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MARCOVITCH, Jacques. Cooperação Internacional - Estratégia e Gestão - Livro - Anotado
MARCOVITCH, Jacques. Cooperação Internacional - Estratégia e Gestão - Livro - Anotado
Bibliografia.
ISDN: 85-314-0224-7
Índic,'spara catalogosistenuitico:
I. Cooperação internacional : Relações internacionais 327.17
Direitos reservados à
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6º andar - Ed. da Antiga Reitoria - Cidade Univcrsiniria
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Te!. (O11)813-8837/818-4156/818-4160
13 Introdução
J acques Marcovitch
CASOS E DEPOIMENTOS
647 A Tecnologia de Transferir Tecnologia
João Batista Araujo e Oliveira
Buscando tecnologia para os centros de tecnologia do Senai;
Brasil e Cingapura : comparações e lições.
665 Glossário
J acques M arcovitch
Celso LaJer
Essa discussão deve, por sua vez, levar em conta determinados elementos obje-
tivos, próprios da configuração daquilo que poderia ser definido como o perfil
a
externo do país. O primeiro deles é, evidentemente, sua dimensão tanto em
termos territoriais quanto demográficos, assim como políticos, econômicos e
culturais . O Brasil tem peso e identidade indiscutíveis no plano internacional, à
Política Externa Brasileira: Reflexão e Ação 25
A fronteira de cooperação, por sua vez, solidifica seus alicerces na região platina,
onde os vínculos brasileiros não só s e beneficiam tradicionalmente da infra-es-
trutura estabelecida em termos de rodovias, pontes e hidrelétricas, mas também
adquirem dimensão inovadora com os programas de integração econômica. O
Mercosul é, nesse sentido, o maior exemplo da fronteira-cooperação, fronteira
que perde gradativamente o seu significado primordial como elemento divisório
de soberanias para incorporar as vantagens econômicas e sociais do mercado
ampliado.
A integração energética representa outro instrumento de valorização de nos-
sos laços na região. Destaco a importância dos acordos sobre aquisição do gás
natural boliviano firmados a 17 de agosto de 1992 em Santa Cruz de la Sierra.
Esses documentos criam as condições para a construção do gasoduto que unirá
os territórios dos dois países. Representará, para o Brasil, um passo signifi-
cativo na diversificação de sua matriz energética . Dentro dessa estratégia
enquadram-se igualmente as perspectivas de utilização do gás da Argentina.
Outro projeto de integração de envergadura, formalizado em Las Lefi as em
junho, é o da melhoria do transporte fluvial através da Hidrovia Paraguai-Pa-
raná.
Para o Brasil, o conceito de fronteira de cooperação tem significado muito amplo.
Aplica-se, por exemplo, à nossa grande fronteira marítima, o Atlântico Sul, o
mar-oceano que nos liga ao mundo e aos nossos vizinhos africanos. O interesse
do Brasil pelo Atlântico Sul é, pois, comparável ao que temos por quaisquer
outras de nossas fronteiras, e por essa razão, abrigamos a aspiração de efetiva-
mente transformá-lo numa grande área de paz e de cooperação internacional.
A idéia da fronteira de cooperação em sentido mais amplo e metafórico distingue
a diplomacia brasileira e caracteriza uma especificidade do perfil externo do
Brasil. Não somos, ao contrário de outros países, condicionados por influências
fortemente preponderantes que possam derivar de circunstâncias como a proxi-
midade física com uma superpotência ou a concentração de grande parte de seu
comércio exterior em um único parceiro. É o caso do México e do Canad á, cuja
posição de vizinhança com os Estados Unidos determina opções, exemplificadas
na conclusão das negociações sobre o Acordo de Livre Comércio da América do
Norte. Semelhante relação poderia ser identificada no ingresso dos países da
península ibérica na Comunidade Econômica Européia, que redefiniram suas
identidades internacionais levando em conta a força de aglutinação continental
da nova Europa.
Política Externa Brasileira: Reflexão e Ação 27
v. COMÉRCIO EXTERIOR
resses são globais - aspecto que já sublinhei como característica geral de nossa
presença internacional.
Ao mesmo tempo, não se deve perder de vista que, malgrado a pujança do
comércio exterior brasileiro, permanece ainda em níveis relativamente modestos
nossa participação na economia mundial , ainda mais se levarmos em conta a
absorção de investimentos e de tecnologia. Essa espécie de paradoxo na valora-
ção da posição internacional do país - para antecipar aqui uma das conclusões
desta palestra - na verdade demonstra que o mundo hoje é muito mais importante
estrategicamente para o Brasil do que o Brasil é relevante estrategicamente para
o mundo. D aí o desafio de fazermos corresponder nossas expectativas às nossas
potencialidades.
A reflexão e a análise políticas têm identificado uma ampla e rica gama de efeitos
da forma demográfica de governo no plano internacional, de que a política
externa brasileira se tem beneficiado e que ainda pode aprofundar.
A democracia legitima, primeiramente, de dentro para fora, as ações externas de
Política Externa Brasileira: Reflexão e Ação 31
Tudo isso ocorre num mundo que mudou. O conflito Leste-Oeste, durante a sua
vigência, estruturava e condicionava até certo ponto o tema Norte-Sul. Assim, o
Movimento Não-alinhado, no campo político, e o Grupo dos 77, no campo
econômico, retiravam grande parte de sua relevância do cará ter de terceira força
que apresentavam face ao chamado primeiro mundo e ao mundo socialista. O
jogo tripartite possibilitado pela existência desses três agrupamentos de países
se viu reduzido , também simplificadamente, a um novo jogo binário opondo,
para alguns, um Norte reconciliado em suas metades Leste e Oeste a um Sul
pobre, heteróclito e ameaçador.
Foi em função dessa nova realidade que o tema Norte-Sul deixou de ter a
exclusiva dimensão de uma cobrança coletiva do Sul ao Norte - tanto capitalista
como socialista - por recursos financeiros e tecnológicos, por mais cooperação
para o desenvolvimento em suma - e passou a ter também a dimensão de uma
cobrança do Norte ao Sul , por mais respeito aos direitos humanos, maior preser-
vação do meio ambiente, adesão à não-proliferação de armas de destruição em
massa, combate ao narcotráfico e livre comércio . Daí uma paradoxal inversão de
"cobranças" que contribui, num primeiro momento, para deslegitimar a perspec-
tiva do Sul no plano mundial.
Para usar um conceito elaborado pelo pensador norte-americano Thomas S. Kuhn
no contexto da história da s ciências, vivemos um momento de mudança de
paradigma. No caso da teoria das relações internacionais, a mudança não veio
da genialidade dos cientistas, mas da criatividade democrática dos povos que
mudaram nossa cartografia. Esse mundo profundamente transformado requer
novas categorias da diplomacia brasileira, que pensou e construiu alguns de seus
conceitos fundamentais no contexto da ordem definida pelos traços Leste-Oeste e
Norte-Sul, como aliás todas as demais diplomacias, que também estão em fase de
reflexão e reformulação de suas políticas externas . Uma ordem que, com todas as
suas deficiências, teve o mérito da estabilidade, pois se caracterizou por sua longa
duração, cerca de quarenta anos em sua dimensão Leste-Oeste, um pouco menos em
34 Celso Lafer
sua dimensão Norte-Sul, que podemos datar do início dos anos 50 . Podemos
apontar, neste sentido, o contraste entre esse extenso período de estruturas
internacionais enrijecidas com os vinte anos do interregno entre a Primeira e a
Segunda Guerra. Essa durabilidade produziu hábitos mentais difíceis de substi-
tuir no curto prazo, mas que cumpre superar se queremos entender o presente e
projetar o futuro.
Nesse quadro, uma de nossas principais tarefas é justamente a de buscar " rele-
gitimar" em novos moldes a perspectiva do Sul na ordem mundial, indispensável
para garantir uma visão de futuro - conceito que será desenvolvido mais adiante.
Esta tarefa parte do reconhecimento de que existe uma relação Norte-Sul e de
que esta é e continuará a ser problemática enquanto os paí ses subdesenvolv idos
não estiverem plenamente incorporado s, e de maneira satisfatória, aos fluxo s
dinâmicos da economia mundial, pois essa incorporação é um ingrediente básico
para a estabilidade da ordem mundial. Existe a possibilidade desse processo de
construção de uma nova ordem em novos mecanismos de cooperação, e o
conceito de desenvolvimento sustentável, tal como foi consagrado na Conferên-
cia do Rio, representa esse tipo de construção coletiva, baseada na cooperação.
Através dele, reintroduziu-se com toda a ênfase necessária o tema do desenvol-
vimento no debate internacional, agregando-lhe a dimensão ambiental.
Para um país com a vocação pacífica que tem o Brasil, comprovada ao longo de sua
história republicana, passado o período em que a consolidação de sua integridade
física o obrigou ao emprego do poder militar, são especialmente relevantes as
implicações deste tema. O consenso entre os países do Norte quanto ao controle
internacional da transferência de tecnologias de ponta que podem ter finalidades
militares e por isso são qualificadas de tecnologias de uso dual - e tidas como
tecnologias sensíveis - preocupa sobretudo na medida em que os controles postos
em prática venham a impedir nosso acesso legítimo à capacitação científica e
tecnológica para fins pacíficos, variável fundamental da economia contemporânea.
Por isso, não aceitamos a validade do monopólio de tecnologias sensíveis avançadas
implicitamente defendido por aqueles países. A diplomacia brasileira tem assim
defendido que os controles internacionais sobre a transferência de tecnologias
sensíveis, objetivando assegurar a paz e a segurança internacionais, devem ser
universais e não-discriminatórios e responder aos critérios essenciais da transpa-
rência e da previsibilidade. Para que tais quesitos sejam cumpridos, faz-se desejável
que tais controles sejam progressivamente multilateralizados e consagrados em
instrumentos convencionais, deixando de ser prerrogativa de clubes fechados e
informais de supridores (ex.: MTCR, Grupo da Austrália, CO COM), que de resto
provaram sua inoperância no caso do Iraque.
nessa área, pode ser citada a conclusão do Acordo de Terceira Geração com a
CEE, que multiplica as áreas potenciais de nossa cooperação com aquele con-
glomerado de países.
A estratégia de -várias frentes que nos cabe seguir no plano do comércio internacio-
nal tem a ver igualmente com a importância dos esforços negociadores no âmbito
da Rodada Uruguai. Os ganhos de uma liberalização multilateral para o Brasil,
inclusive pelo nível de diversificação de sua economia e a sua condição de global
trader, são maiores do que aqueles que se poderiam obter com a liberalização do
comércio com um único parceiro. É por isso que não nos servem apenas os arranjos
parciais ou setoriais do comércio. A solução global deve ser o objetivo.
Pela mesma razão não concentramos nossas atenções e esforços em determinados
instrumentos de expansão das trocas internacionais, cuja utilidade pode aplicar-
se a apenas uma parcela de nossos interesses. É o caso, vale dizer, da atuação do
Brasil no Grupo de Cairns, focalizado no comércio do produtos agrícolas. Para
outros países latino-americanos, ao contrário, que dependem mais proporcional-
men te do que o Brasil das exportações primárias, este é um foro de maior
centralidade em suas preocupações internacionais.
Esse tipo de análise reforça a noção de que a política externa não segue propria-
mente um receituário fixo ou predeterminado. Por ser dinâmica e exigir constan-
temente a inovação e adaptação em uma realidade internacional cambiante, deve
buscar essencialmente aquilo que denominamos " nichos de oportunidade".
Tais nichos, que não deixam de afirmar a importância do multilateralismo,
podem ser identificados não apenas no campo econômico, mas também no campo
político. No primeiro caso , cabe destacar as relações com o Irã , com a Turquia,
com os Emirados Árabes Unidos, com a República da Coréia, com Israel, com
alguns países africanos. São países que oferecem possibilidades a serem exp lo-
radas em áreas como a do comércio -de serviços, de cooperação técnica e de
intercâmbio tecnológico.
O que devemos buscar é, pois, levar adiante uma política que alguns já denomi-
naram " mult ilateralismo com nichos de tratamento diferenciado", isto é, atender
a objetivos estratégicos e explorar as oportunidades econômicas nas diversas
frentes do nosso relacionamento externo.
T ambém no plano político tornam-se mú ltiplos os "nichos de oportunidade" com
46 Celso Later
XVIII. CONCLUSÃO
J acques M arcovitch
Neste final de século está longe de ser alcançada a melhor distribuição dos
recursos materiais. Vive-se um mundo dividido entre países e no interior dos
países. A miséria está presente na maior parte deles, na periferia das grandes
cidades e no campo. O país mai s rico tem-se mostrado incapaz de integrar os
bolsões de miséria e reduzir a violência que permeia seu território.
Com base no Relatório sobre o Desenvolvimento Humano da ONU-1992, 1/5 da
população mundial constitui o segmento mais rico , detendo 83 % do PIB mundial,
81 % do comércio, 95 % dos empréstimos comerciais, 81 % da poupança interna
e 81 % dos investimentos. Os países menos desenvolvidos representam 4/5 da
população humana. Nestes, as minorias mais bem educadas têm sido incapazes
de reduzir o fosso en tre a sociedade moderna e a maioria margin alizada . Esse
fosso tem induzido fluxos migratórios indesejados para países mais desenvolvi-
dos. Um abismo que está nas origens da corrupção , da violência, do comércio
de recém-nascidos, do narcotráfico e do ressurgimento de endemias , extirpadas
no passado e que voltam a afligir a sociedade humana.
No campo político, a democracia está em questão. Eleitos e eleitores revelam
frustração aguda de expectativas. A diminuição de interesse nas eleições, as
críticas permanentes à classe política e o individualismo crescente nos países
ocidentais têm provocado busca permanente de novas formas de organização
social e de sistemas de governo. A interrupção da era reaganiana, nos Estados
Competição, Cooperação e Competitividade 51
Apesar de esses princípios gerais terem sido acordados por todos os países,
acirrados conflitos de interesse estão presentes nas negociações internacionais.
Enquanto países menos desenvolvidos e organizações não-governamentais
(ONG) buscam facilitar o acesso à tecnologia, consolida-se do outro lado a
defesa dos direitos à propriedade intelectual. Defesa sustentada na lógica do
rigor econômico e nos interesses estratégicos setoriais de países desenvolvidos.
Essa lógica aplica-se também aos setores modernos de países menos desenvol-
vidos . Tem por base a rivalidade entre segmentos sociais e o temor das perdas
54 Jacques Marcovitch
No final dos anos 80, a Metal Leve transnacionalizou o seu Centro de Tecnologia,
apoiado nos Estados Unidos pelo SWRI (Southwest Research Institute), e pelas
Stanford, Battele e Michigan Universities. Na Europa, a Metal Leve baseia-se nas
universidades de Delft, Aachen e Leeds, e na Universidade Técnica de Copenhagen,
entre outras. A cooperação com grupos de engenharia dos principais fabricantes de
motores no Brasil, nos EUA e na Europa tornou-se valiosa fonte de informações
tecnológicas, com repercussão na competitividade da empresa .
Referências Bibliográficas
Hélio Jaguaribe
Este estudo visa a efetuar uma sucinta análise da presente situação internacional
do Brasil, em função das atuais características do mundo e da emergente ordem
internacional, subseqüente ao colapso do comunismo internacional e à desagre-
gação da União Soviética. Procurar-se-á discutir a posição do Brasil no sistema
internacional. Para esse efeito, serão estudados os mais importantes condiciona-
mentos internos e externos que interferem na situação internacional do Brasil e
discutidas as necessidades do país, no âmbito internacional, e os requisitos
necessários para assegurar seu atendimento.
sição desse mundo e desses problemas em cinco aspectos, mas cabe reconhecer
que se poderia, validamente, ver a coisa sob uma ótica um pouco distinta. Toda
a itemização de um contínuo é algo arbitrária.
Dentro desta cautelosa observação prévia, creio que se pode compreeender
razoavelmente o mundo contemporâneo se se considerar que ele apresenta cinco
grandes facetas, a seguir enumeradas.
Primeiro, o colapso do comunismo internacional; segundo, a emergência das
sociedades pós-industriais; terceiro, a formação dos megamercados; quarto, o
agravamento da brecha Norte/Sul; e quinto, a falta de regulação racional dos
grandes interesses coletivos da humanidade.
a) O Colapso do Comunismo
Dentro dessa crise, ficou evidente que Brezhnev era um homem que estava
tentando congelar um sistema em declínio. Quando chegou a vez, depois daque-
las sucessões efêmeras de Andropov etc., de Mikhail Gorbachev assumir o poder,
em 1985, ele - que provou ser um dos maiores estadistas do século XX - deu-se
conta de que o sistema não tinha mais capacidade de funcionar. Ele se deu conta,
sobretudo , de que embora a famosa guerra nas estrelas de Reagan não tivesse
capacidade de atingir os objetivos declarados - ou seja, de ser um guarda-chuva
impenetrável por mísseis -, constituía um desafio tecnológico que a União
Soviética não poderia sustentar.
significativo. Mas importa abrir uma exceção para o caso da China, país onde
vivem 1,2 bilhão de pessoas, um quarto da humanidade. Uma sociedade antiga,
com filosofia e estilo próprios. Uma sociedade que durante todos estes séculos
teve capacidade de absorver os seus invasores e reeducá-los à moda chinesa,
como aconteceu com a dinastia mongol, e também de resolver à sua maneira
o movimento que eclodiu em 1990, exigindo maior liberdade política.
Esse comunismo que hoje existe na China não é mais o comunismo de Mao,
muito menos o de Lenin, e menos ainda o de Stalin. É um sistema autoritário,
organizado para a promoção do desenvolvimento. Tem alguma semelhança
com os sistemas autoritários do século XVIII. É mais fácil pensar no Marquês
de Pombal, em Frederico, o Grande, do que em Lenin, para se compreender o
sistema adotado por Deng Xiaoping, ou seja, um autoritarismo político, cen-
tralizado que está ativamente descentralizando a economia e que mantém o
autoritarismo político como condição para poder orquestrar, de maneira eficaz
e coerente, a conversão da economia chinesa numa economia de mercado. Sem
gravames para muitos problemas, o experimento está tendo êxito. A China
está crescendo à taxa de 8 % ao ano. A cidade de Pequim , com 9 milhões de
habitantes, não tem um mendigo , não tem uma favela. Isto, para uma popula-
ção que tem uma renda per capita de 350 dólares, ou seja, menos de um sexto
da renda brasileira. Enfim, a China consegue coisas que nós aqui não conse-
guimos. Evidententemente, isto é conseguido com um regime autoritário, com
os graves defeitos que lhe são inerentes.
Se isto vai conduzir aos objetivos que Deng Xiaoping se propõe, já é mais
problemático. A idéia declarada de Deng é a de manter o regime autoritário
até que a renda per capita da população aumente significativamente, ou seja,
até que pelo menos duplique, e é o que esperam conseguir até o ano 2000. No
momento em .qu e a população tiver a sua renda per capita duplicada, tiver
aumentada a sua capacidade de trabalho, estará preparada para uma transição ,
a saber: passar da liberalização econômica para a liberalização política.
b) Sociedades Pós-industriais
c) Megamercados
d) Brecha Norte-Sul
e) Interesses Coletivos
o Clube de Roma, onde existe uma grande concentração de estudos sobre isso,
aponta para o fato de que os cientistas são unânimes em afirmar que o prazo é
muito curto. Estão calculando em torno de cinqüenta anos. Cinqüenta anos, na
história, não é nada, é um período de tempo que passa vertiginosamente. Se não
se fizer algo de muito sério, daqui a cinqüenta anos começará a haver graves
problemas de habitabilidade no planeta em virtude da intoxicação pelos gases, das
poluições, dos raios ultravioleta.
Essa questão, hoje, é objeto de um discurso geral. A verdade, porém, é que os
países ainda nada fizeram de concreto. Existe apenas uma atitude cínica dos
países do Norte, Europa, Estados Unidos, apontando o dedo para o Brasil- vocês
estão envenenando o ar, queimando a Amazônia. Obviamente, queimar a Ama-
zônia é uma insensatez que também não interessa ao Brasil. Contudo, a contri-
buição da queima das florestas tropicais em termos de C02 é de 5% do total, e
os que apontam o dedo estão contribuindo com 80%. No concernente à identifi-
cação dos problemas ecológicos mundiais, vive-se ainda em uma fase de misti-
ficação, o que é extremamente grave, porque se não houver uma solução muito
rápida o futuro será bem mais curto do que se pode imaginar.
Além disso, há evidentemente outros grandes problemas mundiais que estão
a exigir uma administração coletiva. Tais problemas estão relacionados com
as comunicações, com os transportes, com a saúde etc., que, em princípio,
poderiam ser administrados pelas Nações Unidas, que foram criadas também
para isso. Ocorre, entretanto, que as Nações Unidas estão sem recursos. Os
Estados Unidos não pagam sua cota, e há vários países ricos com débitos de
mais de 600 milhões de dólares para com as Nações Unidas. As Nações
Unidas, portanto, estão com dificuldade de caixa, por inadimplência dos
próprios países ricos que mais as utilizam. Além disso, a delegação de poder
às Nações Unidas é muito limitada.
A máquina burocrática das Nações Unidas é modesta, incapaz, portanto, de ter
um efetivo poder regulatório. Em que medida, agora que o perigo soviético
desapareceu, vai se poder reforçar as Nações Unidas? Este é um dos problemas
a ser subseqüentemente abordado no presente estudo.
3. Tendência à Multipolaridade
É dentro deste quadro emergente de multipolaridade que o mundo tenderá, por
várias razões, a ser operado de forma mais coerente pelas Nações Unidas. Estas
deverão receber maior delegação de atribuições. A ordenação mundial será
orquestrada através desta secretaria do mundo - as Nações Unidas - num período
posterior ao atual.
No presente, estamos saindo de um mundo bipolar, que deixou de existir, para um
mundo multipolar, que está em via de formação, passando por um período intervalar
em que só existe uma superpotência, a americana, sujeita a várias restrições. Ou
seja, um período de pax americana sujeita a diversos constrangimentos.
Qual é a provável duração desse período , e quais são os constrangimentos? A
primeira parte da pergunta talvez seja a parte mais difícil de responder. É difícil
que seja superior a dez anos, mas também improvável que seja inferior a cinco ,
porque essa Europa, mesmo reduzida à condição de Europa dos doze, vai
demorar a ter unidade política. Terá unidade econômica e financeira, com forte
antecipação à unidade política. Enquanto não tiver unidade política, será um
débil protagonista internacional.
Se a Europa ceder à pressão de se alargar, incorporando países que estão saindo
da órbita soviética, demorará mais tempo a ter unidade política. E enquanto a
Europa não tiver unidade política, o multipolarismo, na verdade, não se fará
sentir. O grande instrumento do multipolarismo e da revalorização das Nações
Unidas será o equilíbrio da Europa com os Estados Unidos, ademais da preseça
de outros países. Até lá, abre-se um intervalo não inferior a cinco, mas possivel-
mente não maior que quinze anos, para dar uma estimativa apenas razoável.
4. Pax Americana
O que se pode perguntar com mais precisão é o seguinte: quais são os constran-
gimentos que impedem que a Pax Americana, que ora não tem fronteiras de
contenção suficientemente definidas, se converta numa hegemonia mundial,
numa espécie de império americano? Por que não é provável a existência, ainda
que por um prazo curto , de um império romano americano ?
A esse respeito podem-se detectar razões internas aos próprios Estados Unidos
e razões a eles externas. No tocante às razões internas, mencionaria, fundamen-
talmente, dois aspectos. Primeiro, o da debilidade econômica e, segundo, o da
existência de um setor importante da opinião pública que não está preparado para
o Brasil e o Sistema Internacional Contemporâneo 77
contribuir para que os Estados Unidos se convertam num sistema imperial; existe
o interesse de que os Estados Unidos sejam uma potência forte, bem defendida,
mas não uma potência imperial; há também o interesse de que os Estados Unidos
sejam um grande protagonista mundial, mas não o novo Império Romano .
Iniciando-se a análise pelo lado econômico, tem-se que o grande problema dos
Estados Unidos é o de o país ter-se convertido, a partir de um período relativa-
mente recente, no maior devedor do mundo . Os Estados Unidos passaram a ter
déficits acumulados e contínuos, no seu orçamento fiscal, da ordem de aproxi-
madamente 4 % a 5 % do PIB ; seus déficits nas balanças comercial e de pagamen-
tos são da mesma ordem. Para poder equilibrar esses déficits, sobretudo o fiscal,
o governo americano tem sido obrigado a tomar dinheiro emprestado junto aos
países de moeda forte, que compram bônus do Tesouro americano. Em última
análise, é fundamentalmnte o excedente financeiro do Japão que tapa o buraco
fiscal americano.
Essa condição de país cujas finanças dependem de recursos internacionais cria,
evidentemente, uma grande debilidade. Tal debilidade pôde se tornar patente, e
foi inclusive quantificada, na Guerra do Golfo. Os Estados Unidos fizeram, de
certa maneira, a Guerra do Golfo quase sozinhos, contando com a presença, mais
ornamental do que operacional, de outros países. Todavia, grande parte da conta
(40 bilhões de dólares) foi paga pelos alemães e pelos japoneses. Isto, evidente-
mente, é uma debilidade fatal. Um país não pode exercer o imperialismo finan-
ciado por terceiros.
Por outro lado, existe uma pressão interna americana antiimperialista - a opinião
pública liberal - sobretudo da Costa Ocidental. Os liberais, que felizmente têm
idéias diferentes a respeito do que convém aos Estados Unidos fazer e não fazer,
exercem, através de órgãos de uma enorme influência sobre a opinião pública,
como o New York Times, o Christian Monitor, o Washington Post, um papel
decisivo de contenção interna .
Por outro lado, além dessa dupla contenção - falta de recursos e pressão pública
ilustrada e antiimperialista - existe a pressão importante e crescente do resto do
mundo. A Europa, embora não tenha unidade operacional, tem alto poder de veto.
O veto europeu a certas medidas americanas tem grande peso, assim como o
japonês e o de países do Terceiro Mundo que estão começando a ter importância
crescente: Índia (sobretudo), China, Irã, que está ressurgindo, e eventualmente
o Brasil, na hora em que sairmos da presente crise. Tais países têm certa
capacidade de se somar a um concerto internacional para impor aos Estados
Unidos uma atitude de razoabilidade.
78 Hélio Jaguaribe
Levada por restrições internas, por crítica da sua própria opinião pública ilustrada
e por certa pressão internacional a se manter dentro de uma pauta de razoabilidade,
não é de se supor que aPaxAmericana se converta num Império Romano agressivo.
Não obstante, a capacidade de pressão dos Estados Unidos é grande, embora não
homogênea. É pequena na Europa e no Japão, mas muito grande na América Latina.
Estamos, precisamente nós, brasileiros, numa área do mundo onde a capacidade
de pressão dos Estados Unidos é menos controlada por fatores externos, menos
policiada internamente, e se exerce a custo barato, ademais de contar com a
cumplicidade gratuita de parcelas da nossa própria opinião pública.
Isto nos leva a passar para a última parte deste breve estudo, focalizando a
posição do Brasil no mundo, seus interesses internacionais e suas possibilidades
no cenário mundial.
1. Duas Facetas
o relacionamento de um país com o mundo - e o Brasil não é uma exceção -,
depende de uma conjugação de condições e fatores, externos e internos. Há
países que dispõem de contexto internacional desfavorável e, em vista disto, é
necessário que contem com forças internas extremamente enérgicas e coesas para
poder resistir. Este é, por exemplo, o caso de um país como Israel, cercado por
um mundo árabe hostil. Evidentemente, se aquele país não tivesse uma grande
determinação e um grande poder de imposição, desapareceria, devorado pela
massa hostil que o circunda. Este também é o caso tradicional da Polônia,
localizada entre a Rússia e a Prússia, vizinhos não extremamente confortáveis.
O Brasil tem um entorno internacional que não lhe é hostil, mas está enfrentando
um mundo que está se alterando de uma forma bastante rápida e de uma maneira
que não é tendencialmente favorável a nossos interesses, sobretudo no curto e
médio prazos. Essa confrontação ocorre num grau máximo de desorganização
interna, de falta de um projeto nacional. O Brasil está correndo o grave risco de,
pelo fato de não ter um projeto interno próprio, também não o ter externamente.
Isto no momento em que o mundo está em rearrumação e em que os retardatários
vão perder as melhores oportunidades.
De todas as coisas que estão acontecendo, talvez a mais relevante para o Brasil
seja a transferência nos países adiantados do patamar da mera industrialização
o Brasil e o Sistema Internacional Contemporâneo 79
2. Principais Demandas
Como é que um país como o nosso pode furar esse bloqueio de neocolonialismo
tecnológico? A coisa é complexa. Importa assinalar que, antes de se conseguir
dispor de certas políticas, a primeira condição fundamental é elevar significati-
vamente o patamar educacional do povo brasileiro. Não pode ter qualquer
80 Hélio Jaguaribe
3. Mercosul
Tudo isso, entretanto, só é viável se conseguirmos dar uma rápida solução aos
nossos problemas internos. O Brasil teve um crescimento espetacular no período
compreendido entre a década de 50 e a década de 70. Nesse período, que é um
período historicamente curto , transformamos um a sociedade agrária, primitiva,
sem nenhuma relevância na ordem das coisas, na oitava economia industrial do
Ocidente e na décima economia do mundo. É um desempenho espetacular.
Entretanto, ao alc ançar a década de 80 ficamo s paralisados e estamos hoje, em
termos de renda per capita , em piores condições do que estávamos há dez ao s
atrás. Atrasamos no momento em que o mundo se acelerou, perdendo, dessa
forma, um período extremamente precioso. Se perdermos novamente a década
de 90 , o nosso atraso com relação ao mundo começará a ficar extremamente
sério . A pressão para jogar o Brasil nas condições de um país afro-asiático, em vez
de conduzi-lo na direção de um país de Primeiro Mundo, se tornará muito grande.
E por quê? Porque, para qualquer observador razoavelmente atinado, é perfeitamen-
te discernível o fato de os nossos subsistemas terem sido levados a um ponto de
esgotamento tal que já começam a apresentar cl aros sinais de retrocesso.
É evidente, por outro lado, que nosso sistema social está à beira de uma explosão .
Deixamos que se formasse, no curso do tempo, uma extraordinária dicotomia.
Apesar de o Brasil ser um só país, uma só cultura, uma só nação, somos duas
sociedades. Uma minoria de brasileiros, algo como 40%, participa de uma
economia moderna, em condições semelhantes à da Europa do Sul. A grande
maioria, ao contrário, está vivendo em condições de uma sociedade primitiva.
Sem educação, sem acesso a ocupações modernas, ao deus-dará. Temos 20
o Brasil e o Sistema Internacional Contemporâneo 83
Referências Bibliográficas
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Relações Econômicas
Internacionais
I. INTRODUÇÃO
TABELA 1
POPULAÇÃO, PNB PER CAPITA E TAXA DE CRESCIMENTO DA
POPULAÇÃO POR GRUPOS, REGIÕES E PAÍSES - 1988 E 1989
Grupos, Regiões População PNB Per Capita Tx. Cresc. %
e Países (1000 Rab .) US$ 1,00 (1980-89)
l
Países de Renda Alta 816400 20000 2.4
Membros da OECD 776800 20600 2.5
Suíça 6690 32680 1.7
Japão 123503 25430 3 .5
Noruega 4242 23120 2.7
EUA 250942 21790 2.2
Suécia 8552 23660 1.8
Finlândia 4979 26040 3.1
R.F.Alemanha 77309 22320 2.2
Dinamarca 5139 22080 2.1
Canadá 26543 20470 2.4
França 56453 19490 1.7
Áustria 7643 17360 2.0
Países Baixos 14931 17320 1.4
Bélgica 10016 15540 1.2
Itália 57588 16830 2.2
Reino Unido 57483 16100 2.5
Austrália 17005 19060 1.7
Outros 39600 nd nd
Emirados Árabes Unidos 1592 19860 -7.2
Kuwait 2141 nd -2.2
Rong Kong 5779 11490 5.5
Cingapura 2722 11160 5.7
País em Desenvolvimento 2 4145800 860 1.5
Grupos de Renda
Países de Renda Média 3 1087500 2310 0.4
Países de Baixa Renda 4 3058300 350 4.0
Regiões
África Subsaárica 495200 340 -1.1
Ásia Oriental 1577200 340 6.3
Rep. Coréia 42789 5400 8.9
Malásia 17752 2320 2.5
Tailândia 55801 1420 5.6
Filipinas 61358 730 -1.5
Indonésia 181580 570 4.1
China 1133696 370 7.9
Ásia Meridional 1147700 330 nd
Paquistão 113687 380 2.9
Índia 849510 350 3.2
Europa, Oriente Médio
e Norte da África 456700 nd nd
Líbia 4546 nd -9.2
(continua)
Relações Econômicas Internacionais 89
TABELA 1 (continuação)
Grupos, Regiões População PNB Per Capita Tx . Cresc. %
e Países (1000 Rab.) US$ 1,00 (1980-89
TABELA 2
COMÉRCIO MUNDIAL POR GR UP OS, REGIÕES E PAÍSES - 1988 E 1989
Grupos, Regiões 1988 (US$ Milhões) Tx. Cresc. (1980-88)
e Países Exportação Importação Exportação Importação
1
Países de Renda Alta 2555661 2725419 4 .3 5 .3
Membros da OECD 2379089 2501753 4 .1 5.2
EUA 371466 515635 3.3 7.6
R .F .A lemanha 397912 341248 4.2 3.9
Japão 286768 231223 4.2 5 .6
França 209491 232525 3.4 3.2
Reino Unido 185891 224914 2 .7 4.9
Itália 168523 176153 3.5 4.2
Canadá 111364 115882 5.9 8.4
(continua)
90 Simão Davi Silber
TABELA 2 (continuação)
Grupos, Regiões 1988(US$ milhões) Tx. Cresc . (1980-88)
e Países Exportação Importação Exportação Importação
Países Baixos 131479 125909 4.4 3.5
Bélgica 118002 119725 4.7 3.1
Suíça 63699 69427 3.5 3.8
Espanha 55607 87487 7.4 9.0
Suécia 57326 54536 4.4 3.5
Áustria 41876 49960 6.2 5.2
Dinamarca 34801 31562 5.1 4.2
Austrália 35973 39740 3.9 4.7
Noruega 34072 26889 7.2 2.6
Finlândia 26718 27098 3.0 4.7
Outros 176573 223666 8.3 6.7
Hong Kong 29002 82495 6.2 11.0
Cingapura 52627 60647 8.6 6.7
Arábia Saudita 23138 20465 (16.3) (9.3)
Países em Desenvolvimento 2 632304 630028 4.1 1.4
Países de Renda Média 3 491128 485897 3.8 0.9
Países de Renda Baixa 4 141176 144431 5.4 2.8
Regiões
África Subsaárica 34056 32377 0.2 (4.3)
Ásia Oriental 217030 224021 9.8 8.0
Rep. Coréia 64837 69585 12.8 10.8
China 62091 53545 11.0 9.8
Malásia 29409 29251 10.3 5.6
Indonésia 25553 21837 2.8 1.4
Tailândia 23002 33129 13.2 10.2
Ásia Meridional 27699 35950 5.4 4.4
Índia 17967 22500 4.7 5.4
Paquistão 5590 7521 8.4 3.8
Europa, Oriente Médio
e Norte da África 206726 215335 n.d n.d.
Portugal 16416 25333 11.7 8.2
Turquia 12959 22300 9.1 7.0
Iugoslávia 14365 18911 0.1 0.6
Grécia 15000 19701 3.8 4.3
Argélia 15241 10433 5.3 (4,6)
Egito 4499 10771 6.2 1.5
América Latina e Caribe 123181 101119 3.0 (2.1)
Brasil 31243 22459 4.0 (0.3)
México 26714 28063 3.4 (1.1 )
Venezuela 17220 6364 1.8 (4.6)
Argentina 12353 4077 1.4 (8.4)
Chile 8579 7023 4.8 (0.6)
Colômbia 6766 5590 10.6 (2.3)
Peru 3277 3230 0.3 (4.0)
(continua)
Relações Econômicas Internacionais 91
TABELA 2 (continuação)
Grupos , Regiões 1988(US$ milhões) Tx. Cres c. (1980-88)
e Países Exportação Importação Exporta ção Importação
Notas : 1. Paíse s com PNB p er capita igu alou superior a US$6000 em 1988.
2. Países com PNB p er cap it a inferior a US$6000 em 1988.
3. PNB p er capita in ferior a US $6000 e superior a US$545 em 1988 .
4. PNB p er capita igu alou inferior a US$545 em 1988.
Fonte: 1988: Banco Mundi al - "Wo rld Development Report 1990; 1989: FMI, Int ernational Fi-
nancial Statistics, fev . 91.
sobre o comércio internacional. Ela representa uma reação da CEE à redução das
taxas de crescimento observadas a partir dos anos 70 e uma tentativa de dar uma
melhor base competitiva para as empresas européias em sua concorrência com
empresas americanas e japonesas. O nível de integração atual das economias
nacionais européias já é bastante elevado , como pode ser visto pelos dados da
T abela 3, variando de um nível de exportações, para a região, de 49 % para a
Dinamarca, até 74 %, para a Irlanda. Mesmo assim, esperam-se impactos
importantes das medidas que serão implantadas nessa nova fase de integração:
a taxa de crescimento deverá passar dos 1,8% a.a. observados nos anos 80
o
para 2,8 % em 1992 e tender para 4% a.a. no final dos anos 90 . A CEE estima
que os ganhos de renda real para o período 1992-97 será de US$ 250 bilhões,
com a criação de 2 milhões de novos empregos. O comércio regional deverá
crescer significativamente com a eliminação de controles nas fronteiras sobre
os movimentos de bens e serviços, a adoção de padrões industriais uniformes,
a harmonização das taxas do imposto sobre o valor adicionado, a liberalização
do movimento de capital e dos serviços financeiros e a abertura das concor-
rências públicas, em condições de igualdade, para as empresas da CEE. Todas
essas medidas representarão desvio de comércio, já que discriminarão os
países não-membros. Além disso, existem atualmente 700 restrições quanti-
tativas nacionais, e em complexo sistema, para definir índices de nacionali-
zação para o comércio inter-regional, que deverão ser harmonizados com a
criação de um mercado único. Com isso, espera-se um aumento da proteção
na Europa com o projeto 1992. Não é sem razão que os investimentos de
empresas americanas , japonesas, coreanas, canadenses etc. aumentaram sig-
nificativamente nos últimos dois anos, na Europa.
TABELA 3
COMÉRCIO INTERNACIONAL INTRACOMUNIDADE
ECONÔMICA EUROPÉIA _ 1987 J
TABELA 4
COMÉRCIO DO JAPÃO COM OS NICs ASIÁTICOS
(em bilhões de dólares)
o início de uma nova fase ocorreu em 1988, com a eliminação parcial dos regimes
especiais de importação e a redução da redundância tarifária, sendo completadas
em 1990 com a reforma da Lei de Tarifas, além da eliminação dos regimes
especiais de importação e a instituição de um regime cambial de mercado.
A mudança de composição do valor adicionado no setor industrial brasileiro,
decorrente das políticas de industrialização adotadas pelo país, reflete o
aumento da importância relativa dos setores de bens de capital e produtos
intermediários . Tomando-se o valor adicionado por empregado como uma
medida da relação capital (físico e humano)/trabalho, constata-se que o cresci-
mento industrial brasileiro foi mais intensivo em setores onde a relação capi-
tal/mão-de-obra é maior do que a média da indústria como um todo : de acordo
com o Censo Industrial de 1980, setores como os de Alimentação, Madeira e
Mobiliário , Têxteis e Vestuário tinham valor adicionado por empregado abaixo
da média da indústria; os setores de Química, Material de Transporte, Metalur-
gia, Mecânica e Material Elétrico possuíam valor adicionado por empregado
acima da média da indústria.
TABELAS
EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE MANUFATURADOS
(Em Milhões de US$)
TABELA 6
EXP ORTAÇÕES BRASILEIRAS DE MANUFATURAD OS,
1968,1974,1979, 1985
(Em Porcentagem do Total)
TABELA 7
ÍNDICE DE VANTAGENS COMPARATIVAS REVELADAS-
BRASIL - 1970 ,1974,1979 E 1985(*)
T axa de Setores Cr escimento Anu al 1970 1974 1979 1985 79/70 85/79
1. Alimentos, Bebida e Fumo 4 .38 3 .05 3 .33 3 .18 -3 .0 -0.1
2. Têxteis 0.87 2 .96 1.8 4 1.06 8 .7 -8. 8
3. Vestuário 1.03 4 .10 2.10 1.81 8 .2 -2.4
4. Madeira e Papel 2.54 1.29 1.57 0.95 -5.2 -8 .0
5. Borracha 0.70 0.41 1.04 1.53 4.9 6.6
6. Química 1.41 1.66 1.20 1.32 -1.7 1.6
7. Petróleo 0.22 0 .07 0.12 0 .51 -6.5 27.3
8. Minerais Não -M et áli cos 0.92 1.05 0 .98 0 .61 0.1 -7 .6
9. Metalurgia 1.17 0.65 1.22 2 .17 0.1 10 .1
10. M aterial de Transporte 0.16 0.62 0.94 0.61 21.7 -6.9
11. Maquin ari a e Outras M anufat. 0.45 0 .78 0 .85 0.62 7 .3 -5. 1
Not as : = exp ort ação br asil eira
* De fin ido como (X i, n/ Xn)/(Xi , w/ Xw ) onde Xi , n
da indústri a;
Xn = exportação tot al br asileira de manufaturados; Xi , w = exportação
mundi al da indústria;
Xw = exportação tot al mundi al de manufatur ados
Fonte: United Nations , International Trade Statistics, vários anos .
existem dúvidas de que uma série de atividades - que não têm condições em um
espaço de tempo de alguns anos de atingir níveis internacionais de competitivi-
dade - deverá desaparecer ou diminuir de importância.
Os benefícios de um programa de abertura da economia baseado no sistema de
preços e com regras estáveis e não-discriminatório de acesso aos agentes
econômicos são:
a) criar um ambiente competitivo que possibilite uma melhor alocação de
recursos entre setores, com um mínimo de distorções . Em uma economia
com níveis de proteção elevada, as empresas tendem a ser menos eficien-
tes, já que lhes é imposta uma série de restrições na alocação de fatores
de produção e na escolha da composição do produto final. A inexistência
da concorrência externa e as imperfeições do mercado de capitais domés-
tico possibilitam a manutenção de estruturas de mercado oligopolizadas,
com elevadas barreiras ao ingresso de novas firmas;
b) incentivar os aumentos de produtividade e possibilitar a especialização da
produção compatíveis com escalas mínimas ótimas;
c) acelerar o ritmo de criação, importação e difusão tecnológica, compatível
com a expansão da competitividade das empresas brasileiras, tão compro-
metida nos anos 80;
d) aumentar a taxa de crescimento do produto, quer através da diminuição da
restrição externa, quer pela ampliação do mercado interno e externo;
e) favorecer uma diminuição da concentração de renda, já que a estratégia de
maior abertura beneficia o fator abundante da economia (mão-de-obra, terra
e recursos naturais).
Com a entrada em vigor, em 15 de fevereiro de 1991, do cronograma de redução
gradual das alíquotas de importação, completou-se um conjunto de medidas iniciadas
em março de 1990 visando à liberalização do comércio exterior brasileiro.
As principais mudanças da política de importação ocorreram em março de 1990,
quando foram eliminados os regimes especiais de importação (à exceção do
drawback, acordos internacionais e Zona Franca de Manaus) e os controles
administrativos sobre as importações (restrições não -tarifárias). Além disso,
extinguiu-se a exigência de financiamento compulsório das importações e alte-
rou-se o regime cambial do país.
O objetivo básico dessas alterações foi o de eliminar os critérios altamente
discricionários, subjetivos e instáveis da política de importação e atribuir ao
sistema de preços, via tarifas de importação e taxa de câmbio , o controle das
Relações Econômicas Internacionais 107
1. Trata-se da rela ção de cerca de 2 mil it ens , cuja importação foi suspensa por determinação da CACEX.
108 Simão Davi Silber
TABELA 8
TARIFAS DE IMPORTAÇÃO (em %)
Como se pode observar, haverá uma significativa redução da tarifa nominal entre
1989 (ano imediatamente anterior à reforma) e 1994. A tarifa média será de
aproximadamente 1/3 da vigente em 1989, com diminuição semelhante em sua
dispersão, fazendo com que haja maior homogeneidade na estrutura tarifária .
TABELA 9
FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL FIXO (I) E SALDO DE
BALANÇO DE PAGAMENTOS EM CONTAS CORRENTES,
EXCLUSIVE JUROS (X), COMO % DO PNB - BRASIL
Além disso, tornou-se claro que a crise não era passageira e que as tendências
protecionistas nos países industrializados poderiam colocar restrições sérias à
expansão das exportações dos países endividados. Destaque-se, adicionalmente,
que não existia a possibilidade de retorno dos países endividados - a curto
prazo - ao mercado financeiro internacional privado.
Várias soluções têm sido propostas para o problema da dívida externa dos países
em desenvolvimento: capitalização de parcela dos juros devidos, conversão da
dívida em investimento, securitização, serviço da dívida como proporção da
receita de exportação, recompra da dívida com deságio, redução voluntária do
estoque da dívida etc. Deve-se destacar que os elementos mais importantes para
qualquer processo de renegociação da dívida estão fora do controle dos princi-
pais atores envolvidos, já que a taxa de juros depende da política macroeco-
nômica dos países industrializados e a taxa de expansão da receita de
exportações depende, basicamente, do crescimento da renda mundial. Caso
haja uma elevada probabilidade de um comportamento favorável dessas va-
riáveis no futuro (crescimento rápido e taxas de juros baixas), seria muito
mais simples a renegociação da dívida externa. Se isso não ocorrer, o proble-
114 Simão Davi Silber
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desenvolvim ento eco nô mico mundi al.)
A Política Externa Brasileira:
Da Marginalidade à
Responsabilidade (1930-1990)
I. INTRODUÇÃO
A política externa brasileira de 1822 a 1930 pode ser dividida em duas grandes
fases: do momento da independência até meados do século passado, caracteriza-
se por um relacionamento privilegiado com a Grã-Bretanha. A segunda fase, que
se estende ao longo de oitenta anos (de meados do século passado até a Revolu-
ção de 30), pode ser identificada pela progressiva americanização de nossa
política externa.
Para bem entender o processo de independência brasileira deve -se levar em consi-de-
ração os laços estreitos que a Grã-Bretanha possui com Portugal. O relacionamento
entre Lisboa e Londres é do tipo clássico. Os britânicos concedem sua proteção ao
pequeno Portugal, enquanto este, em troca, concede vantagens e privilégios que
ainda possui no início do século passado, sobretudo o seu monopólio no comércio
com o Brasil.
Se as relações com a Grã-Bretanha são fundamentais para Portugal , também o
são para Londres. Levando em conta o ano de 1820, verifica-se que as exporta-
ções britânicas para Portugal e para o Brasil se elevam a 4 milhões de libras/ano,
sendo, portanto , o comércio exclusivo da Grã-Bretanha com o Brasil equivalente
ao realizado com os Estados Unidos. Há uma corrente historio gráfica brasileira
(MANCHESTER , 1933; RODRIGUES, 1975; WERNECKSODRÉ, 1978, p.12),
A Política Externa Brasileira: da Marginalidade à Responsabilidade 119
Por parte do Brasil, a maior preocupação era fazer com que esse reconheci-
mento fosse o mais abrangente possível e que a declaração de jure fosse feita
nos termos da ocupação de fato do território nacional, implicando, evidente-
mente, que o Brasil teria, já no momento de sua independência, em torno de
8 milhões de km ' .
Para se ter uma idéia da importância da Europa aos olhos do Brasil nesse
período, consideremos o seguinte fato: se tomarmos as representações diplo-
máticas brasileiras existentes no exterior em 1833, chegaremos à conclusão
de que, das catorze representações que possuíamos, dez se encontravam na
Europa e somente quatro no continente americano. É evidente que, nessa
situação, a nossa representação diplomática em Londres era a mais importante.
o final da Segunda Guerra Mundial marca, sem dúvida alguma, uma ruptura com
o mundo internacional anterior. Pela primeira vez, estamos diante de um pro-
cesso de universalização dos contatos internacionais, uma interpenetração dos
fenômenos políticos, e se sente que as questões envolvendo a manutenção da paz
e da segurança internacional, bem como a busca do desenvolvimento, são ques-
tões que implicam o gerenciamento global do planeta.
Sobre as ruínas da Segunda Guerra Mundial, os vencedores desenham em Yalta
um novo cenário internacional, onde seus interesses estão divididos claramente
entre os Aliados ocidentais e os Aliados de Moscou.
Podemos distinguir duas formas de encarar a rivalidade que se desenha entre
capitalismo e socialismo. Por um lado, as zonas de claro domínio de um e de
outro e, por outro lado, as zonas cinzentas onde podem surgir oposições e
rivalidades que poderiam desembocar em conflitos localizados.
Cientes de que uma das razões que originou a crise dos anos 30 e a Segunda
Guerra Mundial era a falta de uma organização econômico-comercial em nível
internacional , ou seja, uma clara ordem econômica mundial, os EUA e seus
aliados vão desenhar essa nova ordem, criando uma série de instituições de
caráter econômico transnacionais, por exemplo, através do acordo Bretton Woods
de 1944, que criou o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial e, três
anos depois, o Acordo Geral das Tarifas e do Comércio, o GATT. É evidente que
essa organização econômica internacional se faz paralelamente à moldagem de
instituições de caráter político-estratégico, sendo a maior delas a que nasce,
128 Ricardo Antonio Silva Seitenfus
do grande embate ideológico que se trava nesse momento , seja engolfada nesse
cenário. Os conflitos, por exemplo, da Guatemala em 54, de Cuba em 61 e da
República Dominicana em 65 demonstram que o pós-guerra conduz a uma
profunda integração latino-americana dentro do sistema internacional e a uma
responsabilidade, que os Estados Unidos chamam para si , de participar do
encaminhamento das questões maiores da política latino-americana.
Nesse cenário internacional, que pode ser representado bem mais pela imagem
da bigorna e do martelo do que pela imagem de um corredor, mesmo estreito, é
que se vai desenvolver a atividade diplomática brasileira, com parâmetros esta-
belecidos de forma muito clara pelos dois grandes blocos.
Logo se torna claro que o Brasil, pertencendo ao sistema interamericano, vai
sofrer uma influência marcante por parte dos Estados Unidos, responsáveis então
por 50% da produção mundial e que saem da Segunda Guerra Mundial autocon-
fiantes e extremamente poderosos dentro do sistema.
Esse período contrasta fortemente, do ponto de vista brasileiro , com o período
dos anos 30, quando em razão da situação internacional o poder de barganha
brasileiro era bastante claro. Agora, contrariamente àquele momento, as limita-
ções são muito definidas, restando somente ao Brasil buscar o entendimento mais
proveitoso possível junto aos EUA e tentar convencê-lo da necessidade de dar
também à América Latina uma atenção especial, como a que foi dada, no final
da década de 40, à Europa devastada pela guerra e cuja reconstrução era feita
através do Plano Marshall.
A mobilização unilateral da diplomacia brasileira em direção aos EUA tem
conseqüências políticas importantes, e não é de surpreender que o Brasil seja
escolhido como o país-sede da Conferência de 1947, onde se assina o Tratado
do Rio, ou tratado interamericano de assistência recíproca, que define as regras
da segurança coletiva continental. Finalmente, nesse tratado os EUA conseguem
o que não haviam conseguido até então, ou seja, formalizar a idéia de que a
segurança de um é a segurança de todos no Novo Mundo.
É nesse ambiente de aproximação com os EUA que se desenvolve, também, um
conseqüente afastamento de uma atitude internacional multifacetada, que havia sido
representada pelo reatamento das relações diplomáticas com a União Soviética em
45 , pois em 1947 o Brasil rompe seus laços diplomáticos com esta e internamente
decreta ilegalidade do Partido Comunista e cassa o mandato de seus parlamentares.
Por outro lado, surge uma ideologia muito clara nos militares brasileiros treina-
dos pelos EUA, que vêem o mundo e o sistema internacional de forma exclusi-
130 Ricardo Antonio Silva Seitenfus
Quanto ao neutralismo, Castelo Branco o repudiava e dizia não caber uma atitude
neutra para o Brasil, pois é uma passividade desaconselhável para um país de
futuro, além de significar indeterminação da política interna e de sistemas
econômicos e uma fuga da realidade internacional, por medo dos perigos nela
implícitos. Pode parecer irônico, mas é a partir de 64 que o Brasil expande suas
relações comerciais com os países socialistas. As relações com esses países eram
explicadas por Castelo Branco da seguinte maneira:
No caso brasileiro, a política externa não pode esquecer que fizemos uma opção básica, da
qual decorre uma fidelidade cultural e política ao sistema democrático ocidental. Essa
independência se manifestará estritamente em termos de interesse nacional, com perspec-
tiva de aproximação comercial, técnica e financeira com países socialistas, desde que estes
não tentem invalidar nossa opção básica. A política exterior é independente, no sentido de
que assim deve ser, por força, a política de um país soberano.
povo chinês, que contava com 800 milhões de pessoas sob o governo comunista
de Mao Tsé-Tung. A situação kafkiana do não-reconhecimento da China comu-
nista é resolvida em razão da insistência de Geisel, que vence o voto negativo
do alto comando militar, e o Itamaraty começa a negociar o restabelecimento das
relações diplomáticas, que é feito ainda no ano de 1974.
Nos anos de 1974 e 1975, o Brasil teve dois votos que causaram polêmica. O
primeiro foi na OEA, quando foi votada a suspensão das sanções econômicas a
Cuba e o Brasil se absteve. Essas sanções econômicas significavam um verda-
deiro bloqueio econômico ao governo de Fidel Castro. Nessa época, as relações
com Cuba haviam evoluído, os EUA preocupavam-se em melhorar suas relações
com a ilha, e a Venezuela, que havia liderado a votação contra Cuba, estava a
favor da suspensão das sanções. Assim, o Itamaraty propôs que o Brasil votasse
favoravelmente a Cuba. O assunto é levado à Secretaria Geral do Conselho de
Segurança e lá o voto foi modificado porque a maioria dos militares era contrária
a qualquer medida simpática a Cuba.
O outro voto polêmico é expresso no âmbito da ONU, quando o Brasil compara
o sionismo a uma forma de racismo. A questão em debate trata da condenação
do racismo em todas as suas formas, e o sionismo estaria aí incluído . A princípio
nada havia a discutir, pois o Brasil é anti-racista. Mas foi um erro ter considerado
o sionismo como uma forma de racismo, pois o sionismo era o movimento
nacionalista judaico, e considerá-lo racista implicava considerar outros movi-
mentos nacionalistas também racistas. Esse voto repercutiu negativamente, tanto
interna quanto externamente, com exceção, evidentemente, do mundo árabe.
Em 1977, o governo Geisel rompe o acordo militar que une o Brasil aos EUA desde
1952. Segundo a legislação americana, para que o Brasil fosse incluído no Plano de
Assistência Militar dos EUA era preciso entregar ao Congresso americano um
relatório sobre a questão dos direitos humanos no Brasil. O Itamaraty repudia, de
imediato, o relatório, considerando estarem os EUA se intrometendo em assuntos
internos do Brasil. O governo militar é unânime nesse parecer.
Em função dessa situação, o governo brasileiro denuncia o acordo militar,
cortando assim os laços militares de caráter bilateral. O Brasil continuava,
entretanto, a participar, juntamente com os EUA, dos instrumentos multilaterais
de defesa do continente.
A Política Externa Brasileira: da Marginalidade à Responsabilidade 139
o amplo leque de setores nacionais envolvidos nos acordos impede uma análise
detalhada de cada um dos protocolos, mesmo porque um certo número de
decisões conveniadas não receberam, todavia, um tratamento operacional, per-
manecendo ainda no campo dos projetos. Entretanto, alguns protocolos já imple-
mentados e operacionais merecem algumas observações. Em primeiro lugar,
devemos salientar que praticamente a metade dos acordos (12) são exclusiva-
mente econômicos. Entre estes, os comerciais ocupam um lugar destacado.
Produtos tradicionais da pauta de exportações argentinas para o Brasil, no setor
alimentício, merecem destaque nos protocolos. O trigo, inclusive, é objeto de um
protocolo específico em que o Brasil se compromete a adquirir e a Argentina a
vender quantidades importantes visando ao desvio do comércio brasileiro deste
produto . Os protocolos 3 e 22 estabelecem, igualmente, uma ampla pauta de
produtos alimentícios - industrializados ou não - que poderão circular sem
gravames alfandegários entre os dois países. No entanto, para os produtos mais
perecíveis, tais como o vinho e derivados lácteos e frutas de clima temperado,
foram introduzidas cotas anuais a fim de não prejudicar a produção nacional.
D esaf ios
Constitui lugar-comum afirmar que todo processo de integração exige uma férrea
vontade política, pois os problemas técnicos a serem solucionados são numero-
sos e difíceis.
Um dos desafios mais importantes do processo de cooperação argentino -brasi-
leiro é fazer com que ele passe das preocupações de governo e se transforme em
um objetivo nacional permanente. Para tanto, várias iniciativas deveriam ser
tomadas, como, por exemplo, a introdução, nos currículos escolares da cadeira
de história e civilização latino-americana, de programas educativos de televisão
e a constituição de uma agência de notícias regional etc.
O processo de negociação deveria ser o mais aberto possível, convocando-se a
iniciativa privada e os trabalhadores, através de seus sindicatos representativos,
para formarem um Conselho de D esenvolvimento do Cone Sul.
As maiores dificuldades de todo processo integracionista encontram-se junto aos
setores mais atrasados da economia . Brasil e Argentina, com políticas protecio-
nistas, têm preservado certas atividades que apresentam baixa produtividade e
escassa capacidade de competição. Este é um dos resultados perversos da política
de substituição de importações nos momentos em que a soberania nacional era
diretamente proporcional à capacidade de auto -suficiência.
A abertura de fronteiras trará sérios problemas para os diversos setores indus-
triais. Essa questão deve ser contornada com um calendário de liberalização do
comércio, que deve ser previamente estabelecido, inclusive com a participação
144 Ricardo Antonio Silva Seitenfus
entre Brasil e Argentina, criando, dessa forma, o Mercosul. Paraguai e Uruguai terão
ainda um ano de carência para se associarem, de forma plena, ao Mercosul.
Caso se mantenha esse cronograma, será criado, pela primeira vez na América
Latina, um verdadeiro espaço econômico unificado, abrindo perspectivas de desen-
volvimento conjunto e de atuação coordenada na defesa dos interesses regionais no
sistema internacional.
Entre os importantes desafios que o Brasil encontra pela frente neste final de século
está, sem sombra de dúvida, o equacionamento da dívida externa. Desde o início
desta grave crise (início da dédaca de 80) muito se tem tentado, tanto individual-
mente quanto em fóruns multilaterais, para o encaminhamento da solução dessa
grave questão conjuntural.
As tentativas na busca do equacionamento dessa questão desembocam na mora-
A Política Externa Brasileira: da Marginalidade à Responsabilidade 145
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Perspectivas da Cooperação
Internacional
1. Antecedentes Filosóficos
A cooperação internacional é uma idéia fugidia, que tem perseguido a humanidade -
ou, melhor dizendo, que a humanidade tem perseguido (na teoria, se não na
prática) - desde, pelo menos, que os gregos iniciaram uma reflexão consistente
150 Celso Luiz Nunes Amorim
1. A primeira afirmação está no próprio Livro I; a outra , por assim dizer, espalhada por toda a obra .
2. v. Guicciardini, Storia d'Ita/ia, apud F. Park:inson, The Phi /osophy of!nternationa/ Relations.
Perspectivas da Cooperação Internacional 151
Esta, quando existiu, sempre esteve muito mais voltada para questões como a
manutenção da Ordem e da Paz, que, se bem importantes, não esgotavam a
agenda de prioridades dos países mais pobres. Nos anos que se seguiram à
Guerra, o acelerado processo de descolonização dos países afro -asiáticos, a
renovada consciência da América Latina quanto a seu atraso estrutural e o
deslocamento dos focos de tensão mundial do centro desenvolvido para a peri-
feria pobre, com crises como as da Indochina, Argélia, Cuba e Congo, trouxeram
a questão do desenvolvimento para o palco dos debates. Essa evolução culminou
na frase célebre do papa Paulo VI, que, na encíclica Populorum Progressio,
pontificou que " o desenvolvimento é o novo nome da Paz". Já antes, e em grande
parte devido à posição de vanguarda de economistas como Raul Prebisch,
durante anos secretário-executivo da Comissão Econômica para a América La-
tina, a ONU resolvera colocar em sua agenda o tema do desenvolvimento,
vinculando-o ao do comércio, e o fez convocando a Conferência das Nações
Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, mais conhecida por sua sigla em
inglês, a UNCTAD.
Não é este o lugar para se fazer um inventário dos êxitos (poucos) e dos insucessos
(bem mais numerosos) da UNCTAD, bastando assinalar que os planos que pudes-
sem ser o embrião de uma Organização Internacional de Comércio e Desenvolvi-
mento, com capacidade verdadeiramente operativa, não chegaram a alçar vôo. A
despeito de algumas concessões ocasionais dos países centrais, como a criação de
um Sistema Geral de Preferências, sujeito, assim mesmo, a inúmeras restrições, a
verdade é que um balanço das últimas décadas (uma delas explicitamente denomi-
nada pela ONU como " década do desenvolvimento") nos mostra um quadro deso-
lador. Tomando a América Latina como referência - o que já é um a distorção "para
cima" do panorama geral, que inclui situações muito mais dramáticas, como as de
certos países africanos e asiáticos - , verificamos que todos os indicadores, como
renda per capita , produto bruto e participação no comércio internacional apontam
no sentido do agravamento de sua posição relativa em face dos países industriali-
zados. A epítome dessa situação de desalento se expressa, sobretudo, na trágica
questão da dívida externa, que hoje sufoca grande número desses países, atuando
como um torniquete a comprimir a já debilitada capacidade que têm de poupar e
investir.
Esse é o quadro geral com o qual nos deparamos ao passar em revista o mundo
contemporâneo, fixando-nos na problemática do desenvolvimento. Por trás des-
ses desequilíbrios, cuja persistência e agravamento são motivos de preocupação
crescente para todos os homens de sensibilidade, onde quer que tenham nascido,
154 Celso Luiz Nunes Amorim
o que quero dizer com isso é que o desenvolvimento de uma capacidade tecno-
lógica endógena, hoje mais do que nunca essencial, em face de tudo o que já foi
dito e escrito sobre a tendência à substituição de mão-de-obra barata e matérias-
primas por processos e produtos decorrentes de pesquisas avançadas (robotiza-
ção, novos materiais etc.), tem que repousar, basicamente, sobre o esforço
interno, o que não exclui, como se verá, ações cooperativas adequadamente
orientadas.
Nem creio que sejam necessanas análises econômicas muito profundas para
demonstrar a possibilidade desse desenvolvimento, pois os exemplos da Coréia
e do Japão estão aí para ilustrá-la. É importante notar que, em ambos os casos,
a presença do Estado na atividade econômica, sobretudo como agente regulador
do mercado, foi fundamental para o êxito das respectivas indústrias de ponta. Há
inúmeros estudos que detalham os procedimentos governamentais em ambos os
países, para garantir uma presença hegemônica de grupos empresariais nacionais
nos setores de tecnologia avançada. O campo da informática, e mais generica-
mente a eletrônica, no Japão, fornece o melhor exemplo dessa política. Parece
nítido que o êxito desse país, neste como em outros campos, deve-se a uma feliz
combinação de intervenção estatal, práticas protecionistas e incentivos ao desen-
volvimento tecnológico, com o amplo uso do poder de compra do Estado". Nesse
3. Rushing e Brown, 1986. Ver especialmente o artigo de Michael Borrus e John Zysnan sobre o Japão .
158 Celso Luiz Nunes Amorim
N este ponto , vale a pena dizer algo sobre como a cooperação internacional pode
tornar-se elemento importante de uma estratégia de desenvolvimento tecnológi-
co autônomo. Não há nisso nenhuma contradição, já que autonomia significa
controle sobre as decisões que dizem respeito à manutenção e desenvolvimento
de um sistema, e não o seu fechamento para o exterior. Autonomia é, portanto,
distinta de autarquia. Já em outras oportunidades tenho procurado mostrar como
os vultosos investimentos requeridos pelo progresso tecnológico levaram, por
exemplo, os países europeus a buscar concertar seus esforços, através de progra-
mas como o Eureka, o Espirit, o Race etc. (sem falar em experiências mais
antigas, como o EURATOM e o CERN). Esses investimentos têm que ser
medidos não apenas em função do ato físico de instalação de uma nova planta,
mas como o somatório dos recursos investidos ao longo do tempo na formação
de pessoal altamente qualificado. Somente assim se terá uma idéia real da
dimensão do esforço exigido em certos setores e da importância da divisão
compartida de custos. Por outro lado, no que tange à produção tecnológica, são
óbvias as vantagens de se dispor de mercados ampliados para a colocação dos
produtos resultantes das pesquisas, em setores como software , eletrônica, bio-
tecnologia etc. Os acordos Brasil-Argentina, sobretudo nas áreas de biotecnolo-
gia e informática, são exemplos de uma cooperação internacional baseada em
interesses mútuos e, espera-se, numa sólida vontade política, que servirão de
teste para a viabilidade de uma cooperação mais ampla em nívellatino-america-
Perspectivas da Cooperação Internacional 161
no, voltada para resultados concretos e não para desgastadas fórmulas retóricas.
Exemplo similar de iniciativa conjunta de países em desenvolvimento é o acordo
de cooperação espacial com a República Popular da China, com vistas ao
lançamento de satélites sino-brasileiros de sensoriamento remoto. Embora essa
não seja uma forma científica de aferir sua importância intrínseca, seu impacto,
em termos políticos e econômicos, pode ser avaliado pelo destaque com que a
imprensa internacional tratou a assinatura do referido convênio". Depois de mais
de uma década em que os organismos internacionais se desdobraram para realçar
as vantagens da cooperação Sul-Sul, em geral restrita a projetos de reduzido
significado tecnológico, o Programa Sino-Brasileiro veio dar substância real e
dimensão considerável a esse tipo de relacionamento. A cooperação entre países em
desenvolvimento, quando efetivamente baseada em complementaridade de recursos
e objetivos similares, surge, assim, como um elemento importante da própria
política nacional de desenvolvimento científico e tecnológico, já que inexistem
aqui os fatores de desconfiança e os riscos políticos das iniciativas marcadas pelo
desequilíbrio entre os parceiros.
Tudo o que foi dito até aqui pareceria indicar que não haveria lugar para a
cooperação científica e tecnológica entre nações de níveis distintos de desenvolvi-
mento, o que não corresponde, obviamente, à verdade. Em primeiro lugar, no que
tange especificamente à cooperação científica, todos sabemos que a comunidade de
pesquisadores se caracteriza por uma grande permeabilidade. Congressos e confe-
rências internacionais, bem como programas bilaterais de cooperação, são modos
pelos quais a informação e o conhecimento são disseminados, com evidentes
benefícios para os que deles participam. É, aliás, digna de nota - e motivo de
apreensão - uma tendência no sentido de limitar a participação em certos eventos
nacionais a um número restrito de países ou até um único país".
4. Entre outros , o jornal H erald Tribune, do dia seguinte ao da assinatura do acordo , publi cou , com rel evo, a
notícia .
5. Ver a propósito o comentário " Scienti fic Secrets", revista Economist, 28 .11.1987.
162 Celso Luiz Nunes Amorim
esforço interno. Só coopera com outros países quem já dispõe de certa base
científica e tecnológica própria. Apelar para a cooperação como fonte exclu-
siva ou principal de desenvolvimento é condenar-se à dependência e à
submissão;
a cooperação só será verdadeiramente frutífera quando houver complementari-
dade real de interesses. Naturalmente, tal complementação será encontrada com
maior facilidade, como foi indicado, entre nações de nível de desenvolvimento
similar, mas ela pode estar presente também em outros tipos de relacionamentos
menos "simétricos". Certos programas, como o de informática com a RFA e
outros ainda em gestação com nações como a França, aproximam-se bastante
desse padrão;
a ampliação das ações cooperativas do terreno científico para o tecnológico,
além das complexidades já mencionadas, envolve adaptações e ajustes no
aparelho institucional que não estão totalmente resolvidos;
vale insistir que a cooperação em C&T não pode estar isolada do conjunto
do relacionamento internacional do país. As relações com o Leste europeu,
por exemplo, que, durante muito tempo, estiveram reprimidas por motivos
político-ideológicos, encontram ainda um obstáculo difícil de transpor no
desequilíbrio comercial que freqüentemente dificulta a exportação de novos
serviços e produtos brasileiros de maior densidade tecnológica.
O grande desafio que se apresenta ao Brasil e aos países em desenvolvimento é,
justamente, o de combinar esforços em diferentes direções, buscando aumentar
sua capacidade própria de absorção e geração de tecnologia -para o que, medidas
especiais de proteção à sua indústria continuam a ser indispensáveis - sem perder
de vista as oportunidades efetivas de cooperação com outros países. Mas, para
isso, o primeiro passo é conseguirmos nos desfazer das ilusões que alguns
conceitos, à força de serem repetidos, sub-repticiamente se insinuam em nossas
mentes. Para termos uma efetiva compreensão da realidade, ensinava Bacon, é
mister despirmo-nos dos ídolos que povoam nossa consciência. A cooperação
internacional, vista sem um adequado distanciamento crítico, pode muito bem
constituir-se num desses " ídolos".
Perspectivas da Cooperação Internacional 163
Referências Bibliográficas
Cuido F. S. Soares
I. INTRODUÇÃO
evidente constatação reside no fato de a própria Liga das Nações não ter previsto
mecanismo da construção da paz, mas tão-somente órgãos de prevenção da
guerra: uma Assembléia Geral, um Conselho Permanente e um Secretariado
Geral. Já a ONU, ao lado desses três órgãos (o Conselho Permanente foi rebati-
zado de Conselho de Segurança), prevê um Conselho de Tutela (dedicado às
tarefas de descolonização) e o importante Conselho Econômico e Social (ECO-
SOC) . Igualmente digno de nota é a Carta da ONU estabelecer como princípios,
no seu Preâmbulo , "promover o progresso social e melhores condições de vida
dentro de uma liberdade mais ampla " e colocar como fim "empregar um meca-
nismo internacional para promover o progresso econômico e social de todos os
povos... " Na verdade, o art. 1º da Carta da ONU estabelece os propósitos dessa
organização: manter a paz e a segurança internacionais (§ 1Q), desenvolver
relações amistosas entre as nações (§ 2 portanto, atribuições tradicionais do
Q
) ,
um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos
comuns .
Artigo 55
Artigo 56
Para a realização dos propósitos enumerados no art. 55, todos os Membros da Organi-
zação se comprometem a agir em cooperação com esta, em conjunto ou separadamente.
Assistência Técnica - Expressão empregada para designar a ajuda fornecida, sob a égide
da ONU, pelos Estados com estrutura econômica adiantada aos países insuficientemente
desenvolvidos, a fim de colocar à disposição destes os meios técnicos que lhes fazem
falta para promover suas economias .. . " A assistência técnica ... consiste em uma ajuda
muito variada e em princípio gratuita, repartida pelos mecanismos internacionais em
proveito dos Estados subdesenvolvidos" (Reuter, Institutions Internationales, p.100).
na época em que apareceu ... correspondia à noção que os países ocidentais tinham para
si do subdesenvolvimento e dos meios de remediá-lo. Para tais países, com efeito, e
notadamente para os países anglo-saxões, o subdesenvolvimento se analisava como um
atraso que se poderia remediar por uma assistência técnica e financeira. Ora, ficou
evidenciado que tal concepção conduzia, na maioria dos casos, à perpetuação da
dependência e ao "desenvolvimento do subdesenvolvimento" (FEUER e CASSAN,
1985, p. 297).
seus próprios meios, bem assim no que respeita à determinação dos setores
prioritários para os quais a assistência do PNUD é necessária;
b) priorizar as necessidades dos países menos adiantados, concedendo-lhes um
CIP superior às normas vigentes; na verdade, em 1980, dentro da tal linha, o
Conselho de Administração decidiria que 80% dos CIPs seriam alocados aos
países cujo PNB por habitante não ultrapasse 500 dólares;
c) a cooperação técnica deveria ser encarada mais pelo ângulo dos resultados e
menos pelo das contribuições, devendo o PNUD diversificar suas fontes de
financiamentos;
d) o PNUD deveria fornecer os equipamentos e os recursos materiais e adotar
uma política mais flexível quanto ao financiamentos de despesas locais e no
que concerne ao pessoal da contrapartida;
e) deveria o PNUD aumentar sua contribuição nos programas que envolvessem
relações SUL-SUL (ou seja, programas de cooperação técnica entre países
em via de desenvolvimento), dando preferência nas compras e nos fornece-
dores dos PVD e do Estado beneficiado;
f) a cooperação técnica deveria estender-se a todas as etapas e estágios de
desenvolvimento de programas e projetos, inclusive na sua planificação,
estudos de pré-viabilidade, estudos técnicos detalhados e, se for o caso, na
construção, início e gestão inicial dos projetos;
g) enfim, o PNUD deveria colaborar mais estreitamente com outras instituições
financeiras internacionais (leia-se: FMI e BIRD e seu grupo) e privadas, a fim de
financiarem-se projetos e programas sob sua responsabilidade, levando em conta
que existe uma estreita relação entre a cooperação técnica e a formação do capital.
No que respeita à atuação da ONUDI, é necessário dizer que a constituição desse
organismo especializado da ONU, em Viena, em abril de 1979 (instalação
definitiva em agosto de 1985, após haver seu ato constitutivo atingido 80
ratificações dos Estados), tem sido um dos campos de maior oposição entre os
Estados industrializados e os PVD; na verdade, a questão da industrialização dos
PVD, que são países exportadores de produtos de base e essencialmente agríco-
las, suscita difíceis questões de uma redefinição da divisão internacional do
trabalho, o que coloca em discussão as próprias economias dos países industria-
lizados. Por outro lado, as reivindicações dos PVD somente começaram a ser
efetivadas a partir de 1964, quando houve a discussão global no seio da I UNCTAD
e os posteriores posicionamentos em favor da instauração de uma nova ordem
econômica internacional. A discussão do papel da ONUDI faz sentido no pre-
178 Guido F. S. Soares
a melhor maneira para os PVDs juntarem seus esforços e suas experiências com vistas a
aumentar e melhorar a assistência técnica ao desenvolvimento" e a examinar " as possibi-
lidades e as vantagens relativas da cooperação técnica regional e internacional entre países
em via de desenvolvimento";
mesmo que a cooperação técnica entre os PVDs não era nem um fim em si,
nem um substitutivo da cooperação técnica com os países industrializados.
Os principais objetivos da cooperação técnica entre os PVDs, conforme o Plano
de Ação de Buenos Aires, são, esquematicamente, os seguintes:
a) promover e reforçar a autonomia coletiva dos PVDs, graças a um intercâmbio
de experiências, à colocação em comum e à partilha dos respectivos recursos
técnicos, bem como ao desenvolvimento de suas capacidades complementares;
b) dar aos PVDs mais aptos a possibilidade de identificar e analisar os proble-
mas e as estratégias na conduta das relações recíprocas;
c) melhorar a cooperação técnica no seu conjunto;
d) reforçar as capacidades técnicas existentes nos PVDs;
e) reforçar e melhorar as comunicações entre os PVDs no campo dos conheci-
mentos técnicos;
f) torná-los mais aptos a absorver e a adaptar-se às técnicas adequadas para
enfrentar suas necessidades particulares em matéria de desenvolvimento.
As 38 recomendações do Plano de Ação de Buenos Aires referem-se a medidas
práticas no sentido de tornar factíveis tais. políticas, em nível local dos Estados,
em nível regional e em nível mundial, sendo que neste último aspecto preconiza
o fortalecimento do PNUD, com a idéia de impregná-lo da ideologia da necessi-
dade de cooperação técnica entre os países .em via de desenvolvimento. Dentro
de tais linhas de ação, a Assembléia Geral da ONU criou, em 1979, um comitê
de alto nível dentro do PNUD especialmente dedicado às questões da cooperação
técnica entre os PVDs, que tem apresentado notáveis resultados a partir de 1980,
data de sua instalação.
Finalmente, no que respeita à assistência técnica internacional bilateral, o melhor
estudo parece ser o do caso brasileiro. Importa notar, imediatamente, que o Brasil
é ao mesmo tempo um país beneficiário da assistência técnica (veja-se, a título
de exemplo, os inúmeros tratados bilaterais com os países como a Alemanha,
ex-República Federal, em particular o Projeto "Centro de Tecnologia da Solda",
demandado pelo SENAI) e país remetente (Projeto " Implantação de Centro de
Artes Gráficas em Luanda", demandado pelo governo da República Popular de
Angola). Dado o fato de que tais aspectos da assistência técnica serão mias bem
tratados em outras oportunidades por especialistas da própria ABC (Agência
Brasileira de Cooperação), deixaremos de enfocar o assunto.
A Cooperação Técnica Internacional 181
1. Vale a pena traçar um paral elo entre o sistema denominado " unionista" da propriedade industrial internacional
e o sistema do GATI, este, mais bem temperado. A introdução da Parte IV no Acordo do GATI e os resul tado s
outros das Rodadas Tóquio, como a "cl áusula de habilitação", foram resultados das reivindicações
semelhantes àqu elas que se postulam para as questões relacionadas com a propriedade int electual.
186 Guido F. S. Soares
até mesmo limitados a um teto. Isto posto, os riscos técnicos podem ser assumi-
dos pelo construtor das instalações transferidas, ao mesmo tempo que se permite
organizar uma partilha do risco financeiro entre ambos os parceiros, partilha essa
que pode facilitar a emergência de uma verdadeira cooperação técnica interna-
cional, em conformidade com o interesse de ambas as partes e as exigências do
desenvolvimento, na arguta observação dos Profs. Feuer e Cassan (1985, p. 364).
Para demonstrar um tipo de contrato com tais modalidades de pagamentos,
cite-se o caso de indústria petroleira mundial: um " agente operador" é contratado
por empresa ou órgão de governo para conduzir operações de um campo petro-
lífero ou de suas instalações de processamento de petróleo cru; sua remuneração é
feita em bases cost+ ou cost fee, sendo que muitas vezes os termos " +" e fee são
tratados como overheads do operador, o qual executa seus serviços dentro do
princípio: no profit no loss (p.ex.: contratos tipo production sharing agreements-
PSA, como na Argélia, Líbia, Egito etc.)
No que diz respeito à elaboração de um direito novo no capítulo da transferência
internacional de tecnologia, há três fatos relevantes a serem citados: a emergência
de legislações nacionais (casos do Brasil, México, Índia, Coréia) e a emergência de
legislações internacionais em organizações de integração econômica regional
(como tem sido o caso do Pacto Andino, onde se destaca a Decisão n Q 24) e, enfim,
as tentativas de uma regulamentação em nível mundial dos movimentos internacio-
nais de transferência de tecnologia, conforme os atuais esforços da UNCTAD para
a elaboração de um Código de Conduta para a Transferência de Tecnologia. Nos
dois primeiros casos de adoção de um direito novo, as legislações domésticas dos
Estados, e no Grupo Andino, são duas as preocupações: a) determinar que os
contratos relacionados com a transferência internacional de tecnologia visem aos
interesses nacionais dos Estados e, portanto, sejam regidos por normas de ordem
pública (isto é, por dispositivos legais que sejam rigidamente estabelecidos em leis
e com grande cerceamento da liberdade dos contratantes), e b) dar às empresas
locais, recebedoras da tecnologia estrangeira, o apoio jurídico do Estado nas
negociações que realizem com empresas estrangeiras ou grupos transnacionais.
Deve dizer-se que há um frágil equilíbrio entre duas políticas aparentemente
contraditórias: incentivar a entrada de capitais e tecnologia estrangeira ao mesmo
tempo que se pretende uma proteção às empresas nacionais através de incentivos e
formas de intervencionismo que podem ser a negação de um mercado desregulado.
No caso do direito brasileiro, cuja análise extrapola os objetivos do presente
trabalho, a regulamentação da transferência internacional de tecnologia pode ser
compendiada nos seguintes diplomas legislativos:
192 Guido F. S . Soares
dá outras providências.
É importante ressaltar a atividade legislativa do Instituto Nacional da Proprie-
dade Industrial (INPI) , cujos Atos Normativos passaram a constituir autêntica
legislação, que mais apropriada estaria às atividades normais do Poder Legisla-
tivo . Na verdade, o sistema legislativo conferiu autêntica delegação legislativa
a esse órgão do segundo escalão da administração federal, que passou a legislar
sobre a matéria; isto posto, para qualquer entendimento da legislação brasileira,
é necessário um estudo de suas deliberações, denominadas Atos Normativos. Até
data recente, era vigente o famoso Ato Normativo n 15 de 11 de agosto de 1975,
Q
que criava 5 (cinco) tipos de contratos nominados e expedia normas para sua
feitura, bem como para sua averbação (registro), para efeitos da entrada do
capital estrangeiro na forma de tecnologia. Na verdade, a importância do INPI
advém de suas extensas atribuições criadas pela Lei n" 5.648 de 11 de dezembro
de 1970 (em particular no seu art. 2 parágrafo único:
Q
bem como suas atribuições reforçadas pelo art. 126 do Código de Propriedade
Industrial (obrigatoriedade de averbação de atos ou contratos que impliquem
transferência de tecnologia). Criado com vinculação ao então Ministério da
Indústria e do Comércio, hoje se acha vinculado ao Ministério da Justiça.
O sistema de monitoração dos contratos de tecnologia na legislação brasileira se
faz por via das averbações no mencionado INPI, e tão-somente a partir de tal
registro é que pode o investimento estrangeiro beneficiar-se de dispositivos
legais relativos a: a) legitimação de pagamentos de obrigações no Brasil; b)
dedutibilidade fiscal e outros favores tributários; c) permissão de remessas de
pagamento ao Exterior. O sistema tem evoluído desde um dirigismo rígido
A Cooperação Técnica Internacional 193
dad e financeira pri vad a, em co nd ições mai s fa vorávei s do que as exi st entes no s
merc ad o s tr adi ci onai s , a través d e um tratam ento di ferenciado ao s PVD s ; tra ta- s e
de tr an sferência s de fu nd os p úbl ico s (denominam- se, cn tão , s e to r p úbl ic o) ou d e
capitais nas condiçõ es do m ercado (setor privado ), sendo que, ne ste úl timo ca so ,
não s e pode dizer qu e haja tratamento mai s favorá v el.
No sistema da s Nações Unidas, há qu e distinguir se se trata de assistência
financeira ou de as sistência técnica . No caso da assistência financeira , o que
se verifica é o movimento internacional para a obtenção de capitais para fins
de investimento, ou seja, para a aquisição de equipamento e incre mento da
produção; trata-se de recursos amortizáveis a médio ou longo prazo , providos
pelo grupo do Banco Mundial (BIRD e suas filiais). No caso da assistência
técnica , trata -se de movimentos internacionais de recursos buscados em div i-
sas ou em haveres em reserva, para fins de pagamentos internacionais, sobre-
tudo em situação de déficit das balanças de pagamento; é a cooperação
monetária a curto prazo , levada avante sob a égide do Fundo Monetário
Internacional (FMI). Deve-se notar que, em termos de lapso de tempo, em se
tratando de PVDs, é difícil configurar uma situação de médio ou lo ng o prazo,
em razão da situação deficitária crônica de suas balanças de pagamentos, o
que tem levado a um intercâmbio de experiências e vivências entre o BIRD e
oFMI.
Quando da criação do FMI, juntamente com o BIRD, nos Acordos de Bretton
Woods de 1944, a idéia inicial fora de que se constituía um organismo dedicado
a duas grandes missões:
a) favorecer a cooperação monetária internacional entre os membros participan-
tes do FMI, a fim de se criar e se manter um sistema monetár io mundial
estável e capaz de favorecer o crescimento do comércio internacional;
h) ajudar os Estados a reduzir os desequilíbrios temporários de suas balanças
de pagamentos, fornecendo -lhes assistência monetária condicionada a requi-
sitos prévios e de maneira temporária .
Deve-se notar, de início , que o FMI jamai s se constituiu , nos primórdios de sua
atuação , como um organismo voltado para que stões da cooperação internacional
diferenciada entre seus membros, e muito menos como uma organização de
auxílio aos PVDs (em políticas concessionai s e fora das regra s do mercado) .
Contudo , a partir do acesso maciço do s novos Estados às organizações interna-
cionais, a partir de 1960, com as crises no s is tema da s relações comerciais
internacionais dos anos 70 (desvalorização unilateral do dólar dos EUA, às voltas
A Cooperação Técnica Internacional 197
limitand o-s e, co ntudo, a ajudas a médi o pr azo: destinav a-se a p aís es co m graves
dese quil íb ri os de suas b al an ças de pag am ento de cará te r estru tur al de feitu oso,
ou cuja ec o no m ia se c arac ter iz av a por um cresc ime nto lento e uma b al an ça de
pagam ento intrin s ec am ente frágil. O candidato a tai s fa cilidad es dev eri a ela bo ra r
e executar um program a co mp le to de medid as co rretivas, dur ant e um p eríod o de
doi s a tr ês ano s, com a prova de que o país não al cançaria se us objetivo s com a
utiliz ação do s mecanismos ordinári os do Fundo. Por tal facilidad e, o p aí s ter ia
um encaixe d e 14 0 % de sua cota-p art e, limite, portanto de se us s aques . Os
montantes de cr édito s forn ecido s pelo FMI deveriam ser readquiridos pelo
membro tão logo as dificuldad es es tivessem sana das ou num prazo de quatro a
oito ano s, a contar da comp ra, em parcelas de dezessei s p restações trim estrai s
iguais . Tal facilidade tem sido largamente utilizada pelo Brasil.
A facilid ade do Fundo Fiduciário, criad a em maio de 1976 e r evi sta em vá rias
ocasiõ es , foi in stituída a partir do resultado da v enda do ouro em poder do FMI ,
com o fim do p eríodo de demon etização de s eu s haveres (logo apó s a criação dos
Direitos Esp eciais de Saqu e, em 1975 , e pela decisão da v enda de frações de tai s
haveres , em b enefício do s PVD s e posterior di stribuição aos demais membros) .
É um fundo contabilizado em conta especial , di stinta de outro s haver es do FMI.
Suas condicionalidad es são igu ai s às op eraçõ es ordinárias do FMI, ou se ja,
necessidade de tal aj uda para equili br ar o balanço de pagamentos e demon stração
de esforços razoáveis nas r espectivas cartas de intenção do s p edido s do s recurso s
adicionais ; tais facilidades dev eriam se r reembolsáv eis num p eríodo de dez ano s,
após a data do de sembolso p elo FMI , em dez prest ações s emes tr ais iguais, a
partir do s seis prim eiros meses do se xto ano , a uma taxa de juros de 5 % ao ano .
T erminad as as op eraçõ es de crédito em abril de 1981 , o FM I tem gerido os
recursos devolvidos com os reembolso s, a fim de concluir os negócios p endentes;
em 1981, parte de tai s recurso s foi novam ente utili zada para au xiliar os país es
com grav es difi culdades nas b alan ça s de pagam entos e com renda s nacion ai s
muito baixas, na s condiçõ es da s op eraçõ es ordinárias do FMI.
A fa cilidade do financ ia me nto s uple me ntar foi in stituída em ago sto de 1977, em
vigor a partir de fev er eiro de 1979 e qu e so fre ria sua última revi são em j an eiro
de 19 81.. Destinad a a soco rr er determinado s países com grav es desequilíbrio s
nas resp ecti v as bal an ç as de pag am entos, destin ou-s e co m prim azi a aos PVD s,
co m os mec ani sm os de excepc io na r, através de p ermissão de s aques mai s e leva-
do s nas resp ectivas cotas-partes, em pr azo s mai s longo s e em condiçõ es mai s
ben évol as . D estin ad a ex cl us iva me nte aos PVD s, co mporta , na rea lida de , qua tro
acordos suple me nta res co m as segu intes ca racte rís ticas co m uns : a necessidad e
A Coopera ção Técnica Internacional 201
de aco rdos de co nfi rmação (um ano p rol on gável a té três an os) em qu e se
au to riza m saques em limites supe rio res aos per mi tidos em s ituações o rd iná rias,
subo rdinados, co ntudo, a co ndicionalidad es e critérios de boa exec ução da s medidas
pro me tidas nas cartas de int en ções (sa ques supe riores a 280 % da co ta-parte). O
reembol so se efetua a partir dos três ano s e meio , após a compra do s recursos, e
terminam sete ano s ap ós a mesma, se ndo tal facilid ad e alim entada por empréstimos
con sentidos do s países-membros do FMI indu strializados ou pelos países exporta-
dores de petróleo; em 1980, foi criada uma Conta de Bonificação a fim de aliviar o
peso financ eiro qu e recaía sobre os PVDs com rendas baixas e que eventualme nte
se utilizassem dessa facilidade do financiam ento suplem entar.
A política de acesso mai s amplo ao s recurso s do Fundo foi adotada em 1981 ,
com o objetivo de auxiliar os países-m embro s com dificuldades graves de
desequilíbrios na s re spectivas balança s de pagamentos , em relação às cotas-par-
tes iniciais e que nec essitam de recurso s suple m en tar es ou cr éditos por períodos
mais longos que s eus direito s creditício s lh es permitem. Torn ado possível a
partir de um empréstimo entre o FM I e a Agência Monetária da Arábia Saudita,
se us mecanismo s são se m elhan tes aos das facilidades do financiamento suple-
m entar. Permite a utili zação de 150 % da s resp ectivas cotas-partes de s eção de
crédito , em um ano, e de 45 % em trê s anos. No total, os acessos ao s recursos
sup lem en tares havido s no FMI para fin s de liquidez suplementar, após dedução
das recompras previstas, pode atingir 600 % das cotas-partes do s países, inde-
pendentem ente da utilização dos mecanismos de financiamento compensatórios
ou de financiamentos do s estoques reguladores, ou ainda das compras efetuadas
no quadro do m ecanismo do petró leo e ainda não reembolsados.
Concebida como uma instituição internacional em que as discussões sobre o
equilíbrio monetário , colocado como re sponsabilidade compartida entre os Es -
tado s dentro da diplomacia multilateral , representassem uma re strição aos direi-
to s sob eranos do s Estado s-membro s qu anto às políticas monetári as internas, e
em qu e o equilíb rio dos bal an ços de pagamento fo sse a primordial preocup ação
no equ ilíb rio m ai s g eral da s relaçõ es internacionais apó s a Segunda Gu erra
M un dial, o FMI so fre r ia profund as crí tic as a partir da emergê nc ia maciça do s
PVD s no s foros int ernaci onais, já a com eçar com a reali zaçã o da I UNCTAD ,
em 19 64 . A s crí ticas e tentat iv as de reform ulaçã o do s iste ma mon etário interna-
c io nal, contudo, fo ram ac el eradas c om as co ns ta taç ões de sua fra g ilidade, so b re -
tud o co m as cr ises s urg idas pel as deci sõ es unilat erai s dos EUA, em 1872 , da
desv alori zação do dól ar am erican o, o qu e iria af et ar as rel aç ões mon etári as,
co me rc ia is e finan c eira s de todo o mundo e, em particular, do s PVD s e países
202 Guido F. S. Soares
pagamentos dos Estados; seus clientes são Estados ou instituições nas mesmas
condições exigidas para as operações do BIRD.
As atividades do BIRD se destinam a:
1°) fornecer empréstimos a longo prazo, com fundos próprios subscritos pelos
Estados, ou com fundos que consegue com suas operações ordinárias (ou
eventualmente extraordinárias, de elevação do capital do Banco, através de
subscrições dos Estados-membros), como um banco comercial comum;
2°) financiar, com outras organizações internacionais, programas e projetos
(cofinanciamentos);
3º) fornecer garantias bancárias para empréstimos de entidades privadas aos Estados.
Em quaisquer operações se exige que o país tenha uma renda intermediária, a
critério do BIRD . São, em linhas gerais, as seguintes as condições econômicas
para a efetivação dos empréstimos:
a) atividades produtivas, entendidas como aquelas que aumentam o PNB dos
países emprestadores, a critério do Banco, admitindo-se empréstimos a pré-
investimentos ou na concessão de recursos para a formação de quadros, se
estes se referirem a atividades produtivas;
b) como já se assinalou, empréstimos destinados a financiamentos de projetos
(90% dos recursos do Banco) e de programas e, em épocas mais recentes, a
ajustamentos estruturais que signifiquem reformas em profundidade relacio-
nadas com o estabelecimento de equilíbrio das balanças de pagamentos (e,
em tais casos, em estreita coordenação com o FMI);
c) preocupação em preservar o interesse de todos os Estados-membros do
Banco, a fim de assegurar a solvabilidade da instituição, com o pleno conhe-
cimento e julgamento da situação dos Estados mutuários.
No que respeita às condições financeiras dos empréstimos, em linhas igualmente
gerais podemos destacar:
a) o caráter supletivo dos empréstimos, ou seja, quando o capital emprestado
pelo Banco não se encontra disponível no mercado;
b) financiamento em divisas, com a obrigação de fornecer tais moedas;
c) a duração dos empréstimos é em média de quinze a vinte anos, acompanhados
de períodos de graça de quatro a cinco anos, as taxas de juros determinadas
por ocasião da assinatura dos instrumentos jurídicos, determinados aqueles
pelos custos de fornecimentos dos empréstimos, acrescidos de 5% para
cobertura das despesas de gestão por parte do Banco;
A Cooperação Técnica Internacional 205
como também das linhas políticas de cada governo, que poderão prestigiar mais
ou menos a ação dos Estados em tal matéria. O que se pode dizer, em linhas
gerais, é que tem verificado a desvinculação da ação dos Estados em tal campo,
da ação diplomática tradicional , o que se pode comprovar pela constituição de
Ministérios de Cooperação Internacional (ou denominações assemelhadas) , que
em nada se assemelham aos tradicionais Ministérios das Relações Exteriores
(estes, cada vez mais esvaziados de suas atribuições em matéria de comércio
exterior e de cooperação técnica internacional, para ficarem circunscritos às
relações diplomáticas tradicionais).
Quanto aos aportes dos bancos comerciais privados, no que se refere à coopera-
ção técnica internacional, além de sua importância como recursos adicionais,
pelo volume e pela estratégia de sua localização mundial , representa este um dos
mais espinhosos assuntos no campo jurídico, seja por sua classificação desafia-
dora dos tradicionais campos do Direito Interno e do Direito Internacional, seja
pela exigência de especialistas ainda em fase de formação, pelo menos no Brasil:
o advogado que tenha trânsito tanto na área dos contratos quanto na dos princí-
pios gerais do Direito Internacional Público e dos institutos jurídicos originados
das relações internacionais interestatais. Para se ter uma idéia das dificuldades
de lidar com as relações que envolvem, de um lado , uma pessoa jurídica de
direito internacional, um Estado (direta ou indiretamente vinculado a um contra-
to, em princípio um instituto sem guarida no Direito Internacional Público,
aquele que regula as relações de Estado a Estado e de Estado a organização
interestatal internacional), e, de outro , uma pessoa jurídica empresarial, subme-
tida a um direito privado de algum outro Estado (ou, simplificando a terminolo-
gia: um " particular estrangeiro"), é necessário dizer qu e os institutos jurídicos
tradicionais desconhecem tais relações (o direito que mais perto estaria de
resolver tais assuntos seria o Direito Internacional Privado , mas este, por defi-
nição, é um direito estatal e doméstico, sem possibilidades de alçar vôos nas
relações internacionais novas, Estado/particular estrangeiro, com sua metodolo-
gia tradicional).
Na verdade, tal perplexidade advém da relativa novidade das relações que
envolvem Estado/particular estrangeiro. Tradicionalmente, com efeito, os recur-
sos do setor privado nas relações internacionais eram ocasionais, destinados a
atender às relações privadas entre exportadores e importadores (muito eventual-
mente representados por um Estado ou por uma entidade sob seu controle), com
objetivos comerciais a curto prazo (e jamais com características concessionais,
fora das regras do mercado); se havia alguma presença perturbadora dos esque-
A Cooperação Técnica Internacional 209
Japão, ofereciam aos PVDs: vencimentos de dois a sete anos, margem de lucro
de 2% sobre a taxa vigente em Londres, LIBOR (London Inter-Bank Offered
Rate). Os próprios organismos de desenvolvimento internacional, como o FMI
e o BIRD, passaram a orientar seus empréstimos em favor das PVDs; na Reunião
de Manila, de outubro de 1976, o Comitê de Desenvolvimento baixa medidas
para facilitar o acesso dos PVDs aos mercados financeiros, tendo recomendado
aos países industrializados que dessem preferência, dentre seus mutuários, aos
citados PVDs, sobre: autorizações para emitir obrigações, em relação a um lugar
destacado nos schedules das emissões, em função dos limites quantitativos a
respeito das emissões de obrigações para estrangeiros nos respectivos mercados,
e, para culminar, a quantificação das curo-obrigações entre as moedas mais
procuradas. No que se refere às regulamentações dos mercados internos nos
países industrializados, aqueles organismos internacionais recomendaram: pro-
ceder à liberalização da saída de capitais em direção aos PVDs, a aceitação de
um regime de tratamento preferencial aos PVDs mutuários, bem como medidas
para melhorar o acesso aos mercados financeiros dos países industrializados.
Ora, tal euforia, na verdade, não foi suficientemente forte para revogar a lei de ferro
que impera nas relações comerciais no setor privado de investimentos internacio-
nais: a de que os empréstimos internacionais oferecidos pelos bancos privados o são
sob a forma de contratos e constituem-se em operações não-concessíonais, nego-
ciadas e executadas segundo as condições do mercado, com o afastamento de
qualquer privilégio (ainda que se refiram a campos de inegável importância para a
normalidade das relações internacionais, como é o caso da situação de dever-desen-
volver-se dos PVDs), e a de que as normas que regulam as relações assim estabe-
lecidas são aquelas provenientes de negociações do tipo clássico, num ambiente
internacional não susceptível de imposições dos Estados", De seu lado, os bancos
privados, movidos pelos estímulos econômicos de custo/benefício, estavam impos-
sibilitados de conferir um tratamento preferencial aos PVDs, que, sem dúvida, mal
puderam, souberam ou quiseram avaliar os efeitos futuros das obrigações que
assumiam agora, sem o poder de negociação e de barganha, que antes tinham e ainda
têm nas organizações internacionais de que participam e que podem influir por meio
da diplomacia parlamentar. Na verdade, tal diplomacia, aos poucos, acabou por
2. É necessário enfatizar que, nos contratos internacionais , a regra tem sido que os mesmos se regem pela lei
eleita pelas partes , com a mínima incidência de normas de ordem pública ou a interveniência de fatores
exógenos às negociações dos contratos , como a filosofia de prestigiamento da situação dos PVDs , que os
contratos se referem a serviços públicos, ligados à soberania dos Estados, ao bem-estar de sua população
e toda ordem de considerações da mais alta eqüidade, que , no entanto , não cabem nas relações estritamente
bancárias comerciais .
A Cooperação Técnica Internacional 211
ser substituída pela "diplomacia" (no sentido impróprio) das empresas privadas,
dominada pela lógica dos mercados internacionais.
Nos empréstimos bancários oferecidos pelos bancos privados no mercado inter-
nacional, o perfil dos mutuários (também denominados tomadores) pode consti-
tuir-se de entidades do setor público (governos, coletividades locais..como prefei-
turas, entidades controladas pelos Poderes Públicos ou autorizadas a agir em
nome destes, pela via de avais, por exemplo) ou de entidades do setor privado
(grandes bancos privados locais ou conglomerados de bancos domésticos, tipi-
camente nacionais ou ainda com participações acionárias estrangeiras) . Na maio-
ria dos casos, os eurocréditos são dados a empresas semipúblicas e canalizados
por bancos comerciais e/ou por bancos de desenvolvimento; os empréstimos de
maior monta são repassados a Bancos Centrais. Deve-se mencionar que a indús-
tria minerária e os setores ligados à energia gozam de crédito internacional iguais
ou assemelhados ao do próprio governo. No caso de empréstimos oferecidos ao
setor nacional privado, a maioria dos bancos estrangeiros privados emprestado-
res (mutuantes) prefere os clientes importantes, com ativos cifrados em US$
milhões, ou pertencentes a grupos de tal envergadura, ou ainda filiais ou parti-
cipantes conjuntos em sociedades estrangeiras; os bancos locais, obtidos os
empréstimos, repassam-nos a empresas, agindo, assim, como intermediários, e
que suportam parte dos riscos da operação e, é importante acrescentar, quanto
mais se situem em países com um setor bancário melhor organizado, constituem-
se em melhores fregueses junto aos bancos estrangeiros em função das facilida-
des de encontrar parceiros que facilitem a abertura de linhas de crédito.
Quanto ao perfil dos bancos privados estrangeiros emprestadores (mutuantes),
os empréstimos em eurodólares podem ser efetuados seja por um estabelecimen-
to bancário, seja por um grupo de mutuantes. No caso de um único mutuante,
embora não permitam os empréstimos partilha de riscos nem publicidade, são
mais fáceis de administrar e mais flexíveis na sua renegociação; tomam a forma
ou de simples empréstimos bancários (empréstimo público) ou de abertura de
crédito, sem limite de data, como no caso de empréstimos banco a banco.
No que respeita aos empréstimos por grupos de mutuantes, a prática tem elabo-
rado algumas tipolo gias :
a) os empréstimos consorciais tradicionais, geridos por um banco-líder, que age
como agente de outros, a quem distribui os pagamentos dos mutuários após
a coleta de fundos e representa os demais; em geral são reembolsáveis
segundo a agenda fixada pelas partes com um período de graça, têm taxas de
juros flutuantes, vencimento em data fixa e são sacados em uma única vez;
212 Guido F. S. Soares
d) agency fee , comissão de agenciamento para o banco que atua como coordenador em
empréstimos consorciados, com a participação de outros bancos;
e) service fee, taxa que se destina a remunerar os serviços de administração do crédito
aberto em nome do tomador.
VI. CONCLUSÃO
Referências Bibliográficas
Peter Könz
I. INTRODUÇÃO
1. Utilizamos siglas inglesas (por exemplo , UNDP no lugar de PNUD, empregada em idiomas latinos) para
todas as agências do sistema das NNUU. Ver glossário.
220 Peter Kônz
Este trabalho parte do fato objetivo de que, no que se refere a países de renda
média como o Brasil", o financiamento oficial da cooperação técnica - bilateral
ou multilateral, com doações ou, em menor escala, também em bases reernbol-
sáveis (ou seja, com empréstimos) - tem se desacelerado e se deve esperar que
continue a ser bastante minguado. Para ser significativa e exercer um impacto
importante, a cooperação técnica com financiamento oficial freqüentemente
precisa, portanto, interagir com a cooperação comercial - por exemplo, prepa-
rando o terreno' para investimento ou comércio, ou complementando insumos
técnicos com financiamento mais substancial, proporcionados no contexto de tran-
sações comerciais, geralmente em nível de empresa.
o desafio, portanto, é utilizar da melhor maneira possível o financiamento
oficial da cooperação técnica, mesmo quando está disponível somente em doses
homeopáticas, atribuindo-lhe uma função específica no processo de desenvol-
vimento - catalisadora, inovadora, freqüentemente como agente precursor de
investimento, comércio, assistência financeira ou cooperação técnica comer-
cial. Este ponto de vista é tão válido para a cooperação técnica da qual o Brasil
é destinatário quanto para a assistência técnica proporcionada pelo Brasil a
outros países em desenvolvimento.
Encarado dessa forma, o tema do financiamento deve ser tratado primeiramente
por meio de um exame da natureza das atividades a serem apoiadas, com a
finalidade determinar aquelas para as quais o financiamento oficial oferece
vantagens comparativas e possa estar disponível em bases realistas: Isto levanta
uma série de questões básicas. O que significa, 'na verdade, a cooperação técnica
internacional? Qual é a sua finalidade essencial, qual a motivação predominante
entre as fontes de financiamento, ou os "doadores", e entre aqueles que criam
condicionamentos para a P?lítica do doador (opinião pública, burocratas, parla-
mentares)? Impulsos de caridade? Uma obrigação de compensar erros que re-
montem a um passado de dominação política, econômica ou cultural, como foi
2. Termos tais como "país de renda média ", ou "p aís de industrialização recente" - ambos aplicáveis ao caso
do Brasil, enquanto países tais como a índia e a Indon ésia são de industrializa ção recente, mas não de
renda média - e, no outro extremo da escala, a categoria de países de menor desenvolvimento , têm sido
introduzidos numa tentativa de refinar a dicotomia simplista (e semantica mente imprecisa) entre " dese n-
volvido " e " em desenvolvimento ". Embora essa taxonomia seja utilizada para fin s normativos, es-
pecialmente no que diz respeito à alocação de recursos para cooperação internacional, os c rité ri os
subjacentes - basicamente PNB per capita e o quociente entre produto industrial e produto não-in-
dustri al - são de relevância questionável para a necessidade e a capacidade de absorção de assist ência
técnica extern a orientada para o desenvolvimento.
Financiamento Oficial da Cooperação Técnica Internacional 221
dito por algumas pessoas, quando a Nova Ordem Econômica Internacional estava
sendo proposta? Ou a motivação ret1ete um outro paradigma, qual seja o de interesse
mútuo no desenvolvimento, na redução do hiato de desenvolvimento e na criação
de parceiros comerciais, financeiros ou políticos viáveis, mesmo ao custo da
geração de concorrentes? Deveria se concentrar, como foi sugerido há não muito
tempo pela comunidade de doadores, em "necessidades básicas" e em tecnologia
simples ou gandhiana (posição que ret1ete um enfoque assistencialista), ou deveria
também envolver a área de tecnologia avançada (que não pode ser ignorada, caso o
objetivo seja o desenvolvimento)? Deve - e pode - a assistência técnica envolver
áreas sensíveis de governo, a reforma do Estado (e não a simples modernização
administrativa), as relações entre o Estado e a Sociedade? Por último: há uma diferença
entre os termos" cooperação técnica" e "assistência técnica"?
À primeira vista, "cooperação técnica" e "assistência técnica" são termos claros e
indiscutíveis. "Cooperação" subentende uma relação entre iguais, ou parceiros, que
almejam uma meta comum. "Assistência", por outro lado, evoca a ajuda de alguém
que "tem" algo a outro que "não tem". "Técnica" quer dizer que a cooperação ou
assistência deve estar ligada a uma transferência ou ao desenvolvimento de tecno-
logia, experiência, uma habilidade prática ou de gestão, ou de equipamento.
Na verdade, porém, o jargão oficial nesta área é um lodaçal de confusão semân-
tica e definições. Começando na década de 70, quando a cooperação internacio-
nal com vistas ao desenvolvimento (que obviamente dava preferência a uma
parceria - em lugar de uma relação unidirecional entre doador e beneficiário, ou
entre professor e aluno) se tornou prioritária nas relações internacionais, o termo
"cooperação técnica" tendeu, como veremos mais adiante, a substituir, no lin-
guaj ar da ajuda externa, o termo "assistência técnica", com suas conotações
paternalistas politicamente desagradáveis, mesmo no que dizia respeito a pro-
gramas cuja finalidade fora e continuava sendo principalmente de caridade ou
humanitária, isto é, assistencial, ou nos casos - se não de direito, pelo menos de
fato - em que o doador permanecia no controle dos programas que financiava,
contradizendo o conceito de parceria. (É significativo observar que o termo
"assistência técnica" é comumente usado em transações comerciais - por exem-
plo, contratos envolvendo tecnologia e serviços, venda ou manutenção de equi-
pamento etc.). Quanto ao termo "técnica", pode-se dizer que ele também tem
sido aplicado, no jargão da ajuda externa oficial, para abranger até mesmo o
apoio orçamentário direto de instituições específicas, ou o fornecimento de bens
ou ajuda humanitária sem qualquer conotação "técnica". Por último, a confusão
é aumentada pelo fato de muitas estatísticas internacionais - por exemplo, os
222 Peter Kõnz
3. Em particular, faz-se referência aos Relatórios de Desenvolvimento elaborados anualmente pelos escritórios
locais do UNDP e aos Relatórios de Política sobre Atividades Operacionais para Desenvolvimento , apre-
sentados à Assembléia Geral da ONU pelo diretor-geral para Assuntos Econômicos e Desenvolvimento. O
empréstimo em condições mais favoráveis e até mesmo os créditos à exportação e as garantias de crédito
podem, evidentemente, ser considerados como "ajuda", mas, para se comparar seu volume ao das doações, é
preciso que seja reduzido à diferença capitalizada entre as taxas normais de mercado e as taxas dos
empréstimos em condições especiais. Os empréstimos da IDA aos países de menor desenvolvimento, com suas
taxas simbólicas de juros e seus longos períodos de carência, podem ser considerados como um caso especial.
Financiamento Oficial da Cooperação Técnica Internacional 223
Foi contra esse pano de fundo que a assistência técnica multilateral e bilateral -
em níveis que, comparado com as despesas militares, eram sempre bastante
modestos" - cresceu, estagnou e diminuiu (pelo menos em termos reais) durante
as últimas quatro décadas. Evidentemente, não é possível predizer como os novos
cenários (distensão Leste-Oeste; transição generalizada para economias de mer-
cado relativamente abertas; ressurgimento de conflitos religiosos ou étnicos na
Europa Oriental e no Sul; o fracasso evidente dos principais programas de ajuda
na região ao sul do Saara) afetarão a orientação e o apoio da assistência técnica
futura, tanto multilateral quanto bilateral, exceto para se dizer que, presumivel-
mente, os programas multilaterais crescerão em importância à medida que a
motivação política e clientelista que sustentava os antigos programas bilaterais
perder sua razão de ser.
A esta altura, é interessante, contudo, rever o que sem dúvida foi a experiência
de maior êxito em termos de cooperação internacional voltada para o desenvol-
vimento, ou seja, o Plano Marshall, da década de 50 e início da década de 60. O
contexto (início da guerra fria), as condições ambientais (homogeneidade cultu-
ral) e a sua abrangência limitada (essencialmente a região do Atlântico Norte)
eram muito distintas das que são encontradas no quadro global de desenvolvi-
mento dos dias de hoje: seria ingênuo esperar um novo Plano Marshall para o
Sul ou para os países da Europa Oriental. Mas algumas conclusões relevantes
para a cooperação técnica envolvendo países de renda média podem ser extraí-
das do caso da Europa Ocidental. Em primeiro lugar, o modelo conceptual foi
claramente um modelo de parceria, combinando, numa primeira fase, uma
política econômica conjunta (conjuntural, comercial, monetária, fiscal) e um
programa de assistência técnica com gestão conjunta, tudo isso apoiado por uma
infra-estrutura relativamente leve (a OEEC). Embora com financiamento bastan-
6. Evidentemente, deve ser reconhecido que comparações entre gastos militares e programas espaciais , de um
lado, e os recursos alocados à assistência ao desenvolvimento , de outro lado, não têm impressionado muito
seja as autoridades, seja a opinião pública dos países doadores. No entanto, é evidente que, enquanto
somente os gastos com o desenvolvimento de armamentos (bombardeiros invisíveis ao radar, ou Stealth, o
programa "Guerra nas Estrelas" e os arsenais nucleares), sem falar da exploração do espaço e de estações
orbitais, chegam a centenas de bilhões de dólares, o Plano Marshall custou cerca de 13 bilhões de dólares
no período de quatro anos (65 bilhões de dólares aos preços de 1989, ou 1,2% do PNB dos Estados Unidos
e do Canadá nos quatro anos em questão), segundo Le Monde, 7 de setembro de 1991, p. 20. De um ponto
de vista de interesse mútuo, ou comparado à porcentagem do faturamento despendida pelas empresas com
o desenvolvimento de mercados, essas somas - tal como o custo dos programas atuais de cooperação
técnica - são muito modestas, mesmo que abranjam o custo da assistência técnica aos países de renda média
e aos países de industrialização recente. Sem dúvida, as autoridades que conceberam o Plano Marshall
compreenderam que o significado político do financiamento coletivo da cooperação internacional superava
de longe o seu custo para os doadores individuais.
Financiamento Oficial da Cooperação Técnica Internacional 225
7. Para uma discuss ão sobre a European Productivity Agency e sua importância, ver OEEC (1958, pp.134 e ss.).
226 Peter Kõnz
8. Além do valor direto da "indústria da ajuda externa" para firmas de consultoria e outros setores dos países
doadores, a literatura sobre desenvolvimento (incluindo estudos efetuados por sindicatos setoriais nos Estados
Unidos e na Europa) tem confirmado, já há algumas décadas, a correlação positiva entre desenvolvimento (e ,
portanto, maior poder aquisitivo) do hemisfério sul, e níveis de emprego nas indústrias e nos ramos de serviços
voltados para a exportação no hemisfério norte. Ver, por exemplo, a hoje clássica demonstração, no contexto
da Rodada de Tóquio, por Fishlow, Carri êre e Sekiguchi (1981). O problema, evidentemente, é que no longo
prazo tais correlações dependem de uma divisão internacional ideal do trabalho que não corresponde aos
cenários atuais - a saber, cenários nos quais indústrias-mão-de-obra-intensivas e, portanto, politicamente
sensíveis (por exemplo , tecidos), ou uma agricultura apoiada em subsídios continuam a ser protegidas no
hemisfério norte por barreiras tarifárias e não -tarifárias (incluindo cotas impostas por acordos internacionais
como o Multi-Fibre Agreement), enquanto os países do Sul pretendem construir suas próprias indústrias de
tecnologia avançada (microeletrônica, biotecnologia, informática) e seus próprios setores de serviços em
competição com o Norte.)
9. Ver ABREU e FRITSCH (1984). Ver, em relação a uma fórmula de gradação mais suave, IBRD Memo
(1982).
Financiamento Oficial da Cooperação Técnica Internacional 227
Embora se deva esperar que essas considerações gerais 'c ontinuem a modelar os
programas bilaterais no futuro, também é provável - como foi observado ante-
riormente - que a melhoria das relações entre Leste e Oeste também afete os
programas bilaterais de diversos modos. Já está ficando evidente, por exemplo,
que nos dois últimos anos a Europa oriental tem surgido como uma área priori-
tária para investimento e relações comerciais no futuro. À parte os problemas
especiais criados pela reunificação da Alemanha, países como Polônia, Tchecos-
lováquia, Hungria e países da CEI ex-URSS (especialmente a Rússia e as
repúblicas européias) também têm-se tornado beneficiários importantes de as-
sistência técnica bilateral proveniente da Europa ocidental e da Comunidade
Econômica Européia, dos Estados Unidos e, potencialmente, do Japão. Embora
isso possa não significar o fim de programas bilaterais de assistência técnica à
América Latina, deve-se esperar que o volume dessa assistência se reduza: daí,
230 Peter Kônz
10. Os programas de assistência técnica bilateral de alguns países doadores (por exemplo, Alemanha e Suíça)
têm estado disponíveis para o financiamento da cooperação Sul -Sul. De maneira semelhante, o sistema
das Nações Unidas, e especialmente o UNDP, tem financiado ou co-financiado a CTPD ; alguns países em
desenvolvimento com substanciais dotações no UNDP (por exemplo , índia , China) estão aplicando uma
parte de suas IPFs para financiar sua própria contribuição à CTPD. Embora o apo io externo possa ser de
grande valia no início de um programa ou projeto Sul-Sul, ou para financiar gastos que devem ser
realizados em moeda forte (por exemplo , viagens internacionais), o financiamento básico para a CTPD
deve, no longo prazo, vir dos países envolvidos - se não for assim, ela ficará reduzida à cooperação Sul-Sul
orquestrada no hemisfério norte.
Financiamento Oficial da Cooperação Técnica Internacional 231
11. Durante as décadas de 70 e 80, os organismos executores do sistema das Nações Unidas recebiam uma taxa
padrão de overhead de 13% (ou 14%) dos orçamentos de projetos do UNDP que geriam; esse sistema foi
substituído com o Quinto Ciclo de Programação de acordo com a decisão do Conselho Diretor do UNDP
reproduzida no Apêndice B. Na verdade, a fórmula-padrão de 13% mais criava do que resolvia problemas
enquanto 13% claramente não são suficientes, em si mesmos, para financiar a gestão eficiente de projetos (as
taxas de overhead, em projetos privados de assistência técnica, ou na assistência técnica bilateral executada
por firmas de consultoria ou universidades nos próprios países doadores muitas vezes ultrapassam os 100%),
a atração do overhead de 13%, contudo, gerava intensa concorrência e guerras de jurisdição entre os
organismos executores das Nações Unidas.
232 Peter Kônz
12. o sistema de coordenadores residentes foi introduzido no final da década de 70 ; suas funções abrangem a
coordenação de todas as atividades operacionais das Nações Unidas relacionadas com o desenvolvimento,
mas não os empréstimos do Banco Mundial. O coordenador residente - normalmente o representante residente
do UNDP - é visto como primus interpares entre os diversos representantes de organismos das Nações Unidas
em cada país; sua eficácia baseia-se essencialmente no seu poder de persuasão e no apoio que ele recebe das
autoridades naciona is responsáveis pela programação e pela supervisão da assistência técnica externa; nos
casos em que se trata de uma única representação, como no Brasil e na Colômbia, o coordenador residente
tem tudo para operar em condições ótimas.
13. Relatórios da UNFPA ao Conselho Diretor do UNDP.
Financiamento Oficial da Cooperação Técnica Internacional 233
6. UNDP
Sob a fórmula de alocação discutida no próximo capítulo, os recursos de assis-
tência técnica do UNDP atribuídos à América Latina, e especialmente aos países
latino-americanos de renda média, têm diminuído em termos nominais e, é claro,
ainda mais sensivelmente em termos reais desde o começo da década de 70 . Não
obstante, continuam a representar o fulcro do financiamento de assistência
técnica do sistema das Nações Unidas, e isso por vários motivos. Além do fato
de na maioria, se não na totalidade dos países, o programa do UNDP ser de
volume superior ao de programas de qualquer organismo do sistema (com a
exceção, em certos casos, do esquema de ajuda com alimentos da WFP), o
financiamento do UNDP é desvinculado, integralmente fungível e pode ser usado
com uma perspectiva intersetorial e interdisciplinar. Sua programação não fica
234 Peter Kõnz
17
como os esquemas TOKTEN e STAS , e também, em alguns países, o programa
de voluntários das Nações Unidas, que se preocupa com a mobilização de
especialistas altamente motivados no campo da cooperação para o desenvolvi-
mento .
Façamos agora um último comentário sobre os programas para grupos de
países, do UNDP, e em particular o programa regional para a América Latina
e o Caribe. Embora as IPFs (cifras indicativas de planejamento) alocadas a
esse programa sej am modestas, elas representam uma fonte importante de
financiamento para atividades de natureza experimental ou de vanguarda na
região, ou em áreas nas quais a solidariedade regional ou sub-regional deve
ser fortalecida . Num estudo recente de meio de ciclo de programação, foram
identificadas cinco prioridades de política para a ação regional: redução da
po breza crônica; reforma e modernização do Estado e de suas relaçõ es com a
sociedade civil; modernização do setor produtivo, ajudando a indústria, a
produção agrícola, os serviços e o comércio a recuperarem a competitividade
internacional; proteção ambiental e gestão racional de recursos naturais (SE-
PÚLVEDA e KÓNZ, 1989/90). A formulação do programa regional e de seus
projetos específicos envolve uma série de consultas com as autoridades na-
cionais para identificar necessidades e oportunidades e, a partir disso, sugerir
ações específicas que, de acordo com as regras vigentes, sejam de interesse e
recebam a aprovação de pelo menos três países da região. Na verdade, o
programa regional para a América Latina e o Caribe tem desempenhado, e
deve continuar a desempenhar, um importante papel precursor em áreas como
ambiente, redução da pobreza, comércio multilateral, gestão e negociação da
dívida externa, preservação e gestão da herança cultural etc.
17 . TüKTEN e STAS são modalidades extra-IPF, medi ante as quais especialistas residentes fora de seu s
países de origem são convidados a retornar para missões de curta duração nesses países (TüKTEN) , ou
especialistas mais velhos - geralmente executivos aposentados - são colocados à disposi ção, sem qualqu er
custo (ou a um custo apenas provisório), para missões de assistência técnica (STAS).
Financiamento Oficial da Cooperação Técnica Internacional 237
V. FINANCIAMENTO MISTO
N aquela que é considerada em geral como uma das experiências de maior êxito
do UNDP, o programa nacional do Quarto Ciclo na Colômbia, a contribuição
UNDP/IPF alcançou menos de 100 mil dólares americanos. por projeto (KÓNZ
e VARGAS, 1991, p. 38); dentre os projetos de maior impacto houve vários -
pOT exemplo, um projeto de apoio a comunidades indígenas; um projeto de desen-
volvimento comunitário local e de direitos humanos; um projeto de conservação de
estradas por associações de comunidades locais - nos quais a contribuição do UNDP
alcançou apenas entre 20 e 30 mil dólares, mas foi capaz de mobilizar somas muito
maiores de fontes nacionais ou outras fontes externas. Isto prova que o financia-
mento misto é um dos enfoques pelos quais até contribuições bastante pequenas,
mas com finalidades bem específicas de financiamento externo à assistência técnica,
podem exercer um impacto substancial.
240 Peter Kônz
pode ser feita por programa ou por projeto. O modelo "original" de participação
nos custos de programas foi representado pelo acordo SUBIN do final da década
de 70, firmado entre o governo brasileiro e o UNDP para manter o nível e o ímpeto
do programa Brasil a despeito da crise financeira que afligia o UNDP. Segundo o
acordo SUBIN, o governo fez uma substancial contribuição em dinheiro - pagável
anualmente em moeda nacional, embora expressa em dólares americanos - ao
orçamento do programa do país. Embora inicialmente esse programa tenha funcio-
nado bem - os pagamentos eram feitos pontualmente e nos montantes correspon-
dentes aos valores estipulados em dólares -, o acordo SUBIN foi afetado pelas
sucessivas crises econômicas, incluindo a inflação e a desvalorização da moeda,
com as quais o país se defrontou na década de 80 e no início da década de 90, e com
isso o programa perdeu a maior parte do seu significado. No momento, o enfoque
básico é geralmente o de participação nos custos de projetos, modalidade que pode
perfeitamente coexistir (e isso aconteceu no Brasil) com a participação nos custos
de programas e complementá-la. Na realidade, o Brasil e outros (mas não todos)
países da América Latina têm sido os precursores desse conceito. No Quarto Ciclo
de Programação (1987-91), a participação nos custos em muitos países latino-ame-
ricanos (entre eles Brasil, Argentina e Colômbia) representou um múltiplo das
alocações de IPFs; na África e na região da Ásia e do Pacífico, a participação nos
custos (quando existiu) não passou de uma fração das IPFs. Evidentemente, precisa
ser observado que a participação nos custos - seja em programas, seja em projetos
- ajuda a fazer em bases voluntárias o que o Conselho Diretor do UNDP tenta impor
com o apoio de uma fórmula de alocação de IPFs enviesada contra países de renda
média. Além disso, e muito embora ocasionalmente a motivação também seja a de
cobertura contra riscos de câmbio ou escape a políticas restritivas nas áreas de
emprego ou importação, a participação nos custos em programas ou projetos do
UNDP deve ser encarada como um sinal de confiança na qualidade da cooperação
técnica multilateral.
Os compromissos de participação nos custos de projetos podem originar-se do
governo - e isso acontece comumente -, e nessa eventualidade sua expressão
legal pode ser encontrada num documento de projeto que, no caso do UNDP,
representa um acordo internacional; é cada vez mais comum que essa participa-
ção nacional nos custos - embora ainda sej a um compromisso do governo -
resulte de empréstimos do Banco Mundial ou do Banco Interamericano e exija a
concordância dos emprestadores, segundo os termos do empréstimo, antes que
qualquer desembolso possa ser efetuado; veja-se também, a este respeito , a
discussão na próxima parte do capítulo a respeito das complementaridades entre
o empréstimo para assistência técnica e a ação com base em programas do UNDP.
2 42 Pe te r Kô riz
A principal lição diz respe ito à fó rmu la de participação n aciona l no s cu stos implícita
no projeto . A partici pação n aci on al nos cus tos é, em p rin cípio , muito desejável- como
um in dício do v alo r qu e o gove rno atri bu i à cooperação técn ic a do UNDP - e talvez
um a necessi da de pa ra que a co ope raçã o t enha u m impacto signi ficativo também em
reg iões como a A mé rica Latina , pa ra a qu al os recursos bá si cos do UNDP só estão
disp onívei s em d oses muito mo desta s e hom eopá ticas. Por outro lado , um certo cuidado
é essenci al quan do se mo nt am pr oj et os c om pa rtici p ação substanci al nos custos - neste
ca so, 100 % - em situações nas qu ais o gov erno pas sa por sé ri as di ficuldad es ec on ômicas
e tal vez não possa manter suas prom essas d e partici pação (ou cump ri-las de acordo com
o cron ograma ace rta do) . Ta mbé m é pr eci so lembrar qu e to dos os proj etos , inclusive os
projetos co m pa rticipação sign ifica tiva n os cus tos, são vulne ráveis a flutuaçõ es da taxa
de c âmbio quan do , ta l como ocorre u recentem en te em [... ], o pod er de compra do dólar
americano, em moed a local , pod e so fre r um a qu eda bru sca - [muito embora] seja
possível prot eg er -se cont ra esse ri sco na negociação dos acordos de participaçã o no s
custos . Seja qual for o caso - inca paci da de do gove rno de cu mp ri r se us compromissos
e queda do po de r aquisitivo do dól ar ame ric ano - , o UN DP não será levado, se evitar
comprom issos futuros de lon go pra zo (po r exemplo, li mitando a duração de contratos
de emp rego ou co ns u ltoria) , a inco rre r em m aio res res po nsa bil id ade s legais. Moral e
politicamente , po rém, o UN DP ass u me uma respo n sa bi li dade quando gera expe ctativas
ilu só rias ao permiti r qu e se u p rograma sej a u tili zad o como condu to para projeções de
parti cipação nos custos que ac ab am não se concretiz and o .
19 . Esses fa tos for am utili zad os par a elabo rar o est udo de caso hipot éti co a crescen ta do ao pr esente capítulo.
Financiamento Oficial da Cooperação Técnica Internacional 243
20. o enfoque de " conversão de dívida por natureza " tem obtido destaque especial, agora que estamos às
vésperas da Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, promovida pelas Nações Unidas e a
se realizar no Rio de Janeiro em 1992. Até aqui , swaps bem-sucedidos - embora limitados - têm sido
feitos , na América Latina, na Bolívia e na Costa Rica. Para uma discussão a respeito do enfoque de
conversão de dívida por natureza, ver The Bra zilian Rain Forest, The Economist Intelligence Unit,
Publicação número 2100, Londres, maio de 1991.
Financiamento Oficial da Cooperação Técnica Internacional 245
swaps de dívida não sejam utilizados para apoiar a cooperação técnica não
relacionada com o ambiente, incluindo a cooperação Sul-Sul 21. Deve ser recor-
dado, porém, que essas oportunidades dependem (i) da insolvência técnica, real
ou presumida, do país beneficiário da assistência e, conseqüentemente, (ii) da
existência de um mercado secundário no qual os títulos de sua dívida externa
possam ser comprados com um deságio substancial; normalmente os swaps estão
ligados a dívidas comerciais ou ao Clube de Londres, em contraste com a dívida
para com credores oficiais, ou ao Clube de Paris; esta última, evidentemente,
pode também ser quitada, no todo ou em parte, por um comprometimento do país
devedor no sentido de aplicar uma soma equivalente, na sua própria moeda, em
assistência técnica. Em qualquer caso - uso do produto de um swap de dívida,
ou o equivalente a uma quitação de dívida com o Clube de Paris, para financiar a
cooperação técnica -, o esquema conceptual é semelhante ao usado no passado em
relação à receita de venda de produtos agrícolas (isto é, excedentes de alimentos)
de acordo com a Lei 480 dos Estados Unidos.
Deve ter ficado claro, a partir da discussão precedente, que para haver o prosse-
guimento dos programas multilaterais oficiais de cooperação técnica nesta déca-
da, ou mesmo além disso, nos países de renda média da América Latina, algumas
precondições básicas precisam existir.
Em primeiro lugar, o financiamento da assistência técnica proveniente de fontes
externas precisará ser utilizado de maneira altamente direcionada, seletiva, geral-
mente em conjugação com fontes nacionais e outras fontes externas de assistência
técnica ou financeira. Isto requer planejamento e supervisão 'centrais rigorosos -
mas flexíveis - que reflitam as necessidades de desenvolvimento (econômico, tecno-
lógico, social e cultural) do país. Também exige um esforço deliberado de reserva de
recursos multilaterais de assistência técnica para ações inovadoras, precursoras e de
vanguarda, possuidoras de efeito multiplicador comprovado, para a qual geralmente
é essencial contar com apoio externo desvinculado, objetivo e intersetorial.
O segundo imperativo consiste em que a programação da assistência técnica -
incluindo a programação da cooperação Sul-Sul, ou CTPD - e a ação das instituições
21. Tanto quanto sabemos, a única operação do tipo swap em CTPD na América Latina foi montada entre a
Argentina e o Peru; uma tentativa de converter parte da dívida peruana com o Brasil em financiamento de
assistência técnica bilateral Brasil-Peru foi abandonada devido à resistência do Banco Central.
246 Peter Kõnz
que a sustentem sejam abertas, isto é, envolvam empresas produtivas tanto do setor
privado quanto do setor público, relacionando a assistência técnica com as oportu-
nidades apresentadas pelo comércio internacional, pelos fluxos científicos e tecno-
lógicos, bem como pelas áreas de investimento e financeira. Em outras palavras: a
assistência técnica deve ser encarada como elemento de uma realidade muito mais
ampla, abrangendo as relações econômicas, culturais e políticas; as instituições
encarregadas da formulação e da gestão da assistência técnica, recebida ou dada,
não podem atuar em isolamento burocrático: elas precisam estar abertas a um
diálogo permanente e compartilhar seus poderes decisórios com o setor produtivo,
com o establishment científico e acadêmico e com a sociedade civil em geral.
Por fim, é evidente que a cooperação técnica internacional futura precisa ser uma
via de duas mãos, com um mecanismo de apoio mútuo no qual a genuína cooperação
Sul-Sul, ou CTPD, financiada ou co-financiada por países como o Brasil, tenha um
papel crucial a desempenhar. Deve-se esperar (e na verdade isso foi postulado
anteriormente neste trabalho) que a cooperação Sul-Sul não seja apenas uma réplica
mais barata da assistência técnica Norte-Sul tradicional, correspondendo a uma
relação entre doador e beneficiário, entre mestre e aluno. Em vez disso, as maiores
oportunidades, nas quais a cooperação Sul-Sul oferece vantagens comparativas
especiais, residem em esforços conjuntos para resolver problemas, muitos deles
ainda sem solução, comuns aos países em desenvolvimento, ou pelo menos a alguns
deles. Desse ponto de vista, é bem possível que a cooperação técnica seja necessária
não apenas nas áreas costumeiras de indústria, agricultura, saúde, educação etc.,
mas também (como tem ocorrido no programa do UNDP na Colômbia) para
acompanhar o surgimento da moderna democracia participativa e as mudanças
profundas que estão ocorrendo no que diz respeito ao papel e à estrutura do Estado
e da sociedade civil. Se tal política surgir, haverá razões para crer que as fontes
oficiais de financiamento de assistência técnica internacional- mesmo que reduzida
ao nível de conta-gotas - não secará no futuro próximo .
Referências Bibliográficas
ADENDO
Caso Ilustrativo
* Embora alguns dos fatos deste caso hipotético correspondam a uma situação real , o mesmo não ocorre com
outros - mas, apesar disso , ele seria plausível num contexto latino-americano .
Financiamento Oficial da Cooperação Técnica Internacional 249
Realidade: Fracasso
Quatro anos mais tarde, no início de 1991, uma missão de avaliação externa encontrou
a seguinte situação:
250 Peter Kõnz
APÊNDICE A
2688 (XXV).
A Competência do Sistema de Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas
A Assembléia Geral,
tendo considerado as partes dos relatórios do Conselho Diretor do Programa de Desen-
volvimento das Nações Unidas em sua nona 4 1 e décima 42 sessão e do Conselho Econô-
mico e Social 43 , relativamente à competência do sistema de desenvolvimento das
Nações Unidas,
levando em conta as observações e ressalvas feitas pelo Conselho Diretor do Programa
de Desenvolvimento das Nações Unidas em sua décima sessão 44 e pelo Conselho
S
E conônuco eSo ' I em sua quadragésima
cial drazé . nona sessao,- 45
observando que algumas questões permanecem por ser dirimidas no contexto do exame
deste assunto,
1. Aprova as disposições relativas ao Programa de Desenvolvimento das Nações .
Unidas contidas no anexo à presente resolução e declara que tais disposições se
aplicarão às atividades do Programa a partir de 1ºQ de janeiro de 1971, levando em
conta as medidas de transição nessas disposições;
2. Solicita que o Conselho Diretor do Programa de Desenvolvimento das Nações
Unidas prepare, para exame pela Assembléia Geral em sua vigésima sexta sessão,
se possível, uma versão preliminar de um estatuto geral para o Programa, incorpo-
rando as cláusulas contidas no anexo à presente resolução, bem como as cláusulas
apropriadas de resoluções passadas a respeito do Programa.
41. Official Records of the Economic and Social Council, Forty-ninth Session, Supplement Nº 6 (E/4782),
capítulo VI.
42. Idem, Supplement Nº 6A (E/4884/Rev.l), Capítulo V.
43. Official Records of the General Assembly, Twenty-fifth Session, Supplement Nº 3 (A/8003 e Corr.l),
Capítulo X, Seçáo A .
44. Official Records of the Economic and Social Council, Forty-ninth Session, Supplement Nº 6A
(E/4884/Rev.l), Capítulo V, Parágrafos 95-106.
45. Idem ., Forty-ninth Session, da 1702ª à 1714ª reuniáo .
254 Peter Kõnz
ANEXO DO APÊNDICE A
A. Princípios Gerais
2. A programação nacional do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas cobre a
programação de sua assistência em nível de cada país. Envolve a identificação do papel
das contribuições do Programa em áreas determinadas e segundo os objetivos de
desenvolvimento do país.
3. A programação nacional será usada como um instrumento para obter a utilização
mais racional e eficiente dos recursos disponíveis ao Programa para suas atividades,
com a finalidade de conseguir o maior impacto possível sobre o desenvolvimento
econômico e social do país em desenvolvimento em questão.
4. A programação nacional se baseará em planos nacionais de desenvolvimento de cada
país ou, quando esses planos não existirem, em prioridades ou objetivos nacionais de
desenvolvimento.
5. É reconhecido que o governo do país em questão tem exclusiva responsabilidade
pela formulação de seu plano nacional de desenvolvimento ou de suas prioridades
e objetivos. Cada país em desenvolvimento deve receber, a seu pedido, assistência
das Nações Unidas, incluindo as comissões econômicas regionais e o Escritório
Econômico e Social das Nações Unidas em Beirute, no campo geral do planejamento
e das ' agências especializadas em planejamento setorial.
6. A programação da assistência do Programa será efetuada em cada país no contexto
de cifras indicativas de planejamento representando uma ordem de magnitude dos
recursos que se espera estarem disponíveis junto ao Programa durante o período do
programa nacional.
7. O programa nacional, com base em planos, prioridades ou objetivos nacionais de
desenvolvimento e nas cifras indicativas de planejamento, será elaborado pelo
governo do país beneficiário em colaboração, num estágio apropriado, com repre-
sentantes do sistema das Nações Unidas, estes últimos sob a liderança do repre-
sentante residente do Programa; deve coincidir, quando apropriado, com o período
coberto pelo plano nacional de desenvolvimento do país. A elaboração do programa
nacional deve envolver:
Financiamento Oficial da Cooperação Técnica Internacional 255
(a) uma identificação ampla das necessidades que decorrem dos objetivos do país em
setores específicos, no contexto de seus objetivos gerais de desenvolvimento, e que
poderiam ser atendidas adequadamente pela assistência do Programa;
(b) uma indicação tão precisa quanto possível das contribuições internas, das contri-
buições do Programa e, sempre que possível, de outras contribuições das Nações
Unidas para o atendimento dessas necessidades;
(c) uma lista preliminar de projetos, a ser posteriormente revista, para financiamento
pelo Programa na implantação do programa nacional.
8. O programa nacional de assistência deve apoiar atividades que estejam relacionadas
de maneira significativa com os objetivos de desenvolvimento do país. Isto quer
dizer que a assistência proporcionada representa um programa que extrai sua
coerência e seu equilíbrio de sua relação com esses objetivos nacionais.
9. No processo de programação nacional, devem ser feitos esforços em todos os níveis
para coordenar todas as fontes de .assistência no sistema das Nações Unidas, com a
finalidade de alcançar a integração da assistência em nível do país .
10. Caberá ao governo levar em conta, ao elaborar o programa nacional, outras contri-
buições externas, tanto multilaterais quanto bilaterais .
11. O representante residente transmitirá o programa do país ao Administrador do Progra-
ma, o qual, por sua vez, o submeterá, com suas recomendações, ao Conselho Diretor
para seu exame e sua aprovação. A aprovação cobrirá todo o período do programa , com
previsão para revisões periódicas tendo em vista possíveis ajustes. Com a anuência do
país interessado, o Administrador, ao submeter o programa nacional para exame e
aprovação, chamará a atenção do Conselho Diretor para detalhes de qualquer outro
programa correlato de assistência das Nações Unidas.
12. A assistência do Programa deve ser suficientemente flexível para atender às neces-
sidades imprevistas de países beneficiários ou situações excepcionais que os pro-
gramas nacionais não poderiam ter levado em conta.
2 6. Os projetos sub-regiona is, regi onai s e inter-regio na is , p arti cularmente aqueles con-
ceb idos por p aíses interessad os para ac el erar o p ro cesso de integração econômica
e social e p ar a pr omo ver outras fo rm as de coo pe ração regi onal e sub-regional , terão
p rio rida de em rel açã o aos recurso s de progr am aç ão para grupos de países. Em
se g ui da, e m o rde m d e pri orida de , v irão os projet os globais. Dependendo de revisão
pe lo Con selh o D ir et or de temp os em tempos , o montante a se r alocado a projetos
g lo b ais nã o de v e exce de r 1 % dos rec ursos líquido s disponíveis para programação.
27. S erá preci so faze r provis õe s de recu rsos pa ra necessidade s inesperadas, para atender a
necessi da des es peci ais dos meno s desen volvid os dentre os países em desenvolvimento
e p ar a fina nc iar pro j et os imprevistos ou fas es ines pe ra das de projetos, particularmente
os projetos do tipo Ser viços In dustria is Es pec iais, qu e poderiam exercer um papel de
cata lisa do r no desen vol viment o eco nô mico do p aís envolvido . Na décima primeira
sessão do Conse lho D iret or , o Admini stra dor fará propo stas quanto à maneira pela qual
serão co loc ados à di sp osi ção os recu rsos necessári os para atender a tais demandas, bem
co mo pa ra ma nter sob os mecani sm os existente s o programa de Serviços Industriais
Especiais pe lo menos em ní vel at ual.
B. Responsabilidade do Administrador
37. Além das responsabilidades a serem delegadas a ele pelo Conselho Diretor, o
Administrador será integralmente responsável e prestará contas ao Conselho Diretor
por todas as fases e todos os aspectos da implantação do Programa.
C. Papel dos Organismos das Nações Unidas na Implantação dos Programas Nacionais
38. O papel dos organismos do sistema das Nações Unidas na implantação dos progra-
mas nacionais deve ser o de parceiro, sob a liderança do Programa, num empreen-
dimento comum de todo o sistema das Nações Unidas. Seu assessoramento deve
estar disponível ao Administrador na implantação de todos os projetos, quando
apropriado , sejam eles executados por esses organismos ou não .
cias que precisem ser tomadas, em todos os estágios de um projeto, para garantir
um acompanhamento eficaz, incluindo um investimento de reforço. Ficará a critério
do governo buscar assistência sob a forma de investimento de todas as fontes
disponíveis. Nenhuma fonte de financiamento a investimento de reforço deverá ser
encarada como a única aceitável, ou como uma fonte com preferência sobre outras .
O Administrador assumirá responsabilidade integral, dentro do sistema das Nações
Unidas, como sua principal fonte de financiamento de pré-investimento, pelo for-
necimento de assistência e assessoramento em nome do sistema das Nações Unidas
no que se refere a investimento de reforço, com a anuência do governo. O Programa
desenvolverá sua capacitação nesta área para assegurar, em comunicação com o
governo , a coordenação mais rápida possível, desde o estágio de planejamento, com
as fontes bilaterais e/ou multilaterais possíveis de financiamento de projetos que
exijam investimento de reforço.
56. O Conselho Diretor reconhece sua responsabilidade pela formulação de políticas, pela
determinação das prioridades do Programa e pela revisão da implantação tanto em
termos de planejamento quanto de execução. As decisões do Conselho quanto à
programação nacional e sua implantação têm implicações organizacionais importantes.
O enfoque de programação nacional implica que o Administrador seja totalmente
responsável pela gestão de todos os aspectos do Programa. Ao mesmo tempo, será
necessário promover, no âmbito do programa, uma maior descentralização da respon-
sabilidade por programação e implantação, desde a administração central até o nível
de cada país. A aplicação do duplo princípio da responsabilidade integral do Adminis-
trador pelo Programa e da descentralização em nível de cada país exigirá algumas
Financiamento Oficial da Cooperação Técnica Internacional 263
lidade total e geral pelo programa no país envolvido, e seu papel em relação aos
representantes de outros organismos das Nações Unidas, quando são designados com
a anuência do governo interessado, deve ser o de líder da equipe, levando em conta a
competência profissional desses organismos das Nações Unidas e suas relações com os
órgãos apropriados do governo. Esse papel de liderança e responsabilidade geral deve
estender-se a todos os contatos com as autoridades governamentais ligadas ao Progra-
ma, em relação ao qual ele deverá ser o principal canal de comunicação entre o
Programa e o governo. O diretor residente deverá ter a autoridade de última instância,
em nome do Administrador, no que se refere a todos os aspectos do programa no nível
do país e deverá, sujeito à concordância dos organismos envolvidos, ser a autoridade
coordenadora central, em nome desses organismos, dos outros programas de assistência
ao desenvolvimento do sistema das Nações Unidas. Nesse sentido, solicita-se aos
organismos das Nações Unidas que assegurem que os diretores residentes do Programa
sejam consultados quanto ao planejamento e à elaboração de projetos de desenvolvi-
mento com os quais esses organismos estejam envolvidos, e que recebam relatórios de
andamento desses projetos, tal como foi determinado pelo Conselho Econômico e
Social na Resolução 1453 (XLVII) de 8 de agosto de 1969 .
64. A criação de novos escritórios de campo e a ampliação dos escritórios existentes
devem depender do volume de atividades do Programa em cada país e devem ser
feitas levando-se na devida conta a necessidade de economia. No fortalecimento
dos escritórios de campo, deve ser dada prioridade ao aproveitamento do pessoal
existente.
65. O Conselho Consultivo Interorganismos deve continuar a ser o fórum de consulta e
coordenação entre organismos do sistema no que se refere ao Programa. Entretanto,
o Conselho deve promover uma revisão completa de suas funções básicas, de seus
métodos de trabalho e de suas relações com o Conselho Diretor à luz do novo
sistema de programação nacional da assistência do Programa e da necessidade de
implantação eficiente dos programas nacionais.
Financiamento Oficial da Cooperação Técnica Internacional 265
APÊNDICE B
O Conselho Diretor
1. Decide manter, para o quinto ciclo de programação, um período de planejamento
de cinco anos, cobrindo os anos 1992-1996, inclusive, e promover uma revisão
preliminar em 1994 abrangendo:
a) os aspectos de planejamento para todo o ciclo;
b) os recursos disponíveis e a gestão financeira do quinto ciclo de programação ;
2. Também decide que, para fins de planej amento futuro, supõe-se uma taxa anual de
crescimento das contribuições voluntárias totais de 8%;
3. Decide ainda aplicar a taxa de crescimento das contribuições voluntárias, de 8%,
para o quinto ciclo de programação sobre uma base de 1 bilhão de dólares em 1991 ;
4. Reafirma a responsabilidade exclusiva do governo do país beneficiado pela formulação
de seus planos, prioridades ou objetivos nacionais de desenvolvimento, ressaltando que
a integração das atividades operacionais do sistema das Nações Unidas com os planos
e objetivos nacionais aumentará o impacto e a relevância dessas atividades;
5. Reafirma também que os planos e as prioridades nacionais constituem o único
sistema de referência viável para a programação nacional de atividades operacionais
das Nações Unidas voltadas para o desenvolvimento;
6. Ressalta que, para se conseguir autonomia nos países em desenvolvimento através
da construção e do fortalecimento de suas capacitações, o Programa de Desenvol-
vimento das Nações Unidas deve promover o desenvolvimento humano;
7 . Decide que o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas deve focalizar seus
esforços na direção da construção e do fortalecimento da capacitação nacional nas
seguintes áreas:
a) erradicação da pobreza e participação dos cidadãos no desenvolvimento;
b) problemas ambientais e gestão de recursos naturais;
c) desenvolvimento gerencial;
d) cooperação técnica entre países em desenvolvimento;
e) transferência e adaptação de tecnologia para o desenvolvimento;
f) ampliação do papel das mulheres no desenvolvimento;
8. Decide que a ampliação e o fortalecimento de capacitação nessas áreas deve receber
prioridade nos programas do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas,
incluindo as cifras indicativas de planejamento de programas para grupos de países,
e que os Recursos de Programas Especiais sejam usados para fortalecer e comple-
mentar atividades financiadas através das cifras indicativas de planejamento por
país, que devem ser parte integrante dos programas nacionais e levando-se inteira-
mente em conta a diversidade de necessidades de países e regiões;
266 Peter Kônz
b) o cociente entre critérios básicos e auxiliares que será usado nas cifras indicativas
de planejamento será de 75 a 25;
21. Decide que os seguintes critérios auxiliares, com seus respectivos pesos, serão
aplicados para qualquer país:
a) inclusão na lista de países designados como menos desenvolvidos dos países em
desenvolvimento ou , por decisão do Conselho Diretor, designados para serem
tratados como se tivessem sido incluídos nessa lista: 7 pontos;
b) é um país sem acesso ao mar: 1 ponto;
c) é uma ilha: 1 ponto;
d) tomou-se independente desde 1985: 1 ponto;
e) é um Estado pobre do Sul da África: 1 ponto;
f) sofre de dificuldades agudas em termos ecológicos ou geográficos, ou é suscetível
a desastres naturais: 2 pontos;
g) é classificado pelo Banco Mundial como um país altamente ou moderadamente
endividado, de renda baixa ou média: 2-4 pontos;
h) teve uma deterioração continuada de seus termos de troca, medida por um declínio de
mais de 10% em pelo menos dois anos do período de três anos 1986-1988: 1 ponto;
i) sofreu um declínio de Produto Nacional Bruto per capita de mais de 30% entre
ciclos (1983-1989): 1 ponto;
j) sua economia está em transição, ou exigiu empréstimos para ajuste estrutural do
Banco Mundial durante o quarto ciclo (1987-1991): 1 ponto;
22. Decide que o montante alocado para cada ponto complementar atribuído deve ser
formado por uma parte fixa, à base de 25%, e por uma parte variável de 75%, esta
última diretamente correlacionada ao montante da cifra indicativa de planejamento
calculada de acordo com os critérios básicos;
23. Decide utilizar dados do Banco Mundial sobre população e Produto Nacional Bruto
per capita para o ano de 1989 no cálculo das cifras indicativas de planejamento para
países individuais; nos casos em que esses dados não estejam disponíveis, o Admi-
nistrador deverá fazer e usar as melhores estimativas disponíveis, levando em conta
estimativas fornecidas pelo Departamento de Estatística das Nações Unidas, bem
como estimativas obtidas junto a outras fontes, que tenham sido feitas de maneira
compatível com a metodologia usada pelo Banco Mundial;
24. Decide que cifras indicativas de planejamento regional sejam estabelecidas em
proporção às cifras indicativas de planejamento totais para países individuais em
cada região;
25. Decide que:
a) um máximo de 15 pontos complementares pode ser dado a qualquer país;
b) os critérios auxiliares devem ser limitados a não mais de 50% do produto da
aplicação dos critérios básicos a qualquer país, com exceção dos menos desenvol-
vidos, caso em que vale o máximo de 100%;
Financiamento Oficial da Cooperação Técnica Internaciona l 269
26. Decide que a cifra indicativa de planej amento para mo vimento s de liberta çã o
nacional sej a estipulada em 12 milhões de dólares, tend o, co mo ben efi ci ári os, o
Congresso Nacional Africano e o Congresso Pan-Africano ;
27. Decide fixar em 7 milhões ' de dólares a cifra indicativa d e pl ane j am ento p ara a
cooperação de áreas de arquipélagos , a ser divid ida igualment e ent re o Carib e e as
ilhas do Pacífico;
28. Decide fixar em 1,656 milhão a cifra indicativa de planejamento para a Repúbli ca
Federal Tcheca e Eslovaca;
29. Decide também que a República Federal Tcheca e Eslova ca se j a inclu íd a en tre os
países com direito a uma cifra indicativa de planej am ento p ara o qu in to ciclo de
programação;
30. Decide que a cifra indicativa de planejamento para a Repúbli ca do Iêm en no qu in t o
ciclo seja não inferior às cifras indicativas de planejam en to co mbin adas d a Repú-
blica Popular do Iêmen e do Iêmen no quarto ciclo ;
31. Decide que países com um Produto Nacional Bruto per capita em 1989 abai xo d e
750 dólares, e países situados em pequenas ilhas , com uma populaçã o de n o máxim o
2 milhões de habitantes, e um Produto Nacional Bruto per cap ita ent re 75 0 e 1500
dólares, recebam uma complementação , se neces sário , às suas cifras indi cati vas de
planejamento para o quinto ciclo de programação , de modo qu e receb am não m en os
do que 100% de suas cifras indicativas de planejamento individuais no quarto ciclo ,
como foi determinado pelas decisões 85/16 de 29 de junho d e 1985 , 88 /3 1 de 1Q de
julho de 1988, e 90/3 de 23 de fevereiro de 1990;
32. Decide que países com um Produto Nacional Bruto per capita em 19 89 ent re 750 e
1500 dólares, e países situados em pequenas ilha s, com uma populaçã o de n o
máximo 2 milhões de habitantes, e um Produto Nacional Bruto p er capita entre 1500
e 3000 dólares, recebam uma complementação , se ne ces sário, às su as cifras indi c a-
tivas de planejamento para o quinto ciclo de programação , de modo qu e rec ebam
não menos do que 90% de suas cifras indicativas de planejamento indi viduai s n o
quarto ciclo, como foi determinado pelas decisões 85/16 de 29 de junho d e 19 85 ,
88/31 de 1ºQ de julho de 1988 e 90/3 de 23 de fevereiro de 1990 ;
33. Decide que países com Produto Nacional Bruto per capita entre 1500 e 30 00 dól ar es
em 1989, e países situados em pequenas ilhas com popula çã o in ferior a 2 milh õ es,
e com um Produto Nacional Bruto per capita em 1989 entre 3000 e 4200 dól ares,
recebam uma complementação , se necessário , às suas cifra s indicati v as de planej a-
mento para o quinto ciclo de programação , de modo que não recebam meno s de 80 %
de suas cifras indicativas individuais de planejamento para o quarto ciclo , conform e
as decisões 85/16 de 29 de junho de 1985, 88/31 de 12 de julho de 19 88 e 90 /3 de
23 de fevereiro de 1990;
34. Decide rever a questão de contribuinte líquido em su a trig ésima oitava sessão
(1991);
35. Convida o Administrador, em antecipação ao sexto cicl o de programa çã o, a ap re -
sentar propostas ao Conselho Diretor em sua trigésima oitav a sessã o (199 1) par a a
270 Peter Kõnz
revisao dos pesos dados ao Produto Nacional Bruto per capita e à população,
levando em conta:
a) o aumento do peso para países menos desenvolvidos e países de renda menor na
ponderação do Produto Nacional Bruto per capita;
b) a redução do peso para população maior;
36. Decide rever, em sua sessão especial de fevereiro de 1991, os montantes específicos
para programas dos Recursos de Programas Especiais com base nas propostas do
Administrador feitas no documento DP/1990/43 e outras propostas feitas durante a
trigésima sétima sessão do Conselho Diretor, segundo a lista anexada à presente
decisão;
37. Autoriza o Administrador, em relação a uma possível revisão para cima de cifras
indicativas de planej amento durante o ciclo, a aumentar essas cifras em bases
proporcionais, caso os recursos assim o permitam;
38. Decide que, se o crescimento de recursos no quinto ciclo for insuficiente para cobrir
as cifras indicativas de planej amento, o Administrador deverá reduzir as cifras
indicativas de planejamento e os Recursos de Programas Especiais em bases pro-
porcionais;
39. Conclama o Administrador:
a) a consultar os organismos do sistema das Nações Unidas quanto à viabilidade e à
possibilidade de introdução, em todo o sistema, dos Direitos Especiais de Saque
como unidade de conta;
b) neste sentido, a convidar o Diretor Geral de Desenvolvimento e Cooperação Eco-
nômica Internacional a assumir um papel ativo nessa revisão, em vista de suas
implicações para o sistema como um todo;
c) Fornecer uma indicação preliminar e ampla do custo potencial existente para o
. Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas em conseqüência da introdução
dos Direitos Especiais de Saque como unidade de conta;
d) Fazer um relato ao Conselho Diretor, em sua trigésima oitava sessão (1991), sobre
o resultado de suas consultas com os organismos das Nações Unidas e suas análises
sobre as implicações em termos de custo da introdução dos Direitos Especiais de
Saque.
Financiamento Oficial da Cooperação Técnica Internacional 271
ANEXO DO APÊNDICE B
Categoria
Mitigação de Desastres Naturais
apoio de emergência;
reconstrução e recuperação;
gestão de regiões afetadas ;
refugiados e pessoas deslocadas .
Coordenação de ajuda - avaliação e programas nacionais de cooperação técnica (NAT-
CAPs), mesas-redondas, coordenação de campo etc.
NATCAPs, mesas-redondas e apoio do UNDP a reuniões do Grupo Consultivo;
outras - por exemplo, avaliação de necessidades, revisões de programas de países;
atividades de coordenação de campo (novas).
Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento
Desenvolvimento de Programas
unidade de Desenvolvimento de Projetos;
avaliação de programas/treinamento;
pesquisa de programas
novas iniciativas/enfoques inovadores, incluindo desenvolvimento do setor priva-
do.
Atividades Temáticas
Relatório de Desenvolvimento Humano
iniciativas de programação nacional;
novas atividades temáticas:
redução da pobreza;
desenvolvimento da gestão ambiental;
controle do consumo de drogas/substituição de culturas
agrícolas;
Aids.
272 Peter Kônz
11
Total dos Recursos para Programas de Campo 4476 100% 4476 100%
IPFs para países e grupos de países 4163 93,0% 4163 93,0%
IPFs para países 3447 77,0% 3585 80,1%
IPFs para grupos de países 716 16,0% 578 12,9%
· Reg ionais 537 12,0% 399 8,9%
· Inter-regionais 67 1,5% 67 1,5%
· Globais 112 2,5% 112 2,5%
Recursos de Programas Especiais 313 7,0% 313 7,0%
Total dos Recursos do Quinto Ciclo 6501 6501
I. INTRODUÇÃO
3. Personalidade Internacional
Ao se constituírem em "entes de aspecto estável" , as organizações internacio-
nais, adquirem personalidade jurídica internacional independente da de seus
membros.
tação d e m ed id as pr átic as para a apl ica ção de tai s in for mações, adaptação da
tecnolog ia ex is te nte e de senvol vim ento da nova tecnol ogi a adaptada , espe-
cialm en te par a as condiçõ es particul ares fís ica , social e econ ômica de cada
p aís em des envolv im ento , atrav és do es tabelec imento e aperfeiçoamento ,
inter alia , de cen tros de pe squisa tecn ol ógi ca ness es países ;
assis tência, a pedi do dos gov ern os em des en volv iment o , na formulação de
programa de des en volv im en to indu stri al e na pr ep ar ação de projetos espec i-
ficamente indu stri ais, incluindo , se necessár io , estudos exeqüíveis técnicos
e econômico s;
coop er ação co m as comissões eco nô micas reg ionais e o Escritório So ci al e
Econômico das Nações Unid as em Beiru te na assistência do planejamento
regional de d es en v ol v im en to indu strial do s p aís es em des env olv im ento,
dentro da estrutur a do s agrupam ento s eco nô m icos regi onais e s ub - regiona is
entre os p aí s es onde tai s agrup am entos ex is ta m;
faz er rec omen dações , em con exão com os objetivos mencionados no item
anterior, sob re m ed idas especi ai s p ar a ada ptação e coor denação das medidas
a do ta das de m an ei ra que, particul arm en te, os m enos ad iantados dos países
em de s envolvim en to receba m fort e impul so em seu c rescimento;
oferecer con selh o e orie ntação , em íntim a co la bo ração co m os ó rgãos ade -
quado s das N aç õ es Unidas - ag ênci as es pec ializadas e Agênc ia I nte rnaciona l
de Energi a Atômic a - nos problemas rel ati vos à exploração e uso apropriado
dos recurso s natur ais, m atéria- p rima indust ri al, subpro dutos e novos produ -
tos dos p aí ses em desen v olv imento, co m vis tas a incremen tar sua produ tivi -
dad e industrial e con trib uin do p ar a a di v er sifi cação de suas eco no mias ;
assistir o s p aí ses em desen vol vi m ento no trein o técn ico e o utras ca tegorias
ap rop ria das d e p esso al necessário par a o se u des envolvim ento indust ria l
ac ele rado, em coop er ação com as agê nc ias es pecializadas concerne ntes;
propo r, em col ab or ação com os órgãos inte rnac io nais ou regio na is inte rgo -
vernamentais re la tiv os à propriedad e indu strial , m ed idas pa ra o aperfeiçoa-
mento do sistem a intern aci on al da propried ad e indu stri al, visa ndo acele ra r a
transferência da habilid ad e técn ica pa ra os p aí s es em des en v ol vim ento,
for tifican do o s privi légi os ligado s aos int er ess es naci on ais co mo in cen t iv o a
inovações industri ai s ;
dar assi st ênci a, a p ed ido do s go v ern os dos país es em des envo lv im ento, para
a obtenção de fina ncia m ento externo destin ad o a pr oj et os especifica men te
industriais, or ientando a pr ep aração de p edido s, fo rnecendo info r mações
288 Antônio Paulo Cachapuz de Medeiros
tico da América Latina e da região como um todo até a análise e avaliação das
diversas políticas e estratégias de desenvolvimento que se aplicam aos diversos
países latino-americanos.
Em matéria de projeção econômica, suas atividades têm como prioridades:
a preparação, como atividade permanente, das avaliações e estudo das perpec-
tivas a médio e longo prazos do processo de desenvolvimento econômico e
social, a fim de assistir os governos nos problemas enfrentados e na definição
de políticas mundiais, regionais e nacionais, além de proporcionar aos órgãos
centrais da ONU visão regionalizada dos problemas da economia mundial;
apoio técnico aos governos mediante informações quantitativas baseadas nas
projeções e estudos das perspectivas econômicas, sociais e demográficas a
longo prazo.
No que diz respeito ao comércio internacional, a CEP AL concentra suas atividades
na análise e avaliação das negociações econômicas internacionais, investigações e
estudos sobre o sistema monetário internacional e problemas de financiamento. Esta
atividade tem como finalidade estabelecer uma nova ordem econômica internacio-
nal e criar vínculos de cooperação econômica entre os países da mesma região e
entre as regiões.
Em matéria de desenvolvimento social e assuntos humanitários, a CEP AL dedi-
ca-se à análise das relações entre as regiões e mudanças sociais na América
Latina; a integração da mulher no desenvolvimento sócio-econômico; o estudo
do fenômeno da expansão urbana com o declínio da agricultura e das zonas
rurais; as migrações internas e o progresso industrial.
O programa relativo à população e ao desenvolvimento se destina a analisar as
tendências e estatísticas demográficas da população, viabilizando a avaliação da
situação dos países e da região. Também são feitos estudos relativos à mortali-
dade infantil e à migração internacional latino-americana.
As atividades realizadas relativas às empresas transnacionais concentram-se na
investigação dos produtos de exportação, no exame do papel dos bancos transa-
cionais e do financiamento externo aos países latino-americanos e no estudo
sobre a presença e repercussão dessas empresas nos países da região.
O programa de trabalho relacionado com transporte visa à promoção de coope-
ração técnica entre os países da América Latina em tarefas como intercâmbio de
experiências em matéria de transporte urbano maciço de passageiros e planifi-
cação integrada dos transportes.
As atividades desenvolvidas pela CEPAL no campo da alimentação e agricultura
292 Antônio Paulo Cachapuz de Medeiros
Fundo, constituídos por cotas de subscrição dos membros, são utilizáveis para
esse fim. Dentro de certos limites e com certas condições, um Estado-membro
tem direito - em troca de entregas de sua própria moeda - de retirar do Fundo
as quantidades em moeda estrangeira de que necessitar para pagamentos. A
Diretoria Executiva tem poderes para dispensar algumas condições restritivas,
levando em conta as necessidades periódicas ou excepcionais do Estado-mem-
bro, assim como os respectivos antecedentes. A decisão do FMI baseia-se em
detalhado exame da situação do país que solicita ajuda financeira.
Entre os objetivos do Fundo também se inclui a eliminação das restrições de
câmbio , que impedem o desenvolvimento do comércio mundial.
Há muitos aspectos que diferenciam o FMI de outras organizações internacio-
nais, mas sobressaem a estrutura administrativa e o processo decisório. A estru-
tura do Fundo assemelha-se mais à de uma grande corporação financeira do que
à de uma organização internacional. No âmbito decisório, existem medidas que
só podem ser deliberadas definitivamente pelos Estados-membros, porém as
decisões concernentes à rotina operacional são tomadas por altos funcionários,
reunidos em dois órgãos: Junta de Governadores e Diretoria Executiva. Compete
à Diretoria Executiva escolher o Diretor-Gerente, que conduz a administração
do Fundo. Distinção marcante do FMI das demais organizações internacionais
reside na distribuição de poder entre os membros. Enquanto no processo decisó-
rio da maioria das organizações cada Estado tem um voto, no FMI o peso do voto
varia de acordo com o número de cotas que cada Estado possui.
Ao ser admitido no FMI, o Estado passa a ser detentor de determinado número
de cotas, calculado segundo sua importância nas relações econômicas e monetá-
rias internacionais. Essas cotas determinarão seus direitos de voto no organismo.
Os maiores cotistas - Estados Unidos da América, Reino Unido, Alemanha,
França e Japão - dispõem, assim, de extraordinário poder decisório no FMI.
Além de propósitos gerais, como promover a cooperação monetária internacio-
nal, facilitar a expansão e o crescimento equilibrado do comércio internacional
e promover a estabilidade cambial, o Fundo Monetário busca inspirar confiança
nos Estados-membros, pondo recursos temporariamente a sua disposição me-
diante garantias adequadas, dando-lhes, assim, possibilidade de corrigir desequi-
líbrios nas suas balanças de pagamentos.
Nos termos do Convênio Constitutivo, o Fundo adotará políticas relativas à utiliza-
ção de seus recursos gerais e poderá adotar políticas para problemas especiais de
balança de pagamentos que ajudem os membros a resolver essas dificuldades de
modo compatível com o Convênio, estabelecendo garantias adequadas.
As Organizações Internacionais e a Cooperação Técnica 295
para tanto, pode exercer todas as atribuições que lhe tenham sido delegadas pela
Assembléia de Governadores.
O Presidente, representante legal da instituição, é eleito pela Assembléia de
Governadores, com mandato de cinco anos.
o conteúdo das linhas anteriores deste trabalho evidencia que as ações dos
organismos internacionais no terreno da cooperação técnica, com vistas à pro-
moção do progresso sócio-econômico de seus Estados-membros, têm-se desen-
volvido principalmente no âmbito da Organização das Nações Unidas ou, pelo
menos, à sombra desta.
A concessão de assistência técnica pelas organizações internacionais aos países
em processo de desenvolvimento se insere em um projeto de maior alcance, em
andamento nas relações entre os Estados, que consiste na tentativa de instaurar
uma Nova Ordem Econômica Internacional.
A origem remota dessa nova ordem está na Resolução 1710 (XVI) da Assembléia
Geral da ONU, de 19 de dezembro de 1961, que instituiu o Decênio das Nações
Unidas para o Desenvolvimento .
Essa resolução recebeu impulso mais forte com a aprovação pela Assembléia Geral
de uma Estratégia Internacional para o Desenvolvimento, fixando metas para o
Segundo Decênio das Nações Unidas para o Desenvolvimento, iniciado em 1971.
Em 25 de janeiro de 1974, o Secretário- geral da ONU convocou reunião extraor-
dinária da Assembléia Geral, objetivando fazer com que esta, discutindo a
problemática dos recursos naturais do mundo, com recomendações para sua
adequada utilização, sugerisse melhor justiça social nas relações internacionais.
A Assembléia Geral terminou por aprovar, então, uma Declaração e um Progra-
ma de Ação para o estabelecimento de uma Nova Ordem Econômica Internacio-
nal, através das Resoluções 3.201 (s.VI) e 3.202 (s.VI), respectivamente.
As resoluções da Assembléia Geral mencionam, pela primeira vez, a necessidade
da adoção de uma Carta de Direitos e Deveres Econômicos dos Estados, a servir
como instrumento para constituir um sistema de relações econômicas internacio-
nais baseado na eqüidade, igualdade soberania e interdependência de interesses
dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, e de um Código Internacional
de Conduta para a Transferência de Tecnologia que melhor corresponda às
necessidades e condições dos países em desenvolvimento.
A Carta de Direitos e Deveres Econômicos dos Estados foi aprovada pela Assem-
bléia Geral da ONU a 12 de dezembro de 1974, através da Resolução 3.281 (XXIX) .
As Organizações Internacionais e a Cooperação Técnica 313
1) Cada Estado tem o direito de ter parte nas vantagens do progresso e das inovações
da ciência e da técnica para acelerar seu desenvolvimento econômico e social.
2) Todos os Estados devem promover a cooperação internacional em matéria de
ciência e tecnologia, assim como a transmissão de tecnologia, tendo em devida
conta todos os interesses legítimos, inclusive , entre outros , os direitos e deveres dos
titulares, dos fornecedores e dos beneficiários das técnicas. Em particular, todos os
Estados devem facilitar: o acesso dos países em processo de desenvolvimento às
realizações da ciência e da técnica moderna, a transferência das técnicas e a criação
de tecnologia autóctone em benefício dos países em desenvolvimento, segundo
formas e procedimentos que sejam adaptados à sua economia e necessidades.
3) Em conseqüência, os países desenvolvidos devem cooperar com os países em
desenvolvimento no estabelecimento, fortalecimento e aperfeiçoamento de suas
infra-estruturas científicas e tecnológicas e em suas pesquisas científicas e ativida-
des tecnológicas, de modo a ajudar a expandir e transformar as economias dos países
em desenvolvimento.
4) Todos os Estados devem cooperar na pesquisa com vistas ao desenvolvimento de
diretrizes ou regulamentações aceitas internacionalmente para a transferência de
tecnologia, tendo em devida conta os interesses dos países em desenvolvimento.
(art. 13º).
A Carta, embora não seja um tratado que gere direitos e obrigações para os
signatários, consiste em um documento internacional de indiscutível importân-
cia, tendo como objetivo fundamental melhorar a situação dos povos menos
favorecidos na estrutura do comércio mundial e na divisão internacional do
trabalho.
314 Antônio Paulo Cachapuz de Medeiros
Para melhor conhecimento acerca dos aspectos gerais das organizações, o leitor
deve recorrer a Mello (1986), Vasques (1974) e Colliard (1978).
Amplo e atualizado panorama da estrutura e das funções da Organização das
Nações Unidas encontra-se em Bennett (1984), enquanto Flory (1977) estuda
minuciosamente a cooperação técnica internacional para o desenvolvimento .
Os acordos internacionais de cooperação técnica são examinados por Detter
(1965) e a Carta dos Direitos e Deveres Econômicos dos Estados está analisada
em detalhes por Castaneda et alii (1978).
Os aspectos jurídico-internacionais da transferência de tecnologia são abordados por
POTIua (1983). Finalmente, o texto dos convênios constitutivos das principais organi-
zações internacionais mencionadas neste trabalho estão contidos em Peixoto (1971).
XI. CONCLUSÕES
Referências Bibliográficas
Livros
BENNETI, A. LeRoy. International Organizations - Principles and Issues. 3. ed. New Jersey,
Prentice-Hall, 1984, 498 p.
BOUHACENE, Mahfoud . Droit international de la coopération industrielle. Paris, Publisud,
1982,424 p.
CARREAU, Dominique et alii . Droit international économique. Paris, Librairie Générale de Droit
et de Jurisprudence, 1978,513 p.
CASTANEDA, Jorge et alii. Justiça Econômica Internacional. Rio de Janeiro, Eldorado, 1978, 282 p.
CAVALCANTI, Themístocles Brandão et alii. As Nações Unidas e os Problemas Internacionais.
Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1974,229 p.
COLLIARD, Claude-Albert. Instituciones de Relaciones Internacionales. México, Fondo de
Cultura Economica, 1978, 852 p.
DETIER, Ingrid. Law Making by International Organizations. Stockolm, P.A. Norstedt & Sõners
Fõrlag, 1965,353 p.
FLORY, Maurice. Droit international du dévéloppement. Paris, Presses Universitaires de France,
1977, 302 p.
JONES, Charles A. The North-South Dialogue: A Brief History. New York, St. Martin's Press,
1983,153 p.
As Organizações Internacionais e a Cooperação Técnica 319
MARINHO, Ilmar Penna. Novos Horizontes do Direito Internacional. Brasília, Horizonte, 1978, 198 p.
MASON, Edward S. Ajuda Estrangeira e Política Exterior. Rio de Janeiro, Presença, 1964, 124 p.
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Artigos
Fernando Chaparro
Conseqüência dessa situação, ai nda não ana lisa da sufic ientem ente, é a do custo
eco nôm ico e social que os p aíses da re gião enfr entarão a médio e longo prazos,
à medida em que a contenção do gasto públic o na formação de recursos humanos
e no campo da ciência e tecnologia lev e a uma paulatina desarticulação e
desinstitucionalização de ce nt ros e grupos de pesquisa que já haviam alcançado
certo grau de excelência e de massa críti ca nas últimas duas décadas. A solução
de problemas orçamentários a curto prazo pode gerar maior custo social a médio
e longo prazos, com a perda dess es grupos e da capacidade por eles desenvolvida.
1. A porcentagem do PIB que alguns dos países industrializados ded icam à Assistência Oficial para o
Desenvolvimento é a seguinte: Alemanha (0 ,41 %), Áustria (0,39 %), Canadá (0,47%) , Dinamarca (0,88 %),
Estados Unidos (0,21 %), França (0,50%), Holanda (0,99%), Itália (0 ,37%) , Japão (0,30%) , Reino Unido
(0,29%), Suécia (0,87%). Ver Efforts and Policies of the Members of the Development Assistance C ommlttee.
Paris, OECD, 1988.
324 Fernando Chaparro
Mundo para os da Europa Oriental. Esta pressão se faz sentir não somente nos
mecanismos de cooperação bilateral mas também no caso das fundações privadas
(como no das fundações européias) . Esse novo contexto mundial terá, portanto,
uma incidência sobre o papel que a cooperação técnica internacional desempe-
nhará no desenvolvimento científico e tecnológico da região.
Em relação a esses fatores que incidem sobre os aspectos quantitativos da
cooperação técnica internacional (em termos de volume e fluxos) , limitar-nos-
emas neste estudo à mera análise do que se apresenta nos parágrafos anteriores.
Uma análise em maior profundidade desses fatores poderá ser lie grande utilidade
na condução da cooperação técnica na região , porém tal análise vai além do
objetivo principal do presente trabalho . No restante deste artigo concentrar-nos-
emas na análise dos aspectos qualitativos do tema por nós enfocado . Isto é, como
manejar e orientar a cooperação técnica internacional de maneira a se relacionar
estreitamente com os esforços e os programas de desenvolvimento que se reali-
zam na região, tanto por parte do governo como dos organismos não-governamen-
tais de desenvolvimento . Mostra-se aqui uma análise da inserção da cooperação
técnica internacional nos programas e nas ações de desenvolvimento em nível
nacional e regional.
sua execução. Isto tem efeito colateral adverso, na medida em que tais esforços de
programação regional tendem a perder credibilidade com os grupos encarregados
de sua própria execução (institutos de pesquisa, grupos empresariais ou de produ-
tores etc.). Se se pusesse mais empenho em tomar como ponto de partida o que já
está sendo feito e procurar construir sobre as atividades para as quais já existe um
mínimo de financiamento, os esforços de programação regional produziriam resul-
tados mais práticos, ainda que conceptualmente fossem menos elaborados.
Apesar das observações anteriores, esses esforços regionais de identificação de
prioridades e de formulação de programas de cooperação têm produzido valiosa
experiência neste campo. Os diagnósticos e os esquemas conceptuais e operati-
vos por eles produzidos têm sido freqüentemente utilizados por diversas insti-
tuições e grupos de pesquisa em diferentes países da região, mesmo nos casos
em que os programas formulados não tenham sido implementados em sua globa-
lidade . Como exemplo, pode-se citar o uso que se tem dado aos manuais de
avaliação de projetos e de desagregação de tecnologia produzidos por um dos
programas tecnológicos da JUNAC. Podem-se mencionar vários exemplos como
estes. Além disso, deve-se indicar também que algumas das experiências mais
recentes na formulação de programas de cooperação regional estão buscando
claramente novos enfoques, que permitam evitar os problemas e as limitações
acima mencionados.
Uma dessas experiências é a do CnD. Não se tratando de organização intergover-
namental, esse centro tem maior flexibilidade em termos do processo que utiliza
para identificar prioridades regionais, bem como para desenvolver programas de
cooperação regional. O Cl H) vem desenvolvendo uma metodologia que procura
combinar esforços e conhecimentos de três diferentes tipos de atores sociais:
a) as políticas e os programas de desenvolvimento dos governos da região, tal
como estes se expressam nos planos de desenvolvimento e nos programas de
desenvolvimento setorial. Aqui o principal ator é constituído pelas agências
de fomento ou pelas organizações operacionais do Estado, encarregadas de
executar tais políticas;
b) redes (networks) de pesquisadores que estão trabalhando sobre o mesmo tema
em diferentes países. O Cllf) dá especial importância ao desenvolvimento
desses vínculos entre os diferentes grupos da comunidade científica regional.
De fato, essas redes (a maior parte delas de natureza informal) transformam-se
no principal elemento organizador dos programas regionais que se realizam;
c) em terceiro lugar, busca-se explicitamente integrar os "usuários" ou "bene-
ficiários" aos conhecimentos e às tecnologias geradas. Já que é impossível
Formas de Inserção da Cooperação Técnica Internaciona l 331
integrar o usuário " indiv idua l" (salvo em proj etos específicos) , procura-se
chegar a esse objetivo atr avés de Org anizações Não -govername ntais de Desen-
volvimento" (ONGDs) , intimamente vincula das aos usuári os (população-alvo)
que se tem em mente, ou através de gr êmios (no caso dos p rodutores). Isto
explica a importância dad a às ONGs em mu itos dos programas do CnD .
Quando se trata de proj etos rel acion ado s co m necessidad es básicas da popu-
lação, essas ONGs são freqüentement e p art e das organi z açõ es de b ase da
comunidade.
A experiência do ClfD é descrita m ais adia nte, na aná lise do enfo que que vem
sendo utilizado na elaboração de um a Estratég ia Reg ion al par a a A mérica Latina
e o Caribe.
c) concomitantemente aos dois fatos anteriores, tem havido clara evolução nas
estratégias de desenvolvimento que predominam na região . Das estratégias
altamente protecionistas dos anos 60 e primeira metade dos anos 70, com
forte intervenção e regulamentação por parte do Estado, passou-se a estraté-
gias de desenvolvimento mais abertas em direção ao mercado internacional
e com menor grau de intervenção e regulamentação estatal. Temas como o
da " desregulam entação" e da " reestruturação industrial" estão sendo ativa-
mente discutidos em toda a região, com as devidas medidas de fomento e
apoio à produção nacional para permitir-lhe competir com êxito nesse novo
contexto.
Em muitos dos programas do Centro procura-se fazer inclusive com que um dos
"pro dutos laterais" obtidos seja o fortalecimento dos vínculos entre esses três
atores sociais, em ações e programas concretos de desenvolvimento, já que os
vínculos entre eles nem sempre são tão sólidos e ágeis como seria desejável. Em
especial, procurou-se criar pontes entre as agências de desenvolvimento do
334 Fernando Chaparro
Estado e dos ONGDs, em virtude da firme convicção de que pode haver mútuo
benefício ao se conseguir maior convergência entre os esforços desenvolvidos
pelos dois. Isso implicou, em diversas ocasiões, pressão feita pela desconfiança
que freqüentemente surge entre esses dois atores sociais, às vezes devido ao
desconhecimento do que a outra entidade realmente faz. Deve-se reconhecer, no
entanto, que nos últimos anos essa relação fortaleceu-se substancialmente, com
variações importantes de um-país para outro. É evidente que o contexto socio-
político de cada país pode incidir favorável ou negativamente sobre a possibili-
dade de interação efetiva entre ONGDs e Estado (existência de regime democrático,
grau de permeabilidade das instituições envolvidas etc.) . Na terceira parte deste
artigo retomar-se-á esse ponto, ao analisar a experiência do CIID na formulação
de uma estratégia de ação para a América Latina e o Caribe.
2. Uma dessas iniciativas consiste na rede de pesquisadores que vêm analisando diferentes aspectos relacionados
com a formação de recursos humanos, com ênfase especial na de pesquisadores, procurando desenvolver novas
estratégias e mecanismos que respondam aos problemas e limitações que atualmente enfrentam nos países da
América Latina e do Caribe. Para uma descrição desse programa, ver Cfll): Red Latinoamericana de Estudio
sobre Recursos Humanos para la Investigación (RELERH), Ottawa, Cfll) , 1988. Além disso , vale a pena
mencionar as atividades desenvolvidas pela Rede Regional de Intercâmbio de Investigadores para o
Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (RIDALC), cujo objetivo é facilitar a formação de
pesquisadores na região , aproveitando a capacidade existente nas universidades e nos centros de pesquisa
dos países da América Latina e do Caribe.
336 Fernando Chaparro
nacionais relaci onada s com a for mação em pós-graduação , dando especial at en-
ção ao ní vel de doutoramento (REST RE PO, 1990) .
Isto nos leva a con sid er ar um dil em a que faz pa rte d a nossa tr adi çã o c ultura l.
Para conhecer ou entender a realid ad e, tem os que di vidi -Ia em as pe c tos com-
preensívei s que no s p ermitam ex p licá -Ia. P ara p od er atu ar so bre ela , temo s q ue
recompô -Ia ou integrá -I a n a sua real compl exid ad e. Est a é a c láss ica te nsão
dialética entre o conhecim ento e a ação , entre a teori a e a pr át ic a ( HA BE RMAS ,
19 74 , pp. 7 6-8 1). A formaçã o uni v er sitári a e pro fiss io nal nos pr epar a ad equ ad a-
mente para o primeiro it em . D e safortun ad am ente, essa m esm a fo rmação nos dá
poucos in strumento s p ar a o segun do. O m ai s es casso no mund o atual sã o os
integradores de conhecimento, que sejam capaz es não so me nte d e int er- rel aci o-
nar o conhecimento produ zido p or di v er s as á rea s da ci ên ci a m as tam bém de
traduzir esses conhecimento s em aç ões pr á ti c as, em term o s dos o bje tivos de
desenvolvimento ou d e pr odu ção qu e se bu sca m.
As maiores realizaçõe s n ess a dir eçã o fo ra m alca nçad as em algum as das experiên-
cias regionais no campo da comerciali zação de tecn ologia indu stri al (WAISSBLUTH
& SO L L E I RO , 1988). Ne ste ca so p arti cul ar , o problema é mai s fác il d e sol uc io -
338 Fernando Chaparro
co mpo ne ntes da es tra tég ia. D ev e-se ressaltar que, devido ao caráter dinâmico
dos pr obl emas de desenvolvimento da região, esta é uma função permanente
e co n tí nua , orie nta da para a a de quação dos problemas do CnD aos requeri-
mentos mai s impe riosos da região ;
b) aná lise das ca rac te rísticas e dos principais problemas da comunidade cientí-
fica regi on al , co m a fin alidade de elabor ar uma série de pautas e ações
orie nta das no se n tido de des envolver e fortalecer a capacidade de pesquisa e
de des env ol vim ento tecnológico da região. Nesse componente da estratégia,
a ênfase é co lo ca da na id entificação e na proposição de políticas e medidas
o rienta das par a for ta le ce r a cap acidade da comunidade científica regional
na util ização da c iê nc ia e da tecnologia para a solução de problemas de
des en vol vim ento (c ap ac ity -b uild ing);
c) o terceiro co mp one nte da Estratégia Regional é o principal deles. Trata-se da
id enti fica ção de área s de concentração temática de importância para a região
(regio na l development thrusts) ao redor das quais se procura desenvolver um
enfo que integr ad o (mult isseto rial) para analisar e alcançar a solução de
pr obl em as de desen vol vim ento so c ioeco nâ m ico . Por intermédio desse com-
pon ente da es tra té g ia pr ocura- se, em primeiro lugar, concentrar recursos em
gra ndes tem as de int eresse para a região e, em segundo, desenvolver um
en fo que interdisciplinar que permita abordar problemas complexos de desen-
vo lvi mento;
d) o qua r to co mpo ne nte es tá orie ntado para promover maior grau de utilização
dos resultad os das p esquisa s qu e são financiadas. Isto é, busca fortalecer os
v ínc ulos entre pesquisa e desenvolvimento de tecnologias, por um lado, e a
s ua utili za çã o efe tiv a no siste ma de produção ou na solução de problemas de
desenvolvim ento soc io econâ m ico, por outro. Os programas de desenvolvi-
m ento ci entífico ou tecnológico não podem parar com a geração de conheci-
m ento e co m o des en volvimento de tecnologias mais adequadas. Se tais
co nhe c ime ntos ou tecnologia s não são efetivamente utilizados, ou não con-
seg ue m os objetivos de des en volvim ento socioeconâmico pretendidos, sua
utilid ad e se ve r ia se riame nte limitada. Este quarto componente da Estratégia
Region al co ns is te numa série de políticas, estudos e ações de fomento orien-
tados par a facilitar a util ização de tais resultados .
Nes ta seção fa re mos um a br ev e descrição do primeiro, segundo e quarto compo-
nentes dess a Estrat égia Regional. Na seguinte efetuaremos uma análise mais
det alh ad a do ter ceiro co mponente, já que corresponde à parte mais operativa de
tal es tra té g ia : o das "á reas de concen tração temá tica".
Formas de Inserção da Cooperação Técnica Internacional 341
fr eqüentemente uma seg unda rup tur a ent re es ses dois atores sociais, tanto nos
in stitutos de pe squisa co mo nas ONGD s, e as agências governamentais de
fomento agríc ol a e de senvolvi me nto rura1. O CIID está firmemente convicto de
que, s e não for estabelecida só li da rel ação entre esses três atores institucionais
desde o m om ento da ide nt if icação de prioridades e da formulação de programas,
através de m etod ol ogi as p articip ati v as no esboço de programas e projetos con-
juntos , dific ilm ent e se alcançará a de quada interação entre os três atores na
im pl em entação dos mesm os. D ev e- se indicar, no entanto, que nos últimos anos
hou v e ex periê ncias interessa ntes na regi ão , onde se deu claramente ativa cola-
boração entre esses três ato res instituci onais. Dessas experiências começa a
surgi r nov o co rpo de co nhec imentos qu e fa lt a sistem atizar e inclusive validar,
mas que pod e co ntrib u ir par a so luc iona r os afunilam entos indicados, tornando
mais eficazes os prog ra mas de desen vol vim ento rural integrado (FAJARDO,
1989).
O segun do co mpo nente da Estrat égi a Regional está orientado para o fortaleci-
mento da ca pacida de de pesquisa da co munidade científica regional. O objetivo
deste artigo nã o é ana lisa r os div erso s asp ectos relacionados com o desenvolvi-
me nto de ca paci da de de pesquisa e de man ejo da tecnologia nos países da região,
apesar de es te se r um tem a imp ortant e. A análise desse processo estaria além do
alca nce des te trabalho , e por isso nos limitaremos a mencionar algumas das
atividades que o CII D es tá desen vol v endo , como parte desse componente da
Estrategia Regiona1. Essas ativ ida des são as seg uintes:
a) em primeiro lugar, o CIID vem apo iando um a sé rie de estudos na América Latina
e no Caribe orientados para caracteriza r a comunidade científica regional em
termos dos recursos de qu e disp õe, das atividades que realiza (áreas de concen-
tração) e do grau de in stitu ci on aliz a ção e consolidação que alcançaram os
ce ntros ou gr upos de pesquisa nas áreas prioritárias de cada país (ARGENTI et
alii, 1989; SAGAS TI et alii, 198 3; SAGASTI & COOK, 1985).
Mesmo assi m ele tem apo ia do uma sé rie de pesquisas de natureza mais
qua li ta tiva so bre o pr ocesso de formaçã o da comunidade científica em diver-
sos países da região , co m a fin alid ad e de v er quais fatores incidiram sobre o
seu desenvolvime nto . Nesses es tudos perceb e- se claramente como são débeis
os ví ncu los entre os g rupos de p esquisa que es tã o trabalhando num mesmo
campo , bem como as difi culdad es enc ontradas para consolidar grupos de
Formas de Inserção da Cooperação Técnica Internacional 343
pesquisa que tenham massa crític a e din âmic a de pesquisa em suas resp ecti-
vas áreas;
b) um dos problemas encontrados ness es estudo s é a difi culdad e de conta r co m
indicadores de desenvolvimento cientifico e tecnológ ico qu e possam se r
utilizados para analisar o grau de de sen volvimento alcançado num se tor
específico ou para avaliar a eficácia das políticas e program as de fome nto
que estão surgindo num país . Devido à limitada disponibilidad e de in form a-
ção , os indicadores que atualmente estão sendo utilizado s na r eg ião refer em-
se basicamente aos recursos que são dedi cado s a ativ ida des de p esquisa e de
desenvolvimento tecnológico (informação sobre insumos), se m abo rda r a
análise da qualidade e da produtividade do tr ab alho de p esquisa qu e es tá
sendo realizado ou do impacto real de tal esforço em termo s de inov ação ou
mudanças tecnológicas, seja no setor produti vo , seja na so lução de pr obl em as
sociais . Devido ao interesse despertado por es te tem a, em colaboraçã o co m
a UNES CO e a OEA , o CIID está apoiando um a sé rie de tr ab alh os or ientad os
para identificar possíveis novo s indicadores, es tuda ndo os as pec tos qu e não
receberam maior atenção até agora . Ess es tr ab alho s se rão apresenta dos num a
próxima reunião que o GRADE está organizando em Lima so bre o tem a;
c) do lado operacional , o principal esforço do CIID foi ori entado par a fo rtalecer
a capacidade de formação de pesquisadores na Am érica Latin a e no Carib e.
A principal atividade aqui é de apoio à Red e Latino-am eri can a de Estudo s
sobre Recursos Humanos para a In vestigação (RELERH, 198 8) . Atr avés
desssa Rede, apoiou-se uma série de estudo s sobre a situaçã o atual da forma ção
de pesquisadores na região , sobre as div ersas políticas nacionais no desenvol-
vimento de programas de pós-graduação , sobre o modo de abordar o fina nc ia-
mento de tais programas e sobre diversas estratégias e mec ani sm os que pod em
ser utilizados na formação desses pesquisadores (BRUNNER, 1987; SUNKEL
& LAVAD OS, 1988: FILGUEIRA, 1988: VIVAS & ROlAS , 1988) . Al ém
desses estudos, procurou-se apoiar inici ativ as concret as qu e es teja m surg in-
do na região, orientadas para fortalec er a forma çã o de pesqui sad or es nas
universidades e centros de pesqui sa dos paí ses da Am érica Latin a e do
Caribe. Exemplo disso é a Rede Region al de Intercâmbio de In vestigad or es
para o Desenvolvimento da Am érica Latin a e do Carib e (RIDA L C) , qu e
surgiu como esforço combinado entre sei s países latino- am eri can os orienta-
dos para compartilhar programas e facilidades de form aç ão de p esqu is ad or es
entre si . Um dos maiores obstáculos encontrado s par a fome nta r m ai or ca pa -
citação de pesquisadores em universidades e centro s de pesqui sa da regi ão é
344 Fernando Chaparro
o terceiro componente da Estratégia Regional (conce ntra ção em áreas tem átic as)
será analisado na próxima secção . Agora no s det er emo s br ev em ente no qu arto
componente da estratégia. Se não se conseguir qu e os resultado s da s p esqui sas
realizadas, ou as tecnologias des en volvidas , sej am utilizad as para os fins pr áti-
cos que se procuram, a contribuição real qu e a ciê nc ia e a tecnologi a pod em da r
para o desenvolvimento socioeconâmico de no sso s p aíses se perd er á. Essa
necessidade de amarrar a pesquisa tecnológica à sua subseqüe nte utili zaç ão no s
leva a considerar o tema da inovação e do câmbio técnico.
É sabido que o processo de ino vação tecnológica não dep end e some nte da oferta
ou disponibilidade de tecnologias adequadas. Di ver so s fa tores, r el aci on ad os com
a situação do mercado para o qual se produ z (de ma nda efe tiva em mer cad os
acessíveis) , bem como com o contexto socioe conâ mico no qu al se atua (po lítica
de preços, facilidades de mercado , incentivo à produ ção etc.), exe rce m p ap el
preponderante na decisão, tomada p elo produtor, de introdu zir um a in ova çã o.
Fatores similares incidem sobre a utilização de inform açã o g er ad a p el a p esqui sa
sobre aspectos socioeconâmicos no processo de tom ad a de deci sões, tanto no
setor público como no setor privado. Portanto , a utili zação de tecnologi as ou a
aplicação de resultados de pesquisas não dependem somente da açã o dir et a dos
pesquisadores ou da comunidade científica. Outro s fatores e outro s age ntes
intervêm no processo de inovação e câmbio técni co.
No entanto, existem dois aspecto s de grande importância qu e pod em facilitar ou
inibir a utilização efetiva de tecnologia ou a aplic aç ão de resultado s de p esqui sas,
nos quais a comunidade científica tem p ap el importante a cumprir. Em prim eiro
lugar, o enfoque e o esboço dos programas e proj eto s de p esqui s a reali zad os
podem favorecer ou obstar o processo de adoção de inovação tecn ológi c a. Ist o
é, o próprio esboço da pesquisa pode incidir positiv a ou neg ati v am ente em
termos de sua possibilidade de êxito, do ponto de vista da inov aç ão tecnol ógica.
Em segundo lugar, existe uma série de tarefas r elacion ad as com fun çõ es de
extensão e de comercialização de tecnologia (marketin g) qu e ce rtamente pod em
contribuir para maior interação entre a pesquisa qu e se realiza num seto r p arti-
cular e a dinâmica do câmbio técnico observado em tal se tor. D evido à imp or-
346 Fernando Chaparro
tância desse tema, este processo será analisado em maiores detalhes num artigo
separado (CHAPARRO, 1988). No artigo mencionado, é feita a análise dos
principais atores que favorecem ou inibem a utilização de resultados de pesqui-
sas e apresentado o relato da forma como o CIID aborda o problema e das
atividades que desenvolve para promover maior grau de utilização dos resultados
das pesquisas que financia. A análise desse tema nos leva a considerar a interface
que existe, ou deve existir, entre pesquisa e desenvolvimento tecnológico, de um
lado, e sua efetiva contribuição para o desenvolvimento socioeconâmico, de
outro. Sem a segunda parte, os esforços que se fizerem no campo da ciência e da
tecnologia não serão relevantes .
É ev ide nte qu e o objetivo g eral que apa rece em ca da uma d essas áreas deve ser
sub d iv id ido em ter mos de obj etiv os mai s es pe cí ficos . Como foi indicado anterior-
ment e, ca da um a dessas Á reas de Con centração Temática foi .lefinida operacional-
mente em termos de suas duas dim en sões: (a) o pr oblema do desenvolvimento
soc ioeco nâ m ico da reg ião que cada um a delas aborda e (b) a população -alvo qu e se
es pe ra be ne fic ia r com os result ados e as tecn ol ogi as pr oduzidas pelas investigações
real izad as. Por limitações de espaç o, n est e artigo só descreveremos dua s delas
(des envo lv ime nto de co m un ida des ru rai s e Trópico Úmido) . Nos outros casos o
lei tor deverá reportar- s e a difer entes artigos . Deve-se indicar que o o bj etivo
dest e trab alh o não é descreve r det alh adam ente o con te údo de cada uma dessa s
Á reas Temá ticas, e si m o en fo que qu e es tá se ndo utili zado no s eu desenvolvi-
m ento.
QUADRO 1
MA T RIZ DE PR OGRAMAÇÃ O RELACI ONAND O ÁREAS DE
CONCE NT RA ÇÃ O TE MÁTICA E PR OGRAMAS D IV ISIO NA IS
Por sua própria natureza, as Áreas de Con centração T em áti ca ava nçam at ravés
das cinco Divisões do CIID. Ao rel acionar as Ár eas T em átic as co m as Di vi sões
Setoriais, desenvolveu- se uma Matriz de Pr ogr am ação que permite vis ua liza r a
relação entre essas duas dim en sõ es da ativ ida de do Cen tr o na Am ér ica Latin a e
do Caribe. Essa matriz é apr esentad a no Qu adro 1. D ev e- se indica r que as
atividades de apoio à inv estigação de sen volvid as p el as di ver sas divisões não se
limitam a essas quatro Áreas de Concentr ação T em áti ca. No n ív el de ca da
programa, nas diversas divisões , continuar ão sendo apo ia dos os tema s qu e
tenham sido identificados como prioritári os (priorida des por pr ogr am a). Por es ta
razão , na segunda parte da matriz do Qu adro 1 apa rece um a seção den omin ad a
" T em as Prioritário s de Cad a Progr am a". O qu e as Ár eas T em á ti cas mos tram é a
identificação de problem as prioritári os p ar a a r eg ião ao red or dos qua is se
procura fomentar maior colaboração in terdiscipl in ar (interd ivi si on al ) no desen-
volvimento de enfoques integrado s para abo r da r pr obl em as de desen vol vim en to.
A análise do pap el e das ca rac te rís ticas do ca mpo nês nas socie dades m odern as
é um dos temas que geraram mai or int er esse na co m uni da de c ie ntíf ica r egi on al.
O tema não é novo: já no fim do século p assad o essa mesm a p ergunt a havi a dad o
lugar a intensa polêmica , ao se an ali sar esse pr ocesso no co ntex to do apa rec i-
mento e desenvolvim ento do sis te ma ca p ita lista na Europ a (KAUTS KY , 1983) .
Apesar da longa trajetóri a do tem a, o pr obl em a a inda co nt inua vige nte e agu do
nos países atualm ente em desen vol vim ent o .
Em termos práticos, o probl ema en fre nta do nessa Área T em áti c a po de se r
resumido nos seguintes ponto s:
a. o camponês representa uma parte muito imp ortante da popul ação rur al de
baixa renda ;
b. o setor campon ês produ z uma prop or ção co ns ide rável dos alime ntos básicos
em muitos do s países da regi ão. Em ce rtas cult uras bá si cas a produ ção do
camponês pode repres entar entr e 40 % e 80 % da pr odu ção tot al do país
(MACHAD O, 1987; J ORDAN , 19 89 ; ROLDÁN , 1987 ). Est a não p od e se r
substituída pela agricultura comercial ;
c. o setor campon ês enfrenta atualme nte pr essõ es qu e pod eri am levá-l o a um
processo de dissolução e p aup erizaçã o pr ogressi vo . Essas pressões vê m de
diversos lado s: políticas macr oec on ômi cas e de o utra índo le que incida m
negativamente sobre esse setor (po líticas de preços e m an ejo de cré dito);
350 Fernando Chaparro
nê s. Os temas das ci ências sociais vão desde a análise em nível macro do papel
do camponês nas sociedades latino-americanas e do impacto das políticas ma-
croeconômicas sobre o seu desenvolvimento até os estudos em nível micro sobre
a organização da comunidade e o desenvolvimento rural!4.
Um segundo setor está representado pelos institutos (públicos e privados) de
pesquisa agrícola, que concentraram seu trabalho no desenvolvimento de tecno-
logias, algumas delas orientadas para os sistemas camponeses de produção (tanto
cultivos como produção animal). Neste setor de pesquisa freqüentemente se
pressupõe de forma equivocada, que basta desenvolver tecnologias apropriadas
às condições e características do pequeno produtor para que este as adote e possa
beneficiar-se com elas.
4. A lit er atura ex is te nte é bast ant e ex te nsa quanto à anális e socioecon ôrnica em nível macro (evolução
camponesa , movim ento s camponeses, reforma agrá ria e tc.) . O que tem sido pouco estudado são as experiên-
cias pr áti ca s , e m ní vel mi cro , de organi zação e desenvolvimento da comunidade. Um excelente exemplo
encontra-se em Antonio García (e d.) : D esarrollo Agrário de la América Latina. No segundo nível (expe-
riên ci as prá ticas em nív el da comunidad e) a li ter a tura existente é mui to mais escassa.
Formas de Inserção da Cooperação Técn ica Internaciona l 353
5 . É interessante v erificar qu e ex is te m col ocações si mi lares nu m rel a tóri o pr eparad o recent em ent e por um
grupo de consultores para o n CA . Ver Ca rlos A ma t y Leó n, Ma nuel Chiribo ga e Orla ndo Pl az a , P olític as
Diferenciadas para el D esarro lloRura l: Marco Co nceptual y P rop uest a ( ra sc unho par a co ns ulta ) , San José,
nCA, 1989
354 Fernando Chaparro
Devido a limitações de espaço, neste artigo não será analisado o caso das outras
duas Áreas de Concentração . Deve-se indicar, no entanto, que no caso da área de
Desenvolvimento Integrado de Zonas Costeiras seguiu-se um enfoque muito simi-
lar, com resultados parecidos (BUZETA et alii, 1988; FEFFERBAUM et alii,
1989).
É interessante constatar que no trabalho que está sendo desenvolvido em cada
uma das Áreas de Concentração Temática surgiram sistematicamente quatro
temas que se apresentam em todas elas. Dada sua importância em termos de
problemas sociais da região, foram considerados como temas subjacentes (un-
derlying themes), comuns a todas as áreas temáticas. Esses temas subjacentes
consistem em processos societais básicos ou em limitantes socioeconômicas que
atualmente têm grande importância em esforços ou ações de desenvolvimento.
Neste artigo nos limitaremos a fazer um breve esboço de cada um deles (CHA-
PARRO, 1989).
a) O primeiro refere-se ao modo de fortalecer os mecanismos de participação
social em nível da comunidade. A falta de tais mecanismos tem sido um dos
obstáculos mais importantes para a eficácia real dos programas de desenvol-
vimento em termos de sua capacidade para chegar ao beneficiário final
(camponeses, famílias de baixa renda etc.). É também um dos principais
obstáculos enfrentados na consolidação da democracia na região , incluindo
358 Fernando Chaparro
b) O segundo " tem a subjacente" que surguiu nas diferentes Áreas Temáticas de
Concentração foi a participação da mulher no desenvolvimento e o papel
desempenhado por ela na comunidade, dado o número de lares nos quais a
mulher é o chefe da família e principal gerador de receitas, bem como sua
crescente participação no mercado de trabalho . Ela é um importante agente
de desenvolvimento em diversos tipos de programas em nível da comunidade.
Nos proj etos que estão sendo desenvolvidos nas Áreas Temáticas seleciona-
das procura-se integrar esse aspecto com a finalidade de assegurar uma
adequada participação da mulher nas iniciativas apoiadas.
6. Ver, por exemplo, FAJARDO (1989 , p. 89). Ver também PINEIRO (1989). Para uma análise acerca deste
tema em outros setores, ver NOGUEIRA (1989 , p. 27).
360 Fernando Chaparro
Referências Bibliográficas
I. INTRODUÇÃO
Sem pretender exaurir o assunto , qu e é abord ado com maior fôl eg o em outros
textos, discorrer-se-á brevemente sobre a evolu ção do conce ito de co ope ração
técnica internacional. Justifica -se essa aclara ção pr eliminar porqu e, co nfo rme
Soar es, " quanto a conceituar-se o qu e se entende, na atua lida de, por coo pe ração
técnica internacional, a matéria não é pacífica e es tá long e de rec eb er um
entendimento univ er sal " (S OARES , 1991 , p. 4)
370 Guilherme Ary Plonski
1. Um caso interessante foi o da cooperação técnica no campo do saneamento prestada pelos EUA nas zonas
produtoras de borracha da região Amazônica durante a Segunda Guerra Mundial a fim de assegurar a
disponibilidade desse insumo estratégico. Resultou da cooperação um novo modelo de atuação no campo
do saneamento, mediante equipes pluriprofissionais, o qual se perpetuou na Fundação Serviços Especiais
de Saúde Pública (conhecida como Fundação SESP).
A Administração de Projetos Aplicada à Coopera ção Téc nica Intern a ciona l 371
a cooperação técnica internacional passa a ser encarada sob suas duas vertentes principais,
como instrumento de política externa e como auxiliar de promoção do desenvolvimento
sócio-econômico do país. Nesse sentido, a política brasileira de cooperação técnica inter-
nacional se realiza pela combinação dos elementos básicos das duas vertentes, ou seja, da
recebida e da prestada, e será eficiente na proporção em que assegure o alcance dos
principais objetivos de uma e de outra (idem).
2. Texto publicado já em meados da década de 70 pela OCDE (Organização para a Cooperação e o De-
senvolvimento Econômico) define cooperação técnica como "uma forma de colaboração internacional cujo
propósito é assegurar a transferência de habilidades por intermédio do envio de peritos em áreas especializadas
dos países nos quais eles estão disponíveis em grande quantidade para países nos quais eles são menos
numerosos ou inexistem" (HARARI, 1974, p. 11).
3. Uma das formas de cooperação técnica patrocinadas pelo PNUD está voltada para o apoio à preparação da
complexa documentação destinada a fundamentar o pleito por recursos a grandes empreendimentos junto
a bancos internacionais, como o Banco Mundial.
A Administração de Projetos Aplicada à Cooperação Técn ica Internacional 373
Geralmente a coop eração técnica intern aci on al se reali za num qu adro jurídico
de acordos entre os gov erno s de doi s p aí s es (coo pe ração bil ater al) o u en tre o
governo de um país e um a entidade intern aci on al (coo pe ração mu ltil ateral ) . No
caso do Brasil , os princip ai s aco rdos de cooperação técni c a b ila te ral receb ida
são os celebrado s com os gov ern os da Al em anh a, J ap ão , Fr an ça, Can ad á e
Grã-Bretanha, estando em impl em entação os ce le b ra dos co m os gove rnos da
Itália e da Espanha . Os principais acordos de coope ração técni ca multil at er al
recebida são os celebrados com o PNUD , a ON UDI (O rga n ização das Nações
Unidas para o Desenvolvimento Indu strial ), a OEA (Orga nização dos Est ad os
Americanos), a FAO (Organização da s Naçõ es Unid as para Agricultura e Ali-
mentação), a UNICEF (Fundo das Nações Unida s p ara a Infân cia ), o FN UAP
(Fundo das Nações Unidas para Ativid ad es R el ati va s à População) e o BID .
Nesses acordos estabelecem- se os parâmetro s bali zad or es da coo pe ração (setores
objetivados, mecanismos facilitadores, marco institucion al, pr ogr amas pri or itári os
e assim por diante) . Todavia, representam eles tão- som ente um " g uarda-chuv a"
374 Gu ilhe rme A ry Plo ns ki
e custos, além de requerer formas apro pria das de planejamento - uma vez que
os próprios planejado res não têm perfeito conhecimento do que deve ser feito;
a ab rangência orga nizacional m aior , devido ao s eu caráter interdisciplinar,
envolvendo várias un ida des organ izac iona is e mesmo várias organizações -
com o que a administração de inter faces pas sa a ser fundamental;
a inflexibilidade do prazo, que ge ra ten sões na equipe, exacerbadas pela
impossibili da de de refazer o tra ba lho caso não s e tenha atingido o objetivo;
a assimetria no fluxo de rec urs os, qu e dificulta o controle intuitivo do ritmo
dos dispêndios;
a inadeq uação da maio r parte do in strumental de gestão da qualidade, basea-
do em eventos repeti dos sujeitos às lei s es tatís tic as; e
o clima altamente dinâ mico que, se por um lado é estimulante, por outro é
fator gerador de estresse ent re os pa rti c ipa ntes .
Uma das três dimensões fundamentais do pr oj eto é o prazo. Conforme ficou dito ,
o horizonte temporal faz com que cada pr oj eto te nha um ciclo de vida, que é a
unidade de planejamento do projeto.
A sua adequada gestão tem sido a base da adm in is traçã o de um projeto. Para
tanto, costuma-se dividir o ciclo de vi da do proj eto em fases , cada qual com seus
desafios, atividades típicas e p at ol ogi as es p ec íficas.
A literatura técn ica não é un iform e qu anto ao número, denominação e conteúdo
das fases. Ademais, cada es pecia lida de (administração de projetos de sistemas
de informação , adminis tração de pr oj et os indus triais etc.) acabou repartindo o
ciclo de vida segundo necessi dades pr ópri as.
Nesta revisão será apresentada uma divisã o g en éri ca do ciclo de vida de um
projeto. Considerações específicas so bre o c iclo de v ida de projetos de coopera-
ção técnica internacional se rão ap resentadas adia nte .
Genericamente, um projeto passa pelas fases se guintes :
fase de concepção, que vai desde a ge rm ina çã o da idéia de se realizar um
projeto (que pode resultar de um a nec essidad e ou de uma oportunidade),
passa pelos estudos de viabi li da de das soluções e vai até a decisão quanto à
sua exec ução;
fase de estruturação, que correspo n de ao detalhamento do plano de execução
del ineado na fase anterior;
fase de execução , na qual a maior pa rte das ativ ida des substantivas do projeto
são real izadas; e
A Administração de Projetos Aplicada à Cooperação Técnica Internacional 379
Os p rojetos de coo pe ração técn ica inte rnac iona l abra nge m um a vas ta gam a.
T om ando exemplos exclusivame nte rel ati vos à coo pe ra çã o bil at er al rec ebida em
1990, mo nito ra da p el a ABC/MRE, pod em os enc ontra r proj eto s tão diferentes
co mo os segui ntes ( BRASIL, 1990b) :
urbanização e fortalec ime nto de espaç os econômicos em favelas de Fortaleza, da
Secretar ia de Indú str ia e Com ércio do Ceará, em conjunto com mai s três órgãos;
centro mult irregi on al de fo rmação em tecnologi a de solda, do SENAI-RJ;
pesq u isa e de se nvo lv ime nto tecn ol ógi co na área biomédica, da Fundação
Osw ald o Cru z;
im pac to reg ional pr ovocado por grand es barragens, da Superintendência do s
Recursos H ídri cos e Me io Ambi ente do Paraná;
estabelecimen to de um a co leção de cult uras, da Univ er sidade Est adual de
C amp in as ;
tre ina mento na área de engenha ria de in cêndio , do Corpo de Bomb eiro s
M ilita r do Di strito F ed er al ;
mo de rn ização adm inis tra tiva do Est ado de Goi ás, da Fundaç ão Escola de
Fo r mação e Aperfe içoa me nto do Servidor Civil de Goiás;
me lho ra mento do mes tra do em filosofia , da Univer sidad e F ederal do Rio
Grande do Sul ;
ava liação do pot en ci al forrage iro da caating a p ara leite de ca bra, da Empresa
Br asil eir a de Pesquisa Agrop ecu ária;
ações de turi sm o ent re as c ida des de Saint- Trop ez e Salvador, da Prefeitura
M unic ipal do Salv ador;
dese nvo lvime nto de um sis te ma eficaz de bu sca e resga te em t erra e mar , do
Inst itut o Nacio nal de Pesqui sas Esp aci ai s; e,
ce ntro de Design de São P aul o, da S ecr etaria de Ci ência, T ecnologia e
D esen vol vim ento Econ ômico de São Paulo.
A ssim, per ceb e- se a multipli cidad e dos se tores foc aliz ado s, a diversidade do s
te mas objetivados e a va rie da de das in stitui çõ es recipi endária s. Ca so fos se
exami nado o uni v er so dos pr oj etos de coo pe ração env olven do alguma entidade
brasilei ra , incl usive emp resas e ONG s, e os qu e são promo vido s sem a interv e-
ni ên ci a da A B C/M RE, ce rta me nte se che ga ria a um a miríade de situaç ões.
A Administração de Projetos Aplicada à Cooperação Técnica Internacional 381
VI. CONCLUSÃO
4. Em interessante artigo publicado em 1990, as ações de assistência técnica tradicional são classificadas como
anteprojetos. Uphoff sugere uma categoria nova, paraprojetos, que funcionariam como complemento aos
projetos de cooperação , da mesma forma que um paramédico complementa a ação do médico. Esses projetos
ofereceriam maior participação aos beneficiários; operariam em locais mais isolados; proveriam soluções
mais baratas e intensivas em trabalho ; dariam preferência a tecnologias " apropri adas "; e mobilizariam as
idéias e recursos materiais da população local para promover atividades auto geridas e auto-sustentadas.
A Administração de Projetos Aplicada à Cooperação Técnica Internacional 383
Referências Bibliográficas
Isak Kr uglianskas
I. INTRODUÇÃO
A cooperação técnica internaci on al tem evo luído bastante na história das nações.
O Brasil, n a época do Imp éri o, tin ha em D . Pedro I um reconhecido ade pto da
Cooperação Técnica Intern aci on al (CTI) . Especialistas alemães, por ex emplo,
deram, por inici ati va do imp er ad or , imp or tantes contribuições para o desenvol-
vimento da siderurgia e da met alurgia brasil eira no século passado . a época,
essa CTI er a p aga integralmente p el o p aís ben eficiado.
Posteriormente, surgiram as CT l s oferecidas pelos países mais desenvolvidos,
sem ônus para os p aí ses em desen volv im ento. Em muitos casos havia um
interesse, da p arte do s países ofer tantes, em assegu rar sua influência sobre os
países beneficiado s, visando a po st er ior es va ntagens políticas e/ou econômicas.
Durante o período da gu erra fri a oco rrera m ver dadeiras co ncorrências (com
finalidades principalmente políticas) - por exemplo , entre os países ocidentais
e os do Leste europeu - para a oferta de CTI aos países em desenvolvimento.
Essas iniciativa s, sem um pl an ej am en to prév io v isando identificar as reais
necessidades e po ssibilidad es de efetiva absorção dos investimentos realizados,
revelaram-se, em muito s casos, ve rdadeiramente desastrosas. São sobejamente
386 Isak Kruglianskas
conhecidos os " elefantes brancos" resultantes desse período, que assumiram a forma
de hospitais, empresas, instituições de pesquisas, equipamentos e outros esquemas
de desenvolvimento sacioeconômico, que foram simplesmente abandonados após
o retorno dos especialistas aos seus países. Em alguns casos, a introdução de
inovações transplantadas dos países mais desenvolvidos acabaram se mostrando
inclusive maléficas para o país supostamente beneficiado, por destruírem práticas
tradicionais que estavam em harmonia com o ambiente, sem que em seu lugar
fossem introduzidas outras que as substituíssem de forma sustentável.
As atividades de cooperarão técnica, bi ou multilateral, constituem um poderoso
recurso para o desenvolvimento, transferência e adaptação de tecnologias em prol
da evolução econômica e social dos países em desenvolvimento. Ocupam, por essa
razão, um importante espaço no campo da Administração de Ciência e Tecnologia.
A administração por projeto constitui o instrumento básico para o processo de
CTI, e por esta razão é fundamental que ela seja conduzida com competência.
Embora esses projetos guardem, por um lado, muitas semelhanças com os
projetos tecnológicos executados no âmbito das empresas ou das instituições de
pesquisa, por outro possuem algumas características que lhes são peculiares. Em
geral, envolvem agências governamentais de diferentes países, possuem escopo
bastante abrangente e estão voltados para o beneficiamento de um público-alvo
regional e/ou setorial bem caracterizado.
Apesar de sua importância, a literatura sobre o gerenciamento de projetos dessa
natureza é modesta. Todavia, existem vários indícios de que os responsáveis pela
gestão desses projetos, em nosso país, têm enfrentado dificuldades na adminis-
tração dos mesmos, o que pode comprometer o bom desempenho e o êxito da
cooperação técnica. O objetivo do presente artigo é descrever os resultados de
uma pesquisa empírica realizada junto a profissionais de instituições brasileiras,
visando identificar a importância que eles atribuem a determinadas abordagens
e técnicas para o planejamento dos projetos de cooperação técnica. Procura-se,
também, verificar em que medida tais procedimentos são efetivamente utiliza-
dos . Neste trabalho, focaliza-se o processo de planejamento do Projeto de
Cooperação Técnica Internacional (PCTI), da perspectiva da cooperação técnica
solicitada.
Nos próximos segmentos do trabalho serão apresentados, inicialmente, o ciclo
de vida do PCTI e, a seguir, detalhadas as atividades de cada uma das subfases
que caracterizam a fase de planejamento. Além da descrição das atividades,
também são apresentados, no ultimo segmento do trabalho, os resultados de uma
pesquisa sobre práticas de planejamento do PCTI no Brasil.
Planejamento de Projetos de Cooperação Técnica Internaciona l 387
o processo de planejamento do PCTI é compo sto b asi cam ente por três fas es do
seu ciclo de vida; são as seguintes: fase de estudo s preliminar es ou pr é- concep-
ção do PCTI; fase de concepção do PCTI ; fase de es trutura çã o do PCTI.
FIGURA 1
FASES E ATIVIDADES DE PLANEJAMENTO NO CICLO
DE VIDA DO PROJETO DE CTI
Nív el d e
Atividade
--
Pré-con cepç ão
Tr ansferência
de
result ad os
--
Av ali ação
As principais ações no âmbito de cada urn a dessas fas es são apresent adas na
Figura 1.
Para melhor entendimento acerca dos problemas e procedimento s a se re m ado-
388 Isak Krug /ianskas
FIGURA 2
EX EM PL O DE ÁRVORE DE PR OBLEMAS E CA USAS
Açã o
descont amin at óri a
insatisfató ria
Convém notar que o que em um determin ado ní vel é causa, no nível ime-
diatamente superior é problema e no nível ain da mais alt o qu e es te último é
efeito. A Figura 3 ilustra o conceito.
FIGURA 3
HIERARQUIA DE PROBLEMAS E CAUSAS
Problem as Nível
Excessiva dependência de
outros países em In tern ac ional
med ic amen tos
I
Nacional
I
Atraso tecnológico do
Seto ri al
setor farm ac êu tico
I
Escassez de pro fission ais
I
qu alificados Pr oj et o
em química- fin a
Após a ex ploração v isa ndo a um claro ente n dim ento do problema, convém gerar,
de fo rma bast ante cr ia tiva, o maior núm ero possível de abordagens . Para isso,
Planejamen to de Proje tos de Co ope ração Técn ica Intern a ci onal 393
pode- se lan ç ar mão de técnic as de cri ati vidad e, tanto grupo interativo co mo
grupo no mi na l, co mo , por exemp lo , brain storm ing e brain writing. O resultad o
será uma lista de enfoques altern ativo s p ar a a so lução do probl em a ide nt if ica do.
Recomenda-se qu e todo o planejamento, e em p articular esta etapa , seja reali zad o
de forma bast ante p artic ip at iv a. A co ntribuição de experts no tem a do pr obl ema
deve ser altamente estim ulada. Em geral , qu ando o pr obl em a tem ca racterísticas
de multidisciplinar id ad e, o responsável pel a el ab or aç ão do pl an o não possu i tod o .
o conhec imento necessário pa ra a adequada consider aç ão de tod as as sua s
fa ce tas . Al ém dos técnicos que futuram ente poderão co ntr ibu ir p ar a a execução
do proj et o, é tamb ém reco mendável , se mpre qu e possív el , a pa rtic ipação de
ele mentos qu e serão resp on sáv eis pela dis semin aç ão do s resultad os do pr oj et o
junto aos seus be neficiários finais . Outro p articip ante a se r co ns ide ra do é o
b en efici ár io final, pois seu envol vimento precoce faci litará , substanc ial mente , a
implantaç ão do s res ultados do p roj eto ap ós o seu encerra mento .
FI GURA 4
TRANS FER ÊNCIA DE RESULTADOS NO PRO JETO DE
COOPERAÇ ÃO TÉ CNICA INTERNACIO NAL
P ara que os res ulta dos, ou pr odutos, do projeto sejam alcançados, um conjunto
de eta pas dev er ão ser p ercorridas. Essas etap as, que constituem, na verdade, as
macro ativ ida des do pr oj et o, normalm ente representadas no cronograma mestre,
são utiliza das p ar a se efe tua re m as es tim ativ as preliminares sobre prazos e custos
do projeto .
To mando -se po r base a alterna tiva de so luçã o escolhida para abordar o problema
em nível do p roj eto, e os objetivos e resultado s a serem atingidos, o passo
Planejamento de Projetos de Coopera ção Técn ica Internacional 39 7
v. FASE DE ESTRUTURAÇÃO
FIGURA 5
ESTRUTURA ANALÍTICA DO PROJETO
Capacitação
institucional
do CETEM
I I I
3. Alternativa Organizacional
A partir do conjunto de atividades a serem executadas, deve-se definir uma
estrutura organizacional para o projeto, com a explicitação dos sistemas de
autoridade, responsabilidade e comunicações a serem adotados.
N esse sentido, as atividades são agregadas de acordo com algum critério, como,
por exemplo, especialidade disciplinar (computação, química, física, oceanogra-
fia, antropologia, economia etc.), ou agrupadas através de subconjuntos do
projeto (sistema de planejamento, sistema de monitoração, sistema de hardware,
sistema de software etc.).
Planejamento de Projetos de Cooperação Técnica Internacional 401
FIGURA 6
ORGANOGRAMA LINEAR PARA UM PCTI
Agência de
Projeto Área Funcional
cooperação
Supervisores Diretoria Gerente
Gerente Representante
de equipe técnica administrativo
Coletar dados D E
Caracterizar o
E I A
problema
Formular
E I, D A D A
objetivos
Negociar
custos E I, D D D
e prazos
Detalhar
A E
cronograma
Detalhar
A E D
orçamento
Formular
programa de A E
treinamento
Indicar
A E
consultores
Especificar
E I A D
equipamentos
Planejar
A E I
viagens
Programar
revisões do A E D
projeto
Montar o
plano do A E D D D
projeto
A= APROVA
D = DEVE SER INFORMADO
I = DÁ INFORMAçõES
E = RESPONSÁVELPEIAINFORMAÇÃO
404 Isak Kruglianskas
FIGURA 7
IMPORTÂNCIA ATRIBUÍDA ÀS ATIVIDADES DE PLANEJAMENTO
: : : : : : :: : : : : : : :: : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : :
Analisar e Identificar qual é o problema de desenvolvimento .............•
.•.•.•.•.•.•.•...•.•...•...•.•.•.•.•...•.•.•.•.•...•.•.•..•••.•.•.•.•.•...•.•...•••.•.•.•.•..
: : :: :.: : : :: : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : :
Formular possív eis alternativas desolução ao problema de desenvolvimento :.:.;.:.:.:.:.;.;.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:..:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:
:.:.:.;.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:.:·:·:·:·:·:·:·:·:·:·:·:·:·:·:·:·:·:·:·:·:1
Selecionar a melhor solução e idenficar principais beneficiários ......•...•.•.•.•.•.•...•.•.•.•.•.•.•...•..•.•.•.•.•.•.•...•.•.•.•.•.•.•.•...........
: : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : :: : : : : : : : : : : : : : : : : : :
Identificar os problemas específicos de cooperação internacional .:.:...:...:..•..;.:.:..•..:.:.:•.......•:.:.:.:.:.•.•.:.:.:.•.:...:.•......•..:.:.:.:.:.:.:.:.:.:
: : : : :: : : : : : : : :: :: : : : : : : : : :: : : : : : : : : : : :: : : : : : : : : : :
Explicitar objetivos e resultados do projeto
: :
Estabelecer etapas para o projeto :.:.:..... .
: : : :: : : : : : : :: : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : :
Elaborar estimati vas preliminares de prazos e custos totais do projeto :
: :
Avaliar riscos potenciais : : : :.: : :
: : : : : : : : :: : : : : : : : :: : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : :
Decompor as etapas em atividades mais detalhadas :
:
Conceber uma alternativa organizacional para o projeto
: : : : : : : : : : : : : : : :: : : : : : : : : : : : :: : : : : : : : : : : : :
Estabelecer as qualificações dos elementos da equipe do projeto
Estabelecer metas de desempenho individual :
: : : : : : : : : :: : : : : : : : : :: : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : : :
Detalhar as especificações dos insumos do projeto : :
o 1 2 3 4
O Supervisores Líderes Global
I
FIGURA 8
INTENSIDADE COM QUE ÀS ATIVIDADES SÃO PRATICADAS
o 1 2 3 4
D Supervisores lideres Global
I
FIGURA 9
IMPORTÂNCIA ATRIBUÍDA ÀS ATIVIDADES DE PLANEJAMENTO x
INTENSIDADE COM QUE SÃO PRATICADAS (GLOBAL)
o 1 2 3 4
Importância Intensidade
I
FIGURA 10
IMPORTÂNCIA ATRIBUÍDA ÀS ATIVIDADES DE PLANEJAMENTO x
INTENSIDADE COM QUE SÃO PRATICADAS (LÍDERES DE PROJETOS)
o 1 234
Import ânci a Intensidade
Finalmente, analisando-se a Figura 11, que mostra, segundo a óptica dos super-
visores, a importância que deve ser atribuída às atividades de planejamento e a
intensidade com que essas atividades são praticadas nas suas instituições, con-
clui-se que também para esse segmento da amostra se repete a tendência geral.
Porém as discrepâncias constatadas no caso dos supervisores são bem menores,
em média, que aquelas observadas quando se considera a estratificação da
amostra para os líderes de projetos.
414 Isak Kruglianskas
FIGURA 11
IMPORTÂNCIA ATRIBUÍDA ÀS ATIVIDADES DE PLANEJAMENTO x
INTENSIDADE COM QUE SÃO PRATICADAS
(SUPERVISORES DE LÍDERES)
o 1 2 3 4
Importância Intens idade
Uma interpretação que poderia ser aventada para explicar essa discrepância
menor poderia relacionar-se com o fato de os supervisores, por estarem mais
distantes dos detalhes das atividades de planejamento executadas pelos seus
subordinados, se aperceberem menos das distâncias que separam os procedimen-
tos efetivamente praticados daqueles idealmente desejáveis.
o fato de se ter constatado que a cada uma das catorze atividades de planejamen-
to selecionadas para estudo é, em geral, atribuída uma importância muito grande
pelos respondentes fortalece a validação do modelo adotado para a realização da
pesquisa, segundo o qual o processo de planejamento pode ser decomposto em
três fases distintas do ciclo de vida do PCTI: a fase de pré-concepção, a de
concepção e a de estruturação, constituídas por um conjunto diferenciado de
atividades.
1. Folha de Rosto
Título do proj eto
Responsável(eis) pela sua elaboração
Entidade(s) executora(s)
Entidade(s) patrocinadora(s)
Outra(s) entidade(s) cooperadora(s)
Data da elaboração do plano
2. Introdução
Descrever sucintamente o contexto no qual se desenvolverá o projeto. Fornecer
informações sobre as principais características do setor no qual se inserem o
projeto, outros projetos e esforços em curso ou já executados para o setor, e os
principais órgãos e instituições atuantes no setor.
3. Justificativa
Mostrar a importância do problema, indicando as razões que levaram a se tomar
a iniciativa de executar o projeto da forma como está sendo proposta. Caracteri-
zar bem o problema, mostrando a situação atual e a situação esperada após a
implantação do projeto. Indicar o público-alvo que será o principal beneficiário
do projeto e a estratégia para a implantação dos resultados do projeto. Caso haja
outras entidades ou órgãos intervenientes, descrever como se efetuarão as inte-
grações com o projeto visando maximizar o efeito sinérgico. Na justificativa, o
proponente procura convencer o patrocinador.
418 Isak Kruglianskas
4. Objetivos
Objetivos Gerais (mediatos, mais a longo prazo) - Esses objetivos são mais
genéricos e não podem ser assegurados somente pelo sucesso do projeto; depen-
dem de outros condicionantes. Devem se relacionar com prioridades setoriais,
nacionais e outros programas/projetos em curso ou previstos.
Objetivos Específicos (alcançáveis imediatamente ao final do projeto) - Devem
ser descritos de forma tanto quanto possível verificável e quantificável. Reco-
menda-se associar a cada objetivo específico o(s) critério(s) de sucesso.
5. Plano de Trabalho
6. Riscos
8. Plano Organizacional
9. Orçamento
Elaborar o orçamento consolidado, mostrando os custos envolvidos ao longo do
tempo para cada uma das categorias de despesas (pessoal técnico, pessoal
administrativo, consultores, encargos sociais, serviços externos subcontratados,
treinamentos, matériais de consumo, viagens, equipamentos, diversos, custos
indiretos etc.). Caso os recursos sejam oriundos de diferentes fontes, convém
desdobrá-las . Mostrar a compatibilidade da oferta de contrapartida pela institui-
ção proponente.
10. Diversos
Indicar outros aspectos considerados importantes para o andamento do projeto e
não mencionados nos itens anteriores. Por exemplo, os aspectos legais, as
obrigações assumidas pelas entidades intervenientes e que deverão ser cumpri-
das plenamente, sob pena de inviabilizar o projeto.
11. Anexos
Os planos detalhados, necessários à execução do Proj eto, poderão ser apre-
sentados em anexo. Esta forma de apresentação favorece a leitura da parte mais
descritiva do plano, mais orientada para o processo decisório do que para o
processo executivo. Exemplos de detalhamentos a anexar:
Cronograma físico das atividades;
Cronograma das avaliações, relatórios técnicos e avaliações;
Programação dos treinamentos;
Descrição dos equipamentos e bens de capital;
Políticas e regras para interação com entidades externas;
Organogramas e manuais de organização;
Outros detalhamentos.
420 Isak Kruglianskas
Referências Bibliográficas
Eduardo Vasconcellos
Edison Fernandes Polo
I. INTRODUÇÃO
a. Departamentalização
A departamentalização é um processo que tem por finalidade definir as unidades
organizacionais às quais os recursos humanos e materiais serão agrupados. O
produto da departamentalização pode ser representado por uma figura denomi-
nada organograma. No transcorrer do capítulo serão estudados os elementos mais
importantes da departamentalização, que são:
definição do grau de descentralização das unidades de apoio;
seleção dos critérios de departamentalização adequados a cada área da
organização;
definição da amplitude de controle para cada cargo e, como conseqüência,
definição dos níveis hierárquicos da estrutura.
Estrutura Organizacional para Projetos de Cooperação Internacional 423
FIGURA 1
A FUNÇÃO DE ESTRUTURAR
Z
DECISÃO QUANTO ÀS PRODUTO DA DEFJNIÇÃO DE
ATRIBUIÇÕES ATRIBUIÇOES
O
O - Definição das atividades LISTA DE ATRIBUIÇÕES
E/OU ORGANOGRAMA
U - Definição quanto ao nível de decisão LINEAR
-
- Definição do sistema de comunicação
FIGURA 2
NÍVEIS DE FORMALIZAÇÃO
FIGURA 3
NÍVEL DE FORMALIZAÇÃO E DESEMPENHO DE PROJETOS
2. Condicionantes da Estrutura
Segundo Vasconcellos (1990), o delineamento da estrutura depende de um
conjunto de fatores denominados Condicionantes da Estrutura:
natureza da atividade/tecnologia;
obj etivos e estratégias;
ambiente externo;
condições internas;
fator humano.
Cada um dos fatores condicionantes (Fig. 4) será a seguir discutido, tendo como
foco a estrutura da unidade de cooperação internacional de uma instituição de
pesquisa tecnológica.
FIGURA 4
CONDICIONANTES DA ESTRUTURA DE UMA
UNIDADE DE COOPERACÁO INTERNACIONAL
Objetivos e
estratégias da
Condições ... Ambiente
unidade de
internas externo
cooperação
internacional
Natureza da
Fator atividade/
humano tecnologia
Estrutura da
unidade
de cooperação
internacional
Estrutura Organizacional para Projetos de Cooperação Internacional 429
a. Natureza da Atividade/Tecnologia
c. Ambiente Externo
d. Condições Internas
Tanto o ambiente externo como o interno afetam e são afetados pela organização,
porém de diferentes maneiras e graus. As variáveis do ambiente externo estão
fora do controle da instituição e, via de regra, a mesma tem que a elas se adaptar.
Por outro lado, as variáveis do ambiente interno estão sob o controle da institui-
ção e podem ser por ela alteradas.
Os pontos fortes e fracos da instituição de pesquisa em relação às suas potencialidades
tecnológicas estão diretamente relacionados ao papel de doadora ou receptora em
nível internacional, afetando diretamente a estratégia de cooperação internacional.
e. Fator Humano
Não é viável a configuração de uma estrutura ideal se ela não se adapta às
características do elemento humano disponível. O balanceamento entre a seleção
dos indivíduos ideais e o delineamento de uma estrutura que se adapte às pessoas
que constituem a organização é um dos problemas cruciais, visto que a estrutura
organizacional tem efeito direto na formação dos grupos, na atitude e no com-
portamento das pessoas.
O fator humano não deve ser entendido somente como os indivíduos que formam
432 Eduardo Vasconcellos/Edison Fernandes Polo
1. Tipos de Descentralização
De modo geral, as organizações podem m anter centrali zados os recursos, as ativi-
dades e as decisões. Ao de scentralizá-lo s, a organi zação pod e proceder de três
formas diferentes, que caracterizam os tipo s de desc entr ali zaç ão a seguir colocados .
a. Descentralização de Atividade
b. Descentralização de Autoridade
c. Descentralização Funcional
A descentralização fun cional ocorre com a difu são de um a m esm a função ent re
diversas unidades organizacionai s. S e os ch efes dos p equ en os escritó rios de
compras instalados nos departamento s fi car em sub ordina dos aos c hefes dos
departamentos, ao invés de subordinado s ao che fe do escritó rio centra l de
compras, dizemos que houve também uma desc entraliz ação func io na l (da fu nção
compras), além de descentralizaç ão de atividad e e de autori da de .
434 Eduardo Vasconcellos/Edison Fernandes Polo
a) Vantagens da Descentralização
b. Desvantagens da Descentralização
FIGURA 5
EXEMPLOS EXTREMOS DE
CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO
A) Estrutura centralizada
Diretor
I I
Área de
Área de Área de Área de
cooperação
pesquisa A pesquisa B pesquisa C
in ternacional
B) Estrutura descentralizada
Diretor
- Atendimento mais rápido por parte das - Capacidade ociosa de recursos humanos
unidades de apoio à cooperação e materiais
internacional
Dispersão
geográfica e
Áreas de pesquisa dispersas geograficamente, havendo
dificuldade de
dificuldade de acesso e comunicação
acesso e
comunicação
d. Volume da Demanda
Demanda elevada por serviços de cooperação internacional, por parte das várias
unidades de pesquisa, pode compensar mais facilmente certas duplicações de
infra-estrutura que necessariamente ocorrem com a descentralização.
e. Flutuação da Demanda
FIGURA 8
INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DE UMA DETERMINADA SITUAÇÃO QUAN-
TO AO NÍVEL DE CENTRALI ZAÇÃ O/DESCENTRALIZAÇÃO MAIS ADEQUADO
A A Resultad o
co n fig uração co nfig uração Impor- pond er ado
Fa to res do fa to r do fa to r tân ci a
Condi ci on ante da favo rece a favo rece a (pe s o )
d a est rutu ra des cent rali - des centrali- ce ntra liza ção rel ativ a Favorável F avoráv el
za ção z a ção da da do descentra- cen tra li-
coo pe ração coo peração fa tor liz ação za ção
in te rnacio na l int ern aci ona l
Cl areza de
ob j etivos e
Obj e ti vos e
faci lida de de x 2 2
est ratég ias
me d ir
res u ltados
Gra u d e
div er si fi cação
x 3 3
N atu rez a da tecnol ógi ca
at iv idade das ativ ida de s
e da G ra u de
te cno logia in te rd ep en -
x 3 3
d ên ci a en tre
as at iv ida des
V o lume da
dem and a x 2 2
Fl ut uação da
x 2 2
dem and a
Ambi ente T ur bul ên ci a
ex te rno do am b ie n te x 1 1
externo
D isp er são
g eog ráfica e
d ific uld ad e x 3 3
de aces so e
com un icação
Ca pac ita ção
do fa to r x 2 2
hum ano
F ato r Es trutu ra
hum an o info rm al e
cli m a x 2 2
o rga ni-
z ac io nal
To ta l 9 11
Estrutura Organizacional para Projetos de Cooperação Internacional 445
a. Descentralização Parcial
5. Exemplos Práticos
Parte dos conceitos, instrumentos e metodologia de operacionalização dos mes-
mos relativos à estrutura organizacional de centros de cooperação técnica inter-
nacional estão adequadamente exemplificados no transcorrer do capítulo. Porém,
com a finalidade de melhor ilustrar alguns tópicos, exemplos práticos foram
levantados em três organizações:
UNISINOS - Universidade do Vale do Rio dos Sinos;
IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S/A;
SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.
Um breve histórico sobre cada uma das três instituições encontra-se no Anexo I.
É bom salientar que os instrumentos aplicados, os números obtidos e as análises
realizadas buscam dar conhecimento de uma metodologia e exemplificar concei-
tos formulados, pois não chegam a caracterizar estudo de caso e, muito menos,
pesquisa.
Os exemplos foram elaborados com base em entrevistas semi-estruturadas e
abrangem os seguintes tópicos do capítulo :
Centralização x descentralização;
Alternativas de departamentalização;
Organograma linear;
Diagnóstico e mudança na estrutura.
A Figura 9 mostra um dos questionários aplicados.
448 Eduardo Vasconcellos/Edison Fernandes Polo
FIGURA 9
QUESTIONÁRIO SOBRE CENTRALIZAÇÃO x DESCENTRALIZAÇÃO
As instituições de pesquisa possuem duas grandes áreas, que são linha e apoio,
e existem muitas formas de se estruturá-las. No caso de uma instituição realizar
projetos de cooperação técnica internacional, pouco muda. As atividades e
decisões relativas à execução e gerenciamento das atividades de linha continuam
sendo de atribuição da área técnica (unidades de pesquisa). As atividades e
decisões relativas ao gerenciamento administrativo-financeiro, relações públi-
cas, negociação da cooperação internacional etc . são, em princípio, de atribuição
da área de apoio (unidade de cooperação internacional).
O conceito genérico acima colocado, entretanto, é apenas um ponto de partida
para o estudo da departamentalização, pois atividades relativas à cooperação
internacional podem ser atribuídas às áreas técnicas. Os tipos de departamenta-
lização da área técnica do projeto serão explicitados a seguir. Posteriormente,
serão colocadas formas de departamentalização adaptadas à área de apoio à
cooperação internacional.
As formas mais comuns de uma instituição de pesquisa agrupar as atividades e
decisões técnicas (de linha) são: por Produto, por Processo, Funcional, por
Projetos Pura, por Projetos, Matricial-Balanceada e Matricial-Funcional. Caso a
instituição de pesquisa realize também projetos de cooperação técnica interna-
cional, as formas mais usuais de se agrupar as atividades e decisões relativas à
cooperação internacional, consideradas de apoio, são: Funcional, Geográfica,
por Parceiros e por Convênios.
A seguir, colocamos o quadro-resumo das formas de departamentalização da área
técnica:
FIGURA 10 - ESTRUTURAS DE ÁREAS TÉCNICAS DE INSTITUTOS DE PESQUISA
ESTRUTURA CONDIÇÓES QUE FAVORECEM A ADOÇÃO CONSEQÜÊNCIAS DA UTILIZAÇÃO
10.a Por Produto - Elevada diferenciação entre os produtos exigindo atenção - Maior aproximação dos pesquisadores em relação às peculiaridades
individualizada. tecnológicas de cada produto.
- Pesquisadores agrupados - Volume mínimo de pesquisas em cada produto ou linhas de - O pesquisador é estimulado a acompanhar de perto a utilização
conforme os produtos ou produtos para justificar a existência de uma unidade organizacional. seletiva dos resultados da pesquisa.
linhas de produtos de - Não há projetos envolvendo pesquisadores de várias unidad es do - Risco de duplicação de esforços, duplicação de recursos humanos e
empresa. centro. equipamentos, caso não haja grande diversificação tecnológica.
- Com o tempo as unidades ficam estanques dificulando trabalhos
a
integrados no futuro.
10.b Por Processo - Elevada diferenciação entre as pesquisas feitas para cada etapa do - Maior aproximação dos pesquisadores com os problemas
processo. tecnológicos de cada etapa do processo produtivo.
- Pesquisadores agrupados - Volume mínimo de pesquisas em cada etapa do processo para - Especialização nas etapas do processo.
conforme etapas de um justificar a existência de uma unidade organizacional.
processo produtivo. - Não há projetos envolvendo pesquisadores de várias unidades do - O pesquisador é estimulado por acompanhar de perto a utilização
centro. seletiva dos resultados da pesquisa.
- Risco de duplicação de esforços, duplicação de recursos humanos e
equipamentos, caso não haja grande diversificação tecnológica.
- Com o tempo as unidades ficam estanques dificultando trabalhos
integrados no futuro. s
10.c Funcional 1- Elevada diferenciação entre as especialidades técnicas dos - Mais fácil formar a "mem ória técnica" do centro. c,
pesquisadores.
- Pesquisadores agrupados 1-Nessidade de especialização dentro de cada área técnica. - Formação de capacitação científica é facilitada. oo
conforme a formação técnica. - Pesquisas unidisciplinares. - Maior tendência à especialização por área do conhecimento.
- Pouca variedade de projetos. - Eficiente utilização dos recursos humanos e materiais evitando
duplicações.
- Com o tempo as unidades ficam estanques dificultando trabalhos
integrados no futuro.
o
10.d Por Projetos Pura - Projetos utilizando recursos materiais e humanos em tempo integral. - Formação de capacitação em gerência de projetos.
s
- Pesquisadores agrupados - Projetos de duração longa . - Eficiente integração na equipe do projeto, facilitando atingimento
conforme os projetos que de prazos e alterações exigidas pela produção.
desenvolvem. - Centro de pesquisa de tamanho reduzido. Eficiente formação de capacitação tecnológica.
- Pouca diversificação tecnológica. - Risco elevado de duplicação de recursos e materiais e capacitação
tecnológica.
-Há um único responsável pelo projeto que atende as demais
un idades da empresa.
l O.e Por Projetos
- Pesquisadores agrupados - Projetos que usam recursos em tempo parcial. -Formação de capacitação em gerência de projetos.
conforme os projetos que - Centro de pesquisa de tamanho reduzido. - Eficiente integração na equipe do projeto, embora em grau menor
desenvolvem, sendo que do que o exemplo anterior, facilitando o atingimento de prazos e
cada pesquisador pode estar alterações exigidas pela produção.
alocado a mais de um c
- Pouca diversificação tecnológica. - Ineficiente formação de capacitação tecnológica.
projeto.
- Risco de duplicação de recursos e capacidade ociosa, embora em Q
grau menor do que no ex emplo anterior.
- Há um único responsável pelo projeto.
- Risco de conflitos é maior.
Q
- Trabalho do gerent e-geral para realocar recursos é maior.
lO.fMatricial Balancea da
- Pesquisadores estão alocados - Necessidade de especialização e ao mesmo tempo existência de -Formação de capacitação tecnológica.
simultaneamente a áreas de projetos interdisciplinares que exigem alto nível de integração entre rn
especialidade e a projetos as diversas áreas .
interdisciplinares. Q
- Projetos utilizam recursos humanos e equipamentosa em tempo - Formação de capacitação em gestão de projetos interdisc iplinares .
parcial e há oscilações nessa utilização.
- Conduz à eficiente integração entre as áreas .
- Eficiente utilização de recursos humanos e materiais .
-Possibilita o atingimento de prazos e alta qualidade técnica .
-Maior nível de conflitos .
Q
LO.gMatricial-Funcional
- Pesquisadores estão alocados - Necessidade de especialização e ao mesmo tempo existência de - Apresenta as mesmas conseqüências de utilização que a matricial,
a áreas de especialidade e de projetos interdisciplinares que exigem alto nível de integração entr e todavia, com o o nível hierárquico do gerente de projeto
projetos interdisciplinares. as áreas . interdisciplinar é mais bai xo, a ênfase no projeto será um pouco
Os gerentes de projetos menor, ati ngimento de prazos e integração poderão ser afetados.
interdisciplinares estão - Volume mínimo de pesquisadores para viabilizar a existência das -Por outro lado, a ênfase em formação de capacitação, utilização de
subordinados ao gerente da áreas . recursos humanos e materiais será um pouco maior.
área de esp ecialidade na qual - Projetos utilizam recursos humanos e equipamentos em tempo - Maior nível de conflitos.
o projeto tem mais ênfase . parcial e há oscilações nessa utilização.
- Gerentes das áreas de especialidade proporcionam bom atendimento
aos gerentes de projetos interdisciplinares , embora estes estejam em
nível hierárquico inferior.
a. Por Produto
Os pesquisadores são agrupados de acordo com o produto (ou linha de produto)
sobre o qual trabalham. Esse tipo de estrutura é aconselhável quando existe alto
nível de diferenciação tecnológica entre produtos e massa crítica de pesquisa
para justificar a formação de unidades separadas (Fig. 1Da).
FIGURA 1Da
ESTRUTURA PORPRODUTO
I Diretor I
I I
Pesquisa sobre sobre I Pesquisa sobre
I A I I I C I
[ [
b. Por Processo
Os pesquisadores são agrupados de acordo com os processos dos projetos em que
trabalham. Esse tipo de estrutura é aconselhável quando existem diferenças
significativas entre os vários processos necessários à obtenção -do produto final,
a ponto de os mesmos representarem momentos estanques no processo global
(Fig. 1Db)
454 Eduardo Vasconcelos/Edison Fernandes Polo
FIGURA 10b
ESTRUTURA POR PROCESSO
c. Funcional
Esse tipo de estrutura agrupa os recursos humanos de acordo com suas especia-
lidades técnicas . Essa forma é vantajosa para instituições que necessitam de
pesquisadores altamente especializados, que realizam pesquisas dentro de cada
unidade técnica sem necessidade de muita integração entre elas (Fig. 10c)
FIGURA 10e
ESTRUTURA FUNCIONAL
Estrutura Organizacional para Projetos de Cooperação Internacional 455
FIGURA lOd
ESTRUTURA POR PROJETOS PURA
Gerente de Gerente de
projeto B projeto C
I I
e. Por Projetos
É semelhante à anterior, exceto pelo fato de os pesquisadores poderem trabalhar
simultaneamente em dois ou mais projetos. É uma estrutura apropriada para
centros pequenos (de nove a vinte pesquisadores). Ela é bastante flexível,
permitindo rápida adaptação a mudanças na atividade do centro (Fig. Iüe).
456 Eduardo Vasconcelos/Edison Fernandes Polo
FIGURA lOe
ESTRUTURA POR PROJETOS
fi Matricial Balanceada
Trata-se da estrutura matricial tradicional, onde gerentes de projetos interdisci-
plinares negociam com os gerentes funcionais uma equipe para o seu projeto. Os
pesquisadores se subordinam aos gerentes dos projetos interdisciplinares, mas
permanecem, concomitantemente, subordinados a seu chefe funcional (Fig. lOf).
FIGURA lOf
ESTRUTURA MATRICIAL BALANCEADA
I Diretor I
I
I I I
I Melhoramento II Plantio e
tratos culturais I Técnica de
colheita I
H Projeto A I
I
I
Projeto B I
Projeto C I
I
Estrutura Organizacional para Projetos de Cooperação Internacional 457
f 1. Gerente de Projeto
decidir sobre alocação dos recursos humanos e materiais aos vários projetos;
manter e atualizar os equipamentos e laboratórios;
aprovar a qualidade técnica das partes do projeto sob responsabilidade da sua
área;
avaliar o desempenho dos pesquisadores;
manter a memória técnica.
g. Matricial Funcional
FIGURA lOg
ESTRUTURA MATRICIAL-FUNCIONAL
gerente de projetos
O pesquisadores
a. Funcional
b. Geográfica
N esse caso, os recursos são agrupados tendo como critério a área geográfica por
eles servida. Esse é o critério utilizado pelo SENAI, para a departamentalização
da sua Diretoria de Cooperação Internacional. Abaixo do Diretor há 24 Depar-
tamentos Regionais, cada um deles responsável pelas atividades de cooperação
internacional realizadas pelas Superintendências Regionais do SENAI. Seu or-
ganograma parcial encontra-se na Figura 13 .
No caso de instituições de pesquisa, a departamentalização geográfica de unida-
des de cooperação internacional pode ocorrer quando as unidades do Instituto
são geograficamente dispersas, com unidades de pesquisa localizadas fisicamen-
te distantes umas das outras, e que demandem, por diversas razões, a instalação
de uma unidade de cooperação internacional junto das mesmas.
Em determinados casos, pode haver necessidade de localizar unidades de coope-
ração internacional fisicamente próximas a instituições ou agências com as quais
as mesmas tenham muita interação: é o caso da unidade que o SENAI mantém
em Brasília para realizar, precipuamente, atividades junto à ABC.
As principais conseqüências da utilização desse tipo de estrutura são as seguintes:
maior conhecimento das características e dos problemas das diferentes re-
giões;
maior integração com a unidade técnica de cada região, facilitando o atingi-
mento de prazos e alterações exigidas;
risco elevado de duplicação de recursos e esforços, e de surgimento de
capacidade ociosa;
dificulta a coordenação do CTI como um todo.
d. Por Convênios
A departamentalização por Convênios é bastante semelhante à por Parceiros,
pois agrupa atividades e decisões de acordo com os convênios de cooperação
internacional da instituição. A mesma pode suceder quando a cooperação inter-
nacional ocorre com base em grandes convênios, com cada um dos mesmos
demandando, por um período longo de tempo e sem grandes oscilações, a
•
realização de significativo volume de atividades.
As principais consequências da utilização desse tipo de estrutura são as seguintes:
maior compreensão e melhor atendimento das características e demandas de
cada convênio;
facilidade de formar "memória" sobre os convênios;
maior integração intramembros das unidades de cooperação internacional,
por concentrarem seus esforços em um convênio;
formação de capacitação em gerência de cooperação internacional;
risco de duplicação de recursos e esforços, e de surgimento de capacidade
ociosa;
risco de as unidades de cooperação internacional ficarem estanques, dificul-
tando trabalhos integrados;
Estrutura Organizacional para Projetos de Cooperação Internacional 461
UNISINOS
Na Figura 11 está a parte da estrutura organizacional da UNISINOS envolvida
com as atividades e decisões de cooperação técnica internacional. Essa unidade
pode ser entendida como sendo o Centro de Cooperação Técnica Internacional
da UNISINOS.
Para melhor entendimento das principais atividades/decisões relacionadas à
cooperação técnica internacional da UNISINOS, é aconselhável consultar o
Anexo 11.
Características Básicas dos Projetos da UNISINOS
São projetos que visam à capacitação, renovação ou transformação da institui-
ção, decorrentes da matriz básica de seu planejamento estratégico.
Existem três categorias básicas de projetos:
a. Projetos de Desenvolvimento Institucional, voltados para:
capacitação de recursos humanos;
transferência de tecnologia;
expansão da capacidade institucional.
b. Projetos-piloto, voltados para a geração das informações e conhecimentos
necessários a realização de programas mais amplos de desenvolvimento.
c. Projetos de apoio institucional, voltados ao preenchimento de aspectos críti-
cos, a título de subsídio.
Comentários:
Pelo organograma parcial exposto, e pelas informações adicionais sobre as
atividades/decisões realizadas pelas áreas, pode-se concluir que a UNISINOS
possui uma estrutura mista, e que as áreas técnicas e de apoio envolvidas com
cooperação internacional estão estruturadas de modo Matricial-Funcional. As
equipes de projeto são formadas em função do conteúdo técnico dos projetos.
462 Eduardo Vasconcelos/Edison Fernandes Polo
FIGURA 11
ESTRUTURA ORGANIZACIONAL PARCIAL DA UNISINOS
Reitor
I
I Assessoria Financeira
I
Asses soria Juríd ica
I
I
I Asse ssori a Internacional
I I I I
Pró-Reitor ia Pró-Reitoria Pró-Reitoria Pró-Reitoria
I Administr.
II Graduação Pesq . ePG.
II Comun./Extens.
(a)
Superintendência Comitê de Projetos -
Administrativa (Pró-Reitores)
Assessoria para
Assuntos Internacionais
I I I I
(b) (c) (d) (e) (t)
Intercâmbio Divulgação Convênios Cooperação
Acadêmico de Recurso s Internacional Institucionais Técn ica
Humanos Internacional
(g)
Gerência de
Programa s e
Projeto s
(h)
Secretária
I I
(i) U) (1) (m)
Controladoria Projetista Analista de Corpo Técnico
(Apoio) Dispêndio (Matricial)
Estrutura Organizacional para Projetos de Cooperação Internacional 463
FIGURA 12
ESTRUTURA ORGANIZACIONAL PARCIAL DO IPT
Gabinete da Diretoria
Coordenadorias
de Apoio :
-Admin . Geral
- Econ . - Finan .
- Transf. Técn .
(*) CAGE Administraçã o
(temas)
I
" " Lab. 1 Lab .2 Lab.3 UT .1 UT.5 UT.9
" x x x o o o O O O O O O
. Automação X X X O O O O O O O O O
industrial
2. Biotecnologia X X X O O O O O O O O O
3. Energia X X X O O O O O O O O O
4. Materiais X X X O O O O O O O O O
5. Qualidade X X X O O O O O O O O O
Industrial
6. Siderurgia X X X O O O O O O O O O
7. Transportes X X X O O O O O O O O O
IPT
A Figura 12 mostra parte da estrutura organizacional do IPT, na qual se inserem
as atividades/decisões de cooperação técnica internacional.
Para melhor entendimento das principais atividades/decisões relacionadas à
cooperação técnica internacional do IPT, consulte-se o Anexo 11.
Características Básicas dos Projetos
Os projetos de cooperação técnica internacional realizados pelo IPT podem ser de:
a. Cooperação Recebida:
a.1. recepção de técnicos estrangeiros que vêm dar assessoria ao IPT sobre um
tema específico;
a.2. envio de técnicos brasileiros ao estrangeiro para aquisição de conhecimen-
tos sobre um tema específico.
b. Cooperação Prestada:
b.1. recepção de estagiários ou alunos que vêm para o Brasil fazer, respectiva-
mente, estágios ou cursos no IPT;
b.2. envio de técnicos brasileiros ao estrangeiro para prestar consultoria, asses-
soria ou treinamento local sobre tema específico.
Comentários:
Pelo organograma parcial exposto e pelas informações adicionais sobre as ativi-
dades/decisões realizadas pelas unidades, pode-se concluir que o IPT possui uma
estrutura mista, que as unidades técnicas estão estruturadas de modo Matricial-
Funcional e que as de apoio envolvidas com cooperação internacional estão
estruturadas de modo Funcional.
SENAI
A seguir, coloca-se parte da estrutura organizacional do SENAI, na qual se insere
a Assessoria para Assuntos Internacionais. Esta unidade pode ser entendida
como sendo o centro de cooperação técnica internacional do SENAI.
Estrutura Organizacional para Projetos de Cooperação Internacional 465
FIGURA 13
ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO SENAI
r-------------------,
I I
I I
:I ABC* :I
: (Itamarati) :
L
I JI
(a)
DIRETORIA GERAL
I I I I
(d) (e) (f)
(b) Diretoria de
Diretoria Diretoria Diretoria
Diretoria de Rec. Hum.
Técnica Administrat Financeira
Cooperação DRH
DT DA DF
Internacional
(g) (g)
Técnicos Técnicos
a. Cooperação Recebida:
a.1. recepção de técnicos estrangeiros que vêm dar assessoria ao SENAI sobre
um tema específico;
a.2. envio de técnicos brasileiros ao estrangeiro para aquisição de conhecimen-
tos sobre um terna específico.
b. Cooperação Prestada:
V. ORGANOGRAMA LINEAR
prática, essas etapas estão interligadas, podendo ser quase simultâneas em alguns
instantes.
Para se elaborar um adequado Organograma Linear deve-se observar alguns
passos básicos, assim resumidos: (a) coleta de informações básicas sobre a
instituição, com a finalidade de identificar o seu perfil, objetivos, estratégias,
organograma real, principais problemas e conflitos etc.; (b) delineamento do
Organograma Linear, mediante a formação de grupo de trabalho para realizar a
tarefa, identificação das atividades/decisões e cargos básicos para as quais o
Organograma Linear será elaborado, identificação das situações atual e desejada,
FIGURA 14
MÉTODO PARA O DELINEAMENTO E IMPLANTAÇÃO
DO ORGANOGRAMA LINEAR
FASE 2 - DELINEAMENTO
2.1 Formação do grupo de trabalho
2 .2 Identificação das atividades/decisões
2 .3 Identificação das funções
2.4 Identificação das situações atual e desejada
2 .5 Análise
2.6 Delineamento do Organograma Linear
FIGURA 15
ORGANOGRAMA LINEAR SIMPLIFICADO ·DE UMA DAS INSTITUIÇÕES
TOMADAS COMO EXEMPLO
Principais Cargos
ATIVIDADES/DECISÕES DE D C C D C D D
APOIO À COOPERAÇÃO E A T R P T R
TECNICA INTERNACIONAL
G T I J E
Elaboração de convênios de Cooperação
D P P P P P P
Técnica Internacional.
Aprovação do convênio antes do envio à outra parte. D
Negociação do convênio
D D D D D D D
com a outra parte e com agências financiadoras.
Organização de feiras e eventos internacionais. D P P D D D
Atendimento a visitantes internacionais . D D P P D
Elaboração de um plano estratégico contendo diretrizes
prioridades, metas e instrumentos de cooperação D P P P P P P
internacional para a instituição como um todo.
Organização para a recepção de estagiários de outros
D D D D
países.
Mapeamento de fontes de recursos para a cooperação
D D D
técnica internacional.
Elaboração do relatório anual das atividades
D D
de cooperação técnica internacional.
Elaboração de panfletos para divulgação das
D D
potencialidades da instituição na área internacional.
Identificação das necessidades dos usuários. D D
Elaboração de proposta de cooperação técnica
D D
internacional.
Aprovação da proposta antes de ser enviada ao usuário. D
Negociação da proposta. D P P P P P P
Decisão sobre a constituição da equipe do projeto. D D
Realização das atividades técnicas do projeto. D D
Decisões dentro do orçamento do projeto . D D
Acompanhamento dos prazos . D D
(continua)
472 Eduardo Vasconcelos/Edison Fernandes Polo
(continuação)
Asseguramento da qualidade
D D
técnica dos trabalhos.
Elaboração de relatórios parciais. P D D P
Elaboração de relatórios finais. D D D
Entrega dos relatórios finais aos usuários. D D
Avaliação dos resultados do projeto. D D D D
Os aspectos mais relevantes do organograma linear foram selecionados com base
no envolvimento dos cargos com as atividades/decisões. As análises foram
realizadas em torno das atividades/decisões que merecem destaque, por apresen-
tarem um elevado (ou baixo) envolvimento dos cargos com as mesmas.
Os resultados mais significativos são os que se seguem:
FIGURA 16
ENVOLVIMENTO COM ATIVIDADES E DECISÕES
c. Diagnóstico da Estrutura
FIGURA 17
DIAGNÓSTICO ORGANIZACIONAL DO GERENCIAMENTO DE PROJETOS DE
COOPERAÇÃO TÉCNICA
(continua)
Estrutura Organizacional para Projetos de Cooperação Internacional 477
(continuação)
Característica Organizacional Grau de Nível de
Concordância Relevância
O Gerente de Projeto dispõe de informações adequadas para
6 7
um bom gerenciamento de projeto.
O Gerente de Projeto possui informações no tempo adequado
5 7
para o bom gerenciamento dos projetos.
O fluxo de comunicação entre os membros da equipe do
6 7
projeto que pertencem a diferentes áreas é adequado.
O fluxo de comunicação entre os membros da equipe de
6 7
projeto que envolve diferentes países é adequado .
O andamento dos projetos é adequadamente informado aos
6 7
membros de suas equipes.
O andamento dos projetos é adequadamente informado aos
6 7
responsáveis pelas unidades regionais.
Prática e teoria são duas dimensões de uma mesma realidade. Nos meios acadê-
micos e no cotidiano dos institutos que desenvolvem projetos ouve-se dizer que
a teoria nos dá o porquê da existência, conteúdo, forma, funcionamento e
transformação das coisas; a prática nos coloca em contato com as coisas e nos
dá a oportunidade de sentir a existência, conteúdo, forma, funcionamento e
transformação dessas coisas, sem contudo nos dar o porquê; temos que buscá-lo.
Teoria e prática se completam.
O capítulo procurou combinar teoria e prática. Os conceitos, instrumentos e
metodologias colocados foram ilustrados com exemplos de instituições que
478 Eduardo Vasconcelos/Edison Fernandes Polo
Referências Bibliográficas
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480 Eduardo Vasconcelos/Edison Fernandes Polo
ANEXO I
BREVE HISTÓRICO DAS INSTITUIÇÕES TOMADAS
COMO EXEMPLO
A seguir damos um breve histórico de cada uma das três instituições tomadas como
exemplo:
• UNISINOS
Localizada em São Leopoldo, a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)
foi criada em 31 de julho de 1969. Embora seja uma universidade nova, sua história
teve inicio em 1869 com a fundação do Colégio Nossa Senhora da Conceição, por padres
jesuítas vindos da Alemanha e da Áustria .
A universidade se constitui em um universo com aproximadamente 22 mil alunos, 800
professores, 650 funcionários, 80 professores pesquisadores envolvidos em mais de uma
centena de projetos e subprojetos, 500 .000 livros classificados e 80.000 exemplares de
periódicos .
A UNISINOS amplia e fortalece , a cada ano, suas atividades de extensão, que colocam
a universidade mais próxima da comunidade. Promove palestras, seminários, congres-
sos e convênios com instituições nacionais e estrangeiras. Presta serviços de treina-
mento, consultoria e assessoria a empresas nas mais diversas áreas. Coloca à disposição
da comunidade serviços de assistência à saúde, jurídica, pedagógica, psicológica e de
nutrição . Realiza testes de laboratórios, perícias técnicas e testes vocacionais. Mantém
serviços de apoio e pesquisa à indústria , programas assistenciais, assessorias à comu-
nidade carente etc.
Com uma sólida tradição em pesquisas, iniciada pelos jesuítas um século antes da
criação da UNISINOS , a instituição vem dando especial atenção a essa área e realizando
projetos com destaque nacional e internacional. Seus institutos de pesquisa executam
importantes projetos nas áreas de Arqueologia, História, Antropologia, Biologia etc.
Desde a sua fundação até fins de 1989, a cooperação técnica internacional era realizada de
forma dispersa, sendo caracterizada por esforços isolados de várias de suas unidades. A
partir desse ano, os esforços de cooperação internacional passaram a ser coordenados pela
Assessoria para Assuntos Internacionais. Dessa forma, a cooperação técnica internacional
passou a ser mais planejada, organizada e controlada, ganhando liderança mais efetiva e
motivando mais as pessoas envolvidas com cooperação, devido às facilidades que criou
para as mesmas.
• IPT
Localizado na cidade de São Paulo, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São
Paulo S .A. (IPT) foi criado em1899, como Gabinete de Resistência dos Materiais da Escola
Politécnica de São Paulo (EPSP). Em 1926, passou a Laboratório de Ensaios de Materiais
da Escola Politécnica de São Paulo (EPSP). Em 1934, alcançou o nível de Instituto de
Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT), atuando como um anexo da Universidade de
Estrutura Organizacional para Projetos de Cooperação Internacional 483
• SENAI
Do mesmo modo que a UNISINOS e o IPT, o SENAI é uma das mais tradicionais,
conceituadas e importantes instituições brasileiras que, no próximo ano, completa 50
anos de existência. É mantido pelas Federações das Indústrias e pela contribuição de
1 % da folha de pagamento das empresas industriais. Espelhando-se em sua experiência,
vários países latino-americanos constituíram seus serviços de aprendizagem industrial,
com objetivos e serviços praticamente iguais. A única grande diferença é que essas
entidades latino-americanas são todas governamentais.
O SENAI recebe cooperação técnica de países avançados, dos quais o Japão , Inglaterra,
Alemanha, Itália, França, Estados Unidos, Israel e Espanha merecem destaque.' Por outro
lado, o SENAI presta cooperação técnica internacional para países da América Latina e
países da África de língua portuguesa, embora às vezes preste também cooperação a países
da África de língua francesa e inglesa. É o caso da Costa do Marfim e Nigéria. Todos os
convênios são intermediados pela Diretoria de Cooperação Internacional (DCI) .
A cooperação internacional está voltada para o dia-a-dia de escolas profissionais de
entidades congêneres e para empresas industriais, ou sej a, está voltada para técnicas de
organizaçào de escolas (conhecimentos técnicos, didáticos, pedagógicos, administrativos,
estruturação de currículo e programas, preparação de material didático etc.), estruturação
de oficinas, layout, montagem de laboratórios, organização de almoxarifados etc. A coo-
peração técnica internacional se dá em praticamente todos os segmentos industriais. Quando
presta cooperação, o SENAI lança mão de sua rede de escolas espalhada por todo o Brasil.
A Diretoria de Cooperação Internacional (DCI) está localizada em Brasília, para ficar
fisicamente próxima aos Ministérios das Relações Exteriores e do Trabalho, que parti-
cipam das tratativas dos convênios . A DCI dispõe de facilidade para manter diálogo
com os organismos governamentais e possui conhecimentos sobre os procedimentos a
serem seguidos.
484 Eduardo Vasconcelos/Edison Fernandes Polo
Dentre seus vários projetos, a DCI administra os de cooperação recebida da nCA (J apan
International Cooperation Agency), um dos quais estruturou um curso técnico de
eletrônica e eletrotécnica. Um outro projeto possibilitou a estruturação, no Estado do
Espírito Santo, de um curso técnico de instrumentação . Em julho de 1990 foi assinado
um novo convênio com a nCA para a instalação, em São Caetano do Sul, de uma escola
técnica de informática industrial, ligada à área de automação da manufatura.
ANEXO 11
PRINCIPAIS ATIVIDADES/DECISÕES RELACIONADAS À COOPERAÇÃO
INTERNACIONAL DAS TRÊS INSTITUIÇÕES TOMADAS COMO EXEMPLO
UNISINOS
a) Comitê de Projetos:
seleção de projetos;
avaliação de contrapartidas;
avaliação final de projetos;
decisão sobre o planej amento institucional;
decisão sobre o planejamento institucional para programas e projetos .
b) Intercâmbio Acadêmico:
divulgação de bolsas de estudos;
encaminhamento de cartas de aceite;
cadastro de interessados em estudos no exterior;
cadastro de universidades no exterior que aceitam estudantes estrangeiros.
d) Divulgação Internacional:
coordenação de seminários, exposições etc.
e) Convênios Internacionais :
Estrutura Organizacional para Projetos de Cooperação Internacional 485
h) Secretaria:
serviços de apoio.
i) Controladoria :
avaliar a realização das atividades técnicas;
acompanhar os prazos;
486 Eduardo Vasconcelos/Edison Fernandes Polo
j) Projetista:
analisar o contexto, a clientela e a situação-problema do projeto a ser desenvolvido,
como forma de definir corretamente seus objetivos e recursos;
elaborar documentos do projeto, de acordo com os diferentes modelos de cada agên-
cia que reflitam concepção dos objetivos e dos meios para alcançá-los;
elaborar relatórios de projetos institucionais para patrocínio (parciais e finais);
detalhar os recursos de projetos;
acompanhar, reprogramar, sugerir e colocar em prática alterações, como forma de
assegurar a realização dos objetivos do projeto;
detalhar cronogramas;
detalhar orçamentos;
aprovar folha de horas dos técnicos alocados.
l) Analista de Dispêndio:
avaliar custos;
detalhar contrapartidas;
avaliar decisões dentro do orçamento do projeto;
acompanhar custos, prazos, curvas do projeto;
prestar contas;
alocar custos;
adequar a previsão orçamentária.
1PT
Agrupamentos
Laboratórios:
Unidades Técnicas :
UTl Química;
UT2 Metalurgia;
UT3 Mecânica e Eletricidade;
UT4 Tecnologia de Transportes ;
UT5 Economia de Tecnologia e Prospecção Tecnológica;
UT6 Contrução Civil;
UT7 Produtos Florestais, Têxteis e Couros;
488 Eduardo Vasconcelos/Edison Fernandes Polo
Recursos :
x: recursos materiais; (remeter à Fig. 12)
o: recursos humanos.(remeter à Fig. 12)
a) Diretoria Executiva:
celebra convênios de cooperação internacional;
aprova os convênios antes que os mesmos sejam celebrados;
aprova as propostas antes de serem encaminhadas aos usuários ;
negocia convênios com as partes e agências;
elabora plano estratégico;
presta atendimento a visitantes;
aprova eventos, congressos, feiras etc.;
avalia resultados
e) Coordenadoria de Programas:
dá suporte na elaboração de convênios de cooperação técnica internacional;
negocia convênios com as partes e agências;
organiza feiras e eventos internacionais;
presta atendimento a visitantes internacionais;
elabora plano estratégico;
organiza o atendimento a visitantes internacionais;
mapeia fontes de recursos para cooperação;
identifica necessidade dos usuários;
elabora e negocia propostas;
forma equipe do projeto;
executa o projeto;
elabora relatórios.
f) Unidades Técnicas:
dá suporte na elaboração de convênios de cooperação técnica internacional;
negocia convênios com as partes e agências;
organiza feiras e eventos internacionais;
presta atendimento a visitantes internacionais;
elabora plano estratégico;
organiza o atendimento a visitantes internacionais;
490 Eduardo Vasconcelos/Edison Fernandes Polo
SENAI
a) Diretoria Geral:
aprova os convênios antes que os mesmos sejam celebrados;
aprova as propostas antes de serem encaminhadas aos usuários.
c) Departamentos Regionais:
identifica a necessidade e manifesta o interesse em receber e prestar cooperação;
realiza os contatos iniciais com a agência que vai financiar o serviço;
presta atendimento a visitantes internacionais;
presta cooperação técnica no exterior;
participa da elaboração do planejamento estratégico;
identifica fonte de recursos;
identifica necessidade dos usuários;
elabora e negocia propostas;
forma equipe do projeto;
executa o projeto;
elabora relatórios.
o SENAI Nacional mantém unidades (escolas) que lidam com os diversos segmentos
(temas) da indústria. Assim, por exemplo, se o assunto da cooperação técnica for artes
gráficas, cerâmica ou química, o Departamento Regional de São Paulo será envolvido,
pois as escolas que tratam do assunto encontram-se localizadas em São Paulo; se o
assunto for calçados e couro, será envolvido o Departamento do Rio Grande do Sul; se
for papel e celulose, o Paraná; se for têxtil, o Rio de Janeiro, e assim por diante.
d) Diretoria Técnica:
elabora e negocia convênios de cooperação técnica;
organiza feiras e eventos internacionais;
presta atendimento a visitantes internacionais;
participa do planejamento estratégico;
identifica fonte de recursos;
identifica necessidade dos usuários;
elabora e negocia propostas;
forma equipe do projeto;
assegura prazos e qualidade e a utilização dos recursos;
elabora relatórios;
492 Eduardo Vasconcelos/Edison Fernandes Polo
avalia resultados.
e) Diretoria Administrativa:
negocia convênios com outras partes e agências financiadoras;
participa da organização de feiras e eventos internacionais;
presta atendimento a visitantes internacionais;
participa do planejamento estratégico;
organiza a recepção de estagiários estrangeiros.
f) Diretoria Financeira:
negocia convênios com outras partes e agências financiadoras ;
participa do planejamento estratégico .
g) Técnicos:
realizam as atividades técnicas;
elaboram relatórios parciais e finais.
Gerenciamento da Cooperação
Técnica Internacional
I. INTRODUÇÃO
meio de ações orientadas para objetivos específicos, executadas uma a uma e sob
encomenda, podendo ser mais ou menos complexas em função do tempo, do
número de pessoas e dos recursos envolvidos. Numa ação ou atividade específica
de cooperação técnica internacional pode ocorrer o envolvimento de um único
indivíduo, por um período relativamente curto, como uma semana, ou de grandes
equipes, durante muito tempo. Com freqüência, um pesquisador, cientista ou
professor é convidado para estudar ou ministrar um curso numa universidade em
outro país, sem que isso precise envolver mais que um entendimento direto entre
o anfitrião e o convidado. Esse é o caso mais simples. Um caso mais complexo
é exemplificado pelo envio a um país, por parte de uma agência multilateral, de
uma missão de assistência técnica com vistas à preparação de projetos, envol-
vendo uma equipe de prestação de serviços e o entendimento com inúmeras
agências que se beneficiarão do serviço prestado. Nesse caso mais complexo, é
maior a proximidade com o conceito de projeto.
Quanto mais pessoas, tempo, instituições e outros recursos estiverem aplicados
numa ação específica de cooperação técnica internacional, mais nítida será sua
natureza de projeto complexo e de grande porte. No entanto, as ações menos
complexas, que ficam distantes desse extremo, também se definem como proje-
tos, embora mais simples. Os projetos sempre estarão orientados para a realiza-
ção de uma determinada estratégia, programa ou linha de ação, a qual pode ser
mais ou menos explícita.
1. Esse manual apresenta, em seu início , a seguinte lista de questões que o documento de projeto deve ser
capaz de responder: Qual é o problema de desenvolvimento? De que maneira esse problema poderia ser
resolvido? Qual é a melhor solução? Qual é o problema de cooperação técnica? Qual é a solução pretendida?
Qual é a melhor maneira de atingir a solução pretendida? Quais são os recursos mais apropriados e os
arranjos de implementação para o atingimento dos resultados pretendidos? Há quaisquer riscos sérios para
o atingimento dos resultados do projeto? Quanto custarão os recursos?
Gerenciamento da Cooperação Técnica Internacional 495
2. Níveis de Gerenciamento
Além do projeto, há dois outros níveis de trabalho e de gerenciamento das
atividades de cooperação:
Estratégia: é o nível político da cooperação, que compreende principalmente a
decisão de entrar nesse campo, a escolha das áreas prioritárias de atuação, a
busca de oportunidades e o gerenciamento das atividades como um todo.
Programas: representam a agregação de projetos em famílias de atividades
similares. Nem sempre os projetos estão subordinados a programas; os progra-
mas, quando existem, podem compreender outras atividades que não somente
projetos. Certas organizações trabalham por programas, enquanto outras prefe-
rem atuar diretamente no nível dos projetos. Desse modo, quando uma agência
pretende trabalhar com o PNUD, por exemplo, precisa, no mínimo, fazer refe-
rência ao programa dentro do qual seu projeto se encaixa. Os programas repre-
sentam uma forma de organizar recursos, definir prioridades e dar tratamento
especializado às propostas de projetos e aos projetos em andamento. De uma
organização para outra, a denominação para essa tentativa de agregação pode
mudar (planos de ação, áreas de concentração temática etc.).
Um exemplo de organização que trabalha com a agregação de projetos em
programas é o IDRC-International Development Research Center (Centro Inter-
nacional de Investigaciones para el Desarrollo-CIID). O CIID está organizado
em Divisões e Programas setoriais, refletindo a segmentação disciplinar do
conhecimento científico contemporâneo, assim como a organização da comuni-
dade científica em geral. As Divisões são as seguintes: (a) Divisão de Ciências
da Agricultura e Nutrição; (b) Divisão de Ciências Sociais; (c) Divisão de
Ciências da Saúde; (d) Divisão de Ciências da Informação e (e) Divisão de
Geociências e Ciências da Engenharia. Por sua vez, cada uma dessas divisões se
subdivide em programas especializados. Por exemplo, a primeira dessas divisões
(agricultura) se subdivide em programas de cultivos, produção animal, recursos
florestais, recursos pesqueiros, pós-produção e economia agrícola. O componen-
496 Antonio Cesar Amaru Maximiano
1. Manuais de Gerenciamento
As organizações patrocinadoras normalmente exigem que as organizações que
pleiteiam recursos apresentem propostas de acordo com formatos predefinidos.
Essas " receitas" para a elaboração de propostas de projetos podem ser genéricas
ou bastante minuciosas, como é o caso do manual How to Write a Project
Document, do PNUD. "Documento de projeto " é uma designação alternativa para
"proposta de projeto" e "plano de projeto" no ambiente da cooperação técnica
internacional. Como conseqüência da variedade de organizações doadoras, os
dirigentes e funcionários das agências e dos projetos de cooperação precisam
conhecer e saber trabalhar com inúmeros formatos ou manuais de preparação de
propostas ou documentos de projeto.
O manual do PNUD segue um padrão de elaboração de propostas (chamado
"lógic a da preparação de projeto") que é adotado por outras organizações e que
Gerenciamento da Cooperação Técnica Internacional 497
2 . Ver ILO (s.d.) . De acordo com esse manual, um bom documento de projeto é capaz de responder às seguintes
questões : O que se espera que o projeto alcance, se for completado com sucesso dentro do prazo previsto?
Por que o projeto está sendo realizado? Quais são as razões? Qual é a lógica do projeto? Como o projeto
será implementado? Que tarefas são necessárias para o atingimento dos objetivos? Quem é o responsável
primário pela implementação do projeto? Quem são os beneficiários que se pretende atingir, o grupo-alvo
que se espera seja beneficiado pelo projeto? Dentro de que prazo o projeto deverá ser realizado e o objetivo
alcançado? Que recursos são necessários para atingir o objetivo? Que fatores externos são necessários para
o sucesso do projeto?
498 Antonio Cesar Amaru Maximiano
coincidem de uma agência para outra e também não parecem estar claros para os
próprios autores desses manuais.
Development
objective
Immediate
objective
Outputs
Activities
Inputs
Há também manuais para outras fases do projeto, como por exemplo para a
avaliação de seus resultados (UNITED NATIONS, 1987). Os manuais de avalia-
ção devem ser considerados instrumentos de planejamento do projeto porque infor-
mam, antecipadamente, os critérios segundo os quais o esforço será avaliado .
2. A Estrutura Típica
A estrutura do "tipo ideal", isto é, a abstração que se encontraria se fosse
pesquisado um número grande de organizações e agências de cooperação técnica
internacional, compreenderia quatro níveis hierárquicos mais importantes :
Diretor-geral.
Gerente de Programas.
Gerente de Projetos.
Técnicos (responsáveis por atividades operacionais técnicas ou administrativas).
502 Antonio eesar Amaru Maximiano
FIGURA 1
COMPARAÇÃO ENTRE DUAS ESTRUTURAS DE
AGÊNCIAS DE COOPERAÇÃO
ORGANIZAÇÃO
COMPLEXA
I Modelo: ABe
SIMPLES
__
ORGANIZAÇÃO
I Modelo: Universidades
I
1. Preparação do Projeto
N esta fase, estão as tarefas que começam na identificação do problema e vão até
a preparação do documento ou proposta de projeto. É aqui, também, que se
encontra a tarefa mais difícil do gerenciamento de projetos de cooperação técnica
internacional: a identificação e interpretação do problema, que deve levar em
conta o cliente, usuário ou beneficiário do projeto . Nos projetos de cooperação
técnica internacional, o patrocinador quase nunca é o cliente, mas é sua lingua-
gem que o gerente de projeto deve aprender a falar.
N a preparação do projeto, é importante levar em conta alguns pontos das fases
subseqüentes, como os critérios segundo os quais o projeto será avaliado ao seu
término e as eventuais necessidades de modificação que o projeto enfrentará
durante sua execução.
As tarefas mais importantes desta fase são as seguintes:
analisar o contexto, a clientela e a situação-problema do projeto a ser desenvol-
vido como forma de definir corretamente seus objetivos, atividades e recursos;
planejar as atividades de forma coerente com os objetivos e os recursos de
forma coerente com as atividades;
elaborar o documento do projeto, refletindo uma concepção de objetivos e
dos meios para alcançá-los, de acordo com o modelo da agência de coopera-
ção à qual os recursos estão sendo solicitados;
Gerenciamento da Cooperação Técnica Internacional 505
2. Negociação do Projeto
Esta família de tarefas vai desde a preparação da proposta até a contratação do
projeto, embora a negociação tenha início antes disso . Se uma proposta chega a
ser apresentada e discutida, é porque já houve um " sin al verde" para a idéia do
projeto. A negociação pode envolver modificações no plano do projeto , exigidas
pela agência patrocinadora, na definição do fluxo de caixa ou em outros de seus
componentes.
As tarefas mais importantes desta fase são as seguintes:
acompanhar a tramitação do documento do projeto;
estudar as análises do plano do projeto feitas pela agência patrocinadora ou
pelos especialistas que ela contratou;
fazer as eventuais modificações no documento do projeto de acordo com as
recomendações da agência ou de seus consultores;
definir as condições de execução do projeto e participar da elaboração do contrato;
articular as agências e organizações envolvidas na preparação do projeto para
o início da execução.
3. Implementação e Execução
Uma vez que a negociação resulte positiva para o autor da proposta, o projeto
será contratado pela agência patrocinadora. Depois de algum tempo, os recursos
começarão a ser liberados, mas o gerente nem sempre poderá esperar até esse
momento para iniciar a execução física do projeto. Na prática, o projeto já
começou antes disso, porque uma equipe já terá sido organizada e os acordos
básicos para a execução já terão sido acertados.
Na fase de execução, as condições previstas no planejamento do projeto poderão
e irão fatalmente modificar-se: um integrante da equipe tem que se dedicar a
outro projeto, uma premissa de planejamento revela-se infundada, um organismo
nacional que deveria participar é extinto, um recurso com o qual se contava de
506 Antonio Cesar Amaru Maximiano
repente torna-se indisponível. Tudo isso tem impacto não apenas na forma como
o projeto será executado, mas também no seu orçamento.
Por causa disso, o gerente e a equipe do projeto deverão estar preparados para
fazer as modificações necessárias e para exercer, na fase de planejamento, uma
certa capacidade de previsão, antecipando-se às mudanças que certamente
ocorrerão.
As tarefas mais importantes desta fase são as seguintes:
mobilizar os recursos humanos e materiais previstos no documento do projeto;
processar pagamentos e recebimentos;
recepcionar e acompanhar missões de fiscalização e controle do projeto;
acompanhar, reprogramar, sugerir e colocar em prática alterações nas condi-
ções de execução do projeto, como forma de assegurar que a situação ao final
do projeto seja aquela prevista no documento negociado e contratado;
elaborar relatórios de projetos e fornecer informações sobre o andamento de
projetos para sistemas de acompanhamento.
4. Conclusão do Projeto
x. CONCLUSÃO
N este trabalho, o autor procurou fazer uma análise ocupacional dos dois princi-
pais papéis gerenciais dos agentes de cooperação técnica internacional: gerente
da área e de seus programas e gerente de projetos. A parte inicial do trabalho faz
uma análise do projeto de cooperação e de suas principais características, abor-
dando alguns instrumentos de administração utilizados por agências internacio-
nais, que condicionam o conteúdo e o desempenho daqueles dois papéis.
Referências Bibliográficas
I. OBJETIVOS
Este trab alho apre senta um qu adro de r efer ências sob re a avaliação de projetos
de cooperação técnica interna ci ona l co m a fi nali dade de caracterizar o êxito e os
fatores gerenciais que o induzem . O text o co meça po r ap resentar as dificuldades
com a avaliação de projetos de coop er ação técnica inte rnaciona l, p ara em segui da
analis ar, com base numa re visão bibliográfica, div ersos co nceitos e modalidades
de avaliação. Seguem-se doi s estudos de caso que exemplificam esses conceitos
e modalidades de avaliação. Em se guida, os co nceitos de sucesso e insucesso são
debatidos, tendo por cenário a revi são ante rior e comentá rios sob re os casos.
Finalmente, são apresenta dos os resultad os de um a investigação empírica, reali-
zada junto aos p articip antes do I e II Cicl os do PROCINT, que foram consultados
a respeito de sua percepção sobre os determin an tes de êxito dos projetos de
cooperação técnica internacional.
11. INTRODUÇÃO
tar efa mai s fá cil par a algun s tipo s de projeto s do que para outros. Tudo parece
dep ender do objetivo: objetivo s bem formulados e que estejam claros para o
ger ente ou a equipe do projeto e para o usuário ou patrocinador oferecem maior
ce rteza qu anto aos critério s para julgar o resultado final. Havendo acordo entre
os doi s lad os, a resp eito do problema e da forma de resolvê-lo, mais fácil se torna
es tabe lece r o gr au em qu e a solução alcançada se aproxima do que se almejava.
Obj et ivos a respeito do s quais haja pouca polêmica, ou que se endereçam a
pr obl em as muito bem definido s, produzem maior certeza na avaliação dos esfor-
ços destinado s a realizá-lo s.
Nos ram os tr adicion ais da engenharia, se se verifica que um projeto foi concluído
de acordo co m as es pecificações, dentro do prazo e orçamento estipulados, o
resultado é um sucesso. Não se está respondendo à pergunta " por que realizar o
pr oj et o?" nem " realiza ndo esse projeto , que resultados obtivemos?" , mas sim " o
pr ojeto fo i reali zad o ?" Est a é a pergunta crítica no caso. Se a resposta for
afi rma tiva, co ncl ui-se qu e o projeto é um sucesso .
Quanto m ai s difícil explic ar e justificar as razões para empreender um projeto,
ou es pecifica r o pr obl em a a ser resolvido , mais difícil também se torna determi-
nar se o es fo rço es tá pr oduzindo algum resultado ou não, ou se algum benefício
es tá se ndo alc ança do, mesmo que se verifique que o empreendimento está
comple tan do as tarefas ou atividades programadas dentro dos prazos previstos.
Em outras palavr as, quanto mais difícil responder à pergunta "por quê?", mais
qu estion ável se torn a o empree ndim ento. Isso é razão suficiente para interromper
proj et os qu e poderi am ser con siderados importantes sob outra perspectiva, espe-
ci almente o mérito técnico ou científico.
Pode- se lembrar inúmero s ex emplos de programas e projetos cujos resultados é
di fícil ava lia r, qu e g er am dúvidas quanto aos benefícios produzidos, ou ainda,
que são def endidos por un s e at acado s por outros . Há três categorias principais
de programas e projeto s que apresentam essa dificuldade: ciência e tecnologia,
desen volvim ento econômico e social e cooperação técnica internacional.
1. Ciênci a e T ecnologia
Os pr ogram as de pesquisa cie ntífica ava nçada (física de partículas, bioengenha-
ria, exp lo ração es pacia l, por exe mplo) representam esforços muito dispendiosos
normalmente ger am grande polêmica quanto aos benefícios alcançados.
Fazem- se estudos para comprovar que os resultados são positivos, mas a discus-
sã o costuma se r int ensa. Projeto s que é difícil justificar, ou cuja relação com o
Avaliação e Determinantes do Sucesso de Projetos de Cooperação Internacional 513
1. Bilateralidade
Os projetos de cooperação técnica internacional envolvem pelo menos dois
lados, cada qual com suas prioridades e objetivos. O que é importante para um
Avaliação e Determinantes do Sucesso de Projetos de Cooperação Internacional 515
2. Definição do Usuário
Nos projetos de cooperação técnica internacional, muitas vezes o beneficiário
final ou usuário dos resultados não é a agência executante, mas uma população-
alvo a respeito da qual se assumem premissas. Por exemplo , em projetos de
transferência de tecnologia entre institutos de pesquisa, o objetivo é o desenvol-
vimento institucional (do instituto beneficiário no país receptor da cooperação) ,
visando à prestação de serviços a um setor industrial. Se não forem envolvidas
no planejamento do projeto, ou se uma parte delas não se beneficiar do projeto,
as empresas desse setor poderão questionar os resultados.
3. Carências Gerenciais
A essas dificuldades, que os projetos de cooperação técnica internacional com-
partilham com os projetos de ciência e tecnologia e de desenvolvimento socioeco-
nômico, juntam-se as carências, por parte das agências que se candidatam a
executar projetos, no manejo das técnicas de gerenciamento de projetos, carên-
cias que se refletem na qualidade das propostas apresentadas. Isso significa que
a dificuldade na avaliação dos resultados pode ser atribuída às deficiências no
planejamento dos objetivos, o que não impede, no entanto, que projetos m alpla-
516 Antonio Cesar Amaru Maximiano/Roberto Sbragia
Todas essas dificuld ades e fontes de dúvidas emprest am gr and e imp ortânci a ao
processo de av ali ação de pro j etos de coo pe ração técnica intern aci on al , co mo
instrumento para a medição de r esultad os, o aprimoramento das polític as e a
avaliação do desempenho e do poten ci al da agência ex ecutante.
1. Medição de Resultados
Sendo claro s ou não os objetivo s, é n ecessário verificar se for am ating idos p ar a
poder determin ar se o esforço e os recu rsos pr ev istos for am efetiva me nte empre -
gados. A avaliação , em primeir o lu gar , func iona , portanto, co mo um m ecani sm o
de segurança de qu e o proj eto fo i reali zad o e o dinh eir o não foi desp erdiç ad o (o u
desviado) .
Visando ao de senvolvimento soc ioeco nâmico por mei o da ci ên ci a e tecn ol ogi a,
a cooperação técnica internacion al comp ar tilha, com os pr oj et os dest a seg un da
natureza, a propriedade de qu e alguns resultad os (ou obj etivos) pod em não se r
antecipados . Em outras palavr as, é possív el qu e um projeto alc anc e muito mai s
benefícios do que os originalmente prom etidos ou pr ev istos, não se con seguind o
prever de antemão todos os re sultado s. A Organi zação Internacional do Trab a-
lho, por exemplo , reconhece qu e muitos de se us pr oj etos têm natur eza expe ri-
mental, sendo seus resultado s influ en ci ad os por mui tos fator es que é n ec essári o
estudar a fim de re sponder às qu est ões rel aci on ad as co m o usuário e o gr au de
benefício por ele usufruído (ILO , s. d., pp. 1-2) . Aliá s, não se tr at a ap en as de
reconhecer: o PNUD consider a o car át er expe rimental como um a da s ca tego r ias
de projetos que pode amparar (UN DP, 198 7, p . 56). A ava liação permite rastrear
os resultados, aferir os benefíci os e, dessa m an eira, aprimorar o pr oc esso de
planejamento , que é a segunda ut ilidad e.
FIGURA 1
RES DLTADOS DA AV ALIAÇÃ O DE IMPACTO DE
PROJ ETOS HIDRE LÉTRICOS
C RÍT IC A RESPOSTA
1. Os diq ues nos país es em des envo lv ime n to 1. A ntiga me nte , sim; hoje, os planejadores
desl o car am muit as pessoas e danifi caram es tão m ais ex perientes e conseguem lev ar
o meio amb iente . esses fato res e m co n ta .
o que é e como proceder para faz er a ava liação de proj etos de cooperação técnica
internacional ? Os comentários feito s até este ponto deixam claro que a avaliação
é um processo que se refere ao gr au de atingimento dos objetiv os do proj eto de
cooperação técnica internacional. Embora ambas sej am modalidad es de control e,
a atividade de avaliação é distinta da ativ ida de de monitor am ento (mo n ito ring) .
Para empregar uma distinção que é usual em teori a admi nistrativa , a ativida de
de monitoramento orienta-se par a a eficiên ci a do proj et o, enfocando a aplicação
de recursos para a realização de tarefas ; a ati vid ad e de ava liação orie nta -se par a
a eficácia do projeto, enfocando os resultados alcançados em co mpa ração co m
os objetivos planejados.
FIGURA 2
CO MP AR A ÇÃO ENTRE OS PROCESSOS DE MONITORAMENTO E AVALIA-
çÃO DE PR OJETOS DE COOPERA ÇÃO TÉCNICA INTERNACIONAL
Acomp anh a co ntin ua me nte as ativ ida d es do Exam ina os efei tos e o im pacto do pr oj et o
projeto . (visão de lon go pr az o) .
Rel ata o progres s o d a impl emen tação. Ve r ifica o pr ogr ess o e bus ca id entific ar
li çõ es.
Font e: ILO , s .d .
2.3. Avaliação em Andamento (ongo ing evaluation). Feita por agentes interno s ou
externos, é a análise, durante a implementação de um projeto , da continuidade de
sua relevância e de seus resultados , eficácia , eficiência e impacto provável previs-
tos. A avaliação em andamento dá aos tomadores de decisões as informações
necessárias para quaisquer ajustes que sejam indispensáveis aos objetivos, políti-
cas, estratégias de implementação, ou outros elementos do projeto , bem como para
o planejamento de atividades futuras.
2.4. Avaliação Terminal. É a análise, feita ao final ou perto do final do projeto, para
determinar sua relevância, eficácia e impacto provável. As conclusões podem
constar do relatório final do projeto. A informação necessária ao planejamento futuro
pode ser gerada por esse processo , que não deve ser confundido com o planejamento
e avaliação de uma nova fase do projeto.
2.5. Avaliação ex-posto É a análise da relevância, eficácia e impacto de uma atividade,
após seu término. Tal avaliação de um projeto é realizada depois do transcurso de
522 Antonio Cesar Amaru Maximiano/Roberto Sbragia
um período que seja suficiente para a medição do impacto do projeto. Sua finalidade
é extrair lições e, portanto, contribuir para a identificação, planejamento e implemen-
tação de programas e projetos no futuro.
3. Instrumentos de Avaliação
As referências anteriores já indicaram que a avaliação pode ser conduzida por
pessoas internas ou externas à equipe de execução do projeto, ou por uma
combinação dessas duas possibilidades.
As diretrizes para a montagem de equipes de avaliação estipulam uma "aborda-
gem tripartite", com a representação da agência executante, do governo do país
onde o projeto é realizado e do país doador ou da agência doadora de recursos
para o projeto , conforme o caso. Sendo a agência apenas repassadora de recursos
doados por um país, os dois deverão estar representados na equipe de avaliação.
O target group do projeto também deverá ter seus representantes, montando uma
composição mínima de cinco partes na equipe de avaliação. Essa composição
poderá aumentar para incluir especialistas na área temática do projeto (do
próprio país onde se executa o projeto ou de outro local) e de outras agências de
cooperação cuja missão seja familiar ao projeto ou que compartilhem seu finan-
ciamento. Essa é a equipe que deverá comparar objetivos com resultados e
analisar os impactos do projeto .
A tarefa dessa equipe consiste basicamente em comparar objetivos com resulta-
dos e analisar os impactos do projeto. Para isso, é preciso dispor de informações
precisas sobre o que o projeto pretende ou pretendia alcançar e de indicadores
que mostrem se houve progresso nessa direção . Os instrumentos físicos que
possibilitam essa medição compreendem o plano do projeto e os relatórios de
avaliação, sendo que o plano deve fazer a previsão dos momentos de controle e
de elaboração dos relatórios. O processo que facilita a avaliação é a previsão
Avaliação e Determinantes do Sucesso de Projetos de Cooperação Internacional 523
As metas físicas do projeto foram todas totalmente atingidas. Contudo, houve longos
atrasos e grandes despesas adicionais, em todos os elementos do plano de trabalho. As
únicas tarefas que não sofreram atraso em sua execução foram a realocação de pessoas
e a construção da estrutura de retenção do reservatório. Todas as outras atividades
estiveram sujeitas a atrasos que variaram de um a vinte meses.
Os auditores estão conscientes de que o projeto beneficiou-se do que pode ser conside-
rado um apoio técnico adequado de uma empresa internacional de reconhecidos méritos
(especialmente na investigação de tipos de solos e geologia) e que esta empresa foi
consultada periodicamente durante a execução do projeto. No entanto, em vista do
excesso de custos e dos atrasos devidos aos problemas de solo, que não se encontram
em projetos similares, a agência executante deve no futuro usar essa experiência em
projetos similares, para garantir uma maior atenção a essa fase do trabalho e minimizar
o risco. (... )
A NEC atin giu esses obj etiv os de maneira exemp lar, a despeito da complexidade física
e social do emp reen dimento . A exp eriê nci a que se ganhou com a programação e
execução de sse exe rcíci o dev e ser u sada em qualquer projeto desse tipo no país.
o " obj etivo fundamental " do proj eto BRN70/550, enuncia do em termos bastante vagos,
era o de "prestar assistência ao Governo do Br asil p ara fo rtalecer e aperfeiçoar seu sistema
de planejamento de recursos humano s". Isso foi , sem dúvid a, alcança do até certo ponto,
embora o sistema integrado de planejamento de recur sos humanos, previsto pe lo projeto,
nunca tenha se tomado totalmente operacional e, certa mente , não exista hoje.
o projeto foi de fundam ental imp ortân ci a n a co nso lidação do Cen tro Nacional d e
Recursos Humano s (h oje extinto) e do se to r socia l do IP EA . (...) Os esfo rços do projeto
no sen tid o d e fortal e cer o plan ej am ento educac io na l do MEC .. . tiveram re su lt ad o s
limitados. (.. .) É nece ssária a re ali zaçã o de u m n ovo pro jeto ou projetos ... D ev em se r
maximizados os acerto s.. . D ev e se r reali z ad o um seminá rio so bre o ass unto (.. .) D ev e
ser instituído um Conselho de Recursos Hu ma n os, co m a p ar ti c ip açã o de múlti pl os
segmentos da sociedade, para formul ar um n ovo pr oj et o ou p ro gr am a n a área de recu rsos
humanos.
Qualidade Técnica
competência da qual não dispõem ain da. Essa m od alida de de ob jetivo com-
promete a qualidade como fa tor de avaliação p el o lad o da agência recepto ra
desse tipo de projeto e induzem um a atitu de de tolerância por parte dos
avaliadores .
Observância dos Custos e Prazo s Estimados
Refere-se ao grau em que os cu sto s r eai s in corridos pelo projeto e seus prazos
efetivos, tanto do ponto de vista glob al como de suas etapas, obedeceram às
estimativas feitas no início. O me sm o estudo de caso do projeto hidrelétrico
evidenciou a importânci a de sse p adrão na avaliação de projetos, segundo a
perspectiva de um tipo de ava lia çã o, qu e no caso era feita p or auditores . O
fato de que o atingimento dos obj et ivos finais e intermediários é o critério
essencial de avaliação do s projetos de cooperação técnica internacional não
deve implicar que prazos e cu sto s sej am negl ig enciados.
Avanço do Conhecimento
Uma vez que se disponha de uma noção clara do que seja o sucesso, traduzida
em critérios específicos de avaliação, a questão que se apresenta em seguida pode
ser assim formulada:
Pode-se, desde o início, aumentar a probabilidade de que o projeto, ao final,
venha a ser considerado um sucesso?
Para dar a essa pergunta uma resposta afirmativa, é necessário identificar, para
em seguida procurar reproduzir, as condições que elevem o grau de certeza de
que os resultados finais serão avaliados satisfatoriamente. O objetivo, portanto,
é identificar os determinantes do sucesso, para aplicá-los a fim de assegurar o
êxito do projeto .
Avaliação e Determinantes do Sucesso de Projetos de Cooperação Internaciona l 533
Dispondo-se dos crité ri os segundo os qu ais o projeto será avaliado e dos fatores
que determinam a avaliação positiva, pode- se orga nizar um esquema conceitual
para assegurar a qualidade do ger enciam ento do s proj et os de cooperação técnica
internacional , assim como de qu alqu er out ro tip o de proj eto. Os fatores determi-
nantes de sucesso podem, de antemão, ser classificados em três categorias:
ambiente externo, organização-mã e e organ ização do proj eto. Esse esquema está
representado na Figura 3.
Uma maneira de identificar os fatores det ermin an tes do êxito é a técnica do
incidente crítico , que consist e em escolhe r pr oj et os qu e tenham sido considera-
dos bem-sucedidos e an alisar a forma como eles foram administrados . Um dos
trabalhos mais importantes que utilizou essa técnica fo i ela bo ra do por B ak er,
Murphy e Fisher (1974) .
A bibliografia disponível sobre gerenciam ento de projetos de ciência e tecnologia,
que se baseia na técnica do incidente crítico, perm ite estudar os fatores que se
correlacionam tanto com o sucesso qu anto com o fracasso p ercebido. A pr esen ça
desses fatores gerenciais ou fatore s de gerenciame nto tende a aprimorar o sucesso
percebido, ao pa sso que sua ausê ncia contribui para o fracasso percebido.
FIGURA 3
ESQUEMA DE CORRELAÇÃO ENTRE FATORES DET ER MINA NTES E CRITÉ-
RIOS QUE CARACTERIZAM O ÊXIT O DE UM PRO JE TO
Organização do projeto
FIGURA 4
TA BU LA ÇÃ O ORDENADA DOS RECURSOS
FATORES DE ÊXITO
A m b iente Externo
1. Feedbac k freqüente da organização funcio nal e do clie nte a respe it o do andam en to do pro jeto
10. Min im izaçã o do número de agências públicas e gov erna menta is env olvidas
Organiza çã o -mãe
Organiza çã o do p rojeto
2. Estrutura organizaciona l adaptada ao projeto, in clu ind o a de fini ção do papel dos at ores e de suas 11 18
r esponsabili dades básicas
11. Exis tência de um bom pla no de pr oj eto com es timati va s re ais de custos e prazos 10
12. Id en tificaç ão co rreta das nec essid ad es do clie nte e do pr oblem a a s er res olvido
14 . Capacidade adequada da equipe do projeto para da r ca bo das ativi da des té cni cas 12
16. Dificuldades mínimas para a parti da do projeto, con si de ra ndo os ato re s -chave envolvi do s 12
17. Orie ntação da equipe às ta refas
20. Critér ios de sucesso cla ramente estabelecidos e aco r dados com o clie nte 13
21. Adequação das h abilidades ge renciais, huma nas ou téc n icas do coo r dena do r do p roj eto 15
22 . Alto poder de influência e autorida de d o coo rdenador do projeto 9
24 . Con fiança des pertada/B om rel aci on amen to com o clie nte 21
26 . Al ta pa rticipação da eq uipe d o projeto n a tom ad a d e deci s ões e n a sol uç ão de prob lem as 18 11
27 . Est ruturação leve e não excessiva dentro da equ ipe do pr oj e to 16 11
Avaliação e Determinantes do Sucesso de Projetos de Cooperação Internacional 537
x. CONCLUSÕES
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tral de Ava liação, fev . 1991.
~
NEGOCIAÇAO NA
~
COOPERAÇAO
TÉCNICA INTERNACIONAL
Negociação de Contratos
Internacionais de Cooperação
I. INTRODUÇÃO
o tema dos contratos, de cuja negociação vamos tratar, tem sua origem no
conceito de cooperação tecnológica ou industrial internacional.
De início, não havia qualquer diferença terminológica entre cooperação tecno-
lógica e industrial. Visava-se ao mesmo objetivo. Hoje, admite-se que a coope-
ração industrial é uma das modalidades da cooperação tecnológica, cobrindo esta
campos como o dos serviços e da agricultura. A cooperação técnica é uma das
modalidades da cooperação internacional.
A idéia de cooperação internacional lato sensu, embora já contemplada nas
origens da ONU, desenvolve-se no sentido da cooperação técnica, quando da
proposta da chamada nova "ordem econômica internacional", feita pelos países
menos desenvolvidos no seio das organizações internacionais. Trata-se de no-
ções ainda indefinidas, de contornos pouco claros, carregadas de ideologia,
tingidas pelos interesses de quem as emprega. De qualquer modo, uma e outra
passaram a fazer parte do jargão das organizações e das relações internacionais.
No caso do Brasil, a cooperação tecnológica, assim como a posição do país nas
relações internacionais, são conceitos em curso de mudança, que é causada pela
542 Luiz Olavo Baptista
Essa crise, que se arrasta há anos e agora parece atingir sua forma mais aguda,
tem inevitáveis conseqüências políticas, que a passagem da bipolaridade hege-
mônica para a multipolaridade parece agravar, diante da inércia e desorientação
manifesta dos países em desenvolvimento frente a uma nova situação .
Aí ficaria o globo na encruzilhada entre a velha e a nova ordem econômica
internacionais. Opção obrigatória?
1. Como lembra G. Sacerdot i, "a eqüida de recl am ad a pela cart a não cons is te na simples refer ên cia à obten ção
de um entendime nto con creto entre os Estados sobre a composi ção de simples conflitos de int er esse; essa
dev e ser caracterizada pela conformidade da aplicação dos princípios materi ais aos obj eti vos nela indicados".
Ver, tamb ém , REUTER (1980, pp.165 e ss .) e AKEHURST (1976, pp . 801 e ss .)
2 . JOCE, C-75 , 29 -7 -1968.
Negociação de Contratos Internacionais de Cooperação 545
3. ECE. TRADE 124 reproduzido em DPCI (1976 , tomo 2, n. 4, pp. 647 e ss.) . Ver , também a propósito da
cooperação Lest e-Oeste, BEHRMAN, (1984, cap o7, pp. 143 e ss.).
4. Foram peritos convocados dos seguintes países: Áustria, Bélgica. Bulgária, Dinamarca, Finlândia, Fran ça,
Hungria, Itália , Noruega , Países Baixos, Polônia, RFA, Rumênia, Reino Unido, Suécia, Suíça , Tchecoslováqu ia,
Turquia, EUA, URSS, Iugosl ávia e, como observadores, representantes do GATTI , OMPI , CEE e CC!.
5. Ana Iytical Report on I ndustrial C ooperation am ong ECE Countries, e/ece/844/t ev. 1, n. de venda E.73.11.E.11 .
546 Luiz Olavo Baptista
4. A Cooperação na CNUCED
Como se sabe, a finalidade deste organismo é a promoção do desenvolvimento.
Assim, a cooperação deveria ser encarada nessa perspectiva e, com efeito, a
Resolução 131(XV) assim se exprimia sobre o tema: "Para facilitar a reestrutu-
ração industrial, seria necessário chegar a uma expansão e diversificação subs-
tancial e contínua dos artigos manufaturados ou semi-acabados dos países em
via de desenvolvimento por meio de uma cooperação internacional".
A Conferência encarregara o seu secretário-geral de proceder a estudos visando
à elaboração e aplicação de acordos apropriados de cooperação e colaboração
Negociação de Contratos Internacionais de Cooperação 547
5. Outras Fórmulas
Os Estados-membros da CEE apresentaram à 7 a Assembléia Geral Extraordinária
uma declaração em que se diziam dispostos a reforçar a cooperação industrial
com os países em via de desenvolvimento em matéria de industrialização, e
apresentaram proposta relativa às formas de cooperação entre países desenvol-
vidos e países em desenvolvimento que, entre outros aspectos, prevê um meca-
nismo de consultas e incentivos visando favorecer a criação de complexos
industriais nos países em desenvolvimento, propondo, também, que se desenvol-
vam estudos em matéria de acordos de cooperação industrial! 10.
6. TD/B/3S0.
7. TD 185, Supl 3, 12 de mar ço 1976 .
8. TD/B/374, pubI. da ONU, n. de venda E.73 .II.D .7.
9. Ver estudos TD/B/3S0 e TD/B/490, Rev.1.
10. Exposição da posição da Comunidad e Européia à Comissão Especial da 7ª AGINU, A/AC, 176/2.
548 Luiz Olavo Baptista
A primeira conclusão a que poderíamos chegar, com base na prática, é que nem
tudo o que se apresenta como cooperação internacional cabe numa só categoria
(ao menos do ponto de vista jurídico).
As várias definições examinadas, sejam as da ONU, da Comissão Econômica
para a Europa e da CNUCED (que definiu a cooperação entre países do Norte e
11. " Ve rs un Nou veau Ordre É conomique International" , Secretariado do Commonwealth, código NAC ,
176/5 , § 99.
12. Idem , p. 18.
Negociação de Contratos Internacionais de Cooperação 549
do Sul) contêm um núcleo comum. É que a cooperação " designa toda empresa
que permite a atores internacionais atingir objetivos estabelecidos em conjunto,
colocando em comum determinados meios" (TOUSCOZ, 1980, p. 17) .
Daí dois elementos se destacarem: identidade de objeto do contrato e comuni-
dade de meios. Um olhar superficial ao campo jurídico apontari a para a socieda-
de, como forma contratual, o que a referência à empresa parece reforçar. Entretanto,
há elementos que afastam essa idéia, em especial a complexidade e diversidade
das prestações recíprocas que formam o acordo , contrato, ou grupo de contratos
que corporificam a regulamentação de determinada cooperação e que incluem
aspectos tanto de bilateralidade como de unilateralidade.
Como acentuava Edgar Morin (1977), toda relação é a uma só vez antagônica,
concorrencial e complementar. Esses elementos ach am-se presentes na coope-
ração.
No âmbito dos contratos internacionais, o exemplo mais típico do antagonismo
é a compra e venda, contrato cujo equilíbrio é " result ante de um compromisso
entre interesses antagônicos por definição,,13 . Na cooperação também encontra-
mos o antagonismo entre as prestações e aspirações das partes.
Uma tecnologia é usualmente cedida ("vendida"). Há ainda, simultaneamente,
os aspectos concorrencial e complementar, pois sem a junção dos esforços das
partes a tecnologia não é transferida ou desenvolvida, e há elementos diferentes
(e complementares) aportados pelas partes.
Aparece, assim, uma distinção entre dois tipos de relacionamento: o antagônico
e os de cooperação (concorrencial e complementar) que impedem a caracteriza-
ção do instrumento da cooperação como contrato de sociedade. Diante de que
contrato estaríamos, então?
Não se trata de mera transferência de tecnologia, ou assistência técnica, tampou-
co de compra e venda de bens ou serviços.
Esses elementos fazem com que a cooperação tecnológica participe de uma
classe de contratos complexos internacionais (algumas vezes existentes no seio
de um só país} " que inclui os contratos de fornecimento de equipamento (sim-
ples, " chaves na mão ", ou "produtos no mercado") de construção , de transferên-
cia de tecnologia, de know-how, grupo esse em que os contratos de cooperação
13. Phillipe Kahn , nota int rodutória ao simpósio L es Contracts internationaux de coopération industrielle et
le nou vel ordre écon omique international. Nice , 14 a 16/06/1979.
14. São os chamados contratos de cooperação entre empresasa. Ver, a propó sito, MERCADAL e JANIN
(1974).
550 Luiz Olavo Baptista
15. Ver BAPTISTA (1962, pp. 263-283) para uma descrição destas.
Negociação de Contratos Internacionais de Cooperação 551
momento em que, para saber se ela ocorrerá, os obj etivos das partes são deter-
minados" É nesse ponto que deve ocorrer o período da preparação.
17. Já se apontou para o fa to de qu e " in practise pr eparation is oft en the weakest compone nt of negotiation
performance. EspeciaIly is this true for developing country negotiators, relative to their industrialized
country counterparts... Not frequentl y, developing country negotiators arrive at the bargaining table with
an ade quate grasp of the technical issues. They arrive having app arently giv en little ad vance thought to
points of likely conflict between the negotiating parties , or to promising stra tegies for resolving th e
conflicts. Lacking a firm foundation , these negotiators may rigidly adhere to extreme opening positions,
and a resort to ideological speechmaking in place of reasoned persuasion. This resulting negotiating climate
can soon deteriorate to mutual frustration, rising emotional temperatures, and deadlock" (DORDRECHT,
1990, p. 95) .
Negociação de Contratos Internacionais de Cooperação 553
b. Identificação do Interlocutor
18. Agências bancárias - por exemplo do Banco do Bra sil ou do Banespa - costumam ser boas fontes desde
que se saiba interpretar as informações e verificar o relacionamento do banco com o outro lado. Também
qualquer outro banco , que não seja aquele onde os negócios da outra parte se concentram, merecia ser
Negociação de Contratos Internacionais de Cooperação 555
2. O Dossiê da Negociação
Uma vez terminada a fase de coleta de informações, deve-se proceder à monta-
gem de um dossiê inicial. Este será integrado pelas informações de natureza
geral, as concernentes ao produto e as relativas à outra parte. O dossiê é
necessário porque toda informação sem organização é inútil. Nele, o planejamen-
to logístico é um dos capítulos, e será aumentado, modificado e corrigido no
curso da negociação. Servirá para orientar o negociador nessa e, se bem feito,
talvez em negociações futuras.
O dossiê deve ser encarado como um roteiro de navegação, que o piloto modifica
segundo os acidentes da viagem, e como um diário de bordo em que os fatos
significativos são anotados para futura referência e registro, e também como um
manual que sirva para se aprender através do reexame de erros e acertos.
b. Análise do Dossiê
. consultado. É surpreendente o quanto gerentes de banco sabem sobre entidades e pessoas, inclusive sobre
sua vida privada, e estão dispostos a contar após um bom jantar. Empresas que atuam no local são outra boa
fonte de informação , assim como são excelentes fontes pessoas e empresas que já realizaram negócios com
aqueles indivíduos ou empresas.
556 Luiz Olavo Baptista
sentante ou mandatário. Por isso , deve ter em conta que suas metas precisam
ser consistentes com precedentes e costumes. Outras pessoas na organização,
talvez superiores hierárquicos do negociador, avaliarão os resultados. Essas
metas compõem o termo de referência ou carta de missão. Há discussões e
negociação interna porque dentro de cada organização há diferentes interes-
ses que podem não estar balanceados no momento em que a negociação
externa tem início, ou podem se desbalancear no curso desta.
b) Negociabilidade externa : começa a ser avaliada quando nossa atenção se
volta para a difícil tarefa de procurar determinar as posições e objetivos do
outro. Duas perguntas desde logo se colocam: 1) saber se o objeto é negociá-
velou apropriado para uma negociação ; 2) se o quadro imaginado por nós na
preparação, e nossas metas, são , pelo menos, discutíveis.
Para que uma negociação tenha andamento é preciso que haja partes claramente
definidas (veremos adiante) que desejem negociar e, mais importante, cumprir
o acordo resultante da negociação. É necessário determinar se o objeto está
"ma duro" para a negociação (algum dos participantes teria alguma vantagem se
pudesse usar a negociação para ganhar tempo ?; demonstrou disposição para
negociar?) , se há um " campo comum" ou coincidência de objetivos, e se há
objetivos totalmente conflitantes [v. Quadro I]. Em havendo, verificar se são
inarredáveis e incontornáveis para a outra parte.
c. Elaboração da Estratégia
A flexibilidade deve ser obtida a partir da verificação cuidadosa das assunções com
base nas quais o plano foi estabelecido. O questionamento das assunções é, então, uma
etapa básica do planejamento, que deve continuar a ocorrer no curso da negociação.
Como o plano é meio, a flexibilidade é máxima e, sendo os objetivos o fim, a
flexibilidade é menor e deve ser compensada por vantagens alternativas. A
estratégia de negociação começa pela " apresentabili dade" dos objetivos ou
propostas.
Uma palavra deve ser dita aqui sobre os meios de prova. Nos diversos sistemas
jurídicos, há em comum a circunstância de a prova de um fato ou evento poder
ser feita de modo verbal (testemunhas, confissão), escrita (documentos diversos)
ou através de outros meios de registro dos fatos (filmes, gravações, programas
de computador etc.). A prova escrita é a mais fácil e, em geral, a privilegiada em
juízo. Nos negócios de natureza civil, a prova escrita predomina nos de natureza
comercial, estando pelo menos no mesmo nível de outros meios de prova. Assim,
um instrumento de contrato, assinado pelas partes, é uma prova excelente. Por
outro lado, telex e telefax estão sujeitos a maiores dúvidas, pois há grande temor
de falsificação.
Se uma compensação adequada não tiver sido alcançada, a relação será mais comple-
mentar que comunitária, ficando, assim, frustrado o objetivo básico do contrato, que
é a cooperação. Esta subentende uma obra comum, feita com a participação dos
contratantes, portanto, mediante aportes ou contribuições baseadas na equivalência,
reciprocidade ou proporcionalidade, quando a igualdade não for possível.
Como se pode imaginar, a desigualdade inicial vai sendo superada à medida que
o parceiro mais fraco se desenvolve econômica e tecnologicamente, e, quando
isso ocorre, pode-se pensar em ações verdadeiramente comuns onde a estrutura
da cooperação fica clara.
de venda de mercadorias, tamb ém é usu al a tran sferên cia de propri edad e ime dia -
ta das mesmas ou das matérias-primas e se mi-acabadas , progressivamente, como
garantia em casos em que esta s se rão aproveitáveis ou necessárias ao proj eto .
A garantia pessoal mai s conhecida é a fi an ça. Porém , a pr ef erid a é a "gara ntia
bancária à primeira solicitaç ão " , ou as bid bonds, pe rfo rma nce bonds etc. " .
Como as garantias constituem-se em acessó rios ao neg ócio principal, usa -se
estabelecê -las em cláusulas especiais e detalh ad as ou m edi ant e co n tra to ou
instrumento apartado (é o caso das bonds e das gar antias e, mu itas vezes, da
caução) , embora haj a menção a sua exis tê nc ia no co ntrato principal.
Evidentemente as cautelas e pro vidên ci as p ar a prot eção da que le qu e adia ntou
parte do preço não se esgotam aí, m as os exemplos se rvem par a ilus trar co mo
abordar a matéria na negociação.
Prazo de Entrega
É no cumprimento do prazo de entrega qu e gra nde núm ero de dificul dad es
aparecem. Portanto, é outro aspecto a se r cuid ado pel o adqu ire nte .
A tendência dos fornecedor es é torn ar a fixação de prazos omissa ou fl exível.
Isso pode entrar em conflito com os int er esses do adquiren te, que os quer
rígidos. Uma fórmula de forçar o cumprim ento de pr azos é a cláu sul a pen al.
Esta, que muitos chamam de " multa co ntratual " por ser a multa um a das
fórmu las de penalidade, pode ter du as natu rezas.
A que nos interess a aq ui é a chamada " clá us ula p en al mor at óri a", cuja
finalidade é punir o contratante p el o descumprim ento de prazos co ntratua is .
A sua redação varia de contrato p ar a co nt ra to . Pod e se r usada uma fórmula
de caráter variável: percentual do va lor descumprido do co nt rato , percent ual
crescente com a demora etc.; ou de car át er fi xo: um va lo r devid o a ca da
atraso, estab elecido pel o contrat o. É imp ortant e ressaltar qu e nesse tipo de
cláusula a p ena tem a fin alid ad e de co nstra nger o for necedor a cumprir o
contrato (e, subsidiariam ente, diminuir o pr ejuízo do adquire nte) .
Nas cláusula s p enais ch am ad as de " re mune ra tó rias " , aq ui lo a que se v isa é
o ressarcimento do prejuízo dec orrente da dem ora. Sua redaçã o fica , então ,
condicionada a essa final idad e.
Tanto quanto no caso de atraso, uma cláusula resolutória pode ser imaginada:
o contrato, dispõe ela, será resolvido no caso de entrega de mercadoria ou
serviço que não corresponda aos padrões estabelecidos pelas partes. Os
efeitos dessa cláusula, como os das cláusulas de natureza penal, são quase
sempre atenuados pelas cláusulas de força maior.
a. O Risco do Preço
Outro fator a ser levado em conta são as variações cambiais, razão pela qual
um contratante prudente recorrerá a um a cesta de moedas, ou a moeda que
não precisa ser a de seu país, para estabelecer o preço . Assim, evita recorrer
à indexação. Pode ainda proteger-se do risco cambial por meio de hedge.
Garantia de Recebimento
O risco de não receber o pagamento é grande e sempre foi um dos pesadelos
dos negociantes e industriais ou provedores de serviços.
O não pagamento ocorre por diversas razões: desentendimentos quanto à exe-
cução, má fé, dificuldades financeiras , dificuldades cambiais, concordatas,
falências etc.
Em vista disso , vários mecanismos foram delineados para evitá-lo. Desde o
uso dos cartões de pagamento ou cartões de crédito para uso pessoal, até o
recurso aos créditos documentários (BAPTISTA, 1982) no comércio inter-
nacional , várias são as modalidades escolhidas para minimizar esse tipo de
risco.
Mas não só a falta do pagamento , como também o seu atraso pode tornar um
contrato ruinoso. Cláusulas penais e resolutórias, assim como garantias
acessórias, encontram, por isso , um lugar na negociação dos contratos como
elemento saliente das pautas de fornecedores e vendedores.
b. O Risco do Produto
O produto ou serviço tem riscos inerentes a si mesmo , que são comuns: não
recebimento, danos no transporte ou erros na implantação, alegação de descon-
formidade quanto à qualidade ou prazos.
No caso de mercadorias, a prática internacional já resolveu , do ponto de vista do
vendedor, esse problema. Reside essa solução no emprego dos Incoterms para
caracterizar os momentos de entrega e passagem da responsabilidade, e na
circunstância em que essas são feitas por intermédio de um transportador que
não tem interesse em atrasar ou prejudicar a entrega.
Outro tipo de dano é aquele que ocorre durante o transporte. Como dissemos
atrás, o proprietário responde pelo perecimento da coisa. Se, quando do trans-
porte, a mercadoria ainda for de propriedade do vendedor, este arcará com os
prejuízos decorrentes dos danos, parciais ou completos, ap esar de já haver um
contrato de venda (há alguns sistemas jurídicos em que isso não ocorre) .
Por essa razão , é freqüente o recurso ao seguro de transporte. Este, em geral , faz
566 Luiz Olavo Baptista
Delimitação da Garantia
A garantia dada voluntariamente pelo fornecedor se sobrepõe à garantia
legal. Para que se possa compreender esse problema é preciso delimitar esta.
Pois bem, além dessa garantia, decorrente da lei e que cobre os defeitos (ou
vícios, na linguagem jurídica) ocultos, há outras garantias a serem dadas pelos
fornecedores. Em geral, estas constam de cláusulas expressas de contratos.
Garantias decorrentes de afirmações de corretores, prepostos etc. são despi-
das de valor se o contrato for omisso. Assim também, via de regra, a
constante de publicidade em geral, folhetos etc.
Qualquer que sej a a sua duração , é imprescindível fixar, de modo claro, o
ponto de partida do prazo de garantia. É indispensável que não haja dúvidas
a respeito , pois, do contrário, a garantia pode estender-se por mais tempo do
que o planejado. Por se tratar de ponto importante, em geral envolve um a
negociação especial, de vez que o adquirente prefere mantê-lo o mais distante
possível do momento em que entra de posse da coisa, e o fornecedor pensa
de modo contrário .
O conteúdo da garantia nem sempre é negociável. Como vimos, há certos
aspectos da legislação de proteção ao consumidor que são impositivos - isto
é, não podem ser derrogados por convenção das partes - e, assim, esses
devem ser desde logo incluídos, pelo fornecedor prudente, na sua proposta
ou no esboço de contrato . Haverá sempre outros pontos a incluir, que
resultarão das condições de mercado ou das negociações (muitas vezes é
possível diminuir o preço contra a eliminação de certas garantias, de cujos
efeitos o fornecedor procuraria proteger-se por via de seguros). O fato
concreto é que cada ponto da garantia deve ser bem definido .
É preciso também não se esquecer de mencionar que a substituição de peças
ou o conserto pode representar uma forma de extensão do prazo de garantia.
Assim, é também preciso especificar se isso vai ocorrer ou não.
Além desses aspectos, a cláusula de garantia deve conter um parágrafo - que
muitas vezes é objeto de duras discussões durante a negociação - relativo
aos prejuízos do adquirente pela paralisação dos seus serviços em razão do
defeito ocorrido no objeto ou serviço garantido.
O último tópico a lembrar em relação às garantias é quanto aos subfornece-
dores e as garantias dadas por estes às peças e serviços que compõem o
fornecimento. Elas integram, em geral, a garantia global. Mas é preciso
discriminar em que extensão e qual a duração de cada uma .
Negociação de Contratos Internacionais de Cooperação 569
Convém preparar desde logo um roteiro do que será o contrato que resultará da
negociação , pois o mesmo deve ser discutido cláusula a cláusula. Muitos nego-
ciadores preferem partir de minutas que oferecem à parte contrária, enquanto
outros minutam apenas aquelas cláusulas que entendem ser de seu interesse, ou
fazem um check-list do contrato para incluir na agenda da negociação.
De qualquer forma , é preciso compreender a estrutura do contrato. Cada tipo de
contrato tem sua própria estrutura, mas todos têm um núcleo comum de cláusulas
(ver Anexo 11).
1. Cláusulas Usuais
b. Duração
c. Objeto
Esta cláusula, como é curial, tem a maior importância, e sob o ponto de vista
jurídico pode conter dois tipos de obrigações: de meios e de resultados. Numa
obrigação de resultados, o contrato só se considerará cumprido se esta for
alcançada, enquanto que na de meios o compromisso é o de colocar em ação
determinados recursos e esforços (os meios) visando a atingir o resultado que
não é garantido. Típico das primeiras é a compra e venda; das segundas, a
prestação de determinados serviços - por exemplo, serviços de médicos, advo-
gados, engenheiros etc. Uma redação malfeita pode transformar o que seria um
tipo em outro, com resultados inconvenientes.
É a natureza do negócio que determina a conveniência de se eleger um ou outro
tipo de obrigação e, por isso, é preciso descrever bem, e cuidadosamente, o
objeto do contrato . Pode-se evitar, assim, armadilhas e discussões inúteis.
Na elaboração do objeto dos contratos de cooperação internacional tecnoló-
gica ou industrial há alguns elementos típicos que é preciso apontar: em
primeiro lugar, o conteúdo das obrigações de cada uma das partes não pode
ser completamente definido de imediato (esse vai se detalhar no curso do
tempo); em segundo lugar, as partes devem estar em posição idêntica em
relação a esse objeto; e, finalmente, trata-se de contrato concluído intuitu
personae.
Destarte, poderia alguém dizer que se trata de um contrato unilateral- o que até
poderia ser verdade se forçássemos as categorias jurídicas. Porém, o fato é que
mesmo que haja antagonismos no momento da celebração do contrato (e, por
vezes, nem os melhores negociadores conseguem evitá-los), as incertezas que o
tempo introduz, as áleas econômicas e tecnológicas vão aproximar as partes no
curso da execução, pois só a cooperação permitirá que o objeto seja alcançado.
Com efeito, a definição do objeto é mais importante nesse tipo de contrato porque
é em torno dele que se concentrarão os recursos e esforços dos contratantes - e
será esse o referencial para que se possa reencontrar o equilíbrio perdido no curso
do tempo em razão de áleas quaisquer.
Negociação de Contratos Internacionais de Cooperação 571
a. Cláusula de Confidencialidade
b. Cláusula de Garantia
Os contratos internacionais têm cláus ulas qu e lh es são próprias, e que não são
usuais nos contratos celebrados no interio r de um paí s. Du as são básicas: a de
eleição de foro e a cláusula co mpro missó ria . Entret anto , emb ora p ara o s juízes
brasile iros seja inóc ua a clá us ul a de l ei apl icável, é importante em outros
p aís es.
A clá us u la de eleição de fo ro, cha ma da por alguns de " atr ibutiv a de jurisdição",
tem po r fina lidade indicar qu al o juiz (o u tribunal) competente para resolver as
questões entre as partes . Há matérias em qu e es sa es colha não pode ser f eita -
são aquelas conhecidas no jargão jurídico co mo casos de comp etê ncia absoluta
ou in derrogável.
Em ge ral, nas m atéri as co me rc ia is a lei deixa às partes a liberdade de escolha.
Essa cláus ula é importantíssima po rque del a dep ende saber qual a lei que será
aplicável ao co ntrato . Co m efeito, cada j u iz aplica um conjunto de regras de
conflito de leis , próprio de seu país, e essas regras determinam qu al a lei
aplicável ao contrato.
Po r outro lado, essa cl áu sul a pod e r epresentar a certeza de um julgamento mais
ou menos rápido e de um a execução m ais perf eita. Em geral , as p artes preferem
escolher como foro o local de sua se de. Essa fó rmula pode ser de sastro sa em
certos casos e, por isso , a regra não dev e se r tom ada como absoluta.
c. Cláusula Compromissória
A arbitragem é um dos meios de solução de disputas mais utilizados nos contratos
internacionais, em razão do sigilo, da especialização dos árbitros (que permite
decisões mais precisas e mais rápidas) e da rapidez, nessa ordem. É bom saber
que essas razões de escolha nem sempre são verdadeiras e que nem sempre tudo
corre como se imaginava - pode haver vazamento de sigilo, o árbitro pode ser
ignorante e o processo demorado. Acresce o custo, que por vezes supera o
judicial, especialmente nas questões submetidas a certos organismos, e a partir
de determinados valores (porque as custas são fixadas em percentuais) . De modo
geral a arbitragem é uma solução melhor que a judicial":
Referências Bibliográficas
ANEXO I
CHECK-LIST DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS
E SUA TRADUÇÃO EM INGLÊS E FRANCÊS
ANEXO II
CLÁUSULAS USUAIS NOS CONTRATOS
cláusula penal ,
cláusula de confidencialidade
cláusula de garantia.
I. INTRODUÇÃO
a outra parte fica subtraída de qualquer benefício. É raro , dir-se-ia até que muito
raro , defrontar-se, na prática, com sentenças do tipo " Rei Salomão" . E o que é
pior, no atendimento das partes litigantes nosso " Rei" sugere cortar a criança em
duas partes iguais. Cortava o problema pelo meio de forma a satisfazer os
contendores e, de resto, matava a criança. Como então se resolveu a questão ?
Uma parte ganhou, a outra perdeu.
Estratégias de interpenetração : destas, a mais tradicional é a da mediação . Um
mediador tenta compor os interesses individuais para chegar a um acordo . É um
auxiliar da negociação que, como uma terceira parte, interfere nas relações
existentes em busca de uma solução.
1. Informação
o nível de informações detido por cada uma das partes, tanto em relação àquilo
que está sendo discutido, como sobre as características do oponente, exerce uma
profunda influência sobre o comportamento durante a negociação . Rodrigues
(1978) desenvolveu um estudo analisando a influência da informação assimétrica
sobre o comportamento durante a negociação e concluiu que as informações são
armas poderosas na produção de resultados assimétricos.
A construção de um Sistema de Informação eficaz implica a coleta, quanto
possível exaustiva, dos elementos que caracterizam potencialidades e vulnerabi-
lidades das partes envolvidas.
A lista a seguir constitui-se numa sugestão de itens que parecem importantes às
negociações com pessoas e instituições.
2. Ambiente Físico
o ambiente físico é outro fator de grande importância que pode alterar a parti-
cipação de um negociador na realização de um contrato. É conhecida a preferên-
cia de determinados empresários para fechamento de seus negócios distante de
um escritório normal, havendo mesmo aqueles que preferem utilizar como meio
de comunicação o telefone ou telex ao invés de estar tête-à-tête com seu
adversário. Edward T. Hall (1989) aborda com muita felicidade esse aspecto
quando trata da " li nguagem do espaço" e sua influência na realização de negócios
com homens pertencentes a outras culturas.
QUADRO I
POTENCIALIDADES E VULNERABILIDADES DAS PARTES ENVOLVIDAS EM UM PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO
QUADRO II o
FONTES DE INFORMAÇÕES SOBRE AS PARTES ENVOLVIDAS EM UM PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO c:,
Em relação a isso, sugere-se dedicar atenção, pelo menos, aos seguintes itens:
localização (tentar lugar neutro):
lay-out;
número de partes;
número de participantes, enfatizando as equipes de dimensões semelhantes;
platéia, filtrando-se informações que sejam levadas para evitar ou criar
pressões;
canais de comunicação (garantir telefone etc. com os centros de informação
e decisão);
prazos, com manipulação dentro dos limites de custo .
3. Relação de Poder
A relação de poder é o terceiro fator que pode vir a modificar o comportamento
durante a negociação. Como observa Thomas Clain (1960), a existência de uma
diferença de poder percebida entre as partes implicará uma mudança de estraté-
gia durante o conflito, pois aquele que se sentir inferiorizado agirá conforme essa
percepção para atingir seu objetivo na resolução do ponto discutido.
É provável, mas apenas provável, que as partes inferiorizadas ajam de forma
distributiva, acirrando os comportamentos competitivos, intensificando ações
persuasivas e, sobretudo, enfatizando posições. Essas atitudes e comportamentos
produzem obstáculos de difícil remoção para o fechamento dos negócios.
4. Valores
Talvez seja o fator que mais influencia as relações internacionais e suas respec-
tivas negociações. A cultura também é um fator extremamente rico em ilustra-
ções de como os valores arraigados podem levar um negócio a não se concretizar,
muito embora esses valores, em alguns casos, sejam desconsiderados por parte
do oponente. É muito conhecida a satisfação com que os soviéticos recebem
negociadores de outros países quando estes apreciam algumas doses de vodca na
mesa de negociação . Um outro autor, Zandt (1970), apresenta, através de 13
características principais, o perfil comportamental dos negociadores japoneses,
citando entre eles a resistência desses orientais a empregar a palavra "não" em
suas negociações. Aliás, essa também é uma característica muito freqüente no
584 Celso Cláudio de Hildebrand e Grisi
5. Estilos
Completando o grupo de fatores que influenciam o comportamento durante a nego-
ciação está o estilo das pessoas que a realizarão. Existem indivíduos que negociam,
enfatizando, sobretudo, o aspecto racional do acordo, como há pessoas cujo
comportamento durante a barganha é mais afetado pelo envolvimento emocional.
É importante ao participante discriminar quais as características do adversário
que estão a caracterizar o seu estilo. Essa constatação facilita a seleção de táticas
mais adequadas para o desenvolvimento do processo.
Conhecendo-se os principais fatores que influenciam o comportamento durante a
negociação, o próximo passo é apresentar um modelo que descreva aquilo que ocorre
durante o processo. Seguindo a orientação prosposta por Angelmar e Stern (1978),
que após analisar vários modelos trataram com sucesso o proposto por Watson e
Mackersie (1965), é interessante para o trabalho ora desenvolvido descrevê-lo.
Questões
Durante as negociações distributivas, os participantes colocam questões para se
certificar da função de utilidade dos seus oponentes. Essa é, por sinal, a forma
utilizada para se identificar a possível reação do oponente quanto às futuras
colocações. Por exemplo, na definição de um preço, no momento que se coloca
a questão: "Quanto você pode pagar?" está se tentando encontrar os limites onde
a negociação deverá se fixar.
Essa tática permite ampliar o número de informações que se detém sobre o
oponente. Na negociação internacional é comum solicitar as características do
produto, atestados de qualidade etc., para melhor se conhecer aquilo que é
oferecido.
QUADROIII
TÁTICAS NA NEGOCIAÇÃO DISTRIBUTIVA
Recomendações e Advertências
Nesse caso, as mensagens compreendem as boas predições (recomendações) ou
más (advertências), se bem que essas predições não são controladas pela fonte
responsável da mensagem enviada. Ex.: a aquisição pelo Chile de componentes
brasileiros aumentará as trocas entre os dois países, tornando mais concreta a
independência latino-americana.
Ordens
Essa categoria compreende mensagens cuj a implicação pode corresponder sej a
a uma ameaça, seja a uma punição ou a uma promessa. Em função dessa
multiplicidade de implicações, considera-se difícil sua discriminação como táti-
ca em se tratando da análise de conteúdo.
Promessas e Ameaças
N esse caso , como para as recomendações e advertências, as mensagens com-
preendem boas e más conseqüências para o adversário em função da sua futura
previsão . A diferença está no controle, por parte do proponente, a respeito das
conseqüências previstas. Ex. : a realização dessa primeira importação significa
que outros negócios surgirão entre nossas empresas, propiciando benefícios para
ambas as partes.
Engajamento
É uma predição pessoal, onde o participante sinaliza ao outro haver compromis-
sos recíprocos assumidos em torno de objetivos comuns.
Completando o modelo apresentado por Watson e Mackersie, retratando as táticas
utilizadas durante a negociação, é proposta a última categoria de mensagens que
são utilizadas especificamente para modificar a estrutura de atitude do oponente.
Recompensa e Punições
Elas consistem em reforçar as conseqüências para o adversário, sem transmitir
Técnicas de Negociação para Contratos de Cooperação Técnica Internacional 587
V. PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO
1. Preparação
Corresponde às atividades de planejamento a serem desenvolvidas para a con-
cretização do negócio. A experiência tem ensinado que o tempo e os esforços
dedicados a essa fase são largamente recompensados pela qualidade dos resul-
tados produzidos por uma preparação cuidadosa.
Preparações eficientes só são possíveis quando estão assentadas em um bom
sistema de informação . A compreensão sobre os ambientes que circundam as
partes, sobre as variáveis que compõem esse ambiente e as relações ocorridas
entre elas permite a identificação dos objetivos máximos e mínimos de cada uma
das partes envolvidas no processo negociaI. Dessa análise emergem os elementos
circunstanciais que restringem a fixação dos objetivos de cada negociador e,
portanto, através deles é possível presumir "as faixas prováveis de fechamento
de acordos" e, simultaneamente, proceder às expectativas dos resultados, dos
meios e recursos necessários para alcançá-los e do tempo demandado por todo o
processo.
Cabe, agora, novas reflexões: os comportamentos prováveis dos negociadores,
suas personalidades e valores, ademais de seus estilos predominantes em ativi-
dades negociais. Essas reflexões ensejam a adoção de táticas e estratégias
específicas, voltadas ao encaminhamento mais produtivo dos problemas a serem
resolvidos e permitem a identificação de concordâncias e divergências relacio-
nadas aos problemas.
588 Celso Cláudio de Hildebrand e Gr isi
2. Sondagem Inicial
Essa fase destina-se à formação de circunstâncias que favoreçam a confecção de
acordos e ao reconhecimento das diretrizes que devem presidir as relações entre
os participantes. Dessa forma, encetam-se esforços para a criação de um clima
de receptividade que leve à separação dos problemas a serem resolvidos e das
pessoas que devem resolvê-los.
O passo seguinte deve incluir a definição dos propósitos de cada parte, pela
apresentação dos critérios objetivos para encaminhamento dos problemas exis-
tentes. Benefícios mútuos devem ser enfatizados, de maneira a destacar o aten-
dimento dos interesses de cada lado.
Encerram-se os trab alhos de sondagem inicial com a rememoração dos elementos
que possibilitam e recomendam o acordo final. Vale, portanto , registrar entre os
participantes os pontos onde a concordância foi atingida.
3. Troca de Informações
Ainda não é o momento de negociar. Será antes prudente reconhecer o terreno
que se vai pisar. Certifique-se dos traços de personalidade de cada negociador,
de seus estilos de comportamento negociaI e dos valores que estão envolvidos
na negociação. Explore as necessidades de seus oponentes, descubra os interes-
ses de cada qual, afaste as posições e disputas de vontades. Escute e promova
ações com reforço positivo. Aproveite isso para consolidar os critérios objetivos
em torno dos quais se possa, no futuro, conceder ou exigir concessões. Faça um
resumo dos pontos de concordância e identifique dúvidas e resistências a serem
tratadas e superadas nas fases seguintes.
Agora explore suas habilidades pessoais para produzir as combinações mais
aceitáveis entre os problemas tratados, os interesses existentes e os critérios
acordados. Perspicácia e criatividade são atributos indispensáveis ao negociador
nesse momento.
4. Persuasão
Inicia-se um jogo de esgrima. Negociadores hábeis produzem um intenso inter-
câmbio de ofertas, acompanhado de avaliações e contraproposições. Uma dança
de estilos, com movimentos rápidos, sucede-se em meio ao ambiente de nego-
ciação. Valores e interesses revezam-se, traços de personalidades e condutas são
disfarçados. A dissimulação de objetivos e expectativas é praticada em nível
Técnicas de Negociação para Contratos de Cooperação Técnica Internacional 589
5. Concessões e Acordos
Acordos são alcançados, de um modo geral, após a realização e/ou obtenção de
concessões recíprocas, salvo em situações assimétricas de poder e informações
entre as partes.
Torna-se importante lembrar que a obtenção de concessões deve ser alcançada
pelo respeito aos critérios objetivos. Se eles estão a indicar que um resultado
sensato a ser alcançado exige a concessão de uma das partes, então, não há
justificativa cabível para não fazê-la.
Claro que será sempre mais fácil obtê-la quando, na fase anterior, gerou-se o
maior número de alternativas possível e, sobretudo , quando se buscam resultados
baseados em padrões independentes das partes.
São procedimentos recomendáveis nesse momento : apresentar os prós e os
contras de cada alternativa, enfatizando os pontos positivos que apresentam;
procurar fazer com que a primeira concessão venha da outra parte; iniciar as
concessões que lhe caibam por pontos acessórios a você e que, não necessaria-
mente, sejam acessórios para as demais partes; não conceder sem que os outros
hajam lutado por isso, pois do contrário eles não valorizarão o que receberam;
pedir algo em troca de toda a concessão feita, para aumentar a sensibilidade à
concessão recebida; não conceder muito, nem rapidamente, para não aumentar
as expectativas de resultados das outras partes; não intimidar-se em dizer "NÃO",
pois a persistência na negativa induz a uma maior crença nas propostas e nos
proponentes.
objetivos e estratégias, quando não apenas uma estrutura de suporte para novas
contraproposições. Assim, não há por que temê-los, mas explorá-los como mais
um round da negociação em andamento .
Recuos e avanços devem ser moderadamente utilizados. A exacerbação desses
comportamentos tende a ser confundida com rompimento ou necessidade de
encontrar o acordo " a qualquer preço". Não pare, ande sempre no sentido de
facilitar a superação de obstáculos e resistências. Algumas ações são possíveis:
proponha uma pausa, uma mudança de local. Não insista em demasia, procu-
rando sempre deixar uma saída honrosa para o oponente;
mude um membro do grupo, o líder, por exemplo. Traga gente nova, ela não
está comprometida com posições assumidas;
procure alterar a composição dos grupos: engenheiro com engenheiro; admi-
nistradores com administradores - falam a mesma língua;
mude o tipo de contrato, as especificações: em vez de valor fixo fale em
percentuais; acrescente uma vantagem adicional;
chame um mediador, uma terceira pessoa; ela poderá afastar os padrões de vontade
de cada negociador e retomar a negociação a partir dos interesses de cada um;
perante a outra parte, o que faria em seu lugar. Proponha uma reflexão sobre
os critérios objetivos. Estão sendo efetivamente respeitados? ;
use seu humor (sempre em relação ao que está sendo negociado). Descontraia
o ambiente, para restituir o clima de receptividade e desarmar os espíritos;
não responda a agressões . Contraponha fatos e dados concretos a argumentos
pessoais;
ouça mais e fale menos . Faça o outro sentir que você o está ouvindo. Repita
suas afirmações, peça explicações mais detalhadas e resuma sua fala antes
de responder;
volte a enfatizar as concordâncias, mostrando que superam em muito as
divergências. Retome os benefícios que poderiam ser alcançados e estimule
os desejos de superá-los.
2. Análise da Situação
analise as restrições a que cada equipe se submete, sem o que não se pode
aferir:
os objetivos da outra parte
} redigir é sempre recomendável
os seus próprios objetivos
preveja os limites da autoridade de cada participante.
garanta canais de comunicação com os centros de decisão.
4. Agenda
construa-a e monitore-a para não perder o timing.
5. Estratégias de Concessão
planeje-as para evitar surpresas.
1. Sintoma
o processo de negociação é mais intuitivo e menos lastreado no problema que se
quer resolver. Exemplos característicos são os acordos que envolvem setores orien-
tados à tecnologia, onde a ênfase é dada apenas ao problema que se quer resolver.
Ação Corretiva
O desenvolvimento de uma negociação requer análise sob dois pontos de vista:
problema e método .
2. Sintoma
Dificuldade em desvendar as necessidades das partes envolvidas. Típico de quem
quer ganhar tudo todo o tempo, esquecendo que as opções devem promover
ganhos mútuos e atender a interesses das partes.
Ação Corretiva
Dividir o todo em partes ou segmentos que ainda reflitam necessidades seme-
lhantes para fornecer " pistas" ao desenvolvimento de alternativas com benefícios
comuns e vantagens mútuas.
3. Sintoma
Avaliação precipitada quanto ao grau de mudança comportamental que se espera
da outra parte. Ex .: contratos para assistência em automação industrial.
Ação Corretiva
Caracterizar e avaliar o impacto das mudanças comportamentais que o negocia-
dor deverá sofrer, minimizando o desconforto ou " custo psicológico" que essas
mudanças provocarão no negociador.
594 Celso Cláudio de Hildebrand e Grisi
4. Sintoma
Fracasso em comunicar claramente os benefícios oferecidos. Ex .: típico de
ausência de Sistema de Informações junto ao negociador para o desenvolvimento
do processo de comunicação .
Ação Corretiva
Fundamentar o processo de comunicação a partir da premissa de que na realidade
as pessoas não adquirem uma nova atitude por um simples processo, reagindo a
um único estímulo (digamos a oferta) mas, sim, em decorrência de um processo
mais complexo com diversos estímulos.
Referências Bibliográficas
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Meios de Pagamentos e
Garantias Bancárias em
Contratos Internacionais
I. INTRODUÇÃO
1. Delimitação da Matéria
As transações comerciais internacionais comportam riscos mais extensos e me-
nos controláveis que os decorrentes das atividades exclusivamente internas. Os
contratos de cooperação técnica internacional não são uma exceção à regra geral.
Eles apresentam problemas complexos e variados que implicam a utilização
de diferentes meios de pagamento, de financiamento e de garantias. Sem
dúvida alguma, entre esses meios o crédito documentário e as garantias
bancárias são os mais utilizados. Na realidade, quase toda operação comercial
internacional de uma certa importância financeira é envolvida por esse anel
de segurança.
1. o assunto é referido em bibliografia: francesa em Bontoux, 1970; Boudinot, 1979; suíça: Dohn, 1985 ;
am ericana: Dolan, 1991; Harfield, 1974 ; Kozolchyk, 1973 ; inglesa : Gutteridge, 1968; Ventris, 1983 ;
italiana: Visconti , 1985; canad ense : Sarna , 1986 .
Meios de Pagamentos e Garantias Bancárias em Contratos Internacionais 599
2. Brochura n. 82 da C.C .!. A abr eviação R.U.U. corresponde a U.C.P . (Un iform Customs and Pr actice for
Documentary Credi ts) nos países anglo-saxões.
3. Entre a versão de 1933 e a revisão de 1983, três outras ver sões foram adotadas: em 1951 (n. 151 , Congresso
de Lisboa); em 1962 (n . 22 2, Congresso do México ) e em 1974 (n . 290 da c.C. L). Cf. C.E. BALOSSINI,
1978).
4. Algumas decisões jurisprudenciais franc esas consideram que as R.U.U. são aplicáveis indep end entemente
de qualquer referência expressa das partes envolvidas. Ver Trib. Com. Paris, 8 mars 1976 , Droit Maritime
Français ( D.M.F.), 1976.
Meios de Pagamentos e Garantias Bancárias em Contratos Internacionais 601
Os Documentos
Os documentos são o traço de união entre o contrato comercial e o crédito
documentário e também a marca de independência entre esses dois contratos
(DOISE, 1987, 1989). O traço de união entre o contrato comercial e o crédito
documentário é comprovado quando importador e exportador definem quais
são os documentos que constatarão a boa execução do contrato comercial
pelo exportador. A partir do momento em que os documentos são definidos,
somente eles serão importantes para a execução do crédito documentário. A
autonomia do crédito documentário em relação ao contrato comercial que lhe
deu origem está assim assegurada, pois somente os documentos serão consi-
derados e não mais as mercadorias, serviços e/ou outros itens aos quais os
documentos possam referir-se (art. 4 das R.U.U. de 1983).
o Não obstante essa importância dos documentos, a prática tem demonstrado
que geralmente importador e exportador são bastante negligentes na tarefa
de definir, de forma clara e precisa, os documentos necessários".
Os documentos usualmente pedidos em uma operação de crédito documen-
tário são , de acordo com a enumeração recomendada pela C.C.I.: fatura
comercial, documentos de transporte, documentos de seguro e outros, consi-
derados eventuais.
A Fatura Comercial: o artigo 41 das R.U.U. de 1983 é totalmente consagrado
à fatura comercial. Nela encontra-se a descrição das mercadorias que deve
corresponder textualmente à descrição presente no crédito. O importador
deve, portanto, precisar claramente, na ordem de abertura do crédito, os
pontos que lhe pareçam importantes para a descrição das mercadorias. Esse
artigo prevê ainda que as faturas sejam emitidas em nome do importador e
que os bancos possam recusar uma fatura comercial emitida por um valor
superior ao permitido no crédito, ou seja, os bancos não são obrigados a
recusar, mas podem fazê-lo. Uma fatura comercial emitida por um valor
superior ao do crédito pode também ser fonte de dificuldades para o impor-
tador no que tange à guia de importação e, sobretudo , ao pagamento dos
tributos alfandegários.
Os Documentos de Transporte: são , para o importador, um documento fun-
damental. Comprovam a expedição da mercadoria e também sua existência.
5. Em entrevista dada a 16 de fevereiro de 1990, James Byrne - editor da revista Letter of Cr edit Update -
estimou que desd e 1975 as cortes americanas decidiram cerca de 1400 casos s obre créditos do cumentários,
350 deles envolvendo problemas de conformidade dos documentos com as estipulações de cr édito .
Meios de Pagamentos e Garantias Bancárias em Contratos Internacionais 605
6. No cas o de vend a F.a .B. ou C.& F., por ex emplo , o exportador não dev e apres entar quaisquer documentos
de se guro por não cab er a ele providenciá-los, e sim ao importador.
606 Ligia Maura Costa
7. EXOTIC 1RADERS FAR EAST BUYING OFFICE V. EXOTIC TRADING U.S.A., INC., 717 F. Supp . 14
(D. Mass. 1989). Ver, também, BANCO ESPANOL DE CRÉDITO V. STATE BANK & TRUST CO. ; 385
F. 2d 230 (1stCiro1967), cert odenied , 390 U.S. 1013 (1968); FLAGSHIP CRUISES, LID. V. NEW ENGLAND
MERCHANTS, 569 F. 2d 699 (1st Ciro 1978): CROCKER COMMERCIAL SERVICES V. COUNTRYSIDE
BANK, 538 F. Supp . 1360 (N.D.I11. 1981): "Um certificado emitido pelo beneficiário em vez de ser emitido
por um terceiro como solicitado na carta de crédito é razoavelmente conforme"; FIRSTNATIONAL BANK
OF ATLANTA V. WYNE, 256 S.E. 2d 383 (Ga. App. , 1979) : "A falta de uma menção exigida pela carta
de crédito não é substancial. Os documentos são conformes"; PEOPLE STATE BANK V. GULF OIL
CORP ., 446 N.E . 2d 1358 (Ind. Ct. App., 1983: "A ausência de uma fatura não é substancial".
Meios de Pagamentos e Garantias Bancárias em Contratos Internacionais 607
Uma vez realizado o crédito documentário, o próximo passo será a entrega dos
documentos ao importador. De posse dos documentos, o importador poderá
receber as mercadorias e, em contrapartida, terá que reembolsar o banco pelo
valor pago ao exportador.
Meios de Pagamentos e Garantias Bancárias em Contratos Internacionais 609
o crédito documentário com Red Clause não deve ser emitido na forma livre-
mente negociável, pois o exportador poderá obter o adiantamento junto ao banco
autorizado e, posteriormente, negociar sua letra acompanhada dos documentos
junto a um terceiro banco.
c. A Renovação do Montante
a. Generalidades
Uma das regras básicas do crédito documentário determina que o importador pedirá
ao banco para abrir um crédito documentário a um determinado exportador (bene-
ficiário), por ele ser o seu co-contratante comercial, e é a ele que o banco deverá
efetuar o pagamento quando da apresentação de documentos conformes às estipu-
lações da ordem de abertura de crédito. O crédito documentário transferível,
previsto pelo artigo 54 das R.U.U. de 1983, excepciona a regra geral, ao permitir a
substituição do beneficiário (SCHMITTHOFF, 1990; BONTOUX, 1969).
Meios de Pagamentos e Garantias Bancárias em Contratos Internacionais 611
8. A transferência do cr édito documentário não implica a transferência dos direitos e obrigações resultantes
do contrato comercial passado entre o importador e o exportador (beneficiário original) ao segundo
beneficiário.
612 Ligia Maura Costa
b. Cuidados Necessários
A independência dos dois créditos documentários exige do banco cuidados
especiais, pois os riscos implicados são consideráveis: por exemplo, os termos
da abertura do primeiro crédito não correspondem literalmente aos do segundo;
o banco realizador do primeiro crédito não é o banco emitente do segundo (os
riscos são menores quando o banco examina os documentos, tendo em vista a
realização dos dois créditos).
v. As GARANTIAS BANCÁRIAS
9. Nos Estados Unidos e em alguns países asi áticos os bancos são proibidos pel a legislação fed eral de exe rce r
a ativ idade de gar antidor. Nesses países, são as companhias de seguros que emitem ess e tipo de garantia .
Ver, nos Estados Unidos, Nati onal BankAct (A ct of 3 June 1864 ), 12 U.S.c. parágrafo 24 (7) (19 88) .
614 Ligia Maura Costa
4. Intervenção de um Intermediário
Como no crédito documentário, há também a intervenção de um intermediário,
em geral sediado no país do importador. Por analogia, o papel do intermediário
pode ser simplesmente de meio de transmissão da garantia bancária dada pelo
banco ou companhia de seguros do país do exportador, conferindo a autenticida-
de da garantia emitida e notificando o importador da abertura da garantia em seu
favor.
O intermediário pode também funcionar como contragarantidor. A contra-garan-
tia oferecida pelo intermediário corresponde a um envolvimento semelhante ao
do emissor da garantia e garante ao importador uma segurança suplementar. A
contragarantia de um intermediário compreende um compromisso independente e
autonômo do assumido pelo emissor da garantia.
5. Codificação da C.C.I.
As garantias bancárias foram codificadas pela C.C.I. e resultaram no estabe-
lecimento das Regras e Usos Relativos às Garantias Contratuais. Essas regras
não possuem qualquer valor legal e toda a sua força obrigatória resulta da
vontade das partes contratantes.
3. Execução da Garantia
Em caso de execução da garantia bancária pelo importador (beneficiário), cabe
ao banco ou companhia de seguros que efetuou o pagamento exigir do exportador
(ordenador) o reembolso pelo montante pago ao importador. O direito de regres-
so da entidade seguradora (garantidor) contra o exportador (ordenador) resulta
do próprio acordo celebrado entre eles.
a. Garantia de Licitação
A primeira fase de uma operação comercial é a concorrência ou licitação. O
importador, evidentemente, quer que o exportador cumpra a proposta apre-
sentada e, para isso, pede a ele que garanta sua proposta através de uma garantia
10. A enumeração acima não é exaustiva, pois , por exemplo , a garantia bancária dada por falta de conhecimento
de embarque não fará parte de nosso estudo.
616 Ligia Maura Costa
d. Garantia de Retenção
Finalmente, nos contrato s turn key encontramos cláusulas que autorizam o
importador a reter durante um certo tempo após entrega das chaves o pagamento
de parte final do contrato - em geral 5 % do valor total do negócio. Para que o
exportador receba o total do valor do contrato, a prática criou a garantia bancária
de retenção (retention money bond) que assegura ao exportador o recebimento
imediato do preço total do contrato.
2. Garantias Documentárias
As garantias documentárias terão sua execução subordinada à apresentação pelo
importador de alguns documentos, tais como : um documento ou uma sentença
arbitral, certificando o não-cumprimento da obrigação pelo exportador ou um
certificado de inadimplência emitido por um perito ou por um terceiro confiável,
ou, ainda, mediante a autorização do exportador (ordenador da garantia).
Nesse caso, por analogia com o crédito documentário, aplicam-se os artigos 15
Meios de Pagamentos e Garantias Bancárias em Contratos Internacionais 619
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Tecnologia e sua Importância
L INTRODUÇÃO
Atente-se para qualquer das invenções industriais anteriores à Primeira Guerra Mundial
- a utilização idealizada por Watt da teoria do calor latente na criação da câmara de
condensação separada dos motores a vapor, ou a exploração do eletromagnetismo por
Marconi para a criação da radiotelegrafia , por exemplo - e ver-se-á, de plano, que o
inventor nunca fora homem de empresa. Mas corra-se a lista das grandes invenções
industriais do século XX e ter-se-á grande dificuldade em encontrar alguma que tenh a
medrado fora do âmbito empresarial.
Salvo melhor juízo, a questão deve ser tratada a partir de duas situações reco-
nhecidas pelo Direito Internacional, a saber: a) que as nações têm entre si o dever
de solidariedade, cooperação e assistência e b) que existe um direito ao desen-
volvimento.
Realmente, não há como deixar de reconhecer que os Estados, na órbita inter-
nacional, devem guardar entre si o dever de solidariedade. Decorre isso da
própria forma com que a sociedade internacional vem se formando, sendo certo
que isso vem, sistematicamente, sendo reconhecido . Nesse sentido , existe um
dever de cooperação entre os Estados na órbita internacional. Assim é que os
artigos 55 e 56 da Carta da ONU preceituam:
Artigo 55
Com o fim de criar condições de estabilidade e bem-estar, necessárias às relações
pacíficas e amistosas entre as Nações, baseadas no respeito ao princípio da igualdade
de direitos e da autodeterminação dos povos, as Nações Unidas favorecerão:
1. níveis mai s altos de vida , trabalho efetivo e condições de progresso e desenvolvi-
mento econômico e social;
2. solução dos problemas internacionais econômicos, sociais, sanitários e conexos;
a cooperação internacional, de caráter cultural e educacional; e
3. o respeito universal e efetivo dos direito s humanos e das liberdades fundamentais
para todos, sem distinção de raça , sexo , língua ou religião.
Artigo 56
Para realização dos propósitos enumerados no art. 55 , todos os membros da Organização
se comprometem a agir em cooperação com esta , em conjunto ou separadamente.
A partir dessa Carta, torna-se fora de dúvida que os países subdesenvolvidos têm
direito ao desenvolvimento .
A questão do direito ao desenvolvimento é tão importante que vem causando
discussão sobre se o mesmo pode ou não ser classificado entre os Direitos
Humanos de Terceira Geração. Veja, por exemplo, o que Philíp Alston pensa:
In 1977 and again in 1979 the United Nations Commission on Human Rights declared that
there exists an internationally recognized human right to development. In this regard, the
Commission indicated in 1979 that, in its view, equality of opportunity for development is
as much as prerogative of nations as of individuaIs within nations. The moral and the ethical
arguments which support the existence of this right is compelling. However, by contrast
the internationallegal and political status of the right are matters of considerable conten-
tion. Thus at the Commission's 1979 meeting one Western delegation stated that it was not
yet convinced that the right existed as legal right recognized by internationallaw or that it
created specific rights and corresponding obligations. ... (ALSTON, 1987) .
tam para uma única solução possível, a assistência. Neste ponto, o desejável é
que ambas sejam prestadas conjuntamente, de sorte que o processo de assistência
técnica venha, desde o início , acompanhado de um processo de cooperação.
A assistência técnica pode ser prestada tanto por organismos internacionais como
por governos.
No caso de assistência intergovernamental, esses procedimentos são adotados
por governos do Primeiro Mundo em favor de países menos desenvolvidos.
Todavia, não é totalmente inexistente a assistência Sul-Sul.
Esses programas, via de regra, podem se revestir de várias características. Podem
significar, por exemplo, o envio de técnicos do setor de agricultura para imple-
mentar mudanças nas técnicas agrícolas utilizadas no país objeto da assistência
técnica; podem representar o envio de técnicos para reformular o setor de
educação etc. ; podem, ainda, implicar a concessão de bolsas de estudo para
aprimoramento de mão-de-obra.
Já o conceito de cooperacão técnica implica colaboração de caráter tecnológico
entre duas partes. Desse modo, o que se tenciona, nessa hipótese, é a estrita
capacitação do receptor da tecnologia.
o processo de cooperação técnica, da mesma forma que o processo de assistência,
pode se dar tanto através de governos como através de organismos internacionais.
Na maior parte das vezes, a tecnologia necessária é dominada não pelos governos
ou pelos organismos internacionais envolvidos, mas por empresas privadas. Na
verdade, são estes entes, em especial as multinacionais, os detentores de know-
how, patentes e outras formas de tecnologia. Assim, a cooperação tecnológica
internacional ocorre tendo os governos ou os organismos internacionais agindo
não como parte, e sim na qualidade de fomentadores dessa transferência.
Neste ponto, há que se reconhecer que os governos podem algumas vezes agir
na qualidade de entes que impedem a livre transferência de tecnologia. Isso
decorre tanto de questões relacionadas à segurança desses países, como em
decorrência das práticas neoprotecionistas.
Isto posto, conclui-se que: a) a cooperação técnica deve ser utilizada preferen-
cialmente à simples assistência; b) na maior parte das vezes o processo de coope-
ração à tecnologia encontra-se disponível nas mãos de entes privados, agindo os
governos e agências como simples fomentadores. Neste sentido, os contratos de
transferência de tecnologia a serem firmados são, via de regra, regidos pelas regras
de direito privado. No item a seguir serão estudados esses contratos.
630 Luiz Alfredo Paulin
1. É importante que se diga que a expressão é classificada no dicionário como " expressão estrangeira ", não
devendo ser considerada , destarte, como pertencente ao nosso léxico.
Tecnologia e sua Importância 631
Assim não é fácil definir-se, a contento de todos, o know-how; pode-se dele ter uma
noção . Consiste o know-how em certos conhecimentos ou processos secretos e originais,
que uma pessoa tem e que, devidamente aplicados, dão como resultado um beneficio a
favor daquele que os emprega.
V. Do CONTRATO DE KNOW-HOW
O valor da remuneração será apurado com base em percentagem ou em valor fixo por
unidade de produto, em qualquer dos casos incidente ou correlacionado sobre o preço
líquido de venda, receita líquida de venda, ou, ainda, quando for o caso , estar também
correlacionado com o lucro obtido do produto resultante da aplicação da tecnologia.
sobre cada unidade produzida conforme estipulação contratual, exceto para os Contra-
tos de Serviços de Assistência Técnica e Científica.
E O ANEXO 2, diz:
O abaixo assinado ......, nascido em ....... residente à ........ declara ter lido as disposições
relativas ao sigilo previstas no Artigo VIII do Contrato de Transferência de Tecnologia
Tecnologia e sua Importância 637
Note-se, ainda, que nem sempre o preposto age de maneira dolosa ao possibilitar
que o know-how caia no domínio público. Assim, a partir do momento em que
isso ocorra, o licenciado ou cessionário estará sujeito a ser responsabilizado.
Existem situações bastante graves, como, por exemplo, o caso de funcionários
que levavam consigo, em seu carro, todo o material em que se encontrava
descrito o know-how e que tiveram seus veículos furtados, possibilitando, assim,
em tese, que o referido material caísse no domínio público.
Fran Martins lembra que o know-how pode ser transferido de maneira pura ou
combinada. No primeiro caso, é transmitido de forma isolada. Já no know-how
misto ou combinado , a transmissão se dá juntamente com outros direitos, como,
por exemplo, o direito à utilização da patente sobre a qual se aplica o know-how,
ou o fornecimento de material etc.
VI. DA PATENTE
tipo de atrito entre diversos Estados. Como é sabido , alguns países se recusam a
patentear certos tipos de produto ou processos. É o caso principalmente dos
produtos farmacêuticos e ligados à biotecnologia. Na atualidade, verifica-se a
existência de pressões sobre o Brasil para reconhecer patentes que recaiam sobre
esses produtos ou seus processos. Tal pressão vem sendo exercida pelo governo dos
Estados Unidos da América do Norte. É de se esperar que, dentro de determinado
espaço de tempo, o Brasil venha a reconhecer as referidas patentes, muito embora
existam pressões parlamentares bastante fortes para que isso não aconteça.
Convém notar que, além das invenções propriamente ditas, são privilegiáveis os
modelos de utilidade, modelos industriais e os desenhos industriais.
O primeiro, isto é, o modelo de utilidade, é legalmente definido como sendo
"toda a disposição ou forma nova obtida ou introduzida em objetos conhecidos,
desde que se prestem a um trabalho ou uso prático" . Ressalta a lei, entretanto,
que a proteção é concedida somente "à forma ou à disposição nova que traga
melhor utilização à função a que o objeto ou parte da máquina se destina".
Por modelo industrial a lei entende "toda a forma plástica que possa servir de
tipo de fabricação de um produto industrial e ainda se caracterize por nova
configuração ornamental", sendo, por sua vez, o desenho industrial definido
como "toda a disposição ou conjunto novo de linhas ou cores que, com fim
industrial ou comercial, possa ser aplicado à ornamentação de um produto, por
qualquer meio natural, mecânico ou químico, singelo ou combinado".
As patentes podem ser exploradas diretamente por seu titular ou podem ser
objeto de transferência. Neste sentido, o titular pode transferir seus direitos a
terceiro, configurando-se, destarte, uma cessão. Pode também apenas conceder
licença para que alguém explore determinada patente, por determinado período.
Existe uma série de Acordos Internacionais que regulam as questões relacio-
nadas à patente. O acordo mais conhecido é a União de Paris, firmado naquela
cidade em 1883. Esse tratado, do qual o Brasil é partícipe, foi objeto de uma
série de alterações.
A Convenção de Paris estabelece uma série de normas; entretanto, a mais
importante refere-se ao compromisso estabelecido pelos Estados signatários de
conceder aos nacionais dos outros Estados signatários tratamento igual ao que
dariam a seus próprios nacionais (Artigo 11) . Por outro lado, estabelece-se que o
depósito feito perante um Estado signatário poderá, dentro de um determinado
período, ser feito perante outro Estado, considerando-se como data-base a data
do primeiro depósito (Artigo IV).
640 Luiz Alfredo Pau/in
Cons ide ra -se " de fo rnec ime nto de te cn ol ogia industrial" o contrato que tem por finali -
dad e es pec ífic a a aqu isição de co n hec ime ntos e de técnicas não -amparados por direitos
de propri edad e industrial depositados ou concedidos no país, a serem aplicados na
pr odu ção de ben s de co ns um o ou de in sumos, em geral.
a) fo rnecime nto de tod os os dado s té cni cos de engenhari a do processo ou do pro duto ,
incl usive m etod ol ogi a do desen v ol vimento te cn ológico usada para sua obtenção,
d ad os esses repr esen tad os pel os co nj untos de fórmula s e de informações técnicas ,
de docum entos, de desenh os e mod el os indu striai s, de in struções sobre operações e
de outros ele me ntos anál og os para permitir a fabricação do pro duto a que se refere
o su bi te m 4.1 ;
Tecnologia e sua Importânc ia 641
Considera -se " de cooperação técnico-indu strial " o co ntra to qu e tem po r fina lida de
específica a aquisição de con hecim entos de técnica s e de se rv iços requ erid os p ar a a
fabricação de un id ade s e subunida de s indu striai s, de máquina s, equ ipa mentos, resp ec-
tivos componentes e outros bens de capital sob en com enda.
o item 6.1.1 determina que o contrato deve co mpreende r princip alm ente :
a) fornecimento de todo s os dado s técni cos, desenh os e es pecificações de enge nha ria
do "p roduto" e dos materiai s u sad os par a a sua fabri c ação , bem co mo to da a
metodologia do des envo lvimento tecn ol ógico utili z ad a p ar a sua ob te nção (memó ria
de cálculo et c. ) ;
b) fornecimento de dado s e informa ções p ar a a atual ização do pro duto ;
c) prestação de assi st ência técni ca a ca rgo de técni cos do cooperador e fo rmação de
pessoal técnico espe cializado da empresa recep tor a.
Por sua vez, o conteú do do " Contr ato de Servi ços Técnicos Esp eci alizad os vem
definido no item 6 do A.N . 15, que tem o se guinte teor:
Considera-se de " se rviços técnicos " o contrato que tenha p or fin alid ade es pecífic a o
planejamento, a programação e a elabora çã o de estudo s e proj et os, be m co mo a execu -
ção ou prestação de servi ços , de caráter es pecia liza do , de qu e necessi te o sistema
prod utivo do paí s.
o item 5.1.1 determina que o contr ato dev e compreend er princip alm ente :
a) elaboração de planos diretores , es tudos de pr é-vi abilid ad e e de v iabi lida de técn ico -
econômica e financeira , estudos organizacio na is , ge re nc ia is ou outros , plane j amen-
to em geral , inclusive rela cion ad os co m se rv iços de engen haria ;
b) elaboração de planejamento , anteproj et os, pro j et os bási cos e executivos , bem co mo
elaboração, control e de execu çã o e supe rv isão técn ica de empreen dime ntos de
engenharia em seus diversos ramos e em suas diver sas etapas;
c) instalação, montagem e co locação em func io n ame nto de m áqu in as, equipa me ntos e
unida des in dustriais ;
d) outros serviços técnico -profissionais especializ ados, de engenharia e/ou co ns ulto ria;
642 Luiz Alfredo Pau/ in
Por sua vez, o item 2.1.1 determinava que a licença deveria compreender,
necess ari amente:
o Ato Normativo n. 15, como se sabe, foi revogado, tendo sido substituído pela
Resolução 22 , a qual contemplou e classificou como contratos de Transferência
de Tecnologia os contratos de exploração de patente, uso de marca, fornecimento
de tecnologia e prestação de serviços de assistência técnica e científica.
De qualquer forma , os referidos contratos continuam sendo objeto de averbação
perante o INPI, posto que tal comando decorre das disposições constantes do
Código de Propriedade Industrial, que em seu art. 126 determina:
À época do A .N. 15, a referida averbação criou uma série de celeumas, posto que
a averbação do contrato era condição para:
Pelo que se viu acima, quase todos os contratos deveriam ser averbados no INPI,
tendo em vista, em especial, que a autorização a ser fornecida para remessas de
royalties, pelo BACEN, e a possibilidade de serem lançados, como despesas
dedutíveis, os pagamentos feitos, exigia a prévia averbação.
Entretanto, alguns autores questionavam isso. Questionavam a legalidade de um
Ato Normativo normatizar questões de direito privado. De qualquer forma, com
a liberalidade do novo diploma é de se esperar que não mais se questione a sua
legalidade.
Além das questões tratadas anteriormente, com relação a particularidades de
contratos firmados no país, parecem necessárias duas observações.
Em primeiro lugar, com relação à questão de natureza fiscal , deve-se ter em conta
que continua a viger, no Brasil, a Portaria 436 do Ministério da Fazenda, datada
de 31.12.1958.
Tal Portaria estabelece o limite de dedutibilidade fiscal. Esse limite se aplica
ainda aos casos em que o INPI tenha averbado contrato cuja remuneração preveja
valores superiores aos ali estipulados.
Em segundo lugar, vale notar que a estrutura cambial brasileira exige que as
remessas para pagamento de royalties somente sejam feitas quando autorizadas
pelo Banco Central do Brasil. Destarte, não é incomum que , mesmo após obtida
a autorização por parte do INPI, o remetente ainda tenha que enfrentar a buro-
cracia do BACEN para poder efetuar o pagamento legitimamente devido ao
cedente.
Referências Bibliográficas
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Attitudes toward International Law. Holanda, Martinus Nijhohh Publisher, 1987.
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644 Luiz A lfredo Pau lin
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SOU ZA , J os é Ade odato e PER EIRA, Hild a M ari a Sal om é. "Prop rie d ade In tel ectu al e Transfe-
rê nc ia d e T ecn o logi a" . Revi sta de Adm inist ra çã o, vo l. 24 , n. 2, p. 14 , ab r. -j un . 19 89 .
CASOS E DEPOIMENTOS
A Tecnologia de Transferir
Tecnologia
QUADRO 1
S EN AI
o S EN AI - Serv iço Naci on al de A pre nd izag em Industri al - , criado em 1942, tem co mo
respons ab ilid ad e princip al a form ação pro fiss on al e o dese nvolv ime nto d as potenc ial id ad es
do tr ab alh ad or. A in stitui ção é ma nt ida pe los em pres ári os, através de recolhim ento co mpu l-
só rio d e um a por cen tag em d a folh a de pagament o das empresas industria is . Essa a rreca dação
representou cer ca de 40 bi lhões de cruze iros em 1990 .
O órgão , v inc ula do à Con fed er ação Naci onal d as Indúst ri as , possu i um dep art am ento n aci o -
n al , enca rrega do d as políti cas e orie ntação técni ca, e dir e tor ias regi on ais e m 24 Estados d a
F ed er ação .
Em 1990 reg is trou um tot al de 1.13 5.5 35 matrícul as . Desse tot al, cerca de metade da form açã o
foi oferecid a dir et am ent e pelo SEN A I. Aí se inclu em a maiori a dos cursos de formação pro fis -
s iona l de longa dur ação . A o utra metade das matrícul as é negoci ad a dir et ament e pel as empresas
ou em convê nios entre elas e o SENAI , e se constituem de alg umas ações de formaçã o pro fissi on a l
e de um gr and e núm ero de treinament os es pecíficos, de cu rta dur ação, vo ltados para o ate ndime nto
de necessid ades es pecíficas e urgentes . O esfor ço de trein am ent o anual do SE NA I equivalia, em
1990, a 126 m ilhões de alunos /hora.
A red e física pr ópri a incl ui 563 unid ades operac io na is em tod o o país , m as o s iste ma ainda
se v al e de inúm er as uni da des utiliz adas atra vé s de co nvê nios d e coo pe ra ção ou acordo s . No
tot al são utili z ad as 530 unid ad es fixas e 303 un idades móv ei s e m tod o o país , incluind o
ce ntros de fo rma ção pr o fiss ion al, esco las técn icas , ce ntros de tecno logi a, ce ntros de tr ein a-
m ento, agê ncias de tr e in am en to, un id ades de trein ament o o pe rac io na l, unid ad es móvei s e
centros de des env olvimento de pessoa l. O corpo técnico do SENAI é co ns tituí do por 14 .719
fun ci on ár ios .
No camp o d a coo pe ração int ern ac ion al , o SEN AI tant o receb e qu an to prest a ass is tê nc ia
técni ca . Em 1990 tr ein ou 1.085 estagi ári os de mai s de 40 países . A o mes mo temp o, nego c iou
ou implem entou m ais de 40 pr oj et os de assist ên ci a téc nica, a lém de ge re nc iar o env io de
dez en as d e b ol si st as do S EN AI par a es tág ios em ou tros p aís es .
QUADRO 11
QUADRO l lI
Pr ocura-se um Parceiro
Não tem sido fác il encontra r um parce iro par a o Centro de Tecn ol ogi a de Tran sp ort es . Os
prob lemas do setor, no país, são muito pe culi ares :
d imen sõ es conti nentais
fo rte peso d o se tor rodovi á rio
alt o gr au de liquid ez e de velocid ade de giro de ca pi ta l da s emp res as, o qu e m as cara as
inefici ên ci as
baixíss imo g rau de profissi onal ism o ger enci al
vi rtua l aus ência de cultu ra de manut en ção
Que tecno logi as são necessári as par a mod ern izar o se to r? Por on de co me ç ar?
A uni v ers id ade e os centros governam entais não es tava m aptos a resp ond er aos des afios
concre tos do seto r, um a vez qu e s e es pec ia liza ra m em qu est ões de macr opl anej am en to,
pl an ej am en to ur b ano e cois as do gê nero .
O SENAI opto u por pri vil egi ar as á reas de ges tão de em pres as e manutenção de fro tas . Ap ós
elabo rada bu sca de parceir os no ex terior, cons eguiu ident ificar apenas um a inst itu ição (Unive r-
s ida de d e M issouri , nos EUA) conside rada apta a co lab or ar em alg uns do s probl em as para os
q ua is se vo lt a esse novo centro de tecno logi a. O res to, o ce ntro ve m faze ndo por co n ta próp ri a,
d escob rind o seus pr óp rios c aminhos .
de informações e a resultante comp etência técnica par a neg oci ar e tir ar me lho r
proveito dos processos de transfer ência de tecnologia.
QUADRO 4
Criando Cumplicid ad e
o Centro de T ecn ol ogi a E le trônica, em Minas Ge rais, nascido d a coop eração SENAI/MG-
nCA (M in is té rio d a Coop er ação do J apão) fo i esco lhido pel os ja po neses co mo s ua sed e
latino- am erican a para c ursos de form ação . Ao inv és de lev ar docentes de institu içõ es d e
form ação pr ofissi on al de o utros países da Amé rica L atin a p ara s erem trein ad os no J ap ão , a
nCA vem pr omo v end o anual men te se us curs os na escol a qu e eles aj uda ra m a cria r em Bel o
Horizonte. Eles v êm fornecend o anualme n te os equi p am en tos , ass is tê nc ia té cn ica e recursos
humanos n ec es sári os p ar a co m ple mentar as necessid ad es do se u par ceiro loc al.
Dess a fo rma , seis anos após o térm ino do con trat o de ass istê nc ia técni ca p ar a a criação do
centro, os japon es es continu am v oltand o, a co labo ração s e torn a cad a vez ma is mutu am en te
pr ov eitos a, e, em co nse qü ência, os j aponeses es tão ca da vez mai s int e ress ad os n a par ceri a,
qu e com eçou co m ares de aj ud a.
Existe uma lei bá sica, a chamada lei de Murph y, qu e se aplica à imple mentação
de projetos: "Se alguma coisa pode dar err ado, tenha cer teza de qu e va i dar
errado ". A função do g er ente é evi ta r qu e o in ev itáv el aco nteça .
Dentre as mil e uma fontes de de simplem entação de proj etos, a ex pe nenc ia do
SENAI aponta p ara uma cau sa cr ônica de impl em entação: a qu estão do s recursos
humanos . Esta talvez sej a a área onde o SENAI tenha tido os mai or es pr oblem as, e
é também a área onde, de certo modo , possui men os control e, tendo em v ista suas
limitações financ eiras, institucionai s, e a própri a con corrên ci a do m erc ad o de
trabalho - além da imprevisibilidade e da mudança de asp iração das pessoas envo l-
vidas nesses processo s. Analisamos, aba ixo, a expe riênc ia do SE NAI co m relação ao
recrutamento, treinamento, e à reinserção de pe sso al aos se us ce ntros de tecn ol ogia.
4. Recrutamento
Em se tratando de uma nova atividade , cuj a n atur eza e n ív el são di fer entes das
escolas de formação profissional , o s centro s de te cn ologia usu alm ente vê m
recrutando p essoas de for a do sis te ma SENAI p ar a co mpo re m o qu adr o de
pessoal de seus centros de tecnologi a. El emento s jo v en s - engenheiros o u
técnicos, conforme o caso - são recrutad os e envia dos, log o a seguir, p ar a
estágios de formação no exterior. A exce ção, em g er al , é o p essoal diri g ente,
que comumente é recrutado dentro do s qu adro s do próprio SENAI.
658 João Batista Araujo e Oliveira
5. Treinamento
Um segundo aspecto crítico da gestão dos recursos humanos num processo de
transferência de tecnologia relaciona-se com a própria natureza da atividade
realizada nos países que fornecem a tecnologia. Por diversas razões - uma das
quais é o perfil jovem e relativamente inexperiente do pessoal recrutado - a
principal atividade desenvolvida no país estrangeiro se dá na forma de cursos,
mais do que em trabalhos conjuntos (de igual para igual) nos demais aspectos
característicos de centros de tecnologia, tais como a certificação, a assistência
técnica a empresas, ou mesmo a realização de atividades de pesquisa e desenvol-
vimento . Isso , de um lado, reflete a capacidade mais forte do SENAI - que é a
de ministrar cursos -, mas de outro torna um pouco mais difícil o desenvolvi-
mento dos outros objetivos para os quais se criaram os centros de tecnologia.
Ademais, pode contribuir para criar relações assimétricas entre os parceiros.
Esses problemas, naturalmente, podem ser minimizados de diversas formas - que
eventualmente já vêm sendo utilizadas, tais como separar os locais de cursos dos
locais de estágio, separar as pessoas que fazem cursos das pessoas que fazem
A Tecnologia de Transferir Tecnologia 659
6. Reinserção
Um terceiro aspecto, decorrente dos anteriores - e que em parte ultrapassa o
próprio controle do SENAI -, consiste no reingresso do pessoal. Uma vez no
Brasil, muitos centros não têm logrado as condições para manter o pessoal que
formou, levando assim à perda de pessoas importantes para manter um quadro
de pessoal que sirva como contrapartida para absorver a experiência dos técnicos
estrangeiros que vêm para o país nessa fase do projeto. Além disso , sua saída
representa uma perda financeira considerável e freqüentemente compromete o
ritmo de implementação do projeto como um todo.
Muitos outros problemas de implementação naturalmente vêm ocorrendo num
processo dessa dimensão, mas o recrutamento , a preparação e a reinserção dos
recursos humanos de contrapartida nacional têm sido, de longe, o maior desafio
para a implantação dos centros de tecnologia. Alguns centros têm sido mais
felizes do que outros. Apesar de todas as dificuldades, todos os centros previstos
até hoje vêm sendo implementados, e vêm se desempenhando com graus dife-
renciados de sucesso. O quadro abaixo apresenta, apenas para efeito de ilustra-
ção, alguns flashes dessas histórias de sucesso.
Q UADRO 5
As difer enças entr e os dois pr ocessos e se us resultado s, no enta n to, são m arcan-
tes. A decisão de criar os centros foi um a decisão decorrente da política m acro e-
A Tecnologia de Transferir Tecno log ia 66 1
con ôrnica e da política industri al do governo de Cing ap ur a, que por sua vez
levaram ao estabel ecimento de polític as de fo rmação pro fission al, resp on sáv eis
pela criação dos centros. Entre outras implicações, a ex is tê ncia dessas p olíti c as
garante a estabilidade financeira desses ce ntros . Ad em ai s, a função origina l dos
centros, que era a de formar mão-d e-obra co m comp et ên ci as téc nicas e c ar act e-
rísticas culturais semelhantes às do s países de origem (Ja pão , Al em anh a e
França, respectivamente, no caso do s tr ês centros cri ad os), evo lu iu p ar a um a
função de dar apoio técnico , inclusive fornec er recurso s hum ano s habilitado s,
para as subsidiárias dessas empresas instaladas em Cingapura . N est e caso , a
cumplicidade do país doador foi mais longe que no Brasil , um a vez qu e o sucesso
dos centros de tecnologia em Cingapura lev ou- os a se con v erterem em v it rines,
onde os países de origem expõem seus últim os equ ipa me ntos e tecn ol og ias, e
informam aos interessados locai s qu e o C entro de T ecn ol ogi a oferece assis tê ncia
técnica e mão-de obra especializad a. D essa forma ganh am os japo neses, por qu e
ampliam mercados para seus produtos, ganh am os ce ntros de tecn ol ogi a de
Cingapura e, dentro da filosofia de desen vol vim ento ado ta da , tamb ém ga nha
corpo a estratégia de atração de multin aci on ai s es tra ngei ra s . O mesm o oco rre
com os franceses e alemã es.
Com esses e outros detalhes em mente, vo ltamos a p ergun tar aos nossos in te rlo -
cutores - os dirigentes do SENAI - so bre as liçõ es e reflexões qu e poderi am
extrair, com base em sua própria exp eri ên cia e na análise conjunta qu e fi zem os
de alguns casos do SENAI e de Cingapura . Em síntese, as li ções qu e tod os
tiramos foram muito convergentes e in strutiva s.
2Q - Clareza de objetivos é importante, mas isso não signif ica necessariam ent e qu e
todos os objetivos estratégicos devam se r explicitados no proj eto de coope ra -
ção. Isso remete a uma questão mai s geral de fins e m eios. Os obje tivo s de um
projeto de colaboração são meios para outros objetivo s de long o pr azo, do paí s
ou da instituição. Em Cingapura, o objetivo maior era o de atra ir inv estimentos
de firmas de alta tecnologia de países determinados . Os resultado s foram além
do esperado: atraíram os capitais, as empresas e muito mai s.
662 João Batista Araujo e Oliveira
Referências Bibliográficas
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Glossário
Glossário de Termos Us ua is em
Cooperação Internacio nal
Este glossário foi traduzido e adaptado do documento: UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAM.
Annual Development Cooperation Report - Brasil - 1990.
666 Jacques Ma rcovitch
TIPOS DE AJUDA:
1. COOPERAÇÃO TÉ CNICA ISENTA DE PAGAM ENTO (CT I) . Forn e cim en to d e re cur-
sos destinados à transferência d e te cnol ogia , con hec imen tos t écni-
cos e gerenciais e know-how, c om o prop ó sito de elev ar a ca pacid ade
nacional para absorver essas ati vidades de d e sen v ol vim ento , ind e-
pendentemente da implanta çã o d e qualqu er p roj eto d e d esenvol vi-
mento. Esse tipo de coop era ç ão técn ic a , is ent a d e p ag am en t o ,
compreende atividad es que se proce ssam antes m esm o qu e o p ro jeto
de investimento esteja apro v ad o, ou qu e o finan ciam ent o es te ja
assegurado, como e stu d os de viabilidade .
2. INVESTIMENTO RELACIONADO À COOPERAÇÃO T ÉCNICA (ICT ) . Ocorre qu and o
recursos são dirigidos, como atividad e identifi cá v el isol ad am en te, p ar a
o fortalecimento da capacidade de executar proj et os es pecíficos de
investimento . Sob esse título se cla ssificam ati vid ad es de pré-inv est i-
mento destinadas à implementa ção de um pr oj et o ap ro v ad o.
3. AJUDA A PROJETOS DE INVESTIMENTO (API). Fornecimento de fin an ci am ento ,
em dinheiro ou espécie , destinado a proj eto s es pe cíficos de in v estimen-
to de capital, ou seja , de projetos que c riam c ap itais produti vos, gera-
dores de novos produtos ou se rviços . E sse tip o de pr oj et o pod e co n te r
um componente de cooperação técnica ( ca so em qu e o có digo é ITC).
4. PROGRAMA/AJUDA ORÇAMENTÁRIA, OU AMPARO À BALANÇA DE PAGAMENTOS
(POB). Fornecimento de recursos qu e n ão se en qu adram den tr o dos
termos específicos de investimentos ou proj etos de coo pe ração técni ca,
mas se destinam , num contexto mais amplo de obje tivos m acro econ ô-
micos, ao amparo da posição da balança de pagam entos do rec eb edor
para gerar disponibilidade de divi sa s estrangeira s. Nessa ca tego ria se
670 Jacques Marcovitch
ANTONIO CESAR AMARU MAXIMIANO: Mestre e Doutor pela FENUSP, onde é Professor
associado. Supervisor de Projetos junto à Fundação Instituto de Administra-
ção (FINFENUSP). É autor de livros sobre administração.
ANTÓNIO PAULO CACHAPUZ DE MEDEIROS : Bacharel pela Faculdade de Direito da
PUC/RS, Mestre pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, é
Diretor do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade do Vale do Rio
dos Sinos (RS), Presidente do Instituto dos Advogados do Rio Grande do
Sul e Diretor da revista Advogado.
CELSO CLÁUDIO DE HILDEBRAND E GRISI: Mestre e Doutor pela FEA/USP, onde é
Professor associado , é Supervisor de Projetos na FIA/FEA/USP, Diretor
de empresa e Representante brasileiro junto ao CCI/UNICIAD/GATT.
CELSO LAFER: MA e PhD em Ciência Política, pela Universidade de Cornell, foi
Ministro das Relações Exteriores do Brasil. É Professor titular da Facul-
dade de Direito da Universidade de São Paulo.
CELSO LUIZ NUNES AMORIM: Pós-graduação na Academia Diplomática de Viena e na
London School of Economical and Political Science, foi Embaixador do
Brasil em Genebra, e Professor do Departamento de Ciência Política e
Relações Internacionais da UnB. É Ministro das Relações Exteriores do
Brasil.
672 Jacques Marco vitch
EDIS ON F ERNAND ES P OLO: B ach a rel e M estre p el a EAESP/FGV , é Pro fe s sor ass i ste n te
d ou tor d a FEA/US P . O cup ou c a rgos e xec ut iv o s e de a sses so ria na ad m i-
nistração d iret a, em p resas es ta t ais e pri v ad a s .
E DUARDO VAS CONCELLOS: M BA p ela Uni v er sidad e d e V and erbilt, Doutor p ela
FEA/US P , da qu al é D ir et or e Profe s sor titular. É Sup ervi sor de Proj eto s
e Consultor j un to ao Banc o M u n d i al, Un e sco e Opa s.
F ERNAN DO CH APARRO: PhD em S o ciol ogia e R el aç ões Indu striais pela Universidad e d e
Princeton/EUA, foi D ire to r p ar a a Améri c a Latina e o C aribe do C entro
Inte rnaciona l d e Investig ação para o D e s envolvimento (CIID/IDRC), é
Professo r e P e squi s ad or n a Univ ersid ad d e los And e s (Bogotá) .
G UIDO F ERNAND O S ILVA S OARES: B ach ar el em D ireito pel a USP , M estre p ela Univ er-
s id a de de Il1inois, D outor e m E con omi a Políti ca pela PUC/SP , é Professor
d a Facul d ade d e D ire it o d a USP , na área de Direito Internacion al.
G UILHERME ARY P LONSKY: Mestre e D out or p ela Escola Politécnica da Universidade
d e S ão P aul o , é P rofes so r na FEA/USP e n a POLI/USP . É Supe rv i sor d e
P roj e to s na Funda çã o In stituto d e Admini stração , e Diretor d e e m p re s a .
H ÉLI O J AGUARIBE : Ex -sec re tá rio d e Ci ên ci a e T ecn ol ogia do Governo Fed eral. Ba cha-
rel em D i re it o p el a PUC/RJ , PhD HC p ela Uni versidade d e Mainz , RFA,
fo i P ro fe s s o r e m H ar v ard , S t anford e d o MIT, e Chefe d o Departamento de
Ciência P o líti c a n o IS E B . D ec an o d o In stituto de Estudo s Políti cos e
S o ci ais d o Ri o d e J a n eiro.
HIL DA S ALOMÉ P EREIRA: Ba charel e m F ísi ca p ela PUC/SP , é M e stra e Doutoranda e m
Adminis tração p el a FEA /USP , e P esqui sadora junto à FIA/FEA/USP .
ISAK KRU GLIAN SKAS: Mes t re e D outor e m Admini stração p el a FEA/USP , ond e é
Pro fe s sor assoc ia do. En g enh ei ro p elo In stitut o Tecnológico d a Aeronáuti-
ca , com ape rfeiçoa me n to na N orthw e st ern University , Vanderbilt Univer-
sity (EUA) e C N A M (F r.). É C on sult or e Ass e ss or d e in stitui ç õ es e
e m p resas.
J ACQUES MAR COVIT CH: D o ut or e m A d mi n is t r aç ã o p ela USP , MBA p ela Universidad e
de V an derb ilt, é Pro fe s sor T itul ar da FEA/USP , da qual foi Diretor, Editor
d a R evist a da A dministraç ão, fo i Diretor do Instituto d e E studo s Avança -
d o s . IEA/US P. F o i Pre sid ent e da s Empre sa s de Energia do Estado d e São
P au l o . É P ró-Re it or de Cultura e E xtensão Universitária d a USP.
J OÃO B ATISTA O LIVEIRA: P rofe ss or, P e squi s ador, Administrad or e Con sultor de em-
presas . Tr abal h ou n o In st ituto de D e senvolvim ento Econ ômico do B anco
M un d ia l, em Was h ing to n, e n a Organi za ção Interna cional d o Trabalho, e m
G en e b r a .
LI GIA MAURA F ERNAND ES G ARCIA DA C OSTA: Bacharel pela Faculdad e de Direito da
Un ive rsi da de de S ão P aul o, co m cursos de aperfeiçoamento na Universidade de
P ari s X e II, em Th e Hagu e Acad em y of Intemational Law, na Parker School of
Foreign and Comp ar ativ e L aw , e n a Columbia Univer sity Law SchooI.
Sobre os Colaboradores 673