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USO DA CENTRIFUGA PARA DETERMINACAO DA CURVA DE RETENCAO DE AGUA DO SOLO, EM UMA UNICA OPERAGAO' ELIAS DE FREITAS JUNIOR? e EUZEBIO MEDRADO DA SILVA? RESUMO - Uma equago derivada da teoria da centrifuga, aplicada a fisica do solo, é proposta para a determinagio de curvas de retencdo de dgua, através do fatiamento de amostras centrifugadas, em uma linica operago. O modelo desenvolvido permite calcular o potencial matricial médio atuante em qualquer segmento, ao longo de uma amostra centrifugada. A amostra, inicialmente saturada, é centri- fugada numa rotago previamente escolhida através da equago proposta, até que se atinja 0 equili- brio entre © potencial estabelecido ¢ a dgua retida. Foram utilizadas amostras nao deformadas de um Latossolo Vermelho-Escuro, textura média coletadas em drea virgem dos cerrados brasileiros, para 0 estabelecimento das curvas de retenco pela metodologia proposta. Para efeito de comparagio, as cur: vas também foram determinadas pelos métodos tradicionais da cémara de pressdo e da centrifura. Os Jalores de umidade, obtidos pelos diferentes métodos, correlacionaram-se de maneiraaltamente sign- ficativa. Termos pata indexagdo: fisica do solo, amostras de solo centrifugadas, fatiamento de amostras de solo, teoria da centrifuga, THE USE OF THE CENTRIFUGE FOR DETERMINING THE SOIL MOISTURE CHARACTERISTIC CURVE IN ONE STEP ABSTRACT - An equation derived from the centrifuge theory is proposed as a one-step method for determining the soil moisture characteristic curve using the centrifuge. The methodology involves the slicing of a centrifuged soil cores. The model described permits the calculation of the average matric potencial acting on any segment along the centrifuged soil core length. The sample, initially saturated, is centrifuged at a previously selected rotation according to the proposed equation until it reaches the equilibrium between the established matric potential and the retained water. This method was compar- ed with the traditional were highly correlated, centrifuge and pressure chamber methods using a dark-red latosol soil of medium texture from the Cerrados of Brazil. Moisture values obt: ed by all the three methods tested Index terms: centrifuged soil cores, sliced soil cores, centrifuge theory, soil physics. INTRODUCAO A curva de retengao de agua, também conheci- da como curva caracteristica de umidade, é um dos parametros basicos requeridos no estudo dos pro- cessos de transferéncia da agua no solo. As primei- ras tentativas para correlacionar o teor de agua do solo e seu potencial, utilizando a centrifugagao de amostras, ocorreram com Briggs & McLane (1907, 1910). Veihmeyer et al. (1924) e Thomas & Harris (1925) estudaram a influéncia do tamanho da amostra e do tempo de centrifugagao na determina- do do equivalente de umidade. Russel & Richards (1938) apresentaram um tratamento mais comple- Aceito para publicacdo em 30 de agosto de 1984 Trabalho apresentado no XIX Congresso Brasileiro de Ciéncia do Solo, Curitiba, julho de 1983. 2 Eng. - Agr, M.Sc., Dr., EMBRAPA/Centro de Pesquisa Agropecudria “dos Cerrados (CPAC), Caixa Postal 70.0023, CEP 73300 Planaltina, DF. 3 Eng. - Agr., M.Sc., EMBRAPA/CPAC. to € objetivo da teoria que envolve a determinagao da curva de retengao através de centrifugas. Nesse trabalho, a aplicabilidade da teoria é demonstrada determinando-se curvas de retengio para solos com textura arenosa e argilosa, através de centri- fugas com raios diferentes. Com o advento das cimaras de pressio de Richards (Richards & Fireman 1943) e suas faci dades, as centrifugas foram relegadas a um segun- do plano, em virtude, provavelmente, das dificul- dades operacionais inerentes ao controle preciso da velocidade angular. Alemi et al. (1976), aproveitando o gradiente de potencial estabelecido na amostra durante a centrifugagao, utilizaram a teoria da centrifuga para desenvolver modelos matemdticos com o objetivo de determinar a condutividade hidrdulica nio saturada do solo. Paningbatan Junior (1980), seguindo a mesma linha de pesquisa de Alemi et al. (1976), utilizou, pela primeira vez, o fatiamento de amostras cen- Pesq. agropec. bras., Brasflia, 19(11):1423-1428, nov, 1984. 1424 trifugadas para determinagao da curva de retengio. Porém, numa visio simplista do problema, esse au- tor considerou o potencial na superficie média da camada estudada, como representativo do poten- cial médio desta camada 0 que nio é teoricamente * correto. Esse trabalho objetivou adaptar a teoria da cen- trifuga, aplicada a fisica do solo, para o céleulo do potencial médio em qualquer camada de uma amostra de solo submetida a centrifugagio, ¢ as- sim viabilizar, em laboratério, 0 levantamento de uma curva de retengao de agua, em uma tnica operagao. Teoria A centrifugagao de uma amostra de solo, previa- mente saturada (Fig. 1), gera um potencial matri- cial crescente ao longo do seu comprimento (de To @ ty). A relagdo entre este potencial, a veloci- dade angular estabelecida ¢ 0 raio da centrifuga sio definidos por: dbp=w? gt rdr (1) onde: Y= potencial matricial da amostra na su- perficie em r (em de HO) w = velocidade angular (rad. seg!) & = aceleracdo da gravidade (cm, seg”) t = disténcia do eixo da centrifuga a su- perficie em r (cm). Integrando-se a eq. 1 no intervalo (r, rj) obtém- se que: 1 2 od 2 2 ve gee or) + dy (2) onde: Yrj= potencial matricial da amostra na su- perficie em xj (cm de H;0) distancia do eixo da centrifuga & superffcie em rj (cm). qe A eq. 2 6 a fungio que descreve a distribuigio do potencial a0 longo de r, até rj. © potencial matricial médio no [8i-1, 11] da fungao yy 6 definido por: intervalo Hi il Vr dr Vricty i) ti adr Pesq. agropec. bras., Brasilia, 19(11):1423-1428, nov. 1984. E. DE FREITAS JUNIOR e E.M, DA SILVA. FIG. 1. Representacdo esquemstica de uma emostra na centrifuga. Aplicando a eq. 2 na eq, 3, integrando e substi- tuindo (rj~4j.1) por L, obtém-se: 1 Via)" GOST LL 3ri) + ei (4) Reescrevendo-se a eq. 2 para r= 13.1, tem-se 0 potencial (Wp; 4) na superficie i-1: 1 5 Pe hy + Ue Yang (5) Aplicando-se a eq. 5 para a superficie em i=n¢ considerando-se o potencial matricial na superficie em th; por onde a dgua é liberada durante a cen- trifugagao, igual a zero, obtém-se: 1 Vent yO 8 (a8). (6) Para i= n-l,a.eq. 5 fica: (7) Aplicando-se a eq. 6 na eq. 7, chega-se a: - 1 2 ot Gta? Vena” > 8 (hota) 5 USO DA CENTRIFUGA Simplificando-se, tem-se que: Yen tal 1) Por indugao, a partir da eq. 6 ¢ eq. 8, 0 poten- cial matricial na superficie genética rj fica definido pela seguinte equagao: ei) (9) Aplicando-se a eq. 9 na eq. 4, 0 potencial médio na camada delimitada por [1-1, 1] fica assim defi- nido: 1 Young 78" L(L-3rj) + 3(r?-r?)}. (10) A eq, pode ser considerada a equagio genérica para o calculo do potencial médio (em de HO) em qualquer segmento de uma amostra centrifuga- da numa dada velocidade angular (rad. seg), O céleulo da velocidade angular, em rotagdes por minuto (W), para um dado valor de potencial médio, em atmosfera (A), pode ser obtido mais fa- cilmente, reescrevendo-se a eq. 10 da seguinte forma: 3.540 [Hiri 15)/L(L - 3rj) + 3¢r3- 2 ]t/? (11) TABELA 1. 1425 MATERIAL E METODOS. As curvas de retengdo de gua foram determinadas no Laboratfoio de Fisica do Solo da EMBRAPA/CPAC, utilizando-se amostras ndo deformadas de um Latossolo Vermelho-Escuro, textura média, coletadas em érea virgem dos cerrados, uma profundidade de 50 om. Foram estudadas amostras contidas em anéis volumétricos de 100 cm?, com comprimento de 5 em, © cileulo da velocidade angular para cada potencial foi efetuado usando-se a eq. 11, a partir de valores de po- tencial médio da amostra previamente selecionados (Ta- bela 1). Para cada teste de retengdo, foram utilizadas quatro amostras previamente saturadas, As amostras saturadas foram submetidas a centrifugagao até 0 equilibrio, para cada velocidade angular selecionada (Fig. 2). Apés 0 equi- fbrio, as amostras foram retiradas da centrifuga e, imedia- tamente, cada uma foi fracionada em cinco subamostras de 1 cm de espessura. Para este procedimento, introduziu- se no anel um émbolo graduado com didmetro igual a0 didmetro interno do anel (Fig. 3). Esse émbolo foi intro- duzido pela extremidade mais seca da amostra e a cada centimetro penetrado a fra¢do expulsa do anel foi sec- ciofada, pesada e levada a estufa a 105°C até massa cons- tante. A partir desses dados, foi calculada a umidade vo- lumétrica para cada camada da amostra. Foram determinados, também para efeito de compara 40, os valores de umidade volumétrica para os potenciais matriciais do solo estudado, pelos métodos clissicos da centrifuga (Russell & Richards 1938) e da camara de pres- so de Richards (Richards & Fireman 1943). O tempo de equilfbrio considerado para a centrifuga foi de seis horas Fig. 2), enquanto para a camara de pressfo variou de 24a 72 horas. A obtengo dos dados pelo método da centrifu- ga foi feita a partir de oito amostras de solo em duas ope- ragSes, enquanto que pelo método da cimara de pressio foram utilizadas 24 amostras, também em duas operagdes. RESULTADOS E DISCUSSAO. © modelo proposto através da eq. 9 descreve correta- mente a distribui¢do do potencial matricial em uma amos- Valores de potencial matricial médio calculados por camada e na amostra toda, para diferentes valores de velocidade angular em uma centrifuga com ro= 3,3 cm. Potencial médio (atm) 2-3em 3-4em 4-5em 0-5em -0,106 0,068 0,024 0,100 -0,212 0,136 -0,048 -0,200 -0,350 -0,224 -0,079 -0,330 -0,530 0,340 0,120 -0,500 -0,743 0,476 -0,168 -0,700 “1,081 -0,680 -0,240 “1,000 Pesq. agropec. bras., Brasilia, 19(11):1423-1428, nov. 1984.

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