texto”, e meus colegas e eu temos nos referido a ela como iPostura. August
disse 0 seguinte quando discutimos o assunto:
Em alguém com postura perfeita, 0 lébulo da orelha pende vertical-
mente acima do ombro, Quando comecei a tratar pacientes mais de 30
anos atrés, com certeza viamos corcundas ~ a parte superior das costas
fixa numa curva para a frente — em avds e bisavés, Agora estou vendo
a mesma inclinagao tordcica de flexao fixa em adolescentes. Basta ob-
servar as pessoas lateralmente ~ ndo ¢ sutil. £ um desleixo quando as
pessoas conseguem voltar 4 posicao normal, e é uma corcunda quan-
do nao conseguem ~ e isso acontece bem depressa. O problema jé é
‘enorme, e s6 faz eumentar.*
‘A cabega pesa em toro de 5,4 quilos, e essa é a carga sobre 0 pescoso
quando nossa cabeca esti equilibrada acima dos ombros. Mas, quando in-
clinamos 0 pescogo a frente uns 60 graus para usar o celular, o peso efetivo
sobe para 27,2 quilos. August demonstra isso com uma vassoura: “Equi
libre uma vassoura verticalmente em sua palma aberta. Nao é dificil, nao
requer grande esforco. Entio segure a extremidade do cabo da vassoura ¢
mantenha-a a uns 60 graus.” O ato de equilibrio agora demanda enorme
esforco. Ele explicou que, quando as pessoas veem lutando para segura
‘uma vassoura em determinado angulo, elas entendem: “E 0 que aconteo
com os mtisculos do pescogo quando vocé s¢ inclina sobre um laptop, ta
blet ou smartphone. Faca isso durante umas oito horas e nao é de admire
jo!”
que seu pescogo fique dolorid
‘August entrou em contato comigo apés assistir & minha palestra no TE
porque havia comecado a refletir sobre a mesma questo que me pret
cupava: seré possfvel que passar horas a fio usando telefone, tablet e laptc
esté causando 0 mesmo efeito que as posturas impotentes? A tecnolog
ja dificulta muito a questo da presenga. Em vez de nos envolvermos co
as pessoas 20 nosso redor, ficamos absortos em nossos dispositivos, 1
pondendo a e-mails e verificando as redes sociais, transportando-nos p:
fora do momento, desligando-nos do mundo “real”. Esses aparelhos jé
tho cognitivamente desviando nossa atengao do momento, mas estari
também nos induzindo a posigées fisicas que sufocam nosso poder e nc
capacidade de nos fazermos presentes?
194August disse que, até nos correspondermos, havia se concentrado nas
consequéncias musculoesqueléticas da posicao inclinada ~ “dor aguda na
parte superior das costas e nos ombros, dor de cabeca e outros numerosos
problemas de satide” -, sem focar nas consequéncias psicolégicas. “Eu nao
havia considerado os efeitos da posigao corcunda/encolhida na autocon-
fianga ena projecdo de submissio aos outros’, disse ele, mas esses resulta-
dos correspondem a sua experiéncia clinica. “A medida que os dispositivos
diminuem de tamanho, nao apenas a assertividade [em pacientes] diminui,
‘mas a carga sobre o pescogo aumenta (levando imediata ou futuramente a
dores generalizadas e a dores de cabeca) — nas mesmas proporgoes. E uma
relagdo perfeita (¢ l6gica): dispositive menor, inclinar-se mais para usé-lo,
assertividade menor, aumento da carga no pescogo, aumento das dores ge-
neralizadas e das dores de cabeca."
Uau!
Essa ligago pareceu digna de estudo. O psicélogo social Maarten Bos
eeu concebemos um experimento que nos permitiria testar a hipétese de
que a iHunch leva as pessoas a se comportarem menos assertivamente.*
Designamos aleatoriamente participantes para interagir com um dentre
{quatro dispositivos eletrnicos de tamanhos variados: um iPod Touch, um
iPad, um laptop MacBook Pro ou um desktop iMac.
Cada participante permaneceu cinco minutos trabalhando com seu dis-
positivo, sozinho em uma sala (os voluntérios estavam sendo filmados com
seu consentimento, para podermos nos assegurar de que estavam cum-
prindo as regras). Todos responderam aos mesmos questionérios “para
‘matar o tempo” — tarefas para distraf-los durante 0 periodo estabelecido
para o experimento.
‘Mas nés disfarcamos a medida comportamental critica. Depois que os
voluntérios interagiram com 0 dispositivo por uns cinco minutos realizando
algumas tarefas para matar o tempo (foram atribuidas as mesmas tarefas as
pessoas em todas as situagdes), 0 pesquisador retornou, recolheu o disposi-
tivo, apontou para o relégio ¢ informou: “Voltarei em cinco minutos para
avalid-lo, af farei o pagamento e vocé poderd ir embora. Se eu nao estiver
aqui, me procure na recepcao.” Quanto tempo eles aguardariam até se ma-
nifestarem? Esse indicador seria 0 meio de medirmos a assertividade dos
participantes — talvez 0 componente psicocomportamental central do poder.
E lembre-se de que haviamos confiscado os celulares dos voluntarios assim
195,que chegaram 2o laboratério, de modo que nao tinham nada para fazer se~
nao olhar para o reldgio enquanto aguardavam 0 retorno do pesquisador.
Conforme esperado, o tamanho do dispositivo afetou fortemente a dis-
posi¢ao dos voluntarios para ir atrés do pesquisador. Dez minutos depois,
apenas 50% dos usuérios do smartphone o procuraram para dizer que
queriam ir embora. Em contraste, 94% dos usuarios do desktop procura~
ram pelo pesquisador.
Voce pode ver os outros resultados no grifico a seguir: quanto maior 0
dispositivo, mais os voluntérios tenderam a se manifestar. Na verdade, os
‘usuérios do dispositive maior no apenas estiveram mais propensos a
terromper como 0s que interromperam o fizeram mais cedo. Concluimos
que, quanto menor o dispositive, mais precisamos contrair nosso corpo
para usé-lo, e quanto mais tempo passamos nessas posturas encolhidas,
fechadas, mais impotentes nos sentimos.
iPostura ¢ assertividade
949%
25%
4198
Hee
Pate
Nossas descobertas revelam uma ironia cruel: enquanto muitos de nd
passamos horas trabalhando em dispositivos méveis pequenos, geralment
‘visando aumentar nossa produtividade e eficiéncia, interagir com esses ob
jetos mintisculos, mesmo que por curtos periodos de tempo, pode reduzi
2a assertividade, potencialmente minando nossa produtividade e eficiéncia.
Se voce precisa passar longos periodos diante de uma tela —0 que ocorr
crtifique-se de escolher um dispositive cuidadosa
com muitos de nés -,
196mente e configurar seu espago de modo a permitir a postura mais ereta €
expansiva possfvel.
Imaginando uma postura poderosa
(seu corpo esta em sua cabeca)
Christine, que trabalha para uma organizacéo sem fins lucrativos que
ajuda individuos com deficiéncia a abandonar crencas limitadoras, escre-
‘veu-me pouco depois de minha palestra ser postada na internet:
Minhas posturas de poder nao sio realizadas fisicamente, na verdade.
Ninguém as vé. Ninguém sabe que as estou realizando — eu as imagino.
Meu corpo é completamente nibo fisico: tenho plena sensacdo dele, mas
utilizo apenas um dedo de uma das maos, ¢ ainda assim me imagino
fazendo gestos e movimentando minhas maos. Quando me preparo
para fazer uma apresentagao em sala de aula, imagino uma postura de
poder, porque € preciso incorporé-la.
‘Acho que, quando as pessoas olham para mim, 0 julgamento tfpico
é mulher, ponto contra vocé; deficiente e numa cadeira de rodas, mais
tum ponto contra. Eu poderia ser considerada um tanto impotente.
Mas, na verdade, sou poderosa, ndo importa 0 que meu corpo esteja
fazendo. Imagino que estou me movimentando e dominando a sala
inteira. Sou assertiva e competente, as vezes destemida ( talvez um
pouco imprudente, mas tudo bem). Acho que tudo isso se deve a esse
poder que criei. Consigo expressar todos os meus gestos € posturas,
‘mesmo através de meus olhos.
Eu me pergunto: poderiamos incentivar individuos com deficién-
cis fisicas a se sentirem mais assertivos usando a imaginacio?
Christine nao foi a tinica a fazer essa pergunta. Eu a ouvi de muitas pes-
soas portadoras de deficigncias que limitam gravemente o modo como elas
se portam ou carregam seus corpos. E muitas delas disseram a mesma coi-
sa: Eu me imagino adotando uma postura poderosa e me sinto poderoso(a).
Vocé fez alguma pesquisa sobre isso?
Aquela altura, eu nao tinha feito. Mas tinha motivos para acreditar que
simplesmente se imaginar numa postura de poder é suficente para aumen-
tar a autoconfianca. Pesquisas realizadas no decorrer de varios anos mos-
wttraram que, em termos de atividade cerebral e efeitos comportamentais, 2
imagistica mental do movimento se assemelha ao movimento fisico real.
Estudos indicam que percorrer uma sequéncia de movimentos na mente
aumenta a capacidade de realizé-los na pratica. Pesquisas também mos-
tram que muitas das mesmas regides no cérebro que se tornam ativas ao
executarmos ages especificas ~ dreas dentro e em volta do cértex motor
também reagem durante o ato de imaginar essas mesmas ages. Indi-