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Revendo a Genealogia Pereira I- Dos Pereira da Casa da Feira aos Pereira Sarmento de Lacerda, dos Acores IL - Pereira de Lacerda - Apontamentos genealigicos sobre as suas origens Oscar Caeiro Pinto Pinto, Oscar C. (2010), Revendo a Genealogia Pereira. Boletim do Instituto Histérico da Iiha Tereeira, LXVII e LXVIII: 185 a 224. Como quando a tuz do Sol mais pura Que segue a parda nuvem, nos anuncia Em sempre feliz raio 0 desengano, Tal do Pereira a fama se assegura E a protege a tua pena e porfia Da inveja, do édio ¢ do engano.* Excerto de um soneto de D. Fradique da Camara, publicado por Rodrigo Mendez Silva Lusitano, Vida y hechos heroicos del gran Condestable de Portugal D. Nutio Aluarez Pereyra Conde de Barcelos. de Orem. de Arrovolos. Mayordomo, Mavor del Rey Don Tuan el primeira: con los Ar oles y decendencias de los Emperadores. Reyes, Principes, Potentados, Duglue]s Marqueses. Condes que del se deriuan, al Ex.mo S.or D, Luiz Mende: de haro Sotomayor Guzman Conde de Morente gentil hombre de fa camara de su Mage catholica Phe 4. el grande. Cavo de la Orden militar de Santiago, Madrid, 1640. 186 Boletim do Instituto Histérico da Ilha Terceira Em boa hora chegou dos Acores o amavel convite para dar ao piiblico estes dois apontamentos de cariz genealdgico sobre a familia Pereira. Comeco por dizer que © meu interesse por este assunto nao acontece por acaso, pois diversas ligagdes familiares me prendem a esta familia — para além de descender dos Pereira de Sanfins da Beira (que algumas generosas genealogias. dizem derivar do 2° senhor da Casa da Feira) e de um ramo dos Correia de Lacerda? (que derivam do tronco dos Pereira de Lacerda), os meus filhos. por via materna, descendem dos Pereira Sarmento Forjaz de Lacerda dos Acores. Estes tltimos, segundo a tradigao gene- alégica agoriana, dizem descender por linha varonil dos Pereira senhores da Casa da Feira, aliados ainda por casamento com um outro ramo desta familia, os Pereira de Lacerda e com os Sarmento, estes provenientes da Galiza Acontece, que o entronque destes ramos secundarios instalados inicialmente na ilha do Faial nos troncos originais destas linhagens, anda muito adulterado nas fontes genealdgicas, fruto de etros copiados sucessivamente ao longo de séculos. Tudo indica que este engano tenha o seu principio em mas interpretagdes de pa- rentesco referidas numa justificagaio de nobreza quinhentista. Numa justificagao de 1542 as testemunhas inquiridas aproximaram parentescos, informando por exem- plo, com pouco rigor, que “se dizia” que Goncalo Pereira “era Irmao do Conde da Feira o Velho” Rui Pereira, quando na verdade seria provavelmente irmao do avd deste conde, como vamos tentar demonstrar nestas linhas, Nas primeiras geragdes dos Pereira do Faial e nas testemunhas ouvidas nas justificagdes, corria a tradigao que eram provenientes por varonia de um ramo da Casa da Feira, mas 0 pecado genealégico das testemunhas e desta familia foi transformar um vago parentesco de meméria que corria no seio familiar e publico, numa ligac&o precisa. O erro na determinagao do parentesco que para muitos ganha contomos de falsidade, para nos prende-se mais com um fendmeno muito comum nos ramos secundarios de velhas linhagens, que sem o prestigio dos troncos principais. tentam sempre beber da fonte original. Como se constata, os Pereira do Faial tinham um grande orgulho de serem parentes dos Pereira senhores da Terra e Casa da Feira (depois condes da Feira), grandes representantes desta familia alargada, tanto orgulho que aproximaram ainda mais o grau de parentesco. Sabemos que os prdprios condes da Feira nfo negavam este parentesco com os distantes primos agorianos, pois ja douto e sério cronista agoriano Gaspar Frutuoso, que viveu entre 1522 e 1591 nao estava ligado a esta familia, ao falar dos Pereira Sarmento do Faial, atesta na primeira pessoa que 0 “Conde da Feira os tratava por parentes”. Os Pereira do Faial, usaram e abusaram do referido parentesco, tirando alguns beneficios como vamos ver. Recentemente, genealogistas com outras intengdes, usando do pretexto de mos- trarem duas impossibilidades cronoldgicas nos ascendentes continentais desta gente + Pinto, Oscar Caeiro. «Os Correia de Lacerda de Sernancelhe, Representados num Ex-Voto», in Beira Alta, vol. LXV, n* 3 €4, 2006. Revendo a Genealogia Pereira 187 do Faial, escreveram um ensaio? pouco construtivo, com lacunas, cujo principal objectivo é simplesmente insinuar sem provas. Estes tentam a todo custo confundir os Pereira da ilha do Faial com uns descendentes de um Gongalo do Pereiro* da ilha do Pico. As verdadeiras motivagdes do referido ensaio foram recentemente clarificadas num ensaio resposta’ que recomendamos. Ao revisitar as genealogias destes Pereira é pertinente efectuar todo um exercicio de revisto, corrigindo e apontando novas e plausiveis propostas de entronque. No fundo, esta contribuigao genealégica é apenas uma proposta de trabalho que tenta apurar a ligagao de parentesco mais correcta com a Casa da Feira e com os Pereira de Lacerda de Serpa, assim como desmistificar algumas consideragdes sobre as origens dos de Lacerda em Portugal. Mantel Lamas de Mendonea e Miguel Maria Telles Moniz Cérte-Real, Ensaio ao redor de Perei- ra Forjaz ¢ Pereira Forjado, Lisboa, Universidade Lusiada, 2009. + http://www geneall net/P/per_page.php?id=1305997 5 Jorge Forjaz e Antonio Omelas Mendes, Ensaio sobre o «Ensaio»: Pereiras «forjados» ou Men doncas enlameados?. Lisboa, ed. dos autores, 2010. DOS PEREIRA DA CASA DA FEIRA AOS PEREIRA SARMENTO DE LACERDA, DOS ACORES D.GONCALO PIRES PEREIRA, chamado “o Liberal”, senhor da honra de Pereira, teve “gram casa e estado” e certo dia “estamdo em Pereira, deu sessenta cavallos e fidallgos que eram chegados a elle”. Foi Freire comendador da Ordem do Hospital (1271), Comendador de Pandias (em 8.11.1314)° Filho de D. Pedro Rodrigues de Pereira, valido do rei D. Sancho I. rico-homem, tenente de Trancoso e Viseu (entre 1180-1183) ¢ de Maria Pires Gravel, neto patemno de Rui Goncalves de Pereira’, 1° senhor da quinta e ® Humberto Nuno Lopes Mendes de Oliveira et alii (coorden.). Olhares de hoje sobre wma vida de onten: Nuno Alvares Peretra: homem, heréi e santo, Lisboa, Universidade Lusiada, 2009. Sobre a sua primeira mulher. um dia chegow-lhe a noticia de que a mulher, que estava no Cas- telo de Lanhoso, 0 atraicoava com um frade do Bouro, Corren 1, fechou as portas do castelo e “queimou ela e o frade e homens, mulheres e bastas, ¢ cies e gatos e galinhas e todas coisas vivas, ¢ queimou a camara (o quarto de dormir) e panos de vestir e camas e nio deixou coisa ‘mével”. Perguntaram-Ihe porque é que queimara toda a gente, ¢ nto apenas os adiilteros. E que, explicot ele, aquela maldade durava havia dezassete dias; os outros habitantes do castelo alguma suspeita deviam ter e, apesar disso, nao o preveniram do que se passava (Tosé Hermano Saraiva, Histéria concisa de Portugal), 190 _ Boletim do Instituto Histérico da Iha Terceira honra de Pereira (donde retirou o apelido de familia), situada na freguesia de Esmeriz e de sua segunda mulher Sancha Henriques de Portocarreiro. bisneto paterno de Gongalo Rodrigues * “da Palmeira” ®, senhor do couto de Palmeira ¢ fundador do mosteiro de Landim (filho do conde D. Rodrigo Forjaz! de Trastamara, que serviu o conde D. Henrique. sendo da importante linhagem dos Trastamaras asturianos) Ce." URRACA VASQUES PIMENTEL, filha do meirinho-mor Vasco Martins Pimentel e de Maria Anes de Forelos, neta paterna de Martim Femandes Pimentel e de Sancha Martins de Riba-de-Vizela, neta materna de Joao Martins de Fornelos ¢ de Urraca Fafes de Lanhoso. Teve bastardos de MARIA VASQUES. Filhos: 2 Rui Goncalves Pereira, que segue. 2 Vasco Gongalves Pereira, cavaleiro, meirinho-mor de Entre-Douro-e- Minho (1324-1327). Cc. Inés Lourengo da Cunha, filha de Lourengo Martins da Cunha e de Maria Anes de Louza, neta patema de Martim Lourengo da Cunha e de Sancha Garcia de Paiva. Filho: (entre outros) 3° Rui Vasques Pereira, vassalo do infante do D. Pedro (1355), senhor de Baltar e Arco de Batilhe (20.2.1372). A 21.11.1362 teve carta de ‘Tomara parte numa expedieao contra os Monros, mas quando chegou a altura de repartir o saque entre os cavaleiros achou que Ihe davam menos que o devido e insultou quem fazia a divisao chamou-lhe Zantasma, querendo com isso dizer que 0 via sempre na posigao de vencedor, mas nunca na de combatente. Um cavaleiro do injuriado quis desafronti-lo, mas Gongalo Rodrigues, com uma espadeirada, fendet-o dos ombros 4 cintura, Tsto era punido com pena de morte, ¢ 0 assassino fugiu para Portugal, onde D. Sancho II lhe deu o couto de Palmeira” (José Hermano Saraiva, Historia coneisa de Portugal). Mordomo-mor da rainha D, Tereza (1114), tenente de Vermoim (1128-46), de Penafiel de Bastugo # Refoios de Riba de Ava (1146). Este medieval patronimico Forjaz, indica que é filho de um Froio Bermudes de Trastémara. Acon- tece que este nome de origem patronimica nfo se fixou como a maioria dos patronimicos e niio foi transmitido continuadamente, Os representantes da familia Pereira em Portugal, os condes da Feira, senhores da Casa da Feira, tiveram a iniciativa no séc, XVII de acrescentar ao apelido da linhagem uma espécie de cognome que lembrasse o fundador dos Pereita em Portugal, D. Rodrigo Forjaz de Trastimara. A ideia de reviver este nome foi depois copiada por Varios ramos varonis da familia Pereira, como por exemplo os Pereira Sarmento de Lacerda dos Acores e 08 Pereira de Sampaio, de Coimbra que no sée. XVIII passaram a juntar ao antiquissimo apelido Pereira recente Forjaz. que hoje os identifica. Actualmente 0 nome Forjaz é sempre um sinénimo de ser Pereira! Felgueiras Gayo, Nobilidrio de Familias de Portugal, tit.de Peveivas, § 123°.

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