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Escritos sobre a Psicologia do Inconsciente © Recalque (1915) Edigdes olemas 1915 + Int. Z. erat Psychoanal, 3 (3), 129-38 1918 +S. K.S.N.4,279-98 (1922, 20 €6) 1924 +6 8, 5, 466-79. 1924 + Technik und Metapsychol, 188-201 1931 « Theoretische Schriften, 83-97 1946 + G. Wi, 10, 248-61 + Comentérios editorials da Standard Eaition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud Na Seco | da "Histéria do Movimento Psicanalttico” (19144), Freud declarou que “a teoria do recalque € a pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura da psicanélise; no presente trabalho, juntamente com a Secdo IV do artigo "0 Inconsciente” (Studienausgabe, p. 214 e segs), ele nos oferece sua formulagéo mais elaborada dessa teoria © conceito de recalque remonta histericamente aos primérdios da psicanélise. A primeira referéncia publicada consta na "Comunicacto Preliminar” de Brever e Freud (Edi¢do Standard Brasileira, vol. Il, p. 51, IMAGO Editoro, 1974), © termo “Verdréngung" fora empregado pelo psicdlogo Herbert no inicio do século XIX € possivelmente chegou ao conhecimento de Freud por intermédio de seu mestre Meynert, admirador de Herbart. Mas, como o proprio Freud insistiy no trecho jé citado da "Histéria’, "a teoria do recalque, sem duvida alguma, ocorreu-me independentemente de qualquer outra fonte’. "Foi uma novidade", escreveu em seu Estudo Autobiogratico (1925d), “e nada semelhante havia sido reconhecido antes na vida psiquica." Nos escritos de Freud existem varios relatos de como ocorreu a descoberta: por exemplo, nos Estudos sobre a Histeria (18950), Edicdo Standard Brasileira, vol. I pp. 324-6, IMAGO Editora, 1974, e novaliffgmente na "Histéria”, Esses relatos sGo unénimes em ressaltar que © conceito de recalque fol inevitavelmente sugerido pelo fendmeno clinico da resisténcia, que por sua vez fol trazido @ luz por uma inovacdo técnica - o abandone da hipnose no tratamento catairtico da histeria, No relato feito nos Estudos, o termo empregado para descrever 0 processo ndo é "recalque”, mas "defesa”, No inicio, os do's termos foram utllizados por Freud quase como equivalentes, embora “defesa” fosse talvez o mais comum, Logo, contudo, como observou em seu artigo sobre a sexvalidade nas neuroses (19064), Edicdo Standard Brasileiro, vol. Vi p. 288, em vez de falar em "defesa”, ele comecou a falar em geral em "recalque”. Na anamnese do "Homem dos Ratos” (1909d), examinoy 0 mecanismo de “recalque" na neurose obsessiva - isto é, 0 deslocamento do investimento emocional da idéia contra a qual haja objecdes, em contraste com a expulséo completa da idéia da consciéncia na histeria - referiu-se a "duas espécies de recalque" (Edigdo Standard Brasileira, vol. X p. 196, IMAGO Editora, 1996). E nesse sentido mais amplo que o termo é usado no presente artigo, como demonstra a discussdo, quase no final, sobre os diferentes mecanismos de recalque nas vérias formas de psiconeuroses, Parece claro que a forma de recalque que Freud tinha em mente aqui era sobretudo a da histerig; mais adiante, ne Capitulo XI, Seco A (©), de InibigSes, Sintomas ¢ Medo (1926d), ele propés restringir o termo "recalque" @ esse tnico mecanismo particular e reviver "defeso” como "uma designacée geral para todas as técnicas empregadas pelo Eu em conflitas que possam levar a uma neurose. A importancia de estabelecer essa distin¢do fol depois llustrada na Seco V de “Anélise Terminével e Intermindvel” (1937c) © problema especial da natureza da forca motora, que permite ao recalque operar, constitul uma fonte Constante de preocupagdo para Freud, embora quase no seja abordado neste artigo, bem como a relacdo entre o recalque e © sexo, relagdo sobre a qual ele iniciaimente nGo tinha uma posigdo definide, como se lé em muitos pontos da correspandéncia com Fliess (1950a). Depols, contudo, ele rejeltou com firmeza qualquer tentativa de "sexualizar" 0 recalque. Um exame completo dessa questo (com particular referéncia aos conceitos de Adler) encontra-se ne sitima secdo de “Bate-se em uma Crian¢a’, (1919), Edicde Standard Brasileira, vol. XVII, p. 200 & segs, IMAGO Editora, 1996. Mais tarde, em Inibigdes, Sintomas e Medo (1926d), em especial no Capitulo IV, e na parte inicial da Conferéncia Xxxil das Novas Conferéncias introdutérias (19330), ele lancou nova luz sobre 0 assunto ao ‘argumentar que o medo ndo era, como sustentara antes e como afirma neste artigo, uma consequéncia do recalque, mas uma de suas principais for¢as motoras, HHEHio destino de uma pulsdo que acaba de brotar’ (Iriebrezung) pode ser encontrar, ao longo de seu percurso, resisténcias que queiram impedir sua acto. Sob condicées que ainda examinaremos mais detalhadamente, ela entra entéo em estado de recaique’ Claro que se, em vez de uma pulsdo, se tratasse do agdo de um estimulo externo, a fuga teria sido @ medida mais apropriada para escapar de sev raio de a¢do, mas, no caso de uma puisdo, tal fuga nao tem serventia, pois o Eu ndo pode fugir de si mesmo. Em um periodo posterior, 0 sujeito perceberé que repudiar 0 contevdo da pulstio (\riebregungl baseando-se em um juizo de valor (condenagdo) pode ser uma providéncia eficaz. Contudo, hé uma etapa preliminar & condenacao da manifestagdo pulsional, situada entre a fuga € o repudio condenatério: trata-se do recalque, conceito este que ndo poderia ter sido formulado antes da existéncia dos estudos psicanaliticos, A possibilidade de existéncia de um recalque néo ¢ facil de deduzir teoricamente. Por que uma mocéio pulsional [lriebregungl sucumbiria a tal destino? Aparentemente, a condi¢éio necesséria para isso seria que ao otingir a meta pulsional se produzisse desprazer ao invés de prazer*.Todavia, ¢ diflcil conceber algo assim, pulsbes desse tipo ndo existem, uma satisfacéio pulsional sempre & prazerosa. Nesse caso, ent&o, precisariamos supor circunstancios especiais, algum tipo de proceso pelo qual um prazer obtido a partir de satisfacéo" de uma pulséo fosse transformado em desprazer. Para melhor demarcar 0 recalque, ¢ preciso examinar algumas outras configuragées pulsionais. Pode ocorrer que um estimulo" exterior se internalize, por exemplo, ao corroer e destruir um érgdo, € que dessa forma produza uma nova fonte de constante excitagdo e aumento de tensdo. Ele aduiriré, assim, grande semelhanga com uma pulstio. Sabemos que experienciamos esse caso como dor. A meta dessa pseudopulséo, no entanto, & Go-somente interromper a alteracdo do érgio e cessar o desprazer vinculado a essa alteragtio. Outro tipo de prazer, um prazer direto, no pode ser obtido pela interrupco da dor. Além disso, a dor também ¢ imperativa, s6 pode ser suspensa pela agéo de um agente téxico ou pela distragéo psiquica, BfBiAssim, 0 coso da dor ndo transparente © bastante para trazer alguma contribuigdo ao nosso propésito’. Tomemos um caso em que um estimulo pulsional como, por exemplo, a fore permaneca insatisfelto. Ele se torna entdo imperative, ndo pode ser mitigado sentio por uma agdo que o apozigue”™ e manter-se-4 constantemente tensionado pela necessidade [Bedorinis}. Algo como um recalque nem remotamente parece entrar em que: td0 aqui Portanto, decerto née haverd um recalque quando a tenséo decorrente de néo-satisfagdo de uma mocdo pulsional se tornar insuportavelmente grande. As medidas de defeso® a disponivels ao organismo para lidar com esse tipo de situacdo tém de ser discutidas em outro contexto. Seré melhor nos atermos entéo @ experiéncia clinica, conforme ela se nos apresenta na prética psicanalitica. Esta nos ensina que @ pulsdo que esté submetida ao recalque poderia ter sido satisfeita e que tal satisfacdo seria, em si, sempre prazerosa porém, ela seria incompativel com outras exigéncias e propésites, e, desse modo, acabaria por gerar prazer em um lugar e desprazer em outro. Entdo, uma condi¢éo para que ocorra o recalque ¢ que a forca que causa o desprazer se torne mais poderosa do que aquela que produz, a partir da satisfacdo pulsional, © prazer A experiéncia psicanalitica com as neuroses de transferéncia obriga-nos ainda a concluir que 0 recalque néo ¢ um mecanismo de defesa j4 presente desde a origem, que ele nem sequer pode surgir antes que uma nitida separacdo se tenha estabelecido entre a atividade psiquica consciente e inconsciente, € ave sva esséncia consiste apenas na acdo de repelir algo para fora do consciente e de manté-lo afastado deste" Essa concep¢do do recalque poderia ainda ser complementada pela suposi¢éio de que. antes que o desenvolvimento atingisse esse nivel de organiza¢do psiquica, outros destinos pulsionais estavam incumbidos da tarefa de rechacar” as mogSes pulsionais, tais como, por exemplo, 0 destino da transformacdo no contrario eo redirecionamento da pulsde contra ¢ prépria pessoa.” Assim, parece-nos que 0 recalque € © Inconsciente esi8o correlacionados de forma tao estreite que, enquanto ndo tivermos aprendido mais a respeito de como se estruturam as instancias psiauicas e sobre a diferenciacdo entre inconsciente e consciente"* , ndo poderemos proceder a um exame aprofundade da natureza do recalque, teremos de postergé-lo. Por ora, apenas podemos reunir de forma puramente descritiva algumas das caracteristicas do recalque observadas na clinica, ainda que sob risco de repetir sem alteragSes muito do que jd se disse em outro lugar. Temos razées para supor que exista uma primeira fase do recalque, um recaique original”” que consiste em interditar" ao representante [Représentanz]” psiquico da pulséo (6 sua representaco mental [Vorstellung])" "a entrada e fBodmissto no consclente. Esse recalque estabelece enttio uma fixactio, € 0 partir dal o representante em questdo subsistiré inallerado e a pulsto permanecerd a ele enlacada”. Isso ocorre em consequéncia de ticas dos processos inconscientes a serem discutidas mais adiante, \G6es derivadas* do A segunda etapa do recalque, 0 recaique propriamente dito, refere-se a represent representante recalcado ou ainda aquelas cadeias de pensamentos que, provindo de outros lugares, acabam estabelecendo ligagSes [Bezie-hungen}* associativas com esse representante. Devido a essa ligagdo, tois representacées sofrem o mesmo destino do recalcado original. O recalque propriamente dito é portanto, um pés-calear [Nachdréngen]** ** Alids, seria Incorreto se déssemnos destaque apenas ao movimento de repulsdo que atua a partir do consciente sobre 0 contetdo a ser recalcado. Téo importante quanto isso € considerar a atragdo ave © recalcado original exerce sobre tudo com que consegue estabelecer conexdio.™ Possivelmente a tendéncia recalcante ndo realizoria seu intento se essas forcas ndo atuassem em conjunto, se ndo existisse algo antes recalcado e pronto para acolher 0 que foi repelido pelo conscier Entretanto, devido & Importéncia dos efeitos do recalque verificada durante nosso estudo das psiconeuroses, tendemos a superestimar o contetido psicolégico do recalque. Esquecemos muito facilmente que o recalque ndo impede o representante pulsional de continuar existindo no inconsciente, de continuar a se organizar, a formar novas representacdes derivadas e estabelecer ligacées [Beziehungen]. O recalque, na verdade, s6 perturba a relacéo com um sistema psiquico, a saber, o sistema do consciente. A psicandlise pode nos ensinar ainda outras coisas importantes sobre a agdo do recalque nos psiconeuroses. Por exemplo, que o representante pulsional se desenvolve de forma mais desimpedide e com maior riqueza quando, por meio do recalaue, € retirado da infivéncia consclente. Ele entdo prolifera, por assim dizer, na escuriddo e encontra formas de expressdo extremas. Estas, ao serem traduzidas e apresentadas ao neurético, ndo 86 terGo que Ihe parecer estranhas, mas também irdo assusté-lo, ao Ihe espelharem @ Imagem de uma forca pulsional extraordinéria e perigosa. Essa forca pulsional enganosa ¢ o resultado tanto de um desdobramento desinibido da representacdo na fantasia quanto do acumulo ocorride quando ¢ satisfagae fol impedida. 0 fato de o resultado desse desdobramento desinibido estar ligado ao recalgue nos aponta em que directo devemos procurar a real significagdo do recalque. Contudo, voltemos nossa atencéo por um momento pare outro polo existente no recalque, Constataremos que nem sequer € correto afirmar que o recalque [MEMque mantém ofastado do consciente todas as representaces derivadas do recalcado original Quando estes se afastam suficientemente do representante recolcado, seja pelo incorporacdo de deformacées, seja pela interpolacdo de certa quontidade de clos intermedirios, 0 acesso a0 consciente fico-Ihes franqueado, sem maiores restricdes. E como se a resistencia do consciente contra essas representagdes derivadas do recolcodo fosse uma funco da distancia entre elas & originalmente recalcado. Ourante a pratica da técnica psicanolitica, solicitemos continuamente ao paciente que produza as representacdes derivadas do recalcado que possam, em decorréncia de sua distancia ou de sua deformacéo, passar livremente pela censura do consciente, As idéias espontaneas” que requeremos do paciente, solicitando-the que renuncie o qualquer ideia intencionoimente” oimejoda (Ziel-vorstellungen]" e a toda critica, eda mais séo do que tais representagdes derivadas afostadas e distorcidas. € a partir delos que podemos reconstituir uma tradugdo consciente do representante recalcado. Observamos, assim, que o paciente & copaz de produzir devaneios percorrendo ume cadeia de idéios espontaneas desse género até 0 momento em que se depare com um grupo de pensamentos cuja relagto com o recalcado se manifesta tdo intensamente que ele se vé obrigado a voltar a repetir a tentativa de recalque. De modo anélogo, 0s sintomas neuréticos devem ter preenchido os mesmas condigées descritas acima, pols eles sto os derivados do recalcado que, por meio dessas formacées sintométicas, afinal conquistoram 0 acesso & consciéncia que antes Ihes era negado [versag}* Em geral, ndo é possivel determinar até onde 0 grau de deformacdo € 0 afastamento do recalcado precisam chegar para que a resistencia do consclente” seja suspenso. Um sutil balanceamento opera nesse processo, cujo jogo nos fica aculte, mas que pode ser deduzido a partir do seu modo de agéo: trate-se de néo ultrapassar determinada intensidade de investimento no inconsciente, a qual, se for ultrapassade, faré com que o material inconsciente irrompa e verta até atingir a satisfagdo. 0 recalque trabalha, portanto, de forma altamente Individvat, cade representacdo derivada Isolada pode ter seu destino especifico; um pouco mois ou um pouco menos de deformagdo faz com que todo o resultado se allere. Nesse mesmo sentido, pode-se compreender também que os objetos preferidos das pessoas, bem como seus Ideals, se originem das mesmas percepebes € experiéncias que os objetos por elas mais execrados, e mais, que originalmente tois objetos se diferenciavam uns dos outros apenas por meio de pequenas alteracées™ € mesmo possivel, conforme haviamos encontrado na constituigdo do fetiche™, que o representante pulsional original tenha sido decomposto em dues partes, uma das auais sucumbiu ao recaique, enquanto o resto, exatamente por causa dessa estreita conexdo, sofreu 0 destino da Idealizacéo. Bio mesmo resultado que se obtém por um acréscimo ou um decréscimo de deformagto pode ser alcangado também, por assim dizer, na outra extremidade do aparelho, por melo de uma modificacéo nas condigdes da produgdo de pra-zer-desprazer. Para tanto, foram desenvolvidas técnicas especiais cujo propésito & engendrar alteragbes no jogo de forcas psiquico, de mado que aquilo que normalmente geraria desprazer possa, em certa ocasiéi, tornar-se prazeroso. Toda vez que esse tipo de técnica entra em aco, suspende-se 0 recalque de um representante pulsional que de outro modo seria rejeltado, Até agora, essas técnicas s6 foram estudadas de maneira mais detalhada no chiste™ Entretanto, por via de regra a suspensdo do recalaue ¢ passageira e ele ¢ logo restabelecido. Experiéncias desse tipo, contudo, apontam ainda para outras caracteristicas do recalave que atraem nossa atencdo, Ele ndo apenas ¢ individual, conforme exposto hd pouco, como também mévelem alto grau. NGo se deve imaginar 0 processo de recclque como um evento Unico de efeito duradouro, por exempio, como se algo que estava vivo tivesse sido abatido e dai em diante permanecesse morto: pelo contrario, o recaique necessita de um empenho continue de forca, cuja cessa¢tio colocaria em risco seu sucesso € tornaria necessério uma nova acao de recalqve. Devemos imaginar que 0 recalcado exerce urna pressdo [Druck]” continua em diregao ao consciente, a aval precisa ser equlibrada por meio de uma contrapressto incessante.” Portanto, a manutencao de um recaique pressupde um dispéndio de forca constante, ao passo que a suspenséo do recalque significa, em termos econémicos, poupar esse dispéndio de forca, Alids, a mobilidade do recalque expressa-se também nas caracteristicas psiavicas do estado de sono que possibilitam a forma¢ao onirica” Com o despertar, os cargas de investimento do recaique,” ave haviam sido recolhidas, sao enviados de novo. Todavia, ao se afirmar que uma mocao pulsional esté recalcada, na realidade muito pouco terd sido dito dela. Ela pode, sem que isso ofete seu recalgue, encontrar-se em estados muito diversos, por exemplo, pode estar inotiva, isto , estar pouco Investida de energie psiquice, ou pode estar investida em graus altemados €, dessa forma, encontrar-se potenciaimente apta para a atividade. Sua eventual ativactio ndo terd como resultado a suspensdo direta do recalque, mas, ao contréirio, encetaré todos aqueles processos que sé cessam quando logram, por meio de desvios, forcar © acesso ao consciente. Jd no que diz respeito as representagbes derivadas do inconsciente que ndo foram recalcadas, com frequéncia 6 a magnitude da ativacio ou do investimento que decide © destino de cade uma. E um foto corriqueiro que uma representagéo derivade ndo sofra recalque, opesar de possuir um contetdo potenciaimente propicio para entrar em conflito com um contedde consciente dominante. Isso acontece porque a representactio derifioda esta representande pouca energia. 0 fator quantitative mostra-se, portanto, decisivo para 0 conflte: assim que a representactio basicamente sentida como repulsiva se fortalece além de certo nivel, 0 confit se atualiza, ¢ ¢ justamente sua ativagéo que traz «@ reboque o recalque. Portanto, no que tange ao recalque, um aumento do investimento de energia produz efeito anélogo ao de uma aproximagéo ao inconsciente, ao passo que uma diminuigéio do investimento tem efeito anélogo co de um distanciamento do Inconsciente ov de uma deformactio. Nesse sentido, as tendéncias recalcantes, em vez de servirem-se do recalque, podem langar mo do recurso de enfraquecer 0 aspecto Incomodo. Discorremos até o momenta sobre o recalque de um representante puisional, entendendo este ditime como uma representagdo ou um grupo de representagdes investido pela pulsio com certa quantidade de energia psiquica (libido, interesse). A observacdo clinica nos obriga, agora, a decompor 0 que até entéo haviamos considerado como homogéneo, pols nos mostra que, em paralelo @ representagdo, entra em questéio outro elemento que também representa a pulsGo e cujo recalave pode ter um destino bem diferente do recalque da representagdo. Para esse outro elemento do representante psiquico tem sido adotada a designagdo de quantidade de afeto:" ele corresponde & pulséo, na medida em que se desprendeu da representacéo e encontra expresso, de corde com a sua magnitude, em processos que se fazem perceber & sensagdo na forma de afetos"* De agora em dante, quando descrevermos um caso de recalque, precisaremos acompanhar separadamente © que, em decorréncia do recalaue, ocorreu com a representacdo e com a energia pulsional a ela aderente Gostarlamos muito de poder afirmar algo geral a respeito dos destinos de ambos os elementos da pulsdo, mas Isso 6 nos serd possivel depois de nos situarmos melhor. No que tange & representacdo (Vorstellung), podemos afirmar que, se a representacdo que representa a pulsto era antes consciente" seu destino mais provavel seré desaparecer do consciente:* se a representagdo estava prestes a se tornar consciente, seu destino ser ser mantida afastada da consciéncia Esso diferenca é to pouco importante quanto saber se convidei um héspede indesejado a se retirar de minha sala de visitas ou de meu vestibulo, ou se sequer 0 deixei transpor a soleira de minhe porta de entrada tao logo 0 reconheci Quanto ao fator quantitative do representante pulsional pode ter trés destino, Basta uma simples mirada no conjunto das experiéncias da psicandlise para constatar: « pulsdo pode ser totalmente reprimida [unterdriickt].” de maneira que nada mais dela seja encontrado, ov surge como afeto com determinado colorido qualitative, ov, indo, & transformada em medo [Angst]. As duas dltimas possibilidades exigem que fMMBhos detenhamos com especial atencdo nesse novo destino da pulsdo, a transformagdo das energias psiquicas das puisdes em afetos e, em especial, sua transformacao em medo [Angs]* Recordemo-nos de que 0 motivo © propésito do recalque era tdo-somente a viactio de desprazer. Dai resulta que 0 destino da quantidade de cfeto do representante ¢ de longe mais importante do ave o destino da representagdo, e que isso ¢ decisivo para uma avaliagdo do processo de recalgue. Se um recalque nao consegue impedir que surjam sensagdes de desprazer ou de medo (Anguil, podemos dizer que ele fracassou, ainda que seu objetivo tenha sido alcancado com relacto 4 parcela representacional. € evidente que o recalque fracassado mereceré maior interesse do que 0 eventuaimente bem-sucedido, o qual, em geral, escapa do alcance de nosso estudo. Queremos agora compreender melhor © mecanismo do proceso de recalque e, sobretudo, saber se existe ‘openos um processo de recalque ou mais de um e se porventura cada uma das psiconeuroses ¢ caracterizada por um mecanismo de recalque proprio. Ao iniciormos esta investigacéo, porém, logo nos deparamos com complicagbes. © mecanismo de um recalque s6 se torna acessivel quando partimos de seus efeitos e o deduzimos retroativamente. Se limitarmos nossa observagdo somente aos efeitos que 0 recalque produz sobre a parcela representacional do representante, veremos que em geral o recalque cria uma formacéo substitutiva, Qual é entéo, (© mecanismo de tal formagdo substitutiva, ou existe aqui também vérios mecanismos a serem distinguidos? Sabemos que o recalque deixa sintomas atrés de si, Seré que podemos, entdio, considerar que a formagdo substitutiva e a formagdo de sintomas coincidem? E, se isso diz respelto ao conjunto, o mecanismo da formacéo de sintoma também coincide com 0 do recalque? Até o momento tudo parece indicar que ambos divergem por completo, que ndo € 0 préprio recalgue que cria formagdes substitutivas e sintomas, mas que estes vitimos sao Indicios de um retorne do recaicado” e devem seu surgimento a processos intelramente diferentes. Assim, antes de se proceder ao exame dos mecanismos de recalque, parece ser mais adequado estudar os mecanismos de formacdo substitutiva e de formacdo de sintoma. E claro que ndo hd lugar aqui para especulacéo, antes cabe uma cuidadosa andlise das consequéncias provocadas pelo recaique nas diferentes neuroses. No entanto, devo sugerir que se adie também esse trabalho até que tenhamos formado uma ideia mais confidvel a respeito da rela¢do do consciente com a inconsciente."* Todavia, para ndo delxar a presente discussdo se extinguir de forma to insatisfatéria, quero antecipar que 1) 0 mecanisno do recalque de fato ndo coinffEcide com o mecanisme ou mecanismos da formagéo substitutiva, 2) ave existem diversos mecanismos de formacdo substitutiva muito diferentes entre si e 3) que ao menos uma coisa é comum aos diversos mecanismos de recalaue: o investimento da energia é recolhido (ou, quando tratamos de pulsées sexuais, 4 libido ¢ recolhida). Restringindo-me as trés psiconeuroses mais conhecidas, quero mostrar ainda, utilizando alguns exemplos, como os conceltos até aqui introduzides podem ser aplicados a0 estudo do recalque. Escolherei da histeria de ongistia [Angsthysterie]” © exemplo bem anolisado de uma fobia de animais™ A mo¢do pulsional que fol submetida ao recalque era uma atitude libidinal da crienca em relacdo ao pei, pereada com o medo (Angst) que tinha dele. Depo's do recalque essa mocdo desapareceu da consciéncia, o pai ndo mais aparece nela como objeto da libido. Em lugar correspondente ao do pai, encontra-se agora, como substituto, um animal mais ou menos ‘adequado para servir de objeto de medo [Angstobjekt], A formacdo substitutiva da parcela representacional,”* “produziu-se pela via de um deslocamento.” Esse deslocamento ocorreu ao longo de uma cadeia cujas conexées™ obedecem a certas determinagées. Quanto 4 parcela quantitativa, esta no desaparecey, mas se converteu em medo [Angst]. © resultado ¢ um medo [Angst) do lobo. no lugar de uma demanda amorosa em relacdo Go pai Obviamente, as categorias aqui empregadas ndo sdo suficientes para explicar nem mesmo 0 mais simples caso de psiconeurose. Outros pontos de vista ainda precisam ser considerados. Podemos considerar esse recalque ocorrido no caso de fobia de animais como totalmente fracassado. 0 trabalho do recalque consistiv apenas no afastamento € na substituigdo da representacdo, ndo houve éxito algum em evitar desprazer. € por isso, também, que 0 trabalho da neurose néo péra, prosseguindo num segundo tempo para alcancar seu préximo mais importante objetivo. O que se segue € a formacao de uma tentativa de fuga, a fobia propriamente dita, a qual consiste em uma quantidade de evitasdes que devem impedir a liberacao™ de medo [Angstentbindung]. Um exame mais espectfico permitiré que compreendamos por meio de que mecanismo a fobia alcanca seu objetivo® J6 0 quadro da auténtica histeria de conversdo obriga-nos a uma apreciagéo muito diversa do proceso de recalque. Nesse caso, 0 que sobressai ¢ 0 fato de que o recalque pode conseguir levar a um total desaparecimento da quantidade de afeto. © doente demonstra entéo em relacéio a seus sintomas 0 comportamento que Charcot designou de "Ta belle indiférence des hystériques", Entretanto, em outras ocasides, essa repressdo [Unterdrickung] Go tem um axito to completo: uma parcela das sensacdes penosas pode prender-se aos préprios sintomas ou [iloinda pode ocorrer que néio tenha sido possivel evitar uma liberactio parcial de medo (Angst), © que, por sua vez, aciona 0 mecanismo de formagéo de fobia. O contetdo representacional do representante pulsional foi retirado por completo da consciéncia; no lugar deste, como formagéo substitutiva - e ao mesmo tempo como sintoma -, encontra-se uma inervacdo ultraforte - em casos tipicos, somdtica - e que pode ser ora de natureza sens6ria, ora motora. Essa Inervacio ultratorte pode assumir a forma de excitacdo ou de Inibigdo. Num exame mais detido, 0 local ultra inervado revela-se como uma parcela do préprio representante puisional recalcado, a qual, como por condensacéo, atraiu todo © investimento para si Evidentemente, também esses comentérios ndo elucidam por completo © mecanismo de uma histeria de conversdo; € preciso sobretudo acrescentar o fator da regressio, mas este seré tratado em outro contexto"* Poderiamos considerar que o recalque da histeria" fracassa por completo, pols ele s6 se viablliza 4 custa de um enorme numero de formagées substitutivas; entretanto, com relacdo 4 eliminacdo de determinada quantidade de afeto, esta sim sua verdadeira tarefa, ele ¢, em regra, um sucesso absoluto. Por fim, 0 proceso de recalque da histerla de conversdo encerra-se com a formagdo de sintoma endo necesita mais, como ocorre na histeria de angustia [Angsthysterie], continuar num segundo tempo - ou, na realidade, prosseguir indefinidamente. Na neurose obsessivo-compulsiva [Zwangsneurose]" a terceira afecctio que abordamos a titulo de comparacio, o recalgue nos apresenta urn quadro bem diverso. Aqui ficamas inicialmente em duvida sobre o que devemos encarar como 0 representante que esta submetido ao recalque, se um ansels libidinal ou um anseio hostil A incerteza provém do fato de que @ neurose obsessivo-compulsiva pressupée uma regressdo, por intermédio da aval umn anseio sédico entrou no lugar de um amoroso Esse impulso hostil contra uma pessoa amada que est submetido ao recaique. © efelto, numa primeira fase do trabalho de recalque, é ben diferente do que se verifica em uma fase posterior De inicio, 0 recalque tem sucesso absolute, o cantetido da representacéio € rechacado e 0 afeto acaba desoparecendo. Como formacdo substitutiva ocorre uma alteragao do Eu e um aumento da conscienciosidade.* que ndo podemos propriamente designar como sintoma, Aqui forma¢tio substitutiva & formacdo de sintoma néio coincidem. Também nesse caso aprende-se algo a respeito do mecanismo de recalave. Como em todos os outros casos, 0 recalque efetuou uma retirada da libido, mas agora se utilizou da formacco reotiva para esse fim, intensificando um oposto. A formacao substitutiva emprega, portanto, nesse caso, o mesmo mecanisme que 0 recalque e basicamente coincide com ele, porém se distingue temporal e conceitualmente do formagdo de sintoma, £ muito provavel que a condicdo que viabiliza todo o processo AEM seja exatamente a relagdo de ambiveléncia, na quel ocorre a inser¢do do impuiso sédico a ser recalcado, Porém, 0 recalque, iniciaimente bem-sucedido, ndo se mantém. No decorrer do proceso, sev fracasso fica cada vez mais evidente. A ambivaléncia, que permitiu que ocorresse um recalque pela formacio reativa, ¢ também © ponto por onde o recalcado logra retomar. 0 afeto desaparecido retorna transformado em medo social [(sozialen Angst), em medo do prépria consciéncia moral ¢ na forma de uma repreensdo impiedosa. A representasdio rechagoda é com frequéncia substituida por meio de um deslocamento para algo menor, ov indiferente. portanto, ocorre ume substituig¢go por deslocamento. Contudo, em geral, hé uma inequivoca tendéncia a restauror representagdo recalcada de forma completa e intacta. O fracosso do fator quantitative, afetivo, que ocorre no recalque poe em jogo 0 mesmo mecanismo de fuga por evitagdes e proibigbes ao qual fomos apresentados na formacéio da fobia histérica. A representacdo, todavia, € rechacada do consciente e mantida obstinadamente afastado, pois com esse afastamento se logra o travamento motor do impulso, impedimento da aco. Assim, 0 trabalho de recalque da neurose compulsive resulta numa luta sem éxito nem fim, A partir da pequena série comparativa aqui apresentada, pode-se concluir que ainda seré necessério empreender investigagées mais extensas antes que possamos ter esperanca de desvendar os processos relacionados com o recalque e a formacdo de sintomas neuréticos. O excepcional imbricamento de todos os fatores em jogo nos deixa uma Unica modalidade expositiva como opedo: precisaremes pincar alternadamente ora um, ora outro ponto de Vista € seguir 0 curso de cada um s6 até o ponte em que sua utllizacéo estiver nos parecendo proficua. Cade uma dessas etapas de trabalho, quando considerada isoladamente, se mostraré incompieta: além disso, néo seré possivel evitar obscuridades onde se estiver bordejando material ainda néo tratado; contudo, penso que podemos nutrir esperangas de que ao final chegaremos a uma sintese que resultard numa compreensdo bastante satisfatéria do conjunto. +1 Triebregung, pulsdo que acaba de broter; Alt: “mocdo pulsiona', impuiso instintual”. Obs: Este termo & composto por duas palavras, Trieb e Reung, Sobre Trieb, ler “Comentarios do Editor Brasileiro”, referentes ao texto “Pulsdes € Destinos da Pulsdo”, pp. 137-144. Quanto ao termo Regung, “movimento que acaba de brocar; Al: "mo¢éo” ou “impulso”: Sign: “esboco de movimento”, algo que esté se manifestando ou aflorando; Conot: momento do brotar Obs: A Triebregung por ser um movimento pulsional inicial, ainda esté pouco carregada de investimento (energia ov estimulos) e, portanto, ainda ndo é imperativa e pode sofrer um recalque; ver DCA. + 2 Verdrangung, “recalque": Al: “repressdo’ ; Sign: "desalojado”, "empurrade para o lado"; Conot: empenho de “absfar" ou “paralisar" a manifestagho de uma ideia incémoda, Obs. 1: Freud combina o verbo dréngen, "forcar passagem/empurrar”, com os prefixes ver, nach- ou vor- para descrever os movimentos de “empurrar forcando" na directo do consciente ou do inconsciente. Obs. 2: dréingen e sua substantivacdo Drang contém um af ou urgéncia por alivio: ver DCAF, +3 Lust, “prazer’; Sign. tem um sentido sensorial e outro motivacional: 1) sensagdes prazerosas iniciais que ocorrem nos € & partir dos érgiios excitados e 2) disposi¢do, vontade, pique, dnimo. Obs: Ambos referem-se ao que ocorre no nascedoure das sensacées e diferem dos sentidos associados co termo “prazer" em portugués (descargas continuas e eventualmente gozo); entretanto, ¢ nessa acepcdo de “prazer" em portugues que o termo geralmente & empregade e teorizado por Freud, portanto, hé uma contradi¢do entre seu uso no idioma e o emprego freudiano, Freud aborda esse descompasso entre o sentide do termo em alemdo e sua descri¢éo psicodinamica, no texto ""Trés Ensaios sobre a Teoria da Sexvalidade”, 1905, [ESB, vol. Vil, p. 127]: ver também nota 4 © DCAF. + 4 Befriedigung, “satisfagdo"; Conot: "apaziguamento", "aplacamento» ou eventualmente "gozo" com caréter de alivio, Obs: Ao empregar a composi¢ao incomum Befriedigungslust, Freud ressalta que nesse caso se trata de um prazer diferente dos dois primeiros sentidos citados na nota anterior; aproxima-se do sentido em portugués: um prazer de “alivio", "gozo", vinculado ao escoamento da tensdo e ao apaziguamento; ver DCAF. + 5 Reiz, "estimulo" Sign: também "encanto" ou “irritacdo"; Conot: esta implecita uma relacdo entre a intensidade ov uantidade do estimulo ¢ suc qualidade psiquica de prazer ou desprazer; neste sentido o Reiz pode referir-se a uma leve comichéo que desperta o apetite, atrai e encanta (portanto, algo provocante, instigante, irresistivel) ou pode remeter ao excesso de eslimulagéo tornando-se dolorido e iirrtativo (portanto, algo provocative, espicagante), como evidentemente 0 caso nesse trecho; ver DCAF. + 6 [A dor e os meios do organismo para dominé-la s6o discutidos no Capitulo IV de "Além do Principio do Prazer" (19209), Studienausgabe, vol. 3, pp. 239-40, 0 tema jé havia sido abordado na Parte I do "Projeto” de 1895 (19500), na Segdo VI CA Dor"); também se faz mencéo a ele nos Uitimos pardgrafos de Inibigéo, Sintoma e Medo (1926d), Studienausgabe, vol. 6, pp. 307-8] + 7 Consta como “ago especifica” na Parte | do “Projeto” (1950a (1895), na Seedo | (’Primeiro Postulado Principal: O Ponto de Viste Qualitative") ] + 8 “satisfaz" (befriedigt), na acepedo de “apazigua’, “acalma’. Bedirfnis, “necessidade", Alt: “pulsdo", "caréncia”, Sign: refere-se & necessi- dade ndo como dado objetivo, mas como "Cer necessidade de’, "sentir caréncia’; implica @ presenca de um ser que sente falta de algo, portanto, tem também o mesmo cardter impelente de Trieb (puls0"), Reiz (“estimulo"), Drang ("pressdo") e Zwang (‘compulsdo”). Obs: Também pode significar "desejo” ou *vontade", 0 que € coerente com a polissemia de Trieb em aleméo; ver “Comentarios do Editor Brasileiro”, artigo precedente " Puls6es e Destinos da Pulsdo" (1915). + 10 Abwehr, "defesa"; Conot: "barrar 'rechagar ataque", eveca a ndo-resolucéo do ataque sofride e apenas barrado; ver DCAF. +11 (Uma modificagdo dessa férmula encontra-se em "O Inconsciente” (1915), Studlenausgabe, vol. 3, p. 161] +12 Obs: Aqui Freud emprega o termo Abwehr. + 15 Cf. em "Pulsdes e Destinos da Pulsdo" (1915), p.152 +14 (Cf."O Inconsciente” (1915), Studienausgabe, vol. 3, p.139 € segs.] “15 Urverdrangung, "recalque original"; Alt: recalque primevo, recalque primério; Conot. o prefixo ur- remete a algo ancestral e ndo apenas origindrio, primario. Obs. Freud também designa o pai totémico como Urvater, horda primeva como Urhorde, entre outros elementos de tempos ancestrais. +16 versagen, “interditar"; Alt. “frustrar"; Sign. “impedir", "proibir’, "negar acesso”, "bloquear" ver DCAF +17 Reprasentanz, “representante"; Alt: "representancia", Sign. elemento que tem a “funcdo de estar no lugar de outro", "enviado’, “delegado", "fungdc do substitute”. Obs: Para facilitar a leitura manteve-se a tradigdo de traduzir Représentanz por “representante", embora se refira a uma fungdo, € nao ao elemento que exerce @ fungdo de representar outrem; ver DCAF. imager", + 18 Vorstellung, "representagéo"; Alt: "ideta", Sign. inogdo", "concepséo", "visualizagéo". Obs: Nessa frase, Vorstellung foi traduzide por "representagdo mental", na acepctio de "imagem interna’, sendo de resto traduzido preferenciaimente por “representaco". Quando for traduzido por outro de seus varios sinénimos, advertir se-6 0 leitor de que se trata sempre do mesmo termo Vorstellung, ver DCAF. +19 Obs: Freud emprega uma composictio com trés termos, inusual em idiomas latinos: “der prychischen (Vorstellungs-) Reprasentanz des Triebe, Iiteralmente: "o representante psiquico (da representacéo) da pulsdo”, ue ‘aqui fol reorganizada em forma linear +20 (Ver comentarios editorials da edigdo inglesa sobre o trabalho anterior) + 21 gebunden, "enlacados"; Alt: "ligados"; Sign: do verbo binden, "omarrar',"prender”, "atar" "aderir’. Obs. Refere-se ao proceso de fixagéo e ndo tem a acepcio de “interligado”, “vinculado” ou “interconectado’, mas, "grudado”, "aderido": ver DCAF. + 22 Abkmmlinge, “representacdes derivadas"; Alt: “derivados" Sign: "rebentos’, “flhotes', “descendentes’, Conot: evoca vitalidade e autonomia, elementos com vida prépria; ver DCAF. + 23 Beziehungen, “ligagdes", Sign: "relacdo", "correlagdo’, "relacionamento”. Obs: Diverso de Bindung e gebunden, nota 21 + 24 Nachdrangen, “pés-calcar"; Sign: ir acrescentando outros recalques; ver nota 2, sobre drangen, 'Forcar/empurrar" + 25 [Freud também usa essa denominacto em sua apresentagdo do processo na andlise de Schreber (1911c, ver nota 24), bern come em seu trabalho sobre “O Inconsclente” (1915e, ver Studienausgabe, vol. 3, pp. 159 ¢ 140). No entanto, quando retorna go tema mais de 20 anos depois, na Seco Ill de “A Andlise Termindvel ¢ Intermindvel” (1937c), ele se refere a um "recalque posterior” (Studienausgabe, volume complementar, p. 368).] + 26 Verbindung, “conexa partes; ver DCAE. "Alt: “ligagGo"; Conot: ressalte a interligacdo, contato ou conexde, isto 6, transite entre as +27 (Para apresentacdo do recalque em duas etapas nesse pardgrafo e no anterior, existem, todavia, formulagdes anteriores algo distintas no terceiro parégrafo da andlise de Schreber (1911c), Studienausgabe, vol. 7, pp. 190-1, e também numa carta a Ferenczi de 6 de dezembro de 1910 (Jones, 1962, p. 525 € seg). Ver também um opéndice de 1914 @ A Interpretagdo dos Sonhos (19000), Studienausgobe, vol. 2, p. 525, nota 2) + 28 [0 que segue agora neste pardgrafo € discutide detalhadamente no Capitulo Vi de “O Inconsciente” (1915e, Studienausgabe, vol. 5, p. 149 € segs). + 29 Einfalle, “idéias esponténeas”, Alc: "associagéo livre", "representacées que ocorrem"; Conot: Idéias subitas que ocorrem para a mente; ver CAE +30 bewusst, "conscientemente"; Sign: aqui, na acep¢do de "com consciéncia" "tendo ciéncia do que faz"; ver OCAF. + 31 Zielvorstellung, "idéia olmejada"; Alt: “representagdo-alvo" ou “representagéo-meto”; Sign: imagem ov representagéo de algo almejado; ver DCAF + 32 [Nas edicdes alemds anteriores a 1924 essa oragéo termina assim: "(.) que, por meio dessos formacdes, afinal conquistou seu negado acesso da consciéncia". A partir de 1924 a palavra "da" fol corrigida por ™", o que modificou seu sentido] +35 das Bewrusste, "o consciente"; Sign: aqul indica a insténcia psiqulca; ver DCAF. +34 (Ch. p.60] +35 [Cf. Sedo I (A) do primeiro dos Trés Ensaios de Freud (1905d), Studienaus-gabe, vol. 5, pp. 63-5 e comentarios a respelto.] + 36 [Ver Capitulo II do livro de Freud sobre O Chiste (1905c)] ressio"; Conot: "pressdo"; mesma origem etimolégica de Drang, mas ndo contém 0 afd pelo alivio, refere-se portanto somente ao pélo impelente que pressiona; ver nota 21, p. 166, € OCAF mi 38 [Isso ¢ examinado ‘mais extensamente em "O Inconsciente” (1915), Studien-ausgabe, vol. 3, pp. 139-40.] + 39 [CE A Interpretagdo dos Sonhos (19000), Capitulo Vi, Secdo C, Studienaus-gabe, vol. 2, pp. 540-1. Ver "Complemento Metapsicolégico @ Teoria dos Sonhos" (1917 (15)), Studienausgabe, vol. 3, p.182] + 40 Besetzung, “investimento”; Alt: "catexia", investimento de carga”, -arga’’,“ocupacao"; ‘carga de investimento”, Sign. 1: do verbo besetzen, refere-se & a¢do de “carregar”, “preencher”, “ocupar’ ‘colocar’, “aplicar sobre", “depositor”; Sign. 2: Beset- zung pode se referir tanto 4 a¢do camo ao contetide que esté sendo depositado: Conot: evoca a reversibilidade e mobilidade da a¢ao; ver DCAF. + 41 (Expressto do periodo de parceria com Brever. Cf, por exemplo, os vitimos paragrafos de As Neuropsicoses de Defesa (18940),] + 42 Affekre, “ofetos"; Conot; embora aqui o termo seja used na acep¢do de energia que ao se expressar na consciéncia odquire uma qualidade (agradavel ou aversiva), em alemdo o termo evoca a idela de “excesso", de descontrole das emogées que transbordam. Obs. Ao longo da obra de Freud ¢ empregado com frequéncia com essa conotacio e ligado 4 irrupgao de medo (Angst) ver p. 183, + 43 bewsst, "“consciente” (advérbio); ver DCAF, +44 das Bewusste, nota 30. + 45 Bewusstsein, “consciéncia’; Conot: ndo se distingue foneticamente o substantivo Bewusstsein ("consciéncia") da composicdo (verbo + adjetive) bewst sein (‘estar ciente” ou "estar consciente"); 0 substantive, que designa a instancia, evoca a ideia de um estado provisério e dindmico; ver DCAF. + 46 Esta comparagdo, stil para © proceso de recalque também pode ser estendida a uma caracteristica anteriormente _mencionade do recolque. Preciso apenas acrescentar que necessito deixar um seguranca permanente vigiando a porta proibida ao convidado, pols sendo o rejeitado a explodiria. (Ver atras [p. 181]) + 47 unterdriickt, “reprimido”; Alt: "supresséo"; Conot: reprimir, sufocar. Obs. 1: Frequentemente adotam-se em portugués os termos "suprimir para unterdricken e “recalque” ou “repressdo” para Verdrangung, preferimos reservar para Unterdridckung 0 termo “repressdo, pols hé uma correspondéncia exata entre os dois termos, portanto, ndo empregamos o termo “supresstio”. Obs. 2: No capitulo 7 da interpretacdo dos Sonhos (1900) [ESB, vol. V, p. 549, nota 2), Freud diferencia Unterdrickung ("represséo") de Verdringung (‘recalque"), 0 primeira referindo-se ao esforco consciente de reprimir um sentimento consciente e inadmissivel, € o segundo, ao processo pré-consciente de evitar o acesso desses sentimentos & conscléncia; entretanto, em geral, Freud, como nesse trecho, néo diferencia ambos os termos; ver DCAF. +48 Angst, “medo'’ Alt: “angustia" ov "ansiedade"; ver nota 49 e DCAF, + 49 [As opiniées modificadas de Freud a respelto deste Ultimo ponto estdo expostas em Inibicdo, Sintoma e Medo (1926d), em particular no final do Capitulo Iv, bem como no Capitulo X, Seedo (b); ver Studienausgabe, vol. 6, pp. 255-4 e 298 e segs] ml 50 Sobre afeto e medo, ver nota 39. + 51.(O concelto de "retorno do recalcado" aparece muito cedo nos escritos de Freud. Encontra-se jé na Secao Il de seu segundo trabalho sobre as neuropsicoses de defesa (1896), bem come no esbo¢o anterior a esse trabalho, enviado a Fliess em 1° de janeiro de 1896 (1950a), Manuscrito K)] + 52 (Freud executou esse tarefa na Secto IV de seu trabalho sobre “O Incons-ciente” (1915e), Studienausgabe, vol. 3, p. 140 e segs.) +53 Angsthysterie, "histeria de angustia"; Alt: “histeria de ansiedade"; Sign: Angst significa |iteralmente "medo"; neste sentido, a traducdo poderia também ser "histeria de edo”: Conot: Angst evoca uma prontidée reativa ante o perigo. Obs. 1: Strachey no vol. Il, ESB, p. 13, menciona que a palavra alema Angst corresponderia a fear ou fright, mas que adotou em sua tradugdo 0 termo consolidado na psiquiatria ingleso de anxiety. No francés adotou-se um termo também jé tradicional na psicopatologia francesa da época, angoisse. Em portugués, seguindo-se a tradicéo inglesa ov a francesa, utlliza-se habitualmente “ansiedade" ou “angustia’; na presente traducdo, por motivos apresentados no capitulo sobre os critérios que nortearam a traducdo, seré mantida a nomenciatura dos quadros clinicos j¢ consolidada na terminologia psicanalitice brasileira de inspiragéo francesa; todavia, as ocorréncias isoladas da palavre Angor serdo traduzidas por "medo" quando esse parecer ser © termo mais adequado, sempre informando-se o leitor de que palavra se trata no aleméo. Obs. 2. Freud alterna a designe. mo de Argilysterie com Phobie (‘fobia ); aos sintomas que Freud descreve nos ana que designava de Angimaurose correspondem a0 quadro hoje descrito como an. drome do panico", mais sobre a traducéo de Angst e seus termos derivados e compostos, ver ver DCAF. + 54 Naturalmente isso se refere ao caso clinico do "Homem dos Lobos"(19186). que, apesar de ser sido publicado somente trés anos depois do presente trabalho, ia se encontrava finalizado em suas linhas gerais.] +55 (Refere-se 4 parcela representacional do representante da pulsdo, Triebreprisentanz. + 56 Vorstellungsantell, “parcela representacional”. Obs: A parcela da representacdo Vorstellung ¢ composta pelos elementos constitutivos de uma Vorstellung sempre ligados a imagens sensoriais (Imagem visual, ou sonora, ou tat € gustativa, etc), au seja, algo composto por uma Ideia ou nogdo imagindvel, portanto, trata-se da representacdo psiquica + 57 Verschiebung, "deslocamento”: Conot. 1: do verbo verschleben; algo que deslza ou ¢ deslizedo em outra directo por vies aplainadas, de pouca resisténcia; Conot2: 0 deslizamento reconfigura o conjunto e eventualmente o deforma. Obs: No contexto freudiano, remete @ idela de uma rede interligada de pontos ao longo de qual ocorre o deslizar: ver DCAF. +58 Zusammenhang, "conexdes", Alt: "contexto”. + 59 Ensbindung, “liberacéo”; Alt: "desligamento”. Obs. 1: Anténimo de Bindung Cigacdo", , “aprisionarmento” “enlagamento") e de gebunden ("igado", “atado", "enlagado"); ver nota 21 € DCAF. + 60 (Ver "O Inconsciente” (1915), Studienausgabe, vol. 3, p. 41 e segs) + 61 [Isso deve ser uma referéncia ao trabalho metapsicolégico perdido, sobre a histeria de convers6o.] + 62 [De conversdo) + 63 Zwangsneurose, “neurose obsessivo-compulsiva’: Alt: "neurose obsessiva’ Sign: Iiteralmente, “neurose de coercdo" ou "neurose de coocéi Conot: Zwong 6 algo que "obriga’» ou "forga" e 6 exterior, "coacdo", “obrigatoriedade”, “coercdo". Obs. Devide as tradicées da terminologia médica da época, o termo Zwang foi traduzido preferencialmente por "obsesséo" em inglés e "compulséio” em francés; os dois termos ndo correspondem ao sentido semantico de Zwang; "compulsdo" remete a ideia de uma vontade irrefredvel, “obsessdo” refere-se a uma idéia fixa e persecut6ria; ambos os termos ndo permite distinguir que o Zwang ("coerc6o") ao qual o neurético é submetido implica conflite entre o que o neurético imagina ser sua “vontade” e uma [1645, 26/05/2023) Fernanda Ferdinandi: forca avassaladora (Zwang) que se impée, percebida como se fosse “externa” e “alheia” ao sujeito; ver DCAF + 64 Nesse trecho, na Standard Edition hé um erro de transcrigdo € inverteu-se o sentido, indicando que havia de Inicio um anseio sédico que foi substituido por um anselo amoroso, o qual foi entéo recalcado, Freud na verdade firma 0 contrério. + 65 Gewissenhaftigkeit, "conscienciosidade"; Alt: "zelo", “cuidado"” + 66 [CI. Seco Il (c) da andlise do "Homem dos Ratos" (1909d), Studienausgabe,vol. 7, p. 97]

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