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Sentença Weslei Rodrigo Fonseca
Sentença Weslei Rodrigo Fonseca
SENTENÇA
1. Relatório
2. Fundamentação
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"AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. TRIBUNAL DO JÚRI.
HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRONUNCIA. REGULARIDADE
FUNDAMENTAÇÃO SUFICIENTE. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO
ILEGAL 1. Deve ser mantida por seus próprios fundamentos a decisão
monocrática que negou provimento ao recurso em habeas corpus. 2.
Como se sabe, segundo precedentes desta Corte Superior, a pronúncia
encerra simples juízo de admissibilidade da acusação, exigindo o
ordenamento jurídico somente o exame da ocorrência do crime e de
indícios de sua autoria, não se demandando aqueles requisitos de certeza
necessários à prolação da sentença condenatória. 3. O Tribunal estadual,
soberano na análise do conjunto fático-probatório, confirmou a decisão de
pronúncia e, nesse aspecto, não há ilegalidade; ao contrário, segundo
precedentes desta Corte, a decisão de pronúncia atende ao disposto no
art. 413, e em seu § 1º, do Código de Processo Penal, circunscrevendo-se
à indicação da materialidade do fato e dos indícios suficientes de autoria
(AgRg no AREsp n. 1.945.775/BA, Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 28/9/2021, DJe 4/10/2021). 4.
Agravo regimental improvido". (STJ AgRg no HC n. 679.032/AL, Relator:
Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 28/6/2022, DJe
de 30/6/2022)
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Somente se pode afastar a configuração das circunstâncias
qualificadoras, nesta fase, se forem completamente divorciadas das provas
produzidas, o que não se verifica no presente caso.
A prova colhida nos autos permite concluir, em juízo de cognição
sumária, a real possibilidade das agressões contra a vítima Luciana Rodrigues
Corradi Cirino terem sido praticadas em decorrência de uma discussão motivada
pelo fato do cachorro da família querer adentrar na residência do casal, tendo o
denunciado se irritado com tal fato, o que caracterizaria motivo fútil (inc. II do §2º
do art. 121 do Código Penal). Nesse sentido, são as declarações judiciais da
vítima Luciana Rodrigues Corradi Cirino, transcritas acima.
O crime contra a vítima Maura Rodrigues Corradi teria sido praticado
mediante motivo torpe, tendo em vista que ofendida teria interferido na discussão
havida entre o acusado e a ofendida Luciana Rodrigues Corradi Cirino, dizendo a
ele que chamaria a polícia. Tais circunstâncias justificariam, em princípio, a
incidência da qualificadora prevista no inc. I do §2º do art. 121 do Código Penal.
Presentes, ainda, os indícios para substanciar a qualificadora objetiva
do feminicídio, pois os crimes praticados contra as vítimas ocorreram contra
mulheres por razões de condição de sexo feminino, em contexto de violência
doméstica.
Registra-se que o acusado e a ofendida Luciana Rodrigues Corradi
Cirino mantiveram um relacionamento amoroso por cerca de 3 (três) anos,
aparentemente pautado por episódios de agressividade por parte do denunciado,
conforme se extrai das declarações das ofendidas, mencionadas acima.
Quanto as causas de aumento de pena descritos na denúncia (§4°
(segunda parte) e §7°, inc. III, do Código Penal), por se tratar de matéria afeta,
exclusivamente, à eventual aplicação de pena por ocasião da segunda fase do
procedimento do Tribunal do Júri, não será analisado nesta fase sumariante.
Por fim, embora o Ministério Público não tenha constado a capitulação
dos delitos na forma tentada, a própria descrição fática trazida na denúncia é
assertiva no sentido de que as vítimas sobreviveram aos ferimentos causados pela
ação: “Agindo assim denunciado iniciou a execução de dois crimes de homicídio,
que não se consumaram por circunstâncias alheias à sua vontade” (Id.
9682173419).
Tal descrição fática se amolda à prática do homicídio na modalidade
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tentada, nos termos do art. 14, inc. II, do Código Penal, tendo em vista, que
conforme se extrai dos autos, embora iniciada a execução, o resultado morte não
se consumou por circunstâncias alheias a vontade do acusado.
Assim,é perfeitamente aplicável a hipótese de emendatio libelli, descrita
no art. 418, do CPP, para reconhecer capitulação jurídica diversa daquela descrita
na peça acusatória, visando o enquadramento dos fatos à imputação do acusado
pela prática de tentativa de homicídio.
Havendo suporte probatório mínimo para a admissão das referidas
qualificadoras devendo a integralidade da acusação ser submetida ao crivo do
tribunal do júri popular.
3. Dispositivo
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