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A CRIANGA E 0 INFANTIL EM PSICANALISE SILVIA ABU-JAMRA ZORNIG escuta (ty dina Eu pra aio em ingun poruguss Teej de 2000, EpITORES Manoel Tosa Bene Critna Ris Magan capa dia Rls, a pais de"Muler sar ao ame de Jan Mins PRODUCAO EDITORIAL | Arde ances logaso ne Fonte do Dept Naclonal de Livre Zomig, Sia Abana | “Aamo fal em ricaniive/ iia Ab Juma Zomip— | | sto Pala Eset, 2000, 1i6p. xd} em isan s5-737.1656 no igri 1 Pca ffl. 1 To A mene pais copsissamt | Alana Bes ors Escuta Li, a Dr Hemem de Meio. 381 5007-001 Sip Pal. SP “elefan (1) 365-6950) 3675-1190/ 2628345 ‘El cect @ancombe ows gece com/HorspanguVill3 70s - 6 Shar Abuses Zee problemas, evitndo 0 furor interpretativo de dar sentido & agio manifests no brinear em ptol de privilgiar of movimentos ‘astocntvos do sueto esa possibile evar uma experéncin 2 terme, tendo a seasacio de continuidade,necessci fundamental 4 seu exsir como sujet, Partindo desta premissa, na dltima parte deste liveo procuramos extabelecer os fundamentos pars uma einia que se Ince pela demands dos pais, mas eaminhe em direcdo a desejo do sujeito, Noses hipstese inicial parte da diferenciagio entre a lemandsa sociale parental ea possibldade de aerangase implicar em sea sintoma, requisito fundamen para que uma anise se dé ‘Por meio da interiocugio com dverss autores ente o= quais Manonsi, Dolto € Laplanche, procuramos ressaltar a inportiness das enreviseas preliminates pata possibiar a separagio da questio ds cianga da problemiicapatental,mostano, no entanto, como ‘os pais, sein em sus Fungi simbdlica, eja em sua dimensio Imagini intasva na cine, produzem efeitos na aalise do filho c vice-verss, sendo desaconselhivel tanto do ponto de vista cstrurul como do ponto de vista clinic, deixilos de ado esse sentido, a0 longo dos diveesos capitulos deste texto procuramos veicular nossa proposta fundamental de que se a singularidade da clinica psieaaltica com criangas se refere & sus posigio em relacdo ao diseurso e desejo parental, © 080 8 imaturidade de se apatelho psiquico, nio hi nenhuma justiiatva prs mudangas na toca ou tenia pscanalitca, Peo conte, por meio de nosso questionamento, gostatiamos de ressatat a Jmportinca de se manter dento de uma ica que respeieacranga em sus dmensio de sujeito responsivel por seu dscurso © pela possibilidade de dar umn cunho singular snico& sua histra, nda ‘que dentro do limite estraturlimposto pela prépria infinci 1 A inscrigao da crianca no discurso social e psicanalitico A psicandls, ao se iad por Freud no final do séeulo XIX, aparece tam coateatohisttico- social em que a nogio de fain ‘comega ase modifeare passa do dominio pablico para 0 privado, \alosizando o amor ea ternara entre cénjuges «entre pase fos, assim como a nogio de educagio formal, 4 medida que o Estado ‘pasa ae ocupar da escolrdade das criangas como tenatva de formar faturos cidadios prodvtivos e saudiveis dentro dos padres motais estabelecidos, Asis, 0 coneeito de amor familie formas intimamente ligado & nogio de edueagio, de procurat formar os fos dentro de determinadas normas soi. ‘Apesar de «teoiafreudina fazer uma evica contundente is prtieas educacioaisrepressivas do final do século XIX e inicio deste séeul, parsce-nos dif! pensar sobre a elnica psicanatics| ‘com crangas sem procurar contextulizat @ coaceito de criang ft 56 dented tora psicanalitiea, como no decorter da hist a familia ociental para analisr eomo a psicanlise se aprop ‘ou modifica o significado social que Ihe tem sido conferido. Tnimeros aurores, como Adés (1978), Badinter (198 Donzeloe (1986), Casey (1992), ente otros, ao estudatem a nosio de infincia na Europa entre» Idade Média e 0 século XX, indica ‘como foi necessirn uma longa tetra para que este significante se arragasse ans mentalidades, passando de uma quase total Shia AbaJamra Z 8 indiferenga pela eianga & sua valrizasio como garni de uma Sociedade farura composta de adultos hem formados. ‘Aries, servindo-se da iconografia, dos jogos infants e da pecagogia, demonstra como o seninento de infinca pratcamente 6 ocoute a partir da Renascensae como a€0 séulo XVIE a exanga ‘eupa um papel petféxico na Familia, © autor coments que até © séeulo X11 no havia lugar par 2 infincia no mundo ocidental no Senco de una pariculandade infant diferenciada do undo dul. Os pintores ocidentais, por exemplo reprodusiam o mesino Jesus e a8 crangas sua volta como pequenos adultos, a Gaica ‘oacesio 4 infinci sendo 0 tamanho reduzide no qual as cranes fram eeptesentadas, 86 no final do sécalo XIL 0s piavores comesam 1 reproduzit © menino Jesus como uma erangs ¢ no mais como tum pequene adulta, demonstrando uma nova percepeio da snatomi infu (0 entimento da infineia 6 aparece 2 partir do séeulo XVI, ‘quando a crianga comesa a ser vises como o centro do grupo familar Ads usc tal aide de incifereca em rlao ji infincia ‘como conseqiénca drets dt demografis da época. A infineia era vise como uma fase sem importincia, jt que se filam muitas ‘ranges part ve conserva apenas slgumas Ov sea, a crianga se mantinha num higae andnimo e intercambiavel,e sua morte era sotida co trate, mas sem o desaspero e © lto que sents pela penda de alguém insubstcivel demos observar que 0 ator, ea po itermeédio da anilise 4a iconograts, da historia dos jogos, ou da evolugio dos ees, chegn sempre 3 mesma eonclusio: pare-se de wm estado socal fm que infincia © mundo adulo aio se difrenciam, até que no séeulo XVII comega a se estabelecer 0 que chamamos de “sentitento modemo da inBincia", com 0 apego 4 infincia © si pariculaidade, no mais por meio da ditagioe da brncadeia, mas sim do interese pscolpco € da preocupacio mora ‘Casey (1992) mostra como, a partic da Renascenea, comes ss ocotrer na grande trnsformagio com a pivazagio do espaco oméstico que vai colocat uma éafise maior no individao © na familia, Até a arqsitetara doméstica comeca a valorizar esta A srg do ering oo dco sil pcan 19 separacio, pela invengio da especializacio dos cémodos da separacio da érea utlizada pelos empregados © pela familia. A ‘casa aberte", onde siditas se integeavam numa relagio de patronagem com o senior feudal, deixa de existe em fungi de luma afmagio maior da prvacade doméstes, com a mudanca dos locas de tabalho pars lnge das resins ‘Até envio, no mundo antigo, a crianga tinha om relacionamento especial com 2 comunidade e no com os pais, € 8 pessoas assumiam posigdes de poder em idade prematura, tormando-te adukor desde muito cedo. A pati da cferenciagio entre 0 espago piblico e privado,a familia te estabelece como um grupo coeso ea infincia omega a ser vista como um pesiodo de Preparacio para fursta. ‘Baaite (1985) suger, ao ens, que mesmo no séelo XVI familia, embora dference da medieval, nio pode ser considerada uma fama moderna, earacterzada pele ternurae 2 intimidade que ligam os pais aos filhos. A crianga sinda ocupa uma posigio insgnificante na familia, endo considesida muitas vezes um estorvo, visio advinda do pensamento agostiniano que coloca fnfase na imagem negativa da infineia, que se reaciona & teoria do peeado original Conforme os reélogos da épocs, a0 nascer 3 ‘crianga € um simbolo do mal e a Redencio passa pela lua contra 4 infineia, © pensamenco agostiniano de tetfieat « natuceza ccorrompida da erianga pela educagio permancce até o final do século XVI, recomendando aos pais urna atiude rigorosa em ‘elagio 308 flhos, sem perder de vista que a Finaldade ds educagio salvar a alma do pecado, Esta concepsio dominante da infincia oa pedagogia © na teologia do século XVI banida por Descartes (1983) que arma ‘que infincia no € 2 casita do pecad, nas sim do erro. Para le, a crianca est sob total dependéncia das impresses advindas dlo corpo, desprovida de dscernimento e de etca€ 20 se deixar imine pelessensngdes de prazer¢ de dor etthcondenada ao erro perpétua. Coma a opinides adquitidas na infincia marcam pofundamente © homem, & preciso uma vida toda para eliminar 8 maus hibitos, 2 Sihin AbeJomro Bassin and, pens qe, como tos ns Fomos eines antes Ae sermos homens, ame fo preciso por mito tmp Seros fovernados por netics petites nosiospreceptores que erm amide Contos une aos outer, ee, dem wns em outos, nem Sempre, falver nos aconselhasem o mor € uae impose que nosos jens ‘jim Ho pros on to dos como seam, erssemtos 00 ino ‘de nossa tata desde o nicimentae eno vssemes Sido guindos seado por da Tbsp 35) Como assinala Badnter (1985), mesmo que pars © povo em _gecal ea imagem tigi da infinia como a concebiam eélogos, ppedagogos ¢ fildsofos, nfo fosse a mais fxada, a crianga era oniderada um estorvo, A autora demonstra como na Franca do séeulo XVII era comum o hibito de entegaeeeangas a amas-de- Tete, que mmitas veres dexavam de amamentar seus propos filos para seem remoneradas ap amamentar 0s flhos dos outros, Esta piitica no se resting as eamadas mas abastadas da populaeio, ‘mas eta diseeminada entre a sociedade como um todo, contibuindo para o ato indice de mortlidade infant, j4 que © alcitamento materno cra uma garania de sobrewivénca do bebé Por out lad, a auséncia de uma medieins infantil, que 56 se constiuin como especaldide no século XIX, sponta para © dlesinteresse sobre a crianga, que era confiada a eurandeizos. Donzelot (1986) indica como a medina, até 2 metade do século [VIL nepigenciava crangse © mulheres, eelegando o parto © as dloengas infants a uma categoria inferior rotulada de “coisas de comadre”, indicando priticas compartilhadas pelas mies e domésticas, desprezads pela medicna tradicional, Badinter (1985) e Arts (1978) demonstram que esta atitude 6 se modifica « par de um diseuso pedagégico © econdmico fo final do sécvlo XVII. Arés propde duasabordagens distintas para a compreensio desta mudanga. A primeira se refere 20 aparecimento da escola como meio de educagio, substinindo a aprendizagem informal, a partis do movimento de moralizagio promovido pelos reformadores casicos protestantesligados a lei, 3 Kis © a0 Estado. A segunda 20 aparecimento da fri rmovderna, que 20 se tomar o gar de afigZo necessiia entre cd ‘A iserigio de raga no dices oil pions a jugese entre pais e fb, seforea este movimento de escolarisa- ‘0, pois exprime sua afigia mediante a importincia atibuila & fedueaglo, Este aovo lugar dado a cianga tem como efeito 0 ap recimente da eriangaescolr ede um ideal social de normatizagio, Badiner (1985) ress © peso do discuso econémico que sponta pera a importincia da populacio para um pais. Ao se preocuparem com a produsio, os economists aribuem 4

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