You are on page 1of 6
PERSONAGENS DA LITERATURA INFANTIL: contribui¢ao para 0 desenvolvimento das habilidades socioemocionais CHARACTERS FROM CHILDREN’S LITERATURE: Contribution to the development of social-emotional skills Camila Costa! Marguit Carmem Goldmeyer® RESUMO: O presente artigo abordara a influéncia de personagens de livros infantis (Suspense, aventura e romance) nodesenvolvimento das habilidades socioemocionaisem ariangas de uma turma do” anode uma escola particular da Grande Porto Alegre, Destacaremos a contribuicao da literatura infantil para o desenvolvimento da autonomia e da empatia. As historias servem como fontes de identificagao com os personagens e suas intrigas, vvividas nas tramas, e podem ajudar as criangas na resolugio de problemas do otidiano, estimulando-as aoentien- tamento de afetos mais assustadores. Dessa forma, apresentaremos propastas de como esses conflitos podem ser tabalhados a partir das historias infantis. Tudo isso embasando-se no dialogo promovido com tebricos da area da literatura infantile dos que se dedicam ao estudo do desenvolvimento das habilidades socicemocionais nos espagos educativos. Palavras-chave : Personagens infantis. Habilidades socioemocionais. Autonomia. Empatia. ABSTRACT: This article addresses the influence of characters from children's books (suspense, adventures and novels) in the development of social-emotional skills among children in a 4* grade class of a private school in Porto Alegre. We highlight the contribution of children’s literature to the development of autonomy and empathy. ‘The stories serve as sources of identification with the characters, while the twists and turns of the plots may help children in the resolution of everyday problems, encouraging them to face scary emotions. Thus, we present proposals ‘on how such conflicts can be dealt with from the perspective of children’s stories, while at the same time drawing, upon the work of theorists in the field of children’s literature and the development of sociahemotional skills in ceiucational spaces. ‘Keywonls: Child characters. Social-emotional skills. Autonomy. Empathy. LINTRODUGAO Pela dinamica vivida no expago escolar, percebe- se que nao s30 poucos os desatios didrios enfrentadcs pelos educadores: ensinar, estimular para oestudo, para pesquisa, aprendizagem colaborativa, mediar dislogos «, principalmente, zelar pelos principios da educacio humanizadora. Nesse contexto, a reflexao acerca do sig- nificado do desenvolvimento das habilidades socioemo- ionais no espago escolar toma-se fundamental. As habilidades cognitivas e nao cognitivas (tam- ‘bém conhecidas como socicemocionais) deve estar inseridas de forma integrada no curriaulo. Além dos contetidos definiddes pela escola, ligados as diferentes reas do conhecimento, os alunos precisam aprender a " Graduada em Pedagogia pelo Instituto Superior de Educago Ivoti, professora no Instituto de Educagio Ivoti. E-mail: camila Jas_costa@yahoocom-br: Cuniculo Lattes: htp:/ ates. crpaybr/2053564415379923. * Doutora cm Teologia pela Escola Supericr de Teckcgia - So Leopoldo, professora no Instituto Superior de Educaglo Ivoti(ISED ¢ no Institu de Educagao lot. E-mail: maguit@ise.edubr. Cunsculo Lanes: http: ouscatextualienpe /ouscatextual/buscado. 46 Reis Aodimim LicenciaBacturas * hot v4*nT* p.4651 {erento » 2016 Personagens da Literatura Infantil: contribuigéo para o desenvolvimento das habilidades sodioemoconais cexpressar seus sentiments e, principalmente, a geren- ciéclos, ¢ isso 86 sera possivel se a escola oportunizar ‘um trabalho voltado para a otimizagao das habilidades ‘Na literatura infantil, encontra-se umaaliada para desenredar as complexas entranhasda dimensio huma- nna, Sua contribuigao é fundamental para o desenvolvi- ‘mento cognitivo, emocional e psiquico das criangas atra- ‘vés do incentivo fantasia, a imaginagao, a identifica- ‘so com os personagens, a descoberta dos encantos € aventuras no mundo das palavras. O vasto repertorio de possibilidades que essa oferece abre diferentes oportu- nidades para que as professores a explorem de forma ctiativa, promovendo sentidos na vida das criangas, ‘Dessa forma, a pesquisa que leva és contribui- (90es do presente artigo procura investigar as possiveis ccontribuigdes de determinados personagens dos livros infantis de suspense, aventura ¢ romance para o desen- ‘volvimento das habilidades socioemocionais dos alunas do 4° ano de 9a 10 anos. ‘A investigagao foi realizada em um municipioda Encosta da Serra Gaticha. Formou-se um grupo focal com 14 alunos de uma turma do 4" ano de uma escola da rede particular. Foram realizados quatro encontros ‘com a duragao de uma hora e meia. Para cada encon- 100, um cenario diferente foi preparado e um livro da literatura infantil foi trabalhado. Os livros selecionados abordavam diferentes habilidades socicemocionais, as quais foram percebidas, debatidas e em alguns casos vi- ‘enciadas pelos participes do grupo. Promoveu-se,com essa metodologia, a participagao ativa das criangas, € ppercebeu-se muito brilho nos olhos de quem vit! suas palavras provocarem perguntas € reflexdes. ‘Nese contexto, 0 presente artigo destacard a 1 Jevancia da literatura infantil como espago de identifi- cago das criangas com os personagens de livras € © auxilio desses na resolusdo de problemas da crianga ‘como também no desenvolvimento da autonomia e da cempatia, Assim, baseando-se na pesquisa tebrica eem- pirica, apresentaremesalgumas das muitas contribuigdes que os personagens dos livros infantis oferecem para © desenvolvimento das habilidades socicemocionais:na vvida das criangas de9 a 10 anos. 2 PELA IDENTIFICAGAO COM OS PERSONAGENS INFANTIS: O AMADURECIMENTO PSIQUICO Cativar futuros leitores é 0 compromisso de to- dos os educadores, amparados e acompanhados pelas familias. Cabe acs professores pesquisarem sobre 0 de- senvolvimento dos seus alunos para saber que tipo de Jeitura podem sugerir ou até mesmo que tipo de obra podem usar em seu planejamento. Fles passuem a tare- fade estimulare oportunizar aos alunos 0 contato com os livros, de instigar e despertar a curiosidade, o encan- tamento e a imaginagio. Geertz. 2001 apud CORSO; CORSO 2011, p. 21) salienta: (Crescer entre narrativas ~as proprias, as des pro- fessores, cokegas, pai, zeladores ¢ wirios outros tipos daquilo que Saul Bellow chamou, certa vez, sarcasticamente, de “professores de realidade””—& opal essencial da cago: “vivernos mum mar de historias". Aprendera nadarnesse ma a cons- ‘tuir historias, entender histrias, asificar histo- ras, verificar histrias, porcber o verdadeito ser- {ido das historias e usar as histérias para descobrir como funcionam ascoisaseo que elasssio,énisso ue consiste, no fundo, a esola, ealém dela toda a “cultura da educagio”. O nis da questao, 0 que © aprendiz. aprende, nao importa o que o profes sor ensine, é “que os seres humans do sentido ‘aomundo contando historias scbre ee — usando 0 ‘modo narrativo para construir a realidade”. As hristérias so ferramentas, “instrumentofs] da mer- teem prol da riacio do sentido”. E fundamental, ao viverem um mar de historias, aprender a nadar. As vezes, nada-se sozinho, em outros: "moments, pessoas nos acompanham, mas também exis- tem aqueles que ajudam e ensinam a nadar. O trabalho do professor nem sempre tem um final como nas hist6- ras, e nem sempre 0 contetido desse mar que 0 profes- sor quer trabalhar atraira todos os alunos. As historias infantis permitem aos leitores identi- ficarem-se coma histéria, com seus personagens € com 68 acontecimentos ali expostos. Todavia essas identifi- cagdes podem nao agorrer em todas as histérias lidas ou ouvidas pela crianga. Bettetheim (1980) esclarece quais sio os fatores necessirios para que uma historia [prenda a atencaio de uma crianga: Para que uma estéria realmente prenda a aten30 da ctianga, deve entretéa e despertar sua curios dade. Mas para enriquecer sua vida, deve estimu- lardhe a imaginaglo: ajuckila a desenvolver seu intelecto ea tornar darassuas emoxbes, estar har- ‘monizada com suas ansiedades e aspiragdes; re conhecer plenamente suas dificuldades ¢ aomes- ‘mo tempo, superirsolugdes para os problemas que a perturtam, Resumindo, deve de uma 36 vez re Jaciomarse com todos cs aspectas desu persona lidade e isso sem nunca menosprezar acrianga, ‘buscando dar inteiro crédito a seus predicamen- tos ¢, simultancamente, promovendo a confines ‘nelatmesma eno seu futuro (BETTELHEIM, 1980, B13). Rost Adenia Licencia&acturas © hati ev 4° n. 1» p.4651 « jareioyjunho » 2016 47 48 Camila Costa * Marguit Carmem Goldmeyer As historias devem despertar a curiosidade das cciangas, todavia elas somente enriquoceraoas suas vides se extimularem a imaginagao e ajudarem a desenvolver 0 infelecto. As emogdes deveriam torar-se claras a partir das histérias, do mesmo mado como as dificuldades e as solugées para os problemas precisariam ser reconhocidos, 'masisso nao 620 cil, pois. as criancas precisam perceber as suas emopdes e aprender a ndo ter medo de encari-las. Esse processo ser desencadeado nos momentos em que clas conversam com algném a respeito ou pelomondlogy que realizamoonsigomesmas. Nese sentido, pode-secon- cluirqueashistérias sto importantes no auxilio parasug>- rirsolug®es para os problemas que perturbam ascriangas, pois mostram que outras pessoas (personagens) também ‘viveram situagies parecidas ¢ as enfientaram. As criangas identificam-se com o patinho feio, 0 1herei, 0 inimiga, a princesa, 0 lobo e acabam sofrendo, torcendo ¢ lutando junto-com eles. ‘Aaufonomiana busca pela solucodos problemas promovera a mudanga de postura da crianga. Ela apren- deri. a assumir-se comoprotagonista da sua historia, que, se considerada “patinho feio”, questionaré, argamentara aprender as artimanhas de ser cisne pela vida afora, sem esquecer os ensinamentos do “patinho feio”. ‘No mundo da imaginagao, pode-se ir para onde se quiser e nao ha fieios para a capacidade de imaginar. "Nesse sentido, a imaginacao torna-se um aporte para a resolugio de problemas € conflitos internos das crian- cas. Ataide (1995, p. 9)ressalta a importancia da imag naga ao referenciar que: O texto produzido comane ~aquelequeé antes de ‘ud, arte literria— leva & deseoberta des aspactes, domundo que rodeia o leitoy agp sobre as foes do jntekecto Gmaginacao, serso estitico, descoberta do pe vale e do que mio vale na vida, desccberta da ‘beleza da palavra e dos valores humanos}. Observe peissonio édado camo ldo, desccbern, Eyres. [Penhos pessoais ¢ sociais. A partir da Teoria das Inteligéncias Maltiplas do ppsiquiatra Howard Gardner, percebeu-se a relagao en- tte as dimensoes das inteligencias intrapessoal e inter- pessoal eas habilidades socioemocionais. Conhecerasi mesmo e a capacidade de lidar com os outros j eam temas debatidos e estao ligadas a habilidades socioemo- ionais derivadas dessas inteligéncias, como a empatia, a cogperagaio ea conscienciosidade. A seguir, apresentaremos reflexOes acerca da cempatia e da autonomia como duas habilidades socioe- ‘mocionais, inseridas na pesquisa e, em vista disso, suge- ridas como relevantes para a acio pedagigica no con- texto educacional. 3.1 Empatia: 0 que 0 outro sente? Segundo 0 glossirio do site Educacdo panto Séatlo 21 QNSTITUTO AYRTON SENNA, 2013): “Empatia € reciprocidade afetiva ow intelectual, compreensio ‘mitua fundamental para a criagaode lagos de amizade (ou de amor. Envolve aqoes tais como clogiar, perecber 6s santimentos dos outros, negociar solupces, oferecer ajuda’, Para Del Prette e Del Prette 2013, p. 150), en- quanto classe de habilidades sociais, a empatia podeser definida como “acapacidade de compreendere sentir 0 que alguém sente em uma situagao de demanda afetiva, comunicando-Ihe adequadamente tal compreensio € sentimento”” Considerando os significados expostos, consta- tase que a empatia é a capacidade de colocar-se no Iu sgardo outro, compreender ossentimentos do outro, sen- sibilizar-secomas pessoas a volta, construindo lages de respeito ede amizade. Em uma sociedade cada vez mais Revs Aadémia LicenciaBacturas + hole v4° nlp. 4651 {erento » 2016 Personagens da Literatura Infantil: contribuigéo para o desenvolvimento das habilidades sodioemoconais individualista, a empatia ¢ ignorada por muitas pessoas que 8 pensam em si mesmas, que acreditam que nao precisam do outro para viver. Del Prette e Del Prette (2013, p. 149) asseguram que: AA importancia da empatia € tao grande que asua falta € vista com um ds fatores de comportamen- {tos antissociais € violentes, uma vez, que pessoas 1ndo empaticas serjam jmunes ao soffimento © & dor que causam nos demais. Em outras palavras, seriam incapazes de experimentar qualquer des- cconforto pelo sofiimento que produzem no outro 6 porisso, ambém nosearependem nem se sen- tem em divida pelo que fizeram. Por outro lado, se o agressor consegue apresentar um dos compo rnentes da empatia, como 0 de tomar perspectiva, colbaandose na situaeao da vitima, hi alta pro- ‘rabilidade de desistncia da agressao ou, quando perpetrada, de que manifeste arrependimento e ispesigio para a reparagiio. ‘Seuma pessoa nao consegue percebere respeitar as necessidades do outro, nao se arrependerd e nem se [preocupara com as consequéncias de suas agdes, acredi tari que as suas necessidades € interesses sempre Sera0 ‘maiores do que as dosoutros. A empatiaexige um exer cicio constante de colocarse no lugar do outro para, as- sim, construir relagdesrespeitosas e solidarias. 3.2 Autonomia A palavra autonomia desperta diferentes concep- (90es, sigificadose também sentimentosnas pessoas, Apa- rentemente, termo de facil compreensio, mas, quando é ppalavra-chave na proposta pedagigica da escola, surgem as dividas de como abordé-la no antidiano dos alunes, ‘Do ponto de vista etimoligion a palavra autono- ‘mia tem origem grega, formada pelo adjetivo autos, que significa o mesmo, ele mano, por simegno, e pela palavra ‘names, que significa lei, convengao, competéncia huma- na, Assim sendo, sujeito autonomoéaquele capazdese autogovernar, deassumir-se e de conduzirsua vida com respomsabilidade. ‘Na exola, geralmente compreende-se altuno au- t6nomo como umsujeitoativo, responsive porsta pro- pria aprendizagem, com capacidade de analisar crtica- ‘mente as informagoes € de construir seus conceitos € opiniGesa partir de conhecimentos prévies. Alguém que trabalhaem equipe compartilha conhecimentos, intera- ‘82 com outros e dissemina seus saberes. Todavia, para que ele se tome esse sujeito, precisa receber incentivoe orientagao por parte da familia eda escola, Em um aenario de instabilidade, em que o ama- nha vem cercado de interrogagdes, criangas deve ser preparadas paraa anilise, a investigacao ea consequen- te reflexdo antes da tomada de decisdes para que pos- ‘sam assumir com seguranga suas escolhas, fundamen- tadas no autoconhecimento de um projeto de vida res- ponsiivel esolidéirio, Na visio de Demo 2012, p. 59), a ‘autonomia na escola significa: Emtermesmais concretos na escola rio se apren- dem apenas conteéddes. Aprende-e, principalmen- te aaprenter (habilidades) (DEMO, 2010), ous, hrabilidades de autoria e autonomia que seem para vida toda, em expecial para continuarmas sempre aprendendo, nos desconstruindoe recons- ttuindo, Nao se trata de abandonar ou maltratar ‘ontetdes, porque so indispensiveis. Mas nao se pode deixar de imestir na capacidadie de estudar, argumentar, fundamentar, porque so elas que podem manter viva a pessoa pela vida afora em termos de aprendizaggm incessante. ‘Torna-se evidente que a aprendizagem na esco- Javai muito além de conteidos. E essas aprendizagens servem para a vida toda, Os alunos precisam exercer a sua autonomia, ¢ isso deve ser estimulado no ambien- teescolar. 4NO SUSPENSE, NO ROMANCE, NA AVENTURA: NA BAGAGEM A AUTONOMIA EEMPATIA Para a realizagao da pesquisa foi formado um Grupo Focal com alunos de uma turma do4? ano, que se disponibilizaram a participar do mesmo. Os encon- tras do Grupo Focal ocorreram uma vez por més du- rante uma hora e meia. © grupo era formado por 14 alunos, oito meninas € seis meninos, que se autodeno- rminaram “os guardides dos segredos dos livres”. Em cada encontro, um livro foi trabalhado e, a partir do tema desse livro, situagSes foram criadas para explorar algumas habilidades socioemocionais. Um ce néirio diferente, dependendo do ambiente ou do assunto do livro.a ser explorado, esperava pelos alunos. ‘No primeiro encontro, foram trabalhados os li- ‘10s O Menino Maluquinhoe Omelhr do merino Maluqut nko em Tudo em Familia, do autor Ziraldo Alves Pinto; ‘no segundo encontro o livro explorado fi A Bolsa Ama- rela, de Lygia Bojunga Nunes; no terceiro encontro foi trabalhadooom olivro A Boneca de Osos, de Holly Black no iltimo encontro 0 livro O Minotawo, de Monteiro Lobato, foi trabalhado, ‘No total, seis habilidaces/competéncias sacioe- ‘mocionais foram trabalhadas, sendo elas: resolugo de problemas, empatia, cooperacao, criatividade, resilién- ia e autonomia, Essas foram escolhidas por ser habili- dades/competéncias socioemocionais fundamentais no Rost Adenia Licencia&acturas © hati ev 4° n. 1» p.4651 « jareioyjunho » 2016 49 50 Camila Costa * Marguit Carmem Goldmeyer século XI e que fazem parte do contexto dos alunos. ‘Nese artigo, trataremos da empatia e da autonomia, enfatizar-se-4 como ambas foram sentidas no dialogo das criangas com os livros. 4.1 Abrindo a bolsa amarela, encontrando a empatia ‘Noenconuno em que trabalhamos sobre o livro A oka Amarda, os alunos foram aonvidades a aolocar-se nolugardo Galo Terrivel, que era um animal que teveo ‘seu pensamento costurado par seu dono. Eles6 pensava em lutar, pois 0 dono costurou isso noseu pensamento, ‘Dessa forma, os alunos tiveram que se colocar no lugar do Terrivel: se eles fossem o galo, o que gostariam que fosse costurado no pensamento deles? As respostas for ram diversas: alguns lembraram da importancia da fa- milia e dos amigos. Outros disseram que gostariam que fosse costurada a vontade de sempre estudar, deser feliz ¢, por fim, de seguira Deus. ‘No momento seguinte, os participantes foram convidados a escrever uma carta para Raquel, dando sugestes sobre o que ela deveria fazer para resolver seus problemas. As sugestes foram diversas. Alguns sugeri- ‘ram aspectos para mudar a relagao com a familia, mui- toselogiaramas caracteristicas de Raquel, a maioria pe- diu que ela cuidasse bem da bolsaamarela para nao dei- xar que ninguém a pegasse. Houve quem sugerisse que ela contasse a verdade a seus irmaos e pais € que eles entenderiam o que estava acontecendo. Algunsrelacio- naram os conflitos de Raquel com seus irmaos. Nikki sugeriv: Querida Raquel, acho woo? muito legal! Eu sppstaria de dizer que eu também nao me dou ‘muitobem com os meus irmacs! Mass wees € 96 comersar cam eles sobre algo que eles sgpstem! Para mim ajuda. Voce deveria ser fe- lizemser menina! Além do mais, as meninas so bem mais legais que os menincs!! Por que woe tem vontae de cescer?! Tem que aproveitar enguanto € aianga, utro dia eu [perguntei a minha mae se ela preferia ser ai anga ou adulta ela disse criancal Acho que voce seri uma 6tima escritoral Beijos, Nikki ‘Compreendemosa partir da carta escrita deNikki sinais de como se da sua relagao com os irmaos. Além disso, ela destacou claramente as vontades que a Ra- quel tinha e, do seu ponto de vista, criou sugestOes para auxilid-la em suas esoothas. ‘Na proxima atividade, elaborou-se, em conjunto, ‘um mapa conceitual sobre como se pode construir um ‘mundo melhor, Percebe-se que a maioria das respostas ficou na questo ambiental; alguns alunosconseguiram ir além da questio ambiental, relatando sobre 0 com- portamento das pessoas, que deveria ter menos violén- ia e que as pessoas deveriam ser mais gentis. Sobre 0 que poderia ser a luta para melhorar 0 ambiente escolar, notamos que os protagonistas tiveram ‘um pouco de dificuldades para se posicionar. Asrespos- tas deles ficaram em tomo de: incentivar os alunos a estudar mais, queasbrigas deveriam parare que osmai- ‘ores nao poderiam namorar na frente das criangas. To- dos concordaram que nao deveria ter mais brigas na es- ccola, que isso prejudica as atividades, 0 momento do recreio € as amizades. A maioria disse que, quando os ‘maiores virem os menores passando pelo corredor, de- ‘etiam parar de namorar, pois ningném gosta de ficar olhando, e é nojento ver os outros se beijanda, 4.2 0s personagens do Sitio do Pica-Pau Amarelo: autonomia e empatia ‘Apartirdo enredo do livro OMinntauro, de Mon- teiro Lobato, foram aiiadas situagdes problema para os pparticipantes responderem, explorando diferentes habi- lidades socioemocionais. ‘Na primeira pergunta realizada: “Se woods fos: sem viajar para um pais desconhecido como se omgani- zatiam?”, constatamos que a maioria levaria algo pes soal como: comida, dinheiro, vestimenta, celular, GPS, camera, lemibrangas da familia, algo para dormir. Ou- tros foramaléme levariam alg paramovimentar-se mais, rapidamente, saberiam comunicar-sena lingua daquele pais, levariam um amigo e levariam uma tradutora. ‘Alguns participantes preocuparam-se somente com o que comeriam, vestiriam e vivenciaram, e outros {Hi conseguiram ser mais critiaas e explicaram que 6 poderiamaproveitar bem a viagem se soubessem comu- nicar-se na lingua daquele pais, pois assim poderiam fa zer amizades e compreender 0 que esti sendo falado. (Outros ja desejavam levar alguém junto para fazer com- ppanhia para nao se sentir sozinhos. Houve ainda aque- Jes que disseram que pretendiam levar uma guia ou uma tradutora e assim poderiam conhecer mais lugares e entendera forma de comunicacao daquele lugar. (Quando os participantes foram questionados so- bre “oque fariam seestivessem em um pais desconheci- do € nao soubessem para onde ir’, alguns afirmaram ue fariam um curso para aprender 0 idioma € assim Poderiam comunicar-se com as pessoas. Outro afirmou que falaria ings, a. queé uma lingua que amaioria fala e compreende, mas alguns voltariam para casa ou tra- balhariam em algum local para juntar dinheiro ¢, dessa Revs Aadémia LicenciaBacturas + hole v4° nlp. 4651 {erento » 2016 Personagens da Literatura Infantil: contribuigéo para o desenvolvimento das habilidades sodioemoconais forma, poderiam voltar para casa. Percebe-se que alguns ‘conseguem pensar além de uma solugao simples, outros imaginam maise, por vezes, disseram algo que na reali- dade nao poderia ser realizada Entretanto podemos pperceber que a maioria precisaria de outra pessoa ou de algum recurso para resolver a situacao. ‘Para explorar maisa questio da resolugao de pro- ‘blemas e a autonomia nevessiria para tal, os alunos ti- ‘veram que responder sobre “o que fariam se estivessem nesse pais estranhoe no conseguissem compreender a lingua que as pessoas falavam e se nem elas compreen- dessem a deles". Os participantes explicaram que ja sa- ‘beriam a lingua desse pais ou chegariam le buscariam auxilio em um cursinho, na internet ou até mesmo no dicionério. Para explorar 0 tema da autonomia, os alunos tiveram que responder ““o que Pedrinho faria para se organizar para um trabalho?” Os participantes respon- deram a partir do que eles proprios fariam. Assim, for ‘mariam um grupo e pesquisariam em livros, internet, biblioteca e, por fim, fariam jogos para revisar 0 que es tudaram. O participante Zac Power 2 explicou 0 que Pedrinho faria: “Ele iria chamar aEmiliae 0 Viscondee se meteriam em uma aventura e juntos estudariam”. 5 CONSIDERAGOES FINAIS Cada vez mais, a sociedade mostrasnes que as cemogdes, valores e relagdes precisam ser trabalhadas © que ha alunos que nao lidam bem com as emogdes, € consoquentemente a aprendizagem é afetada. ‘As habilidades socioemocionais dizem respeito a atitudes ¢ habilidades que possuimos para controlar ‘emogées, alcangar objetives, relacionar-nos de maneira sauddivel coma sociedade, demonstrar nassos sentimen- tose tomar decisdes de forma equilibrada. ‘Estamos sempre (re)aprendendo ¢ desenvolven- do-as, Precisamos praticé-las e também podemos ensi- névlas. E um processo de formacao integral e continuo. ‘Nesse sentido, o trabalho que deve ser desenvol ‘vido com as habilidaces socioemocionais nao vem para serarticulado de forma isolada como um conteiido. Ele nao quer ocupar o lugar das habilidades cognitivas; a intengao é interligé-lase tecer uma aprendizagem signi- ficativa a partir dessa relagao. Na verdade, as habilida- des socioemocionais dao o aporte para odesenvolvimen- tw das habilidades cognitivas. Criangas que aprendem a cooperar, que conversam sobre conteiidos, aprenderao ‘com muito mais facilidade. Saber resolver problemas ‘com cautela, fazendo uso dos saberes de diferentes ére- as, respalda uma fundamentagio baseada em conheci- ‘ments te6ricos. Esses sio apenas alguns exemplos de como habilidades socioemocionais € cognitivas esto interligadas na acao pedagigica. O processo de ensino e aprendizagem que desen- cadeara 0 desenvolvimento das habilidades socioemo- ionais deve ser realizado nas diferentes areas do conhe- cimentoe em diferentes contextos. Entretanto, para que isso ocorra, os professores precisa desejara promogao demudangas, colocando em pritica um trabalho em que as habilidades socioemocionais estejam entrelagadas com a metodologia a ser utilizada, (© papel do professor como madiador é fundamen- tal nese processona medida em que questiona e busca coutras formas para envolver esse aluno que nao esta con- seguindo se expressar, ‘REFERENCIAS ATAIDE, Viemnte de Paula. Literatura infantil & ideolo- ‘gia. Curitiba: HD Livios, 1985. BETTELHEIM, Bruno. A psicanilise dos contas de fadas. Ri de Janeiro: Paz e'Terra, 1980, BLACK, Holly. Boneca de assos. Ribeirao Preto, SP: Novo Conceito Falitora, 2014. (CORSO, Diana Lichtenstein; CORSO, Maia. A psicandlise sa Terra do Nunca ensaios sobre a fantasia, Porto Alegre: Perso, 2011. DEL PRETTE, Zilda A. P; DEL PRETTE, Almir. Psicolo- ‘gia das habilidades sociais na infncia: teoriae pritica. Rio de Janeiro: Vozes, 2013. DEMO, Patra. Omais importante da educacdo importan- te, So Paulo: Atlas, 2012. INSPIRARE INSTITUTO; PORVIR; INSTITUTO AYR- ‘TONSENNA. Série Diélogos: 0 futurose aprende. Sao Pau- Jo, 23 set. 2014. Disponivel em:. Acesso em: 26 set. 2015. INSTITUTO AYRTON SENNA. Edueasio para 0 século XXI: glossério. 2013. Disponivel em: . Acessoem: 30 nov, 2015. LOBATO, Monteira. O Minotauro. 2. ed. Sao Paulo: Glo- bo, 2011. NUNES, Lygia Bojunga, A bolsa amarela. 26, ed. Rio de Janeiro: Agir, 1994. ZIRALDO, O menino maluquinho. 28. ed. S80 Paulo: Me- Ihoramentos, 1980. “Tudo em familia. So Paule: Publifolha, 1998, Rost Adenia Licencia&acturas © hati ev 4° n. 1» p.4651 « jareioyjunho » 2016 51

You might also like