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dez como deficiéneia — vinculada As lacunas na cogniglo e no pensamento — para uma concepeo da surdez como diferenca lingustica cultural, Qual 6, pois, o objetivo de escrever este livo? Em primeira lugar, & eriar um espago em que esse tipo de discussio seja pensado. De forma mais geral, 0 desejo do livro origina-se de reflexbes sobre algumas ques: toes relativas & area da surdez, pensando especficamente a relasao do uvinte com esse outro mundo, 0 momento parece oportuno e particular mente pertinente, na medida em que decisbes politicastém propiciado um olhar dferenciado para as minorias lingusticas no Brasil. Percebe-se que os discursos sobre o surdo, a lingua de sinais ea surdez, de uma forma am- pliada, “abrem-se” para dois mundos desconhecidos entre si: o do surdo em relagao ao mundo ouvinte ¢ o do ouvinte em relagao ao mundo surdo. 0 contetido aqui esbocado pode alcancar diferentes leitores: surdos, ouvintes legos, profissionals da surdez,estudantes, professores ou simples- mente curiosos. Virlas s3o as preocupagoes aqul delineadas.A principal 6a de ilustrar falas recorrentes e repetitivas advindas de algumas situaeies de interacio face a face com/entresurdos e ouvintes para trazer 3 tona algumas, crengas, preconceitos e questionamentos em torno da lingua de sinals e da realidade surda. Essa discussio ¢ crucial, pois na e através da linguagem esta mos constantemente construindo representaces crencas esignificados madbos, consumidos, naturalizadose disseminados na sociedade, ns espagos escolaes e familiares, muitas vezes como “normas" e “verdades absolutas" O leltor encontraré neste livro manifestagBes discursivas organiza- das em tras capitulos sob forma de perguntas ou afirmasdes que venho registrando e acumulando — por meio de conversas formais einformals nas minhas idas e vindas em contextos de ensino de LIBRAS para Ou- vintes, em eventos académicos e em interagdes cotidianas. O leitor po- ders vislumbrar no livro um ponto de partida para evocar o Repensar de algumas crencas compartilhadas, priticas,conceltos e posturas 3 luz de algumas transformagdes que marcam a drea da surdez na atualidade. Ou Seja,0 que se espera & poder promover um direcionamento para um novo olhar, uma nova forma de narrar as) realidade(s) surda(s). ‘Ao recuperar no titulo, a fala de um pai que confessa seu estranhamen- to.em relagdo a lingua do filho surdo, ao dizer “Las? Que lingua ¢ essa? «quero Nagrar total desconheclmento dessa realidade lingustie, tanto por parte daqueles que convivem de perto com a surdez, quanto por parte da Sociedade ouvinte de maneira geral, Além disso, propbe-se um espaso de articulagio em que questbes similares possam ser pensadas e, sem evitar Seu estranhamento,tornadas mais familiares Essa foi a forma encontrada para também sensibilizar ouvintes sobre um mundo surdo desconhecido e complexo. Como disse o poeta Leopardi, a forga de repetidese, portanto, de habito’ podem ser eriadas oportunidades para reflexbes e mudanass0- bre algumas opinides e também crengas daqueles que ndo estio ou nunca cctiveuabgnesatsin tenioeurdtve lagen dovustisen wtedee, Lingua de Sinais Ga wes queue ida sua seb on seu pao e sca Poa oe Mist A lingua de sinais é universal’ ta das crengas mais recorrentes quando se fala em lingua de siais 6 que ela € unl- versal. Uma vez que essa universalidade esté ancorada na ideia de que toda lingua de sinals é um “eéaigo" simplificado apre endido e transmit aos surdos de forma eral, é muito comum pensar que todos os surdos falam a mesma lingua em qualquer parte do mundo. Ora, sabemos que nas co: ‘munidades de linguas oral, cada pais, por ‘exemplo, tem sua(5) prépra(s) lingua(s). Embora se possa tragar um his térico das origens e apontar possvels parentescos e semelhangas no ni vel estrutural das linguas humanas (sejam elas rais ou de sinals), alguns fatoresfavorecem a diversificaglo ea mudanga da lingua dentro de uma ‘omunidade linufstica, como, por exemplo, a extensio e a desconti dade territorial além dos contatos com outras lingua. ‘com lingua de sinais no & diferente Hos Estados Unidos; os sur os "falam” a lingua americana de sinais; na Franga, a lingua francesa dc de sinais; no Brasil a lingua brasileira ( or diante. Vejamos abaixo a diferenca do sinal "mae" em Tinguas de sinais: ‘Ug pone “area 3 psa ‘A lingua dos surdos nao pode ser considerada universal, dado que nao funciona como um “decalque” ou *rétulo” que possa ser colado e util- zado por todos os surdos de todas as sociedades de maneira uniforme sem influénclas de uso. Na pergunta sobre universalidade, esta também ca, paralelo éinevitavel: e no caso de nossa lingua oral, essa, Perspectiva se mantém? Mesmo que, do ponto de vista pritico, tl unfor midade fosse desejivel, seria possvel a existencia, nos cinco continentes, de uma lingua que, além de tnica, permanecesse sempre a mesma? A lingua de sinais é artificial _Crenga. lingua de sins natural Pois evolu como parte de tim grupo cultural do povo surdo. Consideram-se “artificas” as linguas construlase estabelecidas por um grupo de individuos com algum propé- sito espectio. 0 esperanto (Lingua orl) eo gestuno (Lingua de sinals) so ‘Angus paeada mails sport. 0 rss adi jr 2a exon ofhalniologité icoge, pubtiu, on 1987, aversto inci eo idioma cout ouignte do ‘exemplos de linguas“artificias",cujo objetivo malor &estabelecer a comu- nicagio internacional. Esse tipo de lingua funciona como uma lingua auxiliar ‘ou franca. 0 gestuno, também conheeide come lingua de sints internacio- al, 6, da mesma forma que o esperanto, uma lingua construida, planejads, (nome é de origem italiana e significa “unidade em lingua de sinas’ Foi ‘mencionada pela primeira ver.no Congresso Mundial na Federasio Mundial dos Surdos (World Federation ofthe Deaf - WFD) em 1951. Em meados da {écada de 1970, 0 comité da Comissio de Unificac2o de Sinais propunha um sistema padronizado de sinais internacionais, tendo como critério a sele- ‘go de sinais mais compreensivels, que faciltassem o aprendizado, a partir dda integracio das diversas linguas de sinais. A comunidad surda, de forma igeral, no considera o gestuno uma lingua “rea” uma vez que fol inventa fae adaptada, Atualmente, entretanto, cursos sto oferecito, eos adeptos {do movimento gestunista divulgam os sinaisinternacionais em conferéncias ‘mundliais dos surdos (Moody, 1987; Supalla & Webb, 1995; Jones, 2001). A lingua de sinais tem graméatica? [Absolutamente. 0 reconhecimento linguistie6 tem marea nos est- dos descritivos do linguista americano William Stokoe em 1960. No to- ante as linguas orais, as investigages vm acontecendo ha muito mats tempo, é que em 1660 (ou seja trezentos anos antes) desenvolveuse uma “teoria de lingua em que as estruturas e categorias gramaticais po- diam ser associadasa padrBes lgicos universais de pensamento” (Crystal, 2000: 204), postulaa na Gramética de Port-Royal As linguas de sinals ‘or na ing de apendzagem muta equ unconasse ome ng fancy nena fo poe de eso cantor do mind. Sabeseenearn que neu a0 ado 0 [Spernt como sua eg pts um ao puma comunkde demas isi de faints linn empress en vas taper ev adept do movment espana imple tmentam eesenvem cues do expr ean stems de eco Santiags, 192) pra segldore do movment esperantsta nao wiz oto afc ps eet ‘que ha sim aspciosmturas na comune no expert, prefer eros comeing fom plonjaa ou aa pra defn es agumentam doe = Eaguagens naturals também thm cores src’ quan se pene nas medias nema (gates nora) tue ptr eras ars sng e uma form gor Tats dura questo conc pica em constant dete (Sata, 1992). Fists ome & da a grupo de estdions do scala XV qu sepa a eas de Red Secs poct-pet xn cu ease. crashes Meteosat angedianineisnancamt0'ms- ‘como se vé, vieram a ser contempladas cientficamente apenas nos iltimos {quarenta anos: antes, “sina nao era visto, mesmo pelos sinalizadores, como ‘uma lingua verdadeira, com sua propria gramatica” (Sacks, 1990: 76), “Ao descrever os nivels fonol6gicos' e morfoldgicos da lingua ame- ricana de sinais (ast. dagut por diante), Stokoe apontou trés parimetros {ue constituem 0s sinais e nomeou-os: configuragdo de mao (cM); ponto de articulagdo (x4) ou locapdo (1), delimitado no desenho por um circulo; «e movimento (4), cuja diregao éindicada por uma seta. 0 exemploa seguir llystra esses trés parametros no sinal “cerceza’, realizado em LIBRAS: Ose atts ca ee on Cp Red 290 ‘A partir da década de 1970, os lingustas Robbin Battson (1974), Edward S Klima & UrsullaBellugi (1979) conduziram estudos mais aprofun- dados sobre a gramatica da Ast, especificamente sobre os aspectos fonolgi- cos, descrevendo um quarto parametro: a orientato da palma da mao (0) Ficou demonstrado que dois sinais com os mesmas outros tris parimotros iguals (cm, 1,» poderiam mudar de significado de acordo com a orientagio toe da rami, ma busca de igo entific, a Grams de or Royal considera sued oneal nox etd Noa Chomsky tm dfn seis dese xc pensamemoe cassie. como "inguin cartes fazed “pra entre a els do trupoe sia pripria concept da rein entre ing a mente” (Crystal 1908: 208) "Aono das Ings de asf nialmente reerian por Soke como quicogt (ud rea sigiicami)equecema para correspondent de onera Enron, ee tron ne ving Na ertur onetcne oslo cominuam endo usados pars lar ta mao. bssecontrast de ois tenses com hase em un ino compo- jem linguistica, ‘de “par minimo”. Nas linguas orais, por trempl, pea erata se dferencam siglcatvamente pela alteragio de um tic fonema:asubstiuigio do /p/ por /r/.Nonfvel lexical temosem unas pares infnimos como os snas fama ereuido (que se opdem quanto) Trabathar vide (aferenciados pelo), aranja e aprender (quanto. | a =) pose de Me Ce eta apa de Capt Raed 008 DI. —— Poddemos testar os pares minimos com varias outras palavras, mas vojamos a seguir uma ocorréncia em LIBRAS no sinal “ajudar’, em que a forientagio da palma da mao faz a distingao de significado, sendo valida- da, portanto, como mais um parimeteo: a a 1 Ajuda algun 2 Ser ajudado owt aa i it Cops Rake nH, O exemplo ilustra a diferenca marcada entre o sentido em (1) "eu ‘judo X*e em (2) “Xajuda a mim’ Varios outros verbos fazem a flexio verbal dependendo da orientacio da palma da mio: respeitar,respon- der, telefonar, avisar etc. Esse pardmetro nio serve apenas para marcar a flexao do verbo, mas também para a marcacio, por exemplo, de nega- tivas como em “querer” e “ndo querer’, “saber” e "nio saber’, “gostar™ e*ndo gostar". 0s sinais também podem ser realizados com uma ou duas maos. Vejamos primeiro o exemplo da composicio, a partir da segmentagao dos quatro pardmetros, da sinal “conhecimento” em Lipnas (uma mio apenas): "Para uma eure mls detathada sobre a estrura Hinges da Linnas cf Fevers Beto (1995) dundros & Karnopp 2008, Xavier 2006), (200} «da asc toe (1960), Friedman (1977), Kin Belg (1979), adel (1980) Lil Johnson (1986), —- ‘De lad cmt Cn apn A A configuragto de mao diz respeito& forma da mao — na palavra “co- ‘nhecimento um sinal realizado com uma mio em numeral 4" ow na forma [52]. A orientagdo da palma da mao indica que os sinais tém nas, 0: do conhecimento, para o lado direito (contralateral). locagdo reere-s a0 lu- gar: podendo ser realizado em alguma parte do corpo, eno exemplo podemos ‘erficar que ocorre em frente ao queiso. Finalmente, o movimento, que pode "No caso de “conhecimentoalateral do dedo {ndicador bate préximo ao lad deta do quel. Vejamos, seul a compo- sig dos quatro parimetros do sna "verdade’ realizado com as duas mos: es acm vs Cn Ra 208 “As mios ndo sto 0 nico veiculo usado nas linguas de sinais para ——— tals (entonasto, velocidad, mo, sotaque,exresbes falls, esta: Ses, entre otros), nas ings de sna, as express facia (movimen Settee eee Seer aed sintticas e atuago como componente lexical’ Conpoerta ed GOGRGY toes ci ta A rae rt po px ater cna peo apr enept ein ho ca ioe re cl mpl san cme on Cp a 8 HEH Apartirdaandlisedesss parimetros podemos perceber que asin- suas oras eas linguas de sinais so similares em seu nivel estrtural 0 ‘sss eps mio manuals na funy ntti, pe se x permuntasretres oa ‘es rata tpicalzagoes Na constitu de componente leet, unelonam oma" "eferénca especies como uns referéncl ronal, sa prea neat, um ser ‘om inodcador ou uma sanea de aepecte” [Fervetes Brea, 1995: 240), ‘A UiNGLA On ses smo observa Noam Chomsky, odass linguas funcionam como sistemas combinatérios discretos:"Sentengase frases Sio ‘eonstrufdas de palavras; palavras so construfdas a partir de morfemas; ‘¢ morfemas, por sua vez, slo construidos a partir de fonemas” (Pinker, 41095: 162). Em que, ent3o, as linguas oraise de sinais diferem? (@iferem quanto forma como as combinagdes das unidades sio ‘@onstruidas: Enquanto as linguas de sinais, de uma maneira geral (mas ‘no exclusiva! incorporam as unidades simultaneament; a inguas endem a organizé-las sequencialmente/linearment® A explicagio para essa diferenga priméria se dé devido ao canal de comunicaco em ‘que cada lingua se estrutura (visual-gestual x vocal-auditive, pois essas ‘aracterstca flea mais salientes em uma lingua do que em outra(Fr- reira Brit, 1995; Wilox & Wilcox, 1997). ‘As investigagSes linguistics apontam e descrevem a existéncia de caracteristicaslingufstico-estruturals que marcam as linguas humanas hnaturais. A crenga, ainda muito forte na sociedade ouvinte, de que a lingua de sinais dos surdos nao tem gramtica esta ancorada na crenca de que falamos a seguir: ade que elas nao passariam de mimicas e pan- q A lingua dos surdos é mimica? “Falso, Para demonstrar a diferenga entre a mimica eos sinals, Klima & Bellugi (1979) conduziram um estudo a partir da observagio de narra- tivas que necessitariam de pantomimas durante a contacio da historia Nesse estudo, a narrativa estudada foi “O unicérnio no jardin de James ‘Thurber: Nela foram constatadas “invengBes” de sinals paraa palavra “ca misa de forsa” — em inglés straiacket. Embora, em alguns momentos, Nomis doranos 1980 entretant formulas gus inguistas quant &incorp ‘ago muta evident da seguencden onli ds SO mesma é verdadero em LEAS Econ tne.ctehinacerndhaheneetesstinn ssemmees 1807): a en ae (0s surdos usuarios de Ast. langassem mao desse recurso para sinalizar 0 conceito,e cada sinaltivesse um jeito, fol possivel constatar que, no an- ‘damento da historia, e mesmo em situagdes de sua recontagem, 0 conceito supracitado na sinalizagao continuava icBnico, Entretanto as invesigacies ‘mostraram que houve uma simplifiagao e uma estilizagio nos movimentos —0s sinals pareciam mais sistematizados e convencionados. Veja abaixo a [rogressio da pantomima em (a) para o sinal “inventada" em (b) (@)Panomima de “eamisa-de fora? Na sequéncia, os pesquisadores procuraram estabelecer um critéio, espectico para fazer a distingSo entre ast. e pantomimas. Para tanto in- vestigaram dez individuos nao sinalizadores para demonstrar em gestos algumas palavras do inglés. Veja o exemplo da palavra “ovo” (retirado de Klima & Bellugi, 1979: 17) (1) Tpo de reduo do sal Paine bag ae. — ‘ePirina de (i eo A Constatou-se que, para o exemplo acima, as pantomimas observadas ti- ‘nham muitas possibilidades, variando de um individuo para outro; enquanto ha lingua americana de sinais permanecia apenas uma variedade, ot seja 4 variesade legtimada e convenclonada pelo grupo de usuarios estudados. ‘Qutra diferenca é que as pantomimas ou mimicas — uma vea que tentavam representaro objeto tal como existe na realidade — eram muito mais det thadas, comparadas aos sinals americanos, levando muito mals tempo para ‘sua realizagdo. A pantomima quer fazer com que voc® veja 0 “objeto’enquan- ‘two sinal quer que voe vejao simbolo convencionado para esse objeto. Quando me perguntam, entretanto, se a lingua de sinais € mimica, centendo que esta impliito nessa pergunta um preconceito muito grave, {que vai além da discussdo sobre a legitimidade linguistica ou mesmo so- hye quaisquer relagGes que ela possa ter (ou niio) com a lingua de sinais “std associada a essa pergunta a idela que muitos ouvintes tém sobre os “surdos: uma visio embasada na, segundo a qual o maximo "queo surdo consegue expressar é uma forma pantomimica indecifravel e -somente compreensivel entre eles; Nao a toa, as nomeagies pejorativas ‘anormal, deficiente, débil mental, mudo, surdo-muco, mudinko tém sido ‘equivocadamenteatribufdas a esses individuos’. "Alingua de sinais tem todas as cafacteristicas lingliisticas de qual- (quer ingua humana naturals necessario que nés, individuos de uma cultura de lingua oral, entendamos que o canal comunicativo diferente ee (visual-gestual que surdo usa para se comunicar nfoanula a existéncia “de uma lingua to natura, complexa e genuina como a lingua de sina ‘Aesserespeito quero salientar trés defines encontradas no Diciondrio Aidatco de portugués (Biderman, 1998: 630-645) smimica sic. Expresso de ids, palavras ou sentiments através de gestosexpressivos que acompanham gu substituem a fla 08 mados ‘sam min pre cmuncr sa Drntopvet tna fo vris bincodelras; uma dela foo Jogo de mimic pl: mimics [enfase minha) ey ue muder 1 mudez Qualdade daguele que & mado, de quem no fala. Mul. ts vezes, a mute ¢ provocade por problemas de audita// No se usa no lad mudo/ of surden ‘mado ad. mud. 1. Que no fala por problemas fisicos ou psiolles. 4s definigdes interrelacionadas acima perpetuam as idelas de que (0s surdos nao tém lingua, e os desdobramentos dessas definigbes contri- bbuem para que acreditemos que eles ndo podem produzir fala Inteligivel ¢ de que nao tém cordas vocais. Os surdos sio fisicameélite e psicologica- ‘mente normais: aqueles que tém o seu aparato vocal intacto (que nada tem a ver com a perda auditiva) podem ser oralizadas' e falar a lingua oral, se assim desejarem. Entretanto,o que deve ficarregistrado &a forma pela qual constantemente se atribui a lingua de sinais um status menor, Inferior teatral, quando definido e comparado a mimica, E possivel expressar conceitos abstratos na lingua de sinais? Claro que sim! Novamente, a pressuposicao de que nao se consegue expressar ideias ou conceitos abstratos esté firmada na erenga de que a lingua de sinas ¢limitada, simplificada, endo passa de um cédigo prim tivo, mimica, pantomima e gesto. No Diciandrio de lingustica e fonética, Por exemplo, gestos sto considerados tragos paralingutsticas ou extrain guisticos das linguas orals: ‘nize # un rename, com aint de fonasulogns, para que ums yess su psa pros oa ing rE rin ei tera Wika Creve EP Em sew sentido mais amplo, otermo se refere a qualquer coisa do mundo (que mio sejaLincua) em relago a qual lingua est sendo usada — as twagoextralingustic’ A express2o"tragosextralingulsticos" pode signif ‘ar quaisquer propriedades de tls situagdes, ou, em termos mals expect ‘0s, propriedades da comunicagdo que nio so laramente aalisivels em fermos tincuisricos (gests, tom de vox ete), Alguns linguistas nomelam primeira classe de tracos como MeraLincvisricos outros nomelam ase ina classe como ranauincufsTicos (Crystal, 2000: 105-106), Para nos desvincularmos da acepeo exposta acima, devemos enten der que sinals nao sio gestos. Pelo menos no se pensarmos gestos de ‘acordo com a definicao anterior. Assim, 6 correto afirmar que as pessoas ‘que falam Iinguas de sinais expressam sentimentos, emogbes e quaisquer {deias ou conceitos abstratos. Tal como os falantes de linguas orais, os falantes de linguas de sinais podem discutir filosofia, politica, literatura Assuntos cotidianos etc. nessa lingua, além de transitar por diversos g@- heros discursivos, criar poesias, fazer apresentagBes académicas, pecas twatrais, contar e inventar histérias e piadas, por exemplo. Emmanuelle Laborrit,surda francesa, em seu belissimo livro 0 voo da galvota, afrma: (0s sinals podem ser agressivos,diplomaticns,poéticns, osétios, mate :maticos: tudo pode ser expresso por meio de siais, sem perda nenhuma de conteido, E uma lingua exclusivamente ic6nica? CCrenga. Hé uma tendéncia em pensar assim, e essa visio relaciona-se ‘com o fato dea lingua de sinals ser uma lingua de modalidade espaciovisual ‘sea, a lingua, quando sinalizada, ica mais “palpvel,"visive Nesse sen- tido,relagdes entre forma e significado parecem ser mas questionadas. Ess associagio incorre, muitas vezes,em cairmos no rsco de reforgaracrenca de ‘quea lingua de sinas seria apenas uma representaco pantomimica —0 que ‘io procede, pois, como argumenta Ferreira Brito (1995: 108),"aiconicida de €utiizada na lingua de sinals] de forma convencionalesistematica. Embora exista um grau elevado de sinais icdnicos (beber, drvore asa, avid..), 6 importante destacar que essa caracteristca ndo 6 exclu iea.das linguas de sinais. As linguas orais incorporam tambéan essa ca: — racteristica, Podemos verfic-la no clissico exemplo das onomatopéias ‘como pingue-pongue, ziguezague, tique-taque, zum-2um — eujas formas representam, de acordo com cada lingua, significado. Além disso, mes- ‘mo sinais mais icdnicos tendem a se diferenciar de uma lingua de sinai para outra, o que nos remete ao fato dea lingua ser um fendmeno conver cional mantido por um “acordo coletivo ticto" entre os falantes de uma determinada comunidade (Saussure, 1995) ‘Ainda amarrada a essa crenga esto que Wilcox & Wilcox (1997: 6) destacam em seu livro:a de que as linguas de sina seriam mais conceltu- {is do que as linguas orais. Na verdade, todas as linguas so conceituais, a diferenga é de que forma cada lingua “empacota os conceitos em wnida~ des linguisticas". A metifora do "pacote isto é, 0 moda como cada lingua 4 forma aos conceitos em unldades linguistcas,ilustra bem a questio: quem de n6s jé no se perguntou, por exemplo, por que uma palavra, em dada lingua, quando traduzida para outra, pode ficar muito malor em sea tamanho? Ou mesmo uma sentenga, ou texto? Em alemao,o sintagma nominal a associagdo dos fabricantes de copos de suco de faranja tem a seguinte forma: die Orangensaftglashersteller- vereinigung. Em Linnas, a pergunta qual é 0 sew nome? & a sinalizacao apenas da palavra nome com expresso facial marcando a pergunta: Isso ocorre porque o contetdo e a informagio nas palavras de certas linguassio"empacotadas” dstintamente. No significa dizer entretanto, que uma ou outra lingua seria simplificada por ter “pacates menores” e nao ne- cessitar, por exemplo, de conjungées, preposicBes ou flextes verbais em sta so ura, 0 inglés, se comparado a0 portugués, tem uma construgio dis- ta na conjugago dos verbs, mas isso no significa dizer que uma lingua ja simplificadae outra complexa, 0 mesmo serve para as linguas de sinais ‘Alnal, a complexidade 6 inerente a todas a linguas humanas enaturais. A lingua de sinais 6 um cédigo secreto dos surdos? COs surcos foram privadas de se comunicarem em sua lingua natural du- ‘ante séculos Vrios estudos tém apontado a diff relacdo dos surds com ‘lingua oral majritiria e com a sociedade owvinte Escolas,profissionais da ‘aide, e familiares de surdos t2m seguido uma tradiedo de negasio do uso los sinas. Groce (1985), por exemplo, oferece-nos um panorama das ati les ds ouvintes em relago sure, apontando que, por séculos, os surdos| hio tinham respeitados os seus direitos e reconhecldas suas responsabil dads, mesmo depois de receberem educagio. Padden & Humphries (1988) Imostram que as escolas,em sua grande maioria, proibiam o uso da lingua de sinais para a comunicasio entre os surdos,forgando-os a falar e a faze lei- tura labial. Quando desobedeciam, eram castigadosfisicamente tinham as Indios amarradas dentro das salas de aula. desenho da surda Betty G. Miller denuncia a prolbiclo da lingua americana de sins nas escolas de surdos: assess tem implies pra aus, especicamentepnsindo a trad d sass porenpstonvioe eess. ‘A maloria dos surdos fot educada em mosteiros,asilos ou escolas em regime de internato. Eles migravam para essas instituiées, vistas como Anica possiblidade de receber instrucao. Lane (1984), por exemplo, de- dica um livro para contar um pouco da hist6ria dos surdos nos Estados Unidos, mostrando que na batalha entre “manualistas"e “oralistas’alin- {gua — ainda que banida muito mais do que valorizada — e seus falantes — muito mais oprimidos e discriminados do que os individuos ouvintes — resistiram. Embora essassituagdes sejam retratadas em obras publica- das no exterior, no Brasil, trajetéria dos surdos nio foi muito diferente (Reis, 1992; Rocha, 1997), Dentre algumas narrativas historias, conta-se ‘que a sinalizagao era vista como um ‘cédigo secreto", mesmo entre os ssurdos, pois era usada as escondidas, por causa de sua proibig20, Na pers- pectiva de tantos outros, a lingua era vista como algo exético, obsceno e cextremamente agressivo,jé que o surdo expunha demais 0 corpo a0 sina- Iizar (Wright, 1969; Lane, 1984; Sacks, 1990; Bayton, 1996). Varias implicagdes sociais, polticas, edueacionals, psicolégicas e lr gulsticas decorrem dessa proibiglo, Porém, o que a historia nos mostra é {que a lingua de sinais,diferentemente da maioria das linguas minoritrias, ‘do morreu e nfo morrerd porque, enquantotivermos dois surdos compar- tilhando o mesmo espaco fisico, havers sinas. Essa 6 a ironia da tentativa desenfreada de colbir seu uso: agrupamento nos intermatos que pregavam © oraismo a todo custo serviu para 0s surdos se Mentiicarem como pares ‘constituintes de um grupo, passando a usar disseminare reforgar um even- tual sentimento de valorizardo dos sinais eda identidade cultural surda. Outro apelo pejorativo e muito dstorcido sio algumas referéncias & ‘comparagdes da lingua dos surdos com a comunicasao dos chimpanzés" Lane (1984: 77) retoma em sua discussio que uma das questbes flosficas centrais no Iluminismo era especular sobre “o que nos tomnaria humanos”. De Arstételes a Descartes, a resposta era consensual: falar uma lingua. Nes- se cenirio, “a criangas surdas e selvagens eram, todavia, um complicador Nase Média (476-1453), na tia. o monger enedinos empregiam una om Secreta desma paras eomuniarem entre fiw den ilar rigdo voto dese {tare 1984 Sac 1980. 2 ss de Weight (1965, ane (198), Groce (1985) Sacks (1990) lata aguas cuniaagiasinaalbbaeiearmipustebarces —- ‘essa definiglo de homem, J que os surdos eram pensados como sem 1a eas criangasferas eram invariavelmente muds” A historia tem rela- fo esse etantos outros equlvocos¢ injustcas cometidos com os surdos. Linguisticamente, pode-se afirmar que a lingua de sinais & lingua que apresenta caracteristicas presentes em outras linguas naturais e, zencialmente, por que é humana. Sabe-se que todos os seres vivos podem ter um sistema de comu- Jieaglo. As pesquisas mostram a forma como as abelhas se comunicam, {© sofisticado sistema de comunicacdo dos golfinhos e de tantos outros Thamiferos; contudo, s6 os homens possuem lingua (Akmajian et ail 40995), Essa 6, sem davida, uma das caracterfsticas que nos distinguem is outras espécies, EntSo, a resposta para a pergunta dos ilésofos turva f olhar, pois o foco para a resposta esta voltado para a definigdo que se tinka de lingua na época isto 6, se a lingua de sinais ndo¢ lingua, entdo os surdos no falar, logo, nao sto humanos. ‘A lingua de sinais, como ji vimos, tem uma gramatica propria e se presenta estruturada em todos os niveis, como as linguas orais: fonol6- ico, morfolégic, sintético e semantico. Além disso, podemos encontrar hela outras caracteristicas: a produtividade/criatividade, a flexbilidade, a escontinuldade ea arbitrariedade. ‘Aprimeiradizrespeitoa possibilidade de combinar unidades, de forma Himitada, para formar novos elementos. Por exemplo, os sons das linguas frais podem ser combinados de virias formas para a produgso de novos oncetos. 0 mesmo para a produtividade de palavras e sentengas. Por isso falamos do processocriativo nas linguas: podemos falar diversas coisas de diversas formas a partir das regras de cada lingua; regras que determinam ‘4 posiglo que cada elemento pode ocupar — por exemplo: podemos dizer * menino cau mas no podemos dizer “menino acai’ porque as regras do portugués ndo permitem. O mesmo se apica as sinais. [A flesibilidade se refere A mobilidade visvel nos diversos usos de ‘uma lingua. A lingua é versétile, por isso mesmo, podemos falar do pas- ‘ado, presente, futuro; discutir,ameagar, prometer etc. Em relacao a des- ‘continuidade, tomem-se como exemplo as diferencas minimas na forma ee a entre duas palavras;diferengas minima, mas que acarretariam mudanga no significado, como em maca e mala (alterando apenas um fonema), ou fem LiBRAS familia e reunido (alterando apenas um pardmetro, a cM), En- tretanto, quando contextualizadas, podem ter seu sentido inferido, mes- 'mo que haja um erro ou troca de fonemas/queremas por parte de quem fala ou sinaliza,Por isso, mesmo reconhecendo o valor especifico em cada fonema ou parametro,a contextualizaga0 nos ajuda muito, eé ela que nos faz.compreender a diferenca de significado, por exemplo, em palavras ho- ‘mOnimas na lingua oral e na lingua de sina. Quanto a arbitrariedade, dizer que aslinguas tém essa caracteristica dizer que as linguas s40 convencionadas eregidas por regras especificas Nesse sentido, nao é possive saber o significado de uma palavra somente partir de sua forma ou representagaolinguistica. Na lingua portuguesa, no hé relagdo entre a forma eo significado da palavra “conhecimento’ dda mesma forma que nao ha essa relacio na LinRAs. Aexcegio seria o caso das onomatopéias (Akmajian et ali, 1995; Quadros & Karnopp, 2004), A lingua de sinais é 0 alfabeto manual’ De forma alguma. 0 alfabeto manual, utilizado para soletrar mania mente as palavras (também referido como soletramento digital ou datilo- logia),é apenas um recurso utilizado por falantes da lingua de sinals. Nao 6 uma lingua, e sim um cédigo de representagio das letras afabéticas: ALIABETO GRECO. Byer Ying Oy [ALFABETO ROMANO Ae SC ip eee ALFABETO MANUAL PACA® ‘Acreditar que a lingua de sinais é o alfabeto manual & fixar-se na Jia de que a lingua de sinais 6 limitada, a que a tinica forma de expres- ‘comunicativa serla uma adaptacio das letras realizadas manualmen- ‘convencionadas e representadas a partir da lingua oral Imaginemos, 3 exemplo, quanto tempo levaria um surdo para falar uma sentenga OU, spliando bem a questo, ter uma conversa floséfica, se uilizase ape ‘ soletramento manual? Travar uma conversa dentro deste nee fa)" Gobetradosertac Entretanto, é importante que se diga que o lfabeto manual tem uma fungéo na interagao entre os usuérios da lingua de sinais. Lanca-se mao des- ‘se recurso para soletrar nomes préprios de pessoas ou lugares, sighs, eal- gum vocdbulo nao existentena lingua de sinais que ainda nao tenha sinal: pa as pol: coed nk cin ds cps ur a aca. Corp de Fa eats de ce sa fo a prc fern oann pe ee Scle'€ 0. Vek ta de Capp > gala tips de nro 23 pg pots De ado ace ae. un i sn at {nits Somes emetic 097, tines queso Lembo ergs fsx ane nc) ram sures cm or tmde Tera Inge ac sate nore onetinns cane ater emsrudo quando po: Sennen ected eiengar —— Além disso, os usuarios de lingua de sinais fazem, em algumas si- tuagbes, empréstimos da grafia da lingua oral, recorrendo a datilologia para realizar sinais de pontuasao (tals como, virgulas, ponto final, ponto ‘de interrogagao, sinais mateméticos etc.) que, na maioria das vezes, sto ‘desenhados no ar. 0 mesmo pode ocorrer com as preposigdes ou outras classes de palavras. Entretanto, soletrar ndo € um meio com um fim em si mesmo. Palavras comumente soletradas podem e de fato sao substituidas por tum sina. Assim, podemos afirmar que esse recurso funciona potencial- ‘mente nas interacdes para incorporar sinais a partir do entendimento ‘conceitual entre os interlocutores — uma ver vez apreendida a idela, convencionam-se os sinais para substituir a datilologia de um dado vo- cabulo, por exemplo. No Brasil, 0 alfabeto manual 6 composto de 27 formatos (contan- do o grafema ¢ que é a configuracao de mao da letra ¢ cam movimento trémulo). Cada formato da mio corresponde a uma letra do alfabeto do portugués brasileiro: PACA ADH BA CI AE w~ dohaaideyd Dares de Kant pte Pode-se dizer também que no uso do alfabeto manual alguns ele ‘mentos linguisticos s4o "reapropriados” pelos usuarios, ou seja, ha pa- 15 que sio soletradas de forma a se ajustarem as restrigdes da lin- lade sinais, Esse processo 6 natural em todas as linguas de contato. Tingua portuguesa, por exemplo, incorpora ou ajusta o termo delet Jingles: utiliza a terminagao no infinitive ~ar ao dizer detetar (e se- je na mesma direso na conjuga¢ao em delete, deletamos e assim por inte). Esse fendmeno esté intimamente relacionado ao uso. Quadros Karnopp (2004: 91) lustram essa questo no alfabeto manual verifi- indo o advérbio nunca (soletrado n-c-2 ou n-u-n), 0 mesmo ocorre na alizagao da conjunsao se (soletrada s-I) e no uso do verbo ser/estar fo presente do indicativo, conjugado na terceira pessoa do singular _é jletrado apenas 0 movimento de acento agudo no ar com a afirmagao jtiva da cabera) Por ser uma convenso oalfabeto manual se configura de uma forma specifica nas linguas de sinais de cada pals. 0 alfabeto manual britanico, por exemplo, feito com as duas mos: Existe também 0 alfabeto manual para surdos-cegos, Da mesma for ‘ma que 0 soletramento do manual britanico, os individuos usam as dua Indios para soletrar as palavras, com a diferenea crucial de que 0s surdos ‘cegos precisam pegar na mao do interlocutor para tatear o sinal: oh E importante ressaltar que o soletramento, tanto na sua forma re- ceptiva (do ponto de vista de quem Ié) quanto produtiva (do ponto de vi ta de quem realiza), supde/implicaletramento, 0 soletrante que nao for alfabetizado (escrita/leitura) na lingua oral de sua comunidade de fala, 1por exemplo, tera as mesmas difculdades de um individuo iletrado para langar mao deste uso: ee Delon ead Cyn Rao DE | WNT ees oS Enesse sentido que as criangas surdas, ainda em processo de alfabe- oda escrita da lingua oral, poderao ter também dificuldade com essa iliac, Mals uma prova para desconstruira crenea de que a lingua de is pudesse ser oalfabeto manual/datilologia,afinal, para ser compre- ldo e realizado o abecedério precisa ser ensinado formalmente. A lingua de sinais é uma versio sinalizada da lingua oral? Insistimos em que a lingua de sinals nfo é a datilologia ou mimica 10 muitos podem pensar), também nao 6 universal (igual em todos paises), muito menos artificial (uma lingua Inventada). Ligada a essas Was, vern a seguinte indagagio: entlo, sera a lingua de sinais uma fadaptacio” das linguas orais? Ou, dito de outra forma, seria axiseas um tugués sinalizado, por exemplo? Nao, A lingua de sina tem estrutura propria e é autnoma, ou seja, Invdependente de qualquer lingua oral em sua concepcio lingufstica, Edu- facionalmente, o uso do portugués sinalizado tem sido alvo de multas cr: eas, porque se insere na filosofia do bimodalismo, Dentro dessa visio, en- ‘ara-sea lingua de sinais como um meio para se atingirum fim, ou seja, um Focurso para ensinar a falar uma lingua oral (no Brasil, portugues), fun ‘lonando como um amélgama dos sinaise de fala. Ferreira Brito (1993), por exemplo, fala da impossibilidade de preservar as estruturas das duas Nnguas usando a lingua de sinals para falar a lingua oral. No nivel lexi- fa, por exemplo, sinais como tIngua e nada ilustram a questao (ct: figura tbaixo), Além disso, Sacks (1990), entre outros critica a proposta bimo- ial, pois, embora preconize uma tentativa de facilitar a aprendizagem da festrutura da lingua oral pelo surdo, la funciona como uma "pseudolingua Jntermedira’ afrma, ———— en Cee Vejamos essa questo, no entanto, do ponto de vista da sociolinguistica. (fato dea comunidade surda sera Ginica comunidade que, em qualquer pais, est inserida na ecercada pela comunidade majoritria ouvinte faz com que as linguas de sinaisestejam em contato direto com as linguas orais locals. [Nessa “coabitardo" lingustica, € natural ocorrerem empréstimos, mesclas ce hibridismos. A relacio entre as linguas,entretanto,ndo é, nem nunca fol neutra ou simétrica. Como no caso de quaisquer outras linguas que estio em contato, hi sempre em jogo questies de poder e as decorrentes situa- 8es de conflito™. Em estudos sobre comunidades indigenas, Maher (1997) observa que a relacio entre Iinguas com status distntos funciona como um "Jogo de ocupacdo ingufstica onde a lingua dominante tenta‘abocanhar’ a lingua dominada”(p. 22), A metafora ilustra bem como o portugués acaba ‘= "Weingut de per (Haminel& Sirs 1983) «a oclingistics intracional Icumprs 1972 pu arin) stn ete mies tanto dstandame vise da soiling adconal gue tinge apenas ieengs incon dentro deus gua etre varedaderem contat-rfre- saree as gh sere) sada em ambientes formas variedade Dla (are) sada em sas formas Hs isting ors sono fuming» questa praetender por exes como por povies rece rere. tener eran ar man gseuiamersnn nhs se hapyarhd sepondo lingua de sins nas interagdes entre surdos e ouvintes, por ffacilmente demonstrivel que hi marcas de imposigto da estru- do portugués em alguns ‘falares"sializados, especialmente nas mos ‘ouvintes (Gesser, 2006). Mas, por que isso ocorre? ‘A motivagdo para a ocorréncia das marcas estruturais do portugués sinalizagdo, e mesmo na comunicagao simultinea’ no caso do sinal 3 ouvinte brasileiro, acontece por varias razbes: pode ser um movi- ‘em direso ao uso de uma tinica lingua, no caso, LIBRAS; ou pode finda, o uso de uma forma “hibrida’ funcionar como uma estratégia ida por alguns ouvintes que estio iniciando o contato ea aprendiza- da lingua de sinais — sendo a fala oral inerente & cultura dos owvin- {Gesser, 1999) e, portanto, tio dffll desvencithar-se dela. Em muitos 1s momentos, todavia, 0 portugues sinalizado pode ser oreflexo de {deologia e,entdo, ha que averiguar mais de perto para saber se es- {usos, se esses falares s30 ou no uma tiltima tentativa, um dltimo gri- ida maioria ouvinte para rejitar e banira lingua de sinals dos surdos jesser, 2006; 2007). Acredito ser esse diltimo sentimento que, remetido filosofias oralista e bimodal, palra no ar, e evoca mal-estar quando se la em portugués sinalizado entre usuarios da LIBRAs, A lingua de sinais tem suas origens hist6ricas na lingua oral? ssa pressuposigao esté relacionada 2 anterior e, da mesma forma, Into passa de uma fics, Cada lingua de sinais tem suas influéncias ra- ies histéricas a parti de linguas de sinais especificas. Ha poucos docu nentos registrados por surdos,e sobre os surdos, que possam fornecet Jnformagses sobre a origem e o desenvolvimento das linguas de sinais fentresurdos. Mas Wilcox & Wilcox (1997) argumentam que ha dois tipos ileevidéncia que mostram o uso natural da lingua pelos surdos. 1 comuncain smultines €— como o ame sore —o uso silico das ss mod tinier eat ns expresso ingle Critlerse mult esse us, ua ver guese are creas exyruaatiatentarer dalieginerst re en oy 0 primeiro é 0 relatado em uma pequena ilha comunitiria nos arre- ddores da costa de Massachusetts, Estados Unidos, chamada de Martha's Vi neyard, onde uma elevada incidéncia hereditiria da surdez fol observada entre os séculos XVII e meados do séeulo XX. No livro Everyone Here Spoke ‘Sign Language, Nora Groce (1985) dedica-se a descrever essa rarasituagl0 nailha. Aautora conta ahistéria dos surdos nessa comunidade, mostrando ‘que os primeiros habitantes da ilha vinham da Inglaterra efalavam algum tipo de lingua de sinals. Estavam tio integrados ao dia adia da ila que nfo se consideravam nem eram considerados deficientes ou um grupo a parte. ‘Atéos dias de hoje, essa ha € conhecida como a iia comunidade bilingue ‘na qual tanto os ouvintes como os surdos usam sinais na mesma proporedo {que a lingua inglesa em todos os Ambitos da Interacao cotiiana, segundo tipo de evidéncia vem da Franca, esta relatada em um livro escrito em 1779 por um surdo chamado Pierre Desloges. 0 livro se Intitula Observations of a Deaf-Mute, e o autor escreveu-o para defender sua propria lingua contra aqueles que achavam que os sinais deviam ser banidos (Wilcox & Wilcox, 1997). ‘Tanto a lingua americana de sinais (american sign language - ast) ‘quanto a lingua brasileira de sinals (Liseas)'*tém suas origens na lingua francesa de sinais. No caso americano, o protestante americano Thomas Hopkins Gallaudet decidiu viajar para a Europa”, a fim de buscar ajuda para Alice Cogswell, uma garotinha surda de 8 anos, filha de seu vizinho, Depois de algumas tentativas com os oralstas franceses, Gallaudet desis tiu de seguir esse caminho, visto que nao conflava no método empregado para oralizareriancas surdas. Foi ento que contatou o surdo francés Lau: rent Clere, Na Franga ficou muitos meses aprendendo a lingua francesa de sina, e entdo teveaideia de convidar Clerc para ir morar nos Estados ‘De acorn com Rohs (197) lng brai de sniper como bes Essa denomincro fl estaba em ssemblls por membros da Fadrao ace de "Eucaro« intori Suro (FEN em cuir 1990 ote ie fecoec pla Feder Mud do Sudo (WDF) peo Masters da laa (HEC pr edna ¢ lent do ompo Abas oan pl Sena Fedele ide 002 tus: febfadegues Peete (conderade 0 rnp nado do oss) co one Ene (eur do mane} ase stn pps cm Ade Sara (on) fan Mase (sur) ¢ tauren Clr ure). Os dls warm agar eda dente de ss espetas Hosa eestar separa pi ropa sao (ane, 1980), para que eles abrissem a primeira escola para surdos. A escola foi ida em 1817 e tinha o nome de: The Connecticut Asylum for the {on and Instruction ofthe Deaf and Dumb Os surdos de todos 0s, do pais migraram para a escola, enquanto, com o passar dos anos, ‘escola iam sendo abertas em diferentes regides.0filho de Gallau- ‘chamado Edward, fundou, em 1864, a Gallaudet University. Embora inals americanos tenham raizes nos sinals franceses, a ASL também in luéncias dos sinais dos indi locais. Essa combinagio formou a ‘moderna (Lane, 1984; Bayton, 1996; Wileox & Wilcox, 1997) Da mesma forma que na ALS, na Linkas também se observa algum de inluéncia dos sinas franceses. Em 1855, um surdo francés chama- Firnest Huet chegou ao Brasil, com o apoto do Imperador dom Pedro I, ‘riar a primeira escola para surdos brasileros™. De acordo com os Istroshistéricos disponiveis (Reis, 1992), nao esta claro por que dom ro Il estavainteressado na fundacdo da escola. Rocha (1997: 53) espe- Sobre pelo menos duas possibilidades: uma seria a possibllidade de incesa Isabel ter uma crianga surda; ea outra teria relagdo com uma ita do imperador & Universidade Gallaudet (EUA) para discutir a fun- io de uma escola similar no Brasil. 0 fato € que em setembro de 1857 fundado o Instituto Nacional de Educagao de Surdo (INES), no Rio de Jo, no mesmo enderego em que se localiza até hoje. Durante anos, 0 JS tem sido o centro de referéncia e de formacio dos individuos surdos. ora, naquela época, as pessoas nao fizessem mengo & LIBRAS, sinais im privilegiados na educagao das criangas. Huet trabalhou também na smagao de outros dois professores, conhecidos como os irméos La Pefia, ie ajudavam na instrusio dos surdos. A escola passou por mudancas Wicais com a saida de Huet (entdo com sérios problemas financeiros & flitos familiares) ¢ com a entrada na administrasao de um médico cha- \do "Tobias Rabello Leite (de 1868 até sua morte em 1896)". TF votriormene.o nome da esata mado prs Ameria Asylum t Hato for the Aon and stron fe Dea and Dumb se Paton rimracsoa para sudo date do ano defandacocom ches de Haetem 055s rita trata ets em 125, quando deputado Corb ere apreseno Nssomblis we ext pars stale on objets de proesorsprimirios na educa suds os egos Res, 1992:57. te Gtaetor ete areca compreender que oma oa no ea eseci bs rds eh Arta sun compres stan como um todo einitads:em rea0 capchode Vota humana argument prep que amen 15% dos surdos congas akan — Outro fato importante nesse processo fol o Congresso de Milio, em 1880, que, em fungao do impacto mundial de sua decisdo em favor das filo sofias e métodos oralistas a qualquer custo, afetou a educasao dos surdos em todas as partes do mundo. No Brasil aideia do oralismo comegou a ser disseminada em 1911, a superintendente do INES, Ana Rimoli de Faria Doria, que acatou a filosofia, separava os surdos mais velhos dos mats no vos para evitar 0 contato e uso de lingua de sinais. Outra figura nesse ce nério fol Ivete Vasconcellos, ue, inspirada na abordagem da comunicagio total influenciada pela Universidade Gallaudet, defendia que fala, gestos, ;pantomima e sinals deveriam ser empregados na formagio dos individuos surdos. Muitas erticas foram feltas a essa filosofia, mas o debate propiciava ‘um repensar de tudo o que fora feito em termos linguisticos eeducacionals [Na década de 1980, fundou-se a FENEIS (Federagio Nacional de Educacio fe Integracio de Surdos). Trés amigos surdos encabegaram a fundagio da {nsttuigdo — Ana Regina S, Campello™, Fernando M. Valverde e Ant@nio . Abreu —,significando um grande avango em favor da defesa dos direi- tos dos surdos, Em resumo, a origem da Linas esta intimamente ligada ao processo de escolarizacio dos surdos, e mesmo que nas Inst&ncas educa cionais a lingua legitima dos surdos tenha sido banida em muitos momen: tos, os surdos sempre autilizaram entre si. contato do professor surdo francés Huet com os alunos brasilelros proporcionou, em grande medida, vrios empréstimos lingusticos da lingua francesa de sinals para a BRAS, Entretanto, & importante dizer que a coabitagao da maloria das lin- ‘guas de sinais com as linguas ora faz com que empréstimos, alternan- Clas e trocas linguisticas acontecam, inevitavelmente, Mas isso nio quer dizer que as linguas de sinais tenham suas origens ou rafzes histéricas nas linguas orais.A relacio 6 justamente inversa: na historia da evolugio do homem, constata-se que o uso de sinais pelas maos como forma de ¢o- ‘municagao pelo homem é anterior ao da fala vocal — uma das evidéncias linguistcas para afrmar que o homem tem uma capacidade inata, instin- tiva para desenvolver linguagem™ inti scent paras tormarem letras enquanto apenas 659 de surdssidentais term mesmaintlgtnclacomparado ats ovis (Let 1882 sp eis 1992) 2 Ana epin€dutora pla Universidade Federal de Santa Catarina (USC), fond es ‘olen de sn psa estar inguin da nas linguist fob Lyons (1987 3839) elas"A lg pode, princi ter evo p= tr de um sistema gestual numa epoca em que ancestral dos homens dav Pst A upras ‘falada’ no Brasil apresenta uma unidade?”* ‘Grenga. Em todas as linguas humanas, ha variedade e diversidade. jlinguista Marcos Bagno faz uma bela discussao em torno da des- io de alguns mitos sobre a lingua portuguesa em seu famoso Preconceito lingustico — 0 que &, como se faz, escrito em 1999 e, ‘entdo, seguidamente reeditado. Segundo 0 pesquisador, o mito da ie linguistca do Brasil” 60 maior e mals sério de todos, pois ests ste no discurso no somente da populago, mas de muitos intelec- A escola, por exemaplo, em se apropriado desse mito, tornando-o jl. Uma ver naturalizado, deixa de ser crenca e passa a funcionar jo um principio normalizador, impondo sa norma lingistica como se ela fosse, de fto, a lingua comum a todos 1s 160 milhdes de brasleros, Independente de sua lade, de sua origem feogrifica, de sua sitagio sodloecondmica, de seu gra de escolarizagao ft (Bagno, 1999: 15), ‘lingua portuguesa é “uma unidade que se consttui de muitas va- dads” (Pardmettos Curriculares Naclonais, 1998: 29 apud Bagno, 0) 19), Portanto, dizer que todos os brasileiro falam o mesmo por- Jués € uma inverdade, na mesma proporgdo em que é inverdade dizer je todos os surdos usam a mesma t1Beas. Afirmar essa unidade é ne- ra variedade das linguas, quando de fato nenhuma lingua & uniforme, yniogénea, A variaglo pode ocorrer nos niveis fonol6gico (pronincia), foldgico (palavras) e sintatico (sentencas) e esto ligadas aos fatores jais de dade, género, raga, edueagio e situago geogrifica, Assim, os yrlos adultos © adolescentes variam em seus sina, da mesma forma al Pm rece] eran com so 8 dos, creo aumentand detamanko cada pencil pra esperar de compas tanger de processmento no hemiserio inant Camo aatengio pars atria nessa questo da moval pr ngage, Potato autor dela expla istrao da comunicaaogestal os nsss ancestas Nv cfeéocis na obra guns de int dos urs J elg etal como mito ng pores ada no Brasil apesenta uma late srpesndent de Marcos Bago. Arateres ue tenho aude demos vines bre essa quest ta mena to as ache! neresanerelomara questo feo un rao cm a dius, mits apropriada de Bago (199). —— {que os surdos cearenses, paranaenses, cariocas., Quem jé nao ouviu alguém dizer “ees sinaissdo ‘antigos; do tempo dos avés!” ou ainda, “na ‘quele lugar se fala diferente”. Essa diferenga ndo deve ser encarada como erro, entretanto: Desa nat ea de Cp Rad DUH Na ilustrasao, & possivel constatar que a variagdo lexical ocorre em. diferentes estados (como a comparasao do sinal faculdade usado no Rio & em Sio Paulo) e também dentro de um mesmo estado, a depender da co- munidade de fala de cada regido (como nos exemplos da palavra espanhol em Sto Paulo}. Esse tema 6 importante porque, em algumas situagbes, alguns sinalizadores da lingua de sinais resistem a aceltar a diversidade e acabam dizendo algo como “esse sinalé errado”ou “esse sinal ndo exis- te’ quando de fato se trata de variantes da lingua (Gesser, 2006: 176). A Ingua de sinals, a0 passar literalmente, “de mio em mao" adquire novos ir bas vaiedades enretants, sempre aver una ela (no met, aside conftusa} que tra ma vareade mats pesos que ota Ese valor atid sat ent fant de fates como Sra geo, status soca dade ger ee Ms # x. tc ncn heat ue tei pa empresta e incorpora novos sinais, mescla-se com outras lin ‘contato, adquire novas roupagens. 0 fendmeno da variagi0 e da le esta presente em todas as linguas vivas, em movimento. & ite nas prticas socials de uso da linguagem entre surdo/surdo e V/ouvinte que é possivel enxergar o multlinguismo (variedades des- iadas em sinais, em portugués, em combinagao de modalidades), dda heterogeneldade nos sinais dos surdos-cegos, dos indios, ints familiares (ow no) de surdos, dos surdos catarinenses, pau- jpernambucanos... ou seja, as varias linguas em LIBRAS™. Of BE ‘Ds ga de Cpe Rol ODE 204 [>for de vias nguas em ins eto fazendo um paral coma dasa em César { comican (2007) sobre o mulling em portugts no Bras Cf sesso em Gsser (2006: 665). ee eas ee A lingua de sinais 6 uma lingua dgrafa? ‘Nao, mas, até bem pouco tempo, a lingua de sinals era considerada uma lingua sem escrita. A escrita de qualquer lingua 6 um sistema de re- presentagiio, uma convengao da realidade extremamente sofsticada, que se constitul num conjunto de simbolos de segunda ordem, sejam as lin fuas verbais ou de sin sera pictogrtica See one AR nip sca em sinais ign writing) BATY ‘A deta de representar as linguas de sinais remete-nos & historia de uma coredgrafa americana, chamada Valerie Sutton, Em 1974, Valerie chamou a atengio da comunidade cientifca dinamarquesa das inguas de sinals com a criagao de um sistema para registrar as dancas de seus alu nos. transiglo dos ‘sinais da danca’ para “a escrita dos sinals”inila-sea partir do contato dos pesquisadores da Universidade de Copenhagen com ‘a colaboragio de Valerie com base em seus repistros gravados. Decorre {dessa aco o primeiro encontro de pesquisadores, nos Estados Unidos, ‘por Judy Shepard-Kegl, ¢ dele um grupo de surdos adultos ‘a escrever os sinais de acordo com 0 "SignWriting”™* " Alguns livos e histrias foram registrados. Inicialmente escrtos 3 Tioje ja ha programas desenvolvides para o registro da escrita via tador: A popularidade do sistema de escrita foi pouco a pouco se lurando nos Estados Unidos. Projetos de pesquisa e vitios tipos de rte sio oferecidos a algumas escolas que tém interesse em promover botizacio em SignWriting. sistema pode ser aplicado na represen ide qualquer lingua de sinais. (0 Brasil inicia sua tradigdo, em 1996, com um grupo de pesquisa co- nado por Antonio Carlos da Rocha Costa, na PUC de Porto Alegre jprojeto, destaca-se a participagGo da surda Marianne Stumpf, que de- eu trabalhos de alfabetizagio com criancas surdas, snalizadoras [unas. Observou-se que os surdos expostos ao sistema SignWriting sm muita faclidade para escrever: Um dos grandes desatios dos pes- jisadores no processo de sistematizagao é tornar a grafia 0 mais conct i clara possfvel, Ha alguns sinais em Linas que so muito complexos a registrar no sistema (6 o caso de chocolate, por exemplo), mas, da sma forma que a escrta da nossa lingua oral aescrita em sinais tende ‘ue modificar com o tempo, no sentido de ser "mais répida, mals simpli- ila, mais esquematica” (Stumpf, 2003: 65)". 0 sistema no Brasil é ainda incipiente e esti em fase de experimen- glo, pois a prépria grafia da Linas passa por um processo de padront Jara conhecer mats sabre escrta da lingua de sina americana, fo site: http://www params aos acess ste bit/rochaucpelicebr signing ‘ago, Nota-se uma diferenga de surdo para surdo no uso dos “grafemas — uns so mais detalhistas, outros menos. Ainda hi muita especulagio sobre oassunto, por isso sio necessérios mais estudos para compreender (0s simbolos e criar uma tradigo na sociedade para o letramento na es- rita de sinas. Sua importancia, entretanto, é, sem sombra de dvida, um ‘bem cultural com positivas implicagdes para ofortalecimento ea emanci- ppagdo lingufstica do grupo minoritiriosurdo.

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