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so10712023, 20.58 Sobre a Contradigdo MIA> Biblioteca> Mao Zedong > Novidades Sobre a Contradigaow Mao Tsetung Agosto de 1937 Traducdo: A presente traducio estd conforme & nova edicdo das Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo II (Edigdes do Povo, Pequim, Agosto de 1952). Nas notas introduziram-se alteragées, para atender as necessidades de edicdo em linguas estrangeiras. Fonte: Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Pequim, 1975, Tomo I, pag: 525-586 Transcrigo e HTML: Fernando A. S. Araijo A lei da contradigao inerente aos fenémenos, ou lei da unidade dos contrdrios, é a lei fundamental da dialéctica materialista. Lenine dizia: "No sentido préprio, a dialéctica é 0 estudo da contradic&o na prépria esséncia dos fenémenos."\N11 Sobre essa lei, Lenine dizia com frequéncia que era a esséncia da dialéctica, afirmando também que era o nticleo da dialéctical\2], E assim que, ao estudarmos tal lei, somos obrigados a abordar um amplo circulo de problemas, um grande ntimero de questées filoséficas. Se formos capazes de esclarecer todas essas questdes, nés compreenderemos nos seus verdadeiros fundamentos a dialéctica materialista. Essas questées so: as duas concepcdes do mundo, a universalidade da contradicéo, a particularidade da contradicéo, a contradicao principal e 0 aspecto principal da contradicao, a identidade e a luta dos aspectos da contradigéo, o lugar do antagonismo na contradicao. A critica a que, nos circulos filosdficos soviéticos, foi submetido nestes Ultimos anos 0 idealismo da escola de Deborine, suscitou um grande interesse entre nds. O idealismo de Deborine exerctu uma influéncia das mais perniciosas no seio do Partido Comunista da China, nao se podendo dizer que as concepgées dogmaticas existentes no nosso Partido nao tenham coisa alguma a ver com tal escola. E por isso que, actualmente, o objectivo principal do nosso estudo da filosofia é extirpar as concepcées dogmaticas. I. As Duas Concepcées do Mundo Na histéria do conhecimento humano existiram sempre duas concepcdes acerca das leis do desenvolvimento do mundo: uma metafisica, outra dialéctica. Elas constituem duas concepgées opostas sobre o mundo. Lenine dizia: hitps:lwwnsmanssts.org/portuguesimao!1937/08/contra.him 188 1107/2008, 2058 Sobre a Conrado "As duas concepgdes fundamentais (ou as duas possiveis? ou as duas dadas pela histéria?) do desenvolvimento (da evolucio) sao: 0 desenvolvimento como diminuigéo e aumento, como repetico, e 0 desenvolvimento como unidade de contrarios (desdobramento do que é um em contrdrios que se excluem mutuamente, e relagdes entre eles: [N3] Ai, Lenine referia-se justamente as duas concepges distintas sobre o mundo. Na China, & Metafisica também se chama Suansive. 0 modo de pensar metafisico, préprio da concepgao idealista do mundo, ocupou durante um longo periodo da Historia um lugar predominante no espirito das gentes, quer na China quer na Europa. Na Europa, o proprio materialismo foi metafisico nos primeiros tempos da existéncia da burguesia. Em resultado de toda uma série de Estados europeus, ao longo do seu desenvolvimento econémico-social, terem entrado na fase dum capitalismo altamente desenvolvido, e de as forcas produtivas, a luta de classes e a ciéncia, terem atingido um nivel de desenvolvimento sem precedente na Histéria, e ainda em resultado de o proletariado industrial se ter transformado na maior forga motriz da Historia, nasceu a concepcdo materialista-dialéctica, marxista, do mundo. A partir de entdo, ao lado dum idealismo reaccionario patente e de nenhum modo camuflado, viu-se aparecer, no seio da burguesia, um evolucionismo vulgar, oposto & dialéctica materialista. A metafisica, 0 evolucionismo vulgar, considera todos os fendmenos do mundo como isolados e em estado de repouso; considera-os unilateralmente. Uma tal concepgao do mundo faz ver todos os fenémenos, formas e categorias, como eternamente isolados uns dos outros, como eternamente imutaveis. E se se reconhecem as mudancas, 6 apenas como aumento ou diminuicdo quantitativos, como simples deslocacdo, residindo as causas dum tal aumento, diminuig&o e deslocacdo, ndo nos préprios fendmenos, mas sim fora deles, isto é, na acc8o de forcas exteriores. Os metafisicos sustentam que os diferentes fendmenos do mundo, assim como o seu cardcter especifico, permanecem imutaveis desde 0 comeco da sua existéncia sendo as modificacgdes ulteriores apenas aumentos ou diminuigées quantitativos. Pensam que um fenémeno nado pode fazer mais do que reproduzir-se indefinidamente, sendo incapaz de transformar-se em fendmeno diferente. Segundo eles, tudo 0 que caracteriza a sociedade capitalista, quer dizer, a explorag30, a concorréncia, o individualismo, etc, encontrava-se igualmente na sociedade esclavagista da antiguidade, inclusive na propria sociedade primitiva, e hd-de continuar a existir de modo eterno, imutdvel. As causas do desenvolvimento da sociedade, explicam-nas por condigées exteriores a esta, como o meio geogréfico, o clima, etc. Duma maneira simplista, tentam encontrar as causas do desenvolvimento fora dos préprios fenédmenos, negando essa tese da dialéctica materialista segundo a qual o desenvolvimento dos fenémenos é determinado pelas respectivas contradicées internas. Por isso sdo incapazes de explicar a diversidade qualitativa dos fenémenos, bem como a transformacdo duma qualidade em uma outra. Na hitps:lwwnsmanssts.org/portuguesimao!1937/08/contra.him 28 1107/2008, 2058 Sobre a Conrado Europa, esse modo de pensar encontrou a sua expresséo no materialismo mecanista dos séculos XVII e XVIII e, posteriormente, nos fins do século XIX e comegos do XX, no evolucionismo vulgar. Na China, 0 pensamento metafisico, que se exprimia na afirmagao "O céu é imutdvel, imutdvel é 0 Tao"(4), foi defendido durante muito tempo pela classe feudal, decadente, no poder. Quanto ao materialismo mecanista e ao evolucionismo vulgar, importados da Europa nos Ultimos cem anos, encontraram os seus defensores na burguesia. Contrariamente a concepcdo metafisica do mundo, a concepcao materialista- dialéctica entende que, no estudo do desenvolvimento dum fenémeno, deve partir-se do seu contetido interno, das suas relagdes com os outros fenémenos, quer dizer, deve considerar-se o desenvolvimento dos fenémenos como sendo o seu movimento préprio, necessario, interno, encontrando-se alids cada fenémeno, no seu movimento, em ligag&o e interaccéo com os outros fenémenos que 0 rodeiam. A causa fundamental do desenvolvimento dos fenémenos nao & externa, mas interna; ela reside no contraditério do interior dos préprios fenémenos. No interior de todo o fenémeno ha contradicdes, dai o seu movimento e desenvolvimento. O contraditério no seio de cada fendmeno é a causa fundamental do respectivo desenvolvimento, enquanto que a ligacdo mutua e a acco reciproca entre os fenémenos nao constituem mais do que causas secundarias. Assim, a dialéctica materialista combate energicamente a teoria da causa externa, da impulsdo exterior, caracteristica do materialismo mecanista e do evolucionismo vulgar metafisicos. E evidente que as causas puramente externas séo apenas capazes de provocar o movimento mecnico dos fenémenos, isto é, modificagdes de volume, de quantidade, nao podendo explicar porque os fenémenos so duma diversidade qualitativa infinita, a raz&o por que passam duma qualidade a uma outra. Com efeito, mesmo o movimento mec&nico, provocado por uma impulsdo exterior, realiza-se por intermédio das contradigées internas dos fenémenos. No mundo vegetal e animal, o simples crescimento, o desenvolvimento quantitative, sao também provocados fundamentalmente pelas contradigées internas. Do mesmo modo, o desenvolvimento da sociedade & devido, sobretudo, a causas internas, e nao externas, Hé muitos paises que se encontram em condigées geogrdficas e de clima quase idénticas e, no entanto, desenvolvem-se de maneira bem diferente, desigual. Num sé e mesmo pais produzem-se grandes modificagdes na sociedade sem que, no entanto, se tenha modificado 0 meio geografico ou o clima. A Russia imperialista transformou-se na Unido Soviética socialista e o Japao feudal, fechado ao mundo exterior, transformou-se no Japao imperialista, sem que a geografia e o clima desses paises tivessem sofrido alteraco. A China, durante muito tempo submetida ao regime feudal, registou grandes alteragdes no decurso dos Ultimos cem anos, e agora evolui em direcgéo duma China nova, emancipada e livre, sem que para isso se tivessem modificado a sua geografia e o seu clima. E certo que no conjunto do globo terrestre, e em cada uma das suas partes, se produzem modificagées quanto a geografia e ao clima, simplesmente, comparadas &s modificagdes da sociedade, essas modificagdes sdo insignificantes. As primeiras exigem dezenas de milhares de anos para hitps:lwwnsmanssts.org/portuguesimao!1937/08/contra.him 3138 1107/2008, 2058 Sobre a Coniradgao manifestar-se, enquanto que para as segundas bastam apenas alguns milénios, alguns séculos, umas décadas ou mesmo alguns anos, ou meses inclusivamente (em periodo de revolucao), Segundo o ponto de vista da dialéctica materialista, as modificagdes na Natureza sao devidas fundamentalmente ao desenvolvimento das contradigées internas desta. Na sociedade, as mudangas sao devidas principalmente ao desenvolvimento das contradigdes que existem no seu seio, isto é, a contradic&o entre as forcas produtivas e as relacdes de producéio, a contradicdo entre as classes e a contradic&o entre o novo e o velho; é 0 desenvolvimento dessas contradicées que faz avancar a sociedade e determina a substituigéo da velha sociedade por uma nova. Mas sera que a dialéctica materialista exclui as causas externas? De maneira nenhuma,. Ela considera que as causas externas constituem a condicgéo das modificagdes, que as causas internas so a base dessas modificagdes e que as causas externas operam por intermédio das causas internas. O ovo que recebe uma quantidade adequada de calor transforma-se em pinto, enquanto que o calor nao pode transformar uma pedra em pinto, j4 que as respectivas bases sao diferentes. Os diversos povos agem constantemente uns sobre os outros. Na época do capitalismo, sobretudo na época do imperialismo e das revolucdes proletdrias, a acco e os efeitos dos diferentes paises, agindo uns sobre os outros nos dominios da politica, da economia e da cultura, s8o enormes. A Revolucéo Socialista de Outubro abriu uma era nova ndo apenas na histéria da Russia, mas também na histéria de todo © mundo; ela influiu nas modificagées internas nos diferentes paises, e também, com uma profundidade particular, nas modificagées internas na China. Todavia, as modificagdes que dela resultaram produziram-se por intermédio das leis internas préprias a esses paises, ou préprias a China. De dois exércitos em luta, um vence e o outro é derrotado: isso é determinado por causas internas. A vitéria é devida ou ao poderio do exército ou @ justeza de vistas do seu comando; a derrota deve-se ou a fraqueza do exército ou aos erros cometidos pelo seu comando. E por intermédio das causas internas que actuam as causas externas, Na China, se a grande burguesia venceu em 1927 0 proletariado, foi gracas ao oportunismo que entao se manifestava no préprio seio do proletariado chins (no interior do Partido Comunista da China). Assim que acabémos com esse oportunismo, a revoluggo chinesa tornou a expandir-se. Mais tarde, ela voltou a sofrer seriamente com os golpes que Ihe desferiu o inimigo, desta vez em resultado das tendéncias aventureiras surgidas no nosso Partido. Mas assim que liquidémos o espirito de aventura, a nossa causa voltou a progredir. Dai se conclui que, para conduzir a revoluc&o & vitéria, um partido politico deve apoiar- se na justeza da sua linha politica e na solidez da sua organizacao. A concepgio dialéctica do mundo, na China e na Europa, vem desde a antiguidade. A dialéctica dos tempos antigos, porém, era algo de espontaneo, de primitivo; em virtude das condigées sociais e histéricas de entdo, ela néo podia ainda constituir um sistema tedrico completo, era incapaz de explicar 0 mundo em todos os seus aspectos, sendo posteriormente substituida pela metafisica. O célebre filésofo alem&o, Hegel, que viveu nos fins do século XVIII e comecos do XIX, prestou uma importante contribuigSo dialéctica, mas a sua dialéctica era idealista, $6 depois que Marx e Engels, os grandes protagonistas do movimento ipsam mars. org/poruquesiman997/08contraim ane 1107/2008, 2058 Sobre a Conrado proletario, generalizaram os resultados positivos obtidos pela humanidade na histéria do conhecimento humano, e depois que, em particular, retomaram com espirito critico os elementos racionais da dialéctica de Hegel e criaram a grande teoria do materialismo dialéctico e histérico, é que se produziu uma revolugao sem precedentes na histéria do conhecimento humano. Essa grande teoria foi desenvolvida mais tarde por Lenine e Estaline. Ela provocou imensas modificagées no mundo do pensamento chinés assim que penetrou na China. A concepgao dialéctica do mundo ensina-nos sobretudo a observar e a analisar 0 movimento das contradigées nos diferentes fenémenos, bem como a determinar, na base dessa andlise, os métodos préprios para resolver tais contradigées. Eis porque a compreenso concreta da lei da contradicéo inerente aos fenémenos é duma importancia extrema para nés. II. A Universalidade da Contradicao Por comodidade de exposic&o, deter-me-ei primeiramente na universalidade da contradigéo e, depois, na sua particularidade. Com efeito, a partir da descoberta da concepcéo materialista-dialéctica do mundo, realizada pelos grandes fundadores e continuadores do Marxismo, Marx, Engels, Lenine e Estaline, a dialéctica materialista foi aplicada com maximo éxito a andlise de numerosos aspectos da histéria humana e da histéria natural, assim como a transformacao de numerosos aspectos da sociedade e da Natureza (por exemplo, na URSS); a universalidade da contradig&o esta pois largamente reconhecida, bastando portanto umas quantas palavras para explicar bem a questdo. Quanto a questo da particularidade da contradig&o é que muitos camaradas, em especial os dogmaticos, ainda n&o véem claro. Eles n&o compreendem que, nas contradigées, 0 universal existe no particular. Igualmente ndo compreendem como é importante, para dirigirmos 0 curso da nossa pratica revolucionéria, o estudo do particular nas contradigées inerentes aos fendmenos concretos face aos quais nos encontramos. Nés devemos pois estudar com atengo especial a particularidade da contradigo, reservando espaco suficiente ao seu exame, Essa a razao por que, na nossa anélise da lei da contradig&o inerente aos fenémenos, comegaremos por examinar o problema da universalidade da contradig&0, depois veremos mais especialmente a sua particularidade, para voltar finalmente ao problema da universalidade. A universalidade ou caracter absoluto da contradi¢géo tem um duplo significado: primeiro, que as contradigbes existem no processo de desenvolvimento de todos os fenémenos; segundo, que no processo de desenvolvimento de cada fenémeno, 0 movimento contraditério existe desde o principio até ao fim. Engels dizia: "O proprio movimento é uma contradicéo."{N5] hitps:lwwnsmanssts.org/portuguesimao!1937/08/contra.him 5138 so10712023, 20.58 Sobre a Contradigdo A definigéo, dada por Lenine, da lei da unidade dos contrarios diz que esta "reconhece (descobre) tendéncias contraditérias, opostas e excluindo- se mutuamente, em todos os fendmenos e processos da Natureza (incluidos 0 espirito e a sociedade)"(N6l, Acaso sao justas tais afirmacées? Sim, sdo justas. Em todos os fendmenos, a interdependéncia e a luta dos aspectos contrérios que Ihes s&o préprios determinam a sua vida e animam o seu desenvolvimento. Nao ha fenémeno que no contenha contradig&o. Sem contradigbes o mundo néo existiria A contradicg&o é a base das formas simples do movimento (por exemplo, 0 movimento mecdnico) e, por maior razio ainda, das formas complexas do movimento. Engels explicou assim a universalidade da contradig&o: "Se a simples mudanca mecdnica de lugar contém jé em si mesma uma contradigao, com maior razio ainda ho-de conté-la as formas superiores de movimento da matéria e, muito particularmente, a vida organica e 0 seu desenvolvimento. ... a vida, antes de mais, consiste justamente no facto de um ser, em cada instante, ser 0 mesmo e, néo obstante, um outro também. Assim, a vida é igualmente uma contradicéo que, existindo nas préprias coisas e processos, surge e resolve-se constantemente. E desde que a contradicéo cessa a vida cessa, a morte intervém. Do mesmo modo, nés vimos que no dominio do pensamento n&o podemos igualmente escapar as contradicdes e que, por exemplo, a contradicéo entre a faculdade humana de conhecer, interiormente infinita, e a sua existéncia real nos homens, que so todos limitados externamente e no pensamento, resolve-se na série de geragdes humanas — série que, para nés, pelo menos praticamente, nao tem fim — no movimento do progresso sem fim. . um dos fundamentos principais das matematicas superiores é a contradicdo. . ." "E as préprias matematicas inferiores também ja estdo cheias de contradicdes."1N7] Por seu turno, Lenine ilustrava a universalidade da contradigéo com os exemplos seguintes "Na Matematica, + e —. Diferencial e integral. Na Mecdnica, acgdo e reaccéo. Na Fisica, electricidade positiva e negativa. Na Quimica, combinagao e dissociagao dos dtomos. Nas ciéncias sociais, as lutas de classes."(N8] hitps:lwwnsmanssts.org/portuguesimao!1937/08/contra.him 638 1107/2008, 2058 Sobre a Conrado Na guerra, a ofensiva e a defensiva, o avanco e a retirada, a vitéria e a derrota, s8o outros tantos pares de contrarios em que o um no pode existir sem © outro, Os dois aspectos estdo simultaneamente em luta e em interdependéncia, 0 que constitui o todo que é a guerra, dé lugar ao desenvolvimento desta e resolve os respectivos problemas. Ha que considerar toda a diferencga nos nossos conceitos como um reflexo de contradigdes objectivas. A reflexdo das contradicées objectivas no pensamento subjective forma 0 movimento contraditério dos conceitos, o qual estimula o desenvolvimento das ideias, resolve continuamente os problemas que se pdem ao pensamento humano. Oposigdo e luta entre concepgées diferentes surgem constantemente no seio do Partido; é 0 reflexo, no Partido, das contradicgées de classes e das contradicées entre o novo e o velho existentes na sociedade. Se no Partido ndo houvesse contradicgées e lutas ideoldgicas para resolver as contradicées, a vida do Partido cessaria. Em toda a parte, em todo o processo, ha pois contradigées, tanto nas formas simples do movimento como nas formas complexas, nos fenémenos objectivos como nos fenémenos do pensamento: esse ponto est agora esclarecido. Mas serd que a contradic&o existe igualmente na etapa inicial de cada proceso? O processo de desenvolvimento de cada fenémeno, acaso apresentara ele um movimento contraditério desde 0 comeso ao fim? Segundo os artigos em que os filésofos soviéticos a submetem a criticas, a escola de Deborine considera que a contradico nao aparece logo desde o inicio do processo, mas apenas numa certa etapa do seu desenvolvimento. Dai segue- se que, até esse momento, 0 desenvolvimento do processo produz-se nao sob acc3o de causas internas mas sim sob a accdo de causas externas. Deborine regressa assim as teorias da causa externa e mecanista préprias 4 metafisica. Aplicando essa maneira de ver analise dos problemas concretos, a escola de Deborine chega & conclusao de que, nas condigdes da Unido Soviética, entre os camponeses ricos e os camponeses em geral apenas existem diferencas e ndo contradicées, e aprova inteiramente Bukarine. Analisando a Revoluc3o Francesa, tal escola sustenta que, antes da revolucdo, no seio do Terceiro Estado, composto de operarios, camponeses e burguesia, igualmente apenas existiam diferengas e no contradicées. Esses pontos de vista da escola de Deborine sao anti-marxistas. Essa escola nio compreende que em toda a diferenca j4 ha uma contradic3o, e que a prépria diferenca é uma contradicdo. A contradic3o entre o trabalho e o capital existe desde o nascimento da burguesia e do proletariado, mas no inicio ndo era uma contradicéo aguda. Entre os operdrios e os camponeses, mesmo nas condicées sociais da Unido Soviética, existe uma diferenca; essa diferenca é uma contradic&o que, no entanto, contrariamente & contradicSo entre o trabalho e o capital, ndo pode acentuar-se até converter-se num antagonismo ou revestir a forma duma luta de classes; os operdrios e os camponeses selaram uma sélida alianca durante a edificagdo do socialismo, e hitps:lwwnsmanssts.org/portuguesimao!1937/08/contra.him 788 1107/2008, 2058 Sobre a Conrado resolvem progressivamente a contradiggo em causa no processo de desenvolvimento que vai do socialismo ao comunismo, Trata-se ai de diferentes espécies de contradicées, mas n&o da presenga ou auséncia de contradicdes. A contradiggo € universal, absoluta; existe em todos os processos de desenvolvimento dos fenémenos, penetrando cada processo desde 0 comego até ao fim. Que significa a aparicéo dum novo proceso? Significa que a antiga unidade e os contrarios que a constitulam cederam o lugar a uma nova unidade, aos seus novos contrarios, comegando ent&o o novo processo, que substituiu o antigo, O processo velho conclui-se, 0 novo surge. E como 0 novo processo contém novas contradigées, ele comeca a sua prépria historia de desenvolvimento das contradigées Lenine sublinha que Marx, em © Capital, deu um modelo de andlise do movimento contraditério que atravessa todo o processo de desenvolvimento dum fenémeno, desde o comeco até ao fim. Esse é o método a seguir sempre que se estuda 0 processo de desenvolvimento de qualquer fenémeno, E 0 préprio Lenine também utilizou rigorosamente esse método, o qual impregna todos os seus escritos. "Marx, em © Capital, analisa primeiramente a relacdo mais simples, mais habitual, mais fundamental, mais frequente e mais ordinaria, 0 que se encontra milhares de vezes na sociedade burguesa (de mercado): a troca de mercadorias. A sua anélise faz ressaltar nesse fenémeno elementar (nessa ‘célula’ da sociedade burguesa) todas as contradigdes (ou embrides de todas as contradicées) da sociedade moderna. © seguimento da exposicéo mostra-nos o desenvolvimento (crescimento e movimento) dessas contradigdes e dessa sociedade na > [soma] das suas diversas partes, desde o comeco ao fim. E Lenine acrescenta: "Tal deve ser também 0 método de exposic&o (de estudo) da dialéctica em geral, . ."{N91 Os comunistas chineses devem assimilar esse método, pois s6 assim poderaio analisar correctamente a histéria e a situacéo actual da revolugao chinesa, e deduzir-Ihe as perspectivas. III. A Particularidade da Contradicao As contradigées existem no processo de desenvolvimento de todos os fenémenos, e penetram o processo de desenvolvimento de cada fenémeno, desde 0 comego ao fim. Nisso esté a universalidade ou caracter absoluto da contradig&o, de que falémos anteriormente. Tratemos agora da particularidade ou relatividade das contradicées. hitpsiwwnmanssts.org/portugues!maoy1937/08/contra.itm arse so10712023, 20.58 Sobre a Contradigdo Convém estudar essa questdo em varios planos. Em primeiro lugar, as contradigdes das diferentes formas de movimento da matéria revestem todas um caracter especifico. O conhecimento da matéria pelo homem é 0 conhecimento das suas formas de movimento, uma vez que, no mundo, ndo ha mais do que matéria em movimento, e o movimento da matéria reveste sempre formas determinadas. Ao debrucar-mo-nos sobre cada forma de movimento da matéria, nés devemos dirigir a nossa atengSo sobre aquilo que ela tem de comum com as demais formas de movimento, E 0 que é mais importante ainda, 0 que serve de base ao nosso conhecimento dos fenémenos, é notar aquilo que essa forma de movimento tem propriamente de especifico, isto é, aquilo que a diferencia qualitativamente das outras formas de movimento. Sé desse modo se pode distinguir um fenémeno de outro fendémeno. Toda a forma de movimento contém em si as suas préprias contradicées especificas, as quais constituem aquela esséncia especifica que diferencia um fenédmeno dos outros. E essa a causa interna, a base, da diversidade infinita dos fendémenos no mundo. Existe na Natureza uma imensidade de formas de movimento: o movimento mecénico, 0 som, a luz, o calor, a electricidade, a dissociacéo, a combinacao, etc. Todas essas formas de movimento da matéria esto em interdependéncia, mas distinguem-se umas das outras na esséncia. A esséncia especifica de cada forma de movimento é determinada pelas suas préprias contradigdes especificas. E assim nao apenas para a Natureza, mas também para os fenémenos da sociedade e do pensamento. Cada forma social, cada forma de pensamento, contém as suas contradicdes especificas e possui a sua esséncia especifica. A delimitacdo das diferentes ciéncias funda-se justamente nas contradigées especificas contidas no objecto de estudo de cada uma. Assim, as contradigdes préprias a esfera dum fenémeno dado constituem o objecto de estudo dum ramo determinado da ciéncia. Por exemplo, + e — em Matematica; accéo e reaccdo em Mec&nica; electricidade positiva e negativa em Fisica; combinacéo e dissociagéo em Quimica; forcas produtivas e relacdes de producdo, classes e lutas de classes nas ciéncias sociais; ataque e defesa na ciéncia militar; idealismo e materialismo, metafisica e dialéctica em Filosofia — tudo isso constitui objecto de estudo de diferentes ramos da ciéncia, em virtude precisamente da existéncia de contradicées especificas e duma esséncia especifica em cada ramo. E claro que, sem um conhecimento do que ha de universal nas contradicées, é impossivel descobrir as causas gerais ou as bases gerais do movimento, do desenvolvimento dos fenémenos. Mas se ndo se estuda © que ha de particular nas contradicdes, ¢ impossivel determinar essa esséncia especifica que distingue um fenémeno dos outros, impossivel descobrir as causas especificas ou as bases especificas do movimento, do desenvolvimento dos fenémenos e, por consequéncia, impossivel distinguir os fenémenos e delimitar os dominios da investigacao cientifica. Se se considera a ordem seguida pelo movimento do conhecimento humano, vé-se que este parte sempre do conhecimento do individual, do particular, para alargar-se gradualmente até atingir o conhecimento do geral. Os homens hitps:lwwnsmanssts.org/portuguesimao!1937/08/contra.him arse 1107/2008, 2058 Sobre a Conrado comecam sempre por conhecer primeiramente a esséncia especifica duma imensidade de fenédmenos diferentes, antes de chegarem a poder passar & generalizagao e conhecer a esséncia comum dos fenémenos, Uma vez atingido esse conhecimento, isso serve-Ihes de guia para avancar no estudo dos diferentes fenémenos concretos que nao tenham ainda sido estudados ou que o tenham sido insuficientemente, de maneira a encontrar-se-Ihes a esséncia especifica; sé assim eles podem completar, enriquecer e desenvolver o seu conhecimento sobre a esséncia comum dos fenémenos e evitar que tal conhecimento desseque ou se petrifique. Essas as duas etapas do processo do conhecimento: a primeira vai do particular ao geral e a segunda, do geral ao particular. © desenvolvimento do conhecimento humano representa sempre um movimento em espiral e (se se observa rigorosamente o método cientifico) cada ciclo pode elevar 0 conhecimento a um grau superior e incessantemente mais profundo. O erro dos nossos dogmaticos a esse respeito consiste no seguinte: por um lado, néo compreendem que sé depois de se ter estudado o que ha de especifico na contradic&o e se ter tomado conhecimento da esséncia especifica dos fenémenos individualizados, se pode atingir o pleno conhecimento da universalidade da contradiggo e da esséncia comum destes; por outro lado, ndo compreendem que, depois de se ter tomado conhecimento da esséncia comum dos fenémenos, ha que ir mais adiante e estudar os fenémenos concretos que no foram profundamente estudados ou que aparecem pela primeira vez. Os nossos dogmiaticos sdo preguicosos; recusam-se a qualquer esforco no estudo dos fenémenos concretos, consideram as verdades gerais como algo que cai do céu, fazem delas férmulas puramente abstractas, inacessiveis ao entendimento humano, negam totalmente e invertem a ordem normal que os homens seguem para atingir o conhecimento da verdade. Tdo-pouco eles compreendem a ligacdo reciproca entre as duas etapas do processo do conhecimento humano: do particular ao geral e do geral ao particular; ndo entendem coisa alguma sobre a teoria marxista do conhecimento. E preciso estudar nao somente as contradigdes especificas de cada um dos grandes sistemas de formas de movimento da materia e a esséncia determinada por essas contradigdes, mas também as contradigdes especificas e a ess€ncia de cada uma dessas formas de movimento da matéria em cada etapa do longo caminho que segue o desenvolvimento destas. Toda a forma de movimento, em cada processo de desenvolvimento que seja real e nao imaginario, é& qualitativamente diferente. No nosso estudo, convém dispensar a isso uma atengdo particular, havendo até que comegar por ai. Contradigées qualitativamente distintas sé podem ser resolvidas por métodos qualitativamente distintos. Por exemplo, a contradic3o entre o proletariado e a burguesia resolve-se pelo método da revolucdo socialista; a contradicéo entre as grandes massas populares e o sistema feudal resolve-se pelo método da revolugao democratica; a contradig&o entre as colénias e o imperialismo resolve- se pelo método da guerra revolucionaria nacional; a contradigdo entre a classe operdria e a classe camponesa na sociedade socialista resolve-se pelo método da colectivizagio e mecanizag&o da agricultura; as contradigdes no seio do Partido hitps:lwwnsmanssts.org/portuguesimao!1937/08/contra.him 10134 1107/2008, 2058 Sobre a Conrado Comunista resolvem-se pelo método da critica e autocritica; a contradicéo entre a sociedade e a Natureza resolve-se pelo método do desenvolvimento das forcas produtivas, Os processos mudam, os antigos processos e as antigas contradicdes desaparecem, surgem novos processos e novas contradicées, sendo, por consequéncia, igualmente diferentes os respectivos métodos de resolucéo. As contradigées resolvidas pela Revolucdo de Fevereiro e as contradigées resolvidas pela Revolugéo de Outubro na Russia, bem como os métodos usados para resolvé-las, foram radicalmente diferentes. O principio de usar métodos distintos para resolver contradigdes distintas é um principio que os marxistas-leninistas devem observar rigorosamente. Os dogmaticos ndo observam esse principio; eles no compreendem que as condigdes em que se desenrolam as distintas revolugdes n&o sao idénticas, assim como néo compreendem que contradigdes diferentes devem resolver-se por métodos diferentes. Invariavelmente, adoptam aquilo que julgam ser uma férmula imutdvel e aplicam-na mecanicamente a todos os casos, 0 que nao pode sendo causar reveses a revolugdo ou comprometer o que poderia ser um éxito. Para fazer ressaltar a particularidade das contradigées consideradas no seu conjunto ou na sua ligacdo miitua ao longo do processo de desenvolvimento dum fenémeno, quer dizer, para fazer sobressair a esséncia do processo, é necessério fazer ressaltar o cardcter especifico dos dois aspectos de cada uma das contradigées desse processo; doutro modo € impossivel fazer sobressair a esséncia do proceso. Isso também exige a maior atengdo no nosso estudo. No processo de desenvolvimento dum fenémeno importante, ha toda uma série de contradigdes. Por exemplo, no processo da revolucdo democratico- burguesa na China, existe nomeadamente uma contradig&o entre as classes oprimidas da sociedade chinesa e o imperialismo; uma contradic&o entre as massas populares e o regime feudal; uma contradic&o entre o proletariado e a burguesia; uma contradic&o entre os camponeses e a pequena burguesia urbana por um lado, e a burguesia por outro lado; contradicées entre as diversas camarilhas reaccionarias dominantes. A situag&o é pois extremamente complexa. Todas essas contradicées no podem ser tratadas da mesma maneira, j4 que cada uma tem o seu caracter especifico; e, por sua vez, os dois aspectos de cada contradig&o apresentam particularidades préprias a cada um deles, ndo sendo possivel encard-los dum mesmo modo. Nés, que trabalhamos pela causa da revolug&o chinesa, devemos nao somente compreender o caracter especifico de cada uma dessas contradigées, considerada no seu conjunto, isto é, na sua ligacdo mUtua, mas ainda estudar os dois aspectos de cada contradigéo, unico meio para chegarmos a compreender 0 conjunto. Compreender cada aspecto da contradigéo ¢ compreender a posic&io particular que cada um deles ocupa, as formas concretas em que estabelece relacdes de interdependéncia e relacdes de contradig&o com o seu contrdrio, os métodos concretos que utiliza na sua luta com 0 outro quando os dois se encontram ao mesmo tempo em interdependéncia e em contradicéo, bem como apés a ruptura da sua interdependéncia. O estudo dessas questées é de muito grande importancia. E o que Lenine tinha em vista quando dizia que a substancia, a alma viva do Marxismo, era a anélise concreta hitps:lwwnsmanssts.org/portuguesimao!1937/08/contra.him 1188 so10712023, 20.58 Sobre a Contradigdo duma situac&o concretal 1°], Contrariamente aos ensinamentos de Lenine, os nossos dogmaticos nunca usam a cabeca para analisar os fendmenos de maneira concreta; os seus artigos e os seus discursos nao fazem mais do que repisar de maneira va, vazia, esquemas estereotipados, fazendo nascer no Partido um estilo de trabalho dos mais nefastos. No estudo duma questo é preciso guardar-se de ser subjectivo, de fazer exames unilaterais, de ser superficial. Ser subjectivo é no saber encarar uma quest&o objectivamente, quer dizer, dum ponto de vista materialista. Eu ja falei disso em "Sobre a Pratica". O exame unilateral consiste em no saber encarar as questdes sob todos os seus aspectos. E 0 que acontece, por exemplo, quando se considera apenas a China e nao o Japao, apenas o Partido Comunista e nao o Kuomintang, apenas 0 proletariado e no a burguesia, apenas os camponeses e n&o os senhores de terras, apenas as situagdes favoraveis e nao as situacdes dificeis, apenas o passado e nao o futuro, apenas a parte e no o conjunto, apenas as falhas e nao os éxitos, apenas o que acusa e nao o que se defende, apenas o trabalho revolucionario na clandestinidade e nado o trabalho revolucionério legal, etc, numa palavra, sempre que ndo se véem os tracos caracteristicos dos dois aspectos duma contradicaéo. E a isso que se chama encarar as questdes de maneira unilateral, ou pode ainda dizer-se que é ver a parte e n&o o todo, ver a drvore e nao a floresta, Se se procede assim, é impossivel encontrar 0 método para resolver as contradigdes, cumprir as tarefas da revolugio, levar a bom termo o trabalho que se faz e desenvolver correctamente a luta ideolégica no seio do Partido. Quando Suen Tse, ao tratar da arte militar, dizia "Conhece o teu adversério e conhece-te a ti préprio que poderds, sem riscos, travar um cento de batalhas"!N?1) ele referia-se as duas partes beligerantes. Na dinastia Tam, Vei Tchem!N12] também via o erro dum exame unilateral, quando dit "Quem escutar as duas partes ficara com o espirito esclarecido, quem no escutar mais do que uma permanecerd nas trevas". Nao obstante, os nossos camaradas véem frequentemente os problemas duma maneira unilateral, razdo por que Ihes acontece darem muitas vezes com a cabeca na parede. Na novela Chuei Hu Tchuan, conta-se que Som Quiam atacou por trés vezes Tchuquiatchuaml!13], fracassando duas vezes por nao ter considerado as condicées locais, e ainda por ter aplicado um método de accdo incorrecto. Posteriormente, Som Quiam mudou de método e procurou informar- se sobre a situacéio. Desde entdo ficou a conhecer todos os segredos do labirinto, quebrou a alianca das trés aldeias, Liquiatchuam, Huquiatchuam e Tchuquiatchuam, enviou alguns homens para que se escondessem no campo inimigo e preparassem ai uma emboscada, no esquema dum estratagema semelhante ao do cavalo de Tréia de que fala uma lenda estrangeira, sendo o seu terceiro ataque coroado de sucesso. Chuei Hu Tchuan contém muitos exemplos hitps:lwwnsmanssts.org/portuguesimao!1937/08/contra.him 1284 so10712023, 20.58 Sobre a Contradigdo o de aplicagdo da dialéctica materialista, dos quais um dos melhores precisamente o episédio dos trés ataques a Tchuquiatchuam. Lenine dizia: "Para conhecer realmente um objecto, é necessdrio abarcar e estudar todos os seus aspectos, todas as suas ligacées e 'mediacées'. Nés nunca o conseguiremos de maneira integral, mas a necessidade de {N14} considerar todos os aspectos evita-nos erros e rigidez Devemos lembrar-nos das suas palavras. Ser superficial é no ter em conta as caracteristicas da contradic&o no seu conjunto, nem as caracteristicas de cada um dos seus aspectos, negar a necessidade de ir ao fundo dos fenémenos e estudar minuciosamente as caracteristicas das respectivas contradigdes, contentar-se com ver de longe e, apés uma observacao aproximativa de alguns tragos superficiais dessas contradicdes, tentar imediatamente resolvé-las (responder a uma pergunta, decidir sobre um diferendo, solucionar um problema, dirigir uma operacao militar). Essa maneira de agir leva sempre a consequéncias funestas. A razio de os nossos camaradas cairem no erro do dogmatismo e empirismo é 0 facto de encararem os fenémenos duma maneira subjectiva, unilateral e superficial. Encarar os fenémenos de modo unilateral e superficial ainda subjectivismo, pois, no seu ser objectivo, os fenémenos estao de facto ligados uns aos outros e possuem leis internas; no entanto, hd pessoas que, em vez de reflectirem os fenémenos tal como so, consideram-nos de modo unilateral ou superficial, desconhecendo-Ihes a ligacéo mitua e as leis internas. Um tal método é pois subjectivo. Devemos ter em vista no apenas as particularidades do movimento dos aspectos contraditérios considerados na sua ligacéo mUitua e nas condigdes de cada um deles no decorrer do processo geral de desenvolvimento dum fenémeno, mas também as particularidades préprias a cada etapa do processo de desenvolvimento. Nem a contradicéo fundamental, no processo de desenvolvimento dum fenémeno, nem a esséncia desse processo, determinada por essa contradicéo, desaparecem antes da conclusdo do processo. Contudo, as condicées diferem geralmente umas das outras, em cada etapa do longo processo de desenvolvimento dum fenémeno. Eis a raz&o: se bem que a natureza da contradig&o fundamental no processo de desenvolvimento dum fenémeno, bem como a esséncia do processo, permanecam sem modificagéo, a contradicao fundamental agudiza-se progressivamente em cada etapa desse longo processo. Por outro lado, entre tantas contradigées, grandes e pequenas, que séo determinadas pela contradigSo fundamental ou se encontram sob a sua influéncia, algumas agudizam-se, outras resolvem-se ou atenuam-se temporaria ou parcialmente, enquanto que outras vdo nascendo. Eis a raz&o por que hé diferentes etapas no processo. Ndo € possivel resolver correctamente as contradigées inerentes a um fenémeno se nao se presta atencéio as etapas do processo do seu desenvolvimento. hitps:lwwnsmanssts.org/portuguesimao!1937/08/contra.him 13184 1107/2008, 2058 Sobre a Conrado Por exemplo, quando o capitalismo da época da livre concorréncia se transformou em imperialismo, nem a natureza de classe das duas classes radicalmente contrarias — o proletariado e a burguesia — nem a esséncia capitalista dessa sociedade sofreram qualquer mudanga; contudo, a contradicao entre essas duas classes agudizou-se, a contradig&o entre o capital monopolista € 0 capital liberal surgiu, a contradic&o entre as poténcias colonialistas e as colénias tornou-se mais aguda, a contradicéio entre os paises capitalistas, contradic&o provocada pelo desenvolvimento desigual desses paises, manifestou- se com uma acuidade particular; desde entéo comecou um estddio particular do capitalismo — o estadio do imperialismo. O Leninismo é o Marxismo da época do imperialismo e da revolugdo proletaria, precisamente porque Lenine e Estaline deram uma explicagao justa dessas contradigdes e formularam correctamente a teoria e a tactica da revolugo proletaria chamadas a resolvé-las. Se se considera 0 processo da revolucao democratico-burguesa na China, que comegou com a Revolugéo de 1911, igualmente se distinguem aj vérias etapas especificas. Em particular, 0 perfodo da revolugéo em que a direccéo era burguesa e 0 periodo em que a direccdo foi assumida pelo proletariado representam duas etapas histéricas cuja diferenga é considerdvel. Por outras palavras, a direco&o exercida pelo proletariado mudou radicalmente a fisionomia da revolugao, conduziu a um reajustamento das relagées entre as classes, implicou um grande desenvolvimento da revolucdo camponesa, imprimiu a revolucao dirigida contra o imperialismo e o feudalismo um caracter radical, criou a possibilidade de passagem da revolug3o democratica & revolucao socialista, etc. Tudo isso era impossivel na época em que a direccio da revolugdo era burguesa. Se bem que a natureza da contradicéo fundamental do processo tomado no seu conjunto, quer dizer, 0 caracter de revolucdo democratica anti- imperialista e anti-feudal do processo (0 outro aspecto da contradic&o era o caracter semi-feudal e semi-colonial do pais) n&o tivesse so frido qualquer mudanga, no decurso desse longo periodo produziram-se acontecimentos téo importantes como a derrota da Revolucéo de 1911 e o estabelecimento da dominago dos caudilhos militares do Norte, a criag&o da primeira Frente Unica Nacional e a Revolugo de 1924-1927, a ruptura da Frente Unica e a passagem da burguesia para o campo da contra-revolucéo, as guerras entre os novos caudilhos militares, a Guerra Revolucionéria Agraria, a criagdo da segunda Frente Unica Nacional e a Guerra de Resisténcia contra o Japéo — outras tantas etapas de desenvolvimento no espacgo de vinte e poucos anos. Essas etapas sao caracterizadas nomeadamente pelo facto de certas contradicées se terem agudizado (por exemplo, a Guerra Revolucionaria Agraria e a invasdo das quatro provincias do Nordeste pelo Jap3o), pelo facto de outras se terem parcial ou provisoriamente resolvido (por exemplo, a liquidagao dos caudilhos militares do Norte, 0 confisco, a que procedemos, das terras dos senhores de terras) e ainda pelo facto de outras terem surgido de novo (por exemplo, a luta entre os novos caudilhos militares, a recuperagdo das terras pelos senhores de terras apés a perda das nossas bases de apoio revolucionarias, no Sul), etc. hitps:lwwnsmanssts.org/portuguesimao!1937/08/contra.him 1404 11072023, 2058 Sobre a Contadgto Quando se estuda a particularidade das contradigbes em cada etapa do processo de desenvolvimento dum fenémeno, é preciso néo sé considerar essas contradigdes na sua ligagéo mutua ou no seu conjunto, mas também encarar os dois aspectos de cada contradicao. Por exemplo, o Kuomintang e o Partido Comunista. Tomemos um dos aspectos dessa contradicéo: 0 Kuomintang. Como, no periodo da primeira Frente Unica, seguiu as trés grandes politicas de Sun Yat-sen (alianca com a Russia, alianga com o Partido Comunista e ajuda aos operarios e camponeses), 0 Kuomintang conservou o seu caracter revoluciondrio e o seu vigor, representando a alianca das diferentes classes na revolug&o democratica. Apés 1927, porém, transformou-se no seu contrario, tornando-se num bloco reacciondrio dos senhores de terras e da grande burguesia. Depois do Incidente de Si-an, em Dezembro de 1936, uma nova mudanga comegou a produzir-se no seu seio, orientada no sentido da cessacéo da guerra civil e alianga com o Partido Comunista, com vistas a uma luta em comum contra o imperialismo japonés. Tais sio as particularidades do Kuomintang nessas trés etapas. Claro que elas resultaram de causas miltiplas. Vejamos agora o outro aspecto: o Partido Comunista da China. No periodo da primeira Frente Unica, 0 Partido estava ainda na infancia. Ele dirigiu corajosamente a Revolugéo de 1924-1927, mas demonstrou a sua falta de maturidade no modo como compreendeu o cardcter, as tarefas e os métodos da revolug&o, razo por que o tchentusiuismo, surgido no ultimo periodo dessa revolugao, teve a possibilidade de exercer a sua accdio e conduzir a revolugdo 4 derrota. A partir de 1927, o Partido Comunista passou a dirigir corajosamente a Guerra Revolucionaria Agréria, criou um exército revolucionario e bases de apoio revolucionérias, mas cometeu erros de caracter aventureiro, em consequéncia do que o exército e as bases sofreram pesadas perdas. Depois de 1935, 0 Partido corrigiu esses erros e dirigiu a nova Frente Unica de resist€ncia ao Japfo, uma grande luta que esté em vias de desenvolvimento. Na etapa actual, o Partido Comunista é um partido que ja sofreu a prova de duas revolugdes e possui uma experiéncia rica. Tais sdo as particularidades do Partido Comunista da China nas trés etapas. Igualmente, isso deveu-se a causas miltiplas. Se ndo se estudam tais particularidades, fica-se impossibilitado de compreender as relagdes especificas entre 0 Kuomintang e o Partido Comunista nas diversas etapas do seu desenvolvimento: criagdo duma Frente Unica, ruptura dessa frente, criacdo de nova Frente Unica. Para estudar as diversas particularidades dos dois partidos, porém, torna-se indispensdvel estudar a base de classe desses mesmos partidos e as contradicées que dai resultam, nos diferentes periodos, entre cada um deles e as demais forcas, Por exemplo, no periodo da primeira alianca com o Partido Comunista, 0 Kuomintang encontrava-se em contradig&o com os imperialistas estrangeiros, o que o levava a opor-se ao imperialismo; por outro lado, ele encontrava-se em contradigdo com as massas populares no interior do pais — muito embora fizesse de boca toda a espécie de promessas mirificas aos trabalhadores, na pratica dava-lhes muito pouco, ou mesmo nada Ihes dava. Durante a sua guerra anti-comunista, 0 Kuomintang colaborou com o imperialismo e 0 feudalismo para opor-se as massas populares, e suprimiu duma penada todas as vantagens que estas tpt marsts.org/poruquesima0997/08conra.m 1594

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