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to de Cinema: Embrafilme (tex Rede Minas, Fa 2012. CariTuLO 16 - TECNOLOGIA LITICA EM LAGOA SANTA No HoLoceNo INICIAL Lucas p& Mito Rets Bueno ANDRE! ISNARDIS Introdugio A regio de Lagoa Santa teve ¢ continua a ter um papel importante na for- ‘magio da Arqueologia Brasileira, despontando desde os primérdios do século XIX como um tema de intenso debate em Ambito nacional e internacional. Este livro apre- senta essa trajet6ria e deixa evidente os prineipais pontos de interesse e discussao, ‘Embora representem, em termos quantitativos, a maioria dos vestigios arqueolégicos coletados pelas diversas pesquisas que tiveram lugar em Lagoa Santa, os vestigios liticos receberam pouca atengo dos estudiosos que por ali passaram, salvo poucas excegdes (ver Beltrfio, 1975; Hurt e Blasi, 1969; Walter, 1958), ‘Neste capitulo tragaremos um breve histérieo das consideragses feitas sobre a indasttia litica de Lagoa Santa por pesquisas realizadas ao longo dos séculos XIX € XX e, em seguida, apresentaremos as caracteristicas gerais de duas colegSes: 1 cole {80 de vestigios liticos formada durante a realizagao do projeto “Origens e Microe- ‘olugdo do Homem na América: uma abordagem paleoantropolégica"; 2. colegao de ‘vestigios liticos depositada na reserva téenica de arqueologia do Museu Nacional! Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Por fim faremos uma discusso a tespeito das interpretagdes formuladas acerca da composicio e do significado da indstria litica da regido, principalmente no que se refere ao seu papel enquanto in- dicadora de tempo e espago. A questdo central gira em tomo das propostas sobre homogeneidade ¢ variabilidade artefatual e suas implicagSes para uma compreensio do processo de ocupagaio do carste de Lagoa Santa, 376 Lacok Santa: HsTORIA DAS FEEQUIAS ARQUEOLOGICAS E PALEONTOLOGICAS Histérico das pesquisas ‘A regitio de Lagoa Santa vem sendo objeto de pesquisas arqueolégicas hi qua se 200 anos, contudo as indiistrias litieas munca foram foco prioritétio dos pesquisa- dores, Neste texto apresentamos uma breve sintese sobre a produgdo desses autores, nna intengao de destacar o caréter que a maioria deles parece atribuir aos materiais Iiticos da regio, no que se refere a sua variabilidade tecnolégica. Podemos reconhecer, nas diversas obras, certo elenco de caracteristicas atri- buidas as colegdes liticas dos sitios escavados (quase exclusivamente abrigos r0- cchosos), A primeira delas é a numerosa presenga de lascas e outros fragmentos de quartzo, em todos 0s sitios. A segunda é a presenga de Iminas polidas de machado, que apresentam graus diferentes de potimento e lascamento prévio. A terceira ca- racteristica é a notivel auséncia de artefatos padronizados de fil reconhecimento, sendo pequenas e nto formalizadas as alteragdes secundérias produzidas nas lascas outros suportes. A quarta, também compartilhada pelos diversos autores, & a poucs vvatiagao dos conteédos dos diferentes pacotes estratigréficos - evidentemente, para aqueles autores que levaram a estratigrafia em cont ‘Nas pesquisas pioneiras, de Peter Lund, no século XIX, e de Padberg-Drenk- pol, nas primeiras décadas do século XX, as indtstrias liticas no so objeto de dis- cussio, Isso se deve, em primeito lugar, a0 fato de suas energias estarem direcio- hadas para o que Ihes parecia notavel e cientificamente relevante naquele contexto regional: a coexisténcia entre humanos e fauna pleistocénica extinta, proposta por [Lund e discutida por Padberg-Drenkpol. Em segundo lugar, a desatengao em relagio tos artefatos liticos pode ser derivada de sua pouca padronizagaio, pois eremos que, caso houvesse artefatos de morfologia padronizada ¢ evidente sofisticagto ou apelo estético as sensibilidades dos pesquisadores, esses artefatos teriam sido objeto de consideragées relevantes (especialmente dentro da problemitica da coexisténcia © possivel predagio da megafauina pleistocénica). (Os arqueélogos amadores que integraram, nos anos de 1930 a 1950, a Aca- demia de Ciéncias de Minas Gerais, diferentemente dos pioneiros, fez dos materiais liticos objeto de antlise e de proposigdes interpretativas (Hurt e Blasi, 1969; Mattos, 1938; Walter, 1958). H. V, Walter propés uma tipologia para os artefatos laseados € polidos, de modo a organizi-los num esquema evolutivo, de uma maneira que Prous identifica como evidentemente inspirada pelos esquemas europeus de periodizaga0 da Pré-Historia (Prous, 2013). Seria, porém, a auséneia de informagdo contextual estratigrfica nos trabalhos de Walter a principal caréneia para sustentar suas propo- siges (Hurt ¢ Blasi, 1969; Prous, 2013). {As atividades colaborativas de Wesley Hurt e Oldemar Blasi marearam 0 in'- cio das pesquisas de arqueélogos profissionais na regio de Lagoa Santa. Nelas, & inckistrias litieas iguram de forma relevante, embora ndo correspondam a0 foco prin a Sale aes mee arnieminn atte Da-GLonia, Neves, Huset (onc) fatuais da drea e, combinand: Cerca Grande como um conj gios (0 material Itico entre conjunto de sitios do carste. conseguiram distinguir peri nnenhuma mudanga expressiva se variagdes espaciais notivel ‘castalidades ou desvios at AA tipologia proposta: fungo, sendo os tipos, ati de taldo arredondado “perfuurador”, “talhadores", tavel no trabalho de Hurt & pegas de quartzo, Apesar como artefatos, sem que 0 (1960:583) considera a “The stone crystal flakes. “flakes were fo ‘ment represent ‘seem to be the’ jects we would deliberately, artifacts havea Os numerosos tral “Brasileira, sob coorder diversos sitios e uma escar Leopoldo (Laming-Emy nessas sondagens © em bases para uma nova gama muitos aspectos do registro ‘A necessidade de ‘mente distintos das europei rio para a caracterizagao das léxico comum, que permitisse cesforgo que entao se iniciaria No entanto, as descrigdes ini campo, reafitmam 0s aspectos = de resultados dos trabalhos ed ‘Ds-Giow, Neves Huse (orcs) is da érea e, combinando-a a informagées contextuais, propuseram o Complexo erca Grande como um eonjunto artefatual que retine diversas categorias de vesti- os (0 material Iitico entre elas), correspondente as ocupagdes pré-ceramistas do junto de sitios do carste. Dentro desse grande conjunto, contudo, os autores nao guiram distinguir periodos ou subconjuntos com nitidez, por niio pereeberem uma mudanga expressiva ao longo da estratigrafia dos sitios. E, embora houves- -variagSes espaciais notaveis, nllo era possivel entendé-las para além de possiveis sualidades ou desvios amostrais {A tipologia proposta pelos autores baseia-se na forma e em inferéncias de ngdo, sendo 0s tipos, a titulo de exemplo, “machado de anfibolito com cabo largo talto arredondado”, “martelo grande ¢ alongado, feito de um seixo de anfibolito’ perfurador”, “talhadores”, “raspadores de extremidade”, “facas assimétricas”. No- vel no trabalho de Hurt e Blasi é sua interpretagao a respeito do grande nimero de e¢as de quartzo, Apesar da tipologia, a énfase permanece nas pegas reconhecidas gino artefatos, sem que o refugo figure ainda como objeto de analises detidas. Hurt }960:583) considera a respeito dos conjuntos liticos: “The stone industry was composed predominantly of quartz crystal flakes. Hundreds of lakes and fragments of quarts crystal lakes were found. It's improbable that all these flakes and frag- ‘ment represent the spoils and rejects from tool manufacture, but seem t0 be the tools themselves. If they were the spoils qnd re- jects we would expect to find an accompanying large mumber of deliberately formed tools. Such was not the case, for only a few artifacts have a deliberated fabricated form or retouched edge.” Os numerosos trabalhos empreendidos pela Missio Arqueolégica Franco- lea, sob coordenagao de Annette Laming-Emperaire, incluiram sondagens em ivers0s sitios e uma escavagao de grande superficie, na Lapa Vermelha IV de Pedro -opoldo (Laming-Emperaire et al., 1975). Diversos materiais Iiticos foram obtidos ssas sondagens ¢ em coletas de superficie, Com a Missio, estabeleceram-se as ses para uma nova gama de abordagens nao somente da indistria litica, mas de muitos aspectos do registro arqueol6gico (ver Capitulo 7 deste volume). ‘A necessidade de descrever as indiistrias locais, cujos atributos eram evidente- te distintos das europeias, conduziu A. Laming-Emperaire a propor um vocabuli- para a caracterizagio das industrias liticas brasileiras, na tentativa de estabelecer um Kéxico comum, que permitisse comparar os materiais de regides diferentes e atender 0 esforgo que entio se iniciaria de caracterizagao tecnolégica dos conjuntos artefatuais. No entanto, as descrigdes iniciais, decorrentes em grande medida das impressdes de ‘campo, reafirmam os aspectos apontados por Hurt e Blasi. Em seu artigo na publicagio de resultados dos trabalhos editada pela Missi em 1975, M, C. Beltrdo (1975:132) 378 Lacon SANTA: HISTONA DAS FESQUIAS ARQUEOLOGICASE PLEONTOLOGIAS sintetiza sua percepeiio sobre os materiais liticos coletados nos sitios Sumidouro, Lapa ‘Vermelha IV, Lapinha I, Caieiras, Cerca Grande e General Carneiro: “Dans son ensemble on peut dj préeiser la pawvreté de l'industrie tant de point de vue technique que du point de vue fonctionel (absence de pointes de flche et de lance en particulier est nota- le), une certaine diversité des types se trowvant seulement dans le niveau d eéramique. Les outils sont dans leur majorité de dimen- sfons petites ow mayennes et les plus grands et les plus pesants, entre ewe se rouvent sourtout em surface, quelquefois associes & de petits instruments de quartetaillétupiguarani. La rocke la plus ilisée est le quartz opalin et hyaln, suivi par fe ealeaire” ‘Como consequéncia da atuagao dos pesquisadores da misstio francesa, estabele ceu-se um nécleo permanente de arqueologia na UFMG, coordenado por André Prous, integrante da Missio. As pesquisas arqueolégicas prosseguiram com 0 carste de Lagoa Santa como seu principal cenario, embora as coleg¥es lticas formadas pela Miss no tenham sido intensamente exploradas (Prous, 1991a). As escavagbes coordenadas por Prous concentraram-se alm da borda do carste, nas primeiras linhas dos afloramentos ‘quartziticos da Serra do Espinhago, que limitam o planalto cérstico a Leste. 0 Grande Abrigo de Santana do Riacho foi a priotidade das escavagtes ¢ dele afluiu grande quantidade de material Iitico, que, assim como no carste, era largamente dominado pelo lascamento do quartzo. Para as indistrias de Santana do Riacho, fo- ram desenvolvidas andlises sistematicamente atentas a tecnologia de fabricagao das pecas, considerando-se, pela primeira vez no Centro de Minas Gerais, a totalidade do ‘material itico como relevante nas andlises (Prous, 1991b). Desses trabalhos decorreram artigos de caracterizaglo des indlstrias de dif rentes momentos de ocupagaio, dos métodos de debitagem (Prous, 1991b) ¢ o artigo que caracterizou a técnica de lascamento bipolar (Prous Lima, 1986/90), majoritéria em Santana do Riacho e, nos anos seguintes, reconhecida em diversos outros contex- tos arqueol6gicos brasileiros, inclusive nos sitios do carste de Lagoa Santa. ‘Naquele momento, porém, os estudos tecnolégicos restringiram-se aos com juntos da Serra do Cipé e seria necessério esperar a retomada das pesquisas em sitios do carste pelo projeto Origens (Neves e Pil6, 2008; ver Capitulo 9 deste volume), 5 inicio do século XI, para que estudos de tecnologia voltassem a se realizar sobre os ‘materiais liticos de Lagoa Santa. Em 2007, a dissertagio de mestrado de F. Pugliese, Os sitios de Lagoa Santa: so cestudo sobre organizagio tecnoldgica de cacadores-coletores do Brasil Central, retoma anélises sistematicas. O estudo de Pugliese, realizado com as colegdes dos sitios Laps & Santo e das Boleiras, destaca o baixo grau de variabilidade artefatual, no interior de cas: ae Da-Gionia, Neves, Hse ( vas e nto qualitativas, 0 recursos nas imediagBes vatiabilidade das indistris como dreas de atividades: tos nao confere com mesmo (Pugliese, 2007: a sua amplitude temy que eram abandonados Dessa forma, 0s as afirmagdes de Hurt © de artefatual e na avali «80 de um mesmo sitio Conjuntos liticos ada Tecnologia Litica no} do Holoceno real arqueolégicas escavados: uma andlise preliminar do Reserva Técnica de Arg ‘No primeito caso, pais sitios eseavados pelo oriundos de coletas espaci sgicas. Dentre os sitios em do Santo, sitio escavado 2003. No caso da primeira, analise de massa com parte das. Para a Lapa das Boleiras de uma andlise qualitaiva anteriormente, prineipalms Afora os dois sitios informagdes disponiveis a compostas predominant sitios dispostos no entomo réncias foi sclecionado em. como ¢ 0 caso do sitio Cog € do sitio Sumidouro, com dats Da-Giowa, Neves, Huste (orcs) 379 ‘vas € nfo qualitativas, o que ele explica pela maior ou menor intensidade de exploragao de recursos nas imediagdes de cada sito. A interpretagio de Pugliese, relacionando grau de -variabilidade das indistrias a funcionalidade dos sitios, aponta para o entendimento destes ‘como dreas de atividades especificas, “haja vista que a aixa variabilidade dos instrumen- 105 no confere com tipos de sitios residenciais” (Pugliese, 2007:123). Aiinda segundo o ‘mesmo (Pugliese, 2007:125) “A qualidade ea distribuigao estratigrfica dos liticos, aliadas 4 sua amplitude temporal, sugerem que 08 abrigos foram locais de atividades especificas, que eram abandonados e reocupados intensa ¢ regularmente durante o Holoceno Inicial”. ‘Dessa forma, os resultados do trabalho de Pugliese retomam, em certa medida, as afirmagdes de Hurt e Blasi, no que se refere & percepedo de uma baixa variabilida- de artefatual e na avaliagao de que as diferencas entre sitios e entre niveis de ocupa- ‘do de um mesmo sitio so sobretudo quantitativas, Conjuntos liticos de Lagoa Santa: atividades do projeto Origens ea Colecao do Museu Nacional Durante a realizagio da pesquisa de pés-doutorado de um de nds (LB), intitu- ada Tecnologia Litica no Brasil Central. Diversificagdo e Regionalizagdo no inicio do Holoceno realizaram-se a cura ¢ a andlise de colegdes liticas oriundas de sitios arqueologicos escavados na regio de Lagoa Santa pelo projeto Origens, assim como uma andlise preliminar do material Iitico proveniente da regio e acondicionado na Reserva Técnica de Arqueologia do Museu Nacional/UFRI. No primeiro caso, foram organizadas as colegdes lticas provenientes dos princi- pais sitios escavados pelo projeto Origens entre 2000 e 2009, assim como os vestigios oriundos de coletas espacialmente dispersas, referenciadas como ocorréncias arqueol6- gicas. Dentre os sitios em abrigo, centramos esforgos na organizagio da colegio da Lapa do Santo, sitio eseavado desde o ano 2001, e da Lapa das Boleiras, escavado entre 2001 e 2003. No caso da primeira, akim do proceso de cura e organizagao do acervo fez-se uma andlise de massa com parte da colegdo, contabilizando um total de 10.500 pegas analisa- das, Pata a Lapa das Boleiras procedeu-se também & cura e organizagdo do aecrvo além de uma andlise qualitativa dos artefatos e nicleos, dialogando com trabalhos realizados anteriormente, principalmente a dissertago de Francisco Pugliese (2007). fora 05 dois sitios em abrigo mencionados, procurou-se organizar todas as informagSes disponiveis a respeito dos sitios ¢ ocorréncias arqueolégicas a céu aberto compostas predominantemente por vestigios liticos, conferindo especial atengfo aos sitios dispostos no entomo da Lagoa do Sumidouro. Esse conjunto de sitios e ocor- réncias foi selecionado em fungao da existéncia de datas recuadas para alguns deles, como ¢ 0 aso do sitio Coqueirinho, com datas em toro de 10.240 AP (Bueno, 2010), edo sitio Sumidouro, com datas em tomo de 8.200 AP (Araijo e Feathers, 2008). 380 Lacon Sana HISTORIA DAS FESQUISN ARQUEOLOGICASE PALEONTOLOGEAS Lapis D0 SANTO & DAS BOLERAS: ORGANIZACHO DO ACERVO E ANAUSE Laws po Santo A Lapa do Santo corresponde ao sitio arqueol6gico mais intensamente trabalhado ‘no ambito do Projeto Origens. Foram realizadas etapas de escavagao anuais desde 2001 até 2009, gerando uma colegdo imensa de vestigios liticos (Neves etal, 2004, 2008), Em fungdo da metodologia adotada para escavagio e coleta de vestigios no six tio, temos basicamente dois tipos de amostra: material plotado ¢ material de peneira primeito tipo corresponde aos vestigios coletados individualmente, com indicacso de sua localizagio através do registro das coordenadas x, y ¢ z. Esse material rece be um mimero de proveniéncia no sitio, que corresponde ao niimero ulilizado pars ‘marcagio e anélise da pega, O segundo tipo corresponde a um conjunto de vestigios coletados em peneira e oriundos de uma mesma unidade minima de escavagio, Esse tunidade é composta hierarquicamente por informagées sobre quadra, nivel e feiga0. ‘A amostra de material plotado ¢ composta por cerca de 4.100 pegas, que in cluem vestigios de categorias e matérias primas diversificadas, selecionadas durante 8 cscavagao principalmente em fungo do fator tamanho. Segundo o protocolo d= escavagiio adotado para este sitio a otientagto foi para que todo o vestigio litico mace que 1,5 em fosse plotado. A partir da observacao geral dessa amostra e daquelas provenientes da peneira podemos verificar que essa orientagdo passou por futuacdes ‘0 longo das etapas de escavacao. Embora no haja entre os plotados vestigios com dimensdes menores que 1,5 em, o inverso nfo é verdadeiro, uma vez. que ha pepas ‘com essas dimensdes em amostras provenientes da pencira De forma a faclitar a andlise e viabilizar 2 obtengio de uma estimativa da = tuagiio geral da colegaio litica desse sitio reorganizamos todo 0 acervo, agrupando os vestigios por drea de escavagiio. Assim, todos os vestigios coletados na mesma qua da esto hoje acondicionados na mesma caixa e organizados por niveis estratigraii os € feigdes, independente do estigio de cura, A partir dessa organizagio estimamos que a colegiio seja composta por cerca de 40,000 vestigios liticos. ‘Com relagdo & andlise optamos por fazer para este sitio uma andlise de mass (Abler, 1989), Para encaminhar essa andlise selecionamos dois crtérios: Matéria Prime ‘Tamanho, Durante o periodo da pesquisa de pés-doutoramento analisamos 10.500 pesas dest sitio através da aplicagtio dessa metodologia. Selecionamos inicialmente 0 material proveniente das trincheiras abertas na parte inferior do sitio por esta érea correspondiee ’ porgio do sitio que, aparentemente, apresenta a maior diversidade de vestigio litcos Posteriormente analisamos todo 0 material litico proveniente da sondagem F12 (Fie 16.1). De acordo com as datagdes obtidas (Neves et al, 2008; Strauss, 2010), todos o= vestigios encontrados ao longo de sua escavagao esto associados & ocupagio do abeis> ‘no Holoceno Inicial, Para o conjunto de vestigios provenientes das trincheiras 2 {oj finalizada e andlises estatisticas descritivas foram realizadas. No caso da sond22<~ Da-Gionie, Neves, Huste (ons) ente trabalhado anuais desde 2008 et al., 2004, 2008). de vestigios no si ye material de peneira. smimero utilizado para cconjunto de vestigios de escavagio. Essa nivel e feigo. ide 4.100 pecas, que in selecionadas durante © protocolo de jo vestigio litico maior amostra e daquelas ypassou por flutuagSes (plotados vestigios com juma vez que hi pecas uma estimativa da si jo acervo, agrupando os jos na mesma qua- por niveis estratigrti- jorganiza¢io estimamos Juma andlise de massa trios: Matéria Prima e 108 10.500 peeas fnicialmente 0 material esta drea corresponder de vestigios liticos. 2 sondagem F12 (Fig Strauss, 2010), todos os A ocupagdo do abrigo as trincheiras a andlise No caso da sondagem ainda nao foi concluido, Da-Giowia, Neves, Hua (ones) 381 ‘sito atqUceLScico°tAA D0 SANTO" Figura 16.1 ito arqueolégico Lapa do Santo 382 Lacon Santa: HTK DAs PESQUIAS ARQUEOLOGICASE PLEONTOLOGICAS Assim, com base na anilise realizada nas trincheiras, encontramos as seguin- tes caracteristicas mostradas nas Figuras 16.2 a 16.5. 2 | a Vy | 10% 1 quartzo hialino quartzo usilex quartzite warenito arent silicficado | mealesrio rochas basic 1 no identificadas Figura 16.2 - Grifica de dstbuigdo das matériasprimas na Lapa do Santo ~ andlise dos vestigios == tenchetras. | 155 20% aS tem Dem 2-dem Wl 4-Gem HG-10em "maior 1ocm Figura 16.3 ~ Gréfico de distibuigo da dimensio dos vestisos na Lapa do Santo ~ analise dos vestiges cs trinchaira, ‘DseGronia, Neves, Hue (ones) Figura 16.5 ~Grifico de cst dos vestigios das trincheiras Além dos dados 4 série de observagées qualita primeiro lugar, apesar de ficado, conforme apresenta colegao os vestigios de quar! ‘érias primas exégenas a reeibo = de plaquetas de quartzito, comam CAS EPAEONTOLOSICAS fencontramos as seguin- = andlse dos vestgios das Da-Giowa, News, Muses (orcs) 388 5200 1800 1600 |r 469. 4400 1200 cas 1000 Jaa 800 Ly 600 1 a a6 330 200 Ly 12034 5 6 7 8 9 041 12:43 14 15 16 Figura 16.4 Gréfco de dstribugSo dos vesigios nos nies estatigrficosca Lapa do Santo ~andlse dos vestigios das tincheiras 2400 1000 600 400 200 Figura 16.5 ~Grifico de dstribuigso des matérias rimas por nivel extetigrfico ne Lapa do Santo anslise dos vestigios das trncheiras Além dos dados quantitativos apresentados nas Figuras 16.2 a 16.5, hd uma série de observagdes qualitativas que puderam ser realizadas ao longo da anilise. Em primeiro lugar, apesar de evidenciarmos a presenga de sflex, quartzito ¢ arenito slici- ficado, conforme apresentamos na Figura 16.2, sto absolutamente predominantes na colerdo os vestigios de quartzo hialino. Em segundo, observamos a existéncia de ma- \erias primas exégenas & regido cirstica de Lagoa Santa, como & 0 caso, por exemplo, de plaquetas de quartzito, comumente encontradas em sitios arqueolégicos da Serra do Espinhago, em Santana do Riacho ¢ Diamantina (Isnardis, 2009; Prous, 19914). Es- 384 LAGOA SANTA: HISTORIA BIG FESQUEAS ARQUEOLOGIOAS € PALEDNTOLOGICAS sas plaquetas aparecem em sitios da Serra do Espinhago como suporte para a produc30 de artefatos com sega transversal plano-convexa ou trapezoidal, retoques diretos © subparalelos ou escamosos distribuidos por ambos os bords, formando Angulos entre bruptos e semi-abruptos (Isnardis, 2009). No caso da Lapa do Santo encontramos poucos exemplares desse tipo de artefato, todos fragmentados, mas, em alguns niveis cstratigrificos, encontramos lascas de quartzito possivelmente associadas as ativids- des de retoque e reavivagem de gumes de artefatos com essas caracteristicas. Outro tipo de vestigio litico encontrado entre o material das trincheiras esca- vvadas na Lapa do Santo envolve algumas lascas de arenito silicificado de granulagao bem fina, matéria prima essa que apresenta uma étima qualidade com relagdo & apti- {io 20 lascamento, Essas lascas s4o excepcionais, aparecendo em baixa quantidade, ‘mas invariavelmente associadas também a etapas de finalizagio ou formatagdo de artefatos formais de segao plano-convexa. Sao em getal pequenas,finas, com perfil curvo, com uma sequencia de negativos na face externa euja orientaglo pode variar entre paralelas ¢ ortogonais e taltio preparado, Outta categoria de vestigios que vale destacar sto 08 niicleos piramidais de ‘quartzito, com plataforma cortical de seixo ¢ lascamento unipolar e unidirecional. ‘No conjunto analisado ha também uma série de vestigios em silex. Para essa m=- téria prima dois aspectos chamam a atengdo: I hi uma grande quantidade de fragmentos « vestigios com sinais de alteraglo térmica; 2-né uma auséneia de correlagiio entre os ‘vestigios dessa matéria prima e etapas finais de formatagdo de atefatos. Ou seja, 0 silex, apesar de escasso na regitio e de responder bem ao lascamento, nfo passava, aparente- mente, por um processo de apropriagdo diferencial em relagdo ao quartzo hialino. Lara. nas Bowers Para o sitio Lapa das Boleiras realizamos uma organizagio inicial da eoles30, com 0 intuito de localizar e agrupar vestigios oriundos do mesmo local de colets © sistematizar 08 dados apresentados por Pugliese (2007) em seu trabalho de mestraéo. De acordo com os dados obtidos, a coleedo de vestigios liticos plotados deste sitio gira em tomo de 2.229 pegas. Cerca de 85% dessa colegdo foi analisada por Pugliese (2007), somando um total de 1.895 peeas. Como essa anélise envolveu = observagao de atributos individualmente, podemos observar em sua dissertaydo d= mestrado dados sobre proporgio das matérias primas ¢ das classes de vestigios,assiz= como sua distribuigio nas sondagens e em estratigrafia. Em nossa andlise observamos para esse sitio aspectos qualitativos relacions- dos ao processo de confecgao de artefatos & apropriagtio dos muicleos. No que s= tefere especificamente aos miicleos sobre cristais de quartzo, identificamos a seguin sequeneia, apresentada jé em Bueno (2012:74; Fig. 16.6): “Estes crstais apresentam inicialmente uma ou poucas retira- ‘Da-Guons, Neves, Hus (036s) a plataforma de ‘com superficie cea € totalmente superficie exte que apresenta esse processo aproveitament cristal, 0 que 20) mente perdida. ainda aparecer seja com a forgas pequenos, das Boleiras cexpressiva de estratégias em Da-Guonia, Neves Husse (orcs) 395 ‘1 plataforma defnida no pice do cristal para retiradas de lascas com superficie extema cortical alternadamente: a primeira las- a é totalmente cortical, a segunda pode tet tlio sem eértex e superficie extema cortical e assim suecssivamente até que esa aresautitzada como plano de pereussio desaparega, sa exgo- ta, O resultado dessa sequéncia,além das laseas,é um ncleo aque apresenta uma cicatriz de laseamento relativamente pla ra em uma extremidade e a taiz do cristal em outra. Ao longo esse processo de redugo 0 nicleo pode ser rotacionado para aproveitamento de Angulos disponiveis nas faces laterais do cristal, que ao mesmo tempo pode reatvar a aresta anterior- mente perdi Estas estratégias de debitagem unipolar podem ainda aparecerassociadas a estatégias de lascamento bipolar, seja com a forga aplicada na mesma diregdo do eixo morfoldgi- 0 do cristal ou apicada na drego transversal ao cixo morfo- Toaieo do cristal. Neste caso, a forma final, quando este nicleo «sti esgotado, & ligeitamente globular, ainda com partes das ‘superflcies aterais eoticais preservadas. Fm alguns cass estes nicleos globulares séo ainda reaproveitados para definiglo de pequenos gumes robust (figura 3). Em sitios como a Lapa das Boleiras e a Lapa do Santo, onde ha uma quantidade mais cexprossiva de mcleos, pudemos identificar a associago dessas estraégias em uma mesma pega, enquanto no Sumidouro e n> Coquetinho a evidéneias dessa sequéneia provém das aseas." liticos plotados deste foi analisada por andlise envolveu & ‘em sua dissertagio de de vestigios, assim ‘qualitativos relacions- niicleos. No que se ificamos a seguinte Figura 16.6 -Sequénca de lascamento em nucies sobre cristal de quartzo provenientes da Lapa das 80 leas Desenho de Luces Bueno. A 386 Lacon Sana: HsTORA Oks FESQUIAS ARQUEOLOGICAS E PALEONTOLOGICAS in A po Conforme mencionamos, dentre os sitios a céu aberto encontrados no entorno da Lagoa do Sumidouro priorizamos para andlise dois deles: Coqueirinho ¢ Sumi- ouro, que apresentaram conjuntos liticos eronologicamente situados no Holoceno Inivial. Os demais sitios do entomo da Lagoa geraram amostras muito reduzidas de material itico em associago com vestigios cerdmicos (Fig. 16.7). Como o foco principal da pesquisa de pés-doutoramento foi a ocupagio da regio associada a0 Holoceno Inicial e Médio a anilise dos vestigios liticas desses sitios foi postergada para um segundo momento. =~ . e Prosesceto Silas enticadas em June 2000 _ Stes cadastadoe até 2008 10 16.7 - Area com os sitios arqueol6gleosidenticados no entorno da Lagoa do Sumidouro. sitio Sumidouro foi objeto de pesquisa do Projeto Origens entre 2003-2009, associado as atividades sistematicas de prospeego no entorno da Lagoa do Sumi- douro™. Apesar da intensidade de intervengdes realizadas no sitio, a colegao de vesti- ios lticos gerada é relativamente pequena, Foram efetuadas 12 sondagens de 1 m°, responsaveis por uma colegio de 140 vestigios liticos, gerando uma densidade de 4. Para uma caracterizaglio do historico das intervengSes neste sitio conferir Neves et al. (2004, 2008) Da-Gioma, Neves, Hus (onc) aproximadamente 11 v. na estratigrafia © entre as cxisténcia de um ligeiro: mais baixa do sitio, proxi Além dos vestigios 0s, como uma pequena pagio historica, incluinde. a ceramica quanto os ‘mais superficiais, eng elemento identificado mando grandes concent ‘nem sempre apareceram em sendo recorrente sua guar essa associagao foram: partir dos carves quanto Feathers, 2008). Alguns com essa andlise so Mquartz0hialino a Barenito " Figura 16.8 - Grafs Ds-Gionu, Neves, Huss (orcs) 387 aproximadamente 11 vestigios por m* (Bueno, 2012). A distribuigio desses vestigios na esttatigrafia e entre as sondagens nao segue nenhum padréo definido, a ndo ser a encontrados no entorno existéncia de um ligeiro adensamento dos vestigios nas sondagens realizadas na parte Coqueirinho ¢ Sumi- mais baixa do sitio, prdxima & Lagoa do Sumidouro e ao sitio Lund, situados no Holoceno ‘Além dos vestigios liticos foram coletados no sitio também vestigios cermi- muito reduzides cos, como uma pequena vasilha aparentemente fragmentada in situ, vestigios de ocu- 16.7). Como o foco ppagdo hist6rica, incluindo artefatos em ferro e louga. Apesar dessa diversidade, tanto sda regio associada 20 € cerimica quanto os materiais historicos aparecem predominantemente nos niveis es sitios foi postergada mais superficiais, enquanto 0 litico aparece ao longo de toda a estratigrafia. Outro elemento identificado neste sitio com certa frequéncia sto carvBes, muitos deles for~ ‘mando grandes concentragdes em alguns niveis da estratigrafia. Essas concentragdes ‘nem sempre apareceram em associagao clara com os demais vestigios arqueol6gicos, sendo recorrente sua presenga em niveis “estéreis” (Neves et al., 2008). Para averi- guar essa associagio foram realizadas uma série de datagdes para este sitio, tanto a partir dos carves quanto de amostras de sedimento (Araujo et al., 2013; Araujo ¢ Feathers, 2008). Alguns dados basicos a respeito do conjunto litico deste sitio obtidos com essa andlise sdo apresentados nas Figuras 16.8 a 16.12. 5x 1% 2% 1% 2% 1% 8% mquartzohialine mi quartzo msilex wm quartzto marento arenitosilicificado ™ caleério outros Figura 16.8 ~Grafico de lstribulggo das maérasprimas no sto Sumidouro no da Lagoa do Sumi- Sitio, a colego de vesti- 12 sondagens de 1m do uma densidade de 308 [Lacon Sabra: HITORIA DAS FESQUIAS AAQUEOLOGICAS E PALEONTOLOGICAS martefato miniicleo mlasca mvestigio com negative vestigio de lascemento " vestigio térmico i vestigio natural Figura 16.9 ~Grifco de cstribuigéo das categoias de vestigiono sito Sumidouro ay IH tem 4-2em m2-3em MS-em B4-Sem — S-Gem mB-1dem ~ maio que 10cm Figura 16.10 ~Griic de dimensbes dos vestigios no sito Sumidouro, Da-Guoma, Neve Husee (ones) Figura 16.11 - Grifico de cis va. No que se refere a0) cias distintas: laseamy ‘unipolar a partir do & ‘mento unipolar lateral ‘mente realizado a parti utilizando-se como guia = == cristal. Outro aspecto 2s Muitas delas, como mos elas provém de supers capazes de fomnecer ‘== = essa escolha por sus Da-Guowa Neves, Husee (onc) 389 5% 2% Mausente “cristal Mseixo mnédulo Figura 16.11 Grifico de dstrbulgto dos tipes de cétexidentifcados nos vests tics do sto Sumidouro. WM inteiro ® fragmentado Figura 16.12 ~Grafco de graude preservacto dos vestigios no sto Sumidour. Aliada a essa andlise quantitativa procedemos também a uma andlise qualitati- va, No que se refere ao lascamento dos eristais de quartzo, identificamos trés sequén- cias distintas: lascamento bipolar seguindo o eixo longitudinal do cristal; lascamento unipolar a partir do épice do cristal, também seguindo o seu eixo longitudinal; lasca ‘mento unipolar lateral do cristal, cortando-o em seu eixo transversal, 0 que ¢ geral- rente realizado a partir de uma de suas faces planas, na érea de jungdo de tres arestas, utilizando-se como guia a aresta cuja direedo ¢ perpendicular ao eixo longitudinal do cristal. Outro aspecto a ser mencionado esta relacionado a dimensdo das lascas obtidas. Muitas delas, como mostra a Figura 16.10 so menores do que 2 cm, Em alguns casos elas provém de suportes também pequenos, embora haja na coleao suportes maiores capazes de fomnecer lascas também maiores. A pergunta que nos colocamos é: porque essa escolha por suportes pequenos ¢ lascas pequenas? E interessante observar que 390 [LAGOA Satta: HSTORI DAS FESQUAS ARQLEOLOGICAS E PALEONTOLOGICAS dentre a colegio ha inclusive artefatos com essas dimensdes, Uma vez que dentre 0 conjunto de artefatos hi vérios que indicam encabamento, seri que nfo femos nesse caso uma inehistria voltada para a produgao de artefatos compostos, elaborados através da articulagto de diferentes materials, como madeira, 0880 e litico? Como veremos, no caso do sitio Coqueirinho hd também elementos que favorecem essa hipétese. Em outras colegdes arqueolégicas marcadas pela presenga expressiva de quart- zo, caracteristicas semelhantes a essas aqui apontadas podem ser observadas. A produ- ‘glo de lascas de dimensdes muito pequenas e um aproveitamento intenso dos niicleos, que 0s reduz.a pequenas formas cibicas ou subglobulates, foi observada nas ocupagées do Holoceno Inicial no sitio Bibocas II, em Jequitai (bacia do Sao Francisco, no Norte de Minas) (Bassi, 2012) e também na regido de Diamantina (nas serras divisoras das bacias do So Francisco ¢ do Jequitinhonha, no Centro-Norte de Minas) (Isnardis, 2009), Bassi, que empreendeu uma detalhada andlise dos métodos de lascamento do quartzo no sitio Bibocas II, demonstrou que, a0 contrétio do que a bibliografia até entdo indicava (Prous e Lima, 1986/90), 0s cristais de quartzo podem ser abordados de multiplas maneiras - o que, inclusive, caractetiza 0 caso do Bibocas TI. A menor diversidade de métodos identificada para os conjuntos de Lagoa Santa deve, portanto, corresponder a escolhas dos lascadores e nao a imposi¢bes morfol6gicas dos cristais de ‘quartzo. E preciso ponderar, contudo, que a anélise de Bassi se deu sobre todas as pe- gas da colegao do sitio, enquanto a andlise dos conjuntos de Lagoa Santa aqui referida {oi parcial, ndo sendo possivel garantir que a menor diversidade nao derive do recorte amostral ‘Uma tiltima caracteristica das indiistrias de Lagoa Santa que precisa set men- cionada envolve a utilizagiio de ngulos variados para o aproveitamento dos suportes. ‘Tanto no caso de lascas, quanto artefatos e micleos, independente do suporte, notamos uma recorréneia no aproveitamento de todas as superficies planas, com angulos f3- vordveis ou nfio 20 lascamento, Esse tipo de comportamento frente & matéria prima & comumente interpretado como uma estratégia economizante, que tende a uma explora G0 exeedente da matéria prima, provocando sua exaustdo. Esse tipo de estratégia tem sido correlacfonada a locais/contextos nos quais hi restrigdes para obtencdlo de matéria prima, seja devido A distincia ou & acessibilidade das fontes. No caso de Lagoa Santa parece que nenhuma das explicagdes se aplica, uma vez. que 05 cristais so abundantes, ‘visiveis e amplamente dispersos, dificultando, pot exemplo, controle social de fonte de matéria prima, Sendo assim, essa aparente contradigdo entre comportamento economi- zante e disponibilidade de matéria prima permanece como uma questi a ser debatida, ‘Nos casos de Diamantina e de Jequitai (Bassi, 2012), também pode ser reco- nhecida a mesma contradigio aparente entre o intenso e estendido aproveitamento dos nijeleos e a disponibilidade de matéria prima, que é farta em ambas as regibes. Em Diamantina, especialmente, os cristais de quartzo, inclusive aqueles de dimensdes de- cimétricas, foram muito abundantes até o séeulo XX (quando o garimpo de cristais teve ee Da-Giom, Neves, Hse (orcs) de quartzo ainda hoje ativo (Bs comparativas entre as regides, deriam ser produtivas para 0 Para a colegdo de vi Coqueirinho aplicamos a me tigios do sitio Sumidouro™. es, 0 tamanho da colegio coletados. Alguns dados bsi andlise S20 apresentados quarto hiatno Figura 16.13 ~Grifico de ial vest de asco | | anette ~= | Figura 16.14 Grafica de BS. Para um detalhame= E palzonoLocicas ‘vez que dentre 0 rio temos nesse ve otimas Gras: lascamento bipolar. Arquivos do Museu de Histéria Natural da UFMG 11:91-111. PUGLIESE, F.2007 Os lticos de Lagoa Santa: um estudo sobre onganizagdo fecno- iégica de cagadores-coletores do Brasil Central. Dissertasio de ‘Mestrado, Univer- sidade de Sao Paulo. ROBERTSON, G.; ATTENBROW, V; HISCOCK, P2009 Multiple uses for Austr Jian backed artefacts. 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Martins Ket Formada em Histria pela P tre em Historia Social da C Ciéncia pela Universidade de: de de Filosofia e Ciéncias Hi de antropologia do Museu instrumentos cientficos (I 6 Pesquisadora Colaboradoray Rio de Janeiro onde desem Email: adriana.keuller@: Alenice Bacta ‘Arquesloga e Historiadora. ‘Museu de Historia Natural e pelo Museu de Arqueologiay Pés-Doutorado em Arq Email: alenicebaeta@y: Andersen Liryo Formado em arqueologia, fessor Adjunto do D Federal do Rio de Fanci sgica, com profunda ext Andrei Isnardis E professor adjunto do Depa do Setor de Arqueologia = da Universidade Federal ¢ Universidade de S80 P:

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