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10. O império se expande cada vez mais A situagao atual do mundo nao tem precedentes. Os grandes impérios globais que conhecemos, como o espanhol, nos séculos xvie xvi, e principalmente o britanico, nos séculos xix e 2% tém pouca similaridade com o que vemos hoje no império americano. Vivemos em um mundo tao integrado, no qual as operagoes cotidianas sdo tao interligadas, que qualquer interrupeao —como a Sindrome Respiratéria Aguda Severa (SARs), por exemplo — provoca conseqiiéncias que, em questao de dias, expandem-se a partir de fontes desconhecidas, na China, para transformar-seem fendmenos mundiais. Os efeitos negativos sobre o sistema de transporte internacional, sobre as reunies internacionais ¢ as organizagbes que os realizam, sobre os mercados globais e mesmo sobre as economias dos paises desdobraram-se com uma veloci- dade impensdvel em qualquer periodo anterior. enorme o poder da tecnologia, em constante revolugao na economia ¢ sobretudo na forca militar, onde esse fator & hoje mais decisivo do que em qualquer outro momento. O poder poli- tico em escala global requer, nos nossos dias, um pais extrema- 152 rande que detenha o dominio dessa tec do tamanho nao era pertinente; 1 império do seu tempo, e mente questo ‘nologia. Antes, a - 4 Gra-Bretanha, que dirigi o MBO! a apenas um pais d anho médio, mesmo para os padrdes dos séc los aks a Noséculo XVI @ Holanda, que tem as mesmas dimensdes da Sus- ,tornou-se um ator mundial, Hoje seria inconcebivel que um ais que nao seja um gigante em termos relativos—por mais rico etecnologicamente avangado que seja— pudesse tornar-se uma poténcia global. Apolitica da nossa época é de natureza complexa, Os Estados racionais ainda s4o dominantes — o tinico aspecto da globaliza- éoem que a propria globalizagao nao funciona —, mas trata-se deuma forma peculiar de Estado, no qual quase todos os habitan- tescomuns tém papéis importantes. No passado, os que tomavam asdecisbes geriam os paises com muita independéncia em relacao ao que pensavao grosso da populacao, eno final do século xixeno inicio do xx 0s governos podiam mobilizar 0 povo, o que hoje,em comparagio, ¢ praticamente impensével. Por outro lado, o que a populagao pensa ou esta disposta a fazer é atualmente mais rele- vante para eles do que no passado. A grande novidade do projeto imperial americano esté em que todas as demais grandes poténcias ¢ impérios sabiam que nao cram 0s tinicos e nenhum deles visou a dominagao global. Ne~ hum seacreditava invulnerdvel, mesmo os que se se viam como o centro do mundo — como a China, ou o Império Romano no seu auge, A dominagdo regional era perigo maior para o sistema de relagdes internacionais em cuja vigéncia vivemos até o fim da Guetta Fria, Nao se deve confundir oalcance global, quese tornou Possivel desde 1492, com a dominagao global. O Império Britanico do século x1x foi o tinico verdadeira- Mente global, no sentido de que operava em todo o planeta, Nessa medida, cle 6 um possivel precedente do império americano. Os 153 russos sonharam, no perfodo comunista, com um mundo trans. formado, mas sabiam bem, mesmo no zénite do poder da Uniao Soviética, que a dominagao mundial estava fora de alcance e, ag contrario da ret6rica da Guerra Fria, nunca tentaram seriamente atingi-la. ‘Mas as diferencas entre as ambiOes atuais dos Estados Uni. dos eas da Gra-Bretanha de um ou dois séculos atras sao flagran- tes. Os Estados Unidos sao um pais fisicamente vasto, com uma das maiores populagdes do mundo e que, 20 contrario do que ocorre na Unido Européia, ainda esté em crescimento devido a uma imi- gracio quase ilimitada. Hé também diferengas de estilo. O Impé- rio Britanico no seu auge ocupava e administrava a quarta parteda superficie do globo. Os Estados Unidos nunca praticaram um ver- dadeiro colonialismo, exceto durante um breve perfodo em que o colonialismo imperial esteve em moda, no final do séculoxixeno inicio do xx. Os Estados Unidos operavam com paises dependen- tes ¢ satélites, sobretudo no continente americano, onde pratica- mente nao tinham competidores. Ao contrario da Gra-Bretanha, desenvolveram, no século xx, uma politica de intervengdes arma- das nesses paises. Como o instrumento decisivo dos impérios mundiais ante- riores eraa Marinha, o Império Britanico tomou bases maritimas epostos de abastecimento estrategicamente importantes por todo ‘o mundo. £ por isso que a bandeira britanica tremula, até hoje, de Gibraltar a Santa Helena eas ilhas Malvinas. Fora do Pacifico, os Estados Unidos s6 comesaram a sentir necessidade desse tipo de base depois de 1941, eas obtiveram por meio deacordos com o que na €poca podia chamar-se legitimamente uma coalizao consen- sual. Hoje a situagao é diferente. Os Estados Unidos perceberam a necessidade de controlar, direta ou indiretamente, um numero muito grande de bases militares. Ha diferencas importantes quanto a estrutura interna do pals 154 ee scans ati i coogi. oO tee Britanico tinha um nico mas aounivesa, embora a propaga ipém indicasse motivagoes altruisticas, Desse modo, a abolicdo go wc de esetavos foi usada como jusiictivaparay vide britanicos assim come! os direitos humanos sio hoje utiliza. dos com frequéncia pata justificar 0 poder militar dos Estados tnidos-Por outro lado, os Estados Unidos, comoa Fransaea is, 4g evolucionaias, sio uma grande poténcia que tem por base una revolugio universalista— e, por conseguinte,cré que resto. domundo deveria seguir seu exemploe quedeveatéajudaraliber, tarorestodo mundo, Poucas coisas pode haver que sejam tio peri gosas quanto os impérios que buscam satisfazer seus pr6prios fins acteditando que estdo fazendo um favor a humanidade. A diferenca basica esta em que o Império Britanico, embora global (em certos sentidos ainda mais global do que o império americano de hoje, uma vez que tinha o controle exclusivo dos mares numa proporgao que nenhum pafs atualmente consegue ter do espaco aéreo), ndo visava o poder global, nem mesmo o poder territorial, militar e politico em regides como a Europaea América, O império buscava defender os interesses bésicos da Gra- Bretanha, que eram interesses econdmicos, com 0 minimo de interferéncia possivel. Sempre teve consciéncia das limitagdes do tamanho do seu territrio e dos seus recursos, apés 1918, tornou- seagudamente consciente do seu declinio como império. Mas o império global da Gra-Bretanha, a primeira na¢ao industrial, operava juntamente com a globalizagao, que o desen- volvimento da economia britanica tanto fez avangar. O Império Britanico era um sistema de comércio internacional no qual a indistria que se desenvolvia na metr6pole contavaessencialmente com aexportacéo das manufaturas para os paises menos desenvol- Vidos. Em troca, a Gra-Bretanha tornou-se 0 maior mercado importador de produtos primérios de todo o planeta ¢, 20 deixar Propésito queera nda naturalmente 155 de sera fabrica do mundo, transformou-se no centro do sistemy financeiro global. Nao foi assim com a economia dos Estados Unidos. Elatinha por base o protecionismo das suas induistrias nascentes contra a competigao externa no seu mercado potencialmente gigantesco,o que continua a ser um elemento significativo da politica ameri cana, Quando a industria do pais se tornou globalmente domi- nante, o livre-comércio passou a ser-lhe conveniente, como havia sido para os britanicos. Mas uma das fraquezas do império ameri- cano do século xt esté em que, no mundo industrializado de hoje, aeconomia dos Estados Unidos jé nao é dominante como antes.0 que o pais importa em quantidades enormes sao as manufaturas do resto do mundo, e por causa disso a reagao dos interesses eco- némicos ¢ dos eleitores continua a ser protecionista. Hé uma con- tradi¢go entre a ideologia de um mundo regido pelo livre-comér- cio controlado pelos Estados Unidos ¢ os interesses politicos de elementos significativos que, dentro dos Estados Unidos, sentem- se enfraquecidos por cla. Uina das poucas maneiras pelas quais essa fraqueza pode set superada é a expansio da producao e venda de armas. Essa é outra diferenga entre o Império Britanico ¢ o americano. Especialmente apartir da Segunda Guerra Mundial, a quantidade de armamen- tos nos Estados Unidos em tempo de paz tem se mantido com constancia em nfveis extraordinarios, que nao encontram prece- dente na historia moderna. Essa pode sera razdo paraapermanén- cia do que o presidente Dwight Eisenhower denominou o “com- plexo industrial militar”, Durante os quarenta anos da Guerra Fria, 0s dois lados falavam e agiam como se uma guerra estivesse em curso oua ponto de comecar. O Império Britanico alcangou0apo- geu no transcurso de um século (1815-1914) sem grandes confli- tos internacionais. Além disso, apesar da despropor¢ao evidente entre o poderio dos Estados Unidos e da Unio Soviética, o impeto 156 escimento da industria bélica americana de te desde antes do fim da Guerra Fria, mais forte pater até agora ‘AGuerta Fria deu aos Estados Unidos a he ocidente. Mas iss0 se dava sob a forma da chef NaohaviailusOesa respeito da correlacao de: forsas. Opoderestava em Washington em nenhum outro ugar, Nesse sentido, a Europa reconhecia, jé entao, a légica de um império global dos Estados Unidos. Porém, hoje, o governo americano reage contra fato de queoimpérioamericano ¢ seus objetivos é nao sio genuinamente aecitos.A coalizao consensual jé nao existe, Na verdade, tornou-se muito © Prosseguiu sem se Bemonia sobre 9 a de uma alianca, i apolitica atual dos Estados Unidos é mais impopular do que a de qualquer governo americano no passado e provavelmente do quea de qual- quer outra grande poténcia em todos os tempos, Os americanos lideravam a alianga ocidental com um toque de cortesia tradicional nos assuntos internacionais, quando mais nao seja porque Os europeus estavam na linha de frente da luta contra 0 Exército soviético, mas eles insistiam em que a alianca devia estar permanentemente atada aos Estados Unidos em razio dadependéncia da tecnologia militar americana;e persistiramem sua oposigao sistemética a que a Europa tivesse um potencial mili- tarindependente. As ratzes da fricg4o duradoura entre osamerica~ nos ¢ 0s franceses, que existe desde os tempos de De Gaulle, esto narecusa francesa em aceitar como eterna umaalianca entre Esta- dos ena sua insisténcia em conservar um potencial independente Para a produgao de equipamentos militares de alta tecnologia. Mas, apesar de todas as suas tenses, a alianga era uma coalizio consensual auténtica. © colapso da Unido Soviética deixou os Estados Unidos na Condigao efetiva de wnica superpoténcia, que nenhum outro Poder podia, ou sequer queria, desafiar. Nao é facil comer Por que os americanos comecaram de repentea alardear seu pocst 157 de maneira tao extraordindria, cruel ¢ antagonistica, ainda mais quando isso nao corresponde nem as politicas imperiais compro- vadamente eficazes que foram desenvolvidas durantea Guerra Fria nem aos interesses da propria economia dos Estados Unidos. As politicas que tém prevalecido ultimamente em Washington pare. cem tao loucas para quem as olha de fora que é dificil entender quais seriam suas verdadeiras intengdes. Mas éevidente que aafir- magao publica da supremacia global por meio da forga militar éo que esta na mente das pessoas que atualmente tém o dominio, ou pelo menos um semidominio, das decis6es politicas em Washing- ton. Seus propésitos permanecem obscuros. £ possivel que tenham éxito? O mundo é demasiado com- plexo para que um tinico pafs possa dominé-lo. E, com excegao da sua superioridade militar em armamentos de alta tecnologia, os Estados Unidos contam com trunfos decrescentes, ou potencial- mente decrescentes. Sua economia, embora grande, representa ‘uma proporgao decrescente da economia global é vulneravel tanto no curto quanto no longo prazo. Imagine se amanhi a Orga- nizacdo dos Paises Exportadores de Petréleo resolver trabalhar suas contas em euros ¢ nao em délares. ‘Ainda que os Estados Unidos conservem algumas vantagens politicas,a maioria delas foi jogada pela janela nos tiltimos dezoito meses. O pais dispée dos trunfos menores resultantes da domi do da cultura mundial pela cultura americana e pela lingua inglesa. Mas 0 trunfo principal para os projetos imperiais, no momento, éo militar. O império americano nao tem competidores no setor militar e isso deve prosseguir no futuro previsivel. Tal situacao nao significa que essa vantagem seré absolutamente deci- siva, s6 porque ela é decisiva em guerras localizadas. Mas na pratica ninguém, nem mesmo os chineses, tem condig6es de competir com © nivel teenolégico dos americanos. Impoem-se aqui considera- es cuidadosas sobre os limites da superioridade tecnolégica. 158 fdaroque os americanos, ‘eoricamente, n&o querem, Ocupar undo jnteiro.O que eles querem éira. Buerra, col OF. gsno poder evoltar para casa. Masisso nio vai sn pramente militares « Guera do Iraque ero ascomo ss éxito foi puramente militar gg. 05 spectos relativos ao que se deve fazer quai ge governé-l0,supri-lo e conserva ‘Ocar governs funcionar.Em foi um grande snegligenciaram. indo se ocupa um ‘ ‘©, Como 0s britanicos fize- fansno modelo colonial cléssico da India. Omodelode'demorrs, gq? queosamericanos quetem oferecer ao mundo através do rs, queéum nao-modelo ¢ nao tem relacdo com o fim Proposto, A crenca de que os Estados Unidos nao precisam de aliados auténti- cosentre os demais paises nem de apoio popular auténtico nos pat- sesque seus: soldados conquistam (mas nao conseguem governar) éuma fantasia. AGuerrado Iraque éum exemplo da frivolidade do processo detomada de decisdes dos Estados Unidos. O Iraque é um pais quefoiderrotado pelos americanos ese recusoua prostrar-se,Um pais to enfraquecido que podia ser derrotado com facilidade. Ele possui algo de valor — o petréleo —, mas a guerra foi basica- mente um projeto para mostrar poder perante o mundo. A polf- tica de que estdo falando os malucos de Washington, uma refor- mulagéo completa de todo 0 Oriente Médio, nao faz sentido. Se eles planejam derrubar o reino saudita, 0 que é que vao por no lugar? Se realmente querem mudar 0 Oriente Médio, sabemos que o que mais precisam fazer é pressionar Israel. O pai de Bush estava disposto a fazé-lo, mas 0 atual ocupante da Casa Branca io est4, Em vez disso, seu governo destruiu um dos dois Estados garantidamente seculares do Oriente Médio ese prepara para gir contra 0 outro, a Siria. A vacuidade dessa politica fica clara pela maneira como os objetivos foram descritos em termos de relagGes puiblicas. Expres- s8es como “eixo do mal” ou “mapa do caminho” nao constituem 159 linhas politicas, e sim simples sons que encerram seu préprig potencial politico. A linguagem artificial onipresente que tem inundado o mundo nos tiltimos dezoito meses € uma indicagao da auséncia de uma politica efetiva, Bush nao faz politica, e sim uma apresentagio de palco. Dirigentes como Richard Perle ¢ Paul Wol- fowitz falam como Rambo, tanto em publico quanto em privado, ‘A inica coisa que importa € 0 poder avassalador dos Estados Uni- dos, Em termos reais, eles querem dizer que os Estados Unidos podem invadir qualquer pais suficientemente pequeno para con- quistar vit6rias répidas. Isso nao é uma politica. Nem vai funcio- nar. As consequiéncias dessa situagao para os Estados Unidos serao muito perigosas. Internamente, 0 perigo real que corre um pais queselangaao controle do mundo por meios essencialmente mili tares é sua propria militarizacao. Esse perigo tem sido seriamente subestimado. Do ponto de vista internacional, o perigo éa desestabilizacao do mundo. O Oriente Médio é apenas um exemplo disso: muito mais instvel agora do que dez ou mesmo cinco anos atrés. ago dos Estados Unidos enfraquece todos 0s arranjos alternativos, formaise informais, para a manutengao da ordem. Na Europa,ela afundoua Organizacao do Tratado do Atlantico Norte, o que no chega a ser uma grande perda. Mas tratar de transformar a OTAN no agente policial global em prol dos Estados Unidos é uma des- facatez. A agao americana sabotou deliberadamente a Unido Européiae visa sistematicamente arruinar outra das grandes con- quistas mundiais dos iltimos sessenta anos — os sistemas de bem-estar social, présperos e democraticos. A crise amplamente noticiada em torno da credibilidade das Nagdes Unidas é muito menos dramética do que parece, uma vez que a ONU nunca foi capaz de operar de maneira mais do que marginal, devido a sua total dependéncia do Conselho de Seguranca e do poder de veto dos Estados Unidos. 160 Como pode o mundo confrontar— ou conter— 03 Estados Unidos? Alguns, acreditando nao ter poder para confronté-los, “eferitam aderit. Mais perigosos ainda sio os que detestam , jdeologiado Pentgono,mas ‘apdiam 0 projeto americano acredi- tando que seu avango eliminard injusticas locais eregionais, Isso ode ser chamado deimperialismo dos direitoshumanosefoiali- entado pelo fracasso da Europa nos Balcds, na década de 1990, a divisfo da opinio publica quanto & Guerra do Iraque mostrou que existe uma minoria de intelectuais influentes, que inclu Michael Ignatieff nos Estados Unidos e Bernard Kouchner na Franga,queestava disposta a apoiar a intervencao americana por- que acreditava ser necessario o uso da forca para remediar os males do mundo. & perfeitamente possivel afirmar que existem governos tao ruins que seu desaparecimento serd um beneficio para o mundo. Mas isso nunca podera justificar 0 perigo global trazido pela criagao de um poder mundial que basicamente nao tem interesses especificos em um mundo que nao chega a com- preender, mas tem a capacidade de intervir militarmente de ma- neira decisiva onde quer que alguém faca algo que Washington nio aprecie. Contra esse pano de fundo, pode-se ver a pressdo crescente sobreaimprensa, porque,em um mundo em queaopinido piblica conta tanto, ela também sofre enormes manipulagées. Durante a Guerra do Golfo, em 1990-91, fizeram-se tentativas de evitar a situacdo criada na Guerra do Vietna, impedindo a presenga da imprensa nas proximidades da agao bélica. Mas elas néo tiveram {ito porque a imprensa, como a CNN, por exemplo, jé estava em Bagdé, relatando historias que nao se enquadravam nos cenérios queWashington queria divulgar. Desta vez, na Guerra: do Iraque,0 controle novamente nao funcionou, razao pela qual a tendéncia seré buscar maneiras mais efetivas de agir. Flas podem tomar forma de um controle direto, ¢ até 0 iltimo recurso do controle 161 tecnologico, mas a agfo conjugada dos governos e dos donog monopolistas dos meios de difusdo sera empregada para produyi, efeitos ainda maiores do que os obtidos com a Fox News, oy Por Silvio Berlusconi na Itélia. Eimpossivel prever a duragao da atual superioridade amerj. cana. A tinica coisa da qual temos certeza absoluta é que se trata de um fendmeno historicamente temporério, como ocorreu com todos os impérios. No perfodo de nossa vida vimos 0 fim de todos osimpérios coloniais,o fim do chamado império dos milanos dos alemaes — que durou apenas doze —¢ 0 fim do sonho da Unio Soviética de liderar uma revolugdo mundial. Existem razoes internas pelas quais o império americano pode nao ser duradouro, ¢ a mais imediata delas é que a maioria dos americanos nao est interessada no imperialismo e na domi- nacio mundial no sentido de governar o mundo. O que interessaa eles éo quelhesacontece dentro dos Estados Unidos. A fragilidade da economia americana é tal que em algum momento tanto 0 governo quanto os cleitores americanos chegardo a conclusio de que é muito mais importante concentrar os esforgos na economia do que continuar a fazer aventuras militares no exterior. Ainda mais porque essas intervengdes militares terao de ser pagas sobre- tudo pelos contribuintes americanos, o que no ocorreuna Guerra do Golfo nem, em grande medida, na Guerra Fria. Desde 1997-98 estamos vivendo uma crise da economia capi- talista mundial. Ela nao entraré em colapso, mas, apesar disso, nao é provavel que os Estados Unidos consigam prosseguir com seus ambiciosos projetos internacionais e lidar, ao mesmo tempo, com sérios problemas internos. Inclusive para os padrdes dos pequenos negécios locais, Bush nao tem uma politica econdmica adequada para os Estados Unidos. E a atual politica internacional do seu governo nao € particularmente racional nem para os interesses imperiais americanos, nem para os interesses globais, nem, com 162 era pata os interesses do capitalism americano, Dai vém a rgncias de opiniao no seio do governo dos Estados Unidos. i ‘Aquestao-chave domomento é:o. ‘uevao fazer osamericanos a ¢ como 08 OUtTOS Pafses Vo reagir? Algun Gaa-Bretanha, 0 inico membro auténtico da co, _ continuar40 a apoiar tudo 0 que os Estados Unidos lanejarem? gssencalmente, seus governos devem indicar quehalinites pare» que os americanos podem fazer com seu poderio. A contribuigao mais positiva até agora foi feita pelos turcos,. ‘que simplesmente dis- seram que ha coisas que eles nao esto dispostos a fazer, mesmo sabendo que valeria a pena. Mas, neste momento, a Preocupacao maior é,se nao a de conter, pelo menos a de educar, ou reeducar,os Estados Unidos. Houve um tempo em que o império americano reconhecia a existéncia de limitagSes, ou pelo menos a convenién- ciadecomportar-se como se tivesse limitagdes. Isso se devia basica- menteao fato de que tinha medo de alguém mais —a Unio Sovié- tica, Na auséncia desse tipo de medo, € preciso que o interesse proprio esclarecido ea cultura tomem seu lugar. cet dive s deles — como a alizao dominante 163

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