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Ouse para Geral - Resumos Direito de Direito Penal
Ouse para Geral - Resumos Direito de Direito Penal
PRA
GERAL
RESUMOS DE DIREITO PENAL
C É Z AR ROB E RTO B I T TEN COURT e ROGÉR IO GR E CO
M ate r i a l d i sp o n i b i l i z a d o n o cu rs o :
SUBJETIVA MP-PB
CÉZAR ROBERTO BITTENCOURT – TRATADO DE DIREITO PENAL
Caros alunos, o presente resumo não tem o objetivo, obviamente, de esgotar todo o
conteúdo da obra do autor Cezar Roberto Bitencourt, mas sim trazer os principais pontos que
por ele são trabalhados com uma abordagem diferente da que costumamos estudar.
1. TEORIAS DA AÇÃO:
Para Von Liszt, ação consiste numa modificação causal do mundo exterior, percep-
tível pelos sentidos, e produzida por uma manifestação de vontade, isto é, por uma ação ou
omissão voluntária. Ação, portanto, é o movimento corporal voluntário que causa modificação
no mundo exterior. A manifestação de vontade, o resultado e a relação de causalidade são os 3
elementos do conceito de ação. Abstrai-se, no entanto, desse conceito, o conteúdo da vontade,
que é deslocado para a culpabilidade. É irrelevante saber se os efeitos dessa ação são também
conteúdo da consciência e do querer do agente, e até que ponto o são; isso somente seria ana-
lisado na culpabilidade.
Esta teoria, entretanto, foi posteriormente criticada por não se aplicar à omissão,
pois falta nesta a não realização de um movimento corporal e o resultado. Também houveram
críticas por não se adequar aos crimes culposos, na medida em que, nestes, o fator decisivo é o
desvalor da ação (e para a teoria causal-naturalista, a consciência e o querer do agente só são
analisados na culpabilidade).
Já para Welzel, ação humana é um acontecer final e não puramente causal. A finali-
dade da ação baseia-se em que o homem, graças a seu saber, pode prever, dentro de certos li-
mites, as consequências da sua ação. A atividade final é uma atividade dirigida conscientemen-
te em função de um fim, enquanto o acontecer causal não está dirigido em função do fim, mas
é a resultante causal da constelação de causas existentes em cada caso. A finalidade, portanto,
é vidente, enquanto a causalidade é cega.
A crítica mais contundente sofrida pela teoria finalista refere-se aos crimes culposos,
cujo resultado se produz de forma puramente causal, não sendo abrangido pela vontade do
autor. Essas críticas levaram Welzel a reelaborar sua concepção de culpa através do conceito de
finalidade potencial, segundo o qual haveria, nos crimes culposos, uma causação que seria evi-
tável mediante uma atividade finalística. No entanto, as críticas obrigaram Welzel a abandonar
o critério da finalidade potencial e reestruturar sua concepção, admitindo a existência de uma
ação finalista real nos crimes culposos, cujos fins são, geralmente, irrelevantes para o direito
penal. Portanto, nos crimes culposos, na verdade, decisivos são os meios utilizados ou a forma
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de sua utilização, ainda que a finalidade pretendida seja em si mesma irrelevante para o Direito
Penal. Em razão disso, Welzel passou a afirmar que “o conteúdo decisivo do injusto nos delitos
culposos consiste, por isso, na divergência entre a ação realmente empreendida e a que deveria
ter sido realizada em virtude do cuidado necessário”.
Para Eb. Schmidt, o conceito final de ação determina o sentido da ação de forma ex-
tremamente unilateral em função da vontade individual, quando deveria fazê-lo de uma forma
objetiva do ponto de vista social.
A teoria social da ação surgiu como uma via intermediária, por considerar que a dire-
ção da ação não se esgota na causalidade (teoria causal) e na determinação individual (teoria
finalista), devendo ser questionada a direção da ação de forma objetivamente genérica. Esta
teoria, portanto, considera a conduta sob o aspecto causal e finalístico, mas acrescenta o as-
pecto social. Concebe-se a conduta como um comportamento humano socialmente relevante.
A preocupação é a significação social da conduta humana do ponto de vista da sociedade.
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nificados e comportam interpretações – e fatos – que não têm sentido e
comportam tão somente descrições. (...) Ou seja, o reconhecimento da
ação deriva da expressão de sentido que uma ação possui. A expressão
de sentido, contudo, não deriva das intenções que os sujeitos que atuam
pretendam expressar, mas do ‘significado que socialmente se atribua ao
que fazem’. Assim, não é o fim mas o significado que determina a classe
de ações, logo, não é algo em termos ontológicos, mas normativos.
Cézar Roberto Bitencourt é um dos poucos autores que tratam dessa teoria. Segun-
do ele, para os defensores da teoria da ação significativa, a ação deve ser entendida de forma
diferente, não como o que as pessoas fazem, mas como o significado do que fazem. Todas as
ações têm um sentido e, por isso, não basta descrevê-las, é necessário entende-las, ou seja,
interpretá-las. Não existe um conceito universal e ontológico de ação. Não há um modelo ma-
temático, nem uma fórmula lógica. As ações não existem antes das regras que as definem (ou
seja: por exemplo, fala-se da ação de furtar porque existe antes uma norma que define essa
ação). A concepção significativa de ação sustenta que os fatos humanos somente podem ser
compreendidos por meio das normas, ou seja, o seu significado existe somente em virtude das
normas, e não é prévio a elas.
b) Movimentos reflexos: são atos que não dependem da vontade. Aqui, há que se
diferenciar os atos em curto-circuito e as reações explosivas dos movimentos reflexos, pois na-
queles existe vontade, ainda que de maneira fugaz, sendo, portanto, suscetíveis à dominação
finalística. Nos atos em curto-circuito e nas reações explosivas, a velocidade com que surge o
elemento volitivo é tão grande que, por vezes, se torna impossível controlá-lo. Mas esse aspecto
poderia ser examinado na culpabilidade, particularmente na imputabilidade como uma espé-
cie de transtorno mental transitório;
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3. A OMISSÃO E SUAS FORMAS:
Já nos crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão, o agente não tem
simplesmente a obrigação de agir, mas a obrigação de agir para evitar um resultado. Nesses cri-
mes, existe uma norma chamada norma de dever de segundo grau, dirigida a um grupo restrito
de sujeitos, que impõe um dever de agir para impedir que processos estranhos a ele venham a
ocasionar um resultado lesivo. Essa norma, mandamental, é dirigida a um grupo restrito, en-
quanto a norma proibitiva dirige-se a todos aqueles que podem ser sujeitos ativos de crime.
Enfim, a norma de mandado de segundo grau dirige-se apenas àquelas pessoas que têm uma
especial relação de proteção com o bem juridicamente tutelado.
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A teoria naturalística sustenta ser a omissão um fenômeno causal que pode ser cons-
tatado no mundo fático, pois, em vez de ser considerada uma inatividade, caracteriza-se como
verdadeira espécie de ação. Portanto, quem se omite efetivamente faz alguma coisa. Já para a
teoria normativa, a omissão é um indiferente penal, pois o nada não produz efeitos jurídicos.
O omitente não responde pelo resultado, pois não o provocou. Essa teoria, contudo, aceita a
responsabilização do omitente pela produção do resultado, desde que seja a ele atribuído, por
uma norma, o dever jurídico de agir. A omissão é, assim, não fazer o que a lei determinava que
fizesse. Foi a teoria acolhida pelo Código Penal. A relação causal exigida para a configuração dos
crimes omissivos, próprios ou impróprios, é de natureza normativa.
O art. 13 do CP adota a teoria da equivalência das condições ou conditio sine qua non,
segundo a qual causa é a soma de todas as condições. A crítica a esta teoria é que ela leva ao
regresso até o infinito; mas, para evitar isto, utilizam-se outros critérios:
Jakobs, por sua vez, opta por uma via metodológica diferente da de Roxin, para de-
terminar os critérios de imputação objetiva.
Bitencourt, por sua vez, diz estar de acordo com Roxin, Jakobs e outros no sentido
de que a teoria da imputação objetiva encerra um duplo juízo de imputação: um juízo ex ante
sobre a relevância típica da conduta, e um juízo ex post sobre a possibilidade de atribuição do
resultado típico àquela conduta.
Nos crimes de mera atividade (como falso testemunho, ameaça, injúria) a imputação
do tipo objetivo esgota-se no primeiro juízo de imputação: ou seja, basta que se constate que o
risco proibido criado pelo comportamento do sujeito apresente idoneidade para ofender o bem
jurídico protegido.
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E quais seriam os critérios que, em linhas gerais, conformam o primeiro e o segun-
do juízo de imputação? Para Bitencourt, o primeiro juízo de imputação (relevância típica da
conduta), está diretamente vinculado à valoração da criação de um risco proibido. Ele diz que
é necessário realizar um juízo de valor acerca da perigosidade (sic) da conduta, nos termos da
teoria da adequação social (ou seja: se o risco criado pela conduta é previsível ex ante para o
sujeito que o realiza). Após, analisa-se se o risco ex ante adequado à produção do resultado é
um risco permitido ou proibido. Mas pode ser que ainda assim, a conduta não seja relevante
para o direito penal, quando, por exemplo: a conduta realizada representa uma diminuição de
risco de lesão do bem jurídico.
O tipo subjetivo é constituído de um elemento geral (dolo), que, por vezes, é acompa-
nhado de elementos especiais (intenções e tendências), que são elementos acidentais, conhe-
cidos como elementos subjetivos especiais do injusto ou do tipo penal. O especial fim de agir
constitui o elemento subjetivo especial do tipo (antigamente, era denominado dolo específico).
Quando se trata do fim diretamente desejado pelo agente, denomina-se dolo direi-
to de primeiro grau, e quando o resultado é desejado como consequência necessária do meio
escolhido ou da natureza do fim proposto, denomina-se dolo direito de segundo grau, ou dolo
de consequências necessárias. Bitencourt diz que a simples presença, em uma mesma ação, de
dolo direto de primeiro grau concomitantemente com dolo direito de segundo grau não confi-
gura, por si só, concurso formal impróprio de crimes, pois a duplicidade dos referidos graus no
dolo direito não altera a unidade de elemento subjetivo. Essa distinção de graus do elemen-
to subjetivo reflete a intensidade do dolo e não sua diversidade (ou pluralidade), pois os dois
eventos são apenas um perante a consciência e a vontade do agente, não caracterizando, por
conseguinte, o conhecido “desígnios autônomos”.
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Sobre dolo eventual e culpa consciente, destaco o seguinte acerca dos ensinamentos
feitos por Bitencourt: na dúvida entre dolo eventual e culpa consciente deve-se, necessaria-
mente, optar pela menos grave, que é a culpa consciente.
5.1. Classificação mais comum das diversas formas de elementos subjetivos especiais do
tipo:
a) Delitos de intenção:
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c) Momentos especiais de ânimo:
Bitencourt explica: nunca se conseguirá matar alguém sem ofender sua saúde ou in-
tegridade corporal (lesão corporal seguida de morte: crime preterdoloso, pois o bem jurídico
lesado a título de dolo e de culpa foi o mesmo), enquanto para matar alguém não se terá neces-
sariamente de fazê-lo abortar (aborto com ou sem consentimento da gestante: crime qualifica-
do pelo resultado, pois os bens jurídicos são distintos).
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b) Possibilidade de admitir a existências de causas supralegais de justificação, a
exemplo do consentimento do ofendido (pois, com o consentimento do ofendido, não haverá
ofensa ao interesse jurídico protegido, o que significa dizer que não haverá antijuridicidade ma-
terial).
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b) Teoria da motivabilidade pelas normas:
Segundo essa teoria, o partícipe é punido pela gravidade da influência que exerce
sobre o autor, convertendo-o em delinquente, ou no mínimo, contribuindo para tanto. Para
essa teoria, o partícipe age corrompendo o autor, conduzindo-o a um conflito com a sociedade,
tornando-o culpável e merecedor de pena. Dois aspectos fundamentais afastam essa teoria: em
primeiro lugar, porque a culpabilidade é uma questão pessoal de cada participante, independe
da dos demais; o fato de qualquer dos participantes ser inculpável é algo que só diz respeito a
ele; em segundo lugar, a consagração da acessoriedade limitada, que se satisfaz com a tipicida-
de e antijuridicidade da ação, torna desnecessário o exame da importância da participação na
culpabilidade do autor;
Para essa teoria, o fundamento da punição do partícipe reside no fato de ter favoreci-
do ou induzido o autor a praticar um fato socialmente intolerável, típico e antijurídico. O agente
é punido não porque colaborou na ação de outrem, mas porque, com a sua ação ou omissão,
contribuiu para que o crime fosse cometido. Para essa teoria, a vontade do partícipe deve diri-
gir-se à execução do fato principal. Esta teoria acolhe integralmente a “acessoriedade limitada”
da participação, que também é a teoria predominante no Brasil.
- E, por fim:
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Delito de alucinação é aquele que só existe na mente do agente, que supõe de forma
equivocada que está praticando uma conduta típica, quando na verdade seu agir não é crimi-
noso.
https://www.youtube.com/watch?v=cuuWD6xzQMM
https://www.youtube.com/watch?v=4-a9W7eBpI8
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ROGÉRIO GRECO - CURSO DE DIREITO PENAL
1. NOTAS PRELIMINARES:
A proteção desses bens que, dada a sua relevância, representam os valores mais im-
portantes para a manutenção da sociedade, depende da incapacidade dos outros ramos do
Direito de conferirem proteção a eles.
A utilização de um critério “político” para fins de escolha dos bens a serem prote-
gidos se conecta ao fato de que, de tempos em tempos, o objeto da proteção do Direito Penal
sofre modificação, podendo, portanto, um bem outrora alcançado pela tutela penal, não mais
gozar da referida proteção.
Um segundo efeito gerado pela constituição sobre o momento de escolha dos bens
jurídicos a serem tutelados pelo Direito Penal, é o de obstaculizar atuação contrária do legisla-
dor com relação aos princípios consagrados na Carta Magna.
Note, portanto, que a Constituição possui um duplo efeito sobre a seleção dos bens
jurídicos penais: primeiro, o de nortear o legislador na escolha e consagração dos referidos
bens; segundo, o de impedir que o mesmo legislador, em sua atuação, disponha em contrarie-
dade ao que está disposto em seu texto.
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A lei disporá sobre as situações em que, embora caiba ao Estado o dever de punir,
caberá a faculdade à suposta vítima ingressar em juízo com uma queixa-crime, permitindo-lhe,
com isso, dar início a uma relação processual penal. Neste caso, mesmo que o querelado venha
a ser condenado, não há uma transferência do jus puniendi, que caberá exclusivamente ao Es-
tado. Ao particular, portanto, só cabe o chamado ius persequendi ou o ius accusationis, ou seja,
o direito de vir a juízo e pleitear a condenação de seu suposto agressor, mas não o de executar,
ele mesmo, a sentença condenatória.
Cabe ressaltar que o ius puniendi não diz respeito somente à competência para exe-
cutar a pena efeito da condenação, uma vez que a própria criação do tipo penal também está
englobada neste conceito.
Relevante também é a distinção entre o jus puniendi entre positivo e negativo. Aquele
compreende o conceito mais comum – explicado no parágrafo retro – compreendendo, pois, a
execução da condenação penal e própria criação da infração pelo Estado. Será negativo, por
outro lado, quando disser respeito à possibilidade de derrogar preceitos penais ou de restringir
os efeitos das figuras delitivas.
De mais simples notas, o direito penal objetivo diz respeito, em linhas gerais, ao con-
junto de normas de natureza penal, que definem as infrações, bem como excluem o crime, isen-
tam de pena e explicam determinados tipos penais.
Segundo o autor, o Direito Penal Moderno segue uma linha que deixa de lado, em
algumas situações, garantias penais e processuais, sob um – falso – argumento que invoca a
defesa da sociedade para tanto. É a consagração de um direito penal máximo.
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Neste modelo, Greco aponta dezesseis características que, de um modo geral, tra-
çam o perfil do Direito Penal Moderno. São elas:
• Delitos econômicos;
• Crime organizado;
• Lavagem de dinheiro;
• Terrorismo;
• Crimes cibernéticos;
• Drogas;
2. DA NORMA PENAL:
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Assim, operando na distinção entre lei e norma penal, Biding entendia que, ao reali-
zar a conduta, o infrator não agia em desconformidade com lei – pois fazia exatamente o eu ela
descrevia – mas infringia a norma penal inserida na lei.
Para Biding, portanto, a lei teria caráter descritivo da conduta proibida ou imposta,
tendo a norma, por sua vez, caráter proibitivo ou mandamental.
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são aquelas cuja norma complementar é do mesmo ramo do direito que a principal, ou seja, a
lei penal será complementada por outra lei penal.
Para Rogério Greco, sim. Segundo o autor, conteúdo da norma penal poderá ser mo-
dificado sem que haja uma discussão amadurecida da sociedade a seu respeito, como acontece
quando os projetos de lei são submetidos à apreciação de ambas as Casas do Congresso Na-
cional, sendo levada em consideração a vontade do povo, representado pelos seus deputados,
bem como a dos Estados, representados pelos seus senadores, além do necessário controle
pelo Poder Executivo, que exercita o sistema de freios e contrapesos.
Vale ressaltar, no entanto, que tem prevalecido posição doutrinária que entende não
haver ofensa ao princípio da legalidade quando a norma penal em branco prevê aquilo que se
denomina núcleo essencial da conduta.
3. CONDUTA:
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3.1. Conceito de ação – causal, final e social:
As críticas que repousaram sobre a escola clássica pelo fato de a teoria causalista por
ela proposta, puramente natural, não solucionava o problema da omissão. Em um segundo
momento, a concepção causalista abandona a criticada absoluta naturalidade do sistema cau-
sal-naturalista, assumindo na teoria neoclássica uma vertente que permitisse a compreensão
tanto da ação em sentido estrito (positiva) como a omissão. Assim, para esta teoria, a ação se
define como o comportamento humano voluntário manifestado no mundo exterior.
No finalismo de Witzel, ação passou a ser concebida como o exercício de uma ativida-
de final. Assim, segundo esta concepção, a conduta do agente deveria ser ainda voluntária, mas
dirigida a uma finalidade. Não bastaria, pois, a vontade do agente na conduta, mas também que
esta fosse dirigida a uma finalidade qualquer. O homem, quando atua, seja fazendo ou deixan-
do de fazer alguma coisa a que estava obrigado, dirige a sua conduta sempre à determinada fi-
nalidade, que pode ser ilícita (quando atua com dolo, por exemplo, querendo praticar qualquer
conduta proibida pela lei penal) ou lícita (quando não quer cometer delito algum, mas que, por
negligência, imprudência ou imperícia, causa um resultado lesivo, previsto pela lei penal).
A conduta do agente poderá ser dolosa ou culposa. No primeiro caso, agente atua
com dolo, quando quer diretamente o resultado ou assume o risco de produzi-lo. Agirá com cul-
pa, por outro lado, quando dá causa ao resultado em virtude de sua imprudência, imperícia ou
negligência. A punição da conduta culposa dependerá de previsão expressa na lei. Via de regra,
somente a conduta dolosa, portanto, é punível do direito penal brasileiro.
A conduta do agente poderá ser comissiva ou omissiva, dando causa aos delitos com
a mesma classificação. Assim, nos crimes comissivos, o agente direciona sua conduta a uma
finalidade ilícita. Nos crimes omissivos, ao contrário, há uma abstenção de uma atividade que
era imposta pela lei ao agente, como no crime de omissão de socorro, previsto no art.135 do
Código Penal.
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Os crimes omissivos, por sua vez, podem ainda ser divididos em próprios e impró-
prios. Próprios serão aqueles em eu a conduta se contrapõe a um mandamento de abstenção
previsto na lei, ou seja, a norma cuida da conduta e proíbe determinada ação do agente, que a
descumpre. Por outro lado, os crimes omissivos impróprios decorrerem da infração da lei, na
qual não há uma proibição de conduta, mas sim uma ação a ser efetuada, da qual se abstém
de praticar o agente. Neste caso, é preciso que o agente se encontre na posição de garante ou
garantidor, isto é, tenha ele a obrigação legal de cuidado, proteção ou vigilância; de outra for-
ma, assuma a responsabilidade de impedir o resultado; ou, com o seu comportamento anterior,
tenha criado o risco da ocorrência do resultado.
A ação regida pela vontade é sempre uma ação final, isto é, dirigida à consecução de
um fim. Se não houver vontade dirigida a uma finalidade qualquer, não se pode falar em condu-
ta. Preleciona Zaffaroni: “A vontade implica sempre uma finalidade, porque não se concebe que
haja vontade de nada ou vontade para nada; sempre a vontade é vontade de algo, quer dizer,
sempre a vontade tem um conteúdo, que é uma finalidade. ”
Em linhas simples, se o agente age sem dolo e sem culpa, não há que se falar em
ação. Tal situação restará configurada quando presentes as seguintes circunstâncias:
b) Movimentos reflexos: É o caso, por exemplo, daquele que, ao colocar o fio de seu
aparelho de som em uma tomada recebe uma pequena descarga elétrica e, num efeito reflexo,
ao movimentar seu corpo, atinge outra pessoa, causando-lhe lesões. Para que não haja con-
duta, no entanto, é necessário que o movimento reflexo não fosse previsível, caso em que os
resultados advindos desse movimento reflexo deverão ser imputados ao agente, geralmente, a
título de culpa, haja vista ter deixado de observar o seu necessário dever objetivo de cuidado;
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3.5. Fases de realização da ação:
Ação do agente até chegar à sua finalidade perpassa por duas fases: uma interna e
outra externa.
A fase interna ocorreria no campo do pensamento, sendo composta por três elemen-
tos, quais sejam:
Para que o agente possa ser punido pelo Estado é preciso que, além de querer
cometer a infração penal, exteriorize sua vontade, praticando atos de execução tendentes a
consumá-la. Caso contrário, se permanecer tão somente na fase da cogitação ou na de prepa-
ração, sua conduta não terá interesse para o Direito Penal, ressalvadas as exceções previstas
expressamente na lei.
4. TIPO DOLOSO:
4.1. Dolo:
O dolo é composto pelo binômio vontade e consciência que devem estar dirigidos a
conduta prevista no tipo penal. Conforme preleciona Welzel, “toda ação consciente é conduzi-
da pela decisão da ação, quer dizer, pela consciência do que se quer – o momento intelectual
– e pela decisão a respeito de querer realizá-lo – o momento volitivo. ”
A consciência demanda conhecimento por parte do agente, daquilo que ele faz, para
lhe se possa atribuir o resultado lesivo a título de dolo. Assim, se alguém, durante uma caçada,
confunde um homem com um animal e atira nele, matando-o, não atua com o dolo do crime
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previsto no art. 121 do Código Penal, uma vez que não tinha consciência de que atirava contra
um ser humano, mas sim contra um animal. Não havendo essa consciência, não se pode falar
em dolo. A consciência, para fins de caracterização do dolo, dispensa, no entanto, o conheci-
mento do tipo penal ao qual se amolda a sua conduta.
Outro elemento do dolo é a vontade, que deverá dirigir a conduta ensejadora da in-
fração. Não restará configurado o elemento volitivo, no entanto, quando a conduta do agente é
realizada mediante coação física. Para fins de caracterização da vontade também não bastará
que esteja presente um mero desejo. Conforme assevera Patricia Laurenzo Copello: (...) [o de-
sejo] não passaria de uma atitude emotiva carente de toda eficácia na configuração do mundo
exterior. A vontade, ao contrário, constituiria o motor de uma atividade humana capaz de domi-
nar os cursos causais (...). ”
a) Teoria da Vontade: Para esta teoria, o dolo seria tão somente a vontade livre e
consciente de querer praticar a infração penal, isto é, de querer levar a efeito a conduta prevista
no tipo penal incriminador;
c) Teoria da Representação: Aqui se pode falar em dolo toda vez que o agente tiver
tão somente a previsão do resultado como possível e, ainda assim, decidir pela continuidade de
sua conduta. Para os adeptos dessa teoria, não se deve perquirir se o agente havia assumido o
risco de produzir o resultado, ou se, mesmo o prevendo como possível, acreditava sinceramen-
te na sua não ocorrência. Para a teoria da representação, não há distinção entre dolo eventual
e culpa consciente, pois a antevisão do resultado leva à responsabilização do agente a título de
dolo;
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4.3. Dolo normativo (dolos malus):
Para os adeptos da teoria causal, mais especificamente para os causalistas que ado-
tam a chamada teoria neoclássica ou psicológico-normativa, a culpabilidade é integrada pelos
seguintes elementos: imputabilidade, dolo/culpa e exigibilidade de conduta diversa. No dolo
haveria um elemento de natureza normativa, qual seja, a consciência sobre a ilicitude do fato.
Dependendo da teoria que se adote, essa consciência deverá ser real (teoria extremada do dolo)
ou potencial (teoria limitada do dolo).
Para efeito de raciocínio, estaríamos diante de uma hipótese, por exemplo, em que
o agente tivesse produzido um resultado sem que, para tanto, houvesse qualquer conduta pe-
nalmente relevante, em face da inexistência de dolo ou culpa ou, mesmo, diante de um fato
inicialmente culposo, sendo que, após verificar a ocorrência desse resultado, o agente teria se
alegrado ou mesmo aceitado a sua produção.
Ocorre que a satisfação a posteriore não basta para a configuração do dolo, pois não
há como ter vontade sobre o já ocorrido. Assim, a “mera aprovação retroativa de um resultado
já produzido nunca constitui dolo.”
De acordo com o art. 18, II, do código penal, diz-se culposo o crime quando o agen-
te deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. Mirabete, encorpando o
conceito, conceitua o crime culposo como “a conduta humana voluntária (ação ou omissão)
que produz resultado antijurídico não querido, mas previsível, e excepcionalmente previsto,
que podia, com a devida atenção, ser evitado. ”
Assim, nota-se que, para a caracterização do crime como sendo culposo, far-se-á ne-
cessária a conjugação de alguns elementos, quais sejam:
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propõe. A prova ou comprovação da lesão ao dever de cuidado se faz
negativamente: se a ação realizada pelo agente era adequada ao obje-
tivamente exigido, era cuidadosa e, por isso, não haverá tipicidade. Em
caso contrário, verifica-se a lesão ao dever de cuidado, porque, na con-
dução da atividade, foram omitidas as exigências protetivas impostas
pela norma.
c) Resultado lesivo não querido, tampouco assumido, pelo agente: Embora a con-
duta do agente tenha natureza culposa – não intencional – para fins de caracterização do crime
como culposo, exigir-se-á a produção de um resultado lesivo. De outro modo, se a conduta do
agente desrespeitou o dever objetivo de cuidado, mas não produziu resultado lesivo, não há
que se falar em crime culposo. Podemos, no entanto, verificar algumas exceções à exigência do
resultado naturalístico, para efeitos de caracterização do crime culposo, nos arts. 228 e 229 do
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), que preveem crimes de mera conduta,
como também o art. 38 da Lei nº 11.343/2006;
d) Nexo de causalidade entre a conduta do agente que deixa de observar o seu dever
de cuidado e o resultado lesivo dela advindo: Deverá existir um nexo causal que ligue a conduta
do agente ao resultado;
e) Previsibilidade: No crime culposo, o agente não prevê aquilo que lhe era previ-
sível. Além da conduta, da sua inobservância a um dever objetivo de cuidado, adicionados à
ocorrência de um resultado naturalístico e do necessário nexo de causalidade, é preciso, tam-
bém, portanto, que o fato seja previsível para o agente. A doutrina faz distinção, ainda, entre
a previsibilidade objetiva e a previsibilidade subjetiva. Previsibilidade objetiva seria aquela,
conceituada por Hungria, em que o agente, no caso concreto, deve ser substituído pelo cha-
mado “homem médio, de prudência normal.” Na previsibilidade subjetiva, o que é levado em
consideração são as condições particulares, pessoais do agente, quer dizer, consideram-se, na
previsibilidade subjetiva, as limitações e as experiências daquela pessoa cuja previsibilidade
está se aferindo em um caso concreto;
f) Tipicidade: Não há crime culposo sem previsão expressa na lei. Merece ser ressal-
tado, ainda, o fato de que a tipicidade material deverá ser analisada também nos delitos culpo-
sos, confrontando-se o dano causado pela conduta do agente com o resultado dela advindo, a
fim de se concluir pela proteção ou não daquele bem, naquele caso concreto, especificamente.
Assim, são perfeitamente aplicáveis aos delitos culposos os conceitos do princípio da insignifi-
cância.
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5. TIPO CULPOSO:
Embora nas duas situações haja a previsão por parte do agente da possibilidade de
ocorrência do resultado, a culpa consciente e o dolo eventual diferem entre si, uma vez que na-
quela o agente confia que não produzirá o resultado. Enquanto que, no dolo eventual, o agente
não queira diretamente o resultado, assume o risco de vir a produzi-lo. Na culpa consciente,
o agente, sinceramente, acredita que pode evitar o resultado; no dolo eventual, o agente não
quer diretamente produzir o resultado, mas, se este vier a acontecer, pouco importa.
5.1.2. Dolo eventual ou culpa consciente nos delitos praticados na direção de veículos auto-
motores:
A caracterização do dolo eventual, no entanto, não pode ser tirada de uma fórmula
automática. Como se viu, reside no fato de o agente não se importar com a ocorrência do resul-
tado por ele antecipado mentalmente, ao contrário da culpa consciente, em que esse mesmo
agente, tendo a previsão do que poderia acontecer, acredita, sinceramente, que o resultado
lesivo não viria a ocorrer. Assim, ainda que exista a combinação entre embriaguez e excesso
de velocidade, não se pode a priori concluir que o agente anuiu com o resultado efetivamente
produzido.
Merece ser frisado, ainda, que o Código Penal, como analisado, não adotou a teoria
da representação, mas sim, as teorias da vontade e do assentimento. Exige -se, portanto, para
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a caracterização do dolo eventual, que o agente anteveja como possível o resultado e o aceite,
não se importando realmente com sua ocorrência.
Assim, o que seria para ser um homicídio culposo qualificado, em virtude do maior
grau de reprovação do comportamento praticado pelo agente, nas situações previstas pelo § 2º,
somente teve o condão de ratificar as hipóteses como sendo as de um crime culposo, com as
mesmas penas para ele anteriormente previstas, afastando-se, consequentemente, o raciocínio
correspondente ao delito de homicídio com dolo eventual.
Além disso, aqueles que, nas mesmas circunstâncias, foram condenados, antes do
novo dispositivo legal, e que, por isso, tiveram suas condutas classificadas como sendo de ho-
micídio praticado com dolo eventual, terão direito à revisão criminal, adaptando suas condena-
ções às disposições contidas no mencionado § 2º.
O legislador previu ainda duas modalidades qualificadas para o referido art. 308, di-
zendo:
Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de
corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada pela au-
toridade competente, gerando situação de risco à incolumidade pública
ou privada:
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Penas – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão
ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
automotor.
§ 1º Se da prática do crime previsto no caput resultar lesão corporal de
natureza grave, e as circunstâncias demonstrarem que o agente não
quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena privativa de
liberdade é de reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, sem prejuízo das ou-
tras penas previstas neste artigo.
§ 2º Se da prática do crime previsto no caput resultar morte, e as circuns-
tâncias demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o
risco de produzi-lo, a pena privativa de liberdade é de reclusão de 5 (cin-
co) a 10 (dez) anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo.
Ocorre que o caput a que se referem os parágrafos transcritos tem redação similar à
segunda parte constante do § 2º do art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro, que diz que:
Então, diante de uma situação em que, durante um “racha”, o agente atropele e mate
alguém, a qual dos dois tipos se amoldaria a conduta?
Por outro lado, se, efetivamente, a Lei nº 12.971, de 9 de maio de 2014, vier a entrar
em vigor, modificando, assim, os artigos do Código de Trânsito Brasileiro, teremos de optar pela
solução mais benéfica aos acusados de praticarem os comportamentos previstos em ambos os
tipos penais.
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6. RELAÇÃO DE CAUSALIDADE:
O nexo causal, ou relação de causalidade, é aquele elo necessário que une a conduta
praticada pelo agente ao resultado por ela produzido. Se não houver esse vínculo que liga o
resultado à conduta levada a efeito pelo agente, não se pode falar em relação de causalidade
e, assim, tal resultado não poderá ser atribuído ao agente, haja vista não ter sido ele o seu cau-
sador.
c) Teoria da equivalência dos antecedentes causais (ou da conditio sine qua non):
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrida. Isso significa
que todos os fatos que antecedem o resultado se equivalem, desde que indispensáveis à sua
ocorrência. Verifica-se se o fato antecedente é causa do resultado por meio de uma eliminação
hipotética. Se, suprimido mentalmente o fato, vier a ocorrer uma modificação no resultado, é
sinal de que aquele é causa deste último.
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6.3. Regressão em busca das causas do resultado:
Recai sobre a teoria da equivalência dos antecedentes causais a crítica quanto a bus-
ca pelas causas do resultado, que, levada a teoria a rigor, conduziria a um infinito número de
causas. No caso de um crime de homicídio, por exemplo, não ficariam livres nem mesmo o pai
ou a mãe do agente, uma vez que, se não o tivessem gerado, não teria ele cometido o delito.
Contudo, para que seja evitada tal regressão, devemos interromper a cadeia causal
no instante em que não houver dolo ou culpa por parte daquelas pessoas que tiveram alguma
importância na produção do resultado.
3º. se, como consequência dessa supressão mental, o resultado vier a se modificar, é
sinal de que o fato suprimido mentalmente deve ser considerado como causa deste resultado.
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b) Criação de um risco juridicamente relevante: Se a conduta do agente não é capaz
de criar um risco juridicamente relevante, ou seja, se o resultado por ele pretendido não depen-
der exclusivamente de sua vontade, caso este aconteça deverá ser atribuído ao acaso. Podemos
citar o exemplo daquele que, almejando a morte de seu tio, com a finalidade de herdar-lhe todo
o patrimônio, compra-lhe uma passagem aérea na esperança de que a aeronave sofra um aci-
dente e venha a cair;
Jakobs, por sua vez, analisa outros aspectos relacionados a imputação objetiva, es-
tabelecendo novas vertentes dando ênfase, também, à imputação do comportamento, sem
desprezar a imputação do resultado, pois, conforme declara, “especialmente nos delitos de re-
sultado surge a necessidade de desenvolver regras de imputação objetiva.” Jakobs traça, então,
quatro instituições jurídico-penais sobre as quais desenvolve a teoria da imputação objetiva, a
saber:
(...) posto que uma sociedade sem riscos não é possível e que ninguém
se propõe seriamente a renunciar à sociedade, uma garantia normativa
que implique a total ausência de riscos não é factível; pelo contrário, o
risco inerente à configuração social deve ser irremediavelmente tolera-
do como risco permitido.
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d) Competência ou capacidade da vítima: Aqui, duas situações tratadas por Jakobs
merecem destaque: o consentimento e as ações por próprio risco. Aquele que se dispõe a parti-
cipar de uma cavalgada, a praticar o rapel e a fazer escaladas sabe dos riscos que são peculiares
a cada uma dessas atividades, não se podendo imputar ao instrutor do grupo, por exemplo, os
danos considerados como acontecimentos normais. A vítima, portanto, ao participar dessas
atividades arriscadas, o faz, segundo Jakobs, a seu próprio risco. Merece destaque, ainda, a
chamada heterocolocação em perigo, situação na qual a vítima, por exemplo, pede ao agente,
que está em sua companhia, que pratique uma conduta arriscada, acreditando, firmemente,
que não ocorrerá qualquer resultado danoso.
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