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Rede Nacional de Especialidade

Hospitalar e de Referenciação

MEDICINA FÍSICA E
DE REABILITAÇÃO
Rede Nacional de Especialidade
Hospitalar e de Referenciação

MEDICINA FÍSICA E DE
REABILITAÇÃO
EQUIPA

DR. FRANCISCO SAMPAIO (COORDENADOR)

DRA. CECÍLIA VAZ PINTO

DR. FERNANDO PARADA

DR. FILIPE ANTUNES

DRA. HELENA TEIXEIRA DA SILVA

DR. JORGE CALDAS

DR. LUÍS ANDRÉ

DRA. TERESA MIRCO

27 de janeiro de 2017
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

ÍNDICE

Índice .............................................................................................................................................. i

Enquadramento Legislativo e Histórico ........................................................................................ 2

Enquadramento da Rede .............................................................................................................. 7

A Especialidade de Medicina Física e de Reabilitação ................................................................ 10

Definição da rede ........................................................................................................................ 17

Epidemiologia .............................................................................................................................. 24

Demografia e Necessidades Previsíveis ...................................................................................... 34

Caracterização e Definição dos Diferentes Níveis e Modelos Organizativos de Serviços ........... 41

Reabilitação Pediátrica ................................................................................................................ 50

Reabilitação Geriátrica ................................................................................................................ 54

Indicadores De Qualidade ........................................................................................................... 58

Formação, investigação, acreditação .......................................................................................... 60

Universo da Reabilitação ............................................................................................................. 63

Produtos de apoio ....................................................................................................................... 66

Bibliografia .................................................................................................................................. 68

Abreviaturas, Siglas e Acrónimos ................................................................................................ 70

Anexo I - Recursos Humanos Existentes nos Serviços de MFR ................................................... 72

Anexo II - Arquitectura da Rede de MFR ..................................................................................... 77

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ENQUADRAMENTO LEGISLATIVO E HISTÓRICO

Atualmente o Serviço Nacional de Saúde (SNS) depara-se com diversos desafios


desencadeados, sobretudo, pelas alterações demográficas, mudanças nos padrões de doença,
inovação tecnológica e mobilidade geográfica.
Considerando as vertentes do acesso e a equidade em saúde, intrínsecas à prestação de
cuidados no seio do SNS, e a necessidade de assegurar cuidados de saúde a todos os cidadãos,
importa que as diferentes instituições hospitalares garantam a prestação de forma coordenada e
articulada entre si, e com os restantes níveis de cuidados. Neste âmbito, as Redes de
Referenciação Hospitalar (RRH) assumem um papel orientador e regulador das relações de
complementaridade interinstitucionais, perspetivando-se a implementação de um modelo de
prestação de cuidados de saúde centrado no cidadão.
Em termos históricos, as RRH tiveram origem no Programa Operacional da Saúde –
SAÚDE XXI, na sequência das principais recomendações do Subprograma de Saúde 1994-1999,
constituindo-se, na altura, como o quadro de referência de suporte ao processo de reforma
estrutural do sector da saúde. No eixo prioritário relativo à melhoria do acesso a cuidados de
saúde de qualidade, a medida 2.1 do referido programa (“Rede de Referenciação Hospitalar”)
objetivava implementar RRH pelas áreas de especialização tidas como prioritárias, visando a
articulação funcional entre hospitais, mediante a diferenciação e identificação da carteira de
serviços, de modo a responder às necessidades da população, garantindo o direito à proteção e
acesso na saúde.
Deste modo, as RRH instigaram um processo de regulação e de planeamento da
complementaridade entre instituições hospitalares, contribuindo para a otimização e gestão
eficiente da utilização de recursos, com vista a assegurar um quadro de sustentabilidade a médio
e longo prazo do SNS.
Vários são os normativos legais e documentos técnicos que abordam a temática das redes
hospitalares e a sua importância estratégica como garante da sustentabilidade e eficiência do
SNS. A Lei n.º 64-A/2011, de 30 de dezembro, que aprovou as Grandes Opções do Plano para
2012-2015, bem como o Programa do XIX Governo Constitucional, preconizavam a melhoria da
qualidade e acesso dos cidadãos aos cuidados de saúde, mediante a reorganização da rede
hospitalar através de uma visão integrada e mais racional do sistema de prestação de cuidados.

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Na sequência do Memorando de Entendimento celebrado com a União Europeia, o Banco


Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional, foi criado o Grupo Técnico para a Reforma
Hospitalar (GTRH) - Despacho do Ministro da Saúde n.º 10601/2011, de 16 de agosto, publicado
no Diário da República, II Série, n.º 162, de 24 de agosto - cujo relatório final intitulado “Os
Cidadãos no Centro do Sistema, Os Profissionais no Centro da Mudança” definiu oito Iniciativas
Estratégicas, corporizadas, cada uma, por um conjunto de medidas, cuja implementação e
monitorização, promoverão o cumprimento de um programa de mudança, com a extensão,
profundidade e densidade exigidas numa verdadeira reforma estrutural do sector hospitalar
português.
No seu relatório, o GTRH defendia que na reorganização da rede hospitalar deviam ser
considerados diversos fatores, nomeadamente: (i) critérios de qualidade clínica; (ii) proximidade
geográfica; (iii) nível de especialização; (iv) capacidade instalada; (v) mobilidade dos recursos; (vi)
procura potencial; (vii) acessibilidades; (viii) redes de referenciação por especialidade; (ix)
equipamento pesado de meios complementares de diagnóstico e terapêutica disponível; (x)
benchmarking internacional e (xi) realidade sociodemográfica de cada região.
O GTRH elencou, ainda, um conjunto de fragilidades inerentes às RRH existentes à data,
designadamente: (i) desatualização da maioria das redes (a maioria tinha sido elaborada até 2006
e nunca ajustada); (ii) inexistência de um modelo único e homogéneo do documento; (iii)
inexistência de aprovação ministerial para algumas das RHH publicadas; (iv) ausência de
integração entre RRH de diferentes especialidades que se interpenetram; (v) inexistência de
inclusão dos setores convencionados e privados (nos casos em que se possa aplicar),
contemplando apenas o universo do SNS; (vi) falta de integração do conceito de Centros de
Referência e (vii) indefinição quanto ao prazo de vigência das RRH.
No primeiro Eixo Estratégico “Uma Rede Hospitalar mais Coerente”, o GTRH propôs a
elaboração da Rede de Referenciação Hospitalar de forma estruturada e consistente e dotada de
elevados níveis de eficiência e qualidade dos cuidados prestados. Para o efeito, e com o desígnio
de redesenhar a rede hospitalar naqueles pressupostos, foi proposta a revisão das RRH em vigor,
bem como a elaboração das redes inexistentes, promovendo-se uma referenciação estruturada e
consistente entre os cuidados de saúde primários e os cuidados hospitalares (considerando toda a
rede de prestação, desde os cuidados de primeira linha aos mais diferenciados), assegurando uma
melhor rentabilização da capacidade instalada aos níveis físico, humano e tecnológico.
De igual forma, o Plano Nacional de Saúde 2012-2016 apresenta um conjunto de
orientações, nos eixos estratégicos “Equidade e Acesso aos Cuidados de Saúde” e “Qualidade em

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Saúde”, propondo o reforço da articulação dos serviços de saúde mediante a reorganização dos
cuidados de saúde primários, hospitalares e continuados integrados, cuidados pré-hospitalares,
serviços de urgência, entre outros, consolidando uma rede de prestação de cuidados integrada e
eficiente. Ademais, o Plano Nacional de Saúde – Revisão e extensão a 2020 sugere, no eixo
“Equidade e Acesso Adequado aos Cuidados de Saúde”, “O desenvolvimento de redes de
referenciação de cuidados não apenas de base geográfica, mas também de hierarquia de
competências técnicas”. Pretende-se, deste modo, uma rede hospitalar coerente, racional e
eficiente, consubstanciada num sistema integrado de prestação de cuidados.
Por outro lado, a Portaria n.º 82/2014, de 10 de abril, estabelecia os critérios que
permitiam categorizar os serviços e estabelecimentos do SNS, de acordo com a natureza das suas
responsabilidades e quadro de valências exercidas, bem como o seu posicionamento na rede
hospitalar, procedendo à sua classificação. Tratava-se de um normativo legal que definia,
predominantemente, orientações estratégicas para a construção de uma rede hospitalar
coerente, assegurando a resposta e satisfazendo as necessidades da população.
Acresce que a carteira de valências de cada instituição hospitalar seria operacionalizada
através do contrato-programa, de acordo com o respetivo plano estratégico. Perante um quadro
de reorganização das instituições de saúde hospitalares (no que se refere à disponibilização e
coordenação da carteira de valências, aos modelos organizativos e de integração de cuidados), a
redefinição do que devem ser os cuidados hospitalares e como se devem integrar com os
diferentes níveis de cuidados, com a garantia de uma melhor articulação e referenciação vertical,
permite intervir complementarmente no reajuste da capacidade hospitalar.
Desta forma, as RRH desempenham um papel fulcral enquanto sistemas integrados,
coordenados e hierarquizados que promovem a satisfação das necessidades em saúde aos mais
variados níveis, nomeadamente: (i) diagnóstico e terapêutica; (ii) formação; (iii) investigação e (iv)
colaboração interdisciplinar, contribuindo para a garantia de qualidade dos cuidados prestados
pelas diferentes especialidades e subespecialidades hospitalares.
Assim, as RRH permitem a: (i) articulação em rede, variável em função das características dos
recursos disponíveis, dos determinantes e condicionantes regionais e nacionais e o tipo de
especialidade em questão; (ii) exploração de complementaridades de modo a aproveitar
sinergias, concentrando experiências e permitindo o desenvolvimento do conhecimento e a
especialização dos técnicos com a consequente melhoria da qualidade dos cuidados e (iii)
concentração de recursos permitindo a maximização da sua rentabilidade.

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Nesta conformidade, a Portaria n.º 123-A/2014, de 19 de junho, estabelecia os critérios


de criação e revisão das RRH, aí designadas Redes Nacionais de Especialidades Hospitalares e de
Referenciação (RNEHR), bem como as áreas que estas deviam abranger. De acordo com o número
2 do artigo 2.º daquele diploma, foram determinados os princípios aos quais as RNEHR deviam
obedecer, nomeadamente: “a) permitir o desenvolvimento harmónico e descentralizado dos
serviços hospitalares envolvidos; b) eliminar duplicações e subutilização de meios humanos e
técnicos, permitindo o combate ao desperdício; c) permitir a programação do trânsito dos
utentes, garantindo a orientação correta para o centro indicado; d) contribuir para a melhoria
global da qualidade e eficácia clínica pela concentração e desenvolvimento de experiência e
competências; e) contribuir para a diminuição dos tempos de espera, evitando a concentração
indevida de doentes em localizações menos adequadas; f) definir um quadro de responsabilização
dos hospitais face à resposta esperada e contratualizada; g) permitir a programação estratégica
de investimentos, a nível nacional, regional e local e h) integrar os Centros de Referência.”
No sentido de dar cumprimento ao disposto na portaria supramencionada, o Despacho
n.º 10871/2014, de 18 de agosto, veio determinar os responsáveis pela elaboração e/ou revisão
das RNEHR. Com efeito, o processo iniciou-se com a elaboração das seguintes RNEHR: Oncologia
Médica, Radioterapia e Hematologia Clínica; Cardiologia; Pneumologia; Infeção pelo VIH e SIDA;
Saúde Mental e Psiquiatria; e Saúde Materna e Infantil, incluindo Cirurgia Pediátrica.
Posteriormente, o Despacho n.º 6769-A/2015, de 15 de junho, veio designar os responsáveis pela
elaboração ou revisão das RNEHR de Anatomia Patológica, Anestesiologia, Cirurgia Cardiotorácica,
Cirurgia Geral, Gastrenterologia, Hepatologia, Medicina Física e de Reabilitação, Medicina
Intensiva, Medicina Nuclear, Nefrologia, Oftalmologia, Ortopedia, Patologia Clínica,
Neurorradiologia, Radiologia, Reumatologia e Urologia.
Também o XXI Governo Constitucional, no seu programa para a saúde, preconiza a
redução das desigualdades entre os cidadãos no que respeita ao acesso à prestação de cuidados,
bem como o reforço do papel do cidadão no SNS. Ora, a capacitação do cidadão pressupõe a
disponibilização de informação relevante para a sua tomada de decisão, por forma a optar pela
instituição do SNS onde pretende ser assistido, de acordo com as suas preferências, critérios de
conveniência pessoal e da natureza da resposta das instituições.
Com a publicação da Portaria n.º 147/2016, de 19 de maio, que surge precisamente com
o intuito de reforçar o papel do cidadão no SNS, contribuir para a melhoria da sua governação
bem como para a melhoria da gestão hospitalar, são revogadas as Portarias n.ºs 82/2014, de 10
de abril, e a 123-A/2014, de 19 de junho. Nesta perspetiva, foram definidas como medidas fulcrais

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a “promoção da disponibilidade e acessibilidade dos serviços” aos utentes e “a liberdade de


escolherem em que unidades desejam ser assistidos”, mediante a articulação com o médico de
família e cumprindo a hierarquização técnica e as regras de referenciação em vigor, indo ao
encontro do preconizado na Lei n.º 7-B/2016, de 31 de março, que aprova as Grandes Opções do
Plano para 2016 -2019.
A referida Portaria objetiva: (i) definir o processo de classificação dos hospitais, centros
hospitalares e unidades locais de saúde do SNS (independentemente da sua natureza jurídica e
tendo como princípio a definição das RRH) e (ii) continuar o processo de criação e revisão das
RRH.
No âmbito da especialidade de Medicina Física e de Reabilitação (MFR), foi elaborada a
Rede de Referenciação Hospitalar de Medicina Física e de Reabilitação (RRHMFR) sob a
responsabilidade da Direção-Geral da Saúde, tendo sido aprovada por Despacho de Sua
Excelência a Secretária de Estado Adjunta do Ministro da Saúde, Dra. Carmen Pignatelli, de 26 de
março de 2002.

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ENQUADRAMENTO DA REDE

Introdução à evolução da organização dos cuidados de MFR

Historicamente, a Rede de Referenciação Hospitalar de Medicina Física e de Reabilitação,


publicada em 2002, teve origem em dois documentos anteriormente elaborados e que se
pretendiam, já na altura, estruturantes para esta área médica.
O Plano de Ação Nacional de MFR, publicado em 1992, em que para além da descrição
dos serviços de MFR existentes à época, traça uma panorâmica geral da reabilitação e elabora
sobre os aspetos conceptuais e de definição da especialidade. Preconiza ainda as quais as
características gerais que os serviços hospitalares deveriam ter e defende a necessidade de
articulação com os cuidados de saúde primários.
Destaca-se, entre outras referências, que se mantêm atuais, apesar da óbvia necessidade
de contextualização histórica, a seguinte: ”Tendo sido reconhecida a necessidade de estruturar a
MFR nos vários níveis assistenciais do País, desde logo foi claro que tal estruturação não podia ter
origem senão em profissionais da especialidade, sob pena de se acumularem ainda mais os erros
de que tem sido vítima este ramo da medicina aplicada, na qualidade de uma assistência que não
pode ser hoje mais esquecida, ou sequer, subalternizada.”
O Relatório da Comissão Nacional de Planeamento de MFR, publicado em 1995, partindo
de uma análise crítica do documento anterior aborda as seguintes áreas: centros de saúde,
hospitais de diferentes níveis, centros de reabilitação, funcionamento das unidades de saúde,
aumento do número de profissionais na especialidade, convenções com o SNS e regime livre.
Defendia já na altura que “a MFR é uma especialidade médica que se deve inserir em
todos os níveis de prestação de cuidados, desde os primários à reinserção social”, conceito este
que não foi perdendo, mas antes pelo contrário, ganhando atualidade.
Os documentos citados, de leitura valiosa, resultaram do trabalho assinalável e que deve
ser enaltecido de alguns e que foram servindo de fonte de informação para muitos outros, em
que se inclui a atual comissão redatora.

A Rede de Referenciação de 2002

Passada que está cerca de década e meia, relativamente à aprovação da RRHMFR,


importa reconhecer o mérito deste documento, que em muitos aspetos mantém ainda plena

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validade e atualidade, mas outros há, que fruto de novos desafios – alterações demográficas,
mudanças nos padrões de doença, progresso da tecnologia e mobilidade geográfica e de novas
realidades – constituição de novas instituições, fusão de instituições existentes, aparecimento de
novos níveis de cuidados de saúde e reformulação dos modelos de organização hospitalar, carece
de uma profunda reflexão e revisão.

Das várias medidas preconizadas e ainda por implementar é de salientar a falta de camas
de internamento em alguns serviços hospitalares de MFR, nomeadamente nos pertencentes na
anterior rede à plataforma A e que na atual rede vai corresponder aos hospitais do grupo III.
Relativamente à realidade existente à época, algumas alterações posteriormente
verificadas, por serem relevantes e influenciarem decisivamente o atual modelo proposto,
justificam, embora de forma sucinta, que lhes seja feita referência.

Centros Especializados de Reabilitação

Foram criados e integrados na RRHMFR, os seguintes três centros especializados:

1. Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro (CMRRC) – Hospital Rovisco Pais,


que iniciou a sua actividade em 2002 e que se destinava a servir a região centro do
país.
2. Centro de Medicina de Reabilitação do Sul (CMRS) – S. Brás de Alportel, que iniciou a
sua actividade em regime de Parceria Público Privada, em 2007 e que se destinava a
servir o Algarve e parte do Alentejo.
3. Centro de Reabilitação do Norte (CRN) – que iniciou a sua actividade sob gestão da
Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP), em 2014 e que se destinava a servir a
região norte do país.

Por outro lado, o Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão (CMRA), instituição de


saúde inaugurada em 1966, pertencente à Santa Casa de Misericórdia de Lisboa (SCML) e como
tal não fazendo parte do SNS, era (em 2002), o único centro especializado existente em Portugal,
vocacionado para a reabilitação pós-aguda de pessoas portadoras de incapacidade de predomínio
motor, de qualquer idade e provenientes de todo o país. Passou em 2010, por resolução do
Conselho de Ministros (resolução nº 15/2010) e através de acordo estabelecido entre a
Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) e a SCML, a integrar a
RRHMFR, como centro especializado de reabilitação para a respetiva região de saúde. O
relacionamento da ARSLVT com o CMRA da SCML tem vindo a ser assegurado, desde 2010,
através da celebração de acordos de cooperação plurianuais.

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Isto significa que se passou da existência de um único centro especializado a nível


nacional, não pertencente ao SNS e não integrado na rede, para quatro centros, integrados na
RRHMFR – três pertencentes ao SNS e um à SCML, mas cada um deles com diferentes modelos de
gestão e regras de funcionamento também diferentes, nomeadamente no que diz respeito à
referenciação dos doentes.
Relativamente ao número de camas preconizado pela anterior rede (600 nos centros
especializados e 240 nos serviços de reabilitação dos hospitais de agudos), as metas não foram
atingidas. Atualmente existem aproximadamente 400 camas nos primeiros e cerca de 70 nos
segundos), o que significa que apesar de tudo, o número total de camas de reabilitação
praticamente duplicou, relativamente à realidade de 2002.

Outros Níveis de Cuidados de Saúde (Cuidados Continuados)

A criação da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), em 2006,


através do Decreto-Lei nº 101/2006, de 6 de junho, assentou em vários pressupostos,
nomeadamente no envelhecimento da população, no aumento da prevalência de pessoas com
doenças crónicas incapacitantes e no esperado incremento da procura de pessoas idosas e com
dependência funcional. Veio constituir uma nova realidade, ao criar um nível de cuidados de
saúde e apoio social praticamente inexistente até aí, intermédio entre os cuidados de saúde
hospitalares e os cuidados primários.
A tipologia de cuidados inicialmente proposta (em internamento - unidades de
convalescença (UC), unidades de média duração e reabilitação (UMDR), unidades de longa
duração e manutenção (ULDM) e unidades de cuidados paliativos (UCP) e em ambulatório –
(unidades de dia e de promoção da autonomia), assentaria na maior ou menor intensidade da
intervenção reabilitadora e a RNCCI teria como objectivo constituir um conjunto de serviços e de
unidades, capazes de dar resposta adequada a situações de incapacidade ou de dependência,
consequentes a um episódio de doença aguda ou agudização de doença crónica. O conceito
evoluiu, tendo-se suspendido a criação de novas unidades de convalescença e mantendo-se a
aposta na implementação generalizada da RNCCI em todo o país.
Em todos os níveis de prestação de cuidados, o potencial de reabilitação e a necessidade
de manutenção de capacidades, são obviamente áreas que se intersetam e se completam e para
que se consigam maximizar os ganhos em saúde e otimizar os recursos, devem ser pensadas e
estruturadas em articulação, pelo que a RNCCI é hoje em dia uma realidade totalmente diferente
da existente em 2002 e mais um elemento importante na construção de uma rede atual de
cuidados em MFR.

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A ESPECIALIDADE DE MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

Conceitos Gerais

A Medicina Física e de Reabilitação é a especialidade médica responsável pelo


diagnóstico, prevenção, tratamento, reabilitação e integração do indivíduo afetado
funcionalmente por doença, traumatismo ou deficiência, em todas as idades e nas condições
agudas e crónicas.
A MFR não pode ser só definida segundo o modelo da maioria das especialidades médicas
(modelo biomédico), apesar de ser uma delas. Para além de uma abordagem própria no exame e
na avaliação da funcionalidade e de uma tecnologia apropriada, assenta principalmente numa
filosofia de responsabilidade médica (modelo biopsicossocial).
Surgiu como especialidade médica há mais 70 anos, assente sobretudo num arsenal
terapêutico, que dominava e cultivava – os agentes físicos.
Os primeiros títulos de especialista em Fisioterapia Médica, começaram a ser atribuídos
pela Ordem dos Médicos (OM) em 1944.
Em 1951, através do Decreto nº 38.213, de 26 de março, que formalmente reconhece as
primeiras especialidades médicas, é-lhe atribuída a designação de Fisioterapia e a possibilidade
de continuar a ser “anunciada” pelos termos usados na “linguagem comum” de Agentes Físicos.
Mais tarde, considerando que a “evolução da medicina e a crescente atenção dispensada
à reabilitação dos indivíduos com deficiências físicas e sensoriais, ia além da simples aplicação de
terapias físicas” foi a especialidade autorizada a passar a denominar-se de Medicina Física e de
Reabilitação (Decreto-Lei nº 225/70, de 18 de maio).
Entretanto, nos E.U.A., Frank Krusen, marco importante na história da especialidade, criou
o termo Fisiatria, para designar os médicos que, em 1936, tinham iniciado o primeiro programa
de pós-graduação, sob a forma de residência, na Mayo Clinic. O termo de raiz grega, significa
“fisio” – físico ou função e “iatros” – arte de curar ou médico. Por ser mais curto e por permitir de
forma mais sintética designar o médico especialista nesta área, é atualmente usado como
sinónimo de Medicina Física e de Reabilitação.
A MFR como área de especialização médica, tem por objectivo principal procurar
contribuir de modo científico para a reabilitação/recuperação do indivíduo afectado

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funcionalmente por doença ou traumatismo e baseia a sua atuação numa abordagem própria no
exame médico e na avaliação da funcionalidade.
Neste contexto, a reabilitação médica exige uma formação autónoma e uma organização
que lhe permita apoiar várias outras especialidades, de forma simultaneamente global e
diferenciada.
Atua eminentemente em equipa – multidisciplinar e multiprofissional.
O conceito anglo-saxónico de “skill-mix“ nas profissões da saúde (abordado publicamente
pela primeira vez em Portugal, na V Conferência – “Estatística e Qualidade na Saúde 2006”, que
decorreu na Escola Superior de Tecnologias de Saúde de Lisboa), ou seja, o conceito de ter “os
profissionais certos, com as competências certas, nos locais certos a fazer as coisas certas”,
permite obviamente obter inúmeras vantagens - maior eficiência, maior acessibilidade aos
serviços de saúde, melhoria do desempenho de todos os profissionais ao promover o trabalho em
equipa, concentração de cada profissional nas suas tarefas e competências nucleares e maior grau
de satisfação dos profissionais. Se este conceito tem aplicabilidade em vários domínios da saúde,
seguramente que nesta área constitui-se como um verdadeiro paradigma.

Reabilitação e Medicina Física e de Reabilitação

A melhoria das condições de vida nas sociedades modernas, os avanços médico-cirúrgicos


e a promoção e generalização dos cuidados de saúde, têm permitido o aumento da longevidade
dos indivíduos, com um progressivo crescimento do número de idosos. Em muitos países
europeus as pessoas vivem hoje, em média, cerca de 20 anos mais do que em relação a um
passado não muito longínquo. Como é sabido, a este aumento da esperança de vida tem
correspondido um novo fenómeno médico e social – a “cronicidade”, ou seja, um aumento
significativo de doenças crónicas, frequentemente incapacitantes.
Graças também aos assinaláveis progressos que ocorreram na protecção materna e
infantil, é possível atualmente prevenir muitas doenças e situações causadoras de malformações
e deficiências. No entanto, esta mesma melhoria de cuidados assistenciais tem permitido salvar
vidas , que anteriormente não seria possível, mas que nalguns casos irão sobreviver com graves
sequelas, neurológicas ou outras, indo por sua vez gerar situações de deficiência e incapacidade.
O crescimento e desenvolvimento tecnológico verificados nas últimas décadas, a par das
alterações do ritmo e modo de vida, têm levado ao aparecimento de um elevado número de
pessoas portadoras de deficiência e consequente restrição de participação, vítimas de acidentes
de trânsito, de trabalho e de diversas patologias (ex: cérebro-vasculares e cardiovasculares) em
idades cada vez mais jovens e produtivas.

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A procura de cuidados de reabilitação surge assim com uma exigência de resposta cada
vez mais precoce e rápida na fase aguda e subaguda. Por outro lado, tem-se também verificado a
necessidade de apoiar casos mais graves e incapacitantes, numa população crescente de idosos e
de idosos com idades cada vez mais avançadas (fase crónica).
Nestas populações, a par das intervenções assistenciais específicas das diferentes
especialidades médico-cirúrgicas, a intervenção precoce da MFR, é uma necessidade
fundamental. Segue-se, nos casos de persistência de graves deficiências e incapacidades, uma
intervenção dominante da reabilitação médica, nomeadamente para os doentes que apresentem
potencial de reabilitação. Nestes, a continuidade dos cuidados de reabilitação diferenciada é
imprescindível, pelo que deverá ser oportunamente assegurada, evitando atrasos ou interrupções
que possam comprometer a sua recuperação. Procura-se assim reduzir, tanto quanto possível,
sequelas que comprometam a qualidade de vida futura, promovendo através de programas
terapêuticos adequados, de natureza multidisciplinar, a recuperação física e psicológica, visando
obter a máxima funcionalidade, com o objetivo da rápida reinserção familiar, ocupacional e social.
Em Portugal, de acordo com os dados do Inquérito ao Emprego (emprego das pessoas
com deficiência, realizado no 2º trimestre de 2011) e os resultados definitivos dos Censos 2011,
realizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), cerca de 16% das pessoas entre os 15 e os
64 anos, tinham simultaneamente problemas de saúde prolongados e dificuldades na realização
de atividades básicas e cerca de 50% da população idosa, apresentava bastante dificuldade ou
não conseguia realizar pelo menos uma das diversas atividades da vida diária (ver, ouvir, andar,
memória/concentração, tomar banho/vestir-se, compreender os outros/fazer-se entender).

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Fonte – INE (Censos 2011)


A Reabilitação interessa por isso à maioria das áreas médicas, particularmente quando
estão em causa situações potencialmente incapacitantes.
A Reabilitação mudou o antigo conceito clínico que considerava que a missão do médico
terminava quando a afeção aguda estava controlada ou a cicatrização conseguida. A fase
subsequente de convalescença ou recuperação deve ser encarada como um domínio médico e é
seguramente a mais importante para o futuro do doente.
A Reabilitação como processo global e dinâmico orientado para a recuperação física e
psicológica da pessoa portadora de deficiência, tendo em vista a sua reintegração social, teve
grande impulso e desenvolvimento no século XX, sobretudo nos períodos decorrentes das
grandes catástrofes mundiais, tendo sido imputados aos governos os custos económicos,
familiares e sociais decorrentes das lesões e sequelas dos seus cidadãos e exigidas medidas de
reparação e integração.
A Reabilitação é eficaz na redução da sobrecarga da incapacidade e na potenciação das
oportunidades de vida para os indivíduos incapacitados. Os seus custos são habitualmente
inferiores aos que teriam que ser assumidos pelos serviços de saúde caso não se proporcionassem
tais serviços.
O acesso à Reabilitação constitui um direito humano fundamental, que é consagrado
pela Carta das Nações Unidas e pela resolução da Assembleia Mundial da Saúde de 2005. Trata-se
de uma conquista civilizacional que importa preservar e aperfeiçoar.

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Ao longo dos tempos, a reabilitação foi vista como o terceiro componente da abordagem
em saúde, depois da prevenção e do tratamento. Hoje em dia, de forma a otimizar o potencial de
saúde do individuo, esta visão evoluiu para a integração conjunta destes três componentes.
Pretende-se assim maximizar os benefícios potenciais das intervenções em reabilitação, a nível
físico, cognitivo e motivacional, promovendo a independência funcional, segundo um modelo de
atuação precoce, iniciado ainda durante a fase aguda da doença, nomeadamente aquando do
internamento hospitalar.
A esta fase deverá seguir-se um verdadeiro contínuo de cuidados (“care continuum”), que
abrange todas as etapas subsequentes, desde o internamento até ao período que se segue à alta
hospitalar. Engloba a reabilitação em fase aguda (incluindo a realizada em internamento próprio),
a reabilitação em ambulatório e a eventual necessidade de cuidados de manutenção
(domiciliários ou em unidades apropriadas).
Na procura de novas soluções de manutenção e promoção da saúde de muitos indivíduos
portadores de deficiência, foram-se criando e reestruturando serviços de saúde, bem como
instituições dirigidas à sua readaptação e reintegração socioprofissional.
Esta visão da Reabilitação, implica a integração dos cuidados de reabilitação nas unidades
de cuidados intensivos, nas enfermarias de agudos, nos cuidados ambulatórios e domiciliários e
nos cuidados continuados e paliativos.
A evolução do doente ao longo do programa de reabilitação, não é um processo fácil, nem
linear. As expectativas do doente e dos seus familiares, devem ser estabelecidas de acordo com
um prognóstico funcional realista e um intervalo de tempo aceitável, assentes numa adequada
avaliação clínica, num programa de reabilitação adaptado e periodicamente avaliado,
nomeadamente através de apropriados instrumentos de medida.

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

Fonte - Krusen’s Handbook of Physical Medicine and Rehabilitation, 4th ed.

A estabilização dos ganhos de funcionalidade e a transição de uma fase “reabilitadora”


para uma fase “social”, bem como a necessidade de cuidados de reabilitação de “manutenção”, é
certamente uma área de controvérsia e de possível e desejável discussão. Isto porque a Medicina
Física e de Reabilitação será talvez a mais social das especialidades médicas e em que mesmo o
papel paliativo da Reabilitação deve ser questionado, mas assumido e valorizado.
É neste novo conceito abrangente, que a Reabilitação se desenvolve e tem a sua razão de
ser.
Para a sua plena realização, as suas ações devem abranger diversos campos de atuação,
que vão desde a saúde, à educação e formação, ao emprego, à segurança social, ao controlo
ambiental, ao desporto e ao lazer.
O seu sucesso está intimamente relacionado com a existência de políticas que não só
promovam aquelas acções, mas que também facilitem os processos de integração e de
complementaridade existente entre estas diferentes áreas.
No campo da saúde é de destacar o desenvolvimento que se tem verificado nos últimos
anos das valências ligadas à reabilitação. Cada vez mais é sentida a necessidade da existência de
profissionais de saúde especializados nesta área.
Profundamente imbuída de um espírito globalizante, humanista e multidisciplinar, a
reabilitação, para atingir as metas que se propõe alcançar, deve assentar num trabalho integrado
de diferentes profissionais, onde as acções desenvolvidas deverão ser convergentes e sinérgicas,
segundo uma estratégia com objectivos comuns, centrados no doente.

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

Modelos de Incapacidade

Vários modelos de incapacidade têm surgido ao longo dos anos e têm influenciado
políticas, práticas e orientações de investigação, com um impacto significativo na Medicina Física
e de Reabilitação
Assim, de uma forma inicial de encarar a incapacidade, assente sobretudo numa
perspetiva cultural, sem fundamentação objectiva e científica (“modelo tradicional”), evoluiu-se
para um modelo baseado na prática científica e suportado pelo conhecimento médico. A
incapacidade passou a ser encarada como um problema intrínseco ao indivíduo e principalmente
valorizada na perspetiva da limitação física (“modelo médico”).
Posteriormente surgiu o “modelo social”, baseado essencialmente nas experiências e
espectativas das pessoas com incapacidade e em que esta, passou a ser encarada mais do que um
problema do indivíduo, um problema da sociedade, focado também nos direitos individuais do
cidadão portador de deficiência.
Actualmente domina a síntese destes dois últimos modelos – “modelo integracional”,
que equilibra o conhecimento médico e científico com as experiências das pessoas com
incapacidade e integra todas as dimensões da incapacidade, contextualizando-a e encarando-a de
forma compreensiva e abrangente.

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

DEFINIÇÃO DA REDE

Pressupostos

Existem alguns pressupostos básicos que devem presidir ao modelo de organização dos
cuidados de reabilitação.

Primeiro, a resposta deverá ser orientada pelas características da população,


nomeadamente de acordo com os seus aspectos demográficos e com as necessidades potenciais
no domínio da reabilitação, de forma a garantir a adequada acessibilidade a todos os cidadãos.
Segundo, a reabilitação deverá estar presente em todos os níveis de cuidados prestados,
de forma integrada e considerando que a sua continuidade, enquanto existir potencial de
reabilitação, será um factor crítico para a obtenção de ganhos em saúde.
Terceiro, a integração e a articulação dos diferentes níveis de intervenção, deverá facilitar
o fluxo dos doentes na rede, de forma a optimizar os recursos existentes e a melhorar os serviços
prestados à população.

Serviços Hospitalares de MFR

Sendo os hospitais as unidades de saúde onde são prestados os cuidados assistenciais


mais diferenciados, é neles que surgem e são assistidas, essencialmente em fase aguda, as
situações potencialmente mais incapacitantes (AVC, TCE, lesões medulares, amputações, etc.). É
por isso natural e imprescindível a existência de serviços hospitalares de MFR, naturalmente com
desenho adequado às características da instituição em que estão inseridos.
A rede de referenciação hospitalar de cuidados de reabilitação está centrada nos cuidados
de saúde hospitalar a prestar ao individuo. Para além dos cuidados assistenciais, deverá funcionar
como “placa giratória” na referenciação dos utentes, para as diferentes tipologias de cuidados
existentes.
Desejavelmente estes serviços poderão vir a constituir-se como promotores ou afiliados
de centros de referência nacionais para a prestação de cuidados de saúde em determinadas
áreas, de acordo com as suas vocações específicas e as características multidisciplinares e
orientações estratégicas das unidades hospitalares em que estão integrados, tal como o previsto
nas portarias nº 194/2014, de 30 de Setembro e nº 195/2016, de 19 de Julho.

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

Por sua vez as administrações das unidades hospitalares também deverão proporcionar
aos Serviços de MFR, as condições necessárias para que estes possam cumprir os requisitos
necessários à sua participação, como promotores ou afiliados nos Centros de Referência.

Centros Especializados de Reabilitação

Pela necessidade de tempos de intervenção mais prolongados e mais intensivos,


nomeadamente em regime de internamento e pela elevada complexidade de muitas das
situações clínicas, justifica-se a existência de Centros Especializados.

É desejável que estes centros possam vir a constituir centros de referência nacionais para
a prestação de cuidados de saúde em determinadas áreas da especialidade, tal como referido
anteriormente para os serviços hospitalares.
Estas estruturas estão vocacionadas para uma reabilitação activa, dinâmica e intensiva,
com vista a, sempre que possível, uma reintegração familiar, social e profissional plena.
A atual existência de quatro centros especializados de reabilitação, cobrindo globalmente
o país, parece estar adequada às necessidades existentes e aos rácios internacionalmente
propostos, pelo que não se prevê a curto/médio prazo a necessidade da criação pelo SNS de
unidades com características semelhantes.
Se em alguns países europeus, o caminho efetuado foi no sentido da especialização deste
tipo de unidades, para diferentes patologias (exemplo: na Holanda existem cerca de vinte e
quatro serviços especializados para diversas situações), a opção feita entre nós, pela centralização
nas mesmas instituições de distintas entidades clínicas, ainda que questionável, parece mais
adequada à nossa realidade, pelas vantagens em termos económicos, de recursos humanos e
formativos que apresenta.
No entanto, aspectos relacionados com a localização geográfica, com a menor cobertura
do interior do país e sobretudo com a existência de diferentes modelos organizativos e de gestão,
aconselham a adoção de regras comuns de referenciação, que assegurem equidade assistencial a
todos os cidadãos.
Os Centros Especializados de Reabilitação devem funcionar em perfeita articulação com
os serviços de MFR das instituições hospitalares, bem como relacionarem-se com as diferentes
unidades integrantes dos cuidados extra-hospitalares da sua área de intervenção mais direta
(unidades de cuidados continuados e de cuidados primários).
Aspecto crucial para o funcionamento da rede e para a adequada circulação dos doentes
na mesma, é o princípio de que os doentes a internar nos Centros Especializados de Reabilitação

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

devem ser obrigatoriamente referenciados pelos Hospitais que compõem a RRHMFR. Embora se
deva privilegiar a referenciação assente em critérios geográficos, esta não deverá ser estanque,
de forma a possibilitar iguais oportunidades de tratamento a todos os cidadãos e
simultaneamente maximizar as taxas de ocupação nestes centros.

Cuidados Primários

As unidades de cuidados primários deverão ser responsáveis pela prevenção da


incapacidade e deverão também desempenhar um papel importante na adequada orientação dos
doentes.

A articulação entre estas unidades e os serviços hospitalares de MFR da sua área de


influência constitui um dos vértices do modelo contemplado na rede. A reconhecida dificuldade
existente a nível da Medicina Geral e Familiar (MGF), pela ausência de formação adequada (a
formação pré-graduada em reabilitação é ainda muito incipiente) e pela pressão do tempo
disponível para cada consulta, em avaliar, reavaliar ou orientar e encaminhar doentes com
necessidades de reabilitação, poderá ser ultrapassada através da implementação de parcerias
entre as diferentes instituições envolvidas.
O modelo de referenciação e os fluxos de articulação propostos mais à frente neste
documento, entre os cuidados de saúde primários e os serviços hospitalares, pretendem facilitar a
orientação e a circulação dos utentes no SNS. Não obstante deve-se respeitar o primado do Livre
Acesso e Circulação de Utentes no SNS (LAC) aprovado pelo despacho nº 59/11-B/2016, de 3 de
maio.
Estas parcerias, institucionalmente estabelecidas e contratualizadas, deverão assentar em
dois tipos de modalidades - canais próprios de acesso a consultas hospitalares dedicadas e/ou
prestação de apoio e consultadoria (presencial ou através da utilização de outras tecnologias de
comunicação) realizada por médicos especialistas a destacar pelos serviços hospitalares. Estes
serviços e estes médicos, devem funcionar como verdadeiros consultores e interlocutores para as
respectivas unidades de cuidados primários. Para além disso, devem ser assumidas
conjuntamente responsabilidades, quer nos aspetos relacionados com a formação dos recursos
humanos, quer na orientação geral das actividades já existentes ou a desenvolver nas unidades de
cuidados primários de saúde, nomeadamente em espaços próprios de “promoção do
movimento”. No caso da constituição de “equipas de reabilitação”, ou mesmo de “unidades de
Medicina Física e de Reabilitação” nos cuidados de saúde primários, deve ser promovida a

19
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

articulação com os serviços hospitalares de MFR, quer no fluxo bidirecional de utentes, quer em
aspetos relacionados com a partilha de conhecimentos e experiências de intervenção conjunta.
Se a colocação de médicos especialistas em MFR, diretamente nas USF ou nos ACES, com
capacidade para desempenhar verdadeiras funções de consultadoria e auditoria clínicas, poderá
ser uma opção a considerar, parece existirem atualmente claras vantagens para que este papel
seja desempenhado por médicos integrados nos serviços hospitalares, pela existência de outra
massa crítica e pelas possibilidades de interação, a nível assistencial, formativo e até de
investigação, poderem ser mais vastas e trazerem uma melhor relação custo-benefício.

Cuidados Continuados

A criação da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, veio possibilitar o


aumento significativo da oferta de camas de internamento para doentes em fase subaguda e
sobretudo em fase crónica.
De acordo com o relatório de “Monitorização da Rede Nacional de Cuidados Continuados
integrados – 1º semestre de 2015”, existiam à data, o seguinte número de camas:

Nº DE CAMAS CONTRATADAS EM FUNCIONAMENTO – 30.06.15


TIPOLOGIAS Norte Centro LVT Alentejo Algarve TOTAL

Convalescença 147 232 167 135 69 750


Média Duração e Reabilitação 592 637 568 186 104 2087
Longa Duração e Manutenção 1328 1177 978 425 314 4222
Paliativos 41 69 113 19 10 252
TOTAL 2108 2115 1826 765 497 7311
Fonte – ACSS

Ainda de acordo com o mesmo relatório, verifica-se que 89% dos doentes referenciados
para as unidades de convalescença e 75% para as unidades de média duração e reabilitação,
apresentam necessidade de reabilitação.

MOTIVOS DE REFERENCIAÇÃO 2015


ECCI UC UCP ULDM UMDR Nacional
MOTIVOS
Dependência AVD 89% 94% 75% 88% 95% 91%
Ensino utente/ cuidador informal 91% 92% 69% 84% 88% 89%
Reabilitação 43% 89% 4% 31% 75% 56%
Cuidados pós-cirurgicos 18% 38% 3% 6% 18% 20%

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MOTIVOS DE REFERENCIAÇÃO 2015


ECCI UC UCP ULDM UMDR Nacional
Tratamento de feridas/ulceras de pressão 37% 3% 8% 6% 14% 18%
Doença cardiovascular 10% 15% 2% 12% 18% 13%
Gestão regime terapêutico 11% 4% 52% 35% 6% 14%
Portadores de SNG/PEG 6% 2% 7% 18% 9% 8%
Ulceras de pressão múltiplas 14% 1% 3% 1% 9% 8%
Descanso do cuidador 2% 0% 1% 34% 1% 7%
Manutenção de dispositivos 4% 1% 9% 11% 2% 4%
Fonte – ACSS

Estes números permitem constatar a importância da correta referenciação dos doentes


para o nível de cuidados de reabilitação mais adequados a cada situação. O médico fisiatra de
cada unidade assegurará a continuidade de cuidados, estabelecendo o plano terapêutico e
programando posteriormente à alta, a ligação aos cuidados primários ou aos serviços
hospitalares.
Sendo importante distinguir as verdadeiras necessidades dos doentes a internar nestas
unidades, nomeadamente médicas e/ou sociais, de reabilitação e/ou de manutenção de cuidados,
o que justifica a existência de diferentes tipologias, deverá ser realçado o papel positivo e
imprescindível deste nível de cuidados de saúde, para uma população mais envelhecida e com
maior prevalência de doença crónica.
Nas situações em que após a intervenção especializada em MFR, no caso de
permanecerem dificuldades na sua evolução e recuperação, ou por dificuldade de integração, os
doentes podem e devem ter aqui uma opção adicional. Existem duas fases do processo, em que a
implementação de alguns ajustamentos ao modelo existente, poderão trazer ganhos
significativos. A montante, através de uma mais adequada referenciação, o que poderá ser
conseguido com a desejável inclusão de médicos fisiatras nas equipas intra-hospitalares de gestão
de altas (EGA). A jusante, através de uma maior afectação da carga horária dos intervenientes na
equipa de reabilitação, assim como da melhoria do apetrechamento técnico e da disponibilização
de áreas de tratamento mais significativas.
Resulta necessariamente daqui, que a articulação entre os serviços hospitalares de MFR e
os cuidados continuados, deverão corresponder a um outro vértice do modelo conceptual em que
assenta a rede.

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

Modelo de articulação

A boa articulação entre todos os níveis de cuidados anteriormente considerados é


seguramente um fator de melhoria e optimização dos cuidados prestados. A falta de uma
adequada coordenação entre os diversos tipos de unidades pode comprometer a reabilitação do
doente e a sua futura recuperação funcional.
Um dos aspetos, cuja melhoria depende essencialmente do modelo de organização e de
articulação e que não implica necessariamente um aumento significativo de custos, é a
determinação do potencial de reabilitação do doente, que deverá ser o referencial de orientação
para o local mais adequado à sua situação clínica e funcional.
O internamento nos centros especializados de reabilitação deve primordialmente estar
vocacionado para dar resposta atempada aos pedidos dirigidos pelos serviços hospitalares de
MFR, considerando que são eles que recebem os doentes em fase aguda e subaguda. Estes são os
doentes que mais podem beneficiar com o internamento em centro especializado, através do
acesso a um programa de reabilitação diferenciado e intensivo.
Após a alta do centro especializado, deverá ser enviada informação ao serviço hospitalar
referenciador, que em princípio deverá assegurar o seu seguimento, não invalidando a
possibilidade do utente poder ser acompanhado em regime externo nos centros especializados.
A possibilidade de novo internamento dos doentes nestes centros especializados de
reabilitação, deve estar prevista e neste caso específico, ser equacionada através da consulta
externa do próprio centro.
De acordo com os recursos que cada um destes centros possua e não esquecendo a
missão para que foram criados, pode ser estabelecida para a área de ambulatório, uma
articulação com os cuidados de saúde primários da área geográfica onde estão inseridos, num
contexto de proximidade e de cuidados de saúde centrados no cidadão.
A figura seguinte explicita de forma graficamente mais acessível, o modelo proposto e a
articulação que se defende para os intervenientes no mesmo.

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

Modelo para a Rede de MFR

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

EPIDEMIOLOGIA

A Medicina Física e de Reabilitação é uma especialidade médica transversal e tem o seu


enfoque principal na prevenção, tratamento e reabilitação de um grande número de patologias
de diversa natureza, nomeadamente neurológicas, osteoarticulares, músculo-tendinosas,
cardíacas, respiratórias, uro-sexuais, oncológicas, pediátricas, etc.

Envelhecimento da população

Todos os dados demográficos existentes, mostram que a população portuguesa tem


vindo, nas últimas décadas, a sofrer um processo de envelhecimento, o que conduz
inevitavelmente a maiores índices de morbilidade e a uma progressiva perda de funcionalidade.
Estes factos devem obviamente ser considerados nas necessidades atuais e futuras dos cuidados
e serviços de reabilitação.

Fonte INE - Pirâmide Etária

Uma publicação da OMS – “Active Ageing a Police Framework”, datada de Abril de 2002,
já referia que “os programas de reabilitação física que ajudam as pessoas numa faixa etária mais
avançada a recuperar dos problemas de mobilidade são efetivos e custo eficientes”. Referia ainda

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que nesta faixa etária existe um maior risco de dependência na sequência de traumatismos e a
necessidade de períodos de reabilitação mais prolongados.

Patologia neurológica

A patologia neurológica, nomeadamente as doenças cérebro-vasculares, são uma das


principais causas de incapacidade nos países ocidentais, o que pressupõe que os serviços
hospitalares de MFR, os centros especializados de reabilitação, bem como todo o contínuo de
cuidados de reabilitação necessários a estes doentes, sejam em número adequado e estejam
articulados entre si.
Segundo fontes da Direção Geral de Saúde (DGS) - “Doenças cérebro e cardiovasculares
em números, 2015”, no ano de 2014 registaram-se um total de altas hospitalares com os
diagnósticos de acidente vascular cerebral (AVC) isquémico, hemorragia intracerebral,
subaracnoideia e intracraniana de 25 056 e um total de 3 614 óbitos com os mesmos
diagnósticos.

Diagnóstico Principal Utentes Óbitos Demora Day- Demora média


saídos média cases s/DC

Oclusão das artérias cerebrais/AVC 19 797 2 286 12.55 175 12.66


isquémico

Hemorragia intracerebral 3 713 1 068 14.54 65 14.79

Hemorragia subaracnoideia 713 144 18.91 25 19.59

Hemorragia intracraniana NCOP 833 116 13.48 24 13.88

Total 25 056 3 614

Internamentos por doenças cérebro-vasculares


Fonte - DGS, adaptado de: “Portugal – Doenças cérebro-cardiovasculares em números , 2015”

Os dados da European Stroke Organization (ESO) revelam que o AVC tem uma
mortalidade aos 30 dias que varia de acordo com a etiologia, sendo de 8 a 15% nos AVC
isquémicos; de 42 a 46% na hemorragia subaracnoideia e de 48 a 82% na hemorragia
intracerebral.
A incidência do AVC aumenta com a idade, sendo de 15% na faixa etária até aos 50 anos e
de 25% abaixo dos 65 anos.

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

Segundo a National Stroke Association (NSA) e de acordo com dados de 2011, 10% dos
sobreviventes a um AVC recuperam quase na totalidade, 25% recuperam com sequelas mínimas,
40% ficam com deficiência moderada a grave, necessitando de cuidados especializados, 10%
precisam de cuidados a longo prazo justificando institucionalização e 15% morrem no primeiro
mês após o episódio vascular agudo. Igualmente, os dados publicados no Reino Unido, em Janeiro
de 2016, pela Stroke Association, no documento “State of the Nation - Stroke Statistics - January
2016“ são sobreponíveis, ou seja, cerca de 50% dos sobreviventes de um AVC ficam com algum
grau de incapacidade, 33% ficam dependentes de terceira pessoa e a mortalidade aos 30 dias é de
cerca de 12,5%.

Escala de
AVC Ligeiro AVC Moderado AVC Grave
Funcionalidade
MIF > 80 > 40 e < 80 < 40
Barthel > 90 > 55 e < 90 < 55
Classificação da gravidade do AVC de acordo com escala funcional
Fonte – DGS, Adaptado da Norma 054/2011

O estudo referido anteriormente, revela ainda que quase 2% da população (1 em cada 53


pessoas) é um potencial sobrevivente de um AVC e os dados de prevalência no Canadá, em 2013,
da responsabilidade da “Heart and Stroke Foundation Canadian Partnership for Stroke Recovery”
mostram que existiam no país, cerca de 405 000 sobreviventes de AVC com incapacidade (191
000 do sexo masculino e 214 000 do sexo feminino) numa população, à data, de
aproximadamente 35 milhões de habitantes, o que percentualmente aponta para um valor de
1,5%. Este estudo revela ainda que de 2010 para 2013 este número aumentou em 95 000
indivíduos, projectando-se para 2038 um aumento para o dobro relativamente ao número atual, o
que levou o Diretor Cientifico desta Fundação (Dr. Dale Corbett) a afirmar que “existe uma
necessidade critica de encontrar e testar soluções inovadoras para melhorar a recuperação dos
canadianos que vivem com incapacidade pós AVC” e o Diretor Executivo da Network do AVC em
Ontário (Dr. Chris O’Callaghan) a acrescentar que “são necessários investimentos inteligentes nos
serviços de reabilitação e recuperação para assegurar que estas pessoas reconquistem as suas
vidas”.
Em Portugal, de acordo com a NOC 54/2011 sobre o Acidente Vascular Cerebral:
Prescrição de Medicina Física e de Reabilitação, em Portugal, os estudos de incidência (Correia et
al., 2004, na região Norte e Rodrigues, Noronha, & Dias, 2002 na região Oeste), mostraram uma

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

incidência anual, por 1000 habitantes, de 2,69 na cidade do Porto e de 3,05 em Trás-os-Montes e
de 2,40 em Torres Vedras.
Noutro documento da DGS, de 2001 - “Unidades de AVC” refere-se que 3 meses após o
AVC, 24% dos indivíduos tinham ficado gravemente incapacitados, 18,2% tinham ficado com uma
incapacidade ligeira e 30,8% tinham ficado funcionalmente independentes.

A lesão medular pela complexidade de que habitualmente se reveste e pelas suas


consequências devastadoras, nomeadamente no que concerne à autonomia do individuo, conduz
geralmente à imperiosa necessidade de cuidados multidisciplinares de reabilitação. Dados da
Organização Mundial de Saúde (OMS), de 2013 – International Perspectives on Spinal Cord Injury,
revelaram que em cada ano e em todo o mundo, entre 250 000 a 500 000 indivíduos sofrem um
qualquer tipo de lesão vertebro-medular, estimando-se assim uma incidência anual global de 40 a
80 casos por milhão de habitantes, tradicionalmente com valores da ordem dos 90% para a
etiologia traumática, embora a proporção de casos de origem não traumática pareça estar a
aumentar. No mesmo documento da OMS, é também mencionado que o acesso a cuidados
especializados de reabilitação e a serviços de saúde mental para maximizar a funcionalidade,
independência, o bem-estar e a integração na comunidade são absolutamente essenciais.
A maioria dos estudos existentes sobre incidência referem-se à lesão vertebro-medular
(LVM) traumática, com os valores referidos para a Europa, em 2015, a variarem entre cerca de 8.3
por milhão de habitantes na Dinamarca a 33.6 por milhão na Grécia.
Em Portugal não existem estudos consistentes recentes. Um estudo realizado entre 1989
e 1992 na região centro, mostrou uma incidência de traumatismos vertebro-medulares, de 25,4
por milhão de habitantes, considerando os doentes admitidos nos hospitais e excluindo os que
faleceram no primeiro mês após o acidente.
Os défices neurológicos à data da alta, nas LVM, segundo uma publicação (Spinal Cord
Injury Facts, June 2009) de uma organização americana de referência - a Foundation for Spinal
Cord Injury Prevention, Care and Cure, distribuem-se da seguinte forma: 30,1% tetraplegia
incompleta, 25,6% paraplegia completa, 20,4% tetraplegia completa e 18,5% paraplegia
incompleta, com menos de 1% de recuperação completa do deficite neurológico à data da alta,
assistindo-se nos últimos anos a um lento aumento da percentagem de tetraplegia incompleta,
com um também lento decréscimo da paraplegia completa.

Os traumatismos crânio-encefálicos (TCE), têm de acordo com a maioria dos estudos, um


pico de incidência nos jovens, sobretudo na faixa etária compreendida entre os 15 e os 24 anos e
constituem uma patologia de elevadas consequências físicas e psíquicas. Também aqui os estudos

27
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

epidemiológicos são difíceis de obter, pelo que nos baseamos num artigo de revisão publicado na
Acta Médica Portuguesa (“Traumatismo Crânio-encefálico: Abordagem Integrada”; 2012) que
refere uma incidência de TCE de aproximadamente 103 por 100 000 habitantes nos EUA e de 235
por 100 000 na União Europeia, com, neste último caso, uma grande variabilidade entre os
diversos países (de 340 por 100 000 na Alemanha a 101 por 100 000 na Finlândia). Em Portugal e
ainda utilizando um artigo publicado na Acta Médica Portuguesa (“Epidemiologia dos
traumatismos crânio-encefálicos em Portugal”; 2003) é possível constatar que à época, a
incidência encontrada foi de 137 por 100 000 habitantes e concluiu que aproximadamente 1/3
dos indivíduos que são hospitalizados por TCE ficam com algum tipo de incapacidade, dos quais
cerca de 20% com incapacidade grave, o que está de acordo com os dados da literatura
internacional. Assim, em Portugal poderá estimar-se que ocorrerão anualmente mais de 3 700
novos casos de incapacidade resultante de TCE e desses cerca de 750 ficarão com alguma forma
de incapacidade grave, pelo que os números relativos à prevalência poderão atingir muitos
milhares de casos, por se tratar de uma população maioritariamente jovem e com uma previsível
longa sobrevida.

Patologia músculo-esquelética

Na área músculo-esquelética, muitas situações requerem que o processo de reabilitação


se inicie logo no hospital, existindo depois a necessidade de um contínuo de cuidados.
Relativamente a situações do foro cirúrgico e utilizando dados de 2014 da DGS, sobre o
registo para Portugal Continental de 25 procedimentos cirúrgicos, num total de 65 919 casos, os 4
primeiros, listados no quadro seguinte e que dizem respeito a situações que necessitam
inequivocamente de cuidados de reabilitação, corresponderam a 21 869 casos.

Código Descrição Número Percentagem

8154 Substituição total do joelho 6111 9,27%

8151 Substituição total da anca 5770 8,75%

Redução fechada de fractura do fémur com


7915 5486 8,32%
fixação interna

Redução aberta de fractura da tíbia e


7936 4502 6,83%
peroneo c/ fixação interna

Operações no Sistema Músculo-esquelético – Procedimentos Cirúrgicos


Fonte DGS - adaptado do Relatório de Morbilidade Hospitalar SNS – Portugal Continental

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

Ainda referente à patologia músculo-esquelética, além das situações de reabilitação pós-


cirúrgica é de referir a elevada prevalência de patologias deste foro, conforme os dados de
prevalência do “Epireuma.Pt”, que se apresentam no quadro abaixo.
Estas diferentes situações têm em comum o cursarem com dor e limitação funcional e por
isso serem motivo de recurso habitual à Medicina Física e de Reabilitação.

Prevalência Prevalência Prevalência


Geral Mulheres Homens

29.6% 22.8%
Lombalgia 26.4%

12.4% 15.8% 8.6%


Osteoartrose do Joelho

8.7% 13.8% 3.2%


Osteoartrose da Mão

2.9% 3.0% 2.9%


Osteoartrose da Anca

10.2% 17.0% 2.6%


Osteoporose

Patologia Periarticular 15.8% 19.1% 12.0%


(Por ex. Tendinites)
Artrite Reumatoide
0,7% 1,1% 0,3%
1.6%
Espondilartrites 2.0% 1.2%
Dados de prevalência no total e por sexo
Fonte – Epireuma.Pt / Censos 2011/2013

Dor crónica

A dor, principalmente a dor crónica, ou seja, a dor com duração superior a 3 meses ou
que persiste para além do período normal de recuperação, afecta um em cada cinco europeus
adultos e tem um impacto substancial na saúde e na qualidade de vida dos doentes.
Não só tem custos significativos para os doentes, familiares e cuidadores, como também
para os sistemas de saúde e para as economias nacionais.
Em Portugal e de acordo com um estudo conduzido pelo Prof. Castro Lopes, da
Universidade do Porto, cerca de 36% da população adulta portuguesa sofre de dor crónica, sendo
que em aproximadamente metade dos casos (16%) a dor é moderada a forte (superior a 5 em 10,
numa escala numérica).

29
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

Cerca de 50% dos indivíduos com dor crónica referem que a dor afecta de forma
moderada ou grave as suas atividades domésticas e laborais. Estima-se que 4% perderam o
emprego, 13% tiveram que recorrer à reforma antecipada e 17% sofreram de um quadro de
depressão associada.

Prevalência da Dor Crónica a nível Nacional (adultos) 36%

Prevalência da Dor Crónica moderada a grave a nível Nacional (adultos) 16%

Número estimado de adultos com Dor Crónica no país 3


milhões
Doentes com impacto moderado ou grave da Dor Crónica nas atividades ≈50%
domésticas ou laborais
Doentes com perda de emprego associada à Dor Crónica 4%

Doentes com reforma antecipada por causa da Dor 13%

Doentes com diagnóstico de depressão associada à Dor Crónica 17%

Insatisfação com o tratamento da Dor Crónica 35%

Fonte: “Pain proposal; a dor crónica em Portugal”

Para além destes dados, as principais causas de dor são de natureza osteoarticular (40%
dos indivíduos com dor crónica), em que a lombalgia e a patologia degenerativa (osteoartrose)
apresentam elevada prevalência.
O reconhecimento da multidimensionalidade da dor obriga com frequência a uma
abordagem multiprofissional e multidisciplinar.
A Medicina Física e de Reabilitação para além de lidar com inúmeras patologias em que a
dor está presente (ex: dor no doente com AVC, dor no doente amputado, etc.) tem um contributo
particular a dar, não só pelo modelo em que assenta (bio-psico-social), como também pela
abordagem que faz do doente e que está de acordo com todas as modernas recomendações para
o tratamento da dor.
Acresce o facto de para além da indispensável terapêutica farmacológica, a MFR ensina,
domina e aplica, outras terapêuticas – agentes físicos, que atualmente devem fazer parte do
arsenal terapêutico para o tratamento da dor.

30
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

A nível da formação pós-graduada, nomeadamente dos internatos médicos, a MFR é das


poucas especialidades que incluem no seu programa formação específica em dor.

Patologia pediátrica

Na infância verifica-se também a necessidade de recorrer a programas de reabilitação,


sendo a Paralisia Cerebral (PC) a deficiência motora mais frequente com uma incidência de 2,08
por mil nado-vivos na Europa.
Segundo um estudo realizado em Portugal, foram notificados 576 casos, de indivíduos
nascidos em 2001, 2002 e 2003, com respectivamente em cada um destes anos 229, 171 e 176
casos. Apesar da melhoria dos cuidados perinatais e da consequente baixa da mortalidade, tem
existido um aumento relativo de sequelas neurológicas no recém-nascido de pré- termo, com
uma taxa de incidência que é superior aos nascimentos de termo. Cerca de 5 vezes mais, entre as
32 e as 37 semanas de gestação e de 50 vezes mais, entre as 28 e as 31 semanas, sendo que
abaixo das 28 semanas, essa incidência aumenta aproximadamente 70 vezes. Do total de crianças
reportadas neste estudo 84,2% apresentavam um tipo clinico de paralisia cerebral espática
unilateral ou bilateral.

Patologia cardiorrespiratória

Na patologia respiratória, e no que se refere à doença pulmonar obstrutiva crónica


(DPOC) existe indicação conforme NOC, da DGS (nº 28/2011) para programas de reabilitação
respiratória nos doentes com esta patologia e que apresentem: obstruções graves e muito graves
(FEV1< 50%); doentes com obstruções ligeiras e moderadas (FEV1 ≥ 50%) e com limitação da
capacidade de exercício e ainda nos doentes com internamento por exacerbação.
No entanto, de acordo ainda com a DGS (Programa Nacional para as Doenças
Respiratórias – Relatório de análise da capacidade instalada de reabilitação respiratória nos
hospitais do Serviço Nacional de Saúde), apenas uma pequena percentagem (menos de 0.5%) dos
doentes com DPOC e com indicação para reabilitação respiratória, estarão efetivamente a
beneficiar da mesma.
Na patologia cardíaca, o enfarte agudo do miocárdio (EAM) tem sido a patologia para a
qual foram realizados um maior número de programas de reabilitação. Segundo publicação da
Sociedade Portuguesa de Cardiologia, no EAM a intervenção coronária percutânea aumentou
significativamente nos últimos anos, registando-se mais de 300 procedimentos de angioplastia
por milhão de habitantes/ano. Na continuidade desta terapêutica de intervenção, deverá existir

31
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

um programa de reabilitação cardíaca, mas de acordo com os números de 2014, tal acontece
apenas em cerca de 8% dos doentes.
Para além desta patologia, muitas outras do foro cardíaco ou cardio-vascular podem
beneficiar com a realização de programas de reabilitação.

Patologia oncológica

Nesta área, é de referir a importância do edema linfático ou linfedema. Geralmente


secundário a patologias do foro oncológico, principalmente a neoplasia da mama e a neoplasia
pélvica (sobretudo ginecológica). A inexistência de uma terapêutica reconhecidamente eficaz no
tratamento desta entidade e o desconhecimento das opções terapêuticas existentes,
nomeadamente a “terapêutica descongestiva complexa” leva frequentemente à não
referenciação precoce e consequentemente ao agravamento progressivo do quadro clínico.
Acresce que salvaguardando a evolução da patologia de base, a perturbação da circulação
linfática e as suas consequências, são a situação com maior impacto potencial na qualidade de
vida destes doentes.
No documento de consenso da International Society of Lymphology - “The diagnosis and
treatment of peripheral lymphedema”, de 2013, é proposto como primeira opção terapêutica
para o tratamento do linfedema, a terapia física e terapias adjuvantes, com especial realce para a
já referida terapêutica descongestiva complexa.
Num estudo publicado em 2007 é referido que após neoplasia ginecológica, cerca de 25%
dos sobreviventes desenvolveram edema dos membros inferiores, mas apenas em 10% foi
efetuado o diagnóstico clínico de linfedema. A prevalência mais elevada encontra-se nos
sobreviventes de neoplasia vulvar (36%) e a mais reduzida, nos sobreviventes de neoplasia do
ovário (5%).
Não existem dados consistentes da prevalência do linfedema na neoplasia da mama.
Segundo dados publicados pelo National Cancer Institute nos EUA, existem estudos que mostram
uma variabilidade na incidência nos primeiros dois anos após a cirurgia, de 8 a 56%.
Em Portugal e considerando apenas a neoplasia da mama, existiram em 2013, 8 056
registos de alta hospitalar com este diagnóstico. A prevalência estimada de linfedema é de cerca
de 20%. Este número é variável, de acordo com a presença de outros fatores que podem
aumentar a probabilidade da sua ocorrência, como a realização de radioterapia, número de
gânglios excisados, combinação de excisão ganglionar com radioterapia, extensão da cirurgia
(cerca de 30% na mastectomia radical e 10% na cirurgia conservadora). De salientar ainda que
apesar do desenvolvimento do linfedema ser mais frequente no primeiro ano após a cirurgia, esta

32
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

complicação pode surgir vários anos mais tarde, implicando um seguimento clinico continuo,
prática regular na maioria dos nossos hospitais e objeto atual de estudo multicêntrico em vários
serviços hospitalares de MFR em Portugal.
O exercício terapêutico, o condicionamento muscular e a prescrição de produtos de
apoio, são outra das vertentes importantes do contributo da especialidade de MFR nesta área
clínica.

33
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

DEMOGRAFIA E NECESSIDADES PREVISÍVEIS

Introdução

A especialidade médica de Medicina Física e de Reabilitação, de modo a assegurar um


contínuo de cuidados, está ou deveria estar presente em todos os Hospitais, além dos Centros
Especializados em Reabilitação e das Unidades de Cuidados Continuados. A nível dos cuidados
primários a sua quase inexistência é colmatada pelo sector convencionado, no âmbito da
prestação de cuidados de proximidade.

A especialidade de MFR funciona, como repetidamente tem sido referido, em equipa


multiprofissional, pelo que se apresentam neste capitulo os dados demográficos dos principais
intervenientes nesta equipa.

Para além dos dados obtidos através da Ordem dos Médicos (OM) e da Administração
Central dos Serviços de Saúde (ACSS), o grupo de trabalho, fez o levantamento da realidade atual
e identificação dos recursos existentes em todos os serviços de MFR (hospitalares, centros
especializados e institutos de oncologia). Estes questionários foram elaborados em Janeiro de
2016, enviados em 12 de Fevereiro de 2016 e recebidos até final de Março do mesmo ano. Foram
enviados a 47 instituições, tendo-se obtido uma taxa de resposta de 97,9 %. Com base nestes
dados foi possível a construção de uma tabela com as realidades por instituição (anexo I) e a
previsão por região, tema que se aborda a seguir.

Médicos de MFR

Em 2013, segundo dados da OM estariam inscritos no colégio da especialidade 596


médicos, dos quais 428 abaixo dos 61 anos e com a seguinte distribuição etária e por sexo:
TOTAL 61 a 65 anos Mais de 65 anos
HM H M HM H M HM H M
596 244 352 84 36 48 84 41 43
Fonte – Ordem dos Médicos

Este número pode estar sobrevalorizado, porque pode englobar médicos que, por
múltiplas razões (até por falecimento) poderão estar contabilizados e já não estarem no ativo. A

34
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

nível hospitalar a evolução do número de médicos especialistas, no período compreendido entre


2012 a 2014, tem sido pouco significativa, registando-se um maior aumento do número de
internos, conforme o quadro seguinte:

2012 2013 2014


Médico Interno Médico Interno Médico Interno
especialista MFR especialista MFR especialista MFR
252 89 247 111 250 123
Fonte ACSS

A distribuição dos médicos especialistas pelas diferentes regiões é a referida no gráfico


seguinte, estando excluídos nestes dados, os médicos do Centro de Reabilitação do Norte e do
Centro de Medicina de Reabilitação do Alcoitão. Apesar destas instituições serem parte integrante
da rede, têm tutelas externas ao SNS (o primeiro é gerido pela Santa Casa da Misericórdia do
Porto e o segundo pertence à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa). No entanto pelos dados
obtidos através das respostas aos questionários enviados, os números de fisiatras nestes centros
serão de 11 e 22 respectivamente.

Fonte: ACSS – Inventário do pessoal do sector da saúde 2014

No quadro seguinte analisam-se os números atuais dos médicos colocados em serviços de


MFR Hospitalares e Centros Especializados de Reabilitação, utilizando como fonte a ACSS a que se
acrescentaram os números do CRN e do CMRA. Na ARS do Algarve o número de médicos refere-se
aos que estavam no Centro de Reabilitação Sul à data. Para avaliar as necessidades previstas
utilizaram-se como pressupostos os rácios definidos mais adiante.

35
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

Fonte – ACSS

Fisioterapeutas

A atividade do fisioterapeuta “centra-se na análise e avaliação do movimento e da postura,


baseadas na estrutura e função do corpo, utilizando modalidades educativas e terapêuticas
específicas, com base, essencialmente, no movimento, nas terapias manipulativas e em meios
físicos e naturais, com a finalidade de promoção da saúde e prevenção da doença, da deficiência,
de incapacidade e da inadaptação e de tratar, habilitar ou reabilitar indivíduos com disfunções de
natureza física, mental, de desenvolvimento ou outras, incluindo a dor, com o objectivo de os
ajudar a atingir a máxima funcionalidade e qualidade de vida”. (Decreto-Lei nº 564/99, de 21 de
Dezembro).
Os fisioterapeutas desempenham um papel importante na equipa de reabilitação
constituindo o grupo profissional mais numeroso nesta equipa. No período compreendido entre
2012 a 2014, verificou-se um ligeiro aumento do seu número nos serviços hospitalares de MFR.

2012 2013 2014


895 917 943
Fonte ACSS

36
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

A distribuição dos fisioterapeutas pelas diferentes regiões é a referida no gráfico seguinte.


Também em relação a estes profissionais não estão contemplados o número de elementos
existentes no CMRA e no CRN.

Fonte: ACSS

A crescente colocação de fisioterapeutas nos cuidados de saúde primários deverá implicar


uma relação direta com o especialista de Medicina Física e de Reabilitação, podendo esta
interação ser efetuada através dos serviços de MFR do hospital de referência ou do próprio ACES,
se dispuser na sua constituição ou em regime de consultadoria, de médicos especialistas em MFR.

Terapeutas Ocupacionais

O terapeuta ocupacional “capacita para a ocupação de forma a promover a saúde, bem-


estar e qualidade de vida. Entende-se por ocupação tudo aquilo que a pessoa realiza com o
intuito de cuidar de si própria (autocuidados), desfrutar da vida (lazer) ou contribuir para o
desenvolvimento da sua comunidade (produtividade”) - Associação Portuguesa de Terapeutas
Ocupacionais (perfil do terapeuta ocupacional).
A nível hospitalar estão integrados na sua esmagadora maioria nos serviços de MFR,
existindo no entanto, um número, embora reduzido, nos serviços de psiquiatria.
Tal como referido anteriormente impõe-se o mesmo modelo de articulação com a
especialidade de MFR, já mencionado para os fisioterapeutas.
Conforme mostra o quadro seguinte, pode-se constatar um ligeiro aumento do seu
número, no período compreendido entre 2012 e 2014, nos Serviços Hospitalares

37
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

2012 2013 2014


202 211 226
Fonte ACSS

A distribuição dos terapeutas ocupacionais pelas diferentes regiões é a referida no gráfico


seguinte. Também em relação a estes profissionais não estão contemplados o número de
elementos existentes no CMRA e no CRN.

Fonte ACSS

Terapeutas da Fala

O terapeuta da fala é o profissional “responsável pela prevenção, avaliação, intervenção e


estudo científico das perturbações da comunicação humana, englobando não só todas as funções
associadas à compreensão e expressão da linguagem oral e escrita mas também outras formas de
comunicação não verbal; intervêm ainda, ao nível da deglutição” - Associação Portuguesa de
Terapeutas da Fala (perfil do terapeuta da fala).
Os terapeutas da fala, pelo seu perfil, estão integrados principalmente nos serviços de
MFR. Existem no entanto alguns profissionais dispersos por outros serviços, nomeadamente pelos
serviços de Otorrinolaringologia , Neurologia e Pediatria.
Conforme o quadro seguinte pode-se constatar que ocorreu um significativo aumento do
seu número, no ano de 2014, nos serviços hospitalares.

38
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

2012 2013 2014


148 148 226
Fonte ACSS

A distribuição dos terapeutas da fala pelas diferentes regiões é a referida no gráfico


seguinte. Mais uma vez, também em relação a estes profissionais não estão contemplados o
número de elementos existentes no CMRA e no CRN.

Fonte ACSS

Enfermeiros de Reabilitação

Segundo dados da Ordem dos Enfermeiros, publicados pelo INE, no documento


“Estatísticas da Saúde 2014”, existiriam nesse ano um número de 2922 enfermeiros com a
especialidade de enfermagem de reabilitação em Portugal, num universo de 66340 enfermeiros
em actividade.
A distribuição dos enfermeiros de reabilitação por grupo etário encontra-se descrita no
quadro seguinte:

Total Enfermeiros de Reabilitação Menos de 31 31 a 60 61 a 65 Mais de 65


2 922 251 2 526 75 70
Fonte INE IP – “ Estatísticas da Saúde 2014”, com referência à Ordem dos Enfermeiros como fonte

39
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

Nos hospitais existentes em Portugal continental estão colocados 34 397 enfermeiros; 28


949 enfermeiros de cuidados gerais e 5 448 enfermeiros especialistas, sendo que nestes últimos
800 possuem a especialidade de Reabilitação. A nível hospitalar os enfermeiros de reabilitação
encontram-se dispersos por diversos serviços. Nos serviços de MFR existem sobretudo naqueles
que dispõem de sector de internamento.
Por diversas razões, nomeadamente pela ausência de alguns dados e por dificuldade em
saber a exacta colocação de alguns destes profissionais o estudo das necessidades previsíveis não
foi efectuado, pelo risco de incorreção nas conclusões a apresentar.
Estes profissionais, importantes na prestação de cuidados de reabilitação, têm visto o seu
trabalho subvalorizado porque não integrados no conceito de equipa multiprofissional de
reabilitação, devendo desejavelmente ser enquadrados numa política de reabilitação da unidade
de saúde, onde o serviço de MFR deverá desempenhar um papel fulcral.

40
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

CARACTERIZAÇÃO E DEFINIÇÃO DOS DIFERENTES NÍVEIS E MODELOS ORGANIZATIVOS DE SERVIÇOS

Os Serviços de Medicina Física e de Reabilitação devem ser desenvolvidos no sentido de


dar resposta em termos de reabilitação geral e diferenciada, de acordo com a diversidade e
complexidade esperada de patologias e em que a intervenção da especialidade pode interferir
positivamente nos tempos de internamento e na redução das deficiências e incapacidades
resultantes
Devem assim ser considerados como fazendo parte da rede hospitalar de MFR quatro
níveis de serviços hospitalares, correspondendo o quarto nível a hospitais especializados,
nomeadamente os Centros Especializados de Reabilitação IV-a, e as instituições vocacionadas
para um determinado tipo de patologias (exemplo: IV-b para os Institutos Portugueses de
Oncologia).

O anexo II apresenta a proposta de distribuição dos diferentes níveis de Serviços


Hospitalares de MFR, por ARS e as respetivas áreas de influência.

Organização hospitalar

Os hospitais são organizações altamente complexas, imprescindíveis e determinantes nos


cuidados de saúde, mas que ultrapassam este âmbito, dado o impacto que têm nos domínios
social, económico e financeiro.
O desafio de conciliar os custos cada vez mais elevados com a prestação de cuidados
hospitalares de reconhecida qualidade e em respeito pelos princípios da equidade, aos cidadãos e
à sociedade que serve, é cada vez maior.
A existência de novos modelos organizativos, nomeadamente a criação de estruturas de
gestão intermédia, pode ser um caminho para melhorar a acessibilidade e simultaneamente obter
ganhos de eficiência.
A agregação dos “clássicos” serviços de ação médica, em departamentos, por afinidade
nos processos produtivos, nos recursos utilizados e nos procedimentos de gestão, dotados de
efetivo conteúdo funcional e de real autonomia gestionária, pode ser um caminho para atingir
aqueles objetivos.

41
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

Atendendo à missão e especificidades de cada instituição hospitalar, deverá procurar-se


implementar uma arquitetura organizacional inteligente, que combine eficazmente centralização
com descentralização, nomeadamente que possa considerar níveis intermédios quando estes
podem acrescentar valor à organização, mas que não os contemple, de forma artificial, quando
desnecessários.
A M.F.R. pelas suas caraterísticas clínicas, específicas, bem individualizadas e transversais,
deverá por norma, manter o seu padrão de Serviço e não ser artificialmente integrada em um
qualquer departamento, ou então constituir um Departamento de Reabilitação, se as dimensões
e caraterísticas da instituição o justificarem, sendo matéria a abordar ao nível da organização
interna das instituições hospitalares.

SERVIÇOS DE MFR DO GRUPO I

Os Serviços de MFR de Hospitais, Centros Hospitalares, Unidade Locais de Saúde (ULS)


incluídos no Grupo I devem desenvolver-se no sentido de prestarem um serviço mínimo de MFR,
numa lógica de proximidade.
A sua atividade desenvolver-se-á principalmente, através da intervenção:
- no doente internado em condições e patologias não complicadas, muitas vezes na
continuação de cuidados após transferência de unidades hospitalares mais diferenciadas;
- em regime ambulatório na fase subsequente à alta e em patologias que não exijam
internamento prévio, sobretudo na área músculo-esquelética e neurológica e desejavelmente em
articulação com os cuidados de saúde primários.
Estes hospitais devem articular-se diretamente com os hospitais do grupo II da sua área
geográfica e eventualmente com os de grupo III, no caso de internamento e em valências
específicas que os hospitais do grupo II, diretamente relacionados, não consigam assegurar ou dar
resposta efetiva. Na situação específica de internamento e sempre que os serviços de MFR dos
hospitais do grupo III, de referência, não assegurem este tipo de resposta, poderão articular-se
diretamente com os hospitais do grupo IV-a (centros de reabilitação), sempre e exclusivamente
através do médico fisiatra/serviço de MFR do hospital de base.
De acordo com os rácios preconizados pela OMS, considera-se que por cada 100.000
habitantes devem existir 3 a 5 médicos fisiatras, 10 a 15 fisioterapeutas, 3 terapeutas
ocupacionais e 0,25 terapeutas da fala.
Assim, nos Serviços do Nível I, com área mínima terapêutica recomendada de 200m2,
deverá estar contemplado o seguinte quadro mínimo de profissionais:

42
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

“n”
Recursos humanos
1a2 Fisiatras

3a6 Fisioterapeutas

0a1 Terapeutas ocupacionais

0a1 Terapeutas da fala

Serviços de MFR Grupo I

Dependendo da população abrangida e da distância a um centro hospitalar do grupo III, as


Unidades Locais de Saúde nomeadamente aquelas que possam corresponder à área territorial do
distrito é desejável que evoluam para unidades do Grupo II, desde que cumpram os critérios
referidos no ponto seguinte. O mesmo se aplica ao Centro Hospitalar da Cova da Beira, pelas
circunstâncias particulares que apresenta.

SERVIÇOS DE MFR DO GRUPO II

Os Serviços de MFR pertencentes aos Centros Hospitalares e ULS classificados no Grupo II


têm como objetivo prestar cuidados em áreas diferenciadas da MFR, privilegiando a intervenção
sobre o doente internado logo na fase aguda. Cumulativamente prestam os cuidados inerentes
aos Serviços do Grupo I para a sua área de atração. Numa atuação em Rede estes serviços devem
articular a jusante com os cuidados de saúde primários e os hospitais do grupo I da sua área
geográfica e a montante com os hospitais do grupo III, IV-a e IV-b.
É fundamental a articulação com os cuidados de saúde primários devendo o Serviço
constituir-se como consultor para esta área e desenvolver canais de comunicação que permitam a
formação contínua dos profissionais afetos aos ACES e a observação conjunta de doentes. De
igual modo a articulação com a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados deve ser feita
com a desejável inclusão de um médico fisiatra na Equipa de Gestão de Altas.
Se existirem unidades de AVC e/ou unidades de cuidados intensivos, poderá a MFR
partilhar camas noutros Serviços e assim permitir que o doente numa fase subaguda, possa
permanecer internado a efetuar reabilitação, enquanto se encontra por exemplo a aguardar
transferência para os centros especializados de reabilitação ou para unidades de cuidados
continuados.

43
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

Estes Serviços devem igualmente ter um quadro médico de base que permita
constituírem-se como serviço com idoneidade reconhecida pela Ordem dos Médicos para a
formação específica em MFR. Este reconhecimento implicará, dependendo da dimensão do
próprio serviço, de uma maior diferenciação médica em áreas mais específicas.
A nível de recursos humanos considera-se como número mínimo para estes hospitais, os
seguintes:

“n”
Recursos humanos
3a5 Fisiatras

9 a 15 Fisioterapeutas

1a3 Terapeutas ocupacionais

1a2 Terapeutas da fala

Serviços de MFR Grupo II

O espaço físico deve contemplar uma área mínima de 500m2 e englobar sectores
terapêuticos diferenciados de MFR.

SERVIÇOS MFR GRUPO III

Inseridos nos centros hospitalares de maior diferenciação e com quadros clínicos de maior
complexidade, exige-se aos Serviços de MFR do Grupo III uma adequada diferenciação na
prestação de cuidados de MFR ao doente internado e um conjunto de valências alargado que
permitam dar resposta às necessidades inerentes a uma instituição deste nível.

Esta diferenciação deverá compreender a:


- Internamento em Reabilitação, com um número de camas de acordo com a dimensão
do centro hospitalar e correspondente aos rácios abaixo indicados. Os critérios para internamento
nestas camas deverão ser os seguintes: doentes com necessidade de reabilitação e vigilância
médica de 24h; doentes com incapacidade grave e com necessidade de equipa multiprofissional
de reabilitação; doentes instáveis sob o ponto de vista clínico e que necessitem de cuidados
diferenciados de diferentes especialidades médicas.

44
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

- Atividade de Consulta Externa Geral e Diferenciada nas áreas anteriormente referidas


para o grupo II e noutras como por exemplo: reabilitação cardiovascular e respiratória,
reabilitação pediátrica, reabilitação uro ginecológica e sexual, reabilitação de amputados, etc. Aos
serviços hospitalares de MFR do Grupo III é exigida a articulação com os cuidados de saúde
primários para a sua área de influência, como descrito para os hospitais dos Grupos I e II e a
capacidade de responderam, sempre que solicitados, aos serviços de MFR também dos mesmos
grupos. Estes hospitais devem articular com os serviços de MFR dos grupos IV-a e IV-b. Na mesma
região de saúde recomenda-se a articulação dos serviços de MFR, classificados neste grupo, entre
si, de forma a poder existir em algumas áreas oferta de serviços complementares, evitando assim
a desnecessária duplicação de recursos. A relação com a RNCCI deve ser desenvolvida nos moldes
descritos para os hospitais do Grupo II, com o envolvimento direto do serviço de MFR,
nomeadamente com a presença, que se recomenda que seja permanente. de um médico fisiatra
na EGA.
- Idoneidade formativa reconhecida pela Ordem dos Médicos, sendo que nos serviços
inseridos em centros hospitalares universitários deverá existir um claro investimento na
articulação entre as áreas clínica e académica, através da participação na formação pré e pós-
graduada e em atividades de investigação.
Como base de referência, considera-se que um serviço de MFR, integrado num hospital com
400-500 camas, deverá ter uma área mínima de 1000 m2, com facilidade de acesso, sem barreiras
arquitetónicas e uma enfermaria que corresponda desejavelmente a 1 a 3% das camas totais da
unidade hospitalar. Esta proposta resulta da constatação da realidade hospitalar atual (tendo por base
os inquéritos enviados) e da evolução do número e da tipologia de doentes internados que se tem
verificado ao longo do tempo. Os dados referidos na anterior rede de 2002 apontavam já nesta mesma
direção. O tempo médio indicativo de internamento deverá ser de 30 dias, dado ser este a duração
consensualmente atribuída à “patologia aguda”, pressupondo-se a adequada articulação com os
centros especializados de reabilitação e com os cuidados continuados, de acordo com o modelo
preconizado nesta rede. Os critérios de internamento devem ser clinicamente definidos por cada
instituição e dependentes da resposta dada pelos centros especializados e pela RNCCI, colocando
sempre em primeiro lugar o superior interesse do doente e de acordo com as boas práticas clinicas.
Os recursos humanos mínimos que devem integrar um serviço de MFR num hospital com 400
a 500 camas, encontram-se descriminados no quadro abaixo:

45
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

“n”
Recursos humanos
6 a 9* Fisiatras

15 Enfermeiros (50% de reabilitação)

18 a 27 Fisioterapeutas

4a6 Terapeutas ocupacionais

2a4 Terapeutas da fala

2a3 Secretárias Clínicas

12 Auxiliares de acção médica

1 Assistentes Sociais

1 Psicólogos

Serviços de MFR Grupo III

* O numero mínimo de 6 fisiatras, propostos no Quadro II resulta do pressuposto de que um a


dois se destinam ao internamento do próprio serviço, com uma taxa de ocupação de 85%, dois à
consulta externa, técnicas e outras intervenções da especialidade numa base de 5 000 consultas
por ano, dois preferencialmente no apoio às restantes enfermarias do hospital e um para
desempenhar as funções de coordenação.
Alguns serviços de MFR, pelo tipo de patologias a que predominantemente se dedicam,
devem garantir serviços nas 24 horas, o que pressupõe o funcionamento por turnos e recursos
humanos suficientes.
Os serviços integrados em centros hospitalares universitários, devem prever o reforço
destes quadros.

SERVIÇOS MFR GRUPO IV-a - CENTROS ESPECIALIZADOS DE REABILITAÇÃO

A presente rede de referenciação considera fundamental para a melhoria dos cuidados de


reabilitação em todo o território nacional que a articulação dos centros especializados de
reabilitação seja primordialmente efetuada com os serviços hospitalares mais diferenciados
(grupos II e III).

46
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

Com a recente criação (2014) do Centro de Reabilitação Norte (CRN), o território


continental passou a contar com quatro centros especializados de reabilitação. A região de Lisboa
e Vale do Tejo dispõe da unidade mais antiga (1966) e da única que não pertence ao SNS – Centro
Medicina Reabilitação de Alcoitão (CRMA). O acordo existente, desde 2010, entre a ARS LVT e o
CMRA veio ultrapassar esta circunstância e permitir dar resposta à população desta zona
geográfica. Impõe-se naturalmente a sua continuação. As regras e os critérios para internamento,
que lhe estão subjacentes, constituem um modelo que poderá servir de base à desejável
uniformização, a que todos os centros deverão obedecer.
Aos centros especializados de reabilitação, é exigida uma estrutura que permita uma
reabilitação intensiva, ativa e dinâmica. Para além das condições exigidas aos serviços de MFR do
Grupo III devem dispor de instalações, equipamentos e recursos humanos que promovam a
integral reabilitação do individuo e em que o programa de reabilitação instituído tenha por
finalidade, sempre que possível, a sua plena reintegração familiar e socioprofissional. São por isso
importantes o desenvolvimento de áreas como: o desporto adaptado, a readaptação à vida
domiciliária e familiar e a integração no meio escolar e profissional.
Os doentes a internar nos centros de reabilitação, quando provenientes do SNS devem
única e exclusivamente ser referenciados pelos serviços de MFR do Grupo II e III e IV-b incluídos
nesta Rede. Sabendo-se que quanto mais precoce for a integração num programa de reabilitação
intensivo maiores serão as hipóteses de sucesso em termos funcionais, devem estes centros ter
uma capacidade instalada, que lhes permita responder de forma prioritária e atempada às
solicitações que lhes sejam efetuadas pelos serviços de MFR hospitalares.
Encontrando-se estes centros em áreas geográficas mais ou menos afastadas dos grandes
centros urbanos considera-se que para cada um deles, deverá existir um protocolo de
referenciação com um centro hospitalar do grupo II ou III, de forma a estarem aptos a responder
a possíveis agudizações dos quadros clínicos.
Reconhecidos pela Ordem dos Médicos e com idoneidade para a formação específica em
MFR, de igual modo aos centros de reabilitação cabe a responsabilidade de participarem em
projetos de investigação nacionais e internacionais, articulando-se com centros universitários de
ciência básica e de investigação clínica, com o objetivo de desenvolver e trazer inovação a esta
área da saúde.
Relativamente aos recursos humanos, considera-se como base de referência um médico
fisiatra para 10 doentes internados, pelo que para um valor médio de 80 doentes internados e 40

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em regime de hospital de dia, estes centros devem dispor, no mínimo, dos recursos humanos
abaixo referidos

“n” Recursos humanos

8 a 10 Fisiatras

42 Enfermeiros (30% de Reabilitação)

24-30 Fisioterapeutas

12 a 15 Terapeutas Ocupacionais

8 a 10 Terapeutas da fala

42 Assistentes Operacionais

1 Ortoprotésico (ou c/apoio)

1a2 Dietistas

3a4 Psicólogos

2a3 Assistentes Sociais

2 Farmacêuticos

2 Técnicos de Farmácia

Centros Especializados de Reabilitação Grupo IV-a

Estes números poderão ter de ser ajustados em função da atividade em ambulatório e da


existência de camas de reabilitação em idade pediátrica. Nesta última situação aconselha-se
também a existência de professor do 1º/2º ciclo.

Para além daqueles profissionais e da indispensável consultadoria de várias


especialidades médico-cirúrgicas nomeadamente: cardiologia, cirurgia plástica, medicina interna,
ortopedia e urologia, será desejável assegurar o apoio nas seguintes áreas:

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1 Professor Desporto Adaptado

1 Técnico de Emprego ou Ergonomia

1 Técnico de Engenharia Biomédica

1 Animador Recreativo ou Sociocultural

Idealmente junto dos centros de reabilitação, deverão existir outras estruturas, não
medicalizadas, como sejam residências para pessoas portadoras de deficiência e acamados, bem como
estruturas de readaptação e reabilitação profissional e de desporto adaptado.

SERVIÇOS MFR GRUPO IV-b

Os serviços de MFR integrados nos Institutos Portugueses de Oncologia (IPO), aqui


denominados de hospitais especializados de nível IV-b, deverão articular com os hospitais de nível
I, II, III e centros especializados, de acordo com a área geográfica que abrangem.

Estes serviços deverão ter a dimensão mínima anteriormente referida para os hospitais do
grupo I e idealmente a preconizada para os do grupo II. Estão vocacionados para o
acompanhamento dos doentes do foro específico e no caso particular dos IPO, na área
oncológica, nas fases pré e pós-cirúrgicas e de tratamentos complementares, como sejam os
ciclos de quimioterapia e de radioterapia.
Tendo em conta o bem-estar do doente e a sua qualidade de vida, devem os doentes ter
a possibilidade de ser referenciados para as estruturas hospitalares das respectivas áreas de
residência, de modo que a continuação de cuidados de reabilitação possa ser efetuada com o
maior conforto possível.

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REABILITAÇÃO PEDIÁTRICA

A necessidade de fazer uma referência particular à reabilitação pediátrica prende-se com as


particularidades deste grupo etário e com as exigências que lhe são inerentes.
A criança é um ser com características próprias, ligadas ao seu desenvolvimento e cujas
especificidades devem ser levadas em consideração no seu processo de reabilitação, não devendo
ser considerado um adulto em miniatura.
A intervenção da reabilitação pediátrica deverá ser centrada na criança e na
família/cuidador, prevenindo, habilitando e reabilitando no âmbito da saúde, educação e acção
social.
A unidade de trabalho assenta no núcleo familiar ou cuidador da criança com deficiência,
em torno da qual deverão agir de modo sequencial e evolutivo os diferentes intervenientes no
processo de reabilitação, enquadrados em equipa.
Compete à equipa de reabilitação pediátrica estabelecer um plano de reabilitação, que
contemple as diferentes vertentes do desenvolvimento global da criança - motor, sensitivo,
sensorial, socio-afectivo e familiar, sendo responsável pela adequada execução do mesmo.
Além dos médicos fisiatras e dos terapeutas (fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e
terapeutas da fala) que habitualmente fazem parte das equipas de reabilitação, há ainda a
considerar outros elementos, nomeadamente os enfermeiros de reabilitação, psicólogos,
assistentes sociais, educadores de infância, técnicos de psicomotricidade e técnicos orto
protésicos.
A coordenação destas equipas de cuidados de reabilitação pediátrica deve ser realizada,
por médico fisiatra com experiência nesta área.
O espaço actualmente dedicado à reabilitação pediátrica é ainda exíguo, mesmo nos
hospitais dedicados principalmente à assistência materno-infantil. Apenas alguns hospitais gerais
dispõem de unidades especiais dedicadas a esta área. Outros há, que dispondo apenas de
reabilitação para adultos, tentam dar o apoio possível, com naturais limitações, quer em termos
de espaço, quer em termos técnicos e humanos.
Os centros especializados de reabilitação, que não cobrem na totalidade todas as faixas
etárias em idade pediátrica, apesar de disporem de camas para internamento e recursos
dedicados, não respondem completamente às necessidades existentes.

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

Actualmente é consensual, quer na Europa, quer nos Estados Unidos, que as boas práticas
no âmbito da MFR, no que diz respeito á reabilitação pediátrica, estabelecem que o internamento
em idade pediátrica só se justifica ao longo do processo de reabilitação em condições muito
específicas, conseguindo-se obter ganhos significativos a diferentes níveis, com a aplicação dos
programas adaptados às várias patologias, em regime ambulatório.
Assim na área do ambulatório importa considerar que a realidade existente é constituída
por:
- Serviços de M.F.R. hospitalares, que apesar do trabalho especializado e tecnicamente
diferenciado, estão vocacionados para uma intervenção principalmente na fase aguda e subaguda
das múltiplas patologias.
- Serviços ou consultas de reabilitação pediátrica existentes nos centros especializados de
reabilitação, mais vocacionados para uma fase subsequente, quer em regime de internamento
(nem todas as faixas etárias), quer em regime ambulatório.
- Serviços prestados por outras entidades, nomeadamente pelos centros de paralisia
cerebral. Estes centros apresentam no entanto diversos modelos de organização, de acordo com
tutelas diferenciadas, tendo vindo a deixar progressivamente de dar resposta adequada a estes
doentes, entre outras razões, por diminuição dos recursos humanos.
- Clínicas de reabilitação convencionadas, que não estão na maioria dos casos vocacionadas
para o tratamento das patologias pediátricas mais complexas.
Não podemos deixar de reflectir na discrepância existente no que concerne à oferta de
cuidados de reabilitação pediátrica, em estruturas diretamente dependentes do SNS e ao peso e
papel dominante que outros sectores da saúde (principalmente o sector social) possuem nesta
área.
Esta situação poderá e deverá ser ultrapassada através da uniformização dos critérios para
internamento e/ou ambulatório nos centros especializados de reabilitação, sobretudo em
patologias mais complexas, a saber:
 Paralisia cerebral
 Doenças neuromusculares
 Sindromas polimalformativos
 Traumatismos crânio-encefálicos
 Lesão vertebro-medular
 Espinha bífida
 Patologia músculo-esquelética grave

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 Patologia neurológica grave


 Atraso de desenvolvimento psico-motor

Os serviços hospitalares de MFR devem constituir o eixo central de referenciação, tal como
previsto para as outras faixas etárias. Estes serviços, para além da articulação dentro da própria
instituição com os serviços de pediatria e exteriormente com os cuidados de saúde primários,
deverão também funcionar como elo de ligação com os centros especializados de reabilitação.
O objetivo a atingir deverá ser sempre a oferta de cuidados de reabilitação de qualidade às
crianças com deficiência, desde a fase aguda até à integração familiar, escolar e social, permitindo
um adequado seguimento longitudinal das mesmas, prevenindo o agravamento das deformações
e optimizando o potencial remanescente.
É premente a necessidade de informação no que respeita ao conhecimento quantitativo
das patologias incapacitantes na criança, pelo que a informação epidemiológica baseada em
registos nacionais é fundamental. À semelhança do que tem sido feito para a paralisia cerebral,
recomenda-se a implementação de registos nacionais de patologias graves - lesão medular
(congénita ou adquirida), queimados, traumatizados crânio-encefálicos, malformações congénitas
e doenças neuromusculares.
A carência de técnicos especializados (médicos, terapeutas e outros) que se verifica nesta
área da reabilitação, deve fazer com que os serviços hospitalares (principalmente do grupo III) e
os centros especializados de reabilitação tenham uma particular atenção com os aspectos
formativos, pré e pós-graduados, alargada a médicos de família, médicos hospitalares,
enfermeiros e técnicos auxiliares de diagnóstico e terapêutica.
As ajudas técnicas, agora designadas por produtos de apoio, têm uma importância
acrescida na criança, podendo considerar-se duas funções distintas na sua utilização:
- estimulação do desenvolvimento, como parte imprescindível do tratamento (ex:
ortóteses de estabilização dos membros inferiores para estimulação do desenvolvimento da
marcha);
- manutenção e suporte (ex: ortóteses para estabilização da coluna vertebral, nas
alterações da estática).
A legislação existente e a desenvolver sobre esta matéria, deverá, tal como para os
adultos, permitir a atribuição em tempo útil dos equipamentos necessários ao processo de
reabilitação e à reintegração destes doentes. A vasta experiência dos serviços de reabilitação,
pode e deve ser aproveitada para a criação de consultas/centros de avaliação, prescrição e

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adaptação de diferentes ajudas técnicas, aos doentes acompanhados nas diferentes instituições.
Poderá justificar-se o estabelecimento de protocolos, com outras instituições de saúde, de
educação ou sociais, sempre que necessários.
Os serviços de MFR dos hospitais do grupo III (alguns do grupo II, de acordo com as
realidades locais) e os centros especializados de reabilitação, deverão cativar espaço próprio para
consultas e tratamentos na área da reabilitação pediátrica, com equipamento e recursos humanos
adequados à dimensão da instituição em que estão inseridos.

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REABILITAÇÃO GERIÁTRICA

O envelhecimento consiste no declínio progressivo e universal da reserva funcional e dos


mecanismos que permitem a adaptação ao ambiente, de um organismo ao longo do tempo, com
uma crescente probabilidade de doença e morte.
Trata-se de um processo fisiológico que se caracteriza por grande heterogeneidade, quer
a nível do órgão, quer a nível do indivíduo.
Convém enfatizar que envelhecimento não é sinónimo de doença. Existem doenças
relacionadas com o envelhecimento, mas que são entidades nosológicas em si mesmo. O mesmo
quer dizer que existem especificidades próprias desta etapa, tal como acontece na fase inicial da
vida.
A definição de idoso para a OMS compreende os indivíduos com idade igual ou superior a
60 anos.
Existe no entanto uma grande influência do meio socioeconómico em que o indivíduo
está inserido, pelo que nos países desenvolvidos, aquele limiar passa para os 65 anos. Verifica-se
que a diversidade e variabilidade existente nesta faixa populacional é muito grande, pelo que os
critérios de “classificação” e mesmo os cuidados devem assentar mais em critérios biológicos, que
em critérios cronológicos.
Quer isto dizer que os indivíduos idosos não são obviamente todos iguais e que
envelhecem a diferentes ritmos. É possível identificar subgrupos, tendo surgido até na literatura
internacional, designações próprias para operacionalizar este conceito - “old age” (65 - 75 anos),
“very old age” ( 75 - 85 anos) e “oldest age“ (acima de 85 anos).
Deve no entanto, ter-se em atenção os dados da OMS que referem que a população
mundial acima dos 60 anos irá passar de 12% para 22% entre 2015 e 2050 e o envelhecimento
cresce mais rapidamente na Europa onde a idade da média da população é a mais alta do mundo
e onde se prevê um crescimento da população acima dos 65 anos de 14% para 25% de 2010 para
2050.
A nível nacional os dados do INE (publicação de 2015 – Destaque/Informação à
Comunicação Social de 10/07/2015) referem que no conjunto dos 28 estados membros, Portugal
apresenta o 5º valor mais elevado do índice de envelhecimento.

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Na figura seguinte é bem evidente a modificação da estrutura demográfica da população


portuguesa, entre 1950 e 2001.

Os dados do INE (publicação de 2015 – Destaque/Informação à Comunicação Social de


10/07/2015) referem que no conjunto dos 28 estados membros, Portugal apresenta o 5º valor
mais elevado do índice de envelhecimento.

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

Dados também do INE, sobre os modelos de previsão demográficos da evolução da


população portuguesa, entre 2008 e 2030 – 2060, mostram o envelhecimento progressivo que é
esperado.

O envelhecimento pressupõe políticas de saúde e sociais adaptadas às exigências do idoso


para que viva com dignidade e mantenha a sua autonomia e qualidade de vida. O contexto,
ambiental, social e económico e a participação familiar, assumem aqui uma maior dimensão,
influenciando a funcionalidade e o programa de reabilitação na sua conceção, evolução e na
opção das unidades onde estes cuidados deverão ser prestados.
A intervenção médica nesta faixa etária deve pois assentar sempre numa intervenção
multidisciplinar.
A Reabilitação Geriátrica tem particularidades específicas, porque o indivíduo idoso
apresenta habitualmente problemas próprios, resultantes de múltiplas patologias, polimedicação,
maior prevalência de doença crónica, diminuição da funcionalidade, alterações sensoriais,
cognitivas e nutricionais.
A acessibilidade aos cuidados de MFR tem aqui particular relevo e nunca é de mais referir
a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência que foi adotada na Assembleia Geral
das Nações Unidas em Nova Iorque em 2006 e entrou em vigor em Março de 2008, tendo
Portugal sido um dos 127 países que aprovou este documento, assinando-o na Assembleia da

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

República a 30 de Março de 2007 e onde no art. 25º é referido que: ”Os Estados Partes
reconhecem que as pessoas com deficiência têm direito ao gozo do melhor estado de saúde
possível sem discriminação com base na deficiência. Os Estados Partes tomam todas as medidas
apropriadas para garantir o acesso às pessoas com deficiência aos serviços de saúde que tenham
em conta as especificidades do género, incluindo a reabilitação relacionada com a saúde”.
A educação do idoso e do seu cuidador, parte dos cuidados de reabilitação é também
cada vez de maior importância nas pessoas com dependência e idosos, e justifica-se a criação de
uma rede estruturada.

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

INDICADORES DE QUALIDADE

Ao falarmos de Indicadores de Qualidade em Saúde, referimo-nos a medidas que possam


contribuir para avaliar um processo ou resultado, num determinado sector ou numa determinada
área da saúde.
Em relação à Rede de Referenciação Hospitalar de Medicina Física e de Reabilitação
definimos dois grupos de Indicadores de Qualidade: indicadores gerais, relacionados sobretudo
com o número e a carga horária dos recursos humanos e indicadores específicos, relacionados por
um lado com o equipamento (camas) e por outro, com aspetos relacionados com a organização.

GERAIS
Recursos Humanos:

 Número de médicos por serviço e por ETC;


 Número de técnicos (fisioterapeutas/terapeutas ocupacionais/terapeutas da fala) por
serviço e por ETC;
 Número de enfermeiros de reabilitação por serviço e por ETC.

ESPECÍFICOS

Equipamentos:

• Número de camas de internamento de reabilitação nos serviços hospitalares de grupo III.


• Número de camas nos centros especializados de reabilitação – grupo IV-a.

Organização:

 Taxa de ocupação no internamento;


 Demora média no internamento;
 Demora média desde a referenciação à admissão no internamento;
 Número total de consultas;
 Número de primeiras consultas;
 Taxa de primeiras consultas;
 Demora média para a primeira consulta;
 Demora média para admissão em plano de tratamento após a consulta.

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

O estabelecimento de indicadores de natureza clínica, quer através da aplicação de


sistemas de classificação – exemplo: Classificação internacional da Funcionalidade (CIF), quer
através de escalas funcionais – exemplo: Barthel e “Medida Incapacidade Funcional” (MIF),
adaptadas às diversas patologias e reconhecidas e aceites nacional e internacionalmente, deve ser
uma tarefa a incentivar e a aprofundar nos próximos anos.
O desenvolvimento de outros Indicadores de qualidade, pode ser variável em função dos
diferentes contextos e das dinâmicas socioeconómicas. A instituição de certificações de qualidade
deve ser um desígnio de todas as estruturas discutidas nesta Rede, de acordo com o plano de
actividades e de desenvolvimento das unidades onde estão integradas.

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

FORMAÇÃO, INVESTIGAÇÃO, ACREDITAÇÃO

Formação em M.F.R.

A formação em Medicina Física e Reabilitação encontra-se estabelecida através de


portaria publicada em 2012 (Portaria nº 121/2012).
Relativamente a 2002 verificaram-se algumas alterações substanciais no que diz respeito
á formação pós-graduada, a saber:
- Passou a existir uma única fase de formação, designada por Internato Médico,
constituído por um período inicial comum às várias especialidades, com a duração de 1 ano (Ano
Comum), seguido por um período de 5 anos de formação específica;
- Não só a duração (aumento de 1 ano), como também os conteúdos programáticos foram
profundamente alterados. Pretendeu-se dotar o médico especialista nesta área médica de uma
sólida formação em Medicina Interna e simultaneamente acompanhar os progressos científicos e
tecnológicos, nomeadamente em “novas áreas de intervenção” e equiparar a formação aos
melhores padrões internacionais, indo ao encontro das recomendações da União Europeia dos
Médicos Especialistas (UEMS).
No período compreendido entre 2002 e 2012, em que estão disponíveis dados
suficientemente robustos, o número de especialistas a exercer no SNS, passou de 232 para 239
(taxa positiva de 3%).
No final deste período, o peso dos especialistas com idade superior a 50 anos, era de
cerca de 51% e encontravam-se em formação 82 internos, correspondendo a uma taxa de
substituição de 34%.
No período compreendido entre 2011 a 2016, inscreveram-se 105 novos médicos
especialistas no Colégio de MFR da Ordem dos Médicos. De acordo com o atual número de vagas
anuais para a frequência do internato de formação específica nesta área, prevê-se que a partir de
2018 sejam formados 20 a 25 novos médicos especialistas por ano.

A formação atual pode ser efetuada em locais com idoneidade formativa reconhecida
pela Ordem dos Médicos e que se encontra explicitada na figura seguinte:

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

Investigação em M.F.R.

A investigação em MFR tem especificidades próprias relacionadas com a sua área de


intervenção. Apresenta particular relevância, sobretudo numa altura em que a um aumento dos
custos com os serviços de reabilitação, tenderá também a aumentar a pressão sobre os
prestadores de cuidados, no sentido da restrição da despesa e da demostração da eficiência dos
cuidados prestados.

As áreas de investigação que se perspectivam como mais relevantes são entre outras, as
que se relacionam com a epidemiologia da incapacidade, a comprovação da eficácia das
intervenções e das terapêuticas em reabilitação, as novas tecnologias e as que estão orientadas
para a medicina baseada na evidência científica.

61
RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

Será com base na investigação e nas evidências geradas, que se poderão estruturar os
modelos de intervenção e justificar as opções mais adequadas a tomar.

Acreditação em MFR

A medição das intervenções, os registos e a documentação dos resultados têm um papel


importante na avaliação dos ganhos de funcionalidade e de qualidade de vida e serão necessários
como indicadores de eficácia dos serviços prestados na área da reabilitação.
Ao aumento dos encargos com a reabilitação, o financiamento dos serviços prestados será
também mais exigente, pelo que em alguns países a acreditação, sobretudo das unidades de
internamento tem sido uma exigência ou um factor de elegibilidade para a sua aceitação.
Apresenta simultaneamente um impacto positivo junto dos diversos intervenientes, desde os
utentes aos referenciadores e também às entidades financiadoras.
Dado não haver atualmente nenhum instrumento nacional de medida, específico para a
Medicina Física e de Reabilitação, a acreditação e a certificação em MFR poderá enquadra-se sob
diferentes formas ou modalidades, nomeadamente através de certificações nacionais (ex: APCER-
ISO9001 e SGS/ICS-ISO9001) ou internacionais, como a acreditação e certificação pela “Joint
Comission”, “Agencia de Calidad Sanitaria de Andalucia (ACSA)”, “King´s Fund” ou mesmo pela
“Commission on Accreditation of Rehabilitation Facilities” (CARF) - específica para unidades de
MFR, até à acreditação e certificação de recursos humanos e de programas específicos para
determinadas patologias, de acordo com instrumentos e medidas desenvolvidas localmente por
cada entidade.
Pelas razões apontadas é desejável que os serviços hospitalares e os centros
especializados em reabilitação, não percam de vista estes objetivos (alguns já os têm realizado),
que em muito poderão contribuir para reforçar a sua qualidade, a sua reputação e atá a sua
competitividade, devendo as respetivas instituições e as entidades que as tutelam criar as
condições para que isso possa acontecer.

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

UNIVERSO DA REABILITAÇÃO

O direito à proteção da saúde encontra-se consagrado constitucionalmente como um


direito social fundamental e é concretizado na lei através de um serviço nacional de saúde
universal e geral.
A nossa Constituição não perfilhou um modelo de monopólio do sector público na
prestação de cuidados de saúde, prevendo a possibilidade de existência de um sector privado da
prestação dos cuidados de saúde em relação de complementaridade e até de concorrência com o
sector público.
Importa por isso analisar ainda que sumariamente, o papel que cada um dos diversos
sectores – público, privado e social, tem tido no universo da prestação de cuidados em
reabilitação.

Sector público

O sector público, assente sobretudo nos serviços hospitalares, tem desempenhado um


papel essencial na prestação de cuidados especializados e tecnicamente diferenciados,
principalmente nas situações em fase aguda e subaguda.
A atuação precoce na situação de doença ou acidente e o papel fundamental como eixo
central nos cuidados de reabilitação, recomendam a adequação destes serviços, em termos de
recursos humanos e técnicos, às diferentes realidades institucionais e geográficas.
A necessidade de camas nesta fase de cuidados, a desejável articulação com os cuidados
primários e com os centros especializados, bem como a melhoria e optimização da capacidade
instalada, deverão ser um objectivo a perseguir nos próximos anos.
Parece ser atualmente consensual, que o SNS desempenha um papel fundamental na
nossa sociedade, como fator de progresso, desenvolvimento e até de coesão social. A Reabilitação
não é exceção e até pela previsível crescente necessidade nesta área, parece ser recomendável o
reforço deste sector.

Sector privado

O sector privado tem desempenhado um papel meritório, não só pela sua dimensão, mas
sobretudo pela efectiva prestação de cuidados nesta área da saúde, assente sobretudo numa
lógica de proximidade geográfica e de cobertura do território continental.

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

A Lei de Bases da Saúde (Lei nº 28/90, de 24 de Agosto), estabeleceu que os “cuidados de


saúde são prestados por serviços e estabelecimentos do estado, ou sob fiscalização deste, por
outros entes públicos ou por entidades privadas, sem ou com fins lucrativos, sendo que para esse
efeito o Estado, ou mais especificamente o Ministério da Saúde, celebra acordos com entidades
privadas para a prestação de cuidados e apoia e fiscaliza a restante actividade privada na área da
saúde.”
Por sua vez, o estatuto do Serviço Nacional de Saúde, aprovado pelo decreto-Lei nº 11/93,
de 15 de Janeiro, define o SNS como sendo um “conjunto organizado e hierarquizado de
instituições e de serviços oficiais prestadores de cuidados de saúde, funcionando sob a
superintendência ou tutela do Ministro da Saúde”. O estatuto do SNS prevê no entanto, para
além dos estabelecimentos que integram o SNS, a possibilidade de celebração de acordos com
entidades privadas para a prestação de cuidados de saúde, nomeadamente através do
estabelecimento de convenções.
As convenções têm por objecto a prestação de cuidados de saúde com fins de promoção
da saúde, de prevenção, de diagnóstico e terapêutica da doença e de reabilitação, não devendo
pôr em causa o racional aproveitamento da capacidade instalada do sector público, nem
prejudicar a acessibilidade do cidadão.
Este sector, é caracterizado pela existência de numerosas unidades, geralmente de
pequena dimensão, cuja oferta é muitas vezes limitada a algumas áreas de intervenção: consulta
de fisiatria e tratamentos de fisioterapia, terapia ocupacional ou terapia da fala. O financiamento
destas unidades privadas de saúde, depende maioritariamente de acordos estabelecidos com o
estado (convenções) ou com outros subsistemas de saúde e seguradoras.
De acordo com dados da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), cerca de 65% das unidades
privadas assentam o seu funcionamento no “modelo convencionado”.
A importância que este sector tem tido quer na obtenção de ganhos em saúde, quer pelo
seu valor social e económico intrínsecos, associada no entanto nos últimos anos a alguma
disfuncionalidade e rigidez do sistema e a modelos de financiamento provavelmente
desajustados, recomendam que de forma ponderada e refletida, este seja repensado e
reequacionado.

Sector social

O chamado sector social, regulado pelo Decreto-Lei nº 402/85, de 11 de Outubro, define


as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) como as instituições que são constituídas

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

sem fins lucrativos e que podem ter entre outros (no âmbito da saúde) objetivos de índole
educativa, preventiva, curativa ou de reabilitação.
Na área da reabilitação, este sector é em termos de dimensão, de acordo ainda com
dados da ERS, semelhante ou ligeiramente superior ao sector público.
Deve merecer especial realce, a capacidade instalada de internamento, que é superior a
metade da lotação total proporcionada pelo conjunto dos prestadores do Sistema Nacional de
Saúde.
Qualquer destes dois sectores – privado e social, devem ser considerados parceiros
válidos e complementares ao SNS, quer no âmbito do ambulatório (nomeadamente o sector
privado), quer no âmbito do ambulatório/internamento (sector social), cuja relação com o sector
público deve ser melhorada e melhor regulada.

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PRODUTOS DE APOIO

A definição de um programa de reabilitação implica muitas vezes a prescrição de produtos


de apoio que possam facilitar/compensar ou substituir uma determinada função, corrigir posturas
viciosas ou substituir ausências totais ou parciais de membros, de forma a minorar as
incapacidades e facilitar a participação.
De acordo com a legislação em vigor a prescrição de produtos de apoio é regulada pelos
Decreto-Lei nº 93/2009, de 16 de Abril, alterado pelo Decreto-Lei nº42/2011, de 23 Março que
criou o Sistema de Atribuição de Produtos de Apoio (SAPA), pela Portaria nº 192/2014, de 26 de
Setembro que regula a criação e manutenção da Base de Dados de Registo do SAPA e mais
recentemente pelo Despacho nº 7197/2016, de 1 Junho, do Instituto Nacional para a Reabilitação
I.P. (INR), que aprova a lista de produtos de apoio suscetíveis de serem prescritos.
A possibilidade de prescrição de produtos de apoio deve fazer parte integrante da
consulta de Medicina Física e de Reabilitação pelo que todos os serviços de MFR devem dispor
dos meios informáticos, ou outros, que sejam ou venham a ser necessários, de forma a permitir a
prescrição. Devem ser criados mecanismos internos em cada instituição hospitalar que permitam
a agilização de todo o processo de consulta às empresas fornecedoras, a escolha e a posterior
entrega ao doente.
A entrega em tempo útil torna-se fundamental não só para a reabilitação clinica, motora e
funcional do doente, mas sobretudo para evitar a desadequação da prescrição, sobretudo em
idade pediátrica, ou em situações em que por ausência do produto de apoio o individuo fica
limitado na sua participação social. Neste contexto, é fundamental que as entidades
competentes, responsáveis pela regulação e pelo financiamento nesta área, agilizem os
procedimentos de natureza administrativa, para que cada instituição possa proceder à entrega
atempada deste tipo de produtos.
Considera-se que no âmbito dos serviços hospitalares de MFR e de acordo com as
especificidades próprias dos mesmos, nomeadamente do tipo de patologias predominantes ou
em que se constituem como centros de “referência”, podem e devem ser criados mecanismos
internos de validação da prescrição que possibilitem uma adequada gestão dos recursos
disponíveis e permitam simultaneamente uma melhor equidade e acessibilidade aos produtos de
apoio, por parte dos cidadãos que deles necessitam.

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RNEHR MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

A direção dos serviços de MFR deve ter condições para instituir uma verdadeira política
de prescrição e fornecimento de produtos de apoio. Deve ainda liderar ou delegar competências
sobre o processo de escolha do produto prescrito e o médico prescritor deve, no âmbito da
consulta, assegurar-se que o produto de apoio entregue está de acordo com a prescrição e
cumpre as funções que motivaram a sua dispensa.
Igualmente os serviços de MFR e os serviços de aprovisionamento devem criar uma base
de produtos de apoio (suportada na legislação em vigor), que possam ser reutilizáveis em parte
ou na totalidade, a partir da sua devolução pelos utentes ou pelos seus cuidadores e que permita
maximizar a sua utilização e simultaneamente minimizar os custos anuais com a prescrição destes
produtos.

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BIBLIOGRAFIA

 WHO,“Active Ageing a Police Framework” (ref: WHO/NMH/NPH/02.8), 2012


 Livro Branco de Medicina Física e de Reabilitação na Europa, versão portuguesa,
Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação, Março 2009.
 Avaliação do Modelo de Celebração de Convenções pelo SNS, Entidade Reguladora de
Saúde, Novembro 2016.
 Caracterização do Acesso dos Utentes a Serviços de Medicina Física e de Reabilitação.
Entidade Reguladora de Saúde, Abril 2008.
 ESO - http://www.eso-stroke.org/eso-stroke/stroke-information/faq/epidemiology-of-
stroke.html
 National Stroke Association – www.stroke.org Explaining Stroke
.http://www.ninds.nih.gov/disorders/stroke/stroke_rehabilitation.htm
 Unidades de AVC : recomendações para o seu desenvolvimento -. Direcção-Geral da
Saúde. Direcção de Serviços de Planeamento, 2001 - 28 p.
 http://www.dgs.pt/upload/membro.id/ficheiros/i005663.pdf
 Jonviea D. Chamberlain, Olivier Deriaz, Margret Hund-Georgiadis, Sonja Meier, Anke
Scheel-Sailer, Martin Schubert, Gerold Stucki, and Martin WG Brinkhof , Epidemiology and
contemporary risk profile of traumatic spinal cord injury in Switzerland, Inj Epidemiol.
2015; 2(1): 28.
 Martins F, Freitas F, Martins L, Dartigues J, Barat M; Spinal cord injuries – Epidemiology in
Portugal’s central region. Spinal Cord 1998;36(8):574-8
 Oliveira E, Lavrador J P, Santos M M, Lobo Antunes J - Traumatismo Crânio-Encefálico:
Abordagem Integrada; Acta Med Port 2012 May-Jun;25(3):179-192
 Santos, M. E., Sousa, L. & Castro-Caldas, A. (2003). Epidemiologia dos traumatismos
crânio-encefálicos em Portugal. Acta Médica Portuguesa, 2003; 16. 71-76.
 Rede Nacional de Especialidade Hospitalar e de Referenciação de Reumatologia;
Setembro de 2015.
 EpiReumaPt; Estudo epidemiológico de Doenças Reumáticas em Portugal;
http://www.reumacensus.org/pdf/quadriptico_resultados_epireumapt.pdf

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 Pain Proposal, A dor crónica em Portugal, 2010


https://www.pfizer.pt/Files/Billeder/Pfizer%20P%C3%BAblico/Not%C3%ADcias/Portugal_
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 Johnson A. Prevalence and characteristics of children with Cerebral Palsy in Europe. Dev
Med Child Neurol 2002;44:633-40
 Vigilância Nacional da Paralisia Cerebral aos 5 anos - Crianças nascidas entre 2001 e 2003,
coordenação Doutora Graça Andrada, Dr. Daniel Virella, Enf.ª Teresa Folha, Dr.ª Rosa
Gouveia, Drª Ana Cadete, Doutor José Joaquim Alvarelhão, e Dr.ª Eulália Calado; 2012
 Dinâmicas Demográficas e Envelhecimento da População Portuguesa: 1950-2011 Evolução
e Perspetivas; Mário Bandeira; 2014; Fundação Francisco Manuel dos Santos
 Breivik H, Collett B, et al. (2006). “Survey of chronic pain in Europe: prevalence, impact on
daily life, and treatment.” Eur J Pain
 Smith et al. (1999) Chronic Pain in Primary Care. Family Practice 16 (5) 475-482
 Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, revista DOR da APED, vol.15, nº 4/2007
 Programa Nacional para as Doenças Respiratórias (PNDR) – Relatório de análise da
capacidade instalada de Reabilitação Respiratória (RR) nos Hospitais do Serviço Nacional
de Saúde; sendo diretora do PNDR a Dra. Cristina Bárbara; Dezembro de 2015
 Prevenção e Reabilitação Cardiovascular, Sociedade Portuguesa de Cardiologia, Abril de
2016
 “The diagnosis and treatment of peripheral lymphedema, 2013 consensus document of
the International Society of Lymphology
 http://www.u.arizona.edu/witte/ISL.html
 Beesley V, Janda M, Eakin E, Obermair A, Battistutta D; Lymmphedema after
Gynecological Cancer Treatment – Prevalence, Correlates and Supportive Care Needs,
2007 American Cancer Society
 Veronesi U,Paganelli G,Viale G,et al: Sentinel-lymph-node biopsy as a staging procedure
in breast cancer:update of a randomised controlled study. Lancet Oncl 7(12):983-90,2006
 Understanding breast cancer-related lymphoedema. Bennett Britton TM, Purushotham
AD. Surgeon.2009 Apr;7(2):120-4.Review.PMID:19408805(PubMed-indexed for Medline)

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ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÓNIMOS

ACES – Agrupamentos de Centros de Saúde


ACSS – Administração Central do Sistema de Saude
ARS – Administração Regional de Saúde
ARSLVT – Administração Regional de Saude de Lisboa e Vale do Tejo
AVC – Acidente Vascular Cerebral
CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade
CMRA – Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão
CMRRC – Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro
CMRS – Centro de Medicina de Reabilitação do Sul
CRN – Centro de Reabilitação do Norte
DGS – Direção Geral de Saúde
DPOC – Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica
EAM – Enfarte agudo do miocárdio
EGA – Equipa de Gestão de Altas
ERS - Entidade Reguladora da Saúde
ESO – European Stroke Organization
ETC – Equivalente tempo completo
GTRH – Grupo Técnico para a Reforma Hospitalar
INE – Instituto Nacional de Estatistica
INR – Instituto Nacional de Reabilitação
IPO – Instituto Português de Oncologia
LAC – Livre acesso de circulação (de utentes)
LVM – Lesão vértebro-medular
MFR – Medicina Física e de Reabilitação
MGF – Medicina Geral e Familiar
MIF – Medida de Incapacidade Funcional
NOC – Norma de Orientação Clínica
NSA – National Stroke Association
OM – Ordem dos Médicos
OMS – Organização Mundial de Saude

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PC – Paralisia cerebral
RNCCI – Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados
RRH – Rede de Referenciação Hospitalar
RRHMFR – Rede de Referenciação Hospitalar de Medicina Física e de Reabilitação
SAPA – Sistema de atribuição de produtos de apoio
SCML – Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
SCMP – Santa Casa da Misericórdia do Porto
SNS – Serviço Nacional de Saúde
TCE – Traumatismo crânio-encefálico
UC – Unidades de Convalescença
UCP – Unidade de Cuidados Paliativos
UEMS – União Europeia dos Médicos Especialistas
ULDM – Unidades de Longa Duração e Manutenção
ULS – Unidade Local de Saúde
UMDR – Unidades de Média Duração e Reabilitação
USF – Unidade de Saúde Familiar

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ANEXO I - RECURSOS HUMANOS EXISTENTES NOS SERVIÇOS DE MFR

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RECURSOS HUMANOS EM SERVIÇOS DE MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO. Números atuais


INSTITUIÇÕES FISIATRA FISIOTERAPEUTA T. OCUPACIONAL T. FALA ENFERMEIRO CAMAS POPULAÇÃO
REAB (CENSOS 2011)

ARS NORTE
GRUPO I
H Sta M. Maior Barcelos 0 0 0 0 18 117 154.645
CH P. Varzim/V. Conde 2 3 0 0 0 143 142.941
ULS Nordeste 1 22 4 3 0 337 136.252
GRUPO II
ULS Alto Minho 6 19 5 2 0 408 244.836
ULS Matosinhos 7 17 0 2 0 348 175.478
CH Médio Ave 3 9 1 0 0 276 244.361
CH Tâmega e Sousa 4 16 2 3 0 437 519.769
H S Oliveira-Guimarães 5 12 2 0 0 419 256.696
CH TMAD Vila Real 5 19 4 3 0 577 273.263
CH VNGaia 7 13 1 3 0 578 334.081
CHEDV Feira 9 23 3 2 11 371 274.859
GRUPO III
H Braga 9 20 4 2 4 640 290.407
CHS João 12 26 3 4 20 1.105 330.386
CHPorto 10 19 0 3 3 708 304.396
GRUPO IV-a
C. Reabilitação Norte 11 21 11 5 7 100 -----
GRUPO IV-b
IPO Porto 4 6 0 1 0 341 ----

TOTAIS 95 235 40 34
* horários não definidos
Fonte: Respostas aos questionários enviados aos Serviços de MFR, elaborados em Fevereiro de 2016

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RECURSOS HUMANOS EM SERVIÇOS DE MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO. Números atuais

INSTITUIÇÕES FISIATRAS FISIOTERAPEUTA T. OCUPACIONAL T. FALA ENFERMEIRO CAMAS POPULAÇÃO


REAB (CENSOS 2011)
ARS CENTRO
GRUPO I
H D Figueira da Foz 2 9 0 1 0 154 88.296
ULS Guarda 2 9 0 1 0 304 155.466
CH Cova Beira 1 21 3 0 0 288 87.869
ULS Castelo Branco 2 6 1 1 0 249 108.395
GRUPO II
CH Baixo Vouga 3 11 0 1 0 401 285.846
CH Leiria 4 12 3 3 0 557 317.436
GRUPO III
CHTViseu 5 20 5 4 0 607 267.633
CHUCoimbra 9 23 6 4 15 1.826 368.938
GRUPO IV-a
CMRRCentro-RP 8 12 4 2 10 80 ----------
GRUPO IV-b
IPO Coimbra 1 0 0 0 2 191 ----------

TOTAIS 37 122 22 17
Fonte: Respostas aos questionários enviados aos Serviços de MFR, elaborados em Fevereiro de 2016

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RECURSOS HUMANOS EM SERVIÇOS DE MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO. Números atuais

INSTITUIÇÕES FISIATRAS FISIOTERAPEUTA T. OCUPACIONAL T. FALA ENFERMEIRO CAMAS POPULAÇÃO


REAB (CENSOS 2011)
ARS LVTejo
GRUPO I
H. Cascais 3 10 1 1 0 277 206.479
CH Oeste 6 26 4 5 - 325 292.546
H Beatriz Ângelo-Loures 3 16 1 2 0 442 287.119
CH Barreiro-Montijo 4 20 4 3 0 347 213.584
CH Setúbal 6 24 2 2 0 380 184.016
H. Vila Franca Xira 2 13 0 1 0 311 244.377
H. D. Santarém 1 11 3 0 0 372 196.620
CH. Médio Tejo 4 17 1 2 0 377 227.999
GRUPO II
CH Lisboa Ocidental 7 37 1 1 0 779 233.465
H. Prof. Fernando
6 30 3 2 0 770 552.971
Fonseca
GRUPO III
CH Lisboa Norte 13 36 10 0 0 1.078 154.208
Ch Lisboa Central 29 89 17 8 9 1.341 428.191
H. Garcia de Orta 7 21 6 3 0 544 381.799
GRUPO IV-a
CMR Alcoitão 22 57 34 19 54 150 ---------
GRUPO IV-b
IPO LIsboa 2 14 0 2 0 264 ---------

TOTAIS 109 395 83 46

Fonte: Respostas aos questionários enviados aos Serviços de MFR, elaborados em Fevereiro de 2016

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RECURSOS HUMANOS EM SERVIÇOS DE MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO. Números atuais.

INSTITUIÇÕES FISIATRA FISIOTERAPEUTA T. OCUPACIONAL T. FALA ENFERMEIRO CAMAS POPULAÇÃO


REAB (CENSOS 2011)
ARS ALENTEJO
GRUPO I
ULS Norte Alentejano 3 11 1 1 0 233 118.506
ULS Litoral Alentejano * - - - - - 122 97.925
ULS Baixo Alentejo 1 14 0 2 0 215 126.692
GRUPO III
H Espírito Santo-Évora 4 12 3 2 0 322 166.726

ARS ALGARVE
GRUPO III
CH Algarve 13 41 13 7 0 911 451.006
GRUPO IV-a
CM Reabilitação Sul 7 25 11 6 6 54 577.698

TOTAIS 28 103 28 18
*não respondeu ao inquérito
Fonte: Respostas aos questionários enviados aos Serviços de MFR, elaborados em Fevereiro de 2016

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ANEXO II - ARQUITECTURA DA REDE DE MFR

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