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Resumo: Consubstancia-se mostrar de maneira sucinta os conflitos possessórios que ainda persistem
na sociedade, os impasses das demarcações de terras dando uma visão holística dos direitos
originários dos indígenas garantidos na Constituição Federal sobrepujando os direitos fundamentais e
a relevância de preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as futuras gerações.
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Reintegração De Posse E Seus Reflexos Nos Direitos Originários Indígenas E Meio Ambiente
INTRODUÇÃO
O presente artigo traz suas peculiaridades de como originou-se a propriedade e seu instituto, o direito
de propriedade no âmbito constitucional, a função social, bem como uma análise dos direitos
originários dos indígenas garantidos na Constituição Federal, as demarcações de terras onde os
conflitos possessórios no passado ainda persiste no atual cenário abrangendo seus reflexos ao meio
ambiente. Evidencia-se aos operadores do direito e a sociedade da relevância deste presente tema,
para que haja uma conscientização da tutela ao patrimônio cultural brasileiro.
A relação do homem com a propriedade na antiguidade se deu através de três itens: religião, terra e
fogo. Com a morte de seus antepassados, devido sua religiosidade, o homem não concebia a ideia de
permanecer longe dos cemitérios familiares. E por isso construíam suas casas e altares próximos aos
túmulos de seus familiares, onde acendiam e cultuavam o fogo sagrado. Essa cultura de “ascender o
fogo” pré-determinava a localização de uma família, iniciando-se, portanto, o conceito de
propriedade1.
Nos dias atuais, no Direito Brasileiro a propriedade [...] é a aptidão de alguém de ter alguma coisa
como sua, dela dispondo livremente, nos limites da lei.[...]2; ou seja a propriedade não se trata
somente de “terra”, é muito mais ampla. E no caso da propriedade “terra” lembramos que está
vinculada a função social, obrigando o proprietário a utilizar seus bens conforme os dogmas legais,
visando o bem coletivo.
Segundo o dicionário jurídico [...] “possuidor é aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de
algum dos poderes inerentes ao domínio ou propriedade” 3[..] e o domínio, provido do latim dominare,
que [...] se adquire por todos os meios peculiares à aquisição da propriedade”. 4
emos duas teorias conflitantes sobre posse de grande repercussão na doutrina, a teoria subjetiva de
Friederich Karl Von Savigny e a teoria objetiva de Rudolf Von Ihering.
Para Savigny a posse tem dois elementos essenciais: o corpus que consiste no elemento material ou
objetivo que traduz no “ poder físico sobre a coisa”, e o animus no elemento intelectual ou subjetivo,
representa a “vontade de ter essa coisa como sua”5
O animus domini não se confunde com o opiniodomini, para aquele, é preciso que o possuidor tenha
a vontade de agir como é a maneira de proprietário, em relação com a coisa alheia, enquanto para o
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opiniodomini, é necessário que o possuidor seja realmente o proprietário6. Assim a teoria de Savigny
considera-se subjetiva, as maiores críticas que lhe são direcionadas visam precisamente seu exagerado
subjetivismo, que faz depender a posse de um estado íntimo difícil de ser pormenorizado.
Por outro lado, a teoria objetiva de Von Ihering, elucida que posse e propriedade são coisas distintas.
Resulta, porém do fato, em geral o possuidor de uma coisa é ao mesmo tempo seu proprietário,
revelando-nos mais nitidamente, a posse é o poder de fato; a propriedade o poder de direito sobre a
coisa.7 Esses dois poderes se enfeixam geralmente nas mãos do proprietário, mas também se separam
por forma a que o poder de fato não esteja com o proprietário. Normalmente é o proprietário que
transfere a outrem seu poder de fato sobre a coisa.
Em síntese seu ponto de vista na teoria objetiva só há posse onde pode haver propriedade, o que
importa é o uso econômico, ou seja, adotando-se o critério da destinação econômica, sendo fácil
reconhecer a existência da posse.
Nesta reflexão quanto à natureza jurídica analisando ante a todas as posições doutrinárias quanto à
posse como fato ou direito, surge à indagação de que a posse possa ser um fato e um direito
simultaneamente, interpretando ao fato de ser a posse um direito real, fundamentada na relação
entre o possuidor e a coisa disciplinado no livro pelo doutrinador Orlando Gomes em direitos reais. O
nosso atual Código Civil de 2002, foi uns dos primeiros a aceitar os princípios da doutrina objetiva de
Ihering.
O fundamento Constitucional prevê garantia ao direito de propriedade, desde que atenda à função
social. Conforme ilustra o Art. 5º, inciso XXII e XXIII da Constituição Federal de 1988:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade nos termos seguintes:
[...]
XXII – é garantido o direito de propriedade;
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Conforme elucida José Afonso da Silva, o direito da propriedade fora concebido como uma relação
entre uma pessoa e uma coisa, de carácter absoluto e imprescritível. Com a evolução deste conceito
pôde observar que essa teoria era absurda, visto que entre uma pessoa e uma coisa não pode haver
relação jurídica, passando a entender o direito de propriedade como uma relação entre um indivíduo
(sujeito ativo) e um sujeito passivo universal; e assim o direito de propriedade se acentuou como um
modo de imputação jurídica de uma coisa a um sujeito8.
Mas esses conceitos manifestam uma visão muito parcial por uma perspectiva civilista, não
alcançando a complexidade do tema, mas sim resultando de normas jurídicas de Direito Público e de
Direito Privado, interessando se assim como relação jurídica e instituição jurídica.
Muitos são os equívocos com os sistemas de limitação da propriedade com a função social da
propriedade. Estes dizem respeito ao exercício do direito ao proprietário; já a função social à estrutura
do direito à propriedade.9
A norma que contém o princípio da função social da propriedade é de aplicabilidade imediata porque
interfere na estrutura e no conceito da propriedade, sendo uma regra que fundamenta um novo
regime jurídico, transformando-a numa instituição de Direito Público, mesmo que a doutrina, como a
jurisprudência, não tenha dado aplicação adequada.
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Assim, o princípio da função social não autoriza a abolir, por via legislativa, a instituição da propriedade
privada. A realização deste princípio se põe acima do interesse individual, devendo ser submetido ao
interesse coletivo e ordem econômica.
O art.170, III da CF diz que: “ a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na
livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos uma existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observando o princípio da função social da propriedade.
O Brasil é um país que possui diversidades culturais e étnicas, convivendo-se assim índios, negros,
brancos e asiáticos formando o povo brasileiro, desta miscigenação destacou os silvícolas, isto é, os
índios, no qual foi assegurado um capítulo em especial na Constituição Federal, sendo um grande
avanço para a sociedade, reconhecendo esse direito fundamental dos índios tratando os de maneira
diferenciada.
Segundo a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) a ocupação tradicional das terras indígenas configura-
se como um direito originário e, o procedimento administrativo de demarcações possui uma natureza
meramente declaratória. Contudo, a terra indígena é reconhecida por requisitos técnicos e legais
preceituados na Constituição Federal de 1988.
Conforme elucida Luiz Fernando Villares: “ o novo paradigma político e jurídico cristalizado no texto
da Constituição rompe com a ideia do Estado-nação. A pluralidade é reconhecida principalmente em
relação à edição de normas estatais e aos direitos e garantias fundamentais”.11
Foi no século XVII, em que a Coroa Portuguesa editou diplomas legais resguardando os direitos
territoriais dos povos indígenas surgindo o Alvará Régio de 01º de abril de 1680, no qual reconheceu
o caráter originário de suas terras, e tornando-as inalienáveis e imprescritíveis consagrados
posteriormente na Carta Magna de 1988, separados em um capítulo especial sobrepujando esse
direito fundamental.
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Conforme preceitua José Afonso da Silva, as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios,
corresponde os direitos de propriedade e os direitos de usufruto submetidos à delimitações e vínculos
decorridos de suas normas. Há de ressaltar que essas terras são consideradas propriedade vinculada
ou propriedade reservada, garantindo o direito dos índios sobre ela, ressaltando que as terras são
inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas imprescritíveis.
“O indigenato não se confunde com a o cupação, com a mera posse, é um direito congênito, enquanto
a ocupação é título adquirido”.13
Em síntese, constata-se que além da legislação brasileira proteger os direitos dos indígenas, há o
estatuto do índio para complementar alguma obscuridade deixada por nossa Constituição e a
Convenção 169 da Organização Internacional de Trabalho (OIT). A Convenção 169, dispõe sobre povos
indígenas e tribais, assegurando igualdade de tratamento, exercício dos direitos humanos e os
princípios fundamentais.
A corroborar o exposto acima, insta transcrever no mesmo sentido o entendimento do ilustre relator
Ministro Ayres Britto ao asseverar que:
"Os direitos dos índios sobre as terras que tradicionalmente ocupam foram
constitucionalmente ‘reconhecidos’, e não simplesmente outorgados, com o que
o ato de demarcação se orna de natureza declaratória, e não propriamente
constitutiva. Ato declaratório de uma situação jurídica ativa preexistente. Essa
a razão de a Carta Magna havê-los chamado de ‘originários’, a traduzir um
direito mais antigo do que qualquer outro, de maneira a preponderar sobre
pretensos direitos adquiridos, mesmo os materializados em escrituras públicas
ou títulos de legitimação de posse em favor de não índios. Atos, estes, que a
própria Constituição declarou como ‘nulos e extintos’ (§ 6º do art. 231 da CF)."
(Pet 3.388, rel. min. Ayres Britto, julgamento em 19-3-2009, Plenário, DJE de
1º-7-2010.)15
Assim, os indígenas e suas terras, não se conduz com as limitações individualistas do Direito Civil,
porque não é uma simples ocupação de terra, mas sim seu habitat exigindo a demarcação de suas
terras.
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O processo de demarcação das terras indígenas, era regulamentado pelo Decreto nº 1775/96, meio
pelo qual identifica e sinaliza os limites do território ocupado pelos povos indígenas, porém em casos
extraordinários como impactos de grandes empreendimentos, conflitos internos, a Funai viabiliza o
reconhecimento do direito territorial das comunidades indígenas na peculiaridade de Reserva
indígena, conforme art.26 da Lei 6001/73 em parceria com órgãos agrários e o Governo Federal.
Quando uma comunidade indígena ocupar determinada área nos moldes do art.231 da Carta Magna,
o Estado terá que sintetizar e cumprir-se a demarcação física nos seus limites. Nossa Lei maior dispõe:
A Convenção 169, dispõe sobre povos indígenas e tribais, assegurando igualdade de tratamento,
exercício dos direitos humanos e os princípios fundamentais.
Em seu art.14, 1. Preconiza que “ Os direitos de propriedade e posse de terras ocupadas, deverão ser
reconhecidos”.
Art. 14, 2. “ Os governos tomarão as medidas necessárias para identificar as terras ocupadas e garantir
a efetiva proteção de seus direitos de propriedade e posse.
A demarcação é um procedimento administrativo, não a garantia dos direitos dos índios, pois este
independe de demarcação, já estão declarados na Constituição de 1988, bem como em Tratados
Internacionais, sendo um direito fundamental relativizado.
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Salienta-se que a demarcação de terras indígenas auxilia Estados e Municípios localizados em faixa de
fronteiras garantindo o controle estatal nessas áreas vulneráveis e até de difícil acesso, contribuindo
também um benefício à sociedade de forma geral pela proteção ao meio ambiente e a biodiversidade,
transpondo-se uma garantia expressa no Art.225 da C.F.
6. MEIO AMBIENTE
A Constituição Federal consagra-se o meio ambiente natural em seu artigo 22519, um direito
fundamental de terceira dimensão, isto é, coletivo e transindividual, criando um dever genérico para
o poder público e a coletividade defendendo e preservando para as presentes e futuras gerações.
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sua cultura. Em suma, não trazendo uma insegurança jurídica refletida ao patrimônio brasileiro e meio
ambiente.
7. CONCLUSÃO
Conclui-se que os indígenas não possuem a propriedade das terras, mas sim o usufruto pela União e a
demarcação um procedimento administrativo, não a garantia dos seus direitos, pois este independe
de demarcação, já estão declarados na Constituição de 1988, bem como em Tratados Internacionais,
sendo um direito originário e fundamental.
Todavia, o processo de demarcação das terras indígenas encontra-se sobre pressões e ameaças com
a transferência da competência da FUNAI ao Ministério da Agricultura priorizando a política agrícola
ao invés de preservar os direitos originários indígenas causando reflexos a sua cultura e tradições
ferindo o princípio da dignidade humana, visto que trata de seu habitat, onde a permanência dessas
terras em sua posse é a condição de vida, identidade e sobrevivência de seus grupos.
Destarte, cabe ao Judiciário estabelecer um novo ajuste social instituído com a finalidade de construir
uma democracia multicultural, convertendo-se em direitos concretos aplicáveis transformando o
Brasil num país pluriétnico, não capitalista que visa somente ao agronegócio e sim um país igualitário,
diferenciado, onde tutela-se uma nação, um patrimônio cultural brasileiro e prioritariamente suas
terras preservando o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as futuras gerações. Ressalta-
se nas palavras do cacique Seattle “ A terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra”.
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BIBLIOGRAFIA
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm
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2009.
MENDES, Renato e FOTURNA, Thaís. Convenção nº169 sobre povos indígenas e tribais e Resolução
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10
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http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=2288693> Acesso em
24. Set. 2019.
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