You are on page 1of 9

Estudo comparativo do treinamento de força tradicional e

treinamento funcional na prevenção de quedas em idosos

Ana Beatriz Sampaio Dias


Felipe Eduardo Silva Lameirinha
Guilherme Danilo M. Batista
Guilherme Santos de Oliveira
Leonardo Afonso

Introdução
O envelhecimento é um processo individual que atinge as pessoas de maneiras diferentes,
trazendo mudanças funcionais, psicológicas, morfológicas e bioquímicas. É um processo
gradual e progressivo que reduz a capacidade de execução de habilidades cotidianas, tirando
a qualidade de vida e independência dos indivíduos (FERREIRA ET AL, 2012 apud Souza,
Santos, Rocha, 2022). A perda de independência acaba por se tornar uma das maiores causas
de problemas psicológicos como a depressão e por consequência o suicídio. Pesquisas
revisadas por Filho, Ferreira e Peixoto (2006) falam sobre os efeitos do envelhecimento:

Pesquisas (Marques, 1999; Araújo, 2003; Dantas, 2005) têm mostrado que, com o
passar dos anos, ocorrem perdas naturais das capacidades físicas como a perda de
força, de flexibilidade, de velocidade, dos níveis de VO₂, de massa óssea
(osteopenia), além da redução na massa muscular (sarcopenia), devido,
sobremaneira, ao acometimento nas fibras do tipo llb. Além disso, nesta fase, ocorre
o aumento da gordura corporal e o aparecimento de várias patologias decorrentes
das mudanças citadas, como, por exemplo, a osteoporose, doenças cardiovasculares,
diabetes, hipertensão arterial, dentre outras (FILHO, FERREIRA, PEIXOTO,
2006).

O processo de envelhecer é gradual e irreversível que envolve todos as estruturas


funcionais do corpo humano, causando perda da capacidade adaptativa, aumentando a
suscetibilidade de doenças crônicas e osteomusculares, diminui a força muscular e o
equilíbrio, aumentando o risco de quedas e fraturas ósseas causadas por elas, além de
disfunções metabólicas causando prejuízo na funcionalidade e na qualidade de vida.
(REZENDE-NETO, et al 2016). Os mesmos autores dizem que a diminuição da capacidade
funcional pode ser explicada pela perda de eficiência principalmente dos sistemas
cardiorrespiratório e neuromuscular, além do desenvolvimento de problemas osteoarticulares.
O processo de envelhecimento e problemas por ele gerados podem ser acelerados e agravados
pelo sedentarismo.
O tratamento farmacológico é muito utilizado nas situações deletérias do envelhecimento,
porém, apesar de importante para determinadas situações não é o único meio de prevenção, o
exercício físico traz muitos benefícios motores e psicológicos para os indivíduos idosos.
Portanto a mudança de estilo de vida, adotando hábitos mais saudáveis, e uma rotina de
exercícios físicos resistidos traz um aumento na qualidade de vida e na funcionalidade desses
indivíduos, aumenta a resistência, a flexibilidade, o equilíbrio, além de reduzir os efeitos do
processo de sarcopenia.
Um dos grandes problemas da população idosa são lesões osteomusculares causadas
por quedas e dentre as causas de quedas dos indivíduos idosos, a sarcopenia encontra-se entre
as principais, o termo sarcopenia surgiu em (1989) utilizado por Rosemberg, definido como
um processo lento e progressivo que se associa a outras doenças crônicas e suas
consequências, e afeta diretamente a funcionalidade e autonomia dos idosos (PIERINE;
NICOLA; OLIVEIRA, 2009).
A sarcopenia é considerada um problema de saúde pública pois é uma patologia
complexa e multifatorial entre os principais fatores estão a diminuição de estímulos
anabólicos e aumento de estímulos catabolicos no tecido muscular esquelético que, pode ser
causado pela elevação de citosinas pró-inflamatórias que participam ativamente da perda de
capacidade funcional e da resistência insulínica (PIERINE; NICOLA; OLIVEIRA, 2009).
Com o envelhecimento, acontecem muitas mudanças nos individuos, tanto físicas
quanto metabólicas, dentre as principais mudanças estão a perca de tecido muscular
esquelético, e ganho de gorduras corporal, e a redução de água no organismo (SILVA et al.,
2006), diminuição dos moto-neuronios, e algumas mudanças metabólicas, sendo a mais
evidente a diminuição ou não captação de vitaminas pela pele.
Todos os indivíduos perdem massa muscular ao longo da vida, mesmo os indivíduos
saudáveis (ou aparentemente saudáveis), até os 60 anos em média, indivíduos sedentários
tentem a ter uma perda mais acentuada, podendo perder cerca de 40% de músculo. Também é
possível observar que a partir dos 40 anos , tende a ocorrer um aumento de gordura corporal,
com média de 7,5% a cada década.
Isso ocorre por conta do desuso muscular, a falta de estímulo causa a hipotrofia, que
tambem causa perda de flexibilidade e força, e por consequência menor gasto energético,
síntomas directamente ligados a sarcopenia, bem como outras doenças crônicas
degenerativas, aumentando o risco de quedas (PIERINE; NICOLA; OLIVEIRA, 2009).
O hipotrofismo muscular é causado pela descoordenação nervosa e imobilismo,
causados pelo sedentarismo, causando desmineralização óssea, perda de equilíbrio e menor
autonomia das atividades do dia a dia, isso aumenta o risco de quedas e/ou fraturas ósseas.
No Brasil, as fraturas de como de fêmur atingem cerca de 70 mil/año sendo que 20% morrem
por complicações ocorridas nos primeiros 6 meses (PIERINE; NICOLA; OLIVEIRA, 2009).
Em 2017 o Brasil ultrapassou a Marca de 30,2 milhões em 2017 segundo o IBGE, e as
estimativas da OMS apontam que até 2050 teremos uma população de mais de 60 anos de
aproximadamente 2 bilhões, e cerca de 30% da população do Brasil terá mais de 60 anos, e é
importante que essa população possa chegar nessa idade com uma boa condição de vida, seja
os que já estão com mais de 60 anos ou aqueles que só atingirão essa idade futuramente.
Para isso foi revisado a literatura para saber qual método de treinamento é mais eficaz para
melhorar a qualidade de vida dessa população idosa, e nessa revisão, tanto o treinamento
funcional quanto o treinamento de força apresentam bons resultados. Por isso, a intenção do
grupo foi aprofundar o estudo levantando essa pesquisa comparativa entre esses dois
métodos.
O treinamento resistido, ou treinamento de força, vem se tornando cada vez mais popular, e
tem como objetivo o ganho de força muscular e melhora na aptidão físicas dos indivíduos
segundo Fleck e Kraemer (2006). Tubino (1984, p.78 apud Silva, 2011) diz que os
treinamentos de musculação são meios de preparação física utilizados para o
desenvolvimento das qualidades físicas relacionadas com as estruturas musculares. Esse
desenvolvimento traz como benefício além do ganho de força, mudança da composição
corporal, ganho de potência muscular, dentre outros que, trazem ou mantêm a autonomia
melhoram equilíbrio e diminuem o risco de queda dos indivíduos.
Já o treinamento funcional é um programa de treinamento neuromuscular baseado na
funcionalidade do corpo, tendo muitas vezes exercícios e movimentos específicos para a
necessidade do dia a dia. A premissa básica é a melhoria do sistema psicobiológico, com
exercícios multiarticulares e multiplanares, com exercícios de força, potência e estabilização.
Trazendo benefícios como qualidade de movimentos, aumento da força no core e aumento da
eficiência neuromuscular. Os dois métodos de treinamento, tem por função trabalhar
condicionamento físico para promoção de saúde, trabalhando RML, Resistência
cardiorrespiratória, flexibilidade e equilíbrio.
Sobre os efeitos do treinamento de força, citando Fleck e Kreamer (1997) Filho, Ferreira e
Peixoto (2006) explicam:
No início do treinamento, observa-se uma grande co-ativação dos músculos
antagonistas, impedindo a geração de grandes níveis de força. Os mecanismos
responsáveis por esta co-ativação são os órgãos proprioceptores, ou seja, o fuso
muscular e o órgão tendinoso de golgi (OTG), por entenderem que aquele gesto
motor pode ser lesivo ao sistema osteo-mio-articular. Com o decorrer do
treinamento, começa a decrescer esta co-ativação, permitindo, desta forma, um
maior recrutamento dos músculos agonistas, devido à adaptação neural, sendo que
os fatores neurais são os principais responsáveis pelo aumento da força nas
primeiras semanas de treinamento com pesos (Fleck e Kraemer, 1997) (FILHO,
FERREIRA, PEIXOTO, 2006).

Os mesmos autores ressaltam a importância de utilizar as cargas acima de 80% de


1RM, pois acontece o recrutamento das fibras de tipo II e promovem a prevenção da
sarcopenia.
O estudo de Silva et al (2008) fez um trabalho experimental de 72 semanas, num total de 6
meses, sendo 3 sessões semanais em dias alternados, o grupo realizava 10 minutos de
aquecimento, alguns exercícios de alongamento e começavam o treinamento, realizando 2
séries de 8 repetições a 80% de 1RM, realizando 1 minuto e 30 segundo de descanso entre
cada série e 3 minutos de descanso entre os aparelhos.
Os resultados foram positivos para os participantes, obtendo uma diferença
significativamente relevante em dois dos três testes realizados, o timed up & go, que teve
uma redução significativamente relevante no tempo e no teste tinetti com um aumento
significativamente relevante. O teste de equilíbrio de Berg também apresentou leve melhora,
porém não suficiente para ser significativamente relevante. (SILVA ET AL, 2008)
No estudo de Souza, Santos e Rocha (2022) foi realizado um comparativo entre treinamento
funcional e de força com 4 idosas divididas em 2 grupos. O programa foi aplicado em 12
semanas, com um total de 24 sessões de treinamento de 30 minutos cada. Fazendo a
utilização de uma periodização ondulatória, executando nas semanas pares 3 séries de 12
repetições e nas semanas ímpares 2 séries de 15 repetições, sendo 6 exercícios para cada
grupo, o tempo de descanso foi de 90 segundos para todos.
Os testes aplicados foram sentar e levantar 5x, timed up & go, equilíbrio dinâmico e apoio
unipodal. Os resultados foram positivos para os dois grupos em todos os testes realizados,
com melhora significativa (P > 0,05) após o programa de treinamento. No comparativo entre
os grupos, o grupo A que fez o treinamento funcional apresentou uma melhora expressiva de
6,19% a mais do que o grupo que fez Treinamento de força, sendo uma diferença
significativamente relevante. (SOUZA, SANTOS, ROCHA, 2022)
No estudo de Madeira e Pacheco (2011), foram selecionados 9 indivíduos com mais de 65
anos, divididos em dois grupos, um de Treinamento de força (4 integrantes) e um de
treinamento funcional (5 integrantes). A intervenção totalizou um período de 8 semanas, com
3 aulas de 1 hora por semana.
Foram realizados os testes de levantar da cadeira, teste de flexão de braço, levantar e
caminhar, ganho de massa magra, redução de gordura corporal, alcançar as costas com a mão
e marcha estacionaria.
Dos 7 testes realizados, apenas dois tiveram diferença significativa entre os grupos, no teste
da marcha estacionaria de 2 minutos o grupo que realizou treinamento funcional apresentou
uma melhora estatisticamente significativa em relação ao teste inicial sendo pré-teste
(13,9±5,6) os indivíduos do grupo convencional (força) (35±10,2) e do funcional (44±8,9). O
teste de ganho de massa magra mostrou que o grupo que fez o treinamento de força
apresentou um ganho de massa significativo comparado ao outro grupo, sendo o grupo de
musculação (2,56±0,3), enquanto o grupo de funcional teve ganho de (0,9±0,3) (MADEIRA
E PACHECO, 2011).
A partir disso, analisando os resultados e métodos seguidos pelos estudo citados acima, o
presente estudo tem por objetivo comparar o treinamento de força e o treinamento funcional
para evidenciar qual é o mais eficaz na melhora das capacidades motoras básicas,
flexibilidade, equilíbrio, força, e na redução dos efeitos da sarcopenia e osteopenia,
promovendo uma melhora na qualidade de vida dos indivíduos.

Objetivo
Comparar o treinamento tradicional de força com o treinamento funcional na eficácia da
prevenção de quedas em idosos.

Hipótese
Trabalharemos com três hipóteses a serem confirmadas
Primeira: O treinamento funcional é estatisticamente mais eficaz na prevenção de
quedas dos idosos.
Segunda: O treinamento tradicional de força é estatisticamente mais eficaz na
prevenção de quedas.
Terceira: Ambos treinamento são eficazes e nenhum é estatisticamente mais
significativo do que o outro.
Metodologia
Para este estudo será utilizado como instrumento de pesquisa e avaliação, os testes de Apley,
Teste de sentar-levantar (ARAÚJO, 1999), Escala Performance - Oriented Mobility
Assessment (POMA) e a Escala de Equilíbrio de Berg o qual será composto por testes de
força, flexibilidade, agilidade e equilíbrio, locomoção e controle de objetos. Visto que o
estudo se direciona para a prática de aperfeiçoamento, reabilitação e melhora de movimentos
e habilidades do cotidiano ressaltando o trabalho de condicionamento físico através do TF,
sucederá 3 vezes por 12 semanas com intervalo de 48 horas entre uma sessão de treino e
outra levando em consideração que são idosos destreinados, dessa maneira, não sendo
treinados em alta intensidade. Além disso, será realizado previamente a anamnese desses
participantes com questionário de exame mental e medidas antropométricas e de composição
corporal por impedância bioelétrica. A análise ocorrera pela observação como indicador do
desenvolvimento físico e preenchimento da tabela 1 com os critérios de avaliação para as
capacidades de força, tabela 2 para flexibilidade, tabela 3 para agilidade e equilíbrio dinâmico
e a tabela 4 para a locomoção e controle de objetos. A investigação desta performance será
realizada por 10 avaliadores e após a coleta de dados, sendo possível mensurar o desempenho
dos alunos através de uma análise estatística.

Tabela 1 - Capacidade de força

Capacidade Ação Primeiro Teste final


teste

Força MMII Levantar e sentar

Força MMSS Flexão de cotovelo

Tabela 2 - Capacidade de flexibilidade

Capacidade Ação Primeiro Teste final


teste
Flexibilidade MMII Sentar e alcançar
os pés

Flexibilidade MMSS Alcançar as costas

Tabela 3 – Capacidade e equilíbrio dinâmico.

Capacidade Ação Primeiro Teste


teste final

Agilidade e equilíbrio dinâmico Levantar e


caminhar

Tabela 4 – Capacidade das articulações e MMSS e MMII.

Capacidade Ação Primeiro Teste


teste final

Flexibilidade das articulações Flexímetro


Referência Bibliográfica

ARAÚJO, C. G. S. DE. Teste de sentar-levantar: apresentação de um procedimento para


avaliação em Medicina do Exercício e do Esporte. Revista Brasileira de Medicina do
Esporte, v. 5, n. Rev Bras Med Esporte, 1999 5(5), p. 179–182, out. 1999.

Canadian Standardized Test of Fitness (CSTF) Operations manual, 3rd edn, Fitness and
Amateur Sport, Ottawa: Minister of State; 1986.

FURLAN, W. M; BRAGA, P. L. G; CONIC. Congresso nacional de iniciação científica. N


18. 2018, São Paulo. Análise comparativa da força de membros superiores em idosos
relacionando o teste de preensão palmar com o teste de flexão de cotovelo. SEMESP.
2018.

Gomes GC. Tradução, adaptação transcultural e exame das propriedades de medida a


Escala "Performance - Oriented Mobility Assessment" (POMA): para uma amostra de
idosos institucionalizados. Campinas; 2003. Disponível em:
https://oasisbr.ibict.br/vufind/Record/UNICAMP-30_a995f6083a900b89728e39300f2f0a7a.
Acesso em: 10 maio de 2023.

MADEIRA. R. B. Estudo comparativo entre treinamento resistido convencional e


treinamento resistido funcional em idosos. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires,
N. 159. Ago,2011.

MENDONÇA. C. S. Revista Campo do Saber – ISSN 2447-5017. p. 74-86. v. 4 – N.1-


jan/jun de 2018. Benefícios do Treinamento de Força para Idosos – Revisão Bibliográfica.

RIBEIRO, C. C. A. et al. Nível de flexibilidade obtida pelo teste de sentar e alcançar a partir
de estudo realizado na grande São Paulo. Revista Brasileira de Cineantropometria &
Desempenho Humano, v. 12, n. Rev. bras. cineantropom. desempenho hum., 2010 12(6), p.
415–421, nov. 2010.
Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, v. 12, n. Rev. bras.
cineantropom. desempenho hum., 2010 12(6), p. 415–421, nov. 2010.

SILVA, A. DA . et al.. Equilíbrio, coordenação e agilidade de idosos submetidos à prática de


exercícios físicos resistidos. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 14, n. Rev Bras
Med Esporte, 2008 14(2), p. 88–93, mar. 2008.

SOUZA, Gabriela Cristina da Cruz de; SANTOS, Leonardo Lhobregat; ROCHA, Phelipe
Morais da Costa. Comparação da eficácia do treinamento funcional e musculação na
melhora do equilíbrio e mobilidade em idosos. Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharelado em Educação Física) – Universidade Cidade de São Paulo, São Paulo, 2022.

You might also like