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Participação Política: uma

Recebido:
12.09.11
Aprovado:

revisão dos modelos de


10.04.12

classificação
1. Universidade
Julian Borba1 Federal de Santa
Catarina, Centro
de Filosofia e Ci-
Resumo: Considerando o intenso debate teórico e metodológico existente na Sociologia ências Humanas,
Política sobre participação, nosso objetivo será realizar um mapeamento da literatura Departamento de
Sociologia e Ciência
internacional sobre as diferentes propostas de tipologias classificatórias das modalidades Política.
de participação política. O artigo destaca que os desdobramentos de tal debate são de E-mail: julian@cfh.
ufsc.br
fundamental importância para o aperfeiçoamento da capacidade analítica da disciplina
em perceber as transformações no universo da participação. Finaliza com um conjunto
de proposições em termos de caminhos metodológicos para o avanço nas pesquisas da
área.
Palavras-chave: Participação Política, Cultura Política, Política Comparada.

Introdução

F
2. Os trabalhos lis-
enômenos, como o declínio generalizado nos índices de comparecimento tados acima, em
eleitoral e de ativismo partidário, a emergência e expansão dos movimen- geral, abordam os
determinantes do
tos de protesto e de novas formas de ação política não diretamente ligadas engajamento no
ao momento eleitoral, têm levado a uma crescente preocupação dos cientistas nível individual.
Para um estudo
políticos com o tema da participação. que toma os países
como unidade de
Os esforços vão desde a definição conceitual, passando pelos condicionantes análise, ver Newton
do engajamento político, chegando às tipologias classificatórias. Considerando e Girebler (2008).

a existência de certo consenso nas recentes definições de participação política 3. Por razões de
(TEORELL, TORCAL & MONTERO, 2007; PASQUINO, 2010; BRADY, 1999) e de al- espaço, não trata-
remos, no presente
guns esforços recentes no sentido de mapear os determinantes do engajamento artigo, do imenso
(VERBA, SCHOLOZMAN & BRADY, 1995; NORRIS, 2007; DALTON, 2002; DALTON, debate que tem
ocorrido no Brasil
SICKLE & WELDON, 2009; ALDRICH, 1993; LEIGHLEY, 1995; WHITELEY, 1995)2, sobre o tema da
nos deteremos, neste artigo, no mapeamento da literatura internacional sobre participação po-
lítica. Em outros
as diferentes propostas de tipologias classificatórias das modalidades de parti- trabalhos, tivemos
cipação3. a oportunidade de
analisar tal litera-
Trata-se de uma área onde se tem verificado um intenso e rico de- tura. Ver, em espe-
cial, Ribeiro e Borba
bate teórico e metodológico, cujos desdobramentos são de fundamen- (2010a), Ribeiro e
tal importância, seja na capacidade analítica da disciplina em perceber as Borba (2010b), Bor-
ba (2011a), Borba
transformações no universo da participação, verificadas no tempo e no (2011b).

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espaço (VAN DETH, 2001), seja na possibilidade de construção de instrumentos
que sejam capazes de mensurar tais transformações (BRADY, 1999; TEORELL,
TORCAL & MONTERO, 2007). Afinal de contas, como nos alerta Henry Brady, a
tarefa de classificar e nomear os fenômenos do mundo social está diretamente
relacionada com a forma como atribuímos sentido a ele. Nas suas palavras:

(…) Nomear, distinguir e contar frequentemente são conside-


radas tarefas científicas prosaicas – cabíveis para curadores
de museu, amadores refinados, bibliotecários e estatísticos
do governo, mas não para cientistas de primeira linha. Essa
perspectiva modificou-se conforme filósofos da ciência, lin-
guistas, psicólogos cognitivos e cientistas praticantes mostra-
ram como as nossas conceitualizações, taxonomias e classifi-
cações subjazem às nossas visões de mundo. O modo como
nomeamos e classificamos as coisas tem muito a ver com o
modo como as compreendemos. Para os cientistas sociais,
essa visão é duplamente importante, porque devemos nos
preocupar com as categorias naturais – com o modo como
as pessoas comuns nomeiam e classificam as coisas e com-
preendem o mundo – além de com o modo como nosso em-
preendimento científico nomeia e classifica as coisas. (BRADY,
1999, p. 740)

O artigo está organizado em três partes, além desta. Na primeira, abordamos


brevemente alguns conceitos de participação política. Na segunda, nos dete-
mos num balanço das principais tipologias de classificação, para, então, nas
considerações finais, propor alguns caminhos metodológicos para o avanço nas
pesquisas sobre participação política.

O Conceito de Participação
Desde o seminal trabalho de Milbrath (1965), tem-se assistido a uma profu-
são de conceitos de participação. Tais definições, como bem destacou Van Deth
(2001), estão diretamente articuladas ao contexto em que os próprios atos de
participação operam. Se, nos anos de 1960, a definição se estruturava, sobretu-
do, em função das modalidades eleitorais, os novos repertórios que começam
a fazer parte da ação coletiva, desde então, (protestos, boicotes, etc.) obrigam
que sejam, de alguma maneira, incorporados pelas definições de participação.

A tradição de pesquisas que inicia com Milbrath (1965), de início, definia a par-
ticipação como o conjunto de atividades relacionadas ao momento eleitoral.
Sugestivas dessa interpretação são as definições de Verba e Nie, para os quais,

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por participação política deve-se entender “(…) atividades realizadas por cida- 4. Um dos exem-
plos de ação política
dãos privados que buscam, de modo mais ou menos direto, influenciar a seleção listados por vários
dos funcionários governamentais e/ou as ações que eles tomam” (p. 2). De ma- autores, como Teo-
rell, Torcal e Mon-
neira similar, para Huntington e Nelson (1976), trata-se de uma atividade “rea- tero (2007) e Van
lizada por cidadãos privados com o objetivo de influenciar a tomada de decisão Deth (2007), que
não é direcionado
do governo” (p. 17). aos governantes, é
o boicote de certos
Tal definição é por demais restritiva, seja ao definir a influência como o único produtos.
repertório “político”, bem como ao colocar o “governo” como destinatário, por
5. Pasquino oferece
excelência, do ato político (PASQUINO, 2010; TEORELL, TORCALL & MONTERO, definição seme-
2007). Ora, a literatura de movimentos sociais tem exemplos variados para mos- lhante, de alguma
maneira incluindo
trar que, desde os anos 1960, assiste-se a uma ampliação significativa naquilo a ação direta. Em
que poderíamos chamar de repertórios políticos, para além da simples tentativa suas palavras: “A
participação política
de influenciar as decisões governamentais; além do mais, como mesmo chegam é o conjunto de ac-
a reconhecer Verba e colaboradores, nem toda ação política está direcionada ao ções e de compor-
tamentos que as-
governo, podendo ser destinada a destinada a “alocações de valores para uma piram a influenciar,
sociedade” (VERBA & NIE, 1972, p. 2)4. de forma mais ou
menos direta e mais
ou menos legal, as
Assim, parecem mais apropriadas definições como as de Boot e Seligson (1976, decisões dos de-
p. 6), que a conceituam como “um comportamento que influencia ou tenta in- tentores do poder
fluenciar a distribuição dos bens públicos”. Mais recentemente, considerando no sistema político
ou em organizações
também as mudanças no âmbito da participação política, Brady a definiu como políticas particu-
“a ação de cidadãos comuns com o objetivo de influenciar alguns resultados po- lares, bem como a
própria escolha da-
líticos” (1999, p. 737, grifos no original)5. Veja-se que os dois conceitos acima queles, com o pro-
elencados já não definem um destinatário dos atos participativos (se governo ou pósito de manter ou
modificar a estrutu-
não). Mesmo assim, pode-se perceber alguns limites em tal definição, ao delimi- ra (e, consequente-
tar a “influência” como único objetivo da participação, excluindo, por exemplo, a mente, os valores)
do sistema de in-
ação direta exercida por determinados grupos. (TEORELL, TORCALL & MONTERO, teresses dominan-
2007, p. 336)6. Para nossos propósitos, porém, ela é suficiente para podermos te” (2010, p. 74),
grifos no original.
avançar em nosso mapeamento da literatura.
6. Nesse sentido,
um aspecto impor-
tante a ser destaca-
As Modalidades de Participação do com essas defi-
nições é que todas
elas estão situadas
Os conceitos de participação apresentados acima se materializam em diferentes no âmbito das ins-
indicadores empíricos, os quais, por sua vez, se transformam em medidas de titucionalidade do
modelo democrá-
participação passíveis de ser verificadas empiricamente7. Tais medidas se ma- tico representativo
terializam em modalidades de participação, das quais, com a posse dos dados e, portanto, são
congruentes com
empíricos, temos a possibilidade de verificar sua frequência, evolução, comparar determinadas con-
países, identificar determinantes, etc. cepções da teoria
democrática (em
A leitura dos trabalhos (e a discussão que apresentaremos abaixo) procurou sis- especial, aqui, a
versão do elitismo
tematizar três dimensões do debate. Em primeiro lugar, o método e as técnicas competitivo).

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Outras definições de pesquisa utilizados na análise; em segundo lugar, os componentes da tipo-
de democracia im-
plicam que outros logia proposta e, por fim, o diagnóstico quanto à dimensão uni ou multidimen-
conceitos e práticas sional dos atos participativos. Quanto a este último aspecto, significa diferen-
sejam incorporados
ao conceito de par- ciar os atos participativos entre um continuum (visão unidemensional), onde
ticipação (cf. TEO- os indivíduos exerceriam as diferentes modalidades em função de habilidades
RELL, 2006).
ou custos para a participação, ou percebê-los como constituídos por diferentes
7. Não é por de- modalidades que possuem padrões de recrutamento, bases atitudinais e socio-
mais lembrar que
a literatura de que
demográficas distintas em termos dos seus participantes (BRADY, 1999).
estamos tratando
aqui é fundamental- Devemos salientar, também, que nosso trabalho foi facilitado pela existência
mente tributária dos de um balanço de literatura já realizado por Brady (1999), o qual procedeu a
desenvolvimentos
metodológicos ex- uma ampla resenha sobre algumas das principais pesquisas, que resultaram nas
perimentados pela grandes obras sobre o tema (MILBRATH, 1965; VERBA & NIE, 1972; VERBA, NIE
Ciência Política, a
partir dos anos 1940 & KIM, 1978; BARNES & KASE, 1979; VERBA, SCHLOZMAN & BRADY, 1995)8. Des-
e 1950, em especial sa forma, nos limitaremos a apresentar de maneira muito breve tais trabalhos (a
com o desenvolvi-
mento das técnicas - os estudos clássicos), para nos concentrar nos desenvolvimentos observados a
de amostragem e partir da década de 1990 (b - novas tipologias).
das pesquisas de
opinião pública, as
quais possibilitaram
a guinada compor-
tamentalista no a) Os Estudos Clássicos
âmbito da discipli-
na, cujos trabalhos Como já comentado acima, talvez o primeiro esforço de elaboração de uma
precursores podem
ser encontrados tipologia das modalidades de participação possa ser encontrado em Milbrath
em Lazersfeld et al. (1965)9. Para esse autor, os comportamentos participativos ocorreriam no se-
(1948), Berelson
(1952), Campbell guinte continuum, em termos de custos e complexidade:
(1960) e Almond e
Verba (1989). 1) expor-se a solicitações políticas;
8. Brady (1999) faz
2) votar;
sua resenha a partir 3) participar de uma discussão política;
das pesquisas que 4) tentar convencer alguém a votar de determinado modo;
deram origem aos
trabalhos mencio- 5) usar um distintivo político;
nados. 6) fazer contato com funcionários públicos;
9. A base empírica 7) contribuir com dinheiro a um partido ou candidato;
de tais trabalhos é 8) assistir a um comício ou assembleia;
o American Natio-
nal Election Survey, 9) dedicar-se a uma campanha política;
uma pesquisa nacio- 10) ser membro ativo de um partido político;
nal, aplicada desde
1952. 11) participar de reuniões onde se tomam decisões políticas;
12) solicitar contribuições em dinheiro para causas políticas;
13) candidatar-se a um cargo eletivo;
14) ocupar cargos públicos.

Veja-se que a ideia de um continuum de custos e complexidade leva a uma

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percepção da participação política como um fenômeno unidimensional, ou seja, 10. Nesse caso, a
participação defi-
para Milbrath, participar é um ato singular, mesmo que algumas de suas medidas ne-se pelo fato de
empíricas demonstrassem o baixo nível de relacionamento entre algumas das va- o participante “vi-
ver da política” (p.
riáveis, em especial, entre o “voto” com as demais modalidades de participação 125), cujas origens
(BRADY, 1999, p. 745). No seu modelo, os cidadãos são divididos em três grupos, podem ser encon-
tradas numa espe-
de acordo com o nível de engajamento. Teríamos os passivos (que não parti- cialização funcional
cipam), os espectadores (envolvimento mínimo) e os “gladiadores” (ativistas). vivenciada pelas
sociedades demo-
Tais níveis seriam cumulativos e formariam uma pirâmide, onde as atividades cráticas ocidentais.
mais complexas seriam aquelas desenvolvidas pelos cidadãos mais centrais da A ação do profissio-
estrutura social. Daí a formulação de Milbrath ser denominada de “modelo da nal da política deve
operar de acordo
centralidade” (MILBRATH, 1965). com a solidariedade
política dominante
Uma segunda abordagem ao estudo da participação foi desenvolvida por Ales- num determinado
momento, e não
sandro Pizzorno, uma das mais ambiciosas construções teóricas até hoje iden- com os interesses
tificadas no âmbito de uma teoria da participação. O centro de seu argumento da sociedade civil
(idem).
situa-se no questionamento do modelo da centralidade. Como contraponto a
esta, defende o modelo da consciência de classe, onde a participação seria pro- 11. Seria o tipo de
participação que
duto da identidade política compartilhada pelos atores. Deriva da construção surge a partir da
do seu modelo, uma tipologia de participaçao alternativa àquela formulada por “solidariedade”
dos “interesses pri-
Milbrath, a qual, Pizzorno considera reducionista, por estar essencialmente li- vados”. É exercida
gada à realidade norte-americana, não conseguindo cobrir a sua expressão em pelos círculos mais
outros contextos. Enfim, trata-se segundo Pizzorno, de conferir um “conteúdo centrais da estru-
tura social. Atua
mais geral” (1967, p. 125) às tipologias da participação. Sua proposta de classifi- em conformidade
cação, conforme apresentada abaixo prevê quatro modalidades de seu exercício, com os valores da
estrutura social
as quais são dividas segundo o tipo de solidariedade dominante (se privada ou existente, cujos
pública) e pelo contexto da ação (se estatal ou não). A primeira forma de ação indicadores mais
típicos seriam a
“estatal” com “solidariedade política” seria o profissionalismo político10. A segun- adesão a um “par-
da modalidade seria aquela com ação, também estatal, mas com “solidariedade tido de opinião”, o
pertencimento a
privada dominante”. Nesse caso, teríamos a “participação civil na política”11. Já associações volun-
onde impera a ação extraestatal com solidariedade política, temos a participa- tárias integradas ao
sistema, o perten-
ção através de movimentos sociais12. Por fim, tem-se a participação através de cimento a grupos
“subcultura”13, onde predomina a solidariedade privada com ação extraestatal. corporativos, etc.
(idem, p. 127).

12. A participação
Tabela 1 – Tipologia da Participação Política de Alessandro Pizzorno no movimento
social seria uma
“empresa coletiva”
A solidariedade políti- A solidariedade priva-
destinada a “trans-
ca é prevalente da é prevalente formar a socieda-
Ação inserida no Profissionalismo Participação civil na de”. Tratando-se de
uma construção, o
sistema estatal politico política movimento, para
Ação extraestatal Movimento Social Subcultura Pizzorno é um ato
de uma identidade
Fonte: Pizzorno (1966, p. 125) construída, onde
se relacionam

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identidades políti- Apesar do elevado nível de abstração, da falta de clareza com relação a algu-
cas com identidades
privadas. Trata-se mas definições em que sua proposta foi construída, e da dificuldade de sua
de uma forma “não operacionalização empírica (PASQUINO, 2010), o modelo de Pizzorno teve
estável de partici-
pação”, que surge e o grande mérito de antecipar, em pelo mais de dez anos14, o debate das mo-
modifica-se de acor- dalidades não convencionais de participação (BARNES & KAASE, 1979), ao
do com o contexto
(idem, p. 127).
colocar a participação em movimentos sociais como uma das modalidades
de participação política. Além disso, ao inserir o tema da identidade, o autor
13. A participação
como “subcultura”
também estava antecipando muitos dos achados de Verba, Schlozman e Brady
nasce de uma iden- (1995), quando propuseram que a participação política seria função de recursos
tificação “natural” possuídos pelos indivíduos (em especial, tempo, dinheiro e habilidades). Veja-
do indivíduo com os
grupos no qual ele se que a identidade, na forma como definida por Pizzorno, estando relacionada
está inserido. Trata- a uma dimensão organizacional da vida associativa, seria, sobretudo uma forma
se de uma identi-
dade política dada, de adquirir habilidades, mesmo diante da falta dos recursos de tempo e dinhei-
não construída e, à ro15. Por fim, sua teoria trata a participação como um fenômeno essencialmente
diferença da parti-
cipação civil “esta é multidimensional.
excluída dos canais
normais que se ar- Os primeiros esforços de abordagem empírica comparativa do fenômeno da
ticulam com as ins-
tituições estatais, e
participção vão ser desenvolvidos em Verba, Nie e Kim (1971), Verba e Nie
comunicam-se com (1972) e Verba, Nie e Kim (1978)16, onde ao invés do continuum do modelo de
essas só através de
intermediários (o
Milbrath, propõem que a participação política se estruturia através de quatro
boss, o organizador modalidades (como em Pizzorno)17. São elas: voto, atividade de campanha, con-
do partido de massa tato político e atividade cooperativa18 (Tabelas 1 e 2, abaixo). Tais dimensões
que não é mais mo-
vimento, etc.” (idem, foram extraídas a partir de testes de correlação interna entre as variáveis e de
p. 127, tradução mi- análises fatoriais que permitiram seu agrupamento nas dimensões acima19.
nha).

14. O texto original


de Pizzorno, “Intro- Tabela 2 – Variáveis e tipologias de participação em Verba e Nie (1972)
duzione allo studio
della partecipazione
politica” foi publi- Variáveis Modalidades de participação
cado originalmen- Persuadir outros para votar Atividades de campanha
te em Quaderni di
Sociologia 3/4, pp. Trabalhar ativamente para partido ou candidato Atividades de campanha
231-287, no ano de
1966. Uma interes- Participar de reuniões políticas ou comícios Atividades de campanha
sante discussão em Contribuir dinheiro para partido ou candidato Atividades de campanha
torno desse trabalho
pode ser encontrada Membro de clubes políticos Voto
na entrevista de Pi- Votou nas eleições presidenciais de 1964
zzorno (2007).
Votou nas eleições presidenciais de 1960 Voto
15. O mais curioso Frequência de votos nas eleições locais Voto
é que o trabalho
de Pizzorno passe Trabalhou com outros para resolver problemas Atividade cooperativa e contato
despercebido pela locais social
maioria da literatura
que trata do tema
da participação po-
lítica.

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16. O próprio Mil-
Formou um grupo de trabalho sobre problemas Atividade cooperativa e contato brath, em estudo
locais social posterior (MILBRA-
TH & GOEL, 1977),
Participou ativamente em organizações comuni- Atividade cooperativa e contato acaba incorporando
tárias para resolução de problemas social a ideia de um mo-
delo multidimen-
Manteve contato com lideranças locais – refe- Atividade cooperativa e contato sional.
rência social social
17. As dimensões
Manteve contato com lideranças nacionais – Atividade cooperativa e contato propostas por Ver-
referência social social ba e colaboradores
Manteve contato com lideranças locais – refe- Contato personalizado estão relacionadas
a alguns elementos
rência personalizada diferenciadores dos
Manteve contato com lideranças nacionais – Contato personalizado atos participativos.
São eles: o tipo de
referência personalizada
influência exerci-
Fonte: Adaptação de Verba e Nie (1972, p. 72) da sobre os líde-
res (em termos de
pressão e informa-
ção); o alcance dos
resultados (toda a
Tabela 3 – As dimensões das atividades políticas e modos de atividade sociedade ou ape-
nas o indivíduo); o
grau de conflito; a
Modo de Tipo de Alcance dos Iniciativa Cooperação quantidade de ini-
Conflito
atividade Influência resultados requerida com outros ciativa que requer e
a quantidade de co-
Alta pres- operação que a ini-
Voto são/baixa Coletivos Conflitual Pequena Pequena ciativa requer (essa
informação última dimensão foi
incluída no estudo
Alta pres- de 1978).
Atividade de são/ baixa Alguma ou
Coletivos Conflitual Alguma 18. O estudo in-
campanha a alta infor- muita
cluía, em suas
mação questões, além de
Baixa a alta perguntas relativas
Atividade pressão/ Talvez sim/ Alguma ou Algum ou à participação elei-
Coletivos toral e contato com
comunitária alta infor- Talvez não muita muito governantes, o en-
mação volvimento em gru-
pos (politicos e não
Contato Alta pres-
Não confli- políticos) e ativida-
personali- são/Alta Particular Muita Pequena des cooperativas no
tual
zado informação nível local.

Fonte: Verba, Nie e Kin (1978, p. 55) 19. Os estudos de


1971 e 1978 abran-
O grande mérito das referidas pesquisas foi, além do aspecto comparativo, sua geram sete países,
sendo eles Áustria,
busca por uma análise desagregada dos atos de participação. Com essa abor- Índia, Japão, Holan-
dagem, puderam chegar a conclusões muito distintas daquelas de Milbrath, de da, Estados Unidos
e Ioguslávia.
que a participação operaria num continuum. Para esses autores, ao invés de um
continuum, teríamos múltiplos níveis, onde os participantes incluídos em cada 20. A abordagem
proposta por Ver-
um deles, teriam atributos sociodemográficos e atitudinais distintos20. ba e colaborado-
res foi testada em
outros contextos,

Revista Sociedade e Estado - Volume 27 Número 2 - Maio/Agosto 2012 269


como é o caso do tra- O problemático nas classificações propostas nos trabalhos de Verba e colabora-
balho de Kalaycioglu
e Turan (1981), ao dores é o seu reducionismo. Como bem destaca Norris (2007), o modelo analí-
confirmarem empi- tico por eles desenhado previa apenas o engajamento político do tipo citizen-
ricamente a valida-
de da classificação oriented. Tal abordagem, se de alguma maneira conseguia captar os repertórios
das modalidades de de participação política mais tradicionais, até os anos 1960, se mostrou reducio-
participação pro-
posta por Verba, Nie
nista ao não computar o protesto e outras atividades políticas como modalida-
e Kim (1978), num des de participação. Nas palavras de Norris:
estudo que abran-
geu a Turquia, Co- As atividades orientadas para o cidadão, exemplifi-
reia do Sul e Kênia.
cadas pela participação através do voto e pela filia-
21. Deve-se lembrar ção a partidos, obviamente continua sendo impor-
também que, no
contexto dos anos tante para a democracia, mas hoje representam uma
1970, a expansão da conceitualização estreita demais do ativismo, que exclui al-
participação foi tra-
tada como um dos gumas das metas mais comuns do engajamento cívico, que
sinais da crise de se tornaram convencionais e predominantes. (2007, p. 639)
governabilidade das
democracias (CRO-
ZIER et al., 1975).
O reconhecimento das modalidades de protesto político nos estudos de par-
ticipação somente vai receber um tratamento empírico sistemático, em Poli-
22. Inclui também
dados de Itália, Suí-
tical action, de Barnes e Kaase (1979). O ponto de partida desse trabalho é o
ça e Finlândia. reconhecimento das “ondas de protesto político que varreram as democracias
industriais avançadas no final da década de 1970” (BARNES & KASE, 1979, p.
13, grifos no original). A importância desse reconhecimento está relacionada ao
fato de que, até então, o fenômeno da participação massiva e da mobilização
política na forma de protestos era associado ao contexto de instabilidade polí-
tica dos países em desenvolvimento. A maior expressão desse diagnóstico está
binômio participação/institucionalização, de Samuel Huntington (1975), bem
como nos seus trabalhos específicos sobre participação política em tais contex-
tos (HUNTINGTON & NELSON, 1976)21.
Ao reconhecer as atividades de protesto e contestação como uma modalidade
de participação política, percebendo-as não como uma anomalia típica dos paí-
ses subdesenvolvidos, mas como fenômenos que estavam acontecendo naque-
les contextos centrais, em termos de desenvolvimento político e econômico – e
sem necessariamente apontar para uma crise de legitimidade das democracias,
como chegou a ser apontado em alguns estudos –, tal projeto levou a uma re-
formulação das próprias formas de mensurar e classificar a participação política,
como veremos abaixo.
O projeto Political Action teve início em 1971, reunindo cientistas sociais em tor-
no de um estudo que abrangeu a realidade de cinco países (Áustria, Inglaterra,
Holanda, Estados Unidos e Alemanha Ocidental22). A obra, de 1979, apresenta
os resultados de tal pesquisa. Para os nossos propósitos, interessa destacar a
tipologia de participação política que é elaborada em tal estudo – e que passa
a ser incorporada ao vocabulário dos estudos de participação, desde então –,
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que é aquela divisão entre as “modalidades convencionais” e “não convencio- 23. Além das mo-
dalidades já men-
nais”. No rol das modalidades convencionais, teríamos aquelas já apresentadas cionadas em Verba
acima, constantes dos modelos de Verba e Nie (1972)23. Já, como atividades não e Nie (1972), os au-
tores incluem “ler
convencionais, teríamos as relacionadas aos atos de protesto, as quais, numa sobre política nos
escala de complexidade (e custos), são: assinar um abaixo-assinado, participar jornais” e “discutir
política com os ami-
de manifestações legais, participar de boicotes, recusar-se a pagar aluguel ou gos”, o que leva a
impostos, ocupar edifícios ou fábricas, bloquear o tráfego com demonstrações um questionamen-
to de Brady (1999),
de rua, participar de greves24. se tais ações real-
A tipologia proposta em Political Action percebe a relação entre participação mente poderiam
ser enquadradas
convencional e não convencional não como excludentes, mas como “repertóri- como modalidades
os”25 mobilizados pelos ativistas, dependendo do contexto. A participação aqui, de participação po-
lítica.
volta a ser vista como um fenômeno unidimensional, cujas modalidades fazem
parte de repertórios, que são mobilizados pelos indivíduos num continuum que 24. Reconhecendo-
se a dificuldade de
envolve custos e complexidade crescentes26. Tal continuum foi sistematizado mensurar ativida-
pelos autores numa escala, a “tipologia do repertório de ação política”, a qual des episódicas e ir-
regulares, como as
classifica os indivíduos, entre inativos27, conformistas28, reformistas29, ativistas30 de protesto, os au-
e protesters31. A escala está apresentada no quadro abaixo: tores desenvolvem
uma complexa me-
todologia, que com-
Tabela 4 – Tipologia do repertório da ação política bina a participação
em atividades de
Escala de Participação Política Convencional (PC) protesto com a pro-
pensão à participar
Escala potencial Nenhu- Ler Discutir Traba- Trabalhar Convencer Participar Contato
de protesto ma das sobre política lhar com para outros a de campa- com (BARNES & KAASE,
(PNC) ativida- política com os outras partidos votar da nhas po- funcio- 1979). Para uma
des nos amigos pessoas políticos mesma líticas ou nários análise detalhada
(0) jornais (2) na comu- ou candi- forma que comícios públicos da metodologia de
(1) nidade datos você (6) (7) Political Action, Bra-
(3) (4) (5)
dy (1999).
Nenhuma das
atividades (0) 25. A ideia de “re-
pertórios” da ação
Abaixo-Assina-
coletiva vai ganhar
dos (1)
tratamento siste-
Manifestações mático na obra de
legais (2) um conjunto de
Juntar-se a autores situados
boicotes (3) em torno da teoria
INATIVOS (PC = 0 a 1 / PNC = 0 a 1)
do processo políti-
Recusar-se a CONFORMISTAS (PC = 2 a 7 / PNC = 0 e 1)
co, entre os quais,
pagar taxas ou REFORMISTAS (PC = 2 a 7 / PNC = 2 a 3)
Charles Tilly, Sidney
aluguéis (4) ATIVISTAS (PC = 2 a 7 / PNC = 3 a 7)
Tarrow e Douglas
PROTESTERS (PC = 0 a 1 / PNC = 2 a 7)
Ocupar prédios Macdam. Para uma
ou fábricas (5) visão de tal pers-
pectiva aplicada ao
Bloquear o
estudo dos movi-
tráfego com
mentos sociais, ver
demonstrações
Tarrow (2009) e Tilly
(6)
e Tarrow (2007).
Participar de
greves (7) 26. A metodo-
Fonte: adaptado de Barnes e Kaase (1979, p. 154) logia utilizada
para construir a

Revista Sociedade e Estado - Volume 27 Número 2 - Maio/Agosto 2012 271


escala de partici- Como amplamente reconhecido pela literatura, Political Action foi um divisor
pação em Political
Action foi a escala de águas nos estudos sobre participação, ao incluir as modalidades não conven-
de Gutmann. Para cionais (BRADY, 1999, VAN DETH, 2001, VERBA, SCHLOZMAN & BRADY, 1995)32.
maiores detalhes so-
bre tal metodologia, Em termos metodológicos também realizou inovações, ao articular a dimensão
vide Marsh (1974) e das atitudes e comportamento na criação de uma escala de participação não
Brady (1999).
convencional. Em que pese tais avanços, o estudo sofreu críticas principalmen-
27. Em termos de te em função de uma interpretação homogeneizante dos atos participativos
dados empíricos, os
inativos seriam em
(BRADY, 1999, p. 754) e pelo fato de ser obscuro quanto às distinções internas
número de 17,9% às distintas modalidades (TEORELL, TORCAL & MONTERO, 2007, p. 334). Outra
na Holanda, 30% no crítica é quanto à própria distinção entre participação convencional e não con-
Reino Unido, 12, 3%
nos EUA, 26,6% na vencional, que, se era uma denominação adequada para o contexto dos anos de
Alemanha e 34,9 na 1970, já não seria apropriada para diferenciar as modalidades de participação
Áustria.
hoje, pois a maioria dos atos “não convencionais” daquele contexto, teriam se
28. Seriam de 11,1% “convencionalizado” nas realidades das democracias do século XXI (VAN DETH,
na Holanda, 15,4%
no Reino Unido, 2001, DALTON, SICKLE & WELDON, 2009). Um último comentário sobre Political
17,5% nos EUA, Action é que o estudo foi replicado em 1979 - 1981, em pesquisa realizada em
13,5% na Alemanha
e 19,2% na Áustria.
três países (Holanda, Alemanha e Estados Unidos) e cujos resultados estão em
Jennings et alli (1990).
29. Seriam de 19,8%
na Holanda, 21,9%
A grande inovação posterior a Political Action é sem dúvida o trabalho de Verba,
no Reino Unido,
36,0% nos EUA, Schlozman e Brady (1995)33. Tal trabalho incorpora a participação não conven-
24,6% na Alemanha cional como modalidade de participação, mas também inclui modalidades não
e 20,9% na Áustria.
enderaçadas ao “governo”. Exemplo são as formas “sociais” de participação,
30. Seriam de 19,3% como o “voluntariado”. Como bem destaca Van Deth (2001), essa nova amplia-
na Holanda, 10,2%
no Reino Unido, ção das medidas de participação foi resultante do revival dos argumentos Toc-
14,4% nos EUA, 8% quevilleanos, em especial pelas robustas evidências empíricas apresentadas pe-
na Alemanha e 5,9
na Áustria. los trabalhos de Robert Putnam (1996, 2002 e 2003). Nas palavras de Van Deth:

31. Em número de A linha enfraquecida entre as esferas políticas e não políticas


de 31, 9% na Holan-
da, 22,4% no Reino
da sociedade moderna e o ressurgimento das abordagens to-
Unido, 19,8% nos cquevilianas e comunitárias levaram a uma expansão da par-
EUA, 27,3% na Ale- ticipação política, com atividades ‘civis’ como o voluntariado
manha e 19,1% na
Áustria. e o engajamento social. (VAN DETH, 2001, p. 6)

32. A distinção entre Nesse sentido, Verba, Schlozman e Brady (1995a) vão desenvolver aquilo que
participação “con-
vencional” e “não foi denominado de modelo do “voluntarismo cívico”, onde o processo de en-
convencional” tem gajamento político é visto como mediado pela relação entre custos e recursos,
sido recorrente-
mente utilizada nos sendo a participação resultante das motivações e das capacidades dos indiví-
principais trabalhos duos para participar, as quais são mediadas pelas “redes de recrutamento”34.
que se ocupam do
comportamento po-
Os recursos mais significativos seriam o tempo, o dinheiro e as “habilidades”
lítico, em que pesem individuais.
algumas adaptações
conceituais, veja-se Em termos de classificação das modalidades de participação, o estudo em

272 Revista Sociedade e Estado - Volume 27 Número 2 - Maio/Agosto 2012


questão, ao incorporar novas modalidades, chega a uma tipologia composta em especial, In-
glehart e Welzel
por nove elementos, reafirmando a multidimensionalidade do fenômeno. Tais (2009); Dalton e
dimensões seriam: votar, trabalhar em campanhas políticas, contribuição para Klingemann (2007),
Topf (1995a e
campanhas, contato com oficiais, protesto, trabalho informal na comunidade, 1995b), Norris
membro de um conselho local, filiação a uma organização política e contribuição (2002; 2007), Clark
e Hoffman (1998),
a uma causa política. O esquema classificatório, com seus correlatos de reque- Dalton (2002).
rimentos de recursos, informações e variação do volume estão apresentadas na
33. Como desta-
tabela abaixo35. ca Brady (1999, p.
758), tal estudo
também foi repli-
cado na Estônia e
Tabela 5 – Os atributos das atividades políticas Rússia.

34. Uma discussão


Capacidade para sobre o modelo te-
Atividade transmitir informa- Variação no volume Requerimentos órico proposto en-
ção contra-se em Verba,
Scholozman e Brady
Voto Baixo Baixo Tempo (1995b).
Trabalho de cam- Tempo e Dinheiro 35. As modalidades
Misto Alto
panha de participação po-
lítica classificadas
Contribuição para Dinheiro
Misto Alto por Verba, Scho-
campanha lozman e Brady
Tempo, Habilidades (1995a) são extraí-
Protesto Alto Médio das de um conjunto
formado por 32 per-
Contato com agen- guntas do questio-
Alto Médio Tempo nário elaborado no
tes públicos
contexto do projeto
Trabalho informal Tempo, Habilidades Citzen Participation.
Alto Alto
na comunidade
36. O volume 91,
Membro de um Tempo, Habilidades número 2, de 1996,
Alto Alto da American Politi-
clube político local
cal Science Review,
Filiação a uma dedicou várias re-
Tempo, Habilida-
organização parti- Misto Alto senhas à Voice and
des, Dinheiro Equality.
dária
Contribuição a uma
Misto Muito alto Dinheiro
causa política
Fonte: Verba, Scholozman & Brady (1995a, p. 48)

O trabalho de Verba, Scholozman e Brady (1995a) pode ser considerado o maior


esforço teórico e metodológico no âmbito da construção de uma teoria da par-
ticipação política empiricamente orientada. Seus resultados têm tido desdobra-
mentos tanto em novas pesquisas empíricas (VERBA, BARNS & SCHLOZMAN,
2001; LIPHART, 1997), como também no debate normativo ocorrido no âmbito
da disciplina (VERBA, 2006; DAHL, 2006)36.

Revista Sociedade e Estado - Volume 27 Número 2 - Maio/Agosto 2012 273


37. Ronald Inglehart Especificamente no âmbito da pesquisa empírica, o estudo reafirmou o conteú-
tem coordenado um
dos mais ambiciosos do multidimensional da participação e promoveu uma articulação daquilo que
projetos intelectuais a literatura tradicionalmente tratava de forma diferenciada, que é relação entre
no âmbito das ciên-
cias sociais. Trata-
participação política e participação social. Por outro lado, essa ampliação do
se do World Value escopo do conceito e dos indicadores de participação política deu margem para
Survey, cujos dados
já compreendem
críticas como as de Van Deth (2001), ao destacar que a incorporação de novos
amostragem repre- elementos (modalidades) classificados como “políticos” nos estudos de partici-
sentativa de mais de pação – que ocorreu de forma contínua ao longo dos últimos anos –, se, por um
85% da população
mundial. Para maio- lado, é um indicativo de que os fenômenos em questão são historicamente cons-
res informações ver tituídos e, dessa forma, tal ampliação seria um sinal de vitalidade desse campo
www.worldvalues-
survey.org/. de pesquisas em sua capacidade de acompanhar o desdobramento daquilo que
acontece na história. Por outro, essa ampliação conceitual é problemática, pois
38. Para maiores
esclarecimentos so- coloca o risco de se perder a referência sobre as linhas demarcatórias daqui-
bre a teoria do pós- lo que seria um conceito mínimo de participação política. O risco, nesse caso,
materialismo e sua
validade empírica, como afirma Van Deth (2001), é sua ampliação rumo a uma “teoria do tudo”!
considerando a re-
alidade latino-ame- Por fim, cabe destacar que, para além das classificações existentes, outros auto-
ricana, ver Ribeiro e
Borba (2010).
res têm proposto denominações mais específicas para as modalidades de parti-
cipação, que, de alguma maneira, são contempladas nos estudos anteriores. Nos
limitaremos a mencionar tais estudos. O primeiro deles é do Ronald Inglehart e
Christian Welzel (2009). Como se sabe, o autor foi um dos colaboradores de Po-
litical Action (1978) e tem utilizado a distinção entre participação convencional
e não convencional em seus estudos37. Porém, Inglehart também tem feito uso
de outras denominações, como aquela que diferencia as modalidades de par-
ticipação segundo sua relação com as elites da sociedade. Assim, teríamos as
ações “elite directed”, onde os cidadãos participam através de organizações hie-
rárquicas, como os partidos, sindicatos, etc. Tais modalidades, segundo o autor,
estariam em declínio em praticamente todos os contextos democráticos. Já as
ações “elite challenging”, seriam aquelas formas de ação diretas, não institucio-
nalizadas, cujos exemplos mais representativos seriam as realizadas através de
protestos ou boicotes. Segundo a teoria do inglehartiana, tais ações, estariam
em ascensão, sendo um dos indicadores da emergência de valores pós-mate-
rialistas (INGLEHART & WELZEL, 2009, INGLEHART & CATTERBERG, 2002)38. Do
mesmo modo, Pippa Norris (2007) propõe a diferenciação entre ações “cause
oriented”, exemplificada também pelos movimentos sociais e as atividades de
protesto, e aquelas “citizen oriented” cujos exemplos seriam a política partidária
e a participação em eleições. Por fim, ainda nessa diferenciação entre “novas” e
“velhas” modalidades de participação, temos aquela proposta por Cabral (2009)
entre “automobilização” e participação através de pertencimento a organiza-
ções, ou “participação associativa”. A diferenciação entre as duas modalidades
seria equivalente àquela realizada por Inglehart e Norris, automobilização sen-
do equivalente à “cause oriented” e “elite-challenging”.

274 Revista Sociedade e Estado - Volume 27 Número 2 - Maio/Agosto 2012


b) Novas Tipologias
Concomitantemente a essas grandes pesquisas desenvolvidas sobre participa-
ção, foram-se estabelecendo novas iniciativas metodológicas visando proceder
uma melhor compreensão sobre como as diferentes modalidades de participa-
ção se articulam entre si, no sentido de precisar melhor o argumento de que a
participação é um fenômeno multidimensional, bem como a validar e/ou refutar
as classificações já existentes na literatura.

Um dos primeiros esforços, nesse sentido, foi feito por Sabucedo e Arce (1991).
Seu ponto de partida é a afirmação da necessidade de definição e classificação
corretas dos fenômenos sociais. Os autores questionam se uma análise mais
detalhada sobre os vínculos entre as distintas modalidades de participação não
levaria a ampliar o seu diagnóstico de um fenômeno heterogêneo, possibilitan-
do-se estabelecer novas classificações (p. 94).

Para verificar a questão, realizam uma investigação empírica orientada para a


39. Foram usados
busca da identificação da representação que os próprios atores fazem sobre as 30 tipos de par-
relações entre suas diferentes atividades políticas. Seus dados empíricos foram ticipação como
oriundos de um survey realizado com 77 estudantes da Universidade Santiago estímulo, os quais
produziram 78 pa-
de Compostela39. res (de relações).
Com esses pares foi
Através da aplicação da análise de cluster, utilizando-se de métodos hierárqui- construída uma es-
cala de nove pontos
cos, verificou-se que as variáveis formaram dois grupos que internamente se para avaliar a dis-
dividiam em dois subgrupos cada. Um grande grupo formado pelas atividades similaridade entre
cada par de estímu-
“legais” e outro por atividades “ilegais”. O primeiro tem uma divisão interna, los. A partir disso foi
agrupando (1) as atividades de persuasão e influência que acontecem durante aplicado o standard
rotating method
as campanhas eleitorais e “são evidentemente afetadas pela filiação partidária” para ordenar tais
– participar de campanhas políticas e tentar convencer outros sobre o voto (p. pares de estímulos.
A d i c i o n a l m e nte ,
99). Em (2) estão agrupadas as atividades de envolvimento político em formas os sujeitos foram
distintas e incluiu o “voto”, “escrever para jornais”, “participar de protestos au- interrogados sobre
torizados” e “participar de greves autorizadas”. O segundo cluster (atividades uma escala de julga-
mento de 29 pontos
ilegais) também produziu dois subgrupos. Um deles que agrupou as atividades e, finalmente, se
consideradas violentas (atentar contra a propriedade e violência armada) e um posicionaram numa
escala de identifi-
segundo que agrupou modalidades não violentas: boicotes, greves não autori- cação ideológica (p.
zadas, protestos não autorizados, ocupação de prédios e interrupção do tráfego 95).
de veículos.

O estudo permitiu aos autores proporem uma forma de classificação para


as modalidades de participação que denominam de “persuasão eleitoral”,
“participação convencional”, “participação violenta” e “participação direta
e não violenta”. Segundo eles, tal classificação permitiria sair da “arbitrarie-
dade” das distinções comumente apresentadas na literatura. Além do mais,

Revista Sociedade e Estado - Volume 27 Número 2 - Maio/Agosto 2012 275


40. Trata-se do pro- (...) nossos resultados mostram que há uma distinção precisa
jeto Citizenship,
Involvement, Demo- entre diferentes formas de participação violenta e diferentes
cracy (CID), cujas formas de participação não violenta. Particularmente, acredi-
pesquisas desen-
volvem-se nos Esta- tamos ter identificado distinções importantes dentro da ca-
dos Unidos (http:// tegoria que tradicionalmente tem sido vista como ‘não con-
www8.georgetown.
edu/centers/cdacs/
vencional’ ou ‘ilegal’. (SABUCEDO & ARCE, 1991, p. 100-101)
cid/) e na Europa,
através da articula- Entendemos que a importância do trabalho de Sabucedo e Arce (1991) se deu,
ção entre pesqui- sobretudo, no sentido de chamar a atenção para distinções analíticas no tocan-
sadores de várias
universidades. Para te às modalidades de participação. Acreditamos, assim, que o mérito do traba-
maiores informa- lho está essencialmente no plano metodológico, ao utilizar técnicas de análise
ções, ver http://
www.mzes.uni-man- que posteriormente foram incorporadas a outros estudos classificatórios. Outra
nheim.de/projekte/ contribuição está no fato de recolocarem a ideia de participação não convencio-
cid/.
nal num outro plano, cuja distinção se daria no caráter violento ou não da ação.
41. O questionário Além disso, transferem algumas modalidades tidas como não convencionais
pergunta se, nos úl-
timos doze meses, para a “convencionalidade”, como escrever a um jornal e participar de protestos
o respondente par- e greves autorizadas. Os limites do trabalho estão relacionados, principalmente,
ticipou de: (a) Voto:
votou em eleições
ao universo pesquisado (estudantes universitários), um grupo bastante restrito
parlamentares, se e homogêneo, em geral, com atitudes e padrões vinculados à dimensão gera-
absteve do voto
cional (DALTON, 2008), o que impossibilita qualquer tipo de generalização de tal
como forma de pro-
testo; (b) Envolvi- classificação.
mento em partidos
políticos: membro Um trabalho mais recente que se detém, especificamente, na proposta de uma
de partido partici-
pou em atividades tipologia classificatória para as modalidades de participação é o de Teorell, Tor-
partidárias, doou cal e Montero (2007). Os autores, após uma exaustiva análise sobre modelos
dinheiro, prestou
trabalho voluntá- existentes e utilizando dados do CID Survey40, abordam um grande conjunto de
rio; (c) Ações para modalidades de participação e ação políticas, divididas em atividades relacio-
influenciar a socie-
dade: contato com
nadas ao voto, partidos, atividades de protesto e também o uso político da In-
políticos, contato ternet41.
com organizações,
contato com servi-
Sua proposta de tipologia toma como ponto de partida o diagnóstico de que os
dores públicos, tra-
balhou num partido ativistas optam por determinadas modalidades de participação, de modo que
político, trabalhou “(…) atividades de cluster específicas formam uma dimensão distinta de partici-
numa ação política
de grupos, traba- pação política” (2007, p. 340). Para realizar a classificação, procedem de modo a
lhou em outras or- organizar as modalidades de participação a partir de duas dimensões: o canal de
ganizações, usou ou
exibiu algum crachá, expressão e o mecanismo de influência. O canal de expressão pode ser utilizado
assinou um abaixo- através do uso dos canais de representação (voto e a atividade partidária) ou
assinado, participou
de demonstrações extrarrepresentação (protesto e a “consumer participation”). Uma modalida-
públicas, participou de mista de expressão seria o “contato político”. Já o mecanismo de influência
de greve, boico-
tou determinados
poderia se dar através de estratégias de “saída” (voto, a “consumer participa-
produtos, comprou tion”42) e ou “voz”43 (atividade partidária, protesto e contato). O resultado é
certos produtos,
doou dinheiro, re-
uma matriz, que é apresentada abaixo:
colheu dinheiro,

276 Revista Sociedade e Estado - Volume 27 Número 2 - Maio/Agosto 2012


contactou a mí-
Canal de Expressão dia, participou em
protestos ilegais,
Extra Representacio-
Representacional reuniões políticas,
nal outras; (d) uso da
internet para in-
Consumer Participa- fluenciar a socieda-
“Saída” Voto
tion de. Ao todo, são 28
Mecanismo de perguntas no ques-
Atividade Partidá- tionário que são
Influência Atividade de Protesto
“Voz” ria relacionadas para
(non-targeted) desenvolver sua
(non-targeted) tipologia da partici-
Contato pação (VAN DETH,
2001).
(non-targeted)
42. A incorporação
Fonte: adaptado de Teorell, Torcal e Montero (2007, p. 341) do “consumer par-
ticipation” como
uma modalidade de
Sua tipologia, como os próprios autores reconhecem é bastante próxima daque- participação política
está relacionada às
la de Verba e Nie (1972), porém, incluindo os canais extrarrepresentativos de atividades de boi-
expressão politica, como o protesto ou o “consumer participation”. O teste em- cote ao consumo de
determinados pro-
pírico da tipologia, foi conduzido com os dados dos 13 países participantes do dutos, por razões
CID Survey, através da técnica da “análise dos componentes principais”. Os re- de ordem ecológica
ou social. Verificam-
sultados confirmam a validade da classificação para todos países, com exceção se também campa-
de Portugal44, cujo modelo produziu um agrupamento distinto para as variáveis, nhas de estímulo
o que leva os autores a concluírem que: a determinados
hábitos alimenta-
res e ao consumo
O fato de que o padrão dimensional é quase idêntico nesses de determinados
conjuntos, em outros aspectos distintos, de esferas políticas, tipos de produtos
(p. ex. os alimentos
econômicas e culturais é um argumento forte a favor da medi- orgânicos). Sobre o
ção da equivalência entre nossos quatro modos de atividade. tema, ver Micheletti
(2005).
Este resultado corrobora o argumento de que a multidimen-
sionalidade da participação política está imbricada na nature- 43. Os autores fa-
zem uso da clás-
za particular de cada modo de participação e não responde sica tipologia de
a configurações institucionais específicas de uma nação. (p. Albert Hirschmann
(1970) que estuda
348)
o comportamento
de consumidores
A classificação apresentada acima, elaborada por Teorell, Torcal e Montero e cidadãos a partir
(2007) pode ser considerada uma das mais sofisticadas construções metodoló- das estratégias de
“saída”, “voz” ou
gicas no campo da sociologia da participação, seja pela complexidade do con- “lealdade”.
junto de questões incluídas no CID Survey (25 perguntas), seja por incorporar
44. O caso de Por-
novas modalidades de participação, como é o caso da “consumer participation”. tugal, segundo os
Além disso, avança na compreensão do caráter multidimensional do fenômeno, autores, “a mobi-
lização partidária
ao separar as modalidades conforme seus canais de expressão e os mecanis- parece obstruir a
mos de influência, cuja diferença interna se relaciona aos custos envolvidos nos presença de dimen-
sões distintas da ati-
diferentes atos. Por fim, tais indicadores foram validados nos testes empíricos vidade de protesto
realizados. O limite do trabalho está no fato de se concentrar empiricamente e da participação

Revista Sociedade e Estado - Volume 27 Número 2 - Maio/Agosto 2012 277


do consumidor” (p. na realidade das democracias europeias, onde, em que se pese as diferenças
355).
entre os países, não consegue captar muitas outras diferenças de contexto. Os
45. Disponível em próprios autores (p. 343) reconhecem tal limite quando comparam sua tipologia
http://cinefogo.
cuni.cz/ àquela formulada por Verba e Nie (1972).

46. O ISSP (Interna- Um terceiro conjunto de trabalhos foi produzido no âmbito de uma discussão
tional Social Survey
Programme) é um
realizada no Workshop “Methodological Challenges in Cross-National Partici-
programa contí- pation Research”45. Do conjunto de trabalhos apresentados, três deles nos são
nuo de pesquisas de particular importância. Comecemos por Mitja Hafner-Fink (2009) em “Using
comparativas, com
amostragens nacio- cluster analysis to discover political participation typologies in a comparative
nais. As pesquisas context”. Utilizando-se de dados do ISSP (2004)46, o autor vai buscar construir
estão organizadas
em módulos fixos não propriamente uma tipologia da participação, mas dos “cidadãos que pra-
e módulos que são ticam várias formas de participação política” (HAFNER-FINK, 2009, p. 2). Para
incluídos em ro-
dadas específicas. tanto, faz uso da técnica da análise de cluster (hierarchical cluster analysis) e
Para maiores de- principal components analysis. O estudo faz uso de várias modalidades de par-
talhes, ver http://
www.issp.org/page. ticipação, divididas em três níveis analíticos:
php?pageId=4
1. Atividade Política, dividida em a) comunicação (contato com políti-
cos, contato com os meios de comunicação, participação em fóruns da
Internet); b) participação direta em ações (boicotes, participação em
demonstrações, participação em comícios); e c) suporte à projetos polí-
ticos (abaixo-assinado, doações de dinheiro).
2. Membro de Organizações, dividido em a) partidos, b) sindicatos e
organizações profissionais, c) organizações religiosas e d) sociedades e
organizações voluntárias.
3. Interesse em Política, dividido em a) um indicador de interesse em
política e b) dois indicadores de discussão de assuntos políticos.
Num primeiro momento, o autor procedeu ao teste da classificação das moda-
lidades, buscando verificar se a distinção entre participação institucionalizada
versus participação individualizada se verificava empiricamente. Hafner-Fink
identificou que as três formas de comunicação se agruparam com participa-
ção em demonstrações e comícios. Já boicotes, petições e doações produziram
outro agrupamento próprio. Com esses dois grupos de atividades políticas, ele
parte para uma segunda análise, incluindo na análise de cluster, a participação
em organizações e o interesse por política. Com isso, o autor chega a uma nova
tipologia da participação (agora a partir dos grupos de indivíduos). Os resulta-
dos apontam para diferentes agrupamentos quando os dados são analisados
por país. Após vários testes, chega a uma classificação mais parciomoniosa,
formada pelas seguintes categorias: praticantes de atividades individualizadas;
praticantes de atividades políticas partidárias; pertencentes a partidos políticos

278 Revista Sociedade e Estado - Volume 27 Número 2 - Maio/Agosto 2012


e pertencentes a outras organizações. Além desses, cria a categoria dos “exclu- 47. O uso da escala
de Mokken já havia
ídos/observadores”. Internamente a tais categorias são criados subagrupamen- sido aplicado por
tos e os dados são apresentados e agrupados por país (p. 11). Van Deth (1986)
num estudo de-
dicado à mesma
Trata-se de uma análise bastante complexa, que articula a dimensão da ação temática. Nesse
política com a dimensão organizacional da participação (BRADY, 1999). Assim, trabalho, Van Deth
(1986) chega à con-
de modo inverso a Teorel, Torcall e Montero (2007), que buscam construir sua ti- clusão de que seria
pologia a partir de uma estratégia dedutiva, Hafner-Fink (2009) articula dedução pouco apropriado
e indução. A primeira quando busca articular as modalidades de participação o uso da distinção
entre participação
em “institucionalizadas” e “individualizadas”. A segunda, ao verificar como os convencional e não
grupos de indivíduos se distribuem entre os distintos campos para aí construir convencional, pois
os resultados dos
sua tipologia do engajamento (que se dá entre diferentes combinações entre o testes empíricos
cidadão “alienado” e aquele que combina participação institucionalizada com apontavam para
uma unidimensio-
participação partidária). nalidade na escala
de participação. A
O limite de tal análise é que ela não consegue produzir uma tipologia propria- distinção que o au-
tor considera mais
mente dita dos atos políticos, mas uma tipologia dos ativistas políticos. Com apropriada seria
isso, cai-se novamente na crítica que já era feita ao trabalho de Barnes e Kaase aquela entre ativi-
dades direcionadas
(1979), de tratar a participação como um fenômeno unidimensional (mesmo ao governo e ativi-
que esse não seja o objetivo do autor). dades não direcio-
nadas ao governo
Por fim, temos o trabalho de Albacete (2009)47, que se debruça sobre a tentativa (como, p. ex. as
atividades políticas
de construir medidas equivalentes de participação política que sejam úteis para dos sindicatos).
a pesquisa comparativa48. Seu ponto de partida é que a comparação entre países
48. A discussão so-
exige a construção de medidas equivalentes entre as variáveis em análise (PR- bre a importância
ZEWORSKI & TEUNE, 1970, VAN DETH, 2009). Propõe, dessa forma, comparar de medidas equiva-
lentes nos estudos
a “estrutura latente” das modalidades de participação, utilizando, para isso, a de participação é
escala de Mokken (MSA), a qual permite a ordenação das diferentes variáveis, a salientado por Van
Deth (1986), ao
partir de critérios predeterminados, onde as dimensões em teste são verificadas lembrar que deter-
através de um processo cumulativo de análise49. O interessante do uso de tal es- minadas perguntas
(que são aplicadas
cala é que ela possibilita fazer a equivalência de dados para pesquisas aplicadas
de maneira iden-
em contextos distintos. Dessa forma, consegue-se proceder com a comparação tica nos diferentes
a partir de “medidas equivalentes” (sem ter que usar as variáveis relacionadas países) têm signifi-
cados distintos, de-
às modalidades de participação, de forma individualizada). pendendo do con-
texto linguísitico em
Os resultados do estudo com o conjunto de países da amostra indicaram a exis- que são aplicadas.
Em suas palavras:
tência de duas escalas de participação: uma que inclui formas convencionais e “O conceito germâ-
outra que compreende as atividades de protesto. A escala é bastante semelhan- nico de Biirgerinitia-
tive, por exemplo,
te àquela de Barnes e Kaase (1979) e, em que pese o autor defender uma visão tem muito em co-
multidimensional da participação, seus resultados são bastante reducionistas, mum com o que se
chama inspraak, em
ao considerar a estrutura e as bases da participação como compostas de apenas holandês. Ambos
duas modalidades (formas institucionalizadas versus atividades de protesto). referem-se a modos
de participa-
ção mais ou

Revista Sociedade e Estado - Volume 27 Número 2 - Maio/Agosto 2012 279


menos novos e não Considerações Finais
eleitorais. Mas os
conceitos certamen-
te não são idênti- O balanço da literatura, apresentado nas páginas acima, nos permitiu chegar
cos. Como não há a algumas constatações com relação ao que se passa no universo dos estudos
um correspondente
literal em holandês sobre participação política, em especial no que se refere às propostas classifi-
para o Biirgerinitia- catórias.
tive germânico, não
se pode fazer uma
comparação dos
Em primeiro lugar, é inegável o crescimento quantitativo e qualitativo desse
níveis de participa- campo de pesquisas. Desde 1965, quando surge o trabalho de Milbrath, am-
ção nesses países pliaram-se constantemente o número de pesquisadores envolvidos na temá-
quando são usadas
traduções literais. tica, a quantidade de publicações e o número de bases de dados que incluem
Desse modo, ou baterias de questões sobre modalidades de participação. Hoje, praticamente
abandonamos todas
as referências a mo- todas as grandes pesquisas comparativas na área de opinião pública possuem
dos de participação módulos fixos dedicados ao tema da participação50. Nesse caso, considerando-
específicos de uma
nação ou período, se apenas aquilo que é coberto pelo WVS, teríamos dados longitudinais sobre
ou tentamos estabe- participação, cobrindo mais de 85% da população mundial. Outro indicador da
lecer instrumentos
equivalentes em vez vitalidade da área é que boa parte dos Handbooks na área de Ciência Política
de idênticos”. tem dedicado ao menos um capítulo sobre a temática (LIPSET, 1995; GOODWIN
49. Segundo Alba-
& KLINGEMANN, 1996; DALTON & KLINGEMANN, 2007; BOIX & STOCKES, 2007;
cete (2009, p. 5-6) a ROBINSON, 1999, KATZNELSON & MILNER, 2002).
MSA é uma combi-
nação de um mode- Tal crescimento da área, veio acompanhado da crescente sofisticação dos ins-
lo de medição e um
procedimento pa- trumentos de coleta51 e das técnicas de análise dos dados, de modo a que temos
drão de análise in- evidências as mais robustas sobre determinantes individuais e contextuais da
dividual de cada res-
posta a um conjunto participação política nas mais diferentes modalidades de participação. Outro
de itens que são pro- elemento também a ser destacado é que a pesquisa na área foi ampliando o
jetados para ser in-
dicadores da dimen- conteúdo do próprio conceito de participação, de modo a incorporar novas mo-
são latente de uma dalidades que foram surgindo no âmbito das democracias (VAN DETH, 2001).
única variável. Ela se
diferencia da análi-
se de componentes
Em que pese tais avanços, a continuidade das pesquisas sobre participação colo-
principais (PCA) ou ca a necessidade de se resolver alguns graves problemas. O primeiro deles é de
análise de confiabi-
lidade, pois os dois
ordem metodológica. Como já destacamos acima, são diversos os empreendi-
primeiros métodos mentos comparativos na área de participação; o problema é que não existe uma
pressupõem que unificação de linguagem, seja na redação da maioria das perguntas que consti-
os itens podem ser
considerados pa- tuem os surveys (BRADY, 1999), seja nos próprios indicadores do que deve ser
ralelos, ou seja, ter considerado como participação (VAN DETH, 2001). Tais situações têm dificulta-
a mesma frequên-
cia de distribuição do o avanço de comparações (longitudinais ou entre países) e provocado sérias
(a mesma média e distorções na interpretação de alguns resultados das pesquisas. Um exemplo é a
desvio padrão), o
que torna difícil a controvérsia em torno do declínio ou não das taxas de comparecimento eleito-
interpretação dos ral nos Estados Unidos. As pesquisas têm chegado a resultados distintos, alguns
dados quando se
faz análise fatorial
deles com divergências brutais em relação às estatísticas oficiais (BRADY, 1999).
com dados dicotô-
micos (p. 6). Já na Acreditamos, porém, que o problema mais grave seja de ordem teórica. Nesse

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sentido, parece que a crítica feita por Johnson (2005) em relação à tradição de MSA, “Presume-se
que cada sujeito
pesquisas sobre cultura política pode ser transferida aos estudos sobre partici- tenha um valor cer-
pação (cuja origem intelectual é mesma, diga-se de passagem). Para esse autor, teiro e esconhecido
na dimensão laten-
tal tradição careceria propriamente de uma teoria, tendo-se preocupado muito te. Para cada item,
mais com as estratégias de coleta e análise dos dados, do que na resolução de a probabilidade de
uma resposta posi-
problemas conceituais. É viável supor que boa parte das discordâncias classi- tiva aumenta com
ficatórias que tivemos a possibilidade de resenhar ao longo desse texto estão essa variável des-
conhecida. Nesse
relacionadas a problemas conceituais não resolvidos. caso, presume-se
que cada respon-
Como derivação desse problema, assistimos ao que Huxtin e Denk (2009) deno- dente possa ser co-
minam de o “problema da caixa-preta”52 nos estudos sobre participação. Os au- locado em uma es-
cala de participação
tores utilizam tal metáfora, pois afirmam que apesar da literatura ter consegui- política. A probabili-
do acompanhar as transformações vivenciadas pelo seu objeto de investigação, dade de um indiví-
duo ter participado
em especial aquelas ligadas à emergência das modalidades não convencionais, o de uma ação espe-
tratamento analítico que se deu a tal questão foi bastante precário, pois os estu- cífica – por ex., uma
manifestação polí-
dos se limitaram a ampliar as classificações e colocar os indivíduos em algumas tica – será maior se
das “caixas”; porém, pouco se detiveram a descobrir o que se passaria dentro ele tiver participado
de uma atividade
delas. Os estudos têm mapeado quem são os cidadãos que participam, onde menos exigente (ou
participam e a intensidade de sua participação, mas pouco dizem sobre como os mais fácil), tal como
votar. Em segundo
indivíduos fazem suas escolhas (HUXTIN & DENK, 2009 p. 12). Concluem os au-
lugar, a MSA per-
tores, que o privilégio de determinadas medidas comparativas, num crescente mite uma aborda-
repertório de ações políticas, se deu à custa de um refinamento qualitativo das gem confirmatória,
ou seja, avaliação
dimensões da participação. Como alternativa, apontam um caminho metodoló- de um conjunto de
gico no sentido de explorar as trajetórias do engajamento político (como se deu itens como uma
escala cumulativa.
a entrada, os antecedentes, as condições, experiências e resultados) (p. 17) e Assim sendo, pode-
destacam os exemplos de algumas pesquisas que estão trilhando tal caminho. remos examinar as
propriedades de
Entre os quais, o de Whiteley e Seyd (2002), num estudo sobre militância parti- uma tal escala.
dária na Grã-Bretanha, ao construir uma escala de intensidade de participação, Como resultado,
poderemos testar
com oito itens, que representam três dimensões (contato político, campanhas a pressuposição
e representação), através do uso de um modelo de equações estruturais (apud de que os diversos
modos de partici-
HUXTIN & DENK, 2009), ou o do Stolle, Micheletti e Hooghe (2005), que aplicam a pação podem ser
análise fatorial para construir um índice de “political consumerism”, baseado em ordenados de ações
itens como conhecimento, comportamento e motivação, frequência e hábito. mais fáceis para
mais difíceis, em
uma escala depar-
O diagnóstico de Hustin e Denk (2009) parece ser coerente com certo descon- ticipação política.
forto que perpassa a literatura sobre participação, no sentido de que esta tem Finalmente, a MSA
oferece a possibi-
se estruturado em torno de propostas classificatórias e tipologias que não têm lidade de testar a
conseguido captar a complexa dinâmica que envolve os atos participativos, des- escala (ou escalas)
em diversos grupos
de o recrutamento dos ativistas, até o resultado produzido pelas ações, prin- e, desse modo, ve-
cipalmente, no sentido de identificar o que se passa dentro de cada uma das rificar se o instru-
mento de medição
dimensões e modalidades de participação (as “caixas pretas”). é válido em diferen-
tes nações” (p. 6).
Comungamos com suas preocupações e acreditamos na importância de
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Para maiores deta- estreitar o diálogo com duas outras tradições de pesquisas, que poderiam aju-
lhes e aplicações do
método na análise dar nessa empresa. Uma delas, seria com os esforços empreendidos em torno
política, ver Mokken da “sociologia do militantismo” (FILLIEULE, 2001) que tem se dedicado aos me-
(1971) e Van Schuur
(2003) e Van Deth canismos, recursos e trajetórias que constituem o “capital militante”. Outro tipo
(1986). de abordagem que consideramos ser apropriada de inserir no diálogo com os
50. Como exem-
estudos de participação é aquela relacionada aos estudos da “política conten-
plos, temos o Euro- ciosa” (TARROW, 2009; TILLY & TARROW, 2007), que têm demonstrado como a
pean Social Survey
(http://www.atitu-
ação política é fruto de atributos individuais relacionados a determinadas carac-
dessociais.org/ess/), terísticas do contexto, o qual define as possibilidades de manifestação de deter-
o World Value Sur- minados repertórios da ação coletiva53. Nos parece que a iniciativa recente de
vey (www.wvs.org),
O ISSP (http://www. constituição de uma rede de pesquisas em torno do desenvolvimento de me-
issp.org/) o CID Sur- todologias e de realização de estudos empíricos sobre o engajamento político
vey (http://www8.
georgetown.edu/ parece ser um sinal positivo em torno do avanço das pesquisas na área54.
centers/cdacs/cid/)
e Comparative Study Acreditamos, também, que o avanço nas pesquisas sobre participação e suas
of Electoral System
(http://www.cses. modalidades implica em ampliar os contextos onde são desenvolvidas tais aná-
org/). lises. É importante salientar que nenhuma das propostas de classificação que
51. Por exemplo,
listamos acima tomou como parâmetro empírico os países da América Latina ou
com a inclusão de África, cujos processos de constituição política têm profundas variações diante
pesquisas tipo pai-
do contexto europeu e norte-americano. Lembramos da necessidade de verifi-
nel, de modo a en-
trevistar o mesmo cações quanto à pertinência das referidas classificações para esses contextos.
indivíduo em dois Resultados exploratórios de testes de agrupamentos de modalidades de parti-
momentos ou a in-
clusão de aborda- cipação (RIBEIRO & BORBA, 2010a) apontaram para resultados relativamente
gens qualitativas, diferentes dos verificados acima, quando se consideram especificamente os pa-
como os experimen-
tos e grupos focais. íses da América Latina.
52. A metáfora da Por fim, espera-se que as pesquisas passem a incluir outras modalidades de
caixa-preta “refere-
se à observação de
participação nos seus modelos. Mais especificamente, nos referimos àquelas
que tipos/modos de instituídas pelo Estado. Tais modalidades foram estudadas apenas como par-
participação ainda
são tratados como
te do contexto de instabilidade política dos países em desenvolvimento (HUN-
uma realidade uni- TINGTON & NELSON, 1976). Nos últimos anos, porém, temos assistido a novas
tária que não preci- experiências de participação instituídas pelo Estado (no contexto dos países de-
sa ser analiticamen-
te decomposto em senvolvidos e subdesenvolvidos), as quais têm sido muito pouco estudadas sob
mais detalhes” (p. as perspectivas aqui resenhadas (SCHLOZMAN, 2002). Além disso, na realidade
14).
brasileira, tais modalidades (nos referimos em especial aos Orçamentos Parti-
53. Dois trabalhos cipativos) têm se constituído numa importante forma de mobilização política
que seguem nessa
direção, de articular para contingentes significativos da população, em especial para aqueles menos
a dimensão do con- centrais na estrutura social (RIBEIRO & BORBA, 2010b). Acreditamos que agre-
texto com os atribu-
tos individuais, são gar novas modalidades aos estudos de participação, promoveria significativos
os de Dalton, Sickle ganhos analíticos.
e Weldon (2009) e
Della Porta (2008).

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Abstract: In the face of the intense ongoing theoretical and methodological debate about 54. Estamos nos re-
ferindo ao projeto
political participation within Political Sociology, our purpose is to map the international “Caught in the act of
literature that deal with proposals of classificatory typologies to be applied on the moda- protest: contextua-
lizing contestation
lities of political participation. The outcomes of the debate are of paramount importan- (CCC)”, Financia-
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