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MAPA – Material de Avaliação Prática de Aprendizagem

Acadêmico: R.A.

Curso: Bacharelado em Teologia

Disciplina: ÉTICA CRISTÃ E RESPONSABILIDADE SOCIAL

Valor da atividade: 3,5 Prazo:

Explosão é vista na capital ucraniana Kiev no dia 24 de fevereiro


- Foto: Gabinete do Presidente da Ucrânia via EBC (https://jornal.usp.br/atualidades/guerra-na-
ucrania/)

 
RACIONALIDADE COMBATIVA E FÉ CRISTÃ

Desde o dia 24 de fevereiro o mundo está em pânico devido à invasão da


Ucrânia pelos exércitos da Rússia. É comum ouvir pessoas indignadas: “Isso não é
possível! Logo agora que estávamos pensando que o mundo iria começar a se
recuperar da Pandemia de Covid.” Além das cenas de violência, da conflagração
generalizada e de mais um povo vivendo situação de êxodo e migração, ainda
temos que lidar com as diversas crises consequentes de um mundo globalizado.
Como as altas e baixas nas bolsas de valores, alterações cambiais, aumento da
inflação, redução do poder de compra, aumento de valores de combustíveis e
diversos aproveitadores que tiram vantagens de situações como esta, aumentando
a violência e exploração mundo afora.
Diante disso perguntamos: O que leva as pessoas à guerra? Será que existe
uma espécie de racionalidade combativa? De forma ampla, podemos analisar essa
questão a partir das racionalidades. No geral elas limitam ou ampliam a capacidade
de lidar com as múltiplas percepções da realidade. Elas explicam “porque fazemos o
que fazemos” e, nesse caso, podem ajudar a entender o sentido das guerras.

Um dos principais problemas é a forma de pensar. As sociedades assumiram


o pensamento sintético segundo a racionalidade Aristotélica (Premissa Maior,
Premissa Menor, inferência lógica e a Conclusão). Na prática a metodologia de
Aristóteles propõe uma operação matemática (processo dedutivo) sempre orientado
para a síntese. Essa racionalidade é dirigida para eliminação das diferenças e para
a consequente obrigatoriedade da síntese. Com isso a operação matemática
sempre aplica reduções para que a dedução seja concluída.

  Essa lógica é altamente combativa. É o fundamento do cartesianismo, da


dialética, e o fundamento lógico de diversas formas de reflexão, inclusive religiosas.
Ela propõe a resolução de conflitos pela eliminação das diferenças. Parece certa,
mas quando aplicada a seres vivos, estabelece um determinado grupo pela
eliminação dos Outros.

Essa lógica também fundamenta a religião Cristã? Será que essa lógica é
praticada em igrejas da atualidade Brasileira? Será que as comunidades que
caminharam com Jesus partilhavam dessa lógica combativa?
COMANDO DA ATIVIDADE:

A partir do texto acima, pede-se que seja elaborado um texto em formato de Resumo Expandido sob


o título: Racionalidade Combativa e Fé Cristã. Deverá ter no máximo 500 palavras, ser escrito com
fonte Arial tamanho 10, espaçamento simples, com negrito apenas no título do resumo.

O Resumo Expandido deverá conter dois parágrafos: o primeiro com os itens 1 a 6 e o segundo (no mesmo
parágrafo):

1. Uma breve apresentação do tema explicando a relevância do tema para pesquisa.

2. Problemática apresentando o que será estudado. Em nosso caso, tratando da incompatibilidade entre as


Racionalidades combativas e a Fé Cristã. Também é importante diferencias Fé Cristã (atual) de
Comunidades dos tempos de Jesus.
3. Objetivos apresentando os alvos a serem alcançados. Em nosso caso, identificar e diferenciar as
racionalidades combativas da Fé Cristã e das Comunidades dos dias de Jesus.
4. Metodologia: Neste caso será uma pesquisa aplicada, qualitativa, exploratória e bibliográfica. (Serão
consultados artigos científicos e livros sobre a temática).
5. Fundamentos e Referenciais de pesquisa apresentando a origem dos dados a serem estudados. Os
referenciais teóricos utilizados para fundamentar a pesquisa. Neste caso, a Bíblia, os artigos sobre a guerra
e o Livro texto da Disciplina, por exemplo. Pode colocar o que será encontrado em cada bibliografia.
6. Hipótese apresentando as expectativas da pesquisa. Nela você colocará suas conclusões iniciais. Por
exemplo: Espera-se que essa pesquisa identifique e diferencia a Fé Cristã, As comunidades nos tempos de
Jesus e a Racionalidade combativa.
7. Constatações e resultados da pesquisa onde serão apresentados em um parágrafo breve a compreensão
final sobre o assunto estudado. Espera-se que, a partir da pesquisa o(a) estudante se posicione sobre a
relação entre a Racionalidade Combativa e a Fé Cristã.

Auxílio extra:
- A racionalidade combativa pode ser estudada a partir do pensamento sintético de
Aristóteles. Para isso é preciso entender o processo lógico da síntese e suas
relações com seres vivos.
- A Fé Cristã é um termo amplo usado para designar a compreensão das igrejas na
atualidade. Há muita diversidade, mas ainda assim é possível identificar se as
comunidades de fé, no geral, compartilham de ideais sintéticos da racionalidade
combativa. É possível identificar se as pessoas nas igrejas seguem princípios de
separação, exclusão dos diferentes e síntese dos escolhidos? 
- Ao estudar os evangelhos é possível identificar uma racionalidade combativa?
Excludente e Sintética? Ou será que os evangelhos apresentam um olhar mais
integral de aceitação e inclusão das diferenças mantendo a realidade diversa, sem
síntese? Você pode usar textos bíblicos que fundamentem sua opinião.
 
Texto auxiliar para pesquisa:

A FÉ CRISTÃ FRENTE ÀS RACIONALIDADES SECULARES


Prof. Dr. Eduardo Sales de Lima
 
                 Desde o dia 24 de fevereiro o mundo está em pânico devido à invasão da
Ucrânia pelos exércitos da Rússia. É comum ouvir pessoas indignadas: “Isso não é
possível! Logo agora que estávamos pensando que o mundo iria começar a se
recuperar da Pandemia de Covid.” Além das cenas de violência, da conflagração
generalizada e de mais um povo vivendo situação de êxodo e migração, ainda
temos que lidar com as diversas crises consequentes de um mundo globalizado.
Como as altas e baixas nas bolsas de valores, alterações cambiais, aumento da
inflação, redução do poder de compra, aumento de valores de combustíveis e
diversos aproveitadores que tiram vantagens de situações como esta, aumentando
a violência e exploração mundo afora.

                   Diante disso perguntamos: O que leva as pessoas à guerra? Será que
existe uma espécie de racionalidade combativa? De forma ampla, podemos analisar
essa questão a partir das racionalidades. No geral elas limitam ou ampliam a
capacidade de lidar com as múltiplas percepções da realidade. Elas explicam
“porque fazemos o que fazemos” e, nesse caso, podem ajudar a entender o sentido
das guerras.

              Para melhor definir e entender nossa abordagem, primeiro precisamos


separar alguns termos. Por Racionalidades Seculares estamos tratando
especificamente da mentalidade principal na formação do pensamento das
sociedades contemporâneas. Claro que existem várias formas de pensar, todavia,
estão limitadas pelas formas de compreensão. Todavia, na prática, a forma de
pensamento sintético popularizada principalmente após Aristóteles, tem grande
influência sobre o mundo. Ela é baseada em operações matemáticas e funciona por
meio de um processo dedutivo. Ou seja, diante de várias possibilidades, aquelas
consideradas piores são excluídas ou reunidas de forma a produzir uma síntese que
seria a verdade resultante. Esse tipo de reflexão influenciou toda a humanidade,
inclusive a teologia.

                    Na guerra, a reflexão sintética pode ser vista pelo confronto entre duas
potências (premissas) donde a inferência lógica resulta na síntese onde “os
melhores” vencerão. Esse pensamento não funciona somente nas guerras, mas
também nos vestibulares, e nas vagas de emprego. Também é assim no mercado,
entre as empresas, na política, nas religiões. E, de certa forma, em toda a vida ao
nosso redor. Trata-se de uma forma de pensar, agir e entender, por isso uma
racionalidade. É o fundamento de lógicas de seleção e exclusão. Sua racionalidade
valida as tomadas de decisão com ideais de qualidade. O problema surge quando
essa racionalidade é aplicada às relações sociais. Neste caso, torna-se uma forma
racional de validar a violência.

           Dito isso, vamos ao segundo conceito importante para nossa reflexão: O que
são as Comunidades dos Seguidores de Jesus?

Ainda não eram cristãos no sentido moderno do termo. Embora seguissem a Jesus,
eram, na maioria judeus e alguns gregos. Os principais textos para entender as
características dessas comunidades são os testemunhos dos evangelhos e as
diversas correspondências, principalmente entre o Apóstolo Paulo e as primeiras
comunidades cristãs-gentílicas.

Naquela época a racionalidade secular era dirigida por valores sintéticos e


absolutistas. Em seu contexto, a dominação e o imperialismo impuseram
a Pax Romana como instituição fundada na força, submissão e exclusão dos
diferentes. Diante dessa realidade os judeus propuseram diversas revoltas antes e
depois de Jesus, todas com o intuito de libertação da subjugação política e
ideológica. O que não estava resolvendo porque os grupos de resistência
partilhavam da mesma racionalidade que os opressores.
Independente da identificação religiosa dessas comunidades, pode-se afirmar
que estavam sendo orientadas a não seguir as racionalidades seculares (Rm 12:1-
2; Jo 3:1-12; Mt 5:20; Mateus 5-7; etc...). E foi justamente a mudança de
racionalidade que possibilitou um choque cultural que abalou o mundo. As
propostas da comunidade dos seguidores de Jesus eram baseadas em outra
racionalidade, uma proposta integralista e não combativa.
Desde o começo Jesus propõe que seu ministério é de revelação e não de
confronto militar. O batismo de Jesus aponta para esse ministério (Mt 17:15), assim
como a identificação de Jesus com a vontade do Pai (Mt 7:21; 12:50; Jo 6:40; Jo 10;
17). O chamado dos discípulos demonstrava publicamente a que Jesus veio, e foi
para incluir. Não era uma escolha/seleção entre os puros e religiosos dedicados,
mas uma abertura, um caminho de acesso para as pessoas simples do povo,
inclusive de opiniões políticas diferentes. Exemplo disso foi a escolha de Mateus,
um cobrador de impostos (trabalhava para Roma), e Simão, um Zelota (opositor ao
império romano). Nesse chamado não foi exigido nenhum compromisso religioso
além do desejo e compromisso de seguir.

Jesus não propôs afrontas políticas ou algum tipo de revolta civil. E quanto seus
discípulos seguiam a racionalidade excludente e violenta, eram instruídos a largar
as espadas (Mt 26:52). Não tinha como pregar uma racionalidade inclusiva e
destruir os opositores. Dessa forma a comunidade dos discípulos de Jesus sempre
esteve de braços abertos, até para os fariseus e autoridades políticas como
Nicodemos, por exemplo (Jo 3).

                   A racionalidade do cristianismo pregada por Jesus confronta as


tradições religiosas e políticas baseadas em racionalidades sintéticas e excludentes.
Jesus pregava contra essa racionalidade quando andava entre “prostitutas e
publicanos” (Mt 21:31-32). Inclusive, podem ser contados entre os discípulos, como
é o caso de Mateus e de Maria Madalena. Claro que deveria haver muitos outros e
outras como o endemoniado Gadareno que se dispôs a seguir Jesus.

O maior confronto, entretanto, era a comunhão de mesa. Quando Jesus se


dispunha a comer com “publicanos e pecadores” (Mt 9:10-11) afrontava à
racionalidade secular baseada na lógica excludente e sintética praticada por alguns
religiosos do judaísmo da época. Quando apresenta a parábola do “Bom
Samaritano” (Lc 10) ou quando o evangelho relata que o único dos leprosos curado
que retornou era um Samaritano (Lc 17:16), confronta a racionalidade secular. Tudo
isso porque a racionalidade cristã deveria ter um sentido diferente (Mt 5:20), pois
não era uma lógica sintética focada em separar os bons dos ruins, os certos dos
errados, os puros dos impuros, mas estava voltada para inclusão de todos na e pela
Graça de Deus.

 
Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu
inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai
pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso
Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons
e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque, se amardes os que
vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos
também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos,
que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo?
Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai
celeste. (Mateus 5:43-48, ARA)

 
                   É uma racionalidade que prega o amor e o perdão mesmo diante da
espada e da violência (Mt 26:52). A lógica dos evangelhos é muito próxima do
pensamento inclusivo oriental que entendia toda a realidade conectada. Até mesmo
as afrontas ou rivalidades dialéticas eram interpretadas de forma harmônica e não-
combativa (Jo 11:4). O auge dessa mensagem foi a tradição das palavras da Cruz,
onde mesmo sofrendo todo tipo de escarnio e violência Jesus orou para que Deus
perdoasse seus agressores (Lc 23:34).

                   Há vários textos sobre essa racionalidade integralista, voltada para o


cuidado e aceitação das diferenças. Essa é a essência da graça, que não é por
nenhum mérito humano. Todavia, resta uma pergunta: Se esta é a racionalidade
dos evangelhos, então qual o motivo das disparidades na racionalidade cristã atual?

Em razão dessa pergunta, deixei a definição sobre o que é a Fé Cristã por


último. Primeiro, é patente que ela precisa ser diferenciada dos Seguidores de
Jesus. Nela reunimos as igrejas e comunidades de fé que se proclamam cristãs.
Podemos reunir toda a igreja de forma generalizada. Agora, a diferenciação se deve
principalmente à racionalidade.

Na tradição histórica do cristianismo a comunidade dos discípulos de Jesus


se aproximou de diversas estruturas ideológicas configuradoras da vida. O
imperialismo e políticas romanas, os diversos imperialismos e políticas mundo afora,
antes e após as Reforma Protestante. E mais recentemente, desde o século 19
vários movimentos de renovação da espiritualidade, incluindo a recente emergência
do pentecostalismo como ramificação da igreja. Apesar de todas as alterações que
surgiram com esses movimentos, a racionalidade combativa sempre esteve
presente na Fé Cristã. Seja pela eliminação dos hereges, ou pelas concorrências
entre comunidades de Fé, ou ainda por disputas diversas por poder. Sim, desde
cedo percebe-se o distanciamento e abandono da racionalidade dos evangelhos em
razão de racionalidades seculares. Todavia, não se deve tomar essa afirmação
como integral porque é possível que a racionalidade dos evangelhos sempre esteve
presente em pessoas dispostas a seguir a mensagem dos evangelhos.

                Atualmente, o cristianismo sobrevive às mudanças da “pós-modernidade”,


mas não sem baixas. Os valores e ideais continuam processos de identificação com
racionalidades seculares e, desde tempos memoráveis, a racionalidade sintética e
excludente continua conquistando adeptos, inclusive dentre os novos “seguidores
de Jesus”. O que se apresenta na atualidade são diversas formas de cristianismo
sincrético, não com outras religiões, mas com a racionalidade secular. E com isso,
valores centrais como a racionalidade inclusiva fundada na Graça e testemunhada
nos evangelhos continua sendo abandonada.

                  Todo esse texto responde às questões iniciais com uma provocação


final: Será que as comunidades de fé atuais ainda podem se chamar de Cristãs?
Será que ainda há compromisso com o seguimento de Jesus?  E será que a
violência e as guerras podem ser frutos não desejados desses cristianismos de
racionalidade secular?

(Sua resposta a partir daqui [FORMATAÇÃO: ARIAL, 10, ESPAÇAMENTO


SIMPLES, ALINHAMENTO JUSTIFICADO])

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