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Exeter a ron iret arty Pay roy ‘Carmen Teresa Gabriel eee Cee) eRe euestad fees ee ey ees eens NACI) ate TEU Algumas estratégias para o ensino de histéria e cultura afro-brasileira* Por que oensino dehistriae cultura afro-braslela © Indigena? Aa 10639/08, quetornou obrignttio em todae ss escolas do pais, o ensino de histéria da Afleae de histériae eltura ao brasileira e, mais tarde, a Ll 11.65/08, que arescentot a esa obrigatoriedade oenaino de histria cultura indigene, st ins trumentos importantes para o combate ao racismo no Brasil, O raclsmo basela-sens dela de supertoridad de uma raga 02 cor sin do srt elas gat ‘na aivery ass nln ns of an (on Dero Peal Eine Soper (Cpe) sconces Joma oe pra orien do Brac (C>D0C) da Fda Geen rg Rede nes 28 casino dehistérin eculures afro-braileraseindigenas ‘em relagdo a outra(s),¢s6 se consubstancia porque uma delas esonte superior e mult veaes @ outa se sente inferior? Enes- fa relagto superior inferior que ot preconceltos de rags ou cor Ho constantementerelimentados. iAcrianga eo adolescente qu se identificam eso ienties: dos como brancos tém muito a ganar eom um ensino quail cao das historias «cultura afro-brasiotraseinéigenas. Se um ‘ening quese Identifies como branco seachano dueto de xt fat um cologa de clase identicado como negro por causa de fa raga ou cor, ese menina necesita de tanta ajuda quanto ‘eucolegs quesofceopreconcelt.O racism é um problema de todos envolve toda soiedade, Por isso mesmo deve preoc perimensamente os ecucadores Hoje am die einda se morre de racismo.em nosso pals Para citar apenas um exemplo, lenbremos de Févio Ferreira de Santana, dentsta negro de 28 anos que, em feveeiro de 2004, fof moro por poicais emi Sko Paulo, Flavio SencAnna voltava do Aetoporto de Guarulhos, onde tna ido lever a morada sufga Anita 00s, de 40 anos. Mais ou menos na mes- tna hora e regif0, um comerciante de 29 anos hevia dado ‘queixa policits, que te achavam em uma viata, de que te riasidoassaltad, Fldvio guleva seu caro, um Gol, e fo inter pelado por einco poicials militares do 5» Batathao da Polila Militar de Jagan, e, em seguida, morto com dois tos. Os po clas colocaram uma arma em sa mo. Ao ver 0 dentista orto no chio, ¢ coterelants declarou que nto seratava do Jadeto que o tine assaltado. Segundo noticiado naimprensa, 6 pai de Flévio, o cabo aposentado da Policia Militar Jonas SantAne, da Policia Milita do Estado de Sto Paulo, declarou: im Abert Pet 00 ev ij eee eer algumas esvatéyias para oensino 29 “Sei como 60 sistoma.Tenho erteza de que se ele fossebran- Esse racismo institucional no éexclusividade brsileirs eve entemente. Em abr de 1983, caso emblemsticeocorrea na Inglaterra: Stephen Lawrence, um Jovem negto de 18 anos, aguardava um Onibus com im amigo & notte, quand ambos fo ram Intepelados por um grupo dejovens que os chamaram de “lger os porsegucam e mataram Stephen a facades, A pola ‘do agiu competenterente,néo chamou s percia © neahum dos joven atacantes fot processade. O eas x6 ganhow notrie- {ade porque ospaiseamigos de Stephen Lawrence agram e de- punciaram ainépcia dt polila Era levereiro de 2009, num artigo publicado no oral britnico The Guardian ame de Stepeo, Doreen Lawrence, rolatou que o comissrio de polisa dissera que crlancas negraserum malstnclinadas a cometer crimes (LA \WRENCE, 2008). 0 caso de Stephen Lawrence gerou um teats No oficial e uma legslact especies que pretandia combater 0 ‘acsmo insttulonal. © Race Relation Act determinou, em 2002, ‘que toda insiuigde de ensino deveria registrar episios der «smo, masa medida fem grande parte ignorada por escoas © ‘universes. Como costuma acontecer em caso coo ese, os Jmpactos do relatro Stephen Lawrence foram esmorscend, & nto de em 2004, as estrasiyis nacionals para. educagio para (9s cinco anos seguintes nfo mencionsrem, em nenlhum mo- mento a questdo do racism da discriminagto. Ee 2007, final- mente, o Single quality Bll ou que cada escola era eutbnoma podla nao seystrar ot epedios de sacissio (GILLBORN, 2008, FROLLOCK, 2009) As determinagdes do Race Relation Act foram © Gab 10 20, p10 janet dos ote pore kas ‘ese nm uti do ar seu caer aa ep ‘Ss eran bp menudo co rep pete Prasanna owen pn nei 30, ensino de ists e culeuasafto-brosiliase indigenas prsticamente esquecides e quase podemos dizer que as condl- hes para que outros Stephen Lawrences e léto Sant Annas se Jam mnortos porraciemo perduram inalocadas. (0 contato com experlincias de outros paises, alm de apon tar semelhangas,nos ajuda aidetlfiea® diferencasimportantes ‘Uma anise da produgsobritinica no campo da" Bleckhistory” designasio que éapropriadamentecxiicada por multoshisto Fiadorese profesotes de stra, ox quaispeferem compreen- tderahistea das populaces negses como intgrad 8 "histria ‘naconal © no coma algo & parte -revela que, era geralaten- {ativa de combater oracsmo conta negros,sadlanos e dscen- Jentes de imigrantes nas eecolasbritanicas passa por convencer flunos e educadares de que as minorlas étnieas sio genuina mente britinicas, tm doe ergumentos consist, por exemple, tem afirmar que todos o britiniens, no inal das contas, descen: tem de migranies, ¢ que até mesma a bata que inaugura & ‘arratva da histéria nacional, congulsta da Inglaterra pelos ‘normanidos, em 1066, estara matcada por esta caracteviaica final, foram os aormandos, que falvarm ouea lingua etaziat tutros costumes que se tomaram saberanos nabs. Namesma linha de aggumentacio,afzs-se que, antes mesmo da chegs- Ga dos normuandos, ha registro de soldados romanos negros pertcipande da construgto edo trabalho de defase da muralha Ue Adviano erguida no efcilo Ino que hoje seria a fontlra ‘com a facia, na épocs em que Inglaterra era parte do tmpé Flo Romano. Alms sécalos mats tarde, na corte da filha de Henrique Vil, Hizabeth I, que govemou entre 1558 1503, hi regfsttos de negros,entio chamados pejorativamente de bla Cchamoors(negr08 ¢ mouros). Ouse, hé multe tempo -e nto apenasa partir dos anor 1950, quando importantes ovasdeim as do ffantes foram para a Inglaterra provenientes de eceolén Caribe -hénegroshabando 0 pas. algumasestratgias para oensino 31 [No Brasil, a0 contrlo, nao hd necessidade de convencer lunos © educadores de que negros © indigenas so parte da nnagao. Nossa narrauva da identiade nacional, consclidada a partir dos anos 1930, principalmente,afirma que somos uma sociedad mista, uma mitra das tbs racas, Multos acedi tam que, se tomes problemas come injustias ¢ desigualda des, ees se dever a contastes socials eA heranga da eseravi- 0, © nso 20 racismo propilamente dito, Alguns Ingleses bbem-intencionados poderiam diver: ‘Ah, esse 60 mundo ide al! Uma soctedade mista orgulhoss de sua mistura& tudo de ‘que precissinos!” Mas sabemos, pelo menos desde os traba hos eminais de Prnest Geline (1903), Eric Hobebawm (1985) outros sobre nagdes e nacionslismos, que ae grandes narra tivas naclonals também so bos invengdes, Como diia o0- Sthowerrouiacn aco ort podccesniacem ee deal ‘oie daar do peer dente c/o cometh 48 ensino de histériae cultures afro-brasileias indigenes cono nortedo Equador, passando peo tratado ango-bresto de 1826¢ peas eid 1831 © 1850, emostra que, despeitodes- salegisagioe do Csdigo Criminal de 1830, que, emseu Art 178, considera crime “Reduir §ercravidso a pestoa lire, que se char em posse de sua Iberdade’” 0 governo imperial snl tou na pita, 0 snore culpados do exime de soquesto" © "delaou livre usa a0 crime corrlato, a eseravizagao de pessoas lives Bacrescenta nde de sous desoondenie- contnuaram send mats leg Alecscriouede pete gpmente arava pora que a egal colts dor poprniion dese for © Io ger um pat implica em vo a aes del] Resta que ete cine olen gundam sgiead damn: 20arepio Galea raion dos aftcnoscatados no Brasil parr de 1618-© 196. Ouseu bos parte das dss mes grag de inedune es rvizndov no Bra ng es eerste Moralmenolegtima, asx ‘ido do peso ee sada ~ pmo esobretud ga Te ho pate mim que ene pat dos sequestaores const pad trig! da scidade eda order juin bras, (ALENCAS: ‘R0,200) rte eo ean ne ana tpl Lie 1 dene deta. Dap aos. (icone actin tgaeemal eee hs 2 algumas estatégasparaensine 49 Depots de 1888, o incentivo & imigragso europela pode ser trabathado com ajuda le decret de 1890, que “Rogularsava] © servigo da introduc e ocalisago de immigrants na Ropu bllca doe Estados Unidos do Bri” eimpedia a entrada de it antes provenietes da Asla eda Aca. Assinado por Deadoro da Fonseca ainda ne Governo Proviso da Replica, odece to devrminavajno seu Art. ‘atezamente lores entrada nos ports da Republica, dor ind ‘seo criminado supa, excepruads osindgenss de Ala, da ‘Aca que simente medlantemorlagto do Congreso Nacional ( sssunto continua ocupar os artigos seguntes do decreto, «que determinam, por exemplo, que “A pica dos portos da Re publica impedi o desembarque de tes individuos (Art. 3) © ‘que of comandantes das embarcagSes que os rouxerem cam sujeltos @ mult e perdem seus prvilégios, em caso de reine enc (Arc). Dols anos depos fot autotzada a imigragso do pessoas de nacionalidade chinesa ejaponesa mas a entrada de isigrantesaftcanos eontinuou probida ‘A polities de branqueamento da populagio brasileira pode ser abalhada trabém como quadro de Modesto Brocos, “Are dengio de Can de 1895, que integra oacervo do Museu Naco nal de elas Artes, no Ri defer. Deceion ah ean dejan e809 poi em cpt. (pebatcon/ndx pm eos u20 sicon/ndeejop acoso em 30 mge 2011, “ene 50 ensino de histria culturasalto-brstelras eindigenas reat Modan Adel Ca 055 ln sob tac 150m 188 fm Me nel es rt (de ane). ep fic: ‘Para osalunos do Ensino Médiotlvez ej inoressante saber que este quaro joi objeto de queso de vestibular da Fuvest, fd 2006. A questo podia que se rlacionasse 0 quadeo com as (questes da imigracto europea do final do século XIKe com as “concepgaes dominantes sobre ragasno pefods™ ‘pimp et dpe en pannel Settee tenants acne 1 2 Guensn een! chp ne vee! dtp acemn om 201 slgumas esratéias para consino SL Avangando para © século XX, continus havendo exemplos slgnilatvos de atuagao de pessoas e grupos negrosno Bra, aque podem ser tratados sempre em ariclagso com aconteci- ments e conjuntuas da histéxa “nacional Os movimentos operirios da Peimelra Repiblis, muitas vezes relacionados com a partilpacio de imigrantes, que teriam sido em grande part responsivels pela introducio das ideias anarquistas no Bras ganhariam em pliralismo se fosseenfatiradatambémn & parueipacuo de negros. Alguns eres opersroe negros podem ser destacados como Ortncto de Freitas (1081-1940), Almerin- a Farias Gama (1899-1992) ¢ Sebastiao Ls Olvera (1896), por explo, respectivamentefundador do Pardo Proletirlo do Rlode lanl, presidente do Sindicato dos DatiligrafoseTa- _uigrafos no Rio de Janeiro, e presidente da Sociedade de Ress- ‘Wncia dos Trabalhadores om Trapiches de Café, também no Rio (Lopes, 2008), ‘Como contraponte politica de sncentvo& imigragio euro: pela, concenteada especialmente entre 1870 e 1990, pode ser objeto de discussioo dereta do governo provisrie de Getilo Vargas, de 12 de agosto de 1931, que cou conhecido como Let dos 2/3, pos brigou as emprests com ts ou mals emprega dos a manterem brasileiro natos entre pelo mance 2/3 dos seus empregados Entre 2008 «2007, Ailear Araujo Perera © x tivemos oportunidade de enuevistar varios malitantes do movimento negro contempordneo, no eontexto do projeto "Histdia do movimento negro no Bras: consti de acer- vo de entrevista de histrla oral, deserwolvido no Centro de Pesquisa e Documentagio de Histria Contemporines do Bra * Ver aniieLoc arate wetzmt (20 ete" dos 23 52 ensinodehistéraeculure afro-brasleiaseindigenas sil da Fundasio Getulio Vargas (CPDOC-FGV)." Amauri Men des Pereira, um de nossosentrevitados,nterpretou dessa for tha a Lei dos 2/3, de que tomo conbecimento através do a6 tom dor fundedoves do sindicato da constr evil do Rio de Janeiro na déeada de 1930: ‘Be que me ensinow sabre La 8 2/3 do tempo do Gi, que ‘hig toda empresa conta 28 debraseos eque etna tendo mo, por se fa prea le de cots no Bras: 2/2 team pets Preto que no tha dre 20 tbat. Os tabalhoe ‘staan nas mos os portugues, espanhiatianos No Rio de Fane, em os pstguesn (|. Camo gaat a implementagso Alte? Tinka quo] evar ohio, caltura de se pagar abalbo ‘so ab de porters, orgie elas aiavem ene ada um ego.o ata feudo Os allanes i008 donoetehojedadsrbuigdo Ge Joss oF portugues, ram da Light, os empreospablens ‘cam tos dees, Er reds de compa. B 0s negiosn80, A ‘element cingutm qe putsse para as oportunidaes de prego, Bo Gti vi 0. Bom, a6 andi, ex interpret ‘rim: 0 Geto preci ce apeio popular para se sstena Ft “ua rend aventura Reveugode 190, ens, le qubrao po Aer elighgico momentaneemete, mas ele aks que Ter out se soca eam asia dar grandes cdo. af ele em ve azeconcesses tema que noo Ua das coins emp ‘Coma i dos2/5 la era0“pal os pobros pout ele seureceu ‘maser ana de ign pau como com api Sot on tcp Propane br esac he stay of Deropmen: (Se Bio}. em oer te ato peers lggar ope “Dow aan ‘Ean we Gro0e pout pos Pepams Ge Aisa as dee ‘inci rove do ia unc eel lgumes esuatégias para ensino 58 ‘mercado de raat. zo anno dis si, soso gun rmomentar el chepiva ane “empreteceu Heda: Agete ove Cabo também insertr nas aus de histi relativas ao perlo- do epubliceno conto relaivo a movimento sciale negros, como Prente Negra Brasileira, findada em 1991, que strane” formou em partido politic mas fol extinta junto com os demaie partidos com o gape do Estado Novo; a Unite dos Homens de Core o Teatro Experimental do Negro, findadas age anos 1940; o Teatro Popular Braileiro, criado em 1950, para csr apenas alguns, além das diversas entdades que surgcam a partir do Info dos anos 1970, no contexto de resistencia no regime il Observagdes finals ‘Sto muita as posibilidades de abordager das histrase cul ‘urasaftobraslezas em sala de aula observando a diezizs destacadas snteriormente: volta a atengio para diversidade de experéncias idemtidades, trazerexperiéncas em que aft anos eseus descendentes to atoressociise politicos, integrar essa expertncis & histria “nacional” evtando a eriagto de ‘um “nicho" de ensin “afro-brasllro”e fazer uso de fontes ef tase expresivas, Inserts pede em/1020, ne dean. Ouachowe pubends ‘ns nologa dene movment dade pide lenge do ss ‘se mane no cnet de poi ao epee wer bn 51 ensino de hisérise cultures ato-brasleas indigenas (Os exemplos dscutdos nesse artigo procuraram obeervar essa orientagbes ¢ dar conta daquela diversidade Hes tam- bem buscaram respltar o rigor histéico, ingredientefunda- ‘mental nas prtics de ensino de bistria™ A Hiséria & uma das disciplinas mais walnerdves a abordagens poucoresponsd ‘else conjecturais. ara fzer rene este isco, é precio evar {idea de que toda e qualquer afirmacao pode ser eta 05 pelto do passado Alm do respelto a rigor histérico, onsino {de Hletcia também se beneficia se for movido pela anise de -muudancas e permanénclas em relagao ao passado,Percebers Inilaridadese dferengas em rlagSo.a0 presente fundamental ‘ara nos situsmos com relagdo As especifcllades de nossa histlae formagio sociale Asespecficidades no presente 50 se oplca também, evientement, 8 lgica das relagdes racials, O que mudou ee que nso mudot nesee terreno? Oque muda e ‘que io mada conforme nos deslocamos hoje, em eferentes tespagos sociais w geogriicos? Reconhecerdifeencas é am- bbém importante para que of alunor pereabam que nto fol “sempre assim” como 6 hoe que consequentemente, a situa ‘fo tual nfo é algo permanente que nto possa ser mudado.E pparaquo cee entendimentoacontea, éindispensive ter aces So fontes,residuos do passado que nos permitem fazer nfo rincins sobre ele ‘Aatengio a0 rigor histvico eo culdado com as fontes do significa que o ensno de Hiséra tena de ser neutro e que o professor nio poss ter objtivos politicos. Bem sabemos que a neutralidade ea imparclalidade so alcias, ainda maisem es pagos tio disputados por goveenos, famflasecferentes grupos ovals como sala de aula ~ em expecil at aus de Hitia!B ‘sim voltamos eo inicio deste texto: porque implementar a Let 5 rarer Aber ney, algumes eseatégias paraoensino 55 1.6451 Porque a sociedad como um todo, of slunos de dif. rents gas cores, seus pals, seus ems, seus amigos © seus euros fihos se beneiclado se wwermos oportunidade de ex- plorara dlvesidede e desir oracismo™ Gp ea i Bon Ml Met (208, 15) aft ‘mr Acut pr lain com etre gue ai

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