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DONALD R. MORRISON (Org. SOCRATES evrrora yIDEIAS& LETRAS Scanned with CamScanner Dinegio Eprrontat: Corinesque: Marls Aurélio Leo Agapejev de Andrade Coxstuno Eorroniat: Revisto: “Thiago Figueiredo Tacconi Marcio Fabri dos Anjos Diacrantacio: Mauro Villa “Tatiana A. Crivellai Trapugio: y Cara: ae Vinicio Frezza Colegio Companions & Companions Titulo original: The Cambridge companion to Socrates © Cambridge University Press, 2010 32 Avenue of the Americas, New York, NY, 10013-2473, USA ISBN: 978-0-521-54103-9 (Paperback) / 978-0-521-83342-4 (Hardback) “Todos os direitos em lingua portuguesa, para 0 Brasil, reservados & Editora Ideias & Letras, 2017. 2 impressio Rua Bario de ltapetininga, 274 Replica - Sto Paulo /SP ep: 0104-000 — (11) 3862-4831 Televendas: 0800 777 6004 vendas@ideaseletras.com.br ‘www.ideiaseltras.com.br Dados Internacionais de Catalogasio na Publicagio (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Socrates Donald R. Morrison (Org) (Tradugio: André Oides) Sio Paulo: [dias & Letras, 2016 (Companions & Companions) ISBN 978-85-5580-007-8 1. Filosofia Antiga 2. Sdcraes I. Morrison, Donald R., 1954. Titulo. HL Série. 15.10331 eDD-183.2 Tadice para catdlogo sistemét 1, Sécrates: Filosofia antiga 183.2 Scanned with CamScanner 8 Método socratico Hucu H. Benson O s didlogos socriticos de Platéo exibem repetidamente um traco dis tintivo do personagem principal deses dislogos — © assim chamado método socritico.’ " Platio enfatiza essa caracteristica de Sécrates quando faz seu personagem principal na Apologia atsibuit a culpa de seu processo judicial a seu método costumeiro (27b2). Aristételes enfatiza essa caracte- ristica de Sécrates quando limita as duas coisas que podem ser corretamente atribuidas a Sécrates aos “argumentos indutivos e a definicio do universal” (Metafisica 1078b27-29).? Nao obstante, a natureza desse assim chamado método socritico foi sujeita a uma variedade de quest6es, enigmas ¢ pro- blemas. De fato, dois estudiosos socriticos proeminentes foram recentemente levados a declarar que “nao existe tal coisa como ‘o [método] socrético’ ”? Sustento que tal resposta para essas questées, enigmas e problemas nio é nem necessiria nem desejavel. Os didlogos socréticos de Platéo cocrentemente apresentam Sécrates praticando um método filoséfico distintivo que exibe 1. 0s didlogos socraticos so os seguintes (em ordem alfabética): Apologia, Cénmides, Criton, Eutidemo, Eutifron, Gérgias, Hipias maior, Hipias menor, fon, Laques, porgdes do Ménon, do Protagoras e da Repiiblica |. Esses diélogos foram frequentemente classificados juntos como Consequéncia de sua posigao imaginada na ordem cronolégica da composi¢ao dos didlogos or Platdo. Eles frequentemente foram considerados como consttuindo as primeiras compo- sigdes de Plato, No entanto, nada do que segue depende de tal tese cronolégica. 2 Se Atist6teles for tomado como uma fonte relativamente independente acerca do Socrates histérico, ent&o podemos suspeitar que o método foi um trago caracteristco do Sécrates hist ‘ico. Contudo, se 0 relato de Aristoteles sobre Socrates for considerado dependente de Platdo, ‘entdo minha discusso deve ser entendida como restita ao método caracteristico de Sécrates Conforme retratado nos didlogos socraticos de Platdo. Para mais acerca da questo do Socrates histérico, cf. 0 capitulo 1 deste volume. 3. Cr. Brickhouse e Smith (2002, p. 147 e 154-156), e mais recentemente Wolfsdort (2003, .301-302) Scanned with CamScanner 238 __ Hart H. Benso8 ja comum, € UM Pressuposto ey. eratégia CO! epiae ‘comum, uma es 0, uma forma comt gico comum. 8.| Forma comum: 0 elenco Sécrates explica em detalhes por Na Apologia de Platéo, ao estd sendo processado. Ele comera sua mE de Qe egg sendo processado por acreditar-se que seja culpa: ih las ane cing apresentadas por Meleto, Anito ¢ Licon. Em ver disso, ele sugere que jurados o condenario por ouras acusagoes mais antigas, apresentadas poy vitios individuos, no sentido de que ele “é culpado de mé conduta por x + de esudar coisas celestes e subterrincas; tomar mais forte o poy ocupat ; : ce ensinar essas mesmas coisas a outros’ (19b4-cl; traducio de argumento; Grube) Mas Sécrates duvida até mesmo de que essas acusagées expliquem seu processo. Em ver disso, sugere que esté sendo processado por conta de tuma certa prética na qual se envolveu pelo menos desde que Quetefonte visitou o ordculo délfico ¢ recebeu a resposta de que ninguém era mais sibio que Sdcrates.> Essa pratica que Sécrates ¢ seus jovens imitadores em- pregavam irritou e embaragou muitos homens que tinham reputacio de serem sibios, Consequentemente, esses homens levantaram contra Sécrates acusages que poderiam ser levantadas contra qualquer filésofo. Essas tiltimas acusagées foram, contudo, exageradas como resultado da raivae do embarago que Sécrates ¢ seus jovens imitadores engendraram ao expor a ignorancia desses homens, Nore-se que Sécrates nao sugere que estd sendo processado por defender Posigées impopulares e controversas. Ele nao acha que é processado pot acreditar ¢ por encorajar outros a acreditar, por exemplo, que alguém ni0 deve causar danos nem aos amigos nem aos inimigos, que os lideres devem ser determinados pelo conhecimento ¢ néo pela eleicio popular ou por 5 Nao estou sugerindo que 2 visita de Querefonte ao or Scanned with CamScanner Mitovo socrinco 239 sorteio, ou mesmo que o sol é uma bola de ferro nn ligati te incandes socrates no diga isso explicitamente, cente. Embara : : acusagbes co populares podiam ser feitas a qualquer filésof, por que Sécrates, em particular, m base em crengas im- Portanto isso néo explicaria ; estd sendo processado Antes, Sécrates acredita que est sendo processado devido a uma certa pratica o1 i 1 maneira de filosofar que é peculiar a ele e Aqueles que o imitam.7 Assim, Sécrac » Sécrates acredita que pelo menos uma parcela de seu filosofar pode ser caracterizada como peculiarmente associada a cle — isto é como socratica. E essa parcela deseufilosofar que explica seu processo judicial. Ele descreve esa pritica dis tintiva ao relatar sua resposta & resposta do oriculo de Delfos a Querefonte, Conforme a descrigio de Sécrates, quando Querefonte lhe informou de que 0 ordculo havia declarado que ninguém era mais sibio que Sécrates, ele ficou confuso quanto ao que o ordculo podia significar. Pois ele era “cons- cio de nao ser sabio acerca de coisa alguma, grande ou pequena” (21b4-5), entretanto 0 deus nao podia mentir. A fim de entender 0 ordculo, Sécrates realizou a seguinte investigagao. Ele procurow aqueles que eram considera- dos sébios por si mesmos ou por outros, pensando que podia assim refutar o ordculo — dizendo “este homem é mais sabio que eu, mas dissestes que eu era mais sdbio” (212; tradugio de Grube). No entanto, apés visitar os po- liticos, os poetas ¢ 0s artestos, Sécrates descobriu que era incapaz de refutar 0 oréculo da maneira como havia antecipado. Em vez disso, ele descobriu que todos aqueles cuja suposta sabedoria ele examinara softiam do mesmo defeito, Todos eles pensavam que sabiam (ou considerava-se que sabiam) cettas coisas que cles néo sabiam. Consequentemente, sua investigagio 0 levou a concluir que 0 oraculo significava que “entre vés, mortais, € mais sibio aquele que, como Sécrates, compreende que sua sabedoria nfo tem iz que Anaxagoras ¢ um fildsofo 6 chDi Vida de Anaxagoras IX), que nos di eee at a seguido pela crenga impopular © 0 nico do qual temos noticia - no qual pode ter sido pers: {impia de que o sol é uma bola de ferro incandescente. "soa c ‘tica distintiva pode ser empregada 7 Socrates aqui reconhece explicitamente que sua Pr xf ric ‘Smith por outros, embora eles possam ser menos proficientes do que ele. Cf. Brickhouse @ (1986, p. 27-28), Que Séeratos considera essa praca distintva como Ut nmers ee sofar 6 tomado claro em sua resposta a oferta hipotética dor de detaro nooo Prometer parar de flosofar (Apologia 29¢-300). Scanned with CamScanner 240° __Huow Hi, Benson = valor” (23b2-4; traducio de Grube) ¢, portanto, ordenava a Sette ang, procurando qualquer um, cidadao ou one os Penso ser sabio, Ents ‘ se eu nio pensar que cleo 6, venho em auxilio do deus © mostrodhe gy. nao é sibio” (23b4-7; trad. Grube).* ce No curso da descrigao dessa mancira tlssine de filosofar We Sécrates considera ser responsivel por seu processo, dois 860s se tornam imedin. mente aparentes. Primeiro, la consiste em examinar a supostasabedoxis qualquer pessoa que Sdcrates porventura encontra. Sécrates provavelmente comegou seu teste do oréculo presumindo que aqueles que ele examinayy tinham a sabedoria que eles tinham a reputacao de ter, embora suspeitemos que, com o tempo, essa suposicao se desfez. Nao obstante, a pratica socré. tica distintiva comeca com um exame ou teste da suposta sabedoria de um individuo, independentemente do que Sécrates presume que 0 teste irg mostrar. Segundo, ele realiza esse exame néo apenas para mitigar sua igno. rincia sobre o significado do oriculo, mas também para persuadir aqueles que tém a reputagao de serem sabios de sua ignorancia, se eles ndo forem sibios (Apologia 2367), para aprender com cles, se eles forem sibios (Ap. logia 22b5).’ Aqui, portanto, temos algo como as condigées de identidade de uma maneira distintamente socritica de filosofar — pelo menos distinta- mente socritica segundo a compreensio do proprio Sécrates. Aqueles ep sédios nos didlogos socriticos em que encontramos Sécrates examinando a suposta sabedoria dos interlocutores a fim de persuadi-los de sua igno- Fincia (se for revelado que eles nao sio sabios) ou de aprender com eles (se for revelado que eles sio sabios) podem ser identificados como exempls da pritica distintiva de Sdcrates. Assim identificada, essa pritica socritica 8 Ct Brickhouse e Smith (1983); Brickhouse © Smith (1989, 87-100), para uma explicageo Pleusive! de come Séorates deriva um comando ou miss8o sivinos do pronuncamenlo © oreulo. Ci. também MePherran (2002), 9 Ct. também Hipias maior 287a6-7_ examinar 0 conhecimento dos outros ‘mesmo da resposta do ordculo & 0 cor © Hipias menor 369d1-¢2. Essas duas motivagbes Pare ‘880 relacionadas. objetivo maior de Sécrales ames nhecimento das coisas mais importantes. Tentar aprer Scanned with CamScanner ee a wa €0 elenco socratico."° Essa nio é, contudo, que Sécrates emprega. Considere, por exer lo, ‘da Apologia na qual nenhum intedlocutes sect Bate do 1 ou 0 discurso das Leis no Criton, a Postamente sabio presen! Pine a d : durante 0 qual o inter et eponmo 8 guess despaecu 6s er adidas igo “ jorincia em ss, 08 0 HO da pés-vida no Gorgias durante o qual o autodect ‘io Cilicles de Faro desaparecera.'? Nao obstante Sécrates de f - Ce fj verdade ele nao tentou estabel Em um ensaio que ja se Forno blema com 0 elencosoctético é “com que o refutando [aparente] € flo, « sua inconsisténcia com premissas cuja naquele argumento” (VLASTOS, 1994, p. 3). a SUpOsto “problema dy dlenco”depende de sutentar que Sécrates conclu partir da fas coyyy céoem 4, quep, orefutando aparente ¢ also e que nio-p é verdadero. Pg resolvé-lo, alguém deve explcar 0 que justificaria essa conclusio de Scrat Uma variedade de estudiosos seguiu Vlastos ao compreender 0 elenco des maneira. Eles concordam que Sécrates entende seu elenco como estabele. cedor da verdade ou falsidade de respostas individuais, embora nem todos concordem sobte 0 que justifica Sécrates compreender seu método dessa maneira.” Tal interpretacao do elenco foi chamada de interpretacio cons. trutivista, pois entende o elenco como estabelecedor da verdade ou falsidade de respostas individuais. O elenco, segundo essa interpretacéo, pode tere tem resultados construtivos ou positivos. No entanto, essa interpretacio foi questionada. De acordo com o que foi chamado de explicacio nio constr tivista, Sécrates néo considera que seu elenco estabeleca a verdade ou fl- dade de respostas individuais, nem estaria justificado se o fizesse.! Em vez de apresentar os detalhes do debate, quero me concentrar no que considero ser sua esséncia ~a relativa credibilidade das premissas do elenco— 4, ¢ Seo elenco falha em estabelecer a verdade ou falsidade de respostas individuais,is0 néo acontece por causa de sua forma, Qualquer pest! que buscasse mostrar que a tese de um oponente é falsa e que sua propria ee 20 Cr, por exemplo, Kraut (19 : 83); 1998) € Woot (2000), (1983); Polansky (1985); Reeve (1989); Adams ( 21 Cr. por exemplo, Stokes (1986) e Benson (2000, caps. 2-4). Scanned with CamScanner Miron soning 5 osigao, negada por um oponente, é verdadeira procuraria obter premi f part das quai a negasio da posigéo do oponente pudesse dct da, Fazer isso néo impediria de nenhuma maneira o estabeleciment ‘a verdade ot falsidade da tese relevante, De fato, & dificil imaginar d vue wren maneitaalguém procederia, Q que impede oestabelecimente de al verdade ou falsidade néo é a forma do elenco, mas arelativa credibilidade de suas premissas. Se as premissas obtidas nio sio mais bem conhecidas, ais evidentes, mais justificadas, ou de alguma maneira mais criveis do ae a tese cuja falsidade alguém visa estabelecer, entéo o argumento nio pode estabelecer a falsidade daquela tese. Além disso, mesmo se as premissas do dlenco forem mais criveis do que o refutando aparente, Sécrates deve reco- hecer que elas 0 sio, e considerar tal distingao epistémica como relevante para o resultado pretendido do elenco. De outro modo, nio deveriamos entender 0 uso que Sécrates faz do elenco como pretensio de mostrar a falsidade do suposto refutando, Mas um exame da estratégia que Sécrates emprega ao praticar seu método distintivo mostra que ele nio reconhece nenhuma distincao epistémica relevante entre as premissas de seu elenco e o refutando aparente. No que diz respeito a Sécrates, as premissas ¢ 0 refu- tando aparente sio igualmente criveis. De acordo com ele, todas elas ~ as premissas€ 0 refutando aparente ~ sio meramente crengas do interlocutor. E por essa razio que 0 elenco™ nao pode fazer mais do que estabelecer a fal- sidade da conjungio do suposto refutando e das premissas do elenco — isto é, da conjungao p & q & r& 5. O argumento de que Sécrates néo reconhece nenhuma distingao epis- témica entre as premissas do elenco ¢ 0 refutando aparente é simples. 22. Pelo menos um episédio elénquico individual. Cf. BRICKHOUSE e SMITH, 1994, p. 329 para uma defesa da vis8o de que episédios elénquicos repetidos podem ser capazes de resultados mais construtivos. 23 Dado 0 compromisso de Sécrates com a vis téncia doxéstica, Sécrates pode concluir, com base nos rest individual, que o interlocutor no possui o conhecimento qu habilidade de Sécrates de tirar essa concluséo deriva no do ‘a verdade ou falsidade de uma resposta individual, mas do esta incoeréncia doxdstica do interlocutor isto 6, do estabelecimento iso de que 0 conhecimento acarreta a coe- wultados de um episodio elénquico fe se supbe que ele tenha. Mas a estabelecimento bem-sucedido Jbelecimento bem-sucedido da da falsidade da conjungao. Scanned with CamScanner 246 Huon H. Benson =< nstrutivismo”. Vamos chamé-lo de “Argumento contra 0 © edade que Sécrates exige que as premissas do elencg i xu interlocutor acredite nelas. do interlocutor também ¢ exigida dg 1) A tinica propris tenham é que 0 2) Apropriedade de serem crensas s refutando aparente- ; ce Socrates nao reconhece uma distingio epige. 3) Consequentemente, premisas do elenco ¢ 0 refutando aparene; eso mica entre as , pat igualmente crivel i 4) Consequentemente, Sderaes no toma a falsidade do refuando apy ida rente como estabelecida. © argumento pode ser simples, mas as quest6es em torno das premis sas nao sido. : ; ‘A arengio dos estudiosos concentrou-se apropriadamente na primei- ra premissa ~a de que, segundo Sécrates, ser uma crenga do interlocurr é condigéo necessiria ¢ suficiente para a aceitabilidade de uma premissa, Ofereci anteriormente trés consideragées em sua defesa.”” Primeiro, as observagées metodolégicas de Sécrates acerca das premissas de seu elenco 24 Essa premissa é semelhante a variadamente nomeada “exigéncia de dizer 0 que voc ‘acredita’ (VLASTOS, 1994, p. 7), ou “regra da sinceridade” (IRWIN, 1993, p. 11), que se tor- nou um lugar-comum nos estudos socraticos. Cf. Beversluis (2000, p. 38, n. 3) para uma lista admiravelmente completa de estudiosos que endossam essa exigéncia. Mais recentemente, Poder-se-iam acrescentar Bailly, (1999, p. 66), Woolf (2002, p. 242 n. 38) e Blondel (2002, . 116). Enquanto a “exigéncia de dizer o que vocé acredita” estipula que ser uma crenga do interlocutor 6 uma condi¢ao necesséria para a aceitabilidade de uma premissa, a primeira ere ue aoa Contra 0 construtivismo” acrescenta que essa é a Unica exigéncia ae sane vere oe cee Para um argumento recente de que as premissas popes iota aa ccf. Wolfsdorf (2003, p. 280-283). Ele nao mostra, con Rea eae ve acrediar nas premissas para que o elenco aleance 0s 25 Oar pete giao romissa pode ser encontrado em Benson (2000, P 54-58). eri as premissas do olonen 'S que no haja nenhuma distingéio epistémica relevante no sejaestableeda. ong. oan aParente, © que afalsidade do suposto refutando conelusdes. No capitulo ee fm aberto a questa de se Sdcrates reconhece esse8 10s dilogos elénquicos exige rae Cf. também BENSON, 1995), argumento que nada na les deixe de enxergar a forga dessas conclusoes- 18 dessas trés consideragées, cf. Benson (2000, p. 37-55) Scanned with CamScanner Mérono soceknico 247 ee sempre e somente para as crengas de seu interlocutor. Por exemplo, quando rent dererminar se a premissa de que o mergulhador de posos inexperiente & mais COrajos0 do que o mergulhador de pogos experiente, quando cada um mergulha em um pogo, deve ser aceita no elenco que visa ar o professo conhecimento de Laques de que a coragem é a sibia resistencia da alma, Sécrates indica que ela deve ser accita se, e somente se, Laques acreditar nela (Lagues 193c6-8) Segundo, um exame cuidadoso das premissas reais que Sdcrates emprega em seus episddios elénquicos nos ape examin didlogos socraticos indica que a tinica propriedade que todas elas tm em somum & que io crencas do interlocutor, Propriedades como serem crengas de Socrates,” autoevidéncia,” senso comum, ou as crencas dos sébios” so sujtas a concraexemplos imediatos. E, finalmente, ser uma crenga do interlocutor é justamente 0 tipo certo de propriedade ao qual Sécrates pode pear, dada a univeridade de ses exameselénqucns A propriedade de set uma crenca do interlocutor é a tinica que tem probabilidade de estar disponivel a qualquer interlocutor que ele porventura encontre, jovem ou velho, cidadio ou estrangeiro, que professe preocupar-se com a verdade, com oconhecimento, ou com o cuidado de sua alma (Apologia 29¢4-3024). Nio obscante, essas consideragées pressupéem uma concep¢ao mais orto- doxae simplista da crenca do que 0 texto dos didlogos socréticos permite. No Giérgias 474b2-6, Sécrates atribui a Polo” a crenga de que ele pre- ferria softer uma injustica a cometé-la, apesar da inflexivel negacio de Polo de que ele acredite em tal coisa” — de fato, apesar da afirmagio de Polo de que ele acredita, a0 contrario, que softer um: crenga com base na qual Polo . injustica & pior do que co- meté-la, Aqui Sécrates atribui a Polo uma claramente ndo esti disposto a agit, €a qual ele nem mesmo pensa possuit. 28. Cr. também Protégoras 331c1-d1, Gérgias 495a7-c3, 4999-6, € Repiiblica | 3494-8. 2 Cr, Viastos (1994, p. 1-37) e Wolfsdorf (2003). 3% Cr. Guley (1968), Nakhnikian (1971) e talvez Santas (1972). 31 Cf Polansky (1985) e Bolton (1993) 32. Ea todas as outras pessoas. Deixo de lado as implica afimagao adicional. CY. Brickhouse e Smith (1994p. 79-82). 33 Gorgias 474b2-6. Cf. também Gorgias 482a6-3. 34 Isso excui tanto as explicagdes behavoristas de crengas quanto 35 Sin} obes e a justicativa para essa ples explicagdes Scanned with CamScanner q 248) geiHucis H BmeoN e_ jel renga a Polo? A reposts py a ce i td disposi | clara, Polo tem outras crengas nas quals Bs ace A 2 aBit fou gue ae jue & iy I er, das quais se segue 4 crenga de ql Preterivel softe, tag ele pensa ter, pe mi do que a comerer. Socraces est prestes a mostrar-lhe que gg injustiga srgiate ‘ sah Fle inclui aqui entre as erengas de Polo nao apenas aqueles fendmengs i ais 0 mesmo esti disposto a agin € que Pensa que possi ticos nos q jer Polo reconhega isso oy ni) a ibu Mas, entao, por que Sécrates att! doxas isp mas também aquelas que so dedueiveis (q dquclesfndmenos nos guas Plo est dsposto a aie Ou que le pen, : 4o heterodoxa ¢ expansiva de crenga jy que possui. Essa é uma concepsa smaiotdabdestgaeeen te equivale a atribuir a cada um € a todos ee : : ie infinito de crengas, com base na maioria das quais eles nunca estaro dispostos a agir, ou que nunca reconhecerao que possuem. No entanto, a primeira pre. missa do “Argumento contra 0 construtivismo” nao pode basear-se em um, tal concepeio expansiva da crenga. A “crenga” de Polo de que é prefetivel softer uma injustica a cometé-la néo é suficiente para aceité-la como uma premissa do elenco. Se fosse, 0 argumento em Gérgias 474b-479 e nio seria necessério, As “crengas” de Polo séo imediatamente inconsistentes, Para ver qual outra propriedade Sécrates exige para a aceitabilidade de premissa, podemos nos voltar para outra passagem frequentemente citada contra a primeira premissa do “Argumento contra o construtivismo”, Na Republica 348d, Trasimaco afirma que a injustica é uma virtue, ea sabedoria ¢ a justica sio seus opostos (doravante “a injustica é uma | Virtude”, para abreviar). Sécrates reclama que sera mais dificil do que ele | havia antecipado persuadir Trasimaco de que a vida da pessoa justa é mais | ———_ P, entéo A acredita que p" © 2credite que seja preferivel cometer uma injustiga a sofa. Or exempo, em Cérmidee oe" Suloatbuidas oo : ’ ida, ¢ ides, Mo resultado dé ogo € sugerida, Matos (8649 ager 188) a introspecga V®.85 cena e 'S desse tipo como, crengas marginais ou ocultss Scanned with CamScanner do que a vida da pessoa injusta, roveitos ue a vida da pessoa injusta daquele de 4! sana Sores cle deve da contnuidade realmente acreditar no que acaba de afirmar, Quando Trasim, perguntando que diferenga faz se ele acredita ou Nao, Sécrates re renente esponde: "Nao fa dferenganenhuma? (3405p) ene Como mencionei, essa passagem é frequentemente yiolagéo da primeira premissa do “Argumento contra 0 fim ver de afirmar que & necessério que Trasimaco acred do lenco, Sécrates parece aqui negarexplicitamente que apesar das aparéncias, isso no é 0 que a passagem suge responde citada como uma construtivismo”, ite nas premissas sso importe, Mas s re. Sécrates afirma quendo importa se Trasimaco acredita que ainjustica é uma vrtude. Mas“ injustica € uma virtude” nao é uma premissa do elenco de 349b1-350c1 1. Bh é0 refurando aparente desse elenco, Sécrates tivera esperanca de usar a premissa de que a justica é uma virtude e uma sabedoria, e a injustica seu oposto (doravante “a justica é uma virtude”, para abreviat) em seu exame da sabedoria de Trasimaco ~ a saber, em sua tentativa de persuadir Trasimaco de que a vida justa é mais proveitosa do que a vida injusta, contrariamente actenga de Trasimaco de que a injustica é mais proveitosa. Mas Trasimaco nega crer que a justica seja uma virtude, ¢ em vez disso afirma que a injusti- caéuma virtude. Sécrates estd prestes a mostrar que Trasimaco de fato acre- dita que a justiga é uma virtude, independentemente do que mais ele pense acreditar. Ele estd prestes a fornecer um argumento a partir de premissas nas quais Trasimaco reconhece que acredita, em favor da crenga de que ajustiga éuma virtude (349b1-350cl 1). Sécrates emprega aqui a concepsao expan- siva de crenga indicada no Gérgias. De acordo com ele, Trasimaco acredita que justica é uma virtude, quer ele pense que acredita nisso ou nio.** Nao pik Ties i 37 OF Repabiica 348a-b para esse objetivo explicto. Dado o elagio de Sdcrates (no impor Lando quéo irénico) a suposta sabedoria de Trasimaco e seu dese de ser ensinado Por = 6m 3374-3386 e 344d-e, Sécrates parece sugerir a Glauco em 348e-b que oes maior Svat Trasimaco de que ele também acredita que a vida da pessoa juste 6 prvore T Como que a vida da pessoa justando é proveltosa, afm de examinar sve SWPOL TN 58 Sabemos, a partir do Gérgias, que sua crenga de que a injustica & eas tine nenhum obstéculo para que ele acredite também que a justica 6 uma vitude, Scanned with CamScanner 250 _ Ho Beg para Socrates se Trasimaco realmente actedita Que que importa é que ele actedite que a justga¢ acredita que a injustica € uma virtude, entig inconsisténcia no conjunto de Crencas de (0 os argumentos subsequentes de 350d faz nenhuma diferenga justiga é uma virtude. O yirtude. Se ele também es terd estabelecido uma Sdcrat te Trasimaco jé em 350d;” se nao, em diante o farao. abe , ; Note que em vez de: servir como evidéncia de quea crenca do interlocutor nig é necssa pra a acitabildade da premise, ese ddlogo indica que tl eng nio é suficiente. De acordo com Sécrates, Trasimaco agedica que a justica ¢ uma virtude, independentemente de que ele acredie mais ou Pense que acredita em 348e, exatamente como Polo acredita que sofrer uma injustiga é prefervel a cometéla em Girgias 474b. A crenca de Trasimaco de que justca € uma virtade€ dedutivel de outas cengas que Tiasimaco reconhece que possui, Nao obstante, Sécrates no quer empregar essa crenca como uma premissa em seu argumento elénquico antes de mostrar a Trasimaco a dedugio. Nao apenas o interlocutor deve acreditar na premissa antes que ain| uma cla seja empregada em um elenco socritico, mas o interlocutor deve também reconhecer que acredita nela. E por isso que Sécrates est preocupado em determinar a sinceridade de Trasimaco em 349a. Se Trasimaco é sincero 20 afirmar que acredita que a injustica é uma virtude e que ndo acredita que a justica € uma virtude, entéo Sécrates precisaré mostrar a Trasimaco que ele também acredita que a justica é uma virtude — isto é, fornecer o argumento ¢m 349b1-350c11 —a fim de empregar a premissa de que a justiga é uma Virtude no elenco subsequente. Se Trasimaco nio é sinceto, entdo 0 argu mento € intl. O que é necessirio e suficiente para a aceitabilidade de uma Premissa no é simplesmente que Trasimaco acredite que a justiga seja uma virtude, mas que ele reconheca que acredita nisso, ———_ Proposicdes sejam contrérias, » nao em fazer a audiénca do elenco reconhecet @ Esse pode ser 0 ponto de duas outras passagens aU? lolacées da primeira premissa do “Argumento cont® incoeréncia cognitiva do interlocutor. 40 frequentemente citadas como vj Scanned with CamScanner a tBOSOCRENIC 95) Agora que vimos as dficuldades em torno da volvida 4 primeira premissa do “Argumento con, jmediatamente nos perguntamos sobre a natureza nda premissa. Em que sentido, alguém. pode se ro 4 inerfocutor genuinamente acredita no refutando cae serd que Es nte, i pidamente ele parece reeitilo quando v8 que ase auto vas cengas que ele reconhece possuir, nat itureza da ctenga en- inconsistente com as * © quio rapido ele & em oferecer uma al Agora ndo deveriamos sobrestimar a velocidade com que o inter torts abandonam suas respostasinicais. Hipias no Hipias maior, cieree rio abandona rapidamente sua crenga ( ernativa?" por exemplo, crenga (que serve como refutando aparente para todos os elencos naquele didlogo) de que Aquiles e Odisseu séo dife- rentes porque o primeiro é honesto, enquanto o segundo é mentiroso, tampouco Protigoras abandona rapidamente sua crenca de que a fang ea sabedoria sio distintas, o refurando aparente da dilkima quarta parte do Protégoras. Além disso, a defesa de Nicias para sua resposta de que a cora- gem é 0 conhecimento de coisas temiveis e ousadas no Lagues 1952-200c, adefesa de Critias de sua resposta inicial de que a temperanca é cuidar de seus proprios assuntos no Carmides 162c-164c, séo ambas sustentadas a0 longo de miiltiplos elencos.® Também no podemos simplesmente ignorar aevidéncia de que os interlocutores acreditam no refutando aparente, dado © construtivismo” - Protégoras 333¢2-9 e 352c-d. No primeiro caso, Sécrates aparente- mente aceita uma premissa em que a maioria acredita, mas na qual Protagoras afirma nao ‘acreditar; e no segundo caso, o refutando aparente é atribuido 4 maioria, mas Protagoras nega acreditar nele. Em ambos os casos, Sécrates pode sentir que a dedugao de que p 6 verdadeira, a partir da doutrina de Protégoras de que o homem é a medida de todas as coisas e de sua crenga de que a maioria acredita que p 6 imediata demais para que Protégoras plausivelmente falhe em reconhecé-la. Consequentemente, apesar da negagao e Protégoras, Sécrates sente-se confiante em assumir que Protégoras de fato reconhece ‘que ele acredita — isto 6, que ele est4 comprometido —na premissa € no refutando aparente, \dependentemente do que Protagoras diz. De fato, é interessante que em ‘ambos 0S | oe ‘importa menos que Protégoras negue acreditar nessas proposigoes, © mais que ele ter ‘Vergonha de admiti-tas. 41” Para um enunciado explicito dessa preocupacao, 42 OF Laques 195a2-196c1, 196c1-197d8, e 1976221 183et-164c7. cf. Brickhouse e Smith (2002, p. 149). 100c2; @ CArmides 16207-16403 & Scanned with CamScanner 252 Hucu H. pon a merade das respostas oerecidas para pergy, tas 0. que aproximadament sf cedticas do tipo “O 9 2» @ explicitamente proposta como cren Fas 0 pensamentos do inter . Nao obstante, ha se no comego do elenco ue ¢ F locutor.? algo de importante nessa preocupasio. E duy; 90: E duvidosy com Laques, pot exemplo, pode-se definitivam, dizer que ele actedita n0 que éacoragem- Serd que ele actedita quea coy eae ou serd que ele acredita que ela éa resistencia at ceito expansivo de crenga encontrado no oe a coragem éa resisténcia sébia da alma, Ma 1m é simplesmente a resisténcia da alma o que Laques pensa que acedita sob aresisténcia da alma, alma? De acordo com 0 con rovavelmente acredita que pensa que acredita que 2 Corse Sécrates nio sugere isso. De fato, reza da coragem é algo confuso, pode explicar em geral por que 0 interloc pre) abandona ou modifica sua definigéo proposta ou 0 refutando aparent vAlém disso, é improvivel que no Ciirmides, por exemplo, Cérmi a «steja to comprometido com sua terceira resposta a “O que éa temperanca?” quanto estava com a primeira. No ponto em que Carmides profere al posta de que a temperanca cuidar de seus préprios assuntos, ele jé esti se agarrando a qualquer oportunidade. Ele estd dando respostas an de outros. Ele nao tem certeza de que acredita nisso. Ele nem ne de p vago ¢ indefinido. Certamente i 0 a natu utor usualmente (mas nem ser me certeza isso signii 0 2a entende o que isso significa, como a discussao subsequente com Critias sugere. Mas ele acha que acredita, ¢ isso é suficiente para Sécrates. : gere. i ita, ¢ isso é suficiente para Sécraté Nao obstante, mesmo se entendermos essa tltim: . . alti ; 1a resposta como, de algu- ma maneira, uma expressio da crenca de Carmides — embora as maneira ; pl 6% érmi ir vaga ou indefinida -, nao podemo: ais fraca do ~ no podemos negar que essa crenga é mais 1e sua crent i : q \¢a na primeira resposta. Nao apenas as crengas dos interlocutores 43. Cl. Eutitron 9e8. ae 16206; Leques a 1501-2); Cérmides 159a9-06, 16063-5, 1600541. 44 Nao estou aqui comp 10, 78c-2; e Hi So eee en 9: € Hipias maior 288a3-5, © 293e7-8. | Red area ue A aria que do Sécrates com o principio de que se A acredita que Pe estou comprometendo Sores ete cre asaem de Polo pareceria volo: Em disso, entao A acredita que p,o qual com 0 principio de que se A acredita que A acredita mA ‘onde tenho conhecimento, e an 6 violado em nenhuma parte dos dilogos socratins, simplesmente ext : apoiado pelo comy : ue aceite a mn fe Soon 0580 0° ponder &s perguntas. Scanned with CamScanner —_— TT tr006 sini 259 séo frequentemente confusas, vagas indefinidas; varios graus. Nada disso, contudo, mostra que 0 elas também Ocorrem em € ortodoxa e simplista O elence ati 0 socratico ni mostra que Laques, por exemplo, tem um Conjunto de ct di rengas deter- minadas e bem formadas, todas da mesma forca, a respei disso, ele most pee ae ae cote Em vez. isso, ° Ta que a condicao doxéstica de Laques acerca da coragem é confusa¢ indefinida, Suas crengas sobre a naturez da coragem nao sio bem formadas, nem determinadas ¢ consistentes, Mas nada disso sugere que Sécrates exija que as premissas de seus episédios elénquicos sejam mais determinadas, ou sustentadas com mais forca, do que o com- promisso do interlocutor com o refutando aparente. Tudo que Sécrates caige é que o interlocutor reconheca ou tenha consciéncia de seu com- promisso doxdstico (seja diretamente ou por inferéncia). A estratégia co- mum de Sécrates para examinar a sabedoria de um interlocutor é estar sua coeréncia doxéstica, evidenciada pela tentativa sincera do interlocutor de responder as perguntas de Sécrates de acordo com o que pensa crer. Aincoeréncia doxastica, contudo, pode nao ser um resultado de crengas determinadas ¢ inconsistentes, todas da mesma forga, mas antes um re- sultado de crengas indefinidas ou confusas, ou concordéncias, ou quase crencas.“© A evidéncia de tal incoeréncia doxéstic: razio para supor que alguma crenga supostamente visadé Para isso precisamos de evidéncias de que ‘a nitidez de definigao carreguem 41 nfo fornece nenhuma Ja seja alsa, ou que sua negagio seja verdadeira. Socrates pense que o grau da crenga ou su eae jue ela 45 Embora seja uma questtio em aberto se Sécrates elou Platéo tote ae 208 e std errada, A sugestdo de Plato de que 2 crenga € um didlogo Senda “Jos cidogos Teeteto 189¢-190a) pode indicar que ele no pensaria. Suspeito em im prjto de peas Socrdtioos subdetermina a resposta. Ndo obstante, i880 4° fato suger valloso, Cf, por exemplo, Brickhouse & Smith (1994, P- ey ad 48 Para a distingdo entre crenga e concordancia, cf, Cohen (1992). Crengas ou erenas paeias, cf Morton (2002 P: 55-0). para anogiode quase Scanned with CamScanner f asa vs Dream 7 | «9.47 Mas nao se pode encontrar ney ‘Um; a ee ipo. % rie evidéncia desse tip pia de examinar a coeréncia doxéstica g seus r sua suposta sabedoria Pressupse u a im de examinal nhecimento ou sabedoria, ¢ robusta de co! mente considera ja do interlocutor, ele deve de sabedoria do incerlocu tat prey coeréncia doxdstica seja uma condicao eves “y, concepgao bastant aqeiacdescobererda MA vey, que Socrates repetida ras doxéstica revela a falta pondo no minimo que a abedoria. Uma tal 00 ‘a caracteristica adicio! ncepcao robusta de sabedoria ¢ apresentad, tia da s oe cratico, nal do método so: 0, para a qual nos como um: voltaremos agora. 8,3 O elenco como teste de definicdes mos nada (exceto de passagem) sobre o que Até aqui, nao disse lemento central do método caracteristico de Aristoteles enfatiza como um el Sécrates — sua preocupagio com a definicao. ssee elemento do método socritico na Apologia, ele certamente o faz em © Embora Platao nao enfatize outros didlogos socraticos. Dos catorze didlogos socraticos, seis séo prima- riamente voltados para definicoes: Eutifron, Cairmides, Hipias maior, Lague, Lisi ¢ Repiiblica 1, enquanto trés outros contém se¢ées substanciais vol- tadas para definigdes: Protdgoras 312c-314d, Gorgias 449a-466a e Ménon 71d-79e. Apés apresentar brevemente as principais condigées de adequacio da definicéo socrtica, concluirei este capitulo discutindo a conexio entre 47 A a on {sso ndo seria suficiente. Precisariamos de evidéncia de que todas as premiss#s m *pis6dios elénquicos so sustentadas com mais forga ou so mais definidas que 0oo" hs ee 0 interlocutor com o refutando aparente. urante - Rear a © lempo tenho usado © continuarei a usar “conhecimento” (epistemé), Paecaeea See (lekhné) de modo intercambidvel seguindo Plato, 2 Cr. Benson (2000, 49 Deixo aqui reserv , p. 10-11). ‘ada para outro momento a meng de Aristételes da indugo (220048! cf. brevement ite Benson (2000, p. 77, n, 82), e agora McPherran (2004). 50 Ha alguma sy puta sobre se o Lisi ‘exemplo, Sedley (1989), © Lisis & genuinamente voltado para uma definiga0. Of: FO" Scanned with CamScanner SS i a 255 agao socratica . essa preocuP: - © @ preocupacio de Sécrates d. sta sabedoria daqueles que ele porventura enco le examinar a su- ‘ nitra, Deixe-me comegar com uma adverténcia. Embora se 5 fra ja tradicional di cure esse interes socritico como um interese por d : tradicional dis- ‘ lefinicé ter cuidado. Sécrates de fato usa as vezes a palav inic6es, devemos ra nesses didlogos, Stega para definicéo (horimes) mas é sua fascinacio e preocupacs certa forma de pergunta que é digna de nota, A Sees ” oo AA pergunta em questio é: vp que é F2”, em que 'F’ é um marcador de posigéo para al questio é propriedade ou naturezasuscetivel em principio a miliplas is stots Por exemplo, no Lagues, Sécrates procura uma resposta para a ei nee queéa coragem?”; no Eutifron, “o que éa piedade?”; no Cirmida, ac a ts temperanga?”; no Ménon, “o que & a virtude?”; eno Procdgrd ane & um sofista2”. Sécrates ilustra suas perguntas com exemplos como a pe uma abelha?”, “o que é uma figura?” e “o que é a cor” no Ménon, ¢ “o que ba rapidez2” no Lagues. Menciono isso principalmente para nos lembrar de que descrever a preocupacao de Sécrates aqui como uma preocupagéo com defines jé¢interpretar 0 texto. O que o texto apresenta € uma preocupa- cio fundamental com a pergunta “o que é 2” Descrever essa preocupasio emo uma preocupacio com definigées € o mesmo que compreender a pergunca “o que é F2” de uma maneira particular ~ uma mancia que de fato, potencialmente enganosa. J 20 procurar responder & sua pergunta “o que é ates nao estd perguntando pelo significado da Jo significado da palavra bosiote) Ele cer que poderia ser respondide usando po de pergunta que os cients a2” ¢ descobrem que @ E quase certo qu ‘piedade?”, por exemplo, Sécr palavra “piedade” (ou melhor, pel tamente nao est fazendo uma pergunta um diciondtio. Esta fazendo 0 mesmo ti fazem quando perguntam “o que é 2 4gu “égua é H,O”. Poderfamos explicar esse ponte sustentando que a0 ae pergunta “o que & F?”, Sécrates estd A procura de uma definigéo real, dife- nico sustentar rente de uma defini¢ao nominal," mas seria come da esséncia ou nat ene resposta é que Sécrates esteja 4 procura Eat Wa wise 51. Gf Locke (1961, p. 3.3) ¢, por exemplo, Fine (1992, p. 202)- Scanned with CamScanner perguncar “0 que & a piedade?”, por exemp) forma pela qual todas as coisas piedosas «5, lo, ae ta “o que € F2”, Sécrates esté & procura . ie. F Ele estd buscando 0 que explica por 10 gue Sécrates explica que 2° est buscando “a propria dosas”. Ao fazer sua pergu” faz as coisas que sao F serem agoes piedosas sio piedosts- Renate cs apencia explicativa, es exige Em adigao a ess exigencia EXP ‘BE QUE as respostg para sua pergunta “o que é FF?” sejam coextensivas a col que sio By, explica isso sustentando que as respostas pare sua Peeuats © que é FP” de. vem estar em (Ménon 73al-3), dar-se atraves de (Ménon 7429), set comung a (Ménon 73d1), set sobre (Ménon 75a4-5), ou ser possuidas (Ménon 725. d1) por todas as coisas que sio F, ¢ somente por elas. Por exemplo, Séctates opée-se & resposta de Eutifron de que @ piedade € perseguir malfeitores, com base no argumento de que, segundo Eutifron, perseguir malfeitores nao é algo comum a todas as acées piedosas. Por outro lado, ele se opéea resposta de Gérgias de que a retérica éa arte que utiliza a fala, com base no mento de que isso nao pertence apenas 2 Finalmente, Sécrates indica que uma resposta a sua pergunta “oqueeR” é chamado de F em todas as coisas que sio Fe soment a Laques que ag argu 10s retéricos. deve ser “aquilo que nels”, Por exemplo, ao explicar sua pergunta “o que €a coragem?” no Laques, Sécrates explica que a0 perguntar “o que éa rapided?” ele est per guntando pelo que é chamado de rapide. em todas as coisas ripidas, esomente nelas (192a9-10). Com essa condicao, estamos quase de volta ao ponto de par- tida. Alguns comentadores consideram que essa condigao indicaa preocupasio de Sécrates com os significados, enquanto outros sustentam que &t assim chamada condigéo semintica € compativel com uma preocupacao sori com as assim chamadas definig6es reais. Independentemente de como este tk timo debate seja resolvido, podemos concluir essa breve excurséo pela natures da definigio socritica sustentando que, de acordo com Sécrates, uma sespos isas que sio F ¢ somente nelas, 0 que pertence # coisas 4 so F e somente a elas, e 0 que faz as coisas que sao F serem E* of Bens? = : Ona discussao mais extensa sobre a natureza da definigao soortioe . p. 99-111). Cf. também Viastos (1981) e Wolfsdorf (2003). Scanned with CamScanner cake ye om ess explicasio da defnigosocrtca em ‘: . m: aunear 0 que MotiVa a PFEOCUPAGEO de Sécrates an es dedica tanto tempo buscando respostas Pata suas per Por que ym seus interlocutores? No passado, jé foi um leg ‘guntas “o que ¢ T-comum tes Pon- dos, alguém Pode poss adefinigig, se pie | genes pergunta apelando em parte para a ctenga de $6, “erpeimento da defnigto ~ sto 6,0 conhecimento da nf We° to da respos pa ie ae oR : unta socratica do tipo “o que é F2” ~ é anteri fia a 'OF a0 conhecimento de ual sim, Eutifron nao pode acuradamente afimar saber que Processar seu pai por assassinato & uma acég pied : ar % iedosa, sede nfo sabe 0 que é a piedade, nem Ménon pode afirmar saber q ue a = €. virtude, Nos didlogos socriticos, Sécrates testa a suposta sabedoria de seus interlocutores fazendo- er outra coisa acerca de E> Assim, ude pode ser ensinada, se ele nao sabe 0 que thes a pergunta “o que é F2” relevante, e nosso exame anterior do método dlénquico indica que ele considera a coeréncia doxistica do interlocutor como uma condicéo minima do conhecimento deste sobre a resposta para a pergunta. Se Hipias, por exemplo, pretende manter sua reputagio de sabe- doria acerca de belos discursos ¢ atividades, ele deve pelo menos manter sua coeréncia doxastica no decurso de um teste elénquico de seu conhecimento sobre o que é a beleza. Em décadas recentes, contudo, surgiram varias objecées contra a atri- buicio dessa visio da prioridade do conhecimento de definigées a Sdcrates nos didlogos socraticos. Nao serd meu propésito nas paginas restantes res- ponder completamente a essas objegoes, nem de outro modo defender essa atribuigio, Em vez disso, voltarei-me para a objegao que considero estar no centro das outras, e sugerirei uma resposta que se integra bem & explicagio do método socratico que estive desenvolvendo. ‘A maioria das objecées & atribuigéo da prioridade do conhecimento de definigaes a Sécrates nos didlogos socriticos se enquadra mais ou me ate fdéncia textual 0s em dois grupos — primeiro, que néo hé nenhuma evidéncia ————— 0s dié- 83 Ct. Robinson (1953, p. 51), que por muito tempo safou-se com 2 Seah ‘davam a “vaga impresséo” de que Socrates tinha ess°| como Se anh ® iordade do conhecimento de defngbes da seguinte manera "S28 00° ‘lo A ndo sabe, para qualquer x, que x @ F, ou para qualquer G. YP ae Scanned with CamScanner 258 Hyatt H. BeNs Be : sbuir a Sécrates tal visio de prioridade,s « convincente = a textuais contra a atribuicio dessa visig g 6 ‘Bund, que hé boas See rail primeiros tipos de objesio encontra-se Nea ie ae, is de que a prioridade a aes a defingoes ri Ela é simplesmente implausivel deme nie ribuids a alguém cops Sécrates. A implausibilidade da visio : iliar a partir de Witgense, (ene ouos)5” Como Peter Geach sucintamente expresso em yn a classico: “Sabemos um monte de coisas em ie re de defn 3 termos nos quais expressamos nosso Soran E esa a objec implausibilidade que motiva as cua a Se itgenstin e Geach eg, verem corretos, devemos esperar evidéncias ‘irivalmente incontestaveis an. tes de atribuir a Sécrates algo semelhante a essa visdo. Além disso, qual quer evidéncia textual, mesmo pequena, ser suficiente para deixar de atribui, Ma ter, a Sécrates uma visio tio obviamente implausivel. O resultado & que s Wittgenstein e Geach estiverem corretos, nao podemos mais nos contentar com 0 julgamento de Robinson de que os didlogos socraticos dio a “vaga impressio” de que Sécrates esta comprometido com a prioridade do conhe- cimento de definicées. Mas nem todo mundo optou por esse tipo de resposta para a objecio de implausibilidade. Nem Geach nem Wittgenstein tomaram a implausibi- lidade da viséo como uma raz4o para negar que Sécrates a sustentasse. Em vex disso, eles culparam Sécrates por esse “estilo de pensamento erréneo” que, de acordo com Geach pelo menos, foi mais influente até mesmo do que a Teoria das Formas de Platao, no decurso da filosofia pés-platonica. 54 Cf. Beversiuis (1987, p. 215), Lesher (1987, p. 285) e Nehamas, (1986, p. 278-291). 55 Cf. Nehamas (1986, p. 292), Woodruff (1987, p. 22) e Viastos (1994, p. 74). 56 Todos os trés tipos de ‘objegses sao plausiveis e foram poderosamente defendidos, mes cles no deveriam sair vencedores. Para uma refulagéo detalhada dos dois primeios toes de objerdo em particular, cf. Benson (2000, p, 112-141). Uma quarta objegao sustenta av? ® brioridade do conhecimento de defnigdes & ineompativel com as repetides profssdes [gnoréncia de Sécrates acerca das respostas as perguntas de tipo "O que & F?", ¢ suas rates declaragées de saber varias coi a isas. P; i . Bonson 210 oe 'ara uma resposta a essa objego, cf. 57 Cf. Wittgenstein (1965, p. 19-20) A 162, p- 228). 58 Geach 1966, p. 371), ) © (1958, segdo 70). CF, também Moore (1962, P Scanned with CamScanner Fee eee 29) ‘Além disso, um argumento bastante forte sobre a a atribuicao dessa visto a Sécrates, nunca enuncia explicitamente ¢ em melhor explicagéo apoia Embora seja verdadeito que Sécrates li Plena generalidade seu comprometi- mento com a priotidade do conhecimento de definigées indiages no texto que podem ser entendidas como argu seu comprometimento, quando todas as Passagens so post: interpretagdes que buscam evitar esse comprometimento cam a parecer ad hoc, parciaise forcadas, © embora haja jentacao contra as lado a lado, as soctitico come- Atribuir a Sécrates a plena prio- ridade geral do conhecimento de definigées comeca a parecer uma melhor explicagio dos virios textos. Consequentemente, em ver de apelar para a caridade para forgar uma variedade de atribuig6es aparentemente ad hoe, parciais e manipuladas, fariamos melhor em deixar a caridade nos forcar 2 reavaliar a implausibilidade da visao sobre a prioridade.® Witegenstein, Geach, etal, se opéem prioridade do conhecimento de definig6es com base no argumento de que temos conhecimento — no sen- tido ordindrio ou justificado de conhecimento — de “um monte de coisas” sobre F sem saber 0 que é F. Mas dada a frequéncia de passagens que podem ser explicadas por um apelo a prioridade do conhecimento de definigées, a caridade poderia levar alguém a questionar se o conhecimento emprega- do nessa visio é 0 conhecimento no sentido ordinério. Em vez de pensar que a visio implica que alguém néo pode saber no sentido ordindrio nada mais sobre F antes de saber o que ¢ F, poderiamos ser mais caridosos com Sécrates e pensar que ele néo tem o sentido ordinétio de conhecimento em mente. © que a atribuigéo da prioridade do conhecimento de definigdes a Sécrates indica nao é que ele esta comprometido com uma visio implausi- vel, mas que ele esté comprometido com uma concepgio de conhecimento mais force do que a ordindria. Sécrates poderia concordar com Wittgenstein, Geach, etal, que podemos saber no sentido ordinério ~ na medida em que ————_— “ 59 Para uma defesa mals longa © completa dessa inferéncia da melhor explicagao, of. Benson (1990, p. 19-44). Para a refutagtio mais detalhada dessa defesa, cf. Brickhouse € Smith (1994, p, 45-54), 60 Para outras respostas, cf. Prior (1998) Wolfsdor (1994, p. 39-66). Scanned with CamScanner 260. _ Hiv He Bess08 Huo H. Bes 1 lo de conhecimento*' — um Monte de ia tal sentidi " Sdcrates ee o que éF Mas 0 apelo de Sécrates 4 Priotidade do sobre F antes de Z fnigdes indica que ele tem pouco ou nenhum inten lefini conhecimento. Ele etd interessado em um seg 7 forte ¢ robusto, € este aquele tipo de concn, sobre nada a respeito de F antes de ly Ay Sécrates est’ comprometido com tal Sentido de conhecimento néo deveria nos surpreender, & luz de tudo mais que ayen i étodo socrati a ue as me de Sécrates € motivado IPE seu reconhecimenty de sua falta de conhecimento de “montes ce icolest e Por seu desejo de retificar essa ignorancia examinando as alegagées de conhecimento de ou. tas psoas Além dso, devemos lembrar que seu método deretifcar esa ignorincia — aprender com aqueles cujas alegacdes de conhecimento forem validadas ~¢ frustrado por sua falha absoluta em confirmat as alegagies de Coisas conhecimento de em tal sentido de conhecimento mais que alguém nao pode te E. De fato, descobrir que ico neste capitulo. Devemos lemb; conhecimento daqueles que ele examina. Finalmente, devemos lembrar que seu método de examinar essas alegacdes de conhecimento depende de exa- minar a coeréncia doxastica daquele cujo conhecimento est sendo exami- nado, e quando as crencas do individuo sao reveladas como doxasticamente incoerentes, Sécrates conclui que ele carece do conhecimento que alega ter. Tal condicéo de conhecimento dificilmente é ordindria, ¢ sugere uma concepedo robusta, Consequentemente, a Preocupagao de Sécrates com a definicéo entendida desse modo se ajusta bem ao restante de seu método caracteristico, 84 Conclusio Neste capi ipitulo, Sustentej : lu id Ae e re- Senta um método soctétie, 1 8°% Aidlogos elénquicos Plato nos ap distintivo, Esse nio é 0 tinico método idlogos, CF “conhecimento eténay; on, =" ents rontedge em Viastos (1994, p. 3966). Scanned with CamScanner _ Mtr roca 261 mnérodo que Sécrates considera ter conduzido ao seu julgamento e even- sual execugao, € consequentemente é um método que ele considera como isintivo, mas nao tinico, dele proprio. Além disso, esse é 0 método pelo qual ele busca examinar as alegacées de conhecimento robusto daqueles que tém a reputagao de serem sabios. Ele faz isso por duas razées, Primeito, ele visa encorajar esses individuos a buscarem 0 conhecimento robusto que eles nfo possuem, se de fato for revelado que eles nao o possuem. Segundo, ele visa adquirir deles 0 conhecimento que ele nao possui, se for revelado que eles 0 possuem. Finalmente, ele examina o conhecimento robusto desses individuos testando sua coeréncia doxdstica mediante uma série de pergun- tas, frequentemente comegando com sua famosa pergunta “O que é F?”, Tal explicagio do método caracteristico de Sécrates ¢ coerente e plausivel quando compreendida de modo apropriado, Essa explicagio é o elenco socratico. 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