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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARA BIBLIOTECA CENTRAL WBHBZ0s Dados Internacionais de Catalogacio na Publicagao (CIP) (Ciara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Pesquisa qualitativa com texto: imagem e som : um manual pratico/ Martin W, Bauer, George Gaskell (editores) ; raducio de Pedrinho A. Guareschi.~7. ed. Petropolis RJ : Vozes, 2008, ‘Titulo original: Qualitative Researching with Text, Image and Sound : a Practical Handbook. ISBN 978.85-326-2797-8, 1. Ciéncias sociais— Metodologia 2. Ciencias sociatis - Pesquisa 3. Ciencias sociais ~ Pesquisa ~ Metodologia 4. Pesquisa avaliativa (Programas de acio social) 5, Pesquisa qualitatrva 1. Bauer, Martin W,, II. Gaskell, George. 02-2085 cpp 001.49 indices para catdlogo sistematico: 1, Pesquisa qualitativa : Metodologia 001.42 8 ANALISE DE CONTLUDO CLASSICA: UMA REVISAO ‘Martin W. Bauer Palaaras-chave: ambigitidade; inclicadores culturais; semana ar- cial; dicionario; CAQDAS; palavra-chave no contexto (KWIC); li de codificacao; palavra-chave fora do contexto (KWOC); valor codificagao; lematizacao; referencial de codificactio; métrica: por itegoria, ordinal, de intervalo, de razdo; patologias de codilicagao; jodularidade folha de codificacao; delineamento paralelo; unida- cde codificacio: amostragem aleatéria; coeréncia: dilema fidedig- idade-validade; anslise com auxilio de computador; unidade de jostragem; concordancia; co ocorréncia. _ Agrande maioria das pesquisas sociais se baseia na entrevista: os eqnisadores perguntam As pessoas sobre sua idade, o que fazem sra viver, como vivem, 0 que elas pensam ou sentem sobre X, Ye pedem que contem sua histéria ou narrem fatos. A entrevista, ¢s- turada ou ndo, é um método conveniente e estabelecido de pes- isa social. Mas assim como as pessoas expressam seus pontos de ta falando, elas também escrevem ~ para fazer relatérios, para lanejar, jogar on se divertir, para estahelecer normas @ regras, ¢ wra discutir sobre temas controvertidos. Deste modo, os textos, do iesmo modo que as falas, referem-se aos pensamentos, sentimen- , Memiérias, planos e discussdes das pessoas, ¢ algumas vezes nos izem mais do que seus autores imaginam, Os pesquisadores sociais tém a tendéncia de subestimar materiais xtuais como dados. Os métodos de pesquisa passam por ciclos de joda e de esquecimento, mas a World Wide Web (www) e os arqui- —189— 8 ANALISE DE CONTEUDO CLASSICA: UMA REVISAO. Martin W, Bover Palavras-chave: ambigiiidade; indicadores culuraiy; seuaua ar~ licial; dicionario; CAQUAS; palavra-chave no contexto (KWI); = de codificacéo; palavra-chave fora do contexto (KWOC); valor codificaciin; lematizacio; referencial de codifieacio; métrica: por iegoria, ordinal, de intervalo, de raz%o; patologias de codificacio; jodularidade folha de codificagdo; delincamento paralclo; unida- de codificagao; amosuagen aleat6ria; coeréncia; dilema fidedig- idade-validade; analise com auxilio de computador; unidade de jostragem; concordancia; co-ocorréncia. A grande maioria das pesquisas sociais se baseia na entrevista: os quisadores perguntam as pessoas sobre sua idade, o que fazem ra viver. como vivem. o que elas pensam ou sentem sobre X. Ye Z: pedem que contem sua histéria ou narrem fatos, A entrevista, es turada ow nao, é um método conveniente ¢ estabelecido de pes isa social. Mas assim como as pessoas expressain seus puntos de ta falando, elas também escrevem ~ para fazer relatorios, para mnejar, jogar ou se divertir, para estabelecer normas e regras, € ra discutir sahre temas contravertidas Deste modo, as textos, do. jesmo modo que as falas, referem-se aos pensamentos, sentimen- us, miemiGrias, planus € discusses das pessoas, e algumas vezes nos izem mais do que seus autores imaginam, Os pesquisadores sociais tém a tendéncia de subestimar materiais sxtuais como dados. Os métodos de pesquisa passam por ciclos de oda e de esquecimento, mas a World Wide Web (www) € os arqui- —189— PESQUISA QUALITATIVA COM TEXTO, IMAGEM E SOM vos on-line para jornais, programas de rédio ¢ televisdo, criaram_ uma grande oportunidade para os dados em forma de textos. A medida que o esforgo de coletar informagées estd tendendo a zero, estamos assistindo a um renovado interesse na andlise de contetido (AC) e em suas técnicas, em particular em técnicas com 0 auxilio de computador. Como diferem, em suas reportagens sobre ciéncia e tecnologia, os jornais populares e especializados? A televistio comercial trata sua au- diéncia de maneira diferente que uma televisio péblica? Como foi tatado 0 mito da destruigao da Bastilha pelas noticias da época? Quando, e como, o tema desempenho comecou a aparecer nos livros para criangas? Que informagio trazem os memorandos ifiternos de uma organizagio comercial? Podemos reconstruir mudangas nos va- lores sociais através de colunas de jornais do estilo “coragées solitarios” ou em obituarios? Estas so apenas algumas das questdes que forai discutidas pelos pesquisadores através da andlise de conterido. A anilise de conteiido é apenas um método de andlise de text desenvolvido dentro das ciéncias sociais empfricas. Embora a maior parte das andlises classicas de contetido culminem em descrigdes nu- méricas de algumas caracterfsticas do corpus do texto, considerdvel atengao esté sendo dada aos “tipos”, “qualidades”, e “disting6es” n texto, antes que qualquer quantificacio seja feita. Deste modo, anilise de texto faz uma ponte entre um formalismo estatistico ¢ anilise qualitativa dos materiais. No divisor quantidade/qualidad das ciéncias sociais, a andlise de contetido é uma técnica hibrida qu pode mediar esta improdutiva discussao sobre virtudes e métodos. No século dezeascte, uma corte suica classificou, contou ¢ com: parou os simbolos usados nos cantos de uma seita religiosa, mas na conseguit encontrar provas de heresia (Krippendorff, 1980:13). Ni final do século dezenove, a AC demonstrowa “decadéncia moral” ni cobertura de noticias na recém-emergente imprenea amarela (Speed, 1893), Na Alemanha, Max Weber (1965 [191 1]) imaginou uma soci ologia cultural engajada na analise de jornais. Mais tarde, muitas missGes reais sobre imprensa da Inglaterra continham andlises com- parativas do contettdo das noticias publicadas (MeQuail, 1977). AC da propaganda inimiga serve aos servigos de informagio e1 tempus de gueiia © ajuda avs interesses comerciais em sua versao ce vil de monitoramento das corporagdes da midia. Durante a décad: de 1960, o advento do computador intensificou o nivel de reflexai —190— 8. ANAUSE DE CONTEUDO CLASSICA.. setodolégica (ver Stone of al., 1066; Gerbner ot al., 1060; Holsti, )G8; 1969, Drippendorff, 1980; Merten, 1995). A interpretagio de textos sagrados ou nobres, criticas literarias valores cstéticos, investigagio filologica cmpenhada na reconsti- figao de textos “originais", ou ma revelagdo de textos “fraudulen- ”, ou a analise semidtica de comerciais, isto tudo aumenta a com- lexidade de um texto: um pardgrafo fornece a oportunidade para jentrins extensos explorando todas as amhigiticlades e nuancas, linguagem. A andlise de contetido, contrastando a isso, reduz a wiplexidade de wna culeau de teatus. A lassificacao sisteuidtiva © sontagem de unidades do texto destilam uma grande quantidade material em uma descrigéo curta de algumas de suas caracteristi- Uma biblioteca pode estar contida em um tinico grafico: AC é meio de caracterizar diferencas em aproximadamente 700.000 escritos sobre ciéncia e tecnologia na imprensa britinica do guerra (Bauer et al., 1995). A leitura de todos estes artigos seria trabalho que levaria mais que uma vida. As definigdes na Tabela 8.1 realgam algumas caracteristicas da . Kla e uma tecnica para produzir inferéncias de um texto focal seu context social de maneira objetivada. Este contexto pode temporariamente, on em prinefpio, inacessivel an pesqnisadar. A mnuitas vezes implica em um tratamento estatistico das unidades texto. Maneira objetivada refere-se aos procedimentos sistemati- metodicamente explicitos e replicaveis: nao sugere uma leitura ida singular dos textos. Pelo contrario, a codificacdo irreversivel de texto 0 transforma, a fim de criar nova informacio desse texto. io é possivel reconstruir o texto original uma vez codificados a irre- sibilidade € 0 custo de uma nova informagio. A validade da AG e ser julgada nao contra uma “leitura verdadeira” do texto, mas termos de sua fundamentagao nos materiais pesquisados e sua gruéncia com a teoria do pesquisador, e a luz de seu objetivo de qisa. Lim carps dle texto oferece diferentes leituras, dependendo vvieses que ele contém. A AC nao é excegio; contudo, ela traga um Jo caminho enue Ieitura singular verfdica € 0 “vale tudo”, €, e ima analise, uma categoria de procedimentos explicitos de andlise al para fins de pesquisa social. Ela nao pode nem avaliar a bele- nem explorar as sntilezas de nm texto particular 191 PESQUISA QUALITATIVA COM TEXTO, IMACEM E SOM Tobelo 8.1 ~ Algumas definicdes de anélise de contetdo (@nfases acresrentaras) ‘Aseménticaestotisica do discurso polieo(Koplan, 1943: 230) A técnica de pesquisa para a descrigéo objetiva, sistemética e quantitative do conteddo monifesto da comuniesg6o (Berelson, 1952: 18). ‘Toda técnica para fazer inferéncics ofravés da identiicagéo objetiva e sistemética de 2¢2 > 1. Acontagem de palavras para cada artigo cons- itui uma escala que preserva a diferenca entre os valores; um artigo le 165 palavras é 65 por cento maior que 1m artign de 100 palavras tipo de métrica tem conseqiiéncias nos tipos de anslises estatisti- s que podem scr aplicadas. AAG 6 um sistema de codificacin que implica valores teériros ‘ranks, 1999). Uma unidade de texto A pode ser codificada “co- entério” em relagdo a determinada tcoria implicita na categoria —201— PESQUISA QUALITATIVA COM TEXTO, IMAGEM F SOM “formato da noticia’. A unidade de texto A pode ser algo mais: ela niio é, por natureza, “comentario”. Contudo, a unidade de texto A serd ou “comentirio”, ou “iltimas noticias”, mas nao ambos. Distin- Ses nitidas entre unidades sio uma regra de trabalho que nos per mitem ignorar diferencas nebulosas e ambigitidades no mundo dos jornais. O treinamento do codificador e a pratica coletiva farao com que a unidade de texto A se mostre naturalmente como “comenté- rio”, e qualquer ambigiiidade remanescente poder se mostrar em problemas relacionados & fidedignidade. Esta imposigao implicita de um sistema de cédigos é uma acio de violéncia semantica que deve set justificada por resultados surpreendentes, em vez de ser condenada de imediato. z O processo de codificagio: papel e lapis ou computador ‘A codificacao concreta pode ser feita tanto com papel e lépis, ou divetamente no computador. No farmato de papel e lipis, 0 codifiz cador recebera instrugées na forma de um livro de codificagio (ver. abaixo), 0 material textual ¢ as folhas de codificagéo. Uma folha de codificagao € uma pagina quadriculada com uma célula reservada. para cada cédigo. O coditicador iré colocar seu-julgamento par cada c6digo na célula designada. Uma vez completa a codificacdo, todas as folhas de codificacao sao juntadas € colocadas em um com= putador para andlise dos dados. A codificagto computadorizada permite ao codificador fazer seu julgamento diretamente no com- putador. CAPI, CATI (Computer-assisted personal ou telephone in= terviewing — auxflio do computador pessoal para entrevista, ou auxf= lio do computador para entrevista por telefone), ou NUD*IST, ot ATLAS(ti (ver Kelle, cap. 16 neste volume) dao conta do processo de codificacdo diretamente. No caso do CAPI ou CATI. € criada uma, estrutura que mostra uma seqiiéncia de telas ao codificador, uma para cada eédigo, com todas as instrugdes necessarias e um campo para registrar 0 julgamento da codificagio. NUD*IST ¢ ATLAS/ti tomam textos on-line € 0 codificador-etiqueta as unidades de texto com um cédigo predefinido, nao perdendo, com isso, a ligagao en- tre o cédigo ea unidade de texto, € ligando unidades de texto com 0 c6digo. Um arquivo de safda para anilise estatistica sera criado au- tomaticamente, E sempre importante criar um cédigo adicional com o miimero em série da unidade de texto, e identificar 0 codifica- dor nos casos em que diversos codificadores estao trabalhando. AC de grandes corpora de textos, com muitos codificadores, como —202— 8. ANAUSE DE CONTEUDO CLASSICA. monitoramento continuo dos meios de comnnicagio, poderé se constituir em um empreendimento de escala industrial, exigindo organizacio, treinamento, coordenagio ¢ controle de qualidade. Qualidade na andlise de conteido A anilise de contetido é uma construgio social. Como qualquer construgio vidvel, ela leva em consideracio alguma realidade, neste caso 0 corpus de texto, ¢ ela deve ser julgada pelo seu resultado. Este resultado, contudo, nao € 0 tinico fundamento para se fazer uma wWaliagdo. Na pesquisa, 0 resultado vai dizer se a andlise apresenta produgées de interesse € que resistam a um minucioso exame; mas bom gosto pode também fazer parte da avaliacao. A metodologia da indlise cle contetido possni um discurso elaborado sobre qualidade, ndo suas preocupagées-chave a fidedignidade e a validade, pro- yindas da psicometria. As limitages desses critérios, contudo, se jostram no dilema fidedignidade-validade. Eu acrescento coerén- € transparéncia como dois critérios a mais para a avaliagao de a boa pratica na AC. Goeréncia: « beléza de um referencial de codificagao A maioria das AC opera com muitos cédigos. A construgio de um referencial de codificagio, ou sistema de categorias, é um tema te6ri co que esti relacionado com 0 valor estético da pesquisa. U analista de contetido amadurecido pode muito bem desenvolver um senso de be- leza: um referencial de codificacdo gracioso é aquele que € interna- mente coerente e simples, de tal modo que todos os cédigos fluem de ‘um (inico principio, ao invés de estarem cnraizados na meticulosida- de de um empiricismo que codifica tudo o que vem a cabeca. Coerén- cia na construcao de um referencial de codificacao provém de idéias superiores, que trazem ordem ao referencial de codificacio. ATabela 8.3 compara diversos conceitus e apresenta nogdes pri- mirias que fornecem coeréncia na construgao de um referencial de codificagio. Cada nocio primaria é derivada de um principio, e pode ser posteriormente especificada por cédigos secundarios. North et al. (1963) investigaram intercAmbios diplomaticos no comeco da 1 Grande Guerra. Seu princfpio organizador foi “agdes e sua percep- a0”: quem percche que agées com que efeitos ¢ com que qualifica- GOes. Unidades tematicas, parafrascadas @ partir dos textos orig — 203 — PESQUISA QUALITATIVA COM TEXTO, IMAGEM F SOM nais, foram codificadas para a) perceptores, b) atores, ¢) efeitos nos objetivos, d) descritores avaliativos desses efeitos. Tobela 8.9 ~ Conceitos que trazem coeréncia na constuyie de wu referential de codificagso Conceito Nocées primérias derivades Sistema de mensayern plan (pen. Alen, Elune, tmléveiv, eabvtonw Gorenor et a, 1969) Fercepguo da agao (p. ex. North et Perceptor, atores, efeitos em mira, avaliagéo al,1963) Retérica (p. ex. Bover,1998b) Marcadores de logos, ethos, pathos Argumentos (p. ex. Toulmin, 1958) Fxigéncia, dadas, garantia, apoio, efutagéo, ‘walifesdor Norrativa (p. ex. Bauer et l., 1995; Narrador, ator, acont Rose, cop. 14 neste volume) conzoquncias, mento, antecedentes, A ret6rica é outro principio itil de andlise. Logas, pathos ¢ ethos sao 05 “trés mosqueteiros” da persuasio (Goss, 1990). Logos se refere a extragao de conclusoes das premissas e observacoes; pathos agita as emogGes do piiblico; ¢ o ethos se refere A apresentacao da autoridade pessoal do locutor, ¢ a pretensao de reputacao. Estes trés conceitos podem ser empregadas para cndificar nnidades de tevta em termos. de argumentacio (marcadores de logos), sua fungio de atrair a aten- ‘cdo de um ouvinte/leitor (marcadores de pathos), ou referéncias & au- toridade ¢ reivindicagéo de reputagv do que fala/escreve (muarcado- res de ethos) (Bauer, 1998b; Leach, cap. 12 neste volume). A analise de argumentacio inspirou a andlise de contetido. A andlise de Toul- min (1958) sobre uma argumentacio pratica fornece um principio pelo qual se podem classificar unidades de texto como exigéncias, ga- rantias, apoios, daclos, qualificadores e refutagées (ver Leach, cap. 12 deste volume). Estes conceitos podem ser empregados para analisar argumentagées atribuidas a difercutes atures ua ifdia, ou em docu mentos de poltticas, tanto para comparar diferentes atores, como para avaliar a complexidade da argumentacao em diferentes arenas pi- blicas (Liakopoulos, cap. 9 neste volume). Finalmente, a narrativa éum principio estimulador. Considerar noticias como uma historia sugere imediatamente uma quantidade de nogies primérias: um contador de histéria, um ator, acontecimentos, uma situagéo de fundo, conseqiién- cias ¢ uma ética. Rose (cap. 14 neste volume) aplicou o principiv de narrativa para analisar a retratagao da doenga mental em novelas. —204— 8. ANAUSE DE CONTEUDO CLASSICA.. Aconstrugéo de médulus € win cou alageiia a Consuugay de urn ferencial de codificacao que garante tanto a eficiencia, como a coe- ncia. Um médulo é um bloco bem estruturado de um referencial codificacdo que é usado repetidamente. Tomemos, por exemplo, conjunto de cédligos secundarios que especifiquem a nogdo pri- ria de ator em uma narrativa: tipo de ator (individual, coletivo), ncro (masculino, femininu, desuuliecidy) ¢ esfera de atividade rrivada, semiprivada, ptiblica; etc.). Estes wes cédigos constituem modulo para especificar atores. Atores esto presentes em dife- antes func6es em uma narrativa: como 0 autor. o ator principal. 0 1 auxiliar; como catalisador das conseqfiéncias dos acontecimen- s; ou como alvo da ética da histéria. O médulo ator pode agora ser pregado para cspecificar cada uma das difercutes funuyGes dus res 1a narrativa. A construgao modular aumenta a complexidade referencial de codificacdo sem aumentar o estorgo de codiicacio, inda mantém sua coeréncia; ela também torna tanto a codifica- 10, como 0 treinamento, mais ficeis. Uma ver. qne 0 médulo seja morizado, a repetida aplicagao exige pouco esforgo adicional ¢ a sdignidade sera reforcada. O referencial de codificacao para a anilise da cohertura de nat sobre biotecnologia compreendia, ao final, 26 cédigos, orga: los dentro do prinefpio da narrativa: autor, ator, temas, aconteci (0s, local dos acontecimentos € consequéncias em termos de ris- cbeneficios. A construcao de médulos toi empregada para codifi- miiltiplos atores e miltiplos temas. O proceso de codificacio foi envolvido pelo perfodo de um ano: as 12 equipes se encontraram gas vezes para negociar e revisar a estrutura do referencial de codi- go. O processo completo de amostragem, desenvolvimento de processo de codificacao seguro, estudo piloto e codificagao do em cada pais demoraram dois anos e meio (Bauer, 1998a). nsparéncia durante a documentagao Um referencial de codificagao é normalmente apresentado como folhcto que scrvc tanto como guia para os codificadores, como um unentw do processo de pesquisa. Este folheto ira normalmente luir: a) uma lista sumaria de todos os cédigos; b) a distribuicao de qiiéncia para cada cédigo, cada um com o mimero total de cédigos |. Cada cédigo sera apresentado com uma definicdo intrinseca, seu niimero de codificacio (por exemplo, ¢2), sua etiqueta de co- icagio (por exemplo, formato da noticia), e uma unidade de texto 205 PESQUISA QUALITATIVA COM TEXTO, IMAGEM E SOM ilustrativa que se aplica a cada cédigo. Um folheto completo de codifi- cacio iré incluir c) uma explicagio com respeito ao problema da fide- dignidade do codificador, tanto no que se 1efere a cada codigo, quan= to para o proceso de codificagio como um todo, e uma nota sobre 0 tempo exigido para se conseguir um nivel de fidedignidade aceitavel. Isto serve como uma estimativa quanto ao treinamento que € exigid para esse referencial de codificacao especifico. A documentacao deta- Thada do processo de codificagin assegura uma prestacio piiblica di contas, ¢ serve para que outros pesquisadores possam reconstruir processo caso queiram imité-lo, A documentagio € um ingredient essential da objetividade dos dados. Fidedignidade A fidedignidade é definida como uma concordancia entre intér pretes. Estahelecer fidedignidade implica alguma duplicacao de e forgo: a mesma pessoa pode fazer uma segunda interpretacio di pois de um intervalo de tempo (para determinar fidedignidade i tra-pessoal, consisténcia, estabilidade), ou duas ou mais pessoas p dem interpretar o mesmo material simultaneamente (fidedignidad interpessoal, concordancia, reprodutibilidade). indices de fidedt nidade — phi, kappa ou alpha ~ medem a concordancia entre codific dores em uma escala de 0 (no concordancia) a 1 (concordancia pl na), ponderados em relacao a probabilidade (Scott, 1955; Kripp dorff, 1980: 129s; Holsti, 1969: 135s) A maioria dos projetos de andlise de contettdo enfrenta dois p blemas de fidedignidade: a demarcacio de unidades dentro de um: seqiiéncia de materiais e a codificago dos contetidos. Unidades anélise scmanticas sio uma questéo de julgamento. Suponhamd ‘que tenlainos selecionado aleatoriamente algunas datas para revi tas antigas e estejamos folheando essas edigdes a procura de arti, sobre biotecnologia. Embora tenhamos definido biotecnologia cor cuidado como “reportagem sobre intervencao ao nivel do gene’ permanece ainda espaco para desacoido. Para a andlise de imagen em movimento, a unidade de andlise muitas vezes uma questo d julgamento: alguns sclecionadores podem demarear uma ccna pare comegar varios quadros antes, ou lerminar varios quadros depois diferentemente de outros (ver Krippendorff, 1994). Nenhum analista de contetido espera perfeita fidedignidade quan- do est2u inmplicads julgamentos Lustanios, € desse modo a questi — 206 — 8, ANAUISE DE CONTEUDO CLASSICA.. je um nivel aceitavel de fidedignidade vem a tona. Sendo que dife- ntes medidas produzem diferentes valores de fidedignidade, kap- e alpha sho mais camservadores que fi; diferentes padres tém de definidos para diferentes medidas. Ainda mais, a fidedignidade ode ser diferente entre os cédigos, sendo alguns mais ambiguos que outros. Como determinar a fidedignidade nos diversos codigos? la simples média, pela média ponderada, por um conjunto de va- res, ou pelo menor valor? A baixa fidedignidade contribui para a argem de erro das medidas estaticticas derivadas dos dados. Os itérios devem levar em consideracao as possiveis conseqiiéncias de a crescente margem de erro: resultados que influenciam decisoes vida ou morte exigem alta fidedignidade; mas para estudos que retendem apenas conclusdes tentativas ou cautelosas 0 critério le ser abrandado. A fidedignidade é geralmente considerada mo sendo muito alta quando r > 0.90, alta quando r > 0.80, ¢ acci- vel na amplitude 0.66 < r < 0.79. Os pesquisadores devem levar em conta a fidedignidade para lhurar seu prucessu de cudificayau. A fidediguidade depcude da intidade de treinamento, da definicao das categorias, da comple- idade do referencial de codificacao e do material. Baixa fidedigni- lade pode significar muitas coisas. Primeiro, que os codificadores cessitam de treinamento. O treinamento intensivo dos codifica- lores ir, provavelmente, conduzir a uma fidedignidade mais alta levido a construgao de um pensar comum entre os codificadores, respeito ao material em andlise. Em segundo lugar, a fidedigni- lade poderd ajudar a ordenar as categorias segundo seu grau de bigiiidade. Alguns cédigos podem estar muito mal definidos eo .créscimo de exemplos ira melhorar a concordancia entre os codifi- idores. Em terceiro lugar, os codificadores inevitavelmente in \emorizar seus codigos € agilizar sua codilicacao. Quanto mals di- fersos e numerosos 0s cédigos, menor a facilidade de poderem ser memorizados, mais treinamento ser’ exigido e mais freqiientes se- 10 as ambigiiidades c os crros devido ao cansago. Por isso a fidedig dade esta limitada pela complexidade do referencial de codifica- cdo. Finalmente, a fidedignidade pode ser um indicador da polisse- mia do texto. Baixa fidedignidade pode indicar que as delimitaces dos valores do cédigo sao muito vagas. Além do mais, os referenciais de codificagio complexos aumentam a probabilidade de leituras consistentes, inas diversificadas, day inesimas unidades de tcatu, 201 PESQUISA QUALITATIVA COM TEXTO, IMAGEM E SOM Validacéo A validade tradicionalmente se refere a até que grau o resultado representa corretamente 0 texto, ou seu contexto. A distingao de Krippendorff (1980) entre a validade dos dados, os resultados € os ‘itil. Com relacio aos dados, devemos garantir que 0s cédigos se refiram As palavras usadas no texto (validade semanti= a), € que a amostra represente 0 corpo inteiro do texto (validade amaostragem). Os resultados podem ser validados através da correla- ‘cao com critérios externos. Resultados prévios podem validar u analise de conteado, por exemplo, comparando um procediment simples e um complexo. Isto é, contudo, tautolégico, e nem sempt desejavel. Por outro lado, poder-se-iam predizer pesquisas depiniac piiblica a partir da cobertura feita pela imprensa, e testar essa pred gio sob circunstincias especificas (validade preditiva) Finalmente, um referencial de codificagao necesita incorporar a teoria subjacent A anilise (validadc de construto). A naturcza, contudo, da intcrpreta- Gao sugere que resultados questiouadores, Cunseguidos wetodivas mente, podero ter valor independentemente da corroboragao exte na, Muitas vezes a coeréncia interna é suficiente para mostrar credibi lidade. Na verdade, resultados inesperados, mas conseguidos metod camente, podem fornecer informacao significativa. - A falicia principal da analise de contetido é a interferéncia de i tencGes particulares, ou compreensoes, a partir unicamente do text (Merten, 1995; Eco, 1994). As intencdes e a recepgio sio caracte ticas da situaco comunicativa e néo dependem apenas do text elas sao co-determinadas por variaveis situacionais. Leituras esp‘ ficas s40 um assunto para estudos de audiéncia; intencdes espectfic: sio um assunto para estudos de produgio. Os textos esto aberté para diferentes leituras, dependendo dos pré-julgamentos. Pod ser possivel excluir determinadas leituras ou intenydes, espeti mente se os codificadores partilham uma compreensio do mun com emissor ou o ptiblico, Nenhuma leitura particular de um pt blico, contudo, ou uma intencéo particular de um comunicadi permanece apenas dentro do texto. Na melhor das hip6teses. a a lise de conteride mapeia o espacn das leimiras e das intengies atrave da exclusao ou da tendéncia, mas nunca a situag&o concreta da cois Dilemas Os pesquisadores da AU entrentam varios dilemas. U primeira entre a amostragem e a codificacao: um projeto de pesquisa deve — 208 — 8. ANALISE DE CONTEUDO CLASSICA.. quilibrar o estorco colocado na amostragem € 0 tempo investido no. stabelecimento dos procedimentos de codificacéo. Uma amostra rerfeita é de pequeno valor se ela nao deixa tempo suficiente para lesenvolver um refcrencial de codificag&o, ou para instruir 03 codifi- cadores a fii de que se possa realizar umn processo fidedigno. O segundo dilema é entre 0 espaco de tempo ea complexidade da dificagao, em outras palavras, entre poucas observagdcs cm um lon- perfode de tempo, ¢ muitas obscrvagées cm um curty perfodo. ;nto mais complexo o referencial de codificagao, mais probabili- ide haverd de ele se adequar a apenas um pequeno espaco de tem- , Talvez ndo compense 0 esforco de adaptar um referencial de co- icacio complexo a diferentes contextos hist6ricos. Conseqitente- jente, um referencial de codificacio simples é indicado para um es- do longitudinal, a fim de evitar anacronismos na codificagio, pois codificadores teriam de ir além da meméria de seu tempo vivido fer Boyce, cap. 18 neste volume). Diferentemente de uma pesquisa Jevantamento, onde um delmeamento de painel entrenta enormes -omplicacdes, a analise de contetido se adapta muito bem a andlises ngitudinais. A andlise de contetido ira, por isso, muitas vezes prefe- ir amostras prolongadas a procedimentos de codificagao complexos. Oterceiro diléma é entre a fidedignidade ea validade. Em psico- tra. a validade manifestamente nunca pode exceder a fidedigni dade. Na anilise de conterido, contndo, nés temos uma negociagao ‘entre as duas. A AC nao pode supor um “valor verdadeiro” do texto, \c pode sofrer perturbagio devido & inexatidao da codificagao: a codificacao € o valor. A fidedignidade apenas indica wna imerpreua- ‘cA0 objetiva, que nao € uma condicao necessiria para uma interpre- tagio valida. A interobjetividade defende o pesquisador contra a ale- gacdo de arbitrariedade ou extravagancia. Diferentemente da psico- metria, éonmdo, a baixa fidedignidade no invalida uma interpreta ‘do (Andren, 1981): as ambigitidades do material sio parte da andl sc. Uma codificagao simplificada pode permitir resultados fidedig- nos, unas pouca informmaca. Por ouury lado, wn alta fidedignidade € dificil de ser conseguida para uma codificacao complexa, embora 05 resultados provavelmente sejam mais relevantes para a teoria e para o contexto pratico. Anilise de contetido com auxilio de computador O advento da computagao estimulou o entusiasino para a AG, € existem diversos tipos de analises com auxilio de computador para —209— PESQUISA QUALITATIVA COM TEXTO, IMAGEM E SOM. materiais textuais. A Giltima onda de entusiasmo para o emprego de computadores foi simultanea & proliferacao de bancos de dados com. textas, tais como Renters on FT-Profile. Devido a extensa literatura especializada sobre este assunto (ver Nessan & Schmidt, 1995; Fiel- ding & Lee, 1998), irci apcnas caractcrizar brevemente trés corren- tes basicas. A primeira corrente de AC com auxilio de computador é KWOG. (Keyword Out of Context: palavra-chave fora do contexto — conta dor de palavras) que classifica palavras singulares em conceitos. Ele se coloca na tradigao do General Inquirer (Stone et al.,1966). Um computador pode facilmente listar todas as palavras de um texto agrupé-las em um dicionario. Esta é uma lista de conceités teorica- mente interessantes, onde cada conceito é definido por uma lista de simbolos. Por cxemplo, palavras como “aproximar-sc”, “ataque”, € “comunicar™ podem ser sfmbolos de “agéo sucivemucivual”. Unt computador reconhece facilmente sequéncias de letras como pala- vras-simbolo, relaciona-as a um conceito de acordo com o diciond- rio, e conta as fieqiéncias dos conceitos em um texto. O Gener: Inquirer sobrevive no pacote de computador TEXTPACK. O estnd mais ambicioso quc cmpregou este enfoque foi o projeto de indica. dor cultural, de Namenswirth & Weber (1987), que deteciou longa: ondulacées de valores politicos em discursos de politicos na Ingla- terra e nos Estados Unidos nos iltimos 400 anos. principal problema com o KWOG é que no diciondtio os sf bolos podem ser relacionados a apenas um conceito. Esta é uma li mitacao fundamental, pois as palavras sio amb{guas. Este problem: enfraqueceu muito o entusiasmo inicial do enfoque automatico. A segunda corrente de computadorizagao € a anilise de concor dancia e co-ocorréncia, que considera palavras-chave em seu com texto (KWIG ~ keywords in context — palavras-chave dentro do conte} to). Uma concordancia apresenta uma lista de palavras junto com co-texto. Muitos pacotes de anélise de texto oferecem concordanci como uma sub-rotina, ¢ eles sao muito titeis para explorar seuticl das palavras em um corpus, ou para conferir a relevancia dos materi ais. Por exemplo, a rotina de concordancia iria rapidamente ajudi a distinguir artigos sobre o BSE (the Bombay Stock Exchange) di um estudo de cobertura de imprensa do BSE (Bovine Spongifa Enchphalopathy, ou doenga da vaca louca). —210— 8. ANALISE DE CONTEUDO CLASSICA... A.audlisc de cu-vcorrencia, por outro lado, é uma anillise estatis- ica de frequientes pares de palavras em um corpus de texto. O proce- imento supde que a ocorréncia freqiiente de dias palavras juntas ja semanticamente significante, Programas de co-ocorréncia, tais como ALCESTE, comegam com a rotina de identificagao de preiis- s (“lematizagio”) c cstabelecem o vucabulério do corpus de texto. ma scyuida, cles excluem palavras muito freqlientes e muito raras, € contain. as co-ocorréncias de palavras dentro de uma unidade de -xto definida estabelecendo uma matriz, A partir dat, um algoritmo ird extrair uma representacio geométrica, onde pontos so palavras gtupadas em grupos de associagdes (ver Kronberger © Waguier, ip: 17 deste volume). Tais programas pudem manipular mais ou chos yuautidades de texto em apenas determinadas linguas; eles dem alterar os parametros da andlise, alterar os algoritmos para trait uma solugao de agrupamento, escolher uma impressio tex- l ou grafica. A terceira corrente de AC com auxilio de computador é CAQDAS Jomputer-assisted Qualitative Data Analysis Sofware — software ara andlise de dacios qualitatives com auxilio de comutador). Este é mais recente desenvolvimento para auxflio na anélise de texto (ver lc, cap. 16 deste voluine; Fielding & Lee, 1998). CAQDAS com- jorta a etiquetacdo, a codificacéo € a indexacéo de textos, dando onta por isso da segmentacio, ligacio, ordenacio e reordenacio, estruturacao e a busca e reapresentagio de textos para fins de andli- se. Lima fungio inovadora éa produgio de memorandos. v cuuifiva- dor pode fazer comentarios em cada ayau de etiquetagao, manten- Uo, desse modo, um protocolo para reflexaio durante a codificacao. Estes memorandos podem mais tarde ser empregados para regis- trar a refléxio ocorrida durante o processo de pesquisa: 0 pesquisa dor mostra como ele foi se transformando durante a agao. Bons pro- gramas oferecem operadores de busca booleana para consultar seg- auculus de texto graficos para mapear ligacoes no texto, e mtertaces para aniilise estatistica dos dados. CAQDAS e a anilise classica de contetido se encontram no codificador humano. Os professores muitas vezes dao as boas-vindas ao CAQDAS como um controlador, para instilar disciplina nos estudantes inex- perientes, que podem pensar que pesquisa qualitativa signi vale-tudo. Seu amplo emprego, contudo, pode favorecer priticas in- desejaveis, tais como a proliferacao de estruturas ramificadas na re~ =a PESQUISA QUALITATIVA COM TEXTO, IMAGEM E SOM presentagio dos dados da entrevista ou varias patologias de codifica- Go aberta (Fielding & Lee, 1998: 119s). O analista, ao ordenar ordenar seus codigos e ligagdes, perde de vista o objetivo da pesq: sa. Quando a andlise enlouquece — por exemplo, com 2.000 cédigos para seis entrevistas ~ 0 projeto entra em crise. Computadores, por mais titeis que sejam, sio incapazes de subs- tituir o codificador humano. A analise de contetido permanece um. ato de interpretacio, cujas regras nao podem ser realisticamente im- plementadas com um computador dentro de limitacées praticas. O codificadar hnmano é capa? de fazer julgamentas complicados répi- da e fidedignamente, se auxiliado. : Forcas e fraquezas da anilise de contetido AAC foi desenvolvida, na pesquisa social, para a andlise de materi- ais textuais, especificamente material impresso. Eum enfoque bastante geral, e 0 espectro de dados se ampliou no decorrer dos anos, chegan- do a abarcar praticamente todo artefato cultural (Gerbner et al., 1969). A importancia principal da AC talvez tenha sido continuar desafiando a curiosa primazia dos dados da entrevista na pesquisa social. ‘As vantagens da AC sio que ela é sistematiea ¢ publica; ela faz uso principaimente de dados brutos que ocorrem naturalmente; pode lidar com grandes quantidades de dados; presta-se para dados hist6ricos; ¢ ela oferece um conjunto de procedimentos maduros ¢ bem documentados. AAC faz uso de materiais que ocorrem naturalmente: ela encon= tra tracos da comunicacao humana em materiais estocados nas biblio- tecas, Estas informagies remanescentes foram criadas para outros fins, e empregando-as para pesquisa, a AC €, por isso, cuidadosa (Webb et al., 1966). “Que ocorrem naturalmente” nao implica que 0 pesquisador nao invista na construcdo de uma interpretacdo: 0 pes- quisador caminha através da selecio, criagao de unidades e categori- zacho dos dados brutos, embora evitando a reatividade direta do res pondente durante a coleta de dados primarios. AAC pode construir dados historicos: ela usa dados remanes. centes da atividade passada (entrevistas, experimentos, observaci € levantamentos esto condicionados ao presente). Por conseguinte, ela pode ser um caminho barato para estabelecer tendéncias sociais, ie =212— 8, ANALISE DE CONTEUDO CLASSICA, m apenas pequena parcela do custo de um levantamento. O as- to negativo disso é que a AC apresenta primariamente dados a el coletivo, caracterizando, desse modo, algo colctivo através de los remanescentes de comunicagau ¢ expressio. © enfoque sistemtico e 0 emprego de computadores permitem pesquisadores lidar com grandes quantidades de material, O ta- inho no é cm si mesmo uma virtude, mas a quantidade de mate- sobre alguns tGpicos pode chégar a ser esmagador. Por exemplo, nha estimativa para nosso estudo sobre ciéncia na imprensa nacio- da Inglaterra foi de que necessitariamos investigar até 700.000 ar- . Isso exigia um enfoque sistematico. Longe de ser a tiltima pala- emi carpus, a AC pode ser o primeira passo na ordenagio e ca- terizagao dos materiais em um enorme esforco de pesquisa. Muitas fraquezas da AC foram realcadas na sua curta histéria, auer (1952) mostrou que a separacio de unidades de andlise in- luz inexatidies de interpretagio: citagbes fora de contexte podem ilmente ser enganadoras. Embora seja sempre preferivel conside- uma unidade singular dentro do contexto do corpus intciro, 0s co adores irao fazer seus julgamentos denuo do co-extv imediato © wvés de uma familjaridade geral com o material. Codificar contex- jente € importante para cada unidade de anilise, seja ela um ar- um pardgrafo, uma frase, ou uma palavra. Nesse caso, a codifica- automatica e computadorizada mostrou suas limitacdes, ¢ 0 codi \lor/intérprete humano esté longe de ser dispensado. _ AAC tendea focalizar frequiéncias, e desse modo descuida do que 70 e do que est ausente: respeitadlos analistas introduzem eédigos rricos que podem muito bem mostrar auséncias relevantes no texto. te é um problema de enfoque: devemos estar atentos ao presente, ao ausente? Em principio, a AC faz ambas as coisas (ver Rose, cap. deste volume), embora tenha um viés para o presente. Arrelagio entre unidades de texto segmentadas, codificadas em a distribuicao de freqiéncia, e o texto original, fica perdida na : a categorizagio perde a seqiiencialidade da linguagem e do tex- (ver Penn, cap. 18 deste volume). O momento em que algo foi dito le ser mais importante que o que foi dito. Alguém poderia argu- jentar que a AC consw6i paradiginas de sentido potencial, em vez le compreender o sentido real. A analise longitudinal re-introduz iguma forma de seqiiéncia, onde a estrutura de um perfodo pode r comparada com a estrutura de outro, enquanto que as tendén- cias sao estabelecidas. —213— PESQUISA QUALITATIVA COM TEXTO, IMAGEM E SOM A procura de uma anilise de contetido automitica ~ texto dentro, interpretagao fora - mostrou ser absurda: a codificagdo semantica pri vilegia o codificador humano eficiente (Markoff et al., 1974). Gran parte da AG com codificadores humanos sofre de um exagero de nuciocidade no exame — que As vezes se aproxima se uma fidedignid: de fetichista. Na andlise da maioria das entrevistas ¢ pesquisas de opi niao, os pesquisadores atribuem confiantemente a variancia obser da aos respondentes, enquanto que eles escondem em uma caixa-pi ta os varios efeitos dos entrevistadores, as situagdes € estruturas pergunta, no controle de qualidade. Os analistas de contetido dever desenvolver igual prcocupagio em scus procedimentos, € atribi tambem a variancia observada as diferencas do exw. ~ Como métodos de pesquisa social, o levantamento por amosti gem, a entrevista ca andlise de contetido tém praticamente a mes idade; como explicar, entao, seu status diferente no arsenal das cles ias sociais cientificas? Neumann (1989) aponta para varios probl mas institucionais que contaminaram a AC durante muito tempo sua curta histéria. A AC nfo conseguiu estimular um interesse a démico continue, movendo-se para um “gucto metodolégico”, cor ocasionais eclosoes de atencio externa na década de 1940, 1970 1990. Ela se ressente de uma convergéncia de atividades de pesqui sa. Nao existem arquivos de dados para armazenar e tornar aces veis dados brutos para anflise secundaria, Pesquisadores indivicuai constrcm sua propria amostra ¢ acu préprio referencial de anélis. AAC sofreu as conseqiiéncias de muita pesquisa rapida © uebul que deixou a impressao de que a AU pode provar tudo. Concepg simplistas, escalas de tempo limitadas e questdes de pesquisa insis nificantes confinaram a AC a projetos de pequena escala realizadk por estudantes. Um método nio é um substituto para idéias. O us descritive de muita AC reflete as dificuldades du prublenma de inf réncia: 0 que isso nos diz, sobre quem? A lacuna entre 0 possivel € realidade deve ser convenientemente superada com delineament de pesquisa paralelos, com nuiltiplas métodos: pesquisa longitu nal coordenada, incluindo levantamentos de opiniao, entrevist nao estruturadas ¢ corpora de textos é o caminho que se abre, int grando assim pesquisa qualitativa e quantitativa, em grande escal A conversacao e a escrita sao ambas manifestagdes de opiniao publ ca; ¢ opinido pablica que é reduzida a apenas um de seus constituis tec tem muita probabilidade de ser falea. 24 8 ANMUSE ne cowreiing exiesics esos na andlise de cantes A tearia eas circunstincias sugerema selecio de textos especificos. , Faca uma amostra caso existirem muitos textos para analisé-los| completamente. . Construa um referencial de codificagao que se ajuste tanto as| consideragdes tedricas, como aos materiais. . Faca um teste piloto, revise o referencial de codificagio ¢ defina| explicitamente as regras de codificagio. . Teste a fidedignidade dos cédigos, e sensibilize os codificadores| para as ambigiiidades. Codifique todas os materiais na amostra, ¢ estaheleca o nivel de| fidedignidade geral do processo. ~ Construa um arquivo de dados para fins de andlise estatistica , Faca um folheto indluindo a) o racional para o referencial de co- dificacao; b) as distribuigdes de frequéncia de todos os codigos; c) a fidedignidade do processo de codificacio. sréncias bibliograficas DREN, X. (1981). Reliability and Content Analysis. In: KE. RO- INGREN (ed.). Advances in Content Analysis. Beverly Hills, CA: Sage, p. 43-67, AUER, MW. (1998a). Guidelines for Sampling and Content Analysis, In: J. DURANT, M.W. BAUER & G. GASKELL (eds). Biotechnology in the Public Sphere. London: Science Museum, p. 276-93. UER, M: (1998b). The Medicalisation of Science News — from the Rocket-scalpel to the Gene-meteorite Complex, Social Science Infor mation, 97 791-51 UER M.W. & GASKELL, G. (1999). 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