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unidade

QUÍMICA GERAL
unidade

1
Sistemas materiais, suas propriedades
e elementos constituintes
Prezado estudante,

Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram
organizados com cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo
completo e atualizado tanto quanto possível. Leia com dedicação, realize as atividades e
tire suas dúvidas com os tutores. Dessa forma, você, com certeza, alcançará os objetivos
propostos para essa disciplina.

OBJETIVO GERAL
Identificar substâncias e suas propriedades. Aplicar técnicas de utilização de vidrarias
e equipamentos de laboratório para o desenvolvimento de práticas experimentais.

Identificar procedimentos necessários de primeiros socorros, nos casos dos aciden-


tes mais comuns em laboratórios químicos.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Identificar os sistemas materiais, diferenciando substâncias e misturas.
• Identificar e determinar as propriedades de diferentes sistemas.
unidade

1
Parte 1

Sistemas Materiais e
Propriedades da Matéria

O conteúdo deste livro é


disponibilizado por SAGAH.
12 QUÍMICA GERAL

Classificação da matéria:
propriedades físicas e
químicas da matéria
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Reconhecer os estados da matéria.


„ Identificar as propriedades físicas e químicas da matéria.
„ Diferenciar misturas homogênea e heterogênea de substâncias puras.

Introdução
Pare um instante e observe os objetos ao seu redor: roupas, alimentos, pré-
dios, casas, meios de transporte, árvores e outras muitas coisas que você
encontra de forma natural no meio ambiente ou ainda outras que foram
desenvolvidas pelo ser humano. Os materiais pensados e desenvolvidos
pelo homem só se tornaram possível por meio do estudo dos materiais.
Na história da ciência, o estabelecimento de alguns conceitos foi
decisivo para os progressos nas mais diversas áreas do conhecimento
humano. Entre tais conceitos estão o de substância química e o de mis-
tura, ambos apresentados neste capítulo.
Se um químico tem uma amostra de certo material e precisa decidir
se ela é formada por uma substância pura ou se é uma mistura de duas
ou mais substâncias, ele pode realizar determinações das propriedades
físicas e químicas desse material. Com base nessas propriedades a deci-
são correta pode ser tomada. Dentre essas propriedades que permitem
diferenciar substâncias puras de misturas estão o ponto de fusão, o ponto
de ebulição, a densidade e a combustibilidade do material, propriedades
que serão apresentadas e discutidas no decorrer deste capítulo.
Sistemas materiais, suas propriedades e elementos constituintes UNIDADE 1
2 Classificação da matéria: propriedades físicas e químicasSistemas
da matéria
Materiais e Propriedades da Matéria PARTE 1 13

Neste capítulo, você vai encontrar o estudo geral da matéria e nela


identificar as propriedades físicas e químicas, características estas que
as diferenciam e possibilitam sua identificação. Você ainda saberá que
a matéria se apresenta frequentemente em nosso meio como mistura
homogênea ou heterogênea e que a ocorrência de substâncias puras
é rara no meio ambiente sem a utilização de processos de purificação.

Química: a ciência que estuda a matéria


O nosso organismo, o alimento que ingerimos, os medicamentos, as nossas
roupas ou o ar que espiramos são exemplo de matéria. Em consenso, a matéria é
definida como tudo que tem massa e ocupa lugar no espaço (BRADY; RUSSEL;
HOLUM, 2002). Preste atenção na palavra massa que utilizamos na frase para
definir matéria. Essas duas palavras frequentemente são empregadas como
se fossem sinônimos, o que é incorreto, pois referem-se a coisas diferentes.
Pode-se assim generalizar que todos os seres e objetos que fazem parte de
nosso universo são feitos de matéria.
É importante que você tenha clareza que a palavra massa em vez de peso
é mais correta, pois massa é a quantidade de matéria que existe em um objeto,
enquanto peso é a força que atua sobre um objeto quando ele está em um de-
terminado campo gravitacional. Pode-se fazer uma simples comparação para
que você entenda conceitualmente a diferença entre massa e peso. Uma maçã
é constituída de átomos e moléculas (pequenas partículas) que, agregadas,
formam uma certa quantidade de matéria e, assim, têm uma certa massa que
é independente de sua localização. Entretanto, o peso da maçã pode variar.
Considerando que a fruta esteja na lua, o peso dela pode ser seis vezes menor
que seu peso na superfície do planeta Terra. Por isso sempre utilize a palavra
massa quando expressar quantidade de matéria em um objeto.
Quando observamos uma amostra de matéria, ela pode estar em um ou
mais dentre três diferentes estados físicos: sólido, líquido e gasoso. A água,
uma substância muito importante dentro do estudo da matéria, pode existir
na forma de gelo (sólido), na forma de água líquida ou como vapor (gás).
A forma de apresentação da água depende da temperatura e da pressão no
ambiente. Embora a aparência física desses três estados da água seja bastante
diferente, a estrutura química da água (H2O) é a mesma em todos eles, apenas
a organização molecular e a distância entre as moléculas são diferentes. Um
quarto possível estado de matéria, chamado de plasma, está relacionado com o
estado gasoso e existe sob condições especiais. A matéria no estado de plasma
14 QUÍMICA GERAL Classificação da matéria: propriedades físicas e químicas da matéria 3

é obtida por meio do superaquecimento de um gás, causando o rompimento


de moléculas, produzindo íons e elétrons neutros entre si.
A Figura 1 representa uma situação bastante comum nas regiões de tempe-
raturas mais amenas, na qual a água se apresenta nos estados sólido, líquido
e gasoso.

(Vapor)

Figura 1. O iceberg, o mar a sua volta e as nuvens em seu horizonte são todos compostos pela
mesma substância, a água. Eles ilustram os estados sólido, líquido e gasoso, respectivamente.
Fonte: Andrea Danti/Shutterstock.com; gritsalak karalak/Shutterstock.com.

Os sólidos ocupam porções definidas do espaço. Eles geralmente têm


formas rígidas que resistem a variações. Os sólidos só podem ser comprimi-
dos, ou seja, pressionados para ocupar menor espaço, com ligeira alteração
de volume. Eles também expandem, ou seja, ocupam maior volume de forma
ligeira quando aquecidos. Exemplos de sólidos à temperatura ambiente (25 ºC
e 1 atm): madeira, rocha, osso, sal de cozinha (NaCl), ferro, entre outros.
Os líquidos também ocupam porções fixas do espaço, mas não têm formas
rígidas, pois tomam forma dos seus recipientes, enchendo-os a partir do fundo,
ou de sua base. Os líquidos podem ser comprimidos apenas ligeiramente
e, quando aquecidos, eles expendem um pouco mais em comparação com
Sistemas materiais, suas propriedades e elementos constituintes UNIDADE 1
4 Classificação da matéria: propriedades físicas e químicasSistemas
da matéria
Materiais e Propriedades da Matéria PARTE 1 15

os sólidos. São exemplos de líquidos em temperatura ambiente: leite, soro


fisiológico, sangue, água, metal mercúrio, entre outros.
Os gases não ocupam porções definidas do espaço e não têm formas defi-
nidas. Ao contrário, eles expandem sem limite para encher de forma uniforme
o espaço disponível. Os gases podem ser comprimidos para que ocupem
volumes ou espaços muito pequenos. O ar que respiramos é uma mistura
de várias substâncias gasosas, ou seja, o ar é um gás. Se você encher uma
seringa de ar, fechar a saída e pressionar o embolo da seringa, perceberá que
o embolo pressiona o ar, diminuindo substancialmente o volume ocupado.
Vapor de água, oxigênio, neônio, hélio, entre outros são exemplos de gases à
temperatura ambiente.
A matéria pode alterar sua forma quando é submetida a alterações de
temperatura, mas não perde sua identidade, ou seja, apenas passa de um estado
para outro. Isso quer dizer que, quando fornecemos ou removemos energia
em forma de calor, podemos mudar a temperatura de uma substância e alterar
o estado físico da matéria.
O estado físico da matéria depende de um equilíbrio entre a energia cinética
das partículas (agitação de moléculas e átomos), que tendem a se manter sepa-
radas, e as forças de atração entre elas, que tendem a aproximá-las (ligações
intermoleculares) (BETTELHEIM et al., 2012). Em altas temperaturas, as
moléculas têm alta energia cinética e se movimentam tão rápido que as forças
de atração entre elas são muito fracas para mantê-las unidas, formado assim
o estado gasoso. Em temperaturas mais baixas, as moléculas se movimentam
tão lentamente que as forças de atração entre elas tornam-se significativas.
Quando a temperatura é suficientemente baixa, um gás se condensa e forma
um estado líquido. Moléculas no estado líquido ainda passam umas pelas
outras, mas se deslocam bem mais lentamente que no estado gasoso. Quando
a temperatura é ainda mais baixa, a velocidade das moléculas não permite
mais que elas passem umas pelas outras, formando o estado sólido. Neste,
cada molécula tem um certo número de vizinhos mais próximos, os quais são
sempre os mesmos.
É importante salientar que as forças entre as moléculas são as mesmas em
todos os três estados. A diferença é que, no estado gasoso (e em menor grau
no estado líquido), a energia cinética das moléculas é suficientemente grande
para superar as forças de atração entre elas (CHANG; GOLDSBY, 2013).
16 QUÍMICA GERAL Classificação da matéria: propriedades físicas e químicas da matéria 5

A maior parte das substâncias pode existir em qualquer um dos três estados.
De modo típico, um sólido, ao ser aquecido a uma temperatura suficientemente
alta, se funde e se torna um líquido. A temperatura em que essa transformação
ocorre é chamada de ponto de fusão. Aumentando o aquecimento, a temperatura
sobe ao ponto em que o líquido ferve e torna-se um gás. Essa temperatura é
chamada de ponto de ebulição. Entretanto, nem todas as substâncias podem
existir nos três estados da matéria. A madeira e o papel, por exemplo, não
podem ser fundidos. Quando aquecidos, ou se decompõem ou queimam (de-
pendendo se estiverem na presença de ar), mas não se fundem. Outro exemplo
é o açúcar, que não se funde quando aquecido, mas forma uma substância
escura chamada caramelo.

Propriedades físicas e químicas da matéria

Propriedades físicas da matéria


De forma bem sucinta você já conheceu duas propriedades físicas da matéria:
o ponto de fusão e o ponto de ebulição. Estes estão intimamente relacionados
com a observação de seu aspecto, como cor, estado físico, sua massa, entre
outros. Propriedades como essas, que podem ser observadas e medidas sem
alterar a composição de uma substância, são chamadas de propriedades físicas
(CHANG; GOLDSBY, 2013).
Falando de forma mais específica do aspecto químico atômico, as pro-
priedades não envolvem mudanças nas distribuições eletrônicas ao redor dos
núcleos dos átomos, ou seja, a composição química básica da espécie não é
alterada por fenômenos físicos.
As propriedades físicas nos permitem classificar e identificar as substâncias.
Ponto de fusão, ponto de ebulição, densidade, condutividade elétrica, brilho
e dureza são considerados propriedades físicas.
Para entender as propriedades físicas ponto de fusão e ponto de ebulição,
vamos tomar como exemplo a curva de aquecimento da água, representada
na Figura 2.
Sistemas materiais, suas propriedades e elementos constituintes UNIDADE 1
Sistemas Materiais e Propriedades da Matéria PARTE 1 17
6 Classificação da matéria: propriedades físicas e químicas da matéria

Figura 2. Passo a passo da curva de aquecimento da água pura.


Fonte: Adaptada de Chang e Goldsby (2013).

Sob aquecimento contínuo, a temperatura do gelo aumenta até atingir 0 ºC,


mas permanece constante até que todo gelo se funda, no processo de fusão,
ou seja, passa do estado físico sólido para líquido. Essa temperatura constante
corresponde à temperatura de fusão (TF) ou ponto de fusão do gelo. A tempe-
ratura do sistema gelo + água líquida não varia (CHANG; GOLDSBY, 2013).
Depois da fusão, a temperatura da água líquida aumenta com o aquecimento
até atingir 100 ºC, quando se inicia a segunda mudança de estado físico,
a ebulição, ou seja, quando a água líquida passa para o estado físico gasoso.
Na curva de aquecimento, você pode observar um segundo patamar paralelo ao
eixo do tempo. Note que a temperatura também permanece constante durante
a passagem do líquido para vapor. Essa temperatura é chamada de temperatura
de ebulição (TE) ou ponto de ebulição da água (CHANG; GOLDSBY, 2013).
Quando as substâncias estão sob pressão constante (1 atm), como a água,
as temperaturas de fusão e de ebulição da água apresentam valores fixos e
tabelados. O tempo de aquecimento, entretanto, varia de acordo com a quan-
tidade de matéria que está sendo aquecida e analisada.
18 QUÍMICA GERAL Classificação da matéria: propriedades físicas e químicas da matéria 7

O estudo do aquecimento de diversos materiais levou à constatação de que


apenas as substâncias puras, isto é, formadas por um único constituinte como
a água, apresentam temperaturas constantes durante a fusão e a ebulição.
Quando são aquecidas substâncias não puras, como soluções, o comporta-
mento da curva de aquecimento é alterado. A Figura 3 representa a curva de
aquecimento de uma substância não pura, que poderia ser água misturada com
sal de cozinha. Essa mistura forma uma solução de água e sal.

Figura 3. Curva de aquecimento de substância não pura.


Fonte: Adaptada de Bettelheim et al. (2012).

As misturas não apresentam uma única temperatura de fusão e ebuli-


ção. Durante a mudança de estado físico de uma mistura, observa-se que
a temperatura do início da transformação é diferente da temperatura final.
As mudanças de estado ocorrem em uma faixa de temperatura. Assim, por
meio do comportamento durante as mudanças do estado da matéria, é pos-
sível determinar se uma amostra é constituída por uma substância pura ou
uma mistura. No caso da mistura de água e sal, a solução de funde a uma
temperatura menor que 0 ºC e entra em ebulição em temperaturas acima de
100 ºC. Em razão dessas características, nos países frios em que a presença
de neve é frequente, a utilização de sal de cozinha para fazer o desgelo das
ruas é muito útil. Como a água pura se funde a 0 ºC, a presença do sal faz com
Sistemas materiais, suas propriedades e elementos constituintes UNIDADE 1
8 Classificação da matéria: propriedades físicas e químicasSistemas
da matéria
Materiais e Propriedades da Matéria PARTE 1 19

que ocorra o abaixamento da TF da água, em que ela passa e ser líquida em


temperaturas menores que 0 ºC, causando o derretimento do gelo das ruas.
Dentro do estudo das misturas, você precisa prestar atenção no compor-
tamento das misturas azeotrópicas e eutéticas. A mistura que contém 96%
(em volume) de álcool e 4% (em volume) de água se comporta como uma
substância pura durante a ebulição, isto é, apresenta TE constante. Entretanto,
a TF não é constante, mas sim uma faixa de temperatura. Esse tipo de mistura
é chamado de mistura azeotrópica (CHANG; GOLDSBY, 2013). É comum
apresentar a porcentagem, em volume, de um componente numa mistura por
graus Gay-Lussac (ºGL). A mistura que tem 96% de álcool e 4% de água em
volume é conhecida como álcool 96 ºGL.
Já uma liga metálica usada como solda é formada por uma mistura que
apresenta 63% de estanho e 37% de chumbo. Tal liga se comporta como
uma substância pura durante a fusão, isto é, apresenta TF constante e a TE
ocorre em uma faixa de temperatura não constante. Esse tipo de mistura é
chamado de mistura eutética (CHANG; GOLDSBY, 2013). Algumas misturas
de metais que apresentam essa característica são usadas em soldas, fusíveis
e equipamentos de segurança empregados em instalações elétricas. Quando
a intensidade da corrente é muito alta e compromete a segurança da instala-
ção elétrica, os metais se fundem, interrompendo a partir desse momento a
passagem de corrente elétrica.

Diagrama de fases
Os diagramas de fases são frequentemente utilizados para demostrar as mudanças de
fases para qualquer substância. A Figura 4 a seguir representa o diagrama de fases da
água. A temperatura é plota no eixo x, e a pressão no eixo y. Três áreas são indicadas
como sólido, líquido e vapor. Nessas áreas, a água existe como gelo, água líquida ou
vapor d’água. A linha A-B, que separa a fase sólida da fase líquida, contém todos os
pontos de congelamento (fusão) da água – por exemplo, 0 ºC a 1 atm e 0,005 ºC a
400 mmHg.
No ponto de fusão, coexistem as fases sólida e líquida. A linha que separa a fase
líquida da fase gasosa (A-C) contém todos os pontos de ebulição da água – por
exemplo, 100 ºC a 760 mmHg e 84 ºC a 400 mmHg. Nos pontos de ebulição, coexistem
as fases líquida e gasosa. Finalmente, a linha que separa a fase sólida da fase gasosa
(A-D) contém todos os pontos de sublimação. Nos pontos de sublimação, coexistem
as fases sólida e gasosa.
20 QUÍMICA GERAL
Classificação da matéria: propriedades físicas e químicas da matéria 9

Em um único ponto (A) do diagrama de fase, o chamado ponto triplo, coexistem


todas as três fases. O ponto triplo para água ocorre a 0,01 ºC e 4,58 mmHg.

Figura 4. Diagrama de fases da água.

Um diagrama de fases ilustra como se pode ir de uma fase à outra. Por exemplo,
suponha que temos vapor d’água a 95 ºC e 660 mmHg (E). Queremos condensá-lo
em água líquida.
Podemos baixar a temperatura até 70 ºC sem mudar a pressão (deslocando-se
horizontalmente de E a F). Ou então, podemos aumentar a pressão para 760 mmHg
sem mudar a temperatura (deslocando-se verticalmente de E para G). Ou podemos
mudar tanto a temperatura como a pressão (deslocando-se de E para H). Qualquer um
desses processos condensará o vapor de água em água líquida, embora os líquidos
resultantes estejam em diferentes pressões e temperaturas. O diagrama de fase nos
permite visualizar o que acontecerá à fase de uma substância quando mudarmos as
condições experimentais de temperatura e pressão.
Fonte: Adaptado de Bettelheim et al. (2012).
Sistemas materiais, suas propriedades e elementos constituintes UNIDADE 1
10 Classificação da matéria: propriedades físicas e químicasSistemas
da matéria
Materiais e Propriedades da Matéria PARTE 1 21

Propriedades químicas da matéria


As propriedades químicas das substâncias são as que estão associadas com
as reações químicas: processos nos quais as distribuições eletrônicas ao redor
dos núcleos das substâncias participantes são significativamente alteradas,
sem variar a composição nuclear. Em uma reação química, as substâncias
interagem entre si para formar outras substâncias totalmente diferentes, com
propriedades também diferentes (ATKINS; JONES, 2018). Algumas vezes,
mudanças que ocorrem numa reação podem ser bastante radicais ou não.
Como exemplo, o processo de formação de ferrugem quando o ferro reage
em presença de água e ar, a decomposição da água em oxigênio e hidrogênio
pelo processo de hidrólise, a combustão de um palito de fosforo, entre outros.
As propriedades químicas exibem tendências mais acentuadas e podem ser
relacionadas diretamente com as características atômicas. Observe na Figura 5a
a interação entre o sódio e o cloro em uma reação química e como ao final
do processo é formada uma nova substância, diferente das que interagiram
inicialmente.

Sódio Água Hidróxido de Gás


sódio hidrogênio

Figura 5. Reação química entre sódio e água.


Fonte: Adaptada de (a) e (c) Sergey Merkulov/Shutterstock.com; (b) Zern Liew/Shutterstock.com.
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O sódio é um metal. Como todos os outros metais, é um bom condutor


elétrico e apresenta uma superfície brilhante. É um metal muito macio. Sendo
fácil cortá-lo com uma faca comum. Ao reagir com a água a reação é violenta,
liberando grande quantidade de calor e produzindo gás hidrogênio. Nessa
reação também é formado o hidróxido de sódio, conhecido como soda cáus-
tica, que corrói facilmente os tecidos do corpo humano. Perceba que para que
possamos estudar as propriedades químicas da matéria, esta é destruída, como
a realização da combustão do sódio em água. A combustão é uma propriedade
química. Dentre as propriedades químicas podemos citar, ainda, o teste da
chama representado na Figura 5b. Nesse teste, uma substância é introduzida
em uma chama e quando aquecida suficientemente emite uma luz de colo-
ração característica. Esse ensaio é utilizado para detectar a presença de íons
metálicos em amostras, baseado no espectro de emissão de luz característico
de cada elemento. Outros testes que investigam as propriedades químicas e se
relacionam com a maneira como as substâncias reagem umas com as outras
é a partir da utilização de um indicador químico, ou indicador colorémico,
entre eles: solução de iodo (para detecção de amido), licor de Fehling (para
detecção de glicose), água de cal (detecção de dióxido de carbono), sulfato de
cobre anidro (detecção de água), papel tornassol azul representado na Figura 5c
(detecção de substâncias ácidas/básicas), entre outros.
A seguir você encontra outros exemplos de reações químicas, como oxir-
redução, decomposição, combustão e síntese.

Oxirredução

A formação da ferrugem ocorre pela propriedade química de oxidação e


redução de substâncias em uma reação química. Essa propriedade é um dos
tipos mais importantes e comuns de reação química. A oxidação é a perda
de elétrons para a substância que vai reagir com ela. A redução é o ganho
de elétrons cedidos pela substância oxidada. Esse tipo de reação envolve a
transferência de elétrons entre as substâncias. Você sabe que objetos de ferro
ou aço, quando são expostos ao ar, enferrujam (o aço é na maior parte ferro,
mas contém alguns outros elementos também). Ao enferrujar, o ferro é oxidado
a uma mistura de óxidos de ferro. Pode-se representar a reação principal da
seguinte maneira (Figura 6).
Sistemas materiais, suas propriedades e elementos constituintes UNIDADE 1
Sistemas Materiais e Propriedades da Matéria PARTE 1 23
12 Classificação da matéria: propriedades físicas e químicas da matéria

Reação de deslocamento único


Redução

Oxidação

Figura 6. Reação principal da oxidação.


Fonte: Adaptada de Inna Bigun/Shutterstock.com.

Como vemos, o ferro sólido interage com oxigênio e forma óxido de ferro.

Decomposição

As reações de decomposição são reações que consistem na transformação de


um composto em outros compostos mais simples ou elementos. Compostos
binários simples (compostos de dois elementos) podem ser decompostos em seus
elementos. A água, por exemplo, é decomposta em moléculas de hidrogênio
e oxigênio por uma corrente elétrica. Esse processo, chamado de eletrólise,
é mostrado na Figura 7:
24 QUÍMICA GERAL
Classificação da matéria: propriedades físicas e químicas da matéria 13

Reações de decomposição
Uma reação em que uma molécula mais complexa quebra
para baixo para formar dois ou mais produtos mais simples

Gás de oxigênio Gás de hidrogênio

Água
acidificado

Elétrodo positivo Elétrodo negativo

Bateria

Figura 7. Eletrólise.
Fonte: Adaptada de udaix/Shutterstock.com.

Combustão

Uma reação de combustão envolve a queima de alguma substância. Como


exemplo, os combustíveis, como gasolina, óleo diesel, óleo combustível, gás
natural, carvão madeira, papel, entre outros. Todos esses materiais contém
carbono, exceto o carvão, e também têm hidrogênio. Se a combustão for
completa, o carbono reage com oxigênio, com ajuda de uma fonte de energia
externa, fogo de um palito de fósforo ou faísca da bateria de um carro, e o
transforma em CO2, gás carbônico; o hidrogênio será transformado em água
e ocorre liberação de energia em forma de calor e luz. A interação de carbono
e hidrogênio ocorre com oxigênio do ar.
Sistemas materiais, suas propriedades e elementos constituintes UNIDADE 1
14 Classificação da matéria: propriedades físicas e químicasSistemas
da matéria
Materiais e Propriedades da Matéria PARTE 1 25

Síntese

As reações de síntese são reações nas quais duas ou mais substâncias se


combinam para formar uma outra substância. A síntese da amônia é um
exemplo de uma reação de combinação. Nesse caso, dois elementos, nitrogê-
nio e hidrogênio, se combinam para formar amônia. A reação química está
representada a seguir.

N2 + 3 H2 → NH3

Diferença entre mistura homogênea e


heterogênea de substâncias puras
Neste estudo, é importante que você tenha clareza do que é uma substância
química, uma vez que essa expressão é essencial no estudo da química. Uma
substância é definida como uma porção de matéria que tem propriedades
bem definidas e que lhe são características. Anteriormente, já abordamos
propriedades físicas e químicas que são próprias de algumas substâncias.
Dentre elas, estão o ponto de fusão, o ponto de ebulição, a densidade, o fato de
ser inflamável ou não, a cor, o odor, entre outras. Duas substâncias diferentes
podem, eventualmente, ter algumas propriedades iguais, mas nunca todas elas.
Caso aconteça de todas as propriedades de duas substâncias serem iguais,
então elas são, na verdade, a mesma substância.
Na Figura 8 são mostrados exemplos de substâncias e são mencionadas
algumas de suas propriedades.
26 QUÍMICA GERAL
Classificação da matéria: propriedades físicas e químicas da matéria 15

(a) (b) (c)

A substância enxofre, sólido A substância ferro, sólido A substância cloreto de sódio,


amarelo com cinza-metálico com sólido branco com
PF = 115 ºC, PF = 1.538 ºC, PF = 801 ºC,
PE = 445 ºC, d = 2,07g/cm³ PE = 2.861 ºC, d = 7,87g/cm³ PE = 1.465 ºC,
d = 2,17g/cm³

Figura 8. Substâncias químicas e suas propriedades.


Fonte: Adaptado de Atkins e Jones (2018); (a) wasanajai/Shutterstock.com; (b) Aleksandr Pobedimskiy/
Shutterstock.com; (c) THERDSAK SUPAWONG/Shutterstock.com.

Substâncias puras x misturas


A água tem densidade 1,00 g/cm³ e o cloreto de sódio 2,17 g/cm³. Ao acres-
centar cloreto de sódio à água e mexer, obtém-se uma mistura cuja densidade
é diferente da dos dois componentes isolados. Analise o Quadro 1, que ajuda
a esclarecer esse ponto.

Quadro 1. Densidade de algumas misturas de água e cloreto de sódio

% de sal na massa total da mistura Densidade (g/cm³) a 20 ºC

1 1,005

4 1,027

8 1,056

14 1,101

18 1,132

22 1,164

26 1,197

Fonte: Adaptado de Furniss et al. (1987).


Sistemas materiais, suas propriedades e elementos constituintes UNIDADE 1
16 Classificação da matéria: propriedades físicas e químicasSistemas
da matéria
Materiais e Propriedades da Matéria PARTE 1 27

Como se pode perceber, qualquer mistura de água e cloreto de sódio tem


uma densidade tal que não lhe permite ser classificada nem como água pura
nem como sal.
Verifica-se experimentalmente que uma mistura de água e cloreto de sódio,
colocada num congelador, não congela a 0 ºC. Esse sistema inicia seu conge-
lamento abaixo de 0 ºC (o valor exato depende do teor de sal) e a temperatura
não permanece constante durante o congelamento, mas diminui gradualmente.
Quando aquecida, verifica-se que o sistema não entra em ebulição a 100 ºC.
Ele começa a ferver acima de 100 ºC (assim como no congelamento, a TE
de pende do teor de sal) e a temperatura não permanece constante durante a
ebulição, mas aumenta progressivamente, como visto anteriormente.
Você pode perceber, portanto, que uma mistura de água e cloreto de sódio
tem propriedades que não são características da água nem do sal. Em posse
de todas essas análises e constatações, podemos estabelecer uma importante
diferença entre substância pura e mistura. Uma substância pura, como o próprio
nome diz, está pura, ou seja, não está misturada com outra substância ou com
outras substâncias. Em geral, quando um químico se refere, por exemplo, à
substância água, ele está deixando subentendido que se refere à substância
pura água. Já uma mistura é uma porção de matéria que corresponde à adição
de duas ou mais substâncias puras (ATKINS; JONES, 2018). A partir do me-
mento em que elas são adicionadas, deixam obviamente de ser consideradas
sustâncias puras. Elas passam a ser as substâncias componentes da mistura
que forma um sistema.
Veja a seguir outros exemplos de misturas.

Como uma mistura é constituída de dois ou mais componentes em proporções


que podem variar de uma amostra para outra, podem ser exemplo, ainda, um chá
preparado por você. O chá adoçado, constituído principalmente de moléculas de água
e moléculas de açúcar (com algumas outras substâncias misturadas nelas advindas
da planta utilizada na infusão), é uma mistura. Você pode fazer chá ligeiramente doce
(uma pequena proporção de açúcar em água), muito doce (uma grande proporção
de açúcar em água) ou de qualquer nível de doçura intermediário. Veja a Figura 9.
28 QUÍMICA GERAL
Classificação da matéria: propriedades físicas e químicas da matéria 17

Figura 9. Chá com açúcar.


Fonte: Tro (2017, p. 9).

Você pode observar que moléculas de água dispersam o açúcar no meio e outras
substâncias dissolvidas. Nessas condições, as características dessa mistura não serão
mais as mesmas. Não terá mais características de água nem de açúcar, mas assumirá
novas propriedades que serão únicas da mistura.

Mistura homogênea e heterogênea


A natureza apresenta uma grande diversidade de materiais. É preciso analisar
a composição e as propriedades desses materiais para que eles possam ser
utilizados ou transformados nos mais diversos objetos. Para facilitar a análise
dos materiais, os cientistas delimitaram uma porção do universo que será o
foco da análise e receberá o nome de sistema. Dessa forma, vamos chamar
uma mistura de 2 ou mais substâncias de sistema. Como no estudo acima, a
mistura de água e sal passará a ser chamada de sistema água e sal.
Sempre é bom ressaltar que o estado de um sistema é descrito pelas pro-
priedades gerais e especificas dos materiais que o compõem, incluindo as
condições de pressão e de temperatura em que se encontram.
Sistemas materiais, suas propriedades e elementos constituintes UNIDADE 1
18 Classificação da matéria: propriedades físicas e químicas da matéria
Sistemas Materiais e Propriedades da Matéria PARTE 1 29

Um sistema pode ser classificado como homogêneo ou heterogêneo,


dependendo do seu aspecto. Uma porção de água filtrada apresenta um
único aspecto em todos os seus pontos e, por isso, corresponde a um sistema
homogêneo. Um pedaço de madeira não apresenta aspecto uniforme em sua
extensão e corresponde a um sistema heterogêneo. Cada um dos diferentes
aspectos observados em um sistema é chamado de fase. Fase é uma porção
do sistema que apresenta as mesmas características em todos os seus pon-
tos, sendo, portanto, de aspectos uniformes mesmo quando observada no
microscópio comum.
O sistema homogêneo apresenta aspecto uniforme e as mesmas carac-
terísticas em toda a sua extensão. Esse sistema é monofásico (constituído
por uma única fase) (ATKINS; JONES, 2018). O sistema heterogêneo apre-
senta aspectos e características diferentes em sua extensão. Esse sistema
pode ser formado por duas fases (bifásico), três fases (trifásico) ou mais
(polifásico) (ATKINS; JONES, 2018). A Figura 10 apresenta dois exemplos
de sistemas: a gasolina é um exemplo de sistema homogêneo formado por
hidrocarbonetos que têm de 6 a 10 átomos de carbono e etanol. Já o granito
é exemplo de sistema heterogêneo formado por concentrações diferentes
de minerais na pedra.

(a) (b)

Figura 10. Sistema homogêneo e heterogêneo: (a) gasolina e (b) granito.


Fonte: H_Ko/Shutterstock.com; michal812/Shutterstock.com.

Apesar de a classificação visual ser da maior importância para definir se


um sistema é homogêneo ou heterogêneo, a observação a olho nu nem sempre
é confiável. O leite, por exemplo, tem pequenas porções de gordura dispersas
no líquido, tornando-se, portanto, de um sistema heterogêneo.
30 QUÍMICA GERAL Classificação da matéria: propriedades físicas e químicas da matéria 19

Os sistemas homogêneos e heterogêneos podem se apresentar nos três


estados físicos da matéria. Por isso existem os sistemas homogêneos sólidos.
As ligas metálicas são misturas sólidas e homogêneas. Latão (compostos por
cobre + zinco), bronze (mistura de cobre e estanho) e aço (mistura de ferro e
carbono) são alguns exemplos de ligas metálicas.
O ar atmosférico também constitui um sistema homogêneo, entretanto,
gasoso. Ele é formado, principalmente, por nitrogênio, oxigênio e argônio.
Nele também são encontrados outros gases (como o gás carbônico) em pe-
quenas concentrações. É importante ressaltar que todos os sistemas gasosos
são homogêneos. Mesmo que um dos gases seja colorido, depois de algum
tempo as substâncias gasosas se misturam uniformemente, formando uma
mistura homogênea.
No Quadro 2 estão relacionados outros sistemas e sua classificação.

Quadro 2. Misturas homogêneas e misturas heterogêneas

Mistura Classificação Número de componentes

Água do mar Homogênea Principalmente água e cloreto


de sódio. Entretanto, tem outros
minerais dissolvidos.

Soro Homogêneo Dois (0,9 g de cloreto de sódio


fisiológico + 100 mL de água).

Água e óleo Heterogêneo Dois (água é mais densa que o óleo,


então temos óleo sobre a água).

Água e areia Heterogênea Duas substâncias.

Leite Heterogêneo Várias substâncias. Entretanto, é


heterogêneo porque, olhando em
microscópio, você poderia ver pequenas
porções de gordura dispersas no líquido.

Gás de cozinha Homogêneo Dois (gás butano e propano


e 25% de álcool).

Água mineral Homogênea Água e vários sais minerais dissolvidos.

Ouro 18 Homogêneo 75% ouro + 25% de cobre,


quilates e outros metais.

(Continua)
Sistemas materiais, suas propriedades e elementos constituintes UNIDADE 1
Sistemas Materiais e Propriedades da Matéria PARTE 1 31
20 Classificação da matéria: propriedades físicas e químicas da matéria

(Continuação)

Quadro 2. Misturas homogêneas e misturas heterogêneas

Mistura Classificação Número de componentes

Maionese Heterogênea Várias substâncias (gordura, leite, ar,


entre outras partículas suspensas).

Sangue Heterogêneo Diferentes substâncias (glóbulos brancos,


glóbulos vermelhos, entre outras células
sanguíneas suspensas no líquido).

Fonte: Adaptado de Chang et al. (2013).

ATKINS, P. W.; JONES, L. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio


ambiente. 7. ed. Porto Alegre: Bookman, 2018.
BETTELHEIM, F. A. et al. Introdução à química geral. Rio de Janeiro: Cengage Learning, 2012.
BRADY, J. E.; RUSSEL, J. W.; HOLUM, J. R. Química: a matéria e suas transformações. 3.
ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002. v. 1.
CHANG, R.; GOLDSBY, K. A. Química. 11. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.
FURNISS, B. S. et al. Vogel's textbook of practical organic chemistry. 4. ed. Londres: Long-
mon, 1987.
TRO, N. J. Química: uma abordagem molecular. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017. v. 1.
32 QUÍMICA GERAL

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unidade

1
Parte 2

Sistemas materiais e
unidades de medida

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34 QUÍMICA GERAL

12 Química

1.7 Medição
As medições que os químicos fazem são muitas vezes usadas em cálculos para
obter outras quantidades relacionadas. Vários instrumentos permitem medir as
propriedades de uma substância: a régua mede o comprimento; a bureta, a pi-
peta, a proveta e o balão volumétrico medem o volume (Figura 1.8); a balança
mede a massa; o termômetro mede a temperatura. Estes instrumentos fornecem
medidas de propriedades macroscópicas, que podem ser determinadas direta-
mente. As propriedades microscópicas, na escala atômica ou molecular, têm de
ser determinadas por métodos indiretos, como veremos no Capítulo 2.
Uma quantidade medida é geralmente escrita como um número com uma
unidade apropriada. Dizer que a distância entre Nova York e São Francisco de
carro por um certo caminho é 5166 não tem qualquer significado. Temos de es-
pecificar que a distância é 5166 quilômetros. O mesmo é válido em química; as
unidades são essenciais para referir medidas corretamente.

Unidades SI
Durante muitos anos os cientistas registraram as medições em unidades métri-
cas, que estão relacionadas decimalmente, isto é, por potências de 10. Contudo,
em 1960, a Conferência Geral de Pesos e Medidas, a autoridade internacional em
unidades, propôs um sistema métrico revisto chamado Sistema Internacional de
Unidades (abreviadamente SI, do francês Système International d’Unités). A
Tabela 1.2 apresenta as sete unidades básicas do SI. Todas as outras unidades de
medição podem ser derivadas destas unidades básicas. Tal como as unidades mé-
tricas, as unidades SI modificam-se de modo decimal por uma série de prefixos,
como mostra a Tabela 1.3. Neste livro usaremos unidades métricas e SI.
Medidas que utilizaremos com frequência no nosso estudo de química in-
cluem o tempo, a massa, o volume, a densidade e a temperatura.

mL
0
mL
1 100

2 90

3 80
4
70
15
60
16
25 mL

50
17
40
18

19 30

20 20

Figura 1.8 Alguns instrumentos para 10


1 litro
medir volumes comuns em um laborató-
rio de química. Estes instrumentos não
estão desenhados em suas respectivas
escalas. Discutiremos a utilização destes
instrumentos de medida no Capítulo 4. Bureta Pipeta Proveta Balão volumétrico

_Livro_Chang.indb 12 02/05/13 15:38


Sistemas materiais, suas propriedades e elementos constituintes UNIDADE 1
Sistemas materiais e unidades de medida PARTE 2 35
Capítulo 1 ♦ Química: O estudo da transformação 13

Tabela 1.2 Unidades básicas SI


Grandeza base Nome da unidade Símbolo
Comprimento metro m
Corrente elétrica ampere A
Intensidade luminosa candela cd
Massa quilograma kg
Quantidade de substância mol mol
Temperatura kelvin K
Tempo segundo s

Tabela 1.3 Prefixos usados com as unidades SI


Prefixo Símbolo Significado Exemplo
12 Repare que o prefixo métrico simplesmente
tera- T 1 000 000 000 000 ou 10 1 terametro (Tm)  1  1012 m representa um número:
giga- G 1 000 000 000 ou 109 1 gigametro (Gm)  1  109 m 1 mm  1  103 m
mega- M 1 000 000 ou 106 1 megametro (Mm)  1  106 m
quilo- k 1 000 ou 103 1 quilômetro (km)  1  103 m
deci- d 1/10 ou 101 1 decímetro (dm)  1  101 m
centi- c 1/100 ou 102 1 centímetro (cm)  1  102 m
mili- m 1/1000 ou 103 1 milímetro (mm)  1  103 m
micro-  1/1 000 000 ou 106 1 micrômetro (m)  1  106 m
nano- n 1/1 000 000 000 ou 109 1 nanômetro (nm)  1  109 m
pico- p 1/1 000 000 000 000 ou 1012 1 picômetro (pm)  1  1012 m

Um astronauta saltando na superfície


da lua.
Massa e peso
Os termos “massa” e “peso” são muitas vezes usados indistintamente, embora
representem grandezas diferentes. Enquanto a massa é uma medida da quan-
tidade de matéria em um objeto, o peso, tecnicamente falando, é a força que
a gravidade exerce em um objeto. Uma maçã que cai de uma árvore é atraída
pela gravidade da Terra. A massa da maçã é constante e não depende da sua
localização, mas o seu peso sim. Por exemplo, na superfície da Lua, a maçã
pesaria apenas um sexto do seu peso na Terra, porque a gravidade na Lua é
apenas um sexto da gravidade da Terra. A gravidade inferior da Lua permitiu
aos astronautas saltar com relativa facilidade apesar de suas roupas volumosas e
equipamentos. Os químicos estão principalmente interessados na massa, que é
determinada com uma balança; estranhamente, o processo de medição da massa
chama-se pesagem.
A unidade SI de massa é o quilograma (kg). Ao contrário das unidades de
comprimento e de tempo, que se baseiam em processos naturais que podem ser Figura 1.9 O quilograma-padrão, for-
mado por uma barra constituída por uma
reproduzidos pelos cientistas em qualquer lugar, o quilograma é definido em
liga de platina e de irídio, está guardado
termos de um determinado objeto (Figura 1.9). Em química, contudo, a unidade em um cofre no Bureau International des
menor, grama (g), é mais conveniente: Poids et Mesures, em Sèvres, França.
Em 2007 descobriu-se que a liga tinha
1 kg  1000 g  1  103 g misteriosamente perdido cerca de 50 g!

_Livro_Chang.indb 13 02/05/13 15
36 QUÍMICA GERAL

14 Química

Volume: 1000 cm3 Volume


1000 mL
1 dm3 A unidade SI de comprimento é o metro (m) e a unidade derivada SI para o vo-
1L lume é o metro cúbico (m3). No entanto, os químicos trabalham em geral com
volumes muito menores, como o centímetro cúbico (cm3) e o decímetro cúbico
(dm3):

1 cm3  (1  102 m)3  1  106 m3

1 dm3  (1  101 m)3  1  103 m3

Outra unidade de volume comum é o litro (L). Um litro é o volume ocupado por
um decímetro cúbico. O volume de um litro é igual a 1000 mililitros (mL) ou
1000 cm3:
1 cm 1 L  1000 mL
10 cm = 1 dm  1000 cm3
 1 dm3
Volume: 1 cm3;
1 mL e um mililitro é igual a um centímetro cúbico:
1 cm
1 mL  1 cm3
Figura 1.10 Comparação de dois volu-
mes, 1 mL e 1000 mL. A Figura 1.10 compara as dimensões relativas dos dois volumes. Apesar de o
litro não ser uma unidade SI, os volumes são geralmente expressos em litros e
mililitros.

Densidade
A equação para a densidade é

ou

(1.1)
Tabela 1.4 Densidades de algumas
substâncias a 25°C onde d, m e V representam a densidade, a massa e o volume, respectivamente.
Substância Densidade (g/cm ) 3 Como a densidade é uma propriedade intensiva e não depende da quantidade de
massa presente, para uma determinada substância a razão da massa pelo volume
Ar* 0,001
é sempre a mesma; em outras palavras, V aumenta com m. Geralmente, a densi-
Etanol 0,79 dade diminui com a temperatura.
Água 1,00 A unidade SI derivada para a densidade é o quilograma por metro cúbico
Grafite 2,2 (kg/m3). Esta unidade é desajeitadamente grande para a maior parte das aplica-
Sal de cozinha 2,2 ções químicas. Por isso, é mais comum usar o grama por centímetro cúbico (g/
Alumínio 2,70 cm3) e o seu equivalente, gramas por mililitro (g/mL), para as densidades de
Diamante 3,5 sólidos e de líquidos. Como as densidades dos gases são muito pequenas, as
Ferro 7,9 representamos em unidades de gramas por litro (g/L):
Mercúrio 13,6
Ouro 19,3 1 g/cm3  1 g/mL  1000 kg/m3
Ósmio† 22,6 1 g/L  0,001 g/mL
*Medido a 1 atmosfera.

O ósmio (Os) é o elemento mais denso A Tabela 1.4 apresenta as densidades de várias substâncias.
conhecido. Os Exemplos 1.1 e 1.2 mostram cálculos de densidades.

Livro_Chang.indb 14 02/05/13 15:38


Sistemas materiais, suas propriedades e elementos constituintes UNIDADE 1
Sistemas materiais e unidades de medida PARTE 2 37
Capítulo 1 ♦ Química: O estudo da transformação 15

Exemplo 1.1
O ouro é um metal precioso quimicamente inerte e usado essencialmente na ourive-
saria, na odontologia e em equipamentos eletrônicos. Um pedaço de lingote de ouro
com massa de 301 g tem um volume de 15,6 cm3. Calcule a densidade do ouro.
Resolução A massa e o volume foram dados e devemos calcular a densidade. Por-
tanto, com base na Equação 1.1, podemos escrever

Exercício Um pedaço de platina metálica de densidade 21,5 g/cm3 ocupa o volume


de 4,49 cm3. Qual é a sua massa?

Exemplo 1.2
A densidade do mercúrio, o único metal líquido à temperatura ambiente, é 13,6 g/mL. Barras de ouro e o arranjo de estado só-
lido dos átomos de ouro.
Calcule a massa de 5,50 mL do líquido.
Resolução A densidade e o volume de um líquido foram dados e devemos calcular Problemas semelhantes: 1.21, 1.22.
a massa do líquido. Rearranjamos a Equação 1.1 para dar

Exercício A densidade do ácido sulfúrico na bateria de um certo carro é 1,41 g/mL.


Calcule a massa de 242 mL do líquido.

Escalas de temperatura
Mercúrio
Há atualmente três escalas de temperatura em uso. As suas unidades são °F
(graus Fahrenheit), °C (graus Celsius) e K (kelvin). A escala Fahrenheit, que é Problemas semelhantes: 1.21, 1.22.

a escala mais usada nos Estados Unidos fora do laboratório, define os pontos de
fusão e de ebulição normais da água como 32°F e 212°F, respectivamente. A es-
cala Celsius divide o intervalo entre o ponto de fusão (0°C) e o ponto de ebulição
(100°C) da água em 100 graus. Como se vê na Tabela 1.2, o kelvin é a unida- Note que a escala Kelvin não tem o sinal
de grau. Além disso, as temperaturas
de SI básica de temperatura; é a escala de temperatura absoluta. Por absoluto expressas em kelvin nunca podem ser
entende-se que o zero na escala Kelvin, representado por 0 K, é a temperatura negativas.
mais baixa que se pode atingir em teoria. Por outro lado, 0°F e 0°C baseiam-se
no comportamento de uma substância escolhida arbitrariamente, a água. A Figu-
ra 1.11 compara as três escalas de temperatura.
O tamanho de um grau na escala Fahrenheit é apenas 100/180, ou 5/9, de
um grau na escala Celsius. Para converter graus Fahrenheit em graus Celsius,
escrevemos

(1.2)

_Livro_Chang.indb 15 02/05/13 15
38 QUÍMICA GERAL

16 Química

Figura 1.11 Comparação entre as


três escalas de temperatura: Celsius, Ponto de
373 K 100C 212F
Fahrenheit e a escala absoluta (Kelvin). ebulição da água
Note que há 100 divisões, ou 100 graus,
entre o ponto de fusão e o ponto de
ebulição da água na escala Celsius e há
180 graus entre os mesmos limites de
temperatura na escala Fahrenheit. A es-
cala Celsius era inicialmente chamada de Temperatura
escala centígrada. 310 K 37C do corpo 98,6F
298 K 25C Temperatura 77F
ambiente
Ponto de
273 K 0C congelamento 32F
da água

Kelvin Celsius Fahrenheit

A equação seguinte é usada para converter graus Celsius em graus Fahrenheit:

(1.3)

As unidades das escalas Kelvin e Celsius têm o mesmo tamanho: isto é,


um grau Celsius é equivalente a um kelvin. Estudos experimentais mostraram
que o zero absoluto na escala Kelvin é equivalente a 273,15°C na escala Cel-
sius. Assim, podemos usar a equação seguinte para converter graus Celsius em
kelvin:

(1.4)

Frequentemente, precisamos converter graus Celsius para graus Fahrenheit


e graus Celsius para kelvin. O Exemplo 1.3 ilustra estas conversões.
O texto Química em Ação da página 17 mostra por que devemos ter cuida-
do com as unidades nos trabalhos científicos.

Exemplo 1.3
(a) A solda é uma liga de estanho e chumbo usada em circuitos eletrônicos. Uma
certa solda tem um ponto de fusão de 224°C. Qual é seu ponto de fusão em graus
Fahrenheit? (b) O hélio tem o ponto de ebulição mais baixo de todos os elementos,
452°F. Converta esta temperatura em graus Celsius. (c) O mercúrio, o único metal
que existe no estado líquido à temperatura ambiente, funde a 38,9°C. Converta este
ponto de fusão para a escala Kelvin.
Resolução Estas três partes necessitam que convertamos escalas de temperatu-
ra, portanto, vamos precisar das Equações (1.2), (1.3) e (1.4). Lembre-se de que a
temperatura mais baixa na escala Kelvin é zero (0 K); portanto, ela nunca pode ser
negativa.
(a) Para fazer esta conversão, escrevemos:

A solda é muito usada na construção de


circuitos eletrônicos.

_Livro_Chang.indb 16 02/05/13 15:38


Sistemas materiais, suas propriedades e elementos constituintes UNIDADE 1
Sistemas materiais e unidades de medida PARTE 2 39

QUÍMICA
EM AÇÃO

A importância das unidades


Em dezembro de 1998, a NASA lançou um satélite de 125 mi- uma órbita inferior que conduziu à destruição da aeronave.
lhões de dólares, o Satélite Climático de Marte, que pretendia Comentando o fracasso da missão a Marte, um cientista disse:
ser o primeiro a estudar o clima do planeta vermelho. Após “Esta será uma história sobre cautela que constará na intro-
uma viagem de 416 milhões de milhas, esperava-se que a ae- dução ao sistema métrico nos ensinos fundamental, médio e
ronave entrasse em órbita em torno de Marte a 23 de setembro superior até o fim dos tempos.”
de 1999. Em vez disso, ela entrou na atmosfera de Marte cerca
de 100 km (62 milhas) abaixo do planejado e foi destruída pelo
calor. Os controladores da missão disseram que a perda da ae-
ronave foi devido à falha de conversão das unidades de medida
inglesas para o sistema métrico no programa de navegação.
Os engenheiros da Lockheed Martin Corporation que
construíram a aeronave especificaram o seu impulso em li-
bras, que é uma unidade inglesa. Por outro lado, os cientistas
do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA supuseram que
os dados de impulsão recebidos estavam expressos em unida-
des métricas, como newtons. Normalmente a libra é uma uni-
dade de massa. Contudo, quando expressa como uma unidade
de força, 1 lb (libra) é a força devida à atração da gravidade
sobre um objeto com essa massa. Para fazer a conversão entre
libra e newton, começamos com 1 lb  0,4536 kg e, com a
segunda lei do movimento de Newton,

Força  massa  aceleração


 0,4536 kg  9,81 m/s2
 4,45 kg m/s2
 4,45 N
porque 1 newton (N)  1 kg m/s2. Portanto, em vez de con-
verter uma libra de força em 4,45 N, os cientistas trataram-na
como 1 N.
Concepção artística do Satélite Climático de Marte.
Como consequência, o impulso do motor, expresso em
newtons, era muito inferior ao necessário, o que resultou em

(b) Aqui temos

(c) O ponto de fusão do mercúrio em kelvin é dado por

Problemas semelhantes: 1.24, 1.25, 1.26.

Exercício Converta (a) 327,5°C (o ponto de fusão do chumbo) em graus Fahrenheit;


(b) 172,9°F (o ponto de ebulição do etanol) em graus Celsius; e (c) 77 K, o ponto de
ebulição do nitrogênio líquido, em graus Celsius.
40 QUÍMICA GERAL

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