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il fl i 4 HANH | Noe u : ie . i tl) MA UI A Ah fe if a re alll WE } 4 | | | | == = Wie LIBERDADE py E CONSCIE E LIBERDADE CIENCIA, CONTRA LEGEM MIGUEL GaLvAo TaLEs*** Constitui um raro privilégio poder coleborar humé homenagem cclectiva a um grande homen & Brande professor, que € meu pai, pelos seus Roventa anos, © presente artigo, do mesmo mode aue todo © livro, é-ihe dedicado. Mas, neste momiento, nao posso esquecer minha me, sua | ‘companheira de sempre e que toda a vida tem sido © n0s50 conforto, 1. A liberdade de consciéncia, a que alude o artigo 41.° da Consti- | tuigfo da Republica, apresenta singularidade, Esta consiste em. pelo | menos quando a liberdade é referida ao agir segundo a conscitncia, ser | susceptivel de pér em causa a autoridade do Direito estabelecido, por vir- | tude precisamente de a consciéncia (individual) poder requerer comporta- * Advogado, | “* O presente artigo tem por base um apontemento, agora profundamente remode- Jado, elaborade para uma intervengo, efectuada precisamente hd dez anos, na Universi- dade Catélica, em mesa-redonda sobre “Liberdade de religiéo e iberdnde de consciéncia”. A mesa-redonda integrava-se num col6quio sobre liberdadereligiosa, que teve por oportu- nidade a publicagto da primeira versio do anteprojecto de lei rterene ao tera, Foi mode- "ada pelo Prof. Mario Wilio de Almeida Costa ¢ participaram,além de mim ¢ se bem me Freardo, José de Sousa Brito, Maria da Gléria Dias Garcia e José Luts Pereira Couto, ! Mari da Gldria Dias Garcia publicou em Direitoe Justica, X1-2 (1997), p.73 58, artigo baseado na sua intervencdo (“Liberdade de conscinca eliberdade religiosa"), Agrdego 2 fit dada, na preparagdo de actual versio, pelo Dr. Nuno Andrade Pissarra, pela Dz? Lutiana Tom, pele De? Mariana David ¢ pela De Inés Arnaral Rodrigues. eee Miguel Galvao Teles 20 contzério ao exigido pelo Direito. Tal possibilidad men | 1 ‘Claramente na figura da objeccdo de consciéncia. E Gbvio que, se samitida pelo Direito estabelecido, ena medida em que o for, hé 4 © manifestansy sta for malin. tagio, por este proprio (neste sentido, ums autolimitagdo de autoridade das suas normas ou do ambito dest 2. O artigo 41°, n2 I, da Constituigéo, ao dizer que “a liberdade de consciéncia, de religido e de culto é invioldvel” , atribui alguma autonomia go “aspecto” da liberdade de consciéneia relativamente ao “aspecto” da Hberdade de religiéo. E aquela de aiguma sorte precede esta. F iss0 que justifica que se encontre referida em primeiro lugar! ate uc ng ueune ls cl como tere eT decorre da utilizagdo do singular no n.° 1 do artigo 41.° — “é inviolévet”?, @S3eese ‘mesma ant que a bore a ‘culto cons- titui, de modo imediato, uma especificagio da liberdade de religito e, de modo mediato, da liberdade de consciéncia. Em tiltima andlise, unidade ou pluralidade dependem da perspectiva®. © ponto de referéncia da unidade 6, todavia, a liberdade de consciéncia. Esta contém a liberdade religiosa, mas inclui mais do que ela. Por um lado, abrange, além da faculdade de adoptar esta ou aquela religio, a de no ter religido alguma. 1 JouaTas Maciaoo refere-se A liberdade de consciéncia como “background cons- rivutional vight” — Liberdlade Religiosa numa Comunidade Constitucional Inclusiva, Co. Ea, Coimbra, 1996, pp. 193-194. 2 Note-se, contudo, que a “forga” literal no sentido da unidade se aienuou do texto ial para o da revisto de 1982, de que resultou a versio ainda hoje em vigor. Enquanto em 1976 se referia, tanto na epigrafe como no n.° 1, “Liberdade de consciéncia, religido € calto”, “1 i religido e de culto”. Portuguesa Anotada, 1 4 ed., Co. Fd, Coimbr Liberciadte ee comscidn (GGABALD. inccpondentemente de ser religiosa, Acresce que a liberdade de consciencia envolve, nalguma medida pelo menos, liberdade de tomar decisoes de consciéneia de. para além do que é mera pratica religiosa wir segundo a conscigncia, determinada ou nfo por um quatro religioso, On.° 3 do artigo 41.° (aditado em 1982) reporta-se 2 reserva de inti- midade — ela propria uma forma de protecgao — em conexiic com a cons- ciéneia € a religifo, proibindo que as autoridades perguntem sobre as con- viegdes ou a pritica religiosa de cada um. On.° 4 respeita a separagao entre as igrejas ¢ o Estado e as liberdades colectivas das igrejas e comunidades religiosas. O n.° 5 tem por objecto a Jiberdade do ensino religioso no ambito da respectiva r © 0 use de ‘Note-se 0 uso do singular no adjectivo “religiosa”, que mostra que este se refere apenas & prética, padendo as convicgdes tanto ser religiosas como no. : ‘A proteccdo pessoal igual, quaisquer que sejam as convicgoes tidas ou qualquer que seja a religido praticada. Ha um outro aspecto respeitante a0 igual tratamento das pessoas: (GEnciaNalguma medida, orn? 2 doarigo Al. epsrenta uma aplicagdo dginssi2r67atiGONB®, segundo o qual ninguém pode ser privilegiado, penefieiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qual- quer dever em tazio, entre outtos evtérios, de "religida, conviegdes po- Inicas ou ideoldgicas ...". i ai Quanto a objecgio de consciéncia ao servigo militar, 0 n.° 4 do artigo 276.° diz que “os objectores de consciéncia ao servigo militar a que legal- mente estejam sujeitos prestarao servigo ctvico de duragdo e penosidade equivaientes & do servigo militar armado” . Miguel Galvdo Teles 24 ’ 4, No fz indagacio Pistérica, ms aio GUE 6 most op eadeta de liberdade de consciéncia como um plus si Sibert rge na afirmacdo da liberdade de pen aR aliberdade religiosa su) a afir ‘ fartculer, do pensamento cfetifico conta as pretensbes dogg eat Tragdee religiosas. Neste sentido, a filiagio da Hiberdade de dey oer soem sua vird a ligar-se Asecularizacko, xia No sée, XVII, na Amésica do Norte, @ideia de consciéncig mencionada em textos constitucionais, com utiizacdo daqueta pa Fi sabido que foi em algumas constituicoes de colénias american sev, f figura da objecoio de consciéncia, em particular da objeccia de ue a aera oo servigo militar, apareceu consignada’. As formulacées a, “nem pode qualquer homem com ese muito curiosas - por exemplo: pulo de conseiéncia em wsar armas ser justamente compelido a fcg se pagar equivalente” (Pensilvania)®; ou “ninguém que tenha eseripy, Je consciéncia quanto a legalidade de utilizar armas serd competide dr favélo, desde que pague wn equivatense” (New Hampshire). & pj tibia frmula ver da Deciatagao de Direitos do Delaware, de 1 de Setembro de 1776 (Seccao 10), e foi repetida no artigo IX da Decterasio de Direitos do Vermont, de 1777. iAs declaragdes de Direitos da Pensilvania e do Vermont acrescentam que “ninguém se enconara vinculado por leis em que ndo tenka assent de maneira semelhante, para o comum bem de todos"?. Ha quem tenba visto af o reconhecimento de uma objeccdo de consciéncia geral, mas parece tratr-se antes de afirmagdo de uma limitayio de vinculatvidale das leis pela sua origem democritica’. Sete, 4 Vide, p. ex., José DE: Sousa Brivo, declaragie de voto no Ac. do Tribunal Consti- tucional n.° 681/95, Acdrddos do Tribunal Constitucional, 32.° vol., pp. 672 s83 FRAN: cisco Pereira CoUTINHO, “Sentido e Limites do Dircito Fundamental & Objeccao de Cons: ciéncia”, Themis, VI-L1 (2005), pp. 247 ss.. 3". Norcan any man who is conscientiously scrupulous of bearing arms, be jsily compelled thereto, if he will pay such equivaient ...” ~ Dectaragio de Direitos a Const tuigdo da Pensilvania de 28 de Setembro de 1776, artigo VII. . © “No person, who is conscientiousty scrupulous about the lawfulness of bearint arms, shall be compelled thereto, provided he will pay an equivalent” — Declaregee & Direitos da Constituigio do New Hampshire de 2 de Tunho de 1784, atigo 13°. 4 Ais parte (pagamento do equivalente) foi eliminada em 1964. 7 © nor are the people bound by any laws, but such as 1 assented to, for their common good” 30 consentimento referido no -passo transcrito inclui © consentimento dale ees representantes. © “consent in the like manner” reporta-s¢ a0 consentiment© para pa ney have in like manner atl Liberdade de consciéncia¢ liberdade conta \egem 925, Particularmente expressivo € 9 artigo 4° iret do New Hampshire, de 2 de Ionho de 1784: “Eute os tition meee alguns sdo pela sua propria natureza inaliendveis, porque nenhwn equi- valente pode ser dado ou recebido por eles. Desta espécie so os Direitos da Consciéncia’. No que toca especificamente a religido, 0 modo como as constitui- goes das colénias recém-independentes se Ihe referem é variado. A Cons- tiuigdo da Carolina do Sul de 1778, por exemplo, afirmaya que a religiio cristd € a religido verdadeira, mas tolerava todas as religides que reconhe- cessem um s6 Deus. Mesmo as declaragées de direitos mais abertas, como ada Virginia, falavam de deveres para com Deus, néio prevendo expressa- mente 0 direito a nao ter religiao!9, O primeito Aditamento & Constituigao federal consignou a liberdade religiosa com amplitude que permite considerar inclufda a liberdade de nao ter religiao!!. O Artigo VI, por seu turno, determina que “neniuma prova religiosa (religious test) serd jamais exigida para o exercicio de qualquer cargo ou funcdo no dmbito dos Estados Unidos (under the Uni- ted States)!2, 5, Diferentemente correram as coisas na Europa. Nos séos. XVIII e XIX havia religides oficiais e nalguns casos subsistem até o presente. A preocupagao liberal era a de assegurar um minimo de tolerancia, en- quanto nao se pudesse chegar & separagio entre [grejas e Estado e a igual- dade de tratamento das confissdes. A Declaraco dos Diteitos do Homem ¢ do Cidadao, de 1789, limitava-se a afirmar que “ninguém pode ser des, mesmo religiosas, desile que a sua mani- ‘gio de propriedade: “... no part of @ man's property can be justly taken from him, or applied to public uses, without kis own consent, or that of his legal representatives”. 9 “Among the natural rights, some are in their very nature unalienable, because no equivalent can be given or received for them. Of this kind are the Rights of Conscience”. 10 Sec, 16. “That religion, or the duty which we owe to our Creator, and the man- ner of discharging it, can be directed only by reason and conviction, not by force or violence; and therefore all men are equally entitled to the free exercise of religion, according to the dictates of conscience; and that itis the mutual duty of all to practice Christian forbearance, love, and charity towards each other”. ; Ul "Congress shall make no law respecting ar establishment of religion, or rrohtbiting the free exercise thereof...”. me Ee canoe ‘estaduais, designadamente na Carolina do Stl, que exelafam, ‘ovacesso a fungées piblicas a quem negasse a existéncia de Deus. Miguel Gatvido Teles Fn jo ndo perturbe a ordem piblica estabelecida por tei” (an: raya ‘Sam exemplo. Todos 0s textos constitucionis dane los), afirmavam a religiio catdlica apostélica romana como a religitg gy Nate yeligido oficial do Reino ou religifo oficial do Estado (Conginyiet™ 1822, artigo 25.°, Carta Constitucional, artigo 6.°, Constituigao de tye artigo 3°) e apenas permitiam o culto de outrasreligioes a esirangegae fmbito doméstico ou particular, mas proibiam a perseguicio rele respeitadas que fossem a religito do Estado e a moral pila (Can artigo 145.9, § 4.°, Const, 1838, artigo 11.°). att, 'As coisas mudaram, evidentemente, com a separagdo entre gt 0 Estado em 1911 (¢ separac2o na pratica hostil), ‘-lo no n.° 4 do artigo 3.°, onde se ie que “a liberdade de consciéncia ¢ de crenca é invioldvel” . Comparandy com on.” | do artigo 41.° da actual Constituigao, falta a referéncia ao culty (que vem noutro local) e em lugar da mengao a religido encontra-se uma alusio a “crenga”. As religides eram concebidas como modalidades da crenga, podendo alids haver crengas religiosas © no religiosas, A liber. dade de culto referiam-se os n.°s. 5 ¢ 8 do artigo 3.°, que The introduzian limites. A protecgao e a igualdade eram salvaguardadas nos ns, 5 e 6! ‘No seu texto inicial, a Constituigao de 1933, quebrando a tensfo entre Estado e Igreja CatGlica, manteve-se formalmente dentro dos principios da liberdade religiosa e da igualdade das confissdes, O artigo 8.°, n° 3, afic- mava a “liberdade e a inviolabilidade das crengas e préticas religior sas..."14, 0 titulo X da Parte I, sobre as relagdes do Estado com a Igreja Catélica ¢ os demais cultos, reafirmava a separagdo entre igrejas ¢ Estado, aigualdade das confissdes ¢ a liberdade de culto (artigos 45.° ¢ 46°), Sed a revisto constitucional de 1951 que vird constitucionalizar e reforgar e regime de privilégio da Igreja Catélica, o qual resultava jé da Concordstt entre o Estado Portugués ¢ a Santa Sé, de 1940. O artigo 45.° foi refor mulado, passando a religiio catdlica a ser qualificada como a “religiao da __' On? 10 do antigo 3° estabelecia a neutralidade do ensino piiblico em sate ligiosa¢ 0 2 4 mantinha a proibiggo da Companhia de Yesus e das ardens monési=® to a riesito cont néo podendo ninguém por causa delas ser Pere auido, privado de um diveito ou isento de qualquer obrigagio ox dever civico. Nits serd obrigada a responder acerca da religido que professa, 2 ndo ser em inguért 2 Ustico ordenado por lei” . Cor i B igo 3.° da tinigge ae 198 respondia, no essencial, aos n.°s 6 67 do arti Mm tC Liberdade de consciéncta e tiberdad le contra fe gem a pornuguesa”, ainda que mantens ue J gsiado. A revisio ‘consttucional ge 1yre dese rpsind 2 TERETE catélica, referida agora. com leeio Portuguesa. A Lei da Literdade Religion ae Mire) proeuFeu sSSeBUFFalgumaIibetéade cape veneses religioses ndo catslicas, mas a prop es ™ 3 epois,encontraram enormes ressticias 0s de scgse @ de lei, primeito, 6, A formula que vird a surgit na Constity snecade de conssinciae de crenga~apmecera,enbor ea oe (oleubens — und Gewissensfreihel), na etme naordem inversa a Paulskirchen-Ve 349 (§ 144) ¢ fora retom: tui i erfassuns de 1849 (§ 14) ada na Ci tarsus Literdades Fundamentais| Povos refere ‘A Lei Fundamental de Bonn veio, na linha da Consttuisio de Weimar, mas também, embora porventura sem o saber, na da Constituigao portuguesa de 1911, afirmar, no n.° 1 do artigo 4°. & inviolabilidade da lberdade de crenga e consciéncia e das conviccoes religiosas ¢ mundi- videnciais!6. O n.2 3 do artigo 4.° da Grundgeset2, por sev IO, prevé a objeccaio de consciéncia. ee i Antunes ° O parecer da Cara Corporativa, related pele Poe Maca, Lei daliber ‘iv. Esti blinnw ween publicado, jumtamente com comentério Ie, fede Religiosae Lei de Imprensa, Co. Eid Coimbee, 97> Alsi da ibe pein. ‘iva pessoal do Prof. Marcello Caetano que seneo ‘erica A vel “Die Freiheit des Glaubens, des Gewissen’ und die Fre *chaulichen Bekennenisses sind unvertetlic Miguel Galvio Teles BT + 7, Inspirando-se no 1.° 4 do artigo 3.° da Constituigag de artigo 42 da Lei Fundamental de Bonn e, porventura, ainda ng Nien, @ da Declaragao Universal dos Direitos do Homem, a Constiigg® ge e ce forpulow o que ficou a set 9 artigo 41° da Consiga Pony, if mas revoques na versao de 198217, * Object ge d Na base de um notabilissimo primeito anteprojecto ie uma comissto presidida palo Conselheiro José de Sousa Britoeae no essencial, Se deve, tornado publico em formulado em jopn p a j veio a $e pe uma nova 8. Na (ERSTE Consinigio, 05 TOS ER - slio d ito, que alids transitou para n° 6, psy a dizer que (0 Ambito do direito a obje: a maneira de dizer do artigo 41.°, ». fem sustentiado.queo direito Geiidionado, a vequerer fixagdo logal de procedimento pare o sev ee- cicio, embora considerem agora que nao tena necessariamente d 0 ° 6, €é ambigua. 17 otes traduziram-se principalmente no aditamento do n.° 3, sobre reser eit midade, e numa reformulagio do preceito sobre a objecgio de consciéncia. 18 © anteprojecto foi referéncia de debate critico. Vejam-se, P- + da perspec du igrea Catdlice Prot, ANrOwto Lette, “Parecer acerea do Anteprojesto da Lei dai dade Religosa"Liberdade Religiose Realidadese Perspecivas, Aas as V 001 Direito Cannio, 2525 de Abril 1991, UCP, Lisboa, 1998; PaULo ADRADAO. LIE Religiosa: 0 Anteprojecto de Proposta de Lei de 1998”, RFDUL, vol. 2198 693503 e, com outta visio ¢abertara, Toner: Mitana, “A iberdade ios POE € 0 anteprojecto de 1997", Direito e Justica, XUL-2 (1998), pp. 3 SS» 280% 8, Eucrte vdros sobre Diretos Fundamentas, Prinipia, trl, 2006,p9-95 S36 pect de outras confissSes, Jost Dias Bravo, “Projecto de Lei da Liberde in, ome 20h me Dinesto", Estudos em Homenagem a Cunha RodrigheSs CoE ko dy LmPletada pelo Decreto-Lei n.° 308/2003, de 10.de Dezernbro- ot coemrtaa entre a Repiblica Portuguesa e a Santa Sé, assinada } com troca de ratificagses em 18 de Dezembro de 2004. jnsoet Seat oH Significaré depois oreconhecimentode que a0 de consciéncia implica uma poncleragio ae bese lesislador para, no ambito dos parimetros constitucionss chan No que toca ao servigo militar, a objecgdo de conseitsen fi, pela primeira vez, regulada, sem “simpatia”, pela Lei ne Ma alterada pela Lei n.° 101/88. O reconhecimento do cstanen 2 dice ; : 10 de objector era judicial ¢ os tribunais s6 muito dificilmente 0 atribuiram2!, A Le ne 7/92, de 12 de Maio, alterada pela Lei n.° 138/99, de 28 de Agosto, introdu- iu um regime, menos fechado, de declaracdo administrative do eemuno do objector de conscitncia ao servigo militar, através de uma Comisay Nacional de Objecgio de Consciéncia, por acto sujeito a recurso conten, cigso. O termo da obrigatoriedade do servigo militar em tempo de pay (Lei 1 174/99, de 21 de Setembro) reduziu fortemente @ importincia prétioa da objecgao de consciéncia a0 servico militar A lei reconhece ainda a objeccdo de conscincia de médicos e demais pessoal da satide & prética de actos de interrupedo voluntérin da pravicez (Lei n.° 6/84, de 11 de Maio, artigo 4.° e, agoraMLSin® 16/2002 de 17 de Abril, artigo 6.®) e quanto a inseminacao artificial e esterlizagao volunté- ria “tn ie Outros dominios onde a questio da odjecgio de consciéneia se sus- cita 6 a prestago de trabalho, em particular a prestagio de trabalho téc- nico?? ou em certos dias, Situago muito particular, que mereceria estudo separado, 6 a da objecgao de consciéncia dos agentes do Ministério Piiblico. Estes podem, O diteito de objec- legitimando-se 9 2 GoMes CANOTILEO ¢ VITAL MOREIRA, Constituigdo Anotada cit., 4% ed., p. 616, Antes, Constituigde Anotada, 3" ed., Co. Ed., Coimbra, 1993, p. 246, . 21 EpuarDo MAlA Costa, “Objecgio de conic ta cig ade lies i ibunais”, Revista do Ministério Piblico, ano 12 (1991), n.° 45, pp. 161 ss. sr em eapel,Anono Minas Coansno Canto Trebino e Ost Conseiéncia”, Estudas em Homenagem ao Prof. Dowtor Rati Ventura, Co. Ed., Coimbra, 2003, pp. 673 ss.. . me Srema da ‘objeogio de conscincia percorre ainda céigos deontoldgices prox fissionais, como o dos médicos e dos enfermeiros. Sobre a extenséio dos problemas suscitados pela objeegio de conscigncia, vide Jost DE Sousa Burro ¢ J. A. Tatzs PEREIRA, “Nouveaux droits et reiations Eglises-Etat au Ponugal * wr caunetes Liber. lati ir ‘européen pour 163” et relations Eglises-Erat en Europe, Conse rope pour Tue es ations Eglises-Blat, Actas do Coléquio de Tilburg, ‘Mildo, 1998, pp. 341 ss... Teles wo undo lei, recusar o cumprimento de directrizes, o, se . : 8 i “grave violagda da sua consciéncia j Ost. comm fundamento 2m ado pela Leiin 47/86, ag ta“iea” inistério Pablico, aprovado pela Lei n.° 47/86, de 15 4°2” Brg tuto do Ministé oe Onn artigo 79.°, 2 , "A palavra liberdade tem, na linguagem jutidica, vérigg De momento interessa uma. Nela, liberdade equivale a dupa € permitida A ¢ nio-A2. A liberdade de consciéneia cabe no con titular pode ter estas ou aquelas convicgdes, ou néo ter enbumas ay deste ou daquele modo. GP Enquanto, todavia, se manifesta através da objeccio de cans ciéncia @lliberdadeMdeyeonscienciayé nalguma medida, pelo menos tan. af, Permissae. 2 Deixam-se de fora, no presente estudo, os aspectos criminais ligados &libonlale de conscigncia, que tantos problemas tém suscitado na Alemanha e que to bem ess foram entre nds por AUGUSTO SILVA Dias, A Relevancia Juridico-Penal das Decisis de Consciéncia, Almedina, Coimbra, 1986. Assinale-se que, no plano da lei ordinésia ede harranonia com o n.° 2 do artigo 6.° da Lei da Liberdade Religiosa, “a liberdade de con ciéncia, de religido ¢ de culto nav autoriza a prética de crimes” % De harmonia com o artigo 6.°,n.° 3, da Lei da Liberdade Religiosa “s ines direito 4 objecgdo de consciéncia demarcam para o objector 0 comportamento pernitiée”. 28 MicubL GaLVAO TELES, “Direitos Absolutos e Relativos”, Estudos em Honea gem ao Prof. Douter Joaguim da Silva Cunha, ed, Fac. Dir. Univ, Lisboe, Co. Bi Cot bra, 2005, pp. 667-668. ® Sobre a nogio de liberdade protegida, vide, em particular, ALEXY, Teore OF Grindrechte, ® ed, Subskamp, Frankt. a/M., 1994, pp. 208 ss. sen E sustentou, perante o artigo 4.° da Grundgesetz, que 0 DENT Pred pel liberdad deconsciencia nto eraalberdade de age sudo # 025% Fatah mis & inviolabilidade da consciéncia (“Das Grundrecht der Gewis Siaat, Ve D, 739). A pane "8, Demokratie, Subrkamp, Frankf. a/M., 1991, pp- 237- também useda pelo dizer que two est i Wotgiies Coberto pela integridade da conseiéncia individual, que Se"? ‘mis abrangendo alguma liberdade de agir segundo a conseeati® Liberdade de consciéneig ¢ liberdade le contra wees tbendad contra legen, Clary pri ei que afasta a aplicagho ae rote fo alia, Exe. Fe a de eae, Qu 8. Meese sae forme, em formulaglo impecivel, diz a Tai ge ree a8 lel. Cone “q liberdade de consciéncia compreende o nei deat Rei, primento de leis que contrariem os ditames in reer ace tiénca..” (artigo 12°, n.° 1). O que ests em causa 6 erceri cone fei e # consciéncia individual, i uridca lependente ou no de proce. dimento ¢ de p icional ou administrativo ¢ acompanhada ‘ou ndo de dever subrogado. “snl ® rin coms 6m an. al ne | Bim magnifico estudo, José LaMeGo analisa 0 “paradoxo da con ciéncia”, A liberdade de consciéncia reclama respeito. Mas comport ada um segundo os ditames da sua consciéncia conduz Lusman sublinha que a liberdade de consciéncia ¢ incompativel com um reconhecimento de Direito Natural: “se existe direito suprapositivo, nuica se compreenderia porque é que a consciéncia teria a liberdade de o pensar diferentemente”>3, Porventura mais rigorosamente. 9 admitir-se aliberdade de consciéncia, ela corresponde GEDA alternativa reside em considerar que nfo hé Tiberdade moral de consciéncia e que a chamada liberdade de consciéncia se taduz na mer % Fundamental Legal Conceptions as Appited in Judicial Reasoning, 1919, Yale Univ, Press, reimp., Yale, 1964, pp: 35 55. i i 30 Em mes jaz *s objecgio procedente de consciéneia excl 8 cone conforme parece sustentar JORGE BACELAR DE Gouvera CON asi, porexen- {Direto Fundamental 3)", DIAP, vol. VI, 19% p. 170 ADeR8S 2 cnc deste plo, Lain 1)92, sobre abjeeqao de conscincia 20 SVP MIEN igs quest (antigo 1 n.°2), Vejacse, anda, 0 artigo 6:1. 3.48 Let refer a “comportarento permitido” 20 obiee™ 3 BW, BOCKENFORDE, est. Cit, pp: 21585 iret % “Sociedade Aberta” Conscnci = ° pree Liberdade de Consciéncia, ed. AAEDL, Lisboa, 1985: PP one cel Dirito, trad, _ 33 “La liberta di coseienza e la conscienda” La Different ‘al, 1 Mutino, Bolonha, 1990, p-268. Fundamental da Miguel Galvéo Teles i 34 . en em “matérias de consciéncia”4, Mas j ja de coaccaio em “mal s . auséncia oer pra Tiberdade de consciéncia. O ponto critiog ret aeeeo nha 0 paradoxo, se gue, como © sublinha es 12, Quando alguéin objects, em conscincis, 5 origi send ue coords com els, HHO Se ENCOMIT Er oa o nie EF e-artrio ea simples violaglo de normas. sim, esta saber em. que acepgdo Ou AeeREBes 5 pale liberdade. fae ae Semel sentido revela-se na idcia de @HEOHOMTAHER Qen, bjecta ts obrigagdes legals exeree essa autonomia. Contudo, em princi pio pelo menos, @ normatividade contraposta & normatividade legal ape. Foce af como impositiva de deveres. A situagao de EASED (Geileamene sms situagiio de conflito de deveres: o dever legal ¢ odever ‘Assim sendo, de liberdade em sentido que se costum, dizer negativo nao se poderd falar perante 0 quadro ético alternativo, mes somente perante o proprio sistema juridico ou por referéncia a ele. ida, h4 dupla permissio, a de@gipde acordo co! ou com a 1. Mas se a objec gfio de consciéneia nao for reconhecida, em geral ou nas circunstincas do caso? Suponha-se, por exemplo, uma testemunha de Jeov4, que object (e as testemunhas de Jeové objectam) A propria prestagio de servigo civico, para além do servigo armado. Ou nao teria obtido a imunidade dt prestagio do servico armado ¢ haveria incumprido o dever legal deo pes tar ou teria faltado, pelo menos, ao cumprimento do dever de prestat str vigo civico de substitui¢ao3, Ou suponha-se que, pura ¢-simplesmente,° % Prof. Antowio Lette, “Parecer ..” et ¥ * ‘ bs 242. aioe Ree ant das complcagbes que podem resviar de saber aN inteessado ame de objector por acto administrative ou jurisdicional, ose a ire renunciar ‘esse estatuto, Qualquer que seja a soluglo, hovve pelo on momen icio de liberdade, ainda que porventura associado a wm direito Fo" aa teen ue se requereu, ou nio, 0 estatuto, possi sltemativa deixada no texto tem na sua base dois entendiimentOs Fy. quanto & questa x objector det Somltucionalidads da disposigio da Lei .* 7192.0 rasse a sua disponibiti Lei n? : a atribuigao isponibilidade "ie do estatu a para prestar servigo ¢fvico, corto" slatuto, O tema dividiu o Tribunal Constitucional quer OME" = se, 0 Direito pretende vinculatividace sima acepeko ética, de cony ire atlas ‘ccagdo do livre. . ‘aguele que, em conseiéncia, arb esta a afirmar a sua imunidade per i ante dhde &, em altemativa & dupla permiccte eae rotmativa postiva, a simples auséncia de dleveregee eee tm tied atjtude normativa negativa, 67s qute se basta com uma iferenciada da imposigio resul tante do quadro normativo altemnativo a t que se submete. A liberdade ic EEE SERRE: rg I » Por conseguinte, (@ausenciawesobrigacio, em sentido proprio, que esta pretendia que de si decorresse. “Trata-se, pura ¢ simplesmente, @SIitERIGSEEHTRRTEREM © que, da perspectiva da lei, € dever converte-se, da perspectiva do objector, em mero énus, Comportar-se de um modo ou de outro dependerd de aceitar ou rio arrostar com as consequéncias de agir em conscigncia. 13. A liberdade de consciéncia tem por base a autonomia ética ~ tomando, repete-se, 0 qualificativo ético em sentido latissimo, que abrange moral € direito. Mas trata-se da autonomia ética do sujeito empl rico ~ nfo do eu puro. S40 as consciéncias dos sujeitos empirioos que constituemn as destinatérias de qualquer normatividade, E manifesto que a plena autonomia dos sujeitos empfricos se mostra anarquizante. A interac gio social e razoes pradenciais limitam @ propensao naquele sentido. Mes cada um com a sua consciéncia constitu a instincia © 0 reduto ilti- mos da normatividade. © estatuto convocado pela afirmagao da } contra legem (do mesmo modo que pelo disi® fegem) & do estado de natureza~ no ja estado de iberdade de consciéncia de resisténcia contra patureza entre pessoas, stuotonalidade (Ac. 681/95) oni a sispoigio dda Lei de Liberéade ido da €¢ s, NO sent 1 se oe 1985. 23 doatigo 12° Pronunciou, por sete votos contra seis A ofientagao foi mantida por uma suc causa, da Lei n° 7/82, veio a ser revogtda elo ™ Religiosa, Miguel Galvae Teles o estado de nutureza entre os destinatétios de um mas i estado de natureza cle segungj 4 jug r6prio, a que chamei estado de Segundo grass tl cele Propjector contesta vinculatividade da let invoeg ae “ camo presuposto de afroago da sua Hib contra ens Ug Juin, por sa vez, nfo pode oper essa vinta, Stee tical vicioso, se funda nla mesma para a justifies Memo? 2 tra rtenso, Nem por isso o objector dear. o mais as yon ty i as consequéncias. Mas 0 sistema juridico tomou-se parte ¢ a ju Softy, i racional itima da sua ant-imposicgositua-se agora, nao nag hi casio da sua autoriade, mas nas razBes argusves ara «sua get i: em padres prudenciais ¢ na auto-defesa. magi io tenho hesitagio em reclamar a imposigio das no i Estado de direito demoerstico, Mas, sem prejuizo dessa mposyas 228 pode ignorar o plano em que, perante um objector, as coisag ron ‘1 situar-se. a —_—-——— ! © Micua Gawva “ dence (Some reflecting eS "State of Nature, Pore Republic and Legal By ALES (ed) yee OS teEardng Kent's legal and political philosopt)! © 0 Futuro da Democracia, Ba, Colibt/SPP,Lisbots 198

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