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Jurimetria e tecnologia: diálogos essenciais com o direito

processual

JURIMETRIA E TECNOLOGIA: DIÁLOGOS ESSENCIAIS COM O DIREITO


PROCESSUAL
Jurimetrics and technology: essential dialogues with procedural law
Revista de Processo | vol. 299/2020 | p. 405 - 448 | Jan / 2020
DTR\2019\42682

Dierle Nunes
Doutor em direito processual (PUC-MG/Università degli Studi di Roma “La Sapienza”).
Mestre em direito processual (PUC-MG). Professor permanente do PPGD da PUC-MG.
Professor adjunto na PUC-MG e na UFMG. Secretário Adjunto do Instituto Brasileiro de
Direito Processual. Membro fundador do ABDPC. Membro da International Association of
Procedural Law, do Instituto Iberoamericano de Derecho Procesal e do Instituto
Panamericano de Derecho Procesal. Diretor executivo do Instituto de Direito Processual –
IDPro. Membro da Comissão de Juristas que assessorou no Novo Código de Processo
Civil na Câmara dos Deputados. Diretor do Instituto de Direito e Inteligência Artificial
(IDEIA). Advogado. dierle@cron.adv.br

Fernanda Amaral Duarte


Mestranda na Universidade Federal de Minas Gerais. Graduada em Direito pela
Universidade Federal de Minas Gerais. Técnica em Informática pelo Centro Federal de
Educação Tecnológica de Minas Gerais. fernanda.amaralduarte@gmail.com

Área do Direito: Civil; Processual


Resumo: Este artigo visa a compreender a relação da Jurimetria com o direito processual
tecnológico, buscando, sobretudo, entender em que medida o uso do método estatístico
poderia diminuir o congestionamento dos Tribunais se relacionado aos meios integrados
de resolução de conflito, em especial a ODR. Discute-se ainda sobre a atual utilização da
disciplina, bem como seus limites operacionais e teóricos. Aborda-se o tema que impõe,
de um lado, a percepção de uma grande demanda pela solução judiciária e, de outro, o
avanço das tecnologias nos ramos jurídicos. Ainda, com intuito de entender a análise
estatística, apresenta-se pequena pesquisa cujo objeto é a condenação por danos morais
em decorrência do cadastro indevido nos órgãos de proteção ao crédito no Tribunal de
Justiça de Minas Gerais em 2018. Desse modo, buscou-se trazer uma reflexão sobre a
temática de maneira conceitual e prática.

Palavras-chave: Jurimetria – Meios integrados de resolução de conflito – Análise


empírica do Direito – Hiperjudicialização – Online Dispute Resolution
Abstract: This article aims to understand the relationship between Jurimetrics and
technological procedural law. It seeks to understand the extent to which the use of the
statistical method could decrease the congestion in the courts if related to the integrated
means of conflict resolution, especially the ODR. It is also discussed the current use of
the discipline, as well as its operational and theoretical limits. The theme that imposes
on the one hand the perception of a great demand for the judicial solution is approached
and, on the other hand, the advancement of technologies in the legal branches. Also,
pursuing an understanding of the statistical analysis, the authors have made a small
research whose object is the conviction for moral damages due to the improper
registration with the credit protection agencies at the Court of Justice of Minas Gerais in
2018. Thus, this article sought to bring a reflection on the theme in a conceptual and
practical way.

Keywords: Jurimetrics – Alternative Dispute Resolution Methods – Empirical Analysis of


Law – Hiperjudicialization – Online Dispute Resolution
Sumário:

1. Considerações iniciais - 2. A Jurimetria e as soluções de conflitos pelo prisma


jurimétrico - 3. Um estudo sobre a condenação ao pagamento de danos morais por
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cadastro indevido aos órgãos de crédito em 2018 - 4. Da análise jurídica dos dados: os
dois lados da jurimetria - 5. Análise inferencial dos dados e a controvérsia da análise
preditiva do Direito - Considerações finais - Referências bibliográficas

1. Considerações iniciais

Apesar de associada rotineiramente à economia e à matemática, há muito tempo a


estatística tem sido usada de maneira interdisciplinar. No campo da saúde, por exemplo,
é utilizada para mensurar taxas de sucesso de medicamentos e de tratamentos; na
psicologia é utilizada para o estudo de relações entre grupos. Todavia, tal disciplina não
se consolidou nas grades de ensino das faculdades de Direito em contradição à análise
do cotidiano dos operadores de nossa área, em especial os advogados, que fazem
predições das taxas de sucesso de casos, baseando-se em experiências anteriores sobre
o mesmo tema, bem como em decisões dos Tribunais que atuam, ou seja, com base em
1
parco suporte empírico e que pode estar contaminado por vieses de cognição.

A análise e parametrização de uma grande quantidade de dados (big data) do passado


pode ofertar horizontes promissores, em especial quando utilizados com o auxílio de
algoritmos, até mesmo para induzir uma potencial predição de resultados. Ocorre que,
apesar de suas potencialidades, não se pode defender com os resultados obtidos a
assunção de um papel de escravo dos dados do passado eis que, no campo do Direito, o
processo de aprendizagem social das normas não pode limitar os novos horizontes
interpretativos, sob pena de se adotar uma postura convencionalista de simples resgate
do que já ocorreu. A “ditadura do big data ”, no sentido de perseguir somente o
conhecimento e a estruturação dos dados do passado, não pode ser o único norte dos
profissionais do Direito.
2
Entretanto, a constatação da hiperjudicialização de conflitos , que acarreta, entre outros
fatores, a demora de anos para a solução daqueles, faz com que este conhecimento se
faça mais que necessário. O “Justiça em Números 2018”, do CNJ, atesta que a justiça
estadual contava com 63.482.535 (sessenta e três milhões, quatrocentos e oitenta e
3
dois mil, quinhentos e trinta e cinco) processos pendentes em 2017 e, em específico,
que o Tribunal de Justiça de Minas Gerais contava com 4.130.451 (quatro milhões, cento
e trinta mil, quatrocentos e cinquenta e um) processos pendentes. Constata ainda que o
número de magistrados estaduais mineiros é de 1.040 (mil e quarenta), ou seja, o
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cenário é de efetivo congestionamento.

Este contexto induziu uma absorção pelo Judiciário de técnicas integradas de


dimensionamento de conflitos, como, v.g., a conciliação e mediação, visto que:

“A mescla dessas técnicas de dimensionamento de litígios se faz momentaneamente


necessária pela atávica característica do cidadão brasileiro de promover uma delegação
da resolução dos conflitos ao Judiciário, fato facilmente demonstrável pela
hiperjudicialização de conflitos, mesmo daqueles que ordinariamente em outros sistemas
5
são resolvidos pela ingerência das próprias partes mediante autocomposição.”

Contudo, com base nos números supraindicados associados à percepção da discutível


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absorção pelo Judiciário pátrio das técnicas de ADR, tornam-se imperativas novas
abordagens embasadas em dados e estudos empíricos metodologicamente rigorosos que
permitam dar passos em prol de uma aplicação do Direito correta, legítima e eficiente.

A hipótese que se pretende sondar é a de se saber se a promoção de meios integrados


de solução dos conflitos poderia ter sua eficiência ampliada por meio da Jurimetria e sua
associação com abordagens tecnológicas. Assim, propõe-se que a prática de analisar o
Direito por uma perspectiva empírica de adoção da Jurimetria seria um dos
fatores-chave para tanto, já com as ressalvas inaugurais de que não se deve ter um
olhar apenas no passado, sob pena de impedir os avanços que se busca no Direito.

Isso porque, defende-se que o estudo de dados por meios estatísticos de determinados
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casos poderiam fornecer substrato para que as partes e o sistema jurídico como um todo
encontrem uma solução mais adequada daqueles. Assim, pretende-se apresentar como
hipótese a possibilidade de o profissional do Direito se utilizar do método estatístico em
sua atuação cotidiana de modo a favorecer a desjudicialização de determinadas
demandas ou mesmo o emprego de novas formas, em especial aquelas que empregam
ferramentas tecnológicas, como a ODR (online dispute resolution) para seu
7
dimensionamento .

Como dito, de modo a se aproximar de outros ramos do conhecimento, impõe-se como


medida essencial o estudo de uma abordagem jurimétrica do Direito. Todavia, desde
logo, ressalta-se que:

“Quando se busca defender o uso do método quantitativo na Ciência do Direito, não se


pretende reduzir o papel de debates ou de técnicas tradicionais como o papel da
hermenêutica, da argumentação tópica ou da análise linguística e histórica. Tais são ou
podem ser metodologias relevantes ao estudo jurídico, que, se conversarem com
técnicas quantitativas, podem enriquecer os diferentes tipos de argumentação ou
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melhorar a análise linguística e interpretativa.”

Evidencia-se o óbvio: não existem respostas simples para problemas complexos. Não é
utilizando o método quantitativo que todas as questões jurídicas serão resolvidas, mas
também é por tal razão que sua aplicação não deva ser desconsiderada.

Em assim sendo, antes de continuar, faz-se necessário pontuar que não se pretende
apresentar o uso da Jurimetria e da tecnologia como soluções mágicas para nossos
problemas. O emprego da primeira se apresenta como mais uma premissa necessária
em decorrência de uma abordagem macroestrutural do sistema processual
(processualismo constitucional democrático) que não desaguará necessariamente numa
proposta pragmática (como a realista) nem convencionalista (como a positivista). Já o
emprego da segunda, notadamente mediante a ODR, pode ofertar novos horizontes.

O que se pretende é ter mais subsídios para que seja possível promover soluções mais
consentâneas com os desafios que os cidadãos passam diuturnamente para dimensionar
seus conflitos no Brasil e que permitam ao sistema processual conseguir enfrentar suas
litigiosidades com maiores chances de oferecer resultados efetivos.

2. A Jurimetria e as soluções de conflitos pelo prisma jurimétrico


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A expressão “Jurimetria” foi utilizada pela primeira vez por Lee Loevinger . Ao abordar
problemas como o comportamento de juízes e legisladores, o jurista americano percebeu
na Jurimetria um caminho complementar à maneira de estudar calcada apenas na
ciência jurídica. Entretanto, embora dedicado a explanar seus benefícios, Loevinger
ressaltou que a mesma não seria solução para todos os problemas jurídicos, mas uma
abordagem que contribuiria para o Direito:

“Não se deve imaginar que a Jurimetria prometa panaceias. A história do progresso


humano é cheia de ‘nostrums’, mas desprovida de panaceias e não há razão para se
pensar que descobrimos uma agora. A Jurimetria não promete mais do que uma
oportunidade para que o direito avance pela mesma estrada rochosa que todas as outras
10
disciplinas já percorreram.” (tradução livre)

Apesar de comumente citado em textos sobre o assunto, Loevinger não escapou das
críticas de seu trabalho sendo que o próprio termo cunhado foi alvo de apontamentos eis
que, embora o tenha criado, o autor falhou em delimitar todo o âmbito de sua
incidência.
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Para Marcelo Guedes Nunes , a ideia apresentada pelo autor traria uma “definição
indefinida”, tendo em vista a falta de precisão em delineá-la. Nesse sentido, com
objetivo de preencher a lacuna conceitual, Guedes Nunes afirma “definir a Jurimetria
como a disciplina do conhecimento que utiliza a metodologia estatística para investigar o
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funcionamento de uma ordem jurídica”. Em complemento, estabelece duas perspectivas


da disciplina: a objetiva e a metodológica, explicitando que:

“De uma perspectiva objetiva, o objeto da Jurimetria não é a norma jurídica


isoladamente considerada, mas sim a norma jurídica, de um lado, como resultado
(efeito) do comportamento dos reguladores e, de outro, como estímulo (causa) no
comportamento de seus destinatários. De uma perspectiva metodológica, a Jurimetria
usa a estatística para restabelecer um elemento de causalidade e investigar os múltiplos
fatores (sociais, econômicos, geográficos, éticos, etc.) que influenciam no
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comportamento dos agentes jurídicos.”

Muito embora não possa ser considerado novo, o assunto é pouco discutido e muitas
vezes mal compreendido pelos juristas brasileiros. No entanto, para demonstrar algumas
benesses de seu emprego, promoveu-se a busca de um tema recorrente que poderia
induzir a qualquer aplicador de nosso sistema jurídico uma impressão dos resultados. Se
fosse indagado ao leitor qual seria o índice de sucesso em ações cíveis, nas quais se
busca a condenação em danos morais por cadastro indevido em órgãos de proteção ao
crédito, qual seria sua primeira impressão? Nas ações nas quais ocorreu a condenação,
qual seria o valor estabelecido? A constatação intuída seria comprovada? Com base em
quais dados se chegou a tais impressões?

Mesmo antes de se continuar qualquer empreendimento jurimétrico, percebe-se que as


respostas supra podem ser ofertadas. No entanto, os resultados poderão ser subótimos
ou mesmo errôneos (enviesados) e demonstram que, em inúmeros casos, ofertam-se
impressões que não retratam o quadro real da aplicação do direito em nosso país.

Em assim sendo, promoveu-se “manualmente” por cerca de dois meses uma pesquisa
jurimétrica acerca do tema proposto, de modo a ofertar ao leitor um panorama de como
esta abordagem pode ser realizada e em que medida seus resultados atestam (ou não)
as impressões que cada um apresentou ao ler as indagações.

3. Um estudo sobre a condenação ao pagamento de danos morais por cadastro indevido


aos órgãos de crédito em 2018

Com o objetivo de explicar minimamente como uma abordagem jurimétrica possa ser
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realizada, o presente trabalho, inspirado em outro anterior buscou parametrizar como
se promove a indenização por dano moral por cadastro indevido em órgãos de proteção
ao crédito.

Considerando a aparente recorrência do tema em causas do direito do consumidor,


escolheu-se um corte metodológico de analisar decisões de primeiro grau nas varas
cíveis no ano de 2018, no TJMG. O corte foi assim empreendido com o único propósito
de limitar a abordagem e ofertar ao leitor o modus operandi proposto.

3.1 Dos parâmetros escolhidos


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A consulta avançada ao banco de dados de sentenças do TJMG, permite ao usuário a
seleção de alguns critérios para filtragem de dados. Dentre os filtros oferecidos pelo
sistema, nesta pesquisa se utilizou dos campos “Palavras”, “Comarca” e “Data da
Publicação”.

Inicialmente, visando o filtro por tema, no campo “Palavras”, utilizou-se a expressão


“cadastro inadimplente dano moral”. Ainda, aplicou-se o filtro temporal, ou seja, no
campo “Data da Publicação” selecionou-se as sentenças entre 01.01.2018 e 31.01.2019,
bem como a Comarca escolhida foi a de Belo Horizonte. Em reforço, outra pesquisa foi
realizada, mantendo os marcos temporal e local, mas alterando as palavras de busca
para “cadastro inadimplente”.

Isso porque se identificou, após outras tentativas de pesquisa com diferentes


parâmetros, que a união das duas pesquisas retornava mais satisfatoriamente o
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resultado dos casos que se amoldariam ao tema proposto. Por sua vez, embora o estudo
se paute no ano de 2018, a seleção do marco final em 31.01.2019 se mostrou
impositiva, ante ao fato de que o sistema de busca não possui o filtro “Data do
Julgamento”, mas sim “Data da Publicação”.

Dessa maneira, buscou-se incluir casos julgados no final de dezembro de 2018, mas
publicados apenas em janeiro de 2019. Ressalta-se que a suspensão do art. 220 do CPC,
ocorre entre o final de dezembro e janeiro, razão pela qual tal cuidado se sobressai.
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Ao final da pesquisa, 225 (duzentos e vinte e cinco) arquivos em formato texto foram
analisados para estruturação do banco de dados final. Todavia, após a retirada de
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julgados inservíveis , restaram os 148 (cento e quarenta e oito), portanto, este
trabalho se utilizou como amostra cento e quarenta e oito processos.

A cada sentença analisada os seguintes campos foram preenchidos manualmente:


Número do processo, Vara, Magistrado, Magistrado em cooperação, Data do Julgado,
Autor, Classificação Autor, Réu, Classificação Réu, Sentença Condenatória, Valor,
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Súmula 385, Débito comprovado, outro motivo, Observações.

Por fim, para além dos fatores anteriormente considerados, também se analisou o valor
inicial da dívida. Entretanto, tal dimensão foi desconsiderada na estruturação final do
banco de dados visto que não trouxe qualquer contribuição para sua análise, uma vez
que na maioria dos casos o valor da suposta dívida, ensejadora do cadastro indevido,
era desprezada na fundamentação da sentença.

3.2 Dos resultados

Com as informações coletadas, seria possível descrever a amostra por diversos ângulos.
Contudo, por ora, investigam-se os seguintes pontos:

Quantos pedidos de condenação ao pagamento de danos morais foram julgados


procedentes e quantos foram julgados improcedentes?

Qual a distribuição de frequência dos motivos que levaram à improcedência do pedido?

Análise dos valores da condenação (Moda, Média, Mediana).

Por fim, cumpre dizer que os gráficos apresentados foram gerados utilizando as
ferramentas PowerBI e Google Spreadsheets.

3.2.1 Da análise da procedência dos pedidos de condenação ao pagamento de danos


morais

Em verificação da distribuição de frequência de procedência dos pedidos de condenação


ao pagamento de danos morais, ou seja, qual a quantidade de pedidos julgados
procedentes, os seguintes resultados foram encontrados:

Figura 1: Distribuição de frequência da procedência dos pedidos

Pedido de indenização por danos morais julgados procedentes?

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Fonte: Imagem elaborada pelos autores, com base em dados extraídos de pesquisa
empíricadisponível em: [https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/sentenca.do].

Assim, do total amostral (148 casos), mais de 57% dos pedidos de condenação ao
pagamento de indenização por danos morais foram julgados improcedentes pelos
magistrados. Nessa mesma análise feita pelo prisma das varas cíveis, ou seja, qual a
proporção de pedidos julgados procedentes e improcedentes por varas cíveis,
observou-se que:

Figura 2: Distribuição de frequência da procedência dos pedidos por vara cível

Pedido de indenização por danos morais julgado procedentes? (por vara)

Fonte: Imagem elaborada pelos autores, com base em dados extraídos de pesquisa
empíricadisponível em: [https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/sentenca.do].

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Entretanto, verificar apenas pelas varas não é suficiente, visto que foi constatado ao
longo da pesquisa empírica que algumas sentenças foram proferidas por magistrados em
cooperação. Desse modo, tem-se que a verificação mais adequada seria por juiz,
conforme gráfico a seguir:

Figura 3: Distribuição de frequência da procedência dos pedidos por magistrado

Pedido de indenização por danos morais julgado procedentes? (por juiz)

Fonte: Imagem elaborada pelos autores, com base em dados extraídos de pesquisa
empíricadisponível em: [https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/sentenca.do].

No gráfico supra, para além de se entender o modo que o magistrado julgou, também é
possível a observação de outra variável: a quantidade destes casos decididos por cada
um dos juízes. A seguir, com o objetivo de considerar de maneira mais cuidadosa os
casos, passa-se ao estudo tanto das hipóteses de procedência do pedido, ou seja,
condenação ao pagamento de danos morais, quanto das de improcedência.

3.2.2 Da análise das razões de improcedência do pedido de condenação ao pagamento


de danos morais

A improcedência de um pedido remete à uma pergunta óbvia: “quais as razões que


levaram a tal julgamento?”

Pois bem, da verificação individual de cada caso percebeu-se que a improcedência dos
pedidos poderia ser categorizada em dois principais blocos: a constatação do débito por
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parte do autor ou a aplicação da Súmula 385 do STJ. Visualmente, tem-se que:

Figura 4: Motivos da improcedência do pedido de condenação ao pagamento de danos


morais

Motivos da improcedência do pedido de condenação ao pagamento de danos morais

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Fonte: Imagem elaborada pelos autores, com base em dados extraídos de pesquisa
empíricadisponível em: [https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/sentenca.do].

Por outro ângulo:

Tabela 1: Frequência relativa dos motivos de improcedência do pedido de condenação ao


pagamento de danos morais

Frequência relativa dos motivos da improcedência do pedido de condenação ao


pagamento de danos morais
Improcedência exclusiva pela aplicação da 47.05%
Súmula 385 STJ
Improcedência por Débito comprovado 49.41%
Outros motivos 3.52%

Nos termos postos, evidencia-se que a aplicação da Súmula 385 do STJ se sobressai,
visto que concorre de maneira quase que paritária com o motivo esperado para
improcedência do pedido em foco, qual seja, a comprovação do débito.

3.2.3 Da análise dos valores da condenação ao pagamento de danos morais

Pelo prisma dos pedidos julgados procedentes, o ponto-chave a ser percebido diz
respeito ao quantum indenizatório. Para a análise dos valores das condenações,
19
portanto, é essencial, primeiramente, a construção do histograma destes dados.

Por meio do histograma é possível verificar a distribuição dos dados e sua simetria (ou
assimetria). Ademais, também se percebe a presença de valores atípicos. Deste modo,
veja o histograma construído a partir das 63 (sessenta e três) sentenças nas quais os
pedidos de condenação ao pagamento de danos morais foram julgados procedentes.

Figura 5: Histograma do conjunto amostral de condenações ao pagamento de danos


morais

Histograma do valor das condenações

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Fonte: Imagem elaborada pelos autores, com base em dados extraídos de pesquisa
empíricadisponível em: [https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/sentenca.do].

De imediato, causa certa estranheza que apenas um caso tenha a condenação com valor
de R$ 40.000 (quarenta mil reais), entretanto, antes de afirmar que se trata de um valor
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atípico, ou seja, uma amostra que se localiza de maneira distante do resto do conjunto
é necessário calcular as medidas de centro. Portanto, após a ordenação de todos os
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valores das condenações temos que:

Tabela 2: Medidas de centro do conjunto dos valores de condenação ao pagamento por


danos morais

Medidas Valor
Moda (Valor de maior ocorrência) R$ 10.000,00
Média Aritmética R$ 11.739.37
Mediana (Valor central do conjunto de R$ 10.000,00
dados)

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Segundo Triola para saber se um valor é atípico ou não é necessária a identificação
dos quartis, que são valores que dividem o conjunto de dados em quatro partes. Em
outras palavras, ao selecionar o dado na posição correspondente a 25% do conjunto,
tem-se o primeiro quartil (Q1); na equivalente a 50%, o segundo quartil (Q2) (este
quartil se confunde com a mediana), e, por fim, na posição correspondente a 75%,
terceiro quartil (Q3). Desse modo, na amostra analisada os quartis e a amplitude
interquartil, ou seja, a diferença entre o terceiro quartil e o primeiro, são:

Q1 = R$ 7.000

Q2 = R$ 10.000

Q3= R$ 15.000

Amplitude interquartil (Q3-Q1) = 15.000-7.000= 8.000


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Uma vez calculados os quartis, podemos aplicar a regra definida por Triola para
identificar os valores atípicos do conjunto amostral. O autor afirma que o valor será
atípico se estiver acima do terceiro quartil (Q3) por uma quantidade maior do que 1,5
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vezes o valor da Amplitude interquartil ou se abaixo do primeiro quartil (Q1) por uma
quantidade maior do que 1,5 vezes o valor da Amplitude interquartil. Deste modo, no
presente caso, as medidas limites seriam:

Valor limite inferior = Q1 - (1,5*Amplitude Interquartil)

Sendo Q1 = 7.000 e Amplitude = 8.000

O valor limite inferior é 7.000 - (1,5*8000) � 7.000-12.000 = -5.000.

Ou seja, em caso de condenação por menos R$ 5.000,00 (cinco mil reais), haveria a
presença de um valor atípico. Tal número não somente é inexistente no caso, como
também impossível. Portanto, não existe valor atípico abaixo do primeiro quartil.
Vejamos agora se ocorre tal fenômeno na parte superior dos dados.

Valor limite superior = Q3 + (1,5*Amplitude Interquartil)

Sendo Q3 = 15.000 e Amplitude = 8.000

O valor limite superior é 15000 + (1,5*8000) � 15.000+12.000 = + 27.000.

Portanto, as condenações superiores a R$ 27.000,00 (vinte e sete mil reais) seriam


consideradas valores atípicos. Estes seriam os casos dos processos número
2640004-09.2008.8.13.0024, 2539455-49.2012.8.13.0024,
1134231-81.2013.8.13.0024 e 3325763-47.2012.8.13.0024, que possuem condenações
nos valores de R$30.000,00 (trinta mil reais), os três primeiros, e R$ 40.000,00
(quarenta mil reais), o último.

Por fim, em que pese a identificação de quatro valores atípicos no conjunto, estes não
foram desconsiderados para o cálculo da média neste trabalho. Apesar da necessidade
de atenção, considera-se que tais valores, no presente caso, não provocam efeitos
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substanciais.

4. Da análise jurídica dos dados: os dois lados da jurimetria

No item anterior observou-se, talvez de modo surpreendente para o leitor, questões


jurídicas por outras perspectivas para além da doutrinária mediante o estudo dos
pedidos de condenação ao pagamento de danos morais por cadastro indevido de órgãos
de proteção ao crédito, ao se utilizar de métodos estatísticos. A surpresa pode ser
medida individualmente por cada leitor ao se comparar as impressões apresentadas após
as perguntas contidas no final do item 2 com as respostas obtidas empiricamente.

Assim, pela simples análise dos gráficos e tabelas apresentados é possível apresentar
algumas conclusões. Inicialmente, percebe-se que a maioria dos pedidos de danos
morais analisados foram julgados improcedentes (conforme Imagem 01), ainda, a
depender do magistrado, a frequência de improcedência do pedido aumentava
consideravelmente como demonstra o gráfico da Imagem 03.

Ademais, ainda em relação à improcedência do pedido, consta-se que a incidência do


enunciado de Súmula 385 do STJ foi o principal fundamento utilizado nas sentenças para
refutar o pedido (Imagem 04), o que demonstra não somente a efetiva aplicação desta
pelo TJMG, mas também a necessidade de se aplicar maiores cuidados na verificação de
negativações anteriores por parte do advogado e seu cliente.

Por sua vez, nos casos em que o pedido em foco foi julgado procedente a média dos
valores de condenação era de R$ 11.739,00 (Tabela 01), sendo que condenações acima
de R$ 27.000,00 foram valores atípicos, e, portanto, raros, em 2018.

Essas informações ajudariam, per se, na atuação do operador do Direito, em especial na


atuação cotidiana do advogado. Como exemplo, a aplicação do enunciado de Súmula
385 do STJ pelo tribunal demonstra que não basta o advogado se aventurar no momento
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de redação dos pedidos. Isso porque, nesse contexto, caso o causídico não verifique com
seu cliente se este possui outras negativações anteriores ao objeto da demanda, incorre
no risco, quase certo, de possuir tal pedido julgado improcedente. Permite-se, portanto,
uma abordagem preditiva que poderá ser explorada pelas partes e seus advogados.

Tal situação embora constatada pela própria existência de súmula, é reforçada pelo
estudo que aclara a insuficiência de cautela por inúmeros advogados. Isso se reforça,
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principalmente, em razão da potencialidade de sucumbência recíproca . Em regra, as
sentenças analisadas de fato aplicaram o art. 86 do CPC tendo em vista o verbete
sumular.

Como visto, pela análise dos dados é possível levantar considerações acerca da atuação
do advogado em casos análogos ao estudado. Do mesmo modo, é viável fazê-lo em
relação à situação de solução conciliatória do conflito, ou seja, por via dos meios
integrados de resolução de conflitos.

No entanto, não se pode olvidar que para se chegar aos presentes dados e conclusões
utilizou-se uma amostra relativamente pequena do estado da arte jurimétrico da questão
que pode mesmo se mostrar equivocado caso se amplie o objeto de análise. E apesar da
singeleza do que ora se apresenta os autores gastaram dois meses para estruturar sua
análise o que, no cotidiano da advocacia, pode dificultar seu uso de modo mais
adequado, mesmo que se conte com dados de pesquisa acessíveis. A análise se deu de
modo relativamente simples por se tratar apenas de sentenças que se encontravam na
rede de computadores, de um determinado ano e tribunal. Novamente, sublinha-se,
tratando de apenas uma temática extensamente presente nos tribunais e inclusive
sumulada pelo STJ.

O estudo estatístico de casos, realizado de forma manual, pode demandar recurso


humano e de tempo que não estão disponíveis para a maioria dos juristas, ante a
necessidade de lidar com as tarefas cotidianas da profissão. Isso tendo em vista além
das horas para o estudo da estatística, em especial a inferencial, os obstáculos da
própria base de dados.

O sistema de buscas do Tribunal de Justiça de Minas Gerais foi o principal motivo para o
enorme dispêndio de tempo, visto ter apresentado erro nas consultas. Adicione-se a
dificuldade trazida pela classificação incorreta das sentenças, que exigiu que todas elas
fossem pormenorizadamente estudadas para avaliar se se enquadravam ao tema
escolhido.

Ademais, a formatação dos documentos também foram entrave para o estudo. Enquanto
alguns juízes colocavam uma espécie de cabeçalho para facilitar a identificação do nome
das partes, do número do processo, outros não só não o faziam, mas sequer datavam o
documento. Deste modo, para estruturar os dados era necessário o retorno ao site do
Tribunal e a pesquisa individual do processo para completar informações como
numeração única (usada como chave da tabela), nome do magistrado e até o nome das
partes.

Pelo demonstrado, nota-se a dificuldade de fazer estudos empíricos de modo manual.


Ainda mais tendo em vista a diversidade de casos em que o advogado costuma tratar
em seu cotidiano.

No entanto, com a evolução das ferramentas tecnológicas os horizontes do emprego da


jurimetria ganham novas perspectivas pois o empreendimento aqui realizado, mediante
a utilização de algoritmos tecnológicos, devidamente treinados, pode reduzir o tempo na
obtenção de resultados de modo bastante sensível.

Sabe-se que o aumento no poder da computação é exponencial e não linear e que a


capacidade que os computadores possuem de realizar tarefas jurídicas complicadas
tende a se sofisticar a cada ano, ampliando as vantagens de profissionais que investirem
27
nesses campos.
Página 11
Jurimetria e tecnologia: diálogos essenciais com o direito
processual

O emprego, v.g., de Analytics para previsão de resultados de casos mediante a


nominada análise preditiva é um desses campos. Ordinariamente, advogados
aconselham clientes a tomar atitudes baseados em suas intuições (como as provocadas
ao final do item 2) e limitado à sua experiência direta ou indireta do direito em casos
anteriores. No entanto, hoje é tecnicamente possível se promover essa análise jurídica
mediante a estruturação de informações mediante algoritmos que trabalham com
padrões de fatos, julgados e precedentes para prever o potencial resultado de um
processo numa infinidade de decisores e órgãos jurisdicionais. Uma das potencialidades
da tecnologia é a de lidar com big data em bancos de dados desestruturados e deles
extrair subsídios decisórios. A vantagem da análise preditiva é que ela fornece um
mecanismo para acessar uma vasta quantidade de informações e sistematizá-las de
28
modo a extrair um resultado provável do caso em questão. Como informam McGiniss e
Pearce “o poder computacional permite que dados substanciais sejam coletados e
organizados” de modo a se extrair padrões entre os dados, sendo que de um adequado
aprendizado de máquina (machine learning) se possa analisar regularidades dentro dos
29
padrões.

Ao se conhecer quais são as tendências de julgamento de um magistrado (como as


mapeadas supra), o advogado pode, entre inúmeras possibilidades, promover uma
análise de risco da propositura (ou não) de uma demanda, de obtenção de um valor
financeiro de acordo, que terá por base o potencial quantum de condenação reduzido em
percentual que mitigue os danos de seu constituinte, sem olvidar da antecipação do
resultado (ou não) de um recurso.
30
Como já se pontuou em outra sede a virada tecnológica, sendo irrefreável, irá abalar
substancialmente as profissões jurídicas, mas o que não pode se negligenciar é que a
mesma possa, de um lado, prejudicar as perspectivas econômicas de muitos advogados,
mas de outro, ofertar vantagens para aqueles que conseguirem se adaptar. As
tecnologias poderão ajudar os advogados que atuam em prol de litigantes habituais a
ampliar seu alcance e expertise e para aqueles que reduzirão seus custos internos, com
delegação de atividades repetitivas (elaboração de petições, análise de jurisprudência
etc.) para algoritmos especialistas treinados, poderá prestar serviços de qualidade para
uma clientela menos abastada mediante ganhos em escala.
31
Igualmente, o uso da e-discovery, apesar de imperfeito, já vem sendo utilizado em
alguns tribunais como ferramenta preditiva de descoberta de informações que
essencialmente auxiliarão na tomada de decisões de relevância, com dispêndio financeiro
32
e de desempenho idêntico (ou superior) ao humano.

No entanto, não se pode negligenciar que com slogans chamativos no estilo “ganhe mais
causas” diversas empresas se propuseram a oferecer softwares de Jurimetria. Basta uma
pesquisa em qualquer ferramenta de buscas para encontrarmos entidades que parecem
oferecer a predição para todos os casos possíveis de atuação do advogado.

O que tais anúncios não informam são as dificuldades encontradas pelos próprios
cientistas e engenheiros da computação para a criação de um sistema que permita tais
análises de maneira confiável. Tal premissa se baseia no fato de que os julgados são
dados não-estruturados e desenvolvidos em linguagem natural, assim, a predição de
julgados depende impreterivelmente da capacidade de processamento de linguagem
natural (chamada Extração de Informação):

“A Extração de Informação (EI) é uma tarefa de Processamento de Linguagem Natural


(PLN) usada para recuperar automaticamente informações estruturadas de documentos
textuais não estruturados e/ou semiestruturados, tais como entidades, relações e
33
atributos que descrevem as referidas entidades.”

Um dos problemas enfrentados pela área de Processamento de Linguagem Natural é a


extração de informações de modo a classificá-las como uma determinada entidade, ou
Named-Entity Recognition (NER). Em uma sentença, por exemplo, é que a palavra
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Jurimetria e tecnologia: diálogos essenciais com o direito
processual

“ação” pode ser utilizada pelo magistrado tanto no seu sentido processual quanto para
se referir às partes do capital de uma empresa. Isso sem contar com o significado
comum, ou seja, derivado do verbo agir.

Tal desafio, além de não ter sido superado, exige a construção adequada de um
conjunto de dados sobre o tema e, para tanto, imprescindível a supervisão humana:

“Entretanto, as soluções desenvolvidas sobre modelos de aprendizado supervisionado


necessitam de datasets que explicitem as entidades mencionadas, seus tipos e outras
informações relevantes para sua identificação e delimitação num texto. O
desenvolvimento desses conjuntos de dados requer a supervisão humana para serem
caracterizados como Gold Standard, i.e. qualidade boa e consistente, fruto da avaliação
34
humana.”

Fato é que a construção de um conjunto de dados para uma determinada área do


conhecimento não pode ser aplicada a outra com total precisão, devido às
35
especificidades de cada domínio e que o Direito é área em que a todo momento
surgem novas entidades e classificações. Portanto, são inegáveis os obstáculos de
construção de um sistema que efetivamente analise todos os casos jurídicos com alta
precisão.

Ocorre que além desse uso da jurimetria e da tecnologia, com as vicissitudes


apresentadas para obtenção desses dados, outro emprego digno de nota é o de se usar
esses dados para auxiliar no atual emprego de meios integrados (conciliação, mediação)
e se construir novas formas, como a Online Dispute Resolution (ODR).

4.1 Meios Integrados de Solução de conflito e a interface com os dados empíricos

O aumento de demanda dos tribunais não pode ser explicado por apenas um ângulo.
Isso porque, conforme já se apontou com Alexandre Bahia:

“O Brasil vem passando por um momento ímpar de sua história. De um lado, a


consagração de direitos fundamentais e de meios processuais de defesa destes direitos,
quer sejam individuais, coletivos ou difusos. [...] De outro lado, o aumento da demanda
decorrente daqueles direitos, somada ao que Eros R. Grau chamou de incapacidade do
Estado ‘se conter nos quadrantes da constitucionalidade e da legalidade’, agigantou o
volume de trabalho dos Tribunais, ocasionando perda na ‘eficiência’ da ‘prestação
36
jurisdicional’.”

Assim, é possível falar que existe uma correlação entre o aumento de demanda nos
tribunais brasileiros e a consagração do direito fundamental de acesso à Justiça,
sobretudo após a Constituição de 1988. Contudo, um dos fatores para compreensão da
hiperjudicialização está na atuação dos litigantes repetitivos (repeat players). É que,
contraditoriamente, em que pese a grande demanda aos tribunais brasileiros, a
titularidade das ações se encontram concentradas. Como pontua Maria Cecília de Araujo
Asperti referenciando-se a estudo realizado pela Comissão de Direitos Humanos das
Nações Unidas:

“[...] a sobrecarga das instâncias judiciárias não seria decorrente de um acesso amplo às
cortes judiciais por parte da população, mas sim do fato de alguns poucos atores, em
especial o poder público e grandes empresas, serem responsáveis por boa parte dos
índices de casos novos ajuizados anualmente e pela frequente recorribilidade de decisões
37
judiciais.”

Em outras palavras, percebe-se que a questão da hiperjudicialização deve ser olhada


pelo prisma da quantidade de acesso à Justiça, ou seja, pelo aumento deste direito
fundamental, mas também por quais agentes utilizam da estrutura judiciária. Por essa
38
última lente, Sadek afirma a vivência de um paradoxo de demandas de menos e
demandas de mais. Explica:

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Jurimetria e tecnologia: diálogos essenciais com o direito
processual

“Resumidamente, pode-se sustentar que o sistema judicial brasileiro nos moldes atuais
estimula um paradoxo: demandas de menos e demandas de mais. Ou seja, de um lado,
expressivos setores da população acham-se marginalizados dos serviços judiciais,
utilizando-se, cada vez mais, da justiça paralela, governada pela lei do mais forte,
certamente menos justa e com altíssima potencialidade de desfazer todo o tecido social.
De outro, há os que usufruem em excesso da justiça oficial, gozando das vantagens de
39
uma máquina lenta, atravancada e burocratizada.”

Para além do apontado, acrescenta-se ao problema da alta demanda do Judiciário a


40
mentalidade adjudicatória, ou cultura da sentença, na qual se concentra a solução do
conflito nas mãos do Judiciário. Em face desse contexto, há muito tempo parcela da
41
literatura jurídica se debruça em busca de apontar meios de mitigação da “crise”.

Em outros termos, a admissão dos métodos integrados de solução de conflitos pode ser
encarada, com alguma parcimônia, como ambiente que oportuniza às partes a
encontrarem um resultado de maior grau de satisfação ao conflito a partir do
pressuposto que a sentença nem sempre satisfaz os anseios das partes, ante seu caráter
impositivo.

A visão integrada de dimensionamento do litígio traz um essencial liame entre o uso da


via adequada e o dispêndio devido de energia inicial para se favorecer o máximo
aproveitamento do processo.

Inspirado nessas premissas, o CPC/2015 determina a criação de centros judiciários de


solução consensual de conflitos (art. 165), com profissionais formados para tal fim (art.
167), integrados ao próprio sistema jurisdicional; mas sem obstar o uso de câmaras
privadas de conciliação e mediação, desde que habilitadas em cadastros junto aos
Tribunais de Justiça ou Regionais Federais.

No entanto, como pontuam Varano e Simoni, vários fatores indicam problemas na


conciliação levada a cabo pelo juiz, pois,

“por um lado, a fim de realizar com sucesso uma atividade de conciliador, são
necessários tempo, paciência e uma atitude positiva. A tarefa é, obviamente, muito
difícil para os tribunais que estão sobrecarregados e superlotados. Por outro lado, a ideia
da conciliação conduzida pelo juiz coloca este último numa posição de algum modo
ambígua, que pode induzir uma desconfiança e causar a resistência das partes. Essa é a
razão pela qual certos experimentos parecem ser preferíveis, como os utilizados na
França ou na Alemanha, onde o juiz pode remeter as partes para fora do processo de
42
resolução judicial”.

Apesar de essa solução paralela ser aconselhável fora do sistema jurisdicional, não é
incomum no Direito estrangeiro a tendência das formas “alternativas” se tornarem parte
do mecanismo oficial de resolução de conflitos: “não apenas porque em diversas
hipóteses sua atuação ocorre de forma anexa à dos próprios Tribunais, mas também
porque passaram por um processo de legalização devido à regulação da matéria tanto
43
pela lei quanto pelos advogados”.

Os próprios “mitos” de que a opção pelas ADRs aliviaria o sistema jurisdicional, no


entanto, são colocados em xeque quando se analisam modelos que adotaram tal
premissa, absorvendo esses meios para dentro do aparato estatal.

Emblemático, nesse aspecto, é o exemplo americano de consolidação do modelo na


década de 1970, eis que, como informa Chase:

“[...] se o objetivo fundamental dos defensores dos meios alternativos foi reduzir o peso
depositado no Judiciário, os caminhos administrativos eleitos para este fim foram no
mínimo peculiares. É que o estabelecimento de programas institucionais de arbitragem e
mediação no âmbito dos próprios tribunais assumiu especial ênfase nesta ascensão,
fazendo com que os custos inerentes à manutenção do sistema jurisdicional seguissem
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Jurimetria e tecnologia: diálogos essenciais com o direito
processual

sólidos e transparecendo que (salvo a hipótese da nova roupagem reduzir a proporção


total de litígios) o objetivo não seria alcançado. Além disso, não se deve olvidar da
possibilidade de que diversas demandas compulsoriamente enviadas a estes meios
alternativos retornassem ao apreço jurisdicional pela recusa de uma das partes em
aceitar seu desfecho. Além disso, em 1975, quando os clamores pelos meios alternativos
eclodiram, inexistia prova empírica de que efetivação serviria para uma melhor
equalização no tempo de Judiciário. Afinal, como isto seria possível tendo em conta que
eles sequer teriam sido efetivamente testados? Realmente, estudos posteriores
relacionados aos efeitos das ADR levam a conclusões intrigantes, expondo que a crença
na sua atividade como ferramenta de gerenciamento processual é muito superior ao seu
impacto concreto nesta frente. Advogados e juízes compartilham amplamente a ideia de
que a nova estrutura dos Tribunais reduziria custos e permitiria uma economia de
tempo, enquanto os dados empíricos indicam exatamente o contrário (o que não
significa que não possa ter havido êxitos pontuais, mas demonstra que os benefícios não
ocorreram em uma escala global). Estas constatações não apenas enfraquecem a
relação entre o avanço dos meios alternativos e a crise jurisdicional, como ainda nos
indicam a necessidade de investigar as origens de uma crença ao mesmo tempo
44
inconsistente e tão inabalável.”

Essa narrativa é muito relevante no atual contexto do CPC de 2015 pela crença que
motiva alguns em otimizar os meios “alternativos” dentro do sistema jurisdicional.

Talvez essa opção momentânea de absorção pelo Estado Jurisdição seja uma
necessidade, na presente época em que tudo é judicializado, no sentido de busca por
uma adequação.

Assim, claramente, a atual escolha pode trazer ferramentas plúrimas ao jurisdicionado,


mas sem a pretensão de trazer maior celeridade e diminuição de custos, especialmente
quando se percebe a necessidade, ainda não levada a cabo, que o CPC de 2015 traz de
que os novos conciliadores e mediadores passem por uma capacitação obrigatória (que
induz gastos – art. 167) para a profissionalização de suas funções e da necessidade de
criação dos centros de autocomposição.

Nesse sistema, o conflito seria resolvido pelo procedimento que melhor se adeque às
suas especificidades. É dizer que a adjudicação (jurisdição) deixa de ser o único modo
que finda uma controvérsia, abrindo espaço para outros meios tais como a conciliação e
a mediação. Assim:

“Não resta dúvida de que a grande vantagem do Sistema de Múltiplas Portas ou


Multidoor Courthouse é a integração de diversos mecanismos para solucionar conflitos
com o Poder Judiciário, contribuindo de forma decisiva ao aperfeiçoamento de um
sistema de Justiça. Isso porque ao oferecer diversas soluções para um mesmo conflito,
45
pode [sic] atender especificamente aos interesses das partes envolvidas.”

Resumidamente, conforme já se pontuou com Theodoro Jr., Bahia e Pedron:

“Nesses termos, no Novo CPC, verifica-se que a mediação e a conciliação, de técnicas


alternativas, passam a compor um quadro de soluções integradas, de modo que, uma
vez propostas a demanda, haveria possibilidade de escolha da técnica mais adequada
46
para o dimensionamento de cada conflito.”

O que se constata é que apesar dos esforços realizados para concretizar os métodos
para a busca de redução dos processos a cargo dos tribunais os resultados se mostram
muito aquém do que o necessário, claro que sem olvidar que o modelo ainda exige
muitos ajustes e maturação.

Todavia, entende-se que a efetivação de tais métodos integrados perpassa por uma
série de fatores a serem considerados. Nesse sentido Lessa Neto pondera que:

“É preciso profissionais habilitados para assistir à negociação das partes, advogados


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Jurimetria e tecnologia: diálogos essenciais com o direito
processual

capazes de entender, estimular e assessorar adequadamente os seus clientes durante as


audiências de mediação ou conciliação, sem falar na criação de espaço físico adequado e
próprio para a aplicação destas técnicas, bem como na capacitação e cadastramento de
47
mediadores e conciliadores judiciais.”

Soma-se a esses fatores a dificuldade das partes, a depender do litígio, em conversarem


de maneira aberta. Ademais, adiciona-se à equação a complexidade de transferirem o
dano sofrido, que muitas vezes se encontra em plano abstrato, tal qual o dano moral,
para o concreto.

Nesse último ponto é que se defende a aplicação da Jurimetria. Já de início, contudo, é


preciso destacar que a pretensão não é reduzir as negociações a padrões estatísticos
imutáveis e mandatórios. Ao contrário: ao entender os meios integrados como forma de
acesso à Justiça, deve-se inicialmente relembrar que a celeridade é apenas uma das
consequências de sua aplicação. Desse modo, repetidamente, o fator da eficiência,
tomada muitas vezes pela celeridade não pode ser item único a ser considerado. Como
pontuado:

“A celeridade, devidamente interpretada na busca da correção normativa do sistema, é


um importantíssimo princípio, mas jamais poderá ser considerado hierarquicamente
48
superior aos demais, nem conduzir, mesmo, à supressão e inaplicação destes.”

Pois bem, da análise jurimétrica dos casos se liga aos meios integrados de resolução de
49
conflito por meio da mensuração razoável do que se pretende.

Assim, ao constatar que em um determinado caso o julgamento de um determinado


50
tribunal se dá de uma certa maneira, o advogado poderá demonstrar a seu cliente a
adequação (ou não) de seu pedido, tendo como consequência a maior propensão para
51
negociação. Essa atitude comparticipativa de preparação para os meios consensuais
52
serve, certamente, tanto para mediação quanto para conciliação.

É certo que a previsão de resultados ou análise do julgamento de outros tribunais faz


parte do cotidiano do advogado, contudo o estudo superficial de uma determinada
53
matéria (ou caso) pode acarretar resultados incorretos ante a heurística . É que ao se
54
perceber o pensamento dual, percebe-se que o sistema 2, responsável por questões
complexas, por vezes endossam as conclusões do sistema 1, responsável por atalhos
cognitivos (heurísticas). Desse modo:

“Esse endosso, pelo sistema 2, de crenças intuitivas baseadas em parca informação, é


apontado por Kahneman, em sua obra, pela expressão ‘what you see is all there is’, ou,
‘WYSIATI’, e se resume em tirar conclusões precipitadas com base em evidência limitada
55
[...].”

Nesses termos, a compreensão da estatística perpassa também por identificação dos


erros de cognição. Para além das aplicabilidades vistas até o momento, o estudo
estatístico também pode ser considerado na solução consensual e online de conflitos.

4.2 Online Dispute Resolution (ODR)

Como explicam Colin Rule e Ethan Katsh:

“A Resolução de disputas online (ODR) é a aplicação da tecnologia da informação e das


comunicações à prevenção, gerenciamento e resolução de disputas. A ODR surgiu
originalmente em meados da década de 90 como uma resposta a disputas decorrentes
da expansão do comércio eletrônico. Durante esse período a web estava se expandindo
para usos comerciais, tornando-se um espaço ativo, criativo, crescente e, às vezes,
lucrativo. Um ambiente assim, com um número significativo de transações e interações
(onde os relacionamentos são facilmente formados e facilmente rompidos), parecia
suscetível de gerar disputas. Ao mesmo tempo, também ficou claro que as divergências
emergentes das atividades on-line não podiam ser resolvidas pelos canais off-line
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Jurimetria e tecnologia: diálogos essenciais com o direito
processual

tradicionais. Com as partes provavelmente afastadas uma da outra e incapazes de se


encontrar cara a cara, essas novas disputas só poderiam ser resolvidas on-line. Isso
significava que novas ferramentas e recursos que exploravam os recursos de
comunicação digital e processamento de informações pelos computadores tinham que
56
ser desenvolvidos.” (tradução livre)

O surgimento do ODR, contudo, não se relaciona de forma direta com os meios


integrados de resolução de conflito, pois “originalmente, a intenção do ODR não era
deslocar, desafiar ou romper um regime legal existente ou processos de ADR
conhecidos. Em vez disso, sua meta era preencher o vácuo envolvendo disputas on-line
onde o direito estava ausente ou era inadequada” (tradução livre).

Também é incorreto pensar que o ODR esteja diretamente relacionado à criação de um


software para gerenciamento de litígios. Isso porque, conforme explica Rule, a utilização
de algum meio tecnológico para solução de um conflito já se caracterizaria como ODR:

“ODR pode ser rudimentar quanto se usa o e-mail para marcar uma reunião cara-a-cara
com um terceiro, ou tão extensivo quanto a inscrição de um júri online para ouvir os
argumentos do advogado que representa os litigantes. ODR pode envolver processos de
negociações automatizados gerenciados por computador, ou pode fornecer especialistas
de classe mundial para administrar procedimentos de arbitragem vinculativos. Os
sistemas de ODR podem ser legalistas e baseados em precedentes, como os tribunais,
ou mecanismos flexíveis de tratamento de exceções para funcionar como uma extensão
dos esforços de atendimento ao cliente. ODR pode ser um sistema de gerenciamento de
relacionamento com o cliente multimilionário ou um website de $75 dólares criado para
ajudar um mediador na administração de um pequeno caso. Qualquer uso da tecnologia
para complementar, apoiar, ou administrar um processo de resolução de disputa cai no
57
mundo do ODR.” (tradução livre)

Na atualidade, o ODR é a área de resolução de disputas que mais cresce e ganha novas
aplicações, incluindo até disputas de maior valor.

Fato é que a utilização do ODR possui capacidade de redimensionar as demandas dos


Tribunais, e assim tem sido feito nos Estados Unidos e em outros países. A Comissão
Europeia, por exemplo, disponibiliza um sistema de Online Dispute Resolution no qual
consumidores e comerciantes da União Europeia, da Islândia, da Noruega e de
Lichtenstein podem apresentar uma queixa, relacionada à um serviço e encontrar uma
58
entidade de resolução de litígios adequada ao caso.

Para apresentar uma reclamação, basta que o usuário preencha o formulário na


plataforma. Após aceitar a utilização do sistema, as partes possuem 30 dias para chegar
em um acordo sobre qual entidade resolverá o problema. O próprio sistema cuida de
oferecer a lista de entidades de resolução de litígios (devidamente separada por assunto,
59
como educação, consumo, saúde...).

Todavia, o principal sistema, considerando os softwares de ODR, em uso é o do site de


comércio eletrônico eBay, que por ter sido desenvolvido em um ambiente com vasta
informação de dados:

“[...] tinham a vantagem de ter um massivo número de disputas e o poder da


computação interativa. Eles foram capazes de encontrar padrões e problemas repetidos,
e como eles foram geralmente resolvidos. Eles foram capazes de acompanhar a
satisfação do cliente com o processo, ainda que em pequenos problemas. Isto permitiu a
60
correção e redesenho contínuos, com resultados imediatos e mensuráveis.” (tradução
livre)

Como relatam Rule (precursor do sistema MODRIA do Ebay) e Katsch:

“Estima-se que de 3% a 5% das transações de comércio eletrônico terminem em


disputa. Para sites sem um sistema de feedback ou reputação que os usuários podem
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Jurimetria e tecnologia: diálogos essenciais com o direito
processual

consultar antes de fazer uma compra, a porcentagem seria ainda maior. Os sistemas de
reputação permitem que os usuários façam julgamentos sobre quais vendedores
oferecem a maior chance de uma transação bem-sucedida e, portanto, o menor risco de
uma disputa. Com base no volume global de transações de comércio eletrônico, isso
significa que existem provavelmente mais de 700 milhões de disputas de comércio
eletrônico a cada ano, crescendo para mais de um bilhão de disputas por ano em 2017.
A meta para um grande mercado de comércio eletrônico como o eBay, no entanto, não é
resolver um número excepcionalmente grande de disputas. O objetivo é maximizar o
número de transações bem-sucedidas, e a solução de disputas é essencial para
aumentar esse volume. Ao monitorar o comportamento de compra e venda dos usuários
e estender o lado especializado do triângulo, o eBay pode fornecer resoluções rápidas e
justas que incentivam os compradores a se envolverem em mais transações. Essa coleta
e análise dos dados gerados por um número muito grande de disputas podem permitir
técnicas e abordagens que não são possíveis na resolução de disputas offline presencial.
No mundo das RAMs, vários estudos mediram as taxas de satisfação dos usuários de
diferentes sistemas de RAMs. Na realidade, essas são medidas que derivam do que as
partes dizem sobre como se sentem depois de participar de uma mediação ou
arbitragem. Empresas como o eBay, tendo acesso a cada clique feito por um usuário,
podem examinar a satisfação de uma maneira diferente e mais granular. Em 2010, o
eBay e o PayPal realizaram um estudo que não tinha a intenção de medir a satisfação da
maneira tradicional, pesquisando os participantes antes e depois de participar de um
processo de resolução de disputas. Em vez disso, ele compararia o comportamento real
dos participantes antes e depois do processo, algo que poderia ser facilmente medido
com os dados que eles coletavam rotineiramente. Em outras palavras, o eBay não
analisaria o que os usuários diziam, mas suas ações como compradores ou vendedores
após a participação. Em um processo de resolução de disputas online. O eBay atribuiu
aleatoriamente centenas de milhares de usuários a dois grupos e comparou o
comportamento de compra e vendedor por três meses antes e depois da experiência
com o ODR. Essa taxa de atividade indicava não apenas quão mais ou menos ativa a
parte se tornou no site após vencer ou perder uma disputa, mas também poderia
calcular quanto a empresa ganhou ou perdeu financeiramente como resultado de alguém
participando da experiência de ODR. Isso foi feito sabendo o valor de cada transação na
qual a pessoa se envolveu antes e após o processo de resolução de disputas. Os
projetistas do estudo haviam levantado a hipótese de que as partes que ‘vencessem’ sua
disputa (por exemplo, recebiam um reembolso) aumentaram a atividade e que partes
que ‘perdessem’ a disputa teriam diminuído a atividade. Supunha, em outras palavras,
que as partes vencedoras ficariam mais satisfeitas do que as partes perdidas e
ajustariam o volume de transações de acordo. Isso ocorreu; mas a lição mais
significativa do estudo, e a mais contraintuitiva, foi que a participação no processo de
ODR levou a um aumento da atividade mesmo dos perdedores. O que foi encontrado foi
o seguinte: [os] únicos compradores que diminuíram suas atividades após a primeira
disputa foram compradores para os quais o processo levou muito tempo, mais de seis
semanas. Esta lição confirmou o feedback que ouvimos anteriormente, indicando que os
compradores preferem perder o caso rapidamente, em vez de o processo de resolução
continuar por um longo período de tempo. O sistema de ODR do eBay atende aos três
lados do triângulo. Os poucos cliques necessários para registrar uma reclamação
aumentam a conveniência, a capacidade de analisar dados, extrair informações não
acessíveis anteriormente e usar esses dados para melhorar a experiência do usuário
fornece um tipo de conhecimento não possível com sistemas que dependem de trabalho
humano. Confiança é, em certo sentido, o objetivo principal e abrangente e os dados
sobre padrões de uso podem trazer à luz novas informações sobre o que é necessário
para criar confiança e atrair e manter usuários. É também, de certa forma, apoio
61
tecnológico à máxima ‘justiça atrasada é justiça negada’.” (tradução livre)

Apesar de usada pelo eBay, importante ressaltar que a ODR não fica restrita aos casos
62
de direito do consumidor , mas se estende a inúmeros outros tipos de demandas. Neste
sentido é possível citar o projeto holandês denominado de Rechtwijzer, que deu origem
63
ao “Justice42” , que em sua segunda versão contava com módulos para resolução de
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Jurimetria e tecnologia: diálogos essenciais com o direito
processual

64
litígios relacionados ao divórcio, a débitos e ao consumo .

Para a ODR, a estatística pode ser aplicada de várias formas, por exemplo: a) para a
análise de como os magistrados decidiram casos anteriores (como se fez anteriormente,
quantificando o valor de condenação em danos morais) para que se programe limites
ótimos das propostas automáticas que o algoritmo possa ofertar às partes numa
autocomposição, de modo a se estabelecer até que valor o acordo seria vantajoso; b)
65
como forma de analisar o próprio software de ODR, assim como foi feito pelo eBay .

Assim, levando em consideração o sistema da Comissão Europeia, interessante notar


que embora não utilize da estatística para propor uma solução ao problema, visto que o
sistema remete o litígio a uma entidade de solução de controvérsias devidamente
selecionada pelas partes e cadastrada no site, emprega do estudo empírico como forma
de análise da própria plataforma. Com a criação de um panfleto direcionado ao
66
comerciante, visando sua integração ao sistema, a Comissão Europeia informa dados
básicos do sistema, como número de queixas por mês (marcando o aumento de
demanda durante o período natalino) e os setores com o maior número de queixas na
67
plataforma.

Outro relatório gerado é o ciclo de vida da reclamação que indica quantas controvérsias
foram resolvidas ou não. A título de exemplo, no primeiro ano de funcionamento, o
sistema foi responsável pela solução (direta ou indiretamente) de aproximadamente
68
44% das reclamações. Outros relatórios também podem ser consultados na plataforma
da Comissão Europeia, de modo a confirmar uma das utilizações da estatística nos
sistemas de ODR.

Por fim, ainda que as peculiaridades dos casos a serem resolvidos sejam singulares
Barton e Bibas afirmam que com o tempo o software de ODR poderá se aprimorar:

“[...] E se um número considerável dessas disputas pudesse ser tratado por meio do
ODR, os dados sobre quais e como os casos seriam resolvidos se tornariam mais ricos, e
os programas de ODR ficariam ainda melhores. Os computadores tornam possível coletar
69
e usar os dados em um ciclo de feedback positivo, melhorando o processo.” (tradução
livre)

É certo que a união de meios integrados de solução de conflito e tecnologia,


consubstanciada nas ODRs, implica no afastamento de barreiras geográficas e merece
um estudo apartado, sendo que sua ligação com a Jurimetria é indiscutível.

5. Análise inferencial dos dados e a controvérsia da análise preditiva do Direito

Certamente a parte mais controversa da análise estatística do Direito é análise preditiva,


ou estatística inferencial que de acordo com Guedes Nunes consiste em:

“[...] área que estuda como certas conclusões podem ser logicamente induzidas a partir
da análise de um conjunto de dados sujeitos a uma variação aleatória. A estatística
referencial complementa a descritiva. Enquanto esta resume, explora e descreve os
dados, aquela faz afirmações que vão além da mera descrição dos dados, como, por
exemplo, (i) inferências sobre uma população (caso os dados constituam uma amostra),
(ii) previsões sobre o comportamento futuro das variáveis e (iii) reconhecimento de
70
tendências, associações e correlações nas variáveis.”

Assim, ao ponto que a estatística descritiva busca o estudo retrospectivo, a inferencial se


voltará a realizar prospecções. Portanto a descrição seria, por exemplo, o estudo do
conjunto de sentenças proferidas por um magistrado. Por sua vez, a inferência seria
entender de quais maneiras o magistrado julgará futuros casos similares tendo como
base como já atuou em casos análogos.

Em outras palavras, a análise preditiva, ou inferencial, equivaleria a dizer, a partir de


variáveis pré-selecionadas, como o juiz irá potencialmente decidir. Aqui se encontra o
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Jurimetria e tecnologia: diálogos essenciais com o direito
processual

maior grau de previsibilidade do resultado futuro. Entretanto, é necessária a


compreensão de que:

“[...] por serem estocásticos, os processos jurídicos não evoluem em um único sentido.
A utilização da inferência Estatística na investigação das relações dos estados passado e
presente com possíveis estados futuros de um processo é a essência da análise
prospectiva da Jurimetria. Sua dinâmica temporal aponta sempre para dois ou mais
71
resultados possíveis, correspondentes a uma distribuição de probabilidades.”

Exatamente na previsão da resposta jurisdicional é que se acumulam a maioria das


críticas à estatística inferencial, comumente associada à inteligência artificial ou aos
programas de computador. É que pela dificuldade em realizar a análise manual dos
dados e os cálculos necessários para predizer resultados, ressalta-se a vantagem de
utilização das máquinas para tanto. Como já se pontuou, fornece-se um mecanismo para
acessar uma vasta quantidade de informações e sistematizá-las de modo a extrair um
resultado provável do caso em questão. Nesse sentido, pela predição dos resultados, o
litigante poderá escolher a melhor maneira de atuar em um determinado caso, o que
72
certamente pode acarretar diminuição de custos internos.
73
Entretanto, é fato que o uso de tal técnica aumenta a disparidade entre os litigantes,
sobretudo quanto aos habituais. Em suporte ao afirmado, percebe-se que alguns
escritórios de advocacia que lidam com massivo, e que já contam com uma quantidade
considerável de dados de processos passados, já utilizam tais técnicas como modo de
obterem decisões em seu favor ou mesmo criarem mecanismos de ODR, com os dados
parametrizados, de modo a obter acordos vantajosos a seus constituintes pelo simples
fato de saberem os limites ótimos de valores de potenciais futuras sentenças. Basta se
pensar que ao saber que um juiz em média fixa uma indenização por dano moral no
valor de R$ 11.000,00 (onze mil reais) (como na pesquisa anteriormente realizada)
poder-se-ia programar uma ODR que ofertasse até 70% de tal valor eletronicamente
(via bots) e se reduziria de modo sensível os gastos com tais pagamentos indenizatórios.

Ademais, especialmente em face dos litigantes habituais, que veem no Judiciário um


modo de satisfazer suas próprias necessidades, seja propondo ações ou utilizando de
todos os mecanismos possíveis para postergar ou minimizar os prejuízos econômicos
decorrente de processos em que se qualificam como réus, a análise preditiva pode se
tornar instrumento de mera decisão estratégica.
74
Analisando um caso conhecido (da JBM Advogados), Ravagnani apresenta um exemplo
da questão:

“Descoberta a nova ação, também com o auxílio da base de dados pertencente ao JBM,
com boas técnicas de Jurimetria, o grande litigante que contratar tal escritório poderá
verificar se, na comarca em que for ajuizada a ação, existem boas chances de sucesso
de sua defesa, buscando saber como será a decisão de determinado juiz a respeito de
75
determinada matéria, com uma também determinada empresa.”

Até mesmo em relação aos métodos integrados de solução de conflito a adoção de


técnicas de Jurimetria, com uso da estatística inferencial, tem feito com que os grandes
litigantes forcem acordos que não são benéficos para a parte. Desse modo, explica
Ravagnani:

“O resultado de tal estratégia, de acordo com José Edgard Bueno, foi positivo para o
grande litigante: (i) ao receberem tais propostas de acordos, os Juízes empreendem
esforços para que a parte contrária faça o acordo; (ii) quando não era possível a
composição amigável, os juízes tendem a condenar o grande litigante naquele valor que
entendia correto, respaldado no laudo apresentado; (iii) foi diminuído o índice de
condenação do grande litigante; e (iv) nos casos em que o cliente não reconhecia o
pedido e não apresentava com essa postura agressiva de fazer acordo, o juiz começou a
76
ler a argumentação da empresa, retirando-o da vala comum.”
Página 20
Jurimetria e tecnologia: diálogos essenciais com o direito
processual

Por essas razões, a crítica sobre a análise preditiva vem aumentando. Na França, o
debate em torno da predição de resultados acarretou recentemente na modificação do
art. 10 do Código de Justiça Administrativa, por meio da lei 2019-22. Tal artigo, disposto
no título preliminar do Código, passou a prever sanção aos que utilizarem os dados do
Judiciário para predizer o comportamento de um magistrado:

“Os dados de identidade dos magistrados e dos membros do registro não podem ser
objeto de uma reutilização tendo como objeto ou efeito a avaliação, análise, comparação
ou predição de suas práticas profissionais reais ou supostas. A violação desta proibição é
punida com as penas previstas nos artigos 226-18, 226-24 e 226-31 do Código Penal,
sem o prejuízo de medidas e sanções previstas pela lei 78-17 de 6 de janeiro de 1978
77
relativa à informática, aos arquivos e as liberdades.” (tradução livre)

A alteração da lei francesa aparenta ser uma reação protetiva à estatística inferencial e
merece análise em apartado. Contudo, a opção legislativa parece contrariar a primeira
parte do mesmo artigo que afirma que os “Julgamentos são públicos. Eles mencionam os
78
nomes dos juízes que os retornaram” .

Apesar de a Jurimetria não se resumir à análise preditiva, sendo esta apenas uma parte
daquela, seria ingenuidade pensar que esta seria usada sem visar finalidades
estratégicas pelas partes e seus advogados, para que encontrem a saída mais
satisfatória, acarretando, em verdade, um potencial aumento de demandas nos
tribunais.

O exemplo da utilização da Jurimetria pelo escritório JBM, analisado por Ravagnani,


demonstra de forma clara como não somente a Jurimetria pode ser utilizada para
congestionar os tribunais, de modo totalmente diverso ao proposto por este trabalho,
mas como forma de bloquear o acesso à Justiça da parte contrária, visto que esta se vê
79
restrita à estratégia adotada pelo ex adverso. O problema se centra na paridade de
armas entre os litigantes onde a balança pesa para aquele que possui recursos
financeiros e humanos para entender o funcionamento dos tribunais e controlar as
litigiosidades

Contudo, não se percebe nisso um problema do uso da Jurimetria em si, mas no


comportamento das partes e de seus “mentores”. Isso porque o controle do litígio pelos
grandes players não é feito somente por parte da Jurimetria, ocorrendo inclusive por
80
meio da descaracterização de ferramentas processuais como no IRDR da Samarco.

Assim muito embora todos os pontos devam ser extensivamente discutidos, é inegável
que a estatística já está sendo utilizada por litigantes de grande poder aquisitivo que não
possuem interesse em abdicar da técnica em prol “do resultado correto” da demanda.
Desse modo, entende-se que o conhecimento da Jurimetria se torna ainda mais
essencial a qualquer operador do Direito, de modo que, no mínimo, consiga entender o
novo cenário que se forma.

Considerações finais

Ao longo deste trabalho, tentou-se demonstrar como a Jurimetria pode ser utilizada
pelos profissionais de nossa área, em especial os advogados. Principalmente,
pretendeu-se exemplificar como a metodologia estatística pode auxiliar em variadas
aplicações que podem proporcionar algum aprimoramento do sistema jurídico.

Essas aplicações se fundamentam no poder que os dados obtidos empiricamente têm em


orientar as partes e seus advogados em negociações. Munidos de informações sobre o
modo de decisão de outros casos semelhantes, os profissionais podem auxiliar as partes
ao demonstrar o entendimento de um tribunal em relação aos seus pedidos de maneira
mais precisa, mitigando alguns vieses cognitivos. Ainda, em caso de conciliação, é
possível que o advogado proponha uma solução ao litígio, considerando sempre o
interesse das partes.
Página 21
Jurimetria e tecnologia: diálogos essenciais com o direito
processual

Por outro ângulo, a análise estatística do Direito também é de extrema utilidade no


cenário de resoluções de disputas online, ou Online Dispute Resolution (ODR), já
amplamente empregada por sites de vendas como o eBay. Nesses casos, a estatística
teria duplo objetivo: entender como os tribunais julgam a causa e fornecer parâmetros
para as partes chegarem a um acordo, de forma semelhante à atuação do advogado.

Contudo, não se deve apenas pensar na Jurimetria como ferramenta de celeridade de


resolução de demandas. Em verdade, embora a resolução rápida da demanda seja
desejável, não é possível que seja buscada a qualquer custo. Desse modo, não se
pretende aqui vincular a solução de um caso à análise empírica de decisões anteriores.

É evidente que a hiperjudicialização preocupa não somente os estudiosos da área, mas a


sociedade como um todo. Entretanto, a persecução exclusiva de celeridade trará mais
prejuízos que benefícios.

Apesar dos inúmeros alertas, nota-se que grandes litigantes já utilizam da Jurimetria
como forma de litigância estratégica, por meio da análise preditiva do Direito, chegando
inclusive a influenciar na decisão do magistrado. O pensamento estratégico dos grandes
players, contudo, não se resume à utilização da Jurimetria, visto que no caso Samarco o
Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas foi empregado com finalidade
estratégica.

Em relação à análise preditiva, ou inferencial, do Direito algumas reações já são


percebidas. Na França, por exemplo, a predição de resultados jurídicos se tornou crime
após março deste ano.

Além de críticas de fundo, aqui pouco abordadas, o emprego da metodologia estatística,


em especial no que toca à estatística inferencial traz consigo a preocupação com a
manipulação da decisão, a disparidade de armas entre as partes e o aumento de
demandas aos tribunais.

Entretanto, apesar das discussões serem benéficas e necessárias, não se contempla a


possibilidade dos grandes litigantes deixarem de atuar de forma estratégica. Deste
modo, a importância do estudo da Jurimetria se sobressai.

Para tanto é necessário lembrar que embora o estudo empírico do Direito não dependa
de instrumentos sofisticados, mas, em larga escala, a Jurimetria seria melhor aplicada
com auxílio de algoritmos computacionais. Contudo, ainda que existam empresas que se
dediquem à venda destes, sublinha-se que não há como garantir a precisão dos
resultados.

Isso porque as decisões judiciais são dados não estruturados, exigindo para sua
estruturação a Extração de Informação. O processo de entender o significado de um
dado e categorizá-lo, além de ser problema em análise na ciência da computação,
depende da formação de um conjunto de dados sobre determinado tema, no caso, sobre
os temas jurídicos (corpus). Por sua vez, a formação deste conjunto (dataset) está
diretamente ligada ao trabalho humano, pelo menos em estágio inicial, visto que este
supervisiona o entendimento da máquina quanto à categorização de uma palavra.

É fato que a real implementação de um sistema capaz de analisar descritivamente ou


inferir dados encontra obstáculos operacionais, seja realizado de forma manual ou
computacional. Todavia, tanto os percalços encontrados quanto as críticas feitas à
Jurimetria não podem escusar o jurista de entendê-la, visto que o estudo estatístico
permite complementar o estudo do Direito, em especial no tema dos meios integrados
de solução de conflito.

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2014.

1 NUNES, Dierle José Coelho; LUD, Natanael; PEDRON, Flávio Quinaud. Desconfiando da
(Im)parcialidade dos Sujeitos Processuais: um estudo sobre os vieses cognitivos, a
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Jurimetria e tecnologia: diálogos essenciais com o direito
processual

mitigação de seus efeitos e o debiasing. Salvador: JusPodivm, 2018. p. 62.

2 THEODORO JÚNIOR, Humberto; NUNES, Dierle José Coelho; BAHIA, Alexandre Melo
Franco. Novo CPC: fundamentos e sistematização. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p.
262.

3 Ressalta-se que embora o relatório tenha sido publicado em 2018 pelo Conselho
Nacional de Justiça, tem como ano base os dados de 2017. CONSELHO NACIONAL DE
JUSTIÇA. Justiça em Números. Brasília: CNJ, 2018. p.78.

4 Ibidem, p. 28.

5 THEODORO JÚNIOR, Humberto; NUNES, Dierle José Coelho; BAHIA, Alexandre Melo
Franco. Novo CPC: fundamentos e sistematização. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p.
261.

6 Cf. NUNES, Dierle José Coelho; TEIRXEIRA, Ludmila. Acesso à justiça democrático. RJ:
Gazeta, 2013.

7 BARTON, Benjamin H; BIBAS, Stephanos. Rebooting Justice: More technology, fewer


lawyers, and the future of law. New York: Encounter Books, 2017. p. 113.

8 CASTRO, Ricardo Medeiros de. Direito, econometria e estatística. Tese (Doutorado) –


Curso de Direito, Universidade de Brasília, Brasília, 2017. p. 9.

9 LOEVINGER, Lee. Jurimetrics: the next step forward. Minnesota Law Review, v. 33,
abr. 1949. LOEVINGER, Lee. Jurimetrics: the method of legal inquiry. Heidi Online, 1963.

10 “It must not be imagined that jurimetrics promises any panaceas. The story of man’s
progress is full of nostrums, but devoid of panaceas, and there’s no reason to think that
we may discover one now. Jurimetrics promises no more than an opportunity for law to
move forward along the same rocky road that all the other disciplines have already
travelled”.

11 NUNES, Marcelo Guedes. Jurimetria: como a estatística pode reinventar o direito. São
Paulo: Ed. RT, 2016. p. 103.

12 Ibidem, p. 115-116.

13 O trabalho anterior intitulado “Os Maiores Litigantes da Justiça Consumerista:


Mapeamento e Proposições”, realizado em setembro de 2017 que serviu de base para a
pesquisa quantitativa deste trabalho foi realizado pela a ABJ (Associação Brasileira de
Jurimetria), inspirada no grande número de demandas propostas na Seara do Direito do
consumidor e que analisou quais eram os maiores litigantes em ações consumeristas nos
tribunais estaduais do Amazonas, São Paulo, Bahia, Distrito Federal, Mato Grosso, Rio de
Janeiro e Rio Grande do Sul. Ademais, o mesmo estudo apresentou tabela de ‘causas de
pedir’ mais frequentes contra os principais litigantes. Dentre os listados, a indenização
por dano moral por cadastro indevido em órgãos de proteção ao crédito se destacou em
todos os tribunais analisados. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE JURIMETRIA. Os maiores
litigantes da justiça consumerista: mapeamento e proposições. São Paulo: ABJ. 2017.
Disponível em: [https://abj.org.br/cases/].

14 A pesquisa de sentenças no Tribunal de Justiça de Minas Gerais pode ser acessada


em [https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/sentenca.do].

15 Os anexos referentes à pesquisa podem ser consultados em:


Página 26
Jurimetria e tecnologia: diálogos essenciais com o direito
processual

https://www.academia.edu/41155166/Anexo_ao_texto_Jurimetria_e_Tecnologia_diálogos_essenciais_c

16 Considerados julgados inservíveis aqueles que se enquadram em alguma das


categorias: a) Não julgados no ano de 2018; b) Não julgados em varas cíveis; c) Não se
relacionavam ao caso proposto; d) Arquivos repetidos no banco de dados.

17 Abaixo breve explicação sobre as variáveis selecionadas para análise no molde


“Variável: Explicação, Tipo de variável”:

Processo nº [Chave]: A numeração única do processo é a chave do banco de dados, ou


seja, o item de identificação de cada um dos casos analisados, Texto.

Vara: Indicador de qual vara cível tramitou o processo, Texto.

Magistrado: Nome do magistrado que proferiu a sentença, Texto.

Magistrado em cooperação: Indica se o magistrado proferiu a sentença em cooperação


ou não. Tal indicador surgiu após a percepção de que grande parte dos casos analisados
foram decididos por juízes em cooperação, Booleana (Verdadeiro ou Falso).

Data do Julgado: Indica o momento em que a sentença foi proferida, Texto.

Autor: Nome do autor, Texto.

Classificação Autor: Se o Autor é Pessoa Física ou Jurídica, Texto.

Réu: Nome do Réu, Texto.

Classificação Réu: Se o Réu é Pessoa Física ou Jurídica, Texto.

Sentença Condenatória (Danos Morais): Indica se o pedido de condenação ao


pagamento de indenização por danos morais, formulado pelo Autor, em decorrência de
cadastro indevido aos órgãos de proteção ao crédito foi provido ou não, Booleana
(Verdadeiro ou Falso).

Valor: Caso a variável acima tenha retorno verdadeiro, qual valor da condenação em
reais, Numeral.

Súmula 385: Responde à pergunta: Caso a variável “Sentença Condenatória (Danos


Morais)” tenha resultado falso, a improcedência do pedido decorreu apenas da aplicação
da Súmula 385 do STJ, Booleana (Verdadeiro ou Falso)

Débito comprovado: Responde à pergunta: Em caso da variável acima (Súmula 385) ser
falsa, a improcedência ocorreu em razão da comprovação do débito, Booleana
(Verdadeiro ou Falso).

Outro motivo: Indica que outro motivo, não previamente estipulado, foi causa total da
improcedência do pedido de condenação ao pagamento de danos morais. Booleana
(Verdadeiro ou Falso).

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Jurimetria e tecnologia: diálogos essenciais com o direito
processual

Observações: Campo propício para indicar quaisquer outras informações úteis à análise e
não previamente determinadas, Texto.

18 Esta súmula dispõe que: “Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito,
não cabe indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado
o direito ao cancelamento”. Superior Tribunal de Justiça. Súmula 385. Da anotação
irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral,
quando preexistente legítima inscrição, ressalvado direito ao cancelamento. Diário da
Justiça eletrônico: seção 2, Brasília, DF,2009, ed. 379, 27 de maio de 2009. Ou seja, nos
casos em que o autor já possuía outra inscrição o pedido de condenação ao pagamento
de indenização por danos morais era julgado improcedente.

19 Na definição de Mário Triola: Um histograma é um gráfico que consiste em barras de


mesma largura e desenhadas adjacentes umas às outras (a menos que haja lacunas nos
dados). A escala horizontal representa classes de valores de dados quantitativos e a
escala vertical representa frequências. As alturas das barras correspondem aos valores
das frequências. TRIOLA, Mário. Introdução à Estatística. 12. ed. Rio de Janeiro: LTC,
2017. p. 52.

20 Ibidem, p. 119.

21 Valores disponíveis nos anexos


https://www.academia.edu/41155166/Anexo_ao_texto_Jurimetria_e_Tecnologia_diálogos_essenciais_c

22 As medidas foram calculadas utilizando as fórmulas predeterminadas no Google


Spreadsheets.

23 TRIOLA, Mário. Introdução à estatística. 12. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017.

24 Ibidem, p. 119.

25 O cálculo da média sem os valores atípicos apresentado no Anexo 03 disponível


em:https://www.academia.edu/41155166/Anexo_ao_texto_Jurimetria_e_Tecnologia_diálogos_essencia

26 “Art. 86. Se cada litigante for, em parte, vencedor e vencido, serão


proporcionalmente distribuídas entre eles as despesas.

Parágrafo único. Se um litigante sucumbir em parte mínima do pedido, o outro


responderá, por inteiro, pelas despesas e pelos honorários.” Lei 13.105, de 16 de março
de 2015 – Código de Processo Civil.

27 MCGINNIS, John; PEARCE, Russel. The great disruption: how machine intelligence will
transform the role of lawyers in the delivery of legal services. Fordham Law Review, v.
82, 2014, p. 3046.

28 Ibidem, p. 3052.

29 Idem.

30 NUNES, Dierle José Coelho; MARQUES. Inteligência artificial e direito processual:


vieses algorítmicos e os riscos de atribuição de função decisória às máquinas. Revista de
Processo, v. 285, nov./2018.

31 Processo pelo qual computadores pesquisam banco de dados e extraem informações


estruturadas.

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Jurimetria e tecnologia: diálogos essenciais com o direito
processual

32 MCGINNIS, John; PEARCE, Russel. The great disruption: how machine intelligence will
transform the role of lawyers in the delivery of legal services. Fordham Law Review, v.
82, 2014, p. 3047.

33 MELO, Fabrício Silva. Extração de relações a partir de dados não estruturados


baseada em deep learning e supervisão distante. Dissertação (Mestrado) – Curso de
Ciência da Computação, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2018. p. 11.

34 MENEZES, Daniel Specht Silva. Reconhecimento de entidades mencionadas para o


português. Dissertação (Mestrado) – Curso de Informática, Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018. p. 12.

35 Ibidem, p. 19.

36 NUNES, Dierle José Coelho; BAHIA, Alexandre Gustavo Melo Franco. Eficiência
processual: algumas questões. Revista de Processo, São Paulo: Ed. RT, v. 34, n. 169, p.
116-139, mar. 2009, p. 135.

37 COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS, 2004 apud ASPERTI,


Maria Cecília de Araújo. Meios consensuais de resolução de disputas repetitivas: a
conciliação, a mediação e os grandes litigantes do Judiciário. Dissertação (Mestrado) –
Curso de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. p. 20.

38 SADEK, Maria Tereza. Judiciário: mudanças e reformas. Estudos Avançados, v. 18, n.


51, p. 79-101, ago. 2004. FapUNIFESP (SciELO).

39 Ibidem, p. 85.

40 WATANABE, Kazuo. Acesso à Justiça e meios consensuais de solução de conflitos. In:


ALMEIDA, Rafael Alves de; ALMEIDA, Tania; CRESPO, Mariana Hernandez. Tribunal
multiportas: Investimento no capital social para maximizar o sistema de solução de
conflitos no Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2012. p. 87-94.

41 THEODORO JÚNIOR, Humberto; NUNES, Dierle José Coelho; BAHIA, Alexandre.


Breves considerações da politização do judiciário e do panorama de aplicação no direito
brasileiro – Análise da convergência entre o civil law e o common law e dos problemas
da padronização decisória. Revista de Processo, São Paulo: Ed. RT, v. 189, p. 3, nov.
2010. NUNES, Dierle José Coelho. Processualismo constitucional democrático e o
dimensionamento de técnicas para a litigiosidade repetitiva. A litigância de interesse
público e as tendências “não compreendidas” de padronização decisória. Revista de
Processo, São Paulo: Ed. RT, v. 199, p. 38, set. 2011.

42 PRÜTTING, Hanns. Nuevas tendencias en el proceso civil alemán. Gênesis, Revista de


Direito Processual Civil, n. 41, p. 201-208, jan.-jun. 2007.

43 CHASE, Oscar. Direito, cultura e ritual: sistemas de resolução de conflitos no contexto


da cultura comparada. São Paulo: Marcial Pons, 2014. p. 137.

44 Ibidem, p. 147-148.

45 SILVA, Érica Barbosa. A efetividade da prestação jurisdicional civil a partir da


conciliação. Tese (Doutorado) – Curso de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo,
2012. p. 54.

46 THEODORO JÚNIOR, Humberto; NUNES, Dierle José Coelho; BAHIA, Alexandre Melo
Franco. Novo CPC: fundamentos e sistematização. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p.
274.
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Jurimetria e tecnologia: diálogos essenciais com o direito
processual

47 LESSA NETO, João Luiz. O novo CPC adotou o modelo multiportas!!! E agora? Revista
de Processo, São Paulo: Ed. RT, v. 244, p.427-441, jun. 2015. p. 428.

48 NUNES, Dierle José Coelho. Processo jurisdicional democrático: uma análise crítica
das reformas processuais. Curitiba: Juruá, 2012. p. 257.

49 É que como a autora explica sobre o papel do advogado: “Se a via escolhida for a
consensual, compete ao advogado orientar o cliente, fazendo uma verdadeira avaliação
da situação concreta, que ofereça mensuração razoável do que pretende. Com a correta
preparação para os meios consensuais, as partes estarão mais propensas à influência de
uma negociação pautada pela busca de resoluções integrativas.” SILVA, Érica Barbosa. A
efetividade da prestação jurisdicional civil a partir da conciliação. Tese (Doutorado) –
Curso de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. p. 288.

50 Por exemplo, a análise empírica realizada no TJMG (ver item 3) não só permite que o
advogado entenda os tribunais de modo a não se aventurarem na redação dos pedidos,
mas também, e principalmente, demonstra um possível caminho a ser seguido, ou ao
menos considerado, se a via escolhida for a conciliatória.

51 SILVA, Érica Barbosa. A efetividade da prestação jurisdicional civil a partir da


conciliação. Tese (Doutorado) – Curso de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo,
2012. p. 288.

52 Entretanto, em relação a essa última (conciliação), o advogado ainda pode atuar de


uma outra maneira. É que conforme explica Érica Silva: “O papel do advogado na sessão
de conciliação não deve relacionar-se apenas à orientação jurídica da parte, mas
estender-se e criar propostas que atendam aos interesses das partes”. Deste modo,
entendendo de maneira mais aprofundada o modo com que o caso é ordinariamente
julgado é certo que o causídico poderá criar propostas que levem os interesses das
partes. Ibidem.

53 NUNES, Dierle José Coelho; LUD, Natanael; PEDRON, Flávio Quinaud. Desconfiando
da (im)parcialidade dos sujeitos processuais: um estudo sobre os vieses cognitivos, a
mitigação de seus efeitos e o debiasing. Salvador: JusPodivm, 2018. p. 50.

54 Idem.

55 Ibidem, p. 62.

56 No original: “Online Dispute Resolution (ODR) is the application of information and


communications technology to the prevention, management, and resolution of disputes.
1 ODR originally emerged in the mid-1990s as a response to disputes arising from the
expansion of eCommerce. 2 During that time the web was extending into commercial
uses, becoming an active, creative, growing, and, at times, lucrative space. Such an
environment, with significant numbers of transactions and interactions (where
relationships are easily formed and easily broken) seemed likely to generate disputes. At
the same time, it was also clear that disagreements emerging from online activities
could not be resolved through traditional offline channels. With parties likely to be at a
distance from each other and incapable of meeting face-to-face, these new disputes
could only be resolved online. This meant that new tools and resources that exploited
the capabilities of digital communication and information processing by computers had to
be developed.” KATSH, Ethan; RULE, Colin. What we know and need to know about
online dispute resolution. South Carolina Law Review, 2016, v. 67. p. 329.

57 No original: “ODR can be as rudimentary as using email to set up a face-to-face


meeting with a neutral, or as extensive as empaneling an online jury to hear a full set of
formal arguments from attorney representing the disputants. ODR can involve
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Jurimetria e tecnologia: diálogos essenciais com o direito
processual

automated negotiation processes administered by a computer, or it can provide


world-class experts to administer binding arbitration procedures. ODR systems can be
legalistic and precedent-based, like the courts, or flexible exception-handling
mechanisms to act as an extension to customer service efforts. ODR can be a
multimillion dollar customer relationship management system or a $75 website set up to
aid a mediator with the administration of a small case. Any use of technology to
complement, support, or administer a dispute resolution process falls into the world of
ODR.” RULE, Colin. Online Dispute Resolution for Business: B2B, E-Commerce,
Consumer, Employment, Insurance, and Other Commercial Conflicts. São Francisco:
Jossey-Bass, 2002. p.43-33.

58 COMISSÃO EUROPEIA. Sobre a Plataforma RLL. Disponível em:


[https://ec.europa.eu/consumers/odr/main/?event=main.home.howitworks]. Acesso
em: 20.07.2019.

59 Ibidem.

60 No original: “They also had the advantage of having a massive number of disputes
and the power of interactive computing. They were able to find patterns and repeated
issues, and how they were generally resolved. They were able to follow customer
satisfaction with the process, even for small problems. This allowed for continuous
tinkering and redesign, with immediate and measurable results.” BARTON, Benjamin H;
BIBAS, Stephanos. Rebooting Justice: More technology, fewer lawyers, and the future of
law. New York: Encounter Books, 2017. p. 112.

61 No original: “It has been estimated that from 3-5% of eCommerce transactions end
in a dispute. For sites without a feedback or reputation system that users can consult
before making a purchase, the percentage would be even greater. Reputation systems
allow users to make judgments as to which sellers provide the greatest chance of a
successful transaction, and therefore lowest risk of a dispute. Based on global
eCommerce transaction volume, that means there are likely more than 700 million
eCommerce disputes each year, growing to more than a billion disputes per year in
2017. The goal for a large eCommerce marketplace like eBay, however, is not to resolve
an exceptionally large number of disputes. The goal is to maximize the number of
successful transactions, and resolving disputes is essential to increasing that volume. By
monitoring the buying and selling behaviors of users and extending the expertise side of
the triangle, eBay can provide fast and fair resolutions that encourage buyers to engage
in more transactions. This collection and analysis of the data generated by very large
numbers of disputes can enable techniques and approaches that are not possible in
face-to-face offline dispute resolution. In the ADR world, various studies have measured
satisfaction rates of users of different ADR systems. In actuality, these are
measurements that derive from what the parties say about how they feel after
participating in a mediation or arbitration. Companies like eBay, by having access to
every click made by a user, can examine satisfaction in a different and more granular
manner. In 2010, eBay and PayPal conducted a study that was not intended to measure
satisfaction in the traditional manner, by surveying disputants before and after
participating in a dispute resolution process. Rather, it would compare the actual
behavior of participants before and after the process, something it could easily measure
with data they routinely collected. In other words, eBay would not look at what users
said but at their actions as buyers or sellers after participating in an online dispute
resolution process. EBay randomly assigned several hundred thousand users to two
groups and compared their buying and seller behavior for three months before and after
the ODR experience. This activity ratio indicated not only how more or less active the
party became on the site after winning or losing a dispute, but could also calculate how
much the company gained or lost financially as a result of someone participating in the
ODR experience. It did this by knowing the value of each transaction the person engaged
in before and after the dispute resolution process. The study designers had hypothesized
that parties who ‘won’ their dispute (e.g., received a reimbursement) would have
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Jurimetria e tecnologia: diálogos essenciais com o direito
processual

increased activity and that partie that ‘lost’ their dispute would have decreased activity.
It assumed, in other words, that parties that won would be more satisfied than parties
that lost and would adjust their transaction volume accordingly. This did occur; but the
most meaningful lesson of the study, and the most counter-intuitive, was that
participation in the ODR process led to increased activity even from the losers. What it
found was that: [t]he only buyers who decreased their activity after filing their first
dispute were buyers for whom the process took a long time, more than six weeks. This
lesson affirmed feedback we had heard previously indicating that buyers preferred to
lose their case quickly rather than have the resolution process go on for an extended
period of time. EBay’s ODR system is one that attends to all three sides of the triangle.
The few clicks necessary to file a complaint enhances convenience, the capability to
analyze data, extract information not previously accessible, and use that data to improve
the user experience provides a kind of expertise not possible with systems relying on
human labor. Trust is, in a sense, the overarching and primary goal and the data on
usage patterns can bring to light new information as to what is needed to build trust and
attract and maintain users. It is also, in a way, technological support for the maxim
‘justice delayed is justice denied’”. KATSH, Ethan; RULE, Colin. What we know and need
to know about online dispute resolution. South Carolina Law Review, v. 67, 2016. p.
333-335.

62 Concernente ao Direito do Consumidor ainda, ressaltam-se plataformas como o


“Reclame Aqui” e “Consumidor.gov.br” que embora não desempenhem a função de
gerenciamento automatizado do litígio, permitindo, em verdade, a conexão entre as
partes, encaixam-se no conceito de ODR proposto por Colin Rule.

63 Maiores informações disponíveis em: [www.justice42.com].

64 LINNEMAN, Danielle. Online Dispute Resolution for Divorce Cases in Missouri: A


Remedy for the Justice Gap. University of Missouri School of Law Scholarship Repository,
v. 2018, p. 281-297, 2018. Disponível em
[https://scholarship.law.missouri.edu/jdr/vol2018/iss1/17].

65 BARTON, Benjamin H; BIBAS, Stephanos. Rebooting Justice: More technology, fewer


lawyers, and the future of law. New York: Encounter Books, 2017. p. 112.

66 COMISSÃO EUROPEIA. Plataforma europeia de resolução de litígios em linha.


Comissão Europeia, 2018. Disponível em:
[https://ec.europa.eu/consumers/odr/resources/public2/documents/trader_info_stats/ODR_Trader_Info

67 Ibidem.

68 EUROPEAN COMMISSION. Report from the Comission to the report from the
commission to the European Parliament and the Council on the functioning of the
European Online Dispute Resolution. European Commission: Bruxelas, 2017. Disponível
em:
[https://ec.europa.eu/info/sites/info/files/first_report_on_the_functioning_of_the_odr_platform.pdf].

69 No original: “[...] And if substantial number of these disputes could be handled


through ODR, the data on which cases settle and how would become richer, and the ODR
programs would get even better. Computers make it possible to collect and use the data
in a positive feedback loop, ever improving the process. BARTON, Benjamin H; BIBAS,
Stephanos. Rebooting Justice: More technology, fewer lawyers, and the future of law.
New York: Encounter Books, 2017. p. 154.

70 NUNES, Marcelo Guedes. Jurimetria: como a estatística pode reinventar o direito. São
Paulo: Ed. RT, 2016. p. 62.

71 Ibidem, p. 157.
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Jurimetria e tecnologia: diálogos essenciais com o direito
processual

72 NUNES, Dierle José Coelho; MEDEIROS, Nathália. Inteligência artificial – litigantes


habituais e eventuais. Disponível em:
[https://www.conjur.com.br/2018-nov-20/opiniao-tecnologia-direito-litigantes-habituais-eventuais#sdfo
Acesso em: 21.05.2019.

73 Idem.

74 Trata-se de análise do sistema de gerenciamento de litígios da JBM Advogados que,


segundo o autor, permitiu o mapeamento geojurisprudencial possibilitando que o
escritório adotasse estratégias a médio e longo prazo para seus clientes cf. RAVAGNANI,
Giovani dos Santos. Automação da advocacia, gestão de contencioso de massa e
atuação estratégica do grande litigante. Revista de Processo, São Paulo: Ed. RT, v. 265,
p.219-256, mar. 2017.

75 Ibidem, p. 227.

76 Idem.

77 No original: “Les données d'identité des magistrats et des membres du greffe ne


peuvent faire l'objet d'une réutilisation ayant pour objet ou pour effet d'évaluer,
d'analyser, de comparer ou de prédire leurs pratiques professionnelles réelles ou
supposées. La violation de cette interdiction est punie des peines prévues aux articles
226-18,226-24 et 226-31 du code pénal, sans préjudice des mesures et sanctions
prévues par la loi 78-17 du 6 janvier 1978 relative à l'informatique, aux fichiers et aux
libertés”. França, LOI 2019-222. Paris, 23 de março de 2019. Disponível em
[https://www.legifrance.gouv.fr/affichTexte.do?cidTexte=JORFTEXT000038261631&categorieLien=id].

78 Idem.

79 Aqui relembra-se que da estratégia, segundo Ravagnani, adotada pelo escritório JBM,
com base na jurimetria, em oferecer um acordo à parte como forma estratégica, tendo
como resultado a influência do magistrado para sentenciar, caso necessário, de modo
semelhante ou igual ao acordo proposto inicialmente. RAVAGNANI, Giovani dos Santos.
Automação da Advocacia, gestão de contencioso de massa e atuação estratégica do
grande litigante. Revista de Processo, São Paulo: Ed. RT, v. 265, p. 219-256, mar. 2017.
p. 227.

80 Para melhor compreensão do IRDR e do Caso Samarco: NUNES, Dierle José Coelho et
al. O perigo da utilização estratégica do IRDR por litigantes habituais e a necessidade
dos tribunais refletirem sobre sua cooptação: a proibição do incidente preventivo e o
caso Samarco. In: LUCON, Paulo Henrique dos Santos; OLIVEIRA, Pedro Miranda de.
Panorama atual do novo CPC. Florianópolis: Empório do Direito, 2017. p. 121-145.

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