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Cadeira de Salomão

Denomina-se de Cadeira de Salomão a cadeira onde toma assento o Venerável Mestre da


Loja quando a dirige em sessão ritual.
Em si, não tem nada de especial. É uma peça de mobiliário como outra qualquer. É como
qualquer outra cadeira. Porventura (mas não necessariamente) um pouco mais elaborada,
com apoio de braços, com maior riqueza na decoração, com mais cuidado nos acabamentos.
Ou não...
Como quase tudo em maçonaria, a Cadeira de Salomão tem um valor essencialmente
simbólico. Integra, conjuntamente, com o malhete de Venerável e a Espada Flamejante (esta
apenas nos ritos que a usam), o conjunto de artefatos que simbolizam o Poder numa Loja
maçónica. Ninguém, senão o Venerável Mestre, usa o malhete respetivo. Ninguém, senão
ele, utiliza a Espada Flamejante. Só ele se senta na Cadeira de Salomão.
A Cadeira de Salomão destina-se, pois, tal como os outros dois artefatos referidos, a ser
exclusivamente utilizada pelo detentor do Poder na Loja. Assim sendo, importante e
significativo é o nome que lhe é atribuído. Não se lhe chama a Cadeira de César ou o Trono
de Alexandre. Sendo um atributo do Poder, não se distingue pelo Poder. Antes se lhe atribui
o nome do personagem que personifica a Sabedoria, a Prudência, a Justa Sageza. Ao fazê-
lo, está-se a indiciar que, em Maçonaria, o Poder, sempre transitório, afinal ilusório,
sobretudo mais responsabilidade que imperiosidade, só faz sentido, só é aceite, e portanto
só é efetivo e eficaz se exercido com a Sabedoria e a Prudência que se atribui ao rei bíblico.
Quem se senta naquela cadeira dispõe, no momento, do poder de dirigir, de decidir, de
escolher o que e como se fará na Loja. Mas, em maçonaria, se é regra de ouro que não se
contraria a decisão do Venerável Mestre, porque tal compromisso se assumiu
repetidamente, também é regra de platina que, sendo-se livre, não se é nunca obrigado a
fazer aquilo com que se não concorda. O Poder do Venerável Mestre é indisputado. Mas,
para ser seguido, tem de merecer a concordância daqueles a quem é dirigido. E esta só se
obtém se as decisões tomadas forem justas, forem ponderadas, forem prudentes. O Poder
em maçonaria vale o valor intrínseco de cada decisão. Nem mais, nem menos.
A Cadeira de Salomão é pois o lugar destinado ao exercício do Poder em Loja, com
Sabedoria e Prudência. Sempre com a noção de que não é dono de qualquer Poder, que só
se detém (e transitoriamente) o Poder que os nossos Irmãos em nós delegaram, confiando
em que bem o exerceríamos.
Não está escrito em nenhum lado, não há nenhuma razão aparente para que assim tenha de
ser. Mas quase todos os que se sentaram na Cadeira de Salomão sentem que esta os
transformou. Para melhor. Não porque esta Cadeira tenha algo de especial ou qualquer
mágico poder.
Porque a responsabilidade do ofício, o receber-se a confiança dos nossos Irmãos para os
dirigirmos, para tomar as decisões que considerarmos melhores, pela melhor forma
possível, por vezes após pronúncia dos Mestres da Loja em reunião formal, outras após ter
ouvido conselho de uns quantos, outras ainda em solitária assunção do ónus, transforma
quem assumiu essa responsabilidade.
A confiança que no Venerável Mestre é depositada pelos demais é por este paga com o
máximo de responsabilidade. Muito depressa se aprende que o Poder nada vale comparado
com o Dever que o acompanha. Que aquele só tem sentido e só é útil e é meritório se for
tributário deste.
A primeira vez que um Venerável Mestre se senta na Cadeira de Salomão não lhe permite
distinguir se é confortável ou não. Não é apta a que sinta que se encontra num plano
superior ou central ou especial em relação aos demais. A primeira vez que um Venerável
Mestre se senta na Cadeira de Salomão vê todos os rostos virados para ele. Aguardando a
sua palavra. Correspondendo a ela, se ela for adequada. Calmamente aguardando por
correção, se e quando a palavra escolhida não for adequada. A primeira vez que um
Venerável Mestre se senta na Cadeira de Salomão fá-lo instantaneamente compreender que
está ali sentado... sem rede!
E depois faz o seu trabalho. E normalmente faz o seu trabalho como deve ser feito, como
viu outros antes dele fazê-lo e como muitos outros depois dele o farão. E então compreende
que não precisa de rede para nada. Que o interesse é precisamente não ter rede...
Quem se senta na Cadeira de Salomão aprende a fazer a tarefa mais complicada que existe:
dirigir iguais!
Fonte: A Partir Pedra
Por: Paulo Jurza

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