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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS E MINERALOGIA

Nome do Estudante: EMA DA LUZ ANÍBAL

Segundo teste de Sociologia jurídica do curso de Direito, Período laboral, por


orientação do docente da cadeira, ERNESTO CAMACHO

O Pluralismo Jurídico

TETE/2020
INTRODUÇÃO
O presente trabalho enfoca o tema numa perspectiva multidimensional, multicultural e
plural no contexto da sociedade. Assim, são levantadas as questões essenciais, através
de uma reflexão e uma análise epistemológica, filosófica e sociológica das relações
sociais de transformação d a realidade concreta do Direito e da Política, no conflito
entre a igualdade e a liberdade, que implicam uma pluralidade de valores e a
diversidade cultural e, formas múltiplas de regulação e emancipação dos novos sujeitos.
O Pluralismo jurídico interessa nessa pesquisa, enquanto funda suas matrizes no sentido
de se pensar a possibilidade de uma nova cultura pluralista, face ao velho monismo
estatal e ao paradigma jurídico hegemónico da cultura ocidental dominante,
discriminadora e excludente, com reflexos na sociedade.

Delimitação do Tema

Considerando a centralização estatal da produção do direito como um êxito burguês na


construção de um sistema eficiente para ordenar a sociedade e sustentar suas
desigualdades sob a ilusória égide da justiça, o pluralismo jurídico se opõe a este
sistema que busca moldar a sociedade ao direito emanado do Estado, quando na verdade
o Direito deveria adequar-se às necessidades e evoluções sociais ocorridas em todas as
classes.
Diante deste contexto, cabe uma investigação sobre os novos direitos, tão problemáticos
por conflitarem com a lógica positivista operante na sociedade. Entretanto,
demonstrando a coerência entre os direitos nascidos dos grupos sociais marginalizados e
os princípios jurídicos consagrados com o advento da Constituição de 88, pretende-se
com esta pesquisa reunir elementos para fundamentar uma concepção jurídica de
inclusão social e fortalecimento da autonomia de seus atores através de práticas
jurídicas de assessoramento popular.
Objetivo geral
Demonstrar a legitimidade e a necessidade de efetivar os direitos produzidos pelos
grupos sociais excluídos.
Objetivos específicos

Compreender de forma crítica a concepção e estruturação do sistema jurídico vigente;


Reunir elementos no ordenamento juridico vigente e na produção doutrinária que
demonstrem a legitimidade dos direitos coletivos e difusos;
Fundamentar uma compreensão jurídica pautada na ética da alteridade;
Elencar práticas jurídicas preventivas eficazes na mediação dos conflitos sociais e na
promoção da emancipação popular;
PLURALISMO JURÍDICO
CONCEITO
O pluralismo jurídico consiste em uma corrente doutrinária que insiste na pluralidade
dos grupos sociais correspondem sistemas jurídicos múltiplos compostos com relações
de colaboração, coexistência, competição ou negação. O indivíduo se determina em
função de suas vinculações múltiplas a essas redes sociais e jurídicas.
TEORIAS DO PLURALISMO JURÍDICO
Segundo o entendimento de Neves (1993, p. 11-12), todas as vertentes do
pluralismo jurídico originaram-se no cenário euro-continental e anglo-americano,
sendo que, quando da sua recepção na América Latina, esta se deu de forma
conturbada, já que ocorreu a aplicação de um conceito alienígena, produzido em um
contexto diverso do aqui existente.
Neste aspecto, tem-se o desenvolvimento de teorias que sustentam o pluralismo
jurídico, como por exemplo, as teorias tradicionais. Estas têm como ponto
de partida a obra do jurista alemão Otto von Gierke6. Em seus estudos, ele analisou
o direito nas organizações sociais e constatou que cada organização cria suas
próprias regras, ou seja, cada organização tem vida jurídica própria (GIERKE apud
SABADELL, 2010, p. 142).
No mesmo âmbito das teorias tradicionais tem-se o estudo de alguns juristas
sobre casos de aculturação jurídica, como por exemplo, o holandês Cornelis van
Vollenhoven (1874-1933) e seu estudo sobre o direito “adat” dos povos da Indonésia
colonizados pelos holandeses (FASSEUR apud SABADELL, 2010, p. 142). Os estudos
de Eugen Ehrlich sobre as manifestações do “direito vivo” também expressam teorias
tradicionais de pluralismo. Ehrlich analisou as relações e a aplicação do direito
costumeiro em comunidades da região da Bukowina, na Europa Central, constatando
que as normas agem através da força social, a qual lhes é dada através do
reconhecimento por parte de uma associação social (...). O direito é uma
ordem interna de associações sociais (...). Nunca existiu uma época em
que o direito proclamado pelo Estado tivesse sido o único direito
(EHRLICH apud SABADELL, 2010, p. 142).
Percebe-se também uma abordagem pluralista que vai ao encontro às teorias
tradicionais nos estudos dos juristas italianos Santi Romano (1875-1947) e Widar
Cesarini Sforza (1886-1965).
O primeiro deles associava a crise do Estado moderno à compulsão de grupos
sociaisconstituírem cada um deles um círculo jurídico próprio, ou seja, ele tornava
evidente a relação entre crise do Estado e pluralismo jurídico face à então proliferação
de grupos sociais que tinham espaços jurídicos independentes
(MARTINS, 2008).
No que tange as teorias modernas do pluralismo jurídico, pode-se destacar
quatro concepções atuais trazidas por Sabadell (2010, p. 144). A primeira delas trata
sobre a interlegalidade. É sustentada pela interação de vários sistemas de normas
jurídicas, levando a criação de redes de relações jurídicas em constante mudança.

A segunda concepção diz respeito às sociedades multiculturais. Devido às


altas taxas de migração, percebeu-se a perda da unidade estatal. O respeito às
crenças, religião, cultura e costumes deve ser promovido, ao mesmo tempo em que
há aumento de reivindicações de direitos de grupos discriminados. Neste ponto,
verifica-se grande relevância as atuais ondas de migração ocorridas pelo globo,
especialmente em virtude de fuga de áreas onde a guerra virou a nova realidade.

A terceira abordagem se refere ao direito internacional. Este busca maior


espaço normativo, o qual é possibilitado pelo fortalecimento das instituições
supranacionais e internacionais, tais como União Européia, MERCOSUL,
Organização Mundial do Comércio, etc. Outro aspecto que também demonstra evolução
é o referente aos direitos humanos e a proteção dos mesmos (SABADELL,
2010, p. 146).

Por fim, a quarta e última concepção tem bastante interesse sociológicojurídico, uma
vez que trata das pesquisas empíricas realizadas em igrejas,
sindicatos, empresas, etc., que demonstram a ideia de “direito do povo”.
Percebe-se que em todas as concepções e abordagens trazidas por Ana
Lúcia Sabadell como sendo vertentes das teorias pluralistas modernas, há como
fator semelhante e característico a interação e relação entre formas de direito e de
normatividade, formas estas estatais ou não, formais e informais. De qualquer
forma, já é claro que é preciso uma nova forma de pensamento no que refere ao
pluralismo jurídico. É preciso reconhecê-lo como existente na sociedade e
principalmente como ator de mudanças necessárias jurídicas e socialmente.

O PLURALISMO JURÍCO
A ideia de pluralismo jurídico, apesar de existir antes mesmo da formação do Estado
Moderno, somente foi retomada a partir de fins do século XIX e inicio do século XX,
como reacção ao dogma do centralismo jurídico estatal.
Segundo Boaventura de Sousa Santos:

No século XIX e primeiras décadas do nosso século, o problema do pluralismo jurídico


teve amplo tratamento na filosofia e na teoria do direito. Foi sendo depois
progressivamente suprimido pela acção de um conjunto de factores em que se deve
distinguir: as transformações na articulação dos modos de produção no interior das
formações capitalistas centrais, de que resultou o domínio cada vez maior do modo de
produção capitalista sobre o modo de produção pré-capitalista; a consolidação da
dominação política do estado burguês nomeadamente através da politização progressiva
da sociedade civil; o avanço concomitante das concepções jus-filosóficas positivistas.

Posteriormente, o tema do pluralismo jurídico foi retomado pela antropologia do direito.


Boaventura de Sousa Santos identifica duas origens possíveis para o surgimento do
pluralismo: uma origem colonial e uma não colonial. No primeiro caso, o pluralismo
desenvolveu-se em países que foram dominados econômica e politicamente e onde, por
isso, vigorou o ordenamento jurídico do estado colonizador paralelamento ao direito
tradicional. No segundo caso, o autor identifica três situações diferenciadas: o caso dos
países com cultura e tradição jurídicas próprias, mas que adotaram o direito europeu
como forma de modernização e de consolidação do poder do Estado (Turquia, Tailândia
e Etiópia), e que não eliminaram, no plano sociógico, o direito tradicional; o caso dos
países que, após passarem por uma revolução social, continuaram mantendo o direito
tradicional, muito embora esse conflitisse com o direito revolucionário (repúblicas da
Asia Central, de tradição islâmica, incorporadas pela antiga URSS); e, por último, os
casos da populações indígenas ou nativas que foram dominadas por uma métropole, mas
tiverem permissão, implícita ou explícita para, em certos domínios, manterem seus
direito tradicional (populações indígenas da América do Norte, da Oceania etc).

O pluralismo jurídico questiona, portanto, os alicerces da teoria política e da


jurisprudência liberais, principalmente no que diz respeito à congruência entre o
território, o Estado e o direito, ou seja, a centralidade do direito elaborado pelo Estado e
a exigência de exclusividade no ordenamento normativo da vida social.
Boaventura de Sousa Santos, ao realizar um trabalho empírico em uma comunidade no
Rio de

Janeiro, batizada por ele de Pasárgada, assim definiu a situação de pluralismo jurídico:

Existe uma situação de pluralismo jurídico espaço geopolítico vigoram (oficialmente ou


não) mais de uma ordem jurídica. Esta pluralidade normativa pode ter uma
fundamentação econômica, rácica, profissional ou outra; pode corresponder a um
período de ruptura social como, por exemplo, um período de transformação
revolucionária; ou pode ainda resultar, como no caso de Pasárgada, da conformação
específica do conflito de classes numa área determinada da reprodução social- neste
caso, a habitação.
Na mesma esteita, Wolkmer entende pluralismo jurídico como a “multiplicidade de
manifestações ou práticas normativas num mesmo espaço socio-político, interagidas por
conflitos ou
consensos, podendo ser ou não oficiais e tendo sua razão de ser nas necessidades
existenciais materiais”. Joaquim Falcão, ao realizar um estudo empírico sobre os
conflitos urbanos por moradia na
cidade de Recife conclui que a causa direta do pluralismo jurídico é encontrada na crise
de legalidade por que passa o poder político.
Arnaldo Vasconcelos, ao discorrer sobre o pluralismo, ressalta a aptidão que esta
doutrina possui para equacionar satisfatoriamente o problema da justiça e da
legimidade.
Apesar da sociologia evidenciar a existência de um pluralismo jurídico nas sociedades
atuais, para a Ciência Jurídica propriamente dita, a existência desse pluralismo
pressupõe o entendimento do conceito de direito. Assim, o positivismo jurídico nega a
existência do pluralismo porque entende, entre outas coisas, que a diferença entre as
normas juridicas e as sociais reside no fato de aquelas serem impostas pelo Estado, que
detém, igualmente, o monopólio da sanção em caso de descumprimento.
Para as teorias críticas do direito, o fenômeno jurídico nao se esgota nas leis, e sim é
produto das relações humanas. O sociólogo do direito Eugen Ehrlich compreende o
direito como produto espontâneo da sociedade, que não se prende a doutrinas, dogmas,
norma de decisão ou prescrições estatais, mas provém das relações entre as pessoas.
Boaventura de Sousa Santos concebe o direito como:

O conjunto de processos regularizados e de princípios normativos, considerados


justiciáveis num dado grupo, que contribuem para a criação e prevenção de litígios e
para a resolução destes através de um

discurso argumentativo, de amplitude variável, apoiado ou não pela força organizada.

Assim, a partir dos conceitos de direito aqui apresentados, nao restam dúvidas acerca da
existência de uma pluralidade de ordenamentos jurídicos, que se relacionam entre si,
dentro de um mesmo espaço geopolítico, independente do seu reconhecimento por parte
do direito Estatal. O reconhecimento desse direito insurgente é fundamental para as
sociedades, principalmente para os grupos sociais que vivem à margem do sistema
Estatal, já que o pluralismo jurídico pode ter o condão de reduzir essa exclusão social.
Como dito anteriormente, o pluralismo jurídico é fundamental para o resgate da tensão
entre regulação e emancipação. Entretanto, é necessário distinguir práticas de
pluralismo que realmente estão à serviço desse projeto, daquelas que, apesar de não
Estatais, reforçam o direito hegemônico, contribuindo para a sua reprodução. Entre
referidas práticas encontra-se a nova lex mercatoria, identificada com um espaço
jurídico internacional regulado por regras impostas pelas empresas multinacionais, pelos
bancos mundiais ou por associações internacionais dominadas por umas ou por outros e
que reforça a globalização neoliberal e aprofunda a exclusão social.

Nesse sentido, há de se distinguir entre o pluralismo jurídico que, de fato, contribui para
a redução das desigualdades nas relações de poder e que reduz a desigualdade social,
daquele que deixa ainda mais rígida a desigualdade, e contribui com o agravamento da
exclusão social.
Seguindo esse mesmo raciocínio, Wolkmer diferencia o pluralismo como instrumental
contra-hegemônico de emancipação das estruturas sociais dependentes, de uma outra
prática de pluralismo vinculada a projetos neoliberais e neocoloniais, que está a
apresentar-se como alternativa.

O pluralismo de corte conservador opõe-se radicalmente ao pluralismo progressista e


democrático. A diferença entre o primeiro e o segundo está, fundamentalmente, no fato
de que o pluralismo consevador inviabiliza a organização das massas e mascara a
verdadeira participação, enquanto que o pluralismo transformador como estratégia
democrática de integração procura promover e estimular a participação
do segmentos populares e dos novos sujeitos colectivos de base.

Conforme se pode observar, o fenômeno do pluralismo jurídico, apesar de ter sempre


por base de sustentação a assertiva de que o Estado não é o único centro produtor de
normatividade jurídica, possui diferentes vertentes, que, segundo Robert Nisbet podem
ter um caráter mais conservador, mais liberal ou mais radical. Griffiths reconhece a
existência de dois tipos de pluralismo: aquele que é permitido pelo próprio Estado e
aquele, realmente autêntico, que consegue desgarrar-se do controle estatal.
Além disso, não se pode reduzir a uma categoria conceitual todas as formas de
manifestação do pluralismo jurídico, pois as sociedades, apesar de serem juridicamente
plurais, o são de forma diferentes. Essa diferenciação deriva da forma como os sistemas
jurídicos existem e coexistem com o direito estatal, da influência que recebem do
ordenamento oficial, do reconhecimento, por parte deste, da existência de
normatividades paralelas etc.
Interessa, pois, para o presente trabalho, as formas de pluralismo jurídico que têm em
comum o fato de serem práticas normativas autênticamente desgarradas do controle
estatal e que, se não aptas a propiciar a emancipação social propriamente dita, pelo
menos tem o condão de resgatar a tensão regulação-emancipação, perdida no momento
em que o desenvolvimento da sociedade reduziu-se ao desenvolvimento do capitalismo.
A tal pluralismo, seguindo a linha de Boaventura de Sousa Santos, dá-se o nome de
contra-hegemônico.
Antes, porém, de se ingressar na temática do pluralismo jurído contra-hegemônico,
destaca-se análise realizada por Boaventura de Sousa Santos, da estrutura normativa,
diferente da Estatal, existente em uma comunidade do Rio de Janeiro, batizada por ele
de Pasárgada.

ABORDAGEM HISTÓRICA SOBRE O PLURALISMO JURÍDICO


E SUAS CONCEITUAÇÕES
O Pluralismo Jurídico se dá pela diversidade em um mesmo lugar de povos com
diferentes princípios e culturas. Tornou-se mais popular na segunda metade do
século XX, e trouxe uma grande reacção de discordância em um mundo o qual
possuía uma visão fechada do direito, essa visão é denominada de monismo
jurídico que veio surgir com o direito ocidental. Com o advento da Revolução
Francesa, surgiu na Europa o fenómeno jurídico correspondente ao interesse na
unicidade política e a criação do Estado de Direito. O Estado não admitia nenhum
poder que fosse superior ao seu, não admitindo ou reconhecendo qualquer outro
centro de produção jurídica, visto que é dele o monopólio do poder normativo, o
poder de ditar o que é direito. Tal atitude é denominada de monismo jurídico que
significa o reconhecimento de apenas uma ordem jurídica, seja ela estatal ou
natural.

Já no início do segundo milênio da chamada Era Cristã, diversas forças


na Europa, dentre as quais se aponta a Igreja, o Sacro Imperador, os príncipes
territoriais, as cidades e ligas de cidades, passaram a lutar para se afirmar sua
hegemonia política. Com isso, começasse a perceber uma condição de
pluralismo jurídico, onde vários grupos sociais seguiam as que cada localidade
impunha estas que se diferia de comunidade a comunidade. O pluralismo jurídico
não surge como uma afronta ao monismo, mas diante da insuficiência gerada
pelo monismo estatal, houve a necessidade de novas fontes geradoras da
produção de normas que não fossem aquelas ditadas pelo Estado. Desabrocha
o pluralismo, como corrente doutrinária com objetivos revolucionários, com
tendências que visam romper com o paradigma dominante o monismo jurídico.
Essa variedade de direitos distintos presentes em um mesmo ambiente chamou
a atenção de muitos académicos, muitos deles das áreas de sociologia e antropologia. A
partir de estudos dos antropólogos no início do século XX, conseguiu se chegar à
conclusão de que as demais sociedades além das europeias e de seus padrões culturais,
também eram detentoras de direitos. Com esse olhar trazido pela antropologia e
sociologia, conseguiu-se desenvolver argumentos críticos ao sistema monista jurídico.
Posteriormente, nos anos de 1970 e 1980, surgiram novos argumentos, como os
questionamentos sobre as situações de subordinação dos direitos locais ao direito estatal
e oficial. E ainda o fato de as ordens normativas influenciarem e modificar uma as
outras em um processo de mútua influência. E a admissão de uma variedade de direitos
não oficiais ou não estatais, para tanto o pluralismo jurídico deixou de ter contornos
coloniais, rurais, assumindo também os cenários urbanos, metropolitanos e ocidentais.
Com o pluralismo jurídico e as discussões levantadas entorno deste fenómenos,
professores de direito mundo afora o usaram como forma de criticar o conceito de
direito correspondente a normas postas pelo Estado. No Brasil, onde há um grande
desnível social, fica mais nítido o tema pluralismo jurídico já que a ideia de pluralismo é
a de ser instrumento para reunião e confecção de novas normas de conduta para aqueles
que se sentem distantes do Ordenamento Jurídico. É válido destacar que, essas normas
serão obrigatórias para aqueles que as formularam, visto a finalidade de emancipação
social, partindo de um cenário de respeito ao próximo. Trazendo essa temática para
nossa realidade temos a situação vivida pelas pessoas que moram nas
favelas e acabam sendo submetidas às normas estabelecidas naquela
localidade. Essa tese encontra uma objecção do tipo lógico, principalmente
quanto à sua aceitação pelo Estado, ou seja, ou devemos admitir que o direito
informal fosse reconhecido pelo Estado ou este direito não é reconhecido.
Segundo Ana Lúcia Sabadell: Podem existir ordenamentos jurídicos
contraditórios (que levam a soluções diferentes para a mesma situação), mas
também ordenamentos complementares aplicáveis a situações diferentes
(SABADELL, A. L., 2005).
Há casos em que o Estado reconhece ordens extra estatais, como por
exemplo, as comunidades indígenas da América Latina, porém há casos em que
a actuação de uma organização contraria claramente a legislação em vigor, e que
não podem ser consideradas, pois se uma regra for considerada como direito no sentido
informal, como por exemplo, as da máfia, quando um tribunal decidisse
punir seu líder ou membro da máfia estaria agindo na ilegalidade por estar
violando os direitos dos mafiosos. Lecciona BASTOS, que a passagem do Estado
Liberal para o Social ficou caracterizada por decisões com fins sociais e
económicas, afirma que “os principais elementos componentes deste
alargamento das funções públicas foram à promoção do bem comum e da justiça
social”. Essa saída encontrada que acaba por gerar um direito paralelo não faz
com que o Estado fique inerte, podendo, se houver a necessidade tomar para si
o seu espaço que lhe foi tomado devido à sua ausência. Alguns juristas
consideram que o pluralismo jurídico, oferece um conjunto de debates útil para
a construção de novas categorias jurídicas, que deem conta dessas novas
realidades na qual as relações globais e locais se interpenetram.
Isso posto, o pluralismo jurídico é um fenômeno universal: toda sociedade
é estruturalmente plural, e pratica vários sistemas de direito. Nas sociedades
estatais, o pluralismo jurídico não é, obrigatoriamente, antagonista do direito
estatal: o Estado pode tolerar ou encorajar o pluralismo para reduzir as tensões
sociais, ou tornar mais eficaz sua autoridade. Nas sociedades tradicionais, a
forma mínima – e geral – de pluralismo jurídico consiste na diferença existente
entre as regras que regem as relações entre os grupos (notadamente ao nível
das alianças matrimoniais e das relações do homem à terra).
Do ponto de vista sociológico, onde se verifica que não é um fato recente e
nem regional, estando espalhado em várias partes do mundo, inclusive sua
atuação no Brasil. O Direito Alternativo é um dos exemplos mais claros do
pluralismo jurídico, sendo visto no Brasil como uma forma alternativa de levar
justiça social às pessoas, justiça essa que não fica presa à norma jurídica
positiva vigente. O direito sempre foi visto como as normas jurídicas elaboradas
pelos órgãos dos Estados, porém a sociologia jurídica passou a dar novos
conceitos para essa afirmativa, em que segundo Ana Lucia Sabadell:
“A sociologia jurídica tem despertado interesse pela realidade jurídica,
estendendo seu objeto de estudo a outras formas de regulamentação de
comportamento social que vinculam as pessoas, mesmo não sendo oficiais”

No ponto de vista jurídico e social, a sociologia aprofunda mais os seus


estudos de forma empírica e traduz os anseios da sociedade quanto à falta de
uma norma jurídica que realmente lhes seja favorável. Observa-se que o“ direito
paralelo” é uma criação para corrigir algumas falhas não cobertas pelas normas
jurídicas do Estado, sendo o Direito Alternativo um dos mecanismos usados para
sanar essa deficiência social. O Direito Alternativo é o resultado das práticas
jurídicas que é vista por muitos estudiosos como uma proposta de nova
interpretação do Direito por seus aplicadores, tendo como objetivo o
favorecimento da justiça ao caso concreto. O direito alternativo, enquanto padrão
de juridicidade comprometido com a promoção da dignidade humana tem sua
origem em sociedades marcadas por desigualdades e injustiças sociais
principalmente nos países periféricos e subdesenvolvidos integrantes do
chamado “Terceiro Mundo”, cujos grupos sociais encontram-se envoltos em
acirradas lutas de classes e onde o estado não consegue assegurar às maiorias
condições mínimas para uma sobrevivência digna. O pluralismo jurídico cria um
direito paralelo ao direito transmitido pelas normas jurídicas estatais, sendo
complementar ou antagónico, onde a sociedade que adopta mecanismos de
defesa de seus próprios interesses estejam ou não estes mecanismos
reconhecidos e protegidos adequadamente pelo direito. Vê-se também que o
próprio fato de se criar um direito paralelo, isso não é garantia para a paz social,
pois não prima apenas por princípios éticos e sempre em busca do bem comum.
Às vezes esse direito que seria a salvação de uma sociedade torna-se tão nocivo
ao ponto da própria sociedade reconhecer ainda mais a ausência do Estado.
Wolkmer, um dos grandes nomes do pluralismo jurídico no Brasil, dá uma
grande importância ao envolvimento e participação dos grupos sociais, que se
dá, sobretudo naquilo que indica como sendo "novos movimentos sociais", que
se transformam em atores sociais, sendo protagonistas nas formas de criação
da sociedade, inclusive do direito em seus novos traços.
Nas sociedades excluídas socialmente, o pluralismo jurídico se constituirá
dentro de dois movimentos contraditórios, sendo um deles a força de factores
extrínsecos seculares que são estruturalmente impeditivos de realização da
modernidade jurídica, um exemplo disto é a ineficácia das normas, e, o outro por
decorrência da pressão de projetos independentes que partirão de coletividades
jurídicas, o que é base para novas maneiras de se dizer direito, exemplificando
essa afirmativa temos a necessidade da criação do “direito paralelo” para a
solução de uma carência normativa.
O pluralismo jurídico pode ser considerado uma forma complementar de
elaboração de normas do Estado, mas em alguns casos vai se mostrar contrárias
a esse objetivo, fazendo surgir diversas críticas quanto à sua aplicação,
principalmente quando essas críticas envolvem aqueles que defendem que só o
Estado é quem pode ditar as leis (monistas jurídicos), e, quando essa aplicação
não atinge a paz social desejada por uma parcela populacional que deixou de
ser massacrada pelo Estado e leva a um sentir de opressão por esse novo
direito.

CONCLUSÃO
Findo trabalho, conclui-se que o pluralismo Jurídico busca a igualdade e a
valoração do estado democrático de direitos. devido à importância que
essas correntes de pensamento e que o próprio pluralismo representa, é realmente
necessário que haja um maior reconhecimento destas vertentes, uma vez que elas
trazem para o ordenamento jurídico e para a sociedade novas possibilidades de
fazer o direito, bem como de melhorar o que já está posto, buscando cada vez mais
a conexão entre a sociedade e suas necessidades e o ordenamento jurídico.
Assim, representa um marco já que se constrói com o empenho daqueles que necessitam
de um suporte estatal. Por fim, não podemos negar a estrutura estatal já existente,
contudo se faz necessário demonstrar a importância da estrutura paralela a estatal que
produz normas jurídicas tanto quanto o Estado e que este não pode ser considerado
como à única, nem a principal fonte jurídica e sim apenas mais uma dentre as
tantas que são capazes de estabelecer normas jurídicas no país. Mas toda essa
realidade deve levar a uma reflexão por parte do Estado e da sociedade, para
os rumos que estão sendo tomados.

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

ALBERNAZ, Renata O: Wolkmer, Antônio Carlos. As questões delimitativas do


direito no Pluralismo Jurídico. Revista Sequência, no 57, p. 67-94, dez. 2008.
Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/sequencia/article/view/2177-
7055.2008v29n57p67/13638> . Acesso em: Maio 2020.

FALCÃO, Joaquim de Arruda (Org.) Conflitos de direito de propriedade – invasões


urbanas. Rio de Janeiro: Forense, 1984
SABADELL, Ana Lucia - Manual de Sociologia Jurídica: introdução a uma leitura
externa do Direito. 3ª ed. 2005. Editora Revista dos Tribunais, São Paulo.

DOS SANTOS, Rodrigo Mioto. Pluralismo Jurídico e direito indígena no Brasil.


In. WOLKMER, Antônio Carlos; NETO, Francisco Q. Veras; LIXA, Ivone M. (orgs.)
Pluralismo Jurídico: os novos caminhos da contemporaneidade – 2. ed. – São Paulo
: Saraiva, 2013.
WOLKMER, Antônio Carlos - Pluralismo jurídico: fundamentos de uma nova
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