You are on page 1of 7

Linguística 3 – Aulas 2 e 3 – anotações de tutoria e de estudo

(Ver texto extra – reduzido – Bakhtin)

Enunciação

- segunda metade do século XX: surgem abordagens linguísticas que


consideram a língua em sua dinamicidade, na relação com a exterioridade.
Antes: abordagens formalistas, estudo da língua se restringia a seus
elementos internos.
Bakhtin se antecipou em meio séc à guinada pragmática. Seus estudos
ficaram “inacabados”: conceitos que se retomam constante e
progressivamente. (pág 43 )

A terceira concepção de língua, defendida por Bakhtin, é a de inter--


relação.
Ele foca na língua em funcionamento por um ato individual. Essa ideia já
começa a se afastar da abordagem estrutralista.
Língua aqui é multiforme e heteróclita (Composta por elementos
distintos e variados; heterogênea.)
Abordagem dialógica mt importante: todos os enunciados dialogam
internamente; uma palavra passa, inevitavelmente, pela palavra do outro. Há
uma dialogização interna da palavra de modo que o discurso do enunciador
leva em conta o discurso de outrem, presente em seu próprio discurso.
“A orientação dialógica é naturalmente um fenômeno próprio a todo
discurso. Trata-se da orientação natural de qualquer discurso vivo. Em todos
os seus caminhos até objeto, em todas as direções, o discurso se encontra com
o discurso de outrem e não pode deixar de participar, com ele de uma
interação viva e tensa. Apenas o Adão mítico que chegou com a primeira
palavra num mundo virgem, ainda não desacreditado, somente este Adão
podia realmente evitar por completo esta mútua orientação dialógica do
discurso alheio para o objeto. Para o discurso humano, concreto e histórico,
isso não é possível: só em certa medida e convencionalmente é que pode se
afastar. (BAKHTIN, 1998, p. 88)”
“Para Bakhtin a tensão é inerente à fala, à interação. Nossa fala está
cosntituída do eu e do outro. Nessa troca, nessa alteridade constitutiva da
linguagem, está a marca da enunciação: qd o eu que se enuncia, ele já se
enuncia marcado com um tu.” As ideologias (valores, crenças) estão rpesentes
no discurso e se entrelaçam para produzir sentido.
(https://www.youtube.com/watch?v=D3Cu0e_cTz0)
Um texto nunca é isolado. Recupera outros.

As críticas feitas por Bakhtin centram-se principalmente na incapacidade


dessas duas correntes do pensamento linguístico de perceber a realidade
dinâmica, heterogênea e dialógica da linguagem.

A primeira tradição do pensamento linguístico mencionada por Bakhtin –


o subjetivismo idealista – teria como maior expoente no âmbito da Linguística
o alemão Wilhelm von Humboldt.
Subjetivismo idealista
- Humboldt
- Língua tem forma interna e externa
- duas facetas, com primazia da forma interna
- Língua torna possível o pensamento
- caráter constitutivo
- Língua é dinâmica mental
- é a atividade que possibilita a expressão do pensamento.
- Língua é atividade mental cuja fonte é o psiquismo individual.
- língua é criação individual

Para o subjetivismo idealista, a língua seria uma expressão do mundo


interior do indivíduo.

🡪 Crítica de Baktin: a língua não está na nossa cabeça, mas na nossa


interação. Ele não concorda com a abordagem dos aspectos internos da
língua; defende a abordagem dos aspectos externos.
Já a segunda tradição – o objetivismo abstrato – seria representada
principalmente pelo linguista Ferdinand de Saussure.
“Nessa visão, a língua é concebida como produto das forças sociais que
circulam no interior de uma dada comunidade linguística, ou ainda como
resultante de uma espécie de contrato firmado pelos membros da referida
comunidade, já que a nenhum dos indivíduos que compõem uma comunidade
linguística seria dada a possibilidade de alteração da língua.”

Objetivismo abstrato
- Saussure
- Linguagem tem um lado individual (fala)
- E tem um lado social (língua)
- língua é o produto das forças sociais de uma comunidade linguística
- língua é contrato tácito entre os membros de uma comunidade
- Língua não pode ser alterada individualmente
- o objeto da linguística é a língua e não a fala
- Língua é sistema
- Signo vale em oposição a outro signo dentro do sistema linguístico.
- é priorizado o estudo da forma da língua,;
- Seu aspecto estável prevalece sobre o seu caráter mutável.

O que interessa a essa tradição de estudos linguísticos não é a relação do


signo com a sua exterioridade ou com o sujeito que o engendra, mas sua
relação opositiva com outro signo no interior de um sistema linguístico.
O centro organizador de todos os fatos da língua seria o sistema
linguístico – estável,
- a-histórico
- e único para todos os indivíduos.

(Benveniste já dizia: um eu q fala a tu)


3ª Concepção:
O caráter social, a intereação é a verdadeira susbstância da língua p
Bakhtin.
Em sua “perspectiva teórica, a língua vive e evolui na comunicação
verbal concreta e não no sistema abstrato das formas do sistema linguístico
(Saussure) . E nem no no psiquismo individual dos falantes (subjetivismo
idealista)
– estas são posições incompatíveis com uma abordagem histórica e viva
da língua. Assim:
A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema
abstrato de formas linguísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem
pelo ato psicofisiológico da sua produção, mas pelo fenômeno social da
interação verbal, realizada através da enunciação ou enunciações. A interação
verbal constitui assim a realidade fundamental da língua (BAKHTIN, 2004, p.
123).”
“A língua é inseparável do fluxo da comunicação verbal; logo, está em
permanente constituição.”

Bakhtin dialoga c Saussure discordando. Um diálogo pode ter tensões.


Enunciados são elos em cadeia. Um dialoga com outro e provoca
diálogos futuros.
Caráter social, cultural, externo.
Tem de haver interação entre sujeitos (não utiliza a nomenclatura de
emissor e receptor, q transmitiria uma ideia de linearidade).

1. A língua como sistema estável de formas normativas idênticas é


apenas uma abstração que serve para fins teóricos. Tal abstração não dá conta
de maneira adequada da realidade concreta da língua.
2. A língua é um processo de evolução ininterrupto, que se realiza
através da interação verbal entre interlocutores.
3. As leis da evolução linguística são essencialmente leis sociológicas. Ou
seja, a mudança linguística é regida por leis externas, de natureza social.
4. A criatividade da língua não pode ser compreendida sem levar em
consideração os conteúdos e valores ideológicos.
5. A estrutura da enunciação é puramente social, haja vista que só se
torna
efetiva entre interlocutores.

O estruturalismo não dá conta de avaliar as mudanças de siginificado


conforme o contexto.
Ex: situações em que se diz boa tarde
“Boa tarde!” Dentro do contexto podeser um cumprimento de que mestá
passando, ou a forma de iniciar uma reunião, ou de encerrar uma breve
conversa e despedir.
Uma abordagem meramente formal não dá conta desses aspectos que
alteram o sentido do enunciado.
Sobre o n4: Não existe enunciado neutro, ele sempre carrega uma
valoração:
“não são palavras o que pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou
mentiras, coisas boas ou más, importantes ou triviais, agradáveis ou
desagradáveis etc. A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de um
sentido IDEOLÓGICO ou vivencial” (BAKHTIN, 2004, p. 95).
Todo produto ideológico é resultado de uma ação humana em uma de
suas áreas de conehicmento (arte, filosofia, ciências biológicas etc) e será
semrpe um signo: um produto semiótico.

Para Bakhtin o signo é:


- Ideológico
- Social e plurissêmico (é sempre flexível e variável. É na prática q os
interlocutores relacionam-se com a linguagem.A compreensão do indivíduo de
um signo linguístico em uso não se orienta para as formas normativas, mas
para o signo em cada contexto. Por isso os signos têm sempre muitos
significados, de acordo com a enunciação concreta em que são empregados). É
precis oq haja uma unidade social entre duas pessoas para que haja a
enunciação.
- Mediadores (os signos mediam as relações. Tds as relações com a
realidade são mediadas por valores, ideologias, por signos linguísticos)
A enunciação é inteiramente determinada tanto pela situação social
mais imediata (relação entre locutor e interlocutor), quanto pelo meio social
mais amplo.
Tema e significação:
O tema é flexível e concreto e a significação é estática.
Os dois estão inteligados e passam por uma tensão permanente q não
pode ser identificada nem na fala, nem na língua, mas somente na enunciação:
“[...] o tema da enunciação é determinado não só pelas formas
linguísticas que entram na composição (as palavras, as formas morfológicas ou
sintáticas, os sons, as entonações), mas igualmente pelos elementos não
verbais da situação. Se perdermos de vista os elementos da situação,
estaremos tão pouco aptos a compreender a enunciação como se
perdêssemos suas palavras mais importantes.
O tema da enunciação é concreto como o instante histórico ao qual ela
pertence. Somente a enunciação tomada em sua amplitude concreta, como
fenômeno histórico, possui um tema.
[...] A significação da enunciação, ao contrário, pode ser analisada em
um conjunto de significações ligadas aos elementos linguísticos que a
compõem (BAKHTIN, 2004, p. 128-129).” Significação é “aparato para realizar o
tema, é estática”.

Aula 3
Discurso é heterogêneo

Um discurso sempre vai dialogar com os anteriores.


Nossos discursos estão carregados de ideias anteriores.
Minha fala tem muitas vozes. Nossas falas estão cheias de outras
opiniões e vozes.

A heterogeidade do enunciado traz o outro com quem se dialoga.


Ex.: Um romance realista dialoga com o romantismo, para negá-lo. O
simbolismo tb dialoga com o Romantismo, numa relação diferente;
concordando e ñ discordando.
Ex. Lute como uma garota 🡪 é um discurso feminista que dialoga com um
discurso machista para negá-lo.

You might also like