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Reflexões

sobre a vida
cristã:
A realidade paradoxal na
família de Elimeleque

Sergio Dario
Introdução

Há certas “tragédias” na vida que

são, a priori, incompreensíveis. Muitos cristãos


já se questionaram: Por que coisas ruins
acontecem com “pessoas boas”? Por que
pessoas com “boas intenções” se deparam
com situações trágicas? A história de
Elimeleque descrita no livro de Rute também
suscita questionamentos como estes.

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Contexto

Na época dos juízes, Elimeleque,


morador de Belém, vai com a família para
Moabe por causa da fome que assola a
região. Em Moabe, os filhos Quiliom e Malom
casam com moabitas (Orfã e Rute).
Surpreendentemente, Elimeleque e os dois
filhos morrem em Moabe, ficando viúvas a
esposa Noemi e as suas noras. Com o fim da
fome em Belém, Noemi volta com Rute, que
fez questão de acompanhá-la.

Na história do livro de Rute podem ser


observadas quatro circunstâncias paradoxais.

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Primeiro
paradoxo

A fome na casa do
pão
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Em época de caos
[época dos juízes]

A informação “nos dias em que os

juízes governavam” é significativa para


compreendermos o significado da história da
família de Elimeleque. Alguns intérpretes
sugerem, especificamente, o período de
Gideão, por causa da opressão dos midianitas
que destruíram as plantações em Israel. A era
dos juízes foi um período caracterizado por
crise político-sócio-religiosa em Israel e
marcado pela violência, apostasia, desordem
e guerras civis. Diante desse contexto sombrio,
como se não bastasse, surge a fome que
devasta a nação.
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Fome em Belém

Até Belém foi atingida pela fome.


O autor faz uso da ironia para fins
argumentativos, pois Belém significa “casa
de pão”. Era um local onde havia grande
abundância de cereais, vides, azeitonas,
enfim, alimentos essenciais para a
subsistência humana. Contudo, não havia
como sobreviver em Belém, e este foi o
primeiro aspecto da realidade paradoxal
que a família de Elimeleque teve que
enfrentar.

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Segundo
paradoxo

Esperança e segurança
em terra estrangeira
Moabe, o inimigo
histórico de Israel

A família belemita foi para Moabe

em busca de pão – também um fato irônico


na narrativa. Moabe estava localizada a leste
do Mar Morto. Os habitantes eram
descendentes do filho de Ló (sobrinho de
Abraão) com sua filha mais velha. Apesar da
relação parental com Israel e da aparente paz
entre os dois países na ocasião, não podemos
ignorar o fato de que Moabe era um inimigo
histórico dos israelitas. Desta forma, ir a Moabe
para sobreviver era humilhante para um
israelita. Refugiar em terra estrangeira é
desconfortável.
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Moabe, esperança e
refúgio

Nas circunstâncias em que se

encontrava Israel, Moabe tornou-se um


lugar de esperança e segurança para a
família belemita. A despeito dos desafios e
perigos que um estrangeiro normalmente
enfrentava, estes peregrinos entenderam
que o risco de permanecer em Belém era
maior do que peregrinar em terra estranha.
Logo, este foi o segundo aspecto da
realidade paradoxal vivenciada pela
família de Elimeleque.

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Terceiro
paradoxo

Morte no caminho
da sobrevivência
Morre Elimeleque
(Meu Deus é rei)

Num contexto em que não havia rei em


Israel e cada um fazia o que lhe parecia certo, o
nome de Elimeleque era uma declaração de que
ainda havia um Rei, e Iahweh é o seu nome. A fome
e a falta de esperança em Belém parecem
contradizer tal declaração e para intensificar a
realidade paradoxal, Elimeleque morre, e “Noemi e os
dois filhos foram deixados vivos”. A forma passiva
(nifal) do verbo “foram deixados” descreve a solidão
e o abandono. A mãe e filhos estão vivos, mas teriam
que enfrentar a dura realidade sem a presença do
patriarca. A esposa e filhos estão sozinhos e
desprotegidos em terra estranha. Onde está o “meu
Deus rei” agora? Era a pergunta que possivelmente
perturbava a família enlutada. 10
Morrem os herdeiros de
Elimeleque

Os filhos casam com mulheres

moabitas – Rute e Orfa e viveram ali por cerca


de mais de dez anos. O casamento aponta
para uma nova realidade e expectativa da
chegada de descendentes. Então, o texto
informa: “depois até esses dois filhos morrem”
sem deixar descendentes. No v.3, a
construção frasal coloca Noemi entre o
esposo e os filhos. Depois de perder o esposo,
agora ela perde os filhos.

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A “esperança” morre e a dor

aumenta. A forma direta, natural e “fria”


com que o autor relata a morte prematura
dos filhos de Elimeleque é intencional. O
autor pretende intensificar o tom irônico da
narrativa e ao mesmo tempo mostrar que a
situação da família belemita se agravava.

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Mulheres sozinhas e
desamparadas

Agora, “Noemi ficou destituída tanto


de seus filhos como de seu marido”. A família
que buscava amparo ficou desamparada. A
família que buscava refúgio estava
desprotegida. A família que lutava para
sobreviver encontrou com a morte. Assim, o
preço de ficar em Moabe tornou-se muito alto
para Noemi. Hubbard resume muito bem a
realidade paradoxal desta família:
“Ironicamente, Moabe, o provedor de
“semente”(i.e., comida) para sobrevivência,
quando Belém estava infecunda, prova ser a
cena de infecundidade humana.
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Morre a esperança
de um herdeiro

Sem nenhuma “semente”

(descendente) para levar em frente a linhagem


familiar, a família de Elimeleque paira
precariamente à beira da extinção. E em Israel
não havia tragédia maior do que uma família
deixar de existir”. O Talmude defende que as
perdas sofridas pela família belemita eram
consequências do juízo de Deus por ter deixado
Belém. Alguns intérpretes entendem que
Elimeleque saiu de Belém contra a vontade de
Deus. Não podemos ser conclusivos quanto a
este aspecto. Esta história paradoxal deseja
ensinar algo que vai além de consequências da
desobediência, uma vez que isto não é o foco
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da narrativa.
Quarto
paradoxo

Uma luz na escuridão


A conversão da
moabita

Não sabemos em que momento da


história Rute se converte ao Deus de Israel, mas
é notável a sua conversão. A mudança não era
apenas geográfica, não era apenas cultural.
Não se tratava simplesmente de mudança de
país e endereço. Ela não estava simplesmente
abraçando uma nova cultura. Ela renunciou os
deuses moabitas e se rendeu a Iahweh, o Deus
de Israel. Uma mudança de mente, uma
mudança de vida. Uma fé surpreendente: uma
moabita abandona seus deuses e se rende ao
Senhor, enquanto Israel havia abandonado
Iahweh e seguido a outros deuses.

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A convicção da fé

A fé da moabita pode ser atestada

pela convicção que ela demonstra. Ela disse:


“Não insista comigo para ficar”, “eu quero ir”,
“quero fazer parte de seu povo e quero servir o
seu Deus”. É notável o contraste entre Rute e
Orfa. Orfa não tinha a mesma convicção, pois
desistiu. Rute teve uma postura firme e
convicta, apesar da insistência e argumentos
de Noemi. A fé desta moabita não estava
condicionada a segurança que Noemi
poderia oferecer, mas em Deus. A decisão de
Orfa era circunstancial e emocional,
fundamentada em Noemi, que nada poderia
oferecer. 17
Uma fé em tempos
de apostasia

A fé genuína da moabita Rute

surpreende o leitor, pois Deus encontra fé


em terra estrangeira, enquanto que em
Israel predominava a apostasia e a
indiferença religiosa. Tudo isso mostra que a
sua declaração de fé não foi um mero ato
impulsionado pela emoção.

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Uma fé prática

A fé da moabita Rute não era morta.


Uma fé surpreendente acompanhada de uma
conduta admirável, marcada pela
simplicidade, responsabilidade, altruísmo,
disposição e coragem. A conduta exemplar e
admirável de Rute é reflexo de sua fé em
Deus. Rute foi corajosa, pois enfrentou os riscos.
Noemi, em 2.22, mostra preocupação com a
integridade física de Rute. “Saia com as servas
de Boaz para que não sejas molestada”.

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Uma fé que reflete na
relação interpessoal

Rute não pensou apenas em si. Ela

não desfrutou sozinha do resultado de seu


trabalho, mas compartilhou com Noemi.
Trabalhou por ela e por Noemi, uma vez que a
sogra não tinha as condições físicas
necessárias para fazer tal trabalho. Seria muito
mais difícil para Noemi.

A verdadeira fé é evidenciada na
conduta cotidiana, e na expressão de
bondade para com o próximo. Precisa haver
coerência entre fé e atitudes; fé e caráter; fé e
comportamento. O cristianismo não é um
mero sistema de doutrinas, cristianismo é vida
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de Cristo em nós.
E uma luz brilhou...

Rute, a pedido de Noemi, se

aproxima de Boaz, o qual aceita ser o


resgatador (Goel) da família de Elimeleque e
tem como filho Obede, avô de Davi.

O evangelho de Mateus faz questão


de mencionar Rute na genealogia de Jesus, o
qual é o supremo Goel e a verdadeira Luz
que resplandeceu nas trevas trazendo
esperança para o perdido. Certamente, o
livro de Rute é uma das histórias mais
marcantes do Antigo Testamento, pois estruge
uma mensagem de fé, graça, amor leal,
esperança e redenção.
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Considerações
aplicativas
Certamente, a história de Elimeleque
suscita várias perguntas: Onde estava
Deus? Por que Deus permitiu tamanho
sofrimento? Quais eram os planos de Deus
em tudo isto? Quais as razões para tantas
“contradições” na vida desta família que só
queria sobreviver? Dessa forma, a realidade
paradoxal vivenciada pela família de
Elimeleque nos ensina lições valiosas para a
nossa caminhada cristã.

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Primeiro, o sofrimento é uma

realidade que também afeta o povo de


Deus.

Segundo, é difícil compreender os

planos de Deus quando estamos no meio


da crise, pois nada parece ter sentido.

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Terceiro, quando as nossas

faculdades mentais e o nosso limitado


conhecimento de Deus tornam-se
insuficientes para compreender as
aparentes contradições da vida, devemos
manter a nossa fé em Deus e nosso olhar
na história, pois certamente, Ele vai nos
surpreender. Não devemos nos desesperar.

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Quarto, mesmo quando não

perceber sinal da ação divina, lembre que


o Rei Iahweh está em atividade e no
momento certo manifestará poderosa e
soberanamente para conduzir as
circunstâncias adversas para um fim
proveitoso.

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Conclusão

Enfim, Elimeleque morreu e

Nietzsche também, mas o Rei Iahweh, nosso

Goel, está vivo e atuante na história. Deus

não perde o controle do mundo e nem da

nossa vida. Confie em Deus.

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Autor

Pastor da Igreja Presbiteriana Renovada e


Professor do Seminário Presbiteriano
Renovado Brasil Central (SPRBC).
Graduado em Letras pela FAA, Bacharel
em Teologia pelo SPRBC e FACETEN,
Especialista em Neuropedagogia pela FTP,
em Docência do Ensino Superior pela
FACETEN, em Literatura e Cultura pela FAEL,
Mestre em Teologia Exegética pelo Centro
Presbiteriano de Pós-graduação Andrew
Jumper (CPAJ-Mackenzie) e Doutor em
Ministério pelo Reformed Theological
Seminary em parceria com o CPAJ.

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