You are on page 1of 12

Ao

Excelentíssimo Senhor Senador XXX

XXXXXXXX, Brasileiro, Leiloeiro Público Oficial matriculado na Junta


Comercial do Estado do XXXX, com endereço profissional em XXXX, vem à presença
de Vossa Excelência apresentar o pedido e justificativa para

Manifestação/Voto contrário

a Emenda de nº 26 do relator, no que tange ao exercício da leiloaria, incluídas pelo


Senador Relator Weverton em seu relatório do Projeto de Lei 4188/2021 e apoio da
emenda supressiva nº 8 do Sen. Mecias de Jesus, nos termos abaixo:

 DA LEGITIMIDADE

Considerando que o presente caso afeta a profissão no âmbito representativo deste


sindicato, este sindicato se configura como parte legítima para representar e defender os
interesses da classe no presente recurso, conforme o art. 8º, III da CF/88 e art. 513, a) do
Decreto-Lei 5452/43 (CLT), art. 2º, a) e h) do Estatuto Social e conforme cadastro no
Ministério do Trabalho e Emprego.

 DOS FATOS

O texto aprovado na Câmara Federal do Projeto de Lei 4188/2021


(Marco Legal das Garantias) trouxe diversas inovações, visando aprimorar as regras de
garantia e reduzir os custos e juros das operações de crédito.

O texto, em nenhum momento, trouxe qualquer referência à profissão dos


leiloeiros, certamente por não se tratar do objetivo do Projeto de Lei, a qual objetivou a
redução dos custos de crédito, beneficiando a população.
Ocorre que, o relator do projeto nesta Comissão de Assuntos Econômicos
– CAE realizou inúmeras alterações, com mais de 46 Emendas Propostas.

Tendo sido incluída a profissão do leiloeiro, como passível de realização


pelos Tabeliões de Notas e de Protesto na emenda nº 26. Com a alteração sugerida pelo
Senador, é feita a inclusão do artigo 6-A e incisos da Lei 8.935/94, incluindo
disposições que estabelecem a compatibilidade da atividade dos Tabeliões de Notas e de
Protesto com a leiloaria.

Cumpre ressaltar que outras Emendas envolvendo a leiloaria já haviam


sido propostas anteriormente em outros projetos, em especial na MP 1085/2021:

- Emenda 75 - Dep. Dagoberto Nogueira – 02/02/2022:

“Art. 27. Uma vez consolidada a propriedade em seu nome, o fiduciário, no


prazo de trinta dias, contados da data do registro de que trata o § 7º do
artigo anterior, promoverá público leilão para a alienação do imóvel,
podendo optar por promovê-lo junto ao registro de imóveis competente.”
(NR)”

- Emenda 195 - Dep. Fausto Pinato - 03/02/2022:

“Art. 29 - Lei 6.015/1973:

§ 7º A atividade registrária desempenhada pelo oficial de registro civil das


pessoas naturais é compatível com o exercício da arbitragem, nos termos da
Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996, e da leiloaria, cumpridos os seus
requisitos próprios.”

- Emenda 217 – Dep. José Nelto – 03/02/2022:

“Art. 13. A Lei nº 8.935, de 1994, passa a vigorar com as seguintes


alterações:

Art. 6º Aos notários compete:

(...)

IV – Atuar como leiloeiro e formalizar os negócios decorrentes da


expropriação do bem;”

Em voto do Deputado Relator, Isnaldo Bulhões Jr., no dia 05 de maio de


2022, foi considerada a análise das Emendas apresentadas na MP 1085/21:

" Considero ainda que as Emendas apresentadas podem gerar


controvérsias desnecessárias para esse momento e para a
própria interpretação do texto que se virá a converter em lei,
razão que reforça a recomendação pela rejeição de todas as
emendas com apoiamento regimental.”

Ou seja, as Emendas referentes à leiloaria já haviam sido analisadas


anteriormente em outro projeto de lei, e foram rejeitadas no todo, devido aos temas
envolverem ampla discussão, e não terem relação direta com a temática principal da
Medida Provisória proposta pelo Executivo.

Ainda, o exato mesmo texto da emenda ora sugerida pelo Senador


Weverton foi alvo de VETO PRESIDENCIAL, conforme mensagem nº 329/2022
encaminhada ao Presidente do Senado Federal, sendo mantido o veto pelo Congresso
Nacional.1

Ainda, há outro projeto de lei tramitando neste Senado Federal que


trata exclusivamente da matéria objeto das emendas supracitadas, sendo este o PL

1
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2022/Msg/Vep/VEP-329-22.htm
6204/2019, inclusive aguardando a entrada em pauta no Plenário desta casa
legislativa.

Ademais, os Leiloeiros oficiais possuem atuação Estadual, diversamente


dos Tabelionatos os quais tem sua atuação limitada e definida pelas Corregedorias dos
Tribunais Estaduais, com a ampla maioria atuando em uma cidade ou até somente a
certos bairros da cidade, caso haja outro tabelionato na mesma cidade.

Aliás, a medida almejada trará maiores custos à sociedade sem que haja a
redução pretendida e pior, complicará ainda mais o sistema atualmente existe de
recuperação de crédito, pois colocará um terceiro que não possui qualquer experiência
ou estrutura para realizar função atípica, caso seja autorizada a realização de leilões
pelos tabeliões.

Tal situação se demonstra em virtude dos registradores terem a


integralidade das suas despesas e local de atuação definidos e regulamentados pelos
tribunais, sem que haja qualquer incentivo a prestação de um serviço de qualidade e
diferenciado à sociedade.

Neste sentido, os Leiloeiros muitas vezes suportam os custos para a


realização dos leilões visando a viabilização do ato, sendo muitas vezes remunerados
pelo volume ou, com o bem de alto valor pagando a operação e custos do bem de baixo
valor, sendo tal cenário impossível no caso dos tabeliões, tanto por força legal quanto
regulamentar, ou seja, haverá na realidade aumento de custos aos credores ao invés do
inverso.

Com isso, a situação criada pela emenda é discriminatória, pois criará


uma categoria especial de leiloeiro, que estaria isenta das limitações e restrições
impostas pela lei à classe, como um todo, bem como estaria sob o guarda-chuva
(amparada) pelo estado, com receita mínima pagas pelos Tribunais de Justiça e com
seus erros ressarcidos pelos Estados.

Diante disso e considerando que não que houve a possibilidade dos


representantes dos leiloeiros nacionais se manifestarem, cabe, neste momento,
apresentar a presente manifestação contrária a Emenda de nº 26 incluída pelo relator no
Projeto de Lei, devido às inconstitucionalidades abaixo descritas.
 DA INCONSTITUCIONALIDADE – FISCALIZAÇÃO

A Constituição Federal estabelece que “a lei regulará as atividades, disciplinará a


responsabilidade civil e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus
prepostos e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário” (art. 236, §1º).

Tendo a Carta Magna atribuído ao Poder Judiciário a fiscalização desses serviços,


incabível a lei ordinária disciplinar normativa que venha a impedir ou limitar essa
fiscalização.

No plano infraconstitucional, a Lei prevista no referido artigo 236, §1º, da CF é a


de nº 8.935, de 18/11/1994 que, entre outras disposições e a fixar competência da
autoridade judiciária, dispõe que os serviços de registros “serão prestados de modo
eficiente e adequado, em dias e horários estabelecidos pelo juízo competente, atendidas
as peculiaridades locais” (art. 4º). Por outro lado, a atividade dos Leiloeiros é fiscalizada
pelas Juntas Comerciais, que lhes confere a matrícula, e tem a atribuição de processar a
habilitação e nomeação deles (art. 32, I e 8º, III da Lei 8.934/1994).

Fica evidente que a subordinação do Leiloeiro a órgão do Poder Executivo,


incompatibiliza-se com a subordinação fiscalizatória do poder Judiciário decorrente da
Constituição Federal.

A evidência dessa colisão se verifica na medida que cabe ao poder Judiciário fixar
o horário de funcionamento dos serviços de registro, no mínimo com atendimento ao
público por ao menos 06 (seis) horas, além de o registro civil, em sistema de plantão, ter
de atender aos sábados, domingos e feriados também (art. 4º, §§ 1º e 2º, da Lei
8935/94).

Tomando-se, então, as hipóteses de leilão judicial, verifica-se que o Código de


Processo Civil determina que eles se realizem, nos dias úteis, das 06 às 20 horas e, não
se ultimando, prosseguirão no dia útil imediato (arts. 212 e 900). Igualmente o Decreto
21.981/32, que regula a profissão de leiloeiro veda a realização de leilões, sob pena de
nulidade, “nos domingos e dias feriados nacionais, estaduais e municipais” (art. 36, §
único).

Evidentemente, a autoridade judiciária nem poderá autorizar o registrador/notário


que for leiloeiro fora dos horários em que deva estar presente no cartório.
Além disso, salta aos olhos a inconstitucionalidade do texto constante da Emenda
26, pela qual se pretende acrescentar o § 2º ao artigo 6-Aº da Lei 8.935/94.

Diz o texto que a “atividade do tabelião de notas é compatível com a da leiloaria,


aplicando-se as proibições e incompatibilidades previstas unicamente na presente Lei ”.

Ora, como se verá nos itens seguintes, há inúmeras restrições ao exercício da


atividade de Leiloeiro oficial impostas pelo Decreto 21.981/32, que constitui a norma
reguladora da profissão do Leiloeiro Oficial no Brasil.

O texto em questão, ao atribuir ao tabelião de notas e ao oficial de registros civis


as prerrogativas da função de leiloeiro, eximindo-os, todavia, de respeitar as restrições
impostas ao exercício dessa atividade, fere frontalmente o artigo 5º da CF que
estabelece que todos são iguais perante a lei.

O texto é discriminatório, pois cria uma categoria especial de leiloeiro, que estaria
isenta das limitações e restrições impostas pela lei à classe, como um todo.

Com relação às tais restrições impostas pelo Decreto 21.981/32 ao exercício da


atividade de Leiloeiro Oficial, vale ressaltar que recentemente passou pelo crivo da
constitucionalidade, tendo sido julgado pelo Supremo Tribunal Federal em Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF 419-DF (anexo), que elas são
legítimas porque indispensáveis à proteção de bens jurídicos de interesse público
resguardado pela própria CF. Ressaltou o relator, E. Min. Edson Fachin que “as
restrições dispostas no art. 36, “a”, §§ 1º e 2º, do Decreto 21.981/1932, perseguem fins
legítimos de interesse público, na medida em que, dada a relevância das atribuições de
leiloeiros, relacionadas à administração da hasta pública e à alienação dos bens de
terceiros, visam a coibir conflitos de interesse, ou seja, a garantir a atuação
profissional proba, livre de ingerências que possam comprometer o desempenho de
suas funções”.

De se ver, pois, não ser possível qualquer leitura do texto de lei acima destacado
sem se concluir tratar-se de previsão discriminatória, e, portanto, inconstitucional.

No tema da inconstitucionalidade, vale lembrar, que ela não se configura apenas


pelo confronto direto com a norma constitucional, mas também quando “o conteúdo de
tais leis ou atos contraria preceito ou princípio da constituição”, ou, em outras
palavras, “normas de grau inferior somente valerão se forem compatíveis com as
normas de grau superior, que é a constituição”, é o que se denomina “compatibilidade
vertical” (cf. José Afonso da Silva – Curso de Direito Constitucional Positivo – p. 49 –
39ª edição – São Paulo: Malheiros, 2016). Isto pode resumir-se em que a
inconstitucionalidade se configura pela “prática de acto jurídico-público que, por
qualquer de seus elementos, infringe a Constituição (cf. Jorge Miranda – Teoria do
Estado e da Constituição – p. 487 – Rio de Janeiro: Forense, 2003). Aqui, o elemento
contrariado é a prerrogativa conferida ao Poder Judiciário, pela Constituição Federal, de
fiscalizar os atos dos notários, entre os quais a assiduidade e prestação de serviços com
eficiência (art. 37 da CF).

 DA INCONSTITUCIONALIDADE – ACUMULAÇÃO DE CARGOS

Segundo Hélcio Kronberg (apud MEIRELLES, 2004, p.18), em sua obra “Direito
Administrativo Brasileiro”, os leiloeiros são classificados como agentes delegados que
recebem a incumbência de execução de determinada atividade ou serviço público, mas
sob as normas do Estado e fiscalização do delegante, chamados de comitentes. Nesse
sentido, fica claro que o Leiloeiro é um profissional liberal, capaz, mandatário,
habilitado, que realiza profissionalmente um trabalho de venda de bens a partir da
realização de um pregão. Na esfera do Poder Público, é considerado um auxiliar da
Justiça, merecendo, inclusive, fé pública dos seus atos no processo e outras
colaborações tais como remoção e guarda de bens penhorados.

A leiloaria é a única função exercida pelo profissional leiloeiro, o qual não pode
exercer outras atividades devido a proibições legais, e, ainda, devido à seriedade e
estruturação que demanda o exercício da profissão.

O Egrégio Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Arguição de


Descumprimento de Preceito Fundamental nº 419, entendeu como plausível a limitação
do exercício profissional da leiloaria, vedando o exercício acumulado de comércio, e a
constituição de sociedade:

ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO FUNDAMENTAL


(ADPF). DIREITO CONSTITUCIONAL. ART. 36, A, §§ 1º E 2º,
DO DECRETO 21.981/1932. LIVRE EXERCÍCIO
PROFISSIONAL. RESTRIÇÕES. LEILOEIRO. VEDAÇÃO AO
EXERCÍCIO DO COMÉRCIO E À CONSTITUIÇÃO DE
SOCIEDADE. INTERESSE PÚBLICO. ADEQUAÇÃO.
RAZOABILIDADE. CONSTITUCIONALIDADE.
IMPROCEDÊNCIA. 1. É legítima restrição legislativa ao
exercício profissional quando indispensável à viabilização da
proteção de bens jurídicos de interesse público igualmente
resguardados pela própria Constituição, de que são exemplos a
segurança, a saúde, a ordem pública, a incolumidade
individual e patrimonial. Para tanto, requer-se que a disciplina
legislativa tendente a condicionar o exercício profissional
atenda aos critérios de adequação e de razoabilidade e seja
justificada por razão de interesse público e sustentada em
parâmetros técnicos idôneos à mitigação de riscos sociais
próprios do exercício da profissão. Precedente. 2. As restrições
dispostas no art. 36, “a”, §§ 1º e 2º, do Decreto 21.981/1932,
perseguem fins legítimos de interesse público, na medida em
que, dada a relevância das atribuições de leiloeiros,
relacionadas à administração da hasta pública e à alienação
dos bens de terceiros, visam a coibir conflitos de interesse, ou
seja, a garantir a atuação profissional proba, livre de
ingerências que possam comprometer o desempenho de suas
funções. 3. Não havendo restrição legislativa ao exercício da
profissão de leiloeiro para além de incompatibilidades que lhe
são próprias, as normas questionadas não se mostram
injustificadas, arbitrárias ou excessivas para o fim a que se
propõem, razão pela qual não há falar na alegada ofensa ao
valor social do trabalho e ao livre exercício de qualquer
trabalho, ofício ou profissão, consagrados nos arts. 1º, IV e 5º,
XIII, da Constituição da República. 4. Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental julgada
improcedente. (ADPF 419, Relator(a): EDSON FACHIN,
Tribunal Pleno, julgado em 15/12/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-023 DIVULG 05-02-2021 PUBLIC 08-02-
2021)

Lado outro, o tabelião de notas e de protesto, possuem inúmeras atividades


decorrentes de suas profissões, considerando a responsabilidade do exercício da função,
pelo qual tomam posse através de concurso público. Concurso esse, conhecido pela alta
concorrência devido às remunerações e estabilidade envolvida.

A Lei nº 8.935, de 18 de novembro de 1994, traz em seu Capítulo IV – Das


Incompatibilidades e dos Impedimentos:

Art. 25. O exercício da atividade notarial e de registro é


incompatível com o da advocacia, o da intermediação de seus
serviços ou o de qualquer cargo, emprego ou função públicos,
ainda que em comissão.
Sendo ambas as funções de grande responsabilidade, fiscalizadas por poderes
divergentes, as disposições trazidas pela Emenda de nº 26 beiram o absurdo.

Com análise análoga de precedente do Egrégio Supremo Tribunal Federal, é


possível constatar a inconstitucionalidade do acúmulo das funções, sendo a delegação
de serventia extrajudicial e a leiloaria atividades de natureza pública, sujeitas à previsão
do Artigo 37, inciso XVII da Constituição Federal:

“Direito Administrativo. Agravo interno em mandado de


segurança. Ato do CNJ. Cumulação de delegação de serventia
extrajudicial com cargo público. Servidor em licença não
remunerada. 1. Apesar de não ocuparem efetivo cargo público,
a função exercida pelos titulares de serventias extrajudiciais
possui inegável natureza pública. 2. Dessa forma, aplicável ao
caso a vedação prevista no inciso XVII do art. 37 da
Constituição Federal, que estende a proibição de cumulação
também para as funções públicas. 3. A impossibilidade de
acumulação de cargos, empregos e funções se mantém, mesmo
tendo sido concedida licença para o servidor. A concessão de
qualquer licença, ainda que não remunerada, “não
descaracteriza o vínculo jurídico do servidor com a
Administração”(RE 382.389-AgR, Segunda Turma, Relª. Minª.
Ellen Gracie). 4. Agravo a que se nega provimento por
manifesta improcedência, com aplicação de multa de 2 (dois)
salários mínimos, ficando a interposição de qualquer recurso
condicionada ao prévio depósito do referido valor, em caso de
decisão unânime (CPC/2015, art. 1.021, §§ 4º e 5º, c/c art. 81,
§ 2º).” (MS 27955 AgR, Relator(a): ROBERTO BARROSO,
Primeira Turma, julgado em 17/08/2018, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-185 DIVULG 04-09-2018 PUBLIC 05-09-
2018)

No mesmo sentido, o Conselho Nacional de Justiça já se posicionou:

RECURSO ADMINISTRATIVO. DETERMINAÇÃO DE


VACÂNCIA DE SERVENTIA EXTRAJUDICIAL.
IMPOSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DO EXERCÍCIO DA
ATIVIDADE NOTARIAL E DE REGISTRO COM O
EXERCÍCIO DE CARGO PÚBLICO. 1. A incompatibilidade
do exercício das atribuições de atividade notarial e de registro
com outra de cargo público exige a escolha entre o exercício de
um cargo ou outro. 2. É dever do Conselho Nacional de Justiça
fiscalizar e desconstituir atos emanados por Corregedorias e
Tribunais locais quando estes estiverem em desacordo com os
precedentes do CNJ, da jurisprudência pacificada sobre o tema
e em situação de flagrante inconstitucionalidade. 3. O
reconhecimento tácito pela opção da função pública traz como
consequência ao requerente a renúncia à serventia
extrajudicial. 4. Recurso desprovido. (CNJ - RA – Recurso
Administrativo em PP - Pedido de Providências - Corregedoria
- 0007207-84.2017.2.00.0000 - Rel. JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA - 267ª Sessão Ordinária - julgado em 06/03/2018 ).

Em outro julgado, o Ministro Ricardo Lewandowski, também ponderou sobre o


exercício profissional dos tabeliães serem de direito público:

“A atividade desenvolvida pelos titulares das serventias de


notas e registros, embora seja análoga à atividade empresarial,
sujeita-se a um regime de direito público. Não ofende o
princípio da proporcionalidade lei que isenta os
‘reconhecidamente pobres’ do pagamento dos emolumentos
devidos pela expedição de registro civil de nascimento e de
óbito, bem como a primeira certidão respectiva. (ADI nº
1800)”

Validar tal possibilidade em lei, portanto, é ir de encontro com o disposto na


Constituição Federal, permitindo que as profissões percam sua estrutura e que a classe
leiloeira seja desrespeitada, em pró dos tabeliães, sem justo motivo, mesmo tendo os
leiloeiros públicos prestado serviços de excelência durante décadas, de forma
personalíssima, e sujeitos à rígida fiscalização das Juntas Comerciais.

 DA CONTRARIEDADE DO INTERESSE PÚBLICO

A profissão de leiloeiro obedece a rígida disciplina, impondo-se deveres


acessórios de manutenção e conservação de livros, sujeitos a exames pela Junta
Comercial, além de proibições, como as de exercer o comércio, constituir sociedade ou
encarregar-se de cobranças ou pagamentos comerciais. Além disso, tem de exercer
pessoalmente a profissão, não podendo delegá-la, salvo por moléstia ou impedimento
ocasional e ficam sujeitos a sanções pela Junta Comercial (arts. 11, 12, 17 e 36 do
Decreto 21.981/32).

A própria data do Decreto 21.981/32, que regula a profissão de leiloeiro oficial no


Brasil, já foi questionada, contudo, a lei é atual e foi recentemente atualizada com a
alteração de seu artigo 19, cuja redação atual é a seguinte:

“Art. 19. Compete aos leiloeiros, pessoal e privativamente, a


venda em hasta pública ou público pregão, dentro de suas
próprias casas ou fora delas, inclusive por meio da rede
mundial de computadores, de tudo que, por autorização de seus
donos por alvará judicial, forem encarregados, tais como
imóveis, móveis, mercadorias, utensílios, semoventes e mais
efeitos, e a de bens móveis e imóveis pertencentes às massas
falidas, liquidações judiciais, penhores de qualquer natureza,
inclusive de jóias e “warrants” de armazéns gerais, e o mais
que a lei mande, com fé de oficiais públicos.”

Não menos rigorosa é a lei, em relação aos registradores, que devem ostentar
conduta condigna, submete-se a concurso realizado pelo Poder Judiciário com
participação da Ordem dos Advogados do Brasil e do Ministério Público, sendo
incompatíveis suas atividades com emprego ou função pública e lhes são impostos
deveres de eficiência, com atendimento ao público e às requisições judiciais, bem como
manter em ordem os livros, papéis e documentos da serventia (arts. 14, 15, 25 e 30 da
lei 8935/94), tudo sob fiscalização do Poder Judiciário, que “zelará para que os
serviços notariais e de registro sejam prestados com rapidez, qualidade satisfatória e
de modo eficiente” (art. 38).

Diante dos rígidos deveres impostos, pelas respectivas leis de regência, ao


Leiloeiro Oficial e ao Registrador ou Notário, mostra-se contrário ao interesse público a
cumulação de ambas as atividades, pois o tempo de uma será subtraído à outra.

Aliás, a acumulação das funções de Leiloeiro e de Árbitro pelos Registradores ou


Notários é extremamente nociva tanto ao interesse público quanto a juridicidade dos
atos, eis que, na forma em que posta no texto, resultará em um tribunal privado não
sujeito a fiscalização ou revisão das suas decisões, o que se agrava com executoriedade
dada em virtude da permissão de atuação como leiloeiros.
Ou seja, aos oficiais de registros públicos será possível julgar (como árbitro) e já
realizar a execução da decisão com alienação de bens (como Leiloeiro) sem que haja
qualquer possibilidade de rediscussão da matéria ou controle pelo poder judiciário, o
que poderá a levar a verdadeiros conflitos de interesse em qualquer dos atos citados.

A situação somente se agrava com a impossibilidade de aplicação de proibições e


incompatibilidades da Leiloaria aos oficiais de registros públicos que exerçam a
atividade. Não custa ressaltar que aos leiloeiros é vedada a aquisição de bens aos quais
estejam alienando para si ou para familiares ou a obrigatoriedades fiscais específicas,
aos quais os notários e tabeliões não estarão sujeitos.

Não foram por outros motivos que o CBAr – Comitê Brasileiro de Arbitragem
apresentou manifestação contrária a tal inclusão de competência aos referidos oficiais.

Ante o exposto, não merece prosperar a inclusão de tal competência na forma


realizada, pelo que solicitamos à Vossa Excelência o encaminhamento de Emenda
Supressiva à emenda de nº 26 e/ou, sucessivamente, o apoio à emenda supressiva nº
8 (Senador Mecias de Jesus) junto ao Relator Senador Weverton.

 DO APOIO A ARBITRAGEM

Por fim, também gostaríamos de salientar o nosso apoio às manifestações


realizadas pelo Comite Brasileiro de Arbitragem – CBAr no que tange à
retirada/rejeição da emenda nº 28, ratificando todos os argumentos apresentados por
estes.

Renovamos os votos de elevada estima e distinta consideração.

Cidade/Estado, 28 de Junho de 2023.

Assinatura

You might also like