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RESOLUCAO SEE N° 2.820, DELL DE DEZEMBRO DE 2015. Institui as Diretrizes para a Educagao Basica nas escolas do campo de Minas Gerais. A SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAGAO, no uso das atribuigdes que the confere 0 artigo 93, § 1°, inciso Il da constituigao do Estado de Minas Gerais, RESOLVE: Art. 1° Ficam instituidas as Diretrizes para a Educag3o Basica nas escolas do campo de Minas Gerais, que devero ser observadas no desenvolvimento dos programas ¢ projetos ¢ na atuagdo das instituig6es educacionais que integram o sistema estadual de ensino de Minas Gerais. ‘ Art. 2° Para os efeitos desta Resolugdo, entende-se por: 1- populagdes do campo: os agricultores familiares, os extrativistas, os ribeirinhos, os assentados e acampados da reforma agréria, os trabalhadores assalariados rurais, os quilombolas, geraizeiros, vazanteiros, caatingueiros, veredeiros, pescadores artesanais, integrantes do movimento dos atingidos por barragens, apanhadores de sempre viva, faiscadores € outros que produzam suas condigGes materiais de existéncia a partir do trabalho no meio rural; IL- escola do campo: aquela situada em area rural, conforme definida pela Fundagao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica — IBGE ou aquela situada em area urbana, desde que atenda, predominantemente, as populagdes do campo. § 1° Scrao consideradas do campo as turmas anexas e/ou localizadas nos segundos enderegos vinculados as escolas com sede em érea urbana (sede de municipio) que funcionem nas condigées especificadas no inciso Il, do art.2°, § 2° As escolas do campo, as turmas anexas e/ou localizadas nos segundos enderegos de escolas com sede em Area urbana (sede do municipio), deverio elaborar seu projeto politico pedagégico na forma estabelecida pelo Conselho Nacional de Educagao ¢ pelo Conselho Estadual de Educaedo, especificada nas resolugdes institufdas pela Secretaria de Estado de Educagtio de Minas Gerais, Art. 3° Sao principios da Educagtio do Campo: I- respeito & diversidade do campo em seus aspectos sociais, culturais, ambientais, politicos, econdmicos, de género, geracional e de etnias; IL incentivo a formulagto de projetos politico-pedagégicos especificos para as escolas do campo, estimulando 0 desenvolvimento das unidades escolares como espagos piblicos de investigagdo ¢ articulag4o de experiéncias e estudos direcionados para 0 desenvolvimento social, economicamente justo ¢ ambientalmente sustentavel, com base 1a agroecologia e em articulago com o mundo do trabalho; PUBLICADO EM 12 DEZ 206 Ill- desenvolvimento de politica de valorizagio dos profissionais da Educacio do Campo, que garanta uma remuneragao digna, com a incluso ¢ reconhecimento dos diplomas das Licenciaturas do Campo pelos editais de concurso piblico; IV- desenvolvimento de politicas de formagiio de profissionais de educagéo pa atendimento da especificidade das escolas do campo, considerando-se as. condi coneretas de produgio e reproduedo social da vida do campo; V- valorizagao da identidade da escola do campo, considerando as priticas socioculturais ¢ suas formas especificas'de organizagiio do tempo, por meio de projetos pedagégicos. com contetidos curriculares ¢ metodologias adequadas as’ reais necessidades dos estudantes do campo, bem como flexibilidade na organizagio escolar, incluindo adequagdo do, calendario escolar as fases do ciclo agricola, as condigdes climéticas e as caracteristicas socioculturais da regio; Vi- Implementagéo de gestio democritica das instituigdes escolares, por meio do controle.social, sobretudo da qualidade da educago oferecida, mediante a efetiva participagio das comunidades ¢ dos movimentos sociais e sindicais do campo na definigao do modelo de organizagdo pedagégica e de gestio. Art. 4° A politica de educagiio do campo destina-se & ampliago e qualificagao da oferta de Educagio Basica as populagdes do campo, sera desenvolvida em regime de colaboragao entre Estado © os municipios, de acordo com as orientagdes ¢ metas estabelecidas no Plano Nacional de Educagao ¢ o disposto nestas diretrizes, a saber: 1- alfabetizagdo ¢ redugao das desigualdades educacionais para a populagdo jovem e adulta; IL universalizagao da Educagtio Basica conforme a legislago; III- desenvolvimento de politicas que promovam a permanéncia e a aprendizagem dos estudantes em todos os niveis e modalidades da Bducagio Basica; Art. 5° A Educagiio Infantil constitui a primeira etapa da educacdo basica em ereches escolas do campo, promovendo o desenvolvimento integral de criangas de zero a cinco anos de idade. § 1° A Secretaria de Estado de Educagdo colaboraré com os municipios para definir, conforme estabelecido no Plano Nacional de Educagdo — PNE 2014, a meta de expansiio da respectiva rede de educagio infantil do campo, observando o padrao de qualidade considerando as peculiaridades locais. Art. 6° O Ensino Fundamental, com durago de 9 (nove) anos, gratuito na escola publica, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, teré por objetivo a formagio basica do cidadao. Pardgrafo Unico. A Secretaria de Estado de Educagdo colaboraré com os municipios, para a garantia da universalizacao do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos para toda a populagao do campo de 6 (seis) a 14(quatorze) anos de idade, e ainda: 1- garantir que, até o tiltimo ano de vigéncia do PNE, pelo menos 95% (noventa e cinco por cento) dos alunos concluam o Ensino Fundamental na idade propria recomendada; IL criar mecanismos para acompanhamento ¢ monitoramento do acesso, permanéncia e aproveitamento escolar das criangas ¢ adolescentes do campo, matriculados nas escolas plblicas de Ensino Fundamental; IIL- caberd a Secretaria de Estado de Educagdo, em parceria com outros érgios publicos de assisténcia social, satide e protegdo a infancia, promover a busca ativa de criangas e adolescentes do campo fora da escola. Art. 7° O Ensino Médio, etapa final da educagdo basica, com duragao minima de irés anos, . teré como finalidade a consolidagdo © 0 aprafundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando 0 prosseguimento de estudos. § 1° Caberé Secretaria de Estado de Educagdo, em regime de colaboragdo com os municipios, assegurar, até o final da vigéncia do PNE, a universalizacdo do atendimento escolar para toda a populagao do campo de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos, § 2° Caber a Secretaria de Estado de Educagdo a garantia da oferta de educagio profissional e tecnolégica, integrada, concomitante ou sucessiva 20 Ensino Médio, com perfis adequados as caracteristicas socioecondmicas das regides onde sera ofertada. § 3° Compete aos entes federativos citados no caput promover, de forma colaborativa, parceria com os servicos piblicos de assisténcia social, saiide e protecdo a adolescéncia 4 juventude para a busca ativa da populagéio do campo de 15(quinze) a 17 (dezessete) anos fora da escola. Art. 8° A educagdo na modalidadé da Educagtio de Jovens e Adultos deverd atender, mediante procedimentos adequados, as populagdes do campo que nfo tiveram acesso ou nfo concluiram seus estudos no Ensino Fundamental ou no Ensino Médio. . Parigrafo tinico. A oferta da educagilo basica na modalidade de Educagao de Jovens Adultos poderé ser articulada com qualificago social e profissional, visando 4 promogéio do desenvolvimento sustentével do campo. ‘Art. 9° A Educagtio Especial serd compreendida conforme a Lei n° 12.796, de 4/4/2013, como a modalidade de educagao escolar para estudantes com deficiéncia, transtornos globais do desenvolvimento ¢ altas habilidades/superdotagao. Pardgrafo Unico. Os sistemas de ensino adotardo providéncias para que as criangas € os jovens com deficiéncia, transtornos globais do desenvolvimento ¢ altas habilidades/superdotacao, residentes no campo, tenham acesso a Educagio Basia e ao atendimento educacional especializado em escolas da rede de ensino regular. Art. 10 Anualmente, no periodo do cadastro escolar, devera ser feita a’avaliago da demanda escolar da populagio do campo de cada municipio, relacionando-a com os dados da populagao do campo por faixa etaria, com a finalidade de verificar as taxas de frequéncia liquida, tanto na Educagio Infantil quanto no Ensino Fundamental e Médi Art, 1] Caberd a Secretaria de Estado de Educagao, em colaboragao com os entes federados — Unido os municipios mineiros -, nos seus respectivos Ambitos de atuagao prioritaria, sempre que 0 cumprimento do direito & educagao assim o exigir, o desenvolvimento ¢ manutengao da politica de educagao do campo, em seus respectivos sistemas de ensino: I- organizagao e funcionamento de turmas formadas por estudantes de diferentes idades e graus de conhecimento de uma mesma etapa de ensino, especialmente nos anos iniciais do Ensino Fundamental; IL- oferta de educagao bésica, em suas diversas modalidades e considerando, quando necessétio, os principios da pedagogia da altemdncia nos anos finais do Ensino Fundamental eno Ensino Médio; IIl- organizagio do calendério escolar, de acordo com as fases do ciclo produtivo, das condigées climaticas ¢ das caracteristicas socioculturais de cada regio. Art12 A Educagdo Basica do Campo seré preferencialmente ofertada nas proprias comunidades rurais, evitando-se os processos de nucleaedo de escolas e de deslocamento de estudantes para fora de sua comunidade de pertencimento. § 1° Para garantir o atendimento mais préximo as comunidades de pertencimento, as escolas poderdo adotar estratégias de oferta multisseriada, classes unidocentes ou ciclos por idade de formagao, + § 2° Deve-se evitar que sejam agrupadas, em uma mesma turma, eriangas da Edueagio Infantil com criangas do Ensino Fundamental . § 3° Quando os anos iniciais do Ensino Fundamental ndo puderem ser ofertados nas proprias comunidades das criangas, 0 provesso de nucleagao rural (intracampo) deverd garantir a participago das comunidades, especialmente as familias das criangas, na definigdo do local, bem como na avaliagéo das possibilidades de percurso a pé pelos alunos, na menor disténcia a ser percorrida, § 4° Para os anos finais do Ensino Fundamental ¢ para 0 Ensino Médio, integrado ou ndo_& Educagdo Profissional Técnica, o proceso de nucleagio intracampo poder constituir-se, desde que salvaguarde 0 didlogo, o respeito, os valores ¢ a cultura das comunidades atendidas. ° § 5° A oferta da Educagtio de Jovens e Adultos também deve considerar que os deslocamentos sejam feitos nas menores distincias possiveis, preservado 0 principio iritracampo. 3 § 6° A Secretaria de Estado de Educagao, em colaboragao com os municipios buseard estabelecer 0 tempo méximo de deslocamento intracampo dos alunos do Ensino Fundamental e Médio a partir de sua realidade. Art, 13 Caberd a Secretaria de Estado de Educag%o por meio do: Programa Estadual de Transporte Escolar ~ PTE-MG, Lei n° 21777 de 29 de setembro de 2015, transferir recursos financeiros, de forma direta, aos municipios que realizam o transporte escolar dos alunos da rede estadual de ensino, residentes em zona rural. § 1° Deverd ser criado procedimento de controle ¢ monitoramento do transporte escolar em cada municipio, em consondncia com as Superintendéncias Regiohais de Ensino — SRE ¢ comunidades, com vistas ao melhor atendimento aos estudantes ¢ considerando 0 tempo de deslocamento, a melhoria das condigdes do transporte, das vias de acesso € das rotas utilizadas. § 2° O transporte escolar, quando necessdrio, devera ser ofertado de acordo com as normas do Cédigo Nacional'de Transito. Art. 14 Para 0 atendimento dos objetivos previstos nas diretrizes propostas, a condigtio do trabalho docente be como a formagiio de professores para a educagdo do campo observarao 05 principios e objetivos da Politica Nacional de Formagio de Profissionais do Magistério da Educagdo Bésica, conforme disposto no Decreto Federal n° 6.755, de 29 de janeiro de 2009, e serd orientada, no que couber, pelas diretrizes estabelecidas pelo Conselhd Nacional de Educagiio. Art. 15 A Secretaria de Estado de Educagao, em colaboracio com os municipios nos seus respectivos ambitos de atuagdo prioritéria, e com a devida participagao da Unio, buscara garantir: I- remuneragéo digna, methoria nos planos de carreira e concursos piblicos para os professores e demais profissionais; Il- institucionalizagao de programas de formagiio inicial e continuada para os ~ profissionais da educacdo do campo que atendam as necessidades de funcionamento da escola do campo ¢ propiciem, no minimo, o disposto nos artigos 13, 61, 62 ¢ 67 da LDB; e IIl- formagao especifica de gestores ¢ profissionais da educagio que atendam as necessidades de funcionamento da escola do-campo, produgdo de recursos didaticos, pedagégicos, tecnoldgicos, culturais e literdrios que atendam as especificidades formativas das populagées do campo. § 1°°A formagdo de professores poderd ser oferecida concomitante a atuaglo profissional, de acordo com metodologias adequadas, como a Pedagogia da Alternncia € a Educagdo a Distancia, sem prejuizo de outras que atendam as especificidades da educagdo do campo ¢ por meio de atividades de ensino, pesquisa e extensio. § 2° A formagao de professores incorporard, em seus projetos politico-pedagogicos, as orientagdes das Diretrizes Curriculares Nacionais do Conselho Nacional de Educagéo — CNE para os cursos de formago continuada, os prineipios e as concepgdes da educagdo diferenciada, as especificidades e diversidades socioculturais, ambientais, politicas ¢ econémicas, os processos de interago entre o campo e a cidade e a organizagio dos espagos e tempos da formagio. §3° Os recursos diditicos, pedagégicos, tecnol6gicos, culturais ¢ literdrios destinados educagio do campo deverdo atender ds especificidades e peculiaridades das populagdes do campo. Art. 16 Em cumprimento ao art. 12 da Lei federal n° 11.947, de 16 de junho de 2009, caberd a Secretaria de Estado de Educagao ¢ aos entes federados, no ambito de suas competéncias especificas e sob o regime de colaboragao, buscar garantir alimentago escolar aos estudantes, de acordo com os habitos alimentares préprios do contexto predominante em que a escola esté inserida. Pardgrafo tinico. Do total dos recursos financeiros repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educagéo, no ambito do Programa Nacional de Alimentagao Escolar, no minimo 30% (trinta por cento) deverdo ser utilizados na aquisigio de -génetos alimenticios diretamente da agricultura familiar ¢ do empreendedor familiar rural ou de suas organizagdes, priorizando-se os assentamentos da reforma agréria, as comunidades tradicionais indigenas e as comunidades quilombolas. Art. 17 A Secretaria de Estado de Edueagio poderd, em colaboragao com a Unido e os municipios, nos seus respectivos ambitos de atuago prioritéria, buscar apoio técnico e financeiro para as escolas do campo mediante transferéncia direta de recursos. Pardgrafo Unico. A forma de apresentagio das demandas de apoio técnico e financeiro para cobertura de despesas de custeio, capital, reforma, ampliago e manutengdo e pequenos investimentos serd por meio’ de Planos de Ago especificos para esse atendimento, visando: 1 adequago benfeitoria na infra-estrutura fisica dessas unidades educacionais, necessirias & realizagao de atividades educativas ¢ pedagégicas voltadas a melhoria da qualidade do ensino e & elevagao do desempenho escolar; Il- melhoria de suas instalagdes, bem ‘como aquisigd0 de mobiliério escolar & conoretizagao de outras agdes que concorram para a elevagiio do desempenho escolar; IIl- promogio, fortalecimento ¢ consolidagio de territérios educativos sustentaveis, valorizando © didlogo entre saberes comunitirios e escolares, integrando na realidade escolar as potencialidades educativas do territério em que a escola esta inserida; IV- ‘comprometimento de. professores ¢ alunos com os saberes culturais locais, bem como pesquisa, inovagdo, meméria e histéria das comunidades, fomentando-as. Art. 18 A Secretaria de Estado de Educagio, em colaborago com os municipios, deve promover a criago e implementago de mecanismos para garantia da manutengiio e desenvolvimento da Educagio do Campo nas suas respectivas esferas de competéncias. Pardgrafo nico. A donstrugo de escoles do campo poderd constituir objeto de cooperagio entre os entes federados. Art. 19 Competiré a Secretaria de Estado de Educago, em colaboragao com os municipios, buscar constituir instancias colegiadas, com participagio de representantes municipais, das onganizagbes sociais do campo, das universidades piblicas e outras instituigdes afins, com vistas a colaborar para a formulagdo, ‘implementagdo e acompanhamento das politicas de Educago do Campo. Art. 20 Esta Resolugdo entra em vigor na data de sua publicagéo. SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAGAO, em Belo Horizonte, aos} de dezembro de 2015. . reals PUBLICADO EM MACAE MARIA EVARISTO DOS SANTOS 12.DEZ 206 Secretaria de Estado de Educagao :

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