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Física Aplicada

Material Teórico
Dinâmica de Partículas

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Jaime Sandro da Veiga

Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos
Dinâmica de Partículas

• Introdução;
• Leis de Newton;
• Exemplos de Aplicação das Leis de Newton;
• Trabalho e Energia;
• Trabalho de uma Força;
• Conservação da Energia.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Estudar a Dinâmica de Partículas, envolvendo o estudo das Leis de Newton ao tratar
de problemas envolvendo os diversos tipos de interações mecânicas, como forças de
contato, gravitacional, elástica e de atrito;
• Apresentar os conceitos de trabalho e energia e o princípio da conservação da
energia mecânica;
• Tais tópicos são extremamente úteis para a composição de jogos digitais em
situações envolvendo deslocamentos verticalizados, montanhas russas, pistas de
skate e uma gama variada de situações práticas.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Dinâmica de Partículas

Introdução
Uma das características da Cinemática é a descrição do movimento, porém
sem levar em conta as causas desse mesmo movimento. A Dinâmica surgiu ao se
introduzir as interações entre os corpos, cujos movimentos são causados por essas
interações. O cientista Galileu Galilei iniciou o estudo sistemático e científico da
Cinemática, pois até então apenas estudos filosóficos ocorreram. Galileu morreu
em 1642, mesmo ano do nascimento de Isaac Newton. Após 45 anos da morte
de Galileu, Newton publicou seu maior trabalho, conhecido por Principia, uma
maneira breve de se referir ao título original em latim, Philosophiae Naturalis
Principia Mathematica, de 1687. A forma como Newton tratou as interações de
origem mecânica, por intermédio de três leis do movimento, juntamente com a
conhecida Lei da Gravitação Universal, deu origem à Revolução Industrial do século
XVIII e a uma nova concepção da Mecânica, em que a teoria conseguiu obter os
resultados que a experiência já encontrara. Isso deu mostras de que haveria a
possibilidade de estudar a natureza partindo-se de princípios físicos fundamentais e
de métodos matemáticos.

Figura 1

Newton não sabia, mas em adição ao enorme impulso no desenvolvimento


tecnológico e humano, o que ele fez tornou possível a produção de jogos digitais
com a mimetização da realidade 300 anos após a publicação de seu trabalho.
É este o tema desta Unidade e esta será, possivelmente, a forma de “ganhar a vida”
daqueles que se dedicarem à produção de jogos digitais.

Leis de Newton
1º Lei de Newton: também conhecida como Lei da Inércia, ela pode ser
enunciada da seguinte forma:

Todo corpo permanece parado ou em movimento retilíneo e uniforme, isto é, com


velocidade constante, no caso de nenhuma força resultante ser aplicada a ele.

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Inversamente, se a resultante de todas as forças aplicadas for nula, podemos garan-
tir que o movimento do corpo será retilíneo e uniforme, ou então ele estará parado.
A primeira lei de Newton é, na verdade,
uma definição de força nula. Quando pergun-
tamos: em que situação uma força é nula? A
resposta é: sempre que o movimento não va-
riar seu estado de movimento, isto é, sempre
que ele não variar sua velocidade, que também
é o mesmo que dizer que não há aceleração
do corpo em relação a um referencial iner-
cial (um referencial que não é girante nem
está sofrendo aceleração).

Assim, podemos entender que a inércia não


é simplesmente ficar parado, mas é não variar
seu estado de movimento. Se está parado, con-
tinua parado; se está se movendo com velocidade Figura 2 − Isaac Newton
constante, continua com a mesma velocidade. Fonte: Wikimedia Commons

2º Lei de Newton: também conhecida como Princípio Fundamental da


Dinâmica, pode ser enunciada da seguinte forma (não foi exatamente assim que
Newton enunciou);


Na presença de uma força resultante F não nula, um corpo de massa m constan-

 aceleração a que terá mesma direção e mesmo sentido que a força
te sofrerá uma
resultante F e ambas serão relacionadas por:

 
F = ma . (1)

Esta é uma apresentação simplificada da 2 a Lei de Newton. Se prestarmos


atenção, uma parte considerável dos objetos em movimento pode variar sua mas-
sa. Veja o caso de um foguete. Um de nossos foguetes nacionais lançadores de
satélites consome 14 toneladas de combustível por segundo! A variação de massa
é enorme. Podemos falar de carros, de navios e, em algumas situações, até mesmo
de pessoas, principalmente os fundistas, que perdem dois, três quilos de massa nas
longas corridas. Se Newton tivesse enunciado a 2 a lei dessa forma, sua teoria não
teria tido sucesso ao resolver vários problemas que foram solucionados ao longo da
história. Então, como Newton enunciou a 2 a Lei? Na verdade, a linguagem que ele
usou está, atualmente, muito desatualizada, mas em essência, ele descreveu uma

grandeza conhecida atualmente como momento linear p (alguns ainda a chamam

de quantidade de movimento). O momento linear p é definido como o produto da

massa m pelo vetor velocidade v :
 
p = mv . (2)

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UNIDADE Dinâmica de Partículas


Newton afirmou que a força resultante F aplicada a um corpo de massa m,

constante ou não, é dada pela taxa de variação do momento linear p em rela-
ção ao tempo t. Matematicamente, a expressão pode ser escrita da forma:

 dp
F= . (3)
dt
d
O símbolo é um operador matemático que representa uma derivada tem-
dt
poral. Não é uma fração em que se pode cancelar o d. Em outras palavras, é a
taxa de variação de alguma quantidade em relação ao passar do tempo.
A quantidade que é colocada no numerador da “fração” é a que está variando.

Colocando-se o momento linear p , podemos ler: “é a taxa de variação do momen-

to linear p em relação ao tempo”.

E como fica essa taxa de variação da grandeza p se ela advém da multiplicação
de duas grandezas que também podem variar? A resposta está em outra regra de
derivação além da que foi vista na Unidade I, que é a da derivada de um produto de
funções (produto em Matemática significa “multiplicação”). A taxa de variação é
distribuída de forma alternada e somada:

 dp
F=
dt
d  (4)
=  m  t  v  t  
dt

 dm   dv
= v  m .
 dt  dt

Podemos notar que, no primeiro termo, temos a taxa de variação da massa


dm
, que é a rapidez com que a massa varia com o passar do tempo, e no segundo
dt

dv
termo, há a taxa de variação da velocidade no tempo , que é o vetor aceleração
dt
 dm
a. Assim, caso a massa
 seja constante no tempo, = 0 e ficamos com a 2 a Lei
 dt
de Newton como F = ma.

A 2 a Lei de Newton é conhecida como Princípio Fundamental da Dinâmica


justamente porque é a lei mais importante e que é mais utilizada na resolução de
problemas práticos.

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Figura 3
Fonte: iStock/Getty Images

3º Lei de Newton: também conhecida como Lei da Ação e Reação. Ela


pode ser enunciada da seguinte forma:

Um corpo A que exerce uma ação sobre um corpo B sobre a reta que une os dois
corpos receberá uma reação igual e oposta advinda do corpo B.

É importante salientar que não se trata da aplicação de forças iguais e opostas


sobre o mesmo corpo e, por causa disso, haveria um cancelamento de forças. Isso
é incorreto, pois as forças são aplicadas em corpos diferentes. Por exemplo, um
murro com muita força sobre uma parede poderá danificar o reboque, fazendo
um estrago, mas quanto maior o estrago na parede, mais a mão ficará danificada
também, pois a parede reage com a mesma força e em sentido oposto.

Outro exemplo mais prático: o foguete sobe porque ele empurra os gases da
queima de combustível para trás e, em consequência, os gases reagem contraria-
mente ao foguete, empurrando-o para frente.

Também temos de frisar que a regra só vale para forças situadas na mesma reta
que une os dois corpos: forças em retas paralelas à linha de união entre os corpos
transgridem a lei. No Eletromagnetismo há casos de violação da 3 a Lei de Newton.

 Matematicamente, podemos escrever a força que o corpo A exerce em B como


FAB e a força que B exerce em A como FBA , de forma que a 3 Lei de Newton
a

pode ser representada, simbolicamente, por:


 
FAB = − FBA . (5)

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UNIDADE Dinâmica de Partículas

Unidade de força
Pela 2 a Lei, F = ma, lembrando que, no Sistema Internacional (S.I.) de unida-
des, a massa é medida em quilogramas, isto é,  m  = kg , e a aceleração é medida
em metros por segundo ao quadrado, isto é,  a  = m / s 2 . Assim, a força é medida
em quilogramas vezes metros por segundo ao quadrado, ou  F  = kg  m / s 2 = 1N ,
em que N significa “newton”, a unidade de força. Devemos ressaltar que unidades
batizadas com nomes próprios são escritas em letras minúsculas e  K  representa
a(s) unidade(s) em que a grandeza K é medida.

Força normal de uma superfície


 
Em geral, a força normal de uma superfície é designada pelo vetor N ou n (não
podemos confundir com a unidade de medida de força, o newton, que também é
designada pela letra maiúscula ( N ). Uma força é dita normal de uma superfície
sempre que ela formar ângulo de 90 o com esta, mesmo que a superfície seja arre-
dondada, abaulada ou mesmo plana, mas inclinada. Ela é uma força  de reação e,

por isso, algumas vezes, é chamada de força de reação normal N (ou n ) e ela é
exercida pela superfície e não sobre a superfície.

Vamos, agora, apresentar algumas situações em que aparecem as forças nor-


mais e forças inclinadas com suas respectivas decomposições.

Decomposição de forças inclinadas: todas as vezes em que aparecer uma


força, digamos F, que é inclinada de um ângulo θ a uma superfície, é possível
fazer sua decomposição usando uma forma bastante semelhante à transformação
das coordenadas  x, y  de um ponto em coordenadas polares (veremos esse tópico
com mais detalhe na próxima Unidade).

F sin θ F
n
θ

F cos θ

mg

Figura 4 − Diagrama esquemático da decomposição de uma força F inclinada a uma 

superfície horizontal de um ângulo θ . No esquema, aparecem a força normal n e a força peso, mg

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A decomposição da força inclinada F é simples, pois é como se seu módulo
fosse a coordenada polar r , de forma que é fácil de escrever o módulo de suas
componentes Fx e Fy :

Fx = F cos θ , (6)
Fy = F sin θ . (7)

A notação segue de forma convencional: a letra que representa um vetor, quan-


do aparece sem aflecha superior, indica o módulo do vetor. Assim, F indica o

módulo do vetor F. Podemos notar que, na figura, a normal n, que é uma força

de reação à força peso mg , é uma força exercida pela superfície.

Plano Inclinado: no caso de um plano inclinado de um ângulo θ com a hori-



zontal, temos a força peso mg dirigida naturalmente para baixo e a reação normal
é dirigida para fora da superfície formando um ângulo reto (ou de 90 o ) com esta.
Todavia, como o plano é inclinado, a força peso e a normal não estão na mesma
reta suporte.

n
x

mg sin θ

mg cos θ θ

mg θ


Figura 5 − A força peso mg é decomposta segundo um plano inclinado, em que
aparecem as componentes paralela mg sin θ e normal à superfície do plano, mg cos θ

Podemos notar que o ângulo que o vetor força peso mg faz com a horizontal é
90o    e como cos  90o    = sin  e vice-versa, os papéis do seno e do cosseno 
na representação polar ficam trocados. Assim, as componentes do peso mg , se-
gundo as orientações paralela e perpendicular ao plano inclinado, são:

Px = mg sin θ , (8)
Py = mg cos  . (9)

É importante salientar que a reação normal n continua sendo perpendicular
à superfície.

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UNIDADE Dinâmica de Partículas

Forças de atrito
As forças dissipativas podem estar presentes durante o movimento. Elas podem
ter diversas origens, tais como a de contato mecânico entre duas superfícies, a
de contato elétrico (estas chegam a ser tão intensas que servem como solda entre
superfícies), a de indução magnética, as forças de resistência do ar, da água e de
líquidos em geral. Enfim, durante um movimento, é sempre possível que encontre-
mos algum tipo de força que mina a movimentação, que dissipa o movimento, são
as chamadas forças dissipativas. Veremos, mais adiante nesta disciplina, que as
forças dissipativas farão com que a energia mecânica de um sistema não se conser-
ve e parte do movimento, ou parte da energia cinética do sistema, se transforme
em calor. Assim, durante a atuação de forças dissipativas há sempre a produção de
calor e a consequente interação, de forma a retardar o movimento.

Atrito de contato mecânico: a origem do atrito de contato é, basicamen-


te, conforme o nome já expressa, a intercalação de duas superfícies irregulares.
É claro, quando observamos ao microscópio a superfície de um corpo, por melhor
que esteja polida, ela apresentará irregularidades. Veja uma representação de tal
superfície na Figura 6.

Figura 6 − Representação de duas superfícies polidas em contato.


Mesmo polidas, há uma infinitude de rugosidades que dificultam o movimento.
Fontes: Wikimedia Commons

Notamos que, ao movermos um objeto que está parado sobre uma superfície
- por exemplo, um móvel pesado -, é difícil fazê-lo sair do local quando o empurra-
mos. Em adição, quando conseguimos movê-lo, ainda há atrito, mas ele é menor,
pois o movimento ocorre sem que o intercalamento entre as duas superfícies seja
completo. Dessa forma, a dificuldade de movimento ocorre tão apenas pelas protu-
berâncias maiores que residem nas duas superfícies de contato. Como consequên-
cia, podemos classificar as força de atrito por contato mecânico em dois tipos: a
força de atrito estático, em situações paradas, sem movimentação, e a força de
atrito cinético (ou dinâmico), em situações em que há movimento relativo entre
as duas superfícies de contato.

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A força de atrito não depende da área de contato entre as superfícies, mas de-
pende basicamente da sua rugosidade e da força normal. O atrito ocorre sempre
de forma a diminuir o movimento relativo entre as superfícies e aponta sempre em
sentido contrário ao movimento. Desta forma, matematicamente, podemos carac-
terizar a força de atrito como:

Fat =   N , (10)
em que µ é o coeficiente de atrito e N é a força normal de reação que expressa
a força de contato entre as superfícies. É fácil de entender por que a força de atrito
depende da normal - e não do peso -, observando o que ocorre quando inclinamos
uma tábua em que repousa sobre ela um bloco de madeira. Ao inclinarmos a tábua,
haverá um ângulo θ para o qual o bloco de madeira começará a descer. Quanto
maior o ângulo θ , também menor é o atrito entre o bloco e a tábua. Enquanto o
peso continua constante conforme aumentamos o ângulo de inclinação, a força
normal vai diminuindo seu valor e a força de atrito também. Logo, a força de atrito
depende da normal e não do peso.
Podemos afirmar, então, que o atrito cinético é sempre menor do que o atrito
estático e isso se reflete nos coeficientes de atrito:

µcin < µest . (11)

Para que tenhamos uma ideia dos valores do coeficiente de atrito para diversos
materiais, apresentaremos a tabela 1 a seguir.
Tabela 1 – Valores de atrito cinético e estático
e diferentes tipos de materiais

Materiais µc µc
madeira/madeira 0,4 0,2
gelo/gelo 0,1 0,03
metal/metal (c/lubrif.) 0,15 0,07
aço/aço (s/lubrif.) 0,7 0,6
borracha/cimento seco 1,0 0,8
articulações nos membros humanos 0,01 0,01

Para que possamos comparar o atrito de alguns pisos secos com os molhados,
apresentamos a Tabela 2.
Tabela 2 – Comparação entre os coeficientes de atrito típicos
entre alguns pisos secos e quando molhados
Descrição da superfície Seca Molhada
Concreto novo (rugoso) 0,84 0,61
Concreto trefegado 0,69 0,56
Asfalto novo (rugoso) 0,79 0,62
Asfalto trafegado 0,66 0,53
Paralelepípedo novo (ruguso) 0,78 0,60
Paralelepípedo trafegado 0,68 0,48

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UNIDADE Dinâmica de Partículas

Exemplos de Aplicação
das Leis de Newton
1. Problemas envolvendo blocos de madeira: dois blocos de massas m1 = 2
kg e m2 = 3 kg são colocados em contato sobre uma superfície lisa sem atrito e
uma força F = 100 N é aplicada sobre o primeiro bloco. Determine:
a) a aceleração do conjunto;
b) a força que o bloco 2 exerce sobre o bloco 1.

F
m1 m
2

Figura 7 − Dois blocos são empurrados por uma força F


e deslizam por uma mesa plana sem atrito.

Resp.: a) Para resolver o problema, vamos utilizar o chamado Diagrama de


Corpo Livre, que é um método que auxilia na resolução de problemas princi-
palmente envolvendo forças de contato. O método é simples: isole cada um dos
elementos participantes e introduza as forças que só atuam nele. Após, aplique a
segunda lei de Newton para cada um dos elementos e elimine as forças de natureza
interna ao sistema para, em seguida, determinar a aceleração do sistema e deter-
minar as forças desconhecidas. Seguindo esse procedimento, vamos isolar cada
bloco e colocar todas as forças que nele estão atuando:

n1 n2

y
F P’ P
x
m1 m2
m1 g m2 g
Figura 8 − Diagrama de corpo livre para os blocos 1 e 2

Aplicando a 2 a Lei de Newton ao bloco 1 e 2, podemos escrever que o soma-


tório de todas as forças na direção x é igual à soma das massas vezes a acelera-
ção do sistema, a saber, Fx =  mi  a, de forma que, isoladamente para cada
bloco, temos:

bloco 1: F − P' = m1a , (12)


bloco 2: P = m2 a + (13)
F  P  P =  m1  m2  a .
'
(14)

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Em adição, a 3 a Lei de Newton garante que P' = P, de modo a podermos can-
celar as duas forças da equação anterior para a simplificarmos:

F =  m1  m2  a . (15)

Logo, o conjunto formado pelos dois blocos comporta-se como se fosse um


objeto só de massa igual à soma da massa dos blocos  m1  m2  . Dessa forma, a
aceleração pode ser obtida:

F 100
a= = = 20 m/s 2 . (16)
m1 + m2 2 + 3

b) A força que o bloco 2 faz no bloco 1, P' , é igual em módulo, mas de sentido
oposto ao da força que o bloco 1 faz no bloco 2, P. Logo, utilizando a 2 a Lei de
Newton para o bloco 2 (a segunda equação do sistema anterior) e usando o valor
obtido da aceleração do conjunto, temos:

P' = P = m2 a = 3 × 20 = 60 N. (17)

Observando-se com cuidado, a proporção que cada uma das massas possui em
relação à massa total é justamente a proporção da força total que é absorvida pela
massa. Neste exemplo, a massa m2 representa 60% da massa total  m1  m2  e ela
absorve 60% da força total aplicada.

2. Um bloco de massa m2 desliza rampa abaixo sem atrito e de inclinação θ .


Preso a ele está uma esfera, de massa m1 , que está pendurada fora do plano incli-
nado e que é ligada ao bloco por intermédio de um cabo que passa por uma polia
(vide Figura 9). Determine:
a) a aceleração a do conjunto;
b) a tensão T no cabo.

Dados: Considere o cabo sem peso e inextensível e o plano inclinado sem atri-
to; a aceleração da gravidade local é g = 9.8 m/s 2 .

Sejam m1 = 5.00 kg, m2 = 10.0 kg e θ = 45o.

T a

T m2

a m1

Figura 9 – Plano inclinado sem atrito em que o bloco puxa com seu peso a esfera

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UNIDADE Dinâmica de Partículas

Resp.: a) Vamos usar o método do Diagrama de Corpo Livre, da mesma for-


ma em que foi usado no exemplo anterior. Vamos escrever a 2 a Lei de Newton
para as massas 1 e 2 e depois somá-las.

Figura 10 − Diagrama de corpo livre das duas massas presentes no problema


Massa 1: T − m1 g = m1a (18)
Massa 2: Px  T = m2 a  (19)
Total: Px  m1 g =  m1  m2  a . (20)

A força Px é igual a m2 g sin θ , de forma que a aceleração do conjunto é:

 m2   m1 
a=  g sin    g
m
 1  m2  m
 1  m2 
(21)
 m sin   m1 
= 2 g .
 m1  m2 

Introduzindo os valores, temos:


 2 
 10.0   5.00 
a= 2   9.8 , (22)
 10.0  5.00 
 
 
resultando o valor:
a = 1.35 m/s 2 (23)
b) A tensão T no cabo pode ser obtida para a equação da massa 1:
T − m1 g = m1a (24)
ou
T = m1  g  a  = 5.00   9.8  1.35  ,

cujo valor da tensão T é:


T = 55.75 ≅ 55.8 N . (25)

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3. Um bloco de massa m1 é puxado por uma força F inclinada de um ângulo
θ que faz o bloco deslizar sobre uma superfície horizontal com coeficiente de atrito
cinético µcin com a superfície do bloco. Ligado ao bloco 1 há um fio inextensível
e de massa desprezível, que passa por uma polia ideal (sem peso e sem atrito) em
que é pendurada uma esfera de massa m2 . A aceleração da gravidade no local é
g. Determine a aceleração do conjunto e a tensão no fio em função dos dados
apresentados.

Figura 11 – Uma força F inclinada de um ângulo θ é aplicada ao bloco 1,


que está ligado por um fio à massa pendurada após o fio passar por uma polia ideal

Resp.: Vamos utilizar o método do Diagrama de Corpo Livre, apresentando


em separado as forças em cada massa presente:

Figura 12 − Diagrama de corpo livre para as massas 1 e 2 do problema

A componente horizontal da força F que puxa o sistema como um todo é


F cos θ . Precisamos descontar a força de atrito cinético f cin = cin n = cin  m1 g  F sin  

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UNIDADE Dinâmica de Partículas

e a tensão do fio, T. Então, podemos escrever as equações para a massa 1 e para


a massa 2 usando a 2 a Lei de Newton:

Massa 1: F cos   cin  m1 g  F sin    T = m1a (26)


Massa 2: T  m2 g = m2 a  (27)
Total: F cos   cin m1 g  cin F sin   m2 g =  m1  m2  a .

Isolando a aceleração a, obtemos a seguinte expressão:

F  cos   cin sin     cin m1  m2  g


a= . (28)
m1  m2

Para a determinação da tensão, basta utilizar a equação dinâmica para a massa 2,


a saber:

T = m2  g  a 

 F  cos   cin sin     cin m1  m2  g 


= m2  g  
  m1  m2  

  m  m2  g  F  cos   cin sin     cin m1  m2  g  (29)


= m2  1 
 m1  m2 

 m2 
=   F  cos   cin sin     cin  1 m1 g 
 m1  m2 

Trabalho e Energia
A energia é um dos conceitos mais importantes da Física. A Física Newtoniana
está completamente baseada em forças, velocidades, acelerações, que são grande-
zas vetoriais e possuem, portanto, orientação espacial. Sempre que temos de lidar
com vetores, a consequência é ter de lidar com matrizes, ângulos, componentes e
outras quantidades que são de difícil visualização espacial e de complexo trato ma-
temático. O conceito de energia surgiu com novas descrições da Mecânica, novos
formalismos e com a tentativa de se buscar descrever o movimento de um sistema
tratando com quantidades físicas sem orientações, quantidades físicas conhecidas
por escalares, as quais são grandezas em que basta um número e mais nada para
descrevê-las. A energia é uma grandeza escalar, pois ela não possui orientação e
um número a define. Como é uma quantidade escalar, quando tratamos com situa-
ções envolvendo várias porções de energia, podemos fazer um balanço, somá-las
todas antes de um movimento ser executado e depois da movimentação, após,
podemos conferir se a quantidade permaneceu constante antes e depois do movi-
mento, ou se ocorreu dissipação da energia e a quantidade inicial tenha variado.
Dessa forma, podemos classificar os sistemas físicos em duas categorias: aquela

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que conserva a quantidade de energia constante e a que não mantém constante a
energia. A primeira refere-se aos sistemas conservativos e a segunda aos siste-
mas dissipativos. É importante frisar que a energia adveio do conceito de trabalho
de uma força e que, por sua vez, é proveniente da Mecânica Newtoniana. Assim,
uma simplificação considerável no tratamento matemático da teoria veio com a
introdução do conceito de energia, mas essa nova abordagem é equivalente, em
essência, à Mecânica de Newton.
Com o passar do tempo, o conceito de energia foi abrindo seu leque e uma
gama de novas modalidades de energia foi surgindo: energia mecânica, energia
elétrica, energia magnética, energia cinética, energia térmica, energia luminosa,
energia potencial. Esta última também foi dividida em energia potencial gravitacio-
nal, potencial elástica, potencial elétrica, potencial magnética, potencial química,
potencial nuclear, entre outras. A conservação da quantidade de energia passou a
ser monitorada para as transformações de uma modalidade de energia em outra.
Por exemplo, podemos transformar a variação da energia potencial gravitacional
em energia elétrica. É o que se faz em uma usina hidrelétrica. A monitoração do
balanço energético consiste em se verificar se parte da energia que foi transforma-
da em outra modalidade de energia foi perdida para o meio ambiente. Neste caso,
foi dissipada para o meio ambiente na forma de calor, que é a energia térmica que
passa de um lugar para outro. Dizemos que o calor é a energia térmica em trânsi-
to. Sempre que há dissipação de calor, o sistema não é conservativo. Isto ocorre,
principalmente, na presença de alguma forma de atrito ou de forças dissipativas.
A energia conservada é uma garantia de que o movimento não sairá de certos
limites; logo, a quantidade de energia limita o movimento. Veremos que o Princípio
da Conservação da Energia será uma das bases fundamentais de toda a Física.

Trabalho de uma Força


Agora, vamos introduzir o conceito de trabalho de uma força, pois a energia
será definida adiante no texto como a capacidade que um corpo tem de realizar
trabalho. Para entender o que significa trabalho de uma força em Física, vamos
considerar uma situação em que uma força é aplicada a um bloco que repousa so-
bre uma superfície sem atrito. A força forma uma ângulo θ com a superfície em
que o bloco poderá se mover.


Figura 13 − Uma força F é aplicada sobre um bloco formando um ângulo θ com
a horizontal que irá deslizar sobre uma superfície sem atrito em um deslocamento d

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UNIDADE Dinâmica de Partículas

O trabalho W de uma
 força é definido como o produto do módulo
 da compo-
nente de uma força F na direção do deslocamento que ela causa d pelo módulo

d desse deslocamento. Assim, matematicamente, o trabalho W de uma força F
é definido por:

W =  F cos  d . (30)
 
Como tanto a força F quanto o deslocamento d possuem orientação espacial,
o trabalho poderá ser
 positivo ou negativo.
 Ele será positivo no caso em que a com-
ponente da força F e o deslocamento d estejam apontados no mesmo sentido;
caso contrário, o trabalho W será negativo. Há ainda uma terceira possibilidade,
quando o ângulo θ for reto (90 o ), o cos 90o = 0 e o trabalho será nulo. Qual é o
significado desses resultados?

1.
 
a) W > 0, a força F causa um deslocamento d no mesmo sentido. É uma
forma natural de executar trabalho, pois a atuação da força causa um
deslocamento (trabalho realizado);
 
b) W < 0, a força F atua de forma oposta ao deslocamento d. É uma
forma em que a atuação da força não produz o deslocamento, mas atua
de forma a impedi-lo (trabalho sofrido);
 
c) W = 0, como a força F forma ângulo reto com o deslocamento d , não
há a execução de trabalho (trabalho não realizado).

Portanto, percebe-se que só há produção de trabalho se a força atuar no movi-


mento, seja para causar um deslocamento, seja para impedir o deslocamento.

Há uma forma de escrever a equação para o trabalho W de forma mais simples


e natural: é com a utilização do conceito de produto escalar entre dois vetores.
Faremos uma breve explanação desse conceito matemático para, somente após,
prosseguirmos.

Produto escalar entre dois vetores


   
Sejam dois vetores em 2-D, A e B, dados na base canônica i = 1, 0  e j =  0,1 por:
  
A = Ax i + Ay j , (31)
  
B = Bx i + By j . (32)
 
O produto escalar entre A e B é aquele que transforma os dois vetores, os
quais são objetos com orientações, em um escalar, isto é, em um número, sem
orientação. O produto escalar em 2-D é definido da seguinte forma:
 
A  B = Ax Bx  Ay By . (33)

22
   
O A ⋅ B é lido “o produto escalar de A por B ”. Devemos observar que, como
o módulo das componentes, Ax , Ay , Bx e By , são números, o produto escalar é
comutativo, isto é:
   
A⋅ B = B ⋅ A . (34)

Devemos ter em mente que a palavra “produto”, em Matemática, sempre quer


dizer alguma espécie de multiplicação. Em inglês, o produto escalar é conhecido
como dot product, que pode ser traduzido como “produto ponto”, em contrapar-
tida ao cross product, ou produto cruz, cuja tradução melhor é produto vetorial,
uma multiplicação entre vetores que transforma dois vetores em um terceiro vetor
que é ortogonal a ambos (no espaço euclidiano cartesiano convencional, forma
ângulo reto com ambos).

Conseguimos visualizar facilmente que um produto escalar de um vetor qualquer


por ele mesmo resulta no módulo ao quadrado do vetor. Por exemplo:
  2
A  A = Ax Ax  Ay Ay = Ax2  Ay2 = A = A2 . (35)

É fácil mostrar, porém não é uma tarefa que está no escopo desta Unidade de
aprendizado, que a seguinte relação também é válida para o produto escalar entre
dois vetores A e B que formam um ângulo θ entre si (podemos manter, por sim-
plificação, 0    180o ):
 
A  B = AB cos  . (36)

 
Figura 14 − Produto escalar entre dois vetores A e B.
Ele é sempre o resultado da multiplicação da decomposição
de um vetor sobre o outro pelo módulo do segundo

Assim, o ângulo θ pode ser agudo, obtuso ou reto, de maneira que poderemos
afirmar que:

1.
 
a) A ⋅ B > 0, se θ < 90o (ângulo agudo);
 
b) A ⋅ B < 0, se 90o <   180o (ângulo obtuso);
 
c) A ⋅ B = 0, se θ = 90o (ângulo reto).

23
23
UNIDADE Dinâmica de Partículas

Isso nos faz lembrar de algo já visto? Sim, possui a mesma estrutura que o tra-
balho W de uma força.  Logo, podemos definir  o trabalho por intermédio do pro-
duto escalar da força F pelo deslocamento d :
 
W = F ⋅d . (37)

Devemos salientar que o trabalho é uma transferência de energia, pois se


a energia é transferida para o sistema, o trabalho é positivo, mas se a energia é
transferida do sistema, o trabalho é negativo e se não houver transferência de
energia, o trabalho é zero.
 
Notemos que para θ = 0 ( F e d alinhados na mesma direção e mesmo sentido),
 
o trabalho é simplesmente W = Fd , pois cos 0o = 1. No caso de θ = 180o ( F e d
estão na mesma direção, mas em sentidos opostos), o trabalho recebe um sinal ne-
gativo, W = − Fd , já que cos180o = −1.

Unidade de trabalho
A unidade de trabalho, designada por W  , é igual à unidade de força,  F  , que
é o newton, multiplicada pela unidade do deslocamento,  d  , que é o metro. Logo:

W  =  F    d  = N  m = J , (38)

em que J é também a unidade de energia conhecida como joule. Assim, um joule


é o trabalho que uma força de um newton faz para deslocar um objeto em um des-
locamento de um metro na mesma direção e sentido que a força.

Trabalho feito por uma força variável


Durante um deslocamento, nem sempre a força permanece constante. Para que
possamos calcular o trabalho de uma força que varia conforme o deslocamento,
precisamos fazer uso do Cálculo Integral, como já foi mencionado, inventado por
Newton e por Leibniz no século XVII. Mas também já dissemos que não é escopo
desta disciplina estudar esse tipo de cálculo. Mais uma vez, daremos uma ideia de
como é o princípio básico do Cálculo Integral sem, contudo, nos aprofundarmos
aqui em seu estudo.

A maneira como usualmente é introduzida a resolução do problema é conside-


rarmos que uma força que varia durante um deslocamento pode ter sua situação
completa dividida em pequenas porções. Como isso é feito?

Primeiramente, podemos dividir o deslocamento d em pequenos deslocamen-


tos ∆x, todos do mesmo tamanho, de tal forma que a força em cada pequeno
deslocamento ∆x seja aproximadamente constante. Com a finalidade de numerar-
mos cada um desses deslocamentos, vamos colocar um rótulo ou índice nos deslo-
camentos e na força em cada deslocamento: ∆xk e Fk , em que k = 1, 2, 3,  , n.
O valor de n corresponde ao número de pedaços.

24
O trabalho W será dado pela soma de todas as áreas dos retângulos formados:
n
W = Fk  xk , k = 1, 2,  , n . (39)
k =1

Figura 15 − Gráfico de uma força variável Fx conforme


varia o deslocamento x

O trabalho é obtido determinando-se a área sob a curva do diagrama força x


deslocamento:

Figura 16 − A área sob a curva do diagrama força x


deslocamento representa o trabalho W

Podemos nos perguntar: qual é o valor de n (o número de tiras retangulares)


para que tenhamos a força Fk praticamente constante durante cada deslocamento
∆xk ? A resposta é: depende da flutuação da força. Quanto menos ela variar, de
menos retângulos se precisará para se obter um bom resultado. A variabilidade
da força sendo grande, retângulos mais finos serão necessários para dar um bom
resultado. Caso a largura dos retângulos que seja feita tender a zero, tomando-se o
limite, obtemos a integral definida:
x
W =  f F  x  dx . (40)
xi

25
25
UNIDADE Dinâmica de Partículas

Claro, não temos a intenção de ir além nesta disciplina, mas devemos deixar a
mensagem de que existe uma forma de calcular o trabalho nessa situação de força
variável que é dada pelo Cálculo Integral. Então, em quais situações poderemos
trabalhar? A resposta é: em todas as situações em que seja possível fazer o cálculo
de uma área de forma simples, sem a utilização de integrais.

Vamos apresentar alguns exemplos para que possamos esclarecer e realçar al-
guns pontos.

Exemplos
1. Considerando uma força que varia conforme ocorre o deslocamento, deter-
mine o trabalho realizado pela aplicação da força Fx sobre um objeto ao se deslo-
car da posição x = 0 até x = 6 m. Utilize o gráfico da Figura 17.

Figura 17 − Diagrama força x deslocamento para uma força constante


que se torna linearmente variável após um certo ponto do percurso

Resp.: Objetivo: determinar o trabalho W , isto é, a área sob o gráfico entre 0


e 6 m.

Área 1: Entre os pontos A e B, a área é a de um retângulo de base 4 m e altura


5 N:

WAB = 4 × 5 = 20 J. (41)

Área 2: Entre os pontos B e C, a área é a de um triângulo de base 2 m (ou 6 − 4 ) e


altura 5 N:

1
WBC = × 2 × 5 = 5 J . (42)
2
O trabalho total é W = WAB  WBC =  20  5  = 25 J.

2. Um sistema oscilante do tipo uma massa que está presa a uma mola de cons-
tante elástica k obedece à Lei de Hooke, um cientista contemporâneo de Newton.
A Lei de Hooke é uma lei de força restauradora, em que a força cresce linearmen-
te com o deslocamento da mola em relação à posição de equilíbrio, isto é F = −kx,
mas está sempre tentando restaurar o equilíbrio (sinal negativo) apontando para a
posição x = 0 :

26
Figura 18 − Sistema de uma massa m presa a uma mola de
constante elástica k. A posição x é contada a partir do ponto de
equilíbrio, onde a mola não está esticada nem comprimida

Faça uma comparação entre os diversos trabalhos envolvidos:

a) com a mola totalmente comprimida até −xmáx ;

b) com a mola totalmente esticada até +xmáx ;

c) o trabalho total envolvido entre −xmáx e +xmáx ;

d) qual é o trabalho de um agente externo sobre a mola após a massa so-


frer deslocamento máximo até a posição ±xmáx ?

Resp.: Fazendo o gráfico da Lei de Hooke em um diagrama de força x desloca-


mento, temos uma área delimitada por um triângulo:

Figura 19 − Gráfico da força pelo deslocamento de uma mola que obedece à Lei de Hooke

a) Consequentemente, o trabalho realizado pela mola de −xmáx até a posição de


equilíbrio x = 0 é:

1 1 2
W1 =  kxmáx    xmáx  = kxmáx > 0. (43)
2 2

27
27
UNIDADE Dinâmica de Partículas

Podemos notar que, neste caso, a força da mola e o deslocamento estão na


mesma direção e mesmo sentido. A rigor, como se trata de área de um triângulo, a
medida de qualquer um de seus lados deve ser obrigatoriamente positiva. Contudo,
como estamos lidando com funções, o procedimento que fizemos funciona.

b) O trabalho envolvido da posição de equilíbrio x = 0 e +xmáx é:

1 1 2
W2 =  kxmáx    xmáx  =  kxmáx < 0. (44)
2 2
É possível notar, desta vez, que o trabalho é negativo porque o deslocamento
está na mesma direção, mas em sentido oposto à força.
1 2 1 2
a) O trabalho total envolvido é W = W1  W2 = kxmáx  kxmáx = 0;
2 2
b) Um agente externo irá fazer uma força sempre oposta à da mola, ou
1
seja, Fext = kx, de forma que o trabalho será sempre igual Wext = kxmáx
2
,
2
não importando se está do lado negativo ou positivo de x.

3. Uma sonda lançada por uma agência espacial ao planeta Marte sofre a se-
guinte força de atração pelo Sol, que é do tipo inverso do quadrado da distância:

1.3 1022
F = . (45)
x2
A variável x é a distância da sonda ao Sol e o sinal negativo indica uma força
de atração.

Figura 20 − Uma sonda que varia sua distância em relação ao Sol ao ir da Terra ao planeta Marte

Determine o trabalho feito pelo Sol sobre a sonda entre as distâncias 1.5 ×1011 m
e 2.3 × 1011 m.

Resp.: Sabemos que o trabalho é negativo, uma vez que a força tem sentido
sonda → Sol, mas o deslocamento tem sentido contrário. Assim, é só contar os
quadradinhos e colocar os fatores multiplicativos para a obtenção do trabalho. Al-
guns quadradinhos aparecem cortados, aproximadamente, ao meio, de forma que

28
a cada dois desses formamos um. Então, são, aproximadamente, 59 quadradinhos.
Cada um possui área 0.05 × 0.1×1011 = 5.0 × 108 J, resultando no trabalho
W = 59  5.0 108 = 2.95 1010  3 1010 J.

Figura 21 − Diagrama força x deslocamento para a sonda lançada para Marte

Conservação da Energia
Em forças cuja estrutura matemática é complexa, o Princípio Fundamental da
Dinâmica (ou 2 a Lei de Newton) pode ser de difícil aplicação na resolução de
problemas de movimento. Ao calcularmos o trabalho realizado por uma força que
atua em seu deslocamento, pode-se calcular também a variação de sua velocidade
(devemos lembrar que sempre que uma força resultante atua sobre uma partícula,
uma aceleração também existe e não é nula, de forma que podemos determinar
sua variação de velocidade).

Vamos escrever o trabalho da seguinte forma, utilizando a 2 a Lei de Newton:

W = Fres d = mad . (46)

Mas, para aceleração constante, o deslocamento pode ser escrito como vmt , isto é:

 v  v0 
d = vmt =  t , (47)
 2 
lembrando que a velocidade média, vm , é a média aritmética entre a velocidade
final v e a velocidade inicial v0 . Já a aceleração a pode ser escrita a partir da
equação para a velocidade em um MRUV:

v − v0
a= . (48)
t

29
29
UNIDADE Dinâmica de Partículas

Introduzindo as eqs.  48  e  47  na equação do trabalho W , temos:

 v  v0   v  v0  1 2 1 2
W = mad = m    t = mv  mv0 . (49)
 t  2  2 2
1
A quantidade mv 2 representa, por definição, a energia associada ao movimen-
2
to da partícula de massa m e velocidade v e é conhecida como energia cinética
da particula:

1 2
K= mv . (50)
2
Alguns livros a denotam por Ecin e outros por T , que é a notação utilizada
em Mecânica Lagrangiana e Hamiltoniana, formalismos ulteriores à Dinâmica
de Newton.

Vamos escrever a eq.  49  da seguinte forma, que é conhecida como Teorema


do Trabalho e da Energia Cinética:

W = K  K 0 = K . (51)

Percebemos que o trabalho W faz variar a energia cinética de um estado K 0


inicial para um estado K final. Ou, escrevendo de outra forma:

K = K0 + W , (52)

de forma que o trabalho injeta ou retira energia, dependendo se é positivo ou nega-


tivo. O trabalho é o promotor da variação de movimento. A recíproca também
é verdadeira: a energia cinética pode ser convertida em trabalho, como é o caso
das hidrelétricas, que convertem energia cinética das águas que estão passando
por suas turbinas em trabalho mecânico e, em seguida, em trabalho elétrico, para,
finalmente, se transformar em energia elétrica.

Trabalho e energia cinética com forças de atrito


Todas as vezes em que lançamos um objeto em movimento para deslizar sobre
um chão plano, o objeto diminui seu movimento até cessar definitivamente. Essa
diminuição de movimento é causada por um trabalho negativo realizado pela força
de atrito. Assim, a energia cinética inicial é dimuída pelo atrito, que dissipa em
parte ou totalmente essa energia cinética inicial e a transforma em calor para o
meio ambiente.

É bastante claro, neste ponto do texto, que a realização matemática do parágrafo


anterior é:

K =  f at  d (53)

ou

K 0  f at  d = K . (54)

30
Nesse caso, K < K 0 .

Se houver outras forças envolvidas, teremos de incluí-las na forma de uma soma


de trabalhos, ∑ jW j , que serão incorporados a essa equação:

K 0  W j  f at  d = K . (55)
j

Exemplos Envolvendo Trabalho e Energia Cinética


1. Um bloco inicialmente em repouso é puxado para deslizar sobre uma superfí-
cie sem atrito e horizontal. Sabendo que a força com que está sendo puxado possui
módulo constante de 12 N, calcule a velocidade do bloco após ele se mover por
3.0 m. A massa do bloco é conhecida e vale 6.0 kg.

Resp.: O trabalho da força é W = 12 × 3.0 = 36.0 J. Ele será usado para variar a
1 2
energia cinética a partir do repouso  K 0 = 0  até K = mv . Logo:
2

1
× 6.0v 2 = 36 (56)
2
v 2 = 12 ou v = 12 ≅ 3.5 m/s.

2. Resolva o mesmo problema, mas agora com atrito, em que o coeficiente de


atrito cinético é µcin = 0.15. A aceleração da gravidade local é g = 9.8 m/s 2 .

Resp.: O trabalho da força continua o mesmo, pois nada mudou: W = 36.0 J.


A energia cinética inicial também continua nula, mas temos um termo que é
 f at  d =  cin mgd = 0.15  6.0  9.8  3.0  26.5 J. Logo:

1
36.0  26.5 =  6.0v 2 , (57)
2
cuja solução é v = 1.77 ≅ 1.8 m/s.

Energia potencial e conservação da energia


Energia potencial é a energia associada ao arranjo de um sistema de partículas
que interagem mutuamente. Isto é o mesmo que armazenar energia em um sistema
e deixá-la disponível para ser utilizada.

Utilizamos o conceito de energia potencial apenas quando estamos tratando de


sistemas conservativos, em que a energia mecânica, que é a soma da energia ciné-
tica com a potencial, é mantida constante. Assim, podem ocorrer transformações
de uma modalidade de energia em outra, porém sem variar a soma das energias.
Este é o Princípio da Conservação da Energia Mecânica.

31
31
UNIDADE Dinâmica de Partículas

A energia potencial, denotada normalmente pela letra U, pode assumir diver-


sas formas ou modalidades. Para simplificar nosso trabalho, vamos abordar rapida-
mente as principais formas de energia potencial que podem ser úteis na produção
de jogos digitais.

Energia Potencial Gravitacional: todo campo de forças gera um potencial


em seu entorno de forma a interagir com as grandezas que são sujeitas à intera-
ção com o campo. Não é qualquer grandeza, pois o campo gravitacional somente
se acopla (interage) com massas, o campo elétrico com cargas e correntes elétri-
cas e assim por diante. Assim, por exemplo, o campo gravitacional gerado pela

Terra, g, interage com qualquer massa que esteja imersa nesse campo, produzin-

do uma força mg , o peso. Colocando-se essa massa m a uma altura h do solo
e soltando-a, ela será acelerada para baixo, ganhando velocidade, de forma que,
de maneira contrária, se aplicarmos uma força externa para movimentarmos a
massa a partir do chão em y = 0 até a altura y = h, o trabalho que essa força
externa dirigida verticalmente para cima deverá realizar para fazer esse desloca-
mento é Wext = mgh. O trabalho é positivo, pois o deslocamento foi no mesmo
sentido que a força. Na altura h, portanto, a massa possui essa quantidade de
energia armazenada, a energia potencial. Quem será o agente que fará com que,
naturalmente, essa massa se movimente e ganhe velocidade? Resposta: o campo
gravitacional da Terra.

Assim, a energia potencial gravitacional de uma massa a uma altura h do chão


é dada pela expressão:

U g = mgh . (58)

Energia Potencial Elástica: uma outra forma de energia potencial que aparece
frequentemente em Mecânica é a energia potencial elástica, que pode ser arma-
zenada em um elástico ou, mais frequentemente, em uma mola. A força elástica,
dentro de certas condições, obedece à Lei de Hooke, F = −kx. Já vimos que se
uma força externa atuar sobre a mola, seja para comprimi-la ou seja para estendê-
1
-la, o trabalho realizado por esse agente externo é Wext = kx 2 , de forma que esse
2
trabalho fica armazenado na mola na forma de energia potencial elástica. Assim,
podemos escrever:

1 2
Ue = kx , (59)
2
em que x é o deslocamento a partir da posição de equilíbrio.

Conservação da energia mecânica


Em um sistema mecânico conservativo, isto é, em um sistema em que as for-
ças dissipativas (atrito, resistência do ar) não estão presentes, define-se a energia
mecânica E como sendo a soma da energia cinética com a energia potencial:

32
E = K +U . (60)

Uma característica de um sistema conservativo é que sua energia mecânica (ou


energia total) conserva-se constante. Por não variar, podemos escrever que a ener-
gia em uma dada situação posterior (ou final) permanece igual a uma situação
anterior (ou inicial), havendo a possibilidade de escrever:

K ini + U ini = K fin + U fin . (61)

Dessa forma, se o sistema ganha velocidade, ele deve perder energia potencial
e vice-versa.

Exemplos envolvendo energia potencial, cinética e mecânica


1. Uma pequena bola de massa m = 2 kg é largada do alto de um edifício de
uma altura h = 20 m acima do chão. Resolva os itens a) e b) a seguir:

a) Calcule a velocidade que a bola terá ao chegar à altura de y = 4 m aci-


ma do solo. Despreze a resistência do ar.

b) Determine a velocidade da bola em y para o caso de no momento em


que ela passava por h = 20 m, ela se encontrava com velocidade inicial
para baixo igual a 5 m/s.

Dado do problema: aceleração da gravidade local: g = 10 m/s 2 .

Resp.: a) Usando a conservação da energia mecânica, uma vez que a resistência


do ar deve ser desprezada, podemos escrever:

1
E = mgh = mgy + mv 2 . (62)
2

Podemos perceber que não havia energia cinética inicialmente.

Como a massa m apresenta-se de ambos os lados da equação, podemos supri-


mi-la por simplificação:

v = 2g  h  y  . (63)

Introduzindo os valores, obtemos a velocidade em y = 4 m:

v = 2 10  20  4   17.9 m/s. (64)

b) Nesta nova situação, a energia cinética está presente desde o início, o que
mudará ligeiramente o problema e aumentará a velocidade final da bola. Vamos
novamente utilizar a conservação da energia mecânica E :

1 1
E = mgh + mv02 = mgy + mv 2 . (65)
2 2

33
33
UNIDADE Dinâmica de Partículas

Novamente, a massa m pode ser eliminada da equação, o que mostra que o


valor de 2 kg foi um dado desnecessário. Bem, Galileu já havia previsto que a queda
dos corpos independe da massa de cada corpo. Então:

v = 2 g  h  y   v02 . (66)

Introduzindo os valores, obtemos nova velocidade:

v = 2 10  20  4   52  18.6 m/s . (67)

2. Um pêndulo com fio de comprimento L = 2 m está preso a uma estrutura


rígida e possui uma massa m = 0.5 kg presa à outra extremidade do fio. A massa é
largada do repouso de um ponto em que o fio forma um ângulo θ A = 30o com a
linha vertical. Dado do problema: aceleração da gravidade local: g = 9.8 m/s 2 .

Determine a velocidade da esfera no ponto mais baixo da trajetória do pêndulo.

Resp.: Em A, o pêndulo possui energia potencial:

U A = mg  L  L cos  A  = mgL 1  cos  A  . (68)

Figura 22 − Diagrama mostrando a trajetória de um


pêndulo e sua projeção sobre o eixo vertical

Em B, vamos considerar a energia potencial nula, mas com energia cinética:

1 2
KB = mvB . (69)
2
Pela conservação da energia mecânica, temos que K B = U A , ou:

1 2
mvB = mgL 1  cos  A  . (70)
2

34
Novamente, a massa não participa do movimento e pode ser eliminada:

vB = 2 gL 1  cos  A  . (71)

Introduzindo os números, obtemos:

 3
vB = 2  9.8  2 1    2.3m/s . (72)
 2 

3. Um rapaz foi à montanha para esquiar. Ao chegar a uma altura de 20.0 m,


ele começou a descer montanha abaixo e, pela inclinação acentuada, o movimento
foi considerado sem atrito. Mas, ao chegar ao chão, ele encontrou uma superfície
horizontal com coeficiente de atrito cinético de 0.210. Qual é a distância que o
rapaz irá percorrer na superfície horizontal até finalmente parar? Adote a acelera-
ção da gravidade local, g = 9.8 m/s 2 .
Resp.: Vamos usar uma adaptação do teorema de conservação da energia me-
cânica, pois o sistema possui uma força dissipadora na horizontal. A adaptação é
que a energia mecânica com que ele inicia o movimento de descida é totalmente
convertida em trabalho da força de atrito, que por sua vez torna-se calor dissipado
para o meio ambiente. Assim, podemos escrever:
E  cin mg x = 0 (73)

Figura 23 − Esquiador descendo uma montanha sem atrito e depois


pegando um trecho plano, mas desta vez com atrito

Logo, a energia total E = U = mgh e, após a substituição na equação anterior, temos:


mgh  cin mg x = 0 . (74)

Tanto a massa m quanto a aceleração da gravidade g podem ser eliminadas,


de forma a obter:
h 20.0
x = =  95.2m. (75)
cin 0.210

35
35
UNIDADE Dinâmica de Partículas

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Vídeos
Leis de Newton
Mecânica - Aula 17 - Leis de Newton. Univesp. Prof. Dr. Gil da Costa Marques.
https://youtu.be/N3yJFmc7k3I
Práticas para o Ensino de Física I
Práticas para o Ensino de Física I - aula 06 - Leis de Newton. Univesp. Prof. Dr. Gil
da Costa Marques.
https://youtu.be/qENJtZb8r_Q
3ª Lei de Newton e Diagrama de Corpo Livre
Física I - Aula 14 – 3ª Lei de Newton e Diagrama de Corpo Livre. Univesp. Prof. Dr.
Gil da Costa Marques.
https://youtu.be/wbPH4OnSWdY
Correntes Alternadas
Cursos Unicamp - Física Geral I - Aula 13 - Prof. Dr. Luiz Marco Brescansin.
https://youtu.be/cG-6uy-hbbc
Trabalho e Variação da Energia Cinética
Física I - Aula 24 - Trabalho e Variação da Energia Cinética. Univesp. Prof. Dr. Gil
da Costa Marques.
https://youtu.be/g2o3V_gZcik
Work And Kinetic Energy
Chapter 7 - Work and Kinetic Energy.
https://youtu.be/uwXgjjLFHZo

36
Referências
BOURG, D. M. Physics for game developers. Beijing: O’reilly, 2002.

CHAVES JUNIOR, José Fernandes. Ferramenta de desenvolvimento: engine. São


Paulo: Erica, 2015. 1 (ebook). ISBN 9788536519210.

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computer graphics. Estados Unidos: Morgan Kaufmann Publishers,inc, 2001.

EBERLY, D. H. Game physics. Amsterdam: Elsevier, 2004.

HALLIDAY, David. Fundamentos de física. Volume.1: mecânica. 10. São Paulo:


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NUSSENZVEIG, H. M. Curso de física básica: mecânica. 4ª ed., v. 1. São Paulo:


Blucher, 2012.

RAMTAL, Dev; DOBRE, Adrian. Physics for JavaScript games, animation,


and simulations: with HTML5 Canvas. Apress, 2014.

37
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