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Elikia M’Bokolo AFRICA NEGRA HISTORIA. E CIVILIZACOES Tomo I (até o século XVIII) paginas 101 - 122 Tradugao de ALFREDO MARGARIDO Revisao académica da traducao para a edicao brasileira DANIELA MOREAU VALDEMIR ZAMPARONI Assistentes: Bruno Pessoti e Monica Santos EDUFBA | Casa das Africas | 2009 cae * ESTADOS E SOCIEDADES SECULOS VII-XV ‘ais ou menos a partir do século VII, o cruzamento de fontes relativamente variadas e de abordagens disciplinares complementares permite estru- turar uma histéria da Africa suficientemente sugestiva da multiplicidade das dinamicas que animaram as sociedades africanas. Deve-se contudo dizer que esta historia continua a ser muito parcial. Apesar de indiscutiveis progressos num certo mimero de dominios ~ as trotas exteriores incidindo sobre bens materiais e imateriais, a escravatura eas diversas formas de cativeiro internos, © fato urbano, a inscri¢ao social e politica de algumas técnicas como o trabalho do ferro ou a penetracao das religides estrangeiras, para citar apenas alguns -, a hist6ria econémica, social e cultural continua a ser o parente pobre da his- toriografia africana. Tal nao quer dizer que a histéria politica tenha deixado de suscitar problemas. Nao s6 estdo longe de ter sido cobertas todas as areas culturais e politicas do continente, mas encontramo-nos face a dificuldades tebricas e metodolégicas simultaneamente excitantes e temerosas. Os histo- riadores preocuparam-se em primeiro lugar e durante muito tempo com os Estados ¢ isso numa perspectiva mais descritiva do que problematizante, mais empenhados em restituir a cronologia dos “grandes” acontecimentos e em salientar a a¢ao dos “grandes homens” do que em desmontar os mecanismos de todas as espécies, 0s recursos diversos e os arranjos necessarios assim como 0 rearranjos sociais ligados aos processos de formacdo e de desenvolvimento do Estado. Os desafios suscitados pela antropologia politica abriram hé varias -101- décadas campos constantemente novos em torno de questées tais como: a pertinéncia da distingao entre sociedades sem Estado e sociedades estatais; as condigdes, as formas e as causas de “passagem” nos dois sentidos, de umas Para as outras; a articulacdo entre o centro e as regides periféricas e as formas de “integracao”; a “economia politica dos reinos”, a historicidade dos pode- res qualificados como sendo, de maneira visivelmente errada, “tradicionais”. Se todas estas questdes ainda nao receberam respostas, é de ora em diante possivel formulé-las com argumentos sélidos. Vemos assim confirmar-se a hipétese de W. G. L. Randles, segundo a qual os primeiros Estados africanos conhecidos constituem uma espécie de “arco [de circulo] que acompanha a orla da floresta”, ao passo que continua em aberto a questo de saber se estes Estados obedeciam a “um cédigo denominador comum”. Perante esta tiltima questo, a hipdtese aqui retida considera que, se estes Estados possuem, sem a minima divida, tragos comuns, eles aparecem suficientemente diferentes para os abordar nas suas areas respectivas. 1 A AFRICA DO NORDESTE A grande antigiiidade do fato estatal nesta parte do continente dé amplamente conta da persisténcia de entidades estatais entre os séculos VI e XV. Entre Meroé e os reinos ntibios tal como entre Axum e os reinos etiopes, existia uma notavel continuidade nas bases materiais e geogrificas do Estado tal como no seu contetido humano. Estes séculos carrearam, apesar de tudo, inovag6es radicais no que se refere a ideologia do poder e aos antigos equilibrios demogréficos: se, ao longo do vale do Nilo, a Nabia foi progressivamente perturbada pelo duplo fenémeno da arabizaco e da islamizacao, os paises etfopes encontraram nos novos desafios desta época o fermento necessario ara um sobressalto nacional. Também aqui nos chocamos com um temfvel problema de fontes, quase exclusivamente arabes antes de se terem constituido, a partir do século XII, as fontes etfopes cujas dificuldades de interpretacdo no ‘sdo menores. Como salienta André Miquel, temos que aceitar estas fontes no estado em que esto e procurar extrair delas 0 méximo: “E preciso [...] aceitar a Africa tal como no-la dao: um mistério compacto, no qual, por falta de meios, Por preguica, ou de propésito deliberado, o conhecimento de entéo s6 abre hesitantes e raras brechas [...]”. (A. Miquel, 1970) A. A dificil sucessao de Meroé Ao sul da 1* catarata, a Nubia tinha comesado a sofrer com a ascensao do reino de Axum, em particular sob o reinado de Ezana, cujas tropas tinham multiplicado as incurs6es vitoriosas sobre as terras do seu vizinho ocidental ¢ Provocado a decomposicao do reino de Meroé. Fato novo, a ameaca persistente -102- do Egito, contida durante muito tempo, exprimia-se de ora em diante por uma politica aberta de hegemonia sobre unidades politicas aparentemente enfraquecidas. ie Documento 14: Africa do nordeste: Estados e formacées politicas FUAJE Estado ou regitio ( A Pressio érabe 1. A explosio do reino de Meroé ‘Aé meados do século III, Meroé tinha conseguido manter a integridade de um reino que se estendia da 1* 6* cataratae até mesmo um pouco além, ja que o diltimo centro importante do reino se situava em Soba, ao sul da cidade atual de Kartum. Com o Egito, tornado romano, um comércio muito ativo carreava para 0 norte os produtos nibios, em particular o ouro e o ferro. Ap6s - 103 - Tegerideamani, tiltimo rei meroftico cujo nome é conhecido e cujo reino se situa ao meio do século III, Meroé conheceu um indiscutivel declinio, visivel pela dimensio cada vez mais modesta e pelo esplendor continuamente menor das piramides. A pressdo dos povos némades, cuja mobilidade aumentara com 0 uso dos camelos, estava entdo no auge: por um lado, a oeste, vindo do Kordofi, 0s nobas ou nobatas; do outro lado, a leste, no deserto arabico, os blemmyes. Estes povos némades conseguiram tao bem tornarem-se senhores de uma parte do vale do Nilo que o imperador Diocleciano (284-305) resolveu instalar nobatas ao sul da 1* catarata e pagar-Ihes um imposto para que eles assegurassem a seguranca das fronteiras meridionais e do comércio do Egito, principalmente contra os blemmyes. Foi também com o objetivo confessado de combater os nobas que, por volta de 350, as tropas de Axum destruiram o reino de Meroé (Kasu nos textos axumitas). Em lugar deste velho reino, viu-se entdo emergir trés Estados. Ao norte, o reino de Nobatia (conhecido pelos arabes sob o nome de Al-Maris, termo copta designando 0 “Sul”) estendia-se da 1* A 3* catarata. As estruturas e a organizaco deste reino continuam a ser mal conhecidas. A arqueologia permite apesar de tudo evocar uma sintese de tradigGes especificas (enterro dos soberanos acompanhados por numerosos dependentes femininos e masculinos) e empréstimos tanto a Meroé (ceramica) e ao Egito (culto de fsis, de Amon e de Hérus) como a Bizncio (estilo das coroas reais, importagao de objetos utilitérios tais como baixelas de prata, candeeiros de bronze, frascos de vidro ou batis de madeira). No meio do século VI, os nobatas continuavam a receber um tributo, em contrapartida do qual deviam assegurar a paz nas fronteiras meridionais do Egito. Em 453, seguindo-se a uma expedi¢ao punitiva, © general romano Maximinus tinha até assinado um acordo com eles, valido durante cem anos, prevendo a restitui¢ao de todos os prisioneiros romanos € reconhecendo, em troca, aos nobatas o direito de retirar uma vez por ano a estétua de fsis do templo de Filae, para Ihe fazer pronunciar o ordculo no seu Préprio pais. Vale dizer que o batismo do “eunuco de Candécia”, narrado nos Atos dos Apéstolos, nao teve o menor efeito no reino de Meroé. Foi apenas no século VI que, sob iniciativa do imperador romano Justiniano, o templo de {sis foi destruido, as suas estétuas levadas para Constantinopla e o seu culto Proibido, e que comecou uma tarefa de cristianizagao decidida. O primeiro rei convertido, Silko, iria transferir a sua capital de Ballana para Faras pouco depois do seu batismo em 543. Ao sul de Nobatia, entre a 3¢ e a 4* cataratas, estendia-se o reino de Maqurra, também designado reino de Dongola, do nome da sua capital. Igualmente convertido ao cristianismo no meio do século VI, este reino mantinha relag6es comerciais muito ativas com o Kordofa e o Darfur. Nao se sabe mais do que isso, a no ser esta passagem redigida por volta de 976 pelo gedgrafo e historiador arabe Al-Uswani, enviado pelos fatimidas do Egito a Dunkula al-Adjuz (Dongola Velha): -104- (rio est cortado por ilhas entre as quais correm os seus diferentes bragos, 20 longo de margens com declives suaves onde se vé uma seqiiéncia ininterrupta de aldeias, de belas habitag6es com pombais, gado e rebanhos. O rei goza a maior parte dos seus divertimentos nesta regio. Tive um dia ocasiao de o acompanhar e vogivamos ao longo de canais estreitos, a sombra das érvores que cobrem as duas margens. Diz-se que os crocodilos nao so malfazejos nesta regidoe, freqiientemente, vi os habitantes atravessar os canais a nado L.-J]. Deixaram de se ver dinares ou dirhams. As moedas correm do lado de ci da catarata para fazer comércio com os mugulmanos, mas do lado de Ié os habitants no conhecem nem venda, nem compra. (G.-Troupeau, La description de la Nubie d’ AL-Uswani (IV/X sitcle), Arabica, 1954, pp. 282-84) O terceiro reino, Alodia ou Alwa, cristianizado a partir de 570, mais ou menos, estendia-se a montante da 5* catarata até uma distancia dificil de calcular para o sul. Este reino, cuja capital era em Soba, no Nilo azul, é ainda mais mal conhecido, mesmo se os gedgrafos drabes que o descreveram gabam todos a sua magnificéncia. La Configuration de la terre de Ibn Hawkal (morto em 988) descreveu-o assim: “A Niibia mais préspera, a de Alwa, apresenta uma seqiiéncia ininterrupta de aldeias e um entrelacado de culturas tais que © viajante atravessa, na mesma etapa, uma série de povoados cujos limites se tocam, com a Agua vinda do Nilo através de canais”. Este reino, que devia preservar de maneira decidida a sua independéncia, suscitava na realidade as narrativas mais extraordinarias por parte dos geégrafos arabes: Uswani acaba [...] por largar um pouco as rédeas faébula: o rei de Alwa ter-se-ia aventurado durante varios anos de caminho e sem ver o fim, neste pafs do fim do mundo, s6 af encontrando homens nus, forgados pelo sol a viver debaixo da terra, ao mesmo tempo que rebanhos que s6 podem pastar durante a noite. Mas estaremos ainda na Ntibia? Limitando-nos ao vestustio dos kursis, 0 zifal, pedaco de pele passando entre as coxas, jé se adivinharia estarmos em outra Africa, aquela que os nossos autores designam sob os vagos nomes de Abissinia e de Zang. (A. Miquel, La Géographie humaine du monde ‘musulman jusqu‘au milieu du Xle siécle, Paris, Mouton, 1975, tomo Il, p. 159) 2. Unificagéo e cristianizagao No fim do século VII ou no comego do século VIII, sob o reino de Merkurios, chegado ao poder por volta de 697, operou-se a unificagao dos dois reinos mais setentrionais da Nubia, Nobatia e Maqurra, sob a autoridade da dinastia reinante em Maqurra. O novo Estado elaborou uma pesada maquina administrativa cujos funciondrios usavam desde titulos gregos (primikerios, nauarchos, domestikos, protodomestikos; protomezoteros, meizon...) a titulos propriamente nibios. Esta vontade de sintese que no se apresentava como tal via-se também na organizacao da realeza. Religiao de Estado, o cristianismo, majoritariamente = 105- monofisista (0 que nao excluia a nomeacio de dignitérios melquitas), forneciaa ideologia do poder. Muito numeroso, o clero estava repartido em sete bispados segundo os autores arabes (na realidade s6 se conseguiram identificar cinco: Hurta, Kasr Ibrim, Faras, Sai e Dongola) e dependia do patriarca de Alexandria, © que explica também que 0 alto clero fosse majoritariamente copta. Todavia este patriarca, cuja autoridade se estendia também sobre o clero etfope, era considerado como o protegido do rei da Nubia. Dispondo da fora do seu poder politico, o clero desempenhava também um papel econémico de primeira importéncia gragas aos numerosos mosteiros, formando escalas do comércio com o Egito e centros de produgao de bens agricolas ou artesanais. Mas este cristianismo tinha sido, desde os seus comesos, muito largamente indigenizado. Assim, como na maior parte das monarquias africanas, o ei tinha-se proclamado a si proprio chefe da Igreja e podia, em estado de pureza ritual, celebrar a missa € administrar os sacramentos. Nao se tinha de resto renunciado a todos os costumes antigos, como mostra o papel das mulheres, cuja origem remontava as famosas “Candécias”. A sucesso do trono fazia-se pela linhagem materna, sendo a situagao mais corrente aquela em que o rei casava com as sobrinhas. Assim, ‘como os casamentos entre primos paralelos eram comuns, via-se freqiientemente } um filho suceder a seu pai. Na ciipula do Estado, varias mulheres ocupavam fung6es eminentes tais como a de nonnen (“rainha mae”, em niibio antigo) ou ainda a de “gonselheira”, colocada sob a protego da Virgem Maria. A evolugao da lingua da religido traduz bem esta indigenizacao progressiva do cristianismo: © grego tinha sido empregado inicialmente, depois o copta, apoiando-se nos numerosos sacerdotes vindos do Egito. Escrito em caracteres coptas, com quatro Signos particulares para traduzir certos fonemas ntibios, o ntibio antigo, de que tum dos tragos mais antigos se encontra numa igreja e remontaa 795, assegurou a transi¢do a partir dos meados do século X. O reino da Nibia se beneficiou de uma notével prosperidade, da qual um dos melhores indices é dado pela irradiaco urbana. A seguranca alimentar era visivelmente garantida gracas a uma policultura rica, capaz de dar duas colheitas por ano (cevada, milho paingo, tamaras) e a uma criacao de gado variada (galinhas, carneiros, burros e bovinos, além dos porcos introduzidos numa época relativamente recente). O rei era proprietdrio eminente de terras; as familias camponesas exploravam-nas em troca de um imposto recebido Provavelmente pelo clero. O artesanato é conhecido pelas suas ceramicas, a sua tecelagem recorrendo a ld ea pélos de camelo, a sua metalurgia (instrumentos agricolas e armas de ferro), 0 trabalho do couro e uma multiddo de pequenos oficios (cesteiros, esparteiros) contribuindo para assegurar uma ampla auto- suficiéncia. Mas em virtude desta mesma posi¢do, o reino estava associado a varias correntes de troca. Importava do Egito produtos alimentares (cevada, cereais, vinho produzido pelos mosteiros) ou artesanais (cerimica, algumas das quais vinham talvez de Bizancio e da Pérsia, tecidos, objetos de luxo). As exportacSes consistiam em produtos antigamente conhecidos da Nubia (ouro, - 106 - marfim e peles) e em escravos, cujo comércio s6 se organizou aparentemente a partir do século VII. Outras estradas comerciais levavam a oeste, através do Kordofii e do Darfur, para o Sudao central e ocidental. A leste, a Nubia mantinha relagdes com os paises aurfferos ocupados pelos bedja, com os portos do mar Vermelho, Suakin e Aydhab em particular. O dinamismo da rede urbana traduz bem esta vitalidade das atividades econémicas. Podem distinguir-se trés categorias de cidades. Na primeira categoria, encontramos as “grandes cidades”, cada uma rica de varios milhares de habitantes, simultaneamente centros administrativos e politicos, nticleos religiosos e culturais, encruzilhadas comerciais e artesanais. Faras, a metrépole do norte, solidamente cercada por muralhas, era uma destas grandes cidades, tal como as suas vizinhas, Kasr Ibrim e Gebel Adda ou ainda Dongola Velha, capital do reino unificado, exaltada por Abu Salih no comego do século XI: “E aqui que o rei tem o seu trono. £ uma grande cidade irrigada pelo curso bendito do Nilo. Possui numerosas igrejas, grandes casas e amplas avenidas. O rei mora numa casa alta que, com as suas numerosas ctipulas de tijolos vermelhos, se parece com os edificios que encontramos no Iraque”. Na segunda categoria estavam as cidades médias, cuja populacao devia contar varias centenas de habitantes e com func6es mais especializadas: Ikhmindi, Kalabsha, Kurta, Sabagura e Shaykh Dawud. Enfim, as cidades menores, varias das quais ~ Debeyra, Arminna, Meynarti ou Abdallah Nirki — foram objeto de escavacdes arqueolégicas e esclareceram numerosos aspectos da civilizacao material ntibia, formavam a ultima categoria da armacao urbana. 3. Arabizagiio e islamizagao ‘A vizinhanga incémoda do Egito sempre fora uma fonte de dificuldades para as terras ntibias. Estas dificuldades adquiriram uma dimenso nova com © povoamento drabe do Egito e, por corolério, a sua islamizacao. Para a Nibia, as conseqiiéncias destas transformacdes nio se limitaram apenas as relagGes entre Estados. A prépria sociedade se encontrou profundamente afetada. © novo tom das relagdes entre o Egito arabe e a Nubia apareceu jé em 651, quando o emir Abdallah, depois de ter cercado e desmantelado Dongola, impés aos ntibios o bagt (do latim pactum, acordo, pacto). Pesado de consegiiéncias porque se manteve em vigor até fins do século XI, este pacto de no-agressao impunha a Nubia um certo mimero de prestag6es, principalmente em escravos, ao mesmo tempo que reconhecia aos niibios a sua soberania, a liberdade de circulacSo e de comércio e a independéncia religiosa. A ameaca egipcia mantinha-se todavia na integra. A partir dos principios do século IX, aproveitando uma crise de sucesso no Egito, a Nubia decidiu nao continuar a pagar o seu tributo. Uma vez resolvida a crise, os egipcios exigiram em 833 no apenas 0 pagamento do tributo anual, mas também os atrasados. Os nibios quiseram entéo apresentar esta querela perante o califa. Georgios, -107- == © filho do rei entdo no tron, recebeu a missdo de ir a Bada negociar e de aproveitar a sua estadia para avaliar as forcas reais do império muculmano. Organizada em 835, a faustosa embaixada obteve uma modifica¢o importante, que transformava o tributo anual em tributo trienal. Mas sob o longo reino de Georgios (ca.856-915), um aventureiro egipcio, Abu Abd al-Rahan al- Umari, atrafdo pelos rumores relativos ao ouro da Nubia, organizou um exército privado ~ o primeiro de uma longa série ~ pondo-se & sua frente para conquistar a Nubia. A aventura nao durou muito, mas salientou a persisténcia das veleidades hegemonistas no Egito. Por isso, a partir da reunificago da Nubia, os novos soberanos nomearam em Faras um “eparca”, cujas fungdes eram hereditérias e que tinha a seu cargo a administracio da provincia do norte, as financas do reino e a totalidade das relag6es com o Egito. Os érabes conheciam-no pelo nome de Sahib al-jabal (Senhor da montanha). A crise e 0 enfraquecimento do Egito sob os tiltimos Ikshiditas deram outra vez aos ntibios a ocasido de manifestar a sua impaciéncia. Em 962, cocuparam a maior parte do Alto Egito e ai se mantiveram apés a tomada do poder pelos fatimidas (969). Em 975, 0 novo poder egipcio enviou a Dongola uma embaixada encarregada de obter o pagamento do tributo previsto pelo bagt ¢ a conversao do reino ao Isla. O primeiro pedido foi satisfeito, mas nao o segundo. As relacdes entre os dois estados eram por conseqiiéncia mais equilibradas nesta época, jé que a Ntibia obteve do Egito que fossem garantidas a liberdade € a seguranca dos seus stiditos cristos. Com o fim da dinastia dos fatimidas no Egito e a ascensao dos Ayyubidas (1171), as tenses foram apesar disso reaparecendo entre os séculos XII e XIV, no meio de uma confusao crescente. Tendo-se mantido leais aos fatimidas, as tropas negras recuaram para o sul, reeditando sem saber o gesto dos transfugas automoles contada por Herddoto. Ajudado pelos ntibios, este exército invadiu o Alto Egito em 1172 pilhou Assua. Comandada por Turdo Sha, o irmao de Salaha al-Din (Saladino), a resposta egipcia foi de uma rara severidade: conquista da provincia de Al-Maris; pilhagem das igrejas, transformadas em seguida em mesquitas; captura de numerosos prisioneiros; abate de 700 porcos. A conquista inspirou aos vencedores drabes uma das primeiras descrigdes absolutamente negativas da Nibia: “Um pais pobre onde sé se cultivam algum milho e tamaras. O rei monta a cavalo sem sela quando nao esté no seu palicio, a tinica habitacdo do pais que nao ¢ feita de palha. O rei, que nao sabe érabe, desatou a rir ouvindo esta lingua”, Mas a partir da retirada das tropas egipcias em 1174-1175, os nibios voltaram a tomar a sua provincia do norte af restabelecendo o cristianismo. Foi necessério esperar ‘cem anos para assistir ao regresso das hostilidades. Em 1275, o rei David I da Nibia recusou pagar o tributo ao Egito e langou as suas tropas contra Assui eo Porto de Aydhab. Traido pelos seus, foi entregue aos egipcios que o mantiveram prisioneiro até a sua morte. Estes comecaram entio a intervir diretamente e de ‘maneira permanente nos negécios da Nibia. Em primeiro lugar, um novo tratado obrigou a Nubia a fornecer todos os anos 400 bois, 100 camelos, 5 panteras, 3 - 108 - clefantes ¢ 3 girafas, assim como a entregar ao Egito metade das suas receitas fiscais. Apesar do movimento de resisténcia de massa organizada por Chemamun de 1286 a 1290, a designac4o dos reis dependia cada vez mais dos egipcios. O rei que escolheram em 1315, Abdallah Ibn-Sanbu, era um mugulmano: a catedral de Dongola foi quase imediatamente transformada em mesquita (1317). A dominacao pesando sobre o reino ntibio ia de par com uma arabizacZo e uma islamizagio profundas da sociedade, processo dificil de reconstituir em pormenor e do qual sé se conhecem as grandes linhas. Inscrevendo-se na longa hist6ria dos movimentos de populacdo no vale do Nilo, a infiltragao dos arabes para o sul tinha comecado logo apés a sua chegada ao Egito no século VII. A partir de ent, fez-se em trés diregées para o sul, leste e oeste. Para o sul, os 4rabes tinham comecado muito cedo a comprar terras nas regides fronteiricas entre o Egito e a Nubia. Em 975, Ibn Sulaym al- Uswani, o primeiro embaixador enviado pelos fatimidas, constatou que os 4rabes detinham o poder econdmico no Al-Maris e que numerosos nibios do profeta Muhammad [Maomé]. Os comerciantes, numerosos a descer ao longo do vale do Nilo, representavam um segundo fator de arabizacao e de islamizacao. Mesmo instalados em bairros separados seguindo uma regra que voltamos a encontrar mais tarde em todas as sociedades sudanesas nfo islamizadas, constitufam pela sua propria presenca e pelas suas maneiras de ser e 0 seu modo de vida, um poderoso agente de propagacao da nova religiao e da sua lingua. A mistura destes érabes com os niibios passou pelas formas mais contrastadas. Em certas regides, em particular no norte de Dongola, os 4rabes adotaram as linguas nibias e fundiram-se socialmente na massa das populagGes, 4 qual impuseram, apesar disso, o Isla. Mais ao sul, entre a 4* e a 6* cataratas, foram, ao invés, os nibios que se arabizaram, adotando a lingua, os nomes e as genealogias arabes; tais foram nomeadamente os ja’aliyyun, niibios arabizados e incluindo tanto artesios e comerciantes como agricultores. Para o leste, as terras desérticas povoadas pelos bedjas fascinavam os 4rabes em virtude da sua riqueza em ouro. Dando continuidade a aventura de Al-Umari na Nubia, estas terras conheceram por sua vez uma espécie de “corrida do ouro” que fez passar a maior parte das minas para as mos dos egipcios, drabes ou nao. O Estado egfpcio, no que Ihe dizia respeito, proclamou-se proprietario das minas de esmeraldas. Além disso, estas terras desérticas, reputadas por terem uma espécie de camelos que nao se encontravam em mais nenhuma parte (os bukhtiya), prestavam-se muito bem as infiltragdes e a emigracéo de drabes némades. Havia enfim consideragdes estratégico-religiosas. A criagio do reino de Jerusalém (1100), na esteira da primeira cruzada, tinha cortado a estrada da peregrinacao pelo Sinai e dado A estrada passando pelo alto Egito e pelo porto de Aydhab uma importancia de primeirissimo plano. Uma tribo drabe, a dos rabias, ia tornar-se ilustre nas reorganizagdes humanas e politicas que afetaram o pais bedja. Por ter capturado -109- o rebelde Abu Rakwa que, depois de ter agitado o Egito, se tinha refugiado na Nubia, o seu chefe recebeu do khalife Al-Hakim em 1004 o titulo honortfico de Kanz al-Dawla que ia rapidamente designar a totalidade da tribo, Banu Kanz. Os proprietarios bedja arabizavam-se de duas maneiras pelo menos. Alguns, que trabalhavam nas minas ou nas caravanas, adotaram progressivamente a lingua ¢ as maneiras érabes. Outros, principalmente os grupos mais setentrionais, tais como os hadariba e os ababda, aderiram ao Isl4 mesmo conservando as suas antigas crencas e priticas religiosas, e inventaram-se genealogias arabes ficticias que acabaram por Ihes forjar uma identidade drabe. Para o oeste, os processos de arabizacao e de islamizasao, conhecidos sobretudo no que se refere ao Darfur, eram também diferentes. Mais ou menos até o século XIII, o Darfur, povoado por grupos sedentérios e nomades organizados em pequenas unidades politicas, parece ter sido largamente mantido fora das correntes de trocas comerciais ou outras. Os raros tracos de influéncias exteriores perceptiveis esto ligados ao dominio religioso eso visivelmente vindos da Nubia. Comecadas numa época dificil de determinar, estas migragées tinham adquirido certa envergadura, tanto no norte do Darfur, onde os recém-vindos, especializados na criacdo de camelos e de carneiros, eram conhecidos pelo nome de Kababish (de kabsh, carneiro), como no sul do Darfur, no Wadai e em volta do lago Chade, onde os imigrantes, empenhados sobretudo na criagdo de bovinos, eram chamados Baqqara (de bagara, boi, vaca). Foi entre estas linhagens resultantes da emigrasao que emergiram, em condicdes que continuam a ser obscuras, as primeiras dinastias que deviam reinar no Darfur, ados Daju em primeiro lugar, no século XIII, seguida depois pela dos Tunjur em meados do século XIV. B. De Axum ao império do négus A evolucao de Axum ~ apés a prosperidade econémica do século VI, descrita na Topografia Crista de Cosmas Indicopleustes, e os éxitos militares ¢ diplomiticos do reino em volta do mar Vermelho - continua a ser mal conhecida. Tudo parece contudo indicar que Axum teve de fazer frente, sem muito éxito, as dificuldades de todas as espécies que enfraqueceram o reino a ponto de provocar a sua decomposicao, permitindo a outras unidades politicas, apoiadas em novas legitimidades, impor-se no Chifre da Africa. 1. Ocolapso de Axum Estas dificuldades tendiarh a modificar o frdgil equilfbrio que reinava no mar Vermelho e no qual assentavam a prosperidade e a forca de Axum. Registrou-se em primeiro lugar, durante o século VI, a longa crise do império bizantino, que devia fazer face simultaneamente a perturbagdes internas € -110- forte pressao das poténcias e dos povos vizinhos, eslavos dos Balcas, persas e drabes. A retirada do império bizantino, de que Axum era aliado, foi um rude golpe para o reino afticano. Houve logo a seguir a ago dos persas, cada vez mais presentes nas margens afticanas, retomando por sua conta os antigos postos comerciais ou criando novos pontos de apoio, que reduziam o papel dos axumitas como escalas do comércio do Oriente. Enfim, e sobretudo, vinham os drabes que mantinham relagdes muito antigas com os axumitas e aos quais 0 Isla dava uma forca nova que se exprimiu na formidavel expansdo que os levou a ocupar a Africa setentrional. ‘Tornados muculmanos, os drabes iam, com efeito, procurar estabelecer novas relagées com os seus vizinhos, entre os quais o cristianismo que ndo | ae cessara de progredir desde o reinado de Ezana, no século IV, ea mitica predicacao ie dos “Nove santos”. Os primeiros contatos dos muculmanos rabes com Axum foram bons, como o atestam as tradigdes mais ou menos lendérias relativas a Bilal, escravo de origem etiope que teria sido o segundo homem a converter-se ao Isla (na esteira de Khadidija, a esposa do Profeta, e Abu Bakr, mobilizado para ser o primeiro khalifé) e que Abu Bakr designa como mu’adhdhin (muezim). De acordo com outras fontes, o proprio Profeta teria escrito ao nadjashi (négus) para lhe pedir para se converter & nova religiao. Outras fontes dizem ainda que a oligarquia da Meca, assustada pelos éxitos do Isla nascente, teria enviado a Axum um emissério encarregado de convencer este reino a opor-se propaga da nova fé. Este, Amr ibn al-As, converteu-se de fato por sua vez ao Isla e tornou- se 0 conquistador do Egito. Seja qual for a realidade destes episédios que se contam, o que todas estas narrativas poem em evidéncia é a importdncia do eino cristo aos olhos dos arabes desta época. O fato mais certo é a imigracdo # para Axum, verificada em 615, de certo ntimero de mugulmanos, entre os quais alguns intimos do Profeta que faziam face as ameagas dos coraixitas de Meca. De acordo com as tradi¢6es, Muhammad ter-lhes-ia dito: “Se vocés forem para a Abissinia, af encontrareis um rei sob o poder do qual ninguém é perseguido. rs E um pais de justica onde Deus vos dard o alfvio das vossas misérias”. Todavia, \s contrariamente ao que dizem algumas tradigGes drabes, no é de todo certo i que 0 nadjashi entao no poder, fiel as regras da hospitalidade em vigor na corte | cosmopolita de Axum, se tenha ele préprio convertido ao Isla. | E Contudo, as relacdes de Axum com os érabes iriam deteriorar-se { rapidamente. O que estava em causa nfo era tanto a religiéo mas sobretudo as consideragdes econémicas e geopoliticas, quer dizer o controle do mar ‘6 Vermelho. No decurso dos primeiros séculos do Islé, o cristianismo continuou |e a propagar-se no reino axumita, principalmente entre as elites. Foi com efeito | entre os séculos VII e XI que foram abundantemente recopilados e difundidos textos biblicos aut€nticos (0 Novo Testamento) ou apécrifos (0 livro de Enoch, O livro dos Jubileus, A Ascensao de Isafas, O Apocalipse de Esdra...), assim como 08 tratados de teologia (0 Querillos de Sao Cirilo de Alexandria) e de moral crista (0 Physiologos) traduzidos precedentemente do grego em gueze. Mas -1ll- nenhuma outra fonte confirma a existéncia de qualquer debate religioso entre mugulmanos e cristdos. As divergéncias de interesses materiais e politicos sao melhor conhecidas. Desejosa de conservar o controle do mar Vermelho, a esquadra axumita, apoiada provavelmente por piratas, atacou em 702 0 Hedjaz € ocupou o porto de Djeddah. Pela primeira vez, a resposta dos arabes esteve 4 altura do seu panico: Adulis, encruzilhada essencial tanto para o comércio do Oriente como para o da Niibia, foi ocupada e destruida; a frota axumita conheceu 0 mesmo destino; os arabes estabeleceram-se no arquipélago de Dahlak, precisamente ao largo do antigo porto de Adulis. Estas ilhas, onde 0s arquedlogos encontraram um grande nimero de inscricdes arabes indo dos séculos X ao XVI, foram inicialmente utilizadas pelos arabes como lugar de exilio para os seus adversérios politicos e religiosos. Contudo, nfo tardou muito para que, gracas aos khalifes abéssidas (750-1258), elas se tornassem uma etapa essencial na rota da peregrinagao, e que o mesmo ocorria com os novos portos construfdos na costa africana do mar Vermelho (Suakin, Qusayr € sobretudo Aydhab). A importncia do arquipélago aumentou a ponto dé os drabes o transformarem em principado a partir do século X. Continua a ser dificil dizer a que ponto Axum foi afetado por esta nova situaco. Com efeito, € um reino muito enfraquecido que evocam algumas fontes - certo que pouco numerosas -, como o afresco do princfpio do século XIII que o khalife Al-Walid mandou pintar no seu palacio e que representava os soberanos que ele tinha vencido, entre os quais o rei de Axum. Mas, até o século X, outras fontes arabes dao do reino descrig6es mais positivas. Assim, Al-Masudi escreve no século X em Les Prairies d’or: A capital da Abissinia é Kugar (a Grande). E uma cidade considerdvel e a sede do reino do nadjashi. O pais possui muitas cidades e territérios extensos indo até o mar da Abissinia. Pertence-Ihe a planicie costeira, em face do Iémen, onde se encontram muitas cidades tais como Zayla, Dahlak e Nasi, nas quais vivem mugulmanos tributérios dos abissinios. Paralelamente a essas perturbacdes no mar Vermelho, o proprio espaco continental etiope sofria mutagdes cheias de conseqiiéncias politicas com a agitacao dos némades bedja e a ascensio das regides periféricas do reino de Axum. Talvez aparentados aos blemmyes das fontes antigas, estes bedja apareceram a partir do século IV, na lista dos povos contra os quais Ezana dirigia suas expedig6es, e depois, no século VI, na Topografia Crista de Cosmas Indicopleustes. Foi o geégrafo arabe Al-Yakubi (morto em 891) que forneceu a primeira descrigao pormenorizada, com as inevitaveis obscuridades nos topénimos, etnénimos e antropénimos: . Os bedja esto entre o Nilo e o mar (Vermelho). Possuem numerosos reinos, cada um dos quais dotado de um rei distinto. O primeiro reino dos bedja vai das fronteiras de Aswan, tiltimo distrito mugulmano, a sul entre leste ¢ ceste, até ao limite do rio Barakat: dao-lhes o nome de Nakis; a sua capital -112- €Hadjar. [..] No seu pafs, encontram-se minas de ouro, de pedras preciosas € de esmeraldas. Os habitantes vivem em paz com os mugulmanos. Estes empregam-se no pais na explora¢do das minas. © segundo reino bedja cchama-se Baklin, Tem numerosas cidades. A sua religiao parece-se com a dos magos e dos dualistas [maniqueus?]. D4o a Deus o nome de Al-zabahir, ‘© Muito-Alto [Egzia beher: 0 senhor da extensio, deus em gueze] e ao diabo ‘Saha Haraka. Depilam a barba, arrancam-se os dentes da frente e praticam a ircuncisdo. O seu pais é uma regio onde chove. O terceiro reino chama-se Bazin. E vizinho do de Alwa dos ntibios assim como do de Baklin dos bedja ‘aos quais os Bazin fazem guerra. Eles comem cereais. © quarto reino se chama Djarim. Seu rei é temfvel. O seu reino vai de uma cidade chamada Badi, que €0 porto mais notével, até ao rio Barakat dos Baklin [...] E um povo que tem © costume de se arrancar os dentes da frente inferiores e superiores. Dizem eles: em nossa casa, no hé dentes como os do burro. Depilam a barba. O quinto reino chama-se Kata. [...] E vasto. [...] E um povo forte e poderoso. Hé entre eles uma escola de combate, chamada Dar al-sawa, na qual os jovens ¢ dgeis se treinam para a guerra e o combate. (Al-Yakubi, Le Pays, citado por J. Cuog, 1975, pp. 50-51) Te A conjungao das presses sobre o mar Vermelho e sobre os flancos norte e leste do reino de Axum teve comio efeito um duplo deslocamento para o sul, dos homens e a do centro de gravidade do poder politico: ~ Odeslocamento das populagdes para o sul, que é sem dtivida necessério inscrever nos movimentos muito lentos ¢ de muito longa duracio, 6 atestada, entre outros, pelas genealogias que chegaram até nds de algumas familias eminentes da Etiépia. De acordo com a de Tekla Haimanot, monge famoso do século XIII que viveu quase cem anos (ca. 1215-1313), os seus antepassados teriam deixado o Tigré dezoito Beraces antes do seu nascimento (ou seja no comeco do século IX) | para se instalar primeiro em Amhara e depois em Choa. } ~ Quanto ao centro de gravidade do reino cristo, deslocou-se por sua vez para o sul, num primeiro tempo para a regio de Lasta e, muito ‘mais tarde, para o Choa. Longe de ser uma debandada, este movimento tomou antes a forma de uma politica expansionista identificada a um rei, Dignajan, cujo reino no é datado e que é conhecido por ter levado as suas tropas até o Choa. Esta interpretacio é apoiada por dois fatos. O primeiro é 0 testemunho de Al-Yakubi: f Ha em seguida um sexto reino. £ 0 do nidjashi (négus). Trata-se de um vasto pais, de grande reputacio. A sua capital é Kubar. Os arabes af vio habitualmente para fazer comércio. O reino possui cidades importantes; f © seu porto é Dahlak. No pais dos habasha, hi outros reis que estéo sob a | autoridade do rei supremo (nidjashi), jurando-Ihe fidelidade e pagando-Ihe tributo. O nidjashi pratica a religido cristd jacobita. -113- i i

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