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Titulo Organizador Copyright Revisio Paginagio Capa Impressio e acabamento ISBN 978-972-796-275-4 Depésito legal n.° 262 311/07 Psicologia da Saride. Contextos e Areas de Intervengio José A. Carvalho Teixeira © 2007, Climepsi Editores Fernanda Fonseca Marina Piedade Ferreira Climepsi Editores Iyseragio: Sechiy Reznchenko, Sem Titulo, 2004 “Técnica: agua e carve sobre papel 30 » 20 cm (© Perve Galera Serhiy Reznchenko Cortesin da Pere Galeria www.perveorg.pt Guide - Artes Grificas 1. edigio, Lisboa, Setembro de 2007 Reservados todos os direitos para Portugal CLIMEPSI EDITORES CLIMEPSI - Sociedade Médico-Psicolégica, L.* Rua Pinheiro Chagas, 38, 1.° D." 1050-179 Lisboa - Portugal Telefone: +351 21 317 47 09 Fax: +351 21 352 85 74 E-mail: info@climepsi.pt wwwwelimepsi.pt Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida por qualquer processo, aduzida em linguagem maquina sem a autorizacio nao cumprimento edir a edicao fotocépia, transmitida ou tr: escrito do editor. Em virtude das limitagdes do mercado portugués, da norma anterior causa danos graves aos leitores ¢ as editoras por imp de novas publicagdes técnicas e cientificas em lingua portuguesa. incluindo a 1 PSICOLOGIA DA SAUDE José A. Carvalho Teixeira A satide, tal como tem sido definida pela Organizagéo Mundial da Satide (OMS), é um estado positivo de bem-estar fisico, psicolégico, social, econémico € espiritual e ndo somente auséncia de doenca, surgindo como um construto multifactorial cujos determinantes incluem idade, sexo, factores hereditdrios, estilo de vida individual, influéncias sociais e comunitarias, condigdes de habi- taco e trabalho, bem como condigdes socioeconsmicas, culturais ¢ ambientais. Esta definigdo recorda que a sade individual, embora influenciada por fac- tores individuais de natureza biolégica e comportamental, estes diltimos liga- dos ao estilo de vida, depende também em grande medida de factores sociais, econémicos e ambientais, aspecto que nunca é de mais realcar nesta época em que os processos de satide e doenga tendem a ser cada vez mais abordados a partir de uma ideologia individualista, excessivamente focalizada na responsa- bilidade individual. Ao mesmo tempo, em contraste com o carécter negativo da doenca, do sofrimento e da incapacidade, aquela definicao poe em evidéncia a natureza positiva da saiide, na qual é essencial a experiencia de bem-estar psi- colégico, constituida por vivencias associadas & percepcao de controlo sobre a vida, & liberdade de escolha, & autonomia e satisfacao (Downie e col., 1990). A psicologia da satide é a aplicacéo dos conhecimentos ¢ das técnicas psi- coldgicas satide, as doencas e ads cuidados de satide (Marks, Murray, Evans € Willig, 2000). Estuda 0 papel da psicologia como ciéncia e como profissio nos dominios da saiide, da doenga e da prépria prestagio dos cuidados de satide, focando-se nas experiéncias, comportamentos ¢ interacges relacionadas com a satide, a doenga os cuidados de satide. O seu objecto de estudo é 0 suijeito psicolégico e as suas relagdes com a saiide, a doenca, a familia ¢ os téc- nicos de satide, mas inclui também os diferentes grupos sociais e os seus pro- blemas associados & promogio da saiide e & prevencio das doengas. Envolve J PacoroGia Da Satine, Contecros & Aneas pe InTERVENGAO 1 consideragio dos contextos sociais ¢ culturais onde a cae as doencas correm, uma ver que as significagdes € os discursos sobre a satide ¢ as doen. atuto socioecondmico, o género € a diversidade cul. ha que ter em conta que os problemas de satide que ‘mente nos paises gas variam consoante 0 ¢ tural, Ao mesmo tempo, r alectam a populagio vio mudando com o tempo, particularmente nos mais desenvolvidos, variam ao longo das fases do ciclo de vida e€sio influen- cindos por factores sociais ¢ culturais (Sarafino, 2004). Inclui as denominadas sanides fisica ¢ mental, abrange todo o campo da Medicina mas transcende-o em direcgao aos factores sociais, culturais ¢ ecolégicos relacionados com a satide (Carvalho Teixeira, 2001). A objectivo principal da Psicologia da Satide é compreender como é que é possivel, através de intervengdes psicoldgicas, contribuir para a melhoria do bem-estar dos individuos € das comunidades, A psicologia da saiide, que se caracteriza por dar relevancia & promogao ¢ manutengio da saiide ¢ 4 prevencio das doengas, resulta da confluéncia das contribuigdes espeeificas de diversas areas do conhecimento psicolégico (psico- logia clinica, psicologia comunitéria, psicologia social, psicobiologia) tanto para 4 promogio e manutengao da satide como para a prevencao e tratamento das doengas (Simon, 1993), Nao é, portanto, uma aplicagzo da psicologia clinica em contextos de satide. A finalidade da Psicologia da Satide é compreender como é possivel, através de intervengdes psicolégicas, contribuir para a melhoria do bem-estar dos individuos, dos grupos e das comunidades. Os psicdlogos que se direccionam para a compreensao da forma como os factores biolégicos, comportamentais sociais e culturais influenciam a satide e 4 doenga sao chamados psicélogos da satide. Muitos esto centrados na pro- mogio da saiide ¢ prevencao, trabalhando com os factores psicolégicos que fortalecem a satide e que reduzem 0 risco de adoecer. Outros disponibilizam servicos clinicos a individuos saudaveis ou doentes em diferentes contextos de prestagio de cuidados. Outros, ainda, esto envolvidos no ensino, na formaca0 ena investi O corpo tedrico da Psicologia da Satide comporta actualmente duas pers- pectivas diferentes que se complementam (Crossley, 2000): a perspectiva tra- dicional ea perspectiva critica, A perspectiva tradicional (mainstream) refere-se ao modelo biopsicossocial, assenta em metodologias quantitativas de investigacdo, investiga os comporta- mentos saudaveis e 0s comportamentos de risco, focando-se nos seus determi- nantes psicolégicos (crengas, atitudes e percepgdes, por exemplo) e no seu valor Preditivo, Nesta perspectiva tradicional, o nivel de andlise dos problemas de satide € intra ¢ interpessoal, o foco da intervengo so os problemas individuais, © objectivo da intervengio é a mudanca de comportamentos relacionados com 4 satide, 0 papel do utente est centrado nos comportamentos de adesio as recomendagées dos técnicos de satide e 0 papel profissional do psicélogo € 0 Psicouocia ba Sadoe 19 de um perito em comportamentos relacionados com a saiide. Como se vé, esta perspectiva tradicional sobrepde-se bastante a chamada Psicologia Clinica da Satide (Belar, 1997), partindo de um ponto de vista individualista e reducionista dos problemas de satide, tal como € proposta pela American Psychological Association (APA). A perspectiva critica refere-se ao modelo fenomenolégico-discursivo, assenta em metodologias qualitativas de andlise do discurso e investigacio participada, investiga as significagGes relacionadas com a satide e as doengas, focando-se nas experiéncias de satide e doenga ¢ na sua influéncia na cons- truco das identidades sociais. Nesta perspectiva, a andlise dos problemas assenta numa abordagem ecolégico-social na qual é relevante 0 contexto social e cultural dos problemas de satide, 0 foco da intervengio so as competéncias pessoais e sociais dos utentes, 0 objectivo da intervencao é a promogao do bem-estar psicolégico e das competéncias, o papel do utente esta centrado na sua participagao activa na prestagdo dos cuidados de satide e o papel profis- sional do psicélogo é 0 de um recurso de colaboracao. Esta perspectiva, que pode ser denominada psicologia da satide critica, surgiu face tendéncia que a perspectiva tradicional dominante tem para reduzir as questées da satide e das doengas a problemas meramente técnicos de manejo e controlo congruentes com 0 modelo biomédico e reforgando o individualismo e o envolvimento escasso dos utentes e da comunidade na prestagio de cuidados de saiide. A perspectiva critica, focalizando nas experiéncias psicolégicas da satide e das doengas, procura compreender os seus significados’e ligd-los aos contextos sociais ¢ culturais onde ocorrem, contrariando os processos de ob- jectivagao e racionalizagao que caracterizam a perspectiva tradicional. Permite ‘a necessaria perspectiva ecol6gica e comunitdria que visa a compreensio dos comportamentos relacionados com a satide em fungao de contextos sociais e culturais (Carvalho Teixeira, 2001, 2000). A psicologia da satide critica defende valores, assungdes e praticas entre as quais se destacam, entre outros (Prilleltenesky e Nelson, 2002; Murray e col., 2004): * Valores. A preocupagio com a autonomia dos utentes deve seguir a par com a prestagio dos cuidados de satide. Devem ser sempre consi- derados os impactes dos poderes institucionais sobre 0 empowerment e autodeterminagao dos utentes. A coesio social ¢ o envolvimento da comunidade beneficiam a satide dos utentes. * Assungées. A definigéo dos problemas de satide inclui a participagao dos utentes ¢ no deve ser reduzida & opiniaio dos profissionais de satide. O foco sio as capacidades e competéncias dos utentes, tal como so percepcionadas por eles préprios. Os comportamentos dos utentes nado podem ser reduzidos & patologia. © Préticas, As intervenes devem ser mais pré-activas do que reactivas. As influéncias do contexto social, da diversidade cultural e do estatuto 20 PsicoLocia DA SADE, Conrextos & Anes DE INTERVENGKO socioeconémico sio sistematicamente tidas em conta nos processos de satide e de doenga. 1 orientagao dos cuidados de satide para os utentes ¢ hoje cada vez mais necessiiria e faz todo o sentido que caracterize toda a interven¢ao dos psicélo- gos no sistema de saiide, nao s6 porque esta em sintonia com uma concepeio holista da saiide mas também porque pode contribuir para a qualidade dos cuidados ¢ humanizagio dos servigos (Carvalho Teixeira ¢ Trindade, 2003), para o reforgo da cidadania e, ainda, para o envolvimento da comunidade nos cuidados de satide. Assume claramente uma ética social, na qual so centrais os valores da emancipagio, da liberdade de escolha e da mudanca social. Os valores, assung6es e praticas acima mencionadas tém consequéncias a nivel do papel profissional do psicdlogo na satide que, assim, deverd passar a incluir objectivos relacionados com: contribuir para a construgao do sentimento de comunidade e respeitar as identidades sociais e culturais; facilitar aos utentes a possibilidade de desenvolverem objectivos pessoais apesar das doencas e comprometé-los activamente nos processos de ajuda, auto-ajuda e ajuda mi- tua; reforcar 0 consentimento informado e a observancia da confidencialidade; colaborar com organizagdes comunitarias na resolucéo dos problemas de saiide, Acresce que a globalizacao coloca novos desafios & psicologia da satide que exigem uma mudanga do foco clinico individual e familiar para um foco mais global, socioeconémico e comunitério (Belar e McIntyre, 2004). As duas perspectivas no se excluem mutuamente (Crossley, 2000). Pelo contrario, torna-se cada vez mais necessdrio que a investigagao e a intervengio se desenvolvam a partir dos dois pontos de vista, que se complementam. A intervengio de psiclogos na satide, para além de contribuir para a melho- ria do bem-estar psicolégico e da qualidade de vida dos utentes dos servicos de satide, pode também contribuir para a redugao de internamentos hospitalares, diminuigio da utilizacio de medicamentos ¢ utilizagéo mais adequada dos setvigos e recursos de saiide (APA, 2004a).. Finalmente, é também do ambito da aplicacao da psicologia da satide a anlise e melhoria do sistema de cuidados de satide, potenciando a actuacao dos outros técnicos, contribuindo para a melhoria das relagGes entre os técnicos e 6s utentes ¢ para a melhoria das relacGes interprofissionais e promovendo uma utilizago mais adequada dos recursos de satide (Godoy, 1999), participando em actividades de humanizagao e qualidade. Contextos laborais Os psicélogos da satide podem trabalhar em diferentes contextos do siste- ma de satide, quer 0 nivel dos servigos piblicos (Servico Nacional de Satide) Psicovocta pa Sade 21 quer a nivel de servigos privados (consultérios, clinicas, empresas) e do sector social. Em qualquer caso, o trabalho em saiide é um trabalho em equipa com outros técnicos (médicos, enfermeiros, técnicos de servico social, fisioterapeutas, ferapeutas ocupacionais, nutricionistas, etc.). Podem trabalhar também em universidades, nas areas do ensino, formagio e investigagao e em organismos do Ministério da Satide mais ligados ao planeamento e gestao dos servigos. Entre nés a psicologia da satide iniciou-se em Maternidades e Hospitais ¢, mais tarde, implantou-se nos Centros de Satide, com um desenvolvimento essen- cialmente assente no sector piiblico e estatal do sistema de satide (Servigo Nacio- nal de Satide). Nao tém sido suficientemente exploradas as possibilidades de desenvolvimento de servigos de psicologia da satide nos sectores privado e social do sistema de saiide, apesar da existéncia de muitos psicélogos nesses sectores. Os psicélogos que trabalham na saiide podem participar na prestacao de cuidados de satide (fungao assistencial) nos cuidados de satide primarios, uni- dades de internamento hospitalar, servigos de satide mental, unidades de dor, oncologia, servicos de satide ptiblica, servicos de satide ocupacional, consultas de supressio tabagica, centros de alcoologia e servicos de reabilitacao, entre outros. Podem também participar em programas de promocao da satide e de prevengao nas escolas, locais de trabalho e comunidade, com base em servigos de satide e/ou em organizagées comunitérias. A intervengdo em centros de satide e em hospitais deve ser conceptualizada na tripla dimensao de intervengao com os utentes, intervengao com os técnicos de saiide ¢ intervengao na organizagio (Trindade e Carvalho Teixeira, 2002). A consulta psicolégica é o pilar fundamental da intervencao com os utentes. Actividades clinicas As actividades clinicas em psicologia da satide fazem parte da chamada fun- do assistencial e englobam tarefas de avaliagao e de intervengio psicol6gica. Avaliagao psicolégica em saude Entre as tarefas de avaliagao psicoldgica, que se podem focar nas experiéncias e comportamentos de satide, no confronto com as doencas, nos estados emocio- nais e na qualidade de vida contam-se (Egeren e Striepe, 1998; Bennett, 2000; Forshaw, 2002; Johnston, French, Bonetti e Johnston, 2004): a entrevista elt nica, avaliag6es cognitivas e comportamentais, avaliagées de personalidade, avaliagoes psicofisiolégicas, avaliagdes da qualidade de vida, estudos epidemio- légicos ¢ outras actividades de avaliagao clinica em saide, nomeadamente rela- cionadas com dor, cancro, comportamento tipo A, depressio e ansiedade, entre outras. . pe INTERVENGAO, 22 Pacoroaia pa Save. Contextos t AnEAs DE INTERVENG: netodologia de avaliagao a utilizar relaciona-se consulta de psicologia, sendo que os pedidos ntextos de satide, relacionam- Em qualquer caso, 0 tipo d com o tipo de pedido que ¢ feito rages qu pose ie consoane os ontextos said ela onayy vee com mudanga de comportamentos (supressio tabaigica e reduga ‘ adaptagio 4 doenga, comportamentos de adesio ‘controlo da dor crénica, preparacao para s fundamentais da consulta por exemplo), confronto ¢ ‘aexames ¢ a tratamentos médicos a cirurgia ¢ avaliagio neuropsicolégica. As tarefa: n Jo: avaliar ¢ ajudar a lidar com o problema actual, aproveitar para promover a satide (identificando as caracteristicas principais do estilo de vida e confron- tando com a autopercepgio de riscos), saber se sera necessrio referenciar para outras consultas e/ou recursos (satide mental, servigo social, por exemplo) e, ainda, elaborar informagio de retorno ao técnico de satide que referenciou 0 caso para a consulta de psicologia. Esta informagio clinica de retorno devera explicitar sumariamente qual a avaliagao que se faz do problema do utente, qual a intervengao realizada ou em curso, qual a mudanga que foi obtida com a intervengio psicolégica e, caso se aplique, 0 motivo do encerramento do caso (pedido do utente, decisio do psicélogo ou acordo mtituo) ou de referenciagio para outros recursos de satide. Os objectivos fundamentais da avaliagao psicolégica em satide sao (Belar e Daerdorif, 1995): avaliar as interacgdes do individu com a satide, a doenca eo xto familiar e de satide onde esta inserido na altura em que a avaliacio é realizada e formular uma compreensio psicol6gica da situago e uma estratégia de intervengio baseada nessa compreensio. Essa estratégia devera ser opera- cionalizada através de um plano de intervengao que contemple a identificagao clara da(s) modalidade(s) de intervengio e a delimitagao precisa de objectivos € metas temporais, com 0 envolvimento activo do utente. A preocupagio com a qualidade implica uma avaliagao que permita saber se os objectivos definidos esto a ser alcancados e de que maneira. __ Belar e Daerdorff (1995, 1987), que se inserem numa perspectiva de psicolo- sia clinica na savide, propuseram um modelo integrado de avaliagao psicoldgica em salide que, a partir do ponto de vista do modelo biopsicossocial, considera eae da informagio a recolher no proceso de avaliagio (biolégica, a partir de 1990 e tem sido realizada predonsinantemente a nivel das versidades através de estudos relacionados com obtengio de graus aealémicos e com Figngio escassa com necessidadesidentificadas nos servigos de sai. Tam dominado 05 estudos relacionados com criangas, adolescents grvidas, maioritariamente relacionados com avaliagio, tatamento e/o reabilitagio de individuos doentes (Carvalho Teixeira, 2002b; Carvalho Teixeira, Cima e Santa Cruz, 1999), excepto no que se refere educagio para a said, 4 psicologia da gravidez e da maternidade e aos comportamentos preventivos associados ao con- sumo de substancias, infecgio VIH/SIDA e rastreios oncolégicos. A tendéncia principal tem sido a de se focar predominantemente em varidveis psicol6gicas Felacionadas com doencas em detrimento das relacionadas com a satide, sendo Gque mas de metade dos estudos seinserem no Ambito da psicologia pedisrica, dividindo-se a outta metade por aspectos do confronto com sintomas (com dlestaque para a dor), do impacte psicolégico de procedimentos médicos (em especial cirurgia) eda adaptagio a doenca, predominantemente eancro eenfarte do miocardio (Carvalho Teixeira, 2002b), esa tendéncia tem vindo a esbater-se progressivamente, como se pode ve fear através dos trabalhos apresentados nos tiltimos congressos nacionais € conferéncias de psicologia nos cuidados de satide primarios. Apesar disso, cominaa a ser necessario que os investigadores se interessem mais pelos as- pectos psicol6gicos ligados & prevengio de problemas importanes da sade vos Porrgueses, tis como doenca isquémica do coragio, hipertensio arterial STaberes, hepatites e acidentes vasculares cerebras, entre outros. Ao mesmo tempo, importa acentuar a investigago na érea de promogio da satide, como je anonece em projectos relacionados coma edagio sexual composamentos aasemeares, tabagismo, actividade fisica e sade dos adolescentes desenvol- aides pela Faculdade de Motricidade Humana, Importa também desenvolver vies Prados com varidveis familiares, sociais e cultoais relacionadas com a ae eis uma cooperacao alargada entre universidades e servos de said, rrabelecendo linhas de investigagao prioritarias e com continuidade temporal, * investigacio psicolégica relacionada com a saiide de lidade do Pais e as necessidades da comunidade. ade investigagio-acg ion permitira desenvolver forma mais ajustada a real Savior. Contextos & Anras DE INTERVENGAO Carreira profissional do psicélogo na satde em Portugal Para trabalhar no Servigo Nacional de Satide existe desde 1994 (Decreto-Lei n 241/94 do Ministério da Satide) uma carreira profissional especifica para psicé- logos na saiide, 0 ramo de psicologia clinica na carreira técnica superior de satide (Ministério da Saiide), que tem vindo a ser implementada lentamente em varios servigos de satide, nomeadamente Maternidades, Hospitais e Centros de Satide. O documento legal definiu 0 que é 0 psicdlogo clinico e estabeleceu quais so as suas fungdes nos diferentes graus da carreira (assistente; assistente principal; assessor; assessor superior), bem como na responsabilidade de um servico, in- cluindo de um servigo de ambito regional. Adicionalmente, definiu o regime de transigdo para psicdlogos a trabalhar na satide e ja providos na carreira técnica superior do regime geral e regimes de equiparagao de estagios profissionais ne- cessirios para acesso a carrcira, O acesso a esta carreira realiza-se por concurso piiblico, sendo condigao de acesso ter frequentado ou ter equiparagio ao estagio profisssional pré-carreira, regulamentados pelas Portarias n.” 171/96 e 191/97. O acesso ao estagio, que tem duracdo de 3 anos, realiza-se também por concurso ptiblico. O regime legal do estagio profissional pré-carrcira teve algumas vicissitudes, uma vez que a Portaria n.” 171/96, redigida por profissionais ligados a satide mental ¢ sem conhecimentos de psicologia da satide, era claramente inadequada e teve de ser complementada ¢ clarificada pela Portaria n.° 191/97, Para além dos campos mais tradicionais ligados aos servigos de satide mental, de alcoologia, de toxicodependéncias e de reabilitagio, existem profissionais ha varios anos a trabalhar em Maternidades, Centros de Saiide e Hospitais, nalguns casos organizados em servico de psicologia. No caso dos Hospitais, ¢stdo sobretudo ligados a servicos de pediatria, diabetologia, neuropsicologia, Pneumologia, infecciologia, cirurgia, oncologia e unidades de dor, entre ou. tos (Carvalho Teixeira, 2002). Em geral, nos congressos nacionais, a érea de intervengao tem tido menor visibilidade do que os projectos de investigacao e de formagao, embora a partir de 2000 esta tendéncia tenha vindo a esbater-se Pela maior participacio de psicdlogos ligados a servigos de saiide. Excepgaio 4 essa tendéncia tém sido os psicélogos dos Centros de Satide que, sem negli= Benciarem a sua participagio em projectos de investigacao, tém aproveitado as conferéncia de Psicologia nos cuidados de satide primérios essencialmente para Apresentarem trabalhos ¢ reflectirem sobre aspectos diversos da sua interven- $0 profissional, Entre outros aspectos de intervengao, destacam-se (Correia, Trindade ¢ Carvalho Teixeira, 2006; Correia, Trindade ¢ Carvalho Teixeira, 2004; Carvalho Teixeira, 2002c}: educagio para a satide, satide materna, sati- de escolar, saiide do adolescente, consulta psicolégica, cuidados continuados, qualidade e humanizagao, Psicoroaia pa Saupe 29 Para trabalhar na s do sistema de satide, as organi: Zagdes socioprofissionais dos psicélogos nao definiram ainda o perfil profissio- nal nem as habilitagé s. Todavia, por uma questdo de coeréncia € qualidade dos cuidados, seria desejavel que, a semelhanga das especialidades meédicas, esse perfil profissional fosse objecto de uma titulagao tinica. A carrcia profissional dos psicélogos no Servigo Nacional de Satide no tem sido suficientemente implementada como poderia ter sido nos iltimos 10 anos, facto ao qual nao seri alheia a falta de vontade politica ¢ a auséncia de uma organizagio socioprofissional forte ¢ interventiva. Em varios ex-hospitais S. A. foram feitas contratagdes de psicélogos sem respeitar as exigéncias da carreira ¢, inclusivamente, sem que os contratados estejam habilitados com © grau de especialista. E possivel que as reformas actualmente em curso nas Politicas de satide possam colocar ainda mais em risco desenvolvimento da carreira profissional. Formagao em Psicologia da Saide A formagio em psicologia da saiide pode subdividir-se em formacao académica ¢ formagio profissional. Até & data, no nosso pais, a formacdo académica, sé por si, no tem garantido o desenvolvimento das competéncias necessirias para trabalhar em satide, no dispensando, em minha opiniao, a formagio profissional. Veremos como evoluira este problema apés a intro- dugio das alteragdes curriculares decorrentes do proceso de Bolonha. Formagao académica Em Portugal tém existido diversas oportunidades de formagao académica em psicologia da saiide em varias instituigdes do ensino superior piblico ¢ privado, quer pré-graduada (licenciaturas), quer p6s-graduadas (mestrados ¢ pés-graduagdes). A nivel das licenciaturas, a formagao em Psicologia da Sade esté fortemente implantada nas instituigdes de ensino superior de psicologia. A nivel de mestrados, a criago do primeiro curso ocorreu na Faculdade de Psicologia e Ciéncias da Educagao da Universidade de Lisboa ea oferta cresceu significativamente nos iiltimos anos, embora com objectivos e com contetidos programaticos bastante heterogéneos e diversificados. Existe jé a possibilidade de realizar doutoramentos na especialidade de Psicologia da Satide. im geral, a formagao em psicologia da satide que assenta no modelo acadé- mico associa uma formagio tebrica sélida com o desenvolvimento de compe- téncias de investigagio (que enquadram a obtengio dos graus académicos), mas é desejével que integre cada vez mais o desenvolvimento de competéncias

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