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Pgegeserurrvwvv” Silvia Ancona-Lopez A PORTA DE ENTRADA Da entrevista de triagem a consulta psicologica Doutorado - Psicologia Clinica PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DE SAO PAULO 1996 | niagem, do francés tage, significa “selegao, escolha; separagao” ¢ tradicionalmente esta tem sido a finalidade destas entrevistas. Seus objetivos costumam ser: < verificar se o cliente se adequa aos tipos de_atendimento que a instituigéo oferece; ~ inscreve-lo no setor apropriado; ~ encaminha-lo para outra agéncia de atendimento, se for o caso. Em instituigdes de atendimento gratuito, normalmente a populagao que as Psicolbaice pao condiobes de arcar com os gastos de um acompanhetrents Psicolégico particular. O encaminhamento, portanto, tomace extremamente dificil pois o problema da demanda excessiva é antiga ¢ geral.z Nestas instituigdes, as entrevistas de triagem costumam ser a porta de entrada do cliente. £ © momento em que eles vem meets de ajuda, querendo obter algum resultado imediato ou ter a garantia de que algo serd feito rapidamente. Paralelamente, porém, hd um certo desanimo e desesperanca Porque, com frequéncia, estas pessoas viveram atendimentos ineficientes, encaminhamentos iniiteis ¢ esperas intermindveis. Por sua vez os psicélogos os atendem freqiientamete carregados de ansiedade por saberem de antemio que terdo dificuldade em dar-lhes o encaminhamento adequado, porque a Procura é muito maior do que as vagas disponiveis. Esta realidade, que no Brasil atinge niveis dramaticos (seis meses a dois anos de espera),? também nio deixa de cxishr om paises do primeiro mundo, como atestam trabalhos de Freund, Russel e Schweitzer, (1991), Folkins (1980), e Shueman (1980) Nestes casos, porém, fala-se em dias de esperal : Em levantamento feito em clinicas-escola de Sao Paulo que, acredito, refletem.a situacdo geral das instituicdes de sauide, Ancona-Lopez, M. (1986) coloca: “0 fafo é que os clientes sao encaminhados pata outras instituigGes una enous goer pain per Mails ANCONA-LOPEZ (1966) dee seme de Levante indooma jt qe ke ¢ ee 0 propia dest ea, SVT TTFCTTSTFTSFTSCSSSOCSSCSCSPSSOSOVVUSuUssgE » » » » » » » » U » » , , ' porque néo podem ser atendidos naquela que procuraram, mas sem nenhuma garantia de que a situagéo que encontrario no novo local serd diferente, O sucesso das indicagces néo ¢ verificado por quem as faz. Serd 0 encaminhamento realizado na crenca de que poderd ser efetivo?” (ps5). Prossegue a autora: “parece-nos que o encaminhamento é a saida que o profissional encontra diante da impossibilidade de responder satisfatoriamente ao pedido de atendimento: indicar outro local funcionaria como forma de apaziguamento deixando o profissional com a sensagio de ter feito algo pelo cliente.” (idem p 56) Uma mudanga de atitude dos Psicdlogos que atuam em_instituicdes que enfrentam o problema da demanda pode leva-los a ver nas entrevistas de triagem uma oportunidade de engajarém os clientes no seu proprio atendimento, tornando-os responsaveis pelo seu problema e nao iludi-los com a possibilidade, que vai se mostrar irreal para a maioria, de encaminhamento para um atendimento de longa duracdo. Além disso, facilitar, propiciar ou estar disponivel para que o algo aconteca durante estas entrevistas poderd tornd-las um momento importante na vida do cliente influenciando inclusive seu percurso e stu destino dentro e fora daquela institui¢do. A atitude usual* nas entrevistas de triagem é considerar esta atividade Pouco mais que uma coleta de dados sobre os quais se organiza um sumdrio raciocinio clinico que vai orientar 0 encaminhamento. Nas palavras de Vilarinho: “os pedidos de atendimento distribuem-se em duas categorias distintas: os pedidos elegiveis que atendem aos critérios institucionas . as essoas serio inscritas como clientes, como num ritual de passagem - e aguardarao a chamada para inicio do atendimento e, os ndo-elegiveis, que nao atenderam aos critérios estabelecidos e, portanto, serdo encaminhalos ou reencaminhados para outras instituigses” Vilarinho, 1992), A escuta ¢ o olhar do psicélogo triador tomiam-se selecionadores e ele ficaré ocupado, fazendo um levantamento das praticas psicolégicas oferecidas pelas instituigdes que conhece (a sua e as outras), para poder decidir em que fila de espera colocara a pessoa que estd a sua frente. Ele nao consegue ver © novo que Ihe é trazido pois habituou-se a pensar de forma fragmentada, privilegiando mais as especialidades que tem a oferecer do que as necessidades do cliente. Pode-se, aqui, fazer um paralelo com o que Jurandir Freire Costa relata em seu livro Historia da Psiquiatria no Brasil (1989): “ O psiquiatra nao mais se dispée a ouvir. Ele passa a falar antes de escutar, a buscar, antes de ser procurado. Nao mais acompanha a loucura, icin ere soo, 1996, nam grape de profsionsis que stua em instiicSc de endmentpicoligice ven s rainde para ‘Secutic on procedimentos de triageen Estes encontrs orgaizads pelo Dr. Mauro Begembvrg, no Seas Soptents, eerie “Remit de triadores” movtram a inquictrtes qu cerca eta atridae © que a stad em tlaran ncle etd meds antecipa-a. Corre em frente, monta o hipogrifo* e promete reconduzir, a todos quantos o seguirem, ao lugar onde se encontra a razio perdida.” (p64) Evidentemente que, dedicando-se a esta contabilidade mental, 0 pobre psicdlogo ndo tera oportunidade de acolher o pedido do cliente e a entrevista teré pouco sentido ou interesse para este ultimo. Assim, a situacao de triagem € um momento de transigao, passaporte Para 0 atendimento posterior, este sim tido como significativo, no qual o cliente encontraré acolhida para’ suas duvidas ou sofrimento. Deste modo, a relacdo que se estabelece nestas entrevistas estara mediada pelo profissional ausente, (aquele a quem o cliente sera encaminhado) o que prejudicara a aproximac4o entre “psicdlogo e cliente durante o atendimento. Na medida em que o psicdlogo entender que o papel de entrevistador € diferente do de terapeuta, tenderd a se distanciar durante a entrevista de triagem, evitando uma intervencao mais eficaz, mantendo uma atitude investigativa e resguardando suas impressdes sobre o cliente, Neste caso, acredito que 0 processo perdera muito de seu sentido e mesmo de interesse ou utilidade para o cliente. . Como tive a oportunidade de desenvolver em trabalho anterior (Ancona- Lopez, S., 1995), a meu ver, toda atuacao psicolégica é uma acao de intervencao cujo significado sera dado pelo campo relacional que se estabelece entre as partes e que € exclusivo e peculiar aquele momento e Aquela relacdo. No entanto, de acordo com o pensamento psicolégico tradicional, para que a relacdo psicologica - se assim a podemos chamar - se transforme em uma fo significativa pressupde-se que deva ser longa e duradoura. Paralelamente, ha também nesta tradicao a idéia de que um caso 36 é rico e interessante para o psicdlogo se for dificil e necessitar de muitas horas de acompanhamento. Esta postura, que comeca a ser repensada, tem a influéncia da psicandlise, embora o proprio Freud (em Andlise Terminavel e Interminavel, 1937) , se tenha questionado sobre o tema da duragao da psicandlise. Escreveu ele: “ experiencia nos ensinou que a terapia psicanalitica - a libertacao de alguém de seus sintomas, inibigces e anormalidades de carder neurbtices - € um assunto que consome tempo. Dai, desde o comeco, tentativas terem sido feitas Para encurtar a duracao das andlises.”(p247). “Eu mesmo adotei outro modo de acelerar um tratamento analitico, inclusive antes da Suetra. (...) Nesse eae, recorri 4 medida herdica de fixar um limite de tempo para a andllise.” (p248) a ting fa, mont aay tude cel meta git. BUARQUE DE OLANDA (1987 782) Gri =“ ania noo de cubeca de Aguia © garres de lea?" (xdews, 705) Neste trabalho as reflexdes do autor se estendem pelos temas complexos do “término da andlise” e das possibilidades Profilaticas da psicandlise. Todo 0 texto é permeado por um certo ceticismo quanto a eficacia da psicandlise no sentido de provocar mudancas permanentes, alertando para a ingenuidade dos que esperam que seus clientes atinjam “um nivel de normalidade psiquica absoluta” (7251) mesmo apés muitos anos de terapia. As citagdes acima, no entanto, néio negam que com relagdo 4 psicandlise,: “se quisermos atender as exigéncias mais rigorosas’ feita. terapia analitica, nossa estrada néo nos conduzird a um abreviamento de sua duracio, nem passard por ele.” como lembra Freud no mesmo texto(p255) Paralelamente, no entanto, o autor demonstra claramente seu desconforto: “ Partimos da questio de saber como ‘podemos abrevias 4 duragao inconvenientemente Ionga do tratamento analftico...” (p267). Assim como no caso da psicandlise, na literatura que trata das Psicoterapias, de modo geral as questées’ sobre alta, duracab ¢ mudangas ocornidas no decorrer de um atendimento psicologico referer se sempre aos Processos Psicoterapéuticos, rgramente mencionando as entrevistas ou consultas. Fortanto, nao ¢ facil relacionar mudanca psicologica com entrevistas de triagem. Como lembra Mahfoud (1987), no momento de uma primeira entrevista, confrontado com as dificuldades do cliente “. g rresposta padrao' do psicdlogo & (encaminhar para) psicoterapia ...” (p76) pois nao lhe ocorre Pode sen iS¢ de outra forma frente ao cliente, percebendo que alguma coisa Gilliéron diz, ainda, que o momento em que o cliente procura atendimento costuma refletir uma crise na sua situacdo existencial, crise, que o terapeuta deve reconhecer. f, portanto, um momento que favorece rearranjos no equilibrio intrapsiquico e interpessoal, pois o cliente, impulsionado pelas suas dificuldades, vem em busca de transformagdes, Do mesmo modo Spoerl (apud Peter, 1992) propée que se aproveite a carga emocional crise. Peter (1992) diz que na sua abordagem (PB de inspiragao psicanalitica), se 4 primeira entrevista levar o cliente a ressignificar algum(uns) momento(s) de sua vida ¢ a apropriar-se de seu sintoma, serdo eliminadas as fronteiras entre o diagnéstico e a Psicoterapia e estara criado o enquadre necessario Para que uma psicoterapia possa se instalar-se. O ™mesmo autor conclui que “se a primeira sessio e as intervengdes Psicoterapéuticas breves permitirem criar as condigSes preliminares para a mudanea (.) clas teréo preenchido seus objetivos”. (p263)s Nao pretendo falar em cura numa ‘entrevista de triagem, mas refletir sobre Orato de que, se acontecimentos significativos podem ocorver no deseo oe stenehntl? Além disso, se 0 cliente nao se sentir mobilizado pelo primeiro atendimento, ao ser encaminhado, provavelmente nAo conseguiré dar Prosseguimento ao seu pedido de ajuda. Segundo Maida (1991) “para que o atendimento nas, instituig¢éo se torne realmente cfetivo, é necessdrio promover uma especie desaprendizagem voltada para o exercicio da prdtica em cada situapio especifica”e “para que Traci fe. divida ele se vera obrigado a rever muitos dos conceitos que norteiam sua pratica. O relacionamento psicolégico sera significativo quando criar um campo favoravel para o deflagrar de impulsos mobilizadores que podem resultar em questionamentos, elaboragdes ou mesmo mudancas de atitude ou de perspectivas vivenciais. Como aponta Bleger (1979) “na entrevista se configura um campo, ¢ com isto queremos significar que entre os 4 procura de um psicdlogo, ele quer ser’ atendido em suas necessidades, Ppouco importando sob que nome este atendimento se efetue * Na pratica, no entanto, 0 que acontece com freqiiéncia ¢ que, por nomear sua pratica, o psicdlogo deixa de fazer a sua parte, postergando sua intervengao e empobrecendo um encontro rico de possibilidades. Dentre todas as modalidades de atendimento em instituigdes de atendimento psicolégico gratuito, as entrevistas de triagem como as Proponho, parecem-me ser as que exigem maior flexibilidade e inventividade por parte do psicélogo. A variedade dos casos a serem atendidos, as situacoes tnesperadas que ocorrem ¢ o fato de que, muito provavelmente, aquela sexta sera linica, levam 0 psicélogo a um’ constante questionamento. teorico, obrigando-o a buscar os mais variados recursos técnicos e principalmente pessoais. No entanto, como lembra Figueiredo (19934), ndo é possivel confiar apenas no conhecimento pessoal jd que este, “pela sua natureza pré-refleriva é se a uma teoria como esteio dentro de um campo movedico pode afastar o Psicologo de suas experiéncias e vivencias, bloqueando’ sta sensibilidade. A tarefa do psicélogo consiste nao em permitir que a teoria atue como camisa de forga limitante, o que desumanizaria o contato, mas encontrar seu estilo pessoal, como propoe mais uma vez Figueiredo (199%), usando a teoria como fonte de questionamentos, incorporando-a como instrumento e nao como condigao para compreender e determinar uma acdo no mundo. Teaco ti fot groom ek por Tai oF Ect ta She icoaiia promi pelo Niicleo de "tudor ¢ Pees dr Petcas Clases de PUCSPc UNDP / Obes aa hae ae vooe Uma descricdo poética deste tipo de situagéo pode ser encontrada em Fernando Pessoa: Emissdrio dum rei desconhecido, £u cumpro informes instrugées de além, £ as bruscas frases que aos meus ldbios véem Soam-me a um outro e anémalo sentido... Inconscientemente me divido Entre mim e a misséo que o meu ser tem, a gloria do meu rei dé-me 0 desdém Por este humano povo entre quem lido... (...)® © uma pista de como enfrenta-la em Alberto Caeiro, seu heteronimo: Frocuro despir-me do que aprendi, Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, E raspar a tinta com que me pintaram o sentidos, te Desencaixotar as minhas emogées verdadeiras, Desembrulhar-me e ser eu, (...)'° Como lembra Schmidt (1991) “as relagdes oriundas de um campo clinico Praticado com liberdade” (p22) exigem uma atitude de disponibilidade interna maior do que aquela exigida pelas praticas formalizadas. Estas JoFEENANDO FESSOA - Ee-Menmo, XII (techs) 1965 (p22) "0 Pocmas de AUBERTO CAIEIEO Casco IVI (tech) 1963 (p62) entrevistas costumam ser, portanto, situagées tensas, de forte colorido emocional e com caracteristicas muito especiais. A partir da minha primeira experiéncia e das posteriores, em conjunto com meus alunos-estagidrios, passei a sentir claramente que, mais do que qualquer outra atividade, a entrevista de triagem, nos moldes come a entendo, € uma oportunidade especial de crescimento pessoal e desenvolvimento profissional. _Nestas entrevistas, é freqgiiente nos perguntarmos: como adequar os conceitos tedricos as exigéncias do momento © a0 inusitado da situagao que escapa ao enquadre tradicional? Este & um nivel da pratica psicolégica que leva a “teorizar com liberdade” ca “desorganizar 0 campo institaido” (Schmidt, idem p1) criando e inovando de acordo com o campo inédito de cada relagdo. __, © processo parece-me tao intenso e rico que 0 considero um campo privilegiado para perceber o acontecimento transformador, o algo que torna aquele encontro diferente dos outros. Descrigtéso do atendimento- Conforme ja mencionci, a atividade de triagem é caracteristica das instituigdes de atendimento gratuito como conseqiiéncia dos _vicios estruturais da organizacao dos servigos de saiide, da pouca flexibilidade da maioria dos profissionais que-neles atuam, da pressio da demanda ¢ a impossibilidade de absorvé-la. iv Como meu campo de pesquisa e reflexdo se dara no ambito destas entrevistas, cabe-me aqui descrever como elas ocorrem na instituigao onde atuo."! Esta instituicao é uma clinica-escola. Como tal, tem a dupla finalidade de dar atendimento gratuito a populaciéo que a procura propiciando, Paralelamente, estégio supervisionado aos alunos do iiltimo ano de Psicologia da Universidade 4 qual esta ligada. Oferece atendimento a adultos criancas, sendo que, em todos 0s casos o primeiro passo é uma entrevista de triagem, Tais entrevistas ocorrem no momento em que o cliente procura a instituicao u, apés algum tempo, a partir do contato pessoal ou telefonico quando é "Clinica Picokipica Sto Marcos da Universidade Sto Marcon/UNEMABCO om Sto Pano. informado sobre a data eo horirio em que deve comparecer. Por atuar na rea infantil, minha clientela € composta pelos Tesponsaveis (na grande maioria mdes) que buscam atendimento para as criancas, No dia da entrevista, o procedimento é o que se segue: © cliente preenche uma ficha na recepcao com seus dados Pessoais e os da Shepard Auer inscrever para atendimento. Em seguida, por onde de chegada, ¢ chamado por um dos estagidrios de psicologia Para a entrevista. A Aessao ndo tem duracdo determinada, podendo variar de 30 a 60 minutos de acordo com seu desenrolar. © meu papel é 0 de acompanhar os atendimentos supervisionando os alunos-estagidrios; no entanto, a fim de obter as entrevies para esta Pesquisa, passei a atender alguns clientes. compreenderem sua necessidade e desconhecerem o que é um servico Psicolégico, uma vez que este tipo de trabalho nao tem Tepercusséo em seu universo cultural e educacional”. (Larrabure, 1986 p 63). Nesse primeiro relato centralizado na crianca, freqiientemente 0 adultos e exime ‘da responsabilidade de assumir a decisio de um atendimento psicolégico para seu filho, deixando esta tarefa para o psicdlogo que o atende. ’ No decorrer da sessdo, outras queixas vao surgindo e, normalmente, ligam-se mais diretamente aquele que fala. Ou seja mesmo que o problema se refira a crianca, o significado que o adulto - que o esta expressando - Ihe a, passa a ter mais importancia. Assim € que, do ponto de. vista do psicélogo, o trabalho se desenvolve, novamente, sobre duas vertentes: vid nGmianes que ~ motivo primeiro (ou pretexto) da procura - cvidentemente nio pode ser esquecida: é preciso pensar que tipo de ajuda cla necessita e como se pode consegui-la. "2 Termos gue eaticto pacoliica empresa da picnic que cortamam ier empresas independentemts da rcatgso aot - _O cliente adulto que estd presente a Sessio, e que tem um problema, podendo ser o seu filho ou algo mais. Na verdade, 0 que deve ser captado é como seu filho ou o problema de seu filho aparece Para esta pessoa € como isto se insere em sua vida. Ou ainda, qual é a real demanda da pessoa naquele momento; que tipo de ajuda ela veio buscar, que muitas vezes encontra mascarada no pedido de atendimento 4 crianca. E este segundo ponto que enfatizo, seja na minha atuagao seja ao falar com meus alunos-estagiarios."* Se a atuacdo se ativer apenas a primeira vertente, as opgdes sero poucas © caminho seré mais facil de vislumbrar, ou seja: encaminhar a crianga para Psicodiagnéstico, terapia ou qualquer outro tipo de atendimento, seja na propria instituigdo, seja em outro local. A atuagdo psicolégica sera, portanto, Postergada ¢ delegada ao profissional que atuard no futuro. Repete-se aqui a situagao - ocorrida inicialmente no meu atendimento - em que a relagdo com o cliente fica mediada por um profissional ausente, criando-se assim « Possibilidade de distanciamento entre as pessod$ presentes. Sobre 0 fisturo Psicologo serao depositadas todas as fantasias e onus ligados a solucao das dificuldades. Evidentemente, mesmo quando a énfase é colocada sobre a crianga eo seu Problema, o adulto estar de algum modo envolvido no atendimento, O crianca estado interligadas. Contudo, tanto este adulto quanto o psicdlogo podem atuar nesta situacdo buscando atender apenas a primeira solicitacao (queixa manifesta), diminuindo a ansiedade de ambos e aparentemente solucionando a dificuldade, Neste caso, coloca-se a questo da responsabilidade do psicdlogo em relacdo a quem veio pedir ajuda, confiando em seus cotthecimentos. Quando apenas encaminha o cliente, o profissional estara kafkianamente™ climinando o seu problema, podendo até mesmo sentir-se feliz com a sensacao de dever cumprido. Esta postura tarefeira traz ainda as implicacdes Ja mencionadas e sobre as quais ndo me estenderei, mas que se referem A demanda excessiva de clientes, a cadeia de encaminhamentos ineficientes, 4 superlotacdo das agéncias que oferecem atendimento gratuito e a estrutura viciada da organizacdo dos sérvigos de satide em geral. Por si sd estes pontos (a meu ver) devem levar 0 Psicdlogo a refletir e buscar uma nova atitude frente a entrevista de triagem. a ay 2 cas eget tegrated ering ¢ wen enn muita ic ¢ com nero apectoe acremn sti ta. Pip sibem no debitn dente bal. re re aieacnrtt de KAIKA (1996) o bomen arate ¢ lina porque os otro, iment fami, ko saben come far ‘com ferent A outra maneira de atuar, que nao exclui neécessariamente o encaminhamento da crianca, ¢ 2 que pretendo compreender e explicitar através da minha Propria vivéncia e ade meus clientes. Como ja mencionei anteriormente, focalizar © atendimento no cliente presente Permitira transformar a entrevista de triagem em um momento psicolégico significativo. Este é © tema desta tese e mais ainda tentar compreender como sé da o encontro Significativo, poupando-—o- da eaperténcia Amd, questo a que me propus responder no presente trabalho é: “Como dar novo sentido as entrevistas de triagem tornando o primeiro contato com o psicdlogo significativo para o cliente?” A resposta que agora posso dar é da mais extrema siniplicidade: “Atendendo seu cliente”. Por mais primaria que esta frase possa parecer ela faz sentido (como ja vim discorrendo no desenrolar desta lese) no universo das instituigdes de atendimento psicolégico, no que se refere ao procedimento de entrada dos clientes, ou seja, nas chamadas entrevisias de triagem. Embora seja ébvio que 0 psicdlogo considere como cliente a pessoa que esta a sua frente, € comum (como jé comentei anteriormente) que no momento da primeira entrevista, o interesse da instituigdo pese mais do que o do cliente. Além disso, quando uma pessoa vem em busca de atendimento psicolégico para um terceiro (seja filho, amigo ou parente), a preocpacao de quem o atende costuma centrar-se na pessoa ausente, preocupado que esta o profissional em fazer um encaminhamento adequado para as necessidades de quem “motivou” a procura pelo servigo. © que proponho é que os psicélogos procurem voltar-se primeiramente ao cliente e em segundo lugar as injungées inslitucionais rompendo os esquemas rigidos de procedimento que levam o profissional a falas racionais e obturantes conforme se pergunta Vilarinho (1992): “ A que, serve a triagem? Indubitavelmente, serve aos clientes, & uma fatia da populagiio, & também serve & consecucéo dos objetivos da instituiglo e dos seus profissionais especializados. Institucionaliza formas de atendimento, reproduz os modelos jd institucionalizados, privilegiando as especialidaudes que, por sua ver, revelam a fragmentagao a que estd submetido o ser Aumano. A triagem, calcada num modelo médico de autoridade torni-se, portanto, um processo passivo para o cliente ¢ ativo para a instituigao e 0 psicdlego. Funciona mais como uma peca para a engrenagem da instituigéio poder se movimentar”. (p3) Partindo deste raciocinio, sugeri a extingao das entrevistas de_triqgem, passando a compreendé-las como consultas psicolégicas com wm fim em si “Sees VF FFF FF SBVsF eRe BVA mesmas independentemente do fato de que, a partir delas, pudessem ocorrer outras entrevistas ou se iniciarem outros provedimentos. A proposta é transformar o processo de selecionar ou “(es)colher” os clientes no momento da entrada na instituicéo em momento de acolhimento €m que todos os pedidos de ajuda intcressem para a instiluigéo (Vilarinho, idem). Sem divida, neste caso, haverd a necessidade de rever varias praticas € procedimentos que interferirao nos modelos mais tradicionais de prestagao de servicos psicologicos. Nao apenas do ponto de vista instilucional modificagdes podem scr Propostas. Manonni, psicanalista emérita, propde uma visio abrangente da primeira entrevista embora pressuponha (é bem verdade que nos idos de 1965), que a esta entrevista deverd scguir-se uma psicoterapia: “A primeira entrevista quase sempre nilo passa de unit preparagio, de uni ontenagio de pecas de win jogo de xadrez. Tudo fica para se fazer mais tarde, mas us personagens puderam ser postas em campo”! (p103). Plenamente de acordo Com a frase acima sugiro, apenas, transformar o ultimo periodo por: “As ersonagens puderam ser postis em campo e algo jé pode sex feito.” Na presente pesquisa, procurei exemplificar através de dois atendimentos de que maneira, na minha atividade profissional, procuro romper as condutas mais usuais, principalmente nas isnlituigdes € como busco tornar o atendimento significativo para os clientes, Em contrapartida, foi também meu objetivo responder a outras duas questdes: E possivel identificar o acontecimento transformado? E possivel facilitar a eventualidade de encontros significativos? Estas duas perguntas imbricam-se a primeira sendo praticamente impossivel respondé-las_separadamente; no entanto, neste capitulo procurarei detalhar minha forma de atuacao refletindo sobre a influéncia deste modo de agir na nova maneira de conceber as entrevistas de triagem €, concomitantemente, levantar questées acerca do acontecimento. Vou procurar relatar minha experiéncia na perspectiva de que podemos “compreender determinados momentos do fizer Psicolégico come aqueles nos quais dizer é recolhermos o que ‘saltou em cima’, estendendo-o diante do outro. E fazer este transito, propiciando que o outro passe pela mesma experiéncia pela qual estou passando, numa -apresentacdo que garante o efémero, que abre um claréo como um relémpago, sobre o qual nao hd que arguimentar”. (Cupertino, 1995 p 205) * Grifo mew Que a minha experiéncia sirva, portanto, apenas como disparador para reflexdes sobre a priitica clinica, pois a experiencia do fazer psicolégico ¢ 0 resullado de um amvilgama pessoal ¢ singular que se da no entrelagamento dos saberes fesricos, Kicitos & subsidiirios (Figueiredo, 19950). Dizendo de outro modo: “a suber que se circunsereve no campo de representive!”, “uma disposicho para 0 uso ¢/on incorporagae de deterinadis hitbilickades, parte do que sabemos sem saber que sabemos” Cupertino, 1995p 218) ¢ “un outro conhecimento © subsididrio. Pano de fundo para a apreensio focal & femdtica de aspectos particulares do mundo, os quais organiza e retine, dando-lhes configurabilidade” (idem, p214). Convém lenibrar, outrossin, que a elaboracao destes conhecimentos, engendra como lembra Figueiredo: “diferencas entre psicdlogos, miis, principalmente, diferengas de cada um para consigo mesmo ao longo do tempo,” (1993e p91). No préximo capitulo pretendo deter-me sobre as relagées da. priiticn clinica com 0 acontecimento transformador. Sinto-me sempre um pouco tensa e ansiosa ao receber um cliente. A sala de atendimento’ me parece fria, um tanto inéspita, apesar de limpa e organizada de forma até mesmo incomum para uma instituicao de atendimento gratuito. Na maior parte das vezes, ponho duas cadeiras', face a face, proximas a uma mesa (sobre a qual coloquei o gravador nas sessdes que utilizei para esta pesquisa). Quando ha espelho de visdo unilateral explico 0 que é, se haverd alguém obseryando e por qué.‘ Este € 0 cendrio onde o acontecimento deve ocorrer. E possivel? Os clientes, mais freqiientemente mulheres, também parecem um ponca constrangidos na expectativa do que se vai passar. Sci que sfio pessoas em wnt momento de crise que vieram buscar ajuda. Ao olha-los recebo 0 impacto de um corpo que vejo pela primeira vez, de determinada postura e expressao, que de modo sutil me afeta e me coloca em certa disposicao afetiva. Na (rif do ator. 3 Refo-mye insbiuicAo omle venho deservolvendo ete ipo deste ‘Een consullorie particular provaveluwate serinas dua poltonas esto enim, no € a realidvk ds inaituides bra 1 as esres mpreseiadas mesa peste nao houve obvervaderes verdade somos duas pessoas expectantes: eu diante de uma pessoa que nao sei para que veio, aguardando a revelagdo do desconhecido c o cliente esperando algum tipo de ajuda. Estamos ambos suspensos, além de nés. Estaremos cumprindo nosso destino de ek-sistentes? Geralmente meu primciro movimento em diregio ao cliente se assemelha muito a ternura, Uma ternura peculiar e generalizada pelo meu cliente ja que, na verdade, ainda nem o conheco. Sinto-me responsavel por ele o que me leva a querer que se sinla bem atendido, que sc sinta ajudado, que se abram novas possibilidades ¢ caminhos que possam conduzi-lo a alguna mudanga. Quero que ele possa dizer que algo aconteceu. Nos momentos iniciais da sesso, poderia descrever a sensacio que sinto como a imersaéo em um mundo onirico. Os sons de fora da sala parecem ficar abafados, os objetos em torno envoltos em névoa e minha cabeca um pouco pesada pelo esforgo de focar-me no cliente. Embora pareca concentrar-me totalmente no que vou ouvir e ver, costumo estar preocupada com meu desempenho e meus conhecimentos dos quais, inevitavelmente, comeco a duvidar. A medida que vou escutando passo para uma fase em que fico profundamente interessada na narrativa, na historia que o cliente esta me contando, Sinto-me curiosa, quero saber mais, preciso controlar meu impulso para perguntar coisas que satisfariam minha curiosidade mas nao seriam relevantes para ajudar o cliente. No meu encontro com Vanessa, por exemplo, passou-me pela cabeca perguntar: “A amante do seu pai é jovem? E bonita?”, “Quantos alunos tem sua escola?”. As vezes faco algumas perguntas deste jaez que, geralmente, desviam o cliente do caminho que trilhava e raramente trazem um enriquecimento para a sessao. Minha curiosidade percorre uma gama variada de nuangas: desde a mais simples e cha até a mais complexa, dificil de definir, mas que sinto como sendo o motor que me move em diregao ao cliente. E uma curiosidade insaciavel que nao se esgota, que estd sempre em falta. Ou seja: quero compreender, quero captar 0 outro na sua totalidade, 0 que, apesar de ser impossivel (Lévinas, 1992), me leva a querer saber mais, ir mais fundo e, quem sabe, deparar-me com algo inesperado. Eo que Stern (1990) chama de “cortejar a surpresa"(...) “A curtosidade ¢ it imaginacao e a disciplina que levam a ver aquilo que & questiondvel. Ser curioso é estar sensivel & possibilidade da pergunta. E.a diivida constante de que a prépria capacidade de pensar & aflitivamente inadequada, que se mostra de varias maneiras, e que eventualmente se torna dolorosamente clara.” (p 12) o Como atendo na area infantil retomo com freqiiéncia, durante a sesso, a crianga que foi trazida como motivo para o pedido de atendimento. Faco isto visando captar’ * de que maneira a queixa com relacao a crianca esta vinculada aquilo que ocliente presente esta trazendo. Quais sio as significagdcs que as siluagdes que relata tem para ele e de que maneira as colocacées sobre a crianca esclarecem a maneira de o cliente estar no mundo e de estar com os outros. Além disto as expectativas, as frustragdes e os planos em relacdo a crianca com freqiiéncia apontam para o campo de possibilidades em que o cliente se situa e 0 quanto ele estd preso ou restrilo a um determinado campo. As discrepancias entre 0 que é esperado e planejado para um filho e as atitudes e desejos dos pais, costumam apontar para as possiveis aberturas ou para quais possibilidades se poderia abrir uma porta; * © quanto a crianga esté comprometida: dificuldades emocionais, intelectuais, motoras, etc... Se a crianca esta realmente necessitada de ajuda € 0 que se poderia fazer por ela. Nestes momentos, torno-me conselheira, orientadora de pais e psicdloga infantil que procura fazer um psicodiagnéstico rapido e eficaz. Atuando nestas duas vertentes (adullo: cliente-presente/crianga: cliente- ausente), 0 enfoque durante a sessio varia. Lmbora ‘consider, prioritariamente, que o meu cliente é quem esta presente e é sobre ele e 0 campo relacional que se estabelece entre nés que devo focalizar minha atencao, quando volto 4 crianga, freqiientemente a tomo como cliente ow procuro ser sua representante naquela sess4o. Algumas vezes, fico especialmente intrigada ou preocupada com a crianga. Neslas ocasides sinto desencadear-se um certo “furor diagnosticante”: costumo crivar o cliente de perguntas, quero fazer uma anamnese em pouco minutos € n&o raro a pessoa ali presente fica em segundo plano. Apenas quando me dou conta disto € que a recoloco como cliente, chamo-a para compartilhar a compreensao comigo, € 0 atendimento comeca a deslanchar. Creio que a fase “diagnosticante” ocorreu na primeira sesso com Lucilene. Este movimento de vaivém entre a crianga e 0 adulto interrompe de cero modo 0 fluxo da sesso, fazendo-a parecer truncada. Ao focar a crianca ou a queixa sobre ela, acontece de perder material importante trazido pelo cliente presente. Muitas vezes isto acontece de forma consciente, para que eu niio me desvie da compreensdo que estou buscando; outras vezes, no entanto, acontece porque ndo me dei conta de que o-cliente me esta indicando um novo caminho, ou apontando para algo muito significativo para ele. Saber a quem ou a que informacao dar preferéncia é uma tarefa dificil que exige atengdo e a tomada de decisées sobre que falas so mais significativas no momento. Esta oscilagao entre os pais e a crianca causa eslranhamento pelas incongruéncias que se entremostram na fala do cliente. A compreensio vai se fazendo, na maioria dos casos, pelo preciichimento das lacutas que evidenciam e “diante delas temos que aguardar que os sentides se direcionem, jé que a verdadeira taretis da ferapia nia & tanto dar sentido aos dados, mas resistir ii tentagdo de dar sentido ase dados™, (Cupertino, t95 p 252) Costuma ser a partir do meu interesse pela historia (a histéria exterior a qual ja me referi) que comego a nolar algumas dissonanicias, Inivialmente Preciso conhecer © corriqueiro, 0 colidiano, para chegar ao que esta além dele. Empresto as palavras de Stern (op.it p7)! “unalista e paciente encontram seu caminho para dizer 0 funiliar ¢ depois encontram naguilo que ndo foi dito outras lacunas que podem ser colocadas em palavras, de tal maneira que 4 descricho da experiencia se move sempre em diregéo a um grau maior de precisdo e sutileza”. ¥. a partir dai que, repentinamente, sinto ligar-se wm. “terceiro olho” e “um terceiro ouvido”. Euma fase dificil pois, ao mesmo tempo em que relaxo e embarvo em um “fazer” quase que intuitivo (0 saber do oficio do qual fala Figueiredo, 119%) em que as falas fluem, é, também, a fase em que devo fazer escolhas e decidir que intervencdes e que caminhos seguirei, o que inevitavelmente afetard o desenrolar da sessao. Estas escolhas nao sao refletidas: vao-se dando, surgem do campo que se instituiu; € 0 que Amatuzzi (1989) descreve como “algo mais sentido do que sabido ou algo mais operativo do que refletido” (piss). No entanto sei que sou responsavel pelas escolhas que fago e sio elas que mais tarde me incomodardo: ao pensar em um atendimento ou ao discu: colegas percebo as intimeras possibilidades que deixei para tras e que, inumeras vezes, me parecem mais adequadas dos que as escolhidas por mim: Parto do principio de que nao posso pretender saber mais sobre o cliente do que ele mesmo e de que jamais compreenderei o outro na sua totalidade. Acredito que meu papel é 0 de clarear e reordenar o que ele sabe" e que nao esté podendo reconhecer como seu, ou seja, procuro traduzir-Ihe os significados que da as suas vivéncias para, se for 0 caso, ressignifica-las. Refiro-me ao que Porchat (1982) chama de “jogo ou dialética do manifesto € do encoberto? na situagéo psicoteripica” (p118) em que “0 encoberto poue ser retomado por via de uma rearticulagdo dos contetidos presentes no discurso do paciente ou de uma reinsergiio de vivéncias que néo estavam no ‘A zis de istacto devo diner que nko me recordo de nenluua nite queen cas de suite de pejuia intelectual des iho. se Ali enganao qui « suport lade mental dee. i as cma costuon pera forma beni aingiess eee tle oe sesbeca” ou “mente ou “intelgéncin’s conterme vacabulari ue els lina) dese fill? funch exe dana ae ont de que kee?" reposte que as mdes do costuman set surpreendentetoehleproktas os teuliae do lets de vel nee Cifcniva je ela lenhaon para die ake da eine eevweuwwvvwwevewvwewvwvvwrwrywer rr . campo da consciéncia” ( p121). Espero que “o encoberto se revele to paciente através de seu préprio discurso” (dem, p 121) “ buscando 0 sentido do que toi manifesto” (jbidem 122). Esta nog&o de encoberto se aproxima da nogao do inconsciente em psicandlise como a apresenta Stern: “o inconsciente niio pode mais ser concebido como algo que contém. E mais consisfente com a pritica dizer, acompanhando Heidegger ¢ aqueles que 0 seguiram, que algo inconsciente estd muito presente pois vivemos nele em vez de vé-lo."(p5) Guia-me o pressuposto de que meu conhecimento sobre o cliente so poderd vir a partir do que ele me diz e do que eu puder perceber no campo relacional que se criar entre nés. As teorias psicolégicas que estudei, minhas vivencias e minha experiéncia profissional sero auxiliares na minha tarefa de “tradutor”: “ Minha profissio consiste basicamente emi conversar com as pessoas e ver se com isso se cria a possibilidade de maior discernimento e mmobilizagdo, de descoberta do sentido das vivéncias e, a0 mesmo tempo, 4 oportunidade da criagiio de novos sentidos, De crescimento, enfin.” (Amatuzzi, 1989 p 11) Ha porém uma outra dimenséo presente e, paradoxalmente, ausente durante a sessao. Se a maior parte do tempo me dirijo aquilo que o cliente sabe mas no vé ou nao sabe nomear: “win desconhecido que se presume. ter estado presente ‘no’ paciente”, (Stern, 1990, ps) ha algo que o cliente nao sabe, que nao foi “formulado, (e estd) parcialmente indeterminado e realmente ausente”(dem). A expressdo deste ausente sera resultado de uma experiéncia compartilhada entre o cliente e o terapeuta e surgird do campo relacional e das possibilidades da linguagemi. Este ausente ¢ 0 acontecimento que pode surgir inesperadamente no e do campo terapéutico. E algo que me chama e me interpela vindo da fala do cliente, alguma coisa que se diferencia de uma hipotese que eu possa estar construindo, embora algumas vezes possa se confundir com ela. E mais forte, pois varies hipéteses surgem no decorrer da sesso e sao abandonadas porque alguma coisa mais forle me atrai e me conduz. No caso de Lucilene, dentre todas as possibilidades de compreensdo, 0 que me interpelava em ‘sua fala era seu desamparo frente aos outros, (principalmente sua irma e a diretora da escola de sua filha) e, no caso de Vanessa, a estranheza que ela sentia a seu proprio respeito e a distancia que eu percebia entre suas agées e sua fala. Toi a partir destes lugares que me senti instada a falar. Nao creio que possa induzir qualquer mudanga no cliente, mas que estas virdo dele mesmo se estiver disponivel para tanto. Entendo que o primeiro sinal de que existe alguma disponibilidade para a mudanca é sua vinda consulta, mesmo com todas as resistencias que possa trazer consigo. Concordo com Corréa (196) quando diz: “..as ganhoas ao final do process jii v-wrrvervvvewvvveweveveserere ese eevee vseFeeeseseeeeaeeseuansd estdo vinculados com 0 pedido ou com a demanda referida. Neste sentido, posso pensar que cada pessoa jd traz em si, talvez nao de forma clara, as posstbilidades que tem naquele momento” (pi68) e ainda, “..08 ganhos podem ser potencializados quando a motivagdo para'a mudanca & identificada pelo terapeuta.”(pi4) Costumo apontar tal motivacao ao cliente €, geralmente, é a partir dai que comeca a sc delinear algum movimento de abertura pois, como bem lembra Coelho Filho (1995), “..quando demarcada e Incentivada pelo terapeuta, [a motivagéo para a mudanga] propicia uma melhor compreensio do paciente sobre seus padrées mal-adaptatives, e, consegiientemente, maior controle sobre eles. "ps2) Fosso dizer, com as palavras de Porchat (1982), que me identifico com as “formas de psicoterapia |que) resgataram ow puseram em primeiro plano, por assim dizer, os aspectos nao transferenciais do comportamento vincular?s(p126). Isto é, embora leve emi conta e me aperceba de certos aspectos da transferéncia, nfo costumo trazer para elaboracio, no plano atual, 0s conflitos infantis. Outra linha mestra que adolo é a de comparlilhar com o cliente meus pensamentos, minhas opinides e meu raciocinio sobre o que eslott percebendo. Procuro no desviar-me desta norma e ser o mais transparente possivel. Considero que, se espero que o cliente tenha a menor reserva possivel’ e se revele a mim, nosso relacionamento sera mais justo e correto se eu corresponder da mesma maneira. Nao é uma atitude ética, que me levaria a prender-me a valores morais, mas a crenca de que estarei conservando aberto um canal de comunicacao que facilitard ao cliente desvelar-se a mim. Paralelamente, com esta postura mantenho-o informado de como o percebo se apresentando a mim, o que é um corolério de como ele se apresenta aos outros e se situa no mundo. Busco o que na feliz expresso de Figueiredopode ser chamado de emuncinio apresentitive, que sci apresentar ao cliente o que ele me apresentou de forma que o apresentado se ilumine sob novo angulo. Compartilhando minhas percepgdes e meus conhecimentos com o cliente, ele poder contestd-los de modo que poderemos construir juntos uma compreensao sobre ele proprio e a problematica que ele traz. A contrapartida desta postura é que cla me leva a ser dirctiva ow incisiva em alguns momentos embora, na maior parle do tempo, me mostre acolhedora ¢ compreensiva. Procuro acolher os sentimentos e dificuldades que os clientes trazem ¢ pautar-me pela compreensdo deles acerca das vivéncias que estao relatando Geilo de atova * Mesme sem esperar que sig cuncere no fer quesse hur " Commusicagao pessoal fit wo decorrer do, cle diner ts sem censura Pata Heidegger “1 nh uo de estos sobre Heidegger 10 "wewweweveewuwevwvwvusewvwwe pois estou plenamente convencida de que nao sou detentora do saber e de que no posso apropriar-me de suas verdade: © cliente é a tnica. pessoa que conhece seu campo de experiéucias © apenas ele poder rclati-las, ¢ relirar seu sentido, a partir da consiclagio de suas vivéncias, percepgoes, idéias, sentinientos © memérias. Seu relalo pode manter-se em um patamar objetivo, pratico, exterior a ele ou pode partir de seus sentimentos, valores e do sentido que da as suas vivéncias pautando-se por um referencial interno subjetivo (Stiles, 1978). No primeiro caso, procuro ajuda-lo a caminhar do exterior para o interior na crenca de que confronta- lo com suas ambivaléncias, sentimentos inconsistentes e experiéncias desvalorizadas pode permitir que cles sejam reavaliados, aceitos e ressignificados. No scgundo caso, procuro acompanhar seu relato buscando com ele o sentido que da as suas vivéncias. Conforme Gilligron (1994) “ a idéiit fundamental & que um grande mamero de pacientes nao espera obrigatoriamente uma mudanca profunda quando de sua vinda ao psiquiatra mas, mais freqiientemente, um alivio imediato. Com efeito na grande maioria dos casos , 0 paciente decide consultar-se quando esté em crise, O modo como esti crise serd tratada & que & a ques qualquer crise, 0 paciente encontra-se dividido entre duas tendéne esperanga de reenconirar 0 estado anterior, solugiio muis ticil, ¢.a esperstigst de, finalmente, encontrar forgas para mudur:"(p198)" Actedilo que abe a0 cliente decidir qual destas duas opcdes vai adotar, apés refletir sobre o que cada uma implicaria. Identifico-me com Yehia (1994) quando diz que: “chama a atengao minhit tentativa de salientar os aspectos positivos, adaptativos, sauddveis [dos clientes] em detrimento dos patoldgicos’ (p142). Procuro 0 seu desenvolvimento ou, pelo menos, mostrar-Ihes alguns dos potenciais que t¢m para que deles se apropriem e, quem sabe, possam cultiva-los e vé-los desabrochar. Considero importante ajudd-los a acreditar nas suas percepgées sentimentos e a darem importancia as suas intuigdes pré-reflexivas. Vejo-os, freqiientemente, chegarem desiludidos, decepcionados, descrentes de suas capacidades para manejar os fatos da vida e com um imenso sentimento de desvalorizacao de si mesmos. Procuro mostrar-lhes o que vejo de positivo em suas atitudes, comportamentos ou sentimentos. E muito comum, também, que so destaquem os aspectos negativos das pessoas com quem se relacionam e, quando isto € possivel, procuro mostrar- Ihes © que em seus discursos aponta para qualidades do outro que eles sc "Traduca tre 7 recusam a reconhecer. Acredito que é a partir de uma base de confianga em suas sensacdes © percepgdes que sera possivel ressignificar suas vivencias, experiéncias e relacdes pessoais. ‘Tenho sempre prescuite que um relacionamento harménico consigo mesmo, o que inclii accilar suas potencialidades assim como suas limitacées, é decisive para iniciar wim Processo de desenvolvimento pessoal, ow soja, a ampliagho de seu campo de possibilidades. Minha atitude costuma ser ativa e participante 0 que esta ligado ao fato de saber que terei um nimero limitado de encontres. Isto me leva 1 priorizar um “foco” entre as possibilidades de temas que o cliente traz. Esta postura me aproxima das atuagdes mais ativas dos seguidores de algumas linhas da psicoterapia breve, como os mencionados por Yoshida (190): Malan, Sifiteos, Davanloo. E igualmente meu modo de mostrar ao cliente que estou presente, que me interesso, que estou atento e participante naquela relacao. A proposta de um trabalho de curta duragao (como é 0 caso das consultas psicolégicas de que trato aqui) conduz a uma certa preméncia que, por sua vez, leva a uma atitude mais ativa. Como explica Gilliéron (embora ele proprio ndo adote tal postura), “o principio da atividude inspira-se na tecnica ativa de Ferenczi. Implica que o terapeuta nao se contente em seguir “passivamente” as associagées limitando expressamente a duragio do tratamento, e que, através de confrontagoes ou de outros recursos tecnicos incite ativamente o paciente a enfrentar suas anglistias” (1993, p283), Mostro-me, muitas vezes, diretiva o que ocorre, principalmente, em certas situagées: quando ha necessidade de que se tome alguma atitude imediata como um laudo psicolégico, por exemplo, para manter a crianca na escola; quando percebo © cliente mal informado, desorganizado com os aspecios Praticos de sua vida, ou com as diversas orientagdes que vent recebendo ios seus pedidos de ajuda; quando o percebo sofrendo niuito ou ansioso com o que esta vivendo. Nestes tiltimos casos penso que devo ajuda-lo a restabelecer uma certa trangililidade para que possamos iniciar um caminhar mais criativo. Ainda relacionado ao ntimero limitado de encontros, ndéo mantenho uma atitude de neutralidade que acompanha as associagées do cliente. Percebo, a partir das reflexdes que desenvolvi neste trabalho, que no decorrer da sessio faco escolhas que terminam por eleger um foco, dentre os temas trazidos, sobre 0 qual o cliente e eu dirigiremos nossa atencdo. A eleicéo do foco resulta do desenvolvimento do didlogo e da interagao com o cliente que se estabelece a partir do campo relacional. Tomo de empréstimo as idéias de Gilligron (1993) que nao adota a focalizacao ativa mas “ % foculizagho pelo Paciente’” (p290). Isto é, no tomo a questo do foco como tema e penso que ele nao precisa ser explicitado ao cliente, porque se vai constituindo no Ge campo terapéutico e ali mesmo estara vigorando'. Na maior parte das vezes nao tenho claro qual 6 0 foco embora cle Possa scr entendido como a hipotese ‘privada’ (Gilliéron, 1993) que vou fazendo a respeilo do que o cliente traz e que, de algum modo, esta presente na minha escuta. Os clientes tendem a colocar em cena 0 conflito que os trouxe a consulta, mesmo que (como nos casos das entrevistas que aqui relato) mascarado sob ¢ gueixa relativa ao filho. O conflito atual, na minha concepsto, reflele 0 campo de possibilidades que cliente veio constituindo no decorrer da sua Vida, Isto é, na atualidade do conflito estarao implicados seu pasado ¢ as possibilidades que antevé como futuras. Minha linguagem € corriqueita e colidiana e procuro aproximar-me da linguagem do cliente que com freqiiéncia (em inslituicdes) fala de formn muito simples € concreta. Costumo utilizar-me de exemplos tirados da vida diaria, buscando metaforas concretas para sentimentos, situagdes afetivas ou Para questionar valores. Procuro cuidar que minhas observagses sc apresentem como uma possibilidade e ndo como explicagéo, verdade ou norma (Corréa, 196) Tenho disponibilidade para a auto revelagio (Bundza, 1973, Hendrick, 1987) 0 que, acredito, podera facilitar, em alguns casos, um movimento de abertura do cliente na direcio de tm encontro comigo, diminuindo a distancia que poderia criar-se entre nds. Entretanto, com clientes como Vanessa, por exemplo, que procuram desalojar o terapeuta de seu papel, tento manter-me mais reservada, pois, facilmente, cairiamos em’ wma Conversa de “comadres”, que teria pouca validade terapéutica. Em virtude das caracteristicas de minha clientela muitas vezes procuro frazer a baila a questio da cidadania. Lembro-me com freqiiéncia das “aNopoes de ‘pessoas, ‘meres individuos’ e ‘sujeito’ ...” apresentadas por Figueiredo (1995a, p30). Segundo 0 autor as pessoas ocupam um lugar determinado e “té2 suas vidas reguladas pelas tradigées ¢ pelos costumes (P37), os meros indiviciuos constituem a massa anénima e indiferenciada e estéo submetidos # “wna Jei impessoul que os transcende ¢ deles nio imanon G.) € ndo tém wn lugar priprio que thes caiba de direitS pss) © 0 snjeite que € “auto-subsistente & auto-sustentado”™40) se pressupde aulonomo ¢ independente. Meus clientes costumam situar-se e ver-se como “aeros individues’, mergulhados no impessoal, sem direitos e submetidos a um niimero enorme de pessoas a quem atribuem autoridade e que com a maior facilidade chamam de “Doutor”. Ajudar os clientes a se perceberem como pessoas, com nome, sobrenome, familia, e dircitos, nao os desalojard, necessariamente, do impessoal e colidiano onde vivem (vivemos) a maior parle do tempo, mas Permitira que se sintam mais confortaveis e nao fiquem “ainda e basicamente ai mercé dos eaprichas das pessoas? (idem, p8&, nota Ac rodapé, 14). Embora este tema possa conduzir a questées que escapam ao Ambilo desta Pesquisa, devo acrescentar que considero importante para quem trabalha em Instituigdes de atendimento gratuito (@o menos ‘no Brasil) manter a capacidade de indignar-se', ou como diz Baptista (1995) a wspeito do servico social: “evitiir o risco di banalizacdo da vida humana, que pode ser Provocado peli rotina, pelo trate de colidiane de situagees de segregagde, de injustica, O risco da pera da capacidude da puixio da indignacao - molor necessdrio para uma acdo comprometida - (é) que pode levar 0 profissional 4 ver sui Pritica mecanicamente, procurindo resultadas, mas sem paivite "ip 18)." Acredito que, se o cliente também se permitir sentir a PUxio da indignagie, esta, como toda paixio, poderi levi-lo a ullrapassar os limites do cotidiano, desalojando-o e destervitorializando-o, ob1 igando-o a conquista de novos espacos. Percebo que quando meus clientes se dio conta de que podem se recolocar ne mundo em uma postura mais critica, menos submissn e até reinvindicadora uma nova perspectiva se abre para eles, E niovas perspeclivas significam ampliacao de seu horizonte, abertura para um novo campo de Possibilidades a partir do qual o acontecimento pode dar-se, sendo qute esta ampliacao ja é, algumas vezes, a propria aberlura ou aconlecimento. Devo reconhecer que muito da minha postura, que se aproxima da atilude acolhedora humunista, pode nao desalojar o cliente do seu habitual, co sett “acostumado”, dificullando o deflagrat’ do acontecimento transformador embora possa, igualmente, ser o inicio de uma consirugho gestaléria, do acontecimento. Instalar-se_no mundo como pessoa, (lembrando, com Figueiredo, que todos nés constantemente alternamos as trés condigées: meros individuos, pessoas e sujeito) pode permitir “um espaco de separagh secolhimento, de protecio, que nio encerre o existente em uma clausurn mas the ofereca uma abertura limitada (portas e janelis) a partir da qual sejum possiveis encontros - saidas e entradas - em que se reduzum os riscos clos ‘maus encontres’, dos encontros destrutives e traumdticos. Portas e janelas por onde wma verdadeira alteridade possa insinunr-se e eventudlmente impor-se” (Figueiredo, 1195b pas)."* 2 apenas une xenon pica ddeccoaacreduvan quel preeuien ies {2coar que ve inca ha 4 ees + Geordie utre ty Ao término da tiltima — sesso, costume fazer uma sintese da minha compreensio do que ocorreu naquele encontro, Nestas ocasides retome 0 que foi dito (pelo cliente por mim), que sentido leve para mim o que dissemos ¢ que caminhos se abrem a partir dali, Busco entregar ou devolver aa cliente © que é dele!*, procurando consolidar o que foi vivide durante a sessio, isto 6, espero que o cliente reviva as experiéneias que ocorreramt durante aquele encontro. Procuro desta maneira fechar o atendimento, identificando-o como um Processo completo com inicio, meio ¢ um fim claramente delimitado a partir do qual o cliente deverai tomar devisdes sobre o encaminhamento futuro, Ou seja, participo ativamente durante as consultas psicolégicas mas deixo claro ao final que apenas ¢ tao-somente o cliente podera decidir o rumo a dara sia Vida. Paralelamente, porém, sempre deixo aberia a possibilidade de o cliente voltar a me procurar se assim o quiser, Ao reflelir sobre minha atuagio como psicdloga, pervebo que nao fiea clara a abordagem que adolo em meu trabalho. No entanto, se devo filiar- ine a alguma linha psicolégica, opto pela fenomenologia-existencial Por que tal imprecisto? elo fato de que entendo como invidvel a pureza teorica na pratica clinica, jé que vejo cada teoria como um tecorle epistemologico que di conta de apenas alguns aspectos do ser humano, sendo impossivel abarcd-lo em toda swa riqueza ¢ complexidade. Por outro lado a abordagem fenomenolégico-existencial caracteriza-se muito mais por ser uma descrigdo (fenomenolégica, claro!) do ser humano (o ser que nds mesmos somos) do que uma teorizagao sobre ele. A fenomenologia é sempre muito mais filosofia do que psicologia e, como tal, quesliona as diversas teorias, colocando-as em cheque ¢ constituindo pontos para reflexdo que poderao incidir, sobre aquelas enriquecendo-as. Entendo que, tanto minha postura na clinica psicologica quanto minha compreensao dos casos que atendo tém embasamento — teorico fenomenoldgico-existencial mas ambas so, ainda mais, resullado. das articulagées possiveis entre o que sei de p: ‘ologia com contribuigdes da filosofia (principalmente a heideggeriana sob a dtica de Figueiredo) ¢ outras influéncias que considero quase tao importantes quanto estas, que silo a literatura, especialmente a poesia, e © cinema. Ndo necessito retornar ao tema dos saberes existenciais imbricados cm toda aluagdo: “#1 menos ni clinica, os psicdlogos estio sempre, ou quase sempre, transitando, quando mais nao sejt na medida em que o provesso de elaboracade ~ nie consciente ¢ nado programado ~ do conhevimento ticito thes impse um movimento a. esd ve ou npg vr rere ew ewes mnelabolizagio de "(igueiredo, tosis. pot) experiéncias, metabolizacao de

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