passo largos, gerando um maior índice de pessoas em
situação de vulnerabilidade social, em níveis absurdos de extrema pobreza e com
pouca ou nenhuma dignidade humana.
Além disso, é preciso ressignificar nas futuras gerações a imagem que há em
torno da pessoa idosa, utilizando através da educação nas escolas mais
conhecimento e disseminando uma maior valorização da terceira idade, pois “Idoso”
não é sinônimo de “incapaz”, é necessário desmistificar todos esses estereótipos
ainda presentes na comunidade, visto que, através desse novo olhar será possível
transformar a imagem acerca da pessoa idosa e da sua importância como ser
humano e participante ativo da sociedade.
45

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