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FICHAMENTO: MENEZES, Ulpiano Toledo Bezerra de.

O campo do patrimônio
cultural: uma revisão de premissas. Fórum Nacional do Patrimônio Cultural, IPHAN.
vol. 1

- O texto reflete sobre certas premissas do patrimônio que acabam se tornando


referências mecânicas. Dentre elas, tem-se a desarticulação entre práticas e
representações, o que esvazia o sentido de patrimônio e privilegia o que ele chama de
“usos culturais da cultura”. Discute-se também a polaridade entre os conceitos de
material e imaterial.
- No que diz respeito as representações e as práticas dos bens culturais, ele alerta que: o
uso do patrimônio como representação tem limitado o bem cultural e esvaziado os seus
sentidos. Expectador como voyeur, que se gratifica pela visão, observação, ou por meio
da audição, quando as experiências culturais necessitam de mediação – experiência
esvaziada do sentido. Para os turistas, a cultura é um domínio descolado, à parte da
vida. Já no uso pensado a partir das práticas, a experiência é de vivência, do cotidiano e
interativa. Nesse caso, a experiência é mediada pelos sentidos, pelo valor o que o
enraíza na interioridade e na consciência. Teia de relações e significações múltiplas.
- O bem cultural experienciado pelos turistas tem sido percebido como algo que detém
significado em si, uma significação pronta e acabada. Eles fogem ao cotidiano e ao
trabalho. Existe um pico de intensidade e que logo é esvaziado. O autor usa o conceito
de cultura-cólica. Critica a cultura dos produtos culturais e do mercado da cultura.
- “O uso cultural da cultura ao invés de estabelecer uma interação entre as
representações e as práticas, privilegiam as representações que eliminam as práticas” p.
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- Os processos de escolha de interesse e pertinência de um bem cultural devem levar
em conta seu potencial de interlocução, começando sempre pelos interlocutores locais.
- Sobre materialidade e imaterialidade, o autor concluí que todo patrimônio cultural tem
sempre como suporte os vetores materiais. Todo patrimônio material tem uma dimensão
imaterial que lhe dá sentido. Da mesma forma, todo patrimônio imaterial possui uma
dimensão material que permite sua realização.
- O patrimônio intangível da constituição de 1988 focou nos processos: saberes, formas
de expressão, modos de criar, festividades, de fazer e de viver. Eles pressupõem
múltiplos suportes sensoriais, o que inclui o corpo. O Conhecimento corporificado.
(discordo da diferenciação que ele faz entre saber-fazer e conhecimento abstrato,
conceitual, filosófico e científico, acredito que esses saberes também são
corporificados)
- Falar e cuidar dos bens culturais não pode ser apenas as práticas e os significados
intrínsecos , deve-se alertar para como essas práticas, derivadas de sua natureza
material, natureza essa que é mobilizada, articulada por grupos, comunidades,
sociabilidades. Como se opera, como faz agir suas lógicas, afetos, significados e etc.
- O texto também faz uma referência a importância de se refletir melhor sobre o
conceito de valor. Nesse artigo em específico, não se trata de uma conceituação
profunda do que é o valor para o patrimônio, mas sim esboçar ideia de matriz do valor.
Quem atribui valor aquilo que é o patrimônio? Para Ulpiano houve um deslocamento
da matriz de valor a partir da constituição de 1988. Antes, o poder público era quem
possuía o poder de instituição do patrimônio cultural por meio do tombamento. Com a
constituição a matriz de poder deslocou-se para o lugar que as ciências sociais já havia
apontado – a sociedade quem deve instituir o valor cultural do que é patrimônio. Tem-
se então um estado que declara o valor de um bem por meio das ações de valorização da
sociedade, cabendo a esse estado fornecer proteção e diálogo com detentores e
comunidades.
- No entanto, essas práticas são aplicadas apenas para os bens caracterizados como
imateriais. No campo dos bens materiais, as práticas de tombamento têm se valido das
mesmas metodologias antigas de valoração dos bens. O valor para tombamento se dá a
partir de traços intrinsecamente presente aos bens. Desinteresse dos interessados por
determinados bens arquitetônicos e espaços urbanos. Valor técnico x valor social? Para
Ulpiano, deve haver uma mistura entre as duas esferas.
- O autor propões 5 categorias de análise do valor do patrimônio: valores cognitivos,
valores formais, afetivos, pragmáticos e éticos. As categorias não existem isoladas, se
fazem em diálogos, mas também em conflito, em hierarquias, combinações,
recombinações...
Valores cognitivos: Condições do bem de fornecer conhecimento. Ex: quando
um bem ajuda entender sobre conceitos, técnicas, materiais, o padrão de estilo, entende
sobre categorias sociais, biografia etc. Função basicamente intelectual, bem cultural
como documento.
Valores formais/estéticos: Condições do bem de apelar para o sensorial, a
conexão do eu com o mundo externo. Permite construir e intercambiar significados para
agir sobre o mundo.
Valores afetivos: Se parecem com o valor histórico. Atuam na formulação da
autoimagem e da identidade.
Valores pragmáticos: São valores de uso considerados como de qualidades.
Valores éticos: Não estão associados, diretamente, aos bens, mas as interações
sociais em que eles são apropriados e posto a funcionar, tendo como referência o lugar
do outro. Trata assuntos espinhosos, os conflitos acerca do patrimônio

MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. O campo do Patrimônio Cultural: uma revisão de
premissas. In: FÓRUM NACIONAL DO PATRIMÔNIO CULTURAL. SISTEMA NACIONAL DE
PATRIMÔNIO CULTURAL: DESAFIOS, ESTRATÉGIAS E EXPERIÊNCIAS PARA UMA NOVA GESTÃO,
OURO PRETO/MG, 1., 2009. Anais... Brasília: IPHAN, 2012. v. 2, t. 1, p. 25-39.

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