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AS R UPA ‘Mello ¢ Souza consegue desenhar, cor ‘.r2g0 fino e desimpedido que & 0 sev, 0 panorama abrangente de cera situa fem acelerada mucianga. Deseree € {ncerpreta assim, coma habitel sutiteza, as vicsitudes pelas quais pussou a imenta pelo “estipido século xx” Calo dos suspension, da naga das Fabricas, das aglomeracées cde massa nas cidades, do exoitalismo seligem sem méscaas, dos levantes libertirios esmagados com violkacia cailo vituperado pelo saudosismo bairro bom” de Léon Davet, mas do qual getminou tal como é a nosea pobre {dade tica da tecnologia avangacta Oltocentos, durante sda méquina a vapor car mabilicade e abrangénc ‘mocemidade Era, porta, em que o fendmeno do gesto e do consiimo gana te manipulados pe uma nascenee indsria, qu logo sopesa ss cas sts varlaghes ss curante 0 século Xt, problemiico "gost ¢ passindo-o pelo crv fino da andlise bestetica, psicalogica e sociologica 1co movimentos de cia rota definir a eoeréneia do fendmen Moda, rlacionando-o com & estrutura social, conforme os cliferentes nfveis roblemticos em que cla se apresenta A seremn seguranga com que empreende ‘aanilise desses diversos significados dleisa bem claro cue cla ai est levando avante uma reflexto desenvolvica pouco a poveo, com atento cuidado intelectual das Ronpas, a Moda no sutl do texto expostivo, censbilidade litereia perspicaz, ‘Copyright © Gitda de Mello e Souza B ‘ect dts dn wpa rsdn us tans Pia, 0 6.72 isacon— an Palo hs Tekaeec a) eoaol ren nD sete 49.4 (RA) 19 26 32 108 142 a7 17 216 243 PANO PARA MANGA Alexandre Eulalio INTRODUGAO A MODA COMO ARTE © ANTAGONISMO A CULTURA FEMININA A LUTA DAS CLASSES © MITO DA BORRALHEIRA APENDICE © GESTO, A ATITUDE, A ROUPA.. NOTAS BIBLIOGRAFICAS BIBLIOGRAFIA Esa € primeira edigio sob forma deliro,catese de dowtoramento Awoousostetto x, publieada ra sista DO MUSH pasta Nova Série, Vol ‘ne, 1950, Salo pequenss modfcagdes wa redaclo ena extutura, fad de ‘enc fo aterado, a fim de conserva, no sentido mats amplo, a data da elaborago do trabalho. ‘Naquels Gpoc cle constivy una espécie de esto em elas nor prodominants nas tees da Unveridide de So Paulo Hojea perspec tie musdowe o tema abordado, que avez tena parecdo fii a mua ene, ssumi com o transoorer do tempo uma avalidade inesperada , como fiz “questo deni acescenta 3 bibtiogafianentumtulo novoe de nao alerar sTimancira de vera moda como Bto cultural e soca, se este ensio ale a uma cos, vale © que vali hi rine seis anos ats. [Apropésto quero destaca minha gratdio paracom dois profesores {alecdon Roger Base, meu orienta, aceltou de bom grado a propostae sempre me animou a deseavolvela, com toda a liberdade, segundo o mes temperamento, Herbert Baldus me convidou generosamente a publica ‘unt evista ceili habituada a recebercolaporago muito diferente 30 ‘prov de conflangte aprego que jamais esquec “Quero relembrar ainda os agradecimentos feos naquela ocastio dois queridos amigos: Sérgio faarque de olanda, que dedlcou muktas horas ‘dese tempo presaso vaduzindorme o Longo ensao de Steinmetz Maria tsura Peet de Quettor, que ficou com palenci o romances brasleeos Alasegonda metade do sécilo "Aestesnomes devo acrescentar hoe os de Alexandre Eulalio, roncio ‘ar de Arad, Gua Jose Mindin, tla Telseira-de Barros, Adda Gori Monieio, aria da Bena Mlle Caioba, Carmen e Sarah Alves de Lima cue me cederam lists fotes oupranchasde mods parts ilutragbes, agora mul tens abundaotes que ma verso primi. NO prepaco desta ediao contl “como auio de Monica Nexo e do Museu Nacional de Belas Artes 9 ‘ompeténcia profissonal de Kul Lima, van Lima, Raul GarcezJoto Must © {iis Ferrando Massar aclan,queseencarregaan ds epeoduges fogs Meas paclete supervisioeitoral de Jose Lulz de Sousa, Ralmente, 0 eared Avi taisaBscorel, que soube rjuvenescer com admirvel GUDADE Mao ESoUzA 7 PN ccasfea ceils nn psx moma oan: fT roe col ee peo an ie eee neers toe pone erperiaprget arene ‘das estagdes indicando a transitoriedade veloz das quadras do 2 oe ee ee eee ee ‘gos leves, recortam-se em relevo contra o fundo grisalho da tela a ee ee een sha ae berto em leque, que os gomas sombrios dos guarda-chuvas su- limentos. Quase como a soma das partes no todo de um vestido de alta-costura descrito por Madame de Ponty nos seus entre- cortados editoriais, cintilantes, da GAZETTE DU MONDE ET DELAFA- ‘MILLE, Marcel Proust nao ira, mais tarde, que desejava a sua oe ee a ee eee eee ees dida inventividade dele, autor, Pintar. Vestir. Desvestir* Com a vista, Com o tato, Starla robe elle tin comps (Cenulrars, sobre os vestidos “simultdneos” de Sonia Terk). Cor, Dizer com a cor es formas. Afiemar, signt- ficar, mesmo, principalmente, por absurdo: coladasobre a pele em pleno inverno a tinica pseudo-dtica. 1810; os tringulos su perpostos do vestido Restauraco; 0 tund, com o wufo de todas assuas andguas, “sem esquecer a de cor vermelha’a gaiolaam. bbulante da crinolina, rangendo de leve lebaixo do moiré anti. ‘que.ou dosatio ta reine de metragem generosa, da qual Bat delaire observa o sugestivo balanco e o Soerguer-se constant, ‘que entremostra a pata da gazela; anquinha “Pauline 1880", com a mola retritil que fica chapada quando a dona vai sentar. se. imitagio do que “esté na moda na Corte" pelas classes mé- dias e pela provincia. Moldes remetidos por corzespondéncia desdob rads em cima da mesa. O farfilvo surdo datesouracor- tando pano, agora pousada junto as itas métricas, agulhas, ali netes, carretgis ~ mesmo sem nenhum apSlogo machadiano a0 aleance da mio. Afi das costureiras em torno da sinhazinha, conformada, bracos largados, que nio ci. um pio em meio a Ext les serveantes de ma mére, grandes filles tudsantes.. (St- HPs LOGS POUR FETERU Moda’, Escrita . Compor bem, firme; nitidez, clegincia. Forma. Se possivel, cor. Eso. Propriedade antes de tudo, Respeite os generos: campestre, passeio, trae de mon- ‘aria, de caca, esporte a rigor; préta. porter de redacio; vestido, degila, casaca e condecoragbes. Cada coisa a sua hora. Discipi ‘a tdo severa apenas seria possivel 20s ociosos apatacados, que vio cronometrar as horas do dia segundo as exigéncias das su- (Pye val gar ce modo lara, nas as ee, com daa nei rac fase, rum pss de mga, om daar do dane tau se _Sundoa arn doo eel conga corsa reas ’nsce pia de tho, por enzo des complicads ndurentos do temo, dese gr {Zero do espariho = que para redesentar asic xno apoo enero de ee) ‘ohorador) ner problema de fl shaca 10 cessivas ocasides mundanas. Barbey «Aurevilly © Baudelaire referem-se 80 espaintoso estoicismo do Dandy, que 0 torna cerebrino, e, 20s melhores exemplares da espécie, autenticos {ntelectuais. Modelo imitaclo com escasso €xito pelos aprendi- zes de elegincia, poisa dita cua, substantiva e despojada — Bal zac jf havia anotado isso no manual dele sobre a matéria ~ & bem inalienavel, nasce e morre com 0 aquinhoado. Mas também as damas “reguiladas pelo Highlife” (para falar com a sibia, experiente, Madame de Ponty) sofriam obti- _gagdes vestimentazes no menos lancinantes. Felizmente eam assessoradas em todos os pormenores, observagoes € adenclos incluidos, por algumas publicagdes que se desejavam “exclusi ‘vas’, © cas0, por exemplo, das diversas vezes lembrada AMODA, MAIS RECENTE. GAZETA DA BOA SOCIEDADE E DA FAMILIA. Quinze- nnfrio que representa o esto evoluido de algo que comecou como um catélogo muito seleto de “enderecos confiveis", les bonnes adresses, que a gente fina poderia recorrer. Nada, por tanto, da listigem indiferente e utilitéria das grandes los Clas- ‘se 8, COMO AU BONIIEUR DES DAMES do romance de Emile Zola, Uma revista diferente, que assumia a responsabilidade de con- selheira segura do gosto. Uma revista que se encarregavanaos6 de selecionar os modelos de vestidos mais requintados, de apontar as lojas de nivel supremo, mas ainda de inserir no, ‘corpo da publicacZo textos das escritores que “valiam apena"— 86 destes. Modelo imitado em versio modesta pelos diversos JORNA DAS FaMitins ea ENTAGAO aserem em breve publicados na ‘remota cidade do Rio de janeiro, na América do Sul—apesar das adverténcias a respeito de contrafagbes ¢ imitagdes estampadas €em cada néimero cle 1A DERNIERE MODE. Uns tempos mais tarde, Mestre Stephane Mallarmé, recostado na meta-torsao da tela de Edouard Manet que o reteata, vai permitirse dizer num meio sortiso: Madeleine de Ponty c'est mot. si-ce ne fut qu'un mo- rent. qcatre mois. Em © £shietTO Das ROUPAS, Gilda de Mello e Souza conse ‘gue desenhar, com o trago find € desimpedido que €0 5€u, 0 ite de cert situagio em acelerada mudancg Descreve einterpretazssim, coma habitual suileza, as vicissita- des pelas quais passou a vestimenta pelo “estipido século xx fora: © “século dos suspensérios”, da fumaca das fibricas, das aglomeragdes de massa nas cilades, do capitalism selvagem sem mascara, clos levantes libertirios, esmagndos com violen- cia, Século vituperado pelo sauctosismo “baicros bem" de Léon Daudet, mas do qual germinou tal como éa nossa pobre idade fica da tecnologia avan cada. Periodo singular, esse Oitocentos, dduranteo qual a Moda, filha que era darevolugao industrial eda ‘miquina a vapor, vai aleangar mobilidace e abrangéncia condi- zentes com as novas conquistas ca modernidade. Era, portanto, ‘em que o fendmeno do-gosto e do consumo ganha outra énfase ‘evaria conforme precisos sobressaltos, sablamente manipulz- dos por uma nascente indiistria, que logo sopesa ¢ registra um vasto horizonte de luero. As conquistas técnicas sucedem-se entio com rapidez sur: preendente. Entre elas, decisiva, a utlizacto racionalizada da ‘maquina de costura, que tem inicio na Alemanha e nos jovens Estados Unidos, ¢ cujo emprego, em escala industrial, é imple. mentaclo no decénio 1860. A partir dai a Moda amplia 0s vO0s ¢ (8 supostos “caprichos”. Mercadeja com as disponibilidades das manufaturas de Hi britinica e com o beneficiamento do al- sgodiio norte esulamericano. (Degas pinta em 1873 0 BUREAUDE COTON ALA NOUVELLE ORLEANS em que a familia dele tinha in- tresses.) Tem lugar atenta estruturacio do mercado produtor €distribuidor ~a instalacio dos grands magazins. Luxo que se toma descartivel apés cada estacio, a dindmica do negécio vai surpreender os proprias agenciadores com o vigor ea elastic dade do seu alcance. Assim, 2 partir da “capital do século xne"— portanto agora ‘em nivel de projeto planetério essa operacio vai logo ser coordenada por um novo personagem, que tem algo de de- ‘mitigico: 0 estilista da roupa ferninina, Esse recém-chegado, O Grande Costureiro, logo compde um tipo e ocupa lugar no cen- tro do palco da Moda. Temperamental e atrabilicio, quando do mesmo estuctadamente insolente, assume com eficicia a si- 2 tuagio de déspota do “gosto da estagio". Esse protstipo arti: vista aparece =e no seri por acaso~ durante o reinado de Na poleio Ill, monarca que (como ele) se fez. por si mesmo a gol pes de agudeza, pertinicia¢ finura oportunista, © patrono da nova classe ser o famoso Worth, modista do circulo que gira tem torno de Eugenia de Montijo, agora Imperatriz dos France: ses, © “fendmeno” mereceu uma pagina perplexa de registro nada menos do que do grave Hippobyte Taine. De agora em diante, Paris vai dividir com Londres ~ que detém o primado da indumentéria masculina desde o fim do, Setecentos, quando estabelece as coordenadas do “bom tom" Jockey Club ~ as matrizes da indiistra internacional da Moda, ‘conforme o ritmo bindrio das roupas primavers-verdo e outo- nnosinverno. Nao constituinclo mais privilégio de casta, tornase cla, na sociedade dita “democritica”, a diferenciadora por ex- ccoléncia de status, além de signo certeiro de “contemporanei- dade” cultural a ela estario umbilicalmente ligados 0s bappy' Jew contiguos 2 informacio em estado puro que significa di- nheiro ¢ poder. Agilmente manipulada conforme as coordena- «las do consumismo, corolério da expansio industrial, a Moda torna-se adaptada 20 grande piblico, com as gradages de qua: lidade e simplificacto disso decorrentes. Esava portanto dei nido o seu ciclo enquanto conjuntura da modericlade. Decidindo tornar-se historiégrafa das vestimentas € das suas varlagbes registradas durante o século XIX Gilda de Mello.e Souza volta'se para 0 problematico “gosto geral da estaglo", ppassando-o pelo crivo fino-da andlise esética, psicoldgica ¢ so- ciolégiea. Nos cinco movimentos deste ensaio ela trata de defi- coerénela der fendmeno Moda, relacionando-o com a es ‘conforme os diferentes nivets problemiticos em {queeclase apresenta A serena seguranga com que empreende a analise desses diversos significadas deixa bem claro que ela af re uma reflexio desenvolwida pouco a pouco, wo cuidado intelectual. Partindo da consideracao pro: vis vestimente enqquanto linguagem artistica possivel, pasa pars a defini gio minuciosa do antaganismo visual das in- 8 dumentirias dos dois sexos, imagem das oposigdes sociais vivi- das por estes, para, em seguida, embrenhar-se nas singularidae ddesda cultura feminina enas diferencas e antagonismos de cas- ‘se que existem no interior desse mundo, O estudo conclu com. ‘situar das roupas de gala na atmosfera rarefeita do regozijo e «a festa, pois é no comtexto desta tiltima que a indumentéia fe- ‘minina alcanga a sua laténcia mexima - pois ¢ wansmudando a rosa cotidiana do trajar em fantasia poética que o vestido cum- pre plenamente o seu encargo transfigurador em relagio-A pes- soa que veste. Lembro-me perfeitamente do entusiasmo de Augusto Meyer, em 1954, 0 concluira leitura deste texto nas piginas da REVISTA DO MUSEU PAULISTA. Comentando o desenvolvimento, ageral e passagens especificas do estudo, com o fervor que re- servava para essas ocasides de euforia intelectual, perguntava, quem poderia ser a autora do trabalho, que julgava fora dos pparimetros do nosso ensaismo, fosse pela originalidade date ‘dvica desenvolvida, fosse pela qualidade, equilibrio e elegdn. ciado discurso. Realmente, a Futura escritora de OTUPIEO ALAl Dedava a medida do seu talento com esse “exercicio de leitura” ‘em que analisava e interpretava com transparéncia uma epoca tio ondulante € uma questao fugidia e complexa quanto a Moda. Monografia pioneira, que no primeiro estado apareceu comprimida numa publicagio de eircuito restrto, volta ci ccular com veste condigna, amplamente ilustrada, agora tra endo em epigrafe uma passigem dio exuberante RESENDAG RE (E) MeNDADO de Thomas Carlyle ~ autor que, nesse texto curioso, devolve & tadigo de Laurence Sterne um pouco do que ai be. beu Jean Paul Richter. Embora bem distante das abrangentes filosofancas humorfsticas do carlyliano Professor Teufeldrockh, ‘que discorte ali sobre a influéncia teanscendental do trae € do ‘mesmo tecido ns historia da humanidade, este 0 ESPiRITO Das -ROUEAS, A Moda eo Sécufo xxxndo consegue esconder,atris da sobriedade sutil do texto expositivo, a sensibilidade literéria pperspicaz, impregnada de discreto senso de humor, que com- pletao limpido olhareritico da autora, Entreaveste-real eaves: 4 te-imagem (que sio os dois terminais de leitura no sistema de significagdio da Moda, cuas leis internas Roland Barthes tratou de compilar em 1967) Gilda de Mello e Souza consegue rectiar ‘a veste-escrita com toda precisio de sua linguagem, que dese nba para 0 leitor em tracos definitivos uma apaixonante his ‘ria das formas no século XIX ALEXANDRE EULALIO 5 As Montesquieu urotea ser or, obse1ves O08 PO- Iessoe so could uriioa srr oe aot (For nether O cosets enn, omo sees de arias con tantes, de cariter coerctivo, é empregada pelos estudiosos da sociologia, da psicologia social ou da estética, em dois sentidos. No primeiro, mais vasto, abrange as transformacbes peridlicas efetuadas nas diversos setores daatividade social, napolitica, na religido, na ciéncia, na estética — de tal forma que se poderia falar em modas politica, religiosas, cientificase estéticas, ete. E ‘ponto de vista de Gabriel Tarde, Charles Blonde! chega a afir- 'mar, por sua vez, que ofendmeno ocorre ni s6 nas ids mas na vida afetiva, pois se a sociedade fixa os nossos sentimentos indo o faz de modo permanente mas através de sucessivas flutuagbes.” Steinmetz, contudo, critica estas conceituagdes muito largas, dizendo que as transformacées na visio do, ‘mundo, no gosto, na religiio ou na arte nao pertencem 2 mola, tembora também ocorram periodicamente, Falta-hes em pri ‘meiro lugar o carter de regularidade e, em segundo, o caciter CcompulsGrio, pois nao atingem 0 grande publico, que continua ligado a tradigio.* Nao cabe discutir aqui a procedéncia de tal Critica. No presente trabalho, tomamos termo no segundo, sentido, mais restrito, reservado ss mudancas periéxlicas noses tilos de vestimentate nos demais detalhes da ormameentacio pes soa, ‘Osenso comum baralha muitas vezes nogdes aproximadas ‘que sto irredutiveis As tansformagoes sucessivas por que pas ‘Aornamentagie do individuo —a vestimenta, @ pentead, 2 » sara fisiond mica —so freqilentemente confundidas como ‘costume, 0 gosto, as manias, € uma distincio se impée. “Todos os sociélogos concordam em que a moda se encon- tra em posicio aos costumes. EMLESLOIS DEL-IMTIATION, Tarde dlistingue ambos, dizendo que os costumes cultuaam 0 passado, ligando-se asim 4 tradi, e 2 moda cultua o presente, aclo- tando sempre a novidide,’ Neueburger, por seu lado, observa «que se "costumes e moclas nascem dum mesmo compexo de necessilades, a moda € a forma mais sensivel de vida" “Enfim, ‘05 costumes So tipos de comportamento social relativamente ‘mais permanentes e, posto que mudem, acarretam uma partic ppacio menos ativa € consciente do individuo. ‘Quantoao gosto, se a moda implica uma imposigio do gra poe depende de um sentimento especial de aprovacio coletva, pois que é um fendmeno organizado, disciplinado ¢ san nado, 0 gosto representa uma escolha especial centre multas possbilidades. E verdade que, como observa Sapir, a escolha de cada um dependerd, em geral, de uma combinagio dos dois elementos? ‘AS manias € as frias — fads, crazes, hobbies dos ingleses —apesar de objetivamente semelhantes &1 moda, so mais pes- soais, menos generalizachs, variando de coterie para coterie e s6 apresentando, portanto, 0 cardter de coercio elentro esses Pequenos grupos. Além do mais, vém sempre acompanhadas «le um cunho de extravagancia que provoca desaprovagio. ‘Amada nio-é um fendmeno universal, mas proprio de cer- tas sociedades e de certas épocas. De manteira geral, podemos dizer que 0s povos primitivos a desconhecem (talvez a grande cacao religiosa e social atribuida & roupa © aos enfeites represente um empecillo as manifestagbes de mudanca), que centre os gregos.e romanos ela se limita a alguns setores, como io dos estilos de penteadlo, e que na Idade Média pratica roc ritmo das mucangas. A aproximagdo em que vivem as pessoas 20 ra érea urbana desenvolve, efetivamente, a excitabilidade ner vosa, estimulando 0 desejo dle competir e 0 hibito de imitar. [Nas sociedades mais enfastiadas, por exemplo, o ambiente tor- nase propicio as inovagoes que, langidas por um individuo ou ‘um grupo de prestigio, logo se propagam. de maneira mais Ou ‘menos coercitiva pelos grupos imitadores, temerosos de sen: tiremsse isolados. E se bem que a competicio no inicio se efe- tue dentro de um grupo fechado, pois as leis suntusrias contro- Jam 0 processo impedindo a participagio nele das camadas in- feriores da sociedade, aos poucos, devido as especulacoes do comércio ou da industria, a riqueza e o nivel social deixam dle Coincidir, os éditos se abrandam e a moda se alasira por um pi blico mais vasto. Em Florenca, por exemplo, onde as distingbes «le nascimento nao conferiam mais prvilégios especiais,o indi- viduo via'se impelido a exceder-se sempre em sua aparencia, variando sem cessar os estilos de decoracio pessoal “Em nenhum pais da Buropa, desde a queda do Império Ro- ‘mano—diz Burckhardt— teve-se tanto trabalho em modificar @rost0, a cor dapele, o crescimento dos cabelos, como na Ilia ddaquele tempo."” © mesmo acontecia na Franca quando, pas- sada a dispersio da Idade Média, soberanos como Carlos Vit, Luisxite sobretudo Francisco tchamam para perto desi os siii- tos com suas mulheres e filhas. A partir de entio a moda fran- ccesa comega a ter uma singular importancia, que no passaria espercebida aos moralsta do século XV a0 x01, como Mon taigne, La Bruyére, Fenelon, Montesquieu." No séculoxvita bur- sucsia est lancada francamente na competicio e noséculoxvmt repontam todas as manifestagbes caracteristicas cla moda” tal como hoje a concebemos. Contuclo, é no século 0%, quando a democracia acaba de anular os privilégios de sangue, que a moda se espalha por todas as camadas ea competi, ferindo- e:itodoss os momentos, na rua, no passeio, nas visitas, nas est (Goes ce gus, aceleraavariagio dos esilos, que mudam em es- ppagos de tempo cada vez mais breves. incunserevendo 0 nosso estudo ao sé-culo xP%, nfo o fize- nos, portanto, levalos por um impulso pessoal, por uma pre- a feréncia arbitrria, O advento da bunguesia edo indusraltsmo, ‘dando origem a um novo estilo de vidas acemocracia,tornando possivel a participacio de todas as camadas no processo, outro: Fapandgio das elites; as carrelras liberals e as profiss0es, des ‘Yiando o interesse masculino da competicio da moda, que pas sta ser caracteristca do grupo feminino — tudo isso tinha a vantagem de nos oferecer um periodo social bastante uno, cle ‘queaRevolugio Francesa foi, de cert forma, o divisor de aguas, fEverdade que grandes oci6logos, comos ‘orivets a visio atual do fendmeno, afirmando que devemos tentar para. 0s fatos com os nossos prOprios olhos." Nao part: Mas se a moda mantém com escultura um certo vineulo, é possivel que também se relacione com a pintura. nas telas do pasado que, freqiientemente, o costureiro procura inp ‘940, ¢ inca hi pouco atravessamos um perfodo de nitida in- fluéncia pictérica, quando a todo momento, na rua, nosalio de cli,no teatro, deparvamas com figuras saidas dos quadros: de Renoir, em que nem o pequeno regalo estava ausente. ‘Outras vezes, porém, no € de maneira indireta mas efe- tiva ques pintura colabora com a moda, interferindo no esque- imaacromtico,fornecendo motivos pars os acess6rios, ou para cestamparia dos tecidos. Charles Lalo nega que as ehias evol {Ges sejam solidi, lembrando que "a presdominancia da cor sobrea forma, que caracteriza a pintura moxlerna desde os ro- ‘mvinticos, corresponde & disericio crescente da cor na vest; ‘myenta, ems especial na dos homens, cujo traje moderno acabou reduzindo-se uniformemente a0 preto ebranco”.F acrescenta: “€ problemitico que tenha havido alguma influéncia do pont Unismo nos tecidos pintalgados de antes da guerra. Contudo, Lalo apenas manifesta a sua chivida, no nos For- necendo nenhuma prova positiva que a fortifique: Pois se hou- vve,na verdhde, um desinteresse grande pela cor, assistimos ho- jem dia. ao renascimento do colorido, que atingea propria in: ‘dumentiria masculina, expandindo-se nas gravatas, nos pullo- ‘ers, na raupa esportiva em geral, Além disso, chamado a part cipar atizamente das manifestagbes artisticas menores, 0 crla dor aplica os seus principios te6ricos néo s6 na obra de arte desinteressada, de mais dificil aquisicio, mas na propaganda © na indistria, acetando encomendas de cartazes, capas de livros « desenhos de tecidos. Aina agora vemosa indistriatéxtl nor- te-americana arregimentar em torno de certas firmas, como a ‘ONONDOGA SIIK COMPANY € @ SCALAMANDRE SILK INCORPORATION, a7 conhecidos nomes ca pintura* A muther poders assim at escogo uma echarpe fantasmal dle Salvador Dali! ou deixar corer sobre 0 seu corpo 0s fogosos cavalinhos le De Chirioo, assustados pela voz do oriculo.* Noeentanto, 3s vezes 0s papéis se invertem, ea arte menor, interessada, influencia a grande Are, a vestimenta transfor. mando a composigto do quadro, -A moda sempre foi um pretexto para x pintura, impondo, comoa natureza, as suas formasao artista, Ese houve épocasem que © pintor preferiu inspirar-se no corpo nu—e temos as ce- as lendrias de David — outras wezes pendeu para. "human dade artificial” do corpo vestido, como nas teas da Escola de Clouet representando bailes na corte de Henrique i” para es- sa “humanidade sucessivamente herildica, teatral, feérica, arquitetural” Entio no € 0 sinuoso equilibrio do corpo na. tural que o pintor elege como matériae tanspde para oquadro Charroco), mas 0 equilibtio feito de oposigbes (século Xv italia no) em que o interesse da composigio est no contraste entre as linhas ascendentes dos penteados e as linhas descendentes das suntuosas mangas em forma de asa.” Os retrats fernininos desta época como que esto sujeitos & pompar do toucado. O Fosto, natotalidade das vezes de perfil, destacando-se sobre um fundo geralmente escuio e unido, limita-se acima pela compo: sigio elaborada do penteado, abaixo pelo luxuoso e pesado te. ido do vestide,” Admiravel exemplo dessa técnica €0 RETRATO De sputtona de Pisanelo, em que o interesse todo do quadro se concentra no no portentoso rolo estofado e chapeado de ilho ses, que contorna.a cabeca, nem na tinica de veludo, azul € ou: o,masno rosto muito nitido e simples para onde o nosso olhar conduzido através de um habil jogo de linhas: os semicirculos decontas de filigrana do colar combinam-se com osemicirculo «em sentido oposto do turbante, a elaboracio inferior ¢ a ela boraciio superior do quadro levando-nos para a zona de in teresse — a face pilida de perfil” Aqui, a colocagio do rosto concorda maravilhosamente com a linha do turbante eo ritmo dos colares.d no conhecido nETRATO DE SENHORA ce Roger van 38 ‘der Weyden,a visio dtima é de trés quartos, dada aimportancia ndio s6 das trangas, puxadas para o alto da cabeca, mas, princl- palmente, dos véus que emolduram o rosto ¢ ditam o tema de construcio do quadgo, todo em angulos agudos." ‘Outras vezes, porém, a vestinenta, além de servir & com- posigio, pode auxiliar a criagio da atmosfera, “Esses diversos areanjos — diz Focillon — sempre encontsaram um certo tipo de pintores propositadamente costumistas, e aqueles que per- _maneciam pouco sensiveis is nae! foses efetuadas pela ro pa, na medida que afetam o corpo texlo, eram-no extremamente Pera ds teidoe Bo co de oricele ands de Van Eyck, O enorme chapéu de Arnolfini, sobre sua one 5 xilida ¢ pontuda, nao é um chapéu qualquer. Na tarde infi Ehxpensto emp onde chances lines oranda res brocacas de seu manto ajudam a criar a magia do lugar © do instante." » ‘Os etratosfemininos dessa Epa esto como que sujetos pomp do tou ado, istem porém certas artes menores a que mocka se sub» ‘mete intimamente, com elas formanlo um todo nico: Sto ats artes ritmicas, Na verdade &-0 movimento, a conquista do es list noda das outras artes ea toma urna forma, specifica, Quando falamos da beleza de um quadro, ce uma estitua ou de um edificio,fazemos por assim dizer um jul. ‘amento estitico, Se bem que todos vivam em relacio com & tmbiente —os largos painéis das igrejas comunicando-seenite. si pelo ritmo dos panejamentos e a harmonia ou oposicao das Cores: figuras de pedra ou marmore encaixandse unas nas ‘outras; as lisas superficies arquitetSnicas completando se com os jardins 4speros e tropicais —, se bem que tais obras vivam e ® devam ser julgadas nessa harmonia com o exterior, eambém Podem ser encaracas em si, sem perder nada de sua essencia, ‘no equilibrio interno das linhas, das cores, dos volumes. Tal io se di porém com a moda, Arte por exceléncia de compro- 'misso, otraje ndo existe independeente do movimento, pois et Sujlto ao gesto, ea cada volta do corpo ou ondular dos mem bros € a figura total que se recompée,afetando novas formas ¢ tentando novos equilibrios. Enquanto o quadro 6 pode ser visto de frente ea estitua nos oferece sempre a sua face parada, avestimenta vive na plenitude nto s6 do colorido, mento. Este acrescenta a0 repouso qualquer coisa que nele fi «stava contido, mas que, apenas agora, subitamente irrompe. E ‘temocio que a ruptura provoca em nds ésemelhante surpre- sstdo Fiso repentino em um rosto imovel “Com efeito,cruzacla sobre asaia de crepe-davchina cinza,a Fnqueta de cheviote cinzento levava a crer que Albertina estava toda de cinza, Mas fazendo-me sinal para ajul-ta, porque suas ‘mangas bufantes precisavam ser achatadas ou suspensas 40 ves tir ou retrarajaqueta, ela despiu.a, e como as mangas eram de lum escocés muito doce, rosa, azul pilicdo, peito de pombo, foi ‘como se num céu cinzento se tivesse formado um arco-iels" Assim como para julgarmos a beleza de um rosto nao po: ‘demos separar 0 acordo das linhas da expresso que 1s antina — lantos rostos sendo belos por possusirem exatamente essa 0 as do movi- exista como arte na se estabeleca @aesséncia da beet de expresso para qua esting iuce elo dle Hemidade © concordingt cleglineia. Recompondo-se a ext momento, jogando com 0} Fung das anes © quad que compan que se tastore do estiidio do artista 4 parede de nossa sala, de alguma forma “meircbé na tem molduraalguma que o contenha e nds comple- pape peetet " claros ¢descla tra onde, como oe fsse a primavers, em tented loa esr increas mas ass facades deve thas eases ators, no teraz dalekers, rus legumes e cont se eeram 20 sol Eu hv naginando ue a0 ther que eu via passar ao longe, abrindo a sombrinha, a ated ealiar seston sma oa deliciosa. Ignorante dessa reputagio esparsa, ela prosseguia ¢ 0 corpo ere refaio que nal hava abuortdo, argues se Dolquameriesob uma ctare ele se vile oss ct ros e enfastiados olhavam para a frente distraidos € talvez me tiesoem iso; ela mora o canto do bios ea observa dlretar ego, daresmotaa um pobre, comprar um mao de violetas de uma vendedora, com a mesma curiosidacle que teria thao ranean pins mela fa urvcurprimentoa cis ea tralowe sons, ert ome ease ected escent Ihe dedienora,a obreprina de una sgoadn™ rl iserindo 0 motimento entre os principles exicos definidores da moda que Cunnington, num dos seus livros, pro- euro ent como ae ator ue en, com esa Site ds ots ares do pu oc pean altmpasar diteulcades tenis, encontrado par na ie a guage pr ‘considerar julgarmos um cuatro podemos Kentos Estticos, O equillbrio das cores € volumes, a composigio ¢ 0 desenho— descuidando da ucles que, presos is injungoes do lugar e do momento varia Constantemente, como 0 assunto —, para julgarmos a vest menta também podemos escolher um Angulo especificamente antitico, Deste ponto de vist, os principais aspectos da vesti- ‘menta seriam a forma, cor, o tecido e a mobilidade:; da conju- Icio dos quatro componentes nasceria.a obra de arte, embort ‘cada um deles pudesse ser focalizado isoladamente, com seus problemas e solugées. Vejamos em primeiro lugar a Forma, A historia do vestuério mostra que a roupa se tem cons truido em torno de tres tipos de eixo: 0 ret0, 0 angular € 0 curvo™ Tai tips possuem, no entanto, das variantes, o exo reo podendo ser vertical ow horizontal, o angular podendo ser ‘obtuso ou agudo,o curvo podendo ser circular ou eliptico."E tes seriam os eixos bisicos, que tanto encontramos nts formas simples como nas compostas, isto é, combinaelos uns com os ‘outros. Assim, a crinolina vitoriana, cujo eixo pode ser esque ‘maticamente representado por um ¥invertdo, seria uma com. binacio de um eixo vertical com um eixo angular —o Angulo sendo.isvezes obtuso. Um vestido de 1895, de mangas enormes cestia nesgada,representaria outro eixo combina, a part st perior sendo semicircular e a inferior um Angulo agucto Dentro dessa “geometria’” seria possvel saber quals as ‘combinagées cximas, sto é,descobrir matematicamentea "boa linha’. Bis as regras estipulades pelo autor: 1 Se 0 eixo € composto, a5 linha retas devem uni se adn galos endo a curas (pois sendo de qualidade diferent binagao resultariachocante). Por outro lado, o emit curvaselipticas combinam admiravelmente, como atestam os vestidos eduardlinos. 2 O tipo de eixo deve acentuaro sexora que pertenceo porta dor, Um eixo vertical mais um horizontal ei, mesmo a un ves {ido ferinino, uma aparencia masculina— a forma emt. Ao a exo de linhias curvas combinadas empresta, asculina, um ar efeminado, como no retrato de Allred Orsay. {3 Gada tipo de eixo deve exibi, numa vestimenta, ambos os dois opostos: vertical-horizontal, agudo-obtuso, circular- tliptico, Pols ¢Forgoso que o taje apresente altura kargura em proporcoes correspondentes, as linhas verticals, os Angulos {iqutios e as curvas elipticas dando énfase altura, enquarto seuss respectivos opostos do énfase & larga 4.0 desenho deve anunciaro tipo de eixo que o estrutura e repet-lo noutas partes da vestimenta, ou nos enfeites. Um eixo impreciso desnorteia o observador; um eixo sobrecarregado pade cans, Quanto so equilibrio total da figura, julgamo-to através da posigio do diimetro maior. Seele esti acima do nivel médio da vestimenta — como na moda de 1912, de vestidas justos 40 ‘orpo e chapéus enormes de abas grandes e capas volumosas art figura é deseqquilibradka, £ verdade que existem varios re ‘cursos para restabelecer o equilbrio, tals comoacrescentar tra {08 pesados 2 altura dos pés ou distribuir as cores em masas fscuras, que sugiram peso, na parte inferior, ec ‘Aor vem, em importancia, logo depots da Forma, tendo as vezes (como alfés na pintura) mats relevo que esta tiie. Pode ser utilzada em eombinagdes discordantes ou em combi- nnagoes harmioniosas,em massa isoladas ou num esquema poli ‘eromico, O uso medieval dispunha.a cor em simples massas de ‘contrastes crus; f& o Renascimento consegue uma complexi- dade muito grande de combinacSes, chegando ao esquema policrdmico do século xv. Ese 0 sculo x11 utiliza as cores vio- Tents, 0 século xvnt serve-se das cores harmoniosas. certos fins que poderemos classi- A.utilizagio da Cor vis ficar: 1. Aumentar ou diminuir 0 peso aparente e 0 tamanho de uma regio, as cores escuras tendendo a aumentar o primeiroe reduzir o segundo, as claras produzindo efeito contririo, ry menos eviddenteatravés de tons escuros 3 Afetar 0 tom emocional da vestimenta toda, pols que 3 cores tém um significado simbslico ¢ podem ara, repelir ow «sposar 0s noss0s sentiments 4 Conduzir o ofhar numa determinada directo por meio de Angulos coloridos, enfetes angulares, etc 5 Procluzirilusio de dtica, as inhas verticais aumentando a aura, as horizontais, a langura Aistéria da vestimenta mostra que do século x0x para ci hhouve um crescentecesinteresse pela cor o qual aetouem pri- meio lugar a roupa masculina e fi neste séculoa feminina, "A vestimenta esté se transformando de quadro em edificio e 0 pintor dando lugar a0 arquiteto.”™ ‘0 Tecido, por sua vez, encontra-se em relacio intima com or e pode, conforme a consisténci, a diposigio das fibras, 0 processo por que foi tratado,afetara luminosidade do colorido, avivar 0 tom pelo brilho ou reduzt-lo- pela opacidade- Alguns Possuem, mesmo, um alto grau de resplendor, como 0 cetim. Do mesmo modo que o esquema cromitico, a fwzenda pode ser uilizada para atrait’a atencio sobre certas regides, os Imateriais mais 4speros sendo empregados nas partes mais apa ‘alas, 08 mais finos nas regides mais atraentes. O problema da Mobilidad fo, talvez, o que se levou mais tempo para resolver. A historia do costume mostra que, nesse sentido, a evolugio foi feita da imobilidade para a moblidade crescent, 0 corpo evoluindo do bloco total para a libertagio ddos membros, A necessidade de facilitar 0 movimento das per. nas € dos bracos veio colocar a arte da vestimenta diante de sérias difculdades, como seja 0 problema das juntas movei bastante descurado.” Aqui a solugio era mais artesanal que ar. tistica. Ora, o bom corte data de dots séculos apenas, ¢ $6 de Ha para cé foi possivel resolver problemas como a jungio da ‘manga na cava — um dos mais sérios dat manufatura das roupas através de um corte que libertasse os membros superiores, 40 mesmo tempo que desse a0 todo a impressio de bem” “ acabadlo, Esta conquista recente fangow a arte da vest fej uma estrutura sem levar em contaa possibile dela ser moulfcada pelo gesto, hoje é a propria mobilidade que dita © slesenho «fos tales. ‘Como vemos, € possivel retirar de Cunnington 0 esboco de uma teoria artstica da vestimenta, No entanto, como 0 obje- tivo do conselheiro do Museu de Manchester foi encarar a ‘moda como arte viva, estudando a historia do costume ingles, ‘io deixou de levar em conta a influéncia da sociedade, de tal forma que o seu livro é, 20 mesmo tempo, umm esforco para de- monstrar a autonomia da moda como arte € uma prova da sua inevitivel sujeicio As condigBes sociai ‘Aarte da vestimenta — diz ele — est intimamente asso- ‘iada aos principios morais, um importante aspecto dos quis representa, por assim dizer, pictoricamente. Suas incursSes, como uma forma de arte que explora novos modos ce expres: ‘fo, se encontram limitadas pelas convengoes da época.” Ao ‘mesmo tempo, acentua a interferéncia da religito e especial ‘mente da Igzej, “levantando-se contra a tendéncia muito hu- mana de utilizar essa arte na intensificagio dos interesses «que ‘5 sexos nutrem um pelo outro”, lembrando as investidas, na dae Méctia, contra aqueles estilos que, 30s seus olhos, se apre- ‘sentavam como "muito inflamadores", A pr6pria diferenciacio centre a vestimenta masculina e feminina, que se intensifica a partir do século xt, explicar-se-ia, para Cunnington, de um kt dopelo relaxamento do dominioda Igrejae de outro pela liber- tacio das mulheres que, comecanclo ater direito na escolha do ‘companheiro, interessam-se cada vez mais pelos elementos de atracio sexual” ‘Acessas observacies, feitas pelo proprio autor, poderta- ‘mos acrescentar que a sociedade nao s6 impoe, a partir de wm determinado momento, una forma feminina e outra masculina, como também se insinaa na escolha da mean — para o> ‘mens, xpara mulheres —, a diversificagio formal traduzindo 0 trragoniso dos deals de msctiniadee de feminiade © 5 noua capricheporgo ec. Asin ue a Os cones que smb formas varia de manera paralela. A vigérosa vestimenta masculina do século xvi, que Ampliava desmesuradamente otronco—detal modo que pars teeupera equi do conunoosansas vamos cb dos pinsar os seus modelos com as ernan art “ [ite 191161912 a cnormidade dos chapéus desabava sabre os compos cx voluindo para os does e {os femininos do inicio do século xvi, apenas reflete a transor- blo conceto rude de virilidadle no ideal gracioso do gen t-homem, Vor outro lado, no & sempre que a moda se enquadea dentro dos prinefpios estéticos da forma, A historia do trae for- ‘nece-nos infimeros exemplos de estos feios € desequilibra- dos, como a moda dle 1912, ctada por Cunmington, em que a ‘enormiklade dos chapéus dlesabava sobre os corpos estreitos, ‘corrados nas stins exiguas; como por volta de 1923, quando 0 ‘into, dividindo figura muito embaixo, dava lugar a uma pxo- pargio infeliz, Contudo tas estilosse difundiram, oque provaa relatividade do elemento aristico num fendmeno social como moda. A Forma nfo corresponde, pois, a uma preferéncia arbi Itaria ou esttica, mas é imposta quer pela tradigio, quer peas ‘condigdes sociais, o mesmoacontecenddocomas cores €osteci- dos, cuja escotha independe do capriche individual, sendo rama larga media sancionada pela sociedade. ‘Com efeito, a0 mesmo tempo que trachuiza necessidade do adoro, a moda corresponde ao desejo de distingdo social. A maior parte das leis suntustriasatestam a intencio, entre os rei ‘que aeditavam, de manteras distingbes de classe sobre as quais, asociedade repousava. As sedas, as pelica, as correntes de ou: 10, sio privativas de certas camadas, encontrando-se interditas as demais." No édito de Henrique it da Franca, em 1549, por ‘exemplo, “apenas os principes e as princesas podem vestirse de carmesims;os gentis-homens e suas esposis 6 tem o direto de utilizar essa cor nas pecas mais escondidas; as mulheres da classe mécia 6 € permitido 0 uso do veluco nas costas ou ri mangas; aos maridos, profbe-se o seu emprego nas Veses st periores, a nio ser que as inferiores sejam de pan 3s pessoas {que se dedicam aos oficios ¢ aos habitantes do campo, a sec & interdlita, mesmo como acess6rio"." ‘Além disso, a propria distribu isoladas e contrastantes, como nat Kade Med 10 das cores em mrassas waa certos ” ‘objetivos uilitétios — agora & Cunnington quem o afirma—, como a necessidade dle, em mis condigdes de iluminacao, dis Linguir de longe a ocupacio € o nivel das pessoas. O Renas mento, melhorando as condigoes de luz dos prédios, moditi- cou 6 esquema cromitico e a sensibilidade se tornou agua na escolha dos matizes. O século Xv ainda demonstra tum pendor pelas oposigGes violentas, mas com a vida de sao do século xvin prevalece a tendéncia & harmonta, Portanto, 2 uilizacto da cor no deriva apenas de critérios estéticos, mas 4 intimamente ligada 3 estratficagio social € & evolucio da teenica. ‘Quanto a inércia demonstrada pela ane da vestimenta em resolver os problemas da mobilidade, ainda se explica, anosso ver, pelas condligbes sociais. “O bom corte da roupa masculina — diz. Cunnington — comeca a surgir no século XvIl, € 0 da {eminina data de cem anos apenas. Qual a razio desse atraso? A resposia parece clara: até entio a roupa ni era feta para dar ‘comodidade — talvez porque os alfsiates nio possuissem a ne- ‘esséria pericia."““O problema, no entanto, esta mal colocado, pois a deficiéncia das téenicas de manufatura, longe de ser & ‘causa, deriva clas condicbes sociais. A roupa incOmoda expri la, naquela época, tanto quanto a rica ornamentacio, uma prerrogativa de classe. Era uma prova vsivel,oferecida a todos, de que 0 portador, no se dedicando aos trabalhos manual desprezava o desembaraco dos membros ¢ 0 conforto das ves: tes, O seu carter distintivo sobsrepunha'se de tal forma 20 seu ‘carver funcional que um cavalheito doséculo xv, devida muito pouco sedentiria, no se opunha 20 uso dos sapatos em bico com calcetas reviradas, nem um isabelino, aos sufocantes gi- bides ustos de golas em canudos. Fol necessirio operar-se uma revolugio nos espiritos e, com a vida dos saldes,a mobilidade ttansformar-se por sa vex em distingio de classe, para que os ostureitos buscassem 6 aperfelcoamento do corte Pois na verdade, se o movimento esti completamente au- sente do século xv, onde a pessoa nos da impress de entala dadentro de uma estrutura rigida, *e se essa imobilidace per- 48 dura, pelo século xvirafora, se encontra bastante atenuada no séeaiosvetemos os pracososretratos de Boucher, 38 cenas 20 ar lvre de Fragonard, a obra dos retratistas inaleses. Com feito, um abismo separa a Maria de Médics, de Pourbus, * da Madame Pompadour, de Boucher, ou os grupos hieréticos do ‘culo vt das cenas intimas ou de salio do século Xvi," Se as, figuras comecam a ser representadas a0 piano, tocando harpa, sentadas ou brincando, € porque nio sé € outro espitito da Epoca, ea concepeio da plistica passara, no dizer de Spengler, ‘do ornamento arquiteténico paraa linguagem das formas mu ‘ais, como a roupa ji desatara os membros, € 0 movimento. co- ‘mecavaa urdir coma forma a trama que da em diante vai carac- tehicar arte da vestimenta, 40 vestido no & mais para se ver de frente, mas também de perfil ou de costas, com as elabora © S68 posteriores eas Hanguidas tinicas@ a Watteau. Bo apo; dlavida de alo ¢, dafem diante, avestimenta vai incorporar aos seus elementos a conquista do espaco, O século xt trizendo as Profissdes liberais,a democracta, a emancipacio das muthere ©. difasio dos esportes, completari as metamorfoses soclas {ue fizeram o taj hiro dos séculos ameriores desabrochar na extrutura movedica de hoje em di Em resumo, no € possivel estudar uma arte lo compro: metida pelas injungdes sociais como a moda, focalizando ‘apenas nos seus elementos estéticos Para quea possamos com: 50 ‘Aroupa no se destina mas ee te, asta sta cle frente mas também de costas ede preender em toda a riqueza, devemos inseri-la no sew mo- ‘mento ¢ no seu tempo, tentando descobri as ligacBes ocu lias {quemantém com asociedade, Este fendmeno socal, ndo hi dé vial, esti jogando a todo instante com os principios artisticos, {que reorpaniza num novo todo cada vez. que 0 estilo varia, O movimento do tertagadtin, no século Xv, repercixe no movi mento em leque dos cabelos; a queda em cascata das saias com as trangas que desabam sobre a nuca, a figura. de ritmo posterior de 1870; no vestido sinuoso de 1900, linhas ¢ ‘os bordados se articulam num arabesco indlissolivel. Que se insforme um s6 desses elementos € romperse- a estrutura hharmonioss da figura, No entanto, se cda vez que estilo varka a moda cai sob 0 dominio da arte, 0 que explica a mudanca? O que explica a necessidade constante de renovacio, o cansago Ininterrupto das antigas formas? Esta pergunta quem a res- ponde, a nosso ver, ndo € mais a Estética e sim a Sociologia, * Dai anecessidade de, estudando a moda, nos colocarmos rum ‘outro ponto de vista 5 AA lege nomen, nto o tds 0 imos surpreendidos pelo todo heterogéneo que € & sociedude. ‘De um canto de rua, vendo.a multiclio pasar, podemos contra por na corrente humana, que foge apressaca, a diversidade de Fastos, de falas, de ritmos ele andar, de corpos e de roupas. As dliferencas que captamos so reflexo de profundos contrasts, detipo de vida, de nivel socal, de profssio, que osanos cristal ‘aaram, impondo 20s individuos como uma miscara. Elis fazem com que a primeira vista separemos nio s6 0 operdirio do bur: gués, como dentrorde uma mesma classe o escrtor do magistr do, 0 comerciante do fazendeiro, 0 professor do industrial. Dessas opasig6es, porém, a que mais nos impressiona poreue se estampa numa diferenca marcacla de configuracio fsiea €a {que existe entre os sexos. Aqui, nao s6 um contraste biol6gico,, mais acentuado que entre os aninvas, afasia a mulher do ho- ‘mem, Mas todo um conjunto de diferengis acentua através da roupa as caracteristicas sexuais, modula de modo diferente ‘oz da mulher, produz um vagar maior dos movimentos, um jeito de cabeca mais langue sobre os ombr0s. Diante de um antagonismo tio marcado € dificil sabermos, ‘0 que foi obra da natureza © 0 que foi acrescentado por séculos ‘leemnitua segregacio e de tarefas diversas. Pots desde as socie: ‘ales primitivas uma barreira tem separado o grupo masculino do feminino, obrigando-os a viverem em mundos epostos, ‘Ao mesmo tempo, um duplo padrio de moralidacle regia as relagoes humana, © c6digo de hoata do homem sendo di verso do da mulher. Talvez a poucos momentos da cultura, ‘como a este, se aplique a teoria de Thomas: aqui temos real mente de um lado uma tioral masculina “contratual", um e6 digo de honra originado nos contatos da vida pablica, comer. Cial, politica © das atividades profissionais —e do outro uma moral feminina, relacionada com a pessoa e os hibitos do corpo e ditada por um tinico objetivo, agradaraos homens’ Nas sociediades patriarcais a separacio € evidente,“o padrao duplo ‘de moralidade dando a0 homem todas as liberdades do goz0 38 fisico do amore limitando.o da mulher ar paraa cama com o marido, toda a santa noite em que ele estiver disposto a roca” Pros pvestimenia acentuar ess antagnisn rao no ‘culo x0x, duas “formas”, uma para o homem, outra para a mu: Iher, regidas agora por prineipios completamente diversos dle evolugo e desenvolvimento. histrit do traje nox mostra, € ‘verdade, como os dois grupos sempre se diferenciaram através daroupa. A indamentiria masculina evoluiui na sua trajet6ria de ‘um “oblongo em pe", sido dos ombros aos tornozelos, 20 segmento de uma esteuturaassemelhando-se no desenhoa um 1A feminina tomou como “simbolo bisico de sua construc tum x" Contudo era o mesmo espirito que, desde 0 Renasci ‘mento, vinha se traduzindo no esplendor ds veludos, rendase brocidos. © século xx, porém, sers um clvisor de aguas ¢ o ° Wes babaos ef, nganto« tj eminino se rmgucee de eas efles bab melo sede wets Principio de sedugio ou atrago, que € o prineipio diretor da roupa feminina, es tiltimos cem ou eingiien quase inteiramente ausente da vestimenta dos homens. En. {quanto 0 raj fer ou novamente numa complicacio de rendas, bordadlos eft aindumentiria masculina partiu, num crescente despojamento, do costume de caca do gentil-homem ingles para o ascetismo, da roupa moderna, ‘Como o distanciamento vai se efetuar ao mesmo tempo na forma, na cor e no tecido, analisemos, em detalhe, o processo nestes trés campos da vestimenta, 6 », passaciaa vogs da simplicidade, se lan © dlmortismo scentuado da mods ¢simettico a0 duplo padi de mora Gide do seelo. A FORMA © século x0, dissemos, se inicia sob 0 signo da simplic dade. Nesse sentido vinha se processando, desde o séculoan terior, um movimento que parti talvez das idias dle Rousseau € da influéncia das modas inglesas, acentuando-se com a Re volugio Francesa. As mulheres, abolindo os espartilis, a8 ans gus os saltos altos, puseram se cle camisols branca atada de Baixo dos seis eo veo se ornou esis sem formas. Eo apogeu do exibicionismo do corpo, explorado pelas carica tte dotempo, onde a venta cols pista bertad sec a ddos extraordinariamente transparentes. Por essa épox rmlher legate no deviatraner sobre sma coe dusene sramas de vestido, incluindo-se as joias ea echarpe.. Os che /péus caracteristicos so o turbante (cuja voga, segundo von Bhehn, nfo ft devia 3 campana de Napolete ns Sts, sos ‘os nababos indianos, passando da Inglaterra Franca) © 0po ‘ke bonnet, originalmente chapeu de durar mais ou menos sessenta anos, a patha campesino, que va ‘ora grande, or pequeno, ‘Depois de 1820 as mangas atingem uma dimensio exagerada 1 baixo, on alto.” Coma Restauragio a simplicidacde ctissien da vestimenta muda, Surge no gibao isabelino eas saiasenc a barra através das andg We perce e a forma essenct pprimeiras mangas baseadl um, armandose & altura terna Por volta de 1820 a forma cilindrica ji havia mente abandonada, a cintura voltara 2 sta posicio normal, ¢ figura se constroi por um sistema de tridngulos, “o chapéu enorme ea cabect formando um trfingulo invertido, colocado sbre outro composto pelo corpinho e pelas mangas, 0 qual, por sta vez, se equilibra no Spice de uma saia ‘riangular™. Newe period as caricauras exploram os chapéus, construcbes \erdadeiramente fantisticas de rendas, plumas e fitas, usidos em todas as ocasides, mesmo nos jantares eteatros.” As mangas tumbém haviam alcangado uma dimensio surpreendente — a figura feminina, de saias rodadas e curtas, mangas chapéus enormes apresentando uma largura quase igual & altura, De 1830 em diante vai haver nova mudanca fundamental no dese nh: os penteados elaboradlos que exibiams lagarotes de cores brilhantes, flores e pentes de tartaruga desaparecem,; desapare- ‘cemas mangas inchadas, que slo substituidas por mangasjustas hos ombros e muito largas nos pulsos. © punho € abolido a mio some dentro de ordens superpostas de rendas e babados: 6 a forma em pagoda. O traje agora é simples € 0 desatavio dlirige o adomo feminino, do feitio do vestido ao arranjo dos. cabelos. A inspiracio vem dos séculos Xv € Nvite a figura se constr6i em tomo de angulos goticos —a cintura abaixa, 0 cor- pete fica pontudo, © decote desce em forma de vacentuando a estreiteza do busto, a saia apresenta uma abertura na frente. Os, meados do século' vio presenclar o aparecimento da grande ddescoberta mecinica da vestimenta: em 1855 surge a crinolina, inroduzida pela imperatriz Eugenia e simbolizando o triunfo da nova era de ago. A mulher passa a ser um tritngulo equild tero, auxiliado pela voga dos chales e mantilhas que, atirados, sobre os ombros e descendo pelas costas, escondem a cintara Em 1859 a crinolina alcanga a sua expansdio maior ¢ dai em 6 diante a roda do vestido diminui ea Fazenda comeca a ser arre- panhada na parte posterior, a parte anterior fieando mais ou ‘menos liste acentuando a curva suave das cadeiras, Estamos ma idace de ouro dos costureiros (por volta de 1870), ea invenco recente da méquina de costura possibilita a grande elaboracio dotraje—a maiortalvezda historia da vestimenta." Eisa descr «fio de um vestido de quatro aspectos: "0 lade direito, na frent Eliso;o ado esquereio é formado de pregas horizontals; lado direito das costas é um pouf'e o centro € o lado esquerdo das, costas slo compostos de pregas perpendiculares”." O interesse da Figura total esti nas costas, ¢ os penteados repetem o ritmo, tem cascata dle chutes, ondislations & cau, 0 efeito geral es tando bem expresso na anecota do Pach, em que a velha diz, para a moca elegante: “Minha cara, suas roupas esto todas caindo..".m 1884 a anquinha é atirada para cima, assim como os cabelos, e frente do vest se torna quase rigid, De uma certa maneiraa evolucio da’forma’ feminina no séculoXixter- minou, O decénio de 90 revive as linhas gerais da silhueta de 1830, dando enorme realce 4s mangas ¢, pelo contraste, cin, tra fina;e 0s tihimos anos do século xxx 0 principio doséculo xx compéem uma variagio nova da silhueta tubular, agora colante, transformando a mulher num milagre de curvas. Bastante diverso € 0 itinerivio percorrido pela indumen- tiria masculina, Em vez de estar sujeitoaciclos,a um ritmo esté tico de expansio de um determinado elemento decorativo le- sadoao limite méximo (as mangas crescendo até aaberracio de 1830, a saia se alangando sté a crinolina, a anguinha se acen- twando até 0 excesso de meados do decénio de 89), a roupa ‘masculina se simplifica progressivamente, tendendo a cristal zar-se num uniforme:* ‘Seu ponto de partida € a adogio, ainda em fins do século jor, pela grande maioria dos homens europeus, do que cet em exsénecia 0 costume inglés de montar — 0 rialing-coct que os franiceses denominaram redingotee que dari origem tal como ela perdura em nossos dis. A propria cartoka ado crash helmet do cacador, Ela podersiter a copia ou ant eas der o baixa,varkar no material, que oraé pélo de castor, ora éseda, ter as abas achatadas ou voltacls para cima em Angulo agudo,afe- tando uma extraordinéria wariedade que nfo passou desperce- bida ao caricaturista da época Mas todo homem decente ter de possuir 20 menos uma, pois que € 0 simbolo da respeitabill- dade burguesa, Seré 0 chapéu caracteristico do século XIX, ‘como otricémeo © foi do século xvi, atravessando-o de ponta a ponta, jé que 0 chapéu de feltro 56 surge no decénio de 90. ‘Os calgdes, usados até o segundo decénio, com botas de montar, logo serio substivuidos pelas calgas, bem mais como- das, Em 1814 0 daque de Wellington se apresenta no Almack, ‘com um par de calcas e, desde entdlo, a moda esti Langada. Em 1825 so de uso corrente, seguras por presilhas, debaixo dos sapatos Contudo 0 despojamento nio foi repentino, € no princi- plo do século a fantasia se aplica largamente na eseolha dos coletes e na elaboracio das gravatas, celebrizando-se Brammel pela habilidade especial em até-las. A roupa masculina ainda é ‘um instrumento de afirmacio pessoal, ¢ nas reuniées socials 0 cexagero 6 to grande quanto o feminino, os desenhos do perio- do explorando também os ridiculos dos homens, com os bus- tos estufados artificialmente, os calgbes muito largos drapeacios sobre as coxas, as gravatas monumentais que, juntamente com, as golasaltissimas, engoliam rosto, cabegt e cartola, como na stampa de Le Bort Genre, CAVALGADA DELONGCHAMP, que Max, von Boehn reproduz™ Perclura até 1830 0 luxo das gravatas ¢ dos coletes, que en- to podem ser ricamente bordados ou em néimero de dois, um de veludo, outro de fustio por cima. Nesta época a figura mas- culina concorda em grande parte com a feminina, € 05 compos se estrangulam, acentuando as formas com o auxilic das “cintas baseas” usadas Sobre pele. Pouco a pouco estas manifestagies, «le capricho vio sendo abandonadas. O Romantismo substitu preras, cobrindo todo 0 sis, coletese pales come: ede mes Bvolulo esquematin da moda no decorrer do sécul 6) eee r= dos do século em diantea roupa ndo tem mais por objetivo des- tacar 0 individuo, mas fazer com que ele desapareca na mult dio. A.casaca tem as abas cortadas, dando inicio evolucio que produzird o terno masculine moderno, © advento do esporte Fenova um pouco a hirta estrutura masculina, introduzindo © patching, o naval reefer e 1 Norfoll,jacker. En 1890 a cartola ‘comega a ser substituid, de dia, pelo chapéu de feltro. A COR Quanto a cor, a evolucio também se deus, part o grupo fe ‘minino, da simplicidade para a complexidade. O periodo na- poleénico se caracteriza por uma verdadeira paixto pelo branconos vestidos, aos quais se aerescenta, yes, tuma man cha gritante de cor — vermelho-papoula, violeta — dada por ‘um acessdrio, como as lwvas compridas, ow a echarpe. No mais, scores uilizadas sio muito pilidas, mas por volta de 1830:sur- _gem os belos tecidos floridos e o esqurema cromitico se apura, as cores vivas sendo mais apropriadas aos trajes de jantar, eas claras—rosa, imao, azul — ao baile €4 Opera, Tendo castelo de Balmoral se ransformado na resieléncia dat rainha Viti © do principe consort espalha-se, rapidamente, amoda do esco- 8s e do xadre que atinge mesmo a Franca ‘Ao gosto pela combinagio harmoniosa substitui-se, em, meados do século, o gosto pelas combinagdes contrastantes, aque vai durar aié 0 decénio de 90. Um vestido apresenta enti varias cores, como por exemplo lstasalternadas de fazenda10- ssismalvaou preta. Amistura exagerada de tons e de tecidos pro- voca por volta le 1880 profanda reagio de todo um grupo de estetas ingleses.” Mistura que talvez tenba tido origem menos ‘numa nova concepeio da cor, que na descoberta das tinturas de anilina e no esforgo de descobrir um esquema cromtico apro- prio 4 nova forma de iluminacio. © colorido das roupas masculinas é, en: contraposicio as femininas, muito discreto, Ao rosa, 20 violeta e ao verde, pre- 6 ferem-se © marrom ¢ 0 azuilescuro. Contudo, em 1816 ainda ‘estdo em grande voga as casacas do célebre blet célese de Wes ton, o maior alfaiate de seu tempo. As combinagbes se fazem, ‘em geral, em tomne de trés cores: claras para as cal as, escuras para a parte superior da indumentéria e vivas para 0s coletes. or exemplo: uma. sobrecasaca verde-oliva, clgas cor de jacle € colete estampado sobre fundo creme, ow um redingote azul ‘marinho, ealca violetae colete claro a fantasia. Amoda do preto sO comecard em 1840 mais ou menos, devicoa Bulwer Lytton € 40s excritores rominticos. Ela val alastrar-se mesmo pela gra vata, e 0 homem se cobrira de luto até 0 advento do esporte, que de novo introduz as cores claras. © TECIDO 0 século x1 no havia, propriamente, distingio entre ‘os tecidos usados pelos homens ¢ os usados pelas mulheres. A diferenca das fizendas se relacionava antes com a condiclo so- cial e como tipo de taje do que com 0 sexo, a8 mats grosse ras sendo utilizadas, tanto parao grupo feminind como para omas- culino, na confeccao ce roupas de viagem e de montar, as mais luxuosas nas roupas de gala, onde ambos usavam sedas, fits & veludos. Contudo, como nos outros setores da vestimenta, aqui também vai processar-se a separago, um geupo distinto de tec dos tomando-se propriedade de cada sexo. Eram privativas do ‘grupo feminino as fazendas vaporosts, encontras com tama- na freqiéncia até 1850+ a atista, a mussel ina, tarlatana, o or- ‘andi, tecidos prediletos da Imperatriz Eugenia que, 2 noite, transformavam as elegantes em verdadeiras nuvens ¢ no raro as atraigoavam, pois eram altamente inflamdveis!" De 1880 em ante difundem-se os tecidos mais pesados, o veludo, a seda actumascad, os brocids, os taetas cambiantes, 0 gorgorio, 0

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