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Alfabetização e Letramento:
Fundamentos Metodológicos
Tema 01 – Breve histórico da
alfabetização
Bloco 1

Silvia Cristina Herculano


Objetivos
• Conceituar alfabetização de
acordo com as perspectivas
sócio-históricas.
• Identificar as principais
características dos
processos de alfabetização.
• Conhecer os primórdios da
alfabetização no Brasil.
A história dos contextos de
alfabetização
Por que estudar a história
da alfabetização?
• A alfabetização, como
processo de conhecimento
social, está intimamente
ligada aos contextos da
sociedade que a detém:
econômicos, políticos,
sociais, culturais, etc.
A história dos contextos de
alfabetização
Por que estudar a história da
alfabetização?
• Para compreendermos a situação atual
e como foram sendo construídos os
conceitos e vertentes da aprendizagem
da leitura e escrita.
A história dos contextos de
alfabetização
• Sobre alfabetização, estudiosos como
Mortatti vem buscando compreender a
problemática instaurada quanto às
dificuldades da escola em relação aos
processos de alfabetização.
• Problemas identificados ora com o
método, ora com o professor, ora com o
aluno, ora com o sistema escolar, com as
condições sociais, etc.
A história dos contextos de
alfabetização
A alfabetização se consolidou a partir de
métodos, construídos, a partir das
necessidades e convicções de cada grupo
social e contexto histórico.

Uma escrita mútua (M.C.


Escher's " Drawing Hands "
(c) 2008 The M.C. Escher
Company -the Netherlands.
www.mcescher.com)
A história dos contextos de
alfabetização
• 1º período: Antiguidade à Idade Média –
Soletração.
• 2º período: Séculos XVI e XVII até a década
de 1960 – Métodos Sintéticos e Analíticos.
• 3º período: Década de 1980 –
Psicogênese da Língua Escrita.
• 4º período: Período contemporâneo:
Perspectiva Sociolinguística.
A alfabetização na Antiguidade
e na Idade Média
• Desenvolvimento da escrita –
necessidade de interpretação e
perpetuação da língua – era preciso
aprender os modos de registros e sua
decodificação.
A alfabetização na Antiguidade
e na Idade Média
• Cada povo desenvolveu métodos diferentes
da perpetuação de seus registros, ou seja,
elaborou formas de internalização das
marcas registradas, culminando com
diferentes modos de alfabetização.
• Assim, sumérios, semitas, fenícios,
romanos e gregos foram povos que se
destacaram na elaboração de códigos que
representassem a fala.
A alfabetização na Antiguidade
e na Idade Média
• Os gregos, em uma adaptação dos
registros semitas e fenícios: inserção
da vogal.
• O nosso alfabeto, com 27 letras, tem
origem no alfabeto grego.
• Decorar as letras e seu valor fonético –
a base do método sintético.
A alfabetização na Antiguidade
e na Idade Média
• Implica muitas dificuldades de
aprendizagem, já que havia a
constituição de leitores proficientes na
soletração, mas que não interpretavam
ou compreendiam os textos.
A alfabetização na Antiguidade
e na Idade Média
No período medieval, a soletração foi sendo
gradativamente modificada por novos
elementos incorporados em que se fazia uso
de tabuletas com o alfabeto gravado,
penduradas junto ao corpo dos aprendizes.
Este material é considerado um precursor das
cartilhas, que só surgiriam no século XV,
após a invenção da imprensa por Gutenberg.
A alfabetização na Antiguidade
e na Idade Média
Grandes clássicos registrados em livros:
domínio exclusivo da igreja católica, sendo
o conhecimento fonte de poder e
hierarquização e a alfabetização restrita a
uns poucos componentes da nobreza e clero.
A alfabetização na Antiguidade
e na Idade Média
• Em 1655, Comenius – educador e
liderança religiosa – elabora sua doutrina
pedagógica, que consistia em diversos
contextos didáticos, dentre eles a
aprendizagem da leitura e da escrita
através da apresentação de palavras
associadas a uma representação.
A alfabetização na Antiguidade
e na Idade Média
• O latim era o idioma oficial, porém sua
adoção causava dificuldades, pois não
correspondia à linguagem presente nas
diversas regiões europeias.
A alfabetização na Antiguidade
e na Idade Média
• Nessa época, a alfabetização (fora do
contexto religioso) ainda não era de
competência da escola, sendo mais um
contexto familiar de perpetuação de
saberes. As crianças eram orientadas
pelos pais ou por alguém (um preceptor)
para realizar essa tarefa.
Método tradicional

O latim foi sendo abandonado em favor de


línguas nacionais. Neste contexto, René
Descartes foi o pioneiro na constituição de
novas práticas e concepções educacionais
escrevendo o “Discurso do Método” em
francês, no século XVI.
Método tradicional

Com a transição da economia agrária para


a industrial, a utilização da escrita e
consequentemente a alfabetização foram
sendo valorizadas e, em 1789, com a
revolução francesa e posteriormente com a
revolução industrial, a alfabetização passa
a ser vista como competência a ser
ensinada igualmente a todos, numa
escola laica e gratuita.
Método tradicional

Método sintético: é organizado


hierarquicamente da assimilação das partes
para o todo, ou seja, a criança inicia a
alfabetização pelas unidades menores (letras),
internalizando gradativamente as unidades
maiores (sílabas, palavras, frases e textos).
São divididos em métodos de soletração
(unidade menor: letra), fônico (unidade menor:
fonema) e silábico (unidade menor: sílaba).
Método tradicional

Método analítico: parte de uma unidade,


que apresenta determinado significado, para
se segmentar em unidades menores. São
divididos em métodos de palavração (partem
da palavra), sentenciação (partem da
sentença) e textuais (partem dos textos).
Método tradicional

Método misto: é uma composição dos dois


métodos, o sintético e o analítico. Nele, o
aluno estuda textos e frases, organiza sílabas
para construir palavras e, concomitantemente,
reúne palavras e forma frases.
Método tradicional

• Também chamados de métodos tradicionais


ou cartilhescos, os métodos sintéticos,
analíticos e mistos se organizavam através
de exercícios de fixação, como ditados
e cópias, sendo um processo organizado de
codificação/decodificação de textos e suas
partes através de treinamentos, repetições e
utilização de modelos, porém com muitas
lacunas em relação aos contextos de
compreensão, análise e interpretação.
Método tradicional

• Neste contexto, as cartilhas ganham


força com uma proposta de silabário,
numa perspectiva de habilidade
caligráfica e ortográfica e que
demandava um período preparatório.
Alfabetização e Letramento:
Fundamentos Metodológicos
Tema 01 – Breve histórico da
alfabetização
Bloco 2

Silvia Cristina Herculano


Psicogênese da língua escrita

Na década de 1980...
• Movimento de compreensão dos processos
internos e interativos do indivíduo.
• Piaget, Vygotsky, Wallon, Paulo Freire...
Psicogênese da língua escrita

• Métodos sintético e analítico passam a ser


questionados, sendo o pensamento
construtivista sobre alfabetização
materializado na Psicogênese da Língua
Escrita, elaborada e desenvolvida pelas
pesquisadoras Emilia Ferreiro e Ana
Teberosky, a partir dos estudos piagetianos.
Alguns pressupostos

1. O sistema de escrita é um objeto de


conhecimento.
2. A criança é um sujeito de aprendizagem,
cognoscente – produtora de conhecimento.
3. A aprendizagem é o resultado da própria
ação do sujeito sobre o objeto de
conhecimento.
Alguns pressupostos

4. Conhecimento se refere como aquisição


não-linear e não como um fenômeno
inicial a ser dominado.
5. O erro é construtivo, ou seja, indica como
a criança está elaborando suas hipóteses.
6. Conflito cognitivo: favorece o avanço da
criança em suas hipóteses.
Psicogênese da língua escrita

Emília Ferreiro e Ana Teberosky tiveram


como ponto de partida o pressuposto da
teoria piagetiana de que qualquer
conhecimento tem uma origem e, conforme
o método clínico de Piaget, observaram
108 crianças e sua relação com a
aprendizagem da escrita.
Psicogênese da língua escrita

Elas tinham como objetivo compreender


como as crianças internalizam a cultura
escrita, sendo a pesquisa documentada na
obra “A Psicogênese da Língua Escrita”,
introduzida no Brasil por volta dos anos 1980
(PICOLLI; CAMINI, 2013).
Psicogênese da língua escrita

Ferreiro e Teberosky (1986) elaboram também


fundamentos propriamente linguísticos da
psicogênese da língua escrita, quando
identificam o sujeito formulando hipóteses a
partir do código, realizando um percurso
composto por níveis. São eles: pré-silábico,
silábico, silábico-alfabético e alfabético.
Perspectiva sociolinguística

Na década de 1990, a influência de teorias de


aprendizagens vinculadas à perspectiva
histórico-cultural se amplia, tratando das
aprendizagens a partir do meio social em
que a criança está inserida. Recebem
destaque as ideias de Vygotsky, que
entende a linguagem como importante
contexto de ensino-aprendizagem, sendo
construída nas interações realizadas.
Perspectiva sociolinguística

• A alfabetização passa a ser pensada sob o


prisma da sociolinguística que investiga
a língua, tratando da relação entre
linguagem e sociedade, ou seja, como
o meio sociocultural influencia a língua.
Perspectiva sociolinguística

• Valorização dos conhecimentos da


criança.
• A língua considerada como processo
identitário e constituinte das referências
do sujeito.
Perspectiva sociolinguística

• Numa condição dinâmica e heterogênea,


procura-se identificar as variações da
forma, as diferenças da utilização da
língua, realizando análise de tais
fenômenos no lócus das interações.
• Base da prática de “alfabetizar letrando”.
Perspectiva sociolinguística

O conceito de letramento é difundido, sendo


que para Soares (2003), o termo letramento
é a forma para o Português da palavra inglesa
literacy, que significa “o estado ou condição
que assume aquele que aprende a ler e a
escrever” (p. 17).

Alfabetização ≠ Letramento
Alfabetização ≠ Letramento

Segundo Soares (2016), embora sejam


processos complementares, alfabetização e
letramento são fenômenos distintos:
Alfabetização: Codificação/Decodificação
dos processos de apropriação da escrita.
Letramento: práticas de leitura e escrita em
seus contextos sociais.
Perspectiva sociolinguística

Para alfabetizar e letrar temos,


necessariamente, de recorrer aos estudos da
linguística que abarcam varias áreas: fonética,
fonologia,morfologia, sintaxe, semântica, análise
do discurso, sociolinguística e a psicolinguística.
Bakhtin afirma que não basta apenas se
apropriar do código alfabético. Os aprendizes
precisam mergulhar na linguagem,
experimentando e vivenciando os sentidos dos
enunciados da comunicação verbal.
Perspectiva sociolinguística

Alfabetizar, na perspectiva do letramento,


significa alfabetizar imerso nas práticas de
linguagem: práticas de oralidade, leitura e
escrita.
Alfabetizar letrando significa propiciar ao
mesmo tempo a aquisição da leitura e escrita
e a inserção na cultura escrita.

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