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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA

DANIELA HELENA CALÇA

“CIRCO DAS ESTRELAS”: UM


ESTUDO DE CASO NO BAIRRO
MONTE CRISTO EM CAMPINAS

Campinas
2007
DANIELA HELENA CALÇA

“CIRCO DAS ESTRELAS”: UM


ESTUDO DE CASO NO BAIRRO
MONTE CRISTO EM CAMPINAS

Trabalho de Conclusão de Curso


(Graduação) apresentado à Faculdade de
Educação Física da Universidade
Estadual de Campinas para obtenção do
título de /Licenciado em Educação Física.

Orientador: Elaine Prodócimo

Campinas
2007
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA
PELA BIBLIOTECA FEF – UNICAMP

Calça, Daniela Helena.


C126c “Circo das Estrelas”: um estudo de caso no bairro Monte Cristo em
Campinas / Daniela Helena Calça. – Campinas, SP: [s.n.], 2007.

Orientador(a): Elaine Prodócimo.


Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Faculdade de
Educação Física, Universidade Estadual de Campinas.

1. Circo. 2. Adolescentes. 3. Educação física. I. Prodócimo, Elaine. II.


Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física. III.
Título.

asm/fef
DANIELA HELENA CALÇA

“CIRCO DAS ESTRELAS”: UM ESTUDO DE CASO NO


BAIRRO MONTE CRISTO EM CAMPINAS

Este exemplar corresponde à redação


final do Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação) defendido por Daniela
Helena Calça e aprovado pela Comissão
julgadora em: 23/11/2007

Elaine Prodócimo
Orientador

Marco Antônio Coelho Bortoleto

Campinas
2007
Agradecimentos

Agradeço em primeiro lugar a Deus pela família maravilhosa que me apóia


em todos os momentos da minha vida.
Aos meus pais Aparecida e Roberto, minha vó Helena e meu irmão Junior
por todo amor, carinho, dedicação, conforto, e principalmente por acreditarem em
mim e em minhas escolhas.
Ao meu companheiro Fausto por estar sempre ao meu lado, pelas alegrias
compartilhadas no picadeiro e pela linda caminhada que estamos construindo
juntos.
A Elaine pelo convite e oportunidade de conhecer os jovens deste projeto,
por ter acreditado em mim e pelo crescimento que me possibilitou.
Aos meus amigos do grupo de estudos CIRCUS, pelas manhãs de
reflexões e discussões, em especial á Ermínia e ao Marquinho pela atenção que
dedicam a mim e aos projetos circenses.
Aos meus mestres circenses Marion e Alex Brede, por toda paciência,
pelos conhecimentos que me possibilitam, pela força e as experiências do dia-a-
dia que compartilhamos.
Aos meus amigos de picadeiro: Fausto, Márcio, Thiago, Markinho, Malú,
Alex, Claudia, Alan, Carol, Daniel, Danilo, Diogo e todos aqueles que amam o
circo.
Aos colegas e professores da Faculdade de Educação Física da Unicamp,
pela convivência ao longo destes 5 anos que foram maravilhosos e muito rico e a
Faculdade de Educação Física pelas oportunidades e o apoio em minha
formação.
E a todos que participaram do Projeto “Circo das Estrelas”, direta e
indiretamente, mas que contribuíram para a realização do mesmo: ao Educandário
do Jardim Monte Cristo, ao Professor Wil, Edílson, a Marta, o Danilo e a Elaine da
Faculdade de Educação Física da Unicamp e principalmente os adolescentes do
projeto “Circo das Estrelas”, pois sem eles, este trabalho não estaria sendo
compartilhado com vocês
CALÇA, Daniela Helena. “Circo das Estrelas”: um estudo de caso no bairro Monte
Cristo em Campinas. 2007. 106f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação)-
Faculdade de Educação Física. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005.

RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso buscou descrever o processo e a trajetória


de um projeto de atividades circenses - no âmbito de circo social - desenvolvidos com
um grupo de adolescentes do Jardim Monte Cristo em Campinas, durante os anos de
2005 e 2006. O projeto surgiu como atividades de extensão de um educandário
localizado neste bairro e as aulas foram realizadas no espaço de uma academia de
dança localizada no bairro vizinho – Jardim do Lago. Durante o projeto nos focamos no
ensino de algumas modalidades circenses: acrobacias de solo, malabares, acrobacias
aéreas no tecido e no trapézio fixo e uma pequena vivência do palhaço. Os
adolescentes se apresentaram ao público 3 vezes e durante o ano de 2005 foram
objeto de um estudo de iniciação científica que buscou relacionar as atividades
circenses à mudança do auto conceito neste mesmo ano. Em 2005 foram realizadas
32 aulas de 1 hora e meia com freqüência de uma vez por semana e em 2006 foram
realizadas 16 aulas com a mesma duração e freqüência, registradas como relatório de
aula do professor. Procuramos ainda discutir esta experiência com a produção
acadêmica da Educação Física sobre o tema e com projetos de circo social

Palavras-Chaves: Atividades Circenses; Circo Social; Adolescentes; Educação Física.


CALÇA, Daniela Helena. Stars of Circus”: a study the case in the neighborhood
Monte Cristo in Campinas. 2007. 106f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação)-
Faculdade de Educação Física. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005.

ABSTRACT

This present work of finish course search described the process and the trajectory of
the one projetc the circus activities – in scope the social circus- devedop with a
adolescent group the Jardim Monte Cristo in Campinas, SP, prep during the years
2005 and 2006. The projetc emerge how extension activities of a educandário locality
in this neighborhhod and the classrom were accomplish in a place of the dance
academy in neighboring – Jardim do Lago. In projet we focus at teaching of the some
circus modality: acrobatics the flat, juggling, acrobatic flying in silk and trapeze fixed
and the small experience of clown. The adolescents present for the public three time
and in 2005 were object of a study cientific initiation which search relate the circus
activities with change the auto concept . In 2005 were accomplish 32 class of one hour
and half and onde frequency for week and in 2006 were accomplish 16 class of same
duration and frequency, register with report of class the teacher. We search discuss
this experience with academic of Phisical Education above this theme and whit social
circus project.

Keywords: Circus Activities; Social Circus; Adolescent; Phisical Education.


LISTA DE FIGURAS

Daniela em apresentação de lira no circo Rakmer em Sumaré SP. – agosto


Figura 1 -
de 2007............................................................................................................. 13

Figura 2 - Academia de dança e arte onde eram realizadas as aulas do projeto Circo
das Estrelas: paredes coloridas com desenhos circenses.................................. 21

Figura 3 - Academia de dança e arte onde eram realizadas as aulas do projeto Circo
das Estrelas: parte do tablado de madeira e o bebedouro de água................... 21

Figura 4 - Materiais alternativos de malabares: Argolas.................................................. 22

Figura 5 - Materiais alternativos de malabares: Lenços................................................... 22

Figura 6 - Materiais alternativos de malabares: Claves.................................................... 22

Figura 7 - Trapézio confeccionado pela professora......................................................... 22

Figura 8 - Trapézio confeccionado pela professora ........................................................ 22

Figura 9 e Fotos de figuras acrobáticas registradas durante a primeira apresentação do


10 - grupo na academia onde foram desenvolvidas as
aulas.................................................................................................................. 26

Figura 11 e Fotos registradas no ginásio da Faculdade de Educação Física da Unicamp,


12 - em Campinas, durante a visita e vivência nos aparelhos da Faculdade:
figuras realizas no tecido solto e unido............................................................ 27

Fotos registradas no ginásio da Faculdade de Educação Física da Unicamp,


Figura 13 -
em Campinas, durante a visita e vivência nos aparelhos da Faculdade:
figuras realizas no tecido solto e separado....................................................... 27

Figura 14 - Aluno realizando manipulação de bolinhas..................................................... 28

Figura 15 - Aluno realizando manipulação de Claves........................................................ 28

Figura 16 - Apresentador do Espetáculo............................................................................. 31

Figura 17 - Cena cômica de malabares com bolas criadas pelos alunos............................ 31

Figura 18 - Apresentação no tecido aéreo.......................................................................... 31

Figura 19 - Acrobacias em dupla com os “Irmãos Rodrigues”......................................... 31


Figura 20 - Apresentação de magia com a participação do público...................................
31
Figura 21 e Apresentação do grupo “Circo das Estrelas” realizado em um espaço fora da
22 - academia no início de dezembro de 2005................................................... 32

Figura 23 - 3º apresentação do grupo “Circo das Estrelas”............................................... 33

Figura 24 - Alunas assistindo ao filme lanchando.............................................................. 33

Figura 25 e Aluna vivenciando o tecido no ginásio da Faculdade de educação Física da


26 - Unicamp............................................................................................................ 33

Figura 27 - Fotos do grupo “Circo das Estrelas” e do grupo de adolescentes da


associação Beneficente Campineira com seus respectivos professores.......... 33

Poses acrobáticas em dupla criadas a partir da exploração das matrizes em


Figura 28 - 46
três posições: base deitado, base em pé, base em seis apoios..........................

Figura 29 e Alunos construindo “queijo suíço”................................................................... 47


30 -

Figura 31 e Alunos realizando travas do tecido aéreo, em um tecido na horizontal........... 48


32 -
Figura 33 - Preparação para a centopéia............................................................................. 57

Figura 34 - Tentativa de virar na centopéia: podemos observar a alegria e diversão dos


adolescentes nesta atividade............................................................................. 57

Figura 35 - Aluno sentado equilibrando na barra do trapézio............................................. 58

Figura 36 e Alunos realizando andares de palhaço..............................................................


61
37 -
Jovem da frente realizando movimento do cristo no tecido e jovem ao fundo
Figura 38 -
realizando movimento da sereia no trapézio.................................................... 62

Figura 39 - Poses acrobáticas estáticas da esquerda para a direita: avião, ½ altura e


subida no quadril.............................................................................................. 63

Figura 40 Exploração de figuras em grupo...................................................................... 64


e 41-
Turma de alunos e professores do projeto “Circo das Estrelas” no ano de
Figura 42 -
2005............................... ................................................................................. 80
SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................................................ 09
1. Minha relação com o circo .............................................................................................. 11

2. Descrição do projeto “Circo das Estrelas” .................................................................... 18


2.1 Os participantes ............................................................................................................. 18
2.2 Localização do Bairro ................................................................................................... 20
2.3 Espaço das aulas ............................................................................................................ 20
2.4 Conteúdo das aulas ........................................................................................................ 22
2.4.1 Acrobacias ................................................................................................................... 25
2.4.2 Aéreos .......................................................................................................................... 26
2.4.3 Malabares .................................................................................................................... 27
2.4.4 Palhaço ......................................................................................................................... 28
2.5 Professores que ministraram as aulas ......................................................................... 29
2.6 Apresentação dos jovens ao público ............................................................................ 30
2.7 Estudo do auto conceito ................................................................................................ 33

3. Descrição e Breve análise da proposta de atividades circenses ................................... 36


3.1 Proposta em 2005 ........................................................................................................... 36
3.2 Proposta em 2006 ........................................................................................................... 56

4. Considerações Finais ....................................................................................................... 74


Referências ........................................................................................................................... 81
Anexo A – Escala Fatorial de Auto Conceito.................................................................... 84
Anexo B – Resultado e análise individual de auto conceito dos adolescentes................. 91
Anexo C – Pesquisa Extra aula sobre modalidades circenses realizadas pelos alunos
no ano de 2006...................................................................................................................... 104
9

Introdução

Respeitável público... é com muita alegria que lhes apresento: “Circo


das Estrelas”. Este nome foi escolhido pelos próprios alunos que participaram de um
projeto de atividades circenses realizado durante os anos de 2005 e 2006, como um
projeto de extensão da Faculdade de Educação Física da Unicamp junto a um
educandário do Jardim Monte Cristo em Campinas; Ao completarem 12 anos, o
educandário não oferecia nenhuma atividade para os adolescentes que vinham
freqüentando o mesmo –pelos objetivos do educandário de atender principalmente a
infância e pelas limitações nos recursos humanos especialmente-, surgiu então a
proposta de iniciarmos um projeto de extensão com atividades circenses que
oferecesse a oportunidade aos adolescentes do educandário que completassem 12
anos, de um trabalho pedagógico com essa arte. As aulas aconteceram em um espaço
de uma academia de Dança e Arte localizada próxima ao bairro, atravessando a
passarela que une os bairros vizinhos e são separados pela rodovia Santos Dumont.
O contato e o convite para a elaboração deste projeto se deu através da
Profa. Elaine Prodócimo que acompanhava, e ainda acompanha, as atividades do
educandário no Jardim Monte Cristo, em Campinas, e a aluna da faculdade de
Educação Física da Unicamp, que hoje lhes escreve este trabalho e que já ministrava
aulas de atividades circenses nesta academia localizada próxima ao jardim Monte
Cristo, mais especificamente no bairro Jardim do Lago. Através de uma parceria
realizada entre a academia de Dança e Arte, a Professora Elaine que estava
representando o Educandário e a Faculdade de Educação Física da Unicamp,
conseguimos um espaço físico para ministrar aulas de atividades circenses para um
grupo de adolescentes moradores do Jardim Monte Cristo. Durante o ano de 2005, as
aulas deste projeto seriam objetos de estudo de uma iniciação científica cujo objetivo foi
de avaliar o auto conceito destes adolescentes antes e depois do desenvolvimento de
10

um trabalho com atividades circenses e também levantar dados para uma pedagogia
com esta arte para este público.
Este estudo foi realizado durante o ano de 2005, e ao término da bolsa
concedida pelo CNPQ, as aulas com as atividades circenses continuaram até o mês de
julho de 2006.
Após esta breve introdução, o objetivo deste trabalho de monografia
será de descrever a trajetória e o processo deste projeto com atividades circenses
desenvolvido com um grupo de adolescentes do Jardim Monte Cristo em Campinas,
durante o ano de 2005 e 2006, visando compartilhar uma experiência vivida ao longo
destes dois anos e desta maneira, contribuir para futuros projetos de atividades
circenses com este público e no âmbito do circo social, conceito este que sofre diversas
interpretações e intervenções de projetos e instituições que se propõem a trabalhar com
circo social de formas diversas.
No capítulo 1, conto a minha relação com o Circo e porque escolhi esta
arte para realizar um trabalho pedagógico com este grupo de adolescentes. No capítulo
2, uma descrição das estruturas que envolveram o projeto, os objetivos iniciais
envolvidos no estudo da iniciação científica, quem são os alunos, de onde vieram,
quem são os professores que ministraram as aulas, como era o espaço das aulas,
quais conteúdos da arte circense foram trabalhados com os alunos, as apresentações
dos alunos ao público, e os resultados encontrados através do estudo da iniciação
científica, pois julgamos ser necessário para situar o leitor na proposta desenvolvida
durante o ano de 2005. No capítulo 3, uma descrição e breve análise da proposta com
as atividades circenses desenvolvidas durante o ano de 2005 e 2006, e no último
capítulo, as considerações finais sobre a experiência vivida ao longo dos dois anos
desenvolvendo este projeto de artes circenses como atividade extra do educandário do
Jardim Monte Cristo em Campinas, sua relação com outros projetos de circo social e
uma discussão deste tema dentro da faculdade de Educação Física da Unicamp.
11

1 Minha relação com o circo

Sempre fui apaixonada pelas destrezas acrobáticas que o corpo pode


realizar. Aos 14 anos iniciei na prática da ginástica artística, tardiamente, e com meus
1,75 metros de altura, característica esta que não me incluía nos moldes do esporte de
competição da modalidade. Como a paixão era grande, conheci um grupo de Ginástica
Geral coordenado pela professora Marinice Vieira1 - Grupo Mosaicon-, na qual me
ofereceu a oportunidade de me expressar artisticamente e conhecer outras culturas de
movimento, como a ginástica rítmica, a dança, o circo, dentre outras expressões
artísticas, e foi lá que conheci o tecido aéreo, modalidade na qual hoje sou especialista.
Minha relação propriamente com o circo se deu no ano de 2000 quando
participei de um projeto realizado pela secretaria de cultura da prefeitura de Campinas –
Criança Palco e Picadeiro – na qual uma lona itinerante armada por 1 semana em cada
bairro, percorreu 6 bairros da periferia: Parque Oziel, Jardim Santa Mônica, Parque
Valença, Jardim Trancredão, Dic VI e Parque São Quirino. Este projeto oferecia a
comunidade do bairro em que a lona estava armada oficinas e espetáculos circenses
gratuitos; eu ministrava aulas e realizava apresentações no tecido aéreo e acrobacias
em dupla com uma colega circense, Jaqueline de Souza2. O contato com artistas e
circenses tradicionais foi muito importante para eu começar a compreender o que
estava por trás desta arte tão antiga e que encanta a todos.
Em 2003 ingressei no curso de educação física da Faculdade de
Educação Física da Unicamp, na qual conheci pessoas que como eu, tinham uma
pequena relação com esta arte, seja através do palhaço, da magia, pelas acrobacias,
pela ginástica ou pela performance. Deste contato surgiu a Troupe Cia Corpo Magico,
inicialmente formada por 7 integrantes, que funcionava através da união de habilidade e
experiências que todos integrantes traziam e da paixão e admiração pelo Circo. A união

1
Professora de educação física formada pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp – ministra
aulas de ginástica geral, artística, rítmica e de tecido aéreo em escolas e academias além de coordenar
seu grupo de ginástica geral há 8 anos.
2
Mais conhecida como “Jaque”, filha do palhaço Bombril, artista e professora de circo em projetos sociais
realizados em bairro com vulnerabilidade; atualmente coordena o projeto “Resgatando o Circo” realizado
no bairro Padre Anchieta e Boa Vista em Campinas.
12

desta experiência agregada com a formação obtida pelas disciplinas do curso de


Educação Física da Unicamp foi fomentando em mim reflexões, questionamentos e
descobertas que ligavam a arte do circo a um trabalho de uma formação humana e
como instrumento pedagógico de educação através da arte. Em 2005, surgiu a
proposta e o convite através da Professora Elaine Prodócimo3 de desenvolver um
trabalho com atividades circenses para um grupo de adolescentes de um bairro de
periferia em Campinas e que por sinal, em 2000 tive a oportunidade de estar neste
bairro através da lona montada pela prefeitura de Campinas, no projeto Criança Palco e
Picadeiro que lhes apresentei agora pouco. O projeto de atividades circense
desenvolvido com este grupo de adolescentes do Jardim Monte Cristo em Campinas
durante o ano de 2005 e 2006, é descrito e analisado neste presente trabalho de
monografia.
Paralelamente a isto, minhas buscas sobre o circo, suas modalidades,
cultura, história, me levaram a buscar cursos, encontros com este tema e a conhecer a
família circense tradicional que reside em Campinas no bairro de Barão Geraldo –
Marion e Alex Brede4, mãe e filho, que ministram aulas de trapézio em uma estrutura
armada nos fundos de sua residência, e que no dia-a-dia das aulas e convivência,
contavam (e contam ainda) histórias de suas vidas, dos circos onde trabalharam, da
relação do trabalho-família, mostrando livros, revistas, vídeos e formando-nos como
artistas circenses. Minha relação com esta família se estende até hoje, e trabalhamos
juntos em espetáculos circenses que seguem a linha do circo de lona, ou seja, números
de variedades ligados por um apresentador e que são apresentados fora do ambiente
da lona do circo, em hotéis, empresas, escolas e parques, através da empresa Corpo
Magico.
Não posso deixar de dizer neste histórico sobre a imensa contribuição
que o grupo de estudos CIRCUS da Faculdade de Educação Física da Unicamp, o qual

3
Professora Doutora da Faculdade de Educação Física da Unicamp, na época do convite ministrava
disciplina “Pedagogia do jogo”, hoje é chefe do departamento de Educação Motora da Faculdade de
Educação Física e ministra disciplinas ligadas à pedagogia e psicologia.
4
Marion Brede foi artista circense desde os 14 anos iniciando sua carreira artística em sua cidade natal
Bayriuth – Alemanha – percorreu várias cidades da Alemanha e do Brasil como equilibrista e trapezista
da 6º geração da família Brede. Seu filho Alex Brede, nascido em Santo André, SP., iniciou sua carreira
artística aos 16 anos como trapezista e acrobata e hoje se apresenta em icários com seu filho Allan
Brede, 7º e 8º geração respectivamente, além de darem aulas em sua residência e coordenar sua própria
companhia Cia do Circo.
13

faço parte, e é coordenado pelo Prof. Dr. Marco A. C. Bortoleto5, com a participação
mais que especial da Historiadora circense Ermínia Silva6, tem proporcionado com as
discussões, leituras de textos, reflexões, e que possuem grande participação na
elaboração deste trabalho.
Por fim, também gostaria de compartilhar que na data que lhes escrevo
este trabalho, tive a felicidade e oportunidade de estreiar como artista em um circo
grande de lona – Circo Rakmer Espetacular – na cidade de Sumaré SP, a qual só vem
a contribuir com a minha formação e vivência em busca de conhecimento sobre esta
arte milenar, além de sentir extrema felicidade e realização com “o frio na barriga”
sentido antes de cada entrada no picadeiro ao ouvir o anúncio do meu nome pelo
apresentador do circo.

Figura 1. Daniela em apresentação de Lira no


Circo Rakmer em Sumaré SP. – agosto de
2007.

5
Prof. Dr. da Faculdade de Educação Física da Universidade de Campinas (Unicamp), pesquisa a arte
circense á 8 anos. Foi professor de acrobacias na escola de Circo Rogelio Rivel em Barcelona –
Espanha, atuou nas companhias La Cremallera Teatre, A Laigua Teatre, Chip Cnap, etc., e diversos
espetáculo na Espanha, Portugal, França e Chile como acrobata, perna de pau e malabarista.
6
Historiadora formada pela Faculdade de História da Universidade Estadual de Campinas, tradicional da
4º geração da família Wassilnovich (no Brasil Silva), filha do artista Barry Charles Silva, hoje Ermínia
milita com inúmeras pessoas pela construção do circo como patrimônio cultural, coordena o site
www.pindoramacircus.com.br e ministra aulas de história do circo com diversas publicações. (Fonte: livro
circo-teatro: Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil, Altana, 2007).
14

Diante deste breve histórico sobre minha trajetória, ainda fica a


seguinte pergunta para mim e também possivelmente para você leitor: Por que dentro
de uma formação acadêmica em educação física, e vinda da área da ginástica artística,
escolhi o circo para realizar um trabalho pedagógico com estes adolescentes? O que
esta arte traz de especial para que eu busque conhecê-la e desenvolva um trabalho
como foi o projeto “Circo das Estrelas”.
Em primeiro lugar reconheço a arte circense como um patrimônio
cultural que segundo Torres, Castro, Carrilho (1998) teve início com o primeiro homem
a fazer brincadeiras engraçadas, com apresentações incomuns em cortejos, anfiteatros,
comemorações, e com registros na Grécia antiga datadas no ano de 70 a.C. quando
em Pompéia havia um anfiteatro destinado a apresentações incomuns e que mais tarde
vieram a se chamar Artes Circenses. Ao longo dos anos os artistas foram incorporando
o contexto de sua época, realizando apresentações em ambientes variados cada qual
com suas necessidades e particularidades; até que em 1770 aproximadamente, foi
criado um ambiente fixo que buscou reunir a apresentação destes artistas ambulantes e
saltimbancos em um ambiente controlado e com atrações pagas, dirigidas pelo
suboficial Philip Astley; foi daí que surgiu a estrutura que o circo tem hoje com picadeiro
redondo, arquibancadas ao redor, mestre de pista, rufar dos tambores, incorporando
por sua vez as características dos militares na organização e disciplina desta arte.
Além de ser uma arte com origem no sagrado (CASTRO, 1998), e
muito antiga, ela também incorpora saberes de outras artes como a dança, a música, o
teatro dentre outros que tornam a arte circense complexa e que inclusive faz parte das
discussões atuais sobre quem pode ensinar circo? Quais conteúdos circenses formam
um artista e quais conteúdos formam um professor?
Sabe-se que é crescente a busca de educadores físicos por
conhecimentos circenses para ministrar aulas em ambientes que antes não eram
freqüentados por circenses como, por exemplo, nas academias de musculação, nas
escolas de ensino formal, nas universidades; exemplo disto é a cartilha de Educação
Física lançada pela secretaria de Educação do Estado do Paraná que já incorporou o
circo como conteúdo formal das aulas de Educação Física das escolas municipais; a
disciplina eletiva de Atividades Circenses ministrada pelo Professor Dr. Marco Bortoleto
15

na Faculdade de Educação Física da Unicamp, busca trazer informações, reflexões e


conteúdos que visam contribuir e auxiliar professores de escolas e educadores físicos
na busca do conhecimento deste saber. Estes novos grupos de sujeitos históricos que
estão buscando conhecer e praticar o saber circense e que produzem mudanças no
modo de organização do trabalho circense são considerados como Circo Novo (Silva,
2003).
Segundo Silva (2004), em seu texto: “O ensino das artes circenses no
Brasil. Breve histórico e algumas reflexões”, apresentado no I Encontro Funarte de
escolas de Circo no Rio de Janeiro, em dezembro de 2004, diz que o circense até pelo
menos a primeira metade do século XX, na sua maioria nascia no circo ou se juntava a
ele, e o processo de formação e aprendizagem tinha início desde o seu nascimento, se
fazendo presente no seu dia-a-dia. Como método pedagógico para se constituir um
artista de circo, a criança recebia uma formação global de seus pais ou mestres, em
que era necessário aprender a dominar além de acrobacias, questões de segurança
(sua, de seus colegas e do público), conhecimentos de maquiagem, figurino, de seu
aparelho de trabalho, de música, de dança, de instrumento musical, de coreografia, de
direção artística dentre outros conhecimentos.
Antes do surgimento de escolas de circo, a arte circense era transmitida
de pais para filhos, dentro do ambiente da lona e com sua organização como circo-
família (SILVA, 1996). No Brasil, em 1970 surgem as primeiras escolas de circo com o
argumento de que a tradição familiar não seria suficiente para garantir a perpetuação
da arte ao longo do tempo e também para proporcionar democratização e ampliação
das informações do conhecimento compartilhado dentro da lona, no ambiente da escola
de circo. Paralelo a isso, ainda segundo Silva (2004), a partir de 1990 há identificação
das atividades circenses como ferramenta pedagógica nos processos de arte
educação, por ser um instrumento altamente rico em valor pedagógico e de formação
global do indivíduo.
Com isso, diversos trabalhos sociais surgem com o objetivo de
transformação da realidade social, como é o caso da Rede Circo do Mundo no Brasil,
que articula organizações que trabalham com a metodologia de Circo Social, e que
utilizam as técnicas circenses como ferramenta para um trabalho educativo numa
16

perspectiva de promoção de cidadania e transformação social. Zanetti (2001 apud


SILVEIRA, 2001) em seu texto no livro: “Circo Educando com Arte” da Rede Circo no
Mundo Brasil, escreve que a Rede reúne 06 instituições de três capitais brasileiras7,
que trabalham com educação/promoção de crianças, jovens e adolescentes chamados
de “risco” e tem como perspectiva mais geral o trabalho educativo de integração dos
excluídos, o exercício da cidadania e o resgate das raízes culturais que privilegiam o
teatro, a dança e o circo como instrumento de aproximação/motivação dos grupos com
que trabalham e também como um possível campo de profissionalização.
Pois bem, quando recebi o convite para desenvolver um projeto de
atividades circenses com este grupo de adolescente do bairro Monte Cristo, logo me
veio a idéia de poder utilizar a arte circense como instrumento para levar algo que
poderia contribuir com a melhora na vida destes jovens, acreditando que como eu havia
sido excluída pelos moldes do esporte ginástica artística e aceita na livre expressão do
circo, então os jovens da periferia também se sentiriam inclusos dentro das atividades
circenses. Outro pensamento que eu tinha muito forte era a possibilidade de trabalhar
com a auto-estima dos adolescentes, sabendo que o trabalho com o circo poderia
ajudá-los a elevar a auto-estima, a superar medos, trabalhar a confiança em si mesmo
e no outro, a relação de respeito entre meninos e meninas, enfim, pensando no circo
como uma ferramenta para desenvolver valores humanos. Ao longo do processo que
será descrito no próximo capítulo, as leituras, pesquisas e reflexões, chegamos a
conclusão de que a arte circense vai muito além de uma simples ferramenta, pois estes
valores que pensava em trabalhar, também podem ser trabalhados em uma aula de
dança, de esporte ou ginástica. O que faz a diferença é o profissional que ministra as
aulas, suas crenças pessoais e a forma como se trabalha com o conteúdo e as
pessoas.
Escolhi o circo para trabalhar com este grupo de adolescente porque
sou mais uma apaixonada por esta arte e aprendi ao longo das minhas buscas a
conhecê-la e a respeitá-la. Usar a arte circense como instrumento e aliada para
promover melhora na auto-estima das pessoas, como identificação de adolescentes

7
01.Se Essa Rua Fosse Minha, 02.Grupo Afro Reggae, 03. Fase/Saap – serviço de análise e Assessoria
a projetos da Fase, todos do Rio de Janeiro; 04. ARRICIRCO – arraial Intercultural de Circo do Recife,
05. Escola Pernambucana de Circo, 06. ACES – Associação Serras Esporte Clube Social.
17

com uma expressão artística e/ou mudanças da realidade social é maravilhoso! Ainda
mais com uma arte que oferece um enorme potencial de formação global do indivíduo,
como a arte circense. Entretanto, é limitante para a própria arte pensá-la apenas como
instrumento, forma de captar recursos de empresas ou do governo em projetos sociais,
ou porque o tema circo está em moda na mídia e as escolas têm elegido o tema circo
para festas de fim de ano, formaturas, como conteúdo das aulas de educação física,
pois, de qual circo estamos falando e reproduzindo? O que sabemos sobre esta arte tão
antiga? Qual nossa relação com esta arte e como nós, educadores físicos, podemos
tratar desta cultura corporal com o devido respeito à arte?, já que o circo é um
patrimônio da cultura, e, portanto, de direito de acesso e respeito de todos.
18

2 Descrição do projeto

Conforme dito anteriormente, o projeto “Circo das Estrelas” surgiu


através de um convite juntamente com um projeto de iniciação científica, o qual irei
fazer uma breve explicação do mesmo, pois julgamos necessário para que o leitor
compreenda o contexto em que foram desenvolvidas as atividades circenses durante o
ano de 2005.
O objetivo inicial do estudo de iniciação científica foi de investigar se um
trabalho desenvolvido com atividades circenses em um grupo de adolescentes seria
capaz de alterar o auto-conceito dos mesmos, isto é, a percepção que o indivíduo tem
de suas características (GALLAHUE, 2001) e que se relaciona com os objetos e as
outras pessoas, influindo em si mesmo. Machargo (1991; Burns, 1979,1982 citados por
Villa Sanches, Escribano, 1999), acrescentam ao auto-conceito um conjunto de atitudes
que se constitui em três componentes: Cognitivo – conjunto de características que o
indivíduo descreve de si e que orienta o seu modo de agir; Afetivo ou avaliativo – como
o individuo emite julgamentos; e Comportamental, como o indivíduo se apresenta no
cotidiano, condicionando a forma de se comportar.
Desta forma, o objetivo inicial do estudo era saber se ao final de um
programa de atividade circenses, iniciado em março de 2005 e finalizado de dezembro
de 2005, desenvolvido com os adolescentes do educandário do Bairro Monte Cristo, os
mesmos apresentariam uma mudança na sua percepção como pessoa.
Vamos as estruturas que compuseram o projeto.

2.1 Os participantes

Participaram do projeto “Circo das Estrelas”, durante o ano de 2005:


19

• 4 meninos de 12 à 17 anos
• 6 meninas de 12 à 15 anos
• totalizando 10 alunos, todos freqüentadores do educandário situado no
Jardim Monte Cristo, no Parque Oziel, em Campinas, e moradores do
mesmo bairro.
• 1 professora/coordenadora do educandário que participava das aulas
práticas;

Segue no Quadro 1 com gênero, idade e série escolar que estavam


cursando durante o ano de 2005 quando participaram do projeto:

Quadro 1: Divisão dos alunos por gênero, idade e escolaridade


Série que está
Gênero: Idade: cursando:
2 meninas 12 anos 6º
2 meninas 12 anos 5º
1 menina 14 anos 6º
1 menina 15 anos 6º
1 menino 12 anos 3º
1 menino 13 anos 6º
1 menino 16 anos Supletivo 6º e 7º
1 menino 17 anos 6º

Analisando as idades e as séries em que os alunos estavam cursando


durante a realização do projeto, pode-se perceber uma defasagem de muitos deles em
relação a idade e a série escolar.
Os alunos que participaram do projeto “Circo da Estrelas”, durante o
ano de 2006, foram:
• 5 meninos de 12 à 17 anos, sendo que 3 destes meninos participaram do
projeto no ano de 2005;
• 4 meninas de 12 à 16 anos sendo que 2 destas meninas também
participaram do projeto no ano anterior;
• 1 professora/coordenadora do educandário que participava das aulas
práticas ( a mesma pessoa em 2005 e 2006);
20

• 8 alunos (7 meninas e 1 menino) que freqüentaram as aulas


esporadicamente, e num total de 16 aulas práticas, compareceram em 1
aula, 3 aulas ou 5 aulas.
• Totalizando 18 alunos, com uma média de 10 alunos por aula, todos
freqüentadores do educandário situado no bairro Jardim Monte Cristo, no
Parque Oziel, em Campinas, e moradores do mesmo bairro.

2.2 Localização do Bairro

A comunidade do Jardim Monte Cristo é caracterizada pela AMIC8


(Associação dos Amigos da Criança) como uma das comunidades excluídas
socialmente na cidade de Campinas que mais necessita de projetos de intervenção em
ações sociais, onde vivem mais de 30.000 famílias situadas ao lado do Parque Oziel e
caracteriza-se como um bairro com bastante índice de violência e marginalidade.
Localiza-se entre duas importantes rodovias: Santos Dumont e a Rodovia Anhanguera;
sabe-se que o bairro originou-se de uma invasão de um movimento de “sem terras” e
hoje a prefeitura de Campinas reconhece o bairro.

2.3 Espaço onde foram realizadas as aulas

O espaço onde foram ministradas as aulas se localiza próximo ao bairro


do Educandário (Jardim Monte Cristo), sendo um espaço de oficina de dança e arte,
que possui uma aparência muito agradável: é um galpão de mais ou menos 10 metros
por 6 de largura e 6metros de altura até as vigas. Tem um tablado de madeira

8
Associação dos Amigos da Criança, coordenado pela Pedagoga e Presidente Fundadora da AMIC
Eliana Luis dos Santos, desenvolve diversos trabalhos e projetos sociais na comunidade de Campinas
voltados para inclusão social no âmbito da Educação, Cultura e Trabalho e também com distribuição de
alimentos.
21

geralmente utilizado para danças pela academia e espelhos que compõem uma das
partes deste tablado. Possui 2 barras de ferro utilizadas em dança e que usávamos
para alongamento e postura. Possui um banheiro disponível para os alunos e água para
consumir durante as aulas.
As paredes deste galpão são pintadas com gravuras circenses bem
coloridas que tornam o ambiente agradável e faz alusão a algumas modalidades
circenses como o tecido, o malabares, o palhaço, a lira e o monociclo.

Figuras 2 e 3 – academia dança e arte onde eram realizadas as aulas do projeto Circo da Estrelas; a foto
2 mostra as paredes coloridas com desenhos circenses e a foto 3 mostra parte do tablado de madeira e o
bebedouro de água.

Na medida do possível tínhamos todos os materiais necessários para o


desenvolvimento deste projeto que contemplou apenas a vivência e o ensino de
algumas modalidades (acrobacias de solo –individuais e em grupo-, tecido aéreo,
trapézio fixo, malabares). Os materiais que dispúnhamos para a realização das aulas
foram:
• 3 colchões de espuma 1,90 por 1metro;
• 9 tatames de EVA 1x1metro;
• 1 tecido acrobático e 2 trapézios;
• 1 mini trampolim cedido pela trupe Corpo Mágico;
• Alguns objetos de manipulação como bolas feitas de painço e bexiga,
lenços de tule, argolas feitas de papelão e fita adesiva, 3 claves
profissionais e 6 claves confeccionadas de jornal, 1 diabolo e 1 dévil stick.
22

Figuras 4, 5 e 6: materiais alternativos de malabares: Argolas, lenços e claves respectivamente da esquerda


para a direita.

Vale lembrar que os trapézios foram confeccionados por um dos


professores do projeto que utilizou uma barra de ferro de 65cm com duas argolas
soldadas nas extremidades; cordas de rapel foram amarradas nestas argolas e por
cima do nó da corda recebendo uma camada algodão, gaze, finalizando com um
pedaço de tecido costurado sobre a gaze (figuras 7 e 8).

Figuras 7 e 8: trapézios confeccionados pela professora;

2.4 Conteúdos desenvolvidos nas aulas

As aulas tiveram início em março de 2005 e foram encerradas em


dezembro de 2005 totalizando 32 aulas que aconteceram 1 vez por semana, com a
23

duração de uma hora e meia e focaram o ensino de algumas modalidades circenses


como acrobacias de solo, acrobacias aéreas, malabares e uma pequena vivência do
palhaço.
Em 2006, as aulas tiveram início em março e foram encerradas em
julho do mesmo ano totalizando 16 aulas que aconteceram 1 vez por semana com a
duração de uma hora e meia e focaram o ensino das mesmas modalidades
desenvolvidas no ano de 2005 (acrobacias de solo, aéreas, malabares e uma pequena
vivência do palhaço), porém tentando aprofundar um pouco mais os conhecimentos dos
alunos nestas modalidades, devido a participação da maioria dos alunos no ano
anterior.
Sabemos que a arte circense contempla inúmeras modalidades como
propõe Duprat (2007) em sua dissertação de mestrado, que montou um quadro de
unidade didático-pedagógica com uma divisão de diferentes modalidades circenses
praticadas sem materiais ou com materiais de pequeno e médio porte que o autor
propõe para o ensino e vivência no ambiente escolar (ver quadro 2).

Quadro 2: Divisão das modalidades circenses por unidades didático pedagógica. Fonte: Duprat
(2007, p. 58)
24

Também Dantas (1980), em seu livro “Piolin” catalogou as diferentes


especialidades circenses presentes em espetáculos de Circo Itinerante de sua época
como: acrobacia no solo ou em barras de ferro, águas dançantes, adestramento e
domesticação de animais, anomalias físicas, antípodas (movimento de objetos com os
pés, deitado de costas), cama elástica, equilíbrio no arame, força capilar (giro suspenso
pelos cabelos), contorcionismo, danças, dental (força nos dentes), arte eqüestre,
equilibrismo (objetos ou pessoas), evoluções sobre rodas (ciclismo, motocicletas,
velocípedes, patins de rodas), faquires (trabalho com facas), engolidores de fogo,
demonstração de força física e muscular, funambulismo (combinações sobre o cabo de
aço em que artistas realizam pirâmides, dentre outras coisas), globo da morte, mágicas
(ilusionismo e prestidigitação que seria agilidade das mãos), malabarismo (argola,
bolas, chapéus, claves, tochas acesas), mímica, música, palhaços, pantomimas (com
comédias improvisadas fazendo parte do segundo ato do espetáculo), paradismo
(parada de mãos ou de cabeça), rola-rola (tábua sob um cilindro onde o artista se
equilibra), saltadores (flyflap, mortal etc), sombras chinesas, telepatia, ventríloquos
(fantoches), e ainda os números aéreos que abrangem: vôos em trapézio, trapézio fixo,
tecido, corda indiana, lira, bambu japonês, anéis volantes ou argolas, arame, trapézio
duplo, corda bamba, quadrante, entre outros.
Além de Duprat (2007) e Dantas (1980), sabemos que existem diversas
formas de divisão e classificação das modalidades circenses. Podemos notar no quadro
proposto por Duprat que a divisão das modalidades tem o objetivo de separar as
práticas viáveis de se ensinar e vivenciar no ambiente escolar e com um determinado
objetivo, por isso contempla algumas e deixa outras de fora como é o caso de
faquirismo, pirofagia, globo da morte, dentre outras. Já Dantas descreve as
especialidades circenses observadas em espetáculos no ambiente da Lona do Circo,
com objetivos próprios de exposição de suas habilidades num contexto artístico e
profissional, de entretenimento à população.
No caso do projeto social “Circo das Estrelas”, optamos por ensinar
apenas as acrobacias de solo, aéreas (tecido e trapézio fixo) e malabares, pois eram as
modalidades que os professores do projeto tinham conhecimento e experiência para
ensinar. Entendemos o ato de ensinar como um processo pedagógico que envolve as
25

capacidades dos professores em ensinar, o conhecimento do que se ensina, as


experiências de vida dos alunos, o espaço em que se dá o ensino, o tempo disponível,
a utilização e disponibilização de recursos materiais, que no caso do nosso projeto
contemplava apenas o ensino das modalidades que serão especificadas abaixo.
Porém, acreditamos que mesmo escolhendo algumas modalidades circenses para
serem ensinadas, os professores e alunos devem ter clareza da dimensão maior que é
a arte circense e seus saberes, através de pesquisas, material áudio-visual, visitas a
diferentes espetáculos, leituras de livros, jornais e toda forma que possa contribuir com
a compressão e o saber desta arte.
As aulas foram estruturadas a partir de um aquecimento lúdico em que
foram explorados jogos como pega-pega e suas variações, interpretação de histórias,
danças, que visaram, além de preparar o corpo para as práticas, trabalhar
componentes como cooperação, contatos, descontração, ritmo, e outras características
presentes nas atividades de circo. Trabalho de capacidades motoras como força,
coordenação, flexibilidade, relaxamento muscular, exercícios de alongamento muscular
e variações com os olhos vendados, em dupla, com auxílio de materiais (bastões), que
visaram trabalhar a consciência corporal e espacial; e ensino das modalidades
específicas que foram as seguintes:

2.4.1 Acrobacias de solo

As acrobacias de solo envolveram o aprendizado de acrobacias básicas


individuais como rolamentos à frente, de costa, parada de mãos, parada de cabeça,
vela, ponte, estrela, baseadas na ginástica artística, que servem de base para as
habilidades e domínio corporal nas demais modalidades. As acrobacias de solo
realizadas no circo e no esporte ginástica artística são as mesmas, o que diferencia
ambas é o espaço disponível que no circo geralmente conta com espaço reduzido e no
esporte com tablados e pistas de colchões específico onde se pontuam a máxima
perfeição dos movimentos e ângulos de braços e pernas; o objetivo e contexto em que
26

são realizadas, sendo que no circo as acrobacias são realizadas para entreter,
transmitir uma mensagem artística e já na ginástica artística possui os objetivos
específicos do esporte de competição.
Ainda nas acrobacias de solo, os alunos tiveram vivência no minitramp
–mini cama elástica utilizada para dar impulso e realizar acrobacias e figuras no alto
com aterrizagem em colchões de espuma - e também foram desenvolvidas, com os
alunos, acrobacias em dupla, trios, quartetos, e grupos;

Figuras 9 e 10 – fotos de figuras acrobáticas retiradas durante a primeira apresentação do grupo na


academia onde foram desenvolvidas as aulas.

2.4.2 Acrobacias aéreas

Acrobacias aéreas no tecido acrobático e no trapézio fixo; nestes


aparelhos foram ensinados primeiramente formas de subir e descer do mesmo, seguido
do ensino de figuras e truques básicos.
O tecido é um grande pedaço de pano do tipo liganete (Calça e
Bortoleto 2006) que costuma variar de 10 à 26 metros (de acordo com altura do local),
amarrado pelo meio em que o acrobata sobe e realiza travas em volta de seu corpo. No
projeto “Circo das Estrelas” foram explorados truques que utilizaram o tecido solto e
unido (fechado) como trava no pé (lock) e suas respectivas figuras como secretária (ver
figura 11), morcegão, enrolada; trava de cintura (riplock) (ver figura 12) e queda á
frente; O tecido solto e separado em que os alunos enrolavam cada parte do tecido em
27

uma perna e realizavam movimentos como espacato (ver figura 13), descida no
tornozelo, portô; e utilizavam o tecido com trança em que foram exploradas subidas
semelhantes a do trapézio fixo, figuras como cazulo, avião, enrolada, esquadro e queda
à frente na trança.
O trapézio fixo é uma barra de ferro de aproximadamente 70 cm
suspensa por duas cordas nas extremidades e fixadas a uma estrutura no alto, havendo
diferentes modalidades de trapézio que diferenciam suas técnicas como estático, de
balanço, de vôo, praticada por uma ou mais pessoas e que apresentam variações no
formato do trapézio como duplo, triplo, dentre outros (CALÇA, BORTOLETO,
2007a/2007b) ; em nosso projeto foram ensinadas no trapézio fixo duas maneiras de
subir: suspenso pelos braços, colocar a articulação do joelho apoiada na barra (subida
simples, da curva ou do morcego); suspenso pelos braços realizar um movimento de
rotação do corpo sobre a barra do trapézio equilibrando o corpo na altura do quadril
(subida da oitava). E explorados movimentos abaixo da barra do trapézio como sereia,
pé de anjo; sentado na barra do trapézio como equilíbrio sentado de lado, trava do
pescoço; acima da barra do trapézio (de pé) utilizando as cordas como o cristo.

Figuras 11, 12 e 13 – fotos retiradas no ginásio da faculdade de Educação Física da Unicamp, em


Campinas, durante realização de visita e vivência nos aparelhos da faculdade. As imagens 11 e 12
demonstram figuras realizadas com o tecido solto e unido e a imagem 13 com o tecido solto e separado.

2.4.3 Malabares

Manipulação de objetos como bolinhas, argolas, claves, lenços, dévil e


diabolo em que foram explorados jogos e exercícios básicos com lançamento de 1
28

objeto e exploração de diversas maneiras, 2 e 3 objetos com lançamentos paralelos,


cruzados, e equilibro de objetos em diferentes partes do corpo.

Figura 14: manipulação de bolinhas; Figura 15: manipulação de claves;

2.4.4 Vivência da figura lúdica do palhaço:

Em 2005 foi trabalhado por um professor convidado do educandário


formado em artes cênicas, que explorou jogos lúdicos como pensar em um personagem
engraçado e reproduzir seu andar, seu jeito particular, pensar em uma cena. Em 2006
foi trabalhado pela professora que acompanhou a turma nos dois anos, e foram
trabalhas algumas técnicas de cascata (caídas de palhaço), com andares diferentes,
tropeços, dentre outros.

O encerramento da aula tinha o objetivo de “volta à calma” com jogos


lúdicos, relaxamento, integração e/ou também ocorriam as demonstrações de
atividades desenvolvidas pelos alunos durante a aula, organizadas como uma
apresentação; neste momento os alunos se revezavam entre apresentador, artistas e
platéia, geralmente eram divididos em grupos e enquanto um grupo apresentava, o
29

outro observava para comentar a sua impressão e contribuir com sugestões e


comentários. Era o momento que tínhamos para discutir e lapidar a apresentação das
habilidades aprendidas ao público, característica esta marcante no circo.

2.5 Professores que ministraram as aulas

Em 2005, os professores que ministraram as aulas de circo aos


adolescentes planejavam as aulas conjuntamente; são estudantes e pesquisadores da
arte circense, atuam como artistas e oficineiros além de serem estudantes de educação
física, sob a coordenação da Prof. Dra. Elaine Prodócimo. Segue abaixo o perfil dos
professores:

Daniela Helena Calça, graduanda em Educação Física (que lhes


escreve este trabalho), com ingresso no ano de 2003. Atua como artista
circense desde 2000, membro do grupo de estudos e pesquisa em artes
circenses da Faculdade de Educação Física da Unicamp – CIRCUS
desde 2006.

Danilo Morales, graduando em Educação Física com ingresso no ano de


2005, membro do grupo ginástico da Unicamp desde 2005 e membro do
grupo de estudos e pesquisa em artes circenses da Faculdade de
Educação Física da Unicamp – CIRCUS desde 2007.

Profa. Dra. Elaine Prodócimo, chefe do departamento de Educação


Motora da Faculdade de Educação Física da Unicamp, e professora da
graduação nas disciplinas de pedagogia e psicologia, também atua
como voluntária nos projetos sociais da AMIC realizado no Jardim Monte
Cristo e no Vilage em Barão Geraldo.
30

Em 2006 as aulas foram ministradas apenas pela professora Daniela


Helena Calça, qualificada acima, que planejava as aulas na semana anterior,
observando os interesses e o feed back dos alunos para a escolha das modalidades em
cada aula.

2.6 Apresentações dos jovens ao público

No ano de 2005, as aulas de atividades circenses levaram os


participantes a realizarem apresentações artísticas. Durante nove meses de aula no
ano de 2005 (início do mês de março e encerramento no mês de dezembro de 2005), o
grupo se apresentou ao público 3 vezes:
A primeira apresentação foi no mês de outubro de 2005, na própria
academia em que tinham aulas, e o público eram crianças da creche que freqüentavam
(educandário bairro Monte Cristo em Campinas); foi um espetáculo de 40 minutos
realizado por eles com apresentador e números de variedades. O ensaio e criação das
coreografias foram realizados durante as aulas e tiveram início no mês de setembro de
2005; contaram com a participação dos alunos e os professores foram mediadores
baseados na experiência dos mesmos na ginástica geral, em que o professor apresenta
uma proposta aos alunos e estes criam movimentos baseados em suas experiências e
habilidades. Acreditamos que deste modo os movimentos criados pelos alunos
carregam um significado maior aos mesmos que participam de todo processo de
criação da coreografia, tendo maior envolvimento dos mesmos e foi o que aconteceu
neste espetáculo em que tivemos dois alunos que ao assistirem um dvd (em um espaço
fora das aulas) que ensinava pequenos truques de magia (modalidade esta que não foi
ensinada em aula, mas que a partir do interesse pessoal de um dos sujeitos, este
realizou pesquisa extra-aula), os mesmos trouxeram a proposta de montar um pequeno
número com magia para apresentarem neste espetáculo. Abaixo seguem fotos de
registro desta primeira apresentação ao público do grupo “Circo das Estrelas”:
31

Figura 16- apresentador do espetáculo; Figura 17- cena cômica de malabares com bolas criada
pelos alunos; Figura18 – apresentação de tecido aéreo; Figura 19 – acrobacias em dupla com irmãos
Rodrigues; Figura 20 – apresentação de magia e a participação do público;

A segunda apresentação do grupo “Circo das Estrelas” foi no começo


de dezembro de 2005, no festival de fim de ano da academia que aconteceu em um
espaço fora da mesma e reunia grupos de diferentes áreas como dança clássica, dança
de rua e o grupo de circo. Os alunos realizaram a apresentação de 1 coreografia com a
duração de 5 minutos que reunia várias modalidades e contava a história dos próprios
alunos (antes de conhecer o circo e depois de conhecer e praticar a arte circense); este
tema foi escolhido pelos alunos a partir de conversa sobre utilizar um tema para gerar
uma coreografia do grupo; os professores se basearam na metodologia do ensino da
ginástica geral, para a criação desta coreografia que buscou misturar acrobacias
individuais, em grupo, malabares e comicidade da figura do palhaço.
32

Figuras 21 e 22 - apresentação do grupo ”Circo das Estrelas” realizado em um espaço fora da


academia no início de dezembro de 2005.

A terceira apresentação foi realizada no meio do mês de dezembro de


2005, no salão de dança da Faculdade de Educação Física da Unicamp em Campinas.
Foi um evento organizado pelos professores do projeto para encerramento das aulas de
circo do ano de 2005 em que tivemos um grupo de adolescentes da Associação
Beneficente Campineira9, como convidados para participar deste evento, assistindo à
apresentação do grupo “Circo das Estrelas” que teve a duração de 20 minutos.
Também optamos por passar um filme do Cirque du Soleil – opção dos professores por
não ter outro material em vídeo disponível - e vivenciar outros aparelhos disponíveis no
“ginasinho” da Faculdade como roda alemã, tecidos instalados à 15 metros de altura,
trampolim acrobático (cama elástica), minitrampolin e argolas da ginástica olímpica.
Nesta vivência no ginasinho da faculdade tivemos a participação ativa e o envolvimento
dos professores que acompanharam o grupo de adolescentes da Associação
Beneficente Campineira nas atividades de cama elástica, mini tramp, roda alemã e
tecido aéreo, na qual notamos grande satisfação, inclusive dos alunos do projeto “Circo
das Estrelas”. Seguem abaixo fotos deste dia:

9
Associação Beneficente Campineira - Entidade pertencente a Igreja Metodista, que tem como finalidade
auxiliar as crianças e adolescentes da comunidade do Bairro São Marcos em Campinas SP., através de
atividades artísticas (especialmente as aulas de sapateado), cursos de informática, apoio psicológico, e
acompanhamento escolar. A parte do projeto dirigida aos adolescentes é Coordenada pela Psicanalista
Janice Bicudo.
33

Figura 23- 3º apresentação do Grupo “Circo das Estrelas”; Figura 24 – alunas assistindo ao filme e
lanchando; Figura 25 e 26- aluna vivenciando tecido no ginásio da Faculdade de educação Física da
Unicamp; Figura 27- foto do grupo Circo das estrelas e Grupo de adolescentes da Associação
Beneficente Campineira com seus respectivos professores.

No ano de 2006, os alunos não se apresentaram para o público, apenas


internamente durante as aulas.

2.7 Sobre o Estudo do auto-conceito

Achamos importante trazer para o leitor uma breve descrição sobre o


estudo da iniciação científica desenvolvida no ano de 2005, ligada ao auto conceito,
para que o leitor compreenda a proposta e os objetivos que direcionaram as atividades
circenses durante o ano de 2005.
Para propiciar o estudo do objetivo relacionado ao auto conceito
(averiguar se os alunos apresentaram alguma mudança em seu auto conceito antes e
depois de 9 meses com a proposta de atividades circenses), utilizamos o questionário
34

da Escala Fatorial de Auto-Conceito proposta por Tamayo (1981) modificada por


Yoshinaga (2003 p.18) (anexo A).
A escala é dividida em temas relativos ao self pessoal (auto controle e
confiança em si mesmo), self social (receptividade social e interação com os outros),
self ético moral e self somático. São 6 temas e cada um possui uma lista de adjetivos
que classificam o indivíduo do lado positivo ou negativo da tabela referente a pergunta
e ao tema que se responde. Esta escala foi aplicada em dois momentos com os alunos,
no início das aulas em março de 2005 e no término das aulas em dezembro de 2005.
Os resultados da escala foram analisados levando em conta o auto
conceito no grupo e acompanhando cada aluno comparando suas respostas no início
da aula em março de 2005 e no final das aulas em dezembro de 2005; também as
informações obtidas nos desenhos e relatos orais e escritos sobre o assunto foram
considerados na análise individual. (anexo B)
Em relação ao instrumento concluímos que é pouco eficiente para este
tipo de estudo com esta faixa etária e classe social por conter palavras desconhecidas
e repetidas com sentido ambíguo (exemplo: o adjetivo fiel foi relacionado a infiel e a
traidor) e também por ser um questionário muito longo que gerou cansaço nos alunos;
pudemos perceber que a escala não corresponde à realidade de observação dos
professores que acompanharam alunos que entraram de olhos e cabeça baixa e ao
longo das aulas ganharam uma postura “para fora” e mais confiantes. Até mesmo
outras formas de relatos, registros de fotos e desenhos feito pelos alunos identificaram
a riqueza do projeto de forma qualitativa.
Pudemos perceber em alguns alunos, o envolvimento com as
atividades circenses de forma ativa e percebemos que as apresentações ao público
eram uma motivação para se esforçarem nas aulas. Alguns em especial que deram
início às atividades de circo e apresentavam comportamentos como o olhar e a cabeça
baixa, ombros projetados para frente e que durante o processo foram modificando,
apresentando o olhar voltando para o público, mudando a postura, encontrando na
figura lúdica do palhaço ou do artista a aceitação de suas característica corporais
similares, e na demonstração de força a auto confiança de se afirmar como capaz,
dentre outras características.
35

Outros alunos se mantiveram na média, iniciaram as aulas sem


nenhuma meta, participavam de forma ativa das aulas, não apresentavam nenhuma
vontade de seguir a profissão de artista, e após a experiência da apresentação ao
público, demonstraram em suas respostas a alegria e a emoção vivida em cima do
palco ao expor aquilo que foi ensaiado nas aulas e também suas respostas
demonstraram uma mudança crescente em relação a si e ao modo como passaram a
perceber o circo.
Também tivemos alguns alunos que entraram após o início das aulas,
faltavam com freqüência e apresentaram em suas respostas mudanças inscontantes e
irregulares que se refletiam em suas atitudes descompromissadas nas aulas e nas
apresentações.
O fato dos alunos estarem sendo foco de estudo e de um projeto
também pode ter interferido nas respostas da escala e sabe-se que uma mudança
significativa no auto conceito é uma percepção que requer um período maior de
trabalho e contato com estes jovens.
Outra conclusão que chegamos com este estudo da iniciação científica
sobre o auto conceito ligado as atividades circenses, foi de que nós iniciamos o projeto
achando que os adolescentes por morarem em uma periferia, já apresentariam um auto
conceito negativo, o que é um julgamento pautado em nossos valores de classe.
Após análise das respostas dos alunos, concluímos que uma influência
significativa no auto conceito é uma percepção que requer um trabalho de longo prazo.
Também concluímos que as atividades circenses podem ser um excelente instrumento
para trabalhar a auto-estima e algumas características sociais como a timidez e a
competência percebida, porém, não se restringe apenas á isto, deixando a desejar um
trabalho de compreensão desta arte utilizando-a apenas como instrumento.
36

3. Descrição e breve análise da


proposta de atividades circenses

Este capítulo irá descrever as atividades desenvolvidas nas aulas e


fazer uma breve análise, em dois momentos: durante o ano de 2005 e durante o ano de
2006.
As aulas desenvolvidas durante o ano de 2005 tiveram a elaboração de
relatórios de aulas, totalizando 32 aulas e que focaram o estudo do auto conceito
descrito no capítulo anterior.
As aulas desenvolvidas durante o ano de 2006 foram registradas no
caderno de anotações da professora que ministrou as aulas, totalizaram 16 aulas que
tiveram início em março de 2006 e término em julho de 2006.

3.1 Proposta de 2005

Para propiciar a análise da proposta de trabalho com atividades


circenses junto aos adolescentes durante o ano de 2005, foram elaborados relatórios
de todas as aulas registrando atividades dadas e acontecimentos ocorridos em aula
assim como impressões, comentários, falas de alunos, número de participantes e
objetivo de cada aula. Os relatórios das aulas ministradas foram divididos em três
etapas para análise: preparação inicial, desenvolvimento e finalização.
37

Preparação inicial

Ocorria após uma primeira conversa com os alunos em que eram


explicados os objetivos daquela aula, além de ser um espaço para exposição de idéia e
pensamentos.
A preparação inicial tinha por objetivo “acordar” o corpo para as práticas
seguintes e também trabalhar aspectos como a integração do grupo, o contato físico
com o outro e o respeito, aspectos como a atenção e a concentração, o conhecimento
do corpo dentre outros. Ao analisarmos os relatórios das 32 aulas, pudemos observar
características que nos permitiram agrupar atividades com objetivos semelhantes e
classificar em grupos que facilitarão a compreensão, são eles:
A - Jogos Lúdicos10:

- Pular corda individual e em grupo;

- Pega elefante;

- Pega rabo;

- Pega-pega de nome;

- Jogo de memória com colchões;

- Escravos de Jó (com o corpo e com objetos);

- Siga o mestre;

- Esteira humana;

- Contar e interpretar uma história;

B- Consciência corporal e espacial:

- Alongamento individual dirigido pelo professor e/ou sugerido pelos


alunos

 olhos vendados;

10
Os jogos Lúdicos descritos acima foram retirados da literatura já existente sobre jogos, alguns foram
adaptados ao público deste projeto e outros foram criados pelos professores que ministraram as aulas.
38

 com tempo (a mesma seqüência realizada em 5 min., 3 min.,


1 min., 20 seg, 1 seg.);

 com auxílio de um bastão;

- Alongamento em grupo: dupla e trios

 alongamento convencional (ponte em dupla, fechamento


com pernas unidas e afastada, alongamento dos ombros e
peitoral;

 alongamento não convencional: manipulação do corpo pela


cabeça, jogo da contorsão (de mãos dadas, pular um dos
braços com movimento de pernas de fora para dentro,
realizar um giro ainda de mãos dadas e “despular” com a
outra perna o outro braço), adivinhar quem é o mestre;

- Aquecimento das articulações em dupla (explorando movimentos e


amplitudes das articulações do amigo, jogo do imã, manipulação do
bastão; bolha; equilíbrio);

- Dança, ritmo, voz, lançamento do bambu (foco e atenção);

C- Capacidades e habilidades físicas:

- Força localizada: em dupla – agachamento, abdominal, flexão de braço;

- Corrida (diferentes estímulos: forte, leve, pesado, lento, rápido);

- Rodízio (subida no tecido, rolamento para frente, parada de mão e


cabeça na parede, exercício de força para dorsal e abdominal);

D- Modalidades:

- Princípios para o acrobático – jogos dos apoios, sino, levantar 1 pessoa;

- Princípios para o malabares – escravos de Jó, atenção, concentração;

- Jogo do foco no tecido – com subidas;


39

- Diagonal com saltos individuais - chacê, gt, salto afastado, etc;

E- Artístico:

- Convencer que a bolinha tem vida;

- Conversa sobre um tema, uma mensagem ou história para apresentar;

- Apresentação artística dos elementos trabalhados na aula anterior;

Análise geral da preparação inicial

Analisando as atividades que foram propostas para a preparação inicial,


podemos perceber que diferentes tipos de atividades podem ser propostas para
“acordar” o corpo ou prepará-lo para as atividades que serão desenvolvidas com maior
ênfase durante a aula.
Em primeiro lugar, é preciso conhecer a turma e verificar suas
necessidades e dificuldades e também, levar em consideração o tema e a proposta da
aula de modo que o momento inicial prepare o aluno para as demandas posteriores da
mesma, além de contribuir para o conhecimento do corpo que irá influenciar de forma
direta na prática das modalidades. Por exemplo, a turma apresentava limitações em
algumas acrobacias devido ao grande encurtamento de músculos, principalmente nos
posteriores da perna, assim, nas aulas cujo tema era o aprendizado de acrobacias
individuais ou em grupo, optávamos por enfatizar o alongamento das pernas. Sabemos
que a flexibilidade é uma capacidade física que requer práticas diárias, e nossas aulas
eram realizadas uma vez na semana, porém, ao realizar o alongamento, além de
comentar sobre os músculos e suas funções para que o aluno pudesse conhecer
melhor seu corpo, também comentávamos sobre a importância de se praticar o
alongamento fora das aulas, como hábito que influenciaria diretamente nas
modalidades praticadas e também na qualidade de vida de cada um. Além do
alongamento, o aquecimento das articulações e a respiração enfatizada e consciente,
contribuem para a consciência corporal e preparação para as atividades, pois
proporcionam aos alunos direcionarem a atenção para determinada parte do corpo e
40

perceberem suas funções e limitações. Conhecer o corpo é fundamental para o


sucesso e a realização de técnicas corporais presentes nas modalidades circenses, que
no caso deste estudo foram três tipos diferentes: acrobacias de solo, aéreas e
malabares.
Outra forma bastante explorada como preparação inicial das aulas,
foram os jogos lúdicos que visavam à descontração, o divertimento e o contato com o
outro. Eram bem aceitos pelo grupo, que, aliás, se divertiam bastante com as aulas,
característica esta que contribuiu para a vivência e experimentação da figura lúdica do
palhaço; alguns alunos já eram naturalmente descontraídos e engraçados e
contagiavam a turma com esta característica.

Desenvolvimento

Era a parte da aula direcionada para o aprendizado das modalidades e


suas técnicas básicas. Dividimos as atividades realizadas em: individuais e em grupo.

A- Individuais: dentro desta classificação, abordamos as seguintes


modalidades:

A.1 – Acrobacias de solo

- Saltos: estendido; grupado; afastado; meia pirueta no ar e uma


pirueta no ar;

- Rolamentos: de frente, de costas, de lado com o corpo estendido;


estrela; corrida estrela; vela passa em cachorrinho (deitado elevar as pernas unidas de
forma a equilibrar o corpo sobre os ombros e o músculo trapézio, retornar as pernas
estendidas ao solo com abdução das pernas de modo a passar o tronco para frente e
deitar em decúbito ventral).

- Equilíbrios: parada de cabeça, tesoura (preparação para parada


de mãos), parada de mãos, avião, vela, ponte;
41

- Misto: parada de mãos seguida de rolamento de frente; avião


seguido de rolamento de frente; rolamento de frente seguido de estrela;
Meninas: vela-cachorrinho; ponte eleva uma perna; rolamento de
ombro (mata-borrão); ponte de frente com ajuda;
Meninos: rolamento de frente salto estendido; Salto leão (rolamento de
frente com corrida e maior fase de vôo); parada de mãos e cabeça; rodante;

A.2 – Mini trampolim

- Corrida com salto no mini tramp: salto estendido; saltar estendido


por cima da corda; salto grupado e afastado; meia pirueta; rolamento para frente;

- Salto de cima de uma plataforma para o mini tramp: salto


estendido; afastado; grupado; meia pirueta; rolamento de frente; mortal de frente (com
ajuda dos professores);

A.3 – Tecido aéreo11

- Tecido solto e unido: Subida normal (enrolar uma perna de fora


para dentro no tecido fechado fazendo flexão do pé, e apoiar a planta do outro pé sobre
o tecido e o dorso do primeiro pé fazendo pressão para travar o tecido); explorar
subidas diferentes; cristo; trava de pé (lock); secretária da trava de pé; descida de
cristo; trava de quadril (riplock); queda á frente da trava de quadril;
Propusemos um desafio para os alunos realizarem truque no tecido
com os olhos vendados e foi bem aceito, inclusive os alunos disseram que não sentiam
medo, pois não viam a altura.

- Tecido solto e separado: subir por uma parte e descer pela outra;
enrolar três vezes (de fora para dentro) cada perna em uma parte do tecido; espacato e
variações; trava de tornozelo; porto (nome de uma figura específica) com a perna
enrolada;

11
Literatura a respeito de técnicas do Tecido aéreo podem ser encontrados em www.fedec.com; Batista
2003 apresenta um trabalho de conclusão de curso com o tema: “O tecido Circense como manifestação
da cultura corporal: fundamentos técnicos e metodológicos” da Universidade Estadual de Maringá.
42

- Tecido com trança: subida do bombeiro (utilizar os espaços da


trança como uma escada); subida jogando a parte posterior da articulação dos joelhos;
esquadro; queda á frente na trança; avião; casulo (ficar de pé no meio dos tecidos, abrir
as duas partes do tecido para formar um casulo);

- Com uma bolinha, treinar a pressão da trava básica do pé durante a


subida simples no tecido.

A.4 – Trapézio fixo

- Subida simples pela articulação do joelho (braços afastados em


sustentação, elevar os joelhos passando pelos braços e apoiar a parte posterior da
articulação do joelho na barra);

- Sentar lateralmente e equilibrar o corpo soltando as duas mãos da


corda; ficar de pé e equilibrar soltando uma das mãos;

- Sereia (apoiando a parte posterior da articulação do joelho, segurar


a barra do lado de fora da perna, prender os pés na corda e realizar um movimento de
ponte, abrindo o corpo);

- Pé de anjo (apoiando a parte posterior da articulação do joelho,


enganchar um pé na corda e segurar a mão contrária do pé, tirar a outra perna da barra
e soltar a outra mão);

- Movimento de oitava (em sustentação, elevar o corpo pela frente do


trapézio realizando uma rotação do corpo para dentro da barra, apoiar os ossos (crista
ilíaca) do quadril na barra);

- Trava de pescoço (sentar de lado no trapézio, levantar o braço que


está a frente do corpo e segurar na corda em que está encostado, prender o pescoço
na corda, o outro braço segura a barra e a empurra para baixo para o corpo sair do
trapézio);
43

A.5 – Malabares 12

- 2 bolinhas:
Lançamento paralelo: cruza e descruza a mão (repetir o
movimento para os dois lados);
Lançamento em parábola: joga por cima; troca-troca (trocar
as bolas de mãos lançando em parábola simultâneos ou
primeiro uma mão depois a outra); troca-troca batendo na
perna ante de recepcionar a segunda bolinha;
Em uma mão, realizar um círculo com as duas bolinhas (para
fora, para dentro, em forma de V);
Explorar diferentes formas de pegar a bolinha do chão;
exploração individual de uma seqüência de truques;
“Técnica” do anti-stress no malabares: fechar os olhos
apertar forte a bolinha e jogar com força para o chão;

- 3 bolinhas:
 Lançamento em parábola tipo 333
 Lançar as três bolinhas paralelas sendo duas são
simultâneas e uma após o lançamento anterior;

- Equilíbrio de objetos
Dévil; bastão; clave (em diferentes partes do corpo como
palma das mãos, dorso, dedos, queixo, pés etc.);

A.6 - Palhaço

- Pensar em uma pessoa/personagem estranho; observar o seu


andar; tropeçar, cair; tentar descobrir um ponto engraçado no personagem; olhar para
frente;

12
Literatura a respeito dos fundamentos de malabares e suas aplicações em escolas podem ser
encontrados em www.bortoleto.com/circo; Curós (2003) “Circo Y Educacion Física”; Comes, Garcia e
Pomar Fichero: “Juegos malabares”.
44

- Jogo do policial e do motorista (fingir que algo aconteceu e


improvisar uma situação);

B – Grupo: são atividades em dupla, trio, grupo em que um ajuda ou


complementa o exercício do outro; visa a integração, o contato, o respeito; dentro desta
classificação foram abordados as seguintes modalidades:

B.1 Acrobacias de Solo:


 Em dupla rolamento lateral (encostar cabeça com cabeça,
dar as mãos e realizar o rolamento até o final da pista), voltar
saltando por cima dos colegas que estão rolando;
 Rolamento de frente sincronizado;
 Salto afastado em dupla (uma pessoa segura na cintura do
outro e ajuda a realizar o salto mais alto);
 Em dupla posicionado um de frente para o outro um realiza o
rolamento para frente e ao mesmo tempo o outro salta com
as pernas afastadas por cima;
 Pula cela (em grupo: quem salta faz a cela para o amigo
saltar)
 Centopéia (todos realizam um rolamento para frente e param
com as pernas afastadas, um atrás do outro – fila -, com os
braços abertos, viram para a esquerda em posição de
quadrupedia, todos apóiam as mãos no chão e as pernas
sobre as escápulas de quem está atrás);
 Cambalhota de palhaço (em dupla, uma pessoa deita no
chão e a outra fica pé, ambos seguram no tornozelo do
amigo, realizar um rolamento para frente sem soltar o
tornozelo, repetir o movimento);
 Macaquinho (de dupla, uma pessoa está de pé com as
pernas afastadas e levemente flexionadas, a outra pessoa á
frente e de costas, salta e engancha os pés nas costas de
45

quem estava de pé, passa por de baixo das pernas e segura


no seu pé, quem estava de pé apóia as mãos no chão e
anda com seu macaquinho pendurado)
 Mortal de dupla: uma pessoa afasta as pernas e flexiona o
tronco (como uma mesinha), a outra senta nos ombros da
primeira, deita e simultaneamente a pessoa que estava de
mesa estende o tronco e finaliza o movimento (um rolamento
de costas em cima das costas);
 Mortalzinho de trio: cada um segura um pulso, a pessoa que
está no meio abaixa o tronco e lança as pernas e o quadril
para o alto realizando um rolamento para frente;

B.2 Acrobático
Foram entregues várias matrizes com desenhos diferentes
como: em 6 apoios (gatinho); bipedia com as pernas semi-flexionadas; deitado no chão
com as pernas levantadas; os alunos tinham que explorar 3 posições diferentes em
dupla com o desenho da matriz e anotar em uma folha;
Foram entregues figuras prontas em dupla, algumas criadas
pelos alunos e outras pelos professores (ver figura 28).
46

Figura 28 - Poses acrobáticas em dupla criadas a partir da exploração das matrizes em três posições:
base deitado, base em pé, base em seis apoios.
47

Jogo dos comandos (com uma música todos se movimentam


livremente, ao parar a música era pedido comandos de organização do grupo -dupla,
trio, quinteto- e para construir uma escultura que tivesse, por exemplo: 3 pés e 1 mão
no chão, variar os comandos e as formações)
Jogo do queijo suíço (divide em dois grupos, A e B, o grupo
A forma um desenho de uma escultura e o grupo B preenche os espaços vazios da
escultura, depois inverte);

Imagem 29 e 30: alunos construindo queijo suíço;

Jogo do sino: fazer um círculo, uma pessoa vai ao centro,


fecha os olhos e fica como uma tábua bem dura contraindo abdômen, as pessoas que
estão ao redor irão manipular a pessoa do meio como um sino, deixando cair para
frente, para trás, para os lados;
Uma pessoa deita no chão e fica como uma tábua, as
demais deverão levantar a pessoa que está deitada e mudar sua posição colocando de
pé, em posição de parada de mãos, de barriga para baixo etc.
Divide em dois grupos, um será a argila e o outro os
escultores, observar a figura criada e inverter;
48

Em dupla, uma pessoa fecha os olhos e a outra cria um


desenho com seu corpo, quem está de olhos fechados deverá apalpar e reproduzir a
figura;
Queijo suíço com figuras acrobáticas e pirâmides;
Pirâmides dirigidas, castelinho, meia altura, 6 apoios;

B.3 – Tecido aéreo


 Fazer a segurança do colega que está subindo;
 Com um tecido segurado por colegas na horizontal, realizar
as travas como se estivesse no tecido pendurado; observou-
se que este exercício permite ao aluno entender melhor
como funcionam algumas travas do tecido no corpo;

Imagens 31 e 32: alunos realizando travas do tecido aéreo, em um tecido na horizontal;

B.4 – Trapézio fixo


 Realizar o balanço em suspensão sincronizado (tínhamos 2
trapézio na mesma altura)
 Subir em duas pessoas;
 Em dupla uma pessoa faz a curva americana (trava
específica para portar no trapézio) e a outra pessoa fica em
suspensão nos braços do portador;
49

 Exploração do “trapézio terrestre” (um bastão grosso, duas


pessoas seguram um em cada ponta e a terceira se pendura
explorando figuras e movimentos do trapézio);

B.5 – Lira
 Em dupla, sentados um de cada lado, realizar e experimentar
o giro na lira;
 Apoiar os pés em baixo e segurar a lira na parte de cima com
as mãos, realizar o giro na lira;

B.6 – Malabares
 Dupla- um de frente para o outro, lançar 1, 2 e/ou 3 bolinhas
paralelo e cruzado;
 Dupla – um ao lado do outro (abraçado) realizar lançamento
em parábola, cada um só pode utilizar a mão de fora para
lançar;
 Em círculo – lançar uma bolinha aleatória (variar pedindo
para falar o nome da pessoa; acrescentar mais bolinhas no
jogo aumenta o nível de dificuldade e atenção);
 Em círculos – todos com uma bolinha, lançar para o amigo
da direita e pega da esquerda (inverter o lado); lançar reto
para cima e pegar a do lado; escravos de Jó com bolinha;

B.7 - Equilíbrio
Do corpo
 Rola-rola13 em duplas, um ajuda e o outro tenta o equilíbrio;
 Perna de pau14 (em dupla para um ajudar o outro);

B.8 – Mini trampolim

13
Bortoleto (2004) traz um artigo “Movimento & Percepção, Espírito Santo de Pinhal, SP, v.4, n.4/5,
jan./dez. 2004, com reflexões e iniciação no rolo americano ou rola-rola ou ainda rola-bola.
14
Bortoleto (2003) tráz reflexões e técnicas sobre a perna de pau em seu texto “A perna de Pau circense:
um mundo sobre outra perspectiva”, assim como Curós (2003) também aborda o tema em seu livro ”Circo
Y Educacion Física”.
50

 Salto estendido em dupla; pula cela; rolamento dentro do


arco;

Análise geral do desenvolvimento

As artes circenses contemplam inúmeras modalidades, as escolhidas


para esta proposta foram apenas algumas. De acordo com a classificação de
Bortoleto, Machado (2003) que se baseiam no tamanho do material dividindo em:
modalidades com materiais de grande porte; de médio porte; pequeno porte; e sem
materiais; para a aplicação no âmbito escolar os autores propõem esta divisão de
acordo com o objetivo de trabalhar este tema na aula de Educação Física, visando
proporcionar o contato das crianças com a cultura corporal do circo em um nível
elementar, e desta maneira sugerem as modalidades sem materiais e/ou de pequeno
porte para o ambiente escolar, com a justificativa da disponibilidade de infra-estrutura
nas aulas de educação física, do elevado número de alunos por turma (40
aproximadamente) em relação ao número de professores, que geralmente é apenas
um. Desta maneira, as atividades circenses no âmbito escolar, de acordo com os
autores, devem ser direcionadas para a vivência, com enfoque lúdico e materiais
adaptados ou de necessidades mínimas.
Em nosso projeto, participavam das aulas uma média de 10 alunos para
3 professores, situação esta mais favorável do que no ambiente escolar. Podemos
considerar esta situação uma condição que facilitou o ensino do tecido e do trapézio
fixo, pois são modalidades que exigem atenção individualizada devido à complexidade
e o risco (altura). Já em uma escola, Bortoleto e Machado não indicam estas
modalidades para serem desenvolvidas na aula de educação física, pois enquanto o
professor ensina um aluno, o restante estará ocioso.
Através da análise e da experiência prática com este grupo de
adolescentes, pudemos concluir que as atividades de vivência e em grupo num primeiro
momento foram interessantes para apresentar as modalidades de forma global, além de
proporcionar a integração social entre eles, porém, sentimos a necessidade e o
interesse por parte dos adolescentes em aprofundar as técnicas, movidos por um
51

desejo de auto-superação e pela vontade de aprender conhecimentos diferentes e


desafiadores.
Inicialmente, as meninas queriam aprender abrir espacato e os meninos
queriam aprender realizar o salto mortal, porém são habilidades complexas para o curto
tempo de aula; geralmente o desenvolvimento durava em torno de meia hora e apesar
de ensinarmos praticamente 3 tipos de modalidade distintas, tínhamos que revezá-las
então, uma técnica nova aprendida só seria repetida novamente depois de umas 3
aulas o que dificultava e tornava lento a aprendizagem e o aprimoramento da mesma.
A escolha pelo ensino destas modalidades na proposta também foi
pensada a partir da idéia de que as acrobacias de solo incluindo as acrobacias
individuais, em grupo e saltos no mini tramp são a base de praticamente todas as
modalidades, inclusive para as acrobacias aéreas no tecido e no trapézio fixo (alguém
que já tenha aprendido ou vivenciado um rolamento de frente no chão, terá mais
facilidade e confiança para realizar uma queda com rolamento a frente no tecido, assim
como para aprender a subida da oitava no trapézio, a pessoa precisa entender o
movimento que o corpo faz durante um rolamento de costas). Já o malabares, apesar
da especificidade de manipulação dos objetos, é uma modalidade em que os
equipamentos podem ser construídos com materiais recicláveis e de baixo custo,
possibilitando o acesso aos mesmos. Apesar da especificidade de cada modalidade,
elas acabam se completando e contribuindo para uma gama de experiências globais e
habilidades diversas. Orfei (1996) em seu livro: “O Circo Viverá”, escreve que quando
tinha 5 anos, seu pai o colocou para aprender o ABC do circo que consistia em
aprender acrobacias como parada de mãos, parada de cabeça, estrela, rodandas,
flique-flaque, dentre outros, para depois aprender algo mais específico, e esta fala de
Orfei data aproximadamente 1949, demonstrando que há uma crença de que o
aprendizado de acrobacias de solo, pedagogicamente, precedem e facilitam o
aprendizado de habilidades mais específicas.
Uma estratégia que percebemos ter contribuído para a dinâmica da
aula foram os rodízios e as estações, que proporcionam maior diversidade de
exercícios e práticas quando o tempo é curto; a escolha pela dificuldade dos exercícios
dependerá do grau de independência necessário ao aluno e número de professores
52

disponíveis. Outro aspecto é em relação a divisão da turma para as atividades, às


vezes percebíamos que as meninas se procuravam e se separavam dos meninos, é
importante estarmos atentos em nossas aulas para que possamos dar oportunidade de
todos conviverem com todos, principalmente no período da adolescência.
Por volta do oitavo mês de aulas, tivemos 6 encontros direcionados
para o ensaio e criação de coreografias para a apresentação do grupo. Nos ensaios,
buscava-se a observação um do outro, e a construção da coreografia era estimulada
junto com os alunos, apesar deles preferirem que os professores entregassem algo
pronto, nós sempre os estimulávamos para pensarem e criarem tanto sugerindo um
tema, quanto movimento e música; o professor procurava se manter como um mediador
na construção da coreografia, pois assim, além de exercitarem a criatividade e
autonomia, quando os alunos criam um movimento ou história ou enredo a ser
encenado por eles, isto se torna mais significativo aos mesmos.

Finalização

Momento final da aula em que o conteúdo trabalhado no


desenvolvimento era encerrado. Tivemos formas diferentes de encerrar as aulas, foram
elas:
C.1- Relaxamento: com música, de olhos fechados, tornar consciente o
momento da respiração prestando atenção no movimento dos pulmões, fazendo a
respiração forçada (encher o máximo da capacidade e esvaziar o máximo de ar dos
pulmões) proporcionar:
relaxamento muscular;
relaxamento das articulações;
massagem: com bolinhas, em grupo (sentam-se em círculo com as
pernas abertas e cada um faz massagem no amigo da frente);

C.2 – Jogo Lúdico:


 Jogo da coordenação das palmas (deitam todos em círculo decúbito
dorsal com a palma das mãos à frente de forma que fiquem intercalados as mãos com
53

os vizinhos. De acordo com 1 palma segue o impulso no sentido horário, se alguém der
duas palmas inverte o impulso);
 Jogo da coordenação com 3 comandos sonoros (mesma disposição
do jogo anterior mas com os comandos sonoros: Vrum- segue em frente; Pi- inverte o
sentido; e Ploft- pula uma pessoa);
 Jogo do cumprimento do circo (andando pelo espaço, construir com
os alunos tipos de cumprimentos diferentes para personagens diferentes do circo, como
um jogo da memória, o professor que está de fora fala: cumprimenta o trapezista! Os
alunos que já inventaram uma maneira de cumprimentar devem retomar o movimento
estabelecido; cumprimenta o público! Cumprimenta o malabarista! E assim por diante).
 Danças circulares e dança da “disforme” (com uma música
engraçada, dar estímulos de escrever no ar o nome com a mão direita, desenhar uma
casa com a mão esquerda, escrever o dia com o joelho, a data do aniversário com os
pés e assim por diante de forma que os estímulos sejam somados aos anteriores e o
corpo realize movimentos diferentes com cada parte do corpo);
 Jogo do som dos animais (falar no ouvido de cada aluno um tipo de
animal diferente, todos de olhos vendados, deverão fazer o som do seu animal e tentar
encontrar outro animal que seja igual ao seu, apenas pelo som).
 Tobogã e cama elástica humana (com o tecido pendurado, abrir o
tecido de forma que todos os alunos segurem uma parte ao redor na altura da cintura
como uma cama elástica; um dos alunos sobe no tecido, escorrega como um tobogã e
todos juntos contam 1, 2, 3 e já, no já todos lançam a pessoa para cima e pega
novamente, atentando para que não encoste no chão);

C.3 – Artístico:
Propor para que os alunos demonstrem um exercício que
aprenderam naquela aula, em forma de apresentação ao público;
Sugerir que alguém seja o apresentador;
Criar sozinho ou em dupla uma seqüência de exercícios
(malabares, equilíbrio etc.) para demonstrar aos colegas;
Demonstrar um personagem de clown;
54

Conversar sobre o que é apresentar, correção de postura, olhar


para frente, montagem e desmontagem dos truques, cumprimento ao público, sobre
figurino, maquiagem, sobre responsabilidade e compromisso com as aulas, enfim tudo
que influencia direta e indiretamente o momento da apresentação ao público;

Análise geral da finalização

A finalização é importante para encerrar as atividades que foram


trabalhadas ao longo da aula, proporcionando um momento para conversa sobre os
fatos que aconteceram, relaxamento, e se a aula foi em ritmo mais intenso com
exercícios que levavam à exaustão, priorizar no encerramento um momento para
relaxar os músculos e compensar a postura, ou mesmo jogos lúdicos que pudessem
focar alguma característica que percebemos necessidade de enfatizar como a atenção,
a concentração e a memorização. Além disso, a finalização também focou a preparação
e o aprimoramento para a apresentação ao público e correção de alguns fatores
importantes como a postura, o olhar para frente, se acostumar com a idéia de
demonstrar aquilo que aprendeu para alguém, que é uma característica marcante nos
espetáculos circenses, o cumprimento e o respeito ao público quando entra no palco ou
finaliza algum exercício e quando acaba o número. Salientamos que achamos
importante a participação dos alunos nas avaliações, críticas e sugestões aos colegas.

Temas e objetivos de aulas

Na elaboração de cada aula, os professores buscavam sempre pensar


em um tema para priorizar a escolha das atividades que variam de acordo com as
características do grupo. Nas aulas deste projeto, foram escolhidos os seguintes temas:
Introdução as acrobacias;
Apresentação de posturas básicas e experimentação dos aéreos;
Elementos de dupla;
Trabalho de dupla focando o acrobático;
Trabalho em grupo
55

Trabalhar variedade de repertório motor e integração da turma;


Acrobático em grupo e idéia de criar uma coreografia;
Acrobacias individuais;
Equilíbrio;
Direcionando a coreografia;
Coordenação e domínio corporal;
Bases de acrobacias;
Coreografia de solo;
Ativar o corpo;
Trabalhar o acrobático e idéia de corpo encaixado;
Integração e acrobacias com rotações;
Aprofundar técnicas;
Imagem corporal e consciência corporal;
Foco e atenção;
Noção espacial, percepção e integração;
Aprofundar malabares;
Improvisação e coreografia;
Montagem de coreografia;
Reforçar acrobacias;
Domínio corporal;
Coreografia em grupo;
Ensaio de coreografia;

Estes temas não estavam prontos, os professores se encontravam


semanalmente para o planejamento das aulas e os temas eram pensados a partir da
experiência e vivência da aula anterior, sentido as características que precisavam ser
melhores trabalhadas no grupo. Concluímos que a escolha de um tema ajuda na
organização e no preparo da aula, mas também não devemos ficar presos ao que foi
pensado e preparado no papel e atentarmos aos fatos que acontecem no momento da
aula e no feed back dos alunos diante as atividades propostas.
56

3.2 Proposta de 2006

Para propiciar descrição e análise da proposta de trabalho com


atividades circenses junto aos adolescentes durante o ano de 2006, vamos nos valer do
registro das aulas realizadas pela professora que continuou a ministrar as aulas aos
adolescentes do Jardim Monte Cristo descritos no segundo capítulo, porém com
algumas alterações no número de professores que passou de 3 para 1, na entrada de
novos adolescentes e na permanência da maioria dos alunos que participaram das
aulas no ano anterior.
Com a entrada de alunos novos no projeto durante o ano de 2006, os
alunos mais velhos (15, 16 e 17 anos) que participaram do projeto no ano de 2005
sentiram-se com uma responsabilidade maior em relação a segurança, com os alunos
novos, durante o ensino de habilidades que eles haviam aprendido no ano anterior;
achamos este fato interessante e buscamos estimulá-los com esta responsabilidade,
passando a dar algumas tarefas como o aquecimento, propor alguns exercícios, vendo-
os como monitores. A idéia seria até conseguir uma bolsa para estimular e proporcionar
uma forma de renda aos alunos, já que muitos não podiam acompanhar o projeto, pois
tinham que trabalhar para ajudar em casa, mas com o término das aulas em julho de
2006, e algumas dificuldades que o Educandário estava passando naquele momento, o
projeto “Circo das Estrelas” passou a ser lembrado apenas na memória de todos que
participaram desta trajetória até o presente momento.
Em 2006 as aulas tiveram início em março de 2006 e término em julho
de 2006. Diferente da descrição das atividades do ano de 2005 que foram divididas em
três momentos (preparação inicial, desenvolvimento e finalização), com a continuidade
das aulas em 2006, achamos que seria mais rico ao leitor descrever aula por aula para
acompanharmos o raciocínio em que as aulas foram pensadas, ao invés de dividir o
conteúdo e as atividades como foi feito anteriormente. Acreditamos que assim será
possível ter uma idéia e análise dos dois anos de formas diferentes que contribui para a
riqueza da descrição do projeto.
57

Aula 1 – (Tema: volta das férias)

Aquecimento: durante a música, dançar livremente, pular, andar


agachado e a cada vez que a música parar encontrar uma dupla para fazer o jogo da
contorsão (de mãos dadas, pular um dos braços com movimento de pernas de fora para
dentro, realizar um giro ainda de mãos dadas e “despular” com a outra perna o outro
braço) variar também fazendo este movimento em quartetos e o grupo todo;
Desenvolvimento: O grupo todo aprende acrobacias de solo como
rolamento para frente e para trás, estrela e ponte;
Depois dividir em dois grupos, um aprenderá a subir no tecido e o outro
realiza o movimento de centopéia em grupo (acrobacias em grupo que consiste em
sentar uma pessoa atrás da outra com as pernas afastadas lateralmente, abrir os braço
na altura dos ombros, realizar um giro para um dos lados, todos juntos, a fim de que um
apóie as pernas nas costas do outro). (ver figura 33 e 34).
Finalização: foi feita em círculo, encostando pés com pés, batia-se com
as mãos na perna do amigo da direita, da esquerda, realizava um giro ao redor do
próprio corpo e ao mesmo tempo cantava-se um grito de guerra criado pelos alunos:
Circo das Estrelas OHHH!

Figura 33: preparação para a centopéia e Figura 34: tentativa de virar na centopéia podemos observar a
alegria e diversão dos adolescentes nesta atividade.
58

Aula 2 – (tema: Trabalhar consciência espacial)

Aquecimento: jogo comprimento do circo (andando pelo espaço,


construir com os alunos tipos de cumprimentos diferentes para personagens diferentes
do circo, como um jogo da memória, o professor que está de fora fala: cumprimenta o
trapezista! Os alunos que já inventaram uma maneira de cumprimentar devem retomar
o movimento estabelecido; cumprimenta o público! Cumprimenta o malabarista! E assim
por diante).
Desenvolvimento: cada um com uma argola, girar a argola á frente do
corpo, na lateral do corpo, acima do corpo, utilizando diferentes partes do corpo (mãos,
braços, dedos, pés); lançar para cima, bater uma palma ou encostar a mão no chão, ou
girar em torno do corpo e pegar novamente;
Com 2, 3 e 4 argolas explorar lançamentos paralelos, cruzados, criar
maneiras diferentes, variar os objetos (bolinhas com argolas ou claves);
No trapézio: balançar segurando com as mãos; subida pela parte
posterior da articulação do joelho (curva simples), sereia, pé de anjo, cristo na barra do
trapézio;

Figura 35: sentado equilibrando na barra do trapézio

Finalização: dividir em dois grupos, fazer relaxamento das articulações.


Conversa sobre a aula e sobre a história do malabares (modalidade antiga com
registros na china a.c.).
59

Aula 3 – (tema: Trabalhar controle do corpo, limites, movimento e


coordenação)

Aquecimento: rodízio de exercícios sendo 1 minuto em cada estação:


1- em suspensão no trapézio, elevar os joelhos;
2- realizar movimento de ponte no colchão;
3- subida e/ou sustentar o máximo de tempo que conseguir o corpo
apenas com as mãos e braços;
4-corrida no lugar;
5-girar e lançar o máximo de argolas que conseguir;
6- pernas afastadas, fingir que está sentado em uma cadeira e manter a
posição de isometria;
7-parada de mãos na parede;
8-alongamento livre;
9- na pista de colchões realizar rolamentos de frente, de costas e de
lado com o corpo estendido;
10- inventar 3 movimentos diferentes que tenham giro;

Desenvolvimento: Conversa sobre os diferentes tipos de palhaço (clown


branco que é mais recatado e inteligente e o clown vermelho que é mais
espalhafatoso), que no circo ele faz um pouco de tudo (acrobacias, malabares, música,
mímica, cascatas e caídas).
Experimentação de andares clownescos baseados no curso de palhaço
tradicional ministrado por Léris Colombaioni15:
Andar de Sargentão – peito para frente, bumbum empinado, braços e
pernas lentos como se estivesse andando assado e se achando um sargentão ou um
galã.

15
A professora que ministrou as aulas em 2006 participou do curso “O Palhaço da Tradição Circense”
ministrado por Léris Colombaioni com carga horária total de 21 horas realizado no IV Feverestival no
período de 06 a 11 de fevereiro de 2006, foi realizado no Hangar Zero-Zero e Espaço Cultural Semente
localizados no bairro de Barão Geraldo em Campinas SP.
60

Andar de Borboleta – braços balançam rápido e com movimento


pequeno, as pernas saltitam estilo cachorro poodle ou donzelinha.
Andar Cavalgando – pernas “estilo passo uni passo ou pocotó” e os
braços e a cabeça se afastam e se unem, como na reação de quem anda á cavalo.
Andar de Pateta – braços estendidos ao longo do corpo, andar discreto
flexionando apenas a mão e o pé bate a ponta no chão.
Achar um estilo próprio de cada um para andar livremente.

Experimentação de cascatas ao andar (baseados no curso de palhaço


de Leris Colombaioni):
Tropeço: É composto de 3 tempos: O primeiro tempo é quando a
pernas que está atrás, quando se esta andando, tropeça na perna da frente. O
segundo tempo é a reação do corpo (peito á frente e cabeça atrás. Importante na
reação: não é uma onda e a reação não sai da barriga, mas sim do peito). O terceiro
tempo é quando recupera o desequilíbrio e sai andando normalmente ou
mancando.*Dica: no andar, posicionar o tronco mais inclinado á frente e respeitar o
tempo de reação que é lento.
Mancar: É composto de 2 tempos: O primeiro quando a perna direita dá
um passo á frente normalmente vem primeiro o calcanhar e depois sobe para a meia
ponta do pé. Acentuar esta meia ponta e relaxar o tornozelo deixando a perna reagir ao
peso natural do corpo. O segundo tempo é quando a perna que estava a traz
recupera o equilíbrio indo à frente e acentuando a reação da outra perna abrindo a
inclinação do pé e joelho para fora (+/- 45º).
61

Figura 36 e 37: alunos realizando andares de palhaço

Estava programado na aula, após as técnicas de palhaço, dividir em


dois grupos uma para o trapézio e outro para o tecido, mas não deu tempo nesta aula.
Os alunos gostaram bastante e se envolveram com os exercícios de palhaço.

Finalização: Jogo de coordenação do nariz e grito de guerra;

Aula 4 – (tema: Trabalhar consciência corporal e concentração)

Aquecimento: na música, fechar os olhos, respirar conscientemente,


relaxar o corpo, soltar desde os pés até a cabeça, contrair o corpo todo por 5 segundos
e relaxar novamente, movimentar segmentos do corpo (pés, dedos, joelhos, virilha,
braços, mãos, cabeça) somar os movimentos até mover o corpo todo livremente;
perceber a diferença do corpo antes e depois deste trabalho;

Desenvolvimento: Como na aula anterior não deu tempo de ir para o


trapézio e o tecido, então ficou para esta aula:
No trapézio: subida pela parte posterior da articulação do joelho (curva
simples), sereia, pé de anjo, cristo na barra do trapézio, subida de lado no trapézio para
prender 1 curva do joelho na barra do trapézio e 1 pé da outra perna na corda do
trapézio.
62

No tecido: subida e cristo com o tecido fechado e solto; abrir o tecido e


enrolar uma perna e cada parte do tecido para realizar movimento de espacato e
descida para o tornozelo (corpo invertido “de ponta cabeça”); Tecido com traça, subir e
realizar movimento de esquadro (sentado no nó do tecido, abrir as pernas lateralmente
e deitar para trás a fim de prender o tecido nas virilhas).
Finalização: Quem quer apresentar algo que aprendeu na aula? e grito
de guerra.

Figura 38: jovem da frente realizando movimento do cristo no tecido e jovem ao fundo realizando
movimento da sereia no trapézio;

Aula 5 – (tema: trabalhar princípios acrobáticos)

Aquecimento: em dupla: agachamento com as pernas afastadas;


encostar pés com pés, um e frente para o outro realizar movimento de “gangorra”,
enquanto um deita no chão o outro levanta e vice e versa; tirar uma pessoa do chão, de
maneiras diferentes; em dupla inventar um figura que tenha 2 pés e duas mãos no
chão;

Desenvolvimento: acrobacias em dupla e trio dinâmicas e estáticas:


63

Dinâmicas: 1 pessoa realiza um rolamento á frente ao mesmo tempo


em que outra salta por cima com um salto de pernas afastadas;
em trio, uma pessoa no centro irá realizar uma cambalhota no ar para
trás (mortal de costas) e uma pessoa de cada lado, segurando pelas axilas irá auxiliar o
movimento;
em trio, a pessoa do centro irá jogar as pernas por cima da cabeça
fazendo um movimento de ponte de frente ou reversão, porém segurado pelos amigos
da lateral (nas axilas);
em dupla: uma pessoa atrás da outra, realiza uma parada de mãos com
as pernas encostando nos ombros da pessoa que está na frente e de pé; esta última
segura nos tornozelos e leva os pés da pessoa até o chão para que ela retorne a
posição de pé e saia andando;
Estáticas: em dupla realizar movimento de avião; ½ altura (subindo
próxima a virilha) e subida no quadril. (ver figura 39)

Figura 39: Poses Acrobáticas estáticas da esquerda para a direita: avião, ½ altura e subida no quadril.

Finalização: Quem quer apresentar algo que aprendeu na aula? e o


grito de guerra.

Aula 6 – (tema: pirâmides acrobáticas)

Aquecimento: Pega-pega corrente sozinho; pega-pega de dupla


(carregando alguém); pega-pega em trio (cadeirinha);
64

Desenvolvimento: em dupla: meia altura subindo por trás; meia altura


subindo na frente; 2º altura (volante de pé sobre o ombro do base)

Em grupo: exploração de figuras acrobáticas em grupo (com as bases


de pé e em 6 apoios)

Finalização: alongamento dirigido pelo professor de posterior de pernas


e coluna

Figura 40 e 41: exploração de figuras em grupos

Aula 7 – (tema: equilíbrio)

Aquecimento: alongamento direcionado pelo professor

Desenvolvimento: rodízio de equilíbrio:


1. Equilíbrio do corpo sobre o rolo americano (rola-bola);
2. Treinar 2º altura (volante subir nos ombros do base que está de
pé);
3. parada de cabeças no chão e individual;
65

4. equilíbrio sentado com as pernas afastadas sobre os pé do base


que está deitado (em dupla);
5. parada de ombro em dupla (base deitado com as pernas dobradas,
segura os ombros do volante que inverte o corpo sendo equilibrado pelos ombros;

Finalização: dividir em 2 grupos para montar uma seqüência de 3


equilíbrios diferentes e duas acrobacias individuais para demonstrar; Lição de casa:
pesquisar sobre modalidades diferentes que têm no circo;

Aula 8– (tema: fechar e definir as acrobacias para uma coreografia)

Aquecimento: Alongamento direcionado por uma das aulas “monitoras”


que fez 8 repetições e ao final todos os alunos sugeriram contribuir também com
movimentos de alongamento e movimentos de dança (os alunos gostavam bastante de
dança de rua e pop, inclusive foi sugerido pelo professor para ter alguns passos de
dança na coreografia de acrobacias que foi bem aceito).

Desenvolvimento: retomamos as acrobacias dinâmicas em dupla das


aulas anteriores como rolamento à frente saltada por um salto afastado, parada de
mãos que passa pelos ombros do base; e acrobacias estáticas como meia altura á trás
e á frente em dupla, 2º altura em dupla; montagem de uma pirâmide com a turma toda
de meia altura;

Finalização: montagem de coreografia com as acrobacias acima e


passos de dança sugeridos pelos alunos;
66

Aula 9– (tema: montagens de coreografia)

Aquecimento: Na aula anterior foi sugerido para um outro aluno


“monitor” pensar em um exercício de aquecimento para esta aula. Como os alunos
gostavam bastante de jogos como pega-pega, o aluno/monitor propôs um pega-pega
de alongamento onde que é o pegador escolhe um alongamento que todos devem se
locomover fazendo este movimento de alongamento; quem é pego, muda o
alongamento anterior e não pode repetir o que já foi sugerido.

Desenvolvimento: divisão em duas turmas para rodízio entre os aéreos


e o acrobático (A professora ficou de mediadora auxiliando na montagem de
seqüências de movimentos pensando em coreografias):
Aéreos: No tecido treinar subida e truques (de livre escolha os alunos);
no trapézio fixo treinar balanço suspenso pelos braços e truques de livre escolha (a fim
de montar uma seqüência individual para os aparelhos aéreos);
Acrobático: relembrar as figuras em dupla e treinar 2º altura;

Finalização: Apresentação dos grupos divididos nos aparelhos (tecido,


trapézio, acrobacias no solo) escolhidos pelos alunos; nesta apresentação, quatro
alunos se revezaram para serem os apresentadores; Para finalizar o dia da aula, a
professora/coordenadora do educandário que acompanhava as aulas práticas levou um
bolo para comemorarmos o aniversário de um dos alunos;

Aula 10– (tema: jogos e brincadeiras para malabares)

Aquecimento: em círculo, jogo de coordenação com as mãos (os alunos


se divertiam muito com este jogo e pedia para ser repetido várias vezes, desde as aulas
no ano anterior). Jogo Alerta com bola;
67

Desenvolvimento: A turma foi dividida em dois grupos que realizaram as


mesmas atividades:
em círculo, lançar um bastão na vertical no sentido horário do
círculo; inverter o sentido (para trabalhar com o lançamento e recepção com as duas
mãos); colocar dois bastões no círculo para aumentar a atenção dos alunos, ambos no
mesmo sentido e depois um em cada sentido; Simultaneamente, os lançamentos
tinham que ser feitos baseados na batida da música e acentuando a batida dobrando os
joelhos e estendendo;
Jogo “escravos de jó”, cantando e lançando bolas e lenços; depois
com garrafas de plásticos cheias de areia, bastão e claves;
Jogo para desenvolver a percepção e atenção: em círculo, uma
pessoa ao centro recebe estímulos sonoros para receber e passar o bastão para que
emitiu o som;
10 minutos para cada aluno escolher um aparelho de malabares,
explorá-lo livremente e tentar criar seqüências; (neste momento a professora passava
de aluno em aluno vendo o que foi criado e sugerindo movimentos, de acordo com as
habilidades e interesses de cada um);

Finalização: conversa com os alunos sobre a importância de


escolherem uma modalidade para se aprofundarem vendo o interesse de cada aluno;
todos eles desejavam bastante se apresentar ao público tendo como referência as
apresentações no ano anterior.

Aula 11– (tema: aprofundar conhecimentos de malabares)

Nesta aula recebemos dois convidados especialistas em malabares –


professor e artista Marco Bortoleto e o artista Danilo Morales (que foi um dos
professores no ano anterior).
68

Aquecimento: Como este dia estava muito frio, e também estávamos


esperando os convidados chegarem, os alunos sugeriram de fazer brincadeiras de
pega-pega para “esquentarem” o corpo. Fizemos “pega-pega de nomes” e “nunca três”
(pega-pega em que ficam duas pessoas juntas sentadas no chão, se uma terceira se
sentar ao lado, a pessoa do lado oposto vira pegador e pega quem estava pegando);

Desenvolvimento: Apresentação dos convidados: Marco e Danilo aos


alunos que propuseram os seguintes jogos:
Individual e com 1 lenço, aprender os códigos para jogadas de
malabares: números ímpares trocam o objeto de mão (o número 1 significa lançar o
objeto paralelo ao chão, de uma mão á outra; o número três significa lançar em uma
parábola na altura dos olhos e o número 5 lançar em forma de parábola lançando mais
alto que o anterior) e números pares mantém o objeto na mesma mão (o número 2
significa lançar para a mesma mão na altura dos olhos; o número 4 lançar mais alto que
o anterior e o número 6 mais alto ainda);
Com dois lenços: construção de jogadas e truques combinando os
números aprendidos anteriormente;
Com três lenços, idem ao anterior;
Com quatro, cinco ou mais lenços, lançá-los e mantê-los no ar
como conseguir, em forma de desafio;
Em duplas, um de frente para o outro, lançar dois lenços cada um,
correr e pegar os lenços do outro que lançou; (variar as distâncias).
Em quartetos dispostos em forma de círculo, lançar dois lenços (um
em cada mão) e pegar os lenços da direita, da esquerda, girar no próprio lugar em
pegar os seus lenços que foram lançados, dentre outras variações que podem ser
criadas pelos alunos;
Em quartetos dispostos em fila, lançar para cima e pegar o lenço da
frente;
Experimentação de outros equipamentos como balangadam ou
swing (pedaço de barbante com uma das pontas presas por pedaço de pano), bolas,
claves, diabolo, prato chinês, caixa, copo de metal, argolas, rola-rola. Os professores
69

explicaram que os mesmos códigos poderiam ser utilizados com os outros materiais de
lançamento, variando a forma da pegada;

Finalização: Apresentação de malabares dos convidados e grito de


guerra dos alunos; A professora pediu para os alunos trazerem na próxima aula, suas
impressões sobre a aula de malabares dos convidados e cobrou a pesquisa solicitada
na aula 7, sobre modalidades circenses.

Aula 12– (tema: escolha de um material de malabares para se


aprofundar)

Aquecimento: três alunos trouxeram suas impressões sobre a aula


anterior, escritas em um papel, na qual elogiaram bastante a vinda de professores
desconhecido ensinar algo novo e sugeriram que tivessem mais aulas como aquela.
Depois de recolher os papeis e ouvir o feed back dos alunos sobre a aula anterior,
construímos bolinhas de painço para que os alunos pudessem levar para a casa e
treinar nas horas vagas. A professora também emprestou outros materiais de
malabares para os alunos treinarem em casa e retornar na próxima aula.

Desenvolvimento: atividades em dupla com as bolinhas:


um de frente para o outro, lançar as bolinhas cruzadas;
abraçados um ao lado do outro, lançar com as mãos de fora
combinações de numerações que eles aprenderam na aula anterior como 333, 444 ,441
e explorar outras combinações;
Escolha de um material para aprofundar entre bola, argola, clave,
diabolo e dévil; agrupar por semelhança de material e pedir para montarem exercícios
para demonstrarem na próxima aula;
70

Finalização: as atividades foram encerradas, foram entregues à


professora os relatórios da pesquisa dos alunos sobre as modalidades circenses
(anexo III) e a aula foi finalizada com o grito de guerra;

Aula 13– (tema: aprofundar malabares)

Aquecimento: Jogo do espelho em dupla com os seguintes temas:


animais, profissão, circo, palhaço, mágico (uma pessoa propõe um movimento baseado
no tema e o outro segue como se fosse um espelho);

Desenvolvimento: cinco minutos para exploração livre dos objetos de


malabares, para que aqueles que ainda não tivessem escolhido pudessem ter a
oportunidade de experimentar e definir por um objeto.
Divisão dos grupos por semelhança dos objetos escolhidos e
montagem de uma coreografia de malabares. A maioria dos alunos optou por contar
uma pequena história, geralmente engraçada, com os objetos.

Finalização: Demonstração das coreografias montadas e quatro alunos


se revezaram como apresentador.

Aula 14– (tema: aprofundar aéreos)

Aquecimento: alongamento dirigido pela professora;

Desenvolvimento: escolha por tecido ou trapézio fixo, ensaio de truques


e montagem de uma coreografia nestes aparelhos. Tivemos três alunos que optaram
por continuar ensaiando o seu número de malabares.

Finalização: Demonstração das coreografias montadas. Tivemos três


alunas que se destacaram no trapézio, e demonstraram grande satisfação com isto na
hora da apresentação.
71

Aula 15– (tema: desenvolvendo coreografias para o espetáculo)

Aquecimento: Na conversa inicial, os alunos trouxeram o desejo de se


apresentarem em uma festa que ocorria no bairro onde moram, de comemoração as
debutantes (15 anos). Também sobre a possibilidade de se apresentarem no
educandário durante o mês de julho para as crianças do mesmo. Já estávamos
encaminhando para construções de coreografias que pudessem ser apresentadas
individualmente ou juntas em um espetáculo. Nesta aula, trabalhamos sobre esta idéia
das coreografias e desta forma fizemos um breve alongamento, rolamentos de frente,
de costas e parada de cabeça;

Desenvolvimento: dividimos em trapézio, tecido, rola-rola, diabolo e


argola, revezando os alunos para a vivência da perna de pau (que tínhamos apenas
uma);

Finalização: Demonstração das coreografias montadas.

Aula 16– (tema: aprofundar coreografias)

Paralelamente as aulas, a professora/coordenadora que nos


acompanhava nas aulas práticas, nos informou que ela não poderia mais acompanhar
os alunos nas aulas devido à um problema que o educandário estava passando.
Expomos a situação aos alunos, e dissemos que se eles quisessem que as aulas
continuassem, que eles podiam se manifestar no educandário, expondo como era
importante as aulas para eles, e que então estaríamos encerrando as aulas para o mês
de julho como período de férias, e após reuniões no educandário, poderíamos correr o
risco de não termos mais as aulas de circo naquele espaço. Os alunos entenderam a
situação, optamos por fazer uma exploração livre dos aparelhos e uma apresentação
dos alunos, como fechamento do primeiro semestre.
72

Análise geral da proposta de aulas em 2006:

A principal diferença das aulas em 2006 em relação as aulas do ano


anterior foi no número de professores que cai de 3 para 1 professor, e na entrada de
novos alunos que dificultaram a continuidade do trabalho desenvolvido em 2005,
principalmente nos alunos flutuantes que vinham de vez em quando participar das
aulas. Enquanto em 2005, iniciamos as aulas com 10 alunos que permaneceram até o
final das aulas em dezembro, já em 2006, a cada semana apareciam novos alunos que
não davam continuidade as aulas. Apesar deste fato, os alunos mais velhos que foram
“encarregados” de auxiliar como monitores contribuíam bastante com a professora no
ensino das habilidades básicas aos novos alunos e na segurança dos mesmos.
Pudemos perceber que foram mantidas as mesmas modalidades
trabalhadas no ano anterior (acrobacias de solo, aéreas, malabares e palhaço),
buscando aprofundar o conhecimento dos alunos que haviam participado das aulas em
2005; a análise das atividades descritas aula por aula nos permiti ver como a
professora organizava o conteúdo e as diferentes modalidades, revezando-as conforme
o andamento das aulas e as necessidades e interesses dos alunos.
Em relação ao tempo disponível para as aulas, ainda permaneceu a
freqüência de 1 vez por semana com a duração de uma hora e meia, tempo este que
restringe o aprofundamento da proposta. A professora passava tarefas de casa e
enfatizava a importância de treinarem alongamento e malabares em horários extra a
aula, chegando a emprestar os materiais aos alunos, que percebiam a importância
deste tempo extra dedicado ao treinamento das habilidades como fator que contribuía
diretamente na evolução das habilidades.
Outra atividade que foi realizada extra aula, foi uma pesquisa sobre as
modalidades circenses, na qual a maioria dos alunos optou por entrevistar uma pessoa
do educandário conhecida por eles e que é ligada ao teatro e ao circo (Anexo C). A
professora/coordenadora do educandário que participava das aulas práticas junto com
os alunos ajudou na elaboração das perguntas a serem feitas ao entrevistado. O
73

interessante foi ver que os alunos entregaram a mesma entrevista a professora, porém
com interpretações diferentes, já outros três alunos resolveram listar palavras e objetos
que conheciam de circo como a “mulher do anão mágico”, “perna de pau de alumínio”,
“corda bamba”, dentre outros. Devido ao pouco tempo de aula e contato da professora
com os alunos, não foi possível fazer uma análise com os mesmo sobre o conteúdo
pesquisado, mostrando as diferenças de conceitos, o que seriam modalidades e o que
seriam objetos utilizados pelos artistas; entendemos que este retorno aos alunos é
fundamental e faz parte do trabalho pedagógico, e seria feito pela professora no retorno
das aulas após julho de 2006, porém as aulas não foram retornadas devido um
problema interno no educandário.
De forma geral, a maioria dos alunos se envolveram bastante nas aulas
e a idéia de se apresentarem ao público os motivavam bastante, ainda mais com a
referência das três apresentações no ano anterior. A diversão estava sempre presente
nas atividades e ao mesmo tempo a responsabilidade em relação a si, nas atividades
que envolviam risco (altura), e em relação aos amigos (acrobacias em grupo).
74

4 Considerações Finais

A forma descritiva das atividades que foram desenvolvidas na proposta


“Circo das Estrelas”, no capítulo anterior, não tem a pretensão de ser modelo e nem
muito menos ser tida como uma “receita de bolo”. Nosso intuito com o registro das
aulas e a descrição das atividades foi proporcionar uma reflexão a partir da análise das
aulas desenvolvidas durante o ano de 2005 e 2006, com este tema e com este público,
além de compartilhar uma experiência.
Os conteúdos ministrados nas aulas durante este projeto foram fruto do
conhecimento, da vivência e da experiência dos professores envolvidos na proposta
com o perfil dos adolescentes. Desta maneira, consideramos importante a constante
reflexão da prática como característica importante para quem se dispõe a ser um
educador e também compartilhar as experiências com colegas de profissão, pois
permite a identificação e a discussão a partir de pontos de vista distintos.
Como vimos, Silva, Câmara (2004) pontuam que a partir de 1990, há
identificação das atividades circenses como ferramenta pedagógica nos processos de
arte-educação. De acordo com pesquisas realizadas sobre circo social, encontramos
que em 1992 surge o conceito e a metodologia circo social criada e desenvolvida pelas
equipes de educadores do “Se Essa Rua Fosse Minha”16 no contexto do trabalho com
crianças em situação de rua na cidade do Rio de Janeiro. O sucesso dessa escolha
ficou evidente no aumento da auto-estima e do sentimento de perseverança e se
consolidaram na idéia da linguagem circense como estratégia de promoção pessoal e
social. Esta experiência serviu de modelo para o programa social Cirque du Monde,
multiplicando-se o conceito de circo social.

16
O "Se Essa Rua Fosse Minha"- SER surgiu na década de 90, buscando mobilizar a sociedade e o
poder público para a questão dos meninos e meninas que vivem em situação de rua e, ao mesmo tempo,
iniciar uma ação educativa de integração e garantia de direitos. Foi pioneiro na implementação das
técnicas circenses, lançando as bases do conceito de Circo Social. (fonte:
www.seessaruafosseminha.org.br. Acesso em 08-11-2007)
75

Figueiredo (2007) em sua tese de mestrado “As vozes do circo social”,


faz um estudo profundo sobre como três projetos que trabalham com circo social, na
cidade do Rio de Janeiro, afetaram a vida de jovens que deles participaram; foram (e
são) projetos que buscam na arte circense uma ferramenta pedagógica alternativa
utilizada no trabalho com crianças e jovens em situação de exclusão e risco social e
pessoal, capaz de possibilitar modificação da realidade, a transformação e o
conhecimento pessoal, e possibilitar aos jovens uma nova forma de ver o mundo e
estar nele, gerando um outro olhar na sociedade. Ainda segundo a autora, isso é
possível, pois o circo oferece uma gama de alternativas que agregam e incluem
diferentes pessoas, fazendo com que todos tenham a chance de aprender, de se incluir,
se descobrir e compartilhar com muitos seus ganhos, tropeços e perdas, no contexto da
arte-educação. Dialogando com as atividades desenvolvidas no projeto “Circo das
Estrelas”, pudemos perceber que as atividades circenses carregam características que
proporcionam o auto conhecimento, a cooperação entre o grupo, a auto-confiança em si
e no outro, dentre outras características que se identificam com os projetos de circo
social desenvolvidos na cidade do Rio de Janeiro e analisados por Figueiredo (2007).
Um diferencial da arte circense, segundo Cléia Silveira, citada por
Figueiredo (2007), é a falta de barreira para participar dela, pois não é preciso saber ler
e escrever como no teatro e na música, nem ter uma característica específica. Porém,
para qualquer atividade circense é preciso muita disciplina, perseverança e dedicação,
quem quer participar precisa se comprometer com ensaios e com uma participação
regular para avançar nas dificuldades e no desafio de enfrentar riscos que fazem parte
das atividades circenses. Analisando os jovens que participaram do projeto “Circo das
Estrelas”, pudemos verificar a defasagem em relação a idade e a série escolar que
estavam cursando, fato este que não excluiu os alunos de aprenderem as acrobacias e
técnicas de malabares ou participarem da diversão incluída nas atividades do projeto.
Porém, apesar de toda esta identificação com os valores pedagógicos
da arte educação envolvidos na arte circense, observa-se hoje em dia que o circo virou
uma mercadoria a ser consumida por educadores físicos em escolas, academias,
clubes, e até mesmo por diversos projetos de circo social que utilizam o circo como
ferramenta. Além de ser um instrumento, o circo é uma arte complexa e pensar na idéia
76

de incluir jovens em “risco”, que é um dos principais objetivos dos projetos sociais, já é
afirmar um preconceito de que as pessoas que vivem e moram em periferia são
inferiores e, portanto excluídas, e nós professores, educadores, artistas, brancos de
olhos castanhos somos superiores e incluídos na sociedade.
Em 2005 focamos o projeto “circo das estrelas” com um estudo que
mediu o auto conceito dos adolescentes antes e depois de desenvolver o programa
com atividades circenses. A nossa surpresa foi ver que iniciamos o projeto com um
julgamento de valores muito forte pautado em nossos valores de classe, pois
acreditávamos que os adolescentes por viverem na periferia apresentariam um auto
conceito negativo e não foi o que os dados recolhidos nos mostraram, pelo contrario, a
maioria dos adolescentes já apresentavam um auto conceito positivo e acima da média.
De certo que este foi um grupo restrito de 10 alunos estudado como um caso no jardim
Monte Cristo em Campinas, SP., e não podemos generalizar estes dados obtidos, mas
nos faz pensar e refletir no circo e nos desejos de inclusão através da arte.
Quem ensina arte circense nos projetos sociais? Qual a formação
destes professores circenses? Por que a arte circense sendo tão antiga, apenas agora
por volta de 1990 houve identificação desta arte com valores pedagógicos? Quais
saberes circenses devem estar presentes na formação de um professor? Silva e
Câmara (2004) propõem que a prática de ensino com esta arte deva ser uma prática
consciente, envolvendo segurança, proteção na preparação e condução das atividades
dentro das aulas, construção dos conceitos e formas de abordar a técnica de maneira
contextualizada, noções da importância e do respeito à tradição, valorizando o “fazer
artístico” e a apreciação de outras formas de trabalho em grupo como a cooperação.
Uma reflexão que surgiu após o estudo do auto conceito durante o ano
de 2005, foi a falta de abordarmos com os alunos os conhecimentos sobre a cultura
circense, como a história das modalidades praticadas, a história e o surgimento do
circo, os modos de vida dos circenses, os tipos de circo etc. Percebemos e
concordamos com Silva, Câmara (2004) que quando se trata do aprendizado desta
arte, devem estar atrelados com a prática das modalidades o conhecimento desta
cultura que é tão particular e própria desta linguagem. Esta lacuna foi percebida a
medida em que as pesquisas teóricas e práticas foram sendo aprofundadas, caminho
77

este fundamental na formação do professor/educador que busca conhecimento sobre


esta arte e não apenas informação.
As artes circenses contemplam inúmeras modalidades, as escolhidas
para serem ensinadas neste projeto foram apenas algumas. Analisando os relatório de
aulas, pudemos concluir que as atividades em grupo são importantes num primeiro
momento para apresentar as modalidades de forma global, mas, para um trabalho com
adolescentes é interessante aprofundar as técnicas daquelas modalidades que os
alunos demonstrarem maior interesse; percebemos nestes adolescentes uma
necessidade de auto-superação, vontade de aprender conhecimentos diferentes e
desafiadores, porém, são exercícios que requerem tempo e dedicação para serem
alcançados. Uma dificuldade com esta turma foi o curto tempo de aula e apesar de
ensinarmos poucas modalidades, tínhamos que revezá-las, o que dificultava e tornava
lenta a aprendizagem e o aprimoramento. Mesmo assim, acreditamos que as
modalidades escolhidas se completam e acabam contribuindo para o domínio e o
repertório corporal do aluno.
O espaço e os materiais também são importantes para a realização de
atividades circenses. As modalidades que escolhemos para ensinar nesta proposta
oferecem a possibilidade de confecção com materiais alternativos, como os malabares
de bolas de painço e bexiga, claves de jornais, aros de papelão, dentre outros e até
mesmo o trapézio confeccionado por um dos professores, mesmo assim, é importante
que no local haja colchões para a segurança nos aparelhos aéreos, e colchões para a
realização das acrobacias de solo.
Em relação ao tempo de aula que foi de 1 hora e meia e com a
freqüência de 1 vez na semana, tivemos dificuldade para o aprofundamento dos
saberes circenses com os jovens. Percebemos que para um bom desenvolvimento da
proposta, um mínimo de 2 horas seguidas e a freqüência de, pelo menos, duas vezes
por semana, facilitaria o aprendizado e o aprofundamento das diferentes modalidades.
Em relação à organização das aulas e dos grupos, pudemos perceber na divisão da
turma para as atividades, que às vezes ocorriam das meninas se separarem dos
meninos e vice-versa, revezando um grupo só de meninas, outro só de meninos, o
78

professor deve estimular também momentos mistos para propiciar o contato e o


desenvolvimento da confiança no outro, do respeito e do carinho.
Figueiredo (2007) apresenta que uma metodologia utilizada nos
projetos de circo social que acontecia antes e depois das aulas era a Roda: um
momento que proporcionava o diálogo e a expressão de todos os participantes do
projeto, quando eram expostos os objetivos daquele dia e os resultados esperados,
destinado a reflexão dos jovens que tem direito de expor suas sugestões, reclamações,
idéias, tirar dúvidas e se posicionar em relação ao projeto social. No projeto “Circo das
Estrelas” também utilizamos a metodologia da Roda no início e no final das aulas que
ao longo do tempo foi se constituindo de um importante espaço de comunicação entre
os professores e os alunos.
As apresentações são o processo final vivido pelos alunos durante as
aulas e também um excelente meio para comunicação e expressão dos jovens através
desta linguagem circense. Ao final das aulas em 2005, tivemos 6 aulas direcionadas
para o ensaio e criação de coreografias para a apresentação do grupo. Nos ensaios,
buscava-se a observação um do outro, e a construção da coreografia era estimulada
junto com os alunos. Percebemos a importância de manter a motivação do grupo para a
realização das apresentações que era algo muito desejado pelos alunos e também
como fator para estimular a melhora de sua auto-estima. O lúdico foi um elemento
bastante explorado em todas as modalidades predominando em quase todas as
atividades, percebemos que foi através da diversão que a essência do circo foi
transmitida e os alunos pouco a pouco se soltavam e se envolviam com as atividades,
uns com os outros, além de ser um caminho para o seu próprio conhecimento e
aceitação como no caso da figura do palhaço, que nada mais é que aceitar seus
defeitos e fazer deles características engraçadas.
Bortoleto, Machado (2003) sugerem 3 âmbitos em que as atividades
circenses são desenvolvidas hoje: recreativa, educativa e profissional. O enfoque na
vertente educativa deve ser lúdico de forma a proporcionar contato com a cultura
corporal circense em um nível de “iniciação” e deve enfatizar os aspectos relativos a
expressão corporal, a capacidade criativa, comunicação e interpretação de modo a
aumentar o conhecimento da cultura corporal típica do circo nos alunos; diferente do
79

enfoque profissional que requer desenvolver uma motricidade específica e de


rendimento buscando o alto nível técnico. Uma discussão a respeito do circo social é de
que este não deve ter o objetivo de formar artista estando o circo social no enfoque
educativo sugerido por Bortoleto, Machado (2003).
Em relação aos professores, constatamos que o estudo e pesquisa
(prática e teórica) em busca do conhecimento e do saber circense, seja nos âmbitos
recreativos, educativos ou profissionais é fundamental para que as características desta
cultura sejam preservadas e transmitidas de modo a assegurar sua riqueza. Pudemos
sentir dos jovens que participaram do projeto “Circo das Estrelas” tanto no ano de 2005
como o ano de 2006, muito envolvimento com a proposta e satisfação pela
oportunidade de contato com uma parte desta arte milenar que é o circo.
Acompanhamos ao longo do projeto jovens que puderam se expressar através do
trabalho vivido, das apresentações ao público e da responsabilidade sentida em
transmitir o sonho, a magia e a alegria presente na arte circense.
A busca pelo conhecimento sobre o circo se torna cada vez mais
constante, e a produção acadêmica sobre o assunto aumenta a cada dia. Neste
sentido, percebemos a importância da realização de encontros que facilitem a
comunicação, transmissão e reflexão do tema e dos diferentes profissionais envolvidos
no ensino e na transmissão deste saber circense, seja um historiador, um educador
físico, um músico, dançarino, um artista tradicional, pedagogo, dentre outros. O primeiro
Fórum Regional de Circo realizado pela Faculdade de Educação Física, em outubro de
2005, possibilitou uma rica troca de informações e conhecimentos a respeito desta
cultura.
Percebemos ao longo deste dois anos, a importância do processo do
estudo, da reflexão e da pesquisa na formação do educador, através de pesquisas em
literaturas sobre circo (dissertações, artigos, romances, documentários, revistas etc.),
da reflexão da própria prática (quanto educador e quanto artista), a convivência com
artistas e famílias tradicionais de circo que contam suas experiências de vidas,
conversas e debates com colegas da graduação, docentes, enfim, todo um processo de
reflexões e discussões que ao longo do projeto nos possibilitou uma maior e mais
aprofundada compreensão da cultura circense e de sua valorização com respeito,
80

clareza e distinções. Percebemos que “falar de circo” referindo-nos apenas ao seu


aspecto técnico e corporal abre uma grande lacuna na compreensão do que é esta
Arte.
Iniciamos este projeto com um saber limitado em nível de senso comum
sobre a arte circense, focando no aspecto motor e ao final deste dois anos vivendo e
compartilhando esta experiência com os jovens e professores do projeto, aprendemos a
ver o circo como um saber mais amplo e numa visão mais humana, com a certeza de
que não acabam aqui as discussões e reflexões dos diferentes âmbitos do circo, sua
relação com a Educação Física, com outras áreas de conhecimento e os outros lugares
que o circo ocupa na sociedade.
Salientamos a importância de iniciativas de projetos sociais para este
público e em especial, a arte circense, que é um elemento rico da cultura capaz de
tornar possível o sonho de levar alegria às pessoas: “Como eu me vejo no circo? Me
vejo divertindo as pessoas enquanto me divirto, eu vejo se continuar a aprender posso
até exercer a profissão de artista de circo e trazer alegria e arrancar muitos sorrisos e
aplausos de todos”. Foi o que um adolescente de 16 anos respondeu em um dos
registros coletados durante o desenvolvimento deste projeto.

Figura 42. - turma de alunos e professores do projeto “Circo das Estrelas” no ano de 2005
81

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82

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83

ANEXOS
84

ANEXO A: Escala Fatorial Auto Conceito (Yoshinaga 2003)

Idade:
Série que está cursando:
Há quanto tempo pratica vôlei?
Pratica outro esporte? Sim____ Não___Qual? __________________________
O que é auto conceito?
É a forma como o ser humano se vê, sem emitir valores ou julgamentos.
Este é um questionário destinado a verificar a percepção que você tem de si mesmo.
Nas próximas páginas, você verá vários atributos antônimos colocados nos extremos de
uma tabela. Pense na situação e coloque a palavra que você acreditar ser a melhor
palavra para te descrever.

Exemplo:
Violento 3 2 1 M 1 2 3 Pacífico

Os números da escala significam:


3 = se aplica muito
2 = se aplica bastante a violento
1 = se aplica pouco
M = os dois extremos da escala se aplicam igualmente
1 = se aplica pouco
2 = se aplica bastante a pacífico
3 = se aplica muito
Faça um círculo em torno do número que expressa melhor a percepção que você tem
de si mesmo.
Observações:
- Procure dar apenas uma resposta para cada atributo;
- Responda sinceramente, porém sem pensar demais. A primeira resposta que vem a
sua cabeça é sempre melhor;
- Não passe para a página seguinte antes de terminar a que você já começou, nem
volte a consultar as páginas já respondidas;
- As suas respostas ficarão em sigilo.
85

1. Adjetivos relativos ao self-pessoal, analisando a confiança pessoal e a confiança em


si mesmo (maneira como se percebe como pessoa)
3 2 1 M 1 2 3 Seguro
Inseguro
Vacilante
(ter dúvida, tremer) 3 2 1 M 1 2 3 Firme
Indeciso 3 2 1 M 1 2 3 Decidido
Complexado 3 2 1 M 1 2 3 Seguro
Frágil 3 2 1 M 1 2 3 Forte
Instável 3 2 1 M 1 2 3 Estável
Frustrado 3 2 1 M 1 2 3 Realizado
Dominado 3 2 1 M 1 2 3 Dominante
Covarde 3 2 1 M 1 2 3 Corajoso
Volúvel 3 2 1 M 1 2 3 Estável
Medroso 3 2 1 M 1 2 3 Aventureiro
Tenso 3 2 1 M 1 2 3 Descontraído
Inconstante 3 2 1 M 1 2 3 Constante
Preocupado 3 2 1 M 1 2 3 Tranquilo
Descontrolado 3 2 1 M 1 2 3 Controlado
Passivo 3 2 1 M 1 2 3 Ativo
86

2. Ainda analisando o self pessoal, porém direcionado para o auto controle:


Anárquico 3 2 1 M 1 2 3 Organizado
Desligado 3 2 1 M 1 2 3 Ligado
Distraído 3 2 1 M 1 2 3 Atento
Desordenado 3 2 1 M 1 2 3 Sistemático
Desatento 3 2 1 M 1 2 3 Atento
Descuidado 3 2 1 M 1 2 3 Cuidadoso
Indisciplinado 3 2 1 M 1 2 3 Disciplinado
Irresponsável 3 2 1 M 1 2 3 Responsável
Preguiçoso 3 2 1 M 1 2 3 Trabalhador
Imprudente 3 2 1 M 1 2 3 Prudente
Esquecido 3 2 1 M 1 2 3 Lembrado
Desinteressado 3 2 1 M 1 2 3 Interessado
Instável 3 2 1 M 1 2 3 Estável
Vacilante
(ter dúvida /tremer) 3 2 1 M 1 2 3 Firme
Inconstante 3 2 1 M 1 2 3 Constante
Desajeitado 3 2 1 M 1 2 3 Habilidoso
87

3. Adjetivos relacionados com o self social, que avalia a atitude do sujeito com respeito

aos outros e aos valores dos outros, a auto percepção sobre a sua maneira geral de

interagir com os outros”:

Briguento 3 2 1 M 1 2 3 Pacífico
Agressivo 3 2 1 M 1 2 3 Gentil
Impaciente 3 2 1 M 1 2 3 Paciente
Bravo 3 2 1 M 1 2 3 Manso
Nervoso 3 2 1 M 1 2 3 Calmo
Brusco 3 2 1 M 1 2 3 Delicado
Rebelde 3 2 1 M 1 2 3 Dócil
Vingativo 3 2 1 M 1 2 3 Pacífico
Intolerante 3 2 1 M 1 2 3 Tolerante
Extremista 3 2 1 M 1 2 3 Moderado
Preocupado 3 2 1 M 1 2 3 Tranqüilo
Descontrolado 3 2 1 M 1 2 3 Controlado
88

4. Os fatores a seguir determinam o self ético- moral do indivíduo:


Desleal 3 2 1 M 1 2 3 Leal
Desonesto 3 2 1 M 1 2 3 Honesto
Traidor 3 2 1 M 1 2 3 Fiel
Mentiroso 3 2 1 M 1 2 3 Sincero
Infiel 3 2 1 M 1 2 3 Fiel
Falso 3 2 1 M 1 2 3 Franco
Imprudente 3 2 1 M 1 2 3 Prudente
Injusto 3 2 1 M 1 2 3 Justo
Inautêntico 3 2 1 M 1 2 3 Autêntico
Irresponsável 3 2 1 M 1 2 3 Responsável
Maldoso 3 2 1 M 1 2 3 Bondoso
Indisciplinado 3 2 1 M 1 2 3 Disciplinado
Insensível 3 2 1 M 1 2 3 Sentimental
Hostil
(contrário/inimigo) 3 2 1 M 1 2 3 Amigo
Desrespeitador 3 2 1 M 1 2 3 Respeitador
Desinteressado 3 2 1 M 1 2 3 Interessado
Descortês
(grosseiro) 3 2 1 M 1 2 3 Cortes (delicado)
Detestado 3 2 1 M 1 2 3 Amado
89

5. A próxima tabela apresenta uma lista de adjetivos que busca a compreensão do self
somático, que diz respeito aos aspectos físicos, ou seja, aparência física:

Desgracioso
(obeso) 3 2 1 M 1 2 3 Esbelto
Deselegante 3 2 1 M 1 2 3 Elegante
Deforme
(deformado) 3 2 1 M 1 2 3 Sexy
Desarrumado 3 2 1 M 1 2 3 Arrumado
Descuidado 3 2 1 M 1 2 3 Alinhado
Feio 3 2 1 M 1 2 3 Lindo
Escasso 3 2 1 M 1 2 3 Exuberante
Repulsivo 3 2 1 M 1 2 3 Atraente
Frio 3 2 1 M 1 2 3
Sensual
Detestado 3 2 1 M 1 2 3 Amado
Antipático 3 2 1 M 1 2 3 Simpático
Indesejado 3 2 1 M 1 2 3 Desejado
Desagradável 3 2 1 M 1 2 3 Agradável
90

6. A próxima tabela apresenta adjetivos avaliam o self-social, porém dizendo respeito a


traços que facilitam ou dificultam o relacionamento social, expressando valores que
determinam a receptividade social:

Retraído 3 2 1 M 1 2 3 Expansivo
Introvertido 3 2 1 M 1 2 3 Extrovertido
Fechado 3 2 1 M 1 2 3 Aberto
Inibido 3 2 1 M 1 2 3 Desinibido
Impopular 3 2 1 M 1 2 3 Popular
Desentrosado 3 2 1 M 1 2 3 Entrosado
Tímido 3 2 1 M 1 2 3 Audaz
Solitário 3 2 1 M 1 2 3 Social
Enfadonho 3 2 1 M 1 2 3 Divertido
Insociável 3 2 1 M 1 2 3 Sociável
Triste 3 2 1 M 1 2 3 Alegre
Antipático 3 2 1 M 1 2 3 Simpático
Passivo 3 2 1 M 1 2 3 Ativo
Frio 3 2 1 M 1 2 3 Sensual
Tenso 3 2 1 M 1 2 3 Descontraído
Inseguro 3 2 1 M 1 2 3 Seguro
Complexado 3 2 1 M 1 2 3 Seguro
Lento 3 2 1 M 1 2 3 Ágil
Indeciso 3 2 1 M 1 2 3 Decidido
Deforme
(deformado) 3 2 1 M 1 2 3 Sexy
Indesejável 3 2 1 M 1 2 3 Desejado
Frustrado 3 2 1 M 1 2 3 Realizado
91

ANEXO B: Análise Individual dos alunos sobre auto conceito (estudo de 2005)

Para preservar a identidade dos adolescentes, seus nomes foram


trocados por pseudônimos de sobrenomes de artistas circenses famosos. Abaixo
consta análise individual de cada aluno que participou das aulas em 2005, no estudo de
auto conceito levando em consideração relatos recolhidos dos alunos e informações
que eles escreveram no questionário de identificação e desenhos propostos durante as
aulas.

G. Gaona17

Idade: 16 anos
Gênero: Masculino
Freqüência nas aulas: De 32 aulas em 2005, freqüentou 28 aulas

Este aluno nunca havia participado de aulas de circo, mas esclareceu que
já havia feito brincadeiras parecidas antes. Ele se caracteriza como tímido, mas ao
mesmo tempo alegre e extrovertido. Em uma aula ele chegou quieto, fechado e não
conseguiu acompanhar nenhuma atividade, os professores tentavam conversar com
ele, mas ele permanecia calado, parecia com raiva, e este sentimento não o deixou se
concentrar nas atividades. Na outra semana, ele já estava normal. Este fato ocorreu 1
vez durante o desenvolvimento das aulas em 2005.
No questionário de identificação ele relatou que a diversão que o circo
transmite é a característica mais evidente para ele e no desenho proposto para que o
aluno desenhasse ou escrevesse como ele se via no circo, ele manteve sua resposta e
novamente tocou na questão da alegria “Me vejo divertindo as pessoas enquanto me
divirto eu vejo se continuar a aprender posso até exercer a profissão de artista de circo
e trazer alegria e arrancar muitos sorrisos e aplausos de todos”. O aluno se desenhou
no trapézio no alto da folha e fazendo malabares, saltando no mini tramp e andando na
perna de pau bem pequeno na parte de baixo da folha. Esta proporção entre os
desenhos pode expressar a percepção que ele tinha praticando estas modalidades.
Também as situações que ele se desenhou foram momentos vividos durantes as aulas.
G. Gaona sempre se mostrou interessado nas aulas, na preparação para
o primeiro espetáculo, ele trouxe 2 números de magia que assistiu em um dvd e
aprendeu a fazer os truques, isto foi muito interessante, pois apesar de nas aulas não
serem abordadas as técnicas de magia, ele sentiu-se motivado á buscar e trazê-las
para as aulas.
No relato de sua impressão a respeito da 1º apresentação, ele descreveu a
experiência adquirida por todos e o friozinho na barriga quando estiveram diante do
público e disse que se pudesse mudar algo na apresentação ele mudaria o nervosismo
pelo bem estar de se apresentar. Esta característica de frio na barriga e nervosismo é
normal ainda mais diante da primeira apresentação ao público, e sem dúvida esta

17
O sobrenome Gaona pertence ao trapezista Tito Gaona, sendo considerado como o melhor trapezista do
mundo conhecido pelo seu mortal triplo realizado no trapézio de vôo.
92

experiência contribui bastante para a sua auto-confiança nestes momentos. Já no outro


relato referente á 2º apresentação que ocorreu em um ambiente fora da academia, com
público desconhecido e também, outros grupos de danças participaram do evento,
Gaona relatou que teve a impressão de ter adquirido mais experiência no palco e que o
frio na barriga havia diminuído em relação á primeira apresentação; ele declarou que se
sentiu alegre e feliz e percebeu ter ganhado mais desenvoltura, cabe ressaltar que
neste dia, o grupo teve um problema com o transporte que iria levá-los até o local da
apresentação, chegando minutos antes do momento de entrar no palco, assim não
houve tempo de marcar a coreografia no local desconhecido, foi bem tumultuado a
chegada e organização, mas mesmo assim, os alunos tiveram uma excelente
apresentação e este “problema” não interferiu na “desenvoltura” dos alunos no palco
como G. Gaona relatou.
Analisando os dados obtidos da escala de auto conceito do G. Gaona ao longo
dos 8 meses de aula, pudemos perceber que ele manteve-se estável na maioria dos
itens com alterações decrescente em alguns self como: self pessoal nos adjetivos frágil
e forte, frustrado e realizado, tenso e descontraído, passivo e ativo mas ao mesmo
tempo ele apresentou alterações positivas em firme e constante.
Referente ao self pessoal, ele apresentou mudanças positivas no auto controle
com melhoras na organização, atenção, cuidado, firmeza e habilidades.
Na análise do self social ele apresentou algumas alterações opostas como
melhora em pacífico, delicado e tranqüilo e resposta decrescente em impaciente, bravo,
vingativo e intolerante. Apesar destas respostas terem sido decrescentes, ele se
colocou em posição neutra e manteve o lado positivo da escala. Também no self social,
porém referente á receptividade social, ele teve mais mudanças significativas
crescentes em descontraído, expansivo, desinibido, o que ligamos as atividades de
circo e suas manifestações artísticas.
No demais self G. Gaona manteve suas respostas com pouquíssimas
alterações.

R. Gaona(Rosana)

Idade:14 anos
Gênero: Feminino
Freqüência nas aulas: de 32 aulas, este sujeito faltou 4 (freqüentou 28 aulas)

R. Gaona (irmã de G. Gaona) se descreveu satisfeita com seu corpo,


dizendo que possui a forma física ideal e que gosta de seu jeito. Relatou nunca ter feito
atividades de circo antes, mas que desejaria fazer. Sua expectativa em relação ao circo
em sua vida, segundo a sua descrição, era de deixar o corpo se movimentar
adequadamente sem ter dificuldades.
No desenho sobre como ela se vê no circo, realizado após 3 meses de
aulas, ela se relatou sendo como qualquer outra aluna e escreveu: “...Eu sei que tenho
que chegar a uma meta e por isso eu me esforço, porquê eu sei que vou conseguir.”
Podemos perceber na fala de R. Gaona as metas e objetivos das atividades circenses
como algo importante para ela se afirmar como capaz, como um desafio que ela pode e
93

consegue cumprir, mas que o circo para ela é apenas uma atividade que pode
proporcionar estes desafios, assim como poderia ser a dança, ou outro tipo de
atividade. Em relação a afirmação de ser capaz, podemos ligar o fato do período da
adolescência em que o adolescente precisa de desafios para se auto afirmar, se
encontrar na sociedade, formar sua personalidade e o auto conceito tem influências
significativas nisto.
No relato sobre a primeira apresentação ao público, que ocorreu na
própria academia para os amigos da creche que freqüentam, ela disse ter ficado
nervosa por ter sido a primeira vez com este tipo de experiência; trás a importância da
força de vontade, ânimo e atenção como fatores que contribuem no sucesso diante do
nervosismo de se apresentar ao público e relata também que sentiu muita alegria em
fazer algo que lhe deu prazer tanto pessoal quanto ao perceber a alegria e a diversão
do público, os aplausos e os sorrisos, e reforça a necessidade de dedicação tanto no
treino quanto no momento da apresentação. Podemos perceber na fala de R. Gaona o
sentimento e a percepção de características que esta arte desperta nas pessoas tanto
por parte de quem pratica quanto de quem assisti. Ela trás em seu relato o fato de
aproveitar as oportunidades que a vida oferece e que poucas pessoas tem acesso, esta
fala trás a consciência da aluna sobre as desigualdades de acesso e a importância de
existirem iniciativas de propostas de atividades que contribuam para o acesso.
No geral, esta aluna sempre foi muito dedicada e comprometida nas aulas;
no segundo relato sobre suas impressões da segunda apresentação, ela percebeu que
participar ativamente de uma apresentação é diferente de assistir, pois quando está
apresentando há uma cobrança (por si e pelos outros) de fazer dar certo aquilo que foi
ensaiado, e também reforçou a questão da alegria de quem está assistindo, se
divertindo e aplaudindo.
Analisando os dados obtidos na escala de auto conceito, R. Gaona já
apresentava tendência para o lado positivo da tabela, porém, na primeira realização do
questionário havia respostas neutras que na segunda se concentraram no lado positivo
da tabela. Analisando o self pessoal referente á maneira como ela se percebe como
pessoa, houve mudança de respostas em pelo menos 2 valores para positivo nos
adjetivos: seguro, firme, decidido, seguro, dominante, estável, tranqüilo, controlado e
ativo. Apenas os adjetivos: realizado, corajoso e aventureiro baixaram de valor 2
positivo para 1 positivo para os dois primeiros adjetivos e de 3 positivo para 1 positivo
para o adjetivo aventureiro; talvez as atividades com os aparelhos aéreos (tecido e
trapézio) que envolvem altura e força, possam ter contribuído para esta mudança
decrescente na percepção de coragem e aventureiro.
No self pessoal direcionado para o auto controle, a maioria das respostas
se mantiveram iguais na primeira e segunda realização do questionário com melhora
positiva para os adjetivos: Atento, prudente, estável e firme.
No self social direcionado a percepção sobre sua maneira geral de
interagir com os outros, houve mudança decrescente na maioria das respostas como:
pacífico, gentil, paciente, calmo, delicado, pacífico, moderado e tranqüilo. Apesar das
respostas terem decrescido, elas permaneceram no lado positivo da tabela. Apenas o
adjetivo controlado mudou de valor positivo 2 para valor positivo 3. os demais tiveram a
mesma resposta.
94

No self ético moral, a maioria de suas respostas se mantiveram da


primeira aplicação para a segunda; apenas os adjetivos franco, sentimental, amigo e
cortês decresceram 1 valor, mas permaneceram no lado positivo da tabela.
No self somático metade das respostas se mantiveram da primeira para a
segunda aplicação. Tiveram mudança decrescente de 1 ponto nos adjetivos: esbelto,
arrumado, exuberante e desejado, mas que se mantiveram na tendência positiva, e
mudança crescente nos adjetivos: sexy e amado que aumentaram 1 ponto para o valor
positivo da primeira para a segunda realização do questionário.
E no self social direcionado a receptividade social, mais da metade de
suas respostas se mantiveram iguais na primeira e na segunda aplicação, com
mudança decrescente de 1 ponto para os adjetivos: expansivo, desinibido, social,
sociável e descontraído e mudança crescente de 1 ponto para os adjetivos: seguro
(para inseguro), seguro (para complexado), ágil, sexy e desejado.

L.A. Stancowich

Idade: 16 anos
Gênero: Feminino
Freqüência nas aulas: De 32 aulas, a aluna faltou 8 (freqüentou 24 aulas)

L.A. Stancowich (irmã de L.V. Stancowich) se descreveu contente com


seu jeito, não mudando nada em si. Ela disse já ter participado de atividades de circo
antes, na creche onde freqüentava, e que sua expectativa em relação ao circo em sua
vida era de melhorar o corpo físico.
Ela sempre participou ativamente das aulas se destacando pela força e
domínio corporal. Em seu desenho relata que se vê como uma artista e desenha com
muito capricho situações que vivenciou nas aulas e que coincidentemente ela domina
como: jogar 3 bolinhas no malabares, se pendurar no trapézio, fazer truques no tecido e
saltar no mini tramp.
Apesar L.A. apresentar ótimo desempenho nas aulas, se destacando no
grupo, ela relatou no questionário sobre sua impressão a respeito da 1º apresentação
ao público o seguinte: “a minha impressão foi que eu pensei que não ia conseguir, mas
com a fé que tive em meu Deus no meu coração eu consegui e foi muito legal”. Pela
fala da aluna podemos perceber que a auto confiança em si mesma foi fundamental
para que ela superasse o medo e a insegurança na primeira apresentação ao público
que ela participou. Também relatou que sentiu um pouco de vergonha quando estava
frente a frente com o público, mas que foi superado e se transformou em prazer de se
apresentar com seus colegas, achou um pouco difícil participar de uma apresentação
ao público (possivelmente devido ao nervoso e insegurança), mas coloca no plural que
“conseguiram”; com certeza ela se refere aos colegas que participaram com ela; Com
esta fala podemos perceber a característica de confiança em si e no outro e como as
modalidades circenses foram trabalhadas pelos alunos pôde contribuir para o sucesso
na apresentação e o reforço da confiança em si e no outro.
Na segunda apresentação ela pensou que não ia conseguir, que sentiu
frio na barriga ao estar frente a frente com público mas que logo sumiu e o fato de
terem muitas pessoas desconhecidas (tanto assistindo quando participando do festival).
95

Ao analisarmos os dados encontrados na escala de auto conceito,


podemos acompanhar que na primeira aplicação a aluna se achava bastante
complexada e preocupada (com resposta negativa no valor -3), e apresentou resposta
neutra em insegura–segura, vacilante-firme, indeciso-decidido, instável-estável e
inconstante- constante, ao passo que na segunda aplicação a aluna apresentou
resposta positiva de valor 3 para todos estes itens. Devemos destacar que nas
primeiras semanas de aula, a postura da aluna era de cabeça baixa e o olhar baixo sem
encarar as pessoas de frente e ao longo do trabalho, nas pequenas apresentações
realizadas no final das aulas, a postura dela se modificou ficando com o tronco mais
ereto, cabeça levantada e o olhar firme.
Analisando o self pessoal direcionado ao auto-controle, na primeira
aplicação a aluna apresentou respostas no valor 3 positivo em todos os itens exceto
em vacilante-firme que a aluna assinalou a resposta neutra (M), já na segunda
aplicação os adjetivos: ligado, cuidadoso, trabalhador e lembrado decaíram 1 ponto na
escala passando de resposta positiva 3 para resposta positiva 2, e o adjetivo
sistemático-desordenado teve resposta invertida de + 3 na primeira aplicação e foi para
-3 na segunda aplicação. A resposta neutra de vacilante-firme foi para o valor positivo
+2 na segunda aplicação.
No self social analisando a maneira de interagir com os outros, na primeira
aplicação a maioria das respostas foram de valor positivo +3, havendo apenas 3
adjetivos: nervoso, vingativo e preocupado assinalados em valor negativo -3 e 1
adjetivo bravo-manso em resposta neutra. Já na segunda aplicação, a aluna
apresentou resposta decrescente e oposta (-3) em 3 respostas que tinham valor +3 na
primeira aplicação, que foram: briguento, bravo e rebelde, e manteve a resposta -3 em
nervoso, vingativo, preocupado. Ao mesmo tempo, a aluna assinalou resposta positiva
para delicada, paciente, moderada e controlada. Podemos perceber neste self que a
aluna deve ter passado por algum problema recente que a fez assinalar estas respostas
na segunda aplicação, de forma contraditória e oposta, novamente tivemos dificuldade
entre medir o racional e a realidade, ou seja até que ponto as respostas apresentadas
pelos sujeitos revelam o que eles se percebem levando em conta toda a experiência de
vida dele e/ou fatos pontuais recentes e diante disto como podemos medir o racional e
a realidade dos alunos.
Nos selfs: ético moral, somático e receptividade social, o fato anterior se
repetiu sendo na primeira aplicação, a maioria das respostas assinaladas em valor
positivo +3 havendo um ou outro adjetivo em valor neutro (N) ou negativa em frio e
injusto ao passo que na segunda aplicação, esta aluna apresentou metade de suas
respostas alteradas para valores -1, +1, +2 e na receptividade social valores -1, -2 e -3
em introvertido, fechado, impopular, desentrosado, tímido e enfadonho, além disso este
sujeito não apresentou resposta nos 8 últimos adjetivos da última pagina do
questionário, referente ao self social (receptividade social).

L. V. Stancowich

Idade: 12 anos
Gênero: Feminino
96

Freqüência nas aulas: De 29 aulas, a aluna faltou 9 e foi suspensa 1 aula pelo
educandário (freqüentou 19 aulas)

L. V. Stancowich (irmã de L. A. Stancowich) se descreveu como magra,


cabelos loiros e olhos verdes, um pouco alta e também como sendo legal. Ela já havia
praticado atividades de circo antes na creche, sua expectativa com as aulas era de
conseguir realizar todas as atividades e se tornar uma artista. Esta última informação
apareceu novamente no desenho de como ela se via no circo e ela escreveu: “Eu me
vejo como uma artista” e se desenhou em exercícios que se destacava como na ponte
(a aluna apresentava excelente flexibilidade de coluna) e na estrelinha e em
modalidades como no trapézio e no mini tramp.
Na descrição de sua impressão sobre a segunda apresentação ao público
que ocorreu no ambiente fora da academia onde faziam as aulas, ela descreveu que foi
muito legal, sentiu um pouco de medo e frio na barriga que passou logo inclusive a
impressão de legal quando estava frente ao público e ressaltou a importância da
atenção e concentração no palco. Cabe destacar que esta aluna tinha um momento
solo na apresentação em que todos saiam do palco e ela ficava sozinha e realizava um
movimento de ponte e vela invertida que ela se destacava devida sua flexibilidade e ela
era a única do grupo que realizava este movimento mais complexo.
No geral esta aluna estava sempre presente nas aulas e participava de
forma ativa nos exercícios, e um fato que marcou foi quando ela estava aprendendo o
movimento descrito acima de vela invertida que consiste em apoiar os ombros no chão
e jogar as pernas para cima de forma a encostar os pés na cabeça. A princípio por ela
ser a única aluna a se destacar nesta acrobacia, mesmo ela tendo capacidades físicas
que a favorecia, não se achava capaz e os professores sempre a ajudavam a completar
o exercício durante os ensaios e as apresentações para a turma, mas na primeira
apresentação realizada na academia, conversamos com ela sobre suas capacidades e
de conseguir realizar sozinha, e foi o que aconteceu, quando terminou a apresentação
a aluna retornou muito contente por ter conseguido realizar sozinha e se deu conta de
sua capacidade, inclusive ela foi muito aplaudida pelo público devido á difícil acrobacia
que tinha apresentado.
Analisando os dados obtidos na tabela de auto conceito, referente a
maneira como ela se percebe como pessoa, na primeira aplicação a aluna apresentou
12 respostas que se concentraram no lado negativo e neutro da tabela nos adjetivos:
vacilante, complexado, frágil, instável, frustrado, dominado, corvarde, volúvel, medroso,
tenso, inconstante e preocupado e na segunda aplicação foram assinalados todos em
valor positivo +3 e 4 adjetivos tiveram valor positivo +2, demonstrando o avanço da
aluna em relação a confiança em si mesma e como ela se percebe.
No self pessoal direcionado ao auto controle, na primeira aplicação a
aluna apresentou resposta com valor negativo -1 em vacilante e inconstante, valor
neutro em preguiçoso-trabalhador e esquecido-lembrado e valor + 1 em ligado, atento,
sistemático, atento, disciplinado, responsável, interessado e habilidoso, já na segunda
aplicação, a aluna apresentou resposta positiva com valor +2 em ligado, prudente,
lembrado e firme e as demais respostas tiveram valor positivo +3.
No self social referente a sua maneira de interagir com os outros, a aluna
assinalou resposta negativa -1 em briguento, bravo, intolerante e preocupado, valor
97

neutro em impaciente-paciente, nervoso-calmo, vingativo-pacífico e extremista-


moderado, e valor positivo +1 para gentil, delicado, dócil e controlado. Já na segunda
aplicação a aluna apresentou resposta positiva com valor +2 e + 3 em todos os
adjetivos assinalando apenas 1 resposta neutra em preocupado-tranquilo.
No self ético moral, na primeira aplicação a aluna apresentou as
respostas na tendência positiva a maioria em +1, três respostas em valor positivo +2, 1
resposta em +3 e 2 em neutra (N). Já na segunda aplicação todas as respostas foram
assinaladas em valor positivo +3.
No self somático referente á aparência física, a aluna já apresentava
respostas no lado positivo em valores +1, +2 e +3 de forma equilibrada entre si. Já na
segunda aplicação, houveram 7 adjetivos que tiveram mudança crescente nas
respostas para +3 que foram: esbelto, elegante, sexy, arrumado, amado, simpático e
desejado. As demais respostas não tiveram alteração da primeira para a segunda
aplicação.
E no self social referente á receptividade social, na primeira aplicação a
aluna apresentou 3 respostas com valor negativo -1 em inibido, tímido e indeciso, 2
respostas neutras em introvertido-extrovertido e frustrado-realizado, 8 respostas com
valor positivo +1, 7 respostas com valor positiva em +2 e 2 respostas com valores
positivos +3 em alegre e seguro. Já na segunda aplicação, a aluna apresentou 15
respostas com valor positivo +3, 6 respostas com valor positivo +2 e apenas 1 resposta
neutra em tímido-audaz.
De forma geral, pudemos acompanhar uma melhora no auto conceito da
aluna durante os 8 meses de aula em todos os selfs.

I. Orfey

Idade: 16 anos
Gênero: Masculino
Freqüência nas aulas: De 32aulas, o aluno faltou 3 (freqüentou 29 aulas)

I. Orfey se descreveu alto, moreno de olhos castanhos. Diz que mudaria


seu nariz, e que sua expectativa em relação ao circo em sua vida seria de através das
aulas de circo, tornar o corpo mais adaptado. Ele relatou já ter participado de atividades
de circo anteriormente, com um professor no educandário.
No desenho de como ele se via no circo, I. Orfey desenhou seu rosto
grande na folha, com um nariz de palhaço, traços de maquiagens e uma peruca
colorida que o identifica com a figura de um palhaço; isto revela suas atitudes durante
as atividades ligadas a figura do palhaço, bem explorada e manifestada pelo aluno nas
aulas.
Sempre foi participativo nas atividades, presente e interessado, apesar de
seu corpo grande e pesado, o aluno se esforçava para realizar os exercícios que
exigiam força e agilidade e se sentia feliz quando conseguia. Devido sua alegria
espontânea e interesse nos conteúdos do circo, o aluno sempre se destacava nas
apresentações internas como comunicativo, expressivo, inclusive foi escolhido pelos
próprios alunos para ser o apresentador da primeira apresentação ao público do grupo,
98

na qual revela ter sentido muito frio na barriga, ele revela que se sente conhecido por
todos (provavelmente devida a apresentação para os amigos da creche).
No questionário de sua impressão sobre a segunda apresentação ao
público, que foi em um ambiente fora da academia, ele revelou que não gostava de
Circo (antes de participar deste grupo), mas que ao longo do projeto aprendeu a gostar,
inclusive que na segunda apresentação ele já havia se acostumado com o público e o
frio na barriga era bem menor.
Comparando as respostas na primeira e na segunda aplicação da escala
de auto conceito, o aluno apresentou pequenas alterações nas respostas; referente a
maneira como ele se percebe como pessoa (self pessoal), o aluno manteve todas as
respostas em valor positivo +3, apenas mudando 1 respostas para valor neutro nos
adjetivos passivo e ativo.
Já no self pessoal direcionado ao auto-controle, o aluno manteve suas
respostas em valor positivo +3, porém no adjetivo lembrado o aluno decresceu a
resposta de +3 para +2.
No self social, tiveram dois adjetivos com alterações: de valor +1 em
pacífico-brigueto, o aluno assinalou +3 na segunda aplicação e no adjetivo manso-
bravo, o aluno decresceu de +3 para +2 na segunda aplicação. O restante dos adjetivos
mantiveram suas respostas em valor positivo +3.
No self ético moral, todas as respostas foram assinaladas em valor
positivo +3 exceto dois adjetivos que foram: interessado-desinteressado e cortês e
descortês com valores positivos +2, na segunda aplicação, o aluno assinalou todos os
adjetivos com resposta positiva +3.
No self somático, o aluno assinalou oito adjetivos com valor positivo +3 e 3
adjetivos com valor positivo +2 que foram: elegante, lindo, atraente. Já na segunda
aplicação, o aluno assinalou valor negativo -1 em desgracioso (obeso) e esbelto, valor
positivo +2 em sexy (decresceu 1 ponto em relação á primeira aplicação) e o restante
das respostas foram assinaladas com valor positivo +3.
E no self social referente á receptividade social, foi o único self que
apresentou maior alterações de respostas de forma crescente da primeira para a
segunda aplicação. O aluno assinalou solitário-social com resposta neutra; audaz-
tímido com resposta positiva +1; e aberto, popular, sociável, ativo, sensual, sexy e
desejado com resposta positiva +2; o restante dos adjetivos tiveram resposta positiva
+3. Já na segunda aplicação, todas as respostas foram assinaladas com valor positivo
+3, mostrando uma melhora em relação a traços que facilitam seu relacionamento
social.

D. Temperani

Idade: 13 anos
Gênero: Masculino
Freqüência nas aulas: De 32aulas, o aluno faltou 2 (freqüentou 30 aulas)
99

D. Temperani se descreve como baixo, magro, um pouco nervoso e gosta


de ajudar as pessoas. Revela que não mudaria nada em si, pois gosta de seu jeito; diz
que já havia praticado malabares anteriormente e sabia andar na perna de pau. O que
ele mais gosta no circo é dos palhaços e sua expectativa com as aulas é de aproveitar
a experiência que o circo trás em sua vida.
De modo geral D. Temperani sempre foi dedicado, se destacando nas
atividades por sua agilidade, força e domínio corporal. Ele participava de todas as
atividades ativamente não demonstrando nenhuma dificuldade em relação às
habilidades e como ele se descreve anteriormente, sempre foi muito quietinho e
comportado. No relato de sua impressão sobre a segunda apresentação ao público, ele
diz ter tido a impressão de estar nas nuvens, sentiu frio na barriga quando estava frente
a frente com o público e reconheceu na apresentação como um resultado do processo
de terem ensaiado o ano todo.
No desenho sobre como ele se via no circo, D. Temperani pintou toda a
folha de vermelho e desenhou dois rostos de palhaços diferentes, um sapato de
palhaço, um paletó com gravata e uma calça de palhaço, um homem charada com uma
calça verde e no canto da folha em tamanho pequeno o contorno de um circo.
Analisando os dados obtidos nas escalas de auto-conceito, ele
demonstrou grande variação nas respostas. No self pessoal relacionado a maneira
como a ele se percebe como pessoa, o aluno apresentou mudança crescente de
resposta neutra (M) na primeira aplicação para respostas com pelo menos 2 valores
positivos para os adjetivos: Seguro (+2), firme(+2) decidido (+3), seguro (+3) dominante
(+2), corajoso (+3), tranqüilo (+3), controlado (+2) e ativo (+2). Ao mesmo tempo, o
aluno apresentou mudança decrescente de respostas nos adjetivos: forte de (+1 para -
2), realizado (de +3 para -2), estável (de Neutra para -1), aventureiro (de +3 para +1) e
descontraído (de +3 para +2); o restante dos adjetivos permaneceram com a mesma
resposta. Podemos perceber que na primeira aplicação o sujeito apresentou 13
respostas neutras e que ao longo dos oito meses de aplicação do projeto, o sujeito
mudou bastante sua maneira de se perceber como pessoa.
No self pessoal direcionado para o auto controle, o sujeito também
apresentou uma mudança decrescente significativa nos adjetivos: atento, disciplinado,
responsável, trabalhador, prudente, lembrado, interessado e constante; e mudança
crescente em ligado, atento, estável e habilidoso.
No self social analisando sua percepção sobre sua maneira de interagir
com os outros, o aluno manteve a maioria das respostas, havendo mudança
decrescente significativa nos adjetivos calmo-nervoso e dócil-rebelde de valor positivo
+2 para valor negativo -1, apresentou decrescente de +3 para neutra no adjetivo
controlado-descontrolado e resposta crescente nos adjetivos pacifico, tolerante e
moderado indo de resposta neutra para valores +2 e +3.
No self ético moral o aluno apresentou 10 respostas decrescentes nos
adjetivos: honesto, fiel (traidor), fiel (infiel), prudente, justo, responsável, disciplinado,
sentimental, respeitador e interessado sendo que a resposta que mais se destacou foi
no adjetivo indisciplinado-disciplinado que foi de resposta positiva +3 para resposta
negativa -1 na segunda aplicação. Houve alterações crescentes positivas nos adjetivos:
franco, bondoso, amigo, cortes e amado.
Já nos self somático, várias respostas neutras na primeira aplicação
apareceram assinaladas com valor positivo +3 nos adjetivos: elegante, lindo,
100

exuberante, atraente, sensual e desejado. Houve mudanças decrescente de 1 valor no


adjetivos alinhado-descuidado, amado-detestado, simpático-antipático e agradável-
desagradável mas permaneceram no lado positivo da escala.
E por fim, no self social direcionado á traços que facilitam ou dificultam o
relacionamento social, o aluno apresentou resposta crescente em quase todos os
adjetivos, mostrando uma melhora em sua receptividade social, com mudança de pelo
menos 2 pontos no adjetivos: extrovertido, desinibido, popular, entrosado, audaz, social,
divertido, ativo, sensual, descontraído, seguro, ágil, decidido, sexy e desejado. Houve
apenas dois adjetivos que foram assinalados como neutro na segunda aplicação e na
primeira haviam sido assinalados em valor positivo +2 e +3, são eles respectivamente:
aberto-fechado e realizado-frustrado.

G. K. Romanov

Idade: 12 anos
Gênero: Feminina
Freqüência nas aulas: De 32 aulas, a aluna faltou 7 e foi suspensa 1 aula pela creche
(freqüentou 24 aulas)

G. K. Romanov se descreveu como alta, ansiosa, curiosa e dispersa e


gostaria de mudar esta última característica em si. Já havia feito malabares, salto leão,
pirueta e ponte na creche, o que ela mais gosta no circo é do trapézio e do tecido e sua
expectativa em relação ao circo em sai vida é de ficar famosa e virar artista.
Ela se desenhou em situações no tecido e no trapézio que confirmam o
que ela descreveu acima como sua modalidade preferida no circo, e também desenhou
no canto da folha um rosto com um olhar tímido e as bochechas rosadas que lembram
o jeito da aluna.
De modo geral G. K. Romanov sempre participou das aulas ativamente,
apresentava certa dificuldade com exercícios de força, agilidade e coordenação, mas
via nas aulas uma possibilidade de realizar seu sonho de ser artista. Teve um período,
mais no fim do projeto (entre setembro e outubro) que ela falto 1 mês seguido (4 aulas)
possivelmente para cuidar de seus irmãos mais novos. Ela demonstrava ser bem
dispersa como havia escrito no questionário de identificação a ponto de esquecer como
se faziam alguns truques que os professores haviam acabado de explicar.
No relato sobre sua impressão a respeito da segunda apresentação ao
público, ela relatou que teve a impressão que não iria conseguir erguer sua amiga (ela
ocupava posição intermediária nas pirâmides acrobáticas e não se achava capaz de
conseguir realizar o movimento), mas conseguiu, ela relata o friozinho na barriga e a
alegria de participar de uma apresentação e se mostra satisfeita com a apresentação.
Na análise dos dados obtidos na escala de auto conceito, Romanov
apresentou alterações em suas respostas de forma crescente e decrescente. No self
pessoal relacionado á maneira como ela se percebe como pessoa, houve 8 adjetivos
com mudança decrescente sendo três deles com respostas para o lado negativo da
escala nos adjetivos firme-vacilante (de neutro para -1), forte-frágil (de +1 para -2) e
101

dominante-dominado (de neutro para -1). Nos adjetivos: decidido e controlado a aluna
apresentou resposta crescente de neutra para +1 e +2 respectivamente.
No self pessoal direcionado ao auto controle, a aluna apresentou 6
respostas neutras na primeira aplicação e 10 respostas neutras na segunda aplicação;
dois adjetivos tiveram mudança decrescente : cuidadoso (de +2 para +1) e trabalhador
(+3 para +1) e apenas um adjetivo teve mudança crescente de resposta neutra na
primeira aplicação foi para +2 na segunda aplicação.
No self social direcionado a sua maneira de interagir com os outros, a
aluna apresentou cinco respostas neutras na primeira aplicação e sete respostas
neutras na segunda, com mudança crescente nos adjetivos pacífico e controlado que
foram de resposta neutra para +2 e mudança decrescente nos adjetivos manso, calmo
e delicado que diminuíram 1 ponto em relação á primeira e segunda aplicação, mas se
mantiveram no lado positivo da tabela.
No self ético moral, a aluna apresentou 3 respostas neutras na primeira
aplicação e 10 respostas neutras na segunda aplicação com mudança decrescente nos
adjetivos: honesto, fiel, responsável, bondoso, amigo, respeitador e amado com
mudança de 1 ponto na respostas mas que se mantiveram no lado positivo da escala,
exceto o adjetivo amado-detestado que decresceu de +3 para resposta neutra na
segunda aplicação. Apenas 2 adjetivos tiveram mudança crescente de 1 ponto, foram
eles: franco e cortês.
O self somático, a aluna não respondeu a segunda aplicação
(possivelmente pulou a página sem perceber), mas na primeira aplicação a aluna se
mostra com 7 respostas neutras, e 2 respostas no lado negativo da tabela com valor -3
em desgracioso(obeso) e -1 em deforme e apenas 1 resposta no lado positivo da
escala com valor +2 em simpática. Estes dados revelam a percepção da aluna em
relação ao seu aspecto físico e não mostra agrado com sua forma física.
E no self social referente á sua receptividade social, foi a tabela que a
aluna apresentou maior mudança crescente nos seguintes adjetivos: retraído-
expansivo, extrovertido, aberto, audaz, sensual, sexy e realizado. Apenas os adjetivos:
alegre e seguro tiveram uma mudança decrescente de +3 para +2 em alegre e de +3
para +1 em seguro.

T. Silva

Idade: 12 anos
Gênero: Feminina
Freqüência nas aulas: De 23 aulas, a aluna faltou 4 (freqüentou 19 aulas)

T. Silva se descreve como baixa, magra, cabelos e olhos castanhos, e diz


que se pudesse mudaria seu cabelo. Afirma que nunca havia feito atividades de circo
antes e sua expectativa em relação às aulas em sua vida seria de usar bastante o
corpo e aquecer a mente.
No questionário sobre a primeira apresentação, ela escreveu que sentiu
um pouco de vergonha, mas conseguiu se apresentar e reconhece que deve treinar
mais. Apesar da aluna ter freqüentado 23 aulas, a sua participação nas aulas se dava
102

de forma passiva, sempre tínhamos que chamar a atenção para que ela participasse
das atividades, ela apresentava dificuldades nas realizações dos movimentos e
percebíamos que sua limitação vinha de sua percepção sobre sua auto confiança e seu
auto controle.
Nos ensaios para a segunda apresentação, ela faltou e tivemos que deixá-
la de fora (junto com outra aluna que faltou) da coreografia como forma de punição e
atentar para a responsabilidade de participar das aulas e do processo de elaboração da
coreografia.
De modo geral, T. Silva era extrovertida, sempre que estava aprendendo
ou realizando algum movimento ela gritava para chamar a atenção dizendo que era
muito difícil e que ela não conseguiria realizar tal tarefa; pudemos percebemos que a
falta de crédito que ela tinha em si mesma, provavelmente vinha da falta da valorização
da família que acabou refletindo nas atitudes e na percepção dela.

J. Gruthenco (Juliana)

Idade: 12 anos
Gênero: Feminina
Freqüência nas aulas: De 16 aulas, a aluna faltou 6 (freqüentou 10 aulas)

J. Gruthenco começou a freqüentar as aulas em agosto (após 15 aulas) e


não preencheu o questionário de identificação.
De modo geral ela se caracterizava por uma introversão e timidez; nas
primeiras aulas tivemos que incluí-la nas atividades, pois ela própria se excluía, ficava
sentada ou em algum canto provavelmente pela timidez. Para a primeira apresentação,
ela faltou dos ensaios, mas mesmo assim, a incluímos na apresentação, pois as
coreografias já estavam sendo ensaiadas á algum tempo. Para a segunda
apresentação que foi criada uma coreografia especialmente para a data, a aluna faltou
da elaboração e dos ensaios e devido a este fato decidimos não deixá-la se apresentar
como forma de punição para que ela percebesse a importância de freqüentar as aulas
sem faltar às vésperas da apresentação. Mesmo não participando da coreografia, a
aluna acompanhou os colegas no dia, ajudou nos preparativos, assistiu à apresentação
e respondeu o questionário sobre a sua impressão, relatando o seguinte sobre sua
impressão: “AH que meus amigos não fossem conseguir, mas eles conseguiram, foi
bom”.
Ela relata o nervosismo e o frio na barriga sentido nos momentos que
precederam a apresentação, mesmo não fazendo parte da coreografia de forma ativa e
relatou que mudaria o medo quando estivesse frente a frente com o público,
provavelmente devido a sua experiência com a primeira apresentação.

D. Gaona

Idade: 12 anos
Gênero: Masculino
Freqüência nas aulas: De 11 aulas não faltou nenhuma aula (freqüentou 11 aulas)
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D. Gaona (irmão mais novo de R. Gaona e G. Gaona) começou a


freqüentar as aulas no início de setembro, participando das últimas 11 aulas e não
faltou em nenhuma delas. No questionário de identificação ele se descreveu como
muito bom na ala de arco, percepção que teve nas aulas que havia feito de Circo na
creche. Diz que não mudaria nada em si e que gostava muito do circo, da relação com
os professores e com os amigos e no prazer que esta relação proporciona para si.
De modo geral ele sempre foi aplicado e apesar de apresentar
caracteríticas de introversão e timidez, participava de todas as atividades e de todas as
apresentações. A sua impressão a respeito das apresentações foi da sensação de
alegria com a experiência de apresentações de Circo
104

ANEXO C: Pesquisa dos alunos no ano de 2006 sobre Modalidades Circenses


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