You are on page 1of 13

TRIBUNAL DO JÚRI – I SUMARIANTE

COMARCA DE BELO HORIZONTE-MG

AÇÃO PENAL Nº 0680219-70.2022.8.13.0024


AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
RÉU: WESLEI RODRIGO DA FONSECA

SENTENÇA

1. Relatório

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais, no uso de suas


atribuições legais, ofereceu aditamento à denúncia oferecida contra Weslei
Rodrigo da Fonseca, devidamente qualificado, como incurso nas sanções dos
crimes tipificados no art. 121, §2º, incs. II e VI, c/c §2-A, inc. I e §7º, inc. III c/c
art. 14, inc. II (vítima Luciana Rodrigues Corradi Cirino) e no art. 121, §2º, incs. I
e VI, c/c §2-A, inc. I, §7º, inc. III e §4º, segunda parte, c/c art. 14, inc. II (vítima
Maura Rodrigues Corradi), todos do Código Penal.
Narra a peça acusatória:
“No dia 21/10/2022, por volta das 19h41min, no interior da
residência familiar, à Rua Abati, n° 124, Bairro Santa Maria, Belo
Horizonte/MG, o denunciado, agindo com dolo de matar, agrediu as
vítimas LUCIANA RODRIGUES CORRADI CIRINO, sua companheira, e
MAURA RODRIGUES CORRADI, sua sogra, deferindo-lhes chutes, socos,
marteladas e facadas, causando-lhes as lesões corporais descritas nos
ACD's de fls. 94/95e 106/106v.
Agindo assim denunciado iniciou a execução de dois crimes de
homicídio, que não se consumaram por circunstâncias alheias à sua
vontade, primeiro, porque as lesões ficaram aquém daquelas ele pretendia
produzir nas vítimas, que lograram êxito em se desvencilharem de alguns
dos golpes e entraram em luta corporal com ele, inviabilizando-o de
consumar o seu intento homicida e, segundo, porque o a Polícia e o SAMU
foram acionados e as vítimas socorridas e encaminhadas ao Hospital João
XXIII e, de lá, para o Hospital Maria Amélia, recebendo assistência médica.
O motivo do crime, em relação a vítima Luciana, foi fútil, consistente
discussão de somenos importante, por causa de um cachorro da família,
que queria adentrar no interior da residência.
O crime contra a vítima Maura foi praticado por motivo torpe,
1
consistente na irresignação do denunciado com o fato da vítima Maura ter
interferido na discussão entre ele e a vítima Luciana, dizendo a ele que
chamaria a polícia.
Os crimes foram cometidos contra a mulher por razões da condição
de sexo feminino, em contexto de violência doméstica e familiar, pois o
denunciado e a vítima Luciana tiveram, por cerca de três anos, uma
relação íntima de afeto conturbada e permeada por agressões físicas
proferidas por ele contra ela em um quadro de violência doméstica
envolveu a vítima Maura, que, além de mãe da vítima Luciana e sogra do
que também denunciado, morava no mesmo lote que o casal e presenciou
e participou de toda a situação agressiva e opressora que sua filha viveu,
que culminou com a tentativa de homicídio.
Os crimes de feminicídios tentados acima descritos foram praticados
na presença de descentes e ascendentes de cada uma das vítimas, na
medida que a vítima Luciana, é filha da vítima Maura Rodrigues Corradi.
A vítima Maura Rodrigues Corradi é pessoa idosa, maior de
sessenta anos” (Id. 9682173419).

O acusado foi preso em flagrante em 22.10.2022 (fls. 3/14, Id.


9682173420 e f. 1/2, Id. 9682173421) sendo sua prisão convertida em preventiva
pelo juízo da CEFLAG, conforme decisão de fls.124/131 Id. 9711870354.
Em habeas corpus impetrado pela Defesa do acusado, a liminar foi
indeferida e, posteriormente a ordem foi denegada pela 9ª Câmara Criminal do
Tribunal de Justiça de Minas Gerais, conforme fls. 145/146 do Id. 9711870354 e
fls. 111/118 do Id. 9711851832, respectivamente.
A denúncia foi recebida em 5.1.2023 (Id.9685783152).
O acusado foi citado pessoalmente em 9.1.2023 (Id. 9695122401) e
apresentou resposta à acusação de Id. 9711365212, por advogado constituído.
Em 31.1.2023, foi indeferido o pedido de revogação da prisão
preventiva do acusado (Id. 9711945100).
Nas audiências de instrução realizadas em 2.3.2023 e 11.4.2023,
foram ouvidas as vítimas, colhidos os depoimentos de 6 (seis) testemunhas, e
procedido ao interrogatório do acusado (Ids. 9741590607 e 9776986505).
Em alegações finais, o Ministério Público requereu a pronuncia do
acusado, nos termos da denúncia (Id. 9830233369).
A Defesa do acusado requereu a impronuncia (Id. 9833688108)
É o relatório. Decido.

2. Fundamentação

O processo está em ordem, sem vícios aparentes a inquiná-lo de


2
alguma nulidade, pelo que passo diretamente ao exame do mérito.
Dispõe-se no art. 413 do Código de Processo Penal que “o juiz,
fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do
fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação”.
A materialidade do crime praticado contra a vítima Luciana Rodrigues
Corradi Cirino estou comprovada pelo ECD de fls. 21/22 do Id. 9682173425, do
qual se extrai que ela ofensa à integridade física, causada por instrumento
“contundente para as escoriações e esquimoses e cortante para a ferida cervical
esquerda”, bem como pelo exame corporal complementar de fls. 7/8 do Id.
9767582270.
Com relação à vítima Maura Rodrigues Corradi a materialidade delitiva
restou comprovada pelo ECD de fls. 10/11 do Id.9682173426, do qual se extrai
que a vítima sofreu ofensa à integridade física, causada por instrumento
“contundente”, bem como pelo exame corporal complementar de fls. 9/10 do Id.
9767582270.
Quanto à autoria, reputo suficientes os elementos de convicção
reunidos nos autos, para a pronúncia do acusado.
Colhe-se da prova oral produzida em sede inquisitiva:

“(…) QUE PRESTA DECLARAÇÕES COMO CONDUTOR E


PRIMEIRA TESTEMUNHA; AFIRMA QUE E POLICIAL MILITAR E. NA
DATA DE HOJE, RENDEU A GUARNIÇÃO POLICIAL RESPONSÁVEL
PELO ATENDIMENTO INICIAL DA OCORRÊNCIA; QUE ESCLARECE
QUE NÃO COMPARECEU AO LOCAL DOS FATOS E TOMOU
CONHECIMENTO DO OCORRIDO ATRAVÉS DA LEITURA DO
HISTÓRICO DO REDS. QUAL SE SEGUE: *O CENTRO DE
OPERAÇÕES DA POLiCIA MILITAR NOTICIOU NA REDE DE RADIO
SOBRE UMA OCORRÊNCIA. NA RUA ABATI N"124.ONDE UM
CIDADÃO TERIA ESFAQUEADO SUA COMPANHEIRA E A MÃE
DELA LOGO EM SEGUIDA TERIA EVADIDO DO LOCAL UTILIZANDO
UMA MOTOCICLETA DE COR PRETA PROVAVELMENTE UMA
HONDA CG IMEDIATAMENTE VIATURAS DO TURNO DESLOCARAM
PARA. O LOCAL E A VIATURA 31943. CB TIAGO E SD 2'CL
MARINHO CHEGARAM PRIMEIRO NO LOCAL E SOCORRERAM AS
VÍTIMAS: LUCIANA RODRIGUES CORRADI CIRINO, 44 ANOS, E
MAURA RODRIGUES CORRADI. 70 ANOS POSTERIORMENTE AS
VÍTIMAS FORAM REPASSADAS PARA O SAMU USA 06
RESPONSÁVEL DOUTORA LARISSA E A USB 27I9, RESPONSÁVEL.
ENFERMEIRO ÉMERSON GOMES. O LOCAL TEM DUAS
RESIDÊNCIAS UMA NA FRENTE E UM BARRACÃO NOS FUNDOS,
A CASA DA FRENTE ESTAVA TODA REVIRADA E COM MUITO
SANGUE NO CHÃO DA COZINHA, UM DOS VIDROS DA PORTA DA
COZINHA ESTAVA QUEBRADO E TAMBÉM HAVIA MANCHA DE
SANGUE DO LADO DE FORA DA PORTA LUCIANA E MAURA
3
FORAM SOCORRIDAS PARA O HOSPITAL JOÃO XIII. PARA
CUIDADOS MÉDICOS LUCIANA FOI ATENDIDA CONFORME FICHA
DE ATENDIMENTO 20221021000258 E DONA MAURA,
20221021000257. LUCIANA APRESENTA LESÃO POR ARMA
BRANCA NA REGIÃO CERVICAL ESQUERDA, MAURA
APRESENTA UMA LESÃO NA FACE ESQUERDA E ESTÁ COM
SUSPEITA DE FRATURA NO NARIZ; LUXAÇÃO NO OMBRO
DIREITO, SUSPEITA DE FRATURA NO COTOVELO DIREITO E NO
QUINTO FALANGE DO PE DIREITO, AMBAS NECESSITAVAM
PASSAR POR RAIO X E POSTERIORMENTE NOVA AVALIAÇÃO
MÉDICA. SEGUNDO VERSÃO DA SENHORA MAURA, ELA
PERCEBEU QUE A FILHA E O COMPANHEIRO ESTAVAM
DISCUTINDO MUITO, LUCIANA E O COMPANHEIRO, WESLEI
RODRIGO DA FONSECA. MORAM NO BARRACÃO DOS FUNDOS,
ELA GRITOU COM A FILHA PARA TOMAR CUIDADO E ENTROU
PARA CASA. MAURA ESTAVA PREOCUPADA COM A DISCUSSÃO
DO CASAL E DISSE; QUE WESLEI NÃO GOSTOU DA
INTERVENÇÃO DELA E DESLOCOU PARA A CASA DE MAURA E
COMEÇOU A AGREDI-LA, ELA DISSE QUE O AUTOR A JOGOU No
CHÃO E DESFERIU VÁRIOS SOCOS, ALÉM DE UTILIZAR O QUE
VIA PELA FRENTE’' PARA AGREDIR MAURA, MAURA AINDA
DISSE QUE A FILHA CORREU PARA PROTEGÊ-LA DAS
AGRESSÕES DE WESLEI, POREM O AUTOR COMEÇOU A
AGREDIR AS DUAS, MAURA AINDA DISSE QUE TANTO WESLEI
QUANTO A FILHA FAZEM USO DE ÁLCOOL E DROGAS. DISSE
QUE JÁ ENCONTROU UM FRASCO DE PINO NA CASA DO CASAL
E QUE NÃO FOI A PRIMEIRA VEZ QUE ELA E A FILHA FORAM
AGREDIDAS POR WESLEI. EM CONTATO COM LUCIANA, ESTA
DISSE QUE INICIOU UMA DISCUSSÃO COM WESLEI DEVIDO A UM
CACHORRO QUE ELA TEM EM CASA. COM A DISCUSSÃO A MÃE
DELA DISSE QUE IRIA CHAMAR A POLÍCIA. LUCIANA DISSE QUE
O COMPANHEIRO SE IRRITOU COM A FALA DE DONA MAURA E
SE DIRIGIU PARA A CASA DE DONA MAURA E INICIOU AS
AGRESSÕES CONTRA A IDOSA, LUCIANA DISSE QUE O
COMPANHEIRO E MUITO FORTE E TEM OS CABELOS
COMPRIDOS. ELA TENTOU SEGURAR O COMPANHEIRO PELOS
CABELOS PARA QUE ELE NÃO AGREDISSE A SENHORA MAURA.
ELA DISSE QUE NO MEIO DA CONFUSÃO, ALGUNS OBJETOS DE
VIDRO COMO PRATOS E COPOS CAÍRAM NO CHÃO E
QUEBRARAM. WESLEI ,”PEGAVA O QUE VIA PELA FRENTE" E
AGREDIA A SENHORA MAURA. LUCIANA DISSE QUE ELE TAMBÉM
TENTOU PEGAR ALGO NAS GAVETAS E ACREDITA QUE ELE
TENHA CONSEGUIDO PEGAR ALGUMA FACA. MAS NÃO SOUBE
PRECISAR. LUCIANA AINDA DISSE QUE APENAS SEGURAVA OS
CABELOS DE WESLEI MOMENTO EM QUE PERCEBEU QUE ELE A
ATINGIU NO PESCOÇO COM ALGUM OBJETO PONTIAGUDO. QUE
EM DADO MOMENTO VIU QUE A MÃE CONSEGUIU SE LEVANTAR
E CORRER. MAS NÂO SABIA PARA ONDE A MÃE SE DESLOCOU,
POSTERIORMENTE. LUCIANA DISSE QUE JÁ ESTAVA QUASE
DESMAIANDO QUANDO OUVIU WESLEI DIZENDO QUE IRIA
MATAR AS DUAS. NESSE MOMENTO O AUTOR SENTOU DO LADO
DE LUCIANA QUE ESTAVA CAÍDA E ELA DISSE AO COMPANHEIRO
QUE JÁ ESTAVA MORTA. DEVIDO A QUANTIDADE DE SANGUE
QUE PERDIA, NESSE MOMENTO, LUCIANA DISSE QUE WESLEI
GRITOU QUE TAMBÉM IRIA MORRER E VIU O COMPANHEIRO SE
4
AUTO MUTILAR COM ALGUM OBJETO QUE PARECIA SER UMA
FACA. EM SEGUIDA PERCEBEU QUE O AUTOR EVADIU DO LOCAL
UTILIZANDO A MOTOCICLETA DELE. ENQUANTO AS GUARNIÇÕES
AINDA ESTAVAM NA RESIDÊNCIA DO FATO, TENTANDO BUSCAR
INFORMAÇÕES SOBRE O PARADEIRO DE WESLEY. CHEGOU
NOVA INFORMAÇÃO VIA REDE DE RÁDIO DE UM CIDADÃO
ESFAQUEADO NA RUA IASSAPÊ, PRÓXIMO AO LOCAL DO FATO. E
QUE ESSE CIDADÃO ESTARIA EM UMA MOTOCICLETA HONDA
CG DE COR PRETA. AS GUARNIÇÕES DESLOCARAM PARA O
LOCAL E IDENTIFICARAM WESLEI RODRIGO DA FONSECA.
AUTOR DAS FACADAS NAS VÍTIMAS. ELE TAMBÉM
APRESENTAVA SINAIS DE LESÕES POR FACADAS E FOI
SOCORRIDO PELA VIATURA 3I545, CB RENAN, SD 2"CL PEDROE
SD 2"CL JOÀO VICTOR. SENDO LEVADO PARA A UPA JK, NO
BAIRRO ELDORADO EM CONTAGEM. POSTERIORMENTE FOI
TRANSFERIDO PARA O HOSPITAL MUNICIPAL DE CONTAGEM,
SENDO ATENDIDO CONFORME FICHA 1661596. ELE APRESENTA
DUAS PERFURAÇÕES NO PESCOÇO LADO DIREITO; UMA
PERFURAÇÃO NO PESCOÇO LADO ESQUERDO; DUAS
PERFURAÇÕES NO TÓRAX, CORTE NO POLEGAR DIREITO COM
RUPTURA DO TENDÃO E FRATURA EM UM DOS DEDOS DA MÃO
DIREITA. WIESLEI TERÁ QUE FICAR EM OBSERVAÇÃO COM
PREVISÃO DE ALTA PARA AMANHÃ.22/10/2022. SEGUNDO A
VERSÃO DE WESLEY, ELE COMEÇOU A DISCUTIR COM LUCIANA
DEVIDO A UM CACHORRO QUE ELA TEM. ALEGA QUE LUCIANA
TERIA O AGREDIDO PRIMEIRO, CONTUDO, AINDA DISSE QUE NO
MEIO DA DISCUSSÃO OUVIU QUE A DONA MAULA IRIA CHAMAR
A POLICIA, NESSE MOMENTO ELE SE IRRITOU E COMEÇOU
AGREDIR LUCIANA. ALEGA QUE DONA MAURA ENTROU NO MEIO
DA BRIGA DELE COM A COMPANHEIRA E PODE TER CAÍDO. A
MOTOCICLETA UTILIZADA PARA A FUGA. UMA HONDA CG 125 FAN
DE COR PRETA. PLACA HJO8975. FOI APREENDIDA. SENDO
REMOVIDA PELO REBOQUE GS7J24 MOTORISTA SÉRGIO. PATIO
NOVO BH. CONFORME FICHA DE VISTO 004608.O OBJETO
UTILIZADO NAS AGRESSÕES NÃO FOI LOCALIZADO E
APRESENTO OS FATOS NESSA DELEGACIA ESPECIALIZADA; QUE
O DECLARANTE REITERA QUE NÃO PRESENCIOU O MOMENTO
EM QUE WESLEY AMEAÇOU OU AGREDIU MAURA OU ADRIANA;
QUE ESCLARECE QUE NÃO CONHECE AS PARTES ENVOLVIDAS;
QUE FOI RESPONSÁVEL APENAS EM ACOMPANHAR AS VITIMAS
NESTA UNIDADE POLICIAL INFORMANDO QUE SALIENTA QUE A
ESCOLTA POLICIAL DO CONDUZIDO ATÉ O PRESENTE
MOMENTO" ESTÁ SOB RESPONSABILIDADE DA POLICIA MILITAR
(…)” (Luiz Henrique de Oliveira Costa Ferreira, fls. 3/5, Id. 9682173420)
(grifo nosso)

“(…) A VÍTIMA COMPARECE ESPONTANEAMENTE NESTA


UNIDADE POLICIAL. ACOMPANHANDO A POLICIA MILITAR,
RELATANDO QUE É SOGRA DO SUSPEITO; QUE O SUSPEITO
RESIDE NO MESMO LOTE DA VíTIMA, POREM EM UMA CASA NOS
FUNDOS DO LOTE, NÃO RESIDINDO NA MESMA CASA DA VíTIMA;
QUE O SUSPEITO MANTÉN4 UNIÀO ESTÁVEL COM A F]LHA DA
viTrMA (LUCIANA RODRIGUES CORRADI ClRINO); QUE o
SUSPEITO É USUÁRIO DE DROGAS E TEM COMPORTAMENTO
AGRESSIVO. EM RELAÇÃO AOS FATOS ALEGA QUE OUVIU O
5
SUSPEITO GRITANDO COM A VITIMA LUCIANA POR CAUSA DO
CACHORRO QUE ESTARIA ENTRANDO EM CASA; QUE A ViTIMA
OUVIU O SUSPEITO GRITANDO: " EU VOU MATAR VOCÊ
DESGRAÇA"; QUE A DECLARANTE FOI ATÉ A CASA DO
SUSPEITO E DISSE QUE ACIONARIA A POLICIA MILITAR; QUE O
SUSPEITO FICOU MUITO IRRITADO; QUE PARTIU PRA CIMA DA
ViTIMA, COMO SE EXPRESSA; QUE JOGOU A VÍTIMA NO CHÃO E
LHE AGREDIU COM DIVERSOS CHUTES E SOCOS E VÁRIAS
CORTES DO CORPO E PRINCIPALMENTE NA REGIÃO DO ROSTO
E DA CABEÇA: QUE O SUSPEITO PEGOU UMA FACA E ATINGIU A
REGIÃO PRÓXIMA AO OLHO ESQUERDO DA ViTIMA: QUE A
ViTIMA APRESENTA INÚMERAS LESÕES EM TODO CORPO.
INFORMA QUE SUA FILHA LUCIANA TENTOU LHE AJUDAR E
TAMBÉM FOI AGREDIDA PELO SUSPEITO; QUE O SUSPEITO
DESFERIU UMA FACADA NA REGIÃO DO PESCOÇO E TENTOU
PERFURAR A VÍTIMA NA REGIÃO DO TÓRAX: QUE JOGOU
PANELAS NAS VITIMAS; QUE O SUSPEITO PEGOU UM MARTELO;
QUE NÃO SABE DIZER SE O SUSPEITO UTILIZOU O MARTELO
PARA AGREDIR A VITIMA LUCIANA. AO FINAL. A VITIMA INFORMA
QUE DESEJA GUIA DE ECD (…)” (Maura Rodrigues Corradi, fls.4/6, Id.
9682173423) (grifo nosso)

“(…) A VíTIMA COMPARECE A ESTA ESPECIALIZADA


ACOMPANHADA PELA POLICIA MILITAR, INFORMA QUE
MANTEVE UNIÃO ESTÁVEL COM O SUSPEITO HÁ 3(TRÊS) ANOS;
QUE IÃO TEM FILHOS COM O SUSPEITO; QUE NÃO DEPENDE DO
SUSPEITO FINANCEIRAMENTE; QUE RESIDE NA MESMA CASA
QUE O SUSPEITO; QUE O SUSPEITO E USUÁRIO DE DROGAS. EM
RELAÇÃO AOS FATOS, ALEGA QUE ESTAVA EM CASA: QUE O
SUSPEITO APRESENTAVA UM COMPORTAMENTO NORMAL; QUE
REPENTINAMENTE ELE COMEÇOU A DEMONSTRAR UM
COMPORTAMENTO AGRESSIVO; QUE COMEÇOU A BRIGAR POR
CAUSA DO CACHORRO QUE QUERIA ENTRAR EM CASA: QUE O
SUSPEITO COMEÇOU A GRITAR EM TOM AMEAÇADOR; EU VOU
TE MATAR DESGRAÇA; VOCÊS NÃO ME CONHECEM. EU VOU
MATAR VOCÊ DEMÔNIO; QUE A MÃE DA VITIMA OUVIU AS
AMEAÇAS E FOI ATE A CASA E DISSE QUE SUSPEITO QUE
ACIONARIA A POLÍCIA MILITAR; QUE O SUSPEITO NÃO ACEITOU
E FOI ATÉ A MÃE DA ViTIMA E COMEÇOU A AGREDI-LA.
JOGANDO-A AO CHÃO E DESFERINDO VÁRIOS SOCOS E
CHUTES; QUE O SUSPEITO PEGOU UMA FACA E FERIU A MÃE
DA VITIMA COM UMA FACADA PRÓXIMO AO OLHO ESQUERDO;
QUE A DECLARANTE TENTOU AJUDAR SUA MÃE E TAMBÉM FOI
FORTEMENTE AGREDIDA, SENDO JOGADA NO CHÃO; QUE O
SUSPEITO LHE AGREDIU COM VÁRIOS CHUTES E SOCOS NA
REGIÃO DO ROSTO, CABEÇA, BRAÇOS, PERNAS E COSTAS:
QUE O SUSPEITO DESFERIU UMA FACADA NO PESCOÇO DO
LADO ESQUERDO DA VITIMA; QUE TENTOU PERFURAR A
REGIÃO DO TÓRAX DA VITIMA. REALIZANDO PEQUENOS
CORTES; QUE O SUSPEITO JOGOU PANELAS NA DIREÇÃO DA
ViTIMA E DE SUA MÃE; QUE JOGOU MARTELO E VÁRIOS
OBJETOS; QUE O SUSPEITO ESTAVA TRANSTORNADO; QUE O
SUSPEITO AO VER QUE A VÍTIMA ESTAVA GRAVEMENTE FERIDA
E DESFALECENDO, COMEÇOU A SE AUTO LESIONAR, FAZENDO
MENÇÃO DE QUE ESTARIA FURANDO SUA PRÓPRIA PERNA:
6
QUE O SUSPEITO EVADIU DO LOCAL: QUE OS VIZINHOS
ACIONARAM A POLICIA MILITAR. AO FINAL. A ViTIMA INFORMA
QUE JÁ FOI AGREDIDA PELO SUSPEITO EM MEADOS DE MAIO DE
2020; QUE NECESSITOU ATENDIMENTO MEDICO: QUE A ViTIMA
PROCUROU A DELEGACIA DE MULHERES E SOLICITOU MEDIDAS
PROTETIVAS: QUE NÃO SE RECORDA O NÚMERO DAS MEDIDAS
PROTETIVAS; QUE RESOLVEU VOLTAR COM O SUSPEITO.
TODAVIA. NÃO FOI ATÉ FÓRUM SOLICITAR A REVOGAÇÃO DAS
MEDIDAS, A ViTIMA SOLICITA ADOÇÃO DE MEDIDAS PROTETIVAS
QUE DESEJA REPRESENTAR EM DESFAVOR DO SUSPEITO (…)”
(Luciana Rodrigues Corradi Cirino, fls. 15/17, Id. 9682173423) (grifo
nosso).

Em juízo, as vítimas Maura Rodrigues Corradi e Luciana Rodrigues


Corradi Cirino confirmaram as declarações prestadas em sede extrajudicial,
acima transcritas, detalhando os fatos de forma similar e acrescentaram:

“(…)que o acusado já havia agredido sua filha há um ano atrás;


que sua filha já vivia junto com ele há mais ou menos três anos;
que moram no mesmo lote; que a primeira briga ele quebrou o
celular da sua filha e chegou a quebrar osso de sua face; que ele
implicava com cachorro dela; que na última agressão eu o viu
gritando com sua filha com faca na mão, pois estava preparando um
peixe; que começou a ouvir barulho de faca caindo no chão e sua filha
e acusado brigando; que nesse momento até tentou gravar áudio pra
sua filha Renata; que o barulho aumentou; que cheguei na porta e
perguntei: o que é isso ai? vou chamar a polícia (sic); que então o
acusado pegou o martelo e disse pra sua filha “vou matar essa
desgraçada agora” se referindo a depoente; que repetiu “vou te
matar agora”; que o acusado veio correndo com martelo na mão;
que nesse momento temeu por sua vida; que sua filha tentou
segurá-lo; que o acusado achou uma faca em cima da pia e tentou
enfiar em seu olho; que pegou fio de celular e o passou no
pescoço de sua filha e puxava; que o acusado ainda teve coragem
ainda de falar que foi sua filha Luciana que o agrediu; que era
muito sangue; que ele dava soco e chute na depoente e na sua
filha e foi enforcando-a também; que consegui chegar no portão da
rua e os vizinhos socorreram; que acusado ameaçou os vizinhos que
tentaram socorrer; que acredita que foram os vizinhos que chamaram
a polícia; que a discussão começou porque o acusado não queria o
cachorro dentro de casa; que sua filha na agrediu o acusado; que
não podia dormir mais por medo de briga entre eles (…) que ficou
internada uma semana; que seu ombro quebrou; que só esta viva por
um milagre; que quebrou nariz; que ficou com coágulo na cabeça; que
dois dedos no pé foram quebrados; que o acusado passou a faca no
pescoço de sua filha; após os fatos a vida virou de perna pro ar;
minha filha e eu estamos deprimidas; que estão com medo de tudo
(…)” (Maura Rodrigues Corradi, Id. 9741590607) (grifo nosso).

“(…)que ia fazer três anos de relacionamento com acusado; que


depoente é usuário de cocaína; que na primeira agressão o
acusado quebrou celular da vítima e quebrou o rosto da vítima
com uma barra de ferro; que resolveu dar uma chance ao acusado
7
mas não sabia que chegaria a tanto; que a discussão começou por
causa de um cachorrinho; que o acusado agredia o cachorro
dormindo; que no dia ele não queria que o cachorro entrasse em casa;
que ele gritou dizendo que a porta ficaria aberto; momento que sua
mãe disse que ia chamar polícia; que ele achou o martelo e foi em
direção a sua mãe; que ele batia na depoente e em sua mãe; que
ele apertou o pescoço da depoente com carregador de celular; que o
acusado utilizou uma faca e tudo que ele via pela frente ele jogava em
cima das vítimas; que ele abria as gavetas procurando algo pra nos
matar; que ambas estavam no chão e ele conseguia bater em nas duas;
que nunca presenciou uma cena tão forte; que não tinha força para
reagir; que a faca pegou no pescoço; que os outros machucados
foram pelos tombos que eu tomei; que quando sua mãe saiu a
depoente ficou dentro de casa com o acusado e ele dizia vou te
matar sua desgraçada; que nesse momento tirou a mão do
pescoço e o sangue estava esguichando e disse ao acusado que
ele já havia lhe matado, pois já estava morrendo; que o acusado
disse que se mataria também; que ouviu o telefone tocando no meio
do sangue e atendeu e era sua irma Renata; que pediu a ela pra fazer
uma chamada de vídeo pra me despedir pois estava morrendo; que na
hora que o acusado saiu ainda ouviu ele dizendo a alguém pra não
entrar na casa não pois já havia matado a depoente e iria matá-lo
também; que não teve mais contato com o acusado(…)” (Luciana
Rodrigues Corradi Cirino, Id. 9741590607) (grifo nosso)

A testemunha Thiago Henrique da Silva, sob o crivo do


contraditório, ratificou o histórico do boletim de ocorrência de fls. 9/15, Id.
9682173421 e detalhou:
“(…) que fez o primeiro contato com as vítimas; que ambas
sangravam muito; que SAMU chegou e providenciou o socorro;
que a senhora mais velha estava mais lúcida, enquanto a mais
nova estava mais debilitada; que a mais nova estava com corte
profundo no pescoço; que a partir do momento que deixou as vítimas
com SAMU retornaram ao local; que chegou a informação via rádio
sobre o possível local onde o acusado estava; que no momento de sua
prisão não ofereceu resistência e que também estava machucado (
Thiago Henrique da Silva, Id. 9776986505) (grifo nosso).

Em interrogatório extrajudicial e judicial, o acusado apresentou a


seguinte versão:

“(…)QUE o Declarante afirma que a vítima LUCIANA RODRIGUES


CORRADI ClRINO é sua amásia, ambos mantém relacionamento
conjugal à aproximadamente três anos, sem filhos em comum:
QUE o Declarante afirma que, na ocasião dos fatos após retornar para
casa depois do trabalho, surpreendeu LUCIANA trocando
mensagens com o ex companheiro e então decidiu questioná-la
sobre essa conduta, momento em que os ânimos se exaltaram
iniciando a desavença; QUE em dado momento a mãe da vítima
MAURA RODRIGUES CORRADI, interferiu na discussão iniciando
agressão física contra sua pessoa; QUE o Declarante relata que
8
reagiu as agressões sofridas e em ato contínuo LUCIANA muniu-se
com uma faca e desferiu vários golpes que causaram lesões cm seu
corpo; QUE o Declarante afirma que reagindo as agressões sofridas
feriu LUCIANA, não se lembrando como fez isso. QUE o Declarante
nega ter tido intenção de matar as vítimas alegando que apenas reagiu
as agressões desferidas contra sua pessoa (…)” (Weslei Rodrigo da
Fonseca, fls. 7/8, Id.9682173426) (grifo nosso)

“(…) que faz uso de cocaína; que a discussão começou porque a


Luciana queria que ele buscasse droga; que as vozes se alteraram e a
mãe da Luciana entrou no meio dizendo que chamaria polícia; que
Luciana veio pra cima do depoente; que lembra que empurrou a dona
Maura e que Luciana veio com faca pro seu lado; que foram um total
de cinco cortes que sofreu; que chamou Luciana e disse que tudo
aquilo era por causa de uso de droga; que o martelo estava dentro
da bolsa mas que não foi usado na briga; que tinha uma amizade com a
dona Maura, mãe de sua companheira; que nunca chegou a ameaçá-
las; que era um relacionamento muito bom com a Luciana, mas que ela
era possessiva, pois ficava querendo afastá-lo da família; que a Luciana
usou a versão do cachorro porque queria esconder o real motivo de que
era pra buscar droga (…)” (Weslei Rodrigo da Fonseca, Id. 9776986505)
(grifo nosso).

Diante dos princípios que norteiam o processo penal e das provas


coligidas, não há como se acolher, nesta fase sumária, a tese defensiva de
impronuncia do acusado,
Os documentos e depoimentos acima mencionados são harmônicos
entre si e oferecem razoável congruência para a pronúncia do acusado.
Nota-se que o acusado confessou, em sede extrajudicial e judicial, a
desavença com sua então companheira Luciana Rodrigues Corradi Cirino.
Embora o denunciado tenha alegado, em interrogatório judicial, que
apenas revidou as agressões que sofrera de sua ex-companheira, a vítima
Luciana Rodrigues Corradi Cirino ressaltou que após serem agredidas, o
acusado passou a mutilar-se a si mesmo.
Ressalta-se, ainda, que há indícios de que o relacionamento do
acusado e da vítima Luciana seria pautado por episódios de agressões pretéritas,
conforme narrado em juízo pelas ofendidas (Id. 9741590607) e CAC e FAC do
denunciado, acostadas nos Ids. 9843456500 e 9843437629
Conclui-se, pois, haver nos autos prova da materialidade e indícios
suficientes de autoria a demonstrarem ser plenamente admissível a acusação,
não se exigindo para a pronúncia, o juízo de certeza necessário para a prolação
da sentença condenatória. Nesse sentido:

9
"AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. TRIBUNAL DO JÚRI.
HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRONUNCIA. REGULARIDADE
FUNDAMENTAÇÃO SUFICIENTE. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO
ILEGAL 1. Deve ser mantida por seus próprios fundamentos a decisão
monocrática que negou provimento ao recurso em habeas corpus. 2.
Como se sabe, segundo precedentes desta Corte Superior, a pronúncia
encerra simples juízo de admissibilidade da acusação, exigindo o
ordenamento jurídico somente o exame da ocorrência do crime e de
indícios de sua autoria, não se demandando aqueles requisitos de certeza
necessários à prolação da sentença condenatória. 3. O Tribunal estadual,
soberano na análise do conjunto fático-probatório, confirmou a decisão de
pronúncia e, nesse aspecto, não há ilegalidade; ao contrário, segundo
precedentes desta Corte, a decisão de pronúncia atende ao disposto no
art. 413, e em seu § 1º, do Código de Processo Penal, circunscrevendo-se
à indicação da materialidade do fato e dos indícios suficientes de autoria
(AgRg no AREsp n. 1.945.775/BA, Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 28/9/2021, DJe 4/10/2021). 4.
Agravo regimental improvido". (STJ AgRg no HC n. 679.032/AL, Relator:
Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 28/6/2022, DJe
de 30/6/2022)

"AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. TENTATIVAS DE


HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRONUNCIA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA
ALEGAÇÃO DE INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. VIA INADEQUADA. 1.
Nos termos do artigo 413 do Código de Processo Penal, a decisão de
pronúncia configura um juízo de admissibilidade da acusação, aplicável
nas situações em que o julgador se mostra convencido (a) da
materialidade do delito e (b) da existência de indícios - e não certeza - de
autoria ou de participação. 2. Os indícios declinados pela instância
ordinária, ao menos nesta sede processual, revelam-se idóneos para
submissão do paciente ao Conselho de Sentença. 3. Para acolher a
alegação de insuficiência probatória, tal como já afirmou o STJ, seria
necessário proceder à análise de fatos e provas, providência incompatível
com a via do Habeas Corpus. 4. Agravo Regimental a que se nega
provimento". (STF HC 206244 AgR, Relator(a): ALEXANDRE DE
MORAES, Primeira Turma, julgado em 19.10.2021, DJe. 22.10.2021)

O acusado há de ser submetido a julgamento pelo tribunal do júri


popular, cabendo aos senhores jurados, no exercício de seu mister constitucional,
como juízo natural da causa, apreciar de forma mais aprofundada o conjunto
probatório e proferir o veredicto sobre os delitos em questão.
Em relação às qualificadoras do crime de homicídio, a jurisprudência
pacífica do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (Súmula n. 64 do Grupo de
Câmaras Criminais) e dos tribunais superiores é no sentido de que "ausente
manifesta improcedência das figuras qualificadas do crime de homicídio (…),
tem-se válida admissibilidade da acusação, reservada ao Conselho de Sentença
a valoração definitiva" (STF HC 161213, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Primeira
Turma, julgado em 18.8.2020, DJe. 3.9.2020).

10
Somente se pode afastar a configuração das circunstâncias
qualificadoras, nesta fase, se forem completamente divorciadas das provas
produzidas, o que não se verifica no presente caso.
A prova colhida nos autos permite concluir, em juízo de cognição
sumária, a real possibilidade das agressões contra a vítima Luciana Rodrigues
Corradi Cirino terem sido praticadas em decorrência de uma discussão motivada
pelo fato do cachorro da família querer adentrar na residência do casal, tendo o
denunciado se irritado com tal fato, o que caracterizaria motivo fútil (inc. II do §2º
do art. 121 do Código Penal). Nesse sentido, são as declarações judiciais da
vítima Luciana Rodrigues Corradi Cirino, transcritas acima.
O crime contra a vítima Maura Rodrigues Corradi teria sido praticado
mediante motivo torpe, tendo em vista que ofendida teria interferido na discussão
havida entre o acusado e a ofendida Luciana Rodrigues Corradi Cirino, dizendo a
ele que chamaria a polícia. Tais circunstâncias justificariam, em princípio, a
incidência da qualificadora prevista no inc. I do §2º do art. 121 do Código Penal.
Presentes, ainda, os indícios para substanciar a qualificadora objetiva
do feminicídio, pois os crimes praticados contra as vítimas ocorreram contra
mulheres por razões de condição de sexo feminino, em contexto de violência
doméstica.
Registra-se que o acusado e a ofendida Luciana Rodrigues Corradi
Cirino mantiveram um relacionamento amoroso por cerca de 3 (três) anos,
aparentemente pautado por episódios de agressividade por parte do denunciado,
conforme se extrai das declarações das ofendidas, mencionadas acima.
Quanto as causas de aumento de pena descritos na denúncia (§4°
(segunda parte) e §7°, inc. III, do Código Penal), por se tratar de matéria afeta,
exclusivamente, à eventual aplicação de pena por ocasião da segunda fase do
procedimento do Tribunal do Júri, não será analisado nesta fase sumariante.
Por fim, embora o Ministério Público não tenha constado a capitulação
dos delitos na forma tentada, a própria descrição fática trazida na denúncia é
assertiva no sentido de que as vítimas sobreviveram aos ferimentos causados pela
ação: “Agindo assim denunciado iniciou a execução de dois crimes de homicídio,
que não se consumaram por circunstâncias alheias à sua vontade” (Id.
9682173419).
Tal descrição fática se amolda à prática do homicídio na modalidade
11
tentada, nos termos do art. 14, inc. II, do Código Penal, tendo em vista, que
conforme se extrai dos autos, embora iniciada a execução, o resultado morte não
se consumou por circunstâncias alheias a vontade do acusado.
Assim,é perfeitamente aplicável a hipótese de emendatio libelli, descrita
no art. 418, do CPP, para reconhecer capitulação jurídica diversa daquela descrita
na peça acusatória, visando o enquadramento dos fatos à imputação do acusado
pela prática de tentativa de homicídio.
Havendo suporte probatório mínimo para a admissão das referidas
qualificadoras devendo a integralidade da acusação ser submetida ao crivo do
tribunal do júri popular.

3. Dispositivo

Pelo exposto, PRONUNCIO o acusado WESLEI RODRIGO DA


FONSECA, pela prática, em tese, dos crimes previstos no art. 121, §2º, incs. II e
VI, c/c §2-A, inc. I ,c/c art. 14, inc. II (vítima Luciana Rodrigues Corradi Cirino) e
no art. 121, §2º, incs. I e VI, c/c §2-A, inc. I, c/c art. 14, inc. II (vítima Maura
Rodrigues Corradi), todos do Código Penal, para submetê-lo a julgamento
perante o Tribunal do Júri Popular.
Considerando o disposto no art. 413, §3º do CPP, especialmente (i) a
brutalidade do crime em questão, a referendar a gravidade concreta da conduta
imputada ao acusado; (ii) e a necessidade de pronta e severa resposta do
aparato estatal a delitos dessa natureza, para coibir a reiteração criminosa,
MANTENHO a prisão preventiva do ora pronunciado, pelos fundamentos
expostos na decisão de fls.124/130 Id. 9711870354 visando à garantia da ordem
pública e a conveniência da instrução criminal no judicium causae.
Ressalta-se que nenhuma das medidas cautelares substitutivas à
prisão, previstas no artigo 319 do CPP, se revelam suficientes para suplantar as
questões mencionadas acima.
Recomendo o acusado no estabelecimento em que se encontra
recolhido.
Diligência final:
Certifique-se se houve resposta ao ofício de Id. 9782480143. Em caso
negativo, cobre-se.
12
Preclusa essa decisão, remetam-se os autos a um dos Juízes
Presidentes do Tribunal do Júri desta capital.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Cumpra-se.

Belo Horizonte, data da assinatura eletrônica.

Joaquim Morais Júnior


Juiz de Direito

13

You might also like