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Gustavo Henrique Ferreira Cavalcante PONTES EM CONCRETO ARMADO Analise e dimensionamento Pontes em concreto armado: andlise e dimensionamento © 2019 Gustavo Henrique Ferreira Cavalcante Editora Edgard Blucher Ltda. 1 reimpressao - 2020 Imagem da capa: iStockphoto Blucher Dados Internacionais de Catalogacao na Publicacao (CIP) Angélica llacqua CRB-8/7057 Rua Pedroso Alvarenga, 1245, 4° andar (04531-934 - Sao Paulo - SP - Brasil Tel.: 55 11 3078-5366 contato@blucher.com.br www.blucher.com.br Segundo o Novo Acordo Ortogréfico, conforme 5. ed. do Vocabuldrio Ortogréfico da Lingua Portuguesa, Academia Brasileira de Letras, marco de 2009. E proibida a reproducio total ou parcial por quaisquer meios sem autorizacao escrita da editora. Cavalcante, Gustavo Henrique Ferreira Pontes em concreto armado : andlise e dimensionamen- to / Gustavo Henrique Ferreira Cavalcante, - S40 Paulo : Blu cher, 2019, 462 peril Bibliografia ISBN 978-85-212-1861-6 (impresso} ISBN 978-85-212-1862-3 (e-book) 1. Pontes de concrete - Projetos e construcdo 2. Engenha- sla civil (Estruturas) 3. Construcao civil |. Titulo. 19-1799 cpp 624.20284 “Todos os direitos reservados pela Editora Edgard slucher Ltda. Indice para catélogo sistematico’ 1. Pontes de concreto armado CONTEUDO Agradecimentos Prefacio Conversao de unidades I Referencial teérico 1 Introducéo Ll — 1.3 ca Definigges ......0..0..00004 Tipos de secdes transversais ..........0... 1.2.1 Seges macigas ..... 60 5540cca0> 1.2.2 Secdes vazadas ....... a 123 SecdesT...........00. 1.2.4 Segdes celulares Sistemas estruturais 1.3.1 Pontes em laje 1.3.2 Pontesemviga........ 1.3.3. Pontes em portico Linhas de influéncia ... 2... .. 1.4.1 Método das longarinas indeslocaveis 1.4.2 Método de Engesser-Courbon . . . . 1.4.3 Método de Leonhardt ........ 1.4.4 Método de Guyon-Massonet-Bares .... . . Aparelhos de apoio elastoméricos Referéncias e bibliografia recomendada . . . . 21 Dimensionamento de vigas ¢ lajes Dimensionamento de armaduras longitudinais . . . . . 2.1.1 Dimensionamento de segdes retangulares . . . . 2.1.2 Dimensionamento de segdes T. . . . an 1 13 15 Pontes em concreto armado: anélise e dimensionamento 2.1.3 Dimensionamento de armaduras de pele . . . 2.2. Dimensionamento de armaduras transversais 2.3 Verificagao de dispensa de estribos ........ eee Referéncias e bibliografia recomendada .. . . . Verificag’o de fadiga 3.1 Ruptura das armaduras longitudinais . . 3.2 Ruptura das armaduras transversais ..... 2... 3.3. Esmagamento do concreto 3.4 Ruptura do concreto em tragio .. 2... Referéncias e bibliografia recomendada Verificagao de fissuracao e flechas 4.1 Formagio de fissuras 4.2 Abertura de fissuras a 43. Flecha eldstica imediata no estédio I... Ls 4.4 Flecha elastica imediata no estadio I... 2.22... eee 4.5 Flecha diferida no tempo... 00.2 eee Referéncias e bibliografia recomendada . . . . . Anélise de efeitos de segunda ordem 5.1 Nao linearidades .........- 5.2. Efeitos de segunda ordem 5.2.1 Efeitos globais de segunda ordem - . . - 5.2.2 Imperfeigdes geométricas ....... . - 5. 2.3. Bfeitos locais de segunda ordem neias e bibliografia recomendada Ref Dimensionamento de pilares 6.1 Flexao composta normal 6.2. Flexdo composta obliqua . 6.3 Momentos fletores minimos de primeira ordem 64 Detalhamento..... : 6.4.1 Coeficientes de seguranga para pres exbeltos 6.4.2 Dimensdes minimas — 6.4.3 Diémetros e taxas de ago minimos . . . 6.4.4 Armaduras transversais 6.4.5 Protegdo contra flambagem das barras . Referéncias e bibliografia recomendada . Dimensionamento de aparelhos de apoio 7.1 Verificacéio de deformagio por cisalhamento . . 7.2 Verificaciio das tenses normais . Lee 73. Verificago das tensdes de cisalhamento.......--....-- . 124 . 133 - 148 70 15 76 79 79 85 87 88 89 91 92 97 99 101 . 105 107 107. 108 110 115 135 . 135 . 141 148 148 149 149 150 =o ai 153 154 .. 155 . 157 7.4 Verificaciio dos recalques por deformagéo. . . . 7.5 Verificagao de espessura minima e estabilidade : 7.6 Verificagfio de seguranga contra o deslizamento .... . . 7.7. Verificagao de levantamento da borda menos carregada . 7.8 Verificag&o das chapas de ago............ : Referéncias e bibliografia recomendada... 2.20.0... Il Anilise e dimensionamento da ponte 8 Caracterizagdo geométrica e fisica da ponte 8.1 Propriedades fisicas dos materiais.............05 8.2 Caracterizacao geométrica da ponte Referéncias e bibliografia recomendada . . . 9 Ades e combinagées 9.1 Cargas permanentes . o O2 Capel ge 607 9.3. Canga de frenagem e/ou aceleragio . . 9.4 Cargade vento... ... 0... 00s Lecce 9.5 Estados-limite . . 9.5.1 Estado-limite dltimo ...... 9.5.2 Estado-limite de servigo 9.5.3 Combinacées de agdes Referéncias e bibliografia recomendada . . 10 Dimensionamento das lajes 10.1 Dimensionamento a flexdo simples . 2.2.2.2... . 10.1.1 Obtengio dos esforgos . . . 10.1.2 Dimensionamento no estado-limite dltimo .. . . 10.1.3 Verificagao de fadiga . 10.2 Dimensionamento quanto as forcas cortantes 10.2.1 Obtengiio dos esforgos . . . . 10.2.2 Resumo dos esforgos cortantes 10.2.3. Verificacdo de dispensa de estribos 10.3. Verificagdes nos estados-limite de servico « 10.3.1 Flecha eléstica imediata .. . . 10.3.2 Formagao de fissuras..... . 10.3.3 Abertura de fissuras ..... 10.3.4 Flecha imediata no estadio II. 10.3.5 Flecha diferida no tempo Referéncias e bibliografia recomendada . . 11 Dimensionamento das defensas Conteido 7 .. 19 .. 159 . 160 . 161 . 162 . 163 165 167 . 167 .. 168 . 173 175 rs .. 177 .. 181 « 182 oa 189 .. 190 .. 190 .. 191 - 196 199 . 199 - 225 8 Pontes em concreto armado: andlise e dimensionamento 11.1 Dimensionamento e detalhamento das armaduras ... . . 11.2 Verificagao de dispensa de estribos . 11.1.1 Combinagées iltimas exe epcionais 11.1.2 Dimensionamento das armaduras . 11.1.3 Detalhamento das armadi juras 11.2.1 Combinagoes tltimas excepcionais 11.2.2 Verificacio de dispensa de estribos . . Referéncias e bibliografia recomendada . . 12 Dimensionamento das transversinas 12.1 Obtengiio dos esforgos internos solicitantes . . 12.2 Dimensionamento no estado-limite tltimo 12.2.1 Combinagées tltimas nor 12.2.2 Dimensionamento das armaduras longitudinais 12.2.3 Dimensionamento das armaduras transversais . mais 12.3. Verificagdes nos estados-limite de servigo . 12.3.1 Flecha elastica imediata no estadio I . 12.3.2 Formagio de fissuras . . 12.3.3 Flecha diferida no tempo Referéncias e bibliografia recomendada .. . . . 13 Dimensionamento das longarinas 13.1 13. i 13.4 13.5 Obtengao das reagoes de apoio 13.1.1 Cargas permanentes .. . . 13.1.2 Carga movel .... Obtengdio dos esforgos internos soli 13.2.1 Cargas permanentes . . 13.2.2 Carga mével 13.23. Resumo dos esforgos internos solicitantes. ite tltimo . . 13.3.1 Dimensionamento das armaduras negativas . . . . 13.3.2. Dimensionamento das armaduras positivas Dimensionamento no estado-limi 13.3.3. Dimensionamento das armaduras de pele 13.3.4 Dimensionamento das armaduras transversais . . . Verificacio de fadiga . . 13.4.1 Verificagao das armaduras negativas 13.4.2 Verificagao das armaduras positivas 13.4.3 Verificagéo das armaduras transversais . . . 13.4.4 Verificagaio de esmagamento do concreto 13.4.5. Verificagao de ruptura do concreto em tragao.« Verificacdes nos estados-li 13.5.2 Formagao de fissuras . 13.5.3 Abertura de fissuras . mite de servigo 13.5.1 Flecha eldstica imediata . . - 269 . 315 - 250 . 252 265 . 308 Conteiido 9 13.5.4 Flecha imediata no estadio IT . 320 13.5.5 Flecha diferida no tempo 325 Referéncias e bibliografia recomendada . . 326 14 Dimensionamento dos aparelhos de apoio 329 14.1 Obtengiio dos esforgos . . 330 14.1.1 Forcas verticais . . 330 14.1.2 Rotagdes . 2.0.2... eee . 331 14.1.3. Forgas horizontais : 333 14.2 Verificacdes dos aparelhos de apoio... 2.0.0... » 335 14.2.1. Verificagao de deformagao por cisalhamento . 335 14.2.2 Verificag&o das tensdes normais . . . . 336 14.2.3 Verificacao das tensdes de cisalhamento 337 14.2.4 Verificagdio dos recalques por deformagio . . . 338 14.2.5 Verificacio de espessura minima e estabilidade 338 14.2.6 Verificagio de seguranga contra deslizamento 339 14.2.7 Verificacio de levantamento da borda menos carregada . 339 14.2.8 Verificaciio das chapas de ago . . 340 Referéncias e bibliografia recomendada . . . . 341 15 Dimensionamento dos pilares 343 15.1 Obtengao de esforgos e combinagées 343 15.1.1 Efeitos globais de segunda ordem . 346 15.1.2. Efeitos locais de segunda ordem . 351 15.2. Dimensionamento das armaduras longitudinais 353 15.3. Dimensionamento das armaduras transversais 356 15.4 Protegdo contra a flambagem das barras 357 Referéncias e bibliografia recomendada . . . . 357 A Tabelas de flechas e rotagdes 359 B Tabelas de Leonhardt 361 C Tabelas de Riisch 367 D Tabelas de flexdo composta normal 409 E Linhas de influéncia de longarinas isostaticas 417 F Lajes com continuidade 423 G Transversinas acopladas ao tabuleiro 441 i Exercicios propostos 451 ii Projetos propostos 459 AGRADECIMENTOS Agradeco aos meus pais Ernesto ¢ Vilma e ao meu irmfo Ernesto Filho por todo 0 apoio fornecido ao longo do tempo e sem eles nfo teria a formaciio necessaria para escrever este material. Pela dtica académica, os professores Gustavo Henrique Siqueira, Aline da Silva Ramos Barboza e Luciano Barbosa dos Santos foram essenciais para minha forma- co, assim os dedico um agradecimento em especial. Os grandes amigos que fiz du- rante meu perfodo de graduagao e pés-graduagao na Universidade Federal de Alagoas e Universidade Estadual de Campinas (RELab), estes tornaram essa jornada mais agradavel e mais rica em conhecimento, muito obrigado pelos auxilios nas correcées ¢ sugestées. Agradeco a Engenheira Andreia Fanton pelas intimeras revisdes no texto ao longo destes tiltimos meses. Profissionalmente, agradeco aos Engenheiros Daniel Almeida Tenério, George Magno Bezerra Peixoto e José Denis Gomes Lima da Silva pelas intimeras orientagdes durante meu aprendizado enquanto projetista de estruturas. Campinas, maio de 2019 Gustavo Henrique Ferreira Cavalcante i PREFACIO Cada vez mais convencida de que fiz a escolha certa quando decidi ser engenheira civil e, posteriormente, professora do ensino superior na Area de estruturas, confesso que fiquei emocionada e lisonjeada ao receber 0 convite para prefaciar o livro de Gustavo Henrique Ferreira Cavalcante, um dos meus ex-alunos que consegui motivar para a paixdo pelas estruturas de pontes. Sendo hoje na maioria dos cursos de graduacgao em Engenharia Civil uma disciplina eletiva, poucos séio os que se arvoram a cursé-la num momento em que o pensamento principal é ir para o mercado de trabalho. Gustavo nao s6 decidiu pela aproximagao com o tema na graduacio, como também desenvolveu uma dissertagio com o tema “Contribuigao ao estudo da influéncia de transversinas no comportamento de sistemas estruturais de pontes”. Nesse momento, com a paixéo j& em completo enraizamento, ele nos presenteia com a produgao de um texto que muito claramente demonstra a preocupacao em partilhar o que vivenciou com seu aprendizado que, da forma materializada, serviré de apoio a discentes e profissionais que se interessam pela drea de projetos estruturais de pontes, com énfase nas pontes de concreto com sistema estrutural em viga. Materiais bibliograficos como 0 que aqui se apresenta sao escassos no Brasil e por consequéncia limita o conhecimento de uma rea to importante para o progresso de um povo, como ja afirmava o ex-presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt. © livro € dividido em duas partes, sendo a primeira denominada "Referencial te6rico", a qual se inicia com o capitulo de Introdugao onde sio abordadas as defi- nigdes e conceitos basicos para o conhecimento e andlise de sistemas de pontes. Em seguida, sao descritos procedimentos e verificagdes para dimensionamento de armadu- ras, fadiga, materiais e deformagées. Nesse momento, 0 autor intenciona promover a. fixagao de conceitos tedricos e ao mesmo tempo introduzir a aplicagéo pratica desses conceitos. Reforga-se nessa parte a importancia de um aprendizado consolidado de disciplinas bésicas da area de estruturas e sua integragio com o comportamento dos materiais ago e concreto. A segunda parte, denominada "Anélise e dimensionamento da ponte", 6 composta por sete capitulos direcionados pratica das etapas de dimensionamento de elementos estruturais para um sistema de ponte em concreto. Nese momento, 0 autor permite a atuagéo do leitor como projetista de um sistema estrutural cuja utilizacdo ¢ frequente 13 14__ Pontes em concreto armado: analise e dimensionamento em qualquer parte do mundo. Aspectos de dimensionamento ¢ detalhamento de armaduras de pontes capacitam o leitor para o cuidado com as devidas informagies ¢ descrigdes normativas que devem ser obedecidas quando da execugéio de um projeto. ‘Todo o corpo principal do livro é ainda apoiado por uma compilagao de referencias bibliograficas a cada capitulo e ainda sete apéndices que complementam as informa- ges usadas ao longo das aplicagdes de modo a permitir ampliagéio de contetido e conhecimento quando 0 leitor se deparar com aplicagées diferentes das que foram descritas. Trata-se, portanto, de uma referéncia obrigatéria para qualquer iniciante em projeto de pontes, assim como uma referéncia atualizada em conceitos e praticas para aqueles que jé detém a pratica de projeto. Maceié, 15 de janeiro de 2019 Aline da Silva Ramos Barboza, Dra. Professora Titular da Universidade Federal de Alagoas CONVERSAO DE UNIDADES Este espaco tem como objetivo ilustrar as conversdes de unidades usuais empregadas nos dimensionamentos estruturais. Destaca-se que as unidades kgf e tf siio abstragdes criadas na engenharia de estruturas para representar a forga gravitacional gerada por unidade de massa, também conhecidas como quilograma-forca ou tonelada-forga. Por fim, foi empregado simplificadamente que a aceleragao da gravidade é igual a 10 m/s”, Fatores de conversio de unidades Fora ou carga pontual: 1 KN = 100 kgf = 0.1 tf = 1 000 N 1 tf = 10 kN = 1000 kgf = 10 000 N Forga por unidade de comprimento ou carga distribuida linearmente: 1 kN/cm = 10 000 kgf/m = 10 t£/m = 100 000 N/m = 100 kN/m 1 t£/em = 1 000 kN/m = 100 000 kgf/m = 1 000 000 N/m Forga por unidade de area ou carga distribuida em area: 1 KN/cm? = 1 000 000 kgf/m? = 1 000 tf/m?=10 000 000 N/m? = 10 000 kN/m? 100 000 KN/m? = 10 000 000 kgf/m? = 100 000 000 N/m? 100 kgf/cm? = 10 MPa = 0.01 GPa 1 tfem = 0.1 kNm = 10 kgfm = 100 Nm = 0.01 tfm Toma-se como exemplo o célculo dos deslocamentos em uma viga e a forca dis- tribuida linearmente q ¢ igual a 2.7 tfm e é desejado efetuar a conversio para kKNem. Logo, conforme verificado na tabela anterior: 1 kNcm = 0.001 tfm. Posto isto, deve-se dividir a carga por 0.001, gerando assim, q = 2.7/0.001 = 2700 kNem. Ao longo do livro as unidades usuais utilizadas foram em kN e cm, exceto quando indicado. Posto isto, deve-se ter um cuidado especial as conversdes. 15 Parte I Referencial tedérico CAPITULO 1 Introdugao “Denomina-se Ponte a obra destinada a permitir a transposigéo de obstaculos a conti- nuidade de uma via de comunicagao qualquer. Os obstculos podem ser: rios, bragos de mar, vales profundos, outras vias etc.” (MARCHETTI, 2008, p. 1). Nas situacdes em que 0 obstaculo a ser transposto nao tem 4gua a ponte é chamada de viaduto. As pontes tém grande fator de importancia na evolugao da engenharia civil, visto que exigem tecnologias cada vez mais inovadoras ¢ criativas para vencer os desafios im- postos por condigées climaticas, arquitetonicas, geolégicas, logisticas etc. Além disso, relacionam-se diretamente ao grau de desenvolvimento de cidades, sendo indispensé- veis economicamente para diversas situagdes de transporte de pessoas e mercadorias. 1.1 Definigdes Os elementos estruturais que compdem uma ponte podem ser divididos nos compo- nentes listados a seguir, conforme ilustrado na sequéncia Figura 1.1: A superestrutura é formada pelas estruturas principais e secundarias. As princi- pais so compostas pelas pegas estruturais que tém a funcéo de vencer o vao livre, enquanto as secundérias so constituidas pelos tabuleiros, que sio os membros que recebem as agdes diretas das cargas ¢ as transmitem para a estrutura principal. A mesoestrutura € composta pelos aparelhos de apoio e estes fazem a ligaco entre a superestrutura e os elementos de suporte, quais sejam: (a) pilares; (b) encontros; e (c) elementos de fundag&o. Os aparelhos de apoio devem ser dimensionados e 19 20 Pontes em concreto armado: andlise e dimensionamento construidos de forma que apresentem condig6es de vinculagio compativeis com as ligacées utilizadas em projeto. Superestrutura (tabuleiro) Mesoestrutura (aparelho de apoio) strutura (encontro) Infraestrutura (pilar) Tnfraestruura (fundagio) Figura 1.1: Bsquema ilustrativo da composigio de pontes. Fonte: adaptada de El Debs ¢ ‘Takeya (2009). ‘A infraestrutura é constituida por encontros, pilares e elementos de fundagio, es- tes podem ser caracterizados como: (a) sapatas; (b) tubules; (c) blocos superficiais; e (d) blocos estaqueados. Os encontros sao situados nas extremidades e ficam em contato com aterros da via, trabalhando como muros de arrimo e suporte da supe- restrutura. Os pilares encontram-se nos vaos intermedidrios com fungao de apoio da superestrutura. Simplificadamente, a infraestrutura transmitir4 os esforgos proveni- entes da superestrutura para o material com capacidade de carga resistente, neste caso 0 solo ou a rocha. A segio transversal de um tabuleiro de pontes rodovidrias pode ser dividida e caracterizada como a seguir, conforme citam El Debs e Takeya (2009): A pista de rolamento é dividida em faixas e estas compreendem 0 espago de tréfego mais intenso dos automéveis. O acostamento é a regiao adicional as faixas que pode ser utilizado em situagdes emergenciais ¢ deveré seguir com defensas que server como objetos de protegéio em impactos de automéveis. Os passeios destinam-se ao tréfego de pedestres e devem ser protegidos por guarda-rodas que impedirio 0 acesso dos vefculos ao passeio, e de guarda-corpos para prevenir acidentes As defensas sio constituidas por barreiras de concreto ou defensas metélicas. O Manual de Projetos de Obras-de-Arte Especiais (1996) define as barreiras de concreto como sendo dispositivos rigidos, de concreto armado, para protecao lateral de vefculos. Elas devem possuir altura, capacidade resistente e geometria adequadas para impedir a queda do vefculo, absorver 0 choque lateral e propiciar sua recondugiio a faixa de tréfego. ‘As defensas metélicas excercem as mesmas funcées das barreiras de concreto, porém possuem aplicagdes distintas, visto que as metalicas sao utilizadas nas vias de acesso e as barreiras de concreto ao longo da ponte. O Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) recomenda que: Introdugéo 21 As defensas metélicas, dispositivos de protegio lateral nas rodovias, néo fazem parte, propriamente, das obras-de-arte especiais; entretanto, a tran- sigdo entre as defensas metélicas, flexiveis, da rodovia, e as barreiras de conereto, rigidas, das obras-de-arte especiais, deve ser feita sem solugao de continuidade e sem superficies salientes (DNER, 1996, p. 42). E Pista de rolamento =_——_ao sr . 7.00 a 8.00 m i | Acostamento, Faixa Faixa Acostamento | | 3 2.50 a 8.00 m 3.00a4.00m 8.00.00 | 2.50a3.00m_ Defensa Guarda-corpo Passeio Suardaroda Pavimentagao Figura 1.2: Dimensdes ¢ caracterizagSes de elementos que compdem segoes transversais de pontes. Fonte: adaptada de El Debs e Takeya (2009). Outros componentes secundarios também so importantes na caracterizagio de uma ponte, dentre eles, os quais se destacam: a) lajes de transigAo: séo as unidades que realizam a transigéo entre o tabuleiro e a via de acesso a ponte; b) cortinas e alas: sao estruturas que servem de suporte para as la- jes de transicéo em pontes sem encontros, em geral diminuindo os problemas gerados por aterros mal compactados; c) juntas de dilatac&o: so espacos entre elementos estruturais preenchi- dos por materiais com alta capacidade de deformagao e baixo modulo de elasticidade. Para maiores detalhes de membros que constituem uma estrutura de ponte, 0 Manual de Projeto de Obras-de-Arte Especiais (DNER, 1996) traz uma série de reco- mendagées para dimensdes, critérios de dimensionamento, caracterizagéo de cargas, 22 Pontes em concreto armado: anélise e dimensionamento tipos de materiais a serem utilizados e outros aspectos para que se evitem problemas em juntas de dilatacao, lajes de transigao, defensas, guarda-rodas, guarda-corpos etc. Diversas pontes no estado de Séo Paulo encontram-se em manutengio para a criagiio de acostamentos ou novas faixas, pois ocorrem diversos acidentes em pontes que possuem menos faixas que as vias de acesso ou no possuem acostamentos. 1.2 Tipos de segdes transversais 1.2.1 Segdes macigas Sao segdes tipicas de pontes em laje, nas quais se tem um peso proprio clevado, tornando o sistema estrutural pouco eficiente em virtude da baixa relagao do momento de inércia pela drea da seco transversal. A Figura 1.3 aponta segdes macicas tipicas. Sy mereto Pavimentacio Defensa ») a _— Figura 1.3: Secdes tipicas para pontes em lajes macigas moldadas no local: (a) sem balangos; (b) com balangos. Sao pontes comumente executadas em concreto armado ou protendido e de simples execugio. Possuem uma melhor relago custo-beneficio para véios de até 20 m de acordo com O’Brien ¢ Keogh (1999). Enquanto isso, Chen e Duan (2000) alegam que se tornam econémicas em vaos simplesmente apoiados de até 9 m e em vaos continuos de até 12 m. O uso de balangos com espessuras reduzidas melhora o comportamento estrutural, diminuindo o peso do conjunto sem diminuir excessivamente os momentos de inércia, entretanto é uma medida adotada principalmente para melhorar a estética. Em alguns casos, sao utilizados elementos pré-moldados que podem dispensar es- coramentos e aceleram a execugéio da obra, tornando o sistema mais competitivo. O’Brien e Keogh (1999) ilustram um caso de tabuleiro composto por vigas pré- moldadas justapostas com adigio posterior de concreto in loco. Assim, 0 escoramento pode ser dispensado sem comprometimento da estrutura (Figura 1.4). Introdugio 23 ‘Vigns prémoldadas Conereto moldado no local Figura 1.4: Secdes macicas com vigas pré-moldadas. 1.2.2 Segdes vazadas ‘As segGes vazadas apresentam redugao da massa e maior momento de inércia quando comparadas as macigas, sendo executadas em concreto armado ou por sistemas de protensio com pés-tracao. Sao preferfveis em situages nas quais o projetista re- quer espessuras pequenas quando comparadas a outros tipos de segdes transversais. O’Brien ¢ Keogh (1999) caracterizam esse sistema como vantajoso financeiramente para vaos entre 20 me 30 m. Aponta-se como desvantagem a maior complexidade de execugio em relagio as segdes macigas pelos furos ao longo da pega. A Figura 1.5 ilustra uma segéo vazada t{pica para pontes em laje. Figura 1.5: Secdes vazadas para pontes em laje. Fonte: O’Brien e Keogh, 1999. 1.2.3 Segdes T Esse tipo de secao é caracterizado pelas longarinas, que costumam ser: (a) treligadas; (b) em perfis metélicos com secao (Figura 1.6a); (c) em vigas pré-moldadas ou pré- fabricadas em concreto armado ou protendido com segao I ou T (Figura 1.6b); e (d) em vigas de concreto armado ou protendido retangulares moldadas in loco. As lajes apresentam espessuras reduzidas e consolidam a segao, conferindo monoliticidade, uma vez que sdo unidirecionais com o sentido predominante de flexéo perpendicular ao fluxo de automéveis. Sao segSes menos vantajosas estruturalmente que as vazadas, pois possuem mais matéria proximo a linha neutra. O’Brien e Keogh (1999) afirmam que sio mais utilizadas para vaios entre 20 m e 40 m; e Chen e Duan (2000) indicam que séo geralmente mais econdmicas em vaos entre 12 me 18 m. Para vigas pré-fabricadas 24 Pontes em concreto armado: andlise e dimensionamento ou pré-moldadas tem-se 0 peso como limitagao desse sistema. Figura 1.6: Segao para pontes em viga: (a) vigas metélicas; (b) vigas pré-moldadas. a Longarinas metalicas b) Longarinas pré-moldadas Esse tipo de segio transversal apresenta como vantagens: Tonias ¢ Zhao (2007) explanam que as transversinas sio unidades secundérias que atuam, geralmente, sem receber carregamentos principais da superestrutura, mas so dimensionadas para prevenir deformacGes nas secdes transversais dos pérticos da superestrutura ¢ fornecem melhor distribuicio de cargas verticais entre as longarinas, flexibilidade na escolha dos materiais a serem utilizados: possibili- dade de usar vigas em concreto armado ou protendido, em ago ou mistas e lajes em concreto armado ou protendido; flexibilidade na escolha da seco transversal das vigas; possibilidade de utilizacao de elementos pré-moldados, pré-fabricados ou moldados no local, conferindo maior flexibilizagio quanto a logis- tica do canteiro; possibilidade de desprezar 0 uso de escoramentos em determinadas situacdes; facilidade na determinagao dos esforgos, obtendo-se bons resultados com célculos simplificados; execuciio rapida. permitindo que o tabuleiro trabalhe de forma tinica. Tonias e Zhao (2007) declaram ainda que 0 espagamento longitudinal das trans- versinas depende do tipo de elementos primarios escolhido e do comprimento dos vaios, ja a escolha varia com o tipo de estrutura e a preferéncia do projetista. Introdugio _25 Defensa do tipo ay "New Jersey" Pavimentagio b) ‘Transversina Figura 1.7: Seco para pontes em viga de concreto: (a) sem transversinas; (b) com trans- versinas. Algumas desvantagens no uso de transversinas sio: a) aumento do custo; b) aumento do tempo de execucao Isso acontece uma vez que ocorre aumento do consumo de concreto e ago, além de as transversinas geralmente serem moldadas no local, ou seja, reduz-se a velo- cidade da construcio, posto que 6 comum o emprego de longarinas pré-moldadas nesse tipo de secio transversal. Todavia, podem-se executar as transversinas com protensdo posterior, agilizando o processo e gerando maior complexidade no processo construtivo. 1.2.4 Segées celulares Sao extensdes da concepgio de segdes vazadas e possuem alto momento polar de inéreia, conferindo rigidez elevada & torgao com pequena taxa de massa. Tornam-se convenientes para vos superiores a 40 m (O'BRIEN; KEOGH, 1999). Exigem altura suficiente para inspegio e recuperagiio, uma ver que sdo suscetiveis & ocorréncia de patologias internas a secio, que nao seriam vistas externamente. Na prética, surgiram muitos problemas com pessoas morando nesses locais, agravando as patologias. A Figura 1.8 expée a evolugio da concepiio das segdes transversais com redugaio de massa e ganhos na eficiéncia estrutural. A desvantagem desse tipo de segio trans- 26 Pontes em concreto armado: andlise e dimensionamento versal est na maior complexidade de execucéio e produgio das formas, 0 que pode torné-la invidvel em determinadas situagées. a) b) COCGOCOO00 ay d) Ti e) p 9 h) QE “ Figura 1.8: Evolugao das secdes transversais: (a) seco maciga; (b) segéio vazada; (c) seco T; (@) seco T com alargamento da mesa inferior; (e) seco multicelular; (f) segdo multicelular com redugéo de espessura nos balangos; (g) seco unicelular com redugio de espessura nos balangos; (h) seco caixAo treligada. Para estudar a distribuigdo dos esforgos ao longo da segéo transversal nesse tipo de estrutura, simulam-se diferentes posigdes de carregamentos para que seja possivel caracterizar momentos fletores e de torgéio, esforgos cortantes e axiais nas mesas ¢ almas da segdo celular. Schlaich e Scheef (1982) descrevem com maiores detalhes os locais em que ocorrem os maiores esforcos ao longo da seco transversal. 1.3 Sistemas estruturais 1.3.1 Pontes em laje De acordo com Hambly (1991), a superestrutura de pontes em laje 6 composta por elementos estruturais continuos em planos bidimensionais, onde as cargas aplicadas so suportadas por distribuigdes bidimensionais de forgas cortantes, momentos fletores momentos de torc&o. Logo, os esforgos sfio mais complexos que em sistemas usuais Introdugio 27 de barras unidimensionais. Sao sistemas que apresentam boa capacidade de redistribuigéio de esforgos, po- dendo ser lajes continuas ou biapoiadas, macigas ou vazadas. A Figura 1.9 ilustra como esse sistema é caracterizado usualmente. Tabuleiro Gegio maciga ou seco vazada) Aparelho de apoio ELEVACAO SECAO TRANSVERSAL. Figura 1.9: Ponte em laje com segao maciga. O estudo dos esforgos e dos deslocamentos costuma ser realizado por métodos analiticos simplificados ou aproximados por diferengas finitas, analogia de grelha, elementos finitos ou clementos de contorno. As solugdes analiticas so baseadas na teoria de placas na teoria de cascas. A primeira 6 mais simples e reproduz bons resultados. A segunda é mais complexa e considera esforgos horizontais no tabuleiro. Nesse tipo de tabuleiro com apoios nas extremidades, a seco deforma nos sentidos ortogonal e longitudinal a depender da rigidez da secdo, sendo os momentos fletores principais no sentido do trafego, nos quais os esforgos sao transmitidos para os apoios diretamente pela rigidez da seco. Fu e Wang (2015) relatam que os momentos de torc&io devidos as curvaturas em ambos os sentidos séo de pequena intensidade e podem ser desprezados. Como vantagens desse sistema estrutural, citam-se: a) 0 tabuleiro apresenta espessura reduzida quando comparado as pon- tes em viga, ou seja, facilita o fluxo de vefculos ou barcos que possam transitar pela parte inferior; b) é preferivel em algumas situagdes por questdes estéticas, transmi- tindo uma sensagao de esbeletez e leveza; c) 0 sistema construtivo é simples e gil; d) pode ou nao apresentar juntas de dilatacdo; e) os esforgos nos pilares so reduzidos, uma vez que ndo ha transfe- réncia de momentos fletores em virtude do emprego de aparelhos de apoio. 28 Pontes em concreto armado: andlise e dimensionamento Porém, hé algumas desvantagens que tornam esse sistema estrutural pouco efici- ente para grandes vaos: a) possui elevado peso proprio em virtude da baixa relagdo do momento de inércia pela area da segao transversal; b) para vencer véos maiores, torna-se necesséria a introdugdo de segdes vazadas para reduzir 0 peso proprio, porém isso torna a execugéo mais complexa e demorada; c) para sistemas construtivos com elementos pré-moldados ou em ba- langos sucessivos, as aduelas tornam-se muito pesadas, 0 que acaba limitando 0 tamanho dos vos. 1.3.2 Pontes em viga As pontes em viga constituem sistemas estruturais compostos por longarinas com ou sem transversinas servindo como suporte para lajes, que receber&o os carregamentos diretamente. ‘As longarinas se apoiam sobre os pilares sem transmisséio de momentos fletores. Assim, é comum o tratamento da anélise estrutural separando a superestrutura da mesoestrutura e considerando os apoios indeformaveis. A Figura 1.10 exibe os componentes de uma ponte em viga com vigas em segdes I, indicando os aparelhos de apoio. ‘Tabuleiro (secio T ou secio celular) Aparelho de apoio ELEVACAO SECAO TRANSVERSAL Figura 1.10: Ponte em viga com seco T. O dimensionamento dos esforcos e dos deslocamentos das longarinas pode ser realizado analitica ou numericamente pela teoria de vigas, acrescida dos métodos das forgas ou dos deslocamentos para estruturas hiperestaticas. Em andlises numéricas, 6 Introdugio 29 uma pratica geral discretizar as lajes e as vigas como elementos de barras, formando grelhas, ou utilizar soluges em elementos finitos para 0 tabuleiro. Analiticamente, é usual 0 emprego de linhas de influéncia criadas a partir do estudo da variabilidade gerada pela carga mével ao longo da seco transversal nos esforgos das longarinas. Segundo Abreu e Aguiar (2016), uma linha de influéncia re- presenta a variagao de um determinado efeito elastico em uma se¢io de uma estrutura reticulada, devido a uma forga vertical orientada para baixo e unitaria que percorre toda a estrutura. Quando se adotam transversinas intermedidrias, sugere-se 0 uso de métodos que considerem as longarinas como apoios deslocveis, como: (a) Engesser-Courbon; (b) Leonhardt; (c) Guyon-Massonet-Bares e outros. Porém, quando a viga nao possui travamentos intermedidrios, Hambly (1991) sugere a andlise dos esforgos e dos deslo- camentos longitudinais a partir de simples combinacées de vigas, considerando parte da laje como elementos da viga, atuando como mesas superiores (Figura 1.11a). Toda- via, alguns cuidados devem ser tomados ao estudar os deslocamentos transversais nas longarinas, visto que surgem rotagdes que nao sao determinadas quando se considera, a teoria de vigas convencional (Figura 1.11b). Longarinas Figura 1.11: Andlise estrutural de pontes em viga: (a) tratamento do tabuleiro como sendo diversas vigas isoladas; (b) deslocamentos transversais da seco considerando as lajes como barras continuas e as longarinas como apoios indeslocaveis. Fonte: adaptada de Hambly (1991). 30 Pontes em concreto armado: andlise e dimensionamento Destaca-se que esses métodos para tratamento das longarinas podem ser substituf- dos por modelos numéricos mais robustos, como: (a) modelo de portico; (b) modelo de grelha; (c) associagao portico-grelha; (d) método das diferengas finitas; (e) método dos elementos finitos; e (f) método dos elementos de contorno. Para maiores detalhes sobre a aplicagéio em estruturas de pontes, consultar Cavalcante (2016). Esse ¢ 0 sistema estrutural mais utilizado em pontes, uma vez que apresenta as vantagens citadas para seg6es T ¢ celulares, porém costumam ser limitadas em funcao do tamanho do vio, pois precisam de alturas considerveis para as longarinas ou para a segao celular. Além disso, costumam ser executadas com sistemas construtivos pré- moldados e, assim, grandes vios exigem equipaméntos maiores e mais caros, 0 que costuma inviabilizar a sua utilizacéo. Todavia, em pontes com véos pequenos, acaba sendo o sistema mais vantajoso financeiramente pela agilidade e pela simplicidade no dimensionamento e na execucio, além de ser normalmente mais barato quando comparado as pontes em laje. 1.3.3. Pontes em pértico As pontes em pértico diferenciam-se das pontes em laje e em viga por apresentarem ligag6es rigidas ou semirrigidas entre as partes do tabuleiro e dos pilares ou paredes dos encontros. Leonhardt (1979) explica que a extremidade da viga 6 engastada, assim, uma parcela do momento é diminufda pelo momento negativo do engastamento, 0 que conduz a redugao da altura necessaria do vao. FE comum 0 uso desse tipo de sistema estirutural em pontes com tramo ‘nico. A Figura 1.12 expée um exemplo de ponte em pértico, no qual hé um aumento da altura da seco transversal proximo aos pilares. Ligagio monolitica ‘Tabuleiro: SECAO TRANSVERSAL Figura 1.12: Exemplo de ponte em pértico. Introdugio 31 O método de anélise estrutural para esse sistema deve integrar os pilares com a superestrutura, fazendo com que modelos de grelha jé nao sejam vidveis. Para tanto, seriam necessarios modelos de porticos, associacao pértico-grelha ou elementos finitos. © célculo das linhas de influéncia emprega os métodos abordados no t6pico sobre pontes em viga. A Figura 1.13 ilustra casos tipicos de distribuigées de momentos fletores para pon- tes em viga, laje ou portico que podem apresentar rétulas (Figura 1.13a), continuida- des entre tabuleiros (Figura 1.13b) e continuidades com pilares e encontros (Figura 1.13c). Estes podem ser interpretados como casos usuais de tabuleiros pré-moldados quando sao simplesmente apoiados nos pilares e moldados no local ou quando possuem ligagdes monoliticas e continuas com os pilares e/ou encontros. ) aii AAT , iD bs ex! ihe ih Hy = 7 i ]- i i) |) " y | f Figura 1.13: Tipica distribuigao de momentos fletores para pontes em laje, viga e pértico: (a) tabuleiros simplesmente apoiados; (b) tabuleiros continuos nos apoios intermediérios; (c) tabuleiros com ligagées rigidas nos apoios. As ligagdes devem ser executadas para que o desempenho real seja compatfvel com as vinculagées utilizadas no modelo de célculo, sendo comum o uso de aparelhos de apoio para desvincular 0 tabuleiro dos pilares e o emprego de concretagens posteriores entre vigas pré-moldadas para que se tenha ou nao continuidade nas transmissoes de esforcos entre vaos. Porém, em pontes em portico, as ligagdes devem ser realizadas sem aparelhos de apoio, conforme apresentado. Esse sistema estrutural € interessante quando é preciso tornar a estrutura mais rigida e em situagdes nas quais a execugdo possa ser efetuada com concreto moldado no local sem grandes empecilhos. Além disso, as ligagdes monoliticas com os pilares reduzem as flechas no tabuleiro, possibilitando a redugdo da altura. Contudo, é um sistema estrutural cuja execugdo é mais lenta quando comparado as pontes em viga e em laje e nem sempre é vidvel concretar a ligacao do tabuleiro com 0s pilares no local. 32 Pontes em concreto armado: andlise e dimensionamento 1.4 Linhas de influéncia Neste item sao expostos os métodos para obtengao das linhas de influéncia, ferramenta essencial para obtencéo do comportamento estrutural das longarinas ou de estruturas sujeitas a cargas méveis. Neste livro so apresentadas apenas as linhas de influéncia para obtengao das reagées de apoio nas longarinas, todavia podem ser empregadas com 0 intuito de lograr esforgos normais, cortantes e momentos fletores em longarinas, pilares e outros elementos estruturais. 1.4.1 Método das longarinas indeslocaveis Este método considera as longarinas ou apoios indeslocaveis ¢ é bastante didatico e de fécil interpretacdo, porém resulta em valores superiores aos reais. Inicialmente, deve-se definir a seco transversal da ponte e introduzir apoios fixos no centro de gravidade das longarinas e, interpretando-se as lajes como vigas. Por- tanto, uma carga unitéria P ¢ posicionada sobre a segao transversal a uma distancia x da extremidade (Figura 1.14). Pel Lajes H Longarina 1 Longarina 2 b A Ris Ina Figura 1.14: Modelo para obtencao das reagdes de apoio nas longarinas a partir do emprego de linhas de influéncia. As reagées de apoio Riz ¢ Ror indicam os valores obtidos para cada, longarina quando a carga P esta posicionada na distancia 2. Portanto, com os resultados obtides, desenham-se as linhas de influéncia para o niimero de longarinas utilizadas na segdo transversal (Figura 1.15). As fungdes m m representam as linhas de influéncia para as reagdes de apoio nas longarinas do modelo exposto. Posto isso, a carga de interesse é introduzida no ponto desejado ao longo da seo transversal os resultados das reagbes de apoio Ry e Rz sdo introduzidos ao longo do sentido longitudinal da longarina para determinagao dos esforgos (Figura 1.16). Quando se tem apenas duas longarinas, os resultados serdio os mesmos indepen- dentemente do modelo usado, uma vez que o sistema é isostatico. Aparentemente, © processo pode ser dispensado porque os valores maximos sao obtidos em locais de facil visualizagéo. Mas quando se tem mais de duas longarinas, 0 problema fica mais Introdugéo 33 complexo e os resultados nao sao obtidos diretamente sem os métodos descritos neste item. Figura 1.15: Resultados das linhas de influéncia para as reagées de apoio nas longarinas do modelo anterior. Longarinas SECAO TRANSVERSAL, Longarina Apoios VISTA LONGITUDINAL Figura 1.16: Modelo para obtengéo dos esforgos nas longarinas. Na maioria dos casos as longarinas podem apresentar flechas consideréveis, tor- nando os resultados do método das longarinas indeslocaveis menos exatos. Logo, existem alguns métodos simplificados que consideram os deslocamentos verticais das longarinas, dentre eles: a) método de Engesser-Courbon; b) método de Leonhardt; c) método de Guyon-Massonet-Bares. 34 Pontes em concreto armado: anélise e dimensionamento 1.4.2 Método de Engesser-Courbon O método de Engesser-Courbon trata as transversinas com rigidez infinita, tornando as deformacées da segao transversal despreziveis. Segundo Rebougas et al. (2016), isso fez com que o comportamento mecanico do conjunto a flexdo transversal, na regifio das transversinas, ficasse semelhante ao de uma viga deslocando como corpo ido sob apoios elasticos. Essa consideragéo foi criada em virtude das pequenas deformagées eldsticas do tabuleiro quando comparadas as das longarinas. (Figura 1.17). z Rotacio nN Se Ly Figura 1.17: Deslocamento de corpo rigido para uma seco com cinco longarinas. Fonte: adaptada de Reboucas et al. (2016) As restrigdes na geometria da secéio transversal para aplicagio do modelo sao citadas por Stucchi (2006) a) a largura da seco transversal € menor que metade do vio; b) a altura das transversinas ¢ da mesma ordem de grandeza que aquela das longarinas; c) as espessuras das longarinas e das lajes sfio pequenas. Além disso, adotam-se as mesmas hipéteses simplificadoras relativas a teoria de vigas e de acordo com Alves et al. (2004): a) as longarinas sio paralelas, ligadas entre si perpendicularmente por transversinas e possuem segdes transversais com dimensées constan- tes ao longo do comprimento; b) as transversinas esto simplesmente apoiadas nas longarinas e admite- se que possuem rigidez infinita & exo, desprezando-se suas defor- mages em relagiio as das longarinas; c) desprezam-se os efeitos de torgio. Introdugao 35 Assim, obtém-se as reacdes de apoio para cada longarina (Rj) a partir da seguinte formulacao: (1.1) Sendo: i = ntimero da ésima longarina, contada a partir da esquerda; P = carga atuante na secéo transversal com transversina; n = némero de longarinas; e = excentricidade horizontal da carga P em relagéo a0 baricentro da segio transversal, sendo o sentido positive da esquerda para direita; & = distancia entre eixos das longarinas, consideradas igualmente espaga- das. Por fim, obtém-se o coeficiente de repartic&o transversal de cada longarina a partir da consideragio de que P é uma carga unitéria, ou seja, esse valor ¢ uma parcela da totalidade da carga P que é absorvida individualmente. 1 (ee re = — {1 +6 awe n @ Vg (1.2) Em que: Tie = coeficiente de repartigéo de carga da longarina i 1.4.3. Método de Leonhardt De acordo com Rebougas et al. (2016), 0 método desenvolvido pelo alemao Leonhardt nas décadas de 1940 e 1950 6 considerado bastante pratico e de tratamento matemé- tico relativamente simples. Nele, considera-se a flexibilidade das transversinas, ou seja, nao existe a consideragio de’que o tabuleiro é indeformavel. Segundo Neto (2015), Leonhardt estuda o efeito de grelha aplicando a teoria das deformagées eldsticas considerando apenas uma transversina central e supondo as longarinas com momento de inércia constante e simplesmente apoiadas nos extremos. Como no método anterior, as simplificagdes da teoria de vigas também sio vilidas com os seguintes acréscimos, segundo Alves et al. (2004): a) todas as transversinas do tabuleiro so representadas por uma tnica transversina ficticia, apoiada no meio dos véos das diversas longari- nas; 36 Pontes em concreto armado: andlise e dimensionamento b) essa transversina ficticia 6 considerada simplesmente apoiada nas lon- garinas; c) desprezam-se os efeitos de torgéo. O cAleulo da inércia equivalente da transversina central 6 realizado a partir da equagio: Tegt = Kl (1.3) Sendo: Teg, = momento de inércia equivalente da transversina central; I, = momento de inércia da transversina central; K = coeficiente de majoragio do momento de inércia da transversina central O coeficiente K‘ 6 definido de acordo com a Tabela 1.1. Tabela 1.1: Obtengio do coeficiente de majoracio do momento de inéreia da transversina central a partir do namero de transversinas intermediérias. Logo, determina-se o grau de rigidez da grelha. Esse é um parametro que verifica a eficiéncia do conjunto de transversinas intermediérias na distribuigdo transversal dos carregamentos, ou seja, quanto maior o grau, maior € a distribuigao de cargas. Feat Em que: ¢ = grau de rigidez da grelha; I, = momento de inércia das longarinas; L = tamanho do vio das longarinas, consideradas simplesmente apoiadas. Introdugio a) quando a viga principal tem momento de inércia varidvel, 0 célculo dos coeficientes de distribuicao deve ser feito diretamente pelo pro- cesso de grelhas, porém de modo aproximado. O problema poderé ser resolvido multiplicando-se o momento de inércia no centro da viga pelos coeficientes tc ¢ tus b) se existirem mais de duas transversinas intermediarias, substituem- se estas por uma s6 transversina virtual com momento de inércia majorado pelo coeficiente K; c) para as vigas continuas com momento de inércia constante, podem- se utilizar fatores dados em tabelas, permitindo, assim, corrigir os momentos de inércia da viga real, para efeito do uso das tabelas de coeficientes de distribuigao; d) algumas tabelas nao podem ser usadas para casos com longarinas externas mais reforcadas, sendo necessario utilizar dados fornecidos por Leonhardt. 37 Para Neto (2015), ainda existem consideragdes a serem feitas para alguns casos: A partir do grau de rigidez da grelha, obtém-se os coeficientes de reparticao trans- versal do tabuleiro. Estes sio denominados rj, em que o indice j indica a longarina que se est, avaliando,e i, 0 ponto onde est sendo aplicada a carga unitaria. Uma vez ‘obtidos os valores dos coeficientes rj;, as linhas de influéncia e os esforgos so obtidos de forma andloga ao método de Engesser-Courbon. A Figura 1.18 apresenta um exemplo de aplicagao do método de Leonhardt para uma ponte com quatro longarinas. Figura 1.18: Exemplo de aplicagio do método de Leonhardt. Estando a carga P no ponto a: Taa = quinhio de carga de P no ponto a que solicita a longarina a; 33, Pontes em concreto armado: andlise e dimensionamento Tq = quinhdo de carga de P no ponto a que solicita a longarina b; Tea = quinhdo de carga de P no ponto a que solicita a longarina c; aa = quinhéo de carga de P no ponto a que solicita a longarina d. Por equilibrio de forgas, sabe-se que: Toa +Tba + Tea + Tda = 1 1.4.4 Método de Guyon-Massonet-Bares (1.5) O método de Guyon-Massonet-Bares difere dos apresentados até agora pela conside- ragio da torgo nas vigas e por tratar o sistema continuo como uma placa ortotropica. Em harmonia com Alves et al. (2004), sfio admitidas as hipdteses: a) a espessura da placa é constante e pequena em relagiio as demais dimensées; b) as deformacées sfio puramente elasticas e obedecem a lei de Hooke ¢ os deslocamentos sfio pequenos em relagdo a espessura da laje; c) pontos alinhados segundo uma normal a superficie média da laje indeformada encontram-se também linearmente dispostos em uma normal 4 superficie média na configuragio deformada; d) pontos situados na superficie média da laje deslocam-se somente nor malmente a ela; e) em relagao ao material, admite-se que as propriedades elésticas sejam constantes, podendo ser diferentes nas duas diregdes ortogonais. Considera-se que o espagamento entre longarinas e transversinas é suficientemente pequeno para que o sistema se assemelhe a uma placa. Assim, o tabuleiro composto por laje, longarinas e transversinas € substitufdo por uma placa ortotrépica equiva- lente (Figura 1.19) sistema equivalente seja aproximada por meio da expresso: »(@) = psen (22) Em que: p(2) = fungao senoidal do carregamento distribuido; p = valor maximo do carregamento distribuido; x = distdncia longitudinal, partindo de uma borda. Alem disso, admite-se que qualquer distribuigio de carregamento ao longo do (1.6) Introdugao __39 > p(x) = p sent wx / L) Figura 1.19: Simplificagio do carregamento distribuido para tabuleiros com (a) larguras finitas; (b) larguras infinitas. Fonte: adaptada de San Martin (1981) ‘A partir dessas consideragées, logra-se a formulagao de superficie elastica para uma placa ortotrépica equivalente: Pu len) +20 Ving gu (ay) + oy 2qwley)=rlas) (17) Papa (sy) + 2 VPsPi5 8 yy) + Pvp ae (my =pl(zy) 5 Sendo: Px = vigidez a flexiio das longarinas; py = rigidez a flexao das transversinas; = parametro de torcao; w (x,y) = fungao que representa os deslocamentos eldsticos. Os parametros podem ser obtidos a partir das equagées: 2h = (1.8) _ El Pu= (1.9) Pa + Py (1.10) 40 Pontes em concreto armado: anAlise e dimensionamento Sendo: L; = comprimento das transversinas. Utiliza-se uma carga P para simular a carga linear senoidal e é aplicada a premissa de que a seco transversal possui diversas longarinas, propondo, assim, a solugio do sistema andlogo a uma viga apoiada sobre base eléstica (Figura 1.20). P e Situacao indeformada a 4 i Figura 1.20: Transversina sobre base elastica. Fonte: adaptada de Reboucas et al. (2016). Obtém-se entiio a equacio: at Pat a OO pyr u(y) =0 (1.1) Sendo: v(y) = fungao do deslocamento vertical da viga. Observa-se que a solugéo do sistema com uma viga apoiada sobre base eléstica com wma carga concentrada é semelhante A solucio de uma viga simplesmente apoiada sobre base elstica com médulo de recalque (19): — fat Ho = OTA (1.12) Logo, calculam-se os indices de repartigéo transversal (yy) a partir da solugdo da equagao da superficie elastica da placa ortotrépica equivalente, utilizando tabe- las propostas pelos autores. Para isso, determinam-se os seguintes parametros na continuidade: a) coeficiente de travejamento (6), definido na Equagao (1.13); b) parametro de torg&o (y), definido na Equagao (1.10); c) posigao da carga, definida por sua excentricidade (e); 4) pontos situados na superficie média da laje sfio deslocados apenas na diregio normal a ela; ©) posigao da viga da qual se quer conseguir os indices de repartigao transversal. Introdugéo 41 O coeficiente @ é dado por: rf= (1.13) Enfim, com os valores dos coeficientes de distribuicao de cargas, podem-se tragar as linhas de influéncia e, assim, determinar os esforgos ¢ os deslocamentos correspon- dentes. Além desses métodos, existem outros como: (a) método de Homberg-Trenks e (b) método de Fauchart, descritos em Alves et al. (2004) e Stucchi (2006), respectiva- mente. Além desses, sugere-se a leitura de San Martin (1981). EXEMPLO 1.1: Dada a seco transversal a seguir, calcule e desenhe as linhas de influéncia a partir dos métodos: a) longarinas indeslocaveis; b) Engesser-Courbon; c) Leonhardt. Considere que o vao é biapoiado e possui comprimento igual a 30 m ¢ as transver- sinas possuem largura igual a 20 cm e s&o espagadas a cada 15 m. Ao final, compare e discuta os resultados. 160, Rae lg 80. by 307 4 Longarinas ‘Transversinas I §-324 I &-824 L &-324 324 Cotas em centimetros Figura 1.21: Geometria da secao transversal. SOLUGAO: Inicialmente, precisa-se desenhar o modelo estrutural (Figura 1.22) constituido pelas lajes (elemento de barra) e pelas longarinas (apoios) e introduzir os eixos de referéncia, sendo Ri, Ro, Rg, Ry e Rs as reagdes de apoio nas longarinas para a carga unitaria P. Posto isso, é possivel observar que 0 eixo de referéncia e utilizado para o método de Engesser-Courbon Equacio (1.1) € calculado em fung&o do eixo x por meio da Equacio (1.14), sendo expresso em centimetros. 42 Pontes em concreto armado: andlise e dimensionamento tn &324 te &324 ‘es &324 tes £324 le 705 L 705 | Cotas em centimetros Figura 1.22: Modelo estrutural para obtengio das linhas de influéncia. a) Método das longarinas indeslocaveis: calculam-se as reagdes de apoio para alguns pontos espectficos conforme ilustrado na tabela a seguir. Destaca-se ainda que o sistema é hiperestatico, sendo necessério utilizar 0 método das forgas, 0 método dos deslocamentos, o método dos trabalhos virtuais ou alguma ferramenta computacional como 0 FTOOL, por exemplo. Apesar da hiperestaticidade, como as lajes possuem espessuras e propriedades fisicas constantes, qualquer valor obtido para rigidez dos elementos apresentaré os mesmos resultados. Apos a determinagiio das reagdes para os pontos descritos na Tabela 1.2, estes so tragados para cada longarina e ligados por curvas, sendo estas simplificadas por retas e calculadas a partir de equacdes do primeiro grau. ‘Tabela 1.2: Obtengio das reagdes de apoio pelo método das longarinas indeslocaveis para uma carga unitaria com posigao varidvel. Posigao (m) 0.57 2.19 3.81 5.43 7.05 8.67 10.29 1L91 13.53 14.1 A Figura 1.23 ilustra os resultados das linhas de influéncia para as reagdes de apoio das longarinas Ry, Ry e Rg, sendo as reagdes Ry e Rs similares a Ry e Re, porém espelhadas. Introdugio 43 (®) =-0.25x + 0.94 oe 500 - [C= oo] (1.22) Utilizando o valor de ¢ na tabela com 5 longarinas exposta no Apéndice B, encontram-se os valores na continuidade. Tabela 1.3: Obtenco das reagdes de apoio pelo método de Leonhardt para uma carga unitaria com posigao varidvel. Posigdo « (m) 0.57 0.2 3.81 0.0 7.05 0.2 10.29 04 13.53 0.6 A Figura 1.25 expée os resultados das linhas de influéncia para as reag6es de apoio das longarinas pelo método de Leonhardt. Avalia-se que os métodos de Engesser- Courbon ¢ Leonhardt apresentam valores bastante inferiores ao método das longarinas indeslocaveis, ou seja, para este caso a deformabilidade do tabuleiro acaba reduzindo as reagbes, gerando resultados mais econdmicos. Além disso, os métodos de Engesser- Courbon e Leonhardt apresentam valores similares pelo fato de o parametro ¢ ser muito alto e considerado infinito para o uso das tabelas. Por fim, 0 método das longarinas indeslocdveis s6 deve ser empregado na pratica em tabuleiros com 2 longarinas, em razao de o sistema ser isostatic e apresentar os mesmos resultados independentemente do modelo analitico utilizado. 1.5 Aparelhos de apoio elastoméricos “O termo ligacdo € aplicado a todos os detalhes construtivos, os quais promovam a unio de partes da estrutura entre si ou a sua jungdo com elementos externos a ela” (GBCA, 2003). Assim, as transmissdes dos esforgos entre pecas estruturais devem-se as ligagdes entre elas. Dessa forma, as referidas pegas possuem fundamental importancia no comportamento global da estrutura. 46 Pontes em concreto armado: andlise e dimensionamento 0.23 Q ey} Lan Od 0.2 (x) ~ -0.062x + 0.64 (0S xs 14.1) TART TTA TT TT i WATT eed (oe Dei 04204 085 ‘. ” ls) ~-0.031x + 0.42 (0x < 14.1) R OPN rere PATA TTT a iiini Au 0.2 777 02 0.2 t nx) = 0.2 (0S xs 14.1) Rs Figura 1.25: Resultado das linhas de influéncia das reagdes de apoio das longarinas para © método de Leonhardt. Para a calibragdo do modelo estrutural, faz-se necessério definir com clareza as ligacdes entre os membros estruturais e, assim, definir as restrigdes cinematicas do problema. “Na interagao superestrutura ¢ mesoestrutura sao introduzidos aparelhos de apoio, que sao dispositivos que fazem a transigio entre esses elementos” (DNIT, 2006). Os aparelhos de apoio elastoméricos, mais conhecidos como neoprene, séo 0s mais empregados. Estes, segundo Machado e Sartorti (2010), geram entre a superestrutura ea mesoestrutura uma ligago flexfvel apresentando grandes deformagées e desloca- mentos. Com isso, as principais caracteristicas desse elastémero base de policloro- preno (borracha sintética) sao: a) baixo valor de médulo de deformagio transversal; b) baixo valor de médulo de deformagiio longitudinal; ©) grande resisténcia a intempéries. Em virtude da alta deformagio do elastémero mediante cargas verticais, a NBR 9062 (ABNT, 2017) determina que as chapas podem ser de ago inoxidével. Quando a utilizagiio dos apoios se der em ambientes protegidos néio agressivos, recomenda-se a utilizag&o de chapas de ago-carbono desde que as faces laterais das chapas estejam revestidas com elastémero, com cobrimento minimo de 4 mm e as demais com 2.5 mm. Por fim, as chapas devem ser solidarizadas por vulcanizagao ou colagem especial ¢ possuir espessura minima igual a 2 mm, enquanto cada camada de elastémero pode ter espessura minima de 5 mm. A Figura 1.26 ilustra dois tipos de aparelhos de apoio, sendo o primeiro (a) sem chapas de reforgo e o segundo (b) com chapas de reforgo. Introdugdo__ 47 Chapas metlicas b) Figura 1.26: Aparelhos de apoio elastoméricos: (a) sem reforgo de chapas; (b) com reforgo de chapas. A NBR 9062 (ABNT, 2017) afirma ainda que, na falta de ensaios conclusivos, recomenda-se utilizar os valores indicativos de correspondéncia entre a dureza Shore Ae o médulo de elasticidade transversal G, 4 temperatura de 20 °C dispostos na Tabela 1.4. Tabela 1.4: Valores da dureza Shore A em fungio do médulo G, A temperatura de 20 °C. Fonte: adaptada da NBR 9062 (ABNT, 2017). Dureza Shore (A) | 5060 70 Médulo G (MPa) oC Os aparelhos de apoio custam em torno de 1% do valor da obra, porém costu- mam causar muitos problemas, uma vez que quando dimensionados inadequadamente podem danificar as juntas de dilatagdo e os elementos estruturais que estao sendo co- nectados. Alguns desses problemas podem ocorrer em virtude de: a) danos intrinsecos néo detectados durante a instalagdo: podem surgir fissuras, reduzindo a vida util do aparelho, ou patologias na ligagao com o bergo ou longarina, ocasionando escorregamento relativo entre os elementos; b) posicionamento incorreto no bergo: tende a provocar sobrecargas adicionais localizadas; c) carregamentos superiores ao previsto: podem causar grandes desloca- mentos e fissurar o aparelho, danificando o recobrimento das chapas; d) agressividade nao prevista no meio ambiente e ataque por produtos quimicos: reduzem a vida ttil; 48 Pontes em concreto armado: andlise e dimensionamento e) erros de projeto: podem causar colapsos da estrutura. Vale destacar que nem sempre é preciso substituir os aparelhos de apoio, sendo o trabalho de monitoracao desses elementos na ponte Rio-Niter6i um exemplo. Nesse servigo, foi verificado como o estado dos aparelhos estava interferindo no comporta- mento global da estrutura a partir de monitoramentos e ensaios em alguns aparelhos. Ao final, nao foi necessario realizar as intervengées, j4 que as patologias detectadas estavam no deterioramento das camadas externas da borracha elastomérica (até 2 cm), enquanto as regides internas estavam em bom estado e permaneciam funcio- nando perfeitamente. A conclusio desse trabalho foi que, se esses elementos forem projetados, produzidos e instalados corretamente, tendem a ter durabilidade similar a da obra. Contudo, nos casos em que for imprescindivel a troca dos aparelhos de apoio, alguns procedimentos devem ser seguidos (MACHADO; SARTORTI, 2010): a) desviar o tréfego durante a realizagao do servigo; b) a estrutura necesita ser macaqueada seguindo projeto executivo es- pecffico para que nao seja danificada; c) as juntas de dilatagao precisam ser limpas antes do infcio dos proce- dimentos de macaqueamento; d) para substituigao de aparelhos de apoio nos encontros, deve-se remo- ver uma faixa de aterro da cabeceira, com posterior preenchimento com solo-cimento e compactagéo manual para consolidacio antes do infcio do trabalho; e) ainda sobre os aparelhos de apoio nos encontros, quando existirem la- jes de aproximagio, estas devem ser removidas, posto que dificultam © procedimento pela dificuldade de acesso aos aparelhos; f) & medida que a estrutura se desliga dos aparelhos, devem ser inse- ridos calgos ou equipamentos de autotravamento de modo a evitar acidentes; g) apés a substituigéo dos aparelhos de apoio, a operacio deve ocorrer de modo inverso, com a retirada gradual dos cal¢os. A Figura 1.27 ilustra alguns dispositivos para substituic&o dos aparelhos de apoio conforme descrito em DNER (1996). O tipo A apresenta a utilizag&io das traves- sas como elemento de suporte para colocagio dos macacos ¢ posterior elevagdo das transversinas. ‘Todavia, nessa situagdo as travessas devem ser dimensionadas para essa condigdo e os pontos de macaqueamento devem ser previstos e explicitados em projeto. Introdugao 49 sop soostiatump 9 sag5isod se seprayap 198 oxaA9p (| 2 y sodn SON, +(9661) NAN op epeydepe :oquog -o1ode ap soujarede ap ogdmynsqns ered soni o1ode ap oujaredy “soaoeutt | osepuny 9p omoutayg ogxnea no swnjao oBd9g aque, I oowepy, vssonnyy MEL dsiq $Zg"L BANS ojosuo, -OdLL [= ojosuo oowuy | Srey ojode ap eens, oyperedy I OED IN, ‘TOdLL 1 ovode op oyjaredy. ovode op oujaredy Od, UUSIoASueL ssoALL, rOdLL. VOdLL 50 Pontes em concreto armado: andlise e dimensionamento Ja 0 dispositivo do tipo B torna-se interessante quando nao ha espaco suficiente entre as travessas e as transversinas ou quando estas nao forem dimensionadas para tal esforgo, sendo novos consolos com protensao (tirante) inseridos para efetuar a ligagdo com os pilares ¢ as travessas, e 0s macacos posicionados acima desses novos elementos. O tipo C 6 similar ao anterior, porém 0 emprego ¢ em pontes com segao celular, enquanto o tipo D adota a mesma estratégia do primeiro com a redugdo do nivel das travessas ou pilares em determinados trechos para colocagao dos equipamentos. Por fim, 0 tipo E é caracterizado pela construgio de uma estrutura auxiliar ex- terna e tempordria como suporte dos macacos, sendo viavel economicamente quando os pilares possuem alturas relativamente pequenas e as solugées anteriores nao sfio favoraveis. Em determinadas situagdes, os aparelhos de apoio podem sofrer escorregamen- tos que comprometem sua seguranga, Nesses casos, alguns mecanismos podem ser empregados na colocagdo desses elementos. O primeiro pode ser a colagem, sendo necessério introduzir chapas metélicas nas extremidades do aparelho de apoio, que so coladas por ep6xi ao concreto, e apicoar o concreto da superficie inferior para in- trodugao da cola (Figura 1.28). Na continuidade, podem ser realizados por encaixe, sendo esta uma condig&o em que os elementos séio concretados e sao deixadas caixas para que a borracha seja introduzida, impedindo o deslizamento (Figura 1.28b). Por fim, 0 uso de calgos ¢ interessante quando a viga é metélica, uma vez que siio criadas chapas que trabalham como caixas impedindo 0 escorregamento da borracha, similar a0 caso de encaixe, porém essas chapas so soldadas ao perfil metélico ¢ chumbadas ao concreto (Figura 1.28c). a) Colagem b) Encaixe Cola epoxi Chapa de ago |_Cola epoxi ©) Calo | _--—Perlil metilico A | ' Soldagem ‘Chapa de ago ssa aes Calgo chumbado Borracha '—Conereto Figura 1.28: Dispositivos para impedir o deslizamento. Introdugio 51 Para os aparelhos de elastomero simples, nao fretados, si empregadas usualmente espessuras de 5.0 mm, 6.3 mm, 10 mm, 12.5 mm, 16 mm, 20 mm, 22 mm e 25 mm. Todavia, sio recomendadas espessuras minimas de 12.5 mm. Ja os fretados so determinados em catélogos comerciais, sendo a Tabela 1.5 retirada da empresa Neoprex. As dimensdes a e b representam os comprimentos ¢ as larguras dos aparelhos quando retangulares, e $, 0 didmetro quando circulares Tabela 1.5: Dimensdes padronizadas de aparelhos de apoio fretados da empresa Neoprex. Espessuras (mm) Dimensoes Altura Nimero de | Numero de ax bou@ | doaparelho | Cobrimento | Camadas de | chapas de | _camadas (mm) Min. | Max. | Vertical | Lateral | elastémero ago Min. | Max. 100x100 | 14-35 25 q 5 2 T a 100x150 | 14 35 25 4 5 2 1 4 100x200 | 14 35 2.5 4 5 2 l 4 150x200 | 21 42 2.5 4 5 2 2 5 200 a 42 25 4 5 2 2 5 150 x 250 | 21 42 25 4 5 2 2 5 150 x 300 | 21 42 2.5 4 5 a 2 5 250 30 63. 2.5, 4 8 3 2 5 200x250 | 30 63 25 4 8 3 2 5 200x300 | 30 63 2.5 4 8 3 2 5 200x350 | 30 63 25 4 8 3 2 5 6 300 30 63 2.5 4 8 3 2 5 200x400 | 30 63 2.5 4 8 3 2 5 250x300 | 30 74 2.5 4 8 3 2 6 300x400 | 47 86 25 4 10 3 3 6 400 4786 25 4 10 3 3 6 300 x 500 | 47 86 2.5 4 10 3 3 6 450 47 86 2.5 4 10 3 3 6 300 x 600 | 47 86 2.5 4 10. 3 3 6 350x450 | 47 86 2.5 4 10 3 3 6 6 500 57 105 | 2.5 4 12 4 3 6 400x500 | 57 105 | 25 4 12 4 3 6 6 550 57105 | 2.5 4 12 4 3 6 400x600 | 57 105 | 25 4 12 4 3 6 450x600 | 57 105 | 25 4 12 4 3 6 $ 600 37 105 | 25 4 12 4 4 6 500 x 600 | 73 105 2.5 4 12 4 4 6 650 90 150 25 4 15 5 4 a 600 x 600 | 90 150 2.5 4 15 5 4 a 52 Pontes em concreto armado: andlise e dimensionamento Referéncias e bibliografia recomendada ABREU, R. O. A.; AGUIAR, B. A. B. Determinagao da Envoltoria dos Esfor- gos de uma Laje Protendida através de uma Metodologia Alternativa para Produzir Superficies de Influéncia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PONTES E ESTRU- TURAS, 9, Rio de Janeiro, Brasil. Anais [...] 2016. ALVES, E. V.; ALMEIDA, S. M.; JUDICE, F. M. S. Métodos de Anélise Estru- tural de Tabuleiros de Pontes em Vigas Miltiplas de Concreto Protendido. ENGE- VISTA, v. 6, n. 2, p. 48-58. 2004. ASSOCIAGAO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS (ABNT). NBR 9062. Projeto e execugio de estruturas de concreto pré-moldado. Rio de Janeiro, Brasil. 2017. CENTRO BRASILEIRO DA CONSTRUGAO EM AGO (CBCA). Ligacées em estruturas metdlicas. 4. ed, Rio de Janeiro: Instituto Ago Brasil, 2003. v. IL CHEN, W.; DUAN, L. Bridge Engineering Handbook. Boca Raton: CRC Press, 2000. DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS E RODAGEM (DNER). Ma- nual de Projeto de Obras-de-arte Especiais. Rio de Janeiro, 1996. DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES (DNIT). 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J. Bridge Engineering: Design, Rehabilitation, and Maintenance of Modern Highway Bridges. 2. ed. New York: McGraw-Hill Professio- nal, 2007. CAPITULO 2 Dimensionamento de vigas e lajes Neste capitulo sao ilustrados os roteiros de dimensionamento de armaduras longitu- dinais ¢ transversais para segdes retangulares ¢ secoes T segundo as consideragées da NBR 6118 (ABNT, 2014) para vigas ¢ lajes. Destaca-se que os esforgos a serem con- siderados no dimensionamento sao determinados a partir dos estados limites tiltimos, sendo estes detalhados nos capitulos a seguir. 2.1 Dimensionamento de armaduras longitudinais O dimensionamento das armaduras longitudinais em segdes submetidas a flexio sim- ples parte do pressuposto de que o elemento estrutural atingiu o estadio III, ou seja, a zona comprimida encontra-se plastificada enquanto a tracionada esté fissurada e apenas 0 aco esté trabalhando. Para tal, algumas hipoteses so consideradas: a) admite-se a perfeita aderéncia entre as armaduras e 0 concreto; b) a resisténcia do concreto a tragéio é desprezada; c) adota-se a condig&io em que a pega quando sofre deformagées, man- tém as segdes transversais planas até a ruptura, Assim, a Figura 2.1 apresenta 0 equilibrio de forgas em uma seco retangular com armaduras simples submetida a flexiio simples, sendo posstvel observar na figura que a tragio do concreto foi desprezada ¢ o diagrama pardbola-retangulo foi substituido por um diagrama retangular com 4rea equivalente. Essas consideragées sio abordadas 55, 56 Pontes em concreto armado: anélise e dimensionamento na NBR 6118 (ABNT, 2014), cujos parametros sao: d é a distancia do centro de gravidade das armaduras de trag&o até a borda comprimida; d' é a distancia do centro de gravidade das armaduras de tragio até a borda tracionada; h é a altura da seco transversal; f.q ¢ a resisténcia 4 compressio de célculo do concreto; Ay é a Area de aco tracionada da secao transversal; LN é a abreviagao de linha neutra; €, é a deformagio do concreto; ¢, 6 a deformagao do aco; fyg 6 a tensio de escoamento de calculo do ago; My é 0 momento fletor de cAlculo atuante na secdo transversal; Ree & a forca resultante de compresséo atuante no concreto em virtude do momento fletor; Rs. 6 a forga resultante de tragdo atuante nas armaduras em virtude do momento fletor; a, 6 0 parametro de redugio da resisténcia do concreto na compressio; \ 6 a relac&o entre a profundidade y do diagrama retangular de compressao equivalente e a profundidade efetiva x da linha neutra. Vista lateral da Diagrama de Diagrama Diagrama secio transversal deformagio _parabola-retingulo retangular fe Oe Fea Oe fea x ‘tte & Asha Re Esquema ilustrativo do equilibrio de forcas em uma seco sob flexio Figura 2. A NBR 6118 (ABNT, 2014) determina que para coneretos de classe até C50, ou seja, com fox < 50 MPa, sio utilizados: A = 0.8 e ae = 0.85. Caso 0 concreto utilizado seja de classe superior a0 C50 ¢ inferior ou igual ao C90, adotam-se as equagies a seguir com f., em MPa. (fox = 50) og- “a (2.1) Oe = 0.85 [i . fae (2.2) Além disso, se a largura da seco transversal, medida paralelamente a linha neutra, diminuir a partir desta para a borda comprimida, deve-se multiplicar o parametro a. por 0.9. Essa condigao nao seré tratada aqui, uma vez que nao é usual para as pecas em concreto armado. Dimensionamento de vigas ¢ lajes _57 A determinagao da distancia entre o centro de gravidade das armaduras longitu- dinais até as bordas depende principalmente do cobrimento, sendo este determinado a partir da Tabela 2.1 obtida da NBR 6118 (ABNT, 2014). Tabela 2.1: Relacio entre a classe de agressividade ambiental e o cobrimento nominal. Fonte: adaptada da NBR 6118 (ABNT, 2014). Classe de agressividade ambiental Tipo de ‘Componente ou Classe I | Classe IT | Classe TIT | Classe 1V estrutura elemento Cobrimento nominal (mm) Taje 20 % 35 ® Conereto Viga/pilar 2 30 40 50 armado | Elementos estruturais em contato com o solo 30 30 40 50 Conereto Laje Pa 30 40 50 protendido Viga/pilar 30 35 45 55 Alem disso, a NBR 6118 (ABNT, 2014) introduz algumas observag6es: As classes de agressividade segundo a NBR 6118 (ABNT, 2014) sao descritas como: a) Os cobrimentos nominais referentes ao concreto protendido sao os valores minimos a serem respeitados para bainhas ou fios, cabos e cordoalhas. Enquanto isso, sempre o cobrimento da armadura pas- siva deve respeitar os cobrimentos para concreto armado. b) Nas superficies expostas a ambientes agressivos, como reservatérios, estagdes de tratamento de Agua e esgoto, condutos de esgoto, canale- tas de efluentes ¢ outras obras em ambientes quimica e intensamente agressivos, devem ser respeitados os cobrimentos da classe de agres- sividade IV. ©) No trecho dos pilares em contato com o solo junto aos elementos de fundaco, a armadura deve ter cobrimento nominal maior ow igual a 4.5 cm; d) Por fim, para elementos pré-fabricados, os valores dos cobrimentos nominais devem respeitar as recomendagoes da NBR 9062. a) classe I: agressividade fraca, ambientes rurai insignificante de deterioragao da estrutura; is ou submersos com risco b) classe II: agressividade moderada, ambientes urbanos ou marinhos com risco pequeno de deterioragdo da estrutura; c) classe III: agressividade forte, ambientes marinhos ou industriais com risco grande de deterioragio da estrutura; 58 Pontes em concreto armado: andlise e dimensionamento d) classe IV: agressividade clevada, ambientes industriais ou com res- pingo de maré com alto risco de deterioracéo da estrutura. Segundo a classificagio da NBR 6118 (ABNT, 2014), as estruturas de pontes podem se enquadrar em mais de uma classe de agressividade, a depender do ambiente onde seré implantada a estrutura. 2.1.1 Dimensionamento de secdes retangulares Para dimensionamento das armaduras longitudinais de uma seco retangular em con- creto armado, deve-se inicialmente calcular a posigéo da linha neutra e, posterior- mente, determinar em qual dominio de deformacdo est a peca. Portanto, o parametro a ser calculado é a distancia da linha neutra até a borda comprimida (x), que pode ser dimensionado a partir do parametro de ductilidade (€) por meio do equilfbrio de forcas seguindo o esquema da Figura 2.1: Em que: N\A Ma (3)é enc. Porém, é necessério determinar a largura da seco transversal (by) e a resisténcia compressiio de célculo do concreto (faa) a partir do coeficiente de ponderacéio da resisténcia do concreto (7) e da resisténcia caracteristica do concreto compresséo (fox): =i (25) fea ye Apés isso, verificam-se 0s dominios de deformagdes da seco transversal na rup- tura, descritos na Figura 2.2, na qual a peca esté submetida aos momentos fletores de célculo My e aos esforgos normais de céleulo Ny. Os dominios sao definidos como: a) dominio I: caracteriza-se pela seciio submetida a tragio apenas, tendo a ruptura plastica excessiva das armaduras (€s = 1000); b) dominio II: caracteriza-se pela seco submetida a flexdo simples ou composta, tendo a ruptura por deformacio plastica excessiva das ar- maduras (€; =10%o), enquanto o concreto nao atinge o encurtamento limite de ruptura (€¢ < ecu); Dimensionamento de vigas e lajes _59 Vista lateral da Dominios de alongamento, encurtamento, seco transversal deformagao cc @ @ Na Me @ a | —_1 ®|/® Ce Diagrama tensio-deformagio Diagrama tensio-deformacio do concreto simplificado do ago simplificado ow ovsua, oon ‘ou oysua, fa Eo a 10% Deformacio do concreto Deformagio do ago Figura 2.2: Diagramas dos dominios de deformagies e das relagdes constitutivas simplifi- cadas sugeridas pela NBR 6118 (ABNT, 2014) para o concreto e para armadura passiva. c) dominio III: caracteriza-se pela seco submetida a flexio simples ou composta, tendo a ruptura no concreto (e¢ = €-.), porém ocorre escoamento das armaduras sem ruptura (ey < €s < 10%o); d) dominio IV: caracteriza-se pela segdo submetida a flexdo simples ou composta, tendo a ruptura no concreto (€. = €cy), porém as arma- duras no sofrem escoamento (€5 < Eya); e) dominio V: caracteriza-se pela segao submetida & compressdo ape- nas, ocorrendo ruptura de forma brusca no concreto, uma vez que a peca nfo apresenta trincas nem deslocamentos visfveis, portanto a deformagio € limitada’a deformagao no inicio do patamar plastico (€c = €c2) por raziio de seguranca. Os valores-limite da deformagao especifica de encurtamento do concreto no infeio do patamar elastico ¢,2 e na ruptura €q, para concretos com fs < 50 MPa correspon- dem a: €c2 = 2%0 € €cu = 3.5%0, enquanto aqueles em concretos com valores dentro do intervalo de 50 MPa < fx < 90 MPa so expostos na continuidade, sendo os valores de fx expressos em MPa. <2 = Wo + 0.085 %o( fer — 50)°°3 (2.6) 60 Pontes em concreto armado: andlise e dimensionamento = fon = 2. + 25% | vi | (2.7) Destaca-se que a deformaciio longitudinal de célculo da armadura, quando atinge 0 escoamento (¢yq), varia a depender do tipo de ago utilizado, sendo para os agos com patamar de escoamento bem definido (CA-25 e CA-50): fa ya = i (2.8) Para os acos sem patamar de escoamento bem definido (CA-60), esse valor 6: Lud + 9% (2.9) &yd = Fy A tensio de escoamento de célculo do ago (fyz) ¢ calculada a partir da tensio de escoamento caracteristica do ago (yz) reduzida pelo coeficiente de minoragao do ago (7s), que ¢ preconizado na NBR 6118 (ABNT, 2014) como 1.15. Sya = TH = foe ee 15 (2.10) Ento, os valores do médulo de elasticidade longitudinal B, das deformacbes axiais de célculo ¢, e das tensdes de escoamento caracteristicas ¢ de céleulo das arma- duras no escoamento, quando utilizadas no Brasil em estruturas de concreto armado, esto descritos na Tabela 2.2. Tabela 2.2: Deformacoes longitudinais de célculo das armaduras quanto atingem 0 escoa- mento. Tipo de ago | B (KN/cm?) | fyx (kN/cm?) | fya (KN/em?) | eya (Yoo) CA-25 25 21.74 1.035 CA-50 21000 50 43.5 2.071 CA-60 60 52.17 4.484 Para uma secéio submetida flexao simples apenas, os dominios de deformagio Il, IIL e IV sao alcancéveis. Todavia, o tiltimo apresenta ruptura frégil ou brusca, uma vez que as armaduras longitudinais nao escoaram e, consequentemente, a pega nao apresenta grandes deslocamentos antes da ruptura, podendo romper sem sofrer trincas visveis. Caso € < &-3, a pega se encontra no dominio II; se &-3 < € < &-«, esté no dominio II; ¢ se > &-4, esta no dominio IV. Porém, se a peca estiver no IV, 6 sugerido utilizar armaduras duplas e, assim, reduzir € até valores preestabelecidos. Dimensionamento de vigas e lajes 61 Os limites dos dominios esto determinados na Tabela 2.3. Além disso, a NBR 6118 (ABNT, 2014) determina os limites de ductilidade (fim) a depender da resis- téncia caracteristica do concreto A compressao (f,,), sendo definidos na Tabela 2.4. Tabela 2.3: Limites entre dominios de deformacio a partir da ductilidade €. Tipo de | fc. < 50 MPa | 50 < fu, < 90 MPa ago 2-3 | f-4 S23 S34 CA-25 0.772 CA-50 | 0.259 | 0.628 | Toyista- | quien CA-60 0438 Tabela 2.4: Limites de ductilidade a partir das recomendagées da NBR 6118 (ABNT, 2014). Classe do concreto | Etim fox < 50 MPa | (0.45 for > 50 MPa | 0.35 Assim, em geral se € < jim adotam-se armaduras simples (Figura 2.3a) e quando € > Sim empregam-se armaduras duplas (Figura 2.3b). Figura 2.3: Segio retangular com armaduras (a) simples; (b) duplas. Sendo: a" = distancia do centro de gravidade das armaduras comprimidas até a borda comprimida; Al, = Grea de ago das armaduras longitudinais comprimidas. Dessa forma, no caso de segdes com armaduras simples (€ < jim e€ € < &-a) determina-se a area de ao necesséria (As) para equilibrar a segio: AaebwAE fea ie (2.11) As 62 Pontes em concreto armado: anélise e dimensionamento No caso de armaduras duplas, a érea de ago necesséria de tracéio (As) 6: A, = AcebwAEtim fea +h (2.12) fa Ba rea de aco necesséria comprimida (A‘) é: Ma ~ rovcbu Etim Fea A= eee 2.13 5 foald ~ a") (2.13) Porém, a Area de ago de tragio deve ser maior ou igual & area de ago minima, sendo esta empregada para melhorar o desempenho e a, ductilidade a flexio, bem como controlar a fissuracio (ABNT, 2014). Para tal, as taxas mfnimas de armaduras longitudinais (pmin) para cada valor de resistencia caracterfstica 4 compressio do conereto (fei) sao descritas na Tabela 2.5 para vigas. Tabela 2.5: Taxas mfnimas de armaduras de flexiio para vigas com segdes retangulares, Fonte: adaptada da NBR 6118 (ABNT, 2014) Forma da secio Valores de prin (%) C20 G25 C30-—«C35——« C40 «C—O Retangular 0.15 0.15 0.15 0.164 0.179 0.194 0.208 C55 C60 C5 C70— Prin A ae ue Ce ‘Armaduras negativas de bordas sem Ps > 0.67 Pmin continuidade ‘Armaduras positivas de lajes armadas nas | ps > 0.67Pmin Ps 2 0.67Pmin ~ Pp | Ps 2 Pmin ~ 0-5pp dduas direcdes Ps = 0.5pmin ps > 0.5pmin ‘Armaduras positivas (principais) de lajes > Ps = Pmin — Pp Ps 2 Pmin — 0-5Pp armadas em uma_ aoe Ps = 0-5Pmin Ps 2 0.5Pmin direcio ‘Armaduras positivas (secundarias) de lajes armadas em duas diregées A,/s = 20% da armadura principal Ag/s 2 0.9 cm?/m : Ps > 0.5Prmin Assim, as equagées para lajes so: Assmin = Psbuh (2.20) Apsnin = Ppbuh (2.21) 64 Pontes em concreto armado: andlise e dimensionamento Sendo: 3 = espacamento entre barras longitudinais; Apmin = rea de ago da armadura de protenséo. Ppimin = taxa geométrica da armadura de protensio. Por fim, a soma das armaduras de tragao e de compressao (As +A’) nao pode ter valor maior que 4%Ac, calculada na regio fora da zona das emendas (ABNT, 2014), ou seja: Ag+ Al < AMA = AM bwh (2.22) Em lajes macigas, qualquer barra da armadura de flexdo deve ter diametro no maximo igual a h/8. Caso sejam principais devem apresentar espagamento menor que 2h e 20 cm e se forem secundarias devem respeitar um espagamento entre barras de no maximo 33 em (ABNT, 2014). 2.1.2. Dimensionamento de segdes T Quando as vigas possuem ligagdes monoliticas e devidamente armadas com as lajes, surge a contribuigdo das lajes no comportamento estrutural. Assim, caso existam conectores de cisalhamento (Figura 2.4a) ou as armaduras negativas das vigas estejam dentro das lajes (Figura 2.4b), ¢ possivel tratar a secéio como T. Caso a viga e a laje estejam ligadas sem armaduras para transferéncia dos esforgos de cisalhamento, a viga deve ser abordada como seco retangular, desconsiderando a altura da laje (Figura 2.4c). Destaca-se que a seco s6 trabalha como T quando a mesa (laje) est trabalhando sob compressio, enquanto a alma (viga) esta sob tragdo. Dessa forma, em casos usuais, apenas nos trechos em que os momentos so positives pode-se considerar a colaboragio da laje, exceto quando a viga 6 em formato de I (ver capitulo sobre dimensionamento das longarinas). Portanto, nesse tipo de seco é preciso determinar o valor da largura colaborante (bf) que depende da geometria da estrutura. A figura 2.5 ilustra os parametros necessarios para o clculo de by. Dessa forma, a largura colaborante (7) é calculada em fungio da altura da mesa (hy), das dimensdes descritas na Figura 2.5 e do comprimento do trecho em que o momento fletor for positive para 0 vio considerado (a). Para vigas de borda com lajes em balango e intermedidrias, segue a Equagio (2.23), e para vigas de borda sem lajes em balango, a Equagio (2.24). by = by + dy + be (2.23) Dimensionamento de vigas e lajes 65. by = by +e (2.24) a) _ oe -—™” LS 4 + cisalhamento ° Figura 2.4: Tipos de ligacdes entre vigas e lajes: (a) com conectores de cisalhamento; (b) com armaduras negativas dentro das lajes; (c) com armaduras negativas fora da laje. Te be. Lajes $f af ¢ a bh | Viga em andlise }~Viga em analise Bo — : Be + ° feeb Lajes i — VA = Z al be bs, tT Viga em andlise Bo be Bs CORTES DA SECAO TRANSVERSAL, Figura 2.5: Determinagio da largura colaborante para: (a) viga de borda com laje em balanco; (b) viga de borda sem laje em balanco: (c) viga intermediaria. As dimensdes 61 ¢ bp so definidas nas Equagées (2.25) (2.26). 0.1a by <4 0.5B; (2.25) Shy 66 Pontes em concreto armado: andlise e dimensionamento 0.10 bo <} 0.5B, (2.26) 8hy J4, a dimensio a 6 calculada a partir das vinculagées e do comprimento da viga (L), cujos casos e suas simplificagées estfio explicitados na Figura 2.6. Assim, os valores de a sfio determinados para cada vao da viga e dependem das vinculagies, podendo ser obtidos com seus valores exatos a partir dos diagramas de momentos fletores ou aproximados pelo tamanho do vio considerado. |_,@—* DIAGRAMAS DE MOMENTOS FLETORES: Figura 2.6: Calculo da dimensio a para os modelos com: (a) viga biapoiada; (b) viga com continuidade nas duas extremidades; (c) viga com continuidade apenas em uma extremidade; (d) viga engastada e livre em uma extremidade. Com a secao definida, calcula-se o parametro ¢, considerando incialmente a segio retangular com dimensbes by x h. d) 2 Ma (3)e ero (2.27)

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