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{Gap 52 » PROCESSO OE EXECUGKO DA OBRIGAGKO DE PAGAR QUANTIA CERTA 19 extingio do depésito judicial, Trata-se de decisio interlocutéria recorrivel_ por agravo de instrumento (art, 1.015, pardgrafo nico, do Novo CPC). © § 2. do art. 916 do Novo CPC é bastante feliz, mas a exigéncia de sua existencia diz muito sobre 0 estado caético dos servigos judiciais em nosso pals. Segundo o dispositivo legal, enquanto nao for apreciado o pedido de parcelamento, cabe ao executado depositar as quantias mensais, sendo facultado a0 exequente seu imediato levantamento. Tratando-se de parcelas mensais, a aplicagéo do dispositivo dependerd de auséncia de decisio por pelo menos um més, o que, de tao frequente, teve que ser regulado em lei. E cada vez fica mais perigoso para o executado pedir © pagamento parcelado, pois, além dos 30% que jé ter pago com o pedido, poder depositar parcelas mensais, que serdo levantadas pelo exequente, e depois ter 0 pe- dido indeferido. Quem sabe se o juiz.atrasar seis meses no tenha mais razao em indeferir 0 pedido do executado... 52.2.5. Inadimplemento das parcelas Deferido 0 pedido de parcelamento, & possivel que o executado deixe de realizar 0 pagamento das prestagdes vincendas. Nesse caso, 0 art. 916, § 5°, do Novo CPC prevé que 0 néo pagamento de qualquer das prestacées implicara, de pleno direito, o vencimento antecipado das subsequentes, o imediato reinicio dos atos executivos e a aplicagao de multa de 10% sobre o valor das prestagdes ndo pagas (sangao processual). 0$ 6° do dispositivo ora comentado é expresso em proibir o ingresso dos embar- gos A execugo, mas a vedacdo deve ser entendida nos limites do reconhecimento do direito de crédito do exequente. Significa dizer que os embargos & execusao poderdo ser opostos quando tiverem como objeto matérias referentes a atos processuais que nao digam respeito a0 direito exequendo, tais como penhora incorreta ou avaliagao errénea (art, 917, Il, do Novo CPC). Para parcela doutrinria, tais alegacées poderao inclusive ser feitas por mera petigao, independentemente de embargos”. 52.3. PENHORA 52.3.1. Definigéo e efeitos Por meio da penhora, individualiza-se determinado bem do patriménio do exe: formato 457/51 12 Secs, RESp 1.427-81/57, re Mi, Lz Fu, j 24.112010 Fa, elormo, p. 276 Theodora Jr Paes, n 239, 296:297;Araken de Asi, Manual n. 2291, p66 1268 MANUAL OE DIREITO PROCESSUAL CI = Vue eo ~ Danie Amarin sump Mees Séo causas justficadoras da substituigao: (0) desobediancia & ordem legal prevista no art. 835 do Novo CPC; Al). penhora que néo incide sobre os bens designados em lei, contrato ou ato judicial para (© pagamento; (li) havendo bens no foro da execugéo, outros houverem sido penhorados; (iv) se, havendo bens livres, a penhore houver recafdo sobre bens j penhorados ou objeto de gravame; (se incidir sobre bens de baixa liquide: (Wise fracassar a tentativa de allenacao judicial do bern; (Ul) se 0 executado no indicar 0 valor dos bens ou omitir qualquer das indicagées pre vistas em le Independentemente da presenga de uma das causas legais de substituigao do bem penhorado, concordando a parte exequente com o pedido do executado, o juiz € obrigado a admitir a substituicao™, No ambito da execugio fiscal, 0 Superior Tribunal de Justica entende que a substituigéo de qualquer outro bem por dinheiro ou fianga bancéria néo depende de anuéncia do exequente, podendo ser determinada inclusive sem sua oitiva™®, Nao ha razdes para acreditar que a interpreta¢ao seja diversa em rela¢do a0 art. 835, § 2°, do Novo CPC, entendendo-se que a substituig’o de qualquer bem por fianga bancéria ou seguro-garantia judicial independa de concordancia do ‘exequente’”. Ainda mais como 0 novo dispositivo equiparando essas garantias & penhora em dinheiro, O att. 847, § 3, do Novo CPC exige a expressa anuéncia do cénjuge quando © executado indica bens iméveis para que sejam penhorados no lugar daqueles que ja se encontram constritos judicialmente, A necessidade de anuéncia do cénjuge diz respeito a preocupagao do legislador em oferecer protegao legal a esse sujeito ‘que nio € parte no processo, mas que, podendo ter responsabilidade patrimonial, inda que ndo seja devedor, veré seu patrimOnio afetado pelos atos executivos. A ideia de fundo certamente & a protecdo a0 cOnjuge ndo devedor, que podera softer perdas patrimoniais em raz4o da nova penhora que o executado pretende que se realize, mas o dispositivo legal deixa alguns questionamentos a serem respondidos pelos operadores do direito. Justamente por ser essa a razao ndo se exige a anuéncia do conjuge na hipétese de regime de separacio total de bens, porque nesse caso 0 patriménio ndo pertence 20 cOnjuge néo devedor. Outra questio: imagine-se que 0 cOnjuge concorde com a substitui¢ao do bem penhorado por um bem imével. Significa que nao teré o direito de ingressar com ‘embargos de terceira para garantir sua meagio, demonstranda qne a divida contraida no reverteu em beneficio do casal ou da familia? Seria possivel nesse caso apontar alguma espécie de preclusdo logica, afirmando-se que 20 permitir a substituigio da "5 foematve 26757, 22 Tuma Resp 1.377626. 1 Min Humberto Marin, | 20062013, "Agha no Ag 98A0S6SR 1 Tura rel Min, Denise Auda, )-04.09.2008, "= Mannont Mile, Cig, p. 852; Teco I, Process, 241, p29 Cap. 52 - PROCESSO DE EXECUGKO O AGRO DE PAGAR QUANTUA CERTA 1269 penhora do bem o cénjuge nao devedor perde a oportunidade de insurgir contra 0 ato de constrigio judicial, para preservar sta meagao? A resposta deve ser dada de forma negativa, e por uma razio bastante simples: 1 prechisio s6 gera efeitos endoprocessuais e os embargos de terceiro tém natureze de ago judicial, de forma que jamais um ato praticado no processo de execugio ou fase de execugio no processo sincrético, ainda que aparentemente incompativel do ponto de vista légico com a irresignagio, impediré a sua veiculagio por meio de acdo auténoma, como os embargos de terceiro. E possivel, entretanto, até para se dar alguma utilidade 20 dispositivo legal, afirmar-se existir uma reniincia & mea- ao com a concordancia expressa do cOnjuge ndo devedor na substituigao do bem penhorado pelo imével Conforme previsio do art. 847, caput, do Novo CPC, o executado tem prazo de 10 dias apés sua intimacdo da penhora para requerer a substituigdo do bem penhorado. Para que 0 executado consiga a substituicio, além de cumprir os re- quisitos formais do art. 847, § 1°, do Novo CPC, deve comprovar cabalmente que a substituigdo sera menos onerosa para ele ¢ que ndo traré prejuizos ao exequente. Em respeito ao principio do contraditério, a parte contréria devera ser intimada para, querendo, se manifestar, mas sua resisténcia no impede a substitui¢io se 0 juiz entender preenchidos os requisitos exigidos em lei™: 52.3.9. Penhoras especiais Prevé o art. 855 do Novo CPC que na penhora de crédito do executado o ofi- cial de justica realizara a penhora, sendo intimado o terceiro devedor para que néo pague ao executado, ¢ o executado, credor do terceiro, para que no pratique ato de disposigao do crédito. Apés a intimagao do executado, sera ineficaz seu pagamento direto ao devedor, sendo licito ao credor cobrar o crédito desse terceiro, que serd obrigado a pagar duas vezes, néo obstante possa posteriormente exercer seu dircito de regresso contra 0 executado. ‘No caso de a penhora recair em créditos representados por letra de cimbio, nota promisséria, duplicata, cheque ou outros titulos, 0 titulo seré apreendido, estando ‘ou nao esse(s) titulo(s) em poder do executado (art. 856, caput, do Novo CPC). Nao sendo possivel a apreensio, considerar-se-4 penhorado 0 crédito se 0 terceiro. (devedor do executado) confessar o crédito, a partir de quando ser considerado 0 depositario do valor (art. 856, § 1.°, do Novo CPC). Segundo § 2.° do dispositivo ‘ra analisado, 0 devedor s6 se libera da obrigagio constante do titulo ou que te- nha sido objeto de confissio com 0 depésito em juizo da importancia devida. Se 0 tetceiro negar 0 débito em conluio com o executado, a quitagio que este Ihe der considerar-se- fraude execucio (art. 856, $ 3, do Novo CPC), sendo possivel ao juiz designar audiéncia para tomar os depoimentos do executado € do terceiro, desde que requerido pelo exequente (art. 856, § 4°, do Novo CPC). Condicionar a realizagao da audiéncia ao pedido do exequente contraria o art. 370 do Novo CPC, Marner iidiero, Cig, p. 658; Araken de Assis Manu 2296, p.618. 1270 MANUAL DE Ome ‘que consagra os “poderes” instrutérios do juiz, de forma que, apesar do texto legal, a audiéncia pode ser designada de oficio. Realizada 2 penhora em direito e ago do executado, o exequente tem 0 prazo de der. dias da realizagio da penhora'® para decidir entre a sub-rogagao no direito de crédito penhorado ou a alienacio judicial do direito penhorado. Apesar de o art. 857, caput, do Novo CPC prever que esse direito s6 podera ser exercido quando os embargos nao tiverem sido oferecidos ou rejeitados, tudo dependerd dos efeitos em que 0s embargos sejam recebidos no caso concreto. Como analisado no Capitulo 54, item 54.2.6., 08 embargos a execucao nao tém como regra o efeito suspensivo, de forma que, mesmo estando pendentes de julgamento, os embargos, sem o efeito suspensivo, o direito previsto no art. 857, § 1.°, do Novo CPG, jd deve ser exercido. O art. 857, § 2., do Novo CPC permite que 0 sub-rogado, nao recebendo o crédito, prossiga na execuglo, nos mesmos autos, penhorando outros bens do executado, sendo também legitimo que mantenha a penhora sobre o crédito, passando a preferir a alienagdo judicial”. Parcela da doutrina defende a possibilidade de a penhora de crédito incidir sobre crédito do executado contra o exequente, visando a compensagio, na chamada “penhora de mao propria’. O Superior Tribunal de Justiga entende que a penhora de crédito representado por precatério é regida pelas regras aplicaveis & penhora de crédito, admitindo-se que 0 exequente opte pela sub-rogacéo ou alienacio judicial do direito de penhora, nos termos do art. 857, § 1.*, do Novo CPC, e rejeitando-se a compensabilidade desse crédito com a divida em execugo ou com qualquer outra’™, Se o direito estiver sendo pleiteado em juizo (diretto litigioso), ocorrers o fe- némeno da “penhora no rosto dos autos’, a fim de se efetivar a penhora nos bens que forem adjudicados ou que vierem a caber ao devedor (art. 860 do Novo CPC). Essa espécie de penhora se presta a dar ciéncia ao juizo da demanda em que se discute o direito, evitando-se a entrega do produto de alienacio de bem penhorado diretamente a0 vencedor da acio, considerando-se que esse crédito jé esté penhorado em outra demanda judicial. Se a penhora recair sobre dividas de dinheiro a juros, de direito a rendas, ou de prestagdes periddicas, o exequente poderd levantar 0s juros, rendas ou prestagdes periddicas na medida em que forem depositadas em juizo, realizando-se 0 devido desconto do valor da divida (art. 858 do Novo CPC). Caso a penhora recaia sobre direito que tenha como objeto prestagio ou restituiga0 de coisa determinada, o art. 859 do Novo CPC prevé que o terceiro seré intimado para deposité-la em juizo no ‘vencimento, correndo sobre ela a execucao, O devedor a quem se refere 0 dispositivo legal é o terceiro que tem o dever de prestar ou restituir a coisa determinada, ¢ ndo © executado, frequentemente chamado de devedor pelo legislador™. Recaindo a penhora em estabelecimento comercial, industrial ow agricola, bem como semoventes, plantacdes ou edificio em construgao, 0 juiz nomearé um 5 Barbosa Morea, O novo, p 244 % Greco, O proceso. 2A, p. 332333 1 S11 28 Tuma, Ag o Ag 856574/5, rel Min, Herman Benjamin, 11.082007, 0) 24.102007; EREsp 8704288, 1 Seg, Min, Teo Altino Zavascl 27062007, 0) 13082007, 1 Barbose Mora, O novo, p. 248 1OCESS0 DE EXECUGAO DA OBRIGAGAO DE PAGAR QUANTIA CERTA wn depositario, determinando-lhe que apresente no prazo de 10 dias a forma da admi- nistracio. As partes podem ajustar a forma de administracao e indicar 0 depositario, homologando 0 juiz tal acordo (art. 862, caput ¢ § 2°, do Novo CPC). Sendo executada empresa que funcione mediante concessio ou autorizacio a penhora de seus bens deve ser realizada com particular cuidado porque a atividade de tais empresas representa atividades de responsabilidade do Estado ¢ porque em algumas situagées os bens afetados a seu patrimdnio sio piblicos. Em razio disso, conforme ensina a melhor doutrina, a execusdo se faz em graus™, estabelecendo o art, 863, caput, do Novo CPC, uma ordem de preferéncia para a penhora, Primeiro se prioriza a penhora sobre renda, ja que em regra os bens da empresa pertencem ao poder concedente'. Nao sendo possivel ou suficiente tal espécie de penhora, se passa a penhora de alguns bens determinados da empresa ¢, 86 em ltima instancia, a penhora deve recair sobre todo o patriménio, Concordo com a doutrina que entende que para penhorabilidade, nesse caso, deve ser considerada a natureza dos bens, jé que se 0s bens forem de propriedade dos entes piiblicos concedentes nao poderio ser penhorados. A penhora, dessa for- ma, deve recair exclusivamente sobre bens de propriedade de empresas piblicas sociedade de economia mista e aqueles adquiridos pela concessionéria. Registre-se que a penhora de empresa nao se confunde com a penhora de seu estoque, que serd realizada normalmente, dispensada a aplicagio do art. 862 do Novo CPC. Recaindo a penhora sobre a renda ou sobre determinados bens, deve se observar © disposto em relagao ao regime de penhora de frutos e rendimentos de coisa mével € imével (arts. 867-869 do Novo CPC). A tinica especialidade prevista no § 1° do art. 863 do Novo CPC & que o administrador-depositério, que ficaré responsivel por apresentar a forma de administragao e 0 esquema de pagamento, sera prefe- rencialmente um dos diretores da empresa executado, j4 tendo 0 Superior Tribunal de Justica decidido que cabe ao juiz, no caso concreto, avaliar a conveniéncia de cumprir tal preferéncia ou indicar como administrador-depositdrio pessoa estranha a diretoria da empresa". Quando a penhora recair sobre todo o patriménio, a execucio prosseguiré pelo procedimento comum, ouvindo-se, antes da arrematacdo ou da adjudicagao, 0 ente piiblico que houver outorgado a concesséo. O art. 862, $§ 32 € 4, do Novo CPG, trata da penhora de edificios em constru- fo sob regime de incorpora¢ao imobilidria. O primeiro dispositivo prevé que, nesse caso, a penhora recairé apenas sobre as unidades imobilidries ainda nao comercia- lizadas pelo incorporador. J4 0 segundo prevé as consequéncias do afastamento do incorporador da administragao da incorporagio, hipétese na qual serd ela exercida Ass Manual, 252.777 SU, Tuxma, Rp. 419151/SE rel Min. ute Fu. j 05/11/2002, 03 10.03.2008 MI Wamber ConceigioRibeko-Mell Primes, 1234 "© St), 14 Tura, REsp 736358/5C, re, Min, Denise Arruda, 08.04 2008, Die 2808 208; REsp 450.454/RS, 2° Tura, ‘aL Min, odo Ozivo de Neronk, 1805 2006, D) 01.08.2006, 9 1s 4+ Tuma, RMS 21.11/82 Mn Horio Amaral de Melo Cast, 16/08/2010, ie 29.03.2010 1am MANUAL DE DIRETO PROCESSUAL CVI - Vasu Ono ~ Dani Amor Asm Hees pela comissao de representantes dos adquirentes ou pela instituigéo fornecedora dos recursos para a obra quando se tratar de construcio financiada, quando a comissio de representantes devera ser ouvida, Nos termos do art. 865 do Novo CPC, a penhora de empresa, de outros esta- belecimentos e de semoventes somente serd determinada se nao houver outro meio cficaz para a efetivagao do crédito. Fica claro, quanto ao dispositivo, o objetivo do legislador em colocar a penhora dos bens ora tratados em tiltimo lugar na ordem de penhora, Ocorre, entretanto, que essa realidade s6 pode ser aceita na penhora de empresa, porque nos demais bens tratados pela Subsecio VIII ha previsio a respeito de sua ordem no art. $35 do Novo CPC. Assim, os bens semoventes esto em sétimo na ordem, enquanto os navios e aeronaves estéo em oitavo lugar. A penthora de navio ou aeronave ndo impede que 0 navio continue navegando € a aeronave operando até a data da alienagdo, sendo necessério que, para sair do porto ou aeroporto, o devedor faga 0 seguro usual contra riscos, do que dependerd 2 autorizagao do juiz para a continuidade da atividade desses bens penhorados (art. 864 do Novo CPC). A questio referente ao depositirio nessa espécie de execucao é polémica. A maioria dos doutrinadores defende que o executado, representado de preferéncia por um ou mais de seus diretores!, passa a figurar como depositirio do bem penhorado, assumindo 0s riscos dessa condicéo. Outros entendem que a regra € do administrador depositério indicado pelo juiz, somente admitindo-se 0 executado como depositario em comum acordo das partes". As quotas sociais sio penhoraveis, nao se podendo criar hipdtese de impenho- rabilidade nao prevista em lei, inclusive porque expressamente previstas como classe de bens penhoraveis no art. 835, IX, do Novo CPC, Ainda que esteja expressamente revista no contrato social a impenhorabilidade das quotas sociais, 0 Superior Tribunal de Justiga entende pela penhorabilidade com o correto entendimento de que 0 contrato no pode contrariar a lei", E claro que a aquisigéo das quotas, sociais por terceiro ou pelo proprio exequente nfo transfere a affectio societatis, sendo possivel aos sécios remanescentes promover a dissolucio e liquidacko da sociedade. Justamente para evitar tal ocorréncia, 0s sécios néo devedores tém a preferéncia na adjudicagao dessas quotas sociais, conforme analisado no Capitulo 52, item 52.5.28. Apesar de 0 art. 861 do Novo CPC compor uma Subsegéo que tem como titulo "Da penhora das quotas ou das agdes de sociedades personificadas’, 0 tema nele versado, na realidade, ¢ a expropriagio de tal bem. Afinal, a penhora das cotas se da pelas vias tradicionais, por auto ou termo de penhora, a depender do caso. AAs especialidades previstas pelo art. 861 do Novo CPC dizem respeito a momento posterior & penhora, na utilizagao das cotas sociais penhoradas na satisfaga0 do direito do exequente, = Teodoro, Poco, 234 p, 251, Marion Micra Curso, 66; Barbosa Morea, Onova, . 249, mencionam semen o execute coma depodti, © Geeca, 0 proceso, 825, p 342 “51, 14m, AgRQ no Ag O96. 161/SC rel: Min José Delgade, 11.08.2007. ap. 52 - PROCESSO DE EXECUGAD OA OBRIGAGAO DE PAGAR QUANTI CERTA 1273 A tonica do dispositivo € manter a affectio societatis, 0 que ja era um obje- tivo no CPC/1973, mas com o dispositivo ora comentado ganha novas formas de ser mantida. Tal objetivo fica claro no art. 861, § 2°, do Novo CPC, ao prever que, se houver penhora de acées em sociedade andnima de capital aberto, as agoes serio adjudicadas pelo exequente (na realidade, por qualquer legitimado a adjudicacao) ou alienadas em bolsa de valores. Ou seja, serio expropriadas pela forma tradicional. Nos termos do art. 861 do Novo CPC, havendo a penhora de quotas ou agies de sécio em sociedade simples ou empresitia, o juiz fixard um prazo ndo superior a trés meses para que a sociedade apresente balango especial na forma da lei, ofereca as quotas ou ages aos demais sécios, observado 0 direito de preferéncia legal ou contratual e, ndo havendo interesse dos sécios na aquisicéo, proceda & liquidagzo das cotas ou agées, depositando em juizo e em dinheiro o valor apurado, A grande novidade do dispositivo fica por conta da possibilidade de liquidagio das cotas ou agdes penhoradas, uma vez que os sécios nao devedores jé tinham preferéncia na adjudicacao das cotas sociais do s6cio devedor (art. 685-A, $ 4, do CPC/1973)"*. A liquidagdo podera ser conduzida por um administrador judicial, desde que nesse sentido seja requerido pelo exequente ou pela sociedade, que deveri submeter 4 aprovacio judicial a forma de liquidacao (art. 861, $ 3.*, do Novo CPC). Apesar de o caput do artigo ora comentado prever um prazo nio superior a trés ‘meses, no caso da liquidacio das cotas € acées, 0 § 4.° permite um prazo superior, desde que: (1) o pagamento nessas circunstancias supere o valor do saldo de lucros, ou reservas, exceto a legal, e sem diminuigio do capital social, ou por doagio; ou (II) coloque em risco a estabilidade financeira da sociedade. HA uma alternativa a liquidagao prevista no art. 861, § 1%, do Novo CPC: a aquisigdo das cotas ou ages pela propria sociedade, sem reducio do capital social € com utilizagio de reservas, para manutengio em tesouraria, Apesar de tantas especialidades, nao esti descartada a possibilidade de aliena- fo pela via tradicional do leiléo judicial. Nesse sentido, o art. 861, § 5., do Novo CPC ao prever essa forma tradicional de expropriagao na hipstese de nao haver aquisigio pelos s6cios ndo devedores nem pela sociedade e a liquidagio se mostrar excessivamente onerosa para a sociedade. Aspecto elogiével do Novo Cédigo de Processo Civil ¢ ter afastado o nome “usufruto” para designar fenémeno que nem proximamente lembrava o fenémeno de direito material pelo qual era indevidamente chamado. Afinal, valer-se de frutos e rendimentos para saldar o crédito mais parece uma antictese do que um usufruto'™, Entretanto, como sempre apontou a melhor doutrina, apesar de mais assemelha- do com a anticrese, 0 instituto processual ora analisado com esta no se confundia, considerando as evidentes diferengas entre os fendmenos juridicos. Por isso, deve ser elogiado o legislador por nao ter trocado 0 “usufruto” por “anticrese’, porque nesse caso, apesar de melhor, 0 nome continuaria equivocado, 551) 3 Tura, RESp 12787157, rel Min. Nancy Anérighj. 11062013, Dle 18.06.2013. "= Batbore Morera, O novo, p 255; namarca, nutes, v Wp. S86: Greco, O process, p 428 1274 [MANUAL OF OVRETO PROCESSUAL CNL Vue Une ~ Dol! Amorim Aes Neve © novo nome dado peta legislador é “penhora de frutos e rendimentos de coisa mével ou iméve!’, No entanto, 0 nome nao é 0 mais apropriado, considerando que 10s frutos ¢ rendimentos nao sio utilizados para garantir o juizo, e sim para satisfazer © direito do exequente. Nesse sentido séo os dois tiltimos parigrafos do art. 869 do Novo CPC, em especial o § 5° ao prever que as quantias recebidas pelo administrador sero entregues a0 exequente, a fim de serem imputadas no pagamento da divida. O § 6. dispoe que 0 exequente dari ao executado a quitacio, por termo nos autos, das quantias recebidas. Nos termos do art. 867 do Novo CPC, o juiz pode ordenar a penhora de frutos € rendimentos de coisa mével ou imével quando a considerar mais eficiente para 0 recebimento do crédito e menos gravosa ao executado. Nao é facil a tarefa de analisar cesses requisitos de forma abstrata, considerando-se que as circunstancias previstes pelo dispositivo ora analisado dependerao essencialmente da anélise casuistica do juiz no caso concreto, na qual seré levada em conta uma série de fatores. Um aspecto, entretanto, é essencial para que essa espécie de penhora seja admitida, porque sem ele nao fard qualquer sentido essa forma de expropriagdo: 0 bem penhorado devera ter aptidao para, com certa probabilidade, gerar frutos ¢ rendimentos em tempo razoével ‘em termos de satisfagao do direito do exequente. De nada adianta a penhora sobre bem incapar. de gerar frutos ¢ rendimentos, como também nio se deve admitir a penhora na hipétese de tais frutos e rendimentos serem de valor insignificante para ‘05 fins da execugio, 0 que tornaria 0 processo eterno! © art. 868, caput, do Novo CPC prevé que sendo ordenada a penhora ora analisada, o juiz nomearé administrador-depositario, que seré investido de todos 0s poderes que concernem & administragao do bem e a fruigao de seus frutos € utilidades. O art. 869, caput, do Novo CPC permite que figure como administrador- -depositirio tanto 0 exequente quanto 0 executado, desde que haja acordo entre les. Havendo divergéncia, a escolha recairé sobre profissional qualificado para 0 desempenho da fungio. Entendo que caiba ao administrador-depositério a cleboragdo prévia dos frutos ¢ rendimentos do bem penhorado, calculando o tempo necessério para 0 pagamento da divida, Registre-se, desde j4, que esse célculo é meramente estimativo, somente para que se tenha uma ideia aproximada do tempo que sera necessario & satisfacio do direito, nao sendo, portanto, um célculo que determine de pleno direito o fim da medida executiva"™. Essa provisoriedade é natural porque é impossivel prever 0 futuro, de forma que fatos e atos supervenientes ao célculo fogem completamente de seu controle. Trata-se, a meu ver, da forma de administrago que o administrador deve submeter & aprovacao do juiz, nos termos do § 1° do art. 869, do Novo CPC, mesmo dispositive que prevé a exigéncia de que o administrador preste contas periodicamente. Registre-se que, nesse momento processual, sera possivel a0 juiz revogar o deferimento da espécie de penhora ora analisada, caso perceba que, pela projecdo apresentada pelo perito, essa ndo é - como pareceu a primeira vista - a forma de expropriagdo mais conveniente no caso concreto. 1 Gren, POC, B 426427: raken de Assis, Manual 3311. . 797 1 Barbosz Morera, O novo, p 257; Cima, Lies, p. 334 ap. 52 - PROCESSO De EXECUGAO DK OBRAEAGAO DE PAGAR QUANTIACERTA 1275 Deferindo-se 0 pedido de penhora de frutos ¢ rendimentos de coisa mével ou imével, o executado perde 0 gozo do mével ou do imével, até que o exequente seja pago do principal, dos juros, custas e honordrios advocaticios. Essa regra, prevista no art, 868, caput do Novo CPC, demonstra de maneira clara a temporelidade dessa forma de expropriagio, que devera seguir tio somente pelo tempo necessério para a satisfagdo do direito do exequente. Dessa forma, sendo retirados frutos e rendi- mentos mensalmente do bem penhorado, no momenio em que o valor exequendo estiver totalmente quitado, a medida tera exaurido seus efeitos, sendo levantada a constrigao judicial sobre o bem do qual se retirou durante certo lapso temporal os fratos e rendimentos, © momento inicial de eficécia perante terceiros foi ampliado pelo art. 868, § 1, do Novo CPC, ao prever, além da publicacio da decisio que conceda essa for- ma de expropriagao (j4 constante do art. 718 do CPC/1973), a avetbagao no oficio imobilidrio, na hipotese de rendimentos provenientes de imével. Nesse caso, cabe a0, exequente providenciar a averbagao no oficio imobilidrio mediante a apresentacio de certiddo de inteiro teor do ato, independentemente de mandado judicial, nos termos do § 2 do artigo ora analisado. Estando o imével arrendado, o inquilino pagaré o aluguel diretamente ao usuftu- tudrio, sendo logico que esse sujeito, terceiro alheioa execucao, deverd ser devidamente intimado para que passe a realizar o pagamento diretamente ao administrador ou, na auséncia dele, na pessoa do exequente (art. 869, § 3°, do Novo CPC). Para parcela da doutrina, ja estando locado o imével, seria hipdtese de dispensa da pericia pelo juiz, porque bastaria um célculo meramente aritmético para aferir quantos meses de aluguel “desviados" ao exequente seriam necessérios & sua satisfacdo”. © exequente beneficiado pela espécie de penhora ora analisada podera celebrar locagdo do bem mavel ou imével, desde que seja antes ouvido o executado, sendo {que no caso de discordancia da proposta oferecida caberd ao juiz resolver o impas- se no caso concreto, por meio de decisao interlocutéria, recorrivel por agravo de instrumento (art, 869, § 4°, do Novo CPC). E natural que se permita ao exequente a indicagao de interessados em locar 0 bem penhorado, até mesmo porque disso poderé depender o recebimento de frutos e rendimentos pretendido nessa forma de satisfagao do direito. Da mesma forma, € natural que se ouga o executado, para que se evite a celebracdo de um contrato de locacdo extremamente prejudicial, que © colocaria vinculado Aquela medida executiva por um longo lapso de tempo. Isso sem mencionar a possibilidade de eventuais fraudes do exequente com terceiros, que poderiam perpetuar uma medida executiva por tempo indevido, em nitido prejuizo do executado e do principio da menor onerosidade. 52.4. AVALIAGAO A avaliagdo prevista nos atts. 870 ¢ 875 do Novo CPC se presta a indicar um valor econémico ao bem penhorado, tendo grande importincia para 0 seguimento da execugao por quantia certa, Dependendo do valor obtido com a avaliagzo, seré 15 Conta Machado, Cd, p. 125% Searpinla Bsene, Cg, p. 2.027

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