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Seaver Tee (on yO (fat) BRASIL URGENTE Digitalizado com CamScanner belecimento ¢ de manutencho de iguaidade ¢ da desiganidade Pena ¢ que este pertodo ests cbscurecido por outros argumen tos meio ambiguos € que ela pho ressalton o fato de que 6 i dor pode ser constelado na diregho da igualdade ow da dex gualdade entre as categorias de sex, Como o gémero é visto ‘ora como capar de colorir toda a gama de relegies sociate, ora como um mero aspecto destas relaghes, ¢ dificil dimensienar sua importancia, assim como sua capacidade pare articolar relagbes de poder, Cabe lambém mencionar que Seott pho far menberna reetrighe a Foucault, aceitando ¢ adotando sew comeette de poder, qual- quer que seja 0 Ambito em que exte oeorre, quaneyees dee sejam a profundidade ¢ 0 alcance da andlive £ sabido que Fowcault, embora retina varios méritos, nance elaberos wm projeto de transformagho da sociedade Ore, quem lide com génere de anna perspectiva feminista contests + dominagho-exploragho mas: culina, Por via de consegitects, extretera, bem o@ mal, ama estratégia de luta para a constragio de wma soctedace igualita- ria, Sem divida, ¢ notavel a contribuigho de Sent, Todavia, dada a ambigiidade que perpasss seu texto, seein Comm certos com promissos por ela exphcitados, seria mais interessante diseutir suas idéias do que colocd-la em um pedestal Géno1o e poder Ninguém contesta que o poder seja central na dincussia de determinada {ase histbrica do género, j4 que este fenomneno ¢ cristalino, O que precisa ficar patente é que o poder pode ver democraticamente partilhado, gerando liberdade, come tare bém exercido discricionariamente, criando devigualdades. Definir género como uma privilegiada instanca de asticulagho das relagdes de poder exige a colocagio em relevo das duas modalidades essenciais de participagho nesta tama de intera- bes, dando-se a mesma importincia & integragao por melo da igualdade © A integragko subordinada. Far-+ necesshrio veri ficar se hé evidéncias convincentes, 20 longo da pistoria da mW Arete patcarcad, vekbneia Digitalizado com CamScanner humanidade, da primeira alternativa, Ademais, na auséneia de modelos, é importante averiguar Sua existéncia como for. ma de empoderamento das hoje subordinadas, como catego. ria social. Empoderar-se equivale, num nivel bem expressive do combate, a possuir alternativa(s), sempre na condicao de categoria social. O empoderamento individual acaba transfor. mando as empoderadas em mulheres-dlibi, 0 que joga agua no moinho do (neo)liberalismo: se a maioria das mulheres nao conseguin uma situagaéo proeminente, a responsabilidade é delas, porquanto sio pouco inteligentes, nao lutaram suficien- temente, nao se dispuseram a suportar os sacrificios que a as- censio social impde, num mundo a elas hostil. Dispor de alternativa(s), contudo, Ppressupoe saberes a res- peito de si proprio e dos outros como categorias que partilham/ disputam 0 poder. Escrevendo sobre uma obra de Thompson, Scott® percebeu corretamente que este autor, a0 mesmo tem- po, nao exclufa as mulheres da classe trabalhadora inglesa desde sua génese, mas as marginalizava do Processo de sua forma- clo. E dbvio que seria impossivel negar a presenca das mulhe- res nas fibricas durante a Revolugio Industrial e posterior- mente, Desta sorte, elas nio esto ausentes do estudo de Thompson, Entretanto, o autor nao revela a participagio fe- minina no proprio processo de construgio desta classe. Em outros termos, trata-se toricamente de mostrar como 0 género, hi milénios anterior as classes sociais, se reconstrdi, isto é, absorvido pela classe trabalhadora inglesa, no caso de Thompson, se reconstroi/constréi juntamente com uma nova articular relagdes de poder: as ¢ génese destas nio é a do género maneira de asses sociais. A mesma, nem se di da mesma forma que 4 Evidentemente, Nas distintas, datando o 8 cerca de estas duas categorias tém histo- nero do inicio da humanidade, bit #50°300 mil anos, e sendo as classes sociuis propriate "Women i te Makin Moone coletines de a (1988, p 68.90) J Of the Engh Working Class® poste ser lato 1 M908 Ue Scott, organizada pos Medthun e Abiier Na theleteth tO. Sate? Digitalizado com CamScanner mente ditas um fenémeno inextrincavelmente ligado ao capi- talismo e, mais propriamente, a constituigio da determinagio industrial deste modo de produgio, ou seja, a Revolugio In- dustrial. Se, como sistema econémico, ele teve inicio no sécu- lo xvI, s6 se torna um verdadeiro modo de producio com a constituicéo de sua dimensio industrial, no século xvi. Quan- do se consideram os embriées de classe, pode-se retroceder as sociedades escravocratas antigas. Mesmo neste caso, as clas- ses sociais tém uma histéria muito mais curta que o género. Desta forma, as classes sociais sio, desde sua génese, um fen6- meno gendrado. Por sua vez, uma série de transformagées no género sao introduzidas pela emergéncia das classes. Para amarrar melhor esta questio, precisa-se juntar o racismo. O n6 (SAFFIOTI, 1985, 1996) formado por estas trés contradi- des apresenta uma qualidade distinta das determinagdes que o integram. Nao se trata de somar racismo + género + classe social, mas de perceber a realidade compésita e nova que re- sulta desta fusio. Como afirma Kergoat (1978), 0 conceito de superexploracado nao da conta da realidade, uma vez que nao existem apenas discriminagées quantitativas, mas também qualitativas. Uma pessoa nao é discriminada por ser mulher, trabalhadora e negra. Efetivamente, uma mulher nao é dupla- mente discriminada, porque, além de mulher, é ainda uma tra- balhadora assalariada. Ou, ainda, nao é triplamente discrimi- nada. Nao se trata de varidveis quantitativas, mensuraveis, mas sim de determinagées, de qualidades, que tornam a situa- ¢4o destas mulheres muito mais complexa. Nao seria justo usar um texto antigo de Kergoat, no qual ela expde uma idéia ainda valida, mas em que se utiliza de um concei- to - patriarcado — que abandonou. Com efeito, grande parte, talvez a maioria, das(os) feministas francesas(es) usam a expres- sio relagdes sociais de sexo em lugar de relagdes de género. Fa- zem tanta questo disto que algumas usam a expressao relations sociales de sexe, em lugar de gender relations (relations de genre, em francés), como fazem as norte-americanas e certas inglesas, Teservando a expresso rapports sociaux para designar a estru- = Patriarcado, violéncia Digitalizado com CamScanner tura social expurgada do género. Deste modo, procedem como certas brasileiras, colocando as relagGes interpessoais fora da estrutura social. Que lugar seria este? Da perspectiva aqui assu- mida, este é o nao-lugar. Grande parte das feministas francesas eram/sao um bastiao de resisténcia contra a penetracao, no fran- cés, de uma palavra — género — com outro significado que o gra- matical. Na tentativa de valorizar a expressao relagdes sociais de sexo, Kergoat nao considera incompativeis os conceitos de géne- ro e patriarcado. Em sua opiniao, pensar em termos de relagdes sociais de sexo deriva de uma certa visdo de mundo, fica pratica- mente impossivel falar, ao mesmo tempo, de relacGes sociais de sexo e patriarcado (KERGOAT, 1996). Embora a ambigiiidade do texto seja gritante, vale realcar a admissao da compatibilidade dos conceitos referidos. Este pequeno artigo de Kergoat contém, nao apenas nas idéias utilizadas, varios pensamentos que pedem reflexao. Concorda- se com ela, certamente nao pelas mesmas razées, no que tange ao uso simultaneo dos conceitos de género e de patriarcado, como se deveré deixar claro posteriormente. Aparentemente, sua recusa do termo género est correta. Entretanto, género diz respeito as representacdes do masculino e do feminino, a ima- gens construidas pela sociedade a propésito do masculino e do feminino, estando estas inter-relacionadas. Ou seja, como pen- sar o masculino sem evocar o feminino? Parece impossivel, mesmo quando se projeta uma sociedade nao ideologizada por dicotomias, por oposigées simples, mas em que masculino e feminino sao apenas diferentes. _Cabe lembrar, aqui, que diferente faz par com idéntico. Ja igualdade faz par com desigualdade, e sio conceitos politicos ere Assim, as praticas sociais de mulheres po- logicament erentes das de homens da mesma maneira que, bio- dois tipos Ee phan diferentes deles. Isto nao significa que 6s periéncia histo) ean De eae ee age A ms dos homens exatern as mulheres tem sido muito diferente : quantitativo, mas paged nao apenas do ponto de vis e " mbém em termos de qualidade, 2 partic! 1% Heleieth LB Saif? Digitalizado com CamScanner agi de umas é distinta da de outros. Costuma-se atribuir estas diferengas de historia As desigualdades, e estas desempe- nham importante papel nesta questéo. Sem divida, por exem- plo, a marginalizagao das mulheres de certos postos de traba- Iho e de centros de poder cavou profundo fosso entre suas experiéncias e as dos homens. E importante frisar a natureza qualitativa deste hiato. Trata-se mesmo da necessidade de um salto de qualidade para pér as mulheres no mesmo patamar que os homens, nao esquecendo, porém, de humanizar os ho- mens. Certamente, este nao seria o resultado caso as duas ca- tegorias de sexo fossem apenas diferentes, mas nao desiguais. O pensamento de Kergoat revela que seu texto de 1978, cita- do anteriormente, j4 nao reflete seu pensamento mais recente, na medida em que ela descartou a nogio de patriarcado. Quan- do separa radicalmente os conceitos relagées sociais de sexo e género (aqui ja existe um problema, pois, via de regra, usa-se a expressao relages de género, isto 6, relacbes entre o mascu- lino eo feminino, entre homens e mulheres), procede pelo que considera a presenga da relac&o, no primeiro caso, e a ausén- cia da relacdo, no segundo. Se 0 conceito de género nao envol- ve relagdes sociais e é compativel com a no¢ao de patriarcado, esta tampouco o faz. Esta idéia vem implicita nas considera- ces de a-historicidade do patriarcado, porquanto a unica possibilidade de esta ordem de género manter-se imutavel con- siste na auséncia de oposigdes simples, dicotémicas. Uma vez que nao se trabalha com o conceito weberiano de dominagdo*, compreende-se que 0 processo de dominacao sé possa se estabelecer numa relagao social. Desta forma, ha ols) dominador(es) ¢ o(s) dominado(s). O(s) primeiro(s) nao climina(m) o(s) segundo(s), nem pode ser este seu intento- Para continuar dominando, deve(m) preservar seu(s) subordina- Jo encontrar obodion- sons dadas” (WEBER, ‘a probabllidade pandatos des ‘40 deve ontendor-so a probabilidado ¢ Fogg handato de doterminado contoio onto poss do oes. § 16), ‘Dave entondor-s0 por ‘dominagao’ (.-) cepezntia obediéneia dentro do um grupo dotorminado para scitcos (ou para toda classe de mandatos)" (P. 170). oo 7 7 nero, pats -Patriarcado, violencia Digitalizado com CamScanner do(s). Em outros termos, dominagio presume sub Portanto, esta dada a presenga de, no minimo, dois sujeito atua sempre, ainda que situado no Pdlo de Se o esquema de dominagao patriarcal poe o dominio, a capa- cidade legitimada de comandar, nas maos do Patriarca, deixa livre aos seus subordinados, homens e mulheres, especialmen- te estas uiltimas, a iniciativa de agir, cooperando neste proces- so, mas também solapando suas bases. Eis af a contradigao que perpassa as relagoes homem-mulher na ordem Patriarcal de género. Aliés, 0 conceito de dominagao, em Weber, é distinto do conceito de poder. Enquanto a primeira conta com a aquies- céncia dos dominados, o poder dispensa-a, podendo mesmo ser exercido contra a vontade dos subordinados. Do exposto decorre que se considera erréneo nao enxergar no patriarcado uma relacao, na qual, obviamente, atuam as duas partes. Tampouco se considera correta a interpretagao de que sob a ordem patriarcal de género as mulheres nao detém nenhum poder. Com efeito, a cumplicidade exige consentimen- to e este s6 pode ocorrer numa relagao Par, nunca dispar, como €0 caso da relagdo de género sob o regime patriarcal (MATHIEU, 1985). O consentimento exige que ambas as partes desfrutem do mesmo poder. Do Angulo da pedra fundamental do liberalis- mo, © contrato de casamento deveria ser nulo de pleno direito. Ja que as mulheres esto muito aquém dos homens em matéria de poder, elas nao podem consentir, mas puramente ceder (Mathieu). Se uma mulher é ameagada de estupro por um ho- mem armado, e resolve, racionalmente, ceder, a fim de preset- var o bem maior, ou seja, a vida, sua atitude atuara contra ela Perante o Direito brasileiro, cujos fundamentos sio positivistas, 0u seja, os mesmos que informam o (neo)liberalismo. 0 juiz in- terpretaria a cessio como consentimento. GEneroe patriarcado Ordinaca, : Sujeitos. E dominado, ; ‘ a ido © exposto permite verificar que o género é aqui entendide como muito mais vasto que o m que 18 patriarcado, na medida © Digitalizado com CamScanner

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