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Representações sociais de cristão e mídia religiosa de massa:

propagação, difusão e propaganda no discurso de Edir Macedo

A religiosidade constitui-se não só de um formato de encontro com o divino e


espiritualidade, mas também como forma de interação de grupos sociais que
seguem em geral a mesma linha de pensamento, e que, portanto, podem ser
expostas a discursos que tenham como base ideologias a propaganda e a
sustentação financeira e social da instituição em questão.
De acordo com Saquetto, D., Trindade, Z. A., & Menandro, M. C. S. (2017,
p.260)
Pensar a religiosidade implica pensar um ontos e um ethos
social, diga-se ainda, pensar as representações sociais que os
sujeitos religiosos articulam na constituição de suas
identidades como elementos de um grupo com o qual partilham
códigos, gestos e a própria vida em sociedade.

Porém, o passar dos anos não enfraqueceu as religiões e sim fortaleceu seu
processo de metamorfose que, resultou em novas denominações e o
neopentecostalismo, que tem como ponto chave a teologia da prosperidade,
tendo assim o seu foco no dizimo e na sociedade que se existe entre os
dizimistas e Deus.
Foram submetidos a analise de um sistema material da IURD (Igreja Universal
do Reino de Deus), tais como 62 edições da Folha Universal, durante o período
de 20 de julho de 2008 a 20 de setembro de 2019, na coluna de “mensagens”
de autoria de Edir Macedo onde o próprio comenta sobre temas diversos, e o
blog de seu fundador e líder, o Bispo Edir Macedo, no período de 29 de agosto
a 25 de novembro de 2015, porém para manter o equilíbrio apenas 62
postagens foram submetidas a análise do sistema.
Como explicita Saquetto, D., Trindade, Z. A., & Menandro, M. C. S. (2017,
p.262)
O corpus de análise da sessão “Mensagem” do Bispo Edir
Macedo, possuía 62 UCIs (unidades de contexto inicial) que
correspondem às divisões primárias dos textos analisados,
que, no presente caso, seria o número de edições do Jornal
Folha Universal. O corpus dessas 62 UCIs apresentou 375
UCEs (unidades de contexto elementar) que seriam justamente
as ideias frasais, com 70,97% de material textual analisado, o
que indica consistência razoável. Ressalta-se que a veracidade
moral do discurso não é aqui discutida, pois um discurso
mesmo que falacioso pode apresentar consistência, parâmetro
indicado pela quantidade de material analisado pelo software.

A analise do sistema da Folha Universal dividiu os resultados em 4 classes,


sendo estas subdivididas em 2 eixos, sendo elas, a classe 1 denominada de
prosperidade: desejo e benção, que tem relação com o eixo neopentecostal
vulgo, teologia da prosperidade. A segunda classe é denominada entre a fé
natural e sobrenatural, esta sendo associada com a promoção de milagres. E
estas duas classes fazem parte do eixo teológico, fé e comprometimento
dogmático.
O segundo eixo basilar da eclesiologia da IURD é denominado como, adesão e
comprometimento doutrinário, que diz respeito aos costumes e
comportamentos característicos da instituição. Já a classe 3 designada como,
casamento como lugar de disciplina e da realização do homem e da mulher de
Deus, que envolve diretamente a família em atividades da igreja e na
perpetuação de seus comportamentos e dogmas. Enfim, a classe 4 intitulada
de, a adesão religiosa como imitação das práticas bíblicas, e que demonstra o
embasamento bíblico tornando inquestionável argumentos religiosos.
Já a análise do blog do Bispo Edir Macedo demonstrou uma interligação entre
as classes sendo essas 4 e os eixos sendo esses 3 em que foram classificadas
tais análises, o eixo 1 o ponto de partida: a ausência do divino produz
sofrimento. É coincidente com a classe 4, família e sofrimento. Sendo a
constituição do eixo 2, caminho de conversão: do sofrimento a felicidade, mais
próximas da primeira e segunda classe (Deus, oração e igreja- saída do
sofrimento em direção a benção, e, gozo e conversão- aquisição da benção e
das graças, respectivamente)
Como exemplificado por Saquetto, D., Trindade, Z. A., & Menandro, M. C. S.
(2017, p.266)
A dinâmica dos eixos obedece certa estrutura de caminho:
antes da Igreja o sujeito não convertido possui todos os tipos
de problemas e a família é desestruturada, é o momento do
sofrimento. O sujeito então começa a orar, a frequentar a
igreja, a expiar seus pecados (classe 1) até que alcança o
gozo, a alegria, a cura (classe 2). De posse dessas bênçãos
uma nova criatura é evocada, no eixo 3, que passa a ser fiel a
Deus, à sua fé, à sua Igreja, e deve doar-se, também pelo
dízimo, para assumir sua nova condição.

A oferta feita aos menos favorecidos de prosperidade pessoal, social, espiritual


e econômica, é uma das bases da teologia da prosperidade que teve inicio nos
EUA em meados de 1940, ela se sobrepõe a antiga visão de mundo em que os
bens materiais em excessos ou os luxos antes só permitidos financeiramente a
classe media e média-alta, eram sobretudo mundanos, ou seja do mundo,
invenções do homem e não obra direta de Deus, porem com a ascensão
econômica de classes e o crescimento de integrantes da classe média, os fieis
que antes repugnavam tais bens materiais tinham agora um acesso inédito aos
mesmos, logo a teologia da prosperidade surge, junto com o
neopentocostalismo como uma renovação de que tal ascenção e acesso a
bens que antes eram considerados exclusivos das classes mais altas, seriam
na verdade uma graça divina para os fiéis que acreditavam e se doavam,
fisicamente e financeiramente para a igreja, teve inicio a cultura do dizimo,
onde ao contribuir mensalmente com a igreja (geralmente com 10% de sua
renda) se assegurava de que você estava no caminho para receber as graças,
e tal promessa juntamente com a articulação da igreja que buscava em
empresários bem sucedidos e fieis, parcerias que favorecessem os membros
de sua igreja dando assim mais embasamento a teologia da prosperidade. Em
outras a palavras a igreja abandonava a narrativa do sofrimento e voto de
pobreza de Jesus para abraçar a promessa de prosperidade, recompensa,
milagres, cura e vida eterna.
Porém tal comportamento e certa forma enfraquece a onipotência de Deus pois
no momento em que deus e o dizimista se tornam sócios (o dizimista com a
retribuição material para a instituição do criador, e Deus com sua retribuição
em forma de graças e bênçãos, como a ascensão social e econômica e a cura
de enfermidades), tal ideia de parceria e a oferta de graças e bênçãos foram
causas que impulsionaram o crescimento de igrejas neopentecostais como por
exemplo a IURD, porem a forma como essas graças e bênçãos são alcançadas
se deve mediante ao pagamento do dizimo, chegando algumas igrejas até
mesmo a cobrar 30% de dizimo ou proibindo que os devedores da tal oferta
comungassem da Ceia do Senhor, ou em alguns casos expondo os nomes dos
fiéis devedores do dizimo, o dizimo se mostra como sacrifício e prova de fé.
Por fim Edir Macedo utilizando de seus discursos também usa de doutrinação
para, estabelecer pontos basilares de sua igreja e de como a prosperidade
permanece na vida do fiel, alguns dos pontos sustentado por seus discursos
são, ser fiel a fé racional alcançando assim o sobrenatural, a demonstração da
fé pela mudança de vida e hábitos que geralmente acontece de forma radical
como forma de garantir sua passagem para o plano celeste, aderir as práticas
da bíblia tendo elas como verdade absoluta e negando tudo que não se
encontra na mesma, a prosperidade que vem acompanhada de bens materiais
que o fiel deve alcançar em vida, a forma como se obtém tais graças se dá pela
doação, o dizimo, e o patriarcado que se torna essencial para a sustentação da
ideologia, onde o homem deve ser heterossexual e ter posição de liderança na
família, enquanto a mulher cabe o papel de submissão e, da dedicação a
questões maternas e matrimoniais.
Referencias bibliográficas
Saquetto, D., Trindade, Z. A., & Menandro, M. C. S.. Representações sociais
de cristão e mídia religiosa de massa: propagação, difusão e propaganda
no discurso de Edir Macedo. Psicologia e Saber Social, 6(2), 259-273, 2017.

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