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‘Sequazcia de Busby Berkeley em Gold-Diggers of 1933 tarefa de comparar autor com autor. Hi ume série de problemas es- Peelficos que sobresssem: a relacio de Donen com Kelly ¢ Arthoy Fenn 08 filmes de Boeticher fora do ciclo Ranown, a relagio entre Wits © Toland (e — talves mais importante ainda — Wyle), ce qyinet de Sirk fore de cicta Ross Hucior, a Wdantidads enacts de Nast ou Wellman, a decifrapéo de Anthony Mana. Além disse ngs I qualquer razio que imacca a eplicagio da teoria de autor ao cinene inglés, que ¢ totalmente amorto, sem classiicac e sem analisar, Nig precisamos de dois ou trés livros sobre Hitchcock © Ford, mas de Irultos. muitos mais. Precisamos de estabelecer comparagdcs com atores de outros campos da eriagio artistica: Ford com Fenimore Cooper. por Sxemplo, ou Hawks com Faulkter. A tarefa a que of criticos dos Cahiers du Cinéma se dedicara rr Silene se dedicaram esté muito longs de ser 16 3. A semiologia do cinema Nos anos mais recentes surgiu um interesse erescente pela semiio- logia do cinema, pela questio de saber se € possivel dissolver a crl- tica ¢ a estética cinematogréfices numa provincia da ciéncia geral dos signos. Tomou-se cade vez mais claro que as teorias tredicionais da linguagem e da gramética cinematogrificts, que se desenvolveram espontancamente ao fongo dos anos, neccisitam ser reexaminade relacionadas com a discipline estabelecida que ¢ a lingufstica. Se se vai utilizar 0 concelto «linguagems, deve-se fazé-lo de modo rigoroso € néo como uma mera metéfora solta, muito embora sugestiva. O ebate que surgiu em Franga ¢ na Itélia & volta dos trabalhos de Ro- land Barthes, Christian Metz, Pier Paolo Pasolini e Umberto Eco aponta nessa direccio. . © impuiso principal que esta por deteis da obra destes criticos ¢ semidlogos provém da Cours de Linguistique Général, de Ferdinand de Saussure. Apés a morte de Saussure, em 1913, 0s seus alunos iniciais na Universidade de Genebra coligiram e conferiram as linkas sgerais das suas intervenges nas aulas € os apontamentos propcios, sintetizando-os numa forma sistemética que foi publiceda em Genebra em 1915, No Cours Saussure previu uma nova citncia, a ciéncia da semiologia: Uma cigncia que estude a vida dos signes na sociedade é conceblvel; seria parte da psicologia social e, eonsequen- temente, da psicologia geral; chamar-lhe-ei semialogéa (do rego semelom Signo»), A Semiologia mosiraria o que uy i i constitui os signos, que leis os governam. Uma vez que « cigncia ainda nfo existe, ninguém poderd afirmar o que vied 4 ser; mas tem direito « existir, 2 um lugar antecipadamente elimitado. A linguistica ndo é sendo parte da eiéncia geral Ge semiologia; as leis descobertas pela semiologia serto aplicdveis & lingulstica. cireunscrevendo-se esta a uma irea ‘bem definida dentro da massa de factos antropoldgicos. ‘Saussure, que estava entusiasmado com as trabalhos de Emile Durkheim (1858-1917) no campo da sociologia, sublinhou a necessi. dade de os signos serem estudados a partit de um ponto de visia so. ial. sendo a linguagem uma instituigfo social que eludia a vontade individual. © sistema linguistic — aquile que hoje se pode chemar -e6digo~ — preexiste ao acto individual da fala, a «mensagem, Por isso. 6 l6gico que 0 estudo da sistema tenha prioridsce. ___, Saussure sublinhou, como princfpio primeiro, a natureza arbitré- Tia do signo. O significance (o som-imagem b-o-i ov b-é-f, por exem- Plo) no tem qualquer ligagio natural com 0 0 significado (6 eanceito cboi-). Para usar o terma de Saussure, 0 signo é «imotivador. Saus- sure mo estava seguro acerca da totalidade de implicagdes que para a emiologia se levantavam devido a natureza arbitrdria do signo ln- guts Quando a semiologia estiver organizada coma ciéncia Surgité @ questéo de saber se inclul ou néo com prepriedade modos de expressio beseados em signos completamente naturais, tais como a pantomima. Supondo que a nova cién. cia thes abre os bragas, a sua preccupagio essencial sera ainda todo 0 grupo de sistemas assentes na erbitrariedade do signo. De facto, todos os meios de expressio utilizados em Sociedade estio bascados, em prinefpio, ro comportamento Colectivo ou — o que vem a dar o mesmo — na convengo, As formulas de tratamento, por exemplo, embora frequen- femente imbuidas de uma certa expressividade natural (Como no caso de um chinés que cumprimenta o imperador curvando-se até a0 solo nove vezes), estio nfo obstante fi- xadas por regras; slo estas regras € nfo 0 valor intrinscco os gestos que obtigam alguém a usé-las. Os signos total- ._ Mente arbitrérios cumprem melhor do que quaisquer outros © ideal do processo semiclégico; & por isso que a lingue- gem, 0 mais complexo e universal de todos os sistemas de cexpressfo, & também 0 mais caracterfstico; neste sentido & linguistica pode tornar-se 0 padrlo-matriz de todos os ramos da semiologia, embora a linguagem seja somente um si tema semiol6gico particular A lingufstica virta a ser quer uma provincia especial da semiolo- gia quer, 20 mesmo tempo, a matriz (le patron général) de outras provincias varias, Todes as provincias, contudo — ou, pelo.menos, as centrais —, viriam 2 ter como objecto sistemas «assentes nx-arbitra- riedade do signo~. Estes sistemas, no caso, mostraram-se diffceis de descortinar, Os aspirantes a semidlogos viram-se limitados a micro- Tinguagens do tipo dz tinguagem dos sinais de tasito, os sistenres de sinalizagio dos bercos, a linguagem de gestos entre os monzes trapis- tas, a linguagem dos fis, varios tipos ce sematoros, etc. Listas miero- linguagens mostraram ser casos extremamente restrtos. capazes de articular um leque semantico muito reduzido, Muitas delas aio eram mais do que formas perasitérias da linguagem verbal propriamente dita, Roland Barthes (ensaista francés nascido em 1915 autor de vérios textos, entre os quais Degré Zero de U Ecriture, Mithologis Le Plaisir du Teste), em resultado das suas investigagdes sobre a line guagem da ioda, chegou a conclusdo que era impossivel escaper A presenga subtil da linguagem verbal. As palaveas introduzem-se em iscursos de outre ordem tanto para determinar uma significaséo am- bigua (por exemplo um rétulo ou um titulo) como para contribuir para realizar uma significacdo de outro modo impossfvel de comunicar (por exemplo as palavras nos balées da bands desenhada). As palavras quer fixam quer veiculam 2 significagao. Somente em casos muito raros € posstvel a existéncia de sistemas nio verbais sem 0 apoio auxiliar do c6digo verbal. Mesmo sistemas altamente elaborados ¢ intelectualizados coma a pintura e a mdsica recorrem constantemente a palavras, particularmente a ur fvel popu lar: cangdes, banda desenhada, cartazes. De facto, seria posstvel es- crever a histéria da pintura como uma fungéo da relagia dindmica entre palavras ¢ imagens. Unia des principais realizagdes do Renasci- mento foi banir as palavras do espago pictorico, E no entanto as pala vras forgaram 0 regresso a cena; reaparecem nas pintucas de El Greco, por exemplo, em Direr, em Hogerth: poder-se-ia dar excmplos sem conta, No séeulo Xx regressaram as palavras para se vingarem. Em imisica, as palavras 86 foram banidas no in{cio do século xvii firm 19 ram-se na épera, na oratéria, nas Céeder. O cinema é outro caso Sbvio gue vem mesmo a propésite. Poucos foram os filmes mudos feitos sem titulas intermédios. Erwin. Panofsky recorda os dies em que ia 29 cinema em Berlim por volta de (910: Os produtores empregavam meios de clarificasdo seme Ihantes 0 que se podem encontrar na arte medieval, Entre les contam-se os titulos ou letras impressos, equivalentes impressionantes dos riaut ¢ arabescos medievais (em data anterior houve mesmo explicadores que diziam, viva voce, “Agora ele pensa que a mulher esté morta mas tal ndo econ. fece- ou «Nio quero ofender as senhoras do piblico mas duvido que alguma delas fizesse tanta pelo fitho-). No Japio, «explicadores* deste tipo constitufram-se em corpora sto, que provow ser suficientements forte para adiar 0 advento do sinema falad. Por fim, Roland Barthes chegs & conclusio de que a semiologt deve ser vista de preferéncia como um rama da lingutstica, em vez da bip6tese contrdra. Isto parece ser uma conclusto desesperada. A par {© acaba por ser assumida como «a mais complexa e universal» que engloba o todo. No entanto a experiéncia cinematogréfica sugere que grande complexidade de significagio pode ser exprimida através de imagens. Assim, para utilizar um exempla ébvio, o livro mais banal ¢ trivial pode ser transformado num filme extremamente interessante e, Segundo todas as aparéncias, significance: a leitura de um argumento & hrabitualmente uma experiéncia érida ¢ estéril quer intelectual quer emocionalments. A implicagto 1 tirar disso é que nfo 36 sistemas exclusivamente «assentes na arbitrariedade do signo» que sio expres sivos e significativos. Os «signos naturaise nilo podem ser postos de Jado com a fecilidade que Saussure supunha, Foi esta exigéneia para a reintegragio do signo natural na scmniologia que levou Christian Metz, tum disefpulo de Barthes, a declarar que o cinema & efectivaments uma linguagem, mas uma linguagern sem unt eédigo (sem uma langue Se quisermos usar 0 termo saussuriano). E uma linguagem porque tem festos; hi um discurso significativa. Mas, ao contrério da lingwagem Xerbal, aio pode ser referida w uit edligo preekistente, A posigio de Meu: envolve-o num nammero considerdvel de problemas que nunca Ultrapasse satisfutoriamente; ¢ forgado a reassumir o conceito de~uma 120 Iraustry and idleness, de Hogarth: palaveas ¢ ares visuais “I6gica de implicagses’ pels qual a imagem se torna linguagem»; cita aprovativamente a posi¢io polémica de Bela Balizs segundo a qual é através de uma «corrente de indugo» que podemos compreender um filme, Nao fica claro, no entanto, se temos de aprender esta gice cu se se trata de algo natural. © € diffcil também ver camo conceitos do sénero de «légica de implicagio» e «corrente de indugo»- podem ser integrados na teoria semiolégica. O que é necessério realizar é uma discussio mais precisa do que se quer dizer com «signa natural» e com a série de vocdbulos como

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