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Pry Oliver
1ª. Edição
2018
Cpyright © 2018 Pry Oliver
Criado no Brasil.
Capa: LA Capas
Diagramação: Criativa TI
"Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor,
serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine.
E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que
entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada
disso me aproveitará.
I Coríntios, 13
***
— Eu gostaria muito que isso pudesse ser verdade, amiga, mas sei o que
me espera. Eu sou muito grata pelo que fez por mim todos esses anos, mas...
***
Giovane sabia que a mulher que o criou estava certa e isso lhe doía,
mas queria acalmar o coração de Maria Fernanda, por isso, havia contado
algumas coisas que ouvira falar nos noticiários, só para lhe dar um pouco de
esperança.
— Nandinha, você vai fazer dezoito anos, mas sei que ainda é uma
menina, passou a vida toda aqui na fazenda. Preocupo-me com sua
estabilidade quando eu não estiver mais aqui. Uma mulher sozinha, ainda
mais ingênua e despreparada como você, não vai saber gerir a herança que te
deixarei. Então, decidi algumas coisas e preciso que você esteja de acordo —
sussurrou, não se sabe se pela voz fraca ou se pela decisão que havia tomado
sem consultar a opinião da afilhada.
— Eu sei disso, meu querido, mas logo você se casará. Terá sua
própria vida. E seu pai é um homem jovem, pode refazer a vida. Penso na
Nandinha tendo que ficar sozinha no mundo. Eduardo e meu primo chegarão
segunda, e logo após o casamento, eles retornarão para a sua cidade e você
ficará comigo. Estou adiantando o casamento, pois minha saúde está frágil e
não quero deixá-la sozinha antes do tempo. Quando ele chegar, explicarei o
acordo de casamento.
***
— Não, não vou permitir isso! Isso é uma loucura, minha mãe! —
gritou Giovane.
— Está com a via do contrato aí, Izabelle? — Olavo tinha pressa que
o filho firmasse o acordo para receber os milhões descritos no contrato. Logo
Eduardo construiria a empresa que tanto visava ter.
— Sim, está tudo aqui. — Izabelle pegou uma pasta que estava na
mesa do centro. — Como havíamos combinado, o casamento será amanhã à
tarde.
Era muito dinheiro envolvido, contudo o que mais lhe importava era
que o casamento garantiria sua empresa de engenharia antes do previsto. Ter
alguém preso a ele não seria um problema. Apesar de a garota assustada a sua
frente ter os cabelos mais perfeitos que já tinha visto e o rosto semelhante ao
de uma boneca de porcelana, isso não lhe garantia fidelidade. Ele sempre
havia sido de todas que o servissem.
— Sou grato pela confiança, tia. Vou conversar com ela. Nós
daremos certo. Com a sua licença. — Eduardo beijou a mão da mulher e
seguiu o rastro de Maria Fernanda. Precisava garantir que seu mais novo
negócio gerasse a rentabilidade desejada.
Quando seu pai lhe falou sobre o acordo com sua prima distante, ele
recusou. Amaldiçoava a ideia de um dia estar preso a uma única mulher.
Muito menos com uma menina de dezessete anos. Mas, depois de uma longa
noite analisando suas perspectivas de futuro, chegou à conclusão de que a
proposta era tentadora, afinal, além de milhões de reais em sua conta de um
dia para outro, seu projeto de futuro se realizaria mais cedo. E só o que ele
teria de fazer era aguentar ficar casado durante alguns anos. Sua irmã Luísa
reprovou a ideia, mas não falou nada sobre o assunto, não concordava que o
irmão casasse por dinheiro, mas também não interferiu na história, pois sabia
que ele era irredutível em seus objetivos.
A família de Eduardo não era pobre. Muito longe disso, pois possuía
uma qualidade de vida razoável. Seu pai era dono de uma empresa
conceituada de advocacia que estava crescendo ao prestar consultorias a
multinacionais. Sua mãe era uma dondoca que veio da lama, mas que amava
esbanjar dinheiro e arrogância.
O pai ainda não se conformava em ter ficado apenas com cinco por
cento dos bens de seus pais de criação, enquanto Henrique, o pai de Izabelle,
tinha herdado noventa e cinco por cento. Sentia agora o gosto da vitória e o
cheiro fresco de dinheiro merecido, o que ele mais amava.
Eduardo ficou de pé, frente ao juiz, assim que viu a menina entrando
na sala. Estava linda com os cabelos soltos e um simples véu de renda italiana
sobre a cabeça. O vestido branco e modesto tinha o comprimento até os
joelhos, e em suas mãos, estava depositada uma tulipa branca.
— Me deixa sozinha!
— Não escolhi me casar com você. Sai do meu quarto! Não vou
obedecer às ordens de um ogro! — Ela ajoelhou sobre a cama e gritou a
centímetros do rosto dele.
— Madrinha!
— Ela está nos deixando, Nandinha. Minha Bell está indo embora.
— Lamentava o marido em desespero.
— Meu amor, eu estou indo feliz, pois cuidei de você e sei que
estará bem de agora em diante. — respondeu a debilitada, num fio de voz.
— Prometa que vai cuidar dela, prometa que vai fazer a Nandinha
feliz...
— Eu te amo, Giovane.
— Se eu souber que você não está cuidando dela, vou buscá-la, está
me ouvindo? — Giovane apontou o dedo a centímetros do rosto de Eduardo.
— Saia daí. Chegamos e eu não tenho o dia todo para perder com
você.
— Céus... tão nova e com tanta bagagem e você caiu logo aqui?
Pobre menina. — Antonieta abraçou-a. — Só peço a Deus que te proteja de
agora em diante.
— Então, veja um aqui embaixo. Sabe que não abriria mão de minha
privacidade.
Eduardo se enfureceu.
— Você vai entrar em meu quarto apenas para dormir. Vai evitar
diálogos longos, não vai encher meus ouvidos com reclamações, vai ficar
longe dos meus projetos e de qualquer outra coisa que me pertença. Tenho
minha própria rotina. E, em hipótese alguma, interfira nela. Outra coisa: não
ande com suas roupas íntimas quando eu estiver presente e, tampouco, deixe
seus cabelos no ralo do meu banheiro. — Puxou uma mecha do cabelo dela e
começou a enrolar nos dedos.
— Estou.
— Descansou, filha?
— O Eduardo não gosta que mexam nas coisas dele. Deixe tudo
como está! Evite conflito. Ele costuma ser estourado e você não merece
grosserias.
— Vou falar com o Edu. Ele precisa ver uma escola para você. Fique
perto de mim o tempo todo. Eu vou te proteger se algo der errado.
— Meu irmão do coração. Giovane não sabe viver sem mim. Quem
vai com ele ao riacho agora? Ele tem medo de trovão, assim como eu. Agora
não estamos mais juntos para nos proteger das noites de trovão.
— O que disse?!
— E agora, Jorge, o Sergio deve estar aí e eu não posso ir até lá, não
quero vê-lo.
— Eu não posso ir lá, Suelen, não quero perder meu emprego. Sabe
muito bem que só posso entrar na cozinha.
— Eu vou, Suelen.
Maria Fernanda ajeitou seus cabelos para trás, tomou a bandeja nas
mãos e adentrou a sala, que Suelen mostrou de longe.
Ele tinha consciência que precisava das duas para alcançar seus
objetivos, por isso contou sobre o casamento para Viviane, garantindo que
não passava de um contrato que garantiria milhões.
Maria Fernanda não falou para provocar, ela realmente tinha sido
educada daquela maneira. Deveria se dirigir às pessoas mais velhas com o
devido tratamento.
— Vivi, por que você não finge que não está incomodada com a
bonequinha aqui. — Sergio segurou na cintura de Maria Fernanda, mas ela se
esquivou novamente.
— O senhor pode, por favor, não tocar em mim — ela pediu educada
e firme.
— Eu sou casada com seu amigo, não pode tocar em mim dessa
forma. — Maria Fernanda o afastou com um sopapo.
— Olha aqui, sua caipira, eu vou deixar uma coisa bem clara: você
não é nada, absolutamente nada do Eduardo! Eu sou a mulher dele. Você é só
um negócio, então não se sinta no direito de sair por aí dizendo que é casada
com o meu homem se não quiser seu rostinho lisinho com alguns hematomas.
— Por que vai bater em mim? — Maria Fernanda insistiu, afinal, ela
nunca tinha sido ameaçada.
— Viu por que eu não quis ir? — Jorge, de posse de uma banana,
falou de boca cheia.
Maria Fernanda olhou para Eduardo, e por alguma razão, quis ver a
expressão facial dele.
Havia alguns riscos que ele não poderia correr. Um deles era perder
um dos braços. Maria Fernanda, o investimento; Viviane, a influência. Ele
presumia que Viviane era mais fácil de escapar, pois a jovem não
transparecia ter entendimento de mundo. Ficaria de qualquer jeito.
Logo após Sergio ter ido para casa, Eduardo levou Viviane para o
escritório da casa, pois de agora em diante, Viviane não dormiria em sua
cama até que o quartinho destinado a Maria Fernanda estivesse pronto.
— Quais foram minhas ordens? Quando foi que eu disse que você
poderia mexer nesse caralho? — Apontou para a escrivaninha. — Meus
projetos de meses estavam ali!
— Para você nunca mais mexer no que não lhe diz respeito, vai
dormir no chão.
Foi até ela e ouviu outro grito fino. Mais uma vez respirou fundo e
puxou os cobertores que cobriam o tapete do quarto.
Ele mais uma vez fechou o punho lutando para controlar seu excesso
de fúria ao escutar o zumbido fino no ouvido.
— Por que acordou tão cedo, menina? Há essa hora ninguém acorda
na casa. Eu fui te ver ontem quando cheguei do supermercado, mas já era
tarde e você estava dormindo, por isso não quis te acordar. Suelen e Jorge me
contaram tudo. Eu não acredito como aquela megera teve a ousadia de
ofender uma Moedeiros.
— Não me ameace porque sei que você não sobreviveria sem mim.
Agora pare de atormentar a Maria Fernanda e vá vestir uma roupa.
— Então, agora vai me dar lição de moral também? Não fique muito
perto dessa mulher, ferinha. Você já é muito arisca, não quero que fique
desaforada. — Olhou para Maria Fernanda e se deu conta do cafuné que fazia
em seus cabelos, e viu que ela parecia gostar de receber.
Suzane era uma dondoca que havia saído da pobreza para se casar
com um homem rico. Ela havia conhecido Olavo, o pai de Eduardo, quando
saía do salão de beleza em que trabalhava como manicure. Pelo histórico de
vida dela, era uma mulher fiel, característica que balanceava com sua índole
egocêntrica e arrogante. Depois do casamento, ganhou de presente um grande
salão de beleza, onde a maior parte das dondocas da cidade batiam ponto
diariamente.
— Essa aí é a menina? — perguntou, direcionando o olhar a
Antonieta, ignorando a presença de Maria Fernanda.
— Não volto para o almoço, pois tenho duas noivas para fazer testes
agora pela manhã. — Saiu rebolando os fartos quadris e fazendo um barulho
irritante a cada pisada.
— Fique longe dela também, filha. Aliás, fique longe de todos eles.
Trabalho aqui há anos e sei que não são confiáveis.
***
— Mas...
— Não quero você andando com a Suelen. Ela é uma mulher fácil e
você, além de inocente, é minha responsabilidade. — Descobriu o rosto sem
paciência.
— Céus!
— Desculpe, eu não sabia que... eu não sabia que vocês... que vocês
estavam...
— Ele é forte.
— Não é para tanto, gente, só tirei essa conclusão, pois ele a deixou
sair comigo sem contestar. — Devolveu um olhar cúmplice para a jovem, que
suspirou aliviada.
— Não, senhorita, é bom você lembrar bastante para nunca mais cair
na mesma cilada, muito menos empurrar a Maria Fernanda para uma.
—Tenha muito cuidado com a Suelen. Não faça nada do que ela lhe
aconselhar. Se ela te mandar fazer algo, faça o contrário, se ela mandar você
entrar em uma rua, procure outro caminho — Jorge, evidentemente
emburrado, ainda limpava a sua camisa.
— Sei lá, Sergio. Beijo é beijo. Ela é inexperiente, não sabe nem
seguir o meu ritmo. Eu não sei nem porque te contei isso.
— Que conversa é essa, Edu? Estou sóbrio, não uso nada há meses.
Você é que está gostando de pegar a caipirinha e escondendo o jogo. Tudo
bem, não precisa esconder. Ela não é gostosa, mas é muito linda. Tenho visão
de futuro, cara, e já estou imaginando aqui aquela gracinha dez anos mais
velha.
— Visão de futuro para a carreira você não tem. Mulher é coisa de
momento. Fodas casuais, nada mais que isso. Dez anos à frente serei
respeitado nesta cidade e conhecido como um engenheiro que faz a diferença.
Essa deveria ser a sua visão.
— Eu já sou cobiçado por todas sem precisar ser dono de nada, mas
para você seria um grande avanço. — Eduardo não perdia o jeito de alfinetar
o melhor amigo e seu principal concorrente com as mulheres da cidade. —
Essa menina apareceu na melhor hora, foi o meu primeiro negócio de peso
que deu certo.
— Você acha mesmo que a Suelen não vai contar que você
abandonou ela grávida?
— Você sabe que o filho era de outro, não toque nesse assunto.
Estou querendo saber se estou liberado para ensinar seu bebezinho a falar.
— Cara, eu vou investir, depois não queira voltar atrás, pois vou
conquistar aquela gatinha e, se ela me quiser, juro que não olho mais para
rabo de saia nenhum. Quem sabe, ela me faça esquecer o que a Suelen fez
comigo.
— O Sergio não quis o nosso bebê, patroinha. Não tive saída, estava
muito machucada e com medo, mas me arrependo muito de ter abortado meu
filhinho. Ele falava que ia se casar comigo, que ia me levar para conhecer a
família dele, que ia me tirar do trabalho, mas era tudo mentira. O Sergio não
presta. Ele foi a pior coisa que aconteceu na minha vida. Tirou tudo de mim,
e não me deu nada em troca. Ele falou na minha cara que o filho não era dele.
Eu era virgem, não conheci nenhum homem antes dele. Antes eu havia
implorado para meu pai me deixar trabalhar fora, porque eu tinha sonhos de
conseguir mudar minha vida. Queria sair da máquina de costura e ganhar o
mundo como estilista. Meu pai me avisou tudo. Falou do exemplo para minha
irmãzinha e me fez prometer que não o decepcionaria. Mas quando encontrei
o Sergio, me apaixonei pelo jeito doce e divertido dele. Ele era romântico e
sabia fazer minhas pernas tremerem. Enganei-me com um lobo em pele de
ovelha. Foi ele que mandou a mãe trazer os remédios. Minha cabeça estava a
mil naquele dia. Eu estava frágil e com medo, e só me dei conta quando
começou a hemorragia.
Maria Fernanda não sabia o que falar para acalmar Suelen. Sabia que
aquilo tudo era errado, mas tinha aprendido que cada um tem a sua própria
vida, as suas próprias escolhas e medos. Não se colocaria contra Suelen, pois
não estava na sua situação para saber tudo o que passou. Então, sem dizer
uma só palavra, abraçou a mais nova amiga, passando toda cumplicidade e
amizade que duraria para o resto de suas vidas.
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— Você deveria experimentar ficar com sua boca calada, Jorge. Não
fique colocando coisas na cabeça da menina. Você sabe muito bem quem é o
Edu e ele deve ter qualquer outro interesse, menos o de se preocupar com
quem quer que seja.
A última pessoa que Maria Fernanda queria ver era Eduardo, não
depois dos últimos momentos antes de sair com Suelen.
— Me solte menina.
Ele desceu uma das mãos e apertou a coxa de Maria Fernanda com
firmeza.
— Por favor, por favor, por favor — ela implorou — Não faça isso.
— Eduardo estancou sobre o pescoço dela, se dando conta do que estava
prestes a fazer.
— Procure outro lugar para dormir essa noite. Não chegue perto de
mim quando eu estiver excitado. A não ser que sente aqui e rebole. — Ele
rolou para o lado ainda zonzo pela mistura de bebidas.
— Não sou eu que precisa pagar para dormir com uma mulher. Sou
Eduardo Moedeiros e até sua namoradinha já se ofereceu para dormir em
minha cama.
— Então, seus atrasos estão explicados. Por que não pediu mais dias
de férias? Você ainda tem dias na casa.
— Se tentar algo contra mim eu grito! — Ela deu um passo para trás.
Sergio seguiu sua passada.
— Sergio!
— Posso cortar qualquer coisa sua, mas hoje vou deixar você dar
meia volta e encontrar outro lugar para se encostar. — Eduardo ordenou,
ainda segurando a mão de Maria Fernanda.
— O que está fazendo? Por favor, não faça isso. — Ela se encolheu
sentada.
— Pense bem no que vai fazer da vida dessa menina. Eu sei que
você... — A empregada analisou suas palavras, mas às vezes, era preciso
tentar colocar um pouco de lucidez na cabeça do menino que viu crescer. —
Eu sei que você recebeu pouco amor durante sua vida, mas ela merece ser
amada.
— Eu já acertei tudo. Ela vai para a mesma escola que sua irmã
estudou. Passe lá agora, antes do trabalho e pague a matrícula e as
mensalidades. Vou comprar o uniforme dela e amanhã mesmo ela começa.
— Certo. Se for para eu não ouvir mais essa conversa, vou resolver
logo o problema do meu sacrifício. Fui eu que assumi, não foi?
— Pelos céus. Não a trate assim. Deveria colocar sua vida nos eixos,
agora que é um homem casado.
— Não sei, mas deve ser coisa de família. Todos eles são ruins. A
Antonieta me falou que a irmã dele é diferente do restante da família, mas eu
não cheguei a conhecê-la. Ela já estava estudando fora do país quando eu vim
trabalhar aqui.
— Miserável! Sim, ele fez. Só não entendo por que o Edu separou
um tempinho para se importar em te humilhar.
— E ontem eu nem mexi nas coisas dele. Eu não sou fácil. Até agora
só beijei um homem na boca. — Maria Fernanda começou soluçar.
— Que coisa, não é? — Suelen sorriu sem graça. Ela já se sentia tão
íntima de Maria Fernanda que, às vezes, esquecia-se que era apenas uma
funcionária. — O dia hoje foi ensolarado. Eu deveria ter lavado minhas
roupinhas... — continuou rindo sem graça.
— Você tem razão, Su. Mas, acontece que eu era bem tratada desde
que nasci e ainda não me acostumei com minha nova vida ao lado do ogro
malvado.
— Por isso, eu não quero que sofra o que eu já passei. Você não
merece. Eles são bonitos e sabem como seduzir, mas os dois são cobras
criadas. Hoje eu sei me defender e proteger meus sentimentos, mas você
ainda é uma menina, e o senhorzinho cafajeste pode querer se aproveitar
disso.
— Assim que se fala! Virgem sim, fácil nunca. Não quero ver
lágrimas nesses olhos azuis poderosos. Sigo o mesmo lema. No meu caso,
nem virgem, nem fácil.
***
Naquela noite, Eduardo chegou mais cedo em casa, pois iria estudar.
Estava exagerando nas noitadas por aqueles dias e precisava recuperar o
tempo perdido, afinal, brevemente ele seria dono e não mais estagiário de
uma das maiores empresas de engenharia do país. Maria Fernanda não
esperava que ele chegasse tão cedo, pois desde que ela estava na casa, ele só
aparecia em inícios de madrugada.
Ela estava sentada à beira da banheira, os cabelos presos em um
enorme coque no alto da cabeça e o corpo com vestígios de espumas.
— O que vocês querem? Não tem nada para fazer longe daqui? —
questionou depois de alguns segundos sendo observado. — Antonieta, você
pode servir minha torta? Ou prefere ficar admirando qual o lado do meu
perfil é mais másculo?
— Para bem longe de você. — Ela evitou olhá-lo. — Seu aperto está
me machucando. — Continuou olhando para o lado oposto a ele.
"— Como você está? Por que demorou tanto a ligar? Estou com
muitas saudades de você."
— "O pai já está dormindo, ele também está com saudades, eles
estão te tratando bem aí?"
— Ela fica! Eu vou ter uma conversa com minha mulher, não se
meta nos assuntos da casa. Agora vá dormir!
— Nanda, você vem agora? — Era Suelen outra vez. Na verdade ela
ainda não tinha saído da sombra da porta e esperava, aflita, a reação de
Eduardo.
— Suelen, vá dormir! Eu já mandei! — Eduardo falou forte o
suficiente para assustá-la. — Isso aqui é conversa minha com minha mulher,
não se meta.
— Venha — falou mais uma vez e puxou-a escada acima. Ela tentou
se soltar, mas foi inútil.
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— Não... Grite... Comigo! Porque isso não vai te fazer mais forte, só
vai me irritar e não queira me ver fora do sério, sacrifício!
— Então não chegue perto de mim! Seu ogro, nojento! — Ela cuspiu
no rosto dele. Aquela era a primeira vez que Maria Fernanda se irritava
fortemente com algo.
— Isso já foi longe demais! — Ele limpou o rosto com a camisa,
puxou-a pelo braço e jogou sobre a cama. — Hora de amansar a fera! —
Segurou na gola de seu vestido e arrancou todos os botões frontais de uma só
vez.
Ele não suportava pessoas fracas. Era como lutar sozinho, sem um
concorrente à altura. Gostava de vencer na marra e derramava até a última
gota de suor para conseguir seus resultados. No entanto, sentia-se
extremamente comovido pelo choro de Maria Fernanda.
— Não quero ficar aqui, Suelen. Você me ajuda a fugir? Por favor,
faça isso por mim.
— Ela não vai. E você vai me ajudar. Comece falando algo que eu
poderia dar de presente a ela.
— Perfume?
— Boa, uma coisa fofa seria ideal. — Eduardo apontou a caneta para
o amigo. — Mas o que seria uma coisa fofa?
— Cara, você não quer me deixar conquistar a menina? Isso não vai
funcionar com você, irmão. Você é um cavalo, Edu. Ela pode fugir mais
rápido. Efeito reverso.
— Cara, a menina é virgem, você é muito bruto, vai acabar com ela.
Deixa comigo eu sei fazer isso.
— Você fala com tanta paixão que eu estou quase pedindo uma
fazenda para meus pais de aniversário.
— Seus pais devem ser bastante ricos para te dar um presente desses.
— Não, não tenho ainda. Sou muito nova para isso, Thiago. —
Olhou para os próprios pés, tentando esconder a vergonha em seu rosto. —
Eu preciso ir agora. O Jorginho já deve estar me esperando lá fora.
Ela deu outra olhada para o vaso e foi naquele momento que
Eduardo visualizou a possível arma.
— Não vai falar comigo? — Ele cruzou os braços, e ela mirou outra
vez o vaso. — Pode dormir na cama. Eu fico com o tapete — Ela o olhou
atravessado. — Eu vou descer para comer algo e quando voltar, eu vou
querer os cobertores livres. Estou cansado e preciso dormir.
— É o quê?
— Foi no dia que eu corri atrás de você com uma peixeira, como
poderia esquecer?
Ela acompanhava Jorge até o carro quando foi puxada pela mão.
— Diga que somos primos. Não estará mentindo, já que por pouco
não somos.
— Não importa!
— Acabamos de nos casar e ela é novinha. Seja rápida com isso, por
favor, estou atrasado — falou sério.
Jorge estava dirigindo o mais rápido que podia. Sabia que Maria
Fernanda estava ansiosa para encontrar o amigo e torcia para que tudo desse
certo. E também torcia para que Eduardo nunca soubesse o que estava
fazendo.
— Você está ainda mais linda. — Ele fez o que ela pediu.
— Tentando continuar... Depois que a mãe se foi, ele não sai mais de
casa, anda triste e pensativo. A mãe era a vida daquele homem. Mas, e você,
me conte tudo.
— Vai o quê?
— Não, nada disso. Apenas vim buscar a minha bonequinha, mas ela
ainda é menor de idade e eu preciso dos documentos dela para viajar.
— Não tem nada que eu queira mais do que isso, Antonieta. Não há
sinal de que teremos uma família. Não quero viver dessa maneira.
— Para virar peão? Não, menina, eu não tenho mais idade para isso.
Tenho problemas de coluna e ainda tem a minha mãezinha, que já está idosa
e tem os gatos que ela cuida. Prefiro que não fuja. Por favor, não faça isso,
olha o estado em que eu estou. — Jorge realmente estava tremendo. Seu
maior medo era ficar sem o emprego que ele se gabava de manter a doze
anos.
— JORGE, VOCÊ QUER PARAR?! — gritou Suelen — Nanda, se
é isso que você quer, vá. Fuja e vá ser feliz em outro lugar. E se o Eduardo
me demitir, eu também vou para a fazenda com você.
— Por favor, por favor, por favor, me solta. — Ela apertou os olhos.
— Gosta do que vê? — Ele tomou o vaso das mãos dela. — Pode
olhar e até tocar se quiser. — Deu outro passo e roçou os lábios nos dela. —
Eu sou todo seu, ferinha.
— Não vou dormir com o senhor! — Ela tentou escapar, mas ele a
abraçou e colocou uma perna sobre ela.
— Não vai, não. Uma vida... foi uma vida me dedicando àquele
trabalho e olha só agora...
— Eu não posso ficar... eu, eu vou sentir sua falta e das meninas,
mas não posso mais ficar lá.
—Tchau, Jorginho, vou sentir sua falta. — Ela apenas o beijou nas
bochechas roliças e distanciou-se do carro.
—Tchau, menina.
— Eu vou com ele, vou voltar para fazenda, eu não quero mais viver
na sua casa. — Ela quase implorou, olhando para Eduardo.
Maria Fernanda chorava, sabendo que seu plano de fuga não daria
certo. Para Giovane era muito difícil assimilar que seu grande amor agora
pertencia a outro homem.
— Não, mas ele não me deixa voltar para a fazenda. Ele não é um
bom marido.
— Me leva, Giovane.
— Não finja que não sabe de nada! Todo mundo aqui agiu pelas
minhas costas. Onde está o Jorge?
— Ele está fugindo. Aquele safado! Quando chegar aqui vai para o
olho da rua! Até você, Antonieta, até você está contra mim! Todos aqui estão.
— Eduardo estava irado.
— Estou cansado disso! Ela quase fugiu com outro homem, é isso
que as meninas fazem? De agora em diante, não quero ninguém se
intrometendo nos meus assuntos. Está me ouvindo, Antonieta? — Apontou o
dedo no rosto da negra.
— Como quiser Eduardo, mas saiba que não vou deixá-lo maltratar
essa menina.
— Você precisa ser muito forte, minha filha. A vida aqui nesta casa
não vai ser muito fácil para você. Precisa se alimentar. — Antonieta estava
enxugando os cabelos de Maria Fernanda com uma toalha, pois depois de
muito insistir, a jovem tinha levantado da cama para o banho.
— Não fale isso, filha, ele só não quis se meter em seu casamento.
Você tem que entender o lado dele.
— Se acalme filha, você está com a cabeça quente. Depois você vai
perdoar o seu irmão e vai entender o lado dele.
— Não, minha querida, ele não faria isso, pois o Eduardo sabe muito
bem o que faz, e um filho não é o que ele quer. Melhor você ir dormir agora,
amanhã terá aula logo cedo.
***
— Ela não está nada bem, Edu. Melhor você ir vê-la e pedir
desculpas. — Antonieta fuzilou Viviane com o olhar. Nunca havia tido
simpatia pela loira esnobe e, sabendo que Eduardo continuava com ela e
casado com Maria Fernanda — por quem ela tinha um carinho gratuito — só
fazia aumentar sua antipatia.
— Mas, Edu, a menina passou o dia todo sem comer nada dentro
daquele quarto, só chorando.
Ela foi até a geladeira e abriu para pegar algum alimento. Não deu
importância a presença dos dois, mas Eduardo e Viviane encerraram o beijo e
ainda grudados observaram os movimentos dela.
Ela estava com o corpo mole, mas debruçou-se outra vez no vaso e
iniciou outra crise de vômito.
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— Levanta desse chão frio, menina. — Ele tentou, mas ela recusou a
ajuda.
— Quer que eu pegue alguma coisa pra você? Está com dor no
estômago?
— A menina está doente. Preciso que você faça alguma coisa. Ela
não quer falar comigo.
— Não se meta nos meus assuntos. Volte para seu quarto e deixe de
se meter nos assuntos dos patrões.
— E aí, Antonieta?
— O que essa pirralha pensa... Quem ela pensa que é para tentar
mandar em mim? Minha casa, minhas ordens! Eu vou mostrar para ela quem
manda.
Eduardo estava ouvindo-a fungar o nariz. Ele tinha uma das mãos
abaixo do travesseiro e os olhos abertos. Às vezes olhava sobre o ombro e a
via comento e secando os olhos.
Ele foi atingido pelo peso daquelas lágrimas. Sentiu uma enorme
culpa e, ao mesmo tempo, uma vontade de abraçá-la. Porém, seu orgulho era
muito grande. Acreditava que arrependimento era sinônimo de fraqueza, uma
qualidade que ele abominava. Engoliu o nó que se formou na garganta e
firmou o olhar em um ponto qualquer à sua frente.
Quando ela saiu da cama para levar o prato até a bandeja, ele se
adiantou e tomou das mãos dela.
— Você não veio ontem, senti sua falta. — O amigo beijou o rosto
dela, mas como Maria Fernanda não tinha aquele costume, ficou com as
bochechas rosadas. — Ontem a professora dividiu os grupos para o seminário
do final da unidade e eu incluí você, tudo bem?
Ele tinha dado a partida no carro, mas não se agradou quando viu
Thiago beijando o rosto dela.
— Ele não é nada meu, apenas moro na casa dos pais dele.
Ela levantou a mão para uma bofetada, mas ele segurou firme no
punho dela.
— É bom você se acostumar logo com meu jeito. Eu tinha uma vida
antes de você. Não sou igual aos príncipes encantados dos seus livros. É bom
você saber logo, para não se iludir. Também não tenho tempo disponível para
ficar lidando com as suas infantilidades.
— Tudo bem, não precisa chorar. Não chore, menina. — Ele olhou
para o lado evitando olhá-la, pois aquele choro estava ameaçando romper
suas armaduras. — Não tem como quebrar esse contrato.
Eduardo sabia que tinha uma possibilidade assim que ela fizesse
dezoito anos, mas por algum motivo não queria que ela soubesse. Maria
Fernanda certamente não notaria nunca as cláusulas daquele contrato.
Durante aquele mês, antes de cair no sono, ele não resistia e tocava
as mechas soltas sobre o travesseiro. Uma vez, chegou a beijar as madeixas
castanhas e por pouco ela não acordou, pegando-o no flagra.
— Quer saber... — Suelen jogou o pano que usava para secar a louça
sobre a mesa. — Me mande embora seu “fi da peste!” Não estou aqui para
ouvir que me acabo de trabalhar igual uma mula, pois o coisa ruim do Sergio
e você sentem peninha de mim.
— Não, Su, se acalma. Ele não vai te mandar embora. Se você for,
eu vou junto.
Eduardo foi fisgado para dentro do olhar feminino e por mais que ela
não fizesse esforço, o atraia. Maria Fernanda piscou os olhos duas vezes e
quando percebeu que os dele desceram de encontro aos seus lábios, ela
abaixou o rosto e estendeu a mão em busca da mochila.
— O que pretende com isso? Abre a porta, agora! Abre essa porta!
— Ela o sacudiu.
Ouvir seu nome na boca dela o motivou a dar um fim na luta interna.
Ele virou-se rapidamente e quando Maria Fernanda se encolheu, ele segurou
as duas mãos ao lado do rosto da mulher e selou os lábios rosados.
Uma das mãos que estava sobre a pele macia do rosto foi usada para
trazer o tronco feminino próximo do seu corpo, a outra se perdeu dentro dos
fios que tinham se tornado seu mais novo fetiche.
— Adiantou as coisas?
— Por mim tudo bem. — Maria Fernanda olhou para o outro lado da
rua, onde o carro de Eduardo deveria estar estacionado.
“O que estou fazendo? Por que não consigo deixar de sentir esse
cheiro? A empresa, estou fazendo isso apenas pela empresa.” Internamente a
razão de Eduardo queria ganhar forças e inventava um motivo para ele estar
tão dedicado à sua jovem mulher.
— Por favor, senhor, não faça isso. — Ela fechou os olhos, sem
forças para lutar contra aquele Eduardo, torcendo para ele desistir, pois ela
mesma não conseguiria.
Eduardo não fazia ideia do que estava acontecendo com ele. Seu
desejo por Maria Fernanda aumentava a cada segundo.
Então era assim que as pessoas casadas se sentiam? Então era bom
ter um marido. Eduardo poderia ser igual seu padrinho foi para sua
madrinha. Ela o teria julgado?
Ela se cobriu com os braços, mas Eduardo foi ágil e prendeu as duas
mãos dela, uma para cada lado do corpo.
A beleza que ela possuía, aliada ao que ele desejava e sentia, fazia
dela a mulher mais perfeita do mundo. Os seios cobertos eram médios, os
quadris delicados e as pernas longas e bem-feitas.
O que ele mais queria era adorar o corpo da jovem com cheiro de
leite e inocência. Ele desceu a boca e beijou-lhe o ombro delicadamente. Iria
saborear cada pedacinho dela, depois pensaria no que fazer.
— Isso não estava em meus planos. Acredito que muito menos nos
seus. Mas desejo você. Seu modo de balançar os cabelos, essa pele macia e
seus olhos tímidos estão me deixando sem dormir. Quero que entenda que
nunca observei isso em uma mulher... — Maria Fernanda o olhou de relance,
mas desviou o olhar novamente. As palavras de Eduardo e o tom em que
estava sua voz a deixaram encabulada.
Eduardo não agia com pressa, saboreava a melhor parte dela lenta,
intensa e loucamente. Deliciava-se com a pele macia. Jamais havia se sentido
tão excitado por uma mulher. Sua língua passeava de baixo para cima em
uma tortura deliciosa. O cheiro que emanava dela o enlouquecia. O prazer
que Maria Fernanda sentia era intenso. Sugou o ponto sensível dela fazendo-a
arquear o tronco sobre a cama.
Ele levantou para tirar o que restava de suas roupas e a viu arregalar
os olhos e se encolher com a visão de seu corpo nu.
— Não se preocupe. Será sua primeira vez e prometo ser gentil com
você. Já te preparei. Não vai sentir tanta dor. — Ele se aproximou devagar,
mas o medo estampado nos olhos dela não se desfez.
— Por favor, saia daqui. Isso... — Ela cobriu o rosto com o braço,
com medo do que tinha visto.
— Não sei o que deu em mim para querer agradar uma pirralha igual
a você. — Levantou da cama abruptamente, vestindo suas roupas. — Não
acredito que perdi meu tempo achando que chegaríamos a algum lugar.
— Pare de chorar, não vou fazer nada que não queira. Não me
humilharia a tal ponto! Veja o estado que me deixou. — Ele apontou o
volume nas próprias calças — Não se preocupe, vou achar uma mulher de
verdade para resolver meu problema, de preferência uma que não chore como
uma criança mimada.
Antes de subir para trocar de roupa, foi para cozinha pegar uma fatia
do seu bolo preferido. Suelen estava lavando a louça suja e Antonieta
preparando o café da manhã.
Eduardo olhou para sua mulher dos pés à cabeça. Seu corpo tremeu.
Ele a desejou ali mesmo. Enraivecido e odiando seus próprios desejos, tentou
dar atenção ao seu bolo preferido. Mas de uma hora para outra, apenas o
gosto dela fazia sentido.
— Sobe comigo. Vamos passar esse dia só você e eu. Sinta como eu
estou. — Forçou seu corpo ao dela e gemeu baixo, louco de desejo. Maria
Fernanda sentiu o rosto entrar em chamas. — Preciso de seu alívio, ferinha.
— Eduardo esqueceu que tinha outras pessoas na grande cozinha, colocou
novamente a jarra dentro da geladeira e passou o braço pela cintura de Maria
Fernanda. — Preciso de você. Não me negue isso. — Forçou o corpo dela
contra seu uma vez mais.
— Já que estão se entendendo, por que não tentam fazer isso sem as
roupas? E dentro do quarto? — Suelen acabou com a alegria de Eduardo.
— Será que eu não posso ter privacidade com minha mulher dentro
da minha própria casa?!
— Não! Não foi assim. Ele não me forçou. Se eu gritei foi porque
não consegui conter minha boca fechada. — Ela em sua inocência deixou
escapar além do que pretendia.
— Desculpa. Tudo bem, hoje sou mais tranquila com esses assuntos.
Se quiser conversar estou aqui. Posso te esclarecer qualquer coisa. Usaram
proteção?
— O quê?
— Tive medo que ele me machucasse. Ele é mais forte que eu, mais
alto...
— Não vai contar para ninguém sobre isso. Não quero que ele pense
que estou fofocando sobre essas coisas.
— Aquilo?
— Com a boca.
Ele deitou ao lado dela. Seus olhos seguiram o comprimento dos fios
sobre a cama. Os cabelos estavam com cachos nas pontas, certamente ela
tinha feito algo novo, talvez modelado de outra maneira. Ele enrolou um
ondeado entre os dedos e levou até as narinas, exalando o cheiro cítrico que o
prendia como um encantamento.
Ela estava sentindo falta do afeto que recebeu desde que era uma
menina. Mesmo sem pai e mãe, sempre viveu cercada por pessoas a amavam,
mas agora não existia mais ninguém. A ideia de ter alguém ao seu lado, para
abraçar durante os anos seguintes, influenciou seus pensamentos naquela
tarde, sem contar a satisfação prazerosa que seu corpo sentiu ao ser tocado
por Eduardo. Seria um conjunto carnal e protetor, que parecia ser bom e
agradável. Mas a resposta tinha sido negativa e mais uma vez ela sentiu o
peso de estar sozinha no mundo. Precisava começar a saber lidar com aquilo.
14
— Faz alguns dias que ela anda doente. O quartinho é úmido, talvez
não seja adequado...
— Ela é novinha, mas sabe ser linda. E tem os cabelos perfeitos, não
só os cabelos... ela tem cheiro de princesa e é tão deliciosa...
— O que esse homem fez com você, Fernanda? Vamos falar com a
diretora da escola e minha mãe. Depois vamos à polícia.
— Pare! Pare com isso! Por que me desrespeita dessa maneira? Isso
me fere profundamente. Será que não vê? — Ela mais uma vez se engasgou
com o choro.
Eduardo freou em uma encosta e saiu do carro. Ele foi até a porta do
passageiro e retirou a mulher do veículo.
Ela olhou para os lados da pista e viu que aquele trecho era deserto.
Sua cabeça já tinha começado a doer, aliás, as dores de cabeça e fraquezas
repentinas estavam sendo constantes nos últimos dois meses.
Maria Fernanda estava sem nada, pois até sua mochila tinha ficado
no carro. Não tinha dinheiro, endereço ou sequer sabia o caminho de volta.
Mas seguiu pela beira da pista. Desesperada, com um choro magoado e
sentindo-se um nada.
Seguiu para pegar outra garrafa e viu uma das escovas de cabelo da
mulher, que estava sobre o tapete, certamente teria caído quando ela buscou
os pertences no quarto.
— O que você fez com ela? Fala o que você fez! — Antonieta o
sacudiu.
— Tomara que ela fuja e não volte nunca mais. Ela não é burra, vai
pedir informações e carona. Vou torcer para que isso aconteça!
Eduardo era vazio. Desde criança foi pressionado pelo pai a ser o
melhor em tudo. Foi educado para ser racional, sua vida profissional deveria
ser prioridade. Muitas vezes ele desejou um abraço no final de uma
conquista, mas quando estava na infância, recebia uma zoada no cabelo; na
adolescência, aquilo foi substituído por três tapinhas nas costas, agora,
bastava um aperto de mão. “Como alguém ofertaria o que nunca teve?”
Ele desceu do outro lado da pista apenas para conferir, mas quando
ouviu os gritos de Maria Fernanda, avançou.
Maria Fernanda não teve forças para tentar sair dali. Estava
atordoada. Ela não o via como herói e sim, culpado.
Ele a colocou deitada no banco traseiro e dirigiu devagar. Maria
Fernanda continuou chorando. Sentiu-se sem valor diante dos últimos
acontecimentos.
— Por que não continua até quebrar sua maldita mão, seu
desgraçado! — Suelen se aproximou.
— É o quê?
— Você está na rua! Pegue suas coisas e saia daqui. Antes que eu
perca minha cabeça com você!
— Eu estaria morta se ele tivesse me levado. Por que fez isso? Que
mal eu te fiz? Eu quero voltar para a fazenda. O Giovane foi um falso amigo,
mas tenho o padrinho e os empregados.
— Vou acabar com ele também. Vou acabar com todos que se
meterem com você.
— Minha filha, não sabe como me dói vê-la, tão novinha, passando
por isso. Eduardo não vai mudar. — Antonieta também abraçou a patroa.
Eduardo chegou em casa por volta das oito horas da noite e foi direto
para o seu quarto. Precisava trabalhar na planta da nova empresa e finalizar
um projeto da J. A. Depois de quase duas horas estudando, levantou de sua
escrivaninha e foi até a varanda.
Ele chegou até ela e se abaixou ao seu lado. Aquilo fez Maria
Fernanda sentar-se rapidamente. Assustada, ela pegou impulso para se
levantar.
— Antonieta!
Ela gritou, pois precisava ser interrompida. Seu corpo formigou com
o abraço firme, acompanhado dos beijos molhados que recebia no pescoço.
Ela sentia-se atraída por aqueles braços enormes que circulavam sua frágil
cintura, mas estava machucada e suas feridas doíam na alma. Foi criada com
normas antiquadas. Tinha valores e queria ser tratada com respeito. Jamais se
entregaria de corpo e alma a um homem que a desprezava e a tratava como
um negócio de valia financeira.
— Por que faz isso se me despreza e joga na minha cara que não
tenho artifícios femininos? Meu valor está no papel que te garante milhões.
Se pensa assim, por que testa os meus limites? Faz isso para depois me
desprezar? Acha pouco o que tem feito comigo? Quer tirar o resto de minha
dignidade com mais humilhações?
— Tenho presentes para você. — Ele pegou a mão dela. — Mas vou
dar depois que você estiver molinha. — Beijou a mão dela e recebeu a
joelhada no meio das pernas.
— Vamos!
— Meu braço está doendo. Por favor, não me machuque ainda mais!
— Ela implorou tentando se soltar.
— Quando olho para você, começa uma briga aqui dentro, pois
nunca fui um babaca romântico na cama, mas não sei como, você consegue
despertar isso em mim. Sempre pretendo ser carinhoso e começar pelo
básico, quando eu deveria jogá-la de quatro e segurar firme em seus cabelos
enquanto te domino.
— Mas você tem o prazer de despertar meu lado sádico! É assim que
você gosta, não é? — Segurou firme no queixo dela.
Ainda com a luz apagada, ele seguiu até ela, pegou-a nos braços e a
levou para a cama.
— Me dê o seu braço.
Aquilo não foi um pedido, pois já estava com o braço dela em sua
posse. Ele destampou o frasco e aplicou duas vezes.
— Prepare tudo o que Maria Fernanda gosta e leve até ela. Depois,
ajude-a a se arrumar e mande o Jorge levá-la para a escola. Ela já faltou à
escola ontem, não quero que isso se repita. Ela precisa terminar logo os
estudos. Não me agrada a ideia de ter aqueles pivetes ao redor dela.
— Desculpa, Antonieta.
— Dez mil? Tenho essa quantia, mas para que está precisando?
Maria Fernanda não era acostumada a mentir, mas sabia não poderia
falar sobre os seus planos de fuga com ninguém. Não envolveria Suelen,
Antonieta ou Jorge, pois, quando ela estivesse longe, eles pagariam. Queria
completar dezoito e no mesmo dia comprar uma passagem para fora do país.
Iria pedir proteção aos amigos da madrinha, que sempre a paparicaram.
— Ah, eu sei. Intimidade. Essa coisa que vocês não têm. — Sergio
caiu na risada. — Cara, você está apaixonado? Está louco por ela e ela te
rejeita, é isso, Edu?
— Ela é nova e foi criada por aquela tia, que parece que a educou
como uma princesa em uma bolha. Ela poderia reagir de dois jeitos: se
entregar de corpo e alma por ser bobinha demais ou fugir do seu modo
sedutor nada lord.
— Você é um idiota, Sergio. Não sei por que eu ainda converso com
você sobre essas coisas.
— Serão dez anos, cara. Vai viver desse jeito, como medo dela fugir
e te deixar sem nada? Dá um jeito nisso, Edu. É uma menina. Só precisa
conquistá-la do jeito certo. E ter cuidado para não se envolver na conquista.
A não ser... que você queira. — Sergio degustou um bolinho, olhando para o
amigo, que estava aéreo.
Thiago observou tudo e sabia que aquele casamento não poderia ser
real, pois via sofrimento na expressão facial dela.
— Vai largar meu corpo aqui? — enfim, Maria Fernanda falou algo
e depois saiu do carro.
— Eu não queria estar aqui. Mas não há nada que eu faça para ser
ouvida. Então pode fazer o que quiser.
— Tudo bem, se você não quer, vamos para casa. — Ele olhou outra
vez para os cabelos revoltos e não se agradou daquilo. — Entra no carro.
Vamos almoçar em casa. De agora em diante, vou te ouvir. Se não quiser
algo, não faço.
— Não vai me iludir com esse tipo de ladainha. — Ela voltou para o
carro.
— Teve uma vez que o “senhor sangue ruim” brigou com o Jorge e
aquele bobalhão pegou quinze dias de atestado. Ele morre de medo de
qualquer espirro. É um covarde.
— Eu sempre fui feliz, Su, mas agora minha vida aqui é muito triste.
Casada com um homem totalmente infiel, que não me respeita e me trata
como um acordo financeiro.
Ela tinha o poder de mexer com seus sentidos com uma simples
música infantil.
Ele ficou no lado de fora até Maria Fernanda sair com a sua
necessaire nas mãos.
— Ela não tem nada para falar com você. — Suelen cruzou os
braços e encostou-se a parede.
— Se você gosta dela, porque não faz a coisas do jeito certo? É tão
difícil para vocês, homens, não serem uns babacas?
— Suelen, eu não tenho nada a ver com a sua história mal resolvida
com o Sergio. Agora, volte para o seu serviço e me deixe cuidar da minha
mulher.
— Desse jeito, você só vai afastá-la ainda mais. Ela não está
acostumada com grosserias e está te odiando, assim como eu.
— Por que vai levá-la em uma festa? A megera da Viviane não vai
com você?
— Eu não te convidei.
Ele estava com um copo de uísque nas mãos e estancou quando viu
Eduardo entrando acompanhado pelas duas mulheres.
— Então, continue por esse caminho, meu jovem. Assim você vai
longe e tenho certeza de que será um grande sucesso no ramo.
— Por que você as trouxe, Edu? Você sabe que essa gente fofoca. E,
se alguém que sabe das outras, comentar com o senhor Alfredo ou a dona
Alice? Eles são todos certinhos, vamos perder o professor por sua culpa —
Sergio reproduziu uma das falas do amigo. Estava feliz por ser o responsável
da vez.
Eduardo ficou indignado por Maria Fernanda ter ficado à noite toda
com Thiago, quando deveria estar ao lado dele e, por isso, puxou a primeira
mulher que viu pela frente. Percebeu depois que se tratava da mulher de um
dos funcionários da empresa, mas já era tarde, pois a mulher o tinha arrastado
para o quarto. Gostou da pegada raivosa e queria mais.
— Ele é pior do que eu imaginava — falou tão baixo que nem ela
mesma ouviu a sua voz, devido à música alta.
Dentro do carro, ele a cobriu com sua jaqueta e saiu o mais rápido
possível da garagem.
— Droga!
— Onde está doendo? — O sinal abriu e ele dividiu o olhar entre ela
e a estrada. — Onde está doendo, Maria Fernanda? — Ela não respondeu. —
Eu não posso adivinhar se não me contar.
— As plaquetas estão baixas, está anêmica, mas isso não tem relação
nenhuma com a infecção intestinal que teve. Receitei estes remédios.
O patrão a distanciou.
— Não, mesmo. Nanda, fique bem longe desse sujeito, ele não vale
nada.
— Vou precisar sair para trabalhar, mas vou mandar a Suelen trazer
sua alimentação. Não saia dessa cama. Quando se sentir melhor, chame a
Antonieta ou a Suelen para te ajudar no banho.
Eduardo voltou para casa às sete horas. Naquele dia, não ficou na
empresa um minuto a mais além do seu horário de trabalho. Ele tinha passado
em um restaurante chinês e comprado yakissoba de frango, achou que seria
leve e fácil para Maria Fernanda ingerir.
A atração insana que sentia por ela crescia a cada dia. Antes daquela
noite no hospital, seu plano era conquistá-la para evitar a fuga, mas, com os
últimos acontecimentos e a fragilidade da mulher, decidiu não a atormentar
com suas investidas. Seria ausente ao ponto de não a incomodar, assim ela
ficaria por vontade própria.
Estava preocupado com ela e aquilo era novo até para ele entender.
O melhor seria se afastar o mais rápido possível. Mas antes, queria vê-la com
a saúde restaurada.
— Cortando verduras.
— Você está doente, mulher. Tem quem faça isso. Vamos para o
quarto.
Maria Fernanda pegou a faca na pia e firmou frente ao corpo.
— Não chore, Maria Fernanda. Não vou mais tentar foder você sem
a sua autorização.
— Você é muita nova para ser tão conservadora. Não vou mais
tentar meter meu...
— Saia!
— Estou tentando dizer que não vou mais tocar em seu corpo sem a
sua autori...
— Não quero.
— Eu te levo.
— Não vejo sentido para isso, se existe uma compressa pronta para
amenizar a febre dela.
— Já tomou os remédios?
— Já.
Quando Eduardo retirou a toalha da testa dela pela última vez, Maria
Fernanda já estava dormindo. A temperatura dela tinha voltado normal.
— Queria ser bom, para poder te fazer feliz. Sei o que você deseja,
mas, nas minhas metas de futuro, não existe esse tipo de sentimento. Eu só te
faria sofrer.
Ele enrolou o dedo na ponta dos cabelos dela e levou até as narinas.
Ele levantou da cama e olhou para ela por alguns minutos, depois
apagou a luz e saiu do quarto, deixando a porta encostada.
— Meu pai, por que não convidamos o jovem casal para jantar em
nossa casa hoje, juntamente com a família do Augusto? — falou o chefe das
obras públicas e pai de Viviane, amante de Eduardo. — Garanto que será
uma noite proveitosa e agradável. — O ruivo sorriu cinicamente.
— Isso! Fale com sua mulher, Eduardo. Alice se encantou por ela.
Até comparou nosso início de casamento ao de vocês.
— Soube que ela tem posses... — Junior falou antes que Eduardo se
virasse para sair. — Me parece que a fortuna dela não se aproxima do
patrimônio de sua família, estou certo?
Sergio detectou a raiva e ciúmes de Junior. Ele não tinha nada contra
o ruivo, mas o fato dele ser inimigo declarado de Eduardo criava uma aversão
espontânea entre os dois.
— E por que não aproveita e fica com ela, que já é sua mulher?
Uma hora da manhã ele tomou outro banho e desceu até a cozinha,
para comer algo. Ele já estava no segundo pedaço do bolo, quando Maria
Fernanda entrou na cozinha, esfregando os olhos e com os cabelos um tanto
revoltos.
Ela tentou sair de perto, mas ele não deixou que ela passasse. Maria
Fernanda não sairia dali, sem ele dar uma boa apertada no tentador bumbum.
— Estou molhado. Você foi a culpada, agora preciso que me
enxugue.
Com um sorriso nos lábios, ele mergulhou uma mão por baixo dos
cabelos dela e segurou firme.
— E não vou fazer isso. Essa pegada tem outro nome e sentido.
Consegue definir? — mergulhou as narinas no cabelo dela, e depois de sentir
o doce aroma, virou-a bruscamente.
Ele sorriu quase em uma gargalhada. Aquilo estava sendo novo para
ela. Era outro Eduardo que estava a sua frente. Ele não estava com a carranca
intimidadora. Tê-lo leve e brincalhão a tornava vulnerável.
— Você tem razão. — Soltou-a, para o alívio dela, que sentou mais
afastada.
— Ei, não precisa ficar emburrada. Você está doente e não posso te
deixar com frio. Vem cá. Só vou te aquecer. A noite está muito fria.
Ela levantou o rosto e aos poucos olhou para o rosto dele. Primeiro a
boca em seguida os olhos que brilhavam na penumbra da casinha.
Ela subiu alguns centímetros no corpo dele, mas antes que Eduardo
se ajeitasse de uma maneira que sentisse menos tentado, outro trovão ecoou
na casinha e Maria Fernanda sentou bruscamente o pegando mais
desprevenido que antes.
— Vai trovejar a noite toda. Desculpe-me por isso. Não sou ingênua
ao ponto de não saber o que está sentindo. E vendo sua resistência, chego a
pensar que, se você não fosse o ogro da história, eu lhe daria um beijo por
tamanha bravura.
— Fale a verdade.
— Sim.
Pela manhã, acordou sentindo um peso sobre seu corpo e muitos fios
castanhos por todo seu peito, então sorriu. Maria Fernanda estava encolhida
em seu peito, dormindo um sono pesado.
Eduardo não pôde acreditar que Maria Fernanda tinha batido em seu
rosto, na frente de seus pais. Enfureceu-se com a afronta, mas contra sua
natureza feroz estava à angústia de vê-la lutar para prender o choro na
garganta. Ele sabia que ela era frágil. Aquele evento deve tê-la destroçado por
dentro.
“Depois?” — Por mais que fosse humilhante, ela ainda esperava ele
fazer alguma coisa capaz de reverter à situação. Mas não, primeiro ele se
explicaria para aquela mulher, para depois deixá-la com migalhas de suas
ardilosas palavras.
Ele segurou o cordão da camisola de Maria Fernanda para amarrar o
tecido e esconder parte do ombro desnudo, Maria Fernanda estava com o
furor descrito nos olhos. Ela desejava ter forças físicas para esbofeteá-lo até
derrubá-lo no chão.
— Não escutarei uma palavra que sair de sua boca. Guarde todas as
suas enganações para essa rameira! — Ela o estapeou no braço e puxou o
tecido da camisola. — Nunca mais serei tola.
— Não seja irônica, Maria Fernanda. Isso soa tão estranho vindo de
você.
— O que quer de mim agora? Veio ver o estrago que sua amante e
sua mãe fizeram em mim? Estou toda arranhada, a humilhação está
estampada em minha face. Estou sofrendo com pequenas doses de sua
enganação, mas isso tudo é minha culpa por acreditar em suas meias palavras
gentis. O que aconteceu com minha vida? — Ela sufocou outra vez com o
choro e abaixou a cabeça derrotada.
— Não pode fazer isso com ela! — Suelen agarrou no braço dele e o
puxou. Mas a morena não tinha força alguma comparada ao patrão.
Ele foi até o carro e a colocou de pé, prensando-a contra seu corpo e
a porta. A sacola e a mochila foram jogadas no chão para que lhe fosse
possível buscar a chave no bolso e abrir a porta do carro.
— Coloque o cinto se não quiser voar pelo vidro. — Não tinha sinal
de humor na voz dele.
Ele ainda estava indignado pelo tapa que havia recebido no rosto.
Aquela já era a segunda vez que, a fera em pele de bela ovelha, o atacava
humilhantemente na face, mas o fato do segundo episódio ter ocorrido na
frente de seus pais teve um agravante.
Ele tinha feito Viviane entrar no carro e sair de seu jardim. A loira
saiu espumando ódio e jurando impropérios que o prejudicaria. Ele sabia o
quanto sua decisão era arriscada diante de seus projetos, mas no momento, os
olhos chorosos da jovem irritante ao seu lado afastou qualquer sensatez
profissional de seus pensamentos. Depois resolveria as consequências.
Depois resolveria tudo. Por hora, apenas cuidaria de amansar aquela fera de
dentes afiados. Desejou ver os livros que ela andava lendo. Sim, faria aquilo
na primeira oportunidade. Deveria ser livros sobre mulheres encapetadas e
destinadas a seduzir homens, utilizando-se de puros e inocentes artifícios.
Aquilo tinha sua grande parcela de mentira, ele achava aquela fala
ritmada “bonitinha”, esse era o motivo de sua irritação. Desde quando
Eduardo Medeiros achava algo “bonitinho?”. Era difícil ele usar aquele
termo bobo até em seus pensamentos, mas muitas vezes já tinha dito "que
bonitinha" depois de frases conservadoras dita pela mulher.
— Não sei por que grita comigo, se você é o errado. — Ela falou
ainda encolhida.
Se ele soubesse que ela já tinha viajado boa parte do mundo antes
de completar os quinze anos, mas nunca achou necessário lhe contar.
— Então faça o que sabe melhor... Seja uma ferinha irritante, só não
chore.
21
— Sim. Mas daí chegou uma ferinha selvagem, que só tem cabelo e
olho, e resolveu mexer com minha sanidade.
— Por favor, tenho piedade de mim! Ainda sou nova para deixar a
vida.
— Não faria isso por minha livre vontade. O que espera? Que eu
esfregue o corpo de meu algoz?
— Ah, pode ter certeza que eu nem vou precisar tocar. — Ele deu
alguns passos em direção a ela.
— Você vai sentar e vai comer. — Puxou uma banqueta ao lado dele
e a fez sentar. — Ou prefere que eu te amarre?
— Não sinto fome... — Ela quase passou a língua nos lábios, mas
guardou dentro da boca quando lembrou que Eduardo estava ao lado.
— Não importa.
— Sente dores? — Ele colocou o dorso da mão na testa dela, mas foi
afastado. — Você está com febre outra vez. Não deveria ter ficado no chão
frio.
Ele cobriu o rosto com um dos braços e por trás dos olhos desenhou
o corpo dela. Ela estava nua, parada frente à parede transparente. Os cabelos
soltos tomavam as costas até a base do quadril. Abaixo estava o bumbum
pequeno e redondinho. As pernas lisas e longas brilhavam com algum de seus
cremes. Ele esvaziou a mente no intuito de ir além e imaginar suas mãos
percorrendo o corpo de pele macia e cheirosa. Queria dormir e sonhar com os
gemidos que exercia algum tipo de encantamento sobre ele.
— Você quer colinho? — Eduardo não pôde acreditar que ele estava
se prestando aquele papel para não a ver chorar. Até sua voz estava
levemente infantil.
— Estou com medo, só isso. Mas com isso, você está tentando dizer
que me deseja como mulher?
— Eduardo...
Ela tentou recuar, mas ele a calou com um chiado. Deixou a mão
dela sobre o tecido macio e leve de sua calça, fazendo-a sentir a prova visível
da excitação dele, que começava crescer.
— Sou nova e não sei discernir as coisas com malícia, então não
minta para mim. Não me faça sofrer.
— Quero você mulher. Meu corpo inteiro anseia pelo seu, não
duvide disso. Está sentindo... Ai caralho!
— Não xingue.
— Não vou...
Ela olhou para o rosto dele, prestes a rebater o adjetivo, mas o prazer
evidente na face do marido a calou. Ela estava provocando aquilo e a
sensação foi inebriante. Gostando de exercer poder sobre ele, Maria Fernanda
moveu a mão com um ritmo mais frenético e ouviu um grunhido escapar da
boca dele.
— Por que está me olhando com olhar travesso? — Ele a tirou dos
devaneios.
— Então seu plano é me prender com uma chave de coxa? Acha que
possui forças para isso?
— Só vai fazer isso para mim. Não quero ter segredos entre nós. —
Arrastou o vestido pelas pernas dela. — Desejo conhecer seu corpo e te dar
prazer de todas as maneiras possíveis. — Beijou o joelho dela e desceu a
carícia sensual nas pernas. A palma de uma das mãos movimentou-se nela,
induzindo seu corpo a obedecê-lo, Maria Fernanda sentiu-se tremer de
desejo. — Abra! — falou firme.
Aonde ele tinha aprendido a fazer aquilo tão bem, se uma vez deixou
escapar que poucas tinham aquele privilégio?
Era a mesma corrente elétrica da primeira vez em que recebeu as
carícias, mas daquela vez Eduardo estava sendo mais ousado. Além de
explorar todas as dobras dela com beijos, brincava com um dedo na entrada
apertada de Maria Fernanda. Instigava-a, enquanto sua língua embebedava a
mulher de desejo e chamas de devassidão. Agia lentamente, apenas nos
arredores, mas quando sentiu as pernas dela vibrar, introduziu um dedo por
completo e moveu-se dentro dela com agilidade. Sugou-a para que o prazer
fosse dobrado. Iria adorá-la. Desejava matar seu desejo e precisava deixá-la
pronta o mais rápido possível.
Eduardo queria, mais que tudo, partir para a segunda parte, mas
aquela voz manhosa o enlouquecia. Queria ouvir mais um pouco. Afastou sua
boca da pele quente e sentiu as sensíveis mãos buscá-lo outra vez. As duas
mãos dela firmaram-se atrás da cabeça dele e Eduardo sentiu o prazer a
abraçando naquele exato momento.
Enquanto ela tremia em volta de seu dedo, ele levantou o olhar. Ela
estava com os olhos apertados e os lábios abertos lutando com os gemidos e
respiração.
— Não tenho mais... Estou sem forças. — Ela ainda sentia espasmos
sobre a cama. — Preciso que pare.
— Não quero desistir, mas não consigo parar de temer, não somos
compatíveis, Eduardo.
— Não vou chorar igual uma criança mimada. Pode começar, não
vou desistir.
— Linda...
— Te amo, Eduar...
Ele estava pensando, em como poderia ser sua vida sem os seus
objetivos. Talvez, fosse feliz como tinha sido durante aquela noite. Foi à
primeira vez, que ele vivenciou a experiência de ir além da satisfação de seus
desejos carnais. Cada movimento, toque e reações de Maria Fernanda
estavam em sua memória.
Ela cobriu o rosto com a mão ao lembrar que não conseguiu firmar
os pés no chão do banheiro. “Sou uma mulher muito fraca, por não aguentar
uma noite de amor com meu marido.” Pensou ao esconder o rosto. Deveria
ter disfarçado, mas ele percebeu quando ela segurou nas paredes, não
conseguindo equilibrar as pernas bambas.
— Bom dia, Eduardo. — Ela falou sem sair do lugar. — Por que
acordou tão cedo? — Sorriu, lutando contra a timidez.
Mas ele precisava lembrá-la de quem ele era. Não queria enganá-la
com o súbito ar romântico que o atingiu ao vê-la tão linda e inocentemente
sedutora. Sua empresa falava mais alto do que qualquer entusiasmo que
insistia em querer arrombar as paredes de seu coração. Eduardo queria
acreditar naquilo, e daquela maneira seria seu certo.
— Quais palavras?
— Eu não acredito que você vai fazer isso... Se você pensa assim,
por que me levou a entrega? — Ela piscou forte para secar os olhos. — Por
que me tratou com respeito e me fez sentir desejada? Para me machucar ainda
mais?
— Não existe força que impeça uma traição, se o amor não estiver
presente. — A voz dela estava embargada. — A Carne é fraca... Isso está nas
escrituras sagradas. Como eu acreditaria que seu corpo seria forte, se o seu
coração não grita meu nome? As traições estariam livres de culpa. Não aceito
viver assim.
— Você grita que apenas deseja meu corpo. Acha que eu me sentiria
bem em ser usada roboticamente em uma cama, para seu bel prazer e nada
mais? Olha o que você me propõe!
— Não me deseja?
Ele virou, caminhou displicente até ela e a puxou pela cintura. Maria
Fernanda sentiu as pernas bambas. Ele apertou a cintura dela, a outra mão
subiu até os cabelos. A boca apenas sentiu a temperatura dos lábios da
mulher, mas não concretizou o toque.
O olhar dela quase suplicou, para que ele desse uma oportunidade a
seu próprio coração. Queria seu marido por inteiro. Antes ela não sabia o que
era a conexão gostosa que a deixava trêmula tendo ele a segurando daquela
maneira, possessiva e ao mesmo tempo ponderada. Ela desejava o homem
soberbo, que a tentava com um beijo.
Eduardo segurou a mão dela que estava inerte e levou até seu
membro.
— Ele te ama.
— A culpa, está nesses livros velhos que você anda lendo. — Ele
fechou os dois braços em volta da cintura dela. Maria Fernanda afastou o
tronco e impediu o contato dos rostos com a mão no peito dele. — Você está
educada, pelos tempos antigos. Vou comprar uns livros contemporâneos cujo
tema principal é sexo. Você vai se reeducar e tirar essa baboseira de amor de
sua cabeça. Tudo o que precisa é de um CEO gostoso e bom de cama. Ele
está bem aqui na sua frente, não precisa de mais nada. Em dois tempos você
vai mudar os pensamentos.
— Vai ser muito difícil convivermos perto, sem nos tocarmos. Sim,
não pense que deixarei você ir. Eu te deixarei acorrentada no pé da minha
cama, nem que seja para eu te ver e... — Ele levantou uma das mãos e fez um
gesto sugestivo.
— Não tomarei.
— Já que quer voltar para casa, pegue sua mochila, vista sua
calcinha que estarei te esperando na sala.
— Grosseiro.
— Estúpido sem coração! Homem sem alma! Boca suja! Quando vai
largar a vulgaridade?
— Não vou deixar você ir. Se você for, de qualquer maneira, perco
tudo. Só por isso não permito, só pela empresa. — Ele voltou a ligar o carro,
escolheu a ação para camuflar a embromação das palavras.
— Saiba que não vou desistir do amor. Nesse período de tempo, vou
encontrar um homem que queira me amar e fazer feliz.
Eduardo freou o carro bruscamente.
— Tenho o direito de ser amada. Você vai viver sozinho por anos?
— Não quero ouvir. Não preciso ouvir isso! — Ela tapou os ouvidos
com as duas mãos.
— Não sirvo para te satisfazer e você não serve para me amar. Então
fique com suas rameiras e eu vou procurar um amor... — Ela encerrou a fala,
pois ele levantou o rosto com o olhar furioso. — Está pensando em me b-
bater?
Foi um tapa débil, pois ela estava fraca e o interior do carro limitou o
impulso, mas Eduardo sentiu o golpe no orgulho. Ele apertou os dedos no
queixo dela e Maria Fernanda gritou.
— Essa foi a última vez que você bateu na porra do meu rosto!
Acabou a brincadeira! — gritou com o rosto colado no dela.
— Q-que bom que não aceitei viver da sua maneira. — Ela estava de
cabeça baixa, lutando inutilmente para segurar as lágrimas. — Me humilha
porque não aceitei seus caprichos. Queria que eu vivesse assim? Sendo bem
tratada apenas na cama?
— Vou lutar para matar o sentimento que criei sobre minha própria
ilusão. — Ela se abraçou com os próprios braços.
— O erro foi meu, eu não deveria ter me envolvido. Isso tudo aqui é
apenas um negócio e não um dos seus romances. Vou seguir meu projeto de
vida. — falou, olhando pela janela do caro, longe dos olhos dela.
Eduardo sorriu, debochando dela. A jovem que ele estava vendo ali
em sua frente, nunca seria uma mulher jogadora, capaz de suportar a pressão
do mundo competitivo dos negócios.
— E aí?
— E aí o quê?
— Foi Eduardo de novo? Soube que ele esteve aqui mais cedo.
— Não o vi. Tem muito tempo desde a última vez. Ele deve estar
muito ocupado para lembrar que eu existo. E me sinto bem. — Maria
Fernanda se levantou e sentou ao lado da amiga.
— Não fica assim, amiga. Você tem que sorrir, você fica tão bem
sorrindo. Vamos! Levanta daí e me ajudar a lavar aqueles pratos. Só de
pensar em encarar sozinha, me dá dor de cabeça. Melhor lavar pratos que
ficar sozinha.
Jorge estava com seu terno preto ainda a serviço. Em sua cabeça,
havia um típico chapéu de papelão com desenhos da bailarina e o gorducho
assoprava uma língua de sogra.
— Olha lá, amiga, o mau caráter do Sergio. — Suelen olhou para ele
com tristeza e desprezo.
— Você deu alguma coisa para ela? Não venha com essa conversa
fiada! O pingente é lindo, Nanda. E se ele está achando ruim, que te dê um
presente melhor.
— Foi por causa de seu desaforo que nem o idiota do Sergio te
aguentou. — Eduardo falou sem muita importância. Seus olhos estavam nas
letras "T" e "F" gravadas no coração do pingente.
— Volte para casa, Sergio, eu não quero passar a noite olhando para
sua cara. Vou conversar com meus pais. — Eduardo seguiu na mesma
direção.
— O que faz em minha cama, com a mão onde não deve, homem
pervertido? — Ela puxou um travesseiro e cobriu as pernas.
— Fingido!
— O que quer?
— Sim.
— Sim? Eu posso?
— Sai!
— Você que traumatiza qualquer mulher com esse seu papo sem
sentido, Sergio. Eu deveria estar muito bêbado para não ter a pegado naquela
época. Eu vou lá agora comprovar que você é um fraco e que nunca resistem
a mim. — Pegou um copo de bebida e seguiu pela multidão, olhando
fixamente para o corpo definido da mulher.
26
— Um dia juro que vou poder fazer a mesma coisa por você. —
Suelen não perdeu tempo e partiu em direção aos sapatos.
— Prefiro não confessar. O amor é tão lindo, mas o que fazem dele é
muito cruel. As pessoas acabam distorcendo a real natureza do amor e
machucando quem se entrega a ele. Eu nunca mais vou amar ninguém, Su. O
Eduardo foi a pior experiência que eu já tive. Meu coração está machucado
demais para se entregar novamente. Não sei como vai ser daqui a um ano ou
dois, mas hoje meu peito ainda dói.
— Como não? Você também é dona daquilo lá. O Edu não pode
fazer isso.
— Não deixe isso decidir a sua vida e nem determinar o que você
pode ser. Você não deveria ter se iludido com o meu irmão. O Edu não é o
tipo de homem que se entrega ao amor. Ele é racional demais para saber o
que é isso.
— Vão dormir cedo hoje porque amanhã vamos sair antes do sol
nascer.
— O Thiago também vai estar lá. Os pais dele têm uma casa perto da
sua. Ele quer me apresentar aos dois — Maria Eduarda falou, com as
bochechas ficando coradas.
— Vai mesmo morar com aquela mulher, Edu? Pretende casar com
ela quando se divorciar? Você está percebendo as escolhas que está fazendo
para sua vida?
Ele riu.
— Esse seu lado racional ainda vai te deixar de lado e eu sinto que,
quando isso acontecer, já será tarde demais para reparar tanto erro.
***
— O caseiro disse que elas saíram para uma trilha próxima à praia
do lado norte.
— Elas não estão aqui, Edu. Tem certeza de que a Suelen veio para
cá?
— Não. Ela pode ter ido ao rio, a tirolesa ou para qualquer outro
lugar longe de você.
— Acho que alguém deu viagem perdida — Sergio falou quando viu
Maria Fernanda boiando com Thiago no rio.
— Trouxe o contrato para você ver. Não existe cláusula que proíba
isso. Meu pai me alertou.
— O quê?
— Fale!
— O que está fazendo? — Ela ficou ereta no banco quando ele virou
o carro em direção a uma estrada de chão. — Para onde está me levando? O
que vai fazer comigo, Eduardo? — Ele ficou calado e seguiu com o veículo,
que balançava nos buracos da estrada de areia. — Para o carro!
— Ir para longe.
— Eu vou te pegar!
— Não vai! — Ela olhou para trás e desacelerou, pois pisou sobre
um casco de marisco e manquejou.
Ela tentou sair do aperto, mas ele a imobilizou, sentando-a sobre seu
colo.
Ele percebeu que ela chorava e odiou ser o motivo. Estava na corda
bamba. Maria Fernanda sempre o desarmava com suas lágrimas.
— Odeio você, só quero que fique ciente — ela falou com a voz
embargada e cruzou os braços em volta do corpo.
— Maria Fernanda, fica comigo. — Ele puxou uma das mãos dela e
a beijou.
— Dirija até chegar a casa. Quero assinar esses papéis. — Seguiu até
o carro.
No começo foi seco, pois ela lutava contra a força dele, mas aos
poucos ele foi conduzindo-a com paixão e movimentos sedutores. Seduzir era
uma das matérias que ele domava, mas com ela nunca dava para saber
quando iria funcionar. Quando acontecia, a harmonia dos lábios era uma
explosão instigante que comandava os corpos ao ponto de querer torná-los
apenas um, o mais breve possível.
— Maria Fernanda…
— Cale a sua boca. — Ela apontou o dedo no rosto dele. — Nunca
mais tente me beijar novamente.
Eduardo a beijou outra vez e trouxe o corpo dela para ficar sobre o
seu.
— Está bem mesmo? — Ele desceu as pontas dos dedos nas costas
dela, repetindo a mesma pergunta pela quarta vez.
— Isso não foi muito ajuizado — ela falou depois de beijar o peito
dele em resposta.
— Não me constranja.
— E se por um acaso…
— Qual o motivo?
— Sem crianças, Maria Fernanda. Não estou preparado para ser pai.
Nem quero me preparar. Nunca serei pai. Vamos encerrar essa conversa para
não acabar a nossa harmonia — ele falou sério.
***
— Você pode pegar a pílula antes que a Maria Fernanda esteja com
as dores de parto? — Eduardo bateu três vezes no balcão.
"Gato, por que você não atendeu minhas ligações? Queria ter ido
com você. Encontrei com sua mãe e ela me contou o que foi fazer. Fiquei
até aliviada, pensei que tramava desistir da nossa viagem. Desejo que a
caipira assine os documentos. Papai preparou tudo, então tenta chegar a
tempo para o nosso jantar. Eu sei que você consegue. Traz logo suas malas.
Dorme aqui hoje e amanhã iremos direto para o aeroporto."
Maria Fernanda viu a luz do visor se apagar e levar com ela a última
esperança de seu casamento dar certo. Sim, seria a última ou se tornaria um
círculo vicioso e autodestrutivo.
— Não vou desistir da viagem, não posso. — Ele sentou ao lado dela
e, quando tocou o rosto de Maria Fernanda, ela levantou.
— Esteve com muitas mulheres durante esses meses? — perguntou
com a voz firme. — Tenho certeza, mas quero ouvir da sua boca. Estou
fechando as contas, qualquer coisa vale para coibir os meus desvios de
esperanças.
— Por que veio até aqui? Sente prazer em me dar esperança para em
seguida ferir meu coração?
— Não vou desistir de uma viagem tão importante. Não posso abrir
mão da companhia por razões importantes para minha empresa — ele falou
com frieza.
— Isso está ferindo tanto meu coração. Você não sabe o que é sentir
isso. É um covarde, egoísta e prepotente. Pode ter certeza de que eu não vou
esquecer essas palavras. Se quiser pode repetir para eu absorver melhor.
— Depois que seu império for construído, o que vai sobrar para
você? Como pensa que vai ser feliz só por possuir algo material? Como vai
se sentir?
— Como? Você não pode sair do país. Você nem conhece nada lá
fora! É só uma menina. — Eduardo sorriu nervoso. Não esperava aquele
surto de impetuosidade. A ideia de vê-la tão longe feria de alguma maneira o
seu coração.
— Lú…
Ela amava o irmão, mas não tolerava as suas atitudes com a amiga.
Havia preparado aquele final de semana com a intenção de proporcionar um
pouco de diversão para a pobre Maria Fernanda, pois no fundo, sentia-se
responsabilizada pela falta de amor com que aquela família tratava a jovem.
Eduardo voltou para casa naquela tarde e se arrependeu de ter ido até
a praia. Acabou mexendo em algo que estava adormecendo e deixando Maria
Fernanda ainda mais ferida.
***
— Você precisa parar, amiga. Ele não merece tudo isso. — Suelen
sabia que aquela noite seria difícil para Maria Fernanda e estava disposta a
ficar acordada ao lado dela.
— Mas eu nem sei falar francês, nem inglês! Eu nunca saí da cidade,
Nanda. Não vou saber me comportar e vou acabar te envergonhando. Paris…
— A morena juntou as duas mãos em uma prece e olhou para o alto. —
Obrigada, paizinho.
— Amiga, não chora. Eu quero muito ir. É meu sonho, mas não acho
que meus pais deixariam. Eles quase não permitiram que eu trabalhasse fora.
— Então você vai ser uma grande estilista. Também vai me apoiar
no que serei. Ainda não tenho uma escolha, mas vou atrás do meu futuro.
Chega de tanto chorar! — Maria Fernanda secou os olhos. Vamos finalizar o
curso e seguir rumo à França.
***
— Minha filha, agora não tem mais o que fazer. Você já está
grávida. Ele é o pai e vai ter que assumir.
— Aquele Sergio fez isso com a Su. Eles dois andam juntos. Eu não
vou matar o meu filho.
— Eu não vou matá-lo, Antonieta. Eduardo não vai saber que ele
está aqui.
— Merci, madame.
— Merciu…
— Suzane, tenha cuidado com essa aí. Ela tem uma queda por
homens comprometidos.
Maria Fernanda tremia. Sua dor não era pelo corte profundo em seu
braço, mas pela forte fisgada em seu útero. Quando sentiu o sangue escorrer
por seus joelhos, teve a certeza. A queda tinha atingido a criança.
— Antonieta…
— Você precisa manter a calma. Ainda está muito fraca. Seu filho
está bem. Os médicos conseguiram conter a hemorragia. De agora em diante,
é preciso que tenha repouso dobrado. Precisa manter a calma para proteger a
saúde de seu bebê.
— Melhor vocês dois conversarem. Ele disse que virá quando o dia
amanhecer.
—Vamos, Suelen, a porta vai ficar aberta. Ele não seria louco de
aprontar alguma coisa aqui.
— Não muito. Eu não tenho tempo para ser pai, então se a criança
vingar — apontou a barriga dela com um dedo —, eu não quero ter nenhum
tipo de apego. A escolha é sua, você decide o que fazer. Só não quero me
sentir responsável por nada disso.
— Estou com muita dor. — Ela estava ganhando tempo para tomar a
melhor decisão.
— Não tem mais por que se preocupar, você não será pai. — Maria
Fernanda usou toda sua frieza para esconder a verdade.
Tomou uma decisão que não traria influência a ele. Eduardo odiava
a possibilidade de ter uma responsabilidade que não fosse sua empresa, então
ela assumiria tudo sozinha. Longe dele.
— Estou bem com isso. Passei aqui porque não te vi e não poderia
viajar sem te agradecer por toda a sua ajuda. Vou sentir sua falta, Lú.
Ele apenas olhou para a porta, ajeitou o seu terno e saiu o mais
depressa possível. Quando chegou à rua, viu apenas o carro conhecido
virando a esquina.
“A verdade liberta, pois você pode fazer o que quiser com ela, inclusive
negá-la, mas a responsabilidade é sua quando ela aparecer.”
Pry Olivier.
1
Ela não era mais a menina indefesa que saiu do Brasil com o coração
estraçalhado. Passou a ser uma mulher forte, inteligente, corajosa e sábia. Na
França, estudou economia, fez mestrado em técnicas financeiras, estagiou e
foi contratada por uma das maiores empresas de auditoria daquele país.
— Tem certeza de que não vai se arrepender, gatona? Você fica tão
poderosa descobrindo os podres das empresas e deixando todos aqueles
golpistas temendo por sua chegada.
Suelen sabia que seu maior sonho estava prestes a se realizar, mas
queria ter certeza de que a amiga estava realmente feliz com o novo projeto.
— Você é uma petite muito esperta. É mais esperta que sua mãe
quando a conheci. — A morena deu sua típica e contagiante gargalhada.
Nanda jogou uma das almofadas na amiga e puxou Dudinha para seu
colo.
— Nos próximos dias, vamos para outro país, petite. Maman e sua
tante vão abrir uma loja enorme, cheia de vestidos e muitos espelhos. — A
mãe preferiu usar as palavras, pois uma das brincadeiras preferidas de
Dudinha era vestir seus vestidos, desfilar pela casa e parar em frente ao
espelho, onde para ela era o final da passarela.
— Então teremos que procurar uma casa com quintal para seu
cachorrinho. — Maria Fernanda beijou os cabelinhos loiros da filha.
— Je t'aime, papa[6].
— Mas é claro, petite! Não falei que iríamos trabalhar juntas? Então,
você é minha secretária particular e precisa estar sempre comigo para fazer as
anotações de tudo que a maman falar.
— Não! Da minha filha cuido eu. Depois de mim só a Su. Não quero
ter uma filha criada por babá e longe dos meus olhos. Onde eu for minha
filha vai. — Maria Fernanda não teve a companhia de sua mãe, por isso era
rigorosa naquela determinação.
— Escolhi a mulher certa para ser a mãe dos meus filhos. —Thiago
estava com um sorriso travesso no rosto e Maria Fernanda sorriu convencida.
— Seu pedido é uma ordem, minha princesa. Uma ordem que será
cumprida. Meu desejo é que isso aqui seja minha família. — Thiago se
referiu aos três no grande sofá.
— Ela não conhece nada aqui! Onde está minha filha? — Maria
Fernanda estava apavorada, pois olhava para todos os lados e não avistava
nenhum sinal.
— Por que fez isso, petite? Você não conhece nada aqui. Nunca
mais faça isso. Você está bem, meu amor?
Mais atrás, Suelen estava paralisada vendo a cena à sua frente. Sim,
era ele, só podia ser ele. Aquele olhar frio era o mesmo e a companhia
também. Viviane olhava para Suelen, tentando decifrar de onde a conhecia.
— Maria Fernanda?
— Você teve uma filha, Maria Fernanda? Quando teve uma filha?
— A expressão de Eduardo estava totalmente confusa.
— Aonde vai? — Ele deu a volta mais uma vez e ficou na frente de
Nanda. — Quero conversar, mulher. Nossa, como você mudou…
— Você está mais atrevida que antes, Suelen! Isso continua não me
dizendo nada! — ele falou com sua pose de arrogância.
Dudinha entendeu que Eduardo estava brigando com sua tia Suelen,
então do colo da mãe começou a estapear o homem de terno.
Loiro?
— Por que pintou o cabelo? Por que cortou? — Eduardo olhou para
os cabelos da mulher, totalmente descontente. Como se tivesse algum poder
de decisão sobre ela. — Eu não acredito nisso. — Soltou o ar de vez e
balançou a cabeça, alterado. — Por que fez isso?
Ele lembrou que não tinha muito tempo. Talvez chegasse atrasado à
reunião, isso nunca tinha acontecido antes, mas Eduardo estava abrindo uma
pequena exceção. Assumiria os riscos depois.
— Você teve essa menina com ele ou com outro? — Eduardo exigiu
uma explicação que amenizasse a sensação de soco no estômago que tinha
levado.
Ele bateu a porta de sua sala com toda força, pegou o primeiro
objeto de sua prateleira e atirou na enorme janela de vidro. Os estilhaços
foram parar em toda parte. Sua raiva ainda era grande, então pegou outro
objeto e jogou em uma das paredes, pegou outro e jogou novamente. Em dez
minutos, ele já tinha quebrado toda a sala e estava jogado no chão com uma
garrafa de uísque quase vazia nas mãos.
— Cara, que mau humor é esse? Sou seu amigo. Só não estou
acompanhando seu raciocínio.
— É a menina do contrato?
Eduardo sorriu sem humor, tentou levantar mais uma vez e, como
não conseguiu, jogou-se para trás, encostando a cabeça na lateral da mesa de
escritório.
— Ela teve uma filha com ele. Deveriam estar de caso antes.
— Ela tem seu sobrenome, senhor. — Irene era uma solteirona que
se escondia atrás dos estudos e do visual anos sessenta. Eduardo a achou
ideal quando fez as entrevistas para o cargo. Inteligentíssima e estranha.
Absorvia rapidamente o seu raciocínio e era totalmente o oposto de mulher
que ele se interessaria.
— Sei que você vai conseguir. Agora pode ir. Só volte aqui com o
endereço.
— Uma gata.
— Você passou esse tempo todo me traindo com ele. Até uma filha
teve! — Ele sorriu irônico e passou as mãos pelos cabelos, demonstrando
descontrole.
— Tudo valeu a pena para você ou só está aqui pra conhecer minha
cobertura? — Ela o tirou das observações.
— Você está bonita, mulher. — Ele sentiu uma forte dor no peito e
uma vontade louca de abraçá-la. Como é possível? Essa mulher está me
afetando ainda mais, mesmo depois de anos. Ele estava em guerra com os
próprios pensamentos. — O destino foi muito cruel conosco, Maria Fernanda.
— Você fez seu próprio destino, Eduardo. Cruel foi o meu passado.
Meu futuro é felicidade. Agora se apresse e saia.
— Não vou facilitar as coisas só porque está com outro. Não vou
assinar esse divórcio! — Ele deixou claro.
— Você está tão bonita! Eu fico até sem jeito perto de você. —
Fungou o nariz no meio do choro.
— Tentei fazer uma dieta há uma semana, mas é muito difícil com
tanta tentação de doces na minha frente.
Estavam todos sentados em uma mesa distante dos clientes, que com
o final da tarde começavam a ocupar todas as mesas vazias.
— É melhor você se retirar e voltar outra hora! Estou sem seu bolo
no momento.
— Eu não sei você, mas vou lá agora, Edu! — Sergio foi o primeiro
a levantar e Eduardo o acompanhou em seguida.
— Fez isso para me afrontar, não foi? — O olhar dele emanava puro
ódio, a mandíbula estava contraída e os punhos cerrados. — Fala! — gritou.
Ela não se sentiu no direito de explicar que era o nome da mãe dela.
Maria Fernanda até ficou aliviada por ele pensar que Dudinha fosse de outro.
Nanda não imaginava sair de seu controle tão rápido, mas ouvir
aquelas palavras foi o suficiente para ela atingir Eduardo em cheio com uma
bofetada no rosto.
— Não ouse atingir minha filha com sua falta de caráter! Nunca
mais chegue perto dela novamente! Vejo que além de arrogante e
egocêntrico, você se tornou um ser asqueroso. Nem agora com um filho você
mudou. Eu lamento aquela pobre criança viver com um pai como você e uma
mãe como a Viviane!
— Isso não vai ficar assim, mulher! Você não perde por esperar! —
Enfurecido, ele se soltou de Sergio, caminhou até o carro e saiu cantando
pneu no asfalto. Não tinha largado aquele velho hábito.
— Ei, amigão, encontrei com ela novamente e não foi nada fácil. —
O cachorro latiu, parecendo entender o que Eduardo falava.
— Isso não vai ficar assim, Thor. Ela colocou o meu nome naquela
menina para me atingir. Deu meu nome a filha de outro.
O golden retriever latiu outra vez. Era Thor que ouvia Eduardo nos
momentos de bebedeira.
— Ela está tão diferente. A minha ferinha… Ela não é mais a minha
ferinha. — Eduardo colocou o braço novamente nos olhos, escondendo as
lágrimas de raiva.
A campainha tocou, mas ele não precisou abrir a porta, pois Sergio a
destrancou por fora.
— Sim, mas como vai fazer para tirar a prova? Vai chegar lá e pedir
um pouquinho de sangue dela ou vai colocar a justiça na frente?
— Por que fui conhecer um amigo tão idiota na infância e hoje ele
ainda está na minha frente? — Continuou chorando, muito tonto.
— Você acredita mesmo que a Suelen ainda está solteira? E que ela
te ama? — Eduardo sorriu irônico, mas assim que viu Maria Fernanda
beijando Thiago e entrando no carro dele com Dudinha, seu sorriso irônico se
transformou em um olhar seco de ódio.
— Thor, você vai ficar aqui. Qualquer coisa você avisa, garotão. Eu
conto com você. — Eduardo fez um carinho no pelo do cachorro. — Se
algum deles voltar, você dá três latidas. Vou deixar o celular ligado aqui no
banco. — Colocou o celular, que estava com ligação ativa em viva-voz para
Sergio, perto do cachorro, que grunhiu parecendo entender o plano.
— Cale a boca!
— Nada mal aqui, hein, Edu?
— Sabe esse urso? Eu dei para a Maria Fernanda uns nove anos
atrás.
— Aqui, senhor.
— Vivi, minha linda, vai para sua casa, coloque o melhor vestido
que tiver no seu armário, pois eu vou te levar para jantar hoje. — Eduardo
sabia como dobrar Viviane.
— Vou sair de novo? Tenho muito trabalho a fazer, senhor. Por que
não manda o Jorge?
— Maria Fernanda não deveria ter mentido para mim! Vou fazê-la
se arrepender amargamente disso! Vou dar um jeito de tirar a menina dela.
Isso não vai ficar assim.
***
— Aquele cara está ali à frente com a mulher. Estão olhando para cá.
Eu não estou gostando nada disso! Não suporto ter ele te olhando com essa
possessividade.
— Ele está no toilette errado, portanto ele sai. Saia daqui! — Maria
Fernanda ordenou.
— Eu não vou abrir até você ouvir tudo que estou guardando desde
que descobri que aquela menina é minha filha — falou sem rodeios.
— Então minha filha é uma cópia perfeita sua e por isso acredita ser
o pai? Desde quando começou a confiar tão fácil em mim? — Ela tentou
confundi-lo, não sabendo ela que as certezas da paternidade estavam sendo
baseadas em um exame e não na aparência de Dudinha.
— Fique longe dela! — Ela percebeu não ter mais jeito — Você
nunca foi pai. Nunca quis ser pai! Você lembra o que me falou naquele dia no
hospital? Eu lembro perfeitamente da frase “não querer ter responsabilidade
de pai e que a escolha seria apenas minha.” Então eu escolhi. Ela é apenas
minha filha!
— Eu também não poderia imaginar que com seis meses ela fosse
diagnosticada com osteomielite e tivesse o osso de sua perninha infeccionado,
eu não poderia imaginar que ela sofreria várias paradas cardíacas. — A voz
de Maria Fernanda estava embargada e algumas lágrimas escorreram de seus
olhos ao lembrar de todo sofrimento que sua filha tinha passado antes de
completar um ano de vida. — Eu também não poderia imaginar nada disso,
mas escolhi pela vida dela.
— Isso não te dava o direito de dar minha filha pra outro homem ser
o pai! — Eduardo estava derrotado ante as armas que a mulher possuía.
Eduardo virou para a porta. Seu intuito era não encará-la. Ele fechou
os olhos e esperou outra lágrima cair. Negou-se a fazer aquilo na frente dela.
— Quero seu ego nocivo bem longe da minha cria. Não vou permitir
você iludindo minha menina…
— Com quem quer que seja. Você deve ter usado muitas mulheres
depois de mim.
— Noivo?
— Abra a porta.
— Maria Fernanda, você não pode ter um noivo sendo casada. —
Ele passou as mãos nos cabelos, nervoso.
— Me dê à chave agora!
— Só Nanda.
— Se você pensa que vai ficar com minha filha está muito
enganado! Eu sou o pai e tenho meus direitos. — Não esperou terminar sua
fala e deflagrou um soco em cheio no rosto de Thiago, que se bateu em Maria
Fernanda.
— Mas e o jantar?
— Edu?
Eduardo ouviu o som dos dedos estalar na sua frente e despertou dos
pensamentos.
— E aí, ela está mais experiente? Esse tempo todo com aquele cara,
algum benefício isso tem que te trazer. — Sergio tirou suas conclusões.
— Eu sei que aquele verme está com ela, não preciso de você me
lembrando disso!
— Você sabe que a justiça não te daria a guarda, Edu. Não adianta
nem insistir.
— Se a Suelen tivesse o bebê, ele teria uns nove anos agora. Se ela
chegasse com ele e me desse à notícia que não o perdeu com aqueles
remédios, cara, eu ia fazer de tudo para ter o amor do filho dela, mesmo não
sendo meu.
— Estamos apenas nós dois aqui, Edu. Se você pode falar de sua
menina, eu também posso me abrir e falar do bebê da Suelen. Eu ia criar o
moleque, você viu o quanto que eu corri naquele dia para chegar a tempo.
— Não! Esqueça isso. Você não tem chance nenhuma com ela. —
Sergio abraçou o amigo em conforto.
— Você tem razão, parceiro. Pelo menos você tem uma filha. E eu?
— Sim, é minha filha e eu quero jantar com ela, mulher gosta dessas
coisas.
— Não seja covarde, Sergio. Olha seu tamanho. A menina tem meio
metro de altura. Vá lá e faça o convite. Precisamos aproveitar que a Maria
Fernanda não está por perto. Do jeito que a minha ex-ferinha é rancorosa, é
bem capaz de chamar os seguranças e piorar tudo. Vá logo e se apresse.
Sergio seguiu pelo mesmo caminho que o amigo tinha feito antes. Já
dentro do cercado do parquinho, ele procurou Dudinha.
Thor se assanhou.
— Hã... É uma ótima razão para comer doces. Doce faz bem para
saúde, não é? — Sergio levantou os ombros e mostrou os dentes em um
sorriso pouco assustado.
— Il est beau[16].
— Maman!
— Dudinha!
— Ele é bonito, mas eu não posso ficar com ele, Dudu. — Ela
estendeu o urso.
— Ela já te mandou sair duas vezes, Dudu, não seja teimoso com
minha maman. — Dudinha mostrou a quantidade com os dedos e correu para
o lado da mãe.
Ela não sabia, mas Eduardo dispensou o táxi quando deduziu que
seria para ela.
— E agora filha? Seu pai não atende. — Ela estava ligando para
Thiago quando ouviu a buzina no outro lado da rua e Eduardo acenou com as
mãos.
— Não sei. Mas quero conversar com você, ou com seus advogados.
Surgiu um... — Ele olhou para Dudinha — Surgiu uma questão nova e quero
rever meus direitos. — Ele arrumou a gravata no pescoço e firmou a postura.
5
— Não sei o que pode estar passando na sua cabeça para acreditar
que eu vou permitir esse contato. — Maria Fernanda estava muito alterada.
— Você pode até ter suas razões, mas eu tenho meus direitos e
ninguém tira os meus direitos! — Ele gritou.
— Ele não é o pai dela, isso que é iludir. — Eduardo caminhou atrás.
Eduardo sentiu sua raiva aumentar assim que viu a família entrar no
salão. Ele saiu disparado na pista. O destino? Um famoso bar da alta
sociedade. Iria tentar acalmar a raiva que sentia com bebida e mulheres.
***
— Ele disse que vai pegar minha filha. — Maria Fernanda não
conseguia apagar as palavras de Eduardo dos pensamentos. — Amanhã vou à
polícia.
— Eu sei as táticas que ele usa, Dudinha é prova disso. Ele vai
encher o coração da minha filha de promessas vazias, para em seguida, fazer
minha pequena sofrer com sua falta de amor.
— Ele também estar vendo a mulher que perdeu. Deve estar louco
de desgosto.
— Você é bonita, Tia Lu. Esse menino é seu filho? — Olhou a outra
criança ao lado de Luíza.
— Ele fez isso? — Luíza estranhou. — Será que o Edu ainda tem
alguma esperança em você? Porque, não me parece uma coisa normal dele se
preocupar com outra questão, tendo a empresa em crise.
***
DIAS DEPOIS...
— Você precisa ter calma, amor. Foram dois clientes! O que são
dois clientes para a Moedeiros Engenharia? — Viviane agarrou o pescoço de
Eduardo.
— Não seja tão severo comigo, gato. Apenas vou ficar mais atraente
para você. Estarei na sua casa as oito e vou dormir lá essa noite.
— Todos aqui nessa empresa são duvidosos. Mas ela parece uma
boa suspeita. Quero que observe a vida de todos os estagiários desta empresa.
Deixe o restante comigo.
— Isso vai passar, Edu, vamos sair dessa. — Sergio bateu no ombro
do amigo em um conforto.
— Muay thai, petite. O nome certo é muay thai. O que você prefere?
— A mãe estava com o olho na mesa do outro lado e os ouvidos presentes na
conversa da filha sobre a escola nova.
— Não, claro que não. Onde ele está? — Maria Fernanda pegou o
copo de suco.
— Ah, ele está ali mesmo. Deve estar trabalhando. Mas, por que
trabalharia em uma praça de alimentação? Dudinha, você não quer ir até lá
falar com ele? Eu fico próxima, você só o distrai enquanto eu olho o que ele
está fazendo. — Dudinha olhou fixamente para a mesa de Eduardo e negou
com um gesto de cabeça. — Vamos filha, a maman vai permitir. — Nanda
acusou-se internamente, mas ela precisava saciar sua curiosidade.
— Você tem razão meu amor. Vamos comer na loja. Pega sua
mochila.
Maria Fernanda juntou rapidamente os lanches em uma sacola,
pegou sua bolsa e seguiu em direção a sua loja.
Mas Dudinha estava ali, aquele encontro não seria tão simples.
— Dudu.
Era um laço forte existindo ali, uma ligação de sangue que os unia e
revirava os sentimentos de Eduardo. Maria Fernanda observou a cena e não
teve frieza para puxar a menina, embora sua mente falasse o contrário.
— Vamos Dudinha, temos que ir. Você ainda não almoçou. —
Maria Fernanda fugiu do olhar de Eduardo, que voltou novamente a espiá-la.
— A maman também sentiu sua falta, Dudu. Ela queria vir te ver,
mas eu não deixei. — Dudinha, sentada em uma das pernas de Eduardo,
denunciou a mãe, que ficou levemente avermelhada.
Nanda saiu carregando Dudinha, ela tentou andar rápido, mas o seu
peso estava grande e o salto que usava dificultava a caminhada.
— Você tem problemas para resolver e talvez volte daqui a sete anos
para limpar a bagunça. — Maria Fernanda passou a mão sobre o ombro da
criança e tentou confortá-la. — Por que foi mexer na história se iria ferir
minha menina?
— Eu vou procurar minha filha, caramba! Agora não posso, mas vou
voltar! — Ele se alterou. — Está tudo acontecendo ao mesmo tempo... —
Respirou fundo e apertou os cabelos, precisava manter a calma para não
piorar sua situação.
— Você é tão linda, filha... Não fiz muito para merecer uma filha
linda como você.
— Os pais sempre acham os filhos bonitos. Mesmo quando eles têm
as pernas diferentes.
Eduardo, muito emocionado, ficou de pé, com ela no colo. Ele ainda
não conseguia descrever a emoção que sentia naquele abraço. Era um carinho
enorme e um sentimento de proteção que estava brotando no seu coração.
Dudinha estava tocando cada ponto do rosto do pai. Era uma nova
descoberta, ela também sentia a força do que estava acontecendo ali.
— Você também ama minha maman. Por isso deu o pimpão para
ela. — Aquilo não foi uma pergunta, Dudinha fez uma afirmação baseada em
suas próprias conclusões.
— O Dudu?
— Que ele era forte, cheiroso e bem bonito, assim como eu.
— Não, isso não! Por que você tem que se lembrar dessas coisas?
Esqueça isso. Nunca fale isso a ele. Eu não devia ter te contado essas coisas.
— Que o meu papa do pimpão trabalhava muito e por isso não tinha
tempo para um bebezinho?
— Sim, isso. Então não se iluda, vamos ver o que ele vai decidir.
Não quero que você sofra, minha filha.
***
— Vou sair... vou sair dessa vida... pela minha filha. A mãe dela já
era... Arrumou outro, mas eu tenho uma filha — depositou o último copo
sobre a mesa. — Vou ser o melhor pai do mundo. — Empurrou a morena que
estava sentada em seu colo. — Como veio parar aqui? — Questionou a
mulher. — Sou um homem casado. — Cambaleou.
— Chame um táxi, parceiro, desse jeito você não acerta nem a chave
na porta do carro.
— Que Dudu?
— O Dudu, está caído lá fora da porta, eu vi. — A menina insistiu.
And I'm so dizzy, don't know what hit me, but I'll be alright…
Eduardo estava cantando do outro lado, com sua voz chorosa e lesada pela
bebida.
— Ele canta bem, maman, mas acho que está passando mal. —
Dudinha permanecia com o ouvido na porta.
…'Cause all of me
Loves all of you
— Love your curves and all your edges. All your perfect
imperfections.[17] — Ele cantou olhando para ela.
— E se baterem nele?
— Dê a ele filha.
— Você está muito atraente neste baby doll. — Ele apalpou a coxa
desnuda de Maria Fernanda.
— Não deveria atender a porta assim, tão gostosa. Poderia ser outra
pessoa. — Tentou se escorar nas almofadas. — Você é minha mulher e eu
exijo... que sempre me receba dessa maneira e que cuide de mim com
carinho.
— Sem polícia?
— Dorme, Dudinha.
Ela vestiu um pijama fechado, foi para a sala, mas não encontrou
Eduardo no sofá.
— Onde esse homem foi parar? — Ela saiu procurando nos cômodos
e o encontrou sentado à mesa da cozinha, com os braços sobre a mesa e a
cabeça curvada.
— E a Viviane, por que não foi atrás dela? Por que não foi à casa de
seus pais? Onde está o Sergio? Não deveria ter vindo à minha casa, tem uma
ordem que te proíbe disso.
— Eu não sei por que peguei esse caminho, só estou me dando conta
agora. — Eduardo colocou o braço sobre a mesa e curvou a cabeça. Estava
sentindo dores e tontura. Talvez porque aqui está o que eu preciso. — Ele
pensou.
— Maria Eduarda era o nome de minha mãe. Mas isso nunca foi
algo importante para você lembrar. Você alguma vez se interessou em saber
algo sobre mim? Maria Eduarda era minha mãe! Tenho alguns documentos
para te provar isso, mas não sou obrigada.
— O que você fez de sua vida? E depois que o álcool sai de seu
corpo, a alegria permanece? — Ela esperou a resposta.
— Eu bebo mais.
— Estou com muita saudade. Por que não cuida de mim? — Ele
tentou beijar o pescoço dela e levou um empurrão.
— Logo não teremos mais esse maldito contrato que nos une. E de
qualquer maneira, nosso divórcio vai sair.
— Por que fez isso com seu cabelo, mulher? Quero que tire essa cor
e deixe crescer novamente. — Eduardo a segurou pela cintura, antes que ela
alcançasse o objeto que, certamente, o levaria até a emergência do pronto
socorro. — Eu queria ter te ensinado... tudo. — Ele fechou os olhos, quase
caindo de sono. — Eu não acredito que você anda sentando em outro...
— Estou bem...
— Estou bem, Dudinha está bem, estamos as duas muito bem. Ela
está na mesa tomando café da manhã.
Eduardo sorriu vendo que seu plano de última hora estava dando
certo.
— Sou seu pai de sangue, filha. Tem que torcer por mim agora. —
Ele continuou insistindo.
Eduardo estava olhando a cena dos três à sua frente e aquela forte
pancada no peito chegou a doer. Aquele intruso tinha invadido tudo. Estava
com sua mulher, filha... Ele estava cuidando de sua família e aparentemente
muito bem. Ele não deveria estar com aquele vazio no peito, tampouco
reconhecendo que o oponente era o melhor para elas. Não! Ele não iria ser
um fraco. Aquela era sua família, iria atropelar os invasores.
— Sou empresário...
— Mas porque vocês não vão morar juntos? Quem hoje em dia liga
para casamento? Isso é só um papel, nada mais que isso. — Eduardo tentou
mostrar interesse na conversa. Não custava nada se esforçar para dar atenção
à mulher, que cuidava de sua alimentação com tanto zelo.
— Então, vocês que são da igreja não podem morar juntos sem
casamento? — Eduardo passou a aplicar interesse pessoal a conversa.
— Quero casar de papel, com tudo que tenho direito. E só posso
quando meu noivo estiver divorciado. Sinto-me ilegal sabendo que ele tem
outra mulher no papel.
— Não, claro que não. É só uma curiosidade que surgiu aqui, Sônia.
Nada que envolva você, minha querida.
A igreja estava vazia, mas foi informado por um homem que estava
reparando o jardim, que o líder atendia em seu gabinete ao lado. Ele seguiu
para o gabinete e chamou na porta. Um senhor de meia idade usando óculos o
atendeu.
— Bom dia, eu sou Eduardo Moedeiros.
— Claro que não! Eu quero que você acabe com essa palhaçada! —
Eduardo elevou o tom de voz.
— Eles não têm para onde ir. — O assimilou a precisão das palavras
do homem à sua frente.
— Aquela mulher tem poder sobre mim. Eu tenho certeza que é obra
de feitiçaria. — Eduardo arrancou a gravata do pescoço e abriu um botão da
camisa. — Fico louco perto dela, desde quando era uma pirralha e só tinha
olho e cabelo.
— E hoje, o que aconteceu? Por que está aqui querendo sua mulher
de volta?
— Ela é minha, fui tolo quando deixei que ela fosse. Agora quero de
volta o que me pertence.
— E porque permitiu tudo isso? Por que permitiu que seu casamento
virasse um fracasso, meu filho?
— Ótimo, assim me poupa tempo. Vou fazer muita coisa hoje, para
amanhã conseguir ver minha menina.
Dudinha abriu os olhos assim que Thiago encostou a porta. Ela ainda
não sabia o que estava acontecendo, mas tinha pegado pontas de conversas
dentro do carro e seguia curiosa.
— Ela não é uma criança comum, Thiago. Ela sente e sofre. Você
sabe que apesar das limitações físicas, ela tem uma grande inteligência e
perspicácia. Minha filha já está sofrendo. Aquele irresponsável não aparece
há uma semana e todo santo dia ela pergunta por ele. Ela já o ama. Ele não
vale nada, mas eles têm uma ligação. Eu não vou conseguir ver minha filha
sofrer por conta disso.
— Um pai que não está se importando com ela. Que vive metido em
confusão e pancadarias. Que carrega um mau exemplo... Alguns meses atrás
tentaram matá-lo. Eu não quero imaginar minha filha estar com ele em um
momento como esse. Ele tem muitos inimigos, porque ele faz inimigo por
onde passa. — Thiago caminhou frente à namorada, estava nervoso. — Eu
não vou deixar minha filha correndo risco de vida ao lado daquele sujeito
asqueroso. Amo-a como parte de mim e me sinto no direito de querer vê-la
segura.
— Vou cuidar disso para você. — Thiago beijou os lábios dela. Ela
estava com o olhar distante, absorvendo a informação.
— Se o Dudu for bonzinho com você, fala para ele que o Rudolf está
com saudade. E se ele tiver um tempo sobrando, pede para passar aqui. —
Maria Fernanda viu uma lágrima descendo dos olhos da menina e a abraçou.
— Ando tão preocupada com o Dudu. Ele não está bem. Meu coração é
pequeno, mas eu sinto.
Sergio olhou para Suelen e viu a tristeza nos olhos verdes. Mas o
estado de espírito só durou alguns segundos, pois Suelen soube camuflar.
— Apenas fui fazer um alerta àquele homem. Ele não poderia ficar
sendo enganado. Você só pode se relacionar com outro homem depois de
estar divorciada, e casada com ele? — Maria Fernanda já estava em certa
distância da mesa e apenas o olhou enfurecida. — Eu não vou permitir essa
palhaçada, Maria Fernanda. — Ele puxou uma cadeira e sentou. — Preciso
de um médico, você machucou quem mais te ama. Não venha reclamar no
futuro se meu pau estiver torto.
— Você teve seus motivos para esconder a gravidez, mas toda vez
que você fala que passou tudo sozinha, sinto-me na obrigação de te lembrar
de que você escolheu dessa maneira. Somos um conjunto de erros. Muitos
meus, apenas um seu, mas essa menininha está mudando minha vida, eu
tenho certeza que ela teria esse poder antes. Eduardo não se deu conta, mas as
lágrimas encheram seus olhos. Maria Fernanda chegou se assustar com a
cena, mas ela também se emocionou, pois pensou nas palavras da filha.
— Eu nunca vou te agredir, mas não me bata outra vez. O que você
faz comigo, mulher nenhuma ousou fazer. Quando você sair, vou precisar
quebrar algumas coisas, mas nunca vou tocar minhas mãos em você. Hoje
vou ver minha filha. Estes últimos dias só consegui sair daqui no meio da
madrugada e logo cedo tinha que voltar.
— Por ela sou capaz de tudo. Se você preferir, eu pago as suas horas
produtivas para que a visite uma vez por semana, sob meus olhos.
— Que conversa é essa agora? — Eduardo se ofendeu.
— Separe o desastre que tivemos da relação com sua filha. Passe por
cima de seu orgulho e vá vê-la. Estou passando sobre o meu ao te pedir isso.
— Sim! Sempre fui, mas agora quero ter isso só com você. —
Eduardo pegou a mulher pela cintura e a puxou para mais perto — Vamos
sair daqui. — sussurrou em seu ouvido. Ele era experiente o suficiente para
ter noção da reação que o corpo dela teve.
— Me larga!
— Não quero saber da sua vida pessoal. — Ela tentou se soltar, mas
Eduardo não permitiu.
Ela o empurrou.
— Se for para pedir ajuda com a Su, saiba que a resposta é não!
Você também é outro que não vale muita coisa. — Maria Fernanda continuou
andando.
— Pode falar! — Maria Fernanda parou com a feição séria, mas por
dentro curiosa.
— Já falei que não sou nada sua! Quer apanhar outra vez para
recordar? — A morena de pavio curto levantou da cadeira e se debruçou na
mesa para chegar até Sergio, mas a amiga segurou em seu braço e a faz sentar
na cadeira.
— Nem eu, muito menos o Edu entendemos sobre finanças. Ele não
confia em mais ninguém, não estamos conseguindo sair do lugar.
— Não precisa usar essa palavra. Isso é muito forte. Eu quero uma
ajuda.
— Mande o que puder para esse e-mail. — Ela pegou uma caneta
sobre a mesa e escreveu seu endereço eletrônico. — Vou limpar a bagunça e
depois vou providenciar demissões de funcionários incompetentes.
— Não tenha medo ratinho. Sou a Dudinha, qual o seu nome? — Ela
se abaixou e o rato arregalou os olhos. — Claro, que pergunta boba! Ratos
nunca descobriram as palavras. Você não deveria comer os restos de pipocas
do chão. — Colocou as mãos na boca e sussurrou em um segredo: — Podem
estar contaminadas. — Por alguma razão, o grão que estava nas mãos do rato
despencou no chão. — Você tem cara de... hum... — batucou os dedinhos no
queixo. — Julien. Vou te chamar de Julien. Você está precisando de um bom
banho, Julien, e também de uma dieta. Andou revirando os lixos, não foi? O
que a necessidade não faz... fome é tão triste. Há pessoas que morrem por não
conseguir alimento. Ainda mais um rapaz robusto como você, que precisa
fazer várias refeições durante o dia. — Olhou para o bicho que a encarava. —
Não chore, Julien, vou te oferecer um teto até as coisas melhorarem na sua
vida. — Abriu a lancheira. — Venha. Você não vai precisar sentir frio e
fome.
***
Era noite e Maria Fernanda estava na mesa de jantar com o notebook
ligado. Ela estudava o histórico privado da Moedeiros através das senhas que
Sergio tinha fornecido.
— A empresa foi o que ele sempre quis. Rejeitou tudo por ela. E
hoje, o que restou desse império? — Maria Fernanda olhou para a amiga. —
Dívidas com a receita federal, fornecedores e um furo horrendo no prévio
balanço patrimonial que fiz. Vou estudar os livros da empresa, mas não vejo
muita coisa a fazer. Cheguei tarde minha amiga. As multas não estavam
sendo pagas e o dinheiro aparentemente, desapareceu. Resta saber, quem fez
esse trabalho tão bem elaborado no intuito de afundar a Moedeiros.
— Ele vai soltar fogo pelas ventas quando receber a notícia, gatona.
— Eduardo já deve fazer ideia do que está acontecendo. Mas vou
investigar a fundo. Parte da Moedeiros é minha e mesmo não me interessando
com o ramo do empreendimento, estou com o meu instinto aguçado para
pegar esse ladrão. Houve desvio no fundo fixo da empresa recentemente,
ainda estão sugando. Também vou analisar o que resta do ativo e se cobrem
as dívidas adquiridas pelo nome da empresa. Se ainda for possível, evitar o
pior que é declarar falência.
— Eu o quê?
— O Rudolf não sabe andar por aí sem mim, maman, ele quer que
eu vá com ele. — Dudinha abaixou a cabeça e apertou a barra da camisa do
pijama. — Eu não vou atrapalhar o trabalho do Dudu, só preciso olhar ele de
longe.
— Eu... resolvi não trazer suas flores de última hora. Não é certo
cortejar uma mulher que namora um taiwanês filho da pu... — Eduardo se
alterou, mas apertou os dedos buscando autocontrole.
Eduardo olhou Dudinha, que balançava uma das pernas sobre o sofá
e tinha os olhos vidrados na tela do Notebook. O pai firmou o buquê frente ao
corpo e seguiu os metros que os distanciavam. Estava com tanta saudade da
filha que seu peito queimava de emoção profunda. “Como eu consegui fazer
essa criança tão amável?”, perguntou-se ao sentir o cheirinho de colônia
infantil.
— Dudu! — Dudinha saltou do sofá e se jogou nos braços do pai,
que se abaixou na altura dela. — Já terminou todo o seu trabalho? Eu não
queria atrapalhar você, mas tive saudades.
— Eu também, filha. Mas eu não estava legal para vir aqui. Não vou
mais demorar tanto tempo para te ver. — Eduardo beijou os cabelos loirinhos
e respirou fundo para afastar as lágrimas que tinham brotado no embalo da
emoção. — Como você está? O que estava fazendo? — Desmanchou o
abraço e acariciou as bochechas da filha. O homem estava sorrindo
bobamente.
— É dessa maneira que você quer conviver com sua filha? Pois eu
prefiro vê-la sofrer por estar longe do que vê-la formar um caráter violento e
imoral igual o seu.
— Eu falei para você que vou tentar mudar, mas esse caralho não
acontece do dia para a noite... — ele apertou os olhos e mordeu os dedos
fechados. — Eu realmente preciso dar um jeito nisso.
— Você acha que isso faz bem a ela, seu irresponsável?! Vulgar!
Boca suja!
— Eu não vou sair. Vim ver minha filha, vou conversar com ela.
— Ahhhhh!
— Era para o Julian sair comigo, mas ele comeu demais e não
conseguiu correr.
— Abre essa porta... Dudinha, quando eu sair daqui vou te dar uns
tapas... — Maria Fernanda nunca tinha falado aquelas palavras, tampouco
feito tal ação.
— Cause all of me… Loves all of you... Love your curves and all
your edges... All your perfect imperfections.
— Moleque!
— Não, eu não estou com frio. Quero que você abra a porta.
— Não pense que minha filha vai andar na casa daquela mulher. A
única pessoa da sua família que tem algo de bom para oferecer é a Luíza.
— Minha mãe também quer ver você. No momento ela não pode sair
de casa, mas se você puder ir até ela e levar a Dudinha, ajudará muito.
— Você ficou ainda mais bonita. Tornou-se uma mulher tão forte e
doce ao mesmo tempo... isso me faz lembrar certo gosto de lugares rosinhas.
— Por que você não tenta abrir a porta? — Maria Fernanda quis se
sabotar para afastar qualquer pensamento adormecido. — Arrombe se
preciso, mas tente abrir.
— Por favor, me perdoa por ter... Por ter sido um canalha com você
e todo o resto que te fiz sofrer.
— Só me ouve, pois não sei se vou conseguir falar isso outra vez. —
Ele juntou as duas mãos dela. — Eu fiquei louco por você desde que te vi
sentada naquela cerca de madeira da fazenda da minha tia. Eu me odiei por
sentir aquilo. Mas ali eu te quis, te quis por inteiro, não só desejei, mas você
tomou conta do meu coração. Não é fácil te ver com outro homem, sendo que
te sinto totalmente minha. Eu não tenho moral para dizer isso, mas odeio a
ideia de ter outro homem tocando em você... eu sinto ódio e vontade de
matar. — Ele confessou e estava chorando.
— Se esforce para ser um bom pai para sua filha. Eu nunca vou te
exigir nada, além disso. Agora, levante, Eduardo.
— Não precisa apertar tanto. — Ela tentou afastar o rosto outra vez.
Virou.
— Perdão. E... nem é tão difícil assim falar essas coisas. — Eduardo
deixou o corpo desleixado na cadeira e se balançou de um lado a outro. —
Difícil é vê-la com um desgraçado, certinho, medindo forças com um sujeito
errado como eu.
— Eu não quero parecer um idiota como você, mas sinto coisas pela
Maria Fernanda. Não só fisicamente. — Eduardo se endireitou na cadeira —
É querer olhar para ela todos os dias e vê-la feliz, mesmo longe de mim. Isso
é uma idiotice do caralho, mas estou sentindo.
— Sinto, cara, queima tudo aqui dentro, eu fico até nervoso com o
cheiro dela. É uma coisa louca isso. A mulher fez algum encantamento. —
Eduardo confessou. — Até me desafiei. Estou há muito tempo sem qualquer
tipo de sexo. Não consigo mais me imaginar com outra mulher.
— Quantos dias?
— Onze.
— Por isso que eu não queria deixar essa merda acordar. Isso dói
para caramba. — Eduardo esfregou a mão no peito tentando aliviar a
queimação.
— Elas agora são religiosas. Poderíamos ver algo para passar boa
impressão.
— Eu duvido.
— Vai me demitir?
— Você também?
— Se não der certo, aquela promoção pode virar demissão, você que
escolhe. — Eduardo sabia que Jorge morria de medo do desemprego, então
manipulá-lo não seria tarefa tão difícil.
— O senhor quer uma mulher pelo o que pode pagar? O amor tem
que ser demonstrado sem precisar falar aos quatro cantos. Faça uma coisa
pela qual ela se orgulhe do senhor.
— Mas não pule, princesse, para não doer sua perninha. — Suelen
falou na saída do elevador.
— Seu rato está saudável. Vai mesmo ficar com ele? — Eduardo
perguntou à filha.
— Não, princesa, eu só ia dizer ao tio Sergio, que ele tem toda razão
em conversarmos depois. — Alisou os cabelinhos da filha, enquanto
praticamente fuzilava Sergio com o olhar.
— Eu não vou gritar. Mas entenda que esse é um assunto meu. Devo
solucionar meus problemas. Quando você assinou aquela procuração, me deu
total liberdade de assumir tudo em seu nome, esse é um assunto meu e vou
resolver.
— Ah, claro. Vou cuidar, sim. Vamos Suelen, essa é uma decisão
muito difícil eu preciso de seu apoio.
— Sou tomado por chamas quando sua boca linda fala meu nome.
— Existe limite para tudo. Você é mais forte que eu. — Maria
Fernanda lutou para empurrá-lo sem sucesso. — Então se afaste de mim!
— Gatona?
— Não olha assim para mim não, hein. Foi ele que colocou isso na
cabeça dela. Aliás, estão de segredinhos.
— Cordial?
— Suelen não pode sair por aí com aquele homem. Muito menos eu
com você.
— Você acabou de dizer que o Sergio não seria idiota para colocar
tudo a perder.
— Entra logo nesse carro, mulher, ainda temos que trabalhar hoje.
— Estou atrasada, você já me ocupou muito, o mínimo que deve
fazer é me levar até a loja. Não pense que pode me dar ordens.
— Comentário desnecessário.
— E você não fale daquele cara quando temos nossa família reunida
falando coisas particulares do nosso casamento.
— Se abaixem.
— Não venha atrás de mim. O que andou aprontando? Por que tem
uma arma em seu carro? Melhor ficar longe da minha filha.
— O Giovane? E como ele está? Há muito tempo não o vejo, ele está
muito focado naquela fazenda e não sai de lá por nada.
— Já.
— Por que está assim, Su? Seu olhar está tão triste... — A amiga
puxou Suelen para o Sofá e Dudinha voltou para seu quarto.
— Su, essa história está estranha. Por que não conversam direito?
— Não fale alto e nem faça barulho. — Ela abriu a porta, Eduardo
entrou e se sentou no sofá.
— Eu sei que ele está por trás de tudo, mas tem aliados perto de
mim. Não é apenas nos roubos que ele está envolvido. Vou te mostrar uma
coisa... — Eduardo segurou a barra da camisa.
— Eu fui tirar satisfação com ele depois que saí do tratamento, mas
me compadeci e não o matei, vi os três filhos dele, um ainda está de colo e...
Maria Fernanda, você está querendo?
— Me dê sua mão.
— Não vou fazer isso! Está na hora de você retornar para sua casa...
ou para qualquer outro lugar que preferir.
— Sei que não posso usar nossas lembranças para te convencer. Mas
tenho guardado os melhores momentos da minha vida. Foram poucos, e em
todos, você estava ao meu lado. Você me trouxe o que eu tenho de melhor.
Agora, me fala o que preciso fazer para te impressionar?
— Mude por você e não queira provar nada. Seu caráter foi formado
de maneira errada. Quando não está sendo orgulhoso, está sendo o moleque
crescido, querendo impressionar, sendo o melhor no que faz. Você queria
provar isso aos seus pais em troca de carinho e cresceu dessa maneira.
Aprenda que afeto não é a recompensa de um trabalho bem feito. Quando
parar de querer impressionar os outros, vai encontrar uma mulher que valha a
pena.
— Você deve ter uma fila de mulheres para facilitar sua vida. — Ela
tentou empurrá-lo e recebeu beijos na região do pescoço.
— Eu te amo.
— Quero falar mais uma vez que te quero. — falou com os lábios
roçando os dela e as mãos dentro dos cabelos loiros. — Meu coração e o
resto do meu corpo estão queimando. E não é porque quero seu corpo. —
Aproximou os lábios do ouvido dela. — Queimo de paixão, pois você é
minha mulher, te desejo e a quero de volta. — Maria Fernanda sentiu a
tentação da volúpia andarilhar em seu corpo ao sentir os dentes roçando sua
pele. — Mas se é isso o que você quer... seguirei seus conselhos e não darei
mais murro em ponta de faca. — Ele se afastou. — Não se esqueça da nossa
festa amanhã à noite. Preciso da sua ajuda com a Moedeiros.
— Uma hora e meia? Uma hora e meia, Sergio! Você ouviu isso?
— Tenho três papas e uma maman, isso é uma grande sorte para
uma criança pequena. Muitos não têm um papa para trazer carinho ou brigar
com a nossa maman.
— E sua perna, ficou assim por quê? Seus três “papas” — fez aspas
com os dedos — estavam ocupados e te deixaram cair da cama? — falou uma
menina ruiva.
— Você viu a bolsa dela, Alicia? Não deve ser filha de empregados.
— Julien, desce daí. Elas não vão te levar para os esgotos da cidade.
— Dudinha apontou o dedo para o rato, que subiu em uma pequena roda
gigante. — Eu não sou tão grande para te pegar. — Ela levantou os pezinhos,
mas a mão que segurou o bicho foi outra.
— Mar de Weddell, meu pai me levou para conhecer nas férias. Faz
parte do oceano Antártico. Ele tem as águas mais claras do que qualquer
outro do mundo.
— Você não pode ser ranzinza com o Dudu, Luiz Miguel. Ele é o
meu papa. — Dudinha tomou partido.
— Meu pai disse que vai acabar com você — o menino tornou a
enfrentar Eduardo.
— Ele pode até tentar ser melhor do que eu, mas ele nunca vai
conseguir! — Eduardo passou a mão nos cabelos.
— Seu desgraçado!
— Não venha atrás de mim. Era isso o que você queria? — Ela
continuou caminhando entre as pessoas. — Conseguiu findar o resto de
credibilidade da sua empresa, brutamontes.
— Você vai mandar esse cara ir para a casa do caralho, hoje mesmo!
— Você não vai sair daqui com ele. Se for, minha filha vai para
minha casa. — Eduardo continuou alterado. — Não importa meus erros, é a
proteção dela que está em jogo. A proteção das duas!
— Não estou brigando com você. Apenas não quero que vá.
— Meu tio Sergio não vai gostar disso — Dudinha falou enciumada.
— Mas o tio Sergio me deixou de olho nela e a tante não pode ter
dois namorados.
— Eu prometo trazer sua tia antes das dez para ver você dormir. —
Juliano tentou ganhar a confiança de Dudinha.
— Mas eu gosto do tio Sergio, ele pode fazer minha tante feliz. Mas
as pessoas adultas não escutam minha opinião.
Ela abriu a porta, pronta para dar um sermão, mas foi surpreendida
por Eduardo, Sergio e Irene na porta.
— Boa noite senhora, peguei uma carona até próximo ao meu bairro,
vão me deixar lá depois.
O coração da mãe sempre dizia não na hora de ser mais firme, mas
fazia isso, pois era preciso corrigi-la para o futuro.
— Eu sou o culpado.
— Minha filha é mais importante que qualquer outra coisa. Foi isso
que eu falei. Minha vida agora tem outro sentido. A Dudinha é minha própria
vida. Sou capaz de tudo para proteger minha família.
— Claro! Você está certo, Edu. Você vai dar um jeito em tudo. É
uma atitude muito bonita, irmão. Você, Edu — Olhou para Nanda —, mudou
muito, meu amigo. Agora é um homem de família.
— Por que você tinha que entrar aqui? Eu vou acabar com você
agora, seu idiota! — Eduardo começou a estrangular Sergio no canto da
parede do quarto.
— Eu quero mudar, mas toda hora aparece um para tirar minha paz.
— Eduardo largou Sergio.
— Obrigada por vir até aqui, Sergio. Agora, vão para casa, pois já
está tarde e a dona Irene precisa ir embora.
— Mas o nosso beijo, mulher? — Eduardo ainda tentou.
— Saiam!
Sergio saiu imediatamente. Passou pela sala, pegou Irene pelo braço
e correu para o elevador. Sairia antes que o amigo o alcançasse. Eduardo se
despediu de Dudinha e foi embora contrariado, desejando matar a saudade
dos lábios da mulher.
No outro dia bem cedo, Sergio bateu na porta de Eduardo. Ele estava
mal por ter estragado a noite do amigo, precisava se desculpar. Eduardo era
seu único apoio.
O táxi parou, a noiva de Jorge pegou uma vasilha e seguiu para uma
das casas.
Dudinha estava com seu macacão rosa e um chapéu da mesma cor
na cabeça. A mãe estava com um modelo idêntico ao da filha. Suelen estava
de jeans e camiseta.
— Jesus! — Ela soltou o que segurava, mas ele foi mais rápido. —
O que... o que faz aqui? — Olhou-o de cima abaixo. O homem estava com
roupas normais e sujas de tintas.
— Eu não vejo motivos para você usar essa camiseta tão apertada,
homem exibido. Ela colocou a mochila que carregava na frente do abdômen.
Dentro estavam os pertences básicos de Dudinha.
— Você está muito estranho, espero que não esteja aprontando nada
contra essas pessoas. — Maria Fernanda colocou a vasilha sobre uma mesa
de madeira.
— Ainda dá tempo de você tirar seu amigo de lá. Faça alguma coisa,
Sergio. — Maria Fernanda pediu.
— Ele mesmo.
Sônia desanimou.
— Eu prometi te dar a festa, Sônia. Você vai ter sua festa, não se
preocupe. Agora, vou levar minha família, pois ainda tenho um
compromisso.
— É uma reunião com meu pai. Vou amanhã. Não vou permitir que
saiam daqui sozinhas. Jorge, pegue uma carona com o líder da igreja. Suelen,
bocuda, vá com o Sergio ou pegue uma carona com quem achar melhor. —
Eduardo seguiu com a filha na direção da caminhonete.
— Acha mesmo que pode jogar com isso? Você nunca me levou em
suas viagens. Não que eu guarde rancor disso, apenas estou te colocando em
seu lugar. — Eles estavam conversando baixo enquanto Dudinha cantarolava
uma música no banco de trás.
— Não. Mas use o social. Você foi gentil hoje com aquelas pessoas,
não posso negar um banho.
— Trouxe uma roupa para você — ela falou com a mão nos olhos.
— Já está tarde. Vamos, ande até a porta. — Ela seguiu para a sala,
ele foi atrás.
— Mulher, você não cede nunca. — Ele segurou nos dois lados da
cintura dela e percebia-se que ele buscava autocontrole pela falta de intervalo
na respiração. — Meus desejos estão guardados para você, mas está sendo
muito difícil manter o controle. — Eduardo mordeu os próprios lábios. —
Faltam nove dias para o contrato terminar e estou entrando em desespero,
Maria Fernanda. O que impede de estarmos juntos? Eu te quero e desejo.
Largo tudo, não consigo mais imaginar minha vida sem você. Não é apenas a
falta de sexo, é sobre querer você, só você. — Ele levou os cabelos dela para
trás da orelha.
— Teve outro?
— Você está...
— Pare de chorar.
— Estou sem cueca e meu corpo está brigando feio com a emoção.
Estou de pau duro, não olhe e me desculpa por isso. Estou mudando, eu posso
garantir.
— Espero merecer você, dentro desses dias que nos restam. Agora
eu vou, preciso tomar um banho gelado ou não cumpro meus propósitos.
Muito obrigado.
— Eu vi, ela estava em uma cama com aquele cara perigoso. Não
acreditaria apenas nas fotos. Entrei naquele quarto e vi.
— Não por mim, eu faço de tudo, quero recomeçar, mas ela não
consegue. Foi a perda trágica da criança, isso a feriu e nos fere até hoje.
Ontem saímos, evitei a troca de acusações e ela não me bateu dessa vez.
— Já é alguma coisa.
— Minha mãe virá o Brasil daqui a três meses. Vou ajustar as pontas
soltas da história. Eu não sabia que havia se encontrado com a Suelen antes
do aborto. Liguei hoje para o Canadá, mas ela estava ocupada e desligou o
telefone.
Eduardo pagou a conta e também saiu. Tinha uma reunião com seu
pai e o detetive.
— Vamos lá, Suelen! Vai dar tudo certo. — Maria Fernanda abraçou
a amiga, logo após agradecer aos céus pelo sucesso do novo negócio.
— Eu não sei fazer isso, Suelen! Não entendo nada sobre moda
feminina.
— Mas vai ficar por aqui, ajudando. Sua aparência não é grande
coisa, mas está chamando a atenção daquelas últimas clientes. Nem pense em
sair daqui. Já estamos fechando e elas ainda não compraram nada. — Suelen
saiu carregando Dudinha.
Perdido, ele procurou o lugar onde poderia repor os cabides, mas
abandonou no quarto de roupas e seguiu para procurar Maria Fernanda.
— Onde está o joalheiro? Agora toda vez que te vejo está sem ele.
— Está ocupado, ele também tem uma empresa. Mas veio mais
cedo. — Maria Fernanda não quis expor que Thiago raramente estava indo
vê-la. O homem alegava estar ocupado, mas nunca explicava do que se
tratava.
— Isso aqui vai ser um sucesso. Você é muito boa com os negócios,
mulher.
— O segredo para isso foi não investir nos desgastes. Eu não tinha
tempo para lutar, então segurei a mão da minha filha e passei direto pelas
dificuldades. Com isso ganhei prazo para vencer primeiro. Estudei e logo
consegui um bom trabalho. E não penso em parar, vou voltar a estudar em
breve. Algumas pessoas querem provar ao mundo que tem o poder e com isso
travam uma verdadeira guerra. Mas qual o sentido de provar se o importante
é ser? O segredo é seguir em frente. Quem segue chorando e sofrendo, vence
antes de quem está lá atrás se desgastando em conflitos.
— Suelen está muito animada com a loja. Eu fico muito feliz por ter
alimentado o sonho dela. Ela esteve comigo em todos os momentos difíceis.
Minha amiga merece ser feliz.
— Hoje vendi tudo que estava em meu nome para pagar as dívidas.
Meu império está indo embora. Estou perdendo tudo, inclusive você. É como
se eu estivesse regredindo para antes do nosso casamento, quando nada
existia.
— Maman...
— Fique calma.
— Seu prédio não é seguro. Aquele seu porteiro tem a cara que se
vende por qualquer nota de cem. — Eduardo tinha convicção daquilo, por
isso estava em outra rota. — Vou levar as duas para meu apartamento. Lá eu
tenho controle.
— A Suelen. Ela está indo para lá, ela não sabe de nada.
— Leve a Suelen para a casa dos pais dela. Não chegue perto do
apartamento da Maria Fernanda com ela hoje!
— Ela está bem, Suelen, Dudinha também. Vá para casa dos seus
pais e tenha cuidado com o Sergio, não facilite as coisas. — Eduardo
encerrou a ligação.
— Ela está bem, mulher. O Sergio vai cuidar dela. Ele ama sua
amiga. A única coisa que eu quero é levar vocês para nossa casa em
segurança.
— O chiote do Dudu.
— Frio?
— Sim, frio. E você também deveria colocar uma roupa. Não tem
necessidade nenhuma para estar assim. — Ela virou o rosto. Eduardo estava
sentado no sofá e vestia apenas um roupão.
— Somos adultos e a nossa filha está logo ali. Estou usando suas
roupas, sentada no seu sofá a centímetros de você, apenas de roupão, isso não
quer dizer nada.
— Estou bem, você não causa mais nenhum efeito sobre mim... —
Ela forçou um sorriso e transpareceu mais nervosismo.
— Você... você agora tem uma filha que te ama. Eu... eu te proíbo de
sumir. Está me ouvindo? — Ela empurrou o ombro dele, pois Eduardo estava
com os olhos vidrados na parede de vidro da sala. — Você quis assumir seu
lugar de pai, agora não volte atrás. Seremos sempre os pais da Dudinha.
— Foi o desespero e... foi rápido demais... aquilo não foi um beijo.
Está passando mal? — Ela passou os dedos por entre os fios de cabelos dele.
— Você pode apagar a luz, por favor? — falou ainda com o rosto
coberto pela almofada.
— Quero... Não! Não quero. Não me fale essas coisas, estou com
dificuldades.
— Você sabe, é uma briga constante aqui. Tudo em mim quer você.
Você está muito atraente nesse meu pijama. Não são apenas meus olhos que
estão inundados, amada esposa. E aposto que tem uma deliciosa chorando,
neste exato momento. Ela é outra guerreira, está merecendo um beijinho.
— Meu pensamento já viajou por teu corpo todo nu. Eu não tenho
nada preso a ninguém. — Eduardo despencou as costas no sofá. — Coloquei
um detetive na cola do Junior.
— Eu preciso avisar ao Thiago sobre isso. Tenho certeza que ele não
sabe que o amigo está envolvido. Agora temos a prova.
— Na época, Eduardo?
— Você é um insuportável.
— Vamos parar por aqui. Boa noite. — Ela forçou o corpo para
levantar, mas Eduardo despencou a cabeça no colo dela e respirou pela boca.
— O que está fazendo?
— Tudo bem... Não está tudo bem, mas vamos tentar dormir.
— Bom dia. — Ele olhou para ela, sorriu e voltou a prestar atenção
ao alimento, enquanto lutava para desgrudá-lo do fundo a panela. — Estou
cozinhando para vocês. Gosta de omeletes.
— A Dudinha não pode perder aula. Ainda vou passar em casa para
ela vestir o uniforme e pegar a mochila.
— Hoje vou trazer uma parte das coisas da Dudinha e o básico para
você. Mas vou providenciar uma transportadora para a mudança.
— Se acalme, Eduardo. Antes de tudo, existe um homem
maravilhoso que também é pai da sua filha e merece todo o meu respeito.
Maria Fernanda ficava mole toda vez que ouvia aquele "te quero". O
desejo por Eduardo era incontestável. Seu corpo queimava por ele desde
muito cedo e sempre se sentiu desejada. Mas, mesmo anos antes, ela não
tinha aceitado apenas o desejo carnal, por que o faria agora? Era inevitável
continuar colocando os pesos na balança. Não aceitaria passar pelas mesmas
situações.
Ele sorriu, chorou e tentou ser calmo. Ela também chorou, mas, ao
sentir os braços dele presos ao seu corpo, quis acelerar, ditando um ritmo
desesperado, querendo mais e mais daqueles lábios.
— Eu te amo. — seguiu falando entre o beijo, quando ela o deixava
respirar. — Eu te amo, meu amor. — Nunca mais perderia a chance de dizer
àquela frase que, por muito tempo, esteve aprisionada pelo seu orgulho e
ganância.
Ali era o amor. Esse era o sentimento que os guiava. Era tão forte
que dava medo de ser vetado outra vez.
— Você estava dizendo que aceita vir morar comigo e ser feliz,
juntamente com nossa filha. Parou nessa parte.
— Não!
— Meu amor, por favor! Não vamos brigar no primeiro dia que
voltamos.
— Não, claro que não! Eu daria um beijo nele, se ele não quisesse
roubar você de mim.
— Não fale isso, mulher. Eu senti até uma pontada aqui no coração.
Isso é muito difícil para seu marido ouvir.
— Não é simples assim. Vou conversar, sem pressão e sem você por
perto.
— Somos tão perfeitos juntos que tenho medo disso ser quebrado...
outra vez. — ele sussurrou. — Nunca esqueça que eu te amo e sempre amei.
— Não minha filha. O Dudu, seu pai, eu, não vou dividir você e sua
mãe com ninguém. — Ele olhou para Maria Fernanda e constatou certa
tristeza nos olhos azuis. — É aqui mesmo?
— Sim.
— Liguei para uns parceiros, vão ficar aqui vigiando a escola até eu
vir buscá-la. — Ele sussurrou para que a filha não ouvisse e fez sinal para
Maria Fernanda. Ela também viu Thiago.
— Não saia daqui. Eu vou e você nos segue. Não interfira. — Ela
abriu a porta, saiu do carro e pegou Dudinha no banco traseiro.
— Pode continuar.
— Você nunca quis, de fato, fazer amor comigo, pois era apenas ele
que você queria.
— Não! Você fingia, pois outra mulher no seu lugar não resistiria.
Eu sou mais homem que o marginal que você sempre quis. Mas foi bom isso
acontecer agora. Eu viveria frustrado, casado com uma mulher que sempre
desejou um cafajeste, bandido, que é inimigo da metade da cidade e só tem
como amigo, outro igual a ele!
— Vá atrás do marginal. Se for isso que você quer para sua vida, vá!
— Não me trate assim, você nunca fez isso.
— Não faça isso! Vai piorar tudo. — Ela diminuiu a força quando
ele parou de arrastá-la.
Ele ficou sem reação e alisou o rosto, mas logo foi puxado pela
camisa.
— Você não é sensível, mas anda chorando muito nos últimos dias.
— Ela correu os dedos nos cabelos dele. — Um ogro chorão.
— Tenho medo de alguma coisa, mas não sei o que é. Eu não era
acostumado com felicidade, mas você me trouxe a Dudinha e tenho medo de
sermos interferidos.
— Ficaremos bem. — Ela selou os lábios dele. — Você é obrigado a
permanecer ao meu lado, nem pense em me deixar! — Ela também sentiu a
angústia. — Agora somos nós, sem separação.
— Certo, não está. — Ela secou os olhos dele com o dorso da mão.
— Você tem algum vício e não me falou? — Maria Fernanda lembrou que
tinha ouvido isso na conversa que teve com Thiago.
— Sexo. — Ele fungou o nariz. — Mas não me deixe por isso, vou
viver os seus limites.
— Quero peitinho.
— Como pode ser tão linda? Mulher, você é perfeita. Eu juro que
não encontro defeito em você. Um conjunto de corpo e essência que me
ilumina.
— Melhor parar com isso! — Ela falou com os olhos fechados com
resquícios de vergonha. Aquele homem era um moleque. Um moleque de
trinta e três anos que sabia ser maduro em momentos importantes. Precisava
se acostumar com as loucuras dele.
Quase uma hora depois ela estava sentada no colo dele e Eduardo
acariciava o finalzinho do ventre da mulher. Ambos estavam exaustos e
descansavam, mas ele ainda estava dentro dela.
— O quê? — Ela pensou não ter ouvido direito com o descuido das
chamas de prazer.
— Eu preciso ser muito tola, para encarar essa cama de gato outra
vez. Não aceito, mas também não vou devolver o anel. — Suelen balançou os
dedos frente ao rosto. Maria Fernanda se espantou com o tamanho da pedra
de diamante.
Com a mão livre, Eduardo abriu a porta do carro e fez com que
Thiago passasse para o banco carona, assumindo ele o assento do motorista.
— Eu não sei o que você está fazendo aqui, mas se for pelo mesmo
motivo que eu, pode estar enganado ao meu respeito. — Thiago falou,
pausadamente.
— Tudo bem.
— Porque fez isso? Você tem ideia de tudo que eu já passei para
levantar a Moedeiros? Eu renunciei minha vida, meu amor... Foram noites
sem dormir projetando tudo para alcançar o sucesso! Eu fiz tudo! O Junior
sempre teve tudo nas mãos, tinha um legado pronto; eu comecei tudo do zero
e consegui! — Eduardo estava espumando de raiva e seu autocontrole estava
no limite.
— Como? Você não tem acesso a nada meu! Como conseguiu ter
participação?
Por aquela, Eduardo não esperava. A Irene que ele estava vendo não
era a mesma que batia o ponto todos os dias no relógio da sua empresa. A
mulher estava totalmente transformada em uma bela morena. Os cabelos
estavam soltos e não usava os óculos modelo gatinho, que não saia do rosto.
Irene estava trêmula. Ela era uma jovem muito inteligente e hacker
de sistema profissional desde a adolescência. Entrou na jogada para ajudar
Junior, mas ainda não era uma vilã consagrada. Mas ali, vendo o ruivo sendo
ameaçado, quis fazer Eduardo pagar ainda mais caro.
— Você foi roubado debaixo do seu nariz. E por mais que você
tenha me processado, nunca encontrarão uma prova que foi ela a executar o
roubo. — Junior abraçou Irene. Era nítida, a cumplicidade que eles tinham
um pelo outro.
— Por Deus, homem. Elas são minha vida, como eu não cuidaria?
Serei um bom pai e esposo.
Thiago estendeu a mão para Eduardo, que analisou aquele gesto por
cinco segundos, e depois apertou a mão do taiwanês o mais firme que pôde.
— Fazê-las felizes é o seu papel de agora em diante. — Thiago
olhou dentro dos olhos de Eduardo.
— Essa coisa de ser pai da mesma filha mexe com a gente, não é? —
Eduardo passou o braço nos próprios olhos. — Só não pense em chegar perto
de minha mulher, aí vamos brigar feio.
— Espero que você volte para Taiwan logo. Nunca desejei tanto seu
bem. Cresça lá fora. O mercado lá é mais lucrativo, pense nisso, meu amigo.
— Oi, princesinha!
— História?
— Eu não sou muito bom nisso, mas acho que sei a história de uma
princesa que morava em um castelo bem distante...
— Que Davi?
— Não pode ser da princesa? É uma história bem legal e tem o final
feliz.
— O quê?
— Eu te amo, Dudu.
— Meu coração era vermelhinho de amor, mas agora ele está lotado
de amor, bem gordinho igual o Julien.
— Meu amorzinho, assim, com tanta fofura, você deixa seu pai
muito chorão.
— Os homens maus.
“Edu?”
— Sergio! — Gritou.
"A Suelen já está ligando."
— Uma coisa eu te prometo, meu amor. Eles não vão fazer mal à
nossa menina. Eu te amo.
— Segura esse controle. Assim que o papai sair do carro, você trava.
Eduardo sabia que ele era o alvo e não tinha certeza desde quando
estava sendo seguido ou se perceberam Dudinha no carro, ela era baixinha
para ser notada. Ele daria sua vida pela dela.
— Sim, meu amorzinho. Ele agora está na cirurgia. Você foi muito
corajosa. O papa vai se recuperar.
— O médico disse para o outro que não, eu ouvi. Mas ele não sabe
de nada.
21
Ela se viu sendo consolada por sua criança, de uma maneira que
nunca tinha acontecido antes.
— Ele vai voltar, tio Sergio. Se todo mundo acreditar é mais forte
para acontecer.
— Vai, meu amor. Vai ficar. Tente descansar. Mais tarde eu vou
ficar com você.
— Mas, como? — Ela estava trêmula. — Como isso? Ele estava sem
dinheiro, só tinha para o básico.
— Ele me falou que vendeu, mas não imaginava que seria para esse
fim. Foi o que sobrou, além do apartamento. Eu... queria abraçá-lo por isso.
Ele doou o que tinha...
— Ele me pediu discrição. Mas achei que teria dividido com você.
— Obrigada. Ela é uma mistura minha com o seu filho. Seu marido
não veio? Ele tem vindo todos os dias ver Eduardo.
— Seu filho não piorou, mas também não teve melhoras. Tem sido
dias difíceis. Fiquei muitos anos sem sair do hospital com a Dudinha, mas
tinha pedido aos céus que nunca permitisse que eu passasse pela mesma
coisa. É muito difícil ver quem a gente ama sofrendo e não poder fazer nada.
Na última vez, falastes que sou amado, quando eu não sentia nada;
disse que eu sou forte, quando pensava ser fraco. Falas que estou amparado,
quando estou caindo, e quando eu não pertenço a lugar nenhum, você diz
que eu sou seu. E eu acredito em tudo, hoje eu acredito no que você diz de
mim.
E o que importa agora, são suas palavras. Porque em você eu acho
meu valor, em você, eu acho minha identidade. Estou deitado perto de seus
pés, e tenho receio de te oferecer tão pouco, mas pode ficar com tudo o que
tenho agora, deixo aqui os meus fracassos e recebo as suas vitórias.
Ele ficou ali por alguns segundos, olhando as duas, sentindo desejo
em levantar e abraçá-las, mas seus músculos ainda não mexiam. Tinha lutado
muito para abrir os olhos e agora estava exausto. Ainda sentia a força
profunda da morte brigando contra sua vida.
— Dudu, eu guardei a caixinha até você voltar, fui curiosa, mas não
abri. Suportei a vontade e consegui. — Dudinha entregou a caixinha preta
para a mãe.
Mas, e amar?
O que é amar?
Não sei se suporto outro baque desses, espero não ter que passar por
isso, mas se for por minha família, eu enfrento tudo.
Mas, para um infeliz que já está na merda atrair mais desgraça, basta
piscar os olhos. Foi isso que aconteceu. Minha cabeça pendeu para o lado e
acabei sendo tomado por um cochilo, que não durou mais do que cinco
segundos. Quando me assustei, senti o impacto no carro.
Meu pai trouxe Salsicha para casa depois que uma profissional lhe
explicou que o motivo para eu ser uma criança violenta era a falta de
companhia e afeto.
Naquela noite, quando conheci Thor, algo bom dentro de mim estava
desperto em meio à bebedeira e eu quis ajudar o filhote que agonizava.
Esmurrei o volante e lutei ferozmente contra aquela cordialidade, mas foi
impossível. Saí do carro, acolhi-o e cuidei dele. Daquele dia em diante, Thor
se tornou meu fiel confidente.
Ela estava mais "ativa" com o passar dos dias. Ontem, ela pegou
cinco filhotes de porco e levou um a um para o banheiro. Eu só descobri
porque uma funcionária da fazenda percebeu a água alagando o corredor da
casa. A baixinha usou a banheira do quarto em que Sergio e Suelen estavam
hospedados. Ela e os cinco porquinhos detonaram tudo, inclusive o vestido de
madrinha da tia.
Senti pontadas nas cicatrizes, mas dar aquele porradão tinha valido
muito a pena. Eu estava ativo outra vez e totalmente pronto para qualquer
hora que ela me solicitasse.
Ao seu lado esquerdo está o taiwanês. Ele não me engana, sinto que
espera um vacilo meu para marcar em cima, mas me faz bem saber que ele
voltará para Taiwan e deixará os negócios aqui no Brasil sob os cuidados de
um tio.
— Você está muito bonito, Dudu. Meus olhos combinam com o seu
terno.
Dizem que o tempo cura tudo, mas não acredito nisso. O perdão e o
amor podem curar, mas o tempo não. O tempo cura o superficial, mas o fato
real ele não atinge. Se te ferem, machucam, não espere que o tempo cure,
pois, o seu tempo acaba e você morre com a dor. Por isso, o perdão não deve
chegar atrasado. Que muitos corações sejam alcançados com a nossa história
de vida.
***
— Duda... Ela vai se a Dudinha até quando estiver gagá. Onde ela
está?
À Deus, por ser o dono do meu talento, da minha força e das palavras
que vieram ao meu coração para compor o enredo de “Perdão, amor.”
Aos meus pais, por sempre torcerem pelo meu sucesso, mesmo em
projetos impossíveis. — Velhos, vocês são os melhores do mundo.
[1]
Pintado por Leonardo Da Vince, entre 1494 e 1498 a pedido de Ludovico il Moro .
[2]
Inflamação do osso causada por infecção, geralmente nas pernas, no braço ou na coluna.
[3]
Minha princesa
[4]
Tia
[5]
Papai
[6]
Eu te amo, papai.
[7]
Com licença
[8]
Querido
[9]
Como vai você, Jorginho?
[10]
senhor
[11]
Oi
[12]
Um cachorro!
[13]
Senhor
[14]
Ele é lindo
[15]
Minha mãe estava preocupada, por algum motivo.
[16]
Ele é bonito
[17]
Amo suas curvas, suas extremidades e todas as suas perfeitas imperfeições.
[18]
All of Me — John Legend — “... Eu vou me entregar a você por inteiro... Você é meu fim e meu
começo... Mesmo quando eu perco, estou vencendo...”
[19]
“ ... Eu ainda estou aprendendo a amar... Apenas começando a engatinhar...”
[20]
Com licença
[21]
Você precisa se tratar!
[22]
Que susto!
[23]
Canalhas como você.
[24]
Desculpe-me, com licença!
[25]
Oi...
[26]
Senhor
[27]
Artigo 121 da Lei 2848/40 do código penal.
[28]
Artigo 288 do Código Penal
[29]
A rtigo 10 da Lei Complementar 105 /2001.
[30]
Também conhecido por: estilingue.
[31]
Papai do céu...