Hist6éria das Linguas
Ao longo dos séculos vimos conquistas, guerras e mudangas de impérios que forgaram a humanidade a
modificar gradualmente o idioma falado em alguma populacdo, cidade, regido ou pais para adaptar-se
‘aos novos regentes.E 0 caso desses trés ramos das familias linguisticas: Indo-europeia Romanica,
Germénica e a Indo-Iraniana. Estes estdo presentes na maioria dos idiomas falados na Europa, Grande
Ir e Sul da Asia, representando cerca de 3,2 bilhdes de falantes.
A palavra linguagem tem pelo menos dois significados fundamentais: a linguagem como um conceito
geral; e a linguagem como um sistema linguistico especifico (lingua portuguesa, por exemplo). Em
Portugués, utiliza-se a palavra linguagem como um conceito geral e a palavra lingua como um caso
especifico de linguagem. Em francés, o idioma utilizado pelo linguista Ferdinand de Saussure (0 primeiro
que explicitamente fez essa distingao), existe a mesma distingao entre as palavras langage e /angue.As
estimativas do niimero de linguas humanas no mundo variam entre 5,000 e 7,000.Linguas vivem,
mortem, misturam-se, mudam de lugar para lugar e mudam também com 0 passar do tempo. Qualquer
lingua que deixa de mudar ou de se desenvolver é categorizado como uma lingua morta.{75] Por outro
lado, qualquer lingua que esta em um estado continuo de mudanga é conhecido como uma lingua viva
‘ou linguagem moderna. € por estas razdes que o maior desafio para o falante de uma lingua estrangeira
6 permanecer imerso nela, a fim de acompanhar as mudangas que se processam na lingua.
A lingua de sinais ¢ uma linguagem que, em vez de padrées sonoros acusticamente transmissiveis, usa-
se padrdes de sinal visualmente transmissiveis (comunicagao manual e/ou linguagem corporal) para
transmitir um significado, combinando ao mesmo tempo gestos manuais, orientagdo e movimentagao
das maos, bracos ou expressdes corporais e faciais para expressar seus pensamentos com fluidez de
um orador. Centenas de linguas de sinais estéo em uso em todo o mundo e esto no interior das culturas
locais de surdos
Gestos tém sido extensivamente estudados por académicos, e eles aprenderam estudando
principalmente macacos e sua comunicagao através de movimentos corporais que constituem uma
parte importante da interagao social, e em certo ponto a mesma coisa aconteceu com o homem, criando
uma relaco entre gesticulacao e o desenvolvimento subsequente da lingua falada.
A comunicagao por gestos e a capacidade de imitar contribuiram para a criagdo de uma protolinguagem
Um estudo de 2011 do professor Quentin Atkinson revelou que a origem de todas as linguas
provavelmente serd a mesma: em algum ponto no sudoeste da Africa, isso ¢ chamado de
protolinguagem, ou seja, lingua original ou lingua matema da qual todas as linguas seriam derivadas.
Em ambos os casos, a lingua original sofreria certas modificagdes até que a original nao fosse mais
compreendida. E 0 caso das diferentes familias linguisticas que compartilham certas caracteristicas em
comum (como as derivadas do latim), mas também possuem grandes diferencas fonéticas ou
gramaticais.
Uma lingua é um sistema de sinais fénicos ou graficos com os quais membros de uma comunidade
humana se comunicam, enquanto 0 idioma é a lingua de um povo ou nagdo, ou linguagem que 0
caracteriza. De certa forma, 0 idioma é como uma subcategoria de linguagem que envolve uma regido e
tem implicagées politicas e administrativas.
Linguas indo-iranianas
So 0s idiomas que descendem das linguas antigas faladas pelos habitantes da zona indo-iraniana que
hoje compreende o norte do territério do Afeganistao. E um ramo de linguas que abrange uma parte da
Europa, do Oriente Médio e de alguns paises da Asia.
Eles sao subclassificados em linguas indo-arianas como o sénscrito, uma lingua amplamente utilizada
na antiguidade classica da India, o Rigueveda ou hinos para os deuses ¢ um exemplo chave desta lingua.Linguas iranianas atualmente faladas por cerca de 150 milhdes de pessoas com idiomas como 0
avéstico, antigo persa e iraniano modemo; e finalmente as linguas nuristani, que ainda sao faladas hoje
nna regido de Nuristan no Afeganistao,
Outras linguas incluidas neste ramo so Hindi-Urdu, Bengali, Persa, Baltichi, Past6, Divei, Cingalés, Nepali,
Osseta, Curdos e Roma (que ¢ falado principalmente pelo ciganos em quase toda a Europa).
Linguas germénicas
Esta segunda subcategoria do ramo indo-europeu compreende trés outros ramos menores: as linguas
germénicas ocidental, nérdica e oriental. Esta ultima categoria contém as linguas ja extintas, como 0
gético (que foi a primeira lingua germanica da qual estamos cientes, pertencentes ao povo gotico
durante 0 século Il a.C. e até por volta do século VII d.C. quando caiu em desuso e morreu), o vandalo e 0
burgindio.
As linguas germnicas ocidentais compreendem idiomas como inglés, alemao e holandés. Nas linguas
germénicas nérdicas encontramos todas as linguas dos paises escandinavos, como noruegués, feroesa,
islandés, sueco e dinamarqués.
Todas essas linguas estao relacionadas de forma linguistica semelhante ao que acontece com as
linguas romanas, as linguas germanicas tém suas bases nos antigos alfabetos rlinicos e no gético.
Por varios métodos de gramatica comparativa tem sido possivel estabelecer uma relacdo entre essas
linguas, levando a uma lingua proto germanica que deu vida a todas as outras linguas deste ramo.
Linguas roménicas
Eles tém sua origem em latim vulgar, ou também chamado de latim do povo que era a lingua falada
pelos povos comuns; esse tipo de latim era a lingua que se expandiu entre a populagao geral, quando o
catolicismo se estabeleceu nas comunidades do Império Romano e que também se misturava com as
linguas e dialetos das éreas conquistadas, dai seu nome: romanica, por ser 0s" idiomas do amor", mas
também por causa de sua conexdo direta com Roma.
Os idiomas pertencentes as linguas romanicas compartilham vocabuladrio e muitas caracteristicas
linguisticas, como a gramatica, apesar de algumas diferencas fonéticas.
Dentro do ramo indo-europeu das linguas romanicas encontraremos idiomas derivados do latim vulgar,
como espanhol, portugués, francés, italiano e romeno, que detém o titulo de “idiomas oficiais’; mas,
também existem outros que talvez tenham menos implicacdes politicas e culturais, como catalao,
dalmata ou sarda, mas que em suas regides tém uma grande importancia
Variagdes Linguisticas
As variagGes linguisticas acontecem porque viverios em uma sociedade complexa, na qual estao
inseridos diferentes grupos sociais. Alguns desses grupos tiveram acesso 4 educagao formal, enquanto
outros ndo tiveram muito contato com a norma culta da lingua.0 portugués que é falado no Nordeste do
Brasil pode ser diferente do portugués falado no Sul do pais.Os diferentes falares devem ser
considerados como variagdes, e ndo como erros, Quando tratamos as variagdes como erro, incorremos
no preconceito linguistico que associa, erroneamente, a lingua ao status. 0 portugués falado em
algumas cidades do interior do estado de Sao Paulo, por exemplo, pode ganhar o estigma pejorative de
incorreto ou inculto, mas, na verdade, essas diferencas enriquecem esse patriménio cultural que é a
nossa lingua portuguesa.Hé quatro tipos de distingao dentro das variacées linguisticas:
VariagGes histéricas (diacronicas)
As variacGes hist6ricas tratam das mudangas ocorridas na lingua com o decorrer do tempo. Algumas
expressdes deixaram de existir, outras novas surgiram e outras se transformaram com a ado do tempo.Um classico exemplo da lingua portuguesa é 0 termo “voce: no portugués arcaico, a forma usual desse
pronome de tratamento era “vossa merce”, que, devido a variagdes inicialmente sociais, passou a ser
mais usado frequentemente como “vosmecé”. Com o passar dos séculos, essa expresso reduziu-se a0
que hoje falamos como “voce”, que é a forma incorporada pela norma-padrdo (visto que a lingua adapta-
se ao uso de seus falantes) e aceita pelas regras gramaticais. Em contextos informais, é comum ainda o
uso da abreviago “cé" ou, na escrita informal, "ve" (lembrando que estas tiltimas formas nao foram
incorporadas pela norma-padrdo, entdo nao so utilizadas na linguagem formal).
Vossa mercé — Vosmecé — Vocé > Cé
Outras mudangas comuns sao as de grafia, as quais as reformas ortograficas costumam regular. Assim,
a partir de 2016, a palavra "consequéncia” passou a ser escrita sem trema, sendo que antes era escrita
desta forma: "conseqiéncia’. Do mesmo modo, a palavra “fase” é hoje escrita com a letra f devido @
reforma ortografica de 1911, sendo que antes era escrita com ph: “phase”
Conseqtiéncia > Consequéncia
Phase — Fase
Vale, ainda, comentar a respeito de palavras que deixam de existir ou passam a existir. Isso acontece
frequentemente com as girias: se antes jovens costumavam dizer que algo era “supimpa” ou que “aquele
broto é um pao”, hoje é mais comum ouvir deles que algo é “da hora” ou que “aquela mina é mé gata’.
VariagSes geograficas (diatépicas)
As variagdes geogrdficas naturalmente falam da diferenga de linguagem devido a regido. Essas
diferengas tornam-se dbvias quando ouvimos um falante brasileiro, um angolano e
um portugués conversando: nos trés paises, fala-se portugués, mas ha diferengas imensas entre cada
fala.
Nao ¢ preciso que a distancia seja téo grande: dentro do préprio Brasil, vemnos diferengas de Iéxico
(palavras) ou de fonemas (sons, sotaques). Ha diferengas entre a capital e as cidades do interior do
mesmo estado, Observemos alguns exemplos de diferencas regionais:
*Mandioca’, “aipim’ ou “macaxeira"? Os trés nomes estdo corretos, mas, dependendo da regido do Brasil,
vocé ouvird com mais frequéncia um ou outro. O mesmo vale para a polémica disputa entre “biscoito”
“polacha’, que se estende para todo o territério nacional
As glrias também variam bastante regionalmente: cerveja pode ser conhecida como “bera’ em regides
do Parané, "breja’ em Sao Paulo e “cerva” no Rio de Janeiro.
Variagées sociais (diastraticas)
As variagGes sociais sao as diferengas de acordo com o grupo social do falante. Embora tenhamos visto
como as girias variam histérica e geograficamente, no caso da variagao social, a giria esté mais ligada
a faixa etéria do falante, sendo tida como linguagem informal dos mais jovens (ou seja, as
girias atuais tendem a ser faladas pelos mais novos).
Hé, ainda, expressées informais ligadas a grupos sociais especificos. Um grupo de futebolistas, por
exemplo, pode usar a expressao “carrinho” com significado especifico, que pode nao ser entendido porum falante que ndo goste de futebol ou que serd entendido de modo distinto por criangas, por exemplo.
Um grupo de capoeiristas pode facilmente falar de uma “meia-lua’, enquanto pessoas de fora desse
grupo talvez nao entendam imediatamente o conceito especifico na capoeira. Do mesmo modo,
capoeiristas ¢ instrumentistas provavelmente terdo mais familiaridade com o conceito de “atabaque” do
que outras pessoas.
Como vimos, as profissées também influenciam bastante nas variagdes sociais por meio dos termos
técnicos (jargées): contadores falam dos termos “ativo" e “passivo” para remeter a conceitos diferentes
daqueles usados por linguistas. No entanto, em ambos os casos, ativo e passivo so conceitos muito
mais especificos do que seu uso geral em outros grupos.
Variagées estilisticas (diafasicas)
As variacées estilisticas remetem ao contexto que exige a adaptagao da fala ou ao estilo dela, Aqui
entram as questées de linguagem formal e informal, adequago a norma-padrao ou despreocupagao
com seu uso. 0 uso de expressées rebuscadas e o respeito as normas-padrao do idioma remetem
a linquagem tida como culta, que se opde aquela linguagem mais coloquial e familiar. Na fala, o tom de
voz acaba tendo papel importante também.
Assim, o vocabulério e a maneira de falar com amigos provavelmente nao serao 0s mesmos que em
uma entrevista de emprego, e também sero diferentes daqueles usados para falar com pais e avés. As
variagGes estilisticas respeitam a situagao da interagao social, levando-se em conta ambiente e
expectativas dos interlocutores.
Preconceito linguistico
Tendo tantas variagées e nuances, pudemos ver que cada contexto social traz naturalmente um modo
mais ou menos adequado de expresso, sendo importante entender que as variagdes linguisticas
existem para estabelecer uma comunicagao adequada ao contexto pedido.
Apesar disso, as diversas maneiras de expressar-se ganham status de maior ou menor prestigio
social baseado em uma série de preconceitos sociais: as variacdes linguisticas ligadas a grupos de
maior poder aquisitivo, com algum tipo de status social, ou a regides tidas como “desenvolvidas” tendem
a ganhar maior destaque e preferéncia em relagao as variedades linguisticas ligadas a grupos de menor
poder aquisitivo, marginalizados, que sofrem preconceitos ou que sao estigmatizados.
Desenvolve-se, assim, o preconceito linguistico, que se baseia em um sistema de valores que afirma que
determinadas variedades linguisticas so "mais corretas” do que outras, gerando um juizo de valor
negativo ao modo de falar diferente daqueles que se configuram como os “melhores”. 0 preconceito
linguistico nada mais & do que a reprodugo, no campo linguistico, de um sistema de valores sociais,
econémicos e culturais.
No entanto, ao estudarmos as variacdes linguisticas, percebemos que nao ha uma tnica maneira de
expressar-se e que, portanto, nao ha apenas um modo certo. A lingua e sua expresso variam de acordo
com uma série de fatores. Antes de tudo, ela deve cumprir seu papel de expresso, sendo compreendida
pelos falantes e estando adequada aos contextos e as expectativas no ato da fala. Dessa forma, o ideal
do preconceito linguistico, que gera juizo de valor as diferentes variacdes linguisticas, nao deve ser
alimentado.
Linguagem formal e informalUma diferenca importante ¢ aquela entre linguagem formal e linguagem informal. A situagéo em que nos
encontramos define o tipo de linguagem que usaremos. Primeiro, pensemos no conceito de norma-
padrao: as convengdes da lingua criam regras gramaticais que buscam nortear seu uso, de modo que
falantes de uma mesma lingua, apesar das variacdes existentes, consigam entender-se por um padrao
comum a todos.
Assim, um jovem nascido no Acre conseguiré comunicar-se com uma senhora que viveu em Santa
Catarina baseado nas regras comuns da norma-padrao da lingua portuguesa. Do mesmo modo, grandes
veiculos de comunicagao, como emissoras de TV ou mesmo youtubers, podem produzir mensagens que
serao basicamente compreendidas por qualquer falante do idioma utilizado.
Um contexto mais casual, como uma reuniao com amigos ou um almogo em familia, pede
uma expresso coloquial. Por mais respeito que haja entre vocé e sua familia e amigos, vocé no
utilizara palavras ou construcdes gramaticais muito rebuscadas. Aqui, hé mais liberdade na maneira de
falar, por isso vocé utiliza uma linguagem informal, que pode permitir 0 uso de girias, de frases feitas ou
interjeigGes, de abreviagdes, de desvios gramaticais (ou menor preocupagao em seguir a norma-padrao)
etc,
Ja 0 contexto formal, como reunides profissionais, discursos ou ambientes académicos, exige 0 uso
da linguagem formal, aquela que se preocupa com a norma-padrdo e suas regras gramaticais, seguindo-
as estritamente. Além disso, a fala torna-se polida e clara, e mesmo a escolha das palavras ¢ feita com
maior cuidado.