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‘Bp. curls Garvan, a NOTA SOBRE 0 AUTOR René Zaazo & Professor de Psicologia Genética na Universidade de Nanterse. Desde 1902, sucedeu a Wallon na Direcedo do nboratério de Palcclogia da Crianca da Escola Pritica de Alton Estudos de Paris, Antigo assistente de Wallon ¢ discipulo de Arnold Gesel, com ‘quem trabethow nos Estados Unidos ¢ de exjes obras f01 0 {ntrodutor em France, Zazzo 6 por au Ver um peledlogo da lnfincla com individualidade propria. Dos numerosos livros e ‘artigos que publions, destacam-ee Devenir Intelligence ct Quo tient Ages (911), Paychologues ot Peychologies Amérique (1948), Les jumeau, To couple ot la personne (1982), Conduites et conaclonce (1982), Manuel do Pesamen peychologique de Penfont (2962), Trasté de Paychologie de PE nfant (1969) Les Débéiités (1960) Achilles Delari Junior HENRI PSICQLOGIA eMARXISMO Achilles Delari Junior RENE ZAZZO HENRI WALLON PSICOLOGIA eMARXISMO Precio de JOAQUIM BAIRAKO Professor no... PA. @ Diector do Centro de Oriontagio @ Observagse Médico-Pedegéaice (M. A. 5) Postcio de JEAN PIAGET y wea oras a Wands, Pitron e Michotte» Direi sobretudo que se sente entre nés'a falta de personatidadcs como Wallon, onde © cientsta se liga atenta © militantemente ao police, contr ‘indo para as grandes transformagdes. Como nos dis 2aseo: «Ba cidncia que fas 0 marzivmo endo o marsieme que faz a Da revisténoia & Wbertagdo, da longa noite da destruigho (da rsd —0 fascisma— a alvorada ie Ubertagto, Wallon {foi exemplar, congregando, apesar de tudo ¢ de todoe, amigos ‘eeotaboradores que wa sua lus flzcram progredir as eigncias {do Homem e contribuiram, na motile do possive!, para wna sosiedade mais justa, a tibertagio ¢ dessa colaboragdo,recordo a Reforma Lan- ‘ovin-Wallon, quo ainda hoje a Franca nig ousow por rasies Sboiae pir em priica na sua totaidae. Vejamae em seguida um outro capitulo, que esoathemos por nos pareoor ser 1m resumo da obra de Wallon, feito em intongdo doe poicdtogos ameriemos que praticamente 0 des- conhocem. # 0 capitulo «Quem é Henri Wallons. Como noe ‘dis Zasz0, Wallon & conheclda por toda a parts, mas existe ‘cum iltimo wniverso para conguister, o do mundo anglo-sai- nicos. Tver que ease desconhecimento se dova & compleridade {a obra, quo prope wna via original para explicagto do com- portamento. ‘Bm 1985: com a publioupdo de L'Enfant Turbulent, Wallon rope aquilo que mais tarde ve chamaré wna . 2B cana presen fision, psicoligica ecientifion que Zaz20 aborda com afecto 0 aamirasio, Assim fol posslcl que nascetse yma. escola, uma comin nidade de trabatho ¢ no wma «seta» ow eoapelae, Dak a impor tincia do corton personaidades que vrvam de modelo a outras para 0 progresso do conhecimento. Silvio Lima disia mien com texto aprozimaio: «As nossas Universidades ¢ Intitutos, tim enfermado da carénoia de poderovasindividualidades crise 1 Catnene dos tigos motores e picomotores) até a génese do iigico (ponsamento) Por outros plaoro, do comportamento Inotor da extratura mats olde, cogntoas co eategorii, {conduta ve voi organicando, Mag € através de wna noqt~ “chave, a cmopto, que ve ctablee @ ello entre baigio, sein pioligice, Prineiromente lida oo ts, Seu suport, 4 emogio diferoca-c através da yralingio (o papel do 9. ius ot de outrom na eifieagto do psiquirmo), pra eulminar ‘mapa que se poder, txpropromente tales, chamar pero: aldade _ Assim ao etabclcve wm sistema equliorado"e artiouado ‘entre aspectos newrbiotgicns, aspctos socioafectivoy ax pectos cognitive. Essa neuropictopia, hoje tanto om vopa sobretudo nos autores americans ¢ sxitias, Wallon Joi o primeivo 0 re ‘onhoot-la embora com 0 nome de Psiobilogia, Ais, 0 Labo. Tetirio Wallon, nome gue tomon apse a sua morte ocoria fm 1962, chamase sLaboratiria de Peicobilogia da erianpan, ‘nome programtico, elucdativo do qu vimos diendo. Recor demas finaimente gue no projestowallontano de picoicogi, eats tambim pare além da funda neuroblcigios © sendin (no sentido do deencolimento) wma fundamenterso patei- sia, Basta recordar que 08 tipos picomotores eto intina- tnente relackmadan com oe sindromas de teufincia peie- snotora ‘Vamos termnar este breve pric ctando Zao; «A mo- tricia ¢ @ conacénia odo 0 dois pas entre or quis ve oleria casioar as vias concepptes de peiclogia. A da- Tectioa do Wallon consist om wir agulo que d primeira vista son surge como ndo coneive: através da ua coro da emo- soe oe jg ve «ide rare, fenta a passagem ene o organize ¢ 0 swguen, is uma muito breve refleado sobre uma obra gigantesoa, Margo de 1978, cer ay JOAQUIM: BAIRRAO 0 ossivel. Digo o que cle me dio as perspeotivas que me abre nos campos da peicologia,esperenda despertar o apetite do li- for 0 que este descubra nas obras de Wallon uma outra oie, os alimentos de que precioa. Estes esbogos também sdo maly convonienten do que wna exposigto didéetia das mancivay de ponser e de evcrover Pr ries de Wallon. Nao porque ele proprio proceda por esbor. Auto pelo contrrio,otrazo do scu pensamento sempre mito firme, 0 sew diseurso frequentemente de wma extrema dons. ‘inde. B € esta densidade, cota riqueca, que ve presta « uma ‘rultiplieidede de leituras. Refiro-me a leturas comsplementares 5 © ndo a uma diversidae de interpretagées, pole 0 pensamento ‘de Wallon no € ambivatente ou ambiguo. Wallon dewsme um dia 0 consetho, mato signifcativo vindo 4 dele, mas que munca segui, de nfo sublinhar nada nos meus ‘seritos, de nada realoar mediante 0 emprego de stlions ou por ‘qualquer outra forma. Com este proceso, disia, wood limita liberdade do litre fisa de wma ves por todas. 0 movimento {lo seu ponsoment, Assim, memo nos modos de expresso tipogréfica, velava or que o pensamento jamais se congelasse em palacras, numa ‘ategorisapio intelectual sempre reformdvel, Acima de tuo, 2 que Wallon nos ensina é 0 vigilincia contra o empiri de sia: "Na gua obra exlstom, som divide, min-sistémas, como por cremplo a sua feoria dos estos ou a sua categoriaago dos tipos psicomatorcs. Mas trata-se sobretudo das sintees rela: tivas @ wm certo estado do saber, ¢,sobrotudo, das construgies destinadas a ustrar, nam momento historicamente datado, 1m étodo © uma direegio da imvestigagio em pricologia, Pratan- dose de estédios, hoje om dia contestives, o principio que subsiste ¢ 0 de aproonder a evolu da erianga na sua glabai- “ade, 6 o de ndo fragmontaro devir em periods extéticns, Tra- tandose doe tos psicomotores, devemoe reter que @ motri 2 PREFACIO| Ao decidir pubionr uma recotha de alguns dos artigos que ‘onsugret a Henri Wallon, renuncio som divida definitivamente ‘20 projecto de eserever um eatudo de conjunto sobre a sua obra, Deizo a outros, menos prizimos dete, o rsco © 0 mérito de vem tal empreendimento Se 6 vordade que pareve « todo 0 leitor que Wallon é um autor dificl de apreendor, de abarcar, de assimilar completa: ‘mentee, sobretudo de tranemitir a ovtros, nomeadamente 00s studantes, 0 facto & que a difculdade é ainda mais paralisante ‘para mion que trabathel com cle durante um quarto de séealo ‘Se redigisse wm lioro sobre ele, recearia construir uma ‘ertdtua do mdrmare ¢ de sal, 3¢ desse uma apresentazdo sist ‘nition da sua obro, tomeriatornd-ia wm sistema, com a cada ‘busica que me dda minha qualidade de eucessor na dirccpio to a0 laboratério (0s eshogor que constituem ov mous artigos dixpares no ‘apresentam estes perigos, Convém melhor ao tipo de relagies ‘que se estabeleceram entre mime Wallon, no plano iteletuat no plano humana. Bim cortar momentos, jé ndo sel se ele ‘use 03 eu quem fala. Nests texto que contom repetigbes ine- vitdoeis, ndo inponho a minha Tetura de Wailon como a tea u cidade € 0 teido comum ¢ original de onde prosedem as dife- ° 3: ventes reatisngies da vida priguicn. we Nestas duas construgdes aparece claramente o projecto seallonano, a0 memo tempo a questdo fundamental que Te- weanta a directa que propbe para rsolué-la. Para Wallon, tel ‘como pora Freud, a questdo prinopal €a passagem do bioligico ‘no polquco, No entanto, ao passo que Freud apela para uma ‘etapscologia, para forgas hipotéticas, Wallon empreende a londise das emees originate, ito 6, afial de contas, das moda- Tidades areatcus da sensiblidade © dp movimento. “As actualidades da picologia, em 1975, confirmam « actua- dade de Walton, A retomada dos trabalhos sobre a primeira Infancia ¢, nomeadamonte, as reventesdescobertas sobre on procestos af: tivos, mostram.nos Wallon como wm precursor. Sabe-se hoje em ia om plena ceteza que a vinculagdo da eringa& me, através (das pessoas que a rodciam, corresponds a wna necessdade ‘ata. Ora Wallon afirmara, hd mae de quarenta aos, na base ‘day suas obscroagies, que erianga é um ser social gen feamonte, balagiamente, eso que flte ds tories anglosazs- rrieas da afeigdo € uma apreciagdo mais exocta do papel da ‘mondo para a compreenado deste proosso. Wallon pode aju- ‘dar-nos a compictar esta teoria. Pode também ajudar-noy ‘compreender 0 sibito entusiasmo das noesos contempordneos pelos problomas do «Corpo> e a desmisifear este entusiaemo. © misticiomo é a contrapartida das incertezas da oncia Iniciamente, desejave intitular esta compllago do se. ‘uinte modo: Henri Wallon, Contudo, acite! 0 titulo Paologia £ Marxismo proposto pelo editor porque pense que 0 priprio Walon otra asta primar obra qu le dg i= vase Juz do marsiamo (1985) ¢ definu explct trice ign o aes metodo come soniye do materilions 2 letoo. 1 [No entanto,& de rooear um matentendila devido uo facto do marzismo, que 0 deningia c reowss deltadala idoiogia, paces actwalmante no espirito dos seus adversiriog mesmo no de muitos dos seus partulrios como ua ideologia ‘Na reatidade, aquilo a que se chama marsiemo & a omer gtneia, om mendos do séewlo passado, de uma nova idads do pensamento, A sibita aoeleragdo dag trnsformagéee da soci. ‘dade, a revelacto dgs conlitos sia, como motor da hstini, 1 revolugdo dariniana que substitu a eternidade do homem pela idea da sua génese, om fulgurantes progrestos das téenicas 6 das eiénias, oralelamente aos desonvotoimentoe da fowafia ‘ortica, tudo converge para uma tomada de conscéncia das Tis sum MMe regem a sociedade, 0 homem, a natureza. O materialiems Se ANG \éa afirmagao de que w naturesa, quer seja fision ow mental, |é uma reatidade objectva que existe fore independentements ‘da consiéncia. A. dalétiog 0 método' quo consite em consi- derar que a natureza ndo & wma acumalagdo acidental de objec- os, que nenbum fendmeno pode ser comprecndio se for ena ‘ado isoladamente, que os fenzmenos dovem ser conserados nde apenas do ponto de vista das suas relapses ¢ dos seus cao Aicionamentos recipracos mas também do ponto de vista do seu ‘movimenta, da sua transformapto, que comportam contradi- ies internas,confltes, «que estes contradibes do conta dos Erocessos de desenvolvimento, ‘Nesta perspectiva, «aslo do homem nfo é absoluta, nem} bsolutemgnte relation, A razdo formacsee transforma-se plas « 1a26ee das coisa, humanas e materiais. as encontramos mas duas obras fundamentals de Wallon: Les ‘origines du eoractére (1934) ¢ Les origines de la ponsée chet Penfant (1945) [No entanto, por ser menos dificil numa exposigho to reve, optarei por ilustré-in ao nivel dos problemas mais gerals, Ao nivel das interogagdes em que a pscologi cientificn ae diige & flosotia para The arrebatar os seus dominion rscrvados. Um lnleo e mesmo problema, talves, sob formulagSee ou perepect'- ‘yas variadas: como reseiver a questio sprosentada pela ant tese dostes pares de nogSee—orginico e socal, individuo e sete ade, ortinicoe psiguico, corpo e alma. "Todas as respostas dadas até entio consistem em manter ' oposigio iredutivel doa dois termes ou em redusir um a0 cutro, Por conseguinte, continua aberta a questdo que os meta tisios, allés dvidides entre si, jamais couberam resolver. A Feloologis deve responder-ihe para ge afirmar verdadeiramente ‘como elfneia, Mas no 6 fei Henri Wallon eserevia em 1858: «Um dos passos mals dif ois de dar para a pecologia & o que deve unr 0 orgiieo © 0 siquic, a alma e o corpo. * luadigéo e por uma certa estrutura da. Universidade, Nesse tempo, a psleologia nfo exstla como matéeia auténoma de en- sino, A floeofia« a medicina eram entao ce meioe mais seguro, endo 08 Gnicos, para chegar ao objetivo que se determinara, ‘Melos que virdo a orientar, a marcar sua obra e que utlieou, lids, mum extraordindelo esforgo do assimilagho ¢ de antec pacdo, Formagio determinada pela época. Evidentemente, Mas @ sua opgio nio foi consequéncia nem dos seus estudos, nem da {nfludnela externa de um mestre ou de uma idologia. A origem ‘Sruito mals profunda: uma atitude para com a vida, para com ‘a outros, um diaposigto anterior a qualquer formagdo univer- __ Stivia, ume sensibilidade fundamental, Ele disse um dia: «A pscologia comegou por ser, para mim, uma questo de gosto, ‘8 curiosidade pessoal pelos motives, pelas razdes de agir da ‘eles que nos rodeiam, Acontece-e frequentements, ainda hoje, extrair ume palavra duma conversa erogisti-la som sa- bor porgué> ‘io oe trata de um trago anedticn. Em Wallon existe sempre, mesmo quando 08 longos desvios da andlise cientifca os voos da imaginagéo o efastam neces. sariamente do quotiiano, o contacto com esse quotidiano, 2 preoeupagio latent pelo indviduo na sua totalldade, nos seus tragon partieulares, no significado doa seus comportamen's, 5 com os outros, ® uma atitade fundamental ‘que confere & obra de Wallon a sua unidade e a sua tens. ‘Uma atitude que nos explica em grande parte 9 motivo por ‘que a pecologin de Wellon 6 a das diversidades mentais © das contradigées, porque rasio nfo esti na sua natures chega @ ‘um sistem. A cigneia do psiquismo, por mais elaborada que seJa, mo pode encerrarse num sistema ¢ também nfo mime ‘sto ealétion ou média das coisas, dove modelarse,edifiearse sobre & aiversidade e as eontradicbes do seu objeto. Em todo 0 caso, este texto i nos explicn 0 que levou Wa Jon a denunciar, am certos peleélogos, a tendéncia a fechar & ‘explicagdo psicolégica sobre si mesma, sem referéncia ba con ies onginieas, 0 que o levou a designar o seu laboratério pelo termo de pricobiologia, o que o levou ser acusado de Oorganiclamo. Nepigenciar a realidade corporal € reesir, por ‘mals Iaieas quo sejam as dovtrinas, nas falsas wolugies do ‘spiritualism ou do misticlamo, Assogurar a espcificidade da lg porte poo & negara peso, mparanon dn4 (0 caminho mais seguro para tentar resolver o problems 6 0 de extudar 0 homem na sua génese, Vejamos entéo como © pode transforma esta famosa antitese individuo-sociedade Nio hi harmonia pré-stabelecida, diz Wallon, entro o esenvolvimento da crianga e a aocledade, Uma tal harmorla ssuporia um ser da naturesa que trouxesse em si as vitual fades do adaptapio a uma socledade Imutivel, em principio sterna. Ora, nds sabemos hoje em dia que as civilizagées a0 rmoriais, quo as sosiedadea so diversas e mutivoi, que todo 0 hhomem’é'0 homem de uma carta soeiedade. Nao exiate har. ronia pré-estabelelda ¢, por conseguinte, também no exiate ‘qualquer histo, Desde o seu nasclmento, a erianga 6 modelads palo Seu melo sabiente Nom harmonia, nem histo, Como compreemler isto? As ‘nogbes de harmonise de hlato pertencem ambaa @ uma maaeia e pensar metafisia, ito 6, que apresenta& partda, duns ent- ‘dades, dols absolutes —o individuo e a socledade oa ainda 0 ‘orginicoe o social — dos quais, em seguida, ora se afirma que se harmonlaam (gragas a nio sel qu bondade diving), ort que © opdem, iredutivelmente, Bxise, sem divide, um organismo ‘com as suas lei prprias de desenvolvimento, existe sem dvi, ‘num outro plano, ume sociedade que pré-eriste ao individu 2 ‘que Ihe sobreviverd, Mas o indivdo nfo é definivl,rigoross % ‘Rent, nam por umm nem pela ours, Nao 6 redutvel nem um sem outa, 2 un centzo de actvidade no quale ena 3 intracto entte ambos 2 hem conhecida eta frase de Wallon, io freqentemente citada:. Respeitou este ‘ompromiae, Detaflon ¢ venoes etea morte, Pagou,g com lar fgueza,agullo que chamava a diva social dow pelvileglados ‘Antes de nos abandonar repete pela tia ves: «A soc dade esti na natureza do homem, pois fora da sociedade um ‘homem nfo poderia manifestar as suas virtulidades de omen. ‘Ena medida em que oindividvo(entalbertarse a mesma © 0 ‘consegue que pode sobreviver& sua mort tsa Hoje em dia, cle esti presente em toda a parte. Mais que nunca esté presente. De acordo com a nica forma que potia admit, sobreviven& sua morte fica, ‘onagies Ge sper «te repea ‘Se 0 passo de que fala Wallon & tio diffi de dar, 6, multo provavelmente, porque 4 nossa ras, tal como 6 actuslmente fonsttuide, se mostra mals ou menos paraftien quando se trata {ae seguir, de compreender @ mudanca e, evidentemente, quando ‘4 mudanga 6 passegem: a paesager fundamental do orginico 0 pefquico, da vida co pensamento, mas também do orginico 40 vivo. (E pademos perguntarnos, e eu pergunto-me, indepen- entemente do que Wallon possa ter dito, se aquilo que perce. ‘beros como solugio de eontinuidade, como rupture, © onde que- ‘emos descobrir uma passagem, sera em todo o caso um salto ‘4a naturezn ox, por ves, um hinto da noesa ra2fo) ‘A tendéncia habitval de rasio consiste em escamotear & passegem ou considera impossvel, O reducionizmo que aac {ulla todo o feito, toda novidade na mua eaa,e 0 tabu qs Droibe como Insensata toda a pesquisa das orlgena traduzern © ‘mesmo modo, « mesma enfermldade da razio que deixaaasim campo live és miltiplas elucubragées do misticlamo, ‘Wallon, tal como Freud, experimenta profundamente Insatisfagio que leva tantos eapritos a refugiarem-se no mie- tlclamo, Contino, tal como Fred, no & para renegnr e rad, & para reexamincla, para «reformar ox abolir as dating ot categorias intelectuais do passado que poderlam parses bra do conheolmento, Nesse sentido, que para mim nada tem ‘de peloratvo, Wallen ¢ Freud fo elentitas. Herdeirs, amboe, 4a revolugdo darwiniana, traneferem-na, fazert-na manifestar™ 0 no sou dominio, isto 6, ao nivel mais elevado das transfor. rmagdes da nature ' certo que proclamar a necoseldade de uma revolugio por- que as coisas vio mal nfo & o mesmo que fazba; «nfo & dar 8 foluedo», diz ainda Wallon, «nem mesmo € dar um programa preciso de investigagies,trataee apenas de indiear uma dee- io» (), A difiuldade das investigagies, em que se devem def. 36 DO CORPO A ALMA: AS RESPOSTAS DE WALLON E DE FREUD Se algutm se lembrasse um dla de comperar, 26 mais pro undo des suas obras, Freud e Wallon, devera comecar por snalisar a forma pela quel eads um dsles formulow a antiga (questio das relages do corpo e da alma ‘Um dos passce mais dificle de dar pars © peicologia & ‘© que devo unir o orginic e o peiquico, a alma e o eorpo> () ‘sta frase de Wallon, une das Gltimas que esereveu, tam bm poderia ser de Freud. Com efeito, encontra-e tant num ‘como noutro tudo quanto este pequena frase implica: que a fsolugdo pertonce & eléncia, que nko se devem «reper como fextracintifices os problemas relativoe & naturezs, ax origens o peiqusmoy; simultancamente, em sums, uma recuse da metafisie © do positivism; e, também, » convigio de que do ‘orginico a psiquico tratase de uma verdadera génese, isto & ue 0 paiguco no te poderia reduzir ao orginico nem expl car-se som eit, 0 objective dos dois autores 60 mesmo, eI mente forte a sua determinagio de abandonar os caminbes jé ‘exploradee. log, La Mowonte tne Move Ge 1008, repro sm won 35 alr novos métodos, iventar-se novos processos sempre revogé: eis, emorgir novas nogéas sampre sujeltas a revo, aprecn- demo-la por tudo quanto pode parecer & primeira vista laborioso, contraditrio, desconcertante na obra de Welln, eom uma im- Dresiio perpltua de rseo, Mas quem nio arrisca nfo petisea, ‘cinso & também vilido em eifneta, e numa elénca incerta mals do que em qualquer outra. ‘Uma certa vantagem de Wallon sobre Freud 6 talvez, paras oralmente o facto de no ter eonhecido o éxito das multides 4que multipica infinitamente os riscos, no ter eongregado m Tare de dscipuos ede cores prontos a trullo cu a vendé- slo A cate respeito,recordo um ineldente bastante slgnificativ, [No primeiro ano em que Wallon ensinow no Colégio de Franca, ra ou seu assitente alguns dos seus alunos vieram ter comigo pra me pedirem quo les eropetisses, que Ihesexplicasse o se, ‘curso, Wallon, a quem transmiti este pedido, opts-se com ‘yeemncia. Nao pode haver mediagho entre eles e eu, disse-me, fem resumo, mio pole haver tradugio para uma lnguagem ‘clara» dagullo quo eu digo. Tal tradugho seria um regresso & ‘eas que me empenho em denunciar. Tmbora no me sinta hoje, mais do que hé trinta anos, no Aielto de ser sea inténprete, interrogo-me sobre a forma pola (qual as suas respostas se dictinguem das de Freud e sobre a3 TaaSes do uma audiéncia ainda tio reatrita,comparada com a popularidade da peicandlise axis bem evidentes do &xito de Freud: 0 escindalo do sexo, o contrbuto de wma paleterapia, uma ideologia & medida {as contestagdea do nosso tempo, o rigor de um sistema que tem ‘uma resposta para tudo com apenas o mfnimo necessirio de ruargem de sombra, de forma que oa impulsos mistios af encon trem alimento, tanto como as necesidades de raclonalidade, ‘Mats profundamente, reo, a diferenga de audléncia entre \Watlon e Freud deriva de uma diferenga de intarpretatvidade. Dp ponto de vista da ranio clissea,o esekadalo walloiano nio 4 menor que 0 esckndalo freudlano, mas 6 muito menos facie rmente susceptivel de ser tradusido ou traldo om Linguagem ‘claras, e nfo se identifies, evidentemente, com um eseéndalo ie eboa vida ¢contumens, HE om Freud o gosto pelo sistema, a tendncla para espe- clalizar as pogas do aparelio paiccbioligico — com uma pes: ‘isa de nogies ede imagens, alls, sempre inacabada, de forma ‘que 6 dite saber quais 540 para ele parte do resi ¢ a das tetiforas, Um ta sistema 6 gem Aivida dinimico, sem éivida que as contradigSes irredutiveis A rasio clissia subsistem, ‘as os confltos desenvolver-se entre satemas claramente def ldos,fecimente imaging ven, Em Wallon, nada existe de comparivel aoe téplcos de ‘Freud, nenhum lugar onde & imaginacio do leitor posta det- ‘ana, nenhuma armadura em que ele posia Buscar o apoio, Entre 0 corpo e a psique, nenhuma instdneia que sirva de me isdor, mesmo a titulo de metAfora. Km Wallon, a dinkmica fencontrase como que no estado pur. Toda a sua ante incide sobre processes, Para tentar explicar como o onganico se torna paiqusm, ou como 6 0 seu substrato, Wallon, com efeito, parte ‘de quatro noses para alo estreitameatesolidrias: a emogio, a motrieldade, a imitaglo, 0 Soci, Deve comecar-se por pér em divide a ldgica unllinr oa progssson e das fungies, Com frequénela, a contradigto entre as doutrinag provem de facto de cada uma delas 56 ver tam aspeeto das coleas, A contradigdo deve ser procurada na prépria realidade ‘Aesim, pondo de parte a nogio de soeius (a qual, alla, sb tardiamente aparecerd de forma explcita na obra cerita de ‘Wallon, todos os processoe psicobiotigicos fundamentals sfo sbordados « partir de uma Busca da aua bipolaridade, da sua mbivalénela funciona. E 6 quando ataca o problema da emo- 38 ‘magi uma real contradigéo das coisas, Mas, como & 0 caso aqu, | aproximagio é demasiado esquemitics, demasiado grosseira para fornectr algo mais do que uma orientacio goral. Wallon toma entdo oconjnto dos dados fisolgiens, desenvave, ear feando, cada uma das duas eoncepgdes, depois fivlas encon- trapae, Batre os dois penelpios explieativor, entre a actividade cortical ¢ a retcgGes vegelatives, di ele, bre-se um arco de- rmasiago amplo, Lembra que existem no sistema cfrebro-eapinal centros sobrepostos, mals ou manos submetidos a0 eSrex, mas (que fornecem tambim energiae coordenaclo & vida de relasto; que, por outro lade, as manlfestagder visoeals supdem una lorganizagio de uma grande complexidade, cujo papel € devol- ido ao sistem auténomo; fnalmente, que estes dla sistomas ‘lo slo totalmente independentes um do outro. ‘A aniline assim eonduzida revela, no uma opoalo radial, ‘mas uma bipolaridade & qual Wallon volta repetidas veses, (. CConvém nfo esquecer esta biplaridadefisolégica da emo- co para compreender © que sio as contradigées eas diferencia (508 funcionais do desenvolvimento, A emogéo serk a matéria ‘doa sentimentos electvos, mas & também, «em primero lugar, senaiblldade sinerética, contigio, confusto, Particulermente {avorivel ao estabslocimento de refiexos eondisionados, eon uz, numa idade em que é impocetvel qualquer deliberagho, {A formagio de complexoe irredutiveia qualquer racioenio. Mas & também um prelidio da representagto. (0) <0 organ © 9 szciat no homens, Acenti, Abr de #84; produits nfance, 3 000 pe ” ‘lo que Wallon logo se caloea no carne das contradigSe, define © s0u método daléetio, afrma o sou projecto revelucionsrio. ‘A emopio reveste-se na obra de Wallon do uma impertancia (Geni de uma fungio) comparivel i do tbo na obra de Freud, nth em primeiro lugar, eronologleamente, na sun elaboracko tadrie, eat também em primeira lugar na géneoe paicobol6gica do sor humano, A cranca nasce para a vida peiguica pela emo ‘elo ® pela emotéo que se aprende melhor a indistingto print ‘iva doongnio do palqicoe etm aegulda passagem de um 80 outro. Ela & eagullo que solda o indviduo & vida social polo aver de mas fundamental na su vida biolgia> (). ‘ate de 1025 (1) aon seu Gltimos artigos, durante de trnta anos, Wallon aprofundaré cua anilie da emo- ‘lo, nas suas condigbesfsildgleas, como condigdo do caricter © da representagio, como prelidig da linguagem, tanto nas ‘rigens do pensemento humano como na ontogénese, O carter ‘equivoco da emogio quo a for considera, sogundo as terias, form como uma aetividade Gtil ora coma ume reacgio de desor. dem, deriva em primero lugar du diveridade dos centros ner- vouos de que depends. na sua obre de 1925 que Wallon nai fgura o método repetidas vezes demonstrado mals tarde, Exple, para opé-las uma & outra, ay teses da Laplogue e de Cannon, apicquo considera apenss 26 manifestagdes motoras da emo- ‘oe, por conseguinte, considera o eértex cerebral como 0 ponte de partida desta Gltima. Cannon parte das manifestagdes vise raise converte assim a emogéo numa actividade puramente veges tatlva blogulmiea. Evidentements, no basta operar a sintese de duas eoneopgdes opostas para se chegar & verdade e, sobre- tudo, para apreender a realidade nos seus intimos mecanismos. ( deascordo das doutrinas pode exprimir nome primeira aprox egrobiy om Bone 1, 18, et 9.88 ° No entanto, a fungi iniial da emoeéo & comunéo com coutrem, Com efeit, & semogao eabe © papel de unir os indvi- ‘duos entre al pelag suas reaeges mais orginiease mais intimas, flevendo esta confurdo ter por consequdnela ulterior as opost- ‘les © oF desdobramentos de onde poderio surgir gradualmente fs estruturas da conseéneit» (*), este modo, at influéncias afectivas do melo tém uma segio decisiva sobre s rlanga. O que no significa, evidente- mente, que criem tudo a parti do nada. Mas infitram, ear regam de significado, A medida quo aparceem, os movimentos, ‘an reacgies (0 e0rrso, por exemplo) em potdncia ne maturacio dag estrutares nervoeis, Nas primoiras semanas do vide nfo hi, verdadeiramente, ‘emogio, no sentido em que Wallon entende. A motivagio pst olga do grito ao naster, presseatimento ou lamento, & purse mente miticn. Neate estilo clementar nfo hi distingto no es- ‘pasmo entre sinal e cause, mais especialmente entre movimento senaibilidade (°). para além desta indiferenciagto primitive, ferfodo do pura impulividade, que, por maturagdo, o grito se {iferencia como meio de expressio e storms, com as reaceées {do melo © grages elas, melo de comunieagdo, O social captou 0 fisielgica para torn-lopalquico. CContudo, «desde que & mimics se torza linguagem ¢ con vvengéo, multiplien os matizes, as cumplicdadse técitas, of subentendidos ¢ eubtiliza, 20 contrrio do raptuy unfnime que uma emogio auténtica (). Assim, as emogGes determinam tums evolugdo que tende & sua prépria redugto, _Lvsation pevshloioe de Fonfnt, A Cas, 198, p23 2 nse ttn oy te aera REDE Se (0) "Lvantonpochlopigne de Fefons B18 ( Lcoton rychloige de Fnfon, p38 a ‘Tudo quanto acabo de expor ficaria praticamente incon- Dresnaivel ae a nogio de movimento no estivense constante- mente subjacente a de emogio, Ne crianga que ainda nio fala, «o movimento & tudo quanto ode testemunhar a vida pelqules tradula interamentes () Além dist, 0 movimento, pela sua prépria natureza, conti en Poténcin as diferentes drecsoes que’ vida pelguien tomari ‘ulteriormente tre as diferentes formas ou fungies da motilidade, a quo concerne directamente & expresafo emocional é @ funglo por. tural, mais amplamente a toicidade, Emotdoe funcio postural so sssocindas por Wallon desde a aua primeira obra, cons rade (sob o titulo de FRnfané turbulent) is anomalias do der Senvolvimento motor e mental. depois da sua dupla erties das soncepgies de Lapicque e de Cannon sobre a emogéo, baseadas respectivamente, como eves ertarlembradoe, no primado 40 irtex cerebral o no das reacgSes vsceris, que Wallon chege, ‘lito naturalmente, « definir @ emogio como reuegio ou ex: presao afectivo-ténice, Bore as reaegGes musculares viseersis e a8 mimicas do roto © do corpo, existe parentesco ou flag através das fr fies primordais do ténus e do equiibrio, Hata teori, apenas em 1025, sera abundantemente desenvolvida alguns tarde no seu curso na Sorbonne publieado em 1923 sob o titulo de Origins du oaractive chee Ponfante retomada, fem mumerosos artigos. Consitu, pareceme, « tave-mestra da icologia walloniane. A distingéo estabeleside desde hi muito eos fisiologstas entre fungio cinétiea ou clinica « fungio ‘énles, Wallon confere, nas emergéncias do desenvolvimento, tum significado paleolgice. A aetividade de ordem cinitica, © (©) Gingrtine do moviments no detnvlvineat gles a qu, fence, 3,80 precy bo name mp fey, # isos e sorriaos, atitudes € posturas, mlmicas do rosto e do corpo, inguagem dos clhos e daa mos, intonagées da vox, por ‘aia que nos afastemos das fontesorganieas, jamais ser Fom- Pidns a afinidades e as flingtes,seré sempre postvel o mare ‘moto emosional. A convengio mais sofisticads, a mais subli atitude de simulacio a6 podem funclonar em referénela & ver dude primdria da emogto Assim, o movimento, tanto no seu aspeeto einético como 1a sus fungio ténica, no é um trago de unldo, um simples me- ‘anismo do execugio entre as condigdesextermaa a8 cndigoes ‘subjectivas de um acto ou de uma atitude, B a emogd exterior risada, © 0 préprio acto. «Pertence & estruture da vida pale uieas (°). Principio de genética geal, @ movimento pode fun damentar também uma psiclogiatipeldgiea ou diferencial. Com feito, o jogo complono das fungées motoras, wus exacta coor denagio pressupem «uma roma de regras que podem no ter ‘8 mesmas de um para outro eujeito» (*), 0 estudo das diferencas individuals, erado tanto quanto ossvel aos seus determinantes neuroisioligices ou lesionain, um método de andlise. Permite também, ao elinico ao inves: tigador, fazer eorresponder a divereidade que se observa entre 8 individuos a condigdes previsase aliargar sobre estas con- Ages a sus distribuigdo em grapos mais ou menos claramente Aiferenciados (*). Assim se esbora, pela paasagem do patolé- ‘ico a0 normal, do sindroms so tipo, uma elfneia do individu, 0s tipos deseritos por Wallon e qu ele designa como peicomo. ores io essencialmente compleighes afetivo-tonias, formu () Slndiomas do tsuiésin palmer «tpn pcometre ann. dis Popol, 4, 1882 speeds om Bulnce 810 3 1°), Py 9.248 morons, 2, 280,» 20-241 tam det lk sista stably ‘ontarpguin ae vane Brfono, 3 1068, p60, “ movimento propriamente dito, é principalmente acqd, relagio com o mundo extorno: locomotde, preensio, manipulagéo. A to- nickiade 6, espeificamente, expressdo, meio expressivo de st mesmo ¢ de relagio com outrem. (0 que, para 0 fislologista, constitu sobretudo @fungio evi- dente do ténus, & acompenhar o movimento, dar ao gestom sua agildede, «sua finura, asus estabilidede, regular a fostaadap- {pho do gosto 20 seu objeto. Mas o que Wallon aublinha é a fanglo até entio deseonhecida das posturas, das atitudes, que por tum lado oe relacionam com a acomedagio pereeptiva, or ‘tro com a vida afectiva, ‘No reokm-naseldo enirclagam-se sem poder alnds coorde- rare, nem ter qualquer eficicia, bruscas istensies muscula- re e reacgies tGniess,espatmos. B o perfodo que Wallon de- sigea como de impulsividade para, «Incapaz de efetuar seja 0 ‘qe for por ai mesmo, & manipula por outrem, e & nos movi- Imentos de outrem que aa suas primeiras altudes tomam formas ("), Com efeito,exttbelecese progresslvamente uma ligugko entre as necessades da erianga, que exprime a sua agitagio, ea Intervengo do melo, «Os primeiros gestos que Ihe ‘so dels ao, assim, gestos de expressio, nio sendo 0s seis ‘actos ainda susooptivels de nada Ihe fornecer directamente das coisas mais indispensiveis» (»), Trata-se, na idade de dois ou ‘és meses, do iniio do estidio emaeional. rectivamente, todas aq emocbes correspondom, cada uma sun maneire, a variagder do ténus tanto periférico camo vis- cera (*), Varagies ossas que dependem todas da inervagio do Simpitieo, Expasmo intestinal ot orgatmo, gritos © Mgrimas, (O pape o onro me comin do ee, J eet. Pro (0) tartan movinesa no deusvinent pigs & 10) LBvaation poeholoiqne de Fenfot, 290, Jas em que o indlviduo ee earacteriza pela inevitvels trregu> Jaridades do ténuso, por consoguinte, pelo estilo dos veus actos © das suas relagSes com outrem. ‘Esta tipoogia € totalmente estranha As antigas nogées de rmorfologia de temperament tals como ae encontramos ands setualmente, por exemplo, em Sheldon. & pela sua motrieldade, pela sun tonlldade, peas suas fungées posturais, asim como pelos seus modos de sensibilidade, que o corpo se torna pique, ‘uma tal pessoa em vex do cutra, Wallon 6 alérgico a tudo ‘quanto possa parecer uma fxider, uma estrutura imutivel. “Aldm disso, se a importincia do tipo psicomotor 6, a so ver, manifesta em todo o eomportamento, tal nfo significa que se posta conclu que seja possivel deduair tal comportamento ‘partir de tal tipo, «Pole, em biologi, © por maforia de raxdo ‘ent Peiologia, © nimero de factores em Jogo, e, eobretudo, 0 los choques ¢ das circunsténcias imprevisiveis, tornam qual» (quer dedgdo impessivels (*). Por consequinte, no decurso da infineis, a tranemutagio 4o orginico no psiquco opera-cegragas 8 marca social, & dupla natureza da emogio, ¢ quando es eondigten de maturagéo a tor- ‘nam possivel. Mas este pelquico aeabado de emergir das reac- ‘6os rginicas, observével tanto no enimal como na crianga ‘muito jovem, permanece prisionero do presente, atclado 0 acto sensitivo-motor. Sob o angulo afectvo, fo aa confusses © (08 efeitos da emocio; sob o Angulo cognitive, & aquilo que Wallon designou, com tanta profundidade, de inteligenein das situagbs ‘Levanta-se eno um outro problema, flea por explicar una cuten grande passagem: como € quo, no dacurso do seu segundo tno, a crianga dé o pass deciivo que a leva da inteligtncia das ages & representagéo, do acto ao pensamento? Hy tadamas de inital plemotora etipor paleomstres, s 1 sabido que Wallon atribui & Kinguagem wm pape primor- ial do edvonto da inteligincia repreaentativa, que vé ela, con ‘trariamente a Piaget, una segunda fonte de lnteligdnea, vendo 4 primeira g sensorimotrleldade, Mas 0 aparecimento da lingua em nada explic sobre o processo da passagem, sobre 8 jungio entre aa duas formas de Intligéla. 2 pela imitapdo que Wallon 4 conta desta passagem, N&O ‘hk divide do que este recurso A imitacio ndo contim em si ‘mosmo nada de original Encontramo-lo tambin em Piaget, o, fem primelro lugar, nos alvores da psicologie genétice, em J. Baldwin. A originalidade de Wallon a este respeito deriva da dialéetion que aplies, mais uma vez, ¢ om catrita ligagio eam ‘as suas anilises prliminares da emogho e da motricidade (*) ‘A imitagio & movimento. Contudo, na sua origem, trates ‘menos de movimento orientado pare 0 mundo isco, para objec- tivos externos, que da actvidade sobre si mesmo ov postural ‘que tem por melos e por objectivos as propria atitudes do fufeltos (*), que 6, ao mesmo tempo, acomodagéo As atitudes e outrem. Nos seus preidios e cm si mesma, a imitagio & setividade pldstica. 0s primeiras sorrsos em resposta ao sorrso, os primelros ‘murmiiros, os gests em e20 aos outros ea si mesmo, distin ‘gues Wallon da imitagio propriamente dite, eo eritério & er diferda. Sio, contudo, o seu tecldo primitiv: fenémenos Ge Indust, de contigio, de consondncin. Maa o gesto, quer fomegease por ser mimetiemo quer simples co, raz conslgo 2 Ver eo yout do pesate volume o tera de Jean Piaget 0 papel a inltagho ma formagio a rpromataso» ‘Waton via a morer aunt moses depot au pblegto do artigo Praget. No pote repoode in. Mos seatrese toeado © Interstate (0) De Vdc ate Ponee, Pasmaro, 192, 9. 24. 6 win, arotamente ou por Intertdio de P. Jane (°). ae Walon itera com tu flsnde de exes me fon que a tram ceo que reste du un sre, ian ee Ae confre ao conn apitate sigan 4 lisa de gue «erie comega forse tear ttamente ‘4 tmbltca humana, confunda Com 6 teu parcnens Hels Ge tna iniferenctagtoprinitin Fai da sul cont ew encntrase presente nda fn thas Mog 36 el tere, num artigo psoas em S045 oe otro de sons teria exile do os sparse, Teora pends epee, (2) Pats una epitenlogs de cinca do deenvlvinente pik oto, pra compreeder ina da fonten rine fu bra de Wal Piaget o tam, em menor media, de Frew, er peeue tear, ta Jae ih Daido ot Dae se a es Sipe, Fol Daliwno pret tat do au West como resale a uma ‘secon, da en enti morn gh 9 Spier Waton ol cambio le qm eategy at atoran doa pee sti, iterormente osenveteda per Paget © ue Ine fortes © ‘ana eqvema func stininghoacomosaetoamapan, Baldwin 'nko tum astpaamdy to Toogng te nox con pode rane ing i nese Pr aes {unto de ste, po mea toro Papsleues et Pgcholos mean, ‘Rute ae reprugso detract, sa un ono Se lees ead ‘ito tem —a propia a nogho de ects —'t mate 49 sek sth (e pecurr: 20 ou 9 ote tm. un orgem cumum, Baan soe, ‘nsam forte ean « ttt, ampere rans se cement San pe erst 0 sar eo tat {asx ore pase. Conte, pots & pout através tein fd totro auto et wjopo (sean notes prsonmoe« turf sa © seatinesto do eu drt pe nitacks do uses, t 0 tntineas so ote ethane em proprgie srt rguees teu Cocco ee us dees am sot seca m prodafe Go Inagon, bs ce Yepvoment mente ches Tefen et dons te Tac, Pare 16, foie, we razio do seu proprio progress, Modifica aquele que o faz; pela Fungo postural & qual pertance, dé progressivamente A erianca f sentimento, a consciénein ainda obscura da sua coeréncs, ‘eforgada pela percepedo dos desacordos em o modelo imitado, esojado, rejeltado (") “Assim, nesta actividade mimétlea, em seguida imitative, fa partir desta motrieldade que comeca por se orientar para si Incoma, iniiase uma diferenciagio, prepara-se uma espécie de Wiregen. Da confusio vai stir o seu eontrario: a distingéo, © Imesmo a oposigte. Evidentemente, sempre com uma posers! regressio, uma cecilagto entre os dois polos da imitacto: ale- ‘nagdo de si mesmo no objeto, em outrem, e deadobramento do Seto a exeeutar a partir do modelo, «A lmitagio concretlzou- ‘te... como um ditamlsmo produtor, um modelo em poténela {que comegou porte apreender apenas na sua realzapio efestiva, thas que em soguida ee destacou para se tornar representagio puras (). ‘Assn, a diaetion du imitaglo 44 conta da passngem & Intligdnela discursive, x0b a qual, alls, continua a subslstir = Inteligenca das aituagGes, Intulgéo pldstica no instante pre- sente, Ao mesmo tempo, expicase a formagio conjunts do ‘saoiue e do eu ‘A teotia do socius, considerads loladamente, nfo 6 sem &- video sontribito mais pessoal de Wallon. Deriva de J. M. Bald (Fanos inn gue, parade» pogo da imag sutmtin, imac’ sina € st «mo ttt ster © oe [tp da iagtosnetvs,rnterpreta © arama que Freud smbeloa fib compen de Baio gorau © eu iginds. De Fcte& ts ” ada num segundo artigo, dea anos mais tarde (*). Tudo 36 pasza como se Wallon tivease levado vinte anos a clucdar 08 procassos,o¢ melas (emogio, movimento, imitagho) pelos quais © orginico se taraa psiquismo, a amadurecer Ientamente as Inmpleagées das suas anilises, antay do formular a sun dialée- tica do evoutrem. [io haverd em Freud uma evolugio aniloga? Néo signfi- card a viragem de 1920 uma passagem da anélise dos processos Tundamentals, dos conflios, As parts salient dostes conflitos 2, como eixo de uma nova tépica,&teoria do eu No sera ense © camino quaseobrigatirio do yaeSlogo que parte do bioligico para chegar ao homem? Com a diferenca de que, entre Freud ‘Wallon, para eate timo a teora do eu nko implica destrul ho ow a restruturagio de uma constragio anterior. Em resumo, a teoria de Wallon formula-ae do seguinte modo: entre 0 eu e 0s outros, a rlasio estabelece-se por inter miédio do outro que cada um trax contigo, Ease outro & desig ‘nado por Wallon tambm pelos termos de alter, de outro intimo, Ge socius, ‘Qual & sua origem? Néo 6 certamente, diz-nos Wallon, sum decalque abstracto das relugdes que pode ter havido entre © sujeito ¢ a sua mio, entre o sujsito © pessoas reas. Inia mente, nfo hi sujeito onde se poss imprimir eate decalque, no ‘hi um Narciso procura da sua imagem. Exist, sim, um estado fo indiferencinggo total. Wallon, ainda que pouco dado a meti- foras, compara este primeiro estado da conscléncia «a ume rebulosn onde se difundiriam, sem delimitagéo propria, acres sena$riosmotoras de origem exdgena ou endégenn. Na sus massa, continua, aoaharia por desenhar-se um mileo de condenagio, (eu, mas também um adit, o sub-eu, oxo ovtro("). Entre of () 20 apot do cure na onacnla do es, J. ate Praha, 4 106 ("), Ne- ‘hum autor dé todas as manifestagdes paiguieas uma colors ‘odo male sensual, mals carnal ‘Ni sor que «o paseo que deve wnir o onganivo ¢ o pel ‘quco> tenba sido finalmente dado por Wallon, sem ele mesma © murpetar’ que née tenhamos a esse respeto como que um Drestentimento sem que o possamos ainda comproender perf tamente? (2), Gusto de a. Bergeon (Prchloted premir de, PUP se, 250) de Soke Lang, 6 ua agrarian enstans 1 alzn poe plant % © problema do outro & também o problems do eu, da con digdo humana. Todos os homens o sentiram, com Isldes maior fou menor. Todos os grandes flésofoso formularam com maior (ou menor penetragio. Mas como formular um tal problems som corner desde logo ‘orseo de uma fal orientagio, de uma resposta preconoehid 0 entendimento, eonsoante at eateyoriae comune dt lings jem, desenhe e separa uma da outra duas palavras — 0 eae 0 ‘outro, por conseguinte, duas realidades distintas, B, quando aparece, « reflexo psloligiea confirma © re ‘orga esta distingdo, Na realidad, eomegh por ser reflerao sobre si proprio. H, & medida que a andlise se torna main exigent, ‘mais aguda, mais inqueta, tudo quanto nao 6 0 eu, o outros © as coisas, so torna ostranho, irreal. No limite, encontramos 0 solpalamo do filéeofo ou 0 autiemo do eequlzofniee, para oe (quals nada mala existe para além deles mexmos CContudo, 0 pensador que io perdeu completamente o senso comam, pretende restabelecer « nidade perdida, encontrar um fundamento para a realdade externa, Justfeer a exiténcia de outrem. A sua aitude nio seri negagio, mas problems. Tal ‘ome Descartes, poderi entrogarse & sabedoria de Deus que rio quis defraudar as suas eriatures: ou entao poderd funds- mentar a existincla ¢ 0 conhecimento de outrem por anslogia com a experiéneia que tem de si proprio, Se for peicélogo, esta- belecerd uma tooria dan comunieagSer ow drecreverd oF Pro ‘estos da projeeqdo do eu no otro, da introectto do otro no ‘ex, De qualquer forms, a dualidade 6 admitidn como um post Indo, e a prioridade do conhecimento dest propria sobre o conhe- cimento de outretn, ‘afim, soloctivamente, tendenciosamente, a nossa afectv dado di 20 probloma a aus tonalidade, a ava orientagio. B 0 fracass, a decepeéo, o sofrimenta e nko a alegra que nos fazem refletir; no 6 a nossa eomunhio com ov nosis semelhantes © 2 ingénua evidéncia de que existem tal como nfs, x solidi 56 (© PROBLEMA DO OUTRO NA PSICOLOGIA DE HENRI WALLON ‘Quem é tu, que posso aaber de 11? Como & possivel que, por vezes, mo sejas to préximo, e por vouos tio longiaguo? ‘Es meu semethante 0, contado, oe (eis pensamentos, op tex sentimentos, como podereisabélos no certo? Tu é& eu ¢ tu aio feu, e som dtvida por isto, por easa intima estraahera, que te procure. Como fol possvel que eu suisse da minha solidio e ‘mo aproximasse de t1? Mas, antes do mais, onde esta iusto: ‘quando me snto 65 ou quando creio que estamos juntos? ‘Um soliquio de apaixonado? Sim, 6 possivel que se trate da linguagem de um enamorado, uma ver que & 0 amor que di 1 experineia mais viva da eomunhio o da separagio, pis repre senta a busca mais intensa do Outro. Mas 6 um problema multo mala vasto do que aquele que & susitado pelas angisties © as coments do amor. (0 outro, como o poderel realmente conocer, sendo ele precisamenteo outro, oeatranho, e uma vez que a nic carte (que existe 6 aquela que experimento no mais fundo de mim ‘meemo, certeza essa tio incomunicivel para ele como para mim? Que roingdes existom entre o eu ¢ o outro? Serfo supertic artifcais,iusrias, ou serio profundas,essenciais, mas, neste 80, como seri iso poasivel? 55 fem que not encontramos quando os lagos se quebram ou se Sfrouram, Entho, ¢ a6 entlo, interrogamonos: porque esta separagio ete dvéreio? "Tratar-se-é de um problema eterno, de um problema inso- vel? Ou seri, muito simplesmente, um problema verdadero, ta realidad, mas mal proposto? Com o tempo, lange de se resolver ou de se desvanecer, torna-se mais agudo, a julgar polas losfias contemporineas a existincia o, sobretul, por exsas obras de Imaginagio,ro- ‘ances ou filmes, que testemunham de modo tio evidente « senatbildade da nossa época Se 6 verdade que o amor 6a experitnla mais profunda da relagio com outrem,o facto & que nto subsistem dvidas de que jJomuia esta rela fol desejada ‘So explleltaments, tio arden Temente, to dosesperadamente. O amante de Ledy Chatterley, ‘homer desprovido de qualidedes de Musil e, menos retorea mente, as pertonagens de Fellini e de Bergman, parecem diz -nos que num mundo em que tudo se desmorone o amor subsite ‘como’0 valor fundamental e também como 1 tniee eaperanea, ainda que perpetuamente frastada, ‘A acooracio vertginosa do tampo, a extonsio explosiva de ‘euttura flzram eatalar por todo o lado o cimento das noscas ‘evidincias 0 das nesses erongus. Uma decadéncia, uma corrup- lo? Nio, ratase antes de uma erie de consccia, como s°, demasiado brutalmente, a elvilzagio sfrease uma metamorfose tu se tornasse adults, trazendo ao desamparo de cada um de ‘és confisio dus nossas responsabilidades e da nossa solidfo; uma clviiagio da intelgénela que procura os seus novos valo- eo, um novo equlfbri, E, predisamente devido a esta busca, lum valor comoca por se aflrmar no desvanecimento de todos fm outros: luldes. ‘Mas bastard a Tucides, quando a luz perdeu a sua chama? Os impasses do entendimento tomamse, com demasiada fre ‘quénca, um refgio do mistiismo. # Henri Wallon retoma «o problema do Outros e altera pro fundamente os seus dados. Talves nfo oferege una solugio per feita, mas indion uma dieogho. ‘Nio haverd solugio dz, se se postular entre oeu eo outro ‘uma exteriordade inieiat radical A busea & votads a0 fra: ‘asso Gonos oncorrarmos na introspeegio ou em qualquer otra forma de intugio subjectiva que nos feche sobre néa mesos. Devemos obeervar o que se passt no decurso da evolugso da eriange e constataremes entéo que o psiquismo, nas suas oti ‘gens, & como que uma nebulosa em que 0 eu ¢ 0 outro esto Alnda confundidos, ot, melhor dizendo, sfo sinda inexstentes, Wallon nfo é 0 nico, nem sequer o primeir, a rejeitar a DYioridade do eu como postulado fundamental da palcologia. ‘Toda uma corrents de pentamento, onde encontrams flosfiss cexistonciais e personalistas tendo a apresentar como primitive © par eou-tu> que condiciona essencalmente o desenvolvimento ‘a conssiéncia, Trata-se de uma reacgio de moralstas ao fra caato da flosfia eliaien, muita veres umm acto de f6 pa fescapar ao absurd de soli, «ao tragic das almas fechadas fe separadass, segundo a expreasio de La Senne. Serkentio rla- tivamente tel admit, tal como Gabriel Mares, um Deus com tu» absoluto e eonsiderar que o diflogo humano & a transpo- slo do frente a frente entre a alma e Deus. Mas, quer ae trate de fldsofos crentes ou ateus, «0 par cvtu imple, dienes Maurice Nédoncell, pols € impossivel um engito extrtamente relitheos. [Nio ae dove nogligenciar esta tendéncla da flosotia con- ‘temporinea, na medida em que exprime uma instisfagio & ‘qual « propria ciinla deve estar apta @ responder. Podemos discerir as tentativas de resposta em Max Sche- ler e também em toda uma tradigio da psleologin americana, 8 qual, com Wiliam Jemes, J. Mare Baldwin, George H. Mead, se Drincpio, nos parece que as nogdes que sungirem mals reente- ‘mente ji se encontravam em gérmen nas suas origens, 0 que 2 passa com as nogées relativas ao problema do Outro. ‘Wallon 6 consagrou dois artigos a ate problema, distan- cindos entre side dez anos, em 1946 «1056, Tals artigos surges ‘como que tm prolongamento, um aperfeigoamento, mals ainda ‘como 8 construgio teres, a chave que permite apreender plo. ‘amente 0 que Wallon escrevera antes sobre as origens do canicter e sobre a emogio, ainda que, eomo 6 provivel, esta teoria do Outro sé tena smaduresido lenta o tardamente (), Alls, do artigo do 1948 ao de 1958, notase elaramente amadurecimento desta ‘sora, _Nio & possivel rcumi-la em poueas palavras, A sus eluc acto exgia longo comentros om refers ao conjunto da esremos a meio camino, entre a fomulago eoquemi- tue ¢ um comentrioimpesivel non imites que anu devemos repair Do forma lida, stor do Wallon pote formularas 0 sequita modo: entre 0 eu eon entron, a telaio etabocese for intméalo do outro que ca tin de ne ar em af mena Que € ease or, de onde prover Wallon design ts ‘em peo temo de ator eigutimente pelo de aot, que val ‘user a Pere Janet, o ual to extrafa de Balwin ¢ quall- flea e outro ttimo pra o opr so tvs w ao conto pra 4o Outro ais alada sue ele mn fasta d etre. Wallon, depois de Janet, comose por aprender «exiting deste ote secrets através da mm emaneipagio em ease pate () 20 papa do outros consti do eur. Ray. Pryce, yo. 18th av 11 eNivel'e stung 8 cur Lorton Payee Figee 108, 1, j SHOAL. Estes doe atigon forum novameat Pl torent obra de Wan dh vat Bloc (> % esforga por definir a personaldade como um prosesso integrado a Vida social. Mais préximo de née, mals proximo de Wallon, devemos Finalmente e sobretudo, nomear Pierre Janet, Pelo seu discurso tno Congresso Internacional de Psicologia, em 1897, encontrs ‘mornos perante um couvite drigdo is novas geragées de paid logos para reformar «psicologia na base de uma idela direetriz ‘de natureza social da personalidade e da distingio entre 0 «1 0 Ws, como problema-ehave (). A titulo de hipites, Indie fue «a distingdo de mim mesmo e do soius talvez nfo sej tio fundamental, io primitiva como se julgavas e diz ainda que 6 provivel qué o at e 0 outro «ee edifiquem conjuntamente de forma eonfuss apresentem ambos os mesmo Progressos. "Henri Wallon, cujes trabelhor foram eltados por Janet no roferido diseurso, surge-nos hoje como aquele que realizes © ‘projecto eexcoutou otestamento do plonelro da psicologia fran- ‘ona, Bio aconteoew com una falldade tanto maior quanto ‘$hexintin convorgnela, em 1957, entre a orientagio de Pierre Tanet ea ua "A bem dizer, na obra tio profundamente pessoal de Wal- lon, tio fortementeintegrada, ode so t2o raras as referéncias ‘outros autores, jamais alguim poderd ter a certeza de quais| oram as infludncas diectas, os empréstimos, as coinidéncas nriquecida com as herances da cultura clissea, eriadora de ‘um pensamento dialetien de vanguarda, © como que antecipa- ora do devr, radica, contudo, solamente nas proceupagde, nos tenis da ploolgia de hoje. Ao aegulrmoa a sua trajectéria fonde, gradualment, ae eaclarece 0 napecto socal do peiqulsmo sem au alguma vex ae diminta a importinela do aspect biolb- sleo, temot a sensscio de uma necessidade interna de desco- berta de tal forma que, se analisarmos a obra do fim para 0 (Celene Onsiie Congres International de Peyhaap, Pari 59 igicos, como aqueles que Clérambault descreven pelo nome de automatismo mental, 0 doente Julge-se interplado, insultado, roubamhe os seu main fathnos pensimentos, impéemlhe pensamentos estranhos, dtamclhe op seus actos: & perseguido f possuldo por um sor, 20 mesmo tempo intimo ¢estranho. Mas lgualmente normal que eada um de nd conheca ses momen- ‘toa de incerteza em que se dlaloga consigo mesmo, mentalmente ‘ou mesmo em alta voz, Tal como Séerates, cada wm de nbs tos (© nom deméni, couselhaire, emnor, objector: o outro, «0 per tuo parceiro do eu na vida psiquicas, quase senpre reprimido, domestcado,ignorado, mas revelando a sua existdncla e refor- ‘ndo o seu papel mas fTutuagées e naa incertezas do eu Qual seri, entio, a sus origem? No seu primeiro artigo, ‘Wallon sublinha fortemente que o outro fntimo no uma ima: ‘gem, Una interiorizasio dos outros. Nao é, dis, cum decalqu das relagbes habitusis que o sujito poss ter tido com pessoas reais, A afirmagio adguire um eunho paradoxal que desoriei- tou a nsiora dos leitores, a comecar por Plaget e acaba em estudantes de peleologia ineapazes de a comentar num dia de ‘exame, quando Wallon escrove: «As possoas que o rodelam no ‘passam, em suma, de ocasdos ou motives, para o sujelto, de se cexprimir de ae realiza>, Se pode dar-hes vids, consisténcia, cexterioridade, é gragas a esse estranho essencal que & 0 outro, 'E quando, elgumaslinhas mais adiante, Wallon, numa frase ‘que ficou otiebre, conetui que o indviduo nio & um ser social ‘evido a contingénelas externas» maz que o 6 intimamente ‘estencialmente, genetieamente, haveria todos os motivos para rer que, segundo ele, 0 meio soci reel pouco representa ma fevolueho du erianea, que o exsencal reside na eubjectvidede CCantudo, isso sera um contra-sanzo total. Nada seria mais on ‘ério ao pensamento profundo de Wallon que esta eapice de ealismo, Parece, no entanto, que nesse artigo Wallon teré ‘querido assinalar com o miximo vigor e concisto as frases que 6 exprimem toda a originalidade do seu pensamento, O vigor foi demasiado para esprits ainda mal preparados para compreen- der a sua originalidede. {No seu artigo de 1856 em que as relagdea com o melo am= Diente, pessoas e grupos, sio estudadas male directa e mais Tongamente, Wallon emproge férmulas complementares dus f5:- «mules de 1046, complementares mas que parcoem, em muitos “eaoos,anttéteas, como se qulstese responder a objocgde, ds- sipar mal-entendidos,eelarecer o complexo sentido do seu ensi- namento, «O Alter, nfo 6 mais que um produto da smbignelas. E precisa: «O iter nio tem qualquer priordade sobre o Outros, 6a sua eprimeira formas, Poderé notes, aliés, uma ligeira motifieagio de terminologia: a expressio de Outro no ‘esigna neste caso, polo menos exclusivamente,o alter eg0, 0 Aduplo do eu, mas todas as formas que o outro pode tomar; a sun forma fatima e larvae, mas também os outros reais: «0 Alter ndo 6 todo o outro, hi também os outros: Ali ‘Assim, como poder aflrmar ao mesmo tempo que «as pet- soas que 0 rodelam no passam de oeasidea> e contido, que © alter ndo passa de um produto da ambléncia Que 0 individuo & social gonctieamente, ndo dovido a contingtnclag externas e, ro entanto, que o aodius intimo ndo tem qualquer prioridade? ‘A resposta tem a aver com duas nogies: a da indiferencia- ‘io primitiva do psiquismo e da sua dferenciagéo progressva, 1 das relages do bialégic e do social na ontogénese human. ‘Quando Wallon diz que o homem é um sor social genetics mente, eavenlalmente, eno em virtude de influéneias externas, ‘eee 6 um facto fundamental mas também ums ambiguidade de ‘expreaeio. © préprio Wallon oreconhece quando concede « Pla- [gets etalver seja exngerado dizer. que © crianga & desde exes ‘momento (nos dois primeires meses de vida) um ser tocial»() (© esto pts «soon da craes, Coes Inter. Suc, 18, wl 1H, pon 20, Bee aFigo € reproduido peel Snipa dy ton do Wallon (Safe pei 18) 62 © sotilogismo, sem se refuglar nos impasses da eonelinges verbais ou do positivism, de forma que — e dou o devido peso iis minhas palavras — Wallon é, sem divida, o primero de- rmonstrar verdadeiramenta quais sia os fundamentos da pico. Togia ea sua legtimidade: clncia de um plano de realidade que ‘no pode ser redualda nem ao blolgica nem ao eocol6gio mat fue, se se trata da psicologia humana, intogra um e 0 out, ‘Tamais pude dianoclaro boligia eo weil, dee, nko pore os erela redutiveis um ao outro, mas porque me perecem, 20 Ihomem, to estretamente complementares desde 0 mascimento ‘que & impossvel encarar a vida palquiea de outro modo que no nja soba forma das suas relagSes reciprocats() Se a teorla do Outro vem a sua obra depois da teorin da ‘emogio, da qual & como que a consequénetn eo desenvolvimento, ‘Ao naseer, 0 Outro nfo existe, bem entendldo, e a naturesa social do rectmntscido definese negativamente: pelas suas Incapacidades que © ligam imediatamente & outrem. Quando, gracas aos progressos da sua maturagio nervoss, bebé desperta para o mundo, passado um ms ou dois de vida ‘egetativa, a5 suas primeiras reacgées emotivas definem posl- tivamente rua natareza soca, Todavia,o Outro nfo se encon tr ainda delinendo na eontiéncia nebulosa de orange. © uma, ‘atuaglo de slmbiose afeciva. Nio hd delimitagio conaciente possivel entre as suas proprias acgées sensivormotrizes e 0 que The chega do exterior. Mas as emogbes que 0 unem ao melo de uma forma que comers por ser global ¢ indlviaivel determlnam ‘gradualmente uma situagio bipolar. Alnda que confusamente, 1 erianca experimenta sentinentos de acordo e de deaacordo (©) efonsrptum om roots & 161, Wo, pn 1 55 2 perfetamente evidente que so nascer ¢ nas primeiras sema- ‘as que ae segue a erlanga no 6 um ser social, que & mesmo Incapas de qualquer reacedo adaptada ao melo: trata-se umn peviodo vegelativo, o estado da impulsvidade pure, identifi ado e analirdo pelo préprio Wallon. E, ainda segundo Wallon, ‘6 ceren dos dois trés moses é que «se opera a fusio da eranga ‘com ob seus préximons. Entio, em que sentido se poderd dizer (que 6 essenciaimente socal? Pela sun estrutara blolgles, pela sha fragiidade native, pela au ineapacidade do sobreviver som {ajuda de outrem. De forma negative, de algum modo, palas ‘suas caréncas, pelo seu earaeter de algo incompleto. A enfer rmidade bioldgien do recm-nascdo pressupse uma soceda lum meio, um ovtro ser que vela por ele © que o compte ‘Por conseyulnte, a natureza social do homem ado & acros- centada por inflgncias externas: o social jt se encontra ins- frito no bioligien, como uma neceasidade aboaluta. Bata con ‘epsio wallonana radicalmente diferente tanto do biologism, tal como Freud, por exemplo, o exprime, como do sociologismo e Durkheim, (Com feito, para Freud o social nfo ae encontra na naturezt to nomen, ao paseo que para Durkheim ele & toda a sua mat rexa. Segundo Freud é a Mido, o impulso da eapécie, que dé & tvolugio pauien do Individuo as suas forgas ea sua orientacio, fo pasto que 0 seu carictor socal sempre superficial e x sun Conseiénca mais ou menos frégil, Ihe ehegam exelusivamente do texlerior, pela acgdo dos obsticulos, da imitagbes, doa imperat- ‘os social. Em Durkheim, pelo contrrio,o bioldgico & negli genclado: os comportamentos individuals fo na sua totalidade ‘ excluslvamente de natureza socal, se 08 Individuos do uma Imestna sociedade diferem entre si & porque cada um se apro- Deiou das sreptesentagies eoletivas» por certos apectos mais fou menos reo, mais ou menos diverss, “A orginalidade de Wallon, o sex mérto mala eminent, on- inte precisamente em ultrapassar a oposicio entre o bislogismo as ‘com o meio, A emogio faz alterna o calor o fro, a comunhio ea separacio. ‘Assim, muito antes da erianga poder distinguir objective: mento entre o sou eu outrom, e entre as diversas pessoas que 4 rodeiam, esabelece-se uma certa deimitagio na sua sensbi- lidade entre o-eu e aquilo que the é estranko, Para rotomer @ imagem da nebaloes, podereeia der que se formam na su ‘massa cum nicleo de condensagio, o en, mas também um sate lite, 0 sub-e, o outro». O ewe 0 tro consttuem-ae, asim, conjuntamente,E evo- Iuirdo como um par indesoctavel de forges, vindo a tornar-se realidades objectvas e concetos, A medida que o eu sfirme a fa identidade ea sua Integridade,rechaga 0 Outro fino para tam papel eecundério e secreto, O Outro val objectivar-so na rultldfo indefinida das pessoas reais. H, por reflexo, eu val fnber colosar

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